Cristofani Jave Amparador Dos Excluidos Uma Exegese Do Salmo 146

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  • Jav, o amparador dos excludos

    uma exegese do Salmo 146

    Jos Roberto Cristofani1

    RESUMO

    (VWHHQVDLRH[HJpWLFROLGDFRPRWH[WRGR6DOPRHPVXDPDQLIHV-tao literria: gnero, estrutura, estilo, retrica e semntica, bem como o FRQWH[WRWDQWROLWHUiULRTXDQWRVyFLRKLVWyULFR2DOYRGHVVDDSUR[LPDomRpVHUXPFDPLQKRSDUDDFRPSUHHQVmRGRWH[WREtEOLFRHGHYHVHUWRPDGRa servio da pregao e do ensino das Escrituras Sagradas.

    PALAVRAS-CHAVE

    ([HJHVH/LWHUDWXUD%tEOLFD6DOPRVABSTRACT

    7KLVH[HJHWLFDOHVVD\GHDOVZLWKWKHWH[WRI3VDOPLQLWVOLWHUDU\manifestation: genre, structure, style, rhetoric and semantics as well as WKHFRQWH[WERWKOLWHUDU\DVVRFLRKLVWRULFDO7KHWDUJHWRIWKLVDSSURDFKLVWREHDSDWKWRXQGHUVWDQGWKHELEOLFDOWH[WDQGLWVKRXOGEHWDNHQLQWKHservice of preaching and teaching of the Holy Scriptures.

    KEYWORDS

    ([HJHVLV%LEOLFDO/LWHUDWXUH3VDOP

    1 Doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia das Faculdades EST, So Leo-poldo RS.

  • 46 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    Introduo

    1D DWXDOLGDGH Ki XPD GLYHUVLGDGH GH PpWRGRV H[HJpWLFRV SDUDDERUGDUHFRPSUHHQGHURVWH[WRVEtEOLFRV3DUDLVVRDSRQWDDVLJQLFDWL-YDELEOLRJUDDGLVSRQtYHOQRPHUFDGR2. Diante deste quadro to variado GHPpWRGRVRREMHWLYRGHVWHWUDEDOKRpH[HPSOLFDURPpWRGRH[HJpWLFR$DERUGDJHPSURSRVWDSURFXUDOLGDUFRPRWH[WRHPVXDPDQLIHVWDomROLWHUiULDLVWRpFRQVLGHUDVHRWH[WRHPYiULRVGRVVHXVDVSHFWRVFRPRSRUH[HPSORVHXJrQHURHVWUXWXUDHVWLORUHWyULFDHVHPkQWLFD7DPEpPVHWHPHPFRQWDRFRQWH[WRWDQWROLWHUiULRTXDQWRVyFLRKLVWyULFR2DOYRGHVVDDSUR[LPDomRpVHUXPFDPLQKRSDUDDFRPSUHHQVmRGRWH[WREtEOL-co e deve ser tomado como estando a servio da pregao e do ensino das (VFULWXUDV6DJUDGDV$VVLPRVSURFHGLPHQWRVDSUHVHQWDGRVQHVWDH[HJH-se tm um carter didtico, isto , cada passo ilustrado com a anlise do WH[WRSDUDRTXDOpLQGLFDGDDOLWHUDWXUDHVSHFtFDQDVQRWDVGHURGDSp

    Texto

    $SRUWDGHHQWUDGDGRWUDEDOKRH[HJpWLFRpWH[WRSURSULDPHQWHGLWR. $H[HJHVHGHYHGHQWURGDVSRVVLELOLGDGHVGHTXHPDUHDOL]DWRPDUSRUEDVHRVWH[WRVQDOtQJXDHPTXHIRUDPSULPHLUDPHQWHWUDQVPLWLGRV4. A traduo deve ser um trabalho criativo e comparativo. Comparativo na medida em que busque compar-la com outras verses. A traduo deve YLUDFRPSDQKDGDGHDOJXPDVREVHUYDo}HVTXHSURFXUHPMXVWLFDUGHWHU-PLQDGDVRSo}HVWH[WXDLVHOp[LFDV

    2 8PDDPRVWUDGHPpWRGRVH[HJpWLFRVSRGHVHUHQFRQWUDGDHP&$52-060H-WRGRORJLD%tEOLFD([HJpWLFDS026&21,/XtVPara uma Leitura Fiel da BbliaS),7=0

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies v.1 Louvai a Jav!

    Louva minha alma a Jav.v. 2 Que eu louve Jav em minha vida6. Que eu entoe msica DPHX'HXV HPPLQKDH[LVWrQFLD8.Y 1mRFRQHLV QRVSUtQFLSHV QROKRGRKRPHP ao qual no pertence a libertao.v. 4 Sair o esprito dele Retornar para o seu solo (p)9

    Neste dia perecem seus pensamentos (projetos).Y 'LWRVRDTXHPDMXGD R'HXVGH-DFy sua esperana [est] sobre Jav seu Deus.v. 6 Aquele que fez cus e terra o mar e tudo o que neles [h] aquele que mantm a verdade para sempre.Y $TXHOHTXHID]MXVWLoD SDUDRVGHIUDXGDGRV Aquele que d po para os famintos Jav solta os prisioneiros.v. 8 Jav abre [os olhos] os cegos Jav levanta os que foram derrubados Jav ama os justos.v. 9 Jav guarda os estrangeiros o rfo e a viva sustm, mas10 o caminho dos mpios subverte.v.10 Reinar Jav para sempre teu Deus, Sio, de gerao em gerao. Louvai a Jav!

    Traduz o termo Hy"-Wll.h; como verbo, com Reina-Valera Atualizada. Cf. a literalidade da Traduo Novo Mundo (TNM) Louvai a J! Do mesmo modo Dahood Praise Yah! (in loco). Diversamente, Traduo Ecumnica da Bblia (TEB) e Almeida Re-vista e Atualizada (ARA) tm Aleluia!

    6 durante a minha vida. Traduz o piel corporativo (volitivo). Cf. Reina-Valera Atualizada, cantar Salmos.8 enquanto eu viver.9 Os termos entre parnteses indicam outra possibilidade de traduo.10 w adversativo.

  • 48 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    Delimitao11

    As peas literrias no livro dos Salmos, via de regra, so de fcil GHOLPLWDomR&RPH[FHomRGHDOJXQVSRHPDVFRPRSRUH[HPSORRV6DO-PRVHTXHSDUHFHPFRQVWLWXLUHPXP~QLFR6DOPRFDGDpar, a maioria forma unidades claramente distintas.

    1RFDVRGR6DOPRHPHVWXGRQmRKiGLFXOGDGHGHWRPiORFRPRXPDXQLGDGHSRpWLFDSRLVR7H[WR0DVVRUpWLFR70RDSUHVHQWDFRPRtal. A sua unidade temtica, coeso e coerncia contribuem para que o mesmo seja tomado como uma percope. Ademais, o Salmo est perfei-tamente delimitado por uma inclusio12(OHFRPHoDHWHUPLQDFRPDH[-presso Hy"-Wll.h; (Louvai a Jav). L. C. Allen chama a ateno, tambm, SDUDDLQFOXVmRGRFRQFHLWRGHWHPSRGXUDQWHDPLQKDYLGDHQTXDQWRHXYLYHUYDEHSDUDVHPSUHGHJHUDomRHPJHUDomRYDE. $OpPGLVVRRFRUUHDUHSHWLomRGRQRPHGLYLQRQRLQtFLRHQRPGRSRH-ma. Nada parece obstar, portanto, em tratar o Salmo em questo como um poema completo em si mesmo.

