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1 Corpos doentes: a cura para além do olhar disciplinar cartesiano Valquiria da Silva Barros Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio Rosane Cristina de Oliveira Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio Renato da Silva Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio Resumo: A proposta deste trabalho é compreender a construção das noções de saúde e doença na contemporaneidade, a partir do diálogo entre a lógica cartesiana e a perspectiva culturalista de análise do processo de cura do corpo. Tal perspectiva é abordada em relação à experiência não-cartesiana e suas influências no relacionamento entre pacientes e a medicina. Esta discussão está alicerçada na reflexão do corpo humano como condição ontológica e epistemológica essencial para os debates acadêmicos e para as práticas sociais na atualidade, tendo em vista que, mesmo prevalecendo na tradição ocidental a visão dualista, também existem linha de fuga que se contrapõem à fragmentação do ser humano e do conhecimento. Neste sentido, argumentamos que os olhares fragmentados sobre o corpo não são suficientes e as análises sobre o corpo estão sujeitas, assim, a interrogações, pois encontram-se abertas e inacabadas. Portanto, partimos do pressuposto de que para se pensar os processos de saúde e doença nos corpos situados na contemporaneidade, se faz imprescindível localizar estes corpos no espaço social e cultural em que vivem, bem como considerar a percepção e a interpretação do processo de adoecimento e cura do sujeito, conforme sugeriu David Le Breton (2008). Assim, para compreender os processos de saúde, doença e modos de curar não- cartesianos, propõe-se a discussão interdisciplinar para embasar a relação entre os processos de cura sob a perspectiva religiosa, situada no viés das curas espirituais mediúnicas, e suscitar a discussão da prática médica com um olhar para além daquilo que seja passível de mensuração, conforme postula a lógica cartesiana. Para tanto, faz-se necessário o diálogo que transcenda sua própria especialidade e determinado domínio homogêneo de estudo. Do ponto de vista conceitual, para a discussão proposta, o conceito de interdisciplinaridade tem suas bases teóricas

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Corpos doentes: a cura para além do olhar disciplinar cartesiano

Valquiria da Silva Barros

Mestranda do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em

Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio

Rosane Cristina de Oliveira

Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em

Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio

Renato da Silva

Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em

Humanidades, Culturas e Artes da Universidade do Grande Rio

Resumo:

A proposta deste trabalho é compreender a construção das noções de saúde e doença na

contemporaneidade, a partir do diálogo entre a lógica cartesiana e a perspectiva

culturalista de análise do processo de cura do corpo. Tal perspectiva é abordada em

relação à experiência não-cartesiana e suas influências no relacionamento entre

pacientes e a medicina. Esta discussão está alicerçada na reflexão do corpo humano

como condição ontológica e epistemológica essencial para os debates acadêmicos e para

as práticas sociais na atualidade, tendo em vista que, mesmo prevalecendo na tradição

ocidental a visão dualista, também existem linha de fuga que se contrapõem à

fragmentação do ser humano e do conhecimento. Neste sentido, argumentamos que os

olhares fragmentados sobre o corpo não são suficientes e as análises sobre o corpo estão

sujeitas, assim, a interrogações, pois encontram-se abertas e inacabadas. Portanto,

partimos do pressuposto de que para se pensar os processos de saúde e doença nos

corpos situados na contemporaneidade, se faz imprescindível localizar estes corpos no

espaço social e cultural em que vivem, bem como considerar a percepção e a

interpretação do processo de adoecimento e cura do sujeito, conforme sugeriu David Le

Breton (2008). Assim, para compreender os processos de saúde, doença e modos de

curar não- cartesianos, propõe-se a discussão interdisciplinar para embasar a relação

entre os processos de cura sob a perspectiva religiosa, situada no viés das curas

espirituais mediúnicas, e suscitar a discussão da prática médica com um olhar para além

daquilo que seja passível de mensuração, conforme postula a lógica cartesiana. Para

tanto, faz-se necessário o diálogo que transcenda sua própria especialidade e

determinado domínio homogêneo de estudo. Do ponto de vista conceitual, para a

discussão proposta, o conceito de interdisciplinaridade tem suas bases teóricas

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fundamentadas nas definições de autores como Ivani C. Arantes Fazenda (1991) e

Hilton Japiassu (1976).

Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Saúde, doença e práticas de cuidar

Introdução

Refletir sobre o corpo humano como condição ontológica e epistemológica é

essencial para os debates acadêmicos e para as práticas sociais na contemporaneidade,

haja vista que mesmo prevalecendo na tradição ocidental a visão dualista, também

existem linhas de fuga que se contrapõem à fragmentação do ser humano e do

conhecimento. Os olhares fragmentados sobre o corpo não são suficientes e as análises

sobre o corpo estão sujeitas, assim, a interrogações, pois são abertas e inacabadas.

Desta forma, para se pensar os processos de saúde e doença nos corpos situados

na sociedade contemporânea, se faz imprescindível localizar estes corpos no espaço

social e cultural em que vivem, bem como considerar a percepção e a interpretação do

processo de adoecimento e cura do sujeito, como bem postula Le Breton, em entrevista

publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, em 2008:

A condição humana é corporal. O corpo não é apenas um suporte. Ele

é a raiz identificadora do homem ou da mulher, o vetor de toda a

relação com o mundo, não só pelo que o corpo decifra através das

percepções sensoriais ou da sua afetividade, mas também pela maneira

como os outros nos interpretam diante dos diferentes significados que

lhes enviamos: sexo, idade, aparência, movimentos, mímicas, etc. Por

meio do corpo, o indivíduo assimila a substância da sua vida e a

traduz para os outros por meio de sistemas simbólicos que ele divide

com os membros de sua comunidade. (LE BRETON, 2008)

A presença corpórea é a que, em um primeiro momento, apresenta o sujeito ao

meio social e cultural. A própria forma de “enxergar” um corpo doente muda ao longo

do tempo, como podemos observar a ideia de “magreza” que pode significar, em alguns

espaços sociais, beleza (como no mundo da moda), ou uma doença quando atinge o

extremo, como é o caso dos corpos envoltos de anorexias. Ao mesmo tempo, nos

processos de cura há uma série de elementos simbólicos envolvidos na

contemporaneidade, o que sugere uma reconfiguração em relação à cura advinda

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somente dos espaços médicos oficiais. E é neste sentido que a proposta deste trabalho se

alicerça: compreender, para além do olhar disciplinar e envolto dos discursos

científicos, os corpos doentes e as experiências de cura pelas quais os sujeitos podem

passar envoltos de elementos culturais e simbólicos, cujas explicações típicas do saber

médico fragmentado, especializado e tecnicista não conseguem responder. A esta

constatação pode-se observar a dimensão “não material” ou “espiritual”.

Desde a Assembleia Mundial de Saúde de 1983, a inclusão desta dimensão ("não

material" ou "espiritual") de saúde veio modificar o conceito clássico de "saúde" da

Organização Mundial de Saúde para "um estado dinâmico de completo bem-estar físico,

mental, espiritual e social e não meramente a ausência de doença"

(WHO/MAS/MHP/98.2). A religiosidade e a espiritualidade sempre foram consideradas

importantes aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes. As definições das

facetas propostas pela OMS foram, de uma maneira geral, consideradas representativas

e adequadas para servir como diretrizes no desenvolvimento de questões válidas sobre

espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais, muito embora, na medicina ocidental

não se observe, com regularidade, a busca pela integração de forma explícita das

dimensões religiosa e espiritual ao binômio saúde/doença. (FLECK et all, 2003)

Considerando que saúde é um processo continuado e interdependente de

preservação da vida, esta assume, então, uma dimensão social. (OMS, 1983). Para

compreender os processos de saúde, doença e modos de curar não-cartesianos, propõe-

se a discussão interdisciplinar para embasar a relação entre os processos de cura sob a

perspectiva religiosa, situada no viés das curas espirituais mediúnicas, e suscitar a

discussão da prática médica com um olhar para além daquilo que seja passível de

mensuração, como bem postula a lógica cartesiana. Para tanto, faz-se necessário o

diálogo que transcenda sua própria especialidade e determinado domínio homogêneo de

estudo.

