CORRELAÇÃO ENTRE O CRESCIMENTO … · Em março de 2005, ingressou no curso de Pós-graduação...

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CORRELAÇÃO ENTRE O CRESCIMENTO BACTERIANO EM PLACA COM A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E A CONTAGEM BACTERIANA TOTAL (CBT) DE LEITE PROVENIENTE DE VACAS COM MASTITE SUBCLÍNICA DO NORTE E NOROESTE FLUMINENSE THIAGO FARIAS DA SILVA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ FEVEREIRO – 2007

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CORRELAÇÃO ENTRE O CRESCIMENTO BACTERIANO EM PLACA COM A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E A

CONTAGEM BACTERIANA TOTAL (CBT) DE LEITE PROVENIENTE DE VACAS COM MASTITE SUBCLÍNICA DO NORTE E NOROESTE

FLUMINENSE

THIAGO FARIAS DA SILVA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ FEVEREIRO – 2007

CORRELAÇÃO ENTRE O CRESCIMENTO BACTERIANO EM PLACA COM A CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS (CCS) E A

CONTAGEM BACTERIANA TOTAL (CBT) DE LEITE PROVENIENTE DE VACAS COM MASTITE SUBCLÍNICA DO NORTE E NOROESTE

FLUMINENSE

THIAGO FARIAS DA SILVA

“Tese apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Produção Animal"

Orientador: Prof. Márcio Manhães Folly

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ FEVEREIRO – 2007

ii

“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo... Qualquer um pode recomeçar agora e fazer um novo fim”

(Francisco Cândido Xavier)

A minha mãe Adélia, pela Educação e Amor que sempre dedicou.

Ao meu pai Paulo Cezar, pelo exemplo de vida e família.

DEDICO

iii

AGRADECIMENTO

Ao Prof. Dr. Márcio Folly, pela orientação, incentivo e exemplo de

profissionalismo.

À CAPES pelo auxílio financeiro durante o Mestrado.

À Claudinha, Gina e Maria de Lourdes, técnicas de laboratório do LSA.

À Helen Monteiro pelo auxílio laboratorial.

Ao Prof. Alberto pela colaboração com as amostras enviadas para Embrapa.

Aos amigos Israel, Marlon, Jorge, Ricardo, Lívia, Catherine, Giselda, Iliani,

Cristina, Ritinha, Giseli, Melissa, Alessa, Fernanda e Carol.

À Prof. Celia Raquel pela colaboração na análise estatística.

À Jovanna e Etiene pelo auxílio, orientação e companheirismo.

Aos Professores do LSA: Olney, Carlos Eurico, Leonardo, Rose, Helena,

Eulógio, Sílvia Regina e Antônio.

Aos produtores de leite da região que permitiram a pesquisa.

Aos meus familiares pelo apoio durante toda a minha vida.

Ao meu irmão Cezar.

À minha namorada Priscila pelo apoio constante e dedicação em todos os

momentos.

A Deus e aos amigos espirituais de caminhada.

muito obrigado!!!

iv

BIOGRAFIA

Thiago Farias da Silva, nascido na cidade de Volta Redonda – RJ no dia 15

de abril do ano de 1980 e filho de Adélia Cristina Pires Farias da Silva e Paulo

Cézar da Silva.

Graduou-se em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do

Rio de Janeiro no ano de 2004.

Em março de 2005, ingressou no curso de Pós-graduação em Produção

Animal, mestrado, no Laboratório de Sanidade Animal do Centro de Ciências e

Tecnologias Agropecuárias da Universidade Estadual Norte Fluminense, em

Campos dos Goytacazes, submetendo-se à defesa de tese para conclusão do

curso, em fevereiro de 2007.

v

CONTEÚDO

LISTA DE FIGURAS................................................................................................viii

LISTA DE QUADROS...............................................................................................ix

LISTA DE TABELAS..................................................................................................x

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS..............................................................xii

RESUMO..................................................................................................................xiv

ABSTRACT...............................................................................................................xvi

1. INTRODUÇÃO........................................................... ………………………………..1

2. OBJETIVOS..............................................................................................................3

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .....................................................................................4

3.1. A Mastite.............................................................................................................4

3.1.1 Classificação de Mastite ................................................................................... ..5

3.2 Fatores ligados ao hospedeiro............................................................................7

3.2.1 Estágio de lactação.............................................................................................7

vi

3.2.2 Idade, raça e genética ........................................................................................8

3.2.3 Resistência Natural.............................................................................................8

3.3 Fatores ligados ao agente etiológico ................................................................11

3.3.1 Staphylococcus coagulase positivo: .................................................................12

3.4 Fatores ligados ao meio ambiente ....................................................................14

3.4.1 Ordenha ............................................................................................................14

3.4.2 Manejo e Clima .................................................................................................15

3.5 Qualidade e Inocuidade ....................................................................................16

3.6 Qualidade microbiológica do leite .....................................................................17

3.7 Legislação no Brasil ..........................................................................................18

3.8 Células Somáticas.............................................................................................20

3.8.1 Fatores que afetam a contagem de células somáticas ....................................22

3.8.2 Efeitos das células somáticas na produção e composição do leite .................23

3.9 Métodos de Detecção da Mastite......................................................................23

3.9.1 “California Mastitis Test” (CMT)........................................................................23

3.9.2 Contagem Eletrônica de Células Somáticas ....................................................24

3.9.3 Cultura de Amostras do Leite ...........................................................................25

3.9.4 Determinação da Qualidade microbiológica....................................................25

3.9.5 Determinação da contagem bacteriana do leite pelo método de citometria de

fluxo............................................................................................................................26

4. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................29

4.1 Coleta das amostras: ........................................................................................30

4.2 Procedimentos: .................................................................................................32

4.3 Análise estatística: ............................................................................................36

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO:.............................................................................38

5.1 Resultados da contagem de células somáticas:...............................................38

5.2 Resultados do crescimento bacteriano em placa: ............................................39

5.3 Resultados da contagem bacteriana total:........................................................40

vii

5.4 Resultados do isolamento bacteriano:..............................................................41

5.5 Correlação entre ECS, ECBT e crescimento qualitativo: .................................47

6. CONCLUSÕES: ......................................................................................................49

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ......................................................................50

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Média geométrica de CCS de vacas sem isolamento bacteriano em

diversos estágios de lactação................................................................39

Figura 2 - Contagem bacteriana total em função da temperatura de

armazenamento e da idade das amostras.............................................45

Figura 3 - “California Mastitis Test” com reação 3 cruzes......................................47

Figura 4 - Amostras identificadas com código de barras para CBT.......................48

Figura 5 - Aparelho Somacount 150......................................................................49

Figura 6 - Aparelho Bactocount 150......................................................................50

Figura 7 - Isolamento microbiológico em ágar sangue..........................................51

Figura 8 - Análise microbiológica qualitativa em ágar sangue classificada como

ECRTO=3..............................................................................................53

Figura 9 - Histograma com as médias de CCS e CBT das bactérias isoladas de

amostras de leite obtidas de vacas positivas no CMT...........................63

Figura 10 - Regressão Linear entre ECS e ECBT.................................................65

ix

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Requisitos microbiológicos para leite cru refrigerado a serem atingidos

em diferentes regiões do Brasil.............................................................31

Quadro 2 - Relação entre o escore de células somáticas (ECS) e a contagem de

células somáticas (CCS).......................................................................54

Quadro 3 - Escore do crescimento qualitativo em placas de Petri (ECRTO) dos

microrganismos......................................................................................54

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Contagem de Células Somáticas (CCS) em escore (ECS) das

amostras positivas para o California Mastitis Test (CMT), no período de

abril a dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e

Noroeste do Estado do Rio de Janeiro..................................................56

Tabela 2 - Crescimento bacteriano qualitativo em placa em escore (ECRTO) das

amostras positivas para o California Mastitis Test, no período de abril a

dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e Noroeste do

Estado do Rio de Janeiro.......................................................................57

Tabela 3 - Contagem bacteriana total das amostras positivas em escore (ECBT)

das amostras positivas para o California Mastitis Test, no período de

abril a dezembro de 2006, do leite de propriedades nas regiões Norte e

Noroeste do Estado do Rio de Janeiro..................................................58

Tabela 4 - Bactérias isoladas das amostras de leite positivas para o California

Mastitis Test (CMT), no período de Abril a dezembro de 2006, de

propriedades nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de

Janeiro...................................................................................................61

xi

Tabela 5 - Médias de CCS e CBT das principais bactérias isoladas das 101

amostras obtidas de vacas positivas no CMT no período de abril a

dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e Noroeste do

Estado do Rio de Janeiro.......................................................................63

Tabela 6 - Correlação entre ECS e os valores de ECBT e crescimento qualitativo

em placa das amostras de leite analisadas, no período de abril a

dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e Noroeste do

Estado do Rio de Janeiro.......................................................................64

xii

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

CMT California Mastitis Test

cel/mL Células por mililitro

CBT Contagem Bacteriana Total

CCS Contagem de Células Somáticas

CBP Contagem Bacteriana em Placa

CCTA Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias

ECS Escore de Células Somáticas

ECBT Escore de Contagem Bacteriana Total

ECRTO Escore de Crescimento qualitativo em placa

Log Logaritmo

IL Interleucinas

Ig Imunoglobulina

IN 51 Instrução Normativa 51

IIMs Infecções Intramamárias

IFN Interferon

TNF Fator de Necrose Tumoral

MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

MG Minas Gerais

NK Natural Killer

xiii

PNMQL Programa Nacional de Melhoria de Qualidade do Leite

ºC Graus Celsius

nm Nanômetros

mL Mililitros

mg Miligrama

Kg Quilograma

rpm Rotações por minuto

RIISPOA Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de

Origem Animal

UENF Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro

UFC/mL Unidades Formadoras de Colônias por mililitro

xiv

RESUMO

SILVA, Thiago Farias; M.S. Universidade Estadual do Norte Fluminense. Fevereiro de 2007. Correlação entre o Crescimento Bacteriano em placa com a Contagem de Células Somáticas (CCS) e a Contagem Bacteriana Total (CBT) de leite proveniente de vacas com mastite subclínica do Norte e Noroeste Fluminense; Professor orientador: Márcio Manhães Folly. O objetivo deste trabalho foi estudar a correlação entre os escores de crescimento

bacteriano por zona em placa (ECRTO), escores de Contagem de Células

Somáticas (ECS) e os escores de Contagem Bacteriana Total (ECBT) de leite

proveniente de vacas com mastite subclínica selecionadas pelo teste “California

Mastitis Test” (CMT) com resultado de 3 cruzes. Foram analisadas um total de

101 amostras de leite cru provenientes de vacas primíparas e pluríparas, de

diferentes graus de sangue, pertencentes a 15 propriedades rurais de exploração

leiteira localizadas nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Os

resultados demonstraram que 72 (71,3%) das 101 amostras apresentaram

valores de CCS acima de 1x106 céls/mL representados pelos escores ECS 7, 8 e

9. Os escores encontrados foram: ECRTO 0 (20,8%); ECRTO 1 (27,72%);

ECRTO 2 (18,81%). Observou-se que as amostras com ECRTO 3

corresponderam a 32,67%. Quanto ao ECBT, 77 (76,33%) amostras

apresentaram resultados acima de 106 UFC/mL e encontravam-se de acordo com

a Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura, que preconiza a qualidade

do leite, e 24 amostras (23,77%) estavam fora dos padrões da Instrução

xv

Normativa. Das 101 amostras obtidas, Staphylococcus aureus foi o

microrganismo mais isolado (20,8%), seguido por Streptococcus agalactiae

(6,93%), Staphyloccocus coagulase negativos (6,93%), Bacillus sp. (5,94%),

Streptococcus sp. (4,95%), Streptococcus dysgalactiae (4,95%), Corynebacterium

bovis (3,96%) e Staphylococcus sp. (2,97%). Outros microrganismos isolados em

associação totalizaram (8,91%) e 27 (26,73%) amostras de leite não

apresentaram crescimento bacteriano. A correlação entre as características ECS

e ECBT apresentou-se positiva e significativa (0,69). Observou-se coeficientes de

correlação baixos entre ECRTO com ECS (0,13) e ECRTO com ECBT (0,12).

Conclui-se que a relação entre ECS e ECBT do leite de vacas analisadas

individualmente é positiva e o Staphylococcus aureus é o agente predominante

nos casos de mastite subclínica na região Norte e Noroeste Fluminense.

Palavras-chave: Mastite, células somáticas, leite, bovinos, microbiologia.

xvi

ABSTRACT

SILVA, Thiago Farias; M.S. Universidade Estadual do Norte Fluminense. February of 2007. Correlation between scores of bacterial growth by plate zone with scores of somatic cells count (ESCC) and total bacterial count (EBCT) of milk originating from subclinical mastitis dairy cows located in North and Northwest areas of Rio de Janeiro state, Brazil; Guiding: Márcio Manhães Folly.

