SILVIO WONSOVICZ -...

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APRENDENDO A VIVER JUNTOS: Investigação sobre Ética, Política e Estética Florianópolis, 2012 17ª edição 8º ANO SILVIO WONSOVICZ

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Aprendendo A viver juntos: Investigação sobre Ética, Política e Estética

Florianópolis, 2012

17ª edição

8º ANO

SILVIO WONSOVICZ

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COLEÇÃO FILOSOFIA, O INÍCIO DE UMA MUDANÇA

• Filosofandocomfadasebruxas(Ed.Infantil)• OMeuquintal(1ºano)• Minhahistórianoquintal(2ºano)• APequenagrandeMarília(3ºano)• Umaideiapuxaoutra...(4ºano)• Os422soldadinhosdechumbodoSenhorGeneral(5ºano)• ODesafiodepensarsobreopensar(6ºano)

• Pensarlógica+mente(7ºano)• Aprendendoaviverjuntos(8ºano)• Somosfilhosdapolis(9ºano)• Construindoéticaecidadaniatodososdias(EM)• Pensandoparaviver(EM)• Eureka:construindocidadãosreflexivos(EM)

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Capa, projeto gráfico e diagramação

CoLeÇÃo FiLosoFiA, o inÍCio de uMA MudAnÇACopyright©2001,byEditoraSophosLtda.

SilvioWonsovicz

RodrigoBrasil

AntonioCézarBoamorte

StUDIO S•Diagramação&ArteVisual|(48)3025-3070

Catalogaçãonapublicaçãopor:ElianaBionRosa-CRB14/075

W872aWonsovicz,SilvioAprendendoaviverjuntos:investigaçãosobreÉtica,PolíticaeEstética/SilvioWonsovicz.17ªed.,--Florianó-

polis,SC:Sophos,2012.

136p.:il.-(ColeçãoFilosofiaoIníciodeumaMudança:SérieInvestigaçãosobre...,8ºano)ISBN:85-85913-48-7

1.Filosofiacomcrianças,adolescentesejovens2.FilosofianoEnsinoFundamental3.FilosofianoEnsinoMédio4.EducaçãoparaopensarI.Título

CDD-372.8

2 0 1 2

DepósitolegalnaBibliotecaNacionalconformeDecretonº1.825,de20dedezembrode1907.Todososdireitosreservados.Nenhumapartedestaobrapoderáserreproduzidaoutransmitidaporqualquerformae/ouquaisquermeios(eletrônicooumecânico,incluindo

fotocópiasegravação)ouarquivadaemqualquersistemaoubancodedadossempermissãoescritadaEditora.

EDItORA SOPHOS

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Sumário

Para começo de converSa ............................................................................ 9

1. hoje a imPortância vital de uma educação ética

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 12

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 12

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.Lição de Sabedoria ....................................................................................... 13

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 14 - Inquietações éticas ............................................................................... 15 - Sobre os Valores Universais ................................................................. 17 - A importância dos valores considerados universais ............................ 17

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.Declaração do Parlamento das Religiões do Mundo .................................... 19

• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. ............................................ 21

• Construindo a C.A.I.Só mudo o mundo se eu me conhecer .......................................................... 23

2. coStumeS / hábitoS - regraS / normaS - bem / mal

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 26

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 26

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.Os macacos e as bananas ............................................................................ 27

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 28 - O que isso tudo tem a ver com a Moral e a Ética? ................................ 29

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.Sobre o Bem e o Mal ..................................................................................... 31

• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. ............................................ 34

• Construindo a C.A.I.Construção de uma comunidade ................................................................. 37

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3. liberdade de ação e deciSão

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 40

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 40

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.O pote e o furo .............................................................................................. 41

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 42 - Podemos escolher, viver situações ....................................................... 43 - Escolha feita implica uma responsabilidade ........................................ 44

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.As Três Peneiras ............................................................................................ 45

• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. ............................................ 47

• Construindo a C.A.I.Jogo da NASA ............................................................................................... 49

4. FundamentoS da ética

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 52

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 52

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.O discípulo honesto ...................................................................................... 53

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 54 - Filósofos pioneiros nas reflexões sobre a Ética .................................... 54 - A Ética e a análise metafísica como seu fundamento .......................... 57

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.Alguns ideais Éticos ao longo da História da Filosofia ................................. 58

• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. ............................................ 59

• Construindo a C.A.I.A maleta ....................................................................................................... 62

5. comPortamento humano e convivência Social

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 64

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 64

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.Amizade, amor, generosidade ...................................................................... 65

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 66 - Comportamento Moral e Religião ........................................................ 68 - Comportamento Moral e Política ......................................................... 68

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- Comportamento Moral e convivência social ....................................... 70 - Comportamento Moral para quê? ........................................................ 71

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.Comportamento moral = conhecimento e liberdade ................................... 72

• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. ............................................ 75

• Construindo a C.A.I.Dificuldades nas escolhas ............................................................................ 77

6. reSPonSabilidade moral, determiniSmo, determiniSmo moderado, livre-arbítrio

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 80

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 80

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.O Rouxinol e o caçador ................................................................................ 81

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 82 - A Ignorância e a Responsabilidade Moral ............................................ 82 - A questão da Força Externa e a Responsabilidade Moral ..................... 83 - As Forças Internas e a Responsabilidade Moral ................................... 84 - As Três Posturas e a Responsabilidade Moral ...................................... 85

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.Livre-arbítrio na Literatura........................................................................... 89

• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. ............................................ 90

• Construindo a C.A.I.O caso das laranjas Ugli .............................................................................. 93

7. Ser Feliz ou Por uma ética e uma eStética emanciPatóriaS

• Refletir em Comunidade .............................................................................. 96

• Pensar, Discutir e Construir Ideias na C.A.I. ............................................... 96

• Para Ler, Pensar, Discutir e Produzir na C.A.I.O gigante e as crianças ................................................................................ 97

• Ampliação dos entendimentos na C.A.I. ..................................................... 98 - A Ética no Período Moderno ................................................................. 99 - A Ética no Período Contemporâneo ...................................................... 99 - A Ética Hoje ........................................................................................ 101 - A Cidadania e a Sociedade Tecnológica ............................................. 103

• Para sabermos e refletirmos na C.A.I.A Ética, a Estética e a Emancipação Humana ........................................... 105

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• Reflexões e Ações Interdisciplinares da C.A.I. .......................................... 107

• Construindo a C.A.I.Emancipação pelos valores – Axiologia ..................................................... 109

comPlemento FiloSóFico:conhecendo alguns filósofos que refletiram sobre a ética, a Política e a estética

• Mundo da Grécia ClássicaO Comportamento Ético ligado à vida da Pólis .......................................... 112

Sócrates ...................................................................................................... 112Para Ler e Saber Mais: A Defesa de Sócrates ............................................. 114

Platão ......................................................................................................... 115Para Ler e Saber Mais: A República, ou sobre a Justiça ............................ 116

Aristóteles ................................................................................................... 117Para Ler e Saber Mais: Ética a Nicômacos ................................................. 118

• No Mundo ModernoUma Ética Antropocêntrica ........................................................................ 119

Emmanuel Kant .......................................................................................... 119Para ler e saber mais: Fundamentação da metafísica dos costumes .......... 120

• No Mundo ContemporâneoUma Ética do homem que vive no mundo ................................................. 121

Jean-Paul Sartre ......................................................................................... 121Para Ler e Saber mais: O Ser e o Nada ....................................................... 122

reFlexõeS e açõeS interdiSciPlinareS da c.a.i. ................................ 122

avaliaçõeS - Formativa e reFlexiva - 8º ano ....................................... 124

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livroS da coleção “FiloSoFia o início de uma mudança”

Série investigação sobre...

