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Texto Abílio Ferreira e Jorge Nascimento Rodrigues O dragão chinês enamo- rou-se das duas pon- tas mais periféricas da zona euro. A Finlândia e Portugal foram, nos últimos 18 anos, os dois membros da mo- eda única com maior peso de investimento de origem chinesa na sua economia. O investimento chinês que atraíram entre 2000 e 2017 representa respetivamente 3,2% e 3,1% do produto interno bruto (PIB), segundo o último levantamento anual realizado pela consultora nova-ior- quina Rhodium Group e pelo Mercator Institute for China Studies, um think tank de Berlim. Muito acima da média de 0,8% do PIB na União Europeia (ver tabela). O valor acumulado foi de €7,1 mil mi- lhões, no caso do país nórdico dos lagos, e de €6 mil milhões para o país mais oci- dental do continente. São valores dis- tantes ainda assim das cinco economias da União Europeia que mais atraíram investimento chinês: Reino Unido com €42,2 mil milhões; Alemanha com €20,6 mil milhões, Itália com €13,7 mil milhões, França com €12,4 mil milhões e Holanda com €9 mil milhões. Mas no caso de Por- tugal, é quase duas vezes o investimento chinês na vizinha Espanha e, no caso da Finlândia, é duas vezes e meia o investi- mento realizado na vizinha Suécia. São 7 as joias da coroa chinesas emblemáticas do investimento em Portugal (ver tabela). Comparando com a presença chinesa em Portugal, o investimento direto portu- guês na China ainda é fraco; era inferior a €1000 milhões, segundo dados do Fundo Monetário Internacional para 2016. Um disparo brutal no investimento O número apontado pela Rhodium para Portugal difere do stock registado pelo Banco de Portugal (BdP) uma vez que in- clui operações controladas por entidades chinesas, mesmo que através de empre- CHINA sas registadas noutro país, e além disso junta investimento direto com outros investimentos financeiros. Um dos casos mais relevantes desta diferença foi a ope- ração de entrada na EDP, em 2012, que se concretizou através de uma subsidiária da China Three Gorges no Luxemburgo e envolveu o maior investimento chinês até à data (€2,7 mil milhões). Mesmo sem uma contabilização mais abrangente, o stock de investimento direto chinês em Portugal registado pelo BdP revela um salto impressionante, inigualável, nos últimos cinco anos. Multiplicou por 17: de cerca de €142 milhões em 2013 passou para quase €2500 milhões no final de setembro de 2018. No investimento de carteira, que agrega operações financei- ras com títulos como ações, obrigações ou fundos, não há dados disponíveis no Banco de Portugal nem no Fundo Mone- tário Internacional. As razões que levaram os capitais chi- neses aos dois países das extremidades europeias são diferentes. “A atratividade de Portugal baseia-se em três fatores – o preço muito apelativo dos ativos num momento de aperto financeiro durante o resgate; o baixo protecionismo reve- lado por Lisboa face a outros destinos europeus; e o perfil global das empresas portuguesas que podiam servir de pon- te para África, América Latina e certos segmentos de mercado”, sublinha En- rique Galán, diretor no Banco Asiático de Desenvolvimento, em Manila, nas Fi- lipinas. A Finlândia foi escolhida “como parceiro privilegiado no esforço da China para promover a inovação no seu tecido económico”, refere, por seu lado, Carlos Rodrigues, diretor do Mestrado em Es- tudos Chineses e coordenador do Centro de Estudos Asiáticos na Universidade de Aveiro. “Enquanto em Portugal, o inves- timento chinês se centrou na energia, nos seguros, na banca e no imobiliário, na Finlândia os chineses centraram-se na alta tecnologia”, acrescenta o professor de Aveiro. A China transformou-se, também, num importante destino para as expor- tações portuguesas, mas desceu uma posição, para 13º cliente, este ano (ver tabela). A cobertura das importações pelas exportações foi de 53% entre ja- neiro e setembro deste ano. Na área só de produtos caiu a pique para 29,5% naquele período. Os três principais sec- tores de exportação de bens — veículos, minérios e pasta de papel — afundaram- -se mais de 27% no conjunto nos primei- ros nove meses do ano. Autoeuropa é o principal exportador Se por um imponderável funesto, o mer- cado chinês se fechasse às exportações portuguesas, o choque na economia seria limitado. O dragão asiático repre- sentou, no ano passado, 1,25% do total das exportações. Mas gigantes como a Autoeuropa ou o Super Bock