    Anlise textual14

    1HVWHSDVVRVHUiIHLWDDDQiOLVHPRUIRHVWUXWXUDOGRWH[WRHPSDXWDprocurando caracteriz-lo quanto ao Gnero Literrio (Forma e Estrutu-ra), observando os recursos Retricos e Estilsticos utilizados. Finalmen-WHVHSURFHGHUiDXPDDQiOLVHVHPkQWLFDGRWH[WR

    11 'HOLPLWDUp UHFRUWDUXP WH[WRHPXPDXQLGDGHGHVHQWLGRFRPSOHWD&I6,0,$1-YOFRE, Horcio. Metodologia do Antigo TestamentoS.5h*(55HQpH6(9(5,12&52$772-RVp0*8(=1Mtodos ExegticosS

    12 Para a conceituao de inclusio (incluso), tambm chamada de envelope, ver MON-LOUBU, L. Os Salmos. In: Os Salmos e os Outros Escritos. MONLOUBU L. et alli HGV6mR3DXOR3DXOXVS0F&$11-&OLQWRQ-U7KH%RRNRI3VDOPVS([HPSORVHP67(&.-+Aspectos da Potica do Antigo Testa-mento e uma introduo aos Salmos, Provrbios e EclesiastesS6&+g.(/L. A. Potica Hebrea Historia y Procedimientos. In: Hermeneutica de la Pala-bra IISHFRPH[HPSORVQDOLWHUDWXUDSURIpWLFD

    ALLEN, L. C. Psalms 101-150S14 SIMIAN-YOFRE, Horcio. Metodologia do Antigo TestamentoS

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies 49

    A Anlise morfo-estrutural

    Gnero literrio15

    &DGDXQLGDGHOLWHUiULDSHUWHQFHDXPJrQHUROLWHUiULRHVSHFtFRTXHpor sua vez, possui forma e estrutura prprias, as quais se utiliza com o SURSyVLWRGHDOFDQoDUXPREMHWLYRHVSHFtFR WHQGRFRPRSUHVVXSRVWRas circunstncias que o geraram e nas quais foi transmitido, ao que a H[HJHVHGHQRPLQDGHSitz im Leben (Situao Vivencial)16.

    Dentre os gneros encontrados no Saltrio, o Salmo 146 comu-PHQWHFODVVLFDGRFRPRXP+LQR. Seus elementos formais e a disposi-o dos mesmos apontam, sem dvida, para seu carter hnico.

    Segundo a maioria dos estudiosos dos Salmos, os Hinos possuem uma estrutura tripartida, constando, basicamente, de: 1 Introduo FRQYLWHDRORXYRUIRUPXODGRQRLPSHUDWLYR&RUSRRQGHVHPHQ-FLRQDPRVIHLWRVRXDVTXDOLGDGHVGH-DYpH&RQFOXVmRUHWRPDGDGDVH[SUHVV}HVGRLQtFLRGRSRHPD18.

    O Salmo 146 enquadra-se, com pequena variao, nessa forma hni-ca, visto que possui os seguintes elementos:

    Para a conceituao de Crtica das Formas, cf. KRGER, Ren e SEVERINO &52$772-RVp0*8(=1Mtodos ExegticosS/2+),1.*Agora Entendo a Bblia S 3DUD XPD WLSRORJLD GRV JrQHURV OLWHUiULRV GRsaltrio, cf. GUNKEL, H. The PsalmsS%$//$5,1,75($//,9$3RpWLFD+HEUDLFDHRV6DOPRVS$6(16,290Livros Sapienciais e Outros EscritosS6&+g.(//$H&$51,7,&Salmos ISMANNATI, M. Para rezar com os Salmos S 5$*8(5+3ara com-preender os SalmosS021/28%28/ Os SalmosS:(,6(5A. SalmosS0F&$11-&OLQWRQThe Book of PsalmsS+$5-RINGTON, Wilfrid J. Chave para a BbliaS

    16 O Sitz im LebenVHUiWUDWDGRQRWySLFRDQiOLVHFRQWH[WXDO Assim, GONALEZ, A. El libro de los SalmosSDSHVDUGHOKHFRQIHULUXP

    carter didtico (cf. p. 626). Tambm WEISER, A. SalmosS6&+g.(//A. e CARNITI, C. Salmos ISLGHPSalmos IIS%$//$5,1,7REALLI, V. A Potica Hebraica e os Salmos, p. 61. Diversamente, RAGUER, H. Para compreender os Salmos, p. 28-29, utiliza a designao de Cnticos de louvor introduzidos por um invitatrio como subgrupo dos Salmos Festivos.

    18 ASENSIO, V. M. Livros Sapienciais e Outros EscritosS%$//$5,1,75($//,9$3RpWLFD+HEUDLFDHRV6DOPRVS0$11$7,0Para rezar com os SalmosS*81.(/+The PsalmsS+iXPDDQiOLVHGHWDOKDGDem WESTERMANN, C. Praise and Lament in the PsalmsS

  • REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/11 Convite inicial ao louvor formulada no imperativo (v. 1a), se-

    guido de um desejo de louvar Jav por toda a vida (v. 1b-2ab).+iXPDWUDQVLomRYHOHPHQWRSRVVtYHO19, entre a primei-

    ra parte (convite ao louvor) e a segunda (corpo qualidade de Jav), onde ao orador do Salmo lembrado que no se deve FRQDUHPSUtQFLSHVVHQmRVRPHQWHHP-DYp

    2FRUSRGRKLQRYUHODWDDVTXDOLGDGHVGH-DYpFRPRPR-tivos de louvor.

    $FRQFOXVmRYDUPDDSHUHQLGDGHGRUHLQDGRGH-DYpHUHWRPDDH[SUHVVmRGHDEHUWXUDGR6DOPR

    Dessa forma, pode-se visualizar o poema no seguinte esquema:

    Convite ao louvor

    v.1 Louvai a Jav! Louva minha alma a Jav.v. 2 Que eu louve Jav em minha vida.

    4XHHXHQWRHP~VLFD DPHX'HXV HPPLQKDH[LVWrQFLDTransio Y 1mRFRQHLV QRVSUtQFLSHV

    QROKRGRKRPHP ao qual no pertence a libertao.v. 4 Sair o esprito dele Retornar para o seu solo (p) Neste dia perecem seus pensamentos (projetos).

    Qualidade de Jav

    Y 'LWRVRDTXHPDMXGD R'HXVGH-DFy sua esperana [est] sobre Jav seu Deus.v. 6 Aquele que fez cus e terra o mar e tudo o que neles [h] aquele que mantm a verdade para sempre.Y $TXHOHTXHID]MXVWLoD SDUDRVGHIUDXGDGRV Aquele que d po para os famintos Jav solta os prisioneiros.v. 8 Jav abre [os olhos] os cegos Jav levanta os que foram derrubados Jav ama os justos.v. 9 Jav guarda os estrangeiros o rfo e a viva sustm, mas o caminho dos mpios subverte.

    Retomada do incio

    v.10 Reinar Jav para sempre teu Deus, Sio, de gerao em gerao. Louvai a Jav!

    19 ASENSIO, V. M. Livros Sapienciais e Outros EscritosS+iXPDDQiOLVHdetalhada em WESTERMANN, C. Praise and Lament in the PsalmsSTXHfala de uma transio para Salmo Didtico.

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies Estrutura literria20

    O arranjo estrutural do Salmo21 apresenta-se de maneira bastante clara HVLPSOHV(OHHVWiGLYLGLGRHPGXDVHVWURIHVWHPiWLFDVSULQFLSDLVYHYHQIHL[DGDVSRUXPDLQWURGXomRYEHXPDFRQFOXVmRYDEtudo emoldurado pela incluso, j notada, incluso de Hy"-Wll.h; (v. 1a e 10c).

    A Introduo um convite ao louvor formulado na primeira pessoa do singular, mostrando a disposio do salmista em louvar a Jav por toda a sua vida.

    A Concluso tem a segunda pessoa do singular, numa declarao OLW~UJLFDQDOOHPEUDQGRD6LmRTXH-DYpUHLQDUiSDUDVHPSUH

    $SULPHLUDHVWURIHDWUDYpVGHXPDH[RUWDomRQHJDWLYDHPVHJXQGDSHVVRDGRSOXUDOYFRQWUDVWDDTXHOHVTXHFRQDPHPSUtQFLSHVQRVquais no h salvao, por serem apenas homens mortais (v. 4), com os bem-aventurados que recebem ajuda do Deus de Jac e pem a sua es-SHUDQoDHP-DYpY

    A segunda estrofe tematiza duas qualidades de Jav: Criador de to-GDVDVFRLVDVYH$PSDUDGRUGRVPDLVIUDFRVYDE(PFRQWUD-partida, o apresenta como o destruidor do caminho dos mpios (v. 9c).

    Esquematicamente, a estrutura literria do Salmo pode ser vista assim:

    Moldura inicial 1a Louvai a Jav!