The main goal of this paper was to study the correlation between scores of

bacterial growth by plate zone (ECRTO), scores of somatic cells count (ESCC)

and scores of total bacterial count (EBCT) of subclinical mastitis dairy cows milk

tested by “California Mastitis Test” (CMT), with 3 plus scores. The study included

milk samples and dualy of then microbial profile. From 101 raw milk samples, from

primiparous and pluriparous cows analyzed, all from different breeding, and from

15 dairy farms, located in North and Northwest areas of Rio de Janeiro state,

Brazil. The results have shown that 72 (71,3%) out of the 101 samples, have

presented SCC values over 1x106 cells/mL and represented by scores ESCC 7, 8

and 9. It’s been noticed that the samples with score ECRTO 3, corresponded to

32,67% and for the following ECRTO which represented the most significant

result scores: ECRTO 0 (20,8%); ECRTO 1 (27,72%); ECRTO 2 (18,81%). The

EBCT, 77 (76,33%) corresponded to results over 106 UFC/mL which is in

agreement to Brazilian federal regulations of Ministério da Agricultura (Agriculture

Ministry of Brazil) that establishes milk quality regulations and 24 samples

(23,77%) were out of standards. From 101 milk samples, Staphylococcus aureus

xvii

was the most prevalent microorganism (20,8%), followed by Streptococcus

agalactiae (6,93%), Staphyloccocus coagulase negative (6,93%), Bacillus sp.

(5,94%), Streptococcus sp. (4,95%), Streptococcus dysgalactiae (4,95%),

Corynebacterium bovis (3,96%) and Staphylococcus sp. (2,97%). Other in

associated microrganisms isolated represented 8,91% and 27 (26,73%) milk

samples had no bacterial growth. The correlation between ESCC and EBCT

characteristics were positive significantly (0,69). A low coefficient correlation

between ECRTO and ESCC (0,13) and ECRTO and EBCT (0,12) was observed.

In conclusion, the relation between ESCC and EBCT of individually studied milk

samples was positive and Staphylococcus aureus is the prevailing agent in

subclinical mastitis in North and Northwest areas of Rio de Janeiro state.

KEY WORDS: Mastitis, somatic cells, milk, cows, microbiology

1

1. INTRODUÇÃO

A qualidade insatisfatória do leite produzido no Brasil é um problema

crônico, em que fatores de ordem social, cultural e econômico estão envolvidos.

Ao se promover uma melhora na qualidade deve-se levar em conta que o

controle inicia-se no processo de produção da fazenda através de aquisição e

manutenção de animais saudáveis e um manejo higiênico e sanitário adequados.

Conseqüentemente, o investimento em qualidade beneficia diretamente a

indústria, o consumidor e o produtor, que recebe melhor pagamento pelo produto,

através de premiação para cada uma das especificações de qualidade. Ao

mesmo tempo, o produtor é beneficiado indiretamente através do diagnóstico e o

combate à mastite, verificado pela quantidade de células somáticas, que levam a

menor perda de produção por vaca (RUBEZ, 2006).

A partir da década de 90 houve grande interesse em utilizar o leite de

tanque para diagnosticar problemas de mastite e qualidade nos rebanhos

leiteiros. Esta é uma ferramenta utilizada em muitos países e que pode trazer

informações sobre a ocorrência de problemas existentes e potenciais, como a

presença de resíduos de antibióticos, aumento na contagem de células somáticas

(CCS) e variações na contagem bacteriana total (CBT) (SANTOS, 2004a).

2

A CCS é um critério mundialmente utilizado por indústrias, produtores e

entidades governamentais para o monitoramento de mastite em nível individual e

de rebanhos e para a avaliação da qualidade do leite. Os resultados da CCS

podem ser obtidos a partir de amostras de quartos mamários (principalmente em

trabalhos de pesquisa), amostras compostas dos quatro quartos (monitoramento

de rebanhos) e de amostras do tanque (monitoramento da qualidade do leite). A

sua utilização como ferramenta para monitoramento de mastite e avaliação da

qualidade do leite teve início no final da década de 1970. A partir de 1992, os

países da União Européia adotaram como limite máximo legal para a CCS do

leite para consumo humano, o valor de 400.000 cel/mL, enquanto no Canadá e

nos EUA, os limites fixados são respectivamente: 500.000 e 750.000 cel/mL,

dependendo da região. A partir de 2005, a Instrução Normativa 51/2002

(Ministério da Agricultura e Pecuária - MAPA) estabeleceu o limite de

1x106céls/mL para o leite de tanques de expansão produzido nas regiões Sul,

Sudeste e Centro-Oeste até o ano de 2008 e as demais regiões até 2010.

(SANTOS, 2006).

3

2. OBJETIVOS

Os objetivos do trabalho foram:

• Analisar a correlação entre o crescimento bacteriano em placa

qualitativo, Contagem de Células Somáticas (CCS) e a Contagem

Bacteriana Total (CBT) de leite proveniente de vacas com mastite

subclínica selecionadas pelo teste “California Mastitis Test” (CMT)

com resultado de 3 cruzes;

• Avaliação microbiológica de amostras de leite cru de vacas com

mastite subclínica identificando os principais microrganismos

causadores da enfermidade;

4

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. A Mastite

Mastite é a inflamação da glândula mamária primariamente devido a

infecção por microrganismos, embora estes possam não estar presentes na

ocasião do exame, e é considerada uma doença preocupante do rebanho leiteiro,

capaz de proporcionar grandes prejuízos, não somente pela redução da

produção e descarte do leite e animais, mas também pelas alterações das

características microbiológicas e físico-químicas do leite (TRONCO, 1997) . Esta

doença continua sendo o principal problema para a indústria de laticínios, apesar

de pesquisas na área e esforços para o seu controle (SEARS et al., 1993).

A enfermidade reduz a produção e a qualidade do leite com imensas

perdas econômicas, estimadas em U$200 por vaca/ano nos Estados Unidos

(SMITH e HOGAN, 2001). De acordo com o Conselho Nacional de Mastite dos

EUA (NATIONAL MASTITIS COUNCIL, 1996), em rebanhos para os quais não

são adotadas medidas de controle, cerca de 50% das vacas encontram-se

infectadas, em média, em dois quartos cada. Em relação aos animais, três em

cada dez vacas leiteiras apresentam inflamação clinicamente aparente da

glândula mamária. Entre os animais afetados, 7% são descartados e 1% morre

5

em conseqüência desta doença. Mais de 25% de todas as perdas econômicas

relacionadas às doenças em bovinos leiteiros podem ser diretamente atribuídas à

mastite (CULLOR et al., 1993).

A mastite continua sendo a enfermidade mais cara para a indústria leiteira

mundial, segundo resultados de uma intensiva investigação em rebanhos leiteiros

durante as últimas décadas, quando os tratamentos com antibióticos em todas as

vacas no momento da secagem e todas as mastites clínicas observadas, têm tido

resultados modestamente satisfatórios contra microrganismos contagiosos

(Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae). Porém, a rotina de

tratamento de todas as vacas tem sido criticada, recomendando-se uma terapia

seletiva (com identificação de bactérias), reduzindo-se, assim, os custos de

tratamento e a eliminação indiscriminada de patógenos menores, que estariam

tornando as vacas mais susceptíveis a patógenos ambientais, como coliformes,

geralmente resistentes a todos os antimicrobianos (ERSKINE, 2000).

No Brasil, estima-se que, em função da alta prevalência de mastite nos

rebanhos, possa ocorrer perda de produção entre 12 e 15%, o que significa um

total de 2,8 bilhões de litros/ano em relação à produção anual de 21 bilhões de

litros (FONSECA e SANTOS, 2000). Nos levantamentos feitos em rebanhos

leiteiros de São Paulo e Minas Gerais, 72% das vacas apresentaram mastite

subclínica em pelo menos um quarto e a taxa de quartos afetados foi de 46%. A

porcentagem de animais com mastite clínica foi de 17,45% (COSTA et al., 1995).

Considerando que a mastite subclínica reduz de 3 a 46% a produção de leite no

quarto afetado, pode-se perceber que estes rebanhos estão perdendo, em média,

cerca de 12% da produção de leite em decorrência da mastite. Os prejuízos por

mastite subclínica em propriedades segundo COSTA et al. (1999), nestas

mesmas regiões, correspondem em média a US$332,20 por vaca/ano e

US$21.000,00 por propriedade/ano.

3.1.1 Classificação de Mastite

Para PHILPOT e NICKERSON (2002), praticamente todos os indivíduos

que trabalham com gado leiteiro estão bem familiarizados com a forma clínica da

mastite, devido à sua evidência explícita e à sua fácil identificação, contudo

poucas pessoas têm a consciência da existência e da importância da forma

subclínica da doença. Assim, é fundamental focar a atenção primariamente sobre

6

a mastite subclínica, pois: a) ela é de 15 a 40 vezes mais prevalente do que a

forma clínica; b) usualmente precede a mastite clínica; c) é de longa duração; d)

é de difícil diagnóstico; e) reduz a produção de leite de forma significativa; f)

altera negativamente a composição do leite e; g) constitui um reservatório de

patógenos causadores de mastite que podem disseminar-se para outras vacas

do rebanho.

Nas Infecções Intramamárias (IIMs), a extensão da resposta inflamatória

varia de acordo com a natureza do estímulo e a capacidade de reação do animal.

Reações brandas, sem alterações macroscópicas detectáveis, porém, com

alterações químicas e microbiológicas do leite evidenciam a mastite subclínica,

detectada por testes específicos como o “California Mastitis Test” (CMT) e

Contagem de Células Somáticas (CCS). A mastite clínica resulta em respostas

inflamatórias mais severas com mudanças no aspecto da secreção láctea,

incluindo as alterações verificadas na forma subclínica. Contudo, há visíveis

mudanças no tecido mamário e, alguns efeitos sistêmicos, como hipertermia,

prostação e tremores musculares, conforme menciona HILLERTON (1996).

Nas mastites crônicas, não há ocorrência dos sinais externos do processo

inflamatório e o leite encontra-se aparentemente normal. Os quadros crônicos

são caracterizados pelo aumento de contagem das células somáticas (CCS) no

leite, com presença de células de descamação dos tecidos do úbere e

principalmente pelo afluxo de leucócitos para o quarto mamário afetado. Esta

enfermidade é geralmente de longa duração e pode afetar a vaca durante toda

sua vida produtiva, caso não sejam tomadas medidas efetivas para curá-la

(SARAN, 1986).

A infecção intramamária pode ou não apresentar sinais clínicos durante o

curso da doença, onde casos de mastite clínica podem aparecer no curso de uma

mastite crônica, podendo ainda haver casos agudos de mastite freqüentemente

causados por bactérias ambientais tais como Escherichia coli (BARKEMA et al.,

1999).

Os quadros de mastite prolongada ou crônica levam a contínua mudança

na constituição dos tecidos da glândula e tecidos produtores de leite que são

substituídos por tecidos conjuntivos ou fibrosos tornando o animal

economicamente inviável. A enfermidade do úbere é a reação dos tecidos da

glândula mamária em resposta à agressão provocada com retorno dos tecidos do

7

úbere ao seu desempenho normal e, conseqüentemente, ocorre uma série de

mudanças nos referidos tecidos. Quando ocorre um dano leve desta área ele é

rapidamente recuperável. As lesões mais graves têm por conseqüência a

destruição do tecido produtor de leite no úbere (SARAN, 1986).

3.2 Fatores ligados ao hospedeiro

3.2.1 Estágio de lactação

As IIMs podem suceder-se em diferentes etapas da vida do animal. Parto,

lactogênese e período seco constituem eventos reprodutivos que influenciam na

susceptibilidade à mastite (ELBERS et al., 1998). Durante o período seco, a

glândula mamária passa por uma involução ativa, principalmente nas duas

semanas seguintes à secagem da vaca. De acordo com ANDERSON e CÔTÉ

(2003), estudos demonstraram que 35% de todas as novas infecções ocorrem

durante esse período. PHILPOT e NICKERSON (2002), mencionaram que nessa

fase a glândula continua a secretar leite com o máximo acúmulo ocorrendo dois a

três dias depois de suspensa a remoção do leite; a pressão originada na glândula

promove dilatação do canal da teta, predispondo à entrada de microrganismos

para o interior do órgão. As bactérias não são mais removidas pela ordenha, o

processo de fagocitose não é eficiente em remover os materiais estranhos e a

desinfecção da teta já não é realizada; fatores que favorecem a instalação de

IIMs. Conforme ANDERSON e CÔTÉ (2003), nesse período há outra fase crítica,

que corresponde as duas últimas semanas que antecedem ao parto, quando

ocorre a colostrogênese, processo que acomete alguns mecanismos de defesa;

no início da lactação também há susceptibilidade devido ao estresse sofrido no

parto (glicocorticóides contribuem para menor resposta das células de defesa).

Do ponto de vista microbiológico, BRADLEY e GREEN (2000)

mencionaram que enterobactérias, causadoras de infecções durante o período

seco, têm habilidade em se manterem quiescentes na glândula mamária até o

parto, subseqüentemente, causando mastite clínica durante a fase inicial da

lactação. Na lactação e no processo de ordenha em si há maior susceptibilidade

de difusão de mastite contagiosa, já no período seco e intervalos entre ordenhas

a susceptibilidade recai sobre mastites ambientais.