Group, os dois principais agentes exportadores, operadores como a Enopor, nos vinhos que tem uma filial em Xangai, ou a Tel- mo Duarte, nas pedreiras, sofreriam danos expressivos. A exportação de veículos valeu €206 milhões no ano passado e representou 32% das exportações para a China. Jun- tamente com a pasta de papel e papel (onde estão a Altri e a Navigator), as cervejas (para a Super Bock é o primeiro mercado de exportação, valendo mais do que a soma dos mercados europeus) e os vinhos (Enopor e Sogrape), os minerais de cobre a os mármores somam 62% da exportação. Para a Autoeuropa, o mercado chinês contribuirá com mais de €100 milhões (4,2% da faturação), sendo o sétimo destino e o maior cliente fora da União Europeia. A TMG Auto- motive tem na China um dos principais mercados, valendo mais de €5 milhões. A empresa admite instalar uma base de produção na China para seguir a expan- são dos clientes europeus como a BMW, Mercedes, Jaguar ou Porsche. A Telmo Duarte, de Fátima, carrega por ano 1000 contentores de blocos que representam um negócio de €3 milhões, um terço da faturação. Para a Altri, a China represen- tou 10% das exportações no ano passado, um peso idêntico ao mercado português. [email protected] Investimento Dragão asiático investiu €6 mil milhões em Portugal desde 2000. É o segundo maior da Europa Só a Finlândia nos passou à frente A economia chinesa perde velocidade, mas o mercado da classe média vai aumentar em centenas de milhões. A China é o primeiro destino do investimento mundial PIB desacele O sintoma imediato de uma alteração radical na economia chinesa é o abran- damento do crescimento anual para taxas no patamar dos 6% desde 2015 e a projeção de um ritmo inferior a par- tir de 2022 (ver gráfico). O motor da economia está a mudar da exportação e do investimento em capital fixo para o consumo de massas e a inovação em todas as áreas de ponta. O crescimento gradual da classe média para perto de 2500 milhões de chineses daqui a apenas sete anos abriu um espaço para o teste de soluções sofisticadas que rapidamente ganham uma massificação jamais vista em outros mercados. Um dos sectores onde se observou o disparo na adoção de soluções de vanguarda foi no sector das tecnológicas na área financeira. O ritmo de crescimento nos últimos 30 anos permitiu à China tornar-se a segunda maior economia do planeta, o primeiro exportador e o segundo impor- tador à escala mundial. A China fornece 32% da oferta mundial de equipamento de telecomunicações e de escritório, e 35% no vestuário, e não é fácil nem rápida a sua substituição nesse papel à escala global. Há sectores onde a penetração chinesa é já superior a 50% do mercado mundial dominado pelos cinco principais fornecedores: humidificadores, joalharia, módulos solares, células solares, micro- -ondas, ‘bolachas’ semicondutoras, frigo- ríficos, computadores pessoais. Apesar do abrandamento, a China foi o principal destino do investimento direto estrangeiro no primeiro semes- tre de 2018, segundo a United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), à frente do Reino Unido e dos % PIB EM 2017 VALOR €MIL MILHÕES Finlândia 3,2 7,1 PORTUGAL 3,1 6 Reino Unido 1,8 42,2 Malta 1,8 0,2 Hungria 1,7 2,1 Holanda 1,2 9 Irlanda 1 2,8 UE 0,8 130,2 Nota — Os dados apresentados pelo Rhodium Group divergem dos relativos ao investimento direto chinês contabilizado pelo Banco de Portugal. Estes últimos não incluem os realizados por entidades chinesas sediadas noutros países da União Europeia (por exemplo, via Luxemburgo) FONTES: RHODIUM GROUP/MERCATOR INSTITUTE FOR CHINA STUDIES E EXPRESSO FINLÂNDIA E PORTUGAL NA MIRA DA CHINA Investimento chinês em percentagem do PIB do país recetor e em valor entre 2000 e 2017 EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES POSIÇÃO 2013 12º 2018 13º QUOTA 2013 1,4% 2,4% 2018 1,2% 3,1% Nota — Os dados para 2018 são relativos ao período de janeiro a setembro FONTE: INE EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PARA A CHINA CAIU EDP China Three Gorges (Lux.) detém 23,27% e CNIC detém 4,98% Fidelidade Fosun adquiriu 85% por 1,1 mil milhões BCP Fosun através da Chiado do Luxemburgo detém 27,06% Luz Saúde Fidelidade (Fosun) comprou 96% por €489 milhões REN State Grid adquiriu 25% por €390 milhões e Fosun detém 5,3% (através da Fidelidade) BESI Haitong comprou por €379 milhões EDP Renováveis Portugal CTG adquiriu 49% por €368 milhões JOIAS DA COROA CHINESAS EM PORTUGAL

