VOZES DE MULHERES DE MEIA IDADE: DESAFIOS E ENFRENTAMENTOS ...
Crise Da Meia Idade
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OS SONHOS DE ONTEM E A REALIDADE DE HOJE
Richard Freitas Salari¹
Mara Regina Nieckel da Costa²
RESUMO
O presente trabalho apresenta um estudo qualitativo sobre a crise da meia idade, na qual as
pessoas tendem a rever suas idealizações e conquistas em relação aos projetos construídos na
juventude. A Crise da meia idade é entendida como um momento de auto-avaliação e
possíveis mudanças de vida, típico de crises de desenvolvimento e são vivenciadas pelo
homem quanto pela mulher. Tópicos como sexualidade, família, trabalho e relações sociais
são discutidos e mostram a necessidade da intervenção do psicólogo para facilitar a
elaboração da crise. A pesquisa concluiu que são vários os agravantes para a instalação desta
crise e que todo e qualquer individuo esta sujeito a passar por ela, em intensidades variadas.
Sendo parte de uma auto-análise típica desta fase e a própria aceitação do sujeito sobre o que
foi capaz de realizar.
PALAVRAS – CHAVE: Crise; Meia Idade; Avaliação de vida.
ABSTRACT
This paper presents a qualitative study of midlife crisis, where people tend to review their
achievements and idealizations regarding the projects built on youth. The crisis of middle age
is understood as a moment of self evaluation and possible changes of life, typical of crises of
development and are experienced by the man and the woman. Topics such as sexuality,
family, work and social relationships are discussed and show the need for intervention by the
psychologist to facilitate the development of the crisis. The research concluded that there are
several aggravating the installation of this crisis and that any individual is allowed to pass
through it, in varying intensities. Being part of a self-analysis typical of this phase and their
acceptance of the subject about which was able to accomplish.
WORDS - KEY: Crisis; Half Age; Assessment of life
INTRODUÇÃO
O estudo visa analisar a crise da meia-idade, uma vez que este momento de vida não
tem a atenção necessária nos dias de hoje. Os sonhos de ontem, analisados na maturidade, são
parte da crise da meia – idade, que pode ser vista como uma segunda adolescência, em que
_______________________________ ¹Acadêmico do Curso de Psicologia ULBRA/Guaíba
²Professora do Curso de Psicologia ULBRA/Guaíba e orientadora do trabalho
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questionamentos surgem juntamente no período em que aparecem os primeiros sinais de
envelhecimento, como os fios de cabelo branco e a perda do vigor físico. Tudo isso pode fazer
com que as pessoas se sintam mais melancólicas e entristecidas.
Neste contexto, queremos chamar a atenção para esta etapa da vida que é caracterizada
por um período de transição da idade adulta para uma fase de avaliação e reafirmação da vida
profissional e emocional. Há uma queda na produção de hormônios ligados à sexualidade,
tanto na mulher com a proximidade da menopausa, quanto no homem. Essa baixa hormonal
contribui para deixar as pessoas mais frágeis e aliado a outros fatores sócias e culturais, pode
desencadear um período de crise. Quando começa a meia idade? Será no dia em que os filhos
saem de casa, deixando os pais livres para fazer todas aquelas coisas que adiaram por tanto
tempo? Neste contexto surgem questionamentos como: o que fiz da minha vida e o que vou
fazer com o resto dela? Quanto tempo ainda tenho de vida?
A Meia - idade em termos cronológicos, geralmente é definida como o período entre
os 40 e 60 anos (EIZIRIK; KAPCZINSKI E BASSOLS, 2001), Uma pessoa de meia - idade
também é descrita como aquela que tem filhos crescidos ou pais idosos. Contudo, hoje em
dia, algumas pessoas que estão com 40 anos ou mais ainda se encontram criando filhos
pequenos e alguns adultos em qualquer idade não têm filhos. Aqueles que têm filhos
crescidos podem ver se com o ninho vazio, com a independência dos filhos que vão morar
sozinhos ou enchendo-se novamente perante chega dos netos.