Para discutir tal problema, o conceito de interdisciplinaridade tem suas bases

teóricas fundamentadas nas definições dos autores Japiassu e Fazenda. Além disso, a

prática médica para além do olhar cartesiano, pode ser observada tanto no campo do

diálogo interdisciplinar, como também, no âmbito das discussões sobre a humanização

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das práticas dos profissionais da área de saúde, que consiste em ações de saúde coletiva

e, também, na inserção e atenção aos aspetos sociais, culturais, psicológicos e

comportamentais no que tange as questões do cuidado com a saúde. E, ainda, na

incorporação de práticas típicas da cultura popular (como rezadeiras, benzedeiras e

manipulação de ervas para a cura) em lugares da medicina oficial, como ocorre em

postos de saúde em algumas regiões brasileiras.

A interdisciplinaridade no conceito de cura do saber médico popular

Faz parte da condição humana a busca ou, de certa forma, o reconhecimento do

sagrado. Em se tratando dos casos em que a medicina convencional e toda tecnologia

sob a qual o saber médico está inserido fracassa, é comum observarmos parte

significativa dos sujeitos na busca de outras formas de manutenção de esperança, para

que, assim, a dor e a morte possam ser observadas sob outros pontos de vista. E é neste

caminho que a chamada terapêutica espírita ou espiritualista, baseada em rituais

específicos (GEERTZ, 1989), tente a reorientar o sujeito em relação as práticas

médicas, incluindo no imaginário social a dimensão espiritual, tanto no que diz respeito

a causa da enfermidade / doença, como também, na terapêutica a ser adotada para o

alcance da cura. Considerando-se que as experiências de cura se dão no corpo, este

corpo constitui-se em um território privilegiado para a reflexão, a atuação e a crença,

tanto para a medicina academicista, como para experiências não-cartesianas nos

processos de saúde-doença-cura. É o corpo (individual e social) que delimita os espaços

teóricos e de atuação, evidencia similaridades e diferenças, e estabelece formas de sentir

e conceber o mundo.

O corpo, portanto, é modelado por um contexto social e cultural. O corpo, como

bem situou Le Breton (1992:31) “está no cruzamento de todas as instâncias de cultura,

funcionando como mediador privilegiado e pivô da presença humana no fundamento de

qualquer prática social. É o ponto de atribuição por excelência do campo simbólico”.

Para Mauss (2004), os corpos mostram-se como um relevante meio de compreender-se

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as diversas sociedades e culturas, uma vez que, estas estão cravadas nos sujeitos, em

seus modos de falar, andar, caminhar, orar etc. No entanto, o corpo não somente traduz

o que está exposto no âmbito social, como também produzem e reproduzem este espaço,

especialmente através do religioso, uma vez que é na experiência corpórea que o

aspecto do pertencimento religioso se instaura.

Neste sentido, chamamos a atenção para a questão da interdisciplinaridade, que

para alguns autores é concebida a partir da intensidade das trocas entre especialistas,

baseada no fato de que ela incorpora os resultados de várias disciplinas. Pode-se

considerar que a construção do conhecimento popular a cerca das concepções de saúde,

doença e cura, advém do intercâmbio entre as definições das práticas médicas oficiais e

não-oficiais, originando um saber cultural híbrido interpretado a partir da consideração

de um mundo simbólico específico, a saber, para esta pesquisa, as considerações

espíritas, que consideram intervenções espirituais, e, portanto, não-cartesianas

essenciais para a cura do corpo doente.