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Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

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Texto Abílio Ferreira e Jorge Nascimento Rodrigues

O dragão chinês enamo-rou-se das duas pon-tas mais periféricas da zona euro. A Finlândia e Portugal foram, nos últimos 18 anos, os dois membros da mo-eda única com maior peso de investimento

de origem chinesa na sua economia. O investimento chinês que atraíram entre 2000 e 2017 representa respetivamente 3,2% e 3,1% do produto interno bruto (PIB), segundo o último levantamento anual realizado pela consultora nova-ior-quina Rhodium Group e pelo Mercator Institute for China Studies, um think tank de Berlim. Muito acima da média de 0,8% do PIB na União Europeia (ver tabela).

O valor acumulado foi de €7,1 mil mi-lhões, no caso do país nórdico dos lagos, e de €6 mil milhões para o país mais oci-dental do continente. São valores dis-tantes ainda assim das cinco economias da União Europeia que mais atraíram investimento chinês: Reino Unido com €42,2 mil milhões; Alemanha com €20,6 mil milhões, Itália com €13,7 mil milhões, França com €12,4 mil milhões e Holanda com €9 mil milhões. Mas no caso de Por-tugal, é quase duas vezes o investimento chinês na vizinha Espanha e, no caso da Finlândia, é duas vezes e meia o investi-mento realizado na vizinha Suécia. São 7 as joias da coroa chinesas emblemáticas do investimento em Portugal (ver tabela). Comparando com a presença chinesa em Portugal, o investimento direto portu-guês na China ainda é fraco; era inferior a €1000 milhões, segundo dados do Fundo Monetário Internacional para 2016.

Um disparo brutal no investimento

O número apontado pela Rhodium para Portugal difere do stock registado pelo Banco de Portugal (BdP) uma vez que in-clui operações controladas por entidades chinesas, mesmo que através de empre-

CHINA

sas registadas noutro país, e além disso junta investimento direto com outros investimentos financeiros. Um dos casos mais relevantes desta diferença foi a ope-ração de entrada na EDP, em 2012, que se concretizou através de uma subsidiária da China Three Gorges no Luxemburgo e envolveu o maior investimento chinês até à data (€2,7 mil milhões). Mesmo sem uma contabilização mais abrangente, o stock de investimento direto chinês em Portugal registado pelo BdP revela um salto impressionante, inigualável, nos últimos cinco anos. Multiplicou por 17: de cerca de €142 milhões em 2013 passou para quase €2500 milhões no final de setembro de 2018. No investimento de carteira, que agrega operações financei-ras com títulos como ações, obrigações ou fundos, não há dados disponíveis no Banco de Portugal nem no Fundo Mone-tário Internacional.