Soma-se à coleção e à série o presente livro – aprendendo a viver juntos: investigação sobre ética, Política e estética – 8º ano. Livros que apresentam seu conteúdo de forma pedagógica, filosófica e sintética, se-guindo a evolução do próprio pensamen-to filosófico do ser humano no decorrer da história. Temas pujantes da realidade e que são fundamentais de serem escla-recidos, discutidos e investigados na sala de aula, que se torna uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa – C.A.I..

Neste exato momento, como se pode perceber, passa-se do nível dos princípios em ge-ral, que envolvem os grandes temas filosóficos, para discussões e investigações sobre Teoria do Co-nhecimento, da Linguagem, da Lógica, da Ética, da Política e da Estética. Estas questões serão levantadas na C.A.I., no dia a dia da sala de aula. As interfaces dos temas abordados e pro-postos filosoficamente suscitam o questionamento para uma análise profunda e interdisciplinar. Afinal, a investigação filosófica precisa ser viva e pertinente ao momento que vivemos.

Ao aprender a investigar, discutir e produzir ideias e ações na C.A.I. (objetivo da Coleção “Filosofia o início de uma mudança”), cada aluno é convidado a refletir sobre si mesmo, o outro e o mundo em que está inserido.

O conhecimento básico das relações sociais entre indivíduos e povos e o seu aperfeiçoamento são alguns dos objetivos da coleção e da série Investigação sobre... Busca-se assim proporcionar aos con-teúdos filosóficos o tratamento pedagógico correto: instigador, dia-logal, investigador, criando espaços na C.A.I. para uma consciência cada vez mais solidária e responsável.

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Você tem em mãos um livro que faz parte da Coleção Filosofia o Início de uma Mudança (Ed. Infantil ao Ensino Médio). Este livro pertence à série “Investigação sobre…”. Investigação no Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano significa:

investigação: Ainda que o conceito de Investigação se ligue estrei-tamente ao de filosofia (como acontece em Platão, cf., p. ex., Teet., 196 d; Men., 81 e), dificilmente foi objeto da indagação filosófica. No mundo moderno, Dewey considerou a lógica como teoria da investi-gação: “Todas as formas lógicas, com suas propriedades característi-cas, nascem do trabalho de investigação, e referem-se à sua aferição, no que concerne à confiabilidade das asserções produzidas”.

Na Coleção e na série “Investigação sobre…”, organizadas e pensadas para alunos e professores terem pistas investigativas, caminhos norteado-res, entendimentos básicos e fundamentais dos assuntos propostos, temos:

■ Investigação sobre Teoria do Conhecimento, Filosofia da Lingua-gem e Lógica (6º e 7º ano);

■ Investigação sobre Ética, Política e Estética (8º e 9º ano).

Esta série “Investigação sobre…” (livros do 6º ao 9º ano) não tem a pretensão de abordar todos os aspectos históricos, sociais e filosóficos dos assuntos propostos. Nem de apresentar todos os filósofos e correntes filosóficas que pensaram e produziram ideias, pensamentos e ações. A intenção é apresentar caminhos para você e sua turma, em Comunidade de Aprendizagem Investigativa – C.A.I., elaborarem, a partir das ideias filosóficas, um entendimento do mundo, do outro e de si mesmo, sempre apresentando argumentos e justificativas. Bem como conhecer filósofos que, com suas reflexões, ajudaram a desenvolver e ampliar a capacidade reflexiva diante dos temas filosóficos.

O caminho de investigar e construir entendimentos estão abertos. Oferecemos um início para que, a partir do interesse seu e da turma em C.A.I., e também através de pesquisas, discussões e aprofundamentos, vocês possam continuar a investigação sobre o bem e bom pensar, sua organização lógica, sua validade e implicações na sociedade que vivemos.

intenção: tudo o que tem uma orientação para um objeto qualquer. A intenção é importante para avaliar o valor moral de uma ação.

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Neste livro do 8º ano – aprendendo a viver juntos, a partir da inves-tigação sobre Ética, Política e Estética, vocês poderão perceber que nem todos os meios são justificáveis, apenas aqueles que estão de acordo com os fins da própria ação. Sendo assim, fins éticos exigem meios éticos. E isso pressupõe que a pessoa moral precisa ser educada para os valores morais e as virtudes.

Mas ser educado nos valores morais, dentro de uma ética, não se trata de uma violência? Partindo do princípio de que tal educação quer trans-formar-nos de seres passivos em ativos, estamos indo contra nossa pró-pria natureza? Forçar um indivíduo a uma racionalidade ética ativa não é ir contra a sua natureza espontânea? Outro questionamento é sobre a educação ética, que coloca a pessoa em harmonia e de acordo com os valores da sociedade em que vive. Isso não nos torna submetidos a um poder externo, fora da nossa consciência, de uma moral social? Estas e outras indagações têm inquietado filósofos por muitas gerações.

Vamos, no decorrer deste ano e no próximo, investigar alguns caminhos percorridos dentro da ética que têm repercussões políticas e estéticas. Ini-ciamos examinando o desenvolvimento das ideias éticas na Filosofia e em nossa sociedade. Portanto, olhos e mentes abertas, pois vamos questionar e aprofundar entendimentos, junto com algumas posições de filósofos, para encontrarmos, quem sabe, outras respostas para a realidade e o tempo em que vivemos. Afinal, investigar, buscar e querer ser feliz, vivendo bem na sociedade e no tempo em que estamos, é aspiração de todos.

Ao iniciar essa caminhada nas reflexões éticas, políticas e estéticas, um grande desejo: que você, junto com a sua turma de sala de aula, for-mando uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa – C.A.I., realize bons trabalhos, com um grande senso de investigação, pesquisa, espírito de busca, discussão e aplicação na vida.

o autor

a ética das virtudes ten-ta examinar os traços de caráter próprios de uma pessoa virtuosa, como a

coragem, a benevolên-cia ou a honestidade. Na ética das virtudes o que interessa não é

saber que atos devemos realizar, mas que tipo de

pessoa devemos ser.

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Hoje importância vital de uma educação ética

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética12

Os alunos têm espaço de participação nas decisões da escola? A solidariedade é um valor que está presente nas relações

sociais (entre alunos, entre professores e alunos, entre funcio-nários, entre a escola e a comunidade)?

Na escola e no mundo em que vivemos, existe clima de respei-to entre as pessoas?

Os alunos aprendem a argumentar e defender as ideias apoian-do-se em fatos, conceitos e valores?

Os direitos são respeitados? E os deveres são valorizados? Como são resolvidas as situações de conflito na escola e em

nossa sociedade?