    Introduo b Louva minha alma a Jav. 2a Que eu louve Jav em minha vida. E 4XHHXHQWRHP~VLFD DPHX'HXV HPPLQKDH[LVWrQFLD(VWURIH D 1mRFRQHLV QRVSUtQFLSHV E QROKRGRKRPHP ao qual no pertence a libertao. 4a Sair o esprito dele Retornar para o seu solo (p) b Neste dia perecem seus pensamentos (projetos). D 'LWRVRDTXHPDMXGD R'HXVGH-DFy b sua esperana [est] sobre Jav seu Deus.

    20 Informaes sobre Estrutura Literria em DOBBERAHN, F. E. Introduo aos Mtodos ExegticosSS.5h*(55HQpH6(9(5,12&52$772-RVp0*8(=1Mtodos ExegticosS

    21 Para outras propostas, cf. ALLEN, L. C. Psalms 101-150S0F&$11-&OLQ-ton. The Book of PsalmsSRQGHFLWDDLQGDDHVWUXWXUDSURSRVWDSRU-.VHOPDQ

  • REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/12 Estrofe 6a Aquele que fez cus e terra b o mar e tudo o que neles [h] c aquele que mantm a verdade para sempre. D $TXHOHTXHID]MXVWLoD SDUDRVGHIUDXGDGRV b Aquele que d po para os famintos c Jav solta os prisioneiros. 8a Jav abre [os olhos] os cegos b Jav levanta os que foram derrubados c Jav ama os justos. 9a Jav guarda os estrangeiros b o rfo e a viva sustm, c mas o caminho dos mpios subverte.

    Concluso 10a Reinar Jav para sempre b teu Deus, Sio, de gerao em gerao.

    0ROGXUDQDO F /RXYDLD-DYp

    Retrica e Estilstica22

    A anlise dos recursos retricos e estilsticos de um determinado WH[WRSRGHDEUDQJHUXPDYDVWDJDPDGHHOHPHQWRV&RQWXGRHVWUDDQi-lise se limitar a evidenciar os seguintes aspectos: 1) Paralelismos 2) Figuras de linguagem242XWURVSURFHGLPHQWRV.1 Paralelismo

    Na poesia hebraica as linhas paralelas servem, entre outros, ao pro-psito de enfatizar, contrastar ou acrescentar ideias ou conceitos de uma linha em relao outra.

    22 Princpios de Anlise Retrico-Estilsitca em EGGER, W. Metodologia do Novo TestamentoS),25,1-RVp/XL]H6$9,2/,)UDQFLVFR3ODWmR Lies de Texto: leitura e redaoS

    %$//$5,1,75($//,9$3RpWLFD+HEUDLFDHRV6DOPRVS$6(1-SIO, V. M. Livros Sapienciais e Outros EscritosS$/7(55As Ca-ractersticas da Antiga Poesia HebraicaS6&+g.(//$Potica Hebrea. Historia y ProcedimientosS

    24 6&+g.(//$Potica Hebrea. Historia y Procedimientos, p. 168-196. BALLARINI, T. & REALLI, V. A Potica Hebraica e os SalmosS

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies 1HVWHWH[WRHQFRQWUDPVHWUrVWLSRVGHSDUDOHOLVPRD6LQRQtPLFR

    DVHJXQGDOLQKDHQIDWL]DHHVSHFLFDRTXHIRLSURSRVWRQDSULPHLUDE$QWLWpWLFRDVHJXQGDOLQKDFRQWUDVWDRTXHIRLGLWRQDSULPHLUDFSinttico primeira linha acrescentado um conceito complementar.a) Sinonmico encontra-se nos seguintes versos:

    v. 2ab O termo louve (2aapHVSHFLFDGRHDPSOLDGRSRU entoe msica na linha seguinte (2ba) mostrando o tipo de louvor que o salmista deseja dar a Jav (2ab), meu Deus (2bb3RUPem minha vida Dg), repeti-da, entre outros termos, no v. 2bg (em minha existncia).YDE palavra ajuda Db), corresponde esperanaEa). Da mesma IRUPDDH[SUHVVmR'HXVGH-DFyDag) precisada com Jav seu Deus Ebg), enfatizando, como no v. 2, que o salmista tem por Deus a Jav.v. 10ab a frase Jav para sempre (10abg) tem seu sentido ampliado para teu Deus, Sio, de gerao em gerao (10babgd). Novamente fa-la-se, na primeira linha, de Jav de forma geral, para na segunda linha enfatizar que teu Deus (de Sio).Esses paralelismos sinonmicos mostram, de forma inequvoca, que o salmista tem motivos para louvar Jav, que no apenas Deus, mas o Deus dele e de todo seu povo.

    b) Antittico um nico versculo est construdo dessa forma:

    v. 9bcjH[SUHVVmRyUImRHDYL~YDVXVWpPEpFRQWUDSRVWRmas o caminho dos mpios subverteF&RPRVHUiYLVWRDEDL[RQmRpDSHQDVao rfo e viva que os mpios so contrastados, seno categoria de QHFHVVLWDGRVDOLVWDGDGHVGHRYc) Sinttico aparece nos versculos:

    YDE QROKRGRKRPHPDRTXDOQmRSHUWHQFHDOLEHUWDomREVHUYHGHFRPSOHPHQWRjLGHLDH[SUHVVDHPQmRFRQHLVQRVSUtQFLSHVv. 4ab GHPRGRVHPHOKDQWHDIUDVHGHpH[SDQGLGDFRPDVHQWHQoDGHEv. 6abDDUPDomRGHTXH-DYpFULRXRVFpXVHDWHUUDpDFUHVFLGDGDH[SUHVVmRGHTXHRPDUWDPEpPpGHVXDDXWRULDEHPFRPRWXGRRque eles (cus, terra e mar) contm (6b).

  • REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1Os paralelismos alistados acima ajudam a compreender as ideias

    TXHVHFRPSOHPHQWDPVHFRQWUDVWDPHVHH[SDQGHPFRQWULEXLQGRDV-VLPSDUDUHIRUoDUHHVFODUHFHURVHQWLGRGRWH[WR2 Figuras de Linguagem

    (QWUHDVJXUDVGH OLQJXDJHPSUHVHQWHVQR WH[WRGHVWDFDPVHD(OLSVHRPLVVmRGHXPRXPDLVWHUPRVQXPDRUDomRE$QWtWHVHHP-SUHJRGHH[SUHVV}HVRSRVWDVF3HUtIUDVHSDODYUDVRXIUDVHVTXHVXEV-tituem o nome comum.

    a) Elipse omisso do verbo hf,[o (6) ou seu equivalente no v. 6b.b) Anttese encontra-se no v. 9ab com a meno dos mpios depois GHXPDOLVWDGDTXHOHVTXHUHFHEHPDWHQomRHVSHFLDOGH-DYpE

    c) Perfrase pode ser vista no v. 6ab, onde a qualidade de Criador substituda pelo particpio aquele que fez.

    3 Outros procedimentos

    Entre outros procedimentos poticos pode-se destacar: a) Anfora UHSHWLomRGHXPDSDODYUDQRLQtFLRGHOLQKDVVXEVHTXHQWHVE0HULVPD26 UHSHWLomRGHXPDSDODYUDH[SUHVVmRRXLGHLDQRLQtFLRHPGHXPWH[WR

    a) Anfora hw"hy>pUHSHWLGRYH]HVQRLQtFLRGDVOLQKDVGRVYFDEFD

    b) Merisma cus e terraDVLJQLFDQGRWRGRRXQLYHUVR7DO-vez, tambm, rfo e viva. (9b) represente todos os desvalidos DOLVWDGRVRXQmRDSDUWLUGRYDDLVWRpdefraudados, famin-tos, prisioneiros, cegos, derrubados, justos , estrangeiros.

    c) Incluso Louvai a Jav v. 1 e 10 (j observada na delimitao).