As razões que levaram os capitais chi-neses aos dois países das extremidades europeias são diferentes. “A atratividade de Portugal baseia-se em três fatores – o preço muito apelativo dos ativos num momento de aperto financeiro durante o resgate; o baixo protecionismo reve-lado por Lisboa face a outros destinos europeus; e o perfil global das empresas portuguesas que podiam servir de pon-te para África, América Latina e certos segmentos de mercado”, sublinha En-rique Galán, diretor no Banco Asiático de Desenvolvimento, em Manila, nas Fi-lipinas. A Finlândia foi escolhida “como parceiro privilegiado no esforço da China para promover a inovação no seu tecido económico”, refere, por seu lado, Carlos Rodrigues, diretor do Mestrado em Es-tudos Chineses e coordenador do Centro de Estudos Asiáticos na Universidade de Aveiro. “Enquanto em Portugal, o inves-timento chinês se centrou na energia, nos seguros, na banca e no imobiliário, na Finlândia os chineses centraram-se na alta tecnologia”, acrescenta o professor de Aveiro.

A China transformou-se, também, num importante destino para as expor-tações portuguesas, mas desceu uma posição, para 13º cliente, este ano (ver

tabela). A cobertura das importações pelas exportações foi de 53% entre ja-neiro e setembro deste ano. Na área só de produtos caiu a pique para 29,5% naquele período. Os três principais sec-tores de exportação de bens — veículos, minérios e pasta de papel — afundaram--se mais de 27% no conjunto nos primei-ros nove meses do ano.

Autoeuropa é o principal exportador

Se por um imponderável funesto, o mer-cado chinês se fechasse às exportações portuguesas, o choque na economia seria limitado. O dragão asiático repre-sentou, no ano passado, 1,25% do total das exportações. Mas gigantes como a Autoeuropa ou o Super Bock Group, os dois principais agentes exportadores, operadores como a Enopor, nos vinhos que tem uma filial em Xangai, ou a Tel-mo Duarte, nas pedreiras, sofreriam danos expressivos.

A exportação de veículos valeu €206 milhões no ano passado e representou 32% das exportações para a China. Jun-tamente com a pasta de papel e papel (onde estão a Altri e a Navigator), as cervejas (para a Super Bock é o primeiro mercado de exportação, valendo mais do que a soma dos mercados europeus) e os vinhos (Enopor e Sogrape), os minerais de cobre a os mármores somam 62% da exportação. Para a Autoeuropa, o mercado chinês contribuirá com mais de €100 milhões (4,2% da faturação), sendo o sétimo destino e o maior cliente fora da União Europeia. A TMG Auto-motive tem na China um dos principais mercados, valendo mais de €5 milhões. A empresa admite instalar uma base de produção na China para seguir a expan-são dos clientes europeus como a BMW, Mercedes, Jaguar ou Porsche. A Telmo Duarte, de Fátima, carrega por ano 1000 contentores de blocos que representam um negócio de €3 milhões, um terço da faturação. Para a Altri, a China represen-tou 10% das exportações no ano passado, um peso idêntico ao mercado português.

[email protected]

Investimento Dragão asiático investiu €6 mil milhões em Portugal desde 2000. É o segundo maior da Europa

Só a Finlândia nos passou à frente

A economia chinesa perde velocidade, mas o mercado da classe média vai aumentar em centenas de milhões. A China é o primeiro destino do investimento mundial

PIB desacele

O sintoma imediato de uma alteração radical na economia chinesa é o abran-damento do crescimento anual para taxas no patamar dos 6% desde 2015 e a projeção de um ritmo inferior a par-tir de 2022 (ver gráfico). O motor da economia está a mudar da exportação e do investimento em capital fixo para o consumo de massas e a inovação em todas as áreas de ponta. O crescimento gradual da classe média para perto de 2500 milhões de chineses daqui a apenas sete anos abriu um espaço para o teste de soluções sofisticadas que rapidamente ganham uma massificação jamais vista em outros mercados. Um dos sectores onde se observou o disparo na adoção de soluções de vanguarda foi no sector das tecnológicas na área financeira.

