Crise Europa Reflexos Brasil

download Crise Europa Reflexos Brasil

of 1

description

Reflexão Crise européia

Transcript of Crise Europa Reflexos Brasil

  • economia

    gvexecutivo 67

    A CRISE NA EUROPA E OS REFLEXOS NO BRASIL

    PAULO SANdRONI, FGV-EAESP, [email protected]

    Cenrio: julho de 1944, Alemanha e Japo pra-ticamente derrotados na II Guerra Mundial. Nos

    Estados Unidos, em Bretton Woods, New

    Hampshire, os Aliados reuniram-se para reorga-

    nizar o sistema monetrio e financeiro interna-

    cional. Uma das preocupaes de John Maynard

    Keynes, presidente da conferncia, era evitar que

    a crise de 1929 se repetisse. Props a formao

    de uma Clearing Union, isto , uma espcie de

    Cmara de Compensao para os pagamentos

    internacionais. Operaria com uma moeda (o

    bankor) independente de qualquer governo,

    para evitar abusos. Embora complexo, o sistema

    era engenhoso e, por meio de incentivos e casti-

    gos, procurava evitar os deficits crnicos de um

    lado que resultavam em dvidas impagveis e

    os superavits perptuos de outro, que condu-

    ziam inevitavelmente ao desequilbrio e crise.

    Os americanos no aceitaram a proposta e

    impuseram o dlar como meio de pagamento

    internacional. Gozaram das delcias dos ganhos

    de senhoriagem, mas o endividamento descomu-

    nal resultante desaguou no abandono do sistema

    em 1971. O dlar sofreu forte desvalorizao,

    provocando uma crise em todo o mundo.

    Hoje, os deficits crnicos espalham-se e as

    dvidas crescem como cogumelos na floresta: pes-

    soas, empresas e governos compraram coisas

    pelas quais no podiam pagar. Quando no hon-

    ram suas dvidas, as empresas literalmente que-

    bram. s vezes, no convm que desapaream, e

    os governos concordam em resgat-las do inferno.

    Mas necessrio pactuar com o diabo, aumentan-

    do suas j pesadas dvidas. Esse poder de salva-

    mento, no entanto, tem um limite. Uma vez

    ultrapassado, coloca-se o dilema: quem salva um

    governo atolado em dvidas e com deficits cres-

    centes? A rea do euro a mais duramente atingi-

    da. Grcia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itlia ou

    j beijaram a lona ou ainda cambaleiam. Frana e

    Alemanha, ainda de p, impem novas regras de

    austeridade para evitar que a pororoca se transfor-

    me em tsunami. A terapia conhecida: corte nas

    despesas, queda dos investimentos, aumento do

    desemprego e dos impostos. Mas essas medidas

    so recessivas. Agravam a crise fiscal, e a recesso

    pode durar mais tempo do que o necessrio. As

    condies sociais e polticas deterioram-se.

    O ranger de dentes pode transformar protestos

    em revoltas populares. Na Europa, dois subprodu-

    tos nefastos ganham fora: xenofobia (os poucos

    empregos devem ser para os nacionais) e regimes

    polticos pouco inclinados s consultas populares,

    isto , autoritrios, para segurar o carneiro quando

    a tosquia ultrapassa a pele e chega at os ossos.

    Os reflexos no Brasil j se fazem sentir: aumen-

    to da inadimplncia, queda nos investimentos e um

    crescimento em 2011 inferior a 3%. Em 2012, o

    PIB pode ser ainda menor, tornando evidente que a

    expanso de 7,5% em 2010 no era sustentvel.

    As dvidas crescem como cogumelos na floresta: pessoas, empresas e governos compraram coisas pelas quais no podiam pagar