    $DQiOLVHUHWyULFDHHVWLOtVWLFDWUD]jWRQDDVrQIDVHVGRWH[WRSHUPL-tindo ao leitor direcionar a busca de sentido do mesmo, o que corrobo-UDGRSHORSUy[LPRSDVVR26 6&+g.(//$Potica Hebrea. Historia y ProcedimientosS

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies B) Semntica27

    Com o propsito de compreender o sentido global do Salmo em tela, HVWDSDUWHGDH[HJHVHSURFXUDUiSHORVLJQLFDGRH[DWRGRVWHUPRVH[SUHV-V}HVHFRQFHLWRVTXHVHMDPUHOHYDQWHVSDUDRFRUUHWRHQWHQGLPHQWRGRWH[WR

    Os critrios aqui usados para selecionar as palavras, frases e ideias para a anlise semntica podem ser pelo nmero de ocorrncias, como RFDVRGRQRPHGH'HXVHWRGDDVpULHGHSHVVRDVUHIHULGDVSHODSRVLomRTXHRFXSDPQR WH[WRSRU H[HPSOR DV UHODo}HVHVWDEHOHFLGDVHQWUHRVpersonagens e assim por diante.

    a.8PSULPHLURHL[RVHPkQWLFRTXHSRGHVHUWUDoDGRDSRQWDDRFRU-rncia do nome de Deus e seus diversos correlatos: hw"hy> Jav DEDEEFDEFDDFHWRGDDVpULHGHSDUWLFtSLRVGRVYDDEyh;l{alePHX'HXVEwyh'l{a/VHX'HXVE%yIh;l{a/ WHX'HXVEbqo[]y: laev,'HXVGH-DFyD

    O Antigo Testamento, sobretudo os Salmos, fala de Deus a partir GDH[SHULrQFLDKXPDQDGHPDQHLUDDQWURSRPyUFDIRUPDVKXPDQDVRXantropoptica (sentimentos humanos), pois seus autores no conhecem, via de regra, a metafsica grega, de maneira que o uso dos diversos ver-ERVHDGMHWLYRVTXHPRVWUDPDDWLYLGDGHGH-DYpRX2TXDOLFDPVmRGRmbito ordinrio, do dia a dia do povo.

    O designativo Jav evoca, entre outras, a lembrana do Jav da Aliana. Aquele que se auto-revelou e estabeleceu um pacto com seu SRYROHPEUDQoDUHIRUoDGDQR6DOPRSHORVTXDOLFDGRUHV Deus de Jac DHteu Deus, Sio (10b) reconhecido pelo salmista como meu Deus E1R SULPHLUR FDVR D H[SUHVVmR Deus de Jac possibilita a com-preenso de que Jav o Deus das tribos de Israel, isto , de todo o povo. No segundo, Sio, aponta para um locusWHROyJLFRDQWHVTXHJHRJUiFRH uma carga teolgica no termo Sio que denota, entre outras, a con-cepo de morada e a sede do torno de Jav28 (cf. Salmos 9.12 (11)29 EGGER, W. Metodologia do Novo Testamento, p. 89-126.28 STOLZ, F. !Ayci In: JENNI, E. e WESTERMANN, C. Diccionario Teologico Manual

    del Antiguo Testamento, Tomo II.29 O nmero entre parntesis refere-se numerao da ARA.

  • REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1(VWDLGHLDSDUHFHVHURVLJQLFDGRGDSDODYUDQHVWHWH[WRpois o Salmo fechado com a declarao de que Jav reinar para sem-pre (v.10). A favor dessa interpretao fala o fato de que no se deve FRQDUHPSUtQFLSHVYD$VVLP-DYpDVVXPHDIXQomRGRVSUtQFLSHVTXDOVHMDSURPRYHUREHPHVWDUGRSRYRVREUHWXGRGRVH[FOXtGRVYDFRPRVHUiYLVWRDEDL[R1RWHUFHLURFDVRmeu Deus, o salmista se LQFOXLHQWUHRVTXHWrP-DYpSRUVHX'HXVTXDOLFDQGRVHDVVLPFRPRditosoYD

    $VIRUPDVSDUWLFLSLDLVHQFRQWUDGDVQRVYDETXDOLFDP-DYpFRPRHOFXMDGHOLGDGHVHH[SUHVVDQDPDQXWHQomRGD verdade para sempre (v. 6c) e como Criador dos cus e da terra. A preferncia pelo verbo hf,[o SDUDH[SUHVVDUDLGHLDGHFULDUID]HUSDUHFHHVWDUHPUHODomRGLUHWDFRPRYDTXHXWLOL]DRPHVPRYRFiEXORSDUDPRVWUDUTXH-DYpID]MXVWLoDaos defraudados, pois hf,[o se usa tanto para se referir ao criadora de Deus, quanto para suas aes em favor dos homens, o que parece ser RFDVR$VVLPRWH[WRSDUWHGDFRQFHSomRGHTXH-DYpFULDFpXVPDUHtudo o que eles contm, mas est interessado, de forma inequvoca, nos H[FOXtGRV

    Portanto, a imagem de Jav que o Salmo quer mostrar a de um 'HXVFULDGRUHPDQWHQHGRUGDFULDomRWDQWRTXDQWRGHXP'HXVHOTXHse interessa pelo seu povo, razo porque Ele deve ser louvado.

    b.2VHJXQGRHL[RVHPkQWLFRTXHGHYHVHUDQDOLVDGRpDTXHOHTXHcaracteriza alguns dos protagonistas do Salmo: ~ybiydIn>bi prnci-SHVYDHVHXVGHVLJQDWLYRV~d"a'-!b,BOKRGRKRPHPYEe ~y[iv'r> mpios (v. 9c).

    H que se perguntar pela relao dos trs termos acima, pois toma-GRV HP VHXV VLJQLFDGRV SDUWLFXODUHV VmR WRWDOPHQWH GLVWLQWRV$VVLP~ybiydIn>bi um vocbulo genrico para designar nobres ou prncipes. Sig-QLFDWLYRVVmRRVXVRVGRWHUPRQRV6DOPRVHRQGH'HXVHVXDDomRVmRFRQWUDSRVWDVDRVSUtQFLSHV$H[SUHVVmR~d"a'-!b,B., decom-posta, evidencia um termo geral para designar homem (~d"a'), sinnimo de vyai, que poderia ser usado aqui sem nenhum problema, pois tanto ~d"a' quanto vyai refere-se ao homem na sua transitoriedade. Contudo, a preferncia por ~d"a' se deve a um jogo de palavras com hm'd"a] (solo

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies v. 4a). Junto com !BeRWH[WRUHIRUoDDLGHLDGDFRQGLomRKXPDQDIUHQWHjperenidade de Jav. Pode-se argumentar, tambm, que OKRGRKRPHPevoca, em sentido antittico, que os prncipes no podiam ser represen-tantes de Jav, conforme a ideologia real da monarquia israelita, a no ser que cumprissem suas funes para com os desvalidos (cf. Deutero-Q{PLR-iR WHUPR~y[iv'r>, da raiz que quer dizer ser malva-doculpvel, usa-se, no Antigo Testamento, numa gama bastante ampla GHVHQWLGRVSRUH[HPSORmalvados, inimigos, mpios, malfeitores, mas tambm refere-se quele que se omite ou que contraria as prescries GRGLUHLWRGLYLQRHPUHODomRjFRPXQLGDGH1RWH[WRHPSDXWDRWHUPRvem acompanhado de %r[i cegos YD~ypiWpK. os que foram derrubados YE~yqiyDIc; justos YF~yrIGE estrangeiros YD~Aty" rfo (v. 9bahn"m'l.a; viva (v. 9bb). Ainda pode ser includa nesta lista !AYci Sio (v. 10b).

    Encabeando a lista, o verbo qv[SDVVLYRDTXLVLJQLFDextorquir, da o particpio os que foram extorquidos ou defraudados, implica, pois, XPSURFHVVRGHH[WRUVmRSRUSDUWHGHRXWUDSHVVRDRXLQVWLWXLomR3RGHVHSHQVDUQRSHVDGRHH[WRUVLYRVLVWHPDWULEXWiULRGDPRQDUTXLDLVUDH- 6&+-g.(/$Salmos II S FODVVLFD D OLVWD HPYiULDV FDWHJRULDV ItVLFD

    scio-econmica, scio-familiar e tica.

  • REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1lita ou, ainda, o que parece mais provvel, tendo em vista que Jav faz justia, do sistema judicirio que se caracterizava, desde sempre, pelo suborno e falso testemunho (cf. o episdio de Nabote em 1 Reis 21).