O ritmo de crescimento nos últimos 30 anos permitiu à China tornar-se a segunda maior economia do planeta, o primeiro exportador e o segundo impor-tador à escala mundial. A China fornece 32% da oferta mundial de equipamento de telecomunicações e de escritório, e 35% no vestuário, e não é fácil nem rápida a sua substituição nesse papel à escala global. Há sectores onde a penetração chinesa é já superior a 50% do mercado mundial dominado pelos cinco principais fornecedores: humidificadores, joalharia, módulos solares, células solares, micro--ondas, ‘bolachas’ semicondutoras, frigo-ríficos, computadores pessoais.

Apesar do abrandamento, a China foi o principal destino do investimento direto estrangeiro no primeiro semes-tre de 2018, segundo a United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD), à frente do Reino Unido e dos

% PIB EM 2017

VALOR €MIL MILHÕES

Finlândia 3,2 7,1PORTUGAL 3,1 6Reino Unido 1,8 42,2Malta 1,8 0,2Hungria 1,7 2,1Holanda 1,2 9Irlanda 1 2,8UE 0,8 130,2

Nota — Os dados apresentados pelo Rhodium Group divergem dos relativos ao investimento direto chinês contabilizado pelo Banco de Portugal. Estes últimos não incluem os realizados por entidades chinesas sediadas noutros países da União Europeia (por exemplo, via Luxemburgo)

FONTES: RHODIUM GROUP/MERCATOR INSTITUTE FOR CHINA STUDIES E EXPRESSO

FINLÂNDIA E PORTUGAL NA MIRA DA CHINAInvestimento chinês em percentagem do PIB do país recetor e em valor entre 2000 e 2017

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES

POSIÇÃO2013 12º 9º2018 13º 6ºQUOTA2013 1,4% 2,4%2018 1,2% 3,1%

Nota — Os dados para 2018 são relativos ao período de janeiro a setembro

FONTE: INE

EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PARA A CHINA CAIU

EDPChina Three Gorges (Lux.) detém 23,27% e CNIC detém 4,98%

Fidelidade Fosun adquiriu 85% por 1,1 mil milhões

BCP Fosun através da Chiado do Luxemburgo detém 27,06%

Luz Saúde Fidelidade (Fosun) comprou 96% por €489 milhões

RENState Grid adquiriu 25% por €390 milhões e Fosun detém 5,3% (através da Fidelidade)

BESI Haitong comprou por €379 milhões

EDP Renováveis Portugal

CTG adquiriu 49% por €368 milhões

JOIAS DA COROA CHINESAS EM PORTUGAL

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Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

Pág: 21

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Área: 28,20 x 44,50 cm²

Corte: 2 de 4ID: 77944412 01-12-2018 | Economia

“O mundo deu uma reviravolta nestes últimos quinze anos. A China é hoje o mercado certo para expandir o seu negócio, para lhe dar escala”, diz, em entrevista ao Expresso, Peter Williamson, um professor de gestão internacional no Jesus College em Cambridge, no Rei-no Unido, e um especialista na China de há várias décadas. No final do século XX ou nos primei-ros anos do século XXI, o local certo para uma empresa ganhar escala eram os Estados Unidos ou os mercados mais sofistica-dos da Europa. Na tecnologia, o Silicon Valley californiano, a região mais emblemática, esta-va na moda. Os mercados das economias desenvolvidas eram a Meca das estratégias de ges-tão e de internacionalização de sucesso, advogadas pelos gurus.

A recomendação atual deste professor britânico pode sur-preender o leitor: olhe para a China como o local certo para estar, se quer marcar a diferen-ça, apesar de toda a turbulência geopolítica trazida pela guerra comercial e política da Adminis-tração Trump. Mas para abor-dar a segunda maior economia do mundo, com ambições a ser a primeira, é preciso dominar algumas artes, como a da paciên-cia, do pragmatismo e da flexi-bilidade, sublinha o académico que veio proferir recentemente uma conferência na Faculdade de Economia e Gestão da Uni-versidade Católica no Porto. Williamson falou no programa de formação Oficina de Líderes, organizado por Alberto Castro e José Pinto dos Santos. Deixou uma mensagem clara a uma trintena de dirigentes de topo e responsáveis operacionais de empresas portuguesas: há um conjunto de oportunidades que Portugal pode aproveitar, para além do simbolismo histórico de um relacionamento que remon-ta a 1513.