“A mais profunda busca humana é esforçar-se pela moralidade em nossa ação. Nosso equilíbrio interno, inclusive da existência, depende disso. Somente a mora-lidade em nossas ações pode dar beleza e dignidade à vida. Fazer disso uma força viva e trazê-la para a consciência talvez sejam as tarefas principais da educação.”

(Albert Einstein)

“Se não podemos pensar por nós mesmos, se não estamos dispostos a questionar a autoridade, somos apenas massa de manobra nas mãos daqueles que detêm o po-der. Mas, se os cidadãos são educados e formam as suas próprias opiniões, aqueles que detêm o poder trabalham para os cidadãos. Em todo o país, deveríamos ensinar às nossas crianças o método científico e as razões para uma Declaração de Direitos.”

(Carl Sagan)

“A necessidade de que a educação trabalhe a formação ética dos alunos está cada vez mais evidente. A escola deve assumir-se como um espaço de vivência e de discussão dos referenciais éticos, não uma instância normativa e normatizadora, mas um local social privilegiado de construção dos significados éticos necessá-rios e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania, promovendo discussões sobre a dignidade do ser humano, igualdade de direitos, recusa categórica de formas de discriminação, importância da solidariedade e observância das leis.”

(PCN’s - terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental, p. 16)

comunidade de aprendizagem investigativa:

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Hoje a importância vital de uma Educação Ética  •  Capítulo 1 13

comunidade de aprendizagem investigativa:

lição de Sabedoria

Um cientista muito preocupado com os pro-blemas do mundo passava dias em seu labora-tório, tentando encontrar meios de minorá-los.

Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo. O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Percebendo que seria im-possível removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente, deparou-se com o mapa do mundo. Estava ali o que procurava. Re-cortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de fita adesiva, entregou ao filho, dizendo:

- Você gosta de quebra-cabeça? Então, vou lhe dar o mundo para consertar. Pegue os seus pedaços, está todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Você irá fazer tudo sozinho!

Pelos seus cálculos, seu filho levaria dias para recompor o mapa-múndi. Após algumas horas, ouviu o filho chamando-o calmamente.

A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível na sua idade conseguir recompor um mapa que ja-mais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Com muita surpresa, viu o mapa completo. Os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Ficou perguntando-se: como seria possível? Como seu filho havia sido capaz?

- Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conse-guiu?

- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para con-sertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do ho-mem, virei os recortes e comecei a consertar o homem, pois este eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo.

(Autor desconhecido)

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética14

comunidade de aprendizagem investigativa:

Com os avanços sociais, tecnológicos e econômicos, en-frentamos cada vez mais situações nas quais é preciso to-mar decisões e planejar ações, tanto individualmente como em comunidade. Por isso, o ponto central da aprendizagem e vivência ética está no ter consciência e responsabilida-de, condições indispensáveis para uma vida ética.

É fundamental que na escola haja espaço para a apren-dizagem e para um viver como cidadão. Por isso a afirma-ção e a defesa do Estado brasileiro sobre a importância de uma Educação Ética desde a infância:

“Aprender a ser cidadão é, entre outras coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não violência; aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e comprome-ter-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país. Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvi-dos pelos alunos e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola.”

(Secretaria de Educação Fundamental. ética e cidadania no convívio escolar. Brasília, 2001, pág.13)

É forte e muito difundida a afirmação de que a ética é hoje a arte da convivência. Isso se deve a muitos fatores, inclusive o de que cada vez mais princípios e objetivos fixos estão em falta no mundo. Não há res-postas prontas para as grandes questões nem certezas que sustentem o viver de todos. Nada que seja capaz de explicar e justificar as angústias, as injustiças, as carências e as frustrações do tempo presente.

São cada vez maiores as perguntas e não temos mais garantias. Este é o mundo em que vivemos hoje – um tempo de incertezas.

– A partir do título “A importância vital de uma Educação Ética hoje”, com as frases iniciais e a história “Lição de Sabedoria”, escreva al-gumas ideias que você defende sobre a importância de uma apren-dizagem ética para vivermos numa comunidade mais fraterna:

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Hoje a importância vital de uma Educação Ética  •  Capítulo 1 15

A ética das sociedades tradicionais é vista como um código de rigi-dez, um repertório de valores normativos, deveres e prescrições. Essa ética não dá voz, muitas vezes, às aspirações de crescimento, mudanças e compreensão do tempo atual.

Em toda a existência humana nunca se foi tão longe no universo em termos de distância. Alcançamos Júpiter, Marte, e conhecemos também as partículas subatômicas. Sem deixar de pensar na velocidade com que se am-pliam os conhecimentos, até onde devemos ir? Onde devemos chegar? Va-mos cada vez mais viver na ousadia? Ou seria melhor voltar para a tradição?

Hoje são polêmicos os assuntos que na juventude dos nossos pais eram vistos como ficção ou considerados tabus em discussões éticas. Muitas ve-zes os assuntos eram abafados, pois havia um código de rigidez, de valores normativos. Estão na ordem do dia as discussões e investigações sobre temas que envolvem questões éticas, tais como: globalização, clonagem, mudança de sexo, transplantes, mutações genéticas, gestações in vitro, banco de espermas, armas químicas, armas biológicas, drogas (LSD, ecs-tasy, crack), destruição da natureza, alimentos transgênicos, eutanásia...

Por meio destes assuntos e também de outros igualmente polêmicos, os nossos entendimentos, e com eles a nossa capacidade de escolha e ação, são constantemente desafiados.

O grande avanço que nos diferencia das gerações anteriores e da natureza é a oportunidade de reflexão. No tempo dos nossos pais, com a idade que temos hoje e no 8º ano, estes assuntos não podiam ser ou não eram discutidos na escola. Somente pela reflexão e aprendizagem ética é que conseguiremos rea-lizar um mundo melhor (= ético, político e estético).

Uma educação ética desde a Ed. Infantil, sob diversas for-mas, precisa refletir sempre sobre as possibilidades e ações para um “mundo melhor”. Esta é a proposta desta Coleção Filosofia o Início de uma Mudança. Fazer um contraponto a um mundo onde a indiferença, o cinismo, o ceticismo, o “levar vantagem” e o deboche cegam a visão e abrem espaços para o surgimento da discriminação, do bulling, do totalitarismo, de fanatismos, funda-mentalismos, partidarismos e xenofobias.

A necessidade urgente de se ter uma Educação Ética e Crítica siste-matizada, que você inicia no 8º ano, implica em refletir:

■ sobre as consequências das escolhas, individuais e coletivas; ■ sobre as condições para uma ética do nosso tempo e aberta aos

novos desafios. Nenhum saber e ação podem colocar em risco tudo o que foi conquistado.

inquietações éticas:

Em todas as áreas do saber e fazer há uma inquietação ética. Esse desconforto é visível nas praças públicas, nos mercados, nos sindicatos,

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética16

nos governos, nos teatros e bares, nas esquinas, nos laboratórios, nas es-colas... Somente a partir da reflexão e de uma educação ética é que con-viveremos melhor nestes tempos de mudanças rápidas em todas as áreas.