    Os famintosHVWmRFDWDORJDGRVQRVSDWDPDUHVPDLVEDL[RVGDLQGL-gncia na sociedade israelita. As causas mais comuns da fome eram a seca, a guerra e a perda da colheita. O que se deve destacar aqui o fato de que, aos famintos, Jav dirige uma ateno especial, fartando-os (1 6DPXHO6DOPRHH[LJLQGRTXHRVOtGHUHVGRSRYRWDP-EpPRIDoDP,VDtDV

    A meno de cegos neste Salmo inusitada, por ser rara a sua ocor-rncia no Saltrio. Apesar da cegueira poder ser compreendida de ma-QHLUDJXUDGDSRUH[HPSORQRFDVRGRVXERUQRGRTXDOpGLWRTXHFHJDos olhos dos sbios (Deuteronmio 16.19), aqui h que se pensar na cegueira literalmente, pois os cegos faziam parte do grupo de fracos e LQFDSDFLWDGRVSURWHJLGRVHVSHFLDLVGD/HLGH'HXV/HYtWLFR'HX-WHURQ{PLR&RQWXGRD UHVWULomRGHHQWHQGHUcegos literalmente no impede que se veja uma forma de se referir a todos os doentes que esto vulnerveis morte e ao abandono, sem possiblidade de restaura-o, impossibilitados de viver uma vida normal, pois a lista dos desfavo-UHFLGRVDTXLQRWH[WRGR6DOPRSDUHFHVHUUHSUHVHQWDWLYDGHWRGDVDVcategorias de oprimidos e espoliados em Israel.

    A palavra ~yqiyDIc; aqui traduzida por justos, pois piedosos no faz jus ao carter relacional que o termo indica. Com isso se quer dizer que o mbito de utilizao de ~yqiyDIc; o das relaes de lealdade do indivduo para com a comunidade, consequentemente, para com a aliana de Jav. 7DODOLDQoDLPSOLFDHPGHOLGDGHGRKRPHPSDUDFRPDFRPXQKmRWDQWRcom Jav como para com sua comunidade, estabelecendo, assim, um pa-dro de conduta que pode ser chamado de integridade, ou seja, justo DTXHOHKRPHPFXMDLQRFrQFLDpSURWHVWDGDHFRQUPDGDSRU-DYp-XVWRpo sujeito que mantem a tranquilidade e o bem estar dentro dos limites de seu grupo, no caso o povo de Deus. Geralmente tais protestos de inocn-cia derivam da necessidade de defesa do justo contra as falsas acusaes

    RAD, G. von. Teologia do Antigo TestamentoYRO,,S0F&$11-Clinton Jr. The Book of PsalmsSFRQFRUGDFRPHVVDLQWHUSUHWDomRGRVWHUPRVMXVWLoDMXVWRVHDFUHVFHQWDTXHGHQRWDPXPDGHSHQGrQFLDIXQGDPHQWDOGH'HXV

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies dos mpios que o querem destruir. Deste modo, pode-se dizer que o jus-to aquele que em sido declarado inocente pelo juzo de Deus.

    Particularmente no Salmo em questo, justos parte de uma srie de nove designativos que englobam, de uma forma ou de outra, uma relao jurdica com os responsveis pela manuteno do estado de legalidade que deve permitir o inteiro atendimento das necessidades de cada um dos grupos mencionados e do grupo como um todo, j que, como ainda ser visto, pertencem a um estrato social marginalizado dos direitos propug-nados pela lei de Deus. Diante disso, ~yqiyDIc; parece referir-se a todos os que, injustamente, so acusados pelos seus inimigos, os mpios, e que por isso buscam a proteo judicial de Jav.

    O termo rGEWHPFRPRVLJQLFDGREiVLFRHVWUDQJHLURUHVLGHQWHTXHteve que abandonar a sua ptria por algum motivo e se estabelecer num pas estrangeiro. Como tal, em Israel, ele desfruta dos mesmos direitos de um israelita e geralmente est a servio deste. Comumente, o rGE uma pes-soa pobre: contado entre os economicamente dbeis, que tm direito de ajuda igual s vivas e rfosFI/HYtWLFR3RURXWURODGRRVestrangeiros gozam da proteo divina, como pode ser visto tanto em Deu-WHURQ{PLRFRPRQR6DOPRHPDQiOLVH'HYHVHQRWDUDLQGDTXHHOHVQmR WrPDSHQDVGLUHLWRVPDV WDPEpPGHYHUHVFRPRSRUH[HPSORJXDUGDUR6iEDGR'HXWHURQ{PLRDOHLVGHSXUH]DJHUDODVIHVWDV(Deuteronmio 16.14), entre outras obrigaes. Desta forma, o estrangeiro em Israel equiparado do prprio israelita, devendo ser tratado como tal.

    Os dois ltimos vocbulos da lista, ~Aty" (rfo) e hn"m'l.a); (viva), podem, no geral, ser tratados em conjunto, visto que indicam os fracos no mbito familiar, que se encontram nesta condio, provavelmente, pela morte do homem, pais e marido.

    rfo designativo para aquela pessoa, normalmente criana, que perdeu o pai, com a consequente perda dos direitos de subsistncia e assis-tncia familiar. Por ser incapaz de se auto-sustentar torna-se dependente da boa vontade alheia e do amparo legal da sociedade, como se pode ver QDVSUHVFULo}HVGHXWHURQRPtVWLFDVSRUH[HPSOR'HXWHURQ{PLR

    KRAUS, Hans-Joachim. Teologia de los Salmos, p. 208. JENNI, E. e WESTERMANN, C. GER. Diccionario Teologico Manual del An-

    tiguo TestamentoFRO

  • 60 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    Deste modo, ao rfo garantida a vida, ainda que tenha perdido os pais. Ainda mais, semelhantemente ao estrangeiro e viva, o rfo goza de uma simpatia toda especial de Jav, que lhe defende o direito e lhe d proteo (Deuteronmio 24.18).

    Ao designar uma mulher como viva, o Antigo Testamento atesta muito mais a situao social da mulher do que seu estado civil. O fato de ter perdido o marido implica que ela perdeu o apoio econmico e social e, por isso, passa a pertencer ao rol dos pobres e indigentes da sociedade. A ela garantido os mesmos direitos que aos de sua categoria scio- HFRQ{PLFDDMXGDGDIDPtOLDSDWHUQDRXGRVOKRVVHRVWLYHUDWHQomRGDPDJLVWUDWXUDDX[tOLRGRVJRYHUQDQWHVHVREUHWXGRDSURWHomRGH-DYpPara aqueles que pervertem esses direitos da viva, uma maldio est UHVHUYDGDHP'HXWHURQ{PLR

    +iTXHVHQRWDUQDOPHQWHTXHRV WHUPRVyUImR, viva e estran-geiroDSDUHFHPJHUDOPHQWH MXQWRVSRUH[HPSOR'HXWHURQ{PLR6DOPRRTXHDRTXHWXGRLQGLFDUHIHUHPVHjTXHODFDWH-goria social mais desfavorecida dentro as sociedade israelita.

    A anlise acima revela os vrios aspectos de um setor social den-tro da comunidade de Israel que tem em comum o fato de que todos os grupos alistados pertencem ao estrato daqueles que foram, de uma ou GHRXWUDIRUPDH[FOXtGRVGRVGLUHLWRVTXHOKHDVVLVWLDP(PFDGDWHUPRDQDOLVDGREURWDXPHOHPHQWRHVSHFtFRGDQHFHVVLGDGHGDSHVVRDTXHunido aos demais elementos dos outros grupos, formam um quadro que UHHWHDTXHODSDUFHODRSULPLGDGDFRPXQLGDGHVHMDSRUH[WRUVmRIRPHaprisionamento por dvida, doena, por ter sido derrubada, acusada in-justamente, ser estrangeiro, ou ter perdido o pai ou o marido.

    7RGDHVVDFDWHJRULDGHSHVVRDVDSDUHFHQRWH[WRUHFHEHQGRRVFXLGD-dos especiais de Jav, pois ele faz justia para os defraudados; d po para os famintos; solta os prisioneiros; abre os olhos aos cegos; levanta os que foram derrubados; ama os justos; guarda os estrangeiros e sustm o rfo

    e a viva. 3RUWDQWRDVHPkQWLFDWH[WXDOSRGHVHUHVWDEHOHFLGDjEDVHGHVWDRSRVLomRIXQGDPHQWDO'HVWDPDQHLUDRHQWUHODoDPHQWRGRVHL[RVHVWXGDGRVrevela o sentido de cada palavra e, de resto, de todo o conjunto do Salmo.