A vantagem especial portuguesa

“Há um fator importante, que ad-vém das características culturais e de um relacionamento histó-rico tão longo — os portugueses são pragmáticos e flexíveis como os chineses e isso é importante politicamente e nas relações de negócios”, chama a atenção o académico britânico que vê nes-ses traços uma marca distintiva de Portugal em relação a outros países europeus. Uma “vantagem especial”, em particular numa altura em que na União Europeia e em algumas grandes economi-as do euro se pretende apertar o rastreio do investimento direto estrangeiro e em particular do investimento direto chinês.

A primeira razão por que a China é atualmente o local cer-to para se estar advém de um facto, a que porventura se dá pouca atenção: “A China tem atualmente a maior percenta-gem de startups com uma valo-rização acima de mil milhões de euros, tendo já ultrapassado os Estados Unidos. Esses empreen-dedores perceberam que não se pode competir mais pelo preço, mas pela inovação, e, para isso, precisam de parceiros estran-geiros”, refere-nos Williamson. A oportunidade é imensa: “A China é o mercado ideal para escalar e é muito rápido. O mo-vimento neste mercado não é de zero para um, mas de 1 para milhões. É isso que leva muitas

empresas inovadoras europeias e empreendedores europeus a localizar-se na China ou a procu-rar aí parceiros.” Um dos casos mais badalados, inclusive pelos media chineses ligados ao Par-tido Comunista, é o da startup Byton, para o fabrico de automó-veis elétricos semiautónomos, lançada por dois ex-executivos da BMW alemã e por parceiros chineses.

Peter Williamson Professor de gestão no Jesus College em Cambridge, Reino Unido

“Portugueses são pragmáticos como os chineses”

“A China tem atualmente a maior percentagem de startups acima de mil milhões de euros, tendo já ultrapassado os EUA”, diz Peter Williamson FOTO TIAGO MIRANDA

Outra razão de peso, diz Williamson, é que o mercado chinês permite massificar pro-dutos de nicho, ou típicos, de alto valor, de um dado país: “É possível na China fazer a reenge-nharia de produtos inicialmente de nicho virando-os para o mer-cado de massas. E fazê-lo a baixo custo. O caso dos italianos, na área da alimentação, pode ser seguido. Os portugueses podem, por exemplo, apostar nos vinhos e na pastelaria.”

A mudança do modelo económico

No entanto, a oportunidade mais ampla surge na mudança em curso do modelo de cresci-mento da China. “Há duas alte-rações fundamentais”, sublinha o professor de Cambridge. A primeira é a viragem para a di-namização do consumo interno, que já representa 78% do cres-cimento do PIB — mais de 30 pontos percentuais em relação a 2013 —, com a emergência de uma muito ampla classe média que, em 2025, pode represen-tar 1,7 biliões de pessoas, quase três vezes a população atual da União Europeia. A segunda é a exigência de produtos cada vez mais fiáveis. “Os consumidores chineses são cada vez mais exi-gentes. Um dos pontos cruciais é garantir que o produto que coloca no mercado é genuíno, e não uma cópia de contrafação”, acrescenta Williamson.