Em nossa C.A.I., principalmente no 8º ano, precisamos:

■ ensinar e aprender a pensar a partir dos valores universais para os particulares; ■ estimular a autoanálise e o autoconhecimento; ■ ser educado para responder aos desafios externos e internos; ■ utilizar o diálogo consigo mesmo e com os outros para estabelecer de forma vital a amplia-

ção dos entendimentos e a fortificação dos argumentos.

O mundo capitalista leva muitas vezes as pessoas para o individu-alismo e educa (pelos meios de comunicação, nas relações humanas e sociais) para a ambição e a competição. Apresenta como medida para ser feliz e realizado somente o sucesso econômico e o acúmulo de bens materiais (modo de vida consumista).

A partir desse modelo ético, tão arraigado na sociedade, os alunos são vistos na escola como adversários em potencial. E em maior ou menor escala como adversários na própria família e em todas as ativi-dades sociais. O resultado desse modo social em nossa vida diária gera conflitos, desgraças, violência e desigualdades sociais e econômicas, deixando milhares de pessoas à margem da sociedade e do processo evolutivo e formando um enorme exército de excluídos (muitas vezes por não serem consumidores).

Através do diálogo e da discussão das ideias, das análises de com-portamentos e de critérios de julgamento, principalmente na escola e em C.A.I., é que serão desvendados os mecanismos que atuam em nossa sociedade e os meios de modificá-los.

A importância de uma Educação Ética em todos os anos escolares (e de maneira sistemática a partir do 8º ano) implica ligações com uma aprendizagem para a cidadania (a filosofia política no 9º ano) e requer uma discussão e investigação sobre o que vêm a ser os valores univer-sais: verdade, paz, amor, não violência e a ação. Isso pode ser obtido a partir do diálogo, fundamento para uma mudança interior e social. Este é o caminho para a formação de um caráter íntegro, capaz de trazer uma transformação das prioridades e uma nova visão da existência. Assim poderá surgir uma vivência social mais compatível com o tempo em que vivemos e uma nova condição humana.

Uma Educação Ética, a partir do despertar da vivência ética e do res-peito aos valores humanos, é hoje de importância vital para a sobrevivên-cia do mundo e da espécie humana.

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Hoje a importância vital de uma Educação Ética  •  Capítulo 1 17

Sobre os valores universais:

Os Valores Universais são os pilares para a convivência entre cida-dãos de todo o mundo. Foram apresentados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotados e proclamados na Assembleia Ge-ral das Nações Unidas (AGNU) de 10 de dezembro de 1948.

Após o término da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), os países começaram a discutir a necessidade de uma Declaração Universal para garantir o direito de igualdade entre os povos sem ir contra a diversidade das muitas culturas espalhadas pelo mundo.

Os valores descritos na declaração têm como objetivo principal aju-dar no entendimento das diferenças entre o certo e o errado. Querem alertar para a melhor maneira de agir e conviver bem com as pessoas e culturas diferentes.

No primeiro artigo, a Declaração diz que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, são “dotados de razão e consciência e de-vem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”.

Palavras que se tornam cada vez mais fortes e im-portantes no mundo globalizado. Onde reconhecer a igualdade entre os indivíduos, independentemente de cor, raça, religião, condição social ou opção se-xual, é a base para o desenvolvimento de uma so-ciedade mais justa e igualitária. E essa é uma atitude que deve começar dentro de cada um.

Com a publicação da Constituição brasileira, em 5 de outubro de 1988, os Direitos Humanos receberam mais atenção. Pela primeira vez na história das Constituições do país, os Direitos Humanos foram regulados no início do documento, após a declaração dos princípios fundamentais. “A dignidade da pessoa humana” é considerada fundamento do Brasil no artigo primeiro da Constituição.

A nossa Constituição Federal aponta que princípios éticos, como a solidariedade, o cultivo da liberdade de opinião e discussão e uma sé-rie de direitos econômicos e sociais, são fundamentais para a vida em sociedade.

a importância dos valores considerados universais

A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem valores que são a base de toda sociedade e precisam ser considerados e cada vez mais entendidos. Valores universais comuns a várias culturas e religiões, às vezes com outros nomes ou classificações. Por isso é importante saber o que vem a ser: verdade, ação correta, paz, amor, não violência.

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética18

verdade: A busca da verdade nos diferencia dos animais porque temos condições de questionar o que é o certo ou errado e podemos optar por seguir o caminho que o entendimento nos indicar. A verdade é um valor humano porque o homem, mesmo conhecendo e emitindo julga-mentos variáveis sobre as coisas, pode fazer dela a motivação para a busca constante.

- valores relacionados à verdade: otimismo, discernimento, interes-se pelo conhecimento, autoanálise, espírito de pesquisa, perspicá-cia, atenção, reflexão, sinceridade, otimismo, honestidade, exatidão, coerência, imparcialidade, sentido de realidade, justiça, lealdade, liderança, humildade...

ação correta: Os animais, pelo instinto de proteção, defendem aqueles com quem convivem. Já o ser humano é caracterizado pelo amor, que ultrapassa os limites familiares e os laços de amizade e abrange toda a humanidade e o planeta.

- valores relacionados à ação correta: dever, ética, honradez, vida salutar, iniciativa, perseverança, responsabilidade, respeito, esforço, simplicidade, amabilidade, bondade, disciplina, limpeza, ordem, co-ragem, integridade, dignidade, serviço ao próximo, prudência...

amor: A mente repleta de pensamentos harmoniosos, de amor e paz, gera sentimentos de afeto, alegria e tranquilidade. Ao receber pensamentos de ódio, inveja e agressividade, gera sentimentos de violência, tristeza e desunião. Em outras palavras, a mente humana é como terra fértil, tudo o que nela se planta, nasce.

- valores relacionados ao amor: dedicação, amizade, generosidade, devoção, gratidão, caridade, perdão, compaixão, compreensão, sim-patia, igualdade, alegria, espírito de sacrifício e renúncia...

Paz: Ao buscar o caminho do bem e da paz, provavelmente surgirá a pergunta: a mente sem pensamentos agressivos tem mais capacidade de compreensão? A resposta pode ser sim, pois os sentimentos de paz e tran-quilidade abrem para a intuição, que indica o melhor caminho a seguir.

- valores relacionados à Paz: silêncio interior, calma, contentamen-to, tranquilidade, paciência, autocontrole, autoestima, autoconfian-ça, “auto-aceitação”, tolerância, concentração, desprendimento...

não violência: É o resultado da prática de todos os outros valores. É al-cançar o mais alto estágio do crescimento espiritual: o amor universal é o conhecimento da verdade.

- valores relacionados à não violência: fraternidade; cooperação; concórdia; altruísmo; força interior; respeito à cidadania; patrio-tismo; responsabilidade cívica; unidade; solidariedade; respeito à

Teoria dos Valores (axiologia) é o ramo da

filosofia que estuda a natureza dos valores.

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Hoje a importância vital de uma Educação Ética  •  Capítulo 1 19

natureza; respeito pelas diferentes raças, culturas e religiões; uso ade-quado do tempo, da energia, do dinheiro, da energia vital, do alimento, do conhecimento.