Desenvolvimento psicossocial na Meia Idade
Erikson (1950), um dos mais influentes psicanalistas americanos, ampliou a teoria
psicanalítica do desenvolvimento para fora dos laços da família nuclear, focalizando seu
interesse além das questões da importância das primeiras experiências do bebê e do romance
familiar edípico para o mundo mais amplo, a sociedade, onde a criança interage com amigos,
professoras, dentro do contexto da cultura onde vive. Ele foi além de Freud, ao descrever o
desenvolvimento após a puberdade, contestando a noção de que a experiência infantil é o
único determinante de padrões de personalidade ao longo da vida. Considera que a pessoa
evolui durante toda a vida, interagindo constantemente com o meio ambiente. Sua teoria é
voltada para o desenvolvimento do ego ao longo do ciclo vital, sendo o ego a ferramenta
utilizada pelo individuo para organizar informações externas, testar percepções, selecionar
memórias, realizar ações adaptativas e integrar capacidades de orientação e planejamento. O
autor descreve oito estágios do desenvolvimento do ego, que abrangem desde o nascimento
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até a morte. Cada estágio apresenta aspectos positivos e negativos, é marcado por crises
emocionais e é afetado pela cultura particular do individuo e pela sua interação com a
sociedade da qual faz parte. Define como básico o principio epigenético, no qual cada estágio
psicossocial serve como base para o subseqüente. O mais importante é que considera que a
personalidade continua a ser moldada no decorrer dos oito estágios seguintes.
Dentre esses oito estágios fica uma atenção maior ao sétimo, que se referente ao
estágio adulto, cujo principal conflito é o de Generatividade x estagnação. Para Erikson
(1950), o impulso para promover o desenvolvimento da geração seguinte leva as pessoas de
meia-idade a tornarem-se mentores dos jovens adultos. O desejo de ter filhos é instintivo e,
assim, as pessoas que não tem filhos devem reconhecer seu senso de perda e expressar seus
impulsos de procriação de outras maneiras, diretamente ajudando a cuidar dos filhos de outras
pessoas ou como protetores no local de trabalho. Certa estagnação pode proporcionar um
descanso que leva a maior criatividade no futuro, mas a estagnação excessiva pode levar à
invalidez física ou psicológica. Geratividade é a preocupação de adultos maduros com o
estabelecimento e a orientação da nova geração. Antecipando o desaparecimento gradual de
suas próprias vidas, as pessoas sentem a necessidade de participar da continuação da vida.
O impulso gerativo não se limita necessariamente aos próprios filhos e netos de uma
pessoa. Embora Erikson (1985) acreditasse que as pessoas que não tenham filhos dificilmente
satisfariam essa necessidade, esse ponto de vista é hoje considerado estreito. O autor chegou a
afirmar que a geratividade pode ser expressa por meio do ensino ou instrução, por meio da
produtividade ou a criatividade, e da “auto - formação” ou “autodesenvolvimento”. A virtude
desse período é o cuidado: “Um alargamento do comprometimento em tomar cuidado de
pessoas, produtos e idéias que aprendemos a gostar” (ERIKSON, 1985, p.67). As pessoas que
não encontram uma saída para a geratividade tornam-se excessivamente preocupadas consigo
mesmas e com seus interesses, ou ficam estagnadas (inativas ou inertes). Como em todos os
estágios de Erikson, é o equilíbrio que é importante; até a pessoa mais gerativa passa por
períodos infecundos.
A tarefa do meio da vida é a de “gerar no sentimento mais abrangente... filhos,
produtos, idéias e obras de arte” (Erikson, 1974, p.122). O meio da vida vem a ser
compreendido então, como qualquer atividade que contribua para a passagem de uma geração
a outra, ser mentor de colegas mais jovens em suas profissões, escrever livros para estudantes,
produzir, rever opiniões, criar outras rotas para o caminho trilhado e assim por diante.
De acordo com a Revista Veja (2000), as pessoas da nova geração da meia-idade, de
modo geral, adquiriram o hábito de fazer ginástica poucos anos atrás, depois de atravessar a
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juventude inteira dando pouquíssima importância à forma física. Passaram a se preocupar com
a qualidade da alimentação após décadas de devoção às frituras e à lasanha. E derrubaram as
barreiras que separavam a moda dos adultos da moda dos jovens. Suas roupas têm cortes bem
parecidos com os modelos usados pela turma que está na casa dos vinte. Esse é o lado
glamoroso da nova turma de meia-idade. O problema é que, por trás dessa aparência jovial, há
mais que um estilo de vida. Há também muitas exigências que seus pais, por mais velhos que
aparentassem, jamais tiveram de enfrentar. Para esta geração contemporânea, conservar a
aparência não é só um traço de vaidade. Em alguns casos é uma questão de necessidade.