Finalmente, há uma apos-ta muito forte em sectores de futuro, nos quais Pequim quer parceiros. “A China quer reduzir a dependência dos EUA com o programa made in China 2025, apostando na inovação incre-mental e em ter multinacionais nas cinco principais empresas em 10 sectores-chave — aviação e aeroespacial; modernização da agricultura; energia, energias re-nováveis; robótica; novas tecno-logias de informação; novos ma-teriais e compósitos; transporte ferroviário; engenharia marí-tima; biomedicina; e material médico”, adianta Williamson. A estratégia para escolher parcei-ros é cirúrgica: “Na Europa, por exemplo, focaram-se nas PME alemãs (designadas por Mittels-tand) que têm tido problemas de sucessão familiar. Só no ano pas-sado adquiriram 250 empresas.” Outro caso é o da Finlândia, onde o investimento chinês se centrou na alta tecnologia. A participa-ção mais emblemática foi de 84% na Supercell pela Tencent.

Jorge Nascimento [email protected]

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EUA. A acumulação de lucros pelos sec-tores público e privado chineses permiti-ram tornar a China o segundo emissor de investimento direto no mundo em 2016, logo a seguir aos EUA, ainda segundo dados daquele organismo das Nações Unidas. Mas, no ano seguinte, caiu para terceiro lugar, depois do Japão, devido a uma convergência de dois travões: um maior controlo de saída de capitais por Pequim na sequência da crítica demolido-ra de que houve investimento no estran-geiro “cego e irracional” e “algo caóti-co”; e um maior rastreio do investimento chinês nos Estados Unidos e na Europa, depois de uma vaga em anos anteriores que terá capturado sectores considerados estratégicos e de alta tecnologia.

A necessidade de mais investimento “inteligente” e de contornar o filtro mais apertado no Ocidente levou Pequim a passar a uma “quarta fase” na sua es-tratégia global, diz Peter Williamson, o especialista da Universidade de Cambrid-ge. A ampliação da iniciativa das Rotas da Seda pretende enquadrar o investimento direto chinês no estrangeiro, onde as dimensões marítima e das rotas ferro-viárias podem abrir oportunidades para Portugal, refere Carlos Rodrigues, da Universidade de Aveiro. J.N.R.

Ninguém bate os investidores chineses. Participações na EDP, REN e BCP valem €4,8 mil milhões

China detém 8,8% da bolsa portuguesa

Famílias portuguesas como Amorim ou Soares dos Santos, fundos interna-cionais, como o soberano da Noruega ou o americano Black Rock, figuram no restrito clube dos maiores inves-tidores no mercado de capitais, com aplicações acima dos €1000 milhões. Mas ninguém bate a China quando se fala dos donos da bolsa portuguesa. As participações na EDP (28,25%) REN (30%) e BCP (27%) valem €4,8 mil mi-lhões, uma cifra que compara com a capitalização do PSI-20 de €54,3 mil milhões. É só fazer as contas para se concluir que o peso do capital chinês é de 8,8%, repartido pelo Estado e pelo conglomerado Fosun, a face visível do investimento privado.

Em maio, a dupla China Three Gorges (CTG) e CNIC agitou o mercado com uma oferta geral sobre o mundo EDP, incluindo a EDP Renováveis (EDPR). As operações desafiam a paciência chinesa e são de desfecho incerto. Mas no caso de terem sucesso são, no limite, mais €9,6 mil milhões injetados na economia portuguesa, distribuídos pela parte da EDP que escapa a Pequim e pela fatia da EDPR (17%) que se encontra dispersa pelo mercado.

Após um frenesim que impulsionou a ação da EDP bem acima do preço oferecido (€3,26), o entusiasmo esfriou. A elétrica transaciona-se 7% abaixo da oferta chinesa. Ao preço da CTG a EDP ameaça a Galp como primeira capita-lização, com um valor a roçar os €12 mil milhões. A CTG entrou em cena na privatização da EDP, em 2011, pagando €3,45 por cada ação — €2,7 mil milhões pelo lote de 21,35%.

Na Rede Elétrica Nacional (REN) a ex-posição chinesa reparte-se pela estatal State Grid (25%) que aplicou, em 2012, €387 milhões e pela Fosun que mais tarde utilizou a Fidelidade para tomar uma posição de 5%. As participações estão avaliadas pelo mercado em €402 milhões e €80 milhões, respetivamente.