O segredo da educação ética hoje em todo o processo escolar é praticar os valores na família, na turma e escola, com os amigos e conhecidos. Isto fará com que todos percebam mudanças. Muitos perguntarão: o que mudou em você? Muitos dirão: como você está feliz?

Acreditar, agir e fazer cada um a sua parte. A ação consciente de cada um de nós terá reflexos nas ações de outras pessoas que convivem conosco.

comunidade de aprendizagem investigativa:

declaração do Parlamento das religiões do mundo

Segue declaração assinada por 125 líderes e representantes de 17 tradições religiosas, durante o encerramento do Parla-mento das Religiões do Mundo, em agosto de 1993, na cidade de Chicago (EUA).

Nós declaramos:Somos interdependentes. Cada um de nós

depende do bem-estar do todo, e assim senti-mos respeito pela comunidade dos seres vivos, pelas pessoas, pelos animais e pelas plantas, assim como pela preservação da Terra, do ar, da água e do solo. Temos a responsabilidade in-dividual por tudo o que fazemos. Todas as nossas decisões, ações e omissões têm consequências.

Devemos tratar os outros como gostaríamos que os outros nos tratassem. Assumimos o compromisso de respeitar a vida e a dignidade, a individualidade e a diversidade, para que cada pessoa, sem exceção, seja tratada humanamente. Devemos ter paciência e uma visão positiva da vida. Devemos saber perdoar, aprendendo com o passado, sem jamais nos tornarmos escravos

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética20

de lembranças odiosas. Abrindo nosso coração aos outros, devemos eliminar nossas pequenas diferenças em prol da causa da comuni-dade mundial, pondo em prática uma cultura de solidariedade e de relacionamento harmônico.

Consideramos a humanidade como nossa família. Temos de nos esforçar para sermos bons e generosos. Não devemos viver somen-te pensando em nós mesmos, mas também para servir aos outros, nunca nos esquecendo das crianças, dos idosos, dos pobres, dos que sofrem, dos incapazes, dos refugiados e dos que vivem na soli-dão. Ninguém deveria jamais ser considerado ou tratado como cida-dão de segunda categoria, ou explorado da maneira que for. Deveria existir uma parceria de iguais entre homens e mulheres. Devemos deixar para trás qualquer forma de dominação ou abuso.

Assumimos um compromisso com uma cultura da não violên-cia, do respeito, da justiça e da paz. Não praticaremos a opressão, a ofensa, a tortura, nem mataremos outros seres humanos. Abando-naremos a violência como meio de resolver nossas diferenças.

Devemos nos empenhar por formar uma ordem social e econô-mica justa, na qual todos tenham oportunidade igual para atingir o seu potencial máximo como seres humanos. Temos de falar e agir com veracidade e compaixão, tratando a todos com equidade, evi-tando preconceitos e ódios. Devemos nos colocar acima da cobiça pelo poder, por prestígio, por dinheiro e pelo consumo, a fim de criarmos um mundo justo e prático.

A terra não poderá ser mudada para melhor sem que se mude antes a consciência dos indivíduos. Comprometemo-nos a expandir nossa consciência, disciplinando nossas mentes por meio da medi-

tação, da oração ou pelo pensa-mento positivo.

Sem riscos e sem uma dis-posição ao sacrifício, não have-rá mudanças fundamentais em nossa situação. Compromete-mo-nos, portanto, com essa éti-ca global, com a compreensão do outro, com modos de vida socialmente benéficos, gerado-res de paz, e que estejam em harmonia com a natureza.

Convidamos todas as pes-soas, religiosas ou não, a nos acompanhar.

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Hoje a importância vital de uma Educação Ética  •  Capítulo 1 21

comunidade de aprendizagem investigativa:

1. Vamos, em C.A.I., discutir, pensar e escrever alguns dos valores que estão presentes na Declaração do Parlamento das Religiões do Mundo:

2. Vivendo em um mundo onde as pessoas se amassem, houvesse a paz e todos pudessem ser verdadeiros em função do amor, por não terem o que esconder, onde todos agissem corretamente e não precisassem de violência, por se amarem, não estaríamos em paz? Não seríamos mais ver-dadeiros uns com os outros?

3. O que precisamos fazer para tornar isso possível?

4. No primeiro artigo, a Declaração diz que “todos os seres humanos nas-cem livres e iguais em dignidade e direitos”, são “dotados de razão e consci-ência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”. Escreva seu entendimento sobre a frase acima e coloque um exemplo:

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética22

5. A necessidade de se ter uma educação e uma vivência ética nas es-colas é urgente e pode ser enfrentada de várias formas. Seguem algumas propostas, para que cada aluno da C.A.I. leia e depois amplie, escrevendo um complemento abaixo. O passo seguinte é abrirmos uma discussão e decidirmos o que propor para a Coordenação Pedagógica e a Direção da escola. Algumas possibilidades:

■ acolhimento dos alunos pela escola, em todas as situações, com momentos especiais no início do ano letivo;

■ criar espaços para que os pais entrem na escola e participem dela; ■ resolver todos os conflitos por meio do diálogo; ■ criar código de ética da classe ou da escola; ■ estabelecer conjuntamente normas de condutas periodicamen-

te revistas – por exemplo, ouvir e respeitar a opinião dos cole-gas, não interromper a fala do outro;

■ respeitar as diferenças; ■ organizar a participação efetiva dos membros do Conselho de

Escola; ■ estimular a criação do Grêmio; ■ instituir as representações de classes; ■ eleger temas para os projetos de classe/ série/ turmas com pes-

quisas e estudos sérios, sem perder o objetivo final de toda ação educativa;

■ trabalhar os fatos e conceitos científicos, que estão sempre rela-cionados à organização da vida humana e ao mundo dos valores.

O que nossa turma vai propor à Direção da escola com o intuito de ajudar a melhorar a convivência ética dentro dos valores universais?

■ :

Justificativa:

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Hoje a importância vital de uma Educação Ética  •  Capítulo 1 23

Construindo a C.A.I.

Neste capítulo vemos a defesa da necessidade e importância de uma aprendizagem e discussão sobre a vivência ética e o compor-tamento moral de cada um, pois vivemos em sociedade. Com esta próxima atividade, queremos salientar nossa convicção de que a sociedade irá se modificar na medida em que cada pessoa possa se conhecer e mudar a si mesma.

desenvolvimento: A partir da ilustração da página seguinte, cada aluno está convi-

dado a responder às perguntas baseando-se em suas característi-cas e suas ideias, tendo sempre justificativas para sua escolha:

anotar na figura: ■ Diante dos olhos: as coisas que viu e mais o impressionaram. ■ Diante da boca: três expressões (palavras, atitudes) dos quais

se arrependeu de dizer até este momento da sua vida. ■ Diante da cabeça: três ideias das quais não abre mão. ■ Diante do coração: três grandes amores. ■ Diante das mãos: ações inesquecíveis que realizou. ■ Diante dos pés: piores enrascadas em que se meteu.

comentários: ■ Foi fácil ou difícil esta comunicação? Por quê? ■ Este exercício é uma ajuda? Em que sentido? ■ Em qual anotação sentiu mais dificuldade? Por quê? ■ Por que este exercício pode favorecer o diálogo entre as pes-

soas e o conhecimento de si mesmo? ■ Que relação dá para fazer entre a história inicial, “Lição de

vida”, com esse exercício?