É fato que há uma série de dificuldades no que tange as tentativas de

conceituação do que vem a ser interdisciplinaridade. Para alguns autores, a execução de

trabalhos interdisciplinares se dá levando em consideração elementos culturais e da

comunicação intensa entre especialistas, para que, dessa forma, os resultados e análises

possam transcender a disciplinaridade, uma vez que o conhecimento produzido por uma

única área pode não dar conta da complexidade que se apresenta em relação ao objeto a

ser pesquisado. De acordo com Japiassu:

... se queremos precisar o sentido do termo interdisciplinaridade

devemos estabelecer, antes, o que vem a ser a disciplinaridade. Se

fizermos certas previsões de ordem epistemológica nesses termos,

chegaremos a uma diferenciação dos diversos tipos ou modalidades do

interdisciplinar. Assim, para nós, disciplina tem o mesmo sentido que

ciência. E, disciplinaridade significa a exploração científica

especializada de determinado domínio homogêneo de estudo, isto é, o

conjunto sistemático e organizado de conhecimentos que apresentam

características próprias nos planos do ensino, da formação, dos

métodos e das matérias; esta exploração consiste em fazer surgir

novos conhecimentos que se substituem aos antigos. (JAPIASSU,

1976, p.72).

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A exigência interdisciplinar, conforme Georges Gusdorf (Apud JAPIASSU,

1976), impõe a cada especialista que transcenda sua própria especialidade, tomando

consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições das outras disciplinas.

Enquanto não houver comunicação entre as disciplinas não se

atingirá o contexto interdisciplinar. O que realmente importa, no

diálogo interdisciplinar, aquilo que não somente é desejável,

mas também indispensável, é que a autonomia de cada

disciplina seja assegurada como uma condição fundamental da

harmonia de suas relações com as demais. Onde não houver

interdependência disciplinar, não pode haver interdependência

das disciplinas (JAPIASSU, 1976, p.129).

Outra perspectiva de compreensão acerca do que é interdisciplinaridade, foi

apresentada por Francischett (2005), ao alocar a interdisciplinariadadem como uma

tipologia de estudo acima da disciplinaridade. Para a autora,

A interdisciplinaridade, por sua vez, compõe-se por um grupo de

disciplinas conexas e com objetivos comuns. Está em nível superior a

disciplina, ou área que coordena e define finalidades. Ocorre intensa

troca entre especialistas. O horizonte epistemológico deve ser o campo

unitário do conhecimento, a negação e a superação das fronteiras

disciplinares, a interação propriamente dita. (FRANCISCHETT, 2005,

p.3)

Embora a discussão conceitual sobre interdisciplinaridade seja extensa,

interessa-nos neste artigo, atentarmos para o fato de que em relação a temática

apresentada, os olhares sobre as experiências não cartesianas suplantam o saber

puramente disciplinar, justamente por incluir nas discussões elementos culturais,

sociais, econômicos, religiosos e recheados de simbologias. Esses elementos compõem

um complexo de conhecimentos tanto do sujeito e sua ressignificação em relação aos

processos de doença e cura pelo qual o corpo vivenciou, como pela busca de respostas

científicas, por exemplo, que atestem a cura.

Para Le Breton (2010), diante da multiplicidade de significados possíveis de

serem aplicados ao conceito corpo, o objetivo é compreender a corporeidade enquanto

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estrutura simbólica e, assim destacar representações, os imaginários, os desempenhos,

os limites que aparecem infinitamente variáveis conforme as sociedades. Enquanto que

no espiritismo o corpo (social e individual) são partes do mesmo universo, “as

representações do corpo são as representações da pessoa” (LE BRETON, 2010:26), na

medicina tradicional funciona a lógica inversa. Nela o corpo aparece separado da noção

de pessoa/sujeito, do cosmo. O homem no modelo biomédico é um indivíduo não

dotado de subjetividade. “O corpo é o elemento que interrompe, o elemento que marca

os limites da pessoa, isto é, lá onde começa e acaba a presença do indivíduo” (LE

BRETON, 2010:30).

Dessa forma, pensar a cura em relação ao saber médico popular, significa em

não olhar o corpo como uma experiência que separa pessoa e sujeito, mas sim o corpo

como um conjunto indissociável. Nessa perspectiva, a conceituação de

interdisciplinaridade apresentada por Fazenda (1995), aloca o homem e a realidade que

o envolve, bem como as representações que este promove acerca de sua própria

realidade, que tornam o saber objetivo e fundamental na discussão interdisciplinar. Para

Francischett (2005),

Falar de interdisciplinaridade é falar de interação de disciplinas. A

questão interdisciplinar tem como propósito superar a dicotomia entre:

teoria e prática; pedagogia e epistemologia; entre ensino e produção

de conhecimento científico; apresenta-se contra um saber

fragmentado, em migalhas, contra especialidades que se fecham;

presenta-se contra o divórcio crescente na universidade, cada vez mais

compartimentada, dividida, subdividida e contra o conformismo das

situações adquiridas e das ideias recebidas ou impostas.