Para o conglomerado fundado por Guo Guangchang, a aplicação na REN são amendoins face aos €2,5 mil mi-lhões que a Fosun já aplicou em Por-tugal, incluindo negócios imobiliários em Lisboa.

A ambição da Fosun de se internaci-onalizar pela Europa casou bem com as oportunidades em Portugal na fase de intervenção da troika. Estreou-se com a Fidelidade, a maior seguradora portuguesa, que se transferiu do regaço da Caixa Geral de Depósitos por €1000 milhões. Avançou depois para o negó-cio da saúde, ficando dona, através de uma oferta de aquisição da Fidelidade (2014), da atual Luz Saúde. Esta sema-na, a empresa perdeu de vez o carácter de sociedade cotada, numa operação que a avalia em €544 milhões.

Para compor o cabaz, uma cereja do sistema bancário. Como o BCP precisa-va de dinheiro e os acionistas estavam exauridos, a solução (2016) foi uma operação à medida da Fosun. Pagou €175 milhões por uma participação de 16,7%, com a promessa de reforçar até aos 30%. Não falta muito. É dona de 27,06% que o mercado avalia em €1000 milhões. O lote inicial, dois anos após a subscrição, vale €620 milhões, mas, pelo meio, teve de aplicar €222 milhões para acompanhar um outro aumento de capital. A mais-valia potencial da Fosun está perto dos €300 milhões.

Abílio [email protected]

A Fosun tomou primeiro 16,7% do BCP. Acompanhou o aumento de capital e reforçou depois em bolsa para 27%

DICAS PARA “ENTRAR” NA CHINA

^ A mãe de todas as regras é esta: é um processo que leva tempo, exige persistência, é um jogo de longo prazo

^ Não olhe para a China globalmente (que tem uma dimensão gigantesca), olhe para o mercado local

^ Proteja a sua propriedade intelectual, e um dos passos é criar uma equipa chinesa que seja leal

^ Siga a máxima chinesa de avançar pedra a pedra. Avance optando, sempre, por uma série de pequenos riscos

^ Complemente os pontos fracos chineses. Eles não têm know how em muitas áreas soft

^ Recorde-se que tem uma vantagem especial, simbólica. Os chineses têm uma memória histórica muito longa. Portugal tem um relacionamento desde o século XIV com a China

^ Tenha em conta que há um ponto comum. Apesar das diferenças culturais, nomeadamente, de atitudes muito diferentes face à incerteza (de que os portugueses não gostam) e à orientação para o longo prazo (que os portugueses tendem a secundarizar), os dois povos partilham o pragmatismo e a flexibilidade

^ Olhe sempre globalmente. Numa aliança com uma empresa chinesa, ou mesmo se optar por uma aquisição, não olhe só para o mercado interno chinês, avalie a possibilidade de alavancar as capacidades e pontos fortes das empresas chinesas com o olho no mercado global

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Peso do PIB da China no PIB mundial

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*Paridade de poder de compra

FONTE: FMI, WEO, OUTUBRO DE 2018

1980 1990 2000 2010 2018

Page 3: Cores: Cor Pág: 20...chinês na vizinha Espanha e, no caso da Finlândia, é duas vezes e meia o investi-mento realizado na vizinha Suécia. São 7 as joias da coroa chinesas emblemáticas

Meio: Imprensa

País: Portugal

Period.: Semanal

Âmbito: Informação Geral

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Cores: Cor

Área: 23,54 x 25,15 cm²

Corte: 3 de 4ID: 77944412 01-12-2018 | Economia

Só a Finlândia bate Portugal em investimento chinês

> Economia portuguesa foi a segunda da zona euro que mais capital atraiu desde 2000 em percentagem do PIB > Peter Williamson, professor em Cambridge, no Reino Unido, diz que o gigante asiático é o sítio certo para as empresas crescerem E20

CHINA CONTROLA 8,8% DO PSI-20

AUTOEUROPA É O PRINCIPAL EXPORTADOR

CRESCIMENTO DO PIB DO DRAGÃO CAI PARA 6%