Criatividade abre portas para convivência com o semiárido

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Aos 28 anos, o jovem agricultor familiar Renaldo da Silva Oliveira, é um exemplo de que é possível sobreviver no campo com qualidade de vida. Filho de agricultor, nascido na comunidade de Nova Esperança, em Ichu, ele conta que sempre trabalhou e estudou ao mesmo tempo e que a oportunidade de aprender técnicas para melhorar a produção surgiu a partir da experiência com o Projeto Prosperar no ano de 2004. Era uma semana estudando e a outra praticando na propriedade, participando de intercâmbios. O resultado disso é que hoje Nadinho como é conhecido, transformou a pequena propriedade de sete tarefas em um lugar diversificado. Bem planejada, a propriedade está dividida em dez partes, onde ele cria galinha e caprinos, tem um barreiro com água para a produção, hortaliças e área da roça com o plantio de feijão de corda, feijão de porco, leucena, sorgo, milho, frutíferas, plantas medicinais, pastagem, banco de proteínas e área de preservação de caatinga. Nadinho que mora com a mãe, é o único entre os sete filhos de Dona Josefa da Silva Oliveira que ainda permanece em casa. Viúva, Dona Josefa, fala que se orgulha de ter um filho tão inteligente e cuidando da casa. Ela conta que o que mais gosta de fazer é cuidar das galinhas, que além de ajudar na segurança alimentar da família, garante uma renda extra com a venda dos ovos. Ela também cultiva plantas medicinais, usadas como remédio caseiro. Chá de vicki, alfazema, alecrim, nim, entre outras plantas. Nadinho conta que trata os ferimentos de animais e de pessoas da comunidade que sempre procuram por remédios naturais. Para o combate a pragas, por exemplo, ele utiliza o nim. O agricultor pega quatrocentos gramas da folha, tritura no pilão ou liquidificador e mistura com 30 litros de água, de preferência no escuro, deixa passar oito dias e está pronto para ser usado. Parceria com a comunidade O trabalho de Nadinho não se resume a sua propriedade, ele também está sempre trabalhando com a comunidade junto à Bahia Ano 03| nº 55| junho | 2009 Serrinha-Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Jovem mostra que viver bem no campo é possível 1 Nadinho, a mãe, o irmão e sobrinhos que moram vizinhos Tudo que é produzido na propriedade reforça a sustentabilidade da família

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Aos 28 anos, o jovem agricultor familiar Renaldo da Silva Oliveira, é um exemplo de que é possível sobreviver no campo com qualidade de vida. Filho de agricultor, nascido na comunidade de Nova Esperança, em Ichu, ele conta que sempre trabalhou e estudou ao mesmo tempo e que a oportunidade de aprender técnicas para melhorar a produção surgiu a partir da experiência com o Projeto Prosperar no ano de 2004. Era uma semana estudando e a outra praticando na propriedade, participando de intercâmbios.

O resultado disso é que hoje Nadinho como é conhecido, transformou a pequena propriedade de sete tarefas em um lugar diversificado. Bem planejada, a propriedade está dividida em dez partes, onde ele cria galinha e caprinos, tem um barreiro com água para a produção, hortaliças e área da roça com o plantio de feijão de corda, feijão de porco, leucena, sorgo, milho, frutíferas, plantas medicinais, pastagem, banco de proteínas e área de preservação de caatinga.

Nadinho que mora com a mãe, é o único entre os sete filhos de Dona Josefa da Silva Oliveira que ainda permanece em casa. Viúva, Dona Josefa, fala que se orgulha de ter um filho tão inteligente e cuidando da casa. Ela conta que o que mais gosta de fazer é cuidar das galinhas, que além de ajudar na segurança alimentar da família, garante uma renda extra com a venda dos ovos.

Ela também cultiva plantas medicinais, usadas como remédio caseiro. Chá de vicki, alfazema, alecrim, nim, entre outras plantas. Nadinho conta que trata os ferimentos de animais e de pessoas da comunidade que sempre procuram por remédios naturais. Para o combate a pragas, por exemplo, ele utiliza o nim. O agricultor pega quatrocentos gramas da folha, tritura no pilão ou liquidificador e mistura com 30 litros de água, de preferência no escuro, deixa passar oito dias e está pronto para ser usado.

Parceria com a comunidade

O trabalho de Nadinho não se resume a sua propriedade, ele também está sempre trabalhando com a comunidade junto à

Bahia

Ano 03| nº 55| junho | 2009Serrinha-Bahia

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Jovem mostra que viver bem no campo

é possível

1

Nadinho, a mãe, o irmão e sobrinhos que moram vizinhos

Tudo que é produzido na propriedade reforça a sustentabilidade da família

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Associação Comunitária Rural de Nova Esperança e ao Centro São João de Deus. Uma das formas de garantir renda para família e beneficiar a comunidade é a parceria com o Centro São João de Deus, que adquire as hortaliças e distribui através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB).

Da venda das hortaliças, como couve, alface, cebola e coentro, que complementa a alimentação de famílias carentes da comunidade através do projeto, ele consegu uma renda de até 80 reais. O objetivo é ampliar o também para as escolas da comunidade. Outra idéia é a criação de um banco de sementes comunitário, que esteja disponível

para todos através da associação.

Além da horta, também podem ser encontrados legumes e verduras como a beterraba, tomate, pimentão, pimenta malagueta, e frutíferas como manga, pinha, graviola, jenipapo, umbu e atemoia.

Preocupado com o solo e a preservação da caatinga ele tem diversas plantas nativas e de outras regiões, como a palma, aroeira, cassutinga, pau de rato, articum, calumbi, angico, farinha seca, gliricidia e outras. Para descansar o solo nunca deixa os animais num pasto só. Utiliza para o feno para alimentação, que ele produz com a leucena, palha de milho e feijão maduro guardadas durante o inverno para usar na estiagem e o capim de corte, pastagem e o sal mineral que é o suplemento alimentar.

A Tradição do Boi Roubado

A comunidade é unida e mantém as tradições, uma delas é o boi roubado. Tudo começa com o trabalho em mutirão. Nadinho conta que todo sábado eles reúnem cinco vizinhos para trabalhar um dia na propriedade de cada um. Limpar o solo, levantar cerca e até alicerce de casa. Os agricultores chegam para trabalhar na casa do outro fazendo festa, tocando foguetes, e no fim do trabalho o dono da casa dá um animal, como carneiro, galinha para comerem e comemorarem o dia.

Nadinho fala que não sente necessidade nenhuma de ir para a cidade, já que a renda que ele ganha por mês tem sido suficiente para viver bem, além do que ele produz e consome da própria propriedade e lamenta que muitos jovens não enxerguem isso.

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Alface - complemento alimentar repassado para a comunidade através do PAA

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Bahia

Ministério doDesenvolvimento Social

e Combate à Fome

Secretaria de Segurança Alimentar

MARCAUGT

Apoio:

www.asabrasil.org.br

A tradição do boi roubado é herança cultural ainda