8

3.2.2 Idade, raça e genética

A conformação da glândula mamária e tetos constituem uma característica

moderada a altamente herdável; tetos planos e cilíndricos são mais susceptíveis

a infecção do que os tetos de formato cônico (mais resistentes). A seleção

genética visando incremento na produção de leite foi acompanhada por aumento

a susceptibilidade às IIMs (PHILPOT e NICKERSON, 2002). NICKERSON

(2001), em investigações sobre mastite em novilhas, verificou uma maior

prevalência das IIMs em animais da raça Jersey (67,7%), quando comparado à

raça Holandesa (35%).

Quanto à idade dos animais, LADEIRA (1998) cita que fêmeas mais velhas

(sete a nove anos) são mais susceptíveis às IIMs devido a lesões internas e

desgaste sofrido pelo esfíncter do teto e pela glândula em si. JONES e BAILEY Jr

(1998) comentaram que a transmissão entre animais pode ocorrer ainda na

puberdade, por meio de amamentação cruzada. WAAGE et al. (2001)

mencionaram que, em novilhas, a presença antes do parto de edema de úbere,

edema de teta, sangue no leite ou vazamento de leite pelos tetos, está associada

com aumento do risco de ocorrência de mastite clínica pós-parto.

3.2.3 Resistência Natural

Uma glândula mamária normal é protegida por uma variedade de

mecanismos de defesa naturais frente às infecções. Esses mecanismos podem

ser não imunológicos (inespecíficos) ou imunológicos (GIRAUDO, 1996). O

primeiro deles está constituído por uma barreira física que inclui o canal e o

esfíncter do teto que possuem propriedades defensivas como um mecanismo de

oclusão relativamente eficiente, a roseta de “Furstenberg” e ainda, proteínas

bactericidas. Um mecanismo adicional de defesa do teto citado por NICKERSON

(1985) e HILLERTON (1996) é o seu revestimento por uma camada de queratina

(composta por células epiteliais descamadas, ácidos graxos e proteínas

catiônicas). Os autores comentaram que há evidências de que a queratina tenha

função de adsorver as bactérias, prendendo-as e removendo-as juntamente com

parte da camada de queratina durante o processo de ordenha.

9

TIZARD (2002) define como “segunda linha de defesa” os mecanismos

químicos e celulares conhecidos de maneira coletiva como imunidade inata ou

natural. Uma capacidade chave da imunidade inata é a resposta defensiva

centralizada do órgão afetado desencadeando uma inflamação. A inflamação, em

resposta às lesões tissulares microbianas, induz aumento de fluxo sangüíneo e

acúmulo de células capazes de destruir invasores. Essas células são neutrófilos

e monócitos (macrófagos na glândula mamária) capazes de fixar, de ingerir e de

destruir substâncias estranhas mediante o processo de fagocitose. Os fagócitos

estimulados expressam proteínas aderentes chamadas “seletinas” e “integrinas”,

podendo migrar desde os tecidos em um mecanismo chamado “quimiotaxia”. A

união do fagócito com a bactéria requer um recobrimento protéico para promover

a ingestão; essas moléculas são as opsoninas, que, no caso da imunidade inata,

correspondem a um tipo de complemento. De acordo com SORDILLO et al.,

(1997) o principal papel dos macrófagos é a sua habilidade de estimular a

migração de polimorfonucleares para o leite através da liberação de citocinas e

leucotrienos.

No sistema imunológico inespecífico existe a participação ativa de

neutrófilos, monócitos, macrófagos e também de um tipo de linfócito chamado de

“célula assassina natural” (NK). Essas células NK atuam mediante mecanismos

citotóxicos ativados por interleucinas sobre células tumorais e, também, por

exemplo, sobre Staphylococcus aureus obtidas do tecido mamário e ativadas in

vitro por interleucinas-2 (SORDILLO et al., 1997).

PAAPE et al., (2000) descrevem as células presentes nas secreções

mamárias e suas características da seguinte maneira: as células que compõe o

leite normal consistem em linfócitos, neutrófilos e macrófagos, assim como

células epiteliais. Pela presença destas últimas, foi criado o termo geral “células

somáticas”; nos quartos mamários livres de infecções, os macrófagos são os

tipos de células predominantes (35-79%), seguido pelos neutrófilos (3-26%),

linfócitos (10-24%) e células epiteliais (2-15%); a porcentagem de neutrófilos

tende a aumentar durante os períodos médio e final da lactação, com diminuição

dos linfócitos; em úberes infectados, a porcentagem de neutrófilos pode

aproximar-se de 100%; a contagem de células somáticas (CCS) de úberes não

infectados é geralmente abaixo de 50.000 céls/ml, porém as vacas com infecções

intramamárias, do tipo subclínica, tendem a contagens maiores.

10

SURIYASATHAPORN et al., (2000) citaram que a presença desses

fagócitos no leite, como células somáticas, aumenta prontamente seguindo-se a

invasão bacteriana, quando agem reconhecendo, ingerindo e destruindo o

material estranho. Fisiologicamente as células somáticas também podem estar

elevadas durante a involução glandular e ainda em condições de estresse (pós-

parto), colostrogênese ou início da lactação. O papel dos neutrófilos é fagocitar e

depois eliminar o patógeno invasor. O número de partículas que um neutrófilo

pode fagocitar e a ativação de um arsenal bactericida varia entre indivíduos e

também com o estágio de lactação (DALEY et al., 1991).

Junto à imunidade inata operam também na glândula mamaria proteínas

bactericidas (fatores solúveis) como complementos do tipo lisozima, sistema

lactoperoxidase-tiocianato e lactoferrina. O complemento é um complexo de

proteínas presentes no soro sangüíneo e no leite, capaz de incrementar a

fagocitose. Sua concentração é alta no colostro e no leite provenientes de vacas

com mastite, porém baixa em leite normal (OLIVER E SORDILLO, 1989).

De acordo com TIZARD (2002), a imunidade adquirida ou específica

constitui um sistema de defesa que não somente reconhece e destrói os

antígenos invasores, mas também retém “memória” do episódio. Se o mesmo

microrganismo invadir pela segunda vez o sistema imunológico, a reação ocorre

com maior prontidão e eficácia. O sistema imunológico adquirido consiste em

duas porções principais que proporcionam resistência aos invasores: uma se

dirige contra os invasores extracelulares, que são destruídos pelas proteínas

chamadas “anticorpos” – denominada imunidade mediada por anticorpos ou

“imunidade humoral” – e a outra como imunidade mediada por células ou

imunidade celular.

Imunidade Humoral – os anticorpos ou imunoglobulinas (Ig) secretados

pelas células plasmáticas são originados desde os linfócitos B. Existem quatro

classes de Ig no bovino IgG, IgM, IgA e IgE, de três subclasses, IgG1, IgG2a e

IgG2b. A função é formar complexos antígeno-anticorpo, com intensificação da

fagocitose, neutralização do antígeno e ativação do sistema de complemento.

Esse último é composto por uma série de proteínas sangüíneas, com interação

de uma cascata enzimática que funciona integrando as respostas inflamatórias

em casos agudos (GIRAUDO, 1996).

11

Imunidade Celular – as células do sistema imune secretam uma grande

variedade de proteínas em resposta aos sinais antigênicos que regulam as

imunorreações, enviando sinais entre células chamadas “citoquinas”. Essas

podem ser: interleucinas (IL1 e IL2), interferons (IFN) e fatores de necrose tumoral

(TNF) que são produzidos no úbere em níveis muito baixos, porém,

desempenham um papel importante estimulando o recrutamento de células para

dentro do úbere após a invasão bacteriana. É também representada

basicamente pelos linfócitos T do tipo CD4 e CD8. As células T possuem, em sua

superfície, uma estrutura de reconhecimento capaz de distinguir determinantes

antigênicos (SORDILLO et al., 1997).

SANTOS (2001) mencionou que, atualmente, são conhecidos dois tipos de

vacinas contra mastite que comprovadamente apresentam efeito positivo (J5

contra mastite causada por coliformes e uma vacina baseada em antígeno

capsular de Staphylococcus aureus) e ambas têm sido eficazes na diminuição da

severidade dos casos clínicos e no aumento da taxa de cura espontânea.

3.3 Fatores ligados ao agente etiológico

A epidemiologia da mastite varia consideravelmente dependendo da

espécie, quantidade, patogenicidade e infectividade do agente envolvido e há

evidências de que os fatores de risco diferem conforme essas características.

Segundo HARMON (1994), mais de 80 diferentes microrganismos foram

identificados como agentes causadores de mastite bovina, sendo que as

espécies mais freqüentemente isoladas são: Staphylococcus aureus,

Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis e

Escherichia coli. Podem ser divididos em dois grupos, baseados na sua origem:

patógenos contagiosos e patógenos ambientais (PEELER et al., 2000).

As do tipo contagioso referem-se às causadas pelas bactérias:

Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae, cujo habitat preferencial é o

interior da glândula mamária. Estão associadas às expressivas elevações da

CCS, com maior ocorrência de casos subclínicos, geralmente crônicos e de longa

duração. Os Staphylococcus freqüentemente causam mastite e são encontrados

colonizando a pele da glândula mamária, tetos e lesões nessas áreas, porém,

quartos mamários infectados são os principais reservatórios desses

microrganismos, sendo transmitidos por qualquer forma de contato. Segundo

12

HILLERTON (1996), os Streptococcus agalactiae são os microrganismos melhor

adaptados à glândula mamária e geralmente estão envolvidos em doenças

clínicas agudas e infecções subclínicas persistentes.

3.3.1 Staphylococcus coagulase positivo:

Os estafilococos apresentam-se na forma de cocos Gram-positivos,

isolados ou agrupados em cachos, pares e tétrades. São anaeróbios facultativos,

com maior crescimento sob condições aeróbias, não esporogênicos, produtores

usuais da catalase e imóveis. São bactérias mesófilas que apresentam

temperatura de crescimento na faixa de 7ºC a 47,8ºC (FRANCO e LANDGRAF,

1996). O gênero Staphylococcus é composto por cerca de 27 espécies, sendo

que algumas são freqüentemente associadas a uma ampla variedade de

infecções de caráter oportunista, em seres humanos e animais. Entre as espécies

que se destacam: Staphylococcus aures, S. epidermidis, S. saprophyticus, S.

haemolyticus. Tradicionalmente, os estafilococos são divididos em duas

categorias: coagulase positivos e coagulase negativos. Essa divisão é baseada

na capacidade de coagular o plasma sangüíneo, considerada importante

marcador de patogenicidade dos estafilococos. Entre os coagulase positivos, a

espécie de interesse é o S. aureus (TRABULSI et al., 1999).

O Staphylococcus aureus destaca-se como o microrganismo causador de

mastite contagiosa de maior importância, de maior ocorrência nos rebanhos

mundiais e de tratamento mais difícil devido à elevada resistência aos antibióticos.

Coerentemente, S. aureus é, também, o microrganismo patogênico mais

freqüentemente isolado no leite cru (ZECCONI e HAHN, 2000). Em

levantamentos epidemiológicos nacionais e internacionais, o S. aureus está

presente em cerca de 50% das infecções da glândula mamária dos bovinos

leiteiros (BRABES et al., 1999). Entre as características microbiológicas do S.

aureus, destacam-se as seguintes: são cocos Gram positivos, catalase e

coagulase positivos, β- hemolíticos, maltose e manitol positivos e formadores de

colônias pigmentadas (JAY, 1994). Podem apresentar mudanças nas

características bioquímicas, o que acarreta muitos problemas para o controle das

infecções porque afetam diretamente o sistema imunológico da vaca e sua

suscetibilidade às infecções (ZECCONI e HAHN, 2000). O S. aureus é

13

classificado como microrganismo mesófilo, porém, pode apresentar crescimento

em temperaturas compreendidas entre 7,0 e 47,8º C (JAY, 1994).

Quanto às mastites ambientais, os agentes partilham do mesmo

ecossistema do animal, como o solo, piso, cama, esterco e materiais orgânicos

encontrando um ambiente propício para propagação. Entre eles, sobressaem a

Escherichia coli, Klebsiella sp., Enterobacter sp., Pseudomonas sp.,

Staphylococcus sp. coagulase negativo, Streptococcus uberis, Streptococcus

dysgalactiae, Nocardia sp e fungos. Conforme SMITH e HOGAN (2001), a

população bacteriana tende a estacionar seu crescimento em torno de sete a dez

dias, quando há um declínio por exaustão dos nutrientes na cama onde o animal

está instalado. Esses tipos de patógenos não sobrevivem por longos períodos de

tempo na pele dos tetos. Os mesmos autores ainda citaram que colonização por

um grande número de microrganismos reflete a exposição à alta contaminação

ambiental, pois o Streptococcus uberis tem sido isolado da cama, solo, fezes e

urina. Segundo SANTOS (2004b), este microrganismo apresenta características

que causam impactos importantes sobre a qualidade do leite, pois as vacas

apresentando mastite clínica causada por este agente podem ter elevada

contagem bacteriana no leite produzido (até 107 UFC/mL). Além da glândula

mamária de vacas infectadas, esta bactéria pode ser encontrada em diversos

locais do corpo da vaca, como, por exemplo, na superfície da pele, trato genital, e

no solo, esterco e ambiente da vaca. Desta forma, em rebanhos com elevado

número de vacas infectadas por Streptococcus uberis podem ocorrer elevadas

contagens bacterianas (CBT) do leite do tanque. A ocorrência de picos

(aumentos) diários da CBT do leite pode estar associada com elevado nível de

mastite causada por Streptococcus uberis.