Outra exigência que pesa sobre a turma de meia-idade diz respeito ao casamento. Cerca de
vinte anos atrás, quem chegava aos cinqüenta alcançava um ponto de equilíbrio que
dificilmente seria abalado. Hoje, nessa faixa etária, muita gente está apenas começando ou
querendo começar tudo de novo. (E todo mundo sabe que aparência é meio caminho quando o
assunto é paquera e namoro.) O número de divórcios vem aumentando não apenas entre os
casais com menos de dez anos de vida em comum. As separações também alcançam casais
que já comemoraram as bodas de prata. Os especialistas consideram que os hábitos saudáveis
adquiridos pelas pessoas de meia-idade muitas vezes refletem apenas o temor de envelhecer,
próprio de uma geração que tem no currículo mais conquistas que qualquer outra que a
precedeu. "Esse medo gera angústia e, em muitos casos, depressão", afirma o psicólogo
Nicola Centrone (2000), da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. A questão ainda
não resolvida é que a necessidade de se manter jovem não consegue deter o processo de
envelhecimento. E o medo de envelhecer pode impedir que a pessoa viva e aproveite bastante
o momento atual – que sempre pode ser um ponto de partida para novas possibilidades.
A meia-idade é um período demarcado por mudanças, em especial psicológico para
os homens. Isso porque a percepção do envelhecimento, da proximidade da fase adulta, dos
filhos e a competição com pessoas mais jovens no mercado do trabalho podem deflagrar a
chamada “crise da meia-idade”. Esse momento pode tanto levar a uma reflexão e a um re-
direcionamento existencial como a uma estagnação, demarcada pelo marasmo e receio de
empreender mudanças, pois pode haver uma percepção de que a proximidade da morte faz
parte de sua vida. Em um olhar para os homens, nessa fase do desenvolvimento, norteou-se
pelas facetas da paternidade, da sexualidade e de seus projetos de vida.
O ser em seu pleno arco de meia idade se vê em competição com um profissional
mais jovem e sagaz nos desafios na ordem de trabalho. Com a preocupação de manter-se
ativo, mas já não tendo a plena certeza, se o que esta realizando realmente coincide com o
programado no começo da vida. Torna-se importante ressaltar que a maioria das pessoas no
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principio de sua entrada no mercado de trabalho, não tem muitas escolhas de atividades,
talvez pela falta de informação ou pelo fato de ainda não dar um valor exato para as diretrizes
da vida, acaba se acomodando em sua fonte de renda por ter que sustentar a família
constituída.
Os joelhos já não são mais os mesmos, mas a vontade de algo que ainda não alcançado
fica intermitente, cabe ao ser se estagnar e sofrer com suas decepções e objetivos não
alcançados ou virar a página e ir atrás de seus objetivos com a maturidade de que não a mais
tempo de apostas, mas sim de realizações concretas. No entanto, no momento que se torna
claro que não há algo a fazer a não ser se estacionar em um estado de decadência torna-se
inevitável a instalação de uma crise.
CARACTERISTICAS DA CRISE
Esta fase é entendida como um momento de auto-avaliação e possíveis mudanças de
vida, típico de crises de desenvolvimento que se manifestam tanto no homem quanto em
mulheres. Tópicos como sexualidade, família, trabalho e relações sociais são discutidos e
mostram a necessidade da intervenção do psicólogo para facilitar a elaboração da crise.
A crise da meia idade é também mais uma transição nebulosa e vaga sendo
desencadeada não por mudanças fisiológicas ou cognitivas, mas por um novo conjunto de
mudanças que dependem se a pessoa casou e teve ou não filhos; se a carreira estagnou ou
decolou; se ainda vive com os pais ou não e, se a pessoa sente algum declínio físico. Para
muitos adultos, o acúmulo dessas e de outras mudanças leva a um novo período de dúvidas.
Por volta dos vinte e poucos anos o adulto cria uma espécie de sonho ou fantasia do que será
feito de sua vida e começa o árduo trabalho para isso. Por volta dos 40 anos fazem uma auto -
avaliação que pode levar a uma sensação de perda ou fracasso. “O que fiz da minha vida e o
que desejo fazer com o resto dela?“ São questionamentos comuns característicos da crise da
meia idade.
Na faixa dos 40 anos, a perda da resistência e mesmo da beleza física gera uma
ansiedade que vai minando a auto-estima, criando em alguns comportamentos compulsivos e
até patéticos. A sensação de "última chance" ou de "preciso recuperar o tempo perdido" pode
ter um efeito positivo para alguns, quando encarada como um desafio para se adentrar uma
vida mais plena e rica. Inadvertidamente, para outros esse processo pode tornar-se um confuso
redemoinho, onde há uma desestruturação de valores que pode ter conseqüências danosas.
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Em chinês, os caracteres que compõem a palavra crise significam “perigo” e
“oportunidade”. Conscientes desse aspecto é preciso verificar se as crises apresentam ou não
um lado negativo. De fato, muitas teorias do desenvolvimento do adulto apresentam, como
um de seus conceitos básicos, a idéia de que o estresse ou crise pode mais transformar ao
invés, de causar rupturas. A exigência de alguma espécie de crise ou estresse para o
crescimento constitui outro assunto, embora que alguma ligação pareça fazer certo sentido.