Só mudo o mundo se eu me conhecer

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Capítulo 1  •  Hoje a importância vital de uma Educação Ética24

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Costumes / Hábitosregras / normasBem / Mal

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal26

Fazemos algumas coisas desde que nascemos (vestir roupas,

alimentar-nos, ter certos comportamentos...). Como são cha-madas essas obrigações?

Temos alguns alimentos que são típicos de nossa cultura, por

exemplo: o arroz e o feijão. As comidas típicas são hábitos ou

costumes? É necessário ter regras para viver em sociedade? Há diferença entre regra e norma ou são duas palavras para

dizer a mesma coisa? A definição de bem e mal é única ou cada um tem a sua? Por que vivemos da maneira que vivemos?

“Aquilo com que estamos habituados se torna desde então quase natural. O hábi-to é, com efeito, algo semelhante à natureza, já que o frequente é semelhante ao sempre, e já que se o sempre compete à natureza, o frequente compete ao hábito”.

(Aristóteles)

“Somos o que fazemos repetidamente. Por isso o mérito não está na ação e sim no hábito”.

(Aristóteles)

“A vida do homem não pode ‘ser vivida’ repetindo padrões de sua espécie; é ele mesmo – cada um – quem deve viver. O homem é o único animal que pode se enfastiar, que pode se desgostar, que pode se sentir expulso do paraíso”.

(Erich Fromm)

“O homem é a medida de todas as coisas”. (Protágoras)

comunidade de aprendizagem investigativa:

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Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal  •  Capítulo 2 27

comunidade de aprendizagem investigativa:

os macacos e as bananas

Num laboratório de estudo do comportamento animal um grupo de cientistas colocou numa jau-la quatro gorilas. No meio da jaula foi colocada uma escada que permitia que os gorilas alcan-çassem um suculento cacho de bananas.

O experimento consistia em jogar um forte jato de água fria nos quatro gorilas quando al-gum deles tentasse subir a escada para pegar as bananas. Depois de alguns dias, nenhum de-les se atrevia a tocar na escada para não ser atingido pela água fria.

Os cientistas então retiraram um dos quatro macacos e o subs-tituíram por outro, que chegando à jaula logo se dirigiu à esca-da, sendo que os três antigos imediatamente lhe aplicaram uma tremenda surra. Os cientistas então substituíram mais um dos macacos e este, ao tentar subir a escada, também levou uma surra dos demais. Os cientistas então substituíram o terceiro macaco e o substituído também apanhou.

Depois que os cientistas substituíram os quarto gorilas, não havia na jaula nenhum que tivesse recebido o jato de água fria, mas um quinto gorila introduzido na jaula, ao tentar tocar na es-cada, levou uma surra dos demais.

Este experimento sugere que se os gorilas pudessem falar diriam para os novos ocupantes da jaula algo parecido com o seguinte: “Aqui sempre foi assim, se encostar a pata na escada leva uma surra”.

(Autor desconhecido)

considerações para discussão e produção na c.a.i.

O texto não revela se os cientistas iriam ou não continuar jogando água gelada nos macacos caso eles parassem com as agressões. O que se percebe é que eles passam a agredir para não serem agredidos pela água gelada dos cientistas – é a violência defensiva, mas não uma ação legítima.

Muitos seres humanos agem como os macacos dessa história, fazendo sem refletir por que razão ou com que objetivos fazem? As pessoas agem às

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal28

comunidade de aprendizagem investigativa:

vezes movidas somente por costumes arraigados ou por hábitos e, dessa for-ma, não exercem o mais precioso atributo da espécie humana: a inteligência.

O texto, retirado do livro discurso da servidão voluntária, de Etien-ne de La Boétie, reitera um pouco a afirmação anterior:

“É verdade que no início serve-se obrigado e vencido pela força; mas os que vêm depois servem sem pesar e fazem de bom grado o que seus antecessores haviam feito por imposição. Desse modo os homens nascidos sob o jugo, mais tarde educados e criados na servidão, sem olhar mais longe, contentam-se em viver como nasce-ram; e como não pensam ter outro bem nem outro direito que o que encontraram, consideram natural a condição de seu nascimento. E, no entanto, não há herdeiro tão pródigo e despreocupado que às vezes não corra os olhos nos registros de seu pai para ver se goza de todos os direitos de sua herança ou se não usurparam a si ou a seu predecessor. Mas o costume, que por certo tem em todas as coisas um grande poder sobre nós, não possui em lugar nenhum virtude tão grande quanto a seguinte: ensinar-nos a servir — e como se diz de Mitridates, que se habituou a tomar veneno: para que aprenda-mos a engolir e não achar amarga a peçonha da servidão”.

Como disse Albert Einstein: “Tristes tempos estes: é mais fácil que-brar um átomo do que um preconceito”.

– A partir da história dos Macacos e as bananas e das ideias apresen-tadas acima, em sua opinião o que isso tem a ver com os assuntos: Regras/Normas – Costumes/Hábitos – Bem/Mal, que iremos traba-lhar neste capítulo?

Vivemos e buscamos ser autores da nossa existência no mundo em que estamos. Queremos fazer as coisas, escolher o que é melhor, ser livre para responder pelas ações. Enfim, somos diferentes das outras pessoas porque pensamos diferente. A inteligência e a razão nos diferenciam. Isso é bom, mas também exige mais de cada um. Por isso, algumas coisas são essenciais para vivermos em comunidade.

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Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal  •  Capítulo 2 29

Aceitando essa constatação, fica a pergunta: podemos realmente es-colher e fazer o que queremos? A resposta é: quase sempre não podemos escolher o que acontece conosco, mas podemos escolher o que fazer a partir do que aconteceu.

Muitas vezes somos obrigados a escolher entre duas ou mais possi-bilidades, embora preferíssemos não precisar escolher, pois, feita uma escolha, deixamos outras de lado. Não passamos a vida só pensando nas escolhas que temos ou não que fazer. Muitos dos nossos atos são automá-ticos, fazem parte de regras da casa, da sociedade e das normas estipula-das para se viver em grupo. Agimos e escolhemos sem muito pensar, sem refletir, pois vivemos situações que passaram a ser regras e/ou normas. Por exemplo: levantar no horário por causa das obrigações diárias, fazer a higiene pessoal, tomar café, vir para a escola, respeitar os outros...

Essas ações repetidas no dia a dia podem ser entendidas como regras / normas de convivência social, familiar. Por isso, quando fazemos esco-lhas a partir do que aconteceu, por exemplo, de não seguir o estipulado na questão horários, invertemos nossas ações rotineiras e, isso pode ou não nos fazer sentir bem. Às vezes, parar para pensar a respeito de tudo o que fazemos ou não acaba por nos paralisar, e isso também não é bom.

Vamos retornar à ideia do primeiro parágrafo. Podemos nos pergun-tar: Por que fiz o que fiz? Por que tomei aquela atitude e não outra? Isso nada mais é do que querer saber os motivos que levam ao agir.