As IIMs causadas por patógenos ambientais são mais freqüentes no

período seco em relação ao período lactacional, podendo alguns animais

desenvolver mastite crônica, agindo como reservatório de patógenos (BRADLEY

e GREEN, 2000). PEELER et al. (2000) citaram que agentes da espécie

Arcanobacterium (Actinomyces) pyogenes podem estar ligados a infecções

agudas nesse período e sua importância reside em levar danos e perda de tecido

secretório.

A fonte de água também pode contribuir para disseminação de mastite,

principalmente causada por coliformes, pela contaminação por matéria fecal.

14

Para LANGONI (2000), apresentam-se com maior freqüência na forma clínica,

não estando associados às altas CCS e sua transmissão ocorre principalmente

entre as ordenhas.

3.4 Fatores ligados ao meio ambiente

3.4.1 Ordenha

A quantidade de bactérias existentes sobre a pele dos tetos antes de

colocar as teteiras reflete, ao mesmo tempo, a qualidade do ambiente onde se

movimentam ou permanecem os animais e a efetividade das práticas de higiene

adotadas. As práticas de higiene aplicadas antes da colocação das teteiras têm

como finalidades: diminuir os riscos de penetração de bactérias patogênicas

presentes sobre o teto no interior do úbere; limitar a contaminação bacteriológica

e de sedimentos no leite; contribuir com a estimulação do animal (TAVERNA,

2004).

As rotinas propostas para higienizar os tetos antes da ordenha são

múltiplas e variam desde algumas muito simples, que consistem em não fazer

nada e colocar as teteiras diretamente, até outras mais complexas, que

combinam práticas distintas de lavagem com o uso de desinfetantes e secagem

final. As recomendações associadas a essa prática que limitam a possibilidade

de novas infecções são: as vacas devem ingressar na sala de ordenha com o

úbere limpo e seco. O manejo dos currais, água, corredores e o ingresso na sala

de ordenha constituem papel determinante; os tetos sujos devem ser lavados

com água e imersos numa solução anti-séptica (TAVERNA, 2004). Segundo o

autor, os riscos associados à ordenha e ao funcionamento da ordenhadeira estão

situados esquematicamente em três níveis: contato de bactérias patogênicas com

vacas e tetos sadios; redução das defesas naturais das vacas lesadas na

extremidade do úbere e do canal do teto devido a ordenhas traumatizantes;

penetração de bactérias dentro do canal do teto durante a ordenha através de um

mecanismo físico chamado “refluxo” induzido pela ordenhadeira.

Durante a ordenha, o contato de bactérias patogênicas com tetos sadios

pode ser favorecido pelas mãos do ordenhador, água utilizada, pés sujos ou mal

lavados e as teteiras. Para isso, recomenda-se o uso de roupas apropriadas para

ordenha, utilização de água potável, mãos limpas e unhas cortadas, desinfecção

15

prévia dos tetos (pré-dipping) e imersão das teteiras em solução desinfetante

após a ordenha (TAVERNA, 2004).

3.4.2 Manejo e Clima

As práticas de manejo estão associadas com a susceptibilidade à mastite.

A CCS pode auxiliar na descoberta dos fatores determinantes da enfermidade. A

alta CCS no pós-parto pode indicar que o animal foi exposto à má condição

ambiental (umidade, sujidades, insetos, etc.) antes do parto, ou ao inefetivo

tratamento de infecções no período seco. A alta CCS no decorrer da lactação

pode advir de imprópria prática e/ou equipamento de ordenha (JONES e BAILEY

Jr., 1998).

Para HOGAN e SMITH (2001), as instalações utilizadas assumem

importância. Animais mantidos em baias facilitam as práticas de manejo da

fazenda, porém podem contribuir para a susceptibilidade à mastite, uma vez que

os animais são mantidos sobre cama muitas vezes constituída por material

orgânico, excelente suprimento para os microrganismos ambientais. Sistemas

como “free-stall”, quando mal projetados, deficientes em ventilação e drenagem,

têm conseqüências danosas à saúde da glândula mamária; nessas instalações, a

higiene assume importância primordial.

Para NICKERSON (2001), atenção deve ser dispensada ao combate aos

insetos, uma vez que podem atuar traumatizando os tetos, bem como agindo

como vetores para agentes contaminantes, difundindo as infecções. Vacas

mantidas a pasto, geralmente, têm risco reduzido de contraírem mastite quando

comparadas a animais confinados, entretanto, algumas condições na pastagem,

por exemplo, áreas baixas e alagadiças e/ou sombreadas, forragem grosseira e

áreas de aglomeração de animais, favorecem o desenvolvimento de

microrganismos ambientais e, conseqüentemente, a probabilidade de

contaminações. Atenção deve ser dispensada aos episódios de

retroamamentação e amamentação cruzada em fêmeas jovens, hábitos que

contribuem para o futuro estabelecimento da mastite. PEELER et al. (2000) ainda

comentaram sobre a aquisição de animais que, eventualmente, podem ser

portadores de infecções. Essas fêmeas constituem um fator de risco frente ao

rebanho, pois podem agir como difusoras de patógenos e requerem um manejo

diferenciado.

16

O clima, segundo RADOSTITS et al. (1994), assume importância em

função das mudanças de temperatura e umidade que podem influenciar

indiretamente na tríade de fatores determinantes (hospedeiro, agente e/ou meio

ambiente) que afetam a susceptibilidade à mastite.

3.5 Qualidade e Inocuidade

Os alimentos de origem animal são hoje vistos como problemas

particulares, cada vez mais presentes entre as preocupações dos consumidores.

No atual contexto de globalização de mercados, descuidar da qualidade e da

inocuidade dos produtos lácteos é arriscar a perda dos mercados interno e de

exportação, limitando o crescimento do respectivo setor leiteiro. Inocuidade é a

característica ou propriedade dos alimentos de não causar dano à saúde do

consumidor.

Os conceitos básicos de prevenção e controle da contaminação alimentar

e das doenças transmitidas através dos alimentos sugerem, geralmente,

melhorar a qualidade higiênica dos alimentos crus, aplicando boas práticas de

produção e criação. O conceito de qualidade tem se alterado à medida que

avançam as comunicações e o conhecimento científico. A Organização

Internacional de Normatização (ISO) define qualidade como a “totalidade de

atributos e características de um produto ou serviço para satisfazer as

necessidades declaradas ou implícitas”. Durante os anos 60, a composição

nutritiva dos alimentos era a certificação de qualidade. Nos anos 70, a ausência

de resíduos químicos foi um assunto importante para definir qualidade. Durante

os anos 80, os níveis máximos de resíduos, drogas, aditivos e contaminantes

tomaram um lugar preponderante na certificação de qualidade. Nos anos 90, os

consumidores passaram a dar prioridade aos alimentos sem risco para saúde,

ricos em proteínas, vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais (NARDONE e

VALFRÉ, 1999).

O resultado é um conceito mais amplo de Qualidade Total, proposto por

VALFRÉ e MORETTI (1991), que pode ser aplicado aos produtos lácteos:

1. qualidade higiênica ou inocuidade;

2. qualidade composicional;

3. qualidade nutricional;

17

4. qualidade sensorial;

5. qualidade tecnológica (apropriado para processamento, transformação,

armazenagem e distribuição).

3.6 Qualidade microbiológica do leite

Em condições normais, o leite é estéril ao ser secretado nos alvéolos do

úbere (INTERNATIONAL DAIRY FEDERATION, 1991). No entanto, ao ser

ordenhado, o leite pode se contaminar por um pequeno e bem definido número

de microrganismos, provenientes dos canais lactíferos, da cisterna da glândula e

canal do teto. Em função do número e do tipo de microrganismos, alterações

indesejáveis são produzidas na aparência, sabor ou odor do leite ou de seus

derivados. Além disso, alguns microrganismos podem representar risco à saúde

do consumidor, devido à ação de bactérias patogênicas (Listeria, Salmonella,

Staphylococcus aureus, Brucella, Mycobacterium), especialmente quando o leite

é ingerido cru (FONSECA e SANTOS, 2000; BRITO 1999).

Esperava-se que, com o processo de coleta a granel do leite e

conseqüente melhoria nas condições de transporte e de refrigeração, os

problemas em decorrência da carga microbiana do leite fossem amenizados,

porém isto não ocorreu. Apesar da adoção do armazenamento e coleta a granel

diminuir a proliferação de bactérias mesófilas (aquelas que possuem crescimento

ótimo em temperatura média de 35ºC), este processo promove a seleção de

bactérias psicrotróficas (aquelas que possuem crescimento ótimo em temperatura

média de 7ºC). Esses microrganismos possuem alta capacidade de produção de

enzimas que diminuem o valor nutritivo e o rendimento industrial do leite e de

seus derivados (CASSOLI, 2005; FONSECA e SANTOS, 2000). Há diversos

estudos que relacionam a alta carga microbiana com problemas na coagulação e

acidificação, produção de gás, geleificação, sabor amargo, aumento de

viscosidade e alteração de cor. Estas alterações causam diminuição da vida de

prateleira e diminuem o rendimento industrial. Portanto, a qualidade do leite

encaminhado às indústrias é essencial para o processamento dos produtos,

sendo esta qualidade determinada pelas condições de saúde dos animais

ordenhados, e pela manutenção das características próprias do leite durante o

armazenamento e o transporte (PRATA, 2001; GIGANTE, 2004).

18

3.7 Legislação no Brasil

Considerando as evidências que o leite produzido e consumido no Brasil

nem sempre apresenta a qualidade desejada, o Ministério da Agricultura do Brasil

iniciou há cerca de 10 anos uma discussão nacional, envolvendo os setores

científicos e econômicos do setor leiteiro, buscando alternativas para melhorar a

qualidade do leite produzido no país. Essa discussão resultou na Portaria nº166

(BRASIL, 1998), que estabeleceu um grupo de trabalho para analisar e propor um

programa de medidas visando o aumento da competitividade e a modernização

do setor leiteiro no Brasil. Esse grupo desenvolveu uma versão do Programa

Nacional de Melhoria da Qualidade do Leite (PNMQL), projeto que já vinha sendo

desenvolvido desde 1996, e o submeteu à consulta pública pela Portaria nº56

(BRASIL, 1999b). A versão definitiva das novas normas de produção leiteira foi

publicada na Instrução Normativa nº 51 (IN51), de 18 de setembro de 2002, que

determina novas normas na produção, identidade e qualidade de leites tipos A, B,

C, pasteurizado e cru refrigerado, além de regulamentar a coleta de leite cru

refrigerado e seu transporte a granel (BRASIL, 2002). Outro incentivo à

modernização da produção leiteira no Brasil ocorreu em 2003, pela Resolução n°

3088 (BRASIL, 2003), que aprovou financiamento de equipamentos de

resfriamento e coleta a granel para produtores de leite. A principal razão de todas

essas medidas foi a necessidade de adequação das normas publicadas no

RIISPOA (BRASIL, 1997) às atuais realidades de produção e consumo de leite no

Brasil.

Dentre as modificações preconizadas pela IN51, pode ser citada a

permissão de comercialização de leites pasteurizados tipos A e B com diferentes

percentagens de gordura (integral, padronizado, semi-desnatado e desnatado),

visando atender a um mercado consumidor cada vez mais crescente. Entretanto,

uma das principais alterações diz respeito ao leite tipo C; até então, o leite cru

destinado ao beneficiamento desse tipo de leite pasteurizado não possuía

parâmetros microbiológicos específicos. De acordo com as novas normas, esse

leite deve ser refrigerado já na propriedade e possuir uma contagem de aeróbios

mesófilos máxima de 1x106 UFC/mL, objetivo a ser atingido em diferentes prazos

de acordo com a localização geográfica da região produtora (Quadro 1).

Ainda, a denominação “leite tipo C” vigora até data determinada, variável

de acordo com a localização geográfica da região produtora (01/07/2005 nas

19

regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste e 01/07/2007 nas regiões Norte e Nordeste),

quando será então classificado apenas como leite pasteurizado.

Quadro 1. Requisitos microbiológicos para leite cru refrigerado a serem atingidos

em diferentes regiões do Brasil.