(FRANCISCHETT, 2005, p. 5)

O saber médico oficial, portanto, alicerçado na fragmentação e, por conseguinte,

na máxima especialização, tenderia a encontrar nos estudos interdisciplinares uma

forma de integração. Esta integração é limitada ou não permitida pelo caráter tecnicista

típico da forma de construção do conhecimento na medicina oficial.

A interdisciplinaridade e a construção do saber médico oficial

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Observa-se na atualidade um modelo fragmentado de organização do trabalho

em saúde, em que cada profissional realiza parcelas do trabalho sem integração com as

demais áreas envolvidas. A visão tecnicista das práticas de saúde, a estrutura cartesiana

e positivista da assistência e os modos de produção originaram a chamada medicina de

órgãos, em prejuízo de uma abordagem holística. Ao tentar reduzir o mundo a equações

e algoritmos, a ciência se distanciou da vida, gerando uma medicina tecnicista e

informatizada, que enxerga coisas em vez de semblantes.

É preciso reconhecer que, no ambiente hospitalar, o desenvolvimento histórico

da própria instituição gerou três paradigmas concorrentes: o técnico-científico, o

comercial-empresarial e o ético-humanitário, para compreender-se o caminho

percorrido até hoje pela medicina e os processos de assistência a saúde.

Embora sejam inevitáveis os conflitos resultantes da confrontação desses

paradigmas, seria apropriado colocar que o científico e o econômico deveriam estar a

serviço do ser humano e não ao contrário. Na relação médico/paciente com dor,

ressalta-se a importância de um relacionamento sujeito/sujeito e não sujeito/objeto. Para

Drummond (2011),

... a medicalização da saúde, a colonização médica da vida,

segundo Illich, cria ao paciente situações de subordinação e

trans- forma o aparelho biomédico do sistema industrial em

instituição quase autocrática. Evidentemente, existem outras

maneiras de cura fora do campo médico, embora a hegemonia

da medicina, invadindo toda a área do cuidado e, em

consequência, todo o espaço da saúde, engendre um processo de

medicalização dos problemas sociais. Assim, inúmeros aspectos

da experiência humana, inclusive a dor e o sofrimento, foram

subtraídos ao reino do autoconhecimento para serem

transferidos ao império da medicina, com a aura que lhe

conferem a tecnologia e o determinismo biológico. (DRUMMOND, 2011, p. 33)

Retomando Japiassu, muitas são ainda as implicações que repercutem na prática:

“O especialista é aquele que possui um conhecimento cada vez mais extenso relativo a

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um domínio cada vez mais restrito. O triunfo da especialização consiste em saber tudo

sobre nada” (JAPIASSU, 1976, p.08).

A ciência é a consciência do mundo. A doença do mundo moderno corresponde

a um fracasso, a uma demissão do saber. Semelhante propósito pode surpreender, se

pensamos na multidão dos ‘sábios’ ou pretensos sábios que povoam as universidades,

os laboratórios, os institutos de pesquisa em toda a face da Terra (JAPIASSU, 1976,

p.11). O autor faz um comparativo entre o câncer, como uma proliferação das células

vivas e a proliferação de disciplinas que se multiplicam em áreas do conhecimento,

diversificando-se, perdendo cada vez mais o contato com a realidade humana.

O médico ocupa-se com a doença, não com o doente. Seu olhar criterioso

procura sinais que indiquem um diagnóstico. Uma vez identificada a doença, o mesmo

olhar acompanha a reação desta à medicação em seus mínimos detalhes. A resistência

da doença é o prelúdio do fracasso. A doença incansável e resistente anuncia a epifania

da impotência do saber médico, cartesiano, organicista. A morte é a única derrota.