O sentido da palavra motivo, aqui colocado, é a razão que há ou se acredita que há para fazer algo. Uma das prováveis respostas é a da exis-tência de regras / normas. Em algumas ações, o motivo é o hábito (“sem-pre fiz assim” e/ou “todos fazem dessa forma”), e muitas vezes nem se pensa o porquê. Como todos fazem, dizemos que passou a ser um costu-me (exemplo da história inicial - Os macacos e as bananas).

Os costumes dão certa comodidade ao seguir uma rotina e também por não contrariar aos demais, por isso não sofremos pressões ou repre-sálias. Os costumes também implicam certa obediência a algumas regras. Um exemplo é a moda: um tipo de roupa que você é obrigado a vestir porque é comum entre amigos e você não quer destoar.

Por isso podemos entender que regras/normas e hábitos/costumes parecem ter algo em comum, vêm de fora e não podemos nos posicionar contra por uma série de razões. Os hábitos são a repetição de costumes, que podem se tornar regras/normas, que, pela repetição (muitas vezes mecânica), estranhamos quando não são realizadas.

o que isso tudo tem a ver com a moral e com a ética?

Em princípio, queremos dizer que os termos moral e ética são usados muitas vezes de forma confusa. Como é nosso objetivo iniciarmos uma investigação sobre Ética, cabe aqui entendermos o significado etimológi-co dessas duas palavras:

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal30

moral busca distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o permi-tido do proibido, o bem do mal. Procura determinar quais ações e atitu-des se deve adotar diante das situações.

Quem diz quais são os deveres morais de uma pessoa? A primeira resposta parece ser o grupo social, a turma à qual pertence. Como cada grupo, cada turma, tem ideias e pode ter interesses diferentes, percebe-mos a existência de várias regras morais numa determinada sociedade.

A ética tem a moral como base de estudo. Seu papel é o de analisar as opções feitas pelas pessoas, avaliar os costumes. É a reflexão crítica da mo-ral do grupo no contexto social e histórico em que ele se encontra. Busca questionar os fundamentos da moral e sua validade. Sendo assim, a ética preocupa-se em analisar, na ação e na reflexão, os conflitos do dia a dia.

Há um fio muito tênue que separa a ética da moral. Por isso vamos estabelecer a seguinte distinção:

¨ Moral: são os valores ou normas práticas que asse-guram conduzir ou deveriam nortear a vida social de uma coletividade.

¨ Ética: é a análise e reflexão sobre o comportamento do homem na vida social de uma coletividade.

Ter a capacidade para analisar uma conduta moral requer que haja uma pessoa consciente, que conheça

as diferenças entre o bem / mal; o certo / errado; o que pode ou não pode fazer; a virtude / vício; direitos / deveres.

A consciência ética é a capacidade de julgar o valor dos atos e das condutas e ter uma ação que está de acordo com os valores morais. Chegamos ao ponto central do assunto, que é a consciên-cia e a responsabilidade, condições indispensáveis para uma vida ética.

O que caracteriza uma vida ética? Quem pode dizer que as suas ações são moralmente corretas? Procurando respostas, podemos dizer que uma pessoa ética, ou uma pessoa moral, tem que preencher alguns requisitos, como:

moral vem da língua latina, mos – mores. Significa costumes ou regras que determinam a vida. Por isso dizemos que a moral indica normas e valores que orientam a vida do homem dentro de uma sociedade.

ética vem da língua grega, ethos, signifi-cando modo de ser. A forma usada por uma pessoa para organizar a vida em sociedade. É a forma como a pessoa transforma em normas / regras práticas os valores do grupo e da cultura em que está vivendo.

■ Capacidade de reflexão e reconhecimento da existência do outro (= consciência de si e

dos outros).

■ Capacidade para dominar-se, controlar-se e também decidir e deliberar entre alternativas

(= domínio da vontade, do desejo, dos sentimentos, etc.).

■ Ser responsável (= assumir as consequências da ação ou não, respondendo pela escolha).

■ Ser livre (= conseguir autodeterminar-se, fazer suas regras de conduta).

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Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal  •  Capítulo 2 31

Uma pessoa pode, diante dos comportamentos humanos e da sociedade em que vive, ter uma atitude ética passiva ou ativa.

a atitude ética passiva é quando a pessoa se deixa governar por impulsos, inclinações e paixões; balança conforme o mo-mento. Uma pessoa que se deixa levar pela boa ou má sorte, pelas opiniões alheias, pelo medo e vontade dos outros, não tendo consciência, vontade, liberdade e responsabilidades.

a atitude ética ativa é a da pessoa que controla seus impul-sos, inclinações e suas paixões. Uma pessoa que questiona o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, que avalia as ações diante das regras de conduta e age conscientemente, que é responsável, respeita os outros e é autônoma.

comunidade de aprendizagem investigativa:

Sobre o bem e o mal

O que é o bem? O que é o mal? São pergun-tas feitas ao longo da história da humanidade. Perguntas que são “problemas filosóficos” que ocupam o tempo e provocam a reflexão de mui-tos filósofos. As respostas são muitas e alguns filó-sofos acharam que trouxeram a solução definitiva a elas. Pensadores buscaram responder a partir de um código de mandamentos ou princípios de conduta, assim como os Dez Mandamentos do povo hebreu. Res-postas que muitos acreditam ter vindo de autoridade divina e com força suficiente para se estender a todos os tempos e lugares.

Vejamos o que alguns filósofos responderam e quais as suas teorias:

os primeiros filósofos gregos:

heráclito – filósofo da mudança, da transformação. Defendia que o universo resulta da combinação de opostos - o bem e o mal, que são duas notas numa harmonia.

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal32

demócrito – ensinava que a felicidade constitui o alvo da vida. Afirmava que o homem bom não é o que pratica o bem, mas o que deseja praticá-lo sempre.

Protágoras – dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”, sendo então também a medida do bem e do mal. Daí a ideia de que a moral é uma simples convenção, um hábito. Não há verdadeira-mente leis morais nem princípios completos sobre o bem e o mal.

Sócrates – grande parte de suas ideias são sobre a significação do bem e do mal. Perguntava constantemente: que bem é esse? Qual o mais elevado bem, pelo qual se pode medir tudo o mais no mun-do? Sua resposta: o Conhecimento.

Platão – o bem seria o mundo das ideias puras e imutáveis. O mal, o mundo dos sentidos, que é irreal, transitório e mutável.

aristóteles – toda ação tem um objetivo a alcançar. Sua pergunta: que é o mais alto bem? Uma resposta sua acentuava que o alvo de tudo no mundo é a realização completa. Homem bom é aquele que vive segundo o meio termo, que em seus atos não vai aos extremos.

epicuro – defende que o objetivo de toda atividade humana é o prazer, sendo a felicidade o bem supremo para todos.

estóicos – o mais alto bem do homem está em agir em harmonia com o mundo. Afirmavam que se vivermos como os homens bons vivem teremos uma vida virtuosa e a felicidade certamente virá.