Índice mensurado

Até 01/07/2005 (S, SE e CO)

Até 01/07/2007 (NE e N)

De 01/07/2005 até 01/07/2008 (S, SE e CO) De 01/07/2007 Até 01/07/2010

(NE e N)

De 01/07/2008 até 01/072011 (S, SE e CO) De 01/07/2010 Até 01/07/2012

(NE e N)

A partir de 01/07/2011 (S, SE e CO) A partir de 01/07/2012 (NE e N)

Contagem

Bacteriana Total (CBT)

1,0 x 106 UFC/mL

1,0 x 106 UFC/mL

7,5 x 105 UFC/mL

1,0 x 105 UFC/mL (individual)

3,0 x 105 UFC/mL (conjunto)

Contagem de

Células Somáticas (CCS)

1,0 x 106 céls/mL

1,0 x 106 céls/mL

7,5 x 105 céls/mL

4,0 x 105 céls/mL

Fonte: Instrução Normativa nº 51(BRASIL, 2002). Outra importante norma descrita na IN51 é a regulamentação de

conservação, coleta e transporte de leite cru refrigerado, independente do tipo,

que deve ser feito a granel. Nas propriedades, o leite deverá ser refrigerado e

atingir a temperatura de 4ºC (tanques de expansão) ou 7ºC (tanques de imersão),

num período não superior a 3 horas após o término da ordenha. Também é

prevista a permissão de tanques resfriadores comunitários, que visa atender

pequenos produtores. Caminhões-tanque coletam o leite refrigerado e o

encaminham aos laticínios para o processamento. Na recepção dos laticínios, o

leite desses tanques não deverá apresentar temperatura superior a 7ºC (para leite

B) ou 4ºC (para leite C). Outro importante objetivo a ser alcançado é a redução da

contagem de células somáticas (CCS), em prazos similares aos estabelecidos

para contagem de aeróbios mesófilos.

A Instrução Normativa 51/2002 trouxe diversas vantagens e desafios para

o setor leiteiro, entre os quais se destaca a necessidade de realização de análises

de composição (teores de gordura, proteína e sólidos totais) contagem de células

somáticas e de contagem bacteriana total (CBT) das amostras de leite dos

produtores em laboratórios credenciados pelo MAPA (SANTOS, 2005a). Para

isso, o MAPA criou a Rede Brasileira de Laboratórios de Análise da Qualidade do

20

Leite (RBQL), que é responsável pela análise de todo o leite cru produzido no

país e composta atualmente por sete laboratórios centralizados. Estes

laboratórios possuem equipamentos automatizados de última geração e de alto

rendimento analítico. Todas essas normas representam um importante passo do

PNMQL, que buscam a melhoria da qualidade do leite cru produzido no Brasil,

resultando num produto final beneficiado de melhor qualidade.

3.8 Células Somáticas

Segundo BREER et al. (1976) e LANGONI (2000), a determinação da CCS

(Contagem de Células Somáticas) através de microscopia ótica direta foi

introduzida em 1910, por Prescott e Breed. Estes últimos sugeriram o uso do

termo “células corporais”, pois pesquisas ao longo do tempo indicavam que as

células do leite eram células epiteliais descamadas, entretanto, depois de 1960 o

termo contagem de células “somáticas” (substituindo “corporais”) tornou-se

comum (HARMON, 2001).

As células somáticas são, normalmente, células de defesa (leucócitos ou

células brancas) do organismo que migram do sangue para o interior da glândula

mamária com o objetivo de combater agentes agressores, mas podem ser

também células secretoras descamadas. Durante a inflamação, o maior aumento

da CCS é devido ao fluxo de neutrófilos para a glândula (HARMON, 1994, 2001).

A porcentagem dos diferentes tipos de células somáticas do leite, oriundos de

glândulas sadias são: (1) macrófagos – 60%, (2) linfócitos – 25% e (3) neutrófilos

– 15%. Aproximadamente 99% de todas as células do leite proveniente de um

quarto infectado serão de glóbulos brancos do sangue, enquanto 1%

remanescente será de células epiteliais secretoras que se originam dos tecidos

mamários. Juntos, esses dois tipos de células formam a CCS do leite, que é

geralmente expressa em “por mililitro” (PHILPOT e NICKERSON, 2002). A CCS é

um indicador geral da saúde da glândula mamária amplamente utilizada como

indicador de mastite subclínica, sendo aceita também, como medida padrão para

determinar a qualidade do leite (HARMON, 2001). O uso de contagem de células

somáticas é um método efetivo para avaliar rebanhos e monitorar os níveis da

doença na propriedade (SEARS et al., 1993).

A CCS do tanque de expansão é utilizada como medida de qualidade. Isso

se deve ao fato de que o aumento na CCS está associado com a redução da

21

concentração de componentes do leite (caseína, principalmente), reduzindo o

rendimento industrial do mesmo. Assim, muitos laticínios utilizam um sistema de

bônus ou penalizações, para estimular a produção de leite com baixas contagens

de células somáticas. Legalmente, os países impõem limites máximos para a

CCS do leite do rebanho, sendo que nos Estados Unidos, em algumas regiões,

esse limite é de 750.000 células/mL, enquanto na União Européia, Nova Zelândia

e Austrália o valor é de 400.000 células/mL (EDMONDSON, 2002).

HARMON (2001) afirma que em animais saudáveis a CCS geralmente

está abaixo de 200.000 células/mL, mas pode ser menor do que 100.000

células/mL em vacas primíparas. Assim, elevação acima de 200.000 céls/mL é

considerada anormal e indicativo de inflamação do úbere, sendo que esse valor

chega a milhões de células/mL nos casos clínicos. SURIYASATHAPORN et al.

(2000) especula a relação entre a CCS e o risco subseqüente de mastite clínica.

De maneira complementar, os resultados da CCS de vacas individuais

podem ser utilizados para avaliar a sanidade da glândula mamária através da

identificação do número de animais com mastite subclínica (vacas com CCS

acima de 200.000 células/mL de leite). Em rebanhos com monitoramento mensal

individual de todos os animais, pode-se utilizar a CCS para verificar a eficácia do

programa de controle de mastite adotado, assim como identificar animais

infectados cronicamente que apresentam CCS altas por vários meses. Os dados

da CCS obtidos de vacas individuais devem ser organizados de forma a

possibilitar a identificação de variações sazonais e definir estratégias de controle

para os períodos mais críticos do ano. A CCS é também bastante útil na

identificação de algumas poucas vacas que individualmente contribuem

significativamente na CCS total do tanque. Estas vacas identificadas com altas

contagens de células podem assim ser selecionadas para cultura microbiológica

do leite, secagem antecipada, descarte de vacas com mastite crônica e linha de

ordenha (ordenha dos animais com CCS alta após a ordenha de todos os

animais sadios). Esta medida pode auxiliar na diminuição do aparecimento de

novas infecções, pois diminui o risco de transmissão da mastite contagiosa

durante a ordenha (SANTOS, 2005b).

22

3.8.1 Fatores que afetam a contagem de células somáticas

A CCS é um fenômeno biológico dinâmico que está sujeito a variações

significativas, uma vez que é travada uma batalha permanente entre as células

somáticas e os microrganismos da mastite de um quarto infectado (PHILPOT e

NICKERSON, 2002). O fator mais importante afetando a CCS é o grau de

infecção da glândula mamária, embora existam outros fatores menos

importantes, como a variação diurna, o estresse, os estágios de lactação, a idade

da vaca, o tamanho do rebanho, o nível de produção de leite e a presença de

outras doenças (HARMON, 1994; LANGONI, 2000). As concentrações das

células somáticas podem variar de dezenas de milhares para dezenas de milhões

por mililitro, dependendo dos microrganismos envolvidos e do grau de inflamação

existente (PHILPOT e NICKERSON, 2002).

O estágio de lactação afeta a CCS, sendo que imediatamente após o parto

a CCS é alta, mas é rapidamente reduzida para níveis normais dentro de 4-5

dias, se não houver IIM. No entanto, em vacas sem isolamento bacteriano

(sadias) não ocorre efeito da ordem de parição e do estágio de lactação,

conforme pode ser visualizado na Figura 1 (SANTOS, 2006).

Figura 1. Média geométrica de CCS de vacas sem isolamento bacteriano na primeira (1), segunda (2) e terceira (3) lactação, em diversos estágios de lactação.

Fonte: (SANTOS, 2006)

Outro fator a ser considerado é a estação do ano, pois a CCS é,

geralmente, menor durante o inverno e maior durante o verão, devido,

provavelmente, às melhores condições ambientais para o crescimento bacteriano

durante o verão (HARMON, 1998). O agente causal da mastite pode também

23

influenciar na CCS, porém só será identificado com isolamento bacteriano

(HARMON, 1994).

3.8.2 Efeitos das células somáticas na produção e composição do leite

Há um considerável volume de pesquisas indicando que a produção de

leite diminui na medida em que a CCS aumenta. Vacas de primeira lactação

perdem 91Kg de leite por lactação e vacas mais velhas perdem 182Kg de leite

por lactação cada vez que a CCS dobra a partir de 50.000 células (PHILPOT,

1998). Segundo COLDEBELLA (2003), as perdas de produção de leite

associadas ao aumento da CCS são absolutas, isto é, independem da produção

de leite, e variam apenas com a ordem de lactação (vacas primíparas ou

multíparas).

As alterações de composição do leite ocorrem em conseqüência à

inflamação, que causa diminuição na capacidade de síntese da glândula mamária

e aumento da permeabilidade vascular. O leite apresenta redução nos teores de

cálcio, lactose, caseína e gordura, além de aumentar os níveis de íons sódio,

cloro e de proteínas séricas (SHUSTER et al., 1991; OLIVEIRA et al., 1999).

3.9 Métodos de Detecção da Mastite

Em razão de a mastite ser uma inflamação da glândula mamária causada

por microrganismos infecciosos, a detecção da doença pode ser feita pelo

monitoramento do grau de inflamação, ou por vários testes ao pé da vaca ou

laboratoriais. Os testes mais simples e diretos são os testes ao pé da vaca, como

o exame físico e o teste da caneca, seguidos por testes laboratoriais mais

sofisticados que usam reagentes químicos e meios de cultura. Na mastite clínica,

a detecção da doença é feita simplesmente pela observação visual do leite ou

dos quartos anormais, devido à resposta inflamatória. Contudo, na infecção

subclínica, devem ser usadas medidas indiretas da inflamação (PHILPOT, 1998).

3.9.1 “California Mastitis Test” (CMT)

O CMT estima qualitativamente a presença de células somáticas do leite e

pode ser feito ao pé da vaca para detectar a mastite. Os valores do CMT estão

24

relacionados com o número de células somáticas no leite. Os números de células

somáticas no leite tendem a aumentar durante a ordenha e permanecem altos

por várias horas. Portanto, para que os resultados sejam confiáveis, o CMT deve

ser conduzido antes da ordenha, mas depois da estimulação da vaca e da

eliminação dos primeiros jatos de leite. O reagente do CMT é um detergente

aniônico (alquil lauril sulfonato de sódio) capaz de emulsionar os lipídeos de

membrana dos leucócitos presentes no leite, liberando o material nucléico das

células somáticas (DNA), que leva à formação de um composto gelificado

correspondente à quantidade de células presentes. A intensidade da reação está

classificada com 5 escores: negativo, traço (suspeito), positivo 1+, 2+, 3+

(BLOOD e RADOSTITIS, 1991). A “raquete” do CMT é colocada sob o úbere e

alguns jatos de leite de cada um dos quatro quartos são despejados nos

respectivos coletores. O excedente é descartado inclinando-se a raquete e uma

quantidade igual do reagente do CMT é acrescentada, misturada e a reação é

observada. O CMT é valioso para a detecção das infecções subclínicas que

podem, de outra forma, continuar não sendo detectadas até que um estágio mais

avançado ou clínico da doença seja atingido (PHILPOT, 1998).

3.9.2 Contagem Eletrônica de Células Somáticas

Os contadores eletrônicos automatizados de células e o registro

computadorizado dos dados tornaram possível a obtenção de relatórios

periódicos da CCS de todas as vacas leiteiras de um rebanho. A avaliação

desses registros é útil para monitorar o progresso e revelar deficiências nas

práticas de controle de mastite (PHILPOT, 1998).

Este método é realizado com auxílio de aparelhos como o “Somacount

150” (BENTLEY INSTRUMENTS, 1994). Este é um aparelho composto por cinco

estruturas que formam o sistema óptico de leitura, que são: o conjunto de fluidos

com o corante brometo de etídio e o carreamento, que é o detergente RBS; um

computador; um canhão de laser; um leitor, denominado “Flow cell”; e um tubo

foto multiplicador, que faz a conversão de impulsos luminosos para impulsos

elétricos.

O aparelho funciona com um computador que controla todas as funções.