    (PSULPHLUROXJDU-DYppTXDOLFDGRFRPRR'HXVGH-DFy'HXVHOHFULDGRUGHWRGDVDVFRLVDVe(OHTXHPYDLUHLQDUFRPRUHLHP6LmRde gerao em gerao. Em segundo lugar, aparecem os prncipes como

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies 61

    homens em toda a sua transitoriedade e impiedade, isto , aqueles que no cumprem suas funes para com os necessitados. Em terceiro lugar, surgem os grupos de miserveis, os quais recebem de Jav a ateno que QHFHVVLWDP$HVVHVJUXSRVpGLULJLGDDH[RUWDomRGHQmRFRQDUHPQRVprncipes ou nobres do povo e, por oposio, devem colocar sua esperan-a no Deus de Jac, porque somente Ele capaz de suprir o direito dos debilitados, negado pelo sistema administrativo em vigor.

    3RUWDQWRSRGHVHFRQFOXLUTXHRVHQWLGRGRWH[WRJLUDHPWRUQRGRinteresse de Jav pelos desfavorecidos e que somente Ele tem condies de cumprir as prerrogativas reais da manuteno da justia e bem estar que as camadas mais pobres do povo precisa, tornando-se, assim, nico DOYRGHHVSHUDQoDQRTXDOVHGHYHGHSRVLWDUWRGDDFRQDQoD1LVWRUHVL-de a felicidade dos pobres.

    2SUy[LPRSDVVRH[HJpWLFREXVFDUiUHODFLRQDUHVWHVHQWLGRGRWH[WRFRPRVFRQWH[WRVOLWHUiULRHVyFLRKLVWyULFRDPGHTXHVHSRVVDFRQWUR-ODUDFRUUHomRRXQmRGRVHQWLGRGRWH[WRTXHVHHVWiSURSRQGR4 Anlise contextual

    2REMHWLYRGD$QiOLVH&RQWH[WXDOpSHUPLWLURFRQWUROHGRVHQWLGRWH[-WR$WUDYpVGHODVHTXHUHVWDEHOHFHUDVOLJDo}HVLQWHUWH[WXDLVTXHSHUPLWHPabonar os resultados alcanados at o momento da pesquisa. A anlise pro-FHVVDUiHPGRLVPRPHQWRVSULPHLURWHQWDUVHiID]HUDVUHODo}HVGRWH[WRFRPVHXFRQWH[WROLWHUiULRFRPSUHHQGLGRDTXLFRPRROLYURGRV6DOPRVHHYHQWXDOPHQWHFRPWH[WRVTXHWHQKDPWHPDVFRUUHODWRVVHJXQGREXVFDUVHiUHFRQVWUXLUFRPDVLQIRUPDo}HVLQWHUQDVHH[WHUQDVGR6DOPRXPSRVVtYHOTXDGURVyFLRKLVWyULFRQRTXDORWH[WRVXUJLXHIRLXWLOL]DGRContexto literrio34

    2VWUrVHL[RVVHPkQWLFRVGRSDVVRDQWHULRUVHUYLUmRGHJXLDVSDUDesta anlise, a saber: Jav como rei e, portanto, assumindo as funes UHDLVDIXQomRVRFLDOGRVSUtQFLSHVHDDVVLVWrQFLDDRVGHVDPSDUDGRV EGGER, W. Metodologia do Novo TestamentoS'2%1(5$+1)(

    Introduo aos Mtodos ExegticosS

  • 62 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    2FRQWH[WROLWHUiULRGR6DOPRpFRPSRVWRSULPHLUDPHQWHSH-los poemas que o cercam, depois por todo o Saltrio. O Salmo 146 an-WHFHGLGRSHOR6DOPRTXHWHPDWL]DDERQGDGHGH-DYpUHLYSDUDcom todos, especialmente para com os que vacilam e esto prostrados (v. 14: ~ypiWpK.,cf. 146.8). Da mesma forma que o Salmo 146, o Salmo IDODGDVRUWHGRVtPSLRV~y[iv'r>).

    $RORQJRGH6DOPRSRGHVHYHUYiULRVHOHPHQWRVTXHHVWDEHOH-FHPXPDUHODomRHQWUHHVWH6DOPRHR6DOPR3RUH[HPSORRXVRGDH[SUHVVmRSio, teu DeusYRIDWRGHTXH'HXVGHUUXEDUiRtPSLR (v. 6b) e o seu cuidado para com diversas categorias de pessoas oprimi-GDVGLVSHUVRVYRVIHULGRVYRVKXPLOGHVYDHQWUHRXWUDV

    1HVWHFRQWH[WRR6DOPRIXQFLRQDFRPRXPDSRUWDGHHQWUDGDSDUDRVDVVLPFKDPDGRV6DOPRVGH$OHOXLDSHTXHQDFROH-omRTXHOHYDR6DOWpULRjVXDFRQFOXVmR,VVRSRGHVLJQLFDUTXHR6DOPR146 deve ser lido da perspectiva conclusiva do Livro dos Salmos, q u e forma uma incluso com os Salmos 1 e 2, o qual, ao que tudo indica, ajudam a clarear o sentido do Salmo em estudo.

    H toda uma srie de Salmos que apresentam Jav como Rei (por H[HPSOR(VWHVWUrV~OWLPRVDSUHVHQWDPQRFRQ-WH[WRGHVWDDQiOLVHOLJDo}HVPDLVSUy[LPDVFRPR6DOPR1HOHVIDODse de Jav como aquele que reina e julga os povos com equidade, jus-WLoDHGHOLGDGHFRPRDTXHOHTXHUHLQDHWHPSRUWURQRDMXVWLoDHRMXt]RHFRPRRSRGHURVRUHLTXHDPDDMXVWLoDUPD D HTXLGDGH H H[HFXWD MXt]R H MXVWLoD HP -DFy 2V WHUPRVtraduzidos por justia, equidade e juzo so os mesmos utilizados QR6DOPRGHQRWDQGRDVVLPDHVWUHLWDOLJDomRHQWUHDVFRQFHS-es dos dois Salmos de que somente Jav faz justia. A mesma ideia VREUHRUHLQDGRSRGHVHUYLVWDHPRXWUDVLQVWkQFLDV[RGR,VDtDVHQWUHRXWUDV

    3RUWDQWRDJXUDGH-DYpFRPUHLVREUH,VUDHOpEDVWDQWHFRPXPQRSaltrio, tanto quanto a caracterizao do mesmo como o responsvel pela administrao da justia. Por outro lado, a funo do rei humano pWLGDFRPRDGHVHURSDWUmRGRVLQGHIHVRV6DPXHO1DV Sobre a justia de Jav, cf. RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento, vol. ,,S

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies palavras de Kraus: tambm o rei se apresenta como advogado e salva-dor dos pobres. A ideia de que o rei o protetor dos fracos reto-PDGDHGHVHQYROYLGDQR6DOPRTXHSRUVXDLPSRUWkQFLDPHUHFHVHUtranscrito em parte:

    1'HXVGiDRUHLRVWHXVMXt]RVHDWXDMXVWLoDDROKRGRUHL 2 Julgue ele o teu povo com justia, e os teus pobres com equidade. Que os montes tragam paz ao povo, como tambm os outeiros, com justia. 4-XOJXHHOHRVDLWRVGRSRYRVDOYHRVOKRVGRQHFHVVLWDGRe esmague o opressor. [...] 12 Porque ele livra ao necessitado quan-GRFODPDFRPR WDPEpPDRDLWRHDRTXHQmR WHPTXHPRDMXGH Compadece-se do pobre e do necessitado, e a vida dos necessitados ele salva. 14 Ele os liberta da opresso e da violncia, e precioso aos seus olhos os sangue deles. [...] 18 Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, o nico que faz maravilhas.

    Nota-se que do rei espera-se que ampare toda sorte de necessitados e desamparados e combata o opressor, como se v claramente, tambm, HP,VDtDVRUiFXORGLULJLGRDRVSUtQFLSHVGH6RGRPD ,VUDHO$SUHQGHLDID]HUREHPEXVFDLDMXVWLoDDFDEDLFRPDRSUHVVmRID]HLMXVWLoDDRyUImRGHIHQGHLDFDXVDGDYL~YD(P-HUHPLDVRUiFXORDRUHLGH-XGiDUPD$VVLPGL]R6HQKRU([HUFHLRMXt]RHDMXVWLoDe livrai o espoliado da mo do opressor. No faais nenhum mal ou vio-OrQFLDDRHVWUDQJHLURQHPDRyUImRQHPjYL~YDQmRGHUUDPHLVVDQJXHinocente neste lugar.