Enquanto existir doença, existe esperança. A doença, desde que se renda, é perdoada.

Ao doente restam a invisibilidade e o anonimato. O sistema capitalista de produção não

reserva lugar ao doente, este é execrado, perde sua identidade. Para o doente não há

perdão. O estigma o acompanha. A fragilidade decorrente da doença rotula, marca. Ao

doente reservam-se olhares de desconfiança. Seu corpo rompeu com a ordem

mecanicista. O corpo-máquina defeituoso transforma-se em sucata, é descartado,

substituído. A lógica capitalista que observa, com bons olhos, o corpo-máquina

saudável, assim, observa também a doença, como que ratificando a relação

capital/trabalho através do contrassenso na relação saúde/doença. Em relação ao corpo

doente, a doença sempre vence, pois, o corpo doente representa a fraqueza da

engrenagem que dá movimento à produção capitalista.

A cura para além do olhar disciplinar cartesiano...

Na contramão desta discussão, a bioética aparece como um elemento

fundamental para romper com a noção, por exemplo, da preocupação médica

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exclusivamente com a doença e não com o sujeito. A bioética, definida como “o estudo

sistemático da conduta humana no âmbito das ciências da vida e da saúde, enquanto esta

conduta é examinada à luz de valores e princípios morais” (Drummond, 2011, p. 32),

apresenta uma definição que, por si só, nos remete à necessidade de pensar a doença (no

caso específico abordado pelo autor, a dor e o sofrimento), para além de causas

biológicas, mas também em relação a outras causas, sejam pessoais, culturais ou

comportamentais. O princípio da autonomia seria, segundo o autor, fundamental, pois

está atrelado ao conceito de pessoa.

A definição de pessoa supõe a afirmação da atitude de conscientização

e a negação dos instrumentos de manipulação. Excede a noção do

indivíduo por seu aspecto relacional, por sua inserção social. Embora

possam haver aspectos conflitantes, de natureza histórico-cultural,

ético-jurídica e biopsíquica, entende-se, geralmente, por pessoa o ser

humano consciente, dotado de corpo, razão e vontade, autônomo e

responsável. Todavia, a definição de pessoa não é ainda uma questão

de fato ou mesmo de direito, mas uma tarefa humana que urge se

construir ou desvendar. (DRUMMOND, 2011, p. 34)

Entretanto, a interdisciplinaridade oferece caminhos que possibilitam a

modificação da forma fragmentada e desarticulada de agir, buscando a integração das

práticas em saúde. As práticas interdisciplinares no âmbito do ensino são fundamentais

para a formação do profissional em saúde, e, por conseguinte, servem para modificar as

práticas desarticuladas e individualista, típicas da disciplinaridade cartesiana. (SAUPE,

2005).

Se, por um lado o processo de fragmentação e a desarticulação do agir em saúde

são processos observáveis no cotidiano nos espaços de exercício da saúde, nota-se a

necessidade e urgência em pensarmos as alternativas positivas que a

interdisciplinaridade pode e deve oferecer. Além disso, uma temática altamente

relevante diz respeito à “humanização do atendimento em saúde”. É interessante

destacarmos que ao longo dos séculos XIX e XX, os avanços tecnológicos passaram a

ser amplamente utilizados para controlar ou reabilitar os sujeitos diante de determinada

enfermidade. Entretanto, tais avanços tecnológicos também contribuíram para que a

doença e, por conseguinte, a busca da cura, sugerem princípios simples: busca-se a

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causa e o efeito, tendo o corpo comparado a uma máquina e, desta forma, é comum

observarmos a negligencia em relação aos aspectos culturais, sociais, comportamentais,

psicológicos.