Utiliza um sistema óptico para detecção e contagem das células inflamatórias do

25

leite. Nesse aparelho, o leite é aspirado e misturado a uma solução, que cora o

núcleo das células somáticas. A contagem eletrônica de células somáticas é feita

pelo exame de citometria de fluxo, no qual os impulsos luminosos (fluorescentes,

sob luz ultravioleta) emitidos pelas células, decorrentes da associação DNA-

corante (brometo de etídio), após sua conversão em impulsos elétricos no tubo

fotomultiplicador, são lidos pelo aparelho. As células fluorescentes, ao passarem

pelo fluxo, carreadas por uma pequena corrente do fluido (RBS), ao serem

bombardeadas por um feixe de laser, produzem uma explosão luminosa de curta

refração que atravessa uma série de filtros ópticos e lentes, sendo focadas em

um comprimento de luz apropriado. Esses pulsos de luz são convertidos em

pulsos elétricos, amplificados, eletronicamente filtrados e ordenados por

tamanho, para que especifiquem as células somáticas. O computador conta os

pulsos elétricos como células inflamatórias e os números encontrados são

expressos em mil células por mililitro de leite (céls/mL) (BENTLEY, 1994).

3.9.3 Cultura de Amostras do Leite

Quase sempre desejável é determinar os tipos de microrganismos

causadores da infecção num rebanho específico, para que sejam identificadas as

soluções para o problema da mastite. Isso se faz através da cultura

microbiológica das amostras do leite dos quartos individuais, ou de amostras

compostas de vacas individuais. A precisão da cultura laboratorial depende da

maneira com que as amostras de leite são coletadas, armazenadas e

manipuladas. As amostras devem ser coletadas em tubos estéreis e refrigeradas

até que sejam enviadas para o laboratório (PHILPOT, 1998).

3.9.4 Determinação da Qualidade microbiológica

Os métodos utilizados para a determinação da qualidade microbiológica

podem ser divididos em qualitativos e quantitativos.

Entre os qualitativos, destacam-se o teste da redutase, teste da

fermentação e o teste da acidez. Apesar da praticidade de realização, estes

testes são subjetivos e indiretos, sendo utilizados apenas para um diagnóstico

geral da qualidade do leite (FONSECA e SANTOS, 2000).

26

Dentre os testes quantitativos, destaca-se a contagem bacteriana total

(CBT), em que são estimados o número de unidades formadoras de colônias de

bactérias por mililitros de leite (UFC/mL) (BRASIL, 1999a). Para esta

determinação, existem vários métodos disponíveis, sendo a contagem bacteriana

em placa (CBP), o método de referência. Amostras de leite em várias diluições

são semeadas em um meio de cultura e incubadas por 48h a 32ºC. Após a

incubação, o número de colônias bacterianas é contado. A CBP determina o

conteúdo de bactérias aeróbias no leite (BRITO, 1999; HILLERTON, 2000). Este

procedimento pode subestimar a quantidade de bactérias presentes no leite, pois

apenas bactérias viáveis e que se multiplicam nas condições de cultivo, formam

colônias. Também, a característica de agregação pode subestimar a contagem,

sendo que uma colônia pode ter sido originada de várias bactérias (HILLERTON,

2000). Devido à utilização de um meio de cultura simples, ocorre competição

entre as espécies presentes, sobressaindo-se bactérias que encontram

condições mais favoráveis (PRATA, 2001). SUHREN e REICHMUTH (2000)

citam que a CBP não expressa a real qualidade bacteriológica do leite, apesar de

ser utilizado internacionalmente como método de referência.

A contagem de bactérias é provavelmente o método mais comumente

usado para determinar a qualidade do leite em todos os países de pecuária

leiteira desenvolvida. De acordo com a legislação européia – European Milk

Hygiene Directive 92/46, o parâmetro “contagem bacteriana total” (CBT) é

recomendado para avaliação da qualidade higiênica do leite cru.

O limite legal para a CBT previsto na IN-51, foi estabelecido em UFC. Para

a produção de leite tipo “A” o limite é de 10mil UFC/mL, 500 mil UFC/mL para o

leite tipo “B” e 1x106 UFC/mL para o leite cru refrigerado (BRASIL, 2002).

3.9.5 Determinação da contagem bacteriana do leite pelo método de

citometria de fluxo

A citometria de fluxo consiste na medição de características celulares,

quando estas se encontram suspensas em meio fluido (BARRIENTOS et al.,

2000). O leite e as células bacterianas em suspensão são injetados em um

capilar acoplado a um sistema óptico. O capilar recebe continuamente um feixe

de laser, que atinge cada bactéria que passa pelo capilar de fluxo. O sistema

27

óptico coleta informações referentes ao tamanho, número de células,

complexidade da célula (características de parede celular e número de organelas

presentes) (CASSOLI, 2005).

Nesta técnica são utilizados corantes fluorescentes específicos (brometo

de etídio), que penetra nas células bacterianas ligando-se ao DNA e ao RNA.

Estas células, quando excitadas pelo laser, passam a emitir radiação em

comprimento de onda de 620nm que são captadas pelo sistema óptico do

aparelho. É necessário utilizar enzimas proteolíticas e detergentes para a

degradação das proteínas, gordura e células somáticas do leite, ocorrendo a

penetração do corante na célula. O processo de sonificação irá destruir por

completo as células somáticas presentes no leite (BARRIENTOS et al., 2000).

A radiação emitida pelas células bacterianas é coletada pelo sistema

óptico, transferida para o sistema de filtros e transformada em impulso elétrico

pelo sistema eletrônico. Os impulsos por sua vez, são transformados em número

de bactérias e este, relacionado ao volume analisado. Os resultados emitidos por

estes equipamentos são expressos em número de bactérias por mL de leite e

representam a contagem individual de bactérias (CIB) (CASSOLI, 2005).

A grande vantagem deste equipamento é o baixo custo da análise e o

elevado rendimento analítico, sendo possível obter a CBT em cerca de 12

minutos e analisar 150 amostras por hora (BENTLEY INSTRUMENTS, 2004).

Para a determinação da CBT é necessária a utilização da refrigeração

associada a um conservante. Atualmente o conservante mais utilizado é o azidiol,

que possui como princípio ativo o cloranfenicol e a azida sódica, ambos

bacteriostáticos. A amostra para CBT poderá ser analisada em até sete dias após

a coleta, se mantida sob refrigeração a 7°C (Figura 2). Deve-se evitar o

aquecimento ou congelamento da mesma, bem como garantir que o azidiol seja

adicionado à amostra (CASSOLI, 2005).

28

Figura 2: Contagem bacteriana total em função da temperatura de

armazenamento e da idade das amostras (CASSOLI, 2005).

29

4. MATERIAL E MÉTODOS

Foram avaliadas 101 amostras de leite cru provenientes de vacas

primíparas e pluríparas, de diferentes graus de sangue, em diferentes estágios de

lactação, pertencentes a 15 propriedades rurais de exploração leiteira, em sua

maioria com ordenha do tipo mecânica (12), escolhidas ao acaso, localizadas nas

regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Estes animais não se

encontravam em período colostral nem em fase de secagem e não foram

submetidos a tratamento medicamentoso com antibióticos nos dias anteriores à

coleta de material.

Das 15 propriedades, 6 são do município de Santa Maria Madalena, 3 de

Campos dos Goytacazes, 3 de Bom Jesus do Itabapoana, 2 de Itaperuna e 1 em

São Fidélis.

30

4.1 Coleta das amostras:

4.1.1 CMT:

As amostras foram coletadas após a higienização dos tetos por lavagem

com água e sabão, secagem com papel toalha e desinfecção com álcool 70º. Os

três primeiros jatos de leite foram desprezados.

A seguir foi realizado o “California Mastitis Test” (CMT), analisando a

alteração na viscosidade da mistura de 2 mL de reagente com 2 mL de leite, a fim

de detectar a ocorrência de mastite subclínica com resultado três cruzes em pelo

menos um dos quartos (Figura 3).

Figura 3: “California Mastitis Test” com reação 3 cruzes (arquivo pessoal)

4.1.2 Análise microbiológica:

Para a análise microbiológica foram coletados cerca de 5 mL de leite do

teto acometido com resultado três cruzes (CMT), em tubos de plástico estéreis

tipo Falcon, previamente identificados. Os tubos foram acondicionados em caixa

isotérmica com gelo reciclável. Em seguida, as amostras foram levadas em

menor tempo possível, ao Setor de Doenças Infectocontagiosas, Seção de

Bacteriologia Veterinária do Laboratório de Sanidade Animal/CCTA para o

isolamento e identificação dos microrganismos.

31

4.1.3 CBT e CCS:

As amostras foram coletadas após a realização do CMT do leite

ordenhado de cada animal. Somente eram coletadas as amostras de leite dos

tetos que apresentavam resultado três cruzes ao CMT. Para a realização das

análises de CCS e CBT, as amostras de leite dos tetos acometidos (cerca de 50

mL para cada teste) eram coletadas em frascos apropriados de plástico.

Para análise da CCS, foi utilizado um conservante, Bronopol (2-Bromo-2-

Nitropropano-1,3-Diol), com a finalidade de inibir o crescimento bacteriano no

leite por até 7 dias. Cada pastilha possui 8 mg de bronopol e 0,3 mg de

natamicina, um agente antifúngico. Utilizou-se uma pastilha para cada 50 mL de

leite.

Para análise da CBT, foi utilizado o azidiol, que é bacteriostático. A

solução de azidiol (0,15% de cloranfenicol e 3,6% de azida sódica) foi preparada

pelo Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de Leite – Juiz de Fora

– MG. Foram utilizadas 2 a 3 gotas da solução para cada 50 mL de leite, segundo

orientação do próprio laboratório fornecedor.

Após a adição dos conservantes, os frascos eram acondicionados em

caixa isotérmica com gelo reciclável e posteriormente conduzidos ao laboratório

para análise da CCS.

As amostras para CBT foram identificadas, etiquetadas com códigos de

barras (Figura 4) e enviadas à Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora – MG

para análise, mantidas em temperatura de 4 a 8ºC no máximo, em caixa

isotérmica, 5 a 7 dias após a sua obtenção.

Figura 4: Amostras identificadas com código de barras para CBT (arquivo

pessoal)

32

4.2 Procedimentos:

4.2.1 CMT: Os resultados do teste de CMT foram avaliados através dos movimentos

de rotação com a bandeja. A interpretação do teste é baseada na formação de

um gel. Quando os jatos de leite coletados na bandeja se misturam ao reagente,

são classificados em (-) não coagula, (+) ligeira coagulação, (++) coagula em

menor intensidade, (+++) coagula formando um gel (SCHALM e NOORLANDER,

1957). Os resultados do teste foram anotados em uma ficha individual para cada

animal e somente coletadas as reações com 3 cruzes (+++).

4.2.2 Contagem de Células Somáticas: As amostras coletadas para a contagem de células somáticas foram

aquecidas em banho-maria a uma temperatura de 42°C por 15 minutos com o

suporte de uma placa aquecedora e homogeneizadas por inversão. Em seguida,

analisadas pelo aparelho “Somacount 150” (BENTLEY INSTRUMENTS, 1994),

através de citometria de fluxo utilizando a metodologia prescrita pelo fabricante e

os resultados expressos em céls/mL.

Figura 5: Aparelho “Somacount 150” (arquivo pessoal)

33

4.2.3 Contagem Bacteriana Total: As amostras coletadas em frascos estéreis para a contagem bacteriana

total foram enviadas para Embrapa Gado de Leite, em Juiz de Fora – MG e

analisadas pelo aparelho “Bactocount 150” (BENTLEY INSTRUMENTS, 2004),

através de citometria de fluxo utilizando a metodologia prescrita pelo fabricante e

os resultados expressos em UFC/mL.

Figura 6: “Bactocount 150” (Bentley Instruments)

4.2.4 Análise microbiológica:

As amostras de leite foram centrifugadas a 5000 rpm por 5 minutos assim

que chegavam ao Laboratório. Utilizou-se uma alça de platina para coletar o

material precipitado no fundo do tubo (pellet). Com este material realizou-se o

Gram para avaliar as características morfotintoriais dos microrganismos

presentes no leite antes de serem incubados e em seguida a Bacterioscopia.

Após este procedimento, o pellet foi semeado em placas de Petri, com o auxílio

de uma alça de platina, com meios de cultura específicos.

No Ágar Sangue (sangue desfibrinado de carneiro a 5,0%), utilizou-se uma

metodologia para avaliar o crescimento bacteriano em placa que será descrito no

tópico seguinte. Utilizou-se o Ágar MacConkey como meio seletivo para o

crescimento de bactérias Gram negativas. Em seguida, as placas foram

colocadas em estufa bacteriológica a 37ºC por 48h e depois retiradas para

análise do crescimento de colônias e classificação.

34

Ocorrendo o crescimento de colônias, estas foram separadas quanto às

suas características morfológicas e novamente semeadas em Ágar Sangue

(sangue desfibrinado de carneiro a 5,0%). Em seguida, levadas à estufa

bacteriológica a 37ºC por 48h para obtenção de colônias puras. Esfregaços em

lâminas corados pelo método de Gram das colônias puras foram realizados para

verificar os aspectos morfotintoriais das bactérias e após realizou-se as provas

bioquímicas específicas para cada grupo.