    *HUKDUGYRQ5DGDRWUDWDUGDVIXQo}HVGRXQJLGR UHLDVVHYHUDVisto internamente, porm, era [o ungido] o guarda e a garantia do di-reito e da justia$RIXQGDPHQWDUVXDRSLQLmRFRPR6DOPRYRQRad argumenta:

    KRAUS, Hans-Joachim. Teologia de los Salmos, p. 204. Citaes da verso Almeida Revista e Atualizada (ARA). RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo TestamentoYRO,,S2SLQLmRLGrQWL-

    ca tem WOLF, H. W. Antropologia do Antigo TestamentoS2UHLTXHGHYHadministrar o direito de Jav julgado precisamente pela sua interveno em favor dos mais necessitados de ajuda. Ou o rei dos mais fracos ou no o verdadeiro rei em Israel.

  • 64 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    evidente, nas passagens que descrevem seu [do ungido] papel H[HPSODUFRPRJXDUGDGD MXVWLoDGH'HXVSRLV VHULDDJDUDQWLDGHWRGDVDVYtWLPDVGDLQLTXLGDGHHRDSRLRGRVRSULPLGRVTXHVHPHOH-cariam desamparados. [...] Este era a sentinela do direito e da justia, estabelecida por Deus e encarregada especialmente dos pobres e das vtimas das injustias.

    Nesta linha de raciocnio o Salmo 146 tem estreita ligao temtica HOp[LFDFRPR6DOPRQRTXDOpGHVFULWDDIXQomRGRUHLHPUHODomRaos miserveis. Estes mseros tambm povoam outros Salmos: defrau-dados famintos H derrubados justos Hestrangeiros, rfos e vivas

    6LJQLFDWLYDPHQWHSDUWHGHVWHVRSULPLGRVDSDUHFHQR6DOPR formando um conjunto de pessoas juridicamente desfavorecidas, os quais Hans-Joachim Klaus engloba com o designativo de pobres, dos quais diz: Pobre aquele que carece de proteo legal, que carece de LQXrQFLDHSUHVWtJLRVRFLDORTXHHVWiHQWUHJXHDRVFDSULFKRVGRVDGYHU-srios poderosos40.

    (PUHODomRDR6DOPRRWH[WRHPHVWXGRJXDUGDOLJDo}HVHPSHORmenos dois aspectos essenciais: primeiro, o aspecto da oposio entre a sorte do justo e a do mpio que perpassa todo o Salmo e culmina com a declarao: Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o FDPLQKRGRVtPSLRVSHUHFHUiYVHJXQGRRDVSHFWRGRPDFDULVPRditoso, feliz, bem-aventurado41TXHWDQWRQR6DOPRTXDQWRno Salmo 1.1 designam o homem que pe a sua esperana em Jav.

    Portanto, no parece apressado concluir que o Salmo 146 apresen-ta Jav como o protetor dos pobres, assumindo, assim, a tarefa de que era reservada ao rei humano de garantir a paz e a prosperidade entre os

    RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo TestamentoYRO,,S8PDPHQomRDRSDLGRUHL-RDTXLP-HUHPLDVpXPERPH[HPSORGHFRPRRUHLDJLDDIDYRUGRVQHFHVVLWDGRV2WHXSDLQmRFRPHXHEHEHXHQmRH[HUFLWRXRMXt]RHDMXVWLoD"3RULVVROKHVXFHGHXEHP-XOJRXDFDXVDGRSREUHHQHFHVVLWDGRHQWmROKHsucedeu bem. Porventura no isso conhecer-me? Diz o Senhor.

    40 KRAUS, Hans-Joachim. Teologia de los Salmos, p. 204.41 3DUDRVLJQLFDGRGH)HOL]&I0F&$11-&OLQWRQ-UThe Book of Psalms, S

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies GHVDPSDUDGRV'HVWDPDQHLUDDH[RUWDomRSDUDTXHQmRGHHHPSUtQ-FLSHVYWHPVXDRXWUDIDFHQDIHOLFLGDGHGHTXHPWHPR'HXVGH-DFySRUDMXGDH1HOHGHSRVLWDVXDFRQDQoDY2UHYHUVRGHVVDDVVHUomR o aniquilamento, por parte de Jav, do caminho dos mpios (v. 9c). Diante disso, possvel ao salmista declarar que louvar a Jav por toda DVXDYLGDYSRLVDPDQXWHQomRHSURWHomRGHVXDH[LVWrQFLDHVWmRgarantidas pelo prprio Jav.

    Contexto scio-histrico42

    A bem da clareza, a maioria dos Salmos no facilmente datvel FRPRRXWURVWH[WRVRVmR&RPSRXTXtVVLPDVH[FHo}HVSRUH[HPSORR6DOPRRVSRHPDVGR6DOWpULRRIHUHFHPDSHQDVLQGLFDWLYRVLQGLUHWRVde sua situao vital (Sitz im Leben) e menos ainda de sua situao his-WyULFD3RUWDQWRDWDUHIDGDDQiOLVHGRFRQWH[WRVyFLKLVWyULFRVHUiIXQGLUas informaes do Sitz im Leben com os elementos scio-histricos que porventura permeiem o Salmo 146.

    +iDFRUGRWiFLWRRXGHFODUDGRHQWUHRVH[HJHWDVGHTXHRV6DOPRVtm sua origem e desenvolvimento no culto israelita centrado no templo de Jerusalm. No h dvida de que o elemento cltico dos Salmos bastante evidente, seja pelos indicativos meldicos e harmnicos, seja SHOR VREUHVFULWR TXH LGHQWLFD DOJXpP FRPR OtGHU GR FRUR VHMD SHORVresponsos internos, etc. Contudo, a situao vivencial no culto nada mais HVFODUHFHGHTXHWDOHTXDOWH[WRIRLUH]DGRSHODFRPXQLGDGHHPGHWHUPL-QDGDRFDVLmRFROKHLWD$QR1RYRH[SLDomRDomRGHJUDoDV2EYLDPHQ-te que j alguma coisa saber disso. Porm, nada de absolutamente certo pode ser estabelecido a esse respeito. Assim, tem-se como tarefa auscul-WDURWH[WRHPEXVFDGHPDLRUHVGHWDOKHVTXHSRVVLELOLWHPDUHFRQVWUXomRmesmo que precria, de um cho para o poema.

    2XWUDGLFXOGDGHMiVXJHULGDDFLPDpRIDWRGHTXHRV6DOPRVSRUsua prpria natureza literria e teolgica, no fornecem datas, persona-gens e outros elementos que poderiam ser teis na localizao dos mes-mos nos limites histricos que permitissem uma interpretao mais segura

    42 .5h*(55HQpH6(9(5,12&52$772-RVp0*8(=1Mtodos Exegti-cosS(**(5:Metodologia do Novo Testamento, p. 191-196.

  • 66 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    GRVWH[WRV7RGDYLDKiDSRVVLELOLGDGHGHYHULFDUTXDLVRVSUREOHPDVWUD-WDGRVQR6DOPRTXDODVXDWHUPLQRORJLDSDUDDERUGDURVSUREOHPDVTXDLVRVWHPDVWUDWDGRVTXDODWHRORJLDGRPHVPR3RGHQGRVHGHVFREULUDOJXQVGHVVHVDVSHFWRVXPWUDEDOKRFRPSDUDWLYRFRPWH[WRVTXHWUDWHPSUREOHPDVVLPLODUHVXVHWHUPLQRORJLDSUy[LPDRXHTXLYDOHQWHDERUGHRVPHVPRVWH-mas, professe uma mesma teologia, ser bastante til para a elaborao de XPTXDGURDRPHQRVVRFLDOQRTXDOSRVVDLQVHULURWH[WRHPDSUHoR

    'HVWDIRUPDUHVWDHVFXWDURSRHPDHPVHXVGLYHUVRVHL[RVVHPkQ-WLFRVHWHQWDUFRPSDUiORVDRXWURVWH[WRVRTXHHPFHUWDPHGLGDMiIRLIHLWRQDDQiOLVHVHPkQWLFD26DOPRpGDWDGRQRSyVH[tOLRSRU$Q-tonio BonoraVHPPXLWDVH[SOLFDo}HV/HVOLH&$OOHQ44 atribui o Salmo ao mesmo perodo por causa de seu desenvolvimento crtico-formal e por causa do uso de material primitivo e sua linguagem. A meio caminho HVWi0LWFKHOO'DKRRGTXHDUJXPHQWDTXHRVGRLVDUDPDtVPRVGRVYpodem ser citados como sinal de composio tardia. Contudo, tal SHUtRGRSRGHULDVHUWDQWRRH[tOLFRTXDQWRRSyVH[tOLFR