Tal como a dor é um elemento que nos alerta quanto a algo estar errado com nosso
organismo, a intensidade ou a angustia podem ser necessárias para obter nossa atenção, para
nos dizer que necessitamos de alguma mudança. Os casamentos podem aprofundar-se e ficar
mais íntimos se o casal passar por momentos difíceis e aprender como melhor se comunicar;
uma viuvez muito precoce pode levar uma mulher jovem a desenvolver suas próprias
habilidades de uma forma que ela, de outra maneira, não faria. O fracasso nos negócios pode
aflorar a idéia de tentar algo pensado, mas até então não realizado ou apostado (LEVINSON,
1990, apud PAPALIA, 2000).
O ESTUDO
A pesquisa teve caráter qualitativo de cunho exploratório e objetivou identificar a
percepção das pessoas quanto ao momento de vida que se esta passando, sendo ele propicio
para a instalação da crise da Meia - Idade. Os sujeitos foram três industriários de uma fabrica
de Celulose. Para a coleta dos dados, que serviram de base para esta pesquisa, foi aplicada
uma entrevista semi - estruturada, realizada individualmente com cada sujeito.
As conclusões do estudo permitem perceber o quanto as primeiras decisões na vida
adulta refletem diretamente em uma crise instalada na etapa de meia idade, pois são estas
decisões que refletem nas satisfações e conquistas. Por muitas vezes o individuo tem que
abdicar de seus desejos e sonhos por conta da responsabilidade de uma estirpe. Contudo, à
vontade e os esforços de poucos que lutam para não cair em uma crise decadente, buscam
alternativas para realizar as idealizações não objetivadas em primeiro plano, com uma vida
financeira estabelecida realizam projetos paralelos para satisfazer suas vontades latentes ou
até mesmo transferem seus objetivos aos filhos.
Em todas as entrevistas um fator que chamou muito a atenção no desenrolar das
conversas, é que nesta etapa de vida a socialização se torna mais atraente do que os prazeres e
desejos sexuais nos relacionamento humanos. Onde valorizar o próximo se torna importante,
mas não como objeto sexual, mas sim como companheiros de atividades e amigos tornando
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um contexto mais sociável. Um exemplo disto foi evidenciado em um dos entrevistados no
momento que ele revela ter Blog de reflexões, para desenvolver novas redes e vínculos de
amizades.
Também ficou evidente a reflexão que o individuo faz de sua vida afetiva, social e
financeira, sendo uma etapa de muitas mudanças, entre elas a constituição de uma nova
família, talvez pelo desgaste ocorrente do tempo de matrimônio ou até mesmo de uma
vontade de mudança. Por outro lado a relação pode se tornar mais forte e sagaz se o casal
passar por momentos difíceis e aprender como melhor se comunicar. Nesta pesquisa deparou-
se com os dois parâmetros onde maioria dos entrevistados eram pessoas que já haviam
passado por um primeiro casamento com uma duração em média de quinze a vinte anos.
Por fim, é importante ressaltar a necessidade de outros estudos acerca do assunto, com
o objetivo de procurar entender este momento de vida e a instalação de uma crise da meia
idade, para que as pessoas saibam como lidar e quais medidas tomarem para que possam ter
momentos felizes e aceitarem as condições que se encontram, não dando valor ao que não foi
conquistado, mas sim pelo o que foi adquirido com esforço e humildade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bee, H. O Ciclo Vital. Trad. Regina Garcel. Porto alegre; Artes Médicas, 1997.
Eizirik, Flavio Kapclinki, Ana Margareth, Siqueira Bassols. O ciclo vital da vida humana uma perspectiva psicodinâmica. Artes Médicas, 2001
Papalia e Sally. Desenvolvimento Humano. Tradução Daniel Bueno. 7ª Edição, Porto
Alegre: Artes Médicas, 2000.
Erikson, Erik H. Infância e Sociedade. Ed. Zahar, 1974.
Freud, Sigmund. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Trad. Paulo Dias Corrêa. Rio
de Janeiro; Ed. Imago, 1997.
Griffa & Moreno, Maria Cristina e Maria Cristina. Chaves Para A Psicologia do Desenvolvimento, Ed. Paulinas, 2001.
Hellen L. Bee, Sandra K. Mitchell. A pessoa em desenvolvimento. Tradução: Jamir Martins.
São Paulo: Harper e Pow do Brasil ltda. 1984.
Lievegoed, Bernard Fases da Vida – Crise e Desenvolvimento da individualidade, Ed.
Antroposófica.
Nicola Centrome. A nova meia idade. Revista Veja. Edição 12 Janeiro 2000