As colônias de bactérias que se revelaram como cocos Gram-positivos em

forma de cachos foram submetidas aos seguintes testes: catalase, produção de

acetoína (prova de Voges Proskauer - VP), teste de fermentação de manitol em

anaerobiose e produção de coagulase pelo método de coagulação do plasma de

coelho (DIFCO, USA) para as bactérias suspeitas de serem Staphylococcus sp.

Para as bactérias suspeitas de Streptococcus sp foram realizados os testes de

catalase, esculina e o teste de CAMP para diferenciá-las.

Para as colônias de bactérias que se revelaram como cocos Gram-

negativos realizou-se: o teste IMVIC (Indol, Vermelho de Metila, Voges

Proskauer, Citrato de Simmons) e oxidase.

Figura 7: Isolamento microbiológico em ágar sangue (arquivo pessoal)

35

4.2.4.1 Análise microbiológica qualitativa:

Para a definição da análise microbiológica qualitativa, as amostras

provenientes do leite classificado com 3 cruzes no CMT foram centrifugadas a

5000 rpm durante 5 minutos. Em seguida, o sobrenadante foi dispensado e o

“pellet” formado aproveitado. Utilizando uma alça de platina, previamente

esterilizada na flama do bico de Bunsen, o “pellet” foi coletado. O semeamento

com a alça foi realizado de acordo com a figura 8, onde uma parte foi semeada

na parte esquerda da placa de petri, contendo o ágar sangue de carneiro a 5%.

Em seguida, a alça foi flambada e uma linha diagonal da parte de baixo onde a

amostra foi previamente semeada foi realizada até a parte superior da placa de

petri. A alça foi novamente flambada e movimentos em forma de “zig-zag” foram

feitos até chegar o limite do meio da placa (Figura 8). A classificação qualitativa

foi de acordo com o esquema abaixo. Onde ocorreu o crescimento de colônias de

bactérias, classificou-se em uma, duas ou três cruzes:

Esquema Ilustrativo

36

Figura 8: Análise microbiológica qualitativa em ágar sangue classificada

como ECRTO=3 (arquivo pessoal).

4.3 Análise estatística:

As características estudadas foram: contagem de células somáticas

(CCS), contagem bacteriana total (CBT) e crescimento qualitativo em placa.

A CCS pode ser expressa na forma de escore linear de células somáticas

(ECS), que tem sido adotado em vários países. Como pode ser observado no

quadro 2, o uso do escore de células somáticas facilita a interpretação dos

resultados, uma vez que a cada aumento de 1 (um) escore linear, a CCS é

dobrada (SANTOS, 2006). O mesmo critério foi utilizado para os resultados de

CBT, sendo descrito como escore de contagem bacteriana total (ECBT).

Os resultados de crescimento qualitativo em placa foram expressos em

escore de crescimento (ECRTO), conforme o quadro 3.

37

Quadro 2 - Relação entre o escore de células

somáticas (ECS) e a contagem de células

somáticas (CCS)

ECS Variação CCS

(x1000céls/mL)

0 0 – 17

1 18 – 34

2 35 – 70

3 71 – 140

4 141 – 282

5 283 – 565

6 566 – 1130

7 1131 – 2262

8 2263 – 4525

9 > 4525

Fonte: National Mastitis Council, 1996

Quadro 3 - Escore do crescimento

qualitativo em placas de Petri (ECRTO)

dos microrganismos

ECRTO Crescimento microbiano

por zona

0 Ausência de crescimento

1 1 cruz

2 2 cruzes

3 3 cruzes

Foi realizada a análise de regressão linear simples para comparação entre

ECS e ECBT usando o procedimento PROC REG (SAS, 1998). Foram calculadas

as correlações simples entres as características (ECS, ECBT e ECRTO) mediante

o procedimento PROC CORR (SAS,1998).

38

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO:

5.1 Resultados da contagem de células somáticas:

Os resultados da Tabela 1 demonstram que, das 101 amostras analisadas

pelo “Somacount 150”, 72 (71,3%) encontravam-se em desacordo com a IN51 por

apresentarem valores acima de 1x106 céls/mL (ECS 7,8 e 9)(BRASIL, 2002),

sendo a média de 4763x103 céls/mL (ECS 7 à 9). Em um estudo realizado no sul

do país, CADEMARTORI (2001) encontrou médias de 1354x103 céls/mL de CCS

em quartos positivos no teste do CMT. LANGONI (2000) considera normais e

indicativos de úbere sadio valores menores do que 200 x103 céls/mL. Das 101

amostras, 9,9% (ECS 1 à 4) enquadraram-se na classificação de úbere sadio,

mesmo apresentando resultado 3 cruzes no CMT.

39

Tabela 1 - Contagem de Células Somáticas (CCS) em escore (ECS) das

amostras positivas para o California Mastitis Test (CMT), no período

de abril a dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e

Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.

ECS n° de amostras %

1 01 1,0

2 02 1,98

3 05 4,95

4 02 1,98

5 07 6,93

6 12 11,88

7 21 20,8

8 21 20,8

9 30 29,7

Total 101 100

n= 101

5.2 Resultados do crescimento bacteriano em placa:

Observou-se (Tabela 2) que as amostras classificadas com o escore 3,

corresponderam a 32,67% das 101 amostras isoladas, com média de CBT de

970x103UFC/mL. Os demais escores encontrados foram: ECRTO 0 (20,8%);

ECRTO 1 (27,72%); ECRTO2 (18,81%). CADEMARTORI (2001) analisou 342

amostras positivas no teste do CMT e encontrou 46,2% das lactoculturas com

resultados negativos no isolamento bacteriano (ausência de crescimento), que

segundo o autor, pode ser explicado pela presença de agentes infecciosos que

não se desenvolvem nos meios de cultura rotineiramente empregados. Neste

trabalho, a ausência de crescimento correspondida com o escore zero atingiu

uma porcentagem de 20,8%, concordando com as observações do autor citado.

40

Tabela 2 - Crescimento bacteriano qualitativo em placa em escore (ECRTO) das

amostras positivas para o California Mastitis Test, no período de

abril a dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e

Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.

ECRTO n° de amostras %

0 21 20,8

1 28 27,72

2 19 18,81

3 33 32,67

Total 101 100

n= 101

5.3 Resultados da contagem bacteriana total:

Considerando o limite de 106 UFC/mL de aeróbios mesófilos em leite cru

(BRASIL, 2002), 77 (76,33%) das amostras analisadas encontravam-se de acordo

com a IN51 (ECBT 0 à 6) e 24 amostras (23,77%) estavam fora dos padrões

exigidos pela legislação do país (ECBT 7 à 9), ou seja, acima de 106 UFC/mL

(Tabela 3).

41

Tabela 3 - Contagem bacteriana total das amostras positivas em escore (ECBT)

das amostras positivas para o California Mastitis Test, no período de

abril a dezembro de 2006, do leite de propriedades nas regiões Norte e

Noroeste do Estado do Rio de Janeiro.

ECBT N° de amostras %

0 17 16,83

1 08 7,92

2 12 11,88

3 10 9,9

4 12 11,88

5 06 5,94

6 12 11,88

7 14 13,86

8 09 8,91

9 01 1,0

Total 101 100

n= 101

5.4 Resultados do isolamento bacteriano:

A tabela 4 apresenta os microrganismos isolados no leite dos quartos

mamários com mastite subclínica e positivas 3 cruzes no CMT. Das 101 amostras

obtidas, Staphylococcus aureus foram os microrganismos mais isolados (20,8%),

seguidos por Staphylococcus coagulase negativo (9,90%), Streptococcus

agalactiae (6,93%), Bacillus sp. (5,94%), Streptococcus sp. (4,95%),

Streptococcus dysgalactiae (4,95%), Corynebacterium bovis (3,96%),

Streptococcus uberis (1,0%) e Enterococcus faecalis (1,0%). Outros

microrganismos isolados, em associação, totalizaram 9 (8,91%). MOTTA et al.

(2001) isolaram Staphylococcus aureus de 128 amostras de leite cru (23,06%),

positivas no teste do CMT, num total de 555 amostras submetidas ao isolamento

microbiológico nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Num

outro estudo também realizado na mesma região citada, DONATELE et al. (2002)

observaram que das 379 amostras de leite CMT positivas, 180 (47,5%) foram de

42

Staphylococcus coagulase positivos. O S. aureus foi considerado por PARDO et

al. (1998), como o agente isolado com maior freqüência na etiologia de IIMs em

vacas primíparas no período pós-parto, correspondendo a 64% das amostras de

leite analisadas. Assim sendo, estes dados demonstram concordância com o

isolamento realizado nesta pesquisa, sendo o S. aureus o principal causador de

mastite subclínica bovina na região Norte do Estado do Rio de Janeiro.

Entretanto MAGALHÃES et al. (2005) analisando amostras de leite de

vacas pertencentes a rebanhos de várias regiões do Estado do Rio de Janeiro

entre os anos de 2000 e 2004 e, de um total de 404 microrganismos isolados, o

Staphylococcus coagulase negativo (15,6%) foi o de maior freqüência, seguido do

Bacillus sp. (15%), S. aureus (13,86%), Corynebacterium (7,92%) e

Streptococcus, incluindo as espécies Streptococcus uberis (3,46%),

Streptococcus agalactiae (1,5%) e Streptococcus dysgalactiae (0,74%). Num

estudo realizado em propriedades leiteiras localizadas no oeste de São Paulo e

norte do Paraná, VIANNA et al. (2002) encontraram 213 (13,52%) estafilococos

coagulase negativos, 97 (6,15%) de Corynebacterium sp. e 32 (2,03%) de

estafilococos coagulase positivos em 1575 amostras de leite cru de vacas.

Resultados semelhantes foram obtidos por FREITAS et al. (2005), que

observaram que os agentes mais prevalentes nos casos de mastite bovina no

Agreste do Estado de Pernambuco são o Staphylococcus coagulase negativa

(36%), Corynebacterium sp. (34,8%) e S. aureus (13,6%) das 572 amostras de

leite de vaca analisadas. Todavia, neste trabalho foi demonstrado uma freqüência

maior de Staphylococcus aureus (20,8%), que é coagulase positivo, discordando

das observações dos autores supracitados.

Das 101 amostras obtidas, não apresentaram crescimento bacteriano 27

(26,73%) amostras de leite, de acordo com a tabela 4. Resultados semelhantes

foram obtidos por DONATELE et al. (2002), onde das 379 amostras observadas,

60 (15,8%) também não apresentaram crescimento. Os resultados positivos no

CMT, mas negativos no exame microbiológico, podem indicar um processo

inflamatório de etiologia não bacteriana, pois segundo COSTA et al. (1995), o

CMT é um método auxiliar de boa correlação com o exame microbiológico, porém

o processo inflamatório pode não ser de origem infecciosa. Há também a

possibilidade de não ter ocorrido crescimento pela necessidade de se utilizar um

meio de cultura enriquecido com nutrientes e condições adequadas para o

43

crescimento de bactérias. Segundo SANTOS (2002a), os resultados falso-

negativos são mais prováveis de ocorrer em casos de mastite causada por

coliformes e existem relatos de que cerca de 20 a 30% das amostras de casos

clínicos não resultam em crescimento, havendo possibilidade de estar presentes

inibidores como resíduos de antibióticos e desinfetantes. Neste trabalho é

sugerido que algumas lactoculturas negativas podem ser provenientes de vacas

com processo infeccioso, tais como micoplasmose, brucelose ou mesmo

tuberculose e que não encontraram condições para o seu crescimento nos meios

de cultura de rotina utilizados no estudo (ágar sangue e ágar MacConkey), ou

então a presença de resíduos de antibióticos no leite.

44

Tabela 4 - Bactérias isoladas das amostras de leite positivas para o California

Mastitis Test (CMT), no período de Abril a dezembro de 2006, de

propriedades nas regiões Norte e Noroeste do Estado do Rio de

Janeiro.

Bactérias isoladas n°°°° de amostras %

Sem crescimento bacteriano 27 26,73

Staphylococcus aureus 21 20,8

Staphylococcus sp. coagulase negativo 10 9,90

Streptococcus agalactiae 07 6,93

Bacillus sp. 06 5,94

Streptococcus dysgalactiae 05 4,95

Streptococcus sp. 05 4,95

Staphylococcus aureus / Staphylococcus coagulase

negativo

04 3,96

Corynebacterium bovis 04 3,96

Corynebacterium bovis / Staphylococcus coagulase

negativo

03 2,97

Streptococcus uberis 01 1,0

Streptococcus viridans 01 1,0

Enterococcus faecalis 01 1,0

Actinomyces sp. / Staphylococcus chromogenes 01 1,0

Streptococcus uberis / Staphylococcus chromogenes 01 1,0

Streptococcus agalactiae / Staphylococcus coagulase

negativo

01 1,0

Bacillus sp. / Staphylococcus hyicus 01 1,0

Staphylococcus coagulase negativo / Enterococcus

faecalis

01 1,0

Streptococcus dysgalactiae / Enterococcus faecalis 01 1,0

Total 101 100

n= 101

45

Verificou-se na Tabela 5, que a bactéria Streptococcus dysgalactiae foi a

que apresentou maiores valores médios de CBT (1083x103UFC/mL) para as 101

amostras analisadas, seguida pelo Streptococcus agalactiae (903x103UFC/mL) e

o Staphylococcus aureus (843x103UFC/mL). O principal grupo de agentes

causadores de mastite associados com aumentos da CBT do leite é o

Streptococcus sp, sendo que dentre as espécies mais importantes destacam-se o

S. agalactiae e S. uberis (GONZÁLES, et al., 1986; JEFREY e WILSON, 1987

apud SANTOS, 2002b), ainda que outros agentes possam ter influência sobre a

CBT. Verificou-se então a concordância entre os dados apresentados neste

trabalho com os estudos citados, pois o S. agalactiae foi o segundo, na tabela 5,

em maior valor médio para CBT (903x103UFC/mL)..