    $RVHYHULFDUR WHPDSULQFLSDOGR6DOPR -DYppR UHLFULD-dor que sustenta a causa dos necessitados no lugar dos reis terrenos, al-JXQVSUHVVXSRVWRVYrPjWRQD$H[RUWDomRSDUDTXHQmRVHFRQHHPSUtQFLSHVSRGHVLJQLFDUYiULDVFRLVDVPDVQHQKXPVLJQLFDGRVHULDclaro se no houvesse um sistema monrquico atuando em Israel. Pode-se argumentar que o material utilizado primitivo, entretanto, qualquer TXHWHQKDVLGRRGHVHQYROYLPHQWRGRWH[WRFHUWDPHQWHTXHDVLWXDomRfundante deve permanecer, ainda que de forma emblemtica. Ademais, a teologia do Criador parece ter sido concebida num perodo anterior ao SyVH[tOLRFRPRDSRQWDDVQDUUDWLYDVGH*rQHVLVHGH'rXWHUR,VDtDVHQ-WUHRXWURVWH[WRV3RUpPPXLWRPDLVVLJQLFDWLYRpRIDWRGHTXHR6DOPRDSUHVHQWD-DYpFRPRRSRVWRVDRVJRYHUQDQWHVKXPDQRV0DLVH[RUWDRSRYRKXPLOGHDQmRFRQDUQHVWHVHVLP1DTXHOHTXHpRYHUGDGHLURHnico amparador do povo oprimido. Isso, sem dvida, quer levar o leitor a reviver uma situao na qual os prncipes pem em aperto uma parcela da populao, quando deveriam assisti-la.

    BONORA, Antonio. I Salmi, p. 206.44 ALLEN, Leslie C. Psalms 101-150S DAHOOD, Mitchell. Psalms III, 101-150S

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies 3RUWDQWRPHVPRTXHRWUHFKRQmRSHUPLWDXPDGDWDH[DWDpSHU-

    IHLWDPHQWHSODXVtYHOTXHVHHQWHQGDTXHRWH[WRHVWiWUDWDQGRGHDOJXPSHUtRGRGXUDQWHDPRQDUTXLDHPTXHRVUHLVQHJDPDX[tOLRDRVGHVDPSD-rados. Esta temtica pode ser vista em vrias partes do Antigo Testamen-to que mostram a opresso que os reis impem sobre muitos cidados LQGHIHVRV,VDtDV-HUHPLDV

    2VWHXVSUtQFLSHVVmRUHEHOGHVHFRPSDQKHLURVGHODGU}HVFDGDXPGHOHVDPDRVXERUQRHDQGDDWUiVGHSUHVHQWHVQmRID]HPMXVWLoDDRyUImRHQmRFKHJDSHUHQWHHOHVDFDXVDGDYL~YD,VDtDV

    (QJRUGDUDPVHHVWmRQpGLRVWDPEpPH[FHGHPROLPLWHGDPDO-GDGHQmRMXOJDPFRPMXVWLoDDFDXVDGRVyUImRVSDUDTXHSURVSHUHQHPGHIHQGHPRGLUHLWRGRVQHFHVVLWDGRV-HUHPLDV

    Eis que os prncipes de Israel, que esto em ti, cada um confor-me o seu poder, se esforam para derramarem sangue. No meio de ti GHVSUH]DUDPDRSDLVHjPmHQRPHLRGHWLXVDUDPGHRSUHVVmRSDUDFRPRHVWUDQJHLURQRPHLRGHWLIRUDPLQMXVWRVSDUDFRPRyUImRHDYL~YD(]HTXLHO

    6HQmRRSULPLUGHVRHVWUDQJHLURHRyUImRHDYL~YDQHPGHUUD-PDUGHVVDQJXHLQRFHQWHQHVWHOXJDUQHPDQGDUGHVDSyVRXWURVGHXVHVSDUDYRVVRSUySULRPDO-HUHPLDV

    &RPH[FHomRGHVWH~OWLPRWH[WRTXHWHPXPWRPSRVLWLYRGHSUR-messa, os outros so de condenao prtica de injustias dos gover-nantes em relao queles que deveriam proteger. Os profetas foram severos crticos na monarquia instituda nos moldes opressores de seus vizinhos. vista disso, trataram dos problemas que o reinado gerou HPPHLRjSRSXODomRPDLVFDUHQWH7UDWDUDPGHGHQXQFLDUDH[WRUVmRo falso testemunho, o roubo, o suborno, entre outras coisas. Todas essas prticas causaram um grande mal para os setores pobres da sociedade israelita.

    Ademais, tanto por parte dos profetas quanto do Salmo em questo, a recorrncia do tema de que s Jav pode dominar o povo com justia e HTXLGDGHDSRQWDWDPEpPSDUDXPPHVPRFRQWH[WRVyFLRKLVWyULFRQRqual, pelo que parece indicar a legislao deuteronomista, havia tamanho GHVHTXLOtEULRVRFLDOTXHH[LJLXOHLVHVSHFtFDVDIDYRUGDFDXVDGRVPLVH-UiYHLV'HXWHURQ{PLR

  • 68 REFLEXUS - Ano VIII, n. 11, 2014/1

    ,VVRSRVWRSRGHVHGL]HUTXHRFRQWH[WRYLWDOGR6DOPRpRFXOWRQR7HPSORGH-HUXVDOpP7RGDYLDDVLWXDomRVRFLDOpGHH[WUH-ma violncia e opresso praticadas pela monarquia, que se omite no cumprimento de seus deveres para com o povo em geral e para com os IUDFRVHPSDUWLFXODU'HVWDPDQHLUDRRUDQWHVHS}HQRWHPSORDPGHFHOHEUDQGRRXYLUDH[RUWDomRGHFRQDUHHVSHUDUVRPHQWHQRUHLJav, em quem h salvao e proteo das calamidades impostas pelo sistema em vigor.

    &RQFOXLQGRDDQiOLVHFRQWH[WXDOSDUHFHFRQUPDURSULPHLURVHQ-WLGRGRWH[WRDTXHVHFKHJRXQRQDOGDDQiOLVHVHPkQWLFD6HPG~YLGDDOJXPD-DYpDVVXPHDV IXQo}HVGHSURWHomRHDX[tOLRDRVGHVYDOLGRVIXQomR H[LJLGD GR UHL WHUUHQRPDV TXH QR FDVR DPRQDUTXLD LVUDHOLWDQmRDVH[HUFLDSHORFRQWUiULRHUDDSULQFLSDOFDXVDGRUDGHVWHHVWDGRGHopresso e sofrimento.

    6LQWHVHGRVLJQLFDGR2WH[WRSRGHVHUVLQWHWL]DGRGDVHJXLQWHPDQHLUD-DYppTXDOLFDGR

    FRPRR'HXVGH-DFy'HXVHOHFULDGRUGHWRGDVDVFRLVDVe(OHTXHPvai reinar como rei sobre Sio de gerao em gerao. Em contraposio, aparecem os prncipes como homens em toda a sua transitoriedade e im-piedade, isto , como aqueles que no cumprem suas funes para com os necessitados. Estes, por sua vez, so vistos pelo salmista como grupos de miserveis, os quais recebem de Jav a ateno que necessitam. A HVVHVJUXSRVpGLULJLGDDH[RUWDomRGHQmRFRQDUHPQRVSUtQFLSHVRXnobres do povo e, por oposio, devem colocar sua esperana no Deus de Jac, porque somente Ele capaz de suprir o direito dos debilitados, negado pelo sistema administrativo em vigor.

    3RUWDQWRSRGHVHFRQFOXLUTXHRVHQWLGRGRWH[WRJLUDHPWRUQRGRinteresse de Jav pelos desfavorecidos e que somente Ele tem as condi-es de cumprir as prerrogativas reais da manuteno da justia e bem estar que as camadas mais pobres precisam, tornando-se, assim, nico DOYRGDHVSHUDQoDQRTXDOVHGHYHGHSRVLWDUWRGDDFRQDQoD1LVWRUHVL-de a felicidade dos pobres.

  • REFLEXUS - Revista de Teologia e Cincias das Religies 69

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