Assim, o discurso comum entre vários grupos sociais acerca do tratamento (tanto

em relação ao processo de busca das causas de determinada enfermidade, como na

relação entre médico e paciente), observa-se em inúmeros casos, a insatisfação do

paciente em relação ao tratamento “distante” e impessoal do profissional de saúde. Tal

constatação pode levar-nos a reflexão de que a busca por métodos / práticas alternativas

de cuidados com a saúde de caráter humanizado, aloca nos estudos acadêmicos sua

importância. De acordo com Goulart & Chiari (2010),

A temática ligada à humanização do atendimento em saúde

mostra-se relevante no contexto atual, uma vez que a atenção e o

atendimento no setor saúde, calcados em princípios como a

integralidade da assistência, a equidade e a participação social

do usuário, dentre outros, demandam a revisão das práticas

cotidianas com ênfase na criação de espaços de trabalho menos

alienantes que valorizem a dignidade do trabalhador e do

usuário. (GOULART & CHIARI, 2010, p. 257)

Embora a discussão das autoras esteja vinculada à ideia de política de

humanização da saúde, um ponto interessante na análise diz respeito a formação do

profissional de saúde. Portanto,

Dois desafios se apresentam à construção de um modelo de

atenção humanizado e, ao mesmo tempo, humanizador: a

produção de um cuidado orientado pelo reconhecimento de

pessoa (o sentido de ser membro, de pertencimento a um ethos,

a uma cultura, a um grupo que define os próprios significados

do “eu”) e de sujeito (o sentido de uma identidade a partir de

uma biografia singular, articulada a uma cultura, capaz de dotar

de legitimidade a autonomia de cada um). (GOULART &

CHIARI, 2010, p. 257)

Além da formação do profissional de saúde, tendo como canal norteador a

humanização, a inserção de conhecimentos de medicina alternativa, elementos culturais

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e religiosidade que possam se relacionar com as práticas médicas tem aparecido como

fonte de discussão. Em algumas regiões brasileiras, por exemplo, constata-se uma

“dupla” forma de cuidado com o corpo e busca da cura. Trata-se da inserção de

“benzedeiras”, “tratamento com ervas”, entre outros, praticados dentro de postos de

saúde, em conjunto com médicos.

Outro aspecto importante que trata das práticas de cura / saúde está posto no

universo espiritualista e espírita (kardecista). Aqui, mais especificamente, os processos

se dão através de atividades mediúnicas, mas que, em geral, assemelham-se à praticas

médicas uma vez que são os chamados “médicos espirituais” ou “médiuns de cura” que

as realizam. De acordo com Souza (2014),

Os médiuns de cura, conforme afirmam os próprios adeptos do

espiritismo, estão presentes nas diversas vertentes religiosas e mesmo

fora delas. São os tradicionais curandeiros, rezadores e benzedores

que fazem uso de amuletos, plantas, pedaços de animais, gestos,

palavras mágicas e orações... os “médiuns cirurgiões” constituem um

fenômeno mais urbano, sendo procurados por indivíduos de maior

renda e escolaridade que os demais, inclusive pessoas vindas de países

ricos. (SOUZA, 2014, p. 3)

No Brasil existem muitos espaços cujas as práticas de cura espiritual, seja

através de terapias alternativas, ou as chamadas cirurgias espirituais, ocorrem. Um dos

lugares mais famosos situa-se em Abadiânia, a Casa Dom Inácio de Loyola, cuja

atuação famosa do Médium João de Deus foi alvo de pesquisas, reportagens e tem um

número imenso de procura por pessoas de várias partes do mundo. Um aspecto a ser

destacado é a recomendação de continuidade de qualquer tratamento tradicional sob o

qual o sujeito esteja sendo submetido. (SOUZA, 2014).

Obviamente, o campo interdisciplinar tem nas discussões sobre as experiências

de cura dos corpos doentes, que passam por processos não cartesianos, um universo de

possibilidades de análises, que perpassam pela Antropologia, Sociologia, Biologia, Área

Médica, Ciências da Religião. Daí a proposição fundamental de, desde a graduação, o

futuro profissional de saúde ter acesso ao conhecimento interdisciplinar, humanizado e

pautado em pressupostos para além da ciência cartesiana e disciplinar.

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Considerações finais

Neste trabalho, procuramos compreender a relação entre interdisciplinaridade,

práticas médicas e processos de cura dos corpos doentes tendo em vista a multiplicidade

e complexidade que acompanham os estudos cujas abordagens não se encerram no

aspecto disciplinar.