HARMON (1994) afirma que as bactérias causadoras de mastite podem ser

classificadas em patógenos maiores ou menores. Os patógenos maiores

provocam grandes mudanças na composição do leite, incluindo grande aumento

na CCS, e são responsáveis pelo maior impacto econômico da doença. Eles

incluem Staphylococcus aureus, Streptococcus agalactiae e coliformes. Ao

contrário, os patógenos menores, como estafilococos coagulase-negativo e

Corynebacterium bovis, não estão associados com grandes mudanças na

composição e na produção de leite. Infecções causadas por esses

microrganismos apenas duplicam ou triplicam a CCS em relação aos quartos não

infectados. Esta afirmação foi demonstrada neste trabalho, pois se verifica na

tabela 5, que o Streptococcus agalactiae foi o que apresentou maiores valores

médios de CCS (5393x103céls/mL), das 101 amostras analisadas, seguido do

Staphylococcus aureus (3980x103céls/mL) e o Corynebacterium bovis com

médias inferiores correspondendo a 1721x103céls/mL.

46

Tabela 5 - Médias de CCS e CBT das principais bactérias isoladas das 101

amostras obtidas de vacas positivas no CMT no período de abril a

dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e Noroeste

do Estado do Rio de Janeiro.

Bactérias isoladas n°°°° amostras Média CCS

(x103cél/mL)

Média CBT

(x103UFC/mL)

Staphylococcus aureus 21 3980 843

Staphylococcus sp.

coagulase negativo

10 3585 311

Streptococcus agalactiae 07 5393 903

Bacillus sp. 06 1359 76

Streptococcus dysgalactiae 05 4911 1083

Streptococcus sp. 05 3704 685

Corynebacterium bovis 04 1721 62

Figura 9: Histograma com as médias de CCS e CBT das bactérias isoladas de

amostras de leite obtidas de vacas positivas no CMT no período de abril a

dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e Noroeste do Estado do

Rio de Janeiro.

Médias de CCS e CBT

0 2000 4000 6000

(x1000céls/mL)

(x1000UFC/mL)

CCS

CBT

Corynebacterium bovis

Streptococcus sp.

Streptococcusdysgalactiae

Bacillus sp.

Staphylococcus sp.coagulase negativo

Streptococcusagalactiae

Staphylococcus aureus

47

5.5 Correlação entre ECS, ECBT e crescimento qualitativo:

A correlação entre as características ECS e ECBT apresentou-se positiva

e de alta magnitude (0,69), o que significa que ao aumentar o ECS, também

aumenta o ECBT (Tabela 6). Observou-se um coeficiente de correlação baixo

entre ECRTO com ECS (0,13) e ECRTO com ECBT (0,12). A relação entre CCS

e a CBT de rebanhos leiteiros foi avaliada por RYSANEK e BABAK (2005)

obtendo índice de correlação alto (0,84), quando a CCS era maior que 400 x 103

céls/mL, o que concorda com as observações do estudo realizado.

Tabela 6 - Correlação entre ECS e os valores de ECBT e crescimento qualitativo

em placa das amostras de leite analisadas, no período de abril a

dezembro de 2006, de propriedades nas regiões Norte e Noroeste do

Estado do Rio de Janeiro.

Variável ECBT ECRTO

ECS 0,69** 0,13ns

ECBT - 0,12ns

**(p<0,01) significativo

ns= não significativo

ECS: Escore de Células Somáticas

ECBT: Escore de Unidades Formadoras de Colônias

ECRTO: Escore de crescimento qualitativo em placa

Na Figura 10 é apresentada a regressão linear entre os escores de Células

Somáticas e Contagem Bacteriana Total. A reta formada pela equação

y=5,27+0,48(x) indica que a cada incremento no ECBT, acarreta um aumento de

0,48 no ECS e estes resultados corroboram com os coeficientes de correlação

encontrados.

48

Figura 10: Regressão Linear entre ECS e ECBT

Regressão Linear

y = 5,27 + 0,48x

R2 = 0,69

4

5

6

7

8

9

10

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

ECBT

ECS

ECS = Escore de Células Somáticas

ECBT = Escore de Contagem Bacteriana Total

49

6. CONCLUSÕES:

1. Nem sempre o CMT 3 + demonstra uma CCS elevada no leite individual. 2. A principal bactéria isolada foi o Staphylococcus aureus. 3. O Streptococcus dysgalactiae foi o que produziu maior média de CBT. 4. Existe uma correlação positiva entre ECS e ECBT nas amostras de leite

individual. 5. Animais com maiores médias de CCS e CBT apresentaram diferentes escores de

crescimento em placa e este critério não pode ser utilizado como parâmetro de avaliação microbiológica do leite.

50

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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APÊNDICE

QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO N° _______ PROPRIEDADE : ________________________________________________ NOME: ________________________________________________________ RESIDE NA PROPRIEDADE? SIM □ NÃO □ ESCOLARIDADE : ____________ AREA DA PROPRIEDADE: _______________ AREA DE PASTAGEM: __________________ NATURAL □ FORMADA □ N° ANIMAIS: _________ MACHOS = ______ FEMEAS = ________ ANIMAIS EM LACTAÇAO: ________ VACAS FALHADAS: _________ GRAU DE SANGUE PREDOMINANTE: _____________________________ INSEMINAÇAO ARTIFICIAL: SIM □ NÃO □ ALIMENTAÇAO: PASTAGEM □ CANA □ CAPINEIRA □ SILAGEM □ CONCENTRADOS □ SAL MINERAL? ____________________ POLPA CITRICA □ FARELO DE ALGODAO □ OUTROS:______________________________________________________________

VACINAÇAO

AFTOSA □ BRUCELOSE □ MANQUEIRA □ RAIVA □ PARATIFO □ VERMIFUGAÇAO: PRODUTO ___________________________________________ QUANDO ___________________________________________ CARRAPATO : PRODUTO ____________________________________________ BERNE QUANDO ___________________________________________

CONTROLE: FICHA □ CADERNO □ NÃO ANOTA □ DOENÇAS MAIS FREQUENTES: DIARREIA □ PNEUMONIA □ _________________ LEITE TIPO DE ORDENHA: MANUAL □ MECANICA □ CONTROLE DO FLUXO / MANUTENÇAO DA BOMBA: FREQUENCIA __________ N° DE ORDENHAS: 1 □ 2 □ 3 □ HIGIENE: PRÉ DIPPING □ PÓS DIPPING □ PRODUTOS UTILIZADOS : _________________________________________ SECAGEM DAS TETAS : SIM □ PANO□ PAPEL□ NÃO □ LINHA DE ORDENHA: SIM □ NÃO □ PERÍODO SECO Qual critério utilizado pra secagem? ___________________________ Tempo de descanso ____________ TERAPIA DA VACA SECA (ATB) : SIM □ NÃO □ MÉDIA DE PRODUÇAO EM LITROS: AGUAS ___________ SECA ______________ CMT _______________ CANECA TELADA ______________ TANQUE DE EXPANSAO □ IMERSAO □ CAPACIDADE: _____________ CAMINHAO: DIÁRIO □ CADA 2 DIAS □ PROBLEMAS COM LEITE ÁCIDO? SIM □ NÃO □ _________________________ MASTITE CLÍNICA TRATA? SIM □ NÃO □ ___________________________ SABE O QUE É MASTITE SUBCLINICA? SIM □ NÃO □ VACAS DE DESCARTE – QUAL CRITÉRIO? _________________________________

Perfil das propriedades (RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO) 1)Tamanho: Até 10 alqueires: 20% De 10 a 30 alqueires: 26,67% De 31 a 50 alqueires: 13,33% De 51 a 100 alqueires: 20% Mais de 100 alqueires: 6,67% Não souberam informar: 13,33% 2) Número de animais: Até 20 animais: 6,67% De 21 a 50 animais: 6,67% De 51 a 100 animais: 40% De 101 a 200 animais: 13,33% De 201 a 300 animais: 20% Mais de 300 animais: 6,67% Não soube informar: 6,67% 3) Grau de sangue: GIROLANDA: 40% 5/8 HOLANDÊS, ¾ GIR: 6,67% HOLANDÊS P.O. E 5/8 HOLANDÊS, ¾ GIR: 6,67% ½ sangue HOLANDÊS, ½ sangue GIR: 13,33% MESTIÇO + GIROLANDA: 6,67% MESTÇO JERSEY X HOLANDÊS: 6,67% PARDO SUÍÇO X GIROLANDO (tricross): 6,67% MESTIÇO (sem especificação): 13,33% 4) Inseminação Artificial: SIM: 66,67% NÃO: 33;33%

Perfil da exploração leiteira e produção

1)Tipo de ordenha: MANUAL: 20% MECÂNICA: 66,67% AMBAS: 13,33% 2) Manutenção da ordenhadeira (mecânica): NÃO FAZIAM: 20% FAZIAM: 80% Dos quais: MENSALMENTE: 8,33% A CADA 3 MESES: 8,33% A CADA 4 MESES: 8,33% A CADA 6 MESES: 16,67% NÃO SOUBERAM PRECISAR: 58,3% 3) Número de ordenhas: 1 ordenha: 20% 2 ordenhas: 66,67% 2 ordenhas para as melhores vacas, 1 para as demais: 6,67% 3 ordenhas para as melhores vacas, 2 para as demais: 6,67% 4) Pré e/ou pós-dipping: NÃO FAZIAM: 40% SÓ O PRÉ-DIPPING, COM IODO: 26,67% SÓ O PÓS, COM IODOPOVIDONA: 6,67% PRÉ E PÓS-DIPPING, COM IODO: 26,67% 5) Secagem dos tetos: NÃO FAZIAM: 60% COM PAPEL: 33,33% COM PANO: 6,67% 6) Linha de ordenha: NÃO: 26,67% SIM: 66,67% NÃO SOUBE RESPONDER: 6,67%

7) Vacas lactantes X falhadas: 0% falhadas: 46,67% 0 a 1%: 6,67% 1 a 5%: 6,67% 5 a 10%: 6,67% Mais que 10%: 6,67% Não souberam precisar: 20% 8) Controle: NÃO ANOTAM: 33,33% CADERNO: 40% FICHA INDIVIDUAL: 13,33% COMPUTADOR: 6,67% NÃO SOUBE DIZER: 6,67% 9) Critério para a secagem das vacas: TEMPO DE LACTAÇÃO/ IDADE DO BEZERRO: 53,33% POR PRODUÇÃO: 26,67% TEMPO DE LACTAÇÃO E PRODUÇÃO: 13,33% NÃO SOUBE PRECISAR: 6,7% 10) Período de descanso dos animais: 60 dias: 33,33% 60 a 90 dias: 26,67% 90 a 120 dias: 6,67% 120 a 240 dias: 13,33% NÃO SOUBE PRECISAR: 20% 11) Terapia da vaca seca: SIM: 60% NÃO: 26,67% NÃO SOUBE DIZER: 6,67% 12) Produção: águas X seca Menor produção na seca: 33,33%, com queda de 16,67% a 25% na produção. Produção igual na seca e nas águas: 46,67% Maior produção na seca: 13,33%, com aumento de 50 a 53,85% na produção. Não souberam precisar: 6,67%

13) Tanque: tipo/capacidade IMERSÃO: 6,67% EXPANSÃO: 93,33% Dos quais:

- até 1000L: 35,71% - de 1000 a 2000L: 35,71% - de 2000 a 3000L: 7,14% - de 3000 a 4000L: 7,14% - mais de 4000L: 7,14% - não soube informar: 7,14%

14) Freqüência da passagem do caminhão: DIÁRIO: 6,67% DE 2 EM 2 DIAS: 86,67% NÃO INFORMA: 6,67% 15) Problemas com leite ácido? SIM: 13,33% RARAMENTE: 6,67% NÃO: 73,33% NÃO INFORMA: 6,67% 16) Critérios para descarte de animais do plantel: IDADE: 53,33% PERDA DE TETOS: 13,33% MASTITE: 13,33% PRODUÇÃO: 13,33% REPRODUÇÃO: 20% NÃO INFORMA: 6,67%