Num primeiro momento, discutimos a questão do corpo na condição daquele que

apresenta o sujeito para o meio social e cultural a partir dos estudos de Le Breton, cujos

estudos sobre o corpo como elemento primordial da existência humana, pois é o

principal fundamento de práticas sociais. Em seguida, passamos para a tentativa de

conceituação de interdisciplinaridade, perpassando pelas discussões teóricas de Japiassu

(1976), Francischett (2005) e Fazenda (1995). Para Japiassu (1976), a discussão

fundamental está em compreender primeiro o que é disciplinaridade, para em seguida,

tentar construir elementos que possam unir ou agregar conhecimento de vários

disciplinares, e, assim, ter uma formulação interdisciplinar do conhecimento. Já para

Francischett (2005), a interdisciplinaridade deveria sobrepor-se à disciplinaridade,

constituindo-se, assim, como um conjunto de disciplinas correlatas que se

transformariam em estudos interdisciplinares, ou seja, a interação de fato.

A partir dessas conceituações e a problematização acerca do estudo proposto,

afirmamos que em se tratando de experiências não cartesianas nos processos de cura de

corpos doentes, o saber puramente disciplinar não teria condições de construir respostas

(ainda que passíveis de uma série de indagações) que possam dar conta da

complexidade em torno da temática. Portanto, o saber médico popular encontraria no

conceito de interdisciplinariadade, elementos subjetivos e objetivos de discussão,

justamente para, de certa forma, contrapor-se ao saber médico oficial.

Quanto aos objetivos do projeto interdisciplinar na área da saúde, buscou-se a

construção coletiva de um novo conhecimento prático ou teórico para os problemas da

formação de profissionais da área médica visando a integração dos saberes médicos.

Falar de interdisciplinaridade é falar de interação de disciplinas.

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Com o propósito de diminuir a distancia entre médico e paciente, as tensões

advindas da dificuldade de comunicação/interação no processo de cuidar, e permitir um

diálogo em que os discursos de médico e paciente façam sentido e tenham significado

para ambos, faz-se necessário considerar a relevância da reformulação e reorganização

de práticas pedagógicas, de acordo com o postula Japiassu (1976), a partir da

perspectiva interdisciplinar, estimular trocas entre os especialistas e promover

integração real das disciplinas para a formação de médicos e profissionais de saúde

visando ampliar as fronteiras do olhar médico, a partir do incentivo da geração e

transmissão de um saber interdisciplinar, capaz de manter a abordagem técnico-

científica da medicina e seu diálogo com os saberes populares, visando a compreensão

do mundo simbólico do paciente como um contributo para a prática da diagnose;

introduzir a complexidade histórica e social do conhecimento na área da saúde e sua

função ética no alívio do sofrimento. Ao mesmo tempo, problematizar a ideológica

naturalização do saber e da prática médica e relativizar certas “verdades”, reconhecendo

outros saberes que importam na prática social da medicina.

E, por fim, em relação acerca da cura para além do olhar cartesiano, procuramos

discutir três elementos: a) a questão da bioética, mais precisamente, a importância do

princípio da autonomia, baseado no conceito de pessoa. Este conceito, observa a pessoa

como um ser humano “consciente, dotado de corpo, razão e vontade, autônomo e

responsável”; b) outra discussão importante no nosso trabalho é a chamada

“humanização do atendimento em saúde”, cuja está na realidade que apresenta o avanço

tecnológico, infelizmente, não contribui para a humanização nos espaços de exercício

das práticas de saúde, pois o corpo é concebido na condição de máquina e, portanto, são

negligenciados os aspectos culturais, sociais, comportamentais e psicológicos do

sujeito; c) e, além da bioética e da humanização, as práticas de cura / saúde também está

alicerçada no universo espiritualista e espírita. Os espaços que praticam as chamadas

“curas espirituais” são em quantidade expressiva e, nestes, observa-se inúmeros rituais,

ações e simbologias, que a multiplicidade e necessidade de saberes em diversas áreas do

conhecimento. Isto se dá, justamente, por ser difícil a compreensão de fenômenos cujas

explicações estão distantes do universo científico cartesiano.

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