A partir desses pensadores gregos, vemos que o bem e a bonda-de estão relacionados com a harmonia do mundo. O mal é apenas imaginário ou uma discordância da harmonia.

os primeiros filósofos cristãos:

os apologistas – Deus cria o homem com o próprio espírito de bon-dade, mas o homem escolheu afastar-se e voltar-se para o corpo. Assim, o homem, ao cometer o pecado original, vive perseguido pelo mal, está perdido, e seu trabalho é encontrar a salvação por meio da graça divina.

Santo agostinho – incomodava-o o fato de Deus, todo bondade e perfeição, criar o mundo com o mal. Afirmava que tudo no mundo é bom. O mal é relativo, é a ausência do bem, da mesma maneira que as trevas são a ausência da luz. Agora esse mal que encontra-mos foi posto por Deus para tornar o mundo bom.

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Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal  •  Capítulo 2 33

abelardo – o bem ou o mal de um ato não está no ato em si, mas na intenção de quem o pratica. Bondade e maldade são uma questão de consciência.

tomás de aquino – Deus criou o homem para um determinado fim, o bem maior é a concretização desse fim. Dizia que a melhor manei-ra de atingir a bondade é abandonar os bens mundanos e procurar viver para Deus. O mal é a privação, a falta daquilo que é bom.

alguns filósofos modernos:

thomas hobbes – o bem e o mal são uma questão de movimento. Quando o movimento é bem-sucedido, gera prazer; o contrário re-sulta em dor. O bem e o mal são relativos a determinado homem, dependem da natureza de cada um e na ocasião.

descartes – Deus é perfeito, e por isso incapaz de nos fazer errar. O erro não está no ato de Deus, porém em nós, pois tomamos de-cisões e agimos sem provas suficientes.

Spinoza – o erro é falta de conhecimento, e daí vem a dor. O bem é o esforço individual de preservar-se.

john locke – Como as ideias que vêm de fora e são escritas numa folha branca de papel, assim se produz nossa ideia do que seja o bem e o mal. Por isso, muitas pessoas passam por experiências iguais e chegam às mesmas conclusões, concordam que certas coi-sas são boas e outras más.

Kant – acreditava ser seu imperativo categórico “age somente de acordo com uma máxima que possas, ao mesmo tempo, querer que se converta em uma lei geral; age de modo a poderes desejar que todo o mundo siga o princípio do seu ato” um critério seguro sobre o que constitui o bem e o mal.

algumas correntes filosóficas contemporâneas:

Pensamentos dos filósofos mais recentes acerca do bem e do mal têm em conta as relações sociais do homem. Por isso vemos uma ética mais do grupo humano do que das leis divinas. Vemos, então, a questão da bondade e da maldade tornar-se qualidade dos atos, dependendo da situação em que são praticados.

a escola utilitarista – os filósofos desta corrente afirmam que o bem é medido em termos de “o maior bem para o maior número possível”. O grupo social é o objetivo final da moralidade.

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal34

MAL

BEM

x

a escola Pragmática – os filósofos desta corrente definem o bem como aquilo que atende aos objetivos do grupo e do indivíduo nesse grupo. Ato bom é aquele que considera o indivíduo como fim em si mesmo e não como meio.

Podemos dizer que nas questões éticas relacionadas ao bem e ao mal, ao longo da história da humanidade, percorreram-se dois caminhos: um absoluto e outro relativo. Ambos os caminhos pre-cisam ser redescobertos, porém o ponto de vista relativo é o mais acentuado. Hoje, quando a ciência e a razão humana têm certo destaque, torna-se difícil encontrar argumentos para a defesa de uma ética absoluta sobre o bem e o mal. A tendência é termos co-locações relativas sobre essas questões éticas.

comunidade de aprendizagem investigativa:

1. Escreva algumas regras e normas presentes em sua escola. Depois responda às duas perguntas a partir do seu entendimento e de discussões em sala de aula para a ampliação dos entendimentos na C.A.I.:Regras Normas- -- -- -- -- -- -- -- -

- Qual é a definição de regras?

- O que você entende por normas?

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Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal  •  Capítulo 2 35

2. A partir do fato verídico ocorrido no 8º ano em uma escola do nos-so país e depois das discussões e do aprofundamento sobre o conteúdo desse capítulo, vamos ler, pensar e discutir na C.A.I. quais as consequên-cias de uma discussão e ação em nossa escola? Lembrando que o ponto central do assunto é a consciência e a responsabilidade como condições indispensáveis para uma vida e ação éticas.

uma discussão sobre regras e normas

Em uma das primeiras aulas de filosofia numa sala de 8º ano, alunos que estudam filosofia desde as séries iniciais discutiam sobre regras e normas. Ao final dessa aula, o professor solicitou que os alunos levantassem as normas e regras do colégio. Depois de alguns exemplos, o assunto predominante foi o uniforme escolar. O pro-fessor solicitou bons argumentos contra e/ou a favor. A escola tinha bons argumentos a favor do uso.

Após alguns instantes, um aluno expôs um argumento contrário, com justificativa:

- O primeiro parágrafo da pág. 28 desse capítulo – Ampliação dos en-tendimentos na C.A.I. – diz que todos somos diferentes porque pensamos diferente. Por que precisamos usar a mesma roupa na escola se somos diferentes?

O professor concordou com o aluno e a justificativa foi aceita. Logo vieram duas outras colocações com argumentos.

- Quando a escola quer fazer propaganda na mídia, compra espaços em jornais, televisão, rádio, outdoors, revistas… E para isso paga caro. Quando uso uniforme, ao vir para escola e voltar para casa, sou uma pro-paganda ambulante. A escola não deveria pagar para eu usar uniforme?

- Meu pai trabalha em uma empresa que exige uniforme no trabalho. Pela legislação trabalhista, a empresa deve dar o uniforme. A escola é uma empresa e exige uniforme, então deveria dar os uniformes aos seus alunos, porque os obriga a usá-lo.

O professor elogiou a turma, os argumentos e solicitou uma ação. De-pois de algumas discussões, surgiu a ideia de toda a turma assinar um abai-xo-assinado contra o uso do uniforme na escola. O documento foi entregue à Direção e o professor propôs que, na semana seguinte, os alunos da turma viessem sem uniformes. Isso aconteceu e foi um transtorno na escola.

Ao final da semana sem uniformes, todos os professores daquele 8º ano reuniram-se com os alunos e mostraram que eles usaram outros uni-formes. Esses colocados pela sociedade – calças, camisetas, bonés, tênis, pulseiras, tatuagens… E usaram os três mesmos argumentos colocados contra o uso do uniforme escolar.

Terminaram a discussão reforçando a importância de pertencer a um grupo, ter regras e normas de convivência e de questionar e ser livre para fazer escolhas.

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal36

3. Escreva e justifique um costume que você precisa respeitar para poder viver em sociedade.

4. Transcreva a teoria de um filósofo ou uma escola filosófica que mais se aproxima do que você aceita como definição sobre o bem e o mal, colocando sua justificativa:

Filósofos gregos -

Filósofos cristãos -

Filósofos modernos -

Filosofia contemporânea -

5. Vamos entrevistar pessoas indicadas abaixo e registrar as defini-ções sobre o que é o bem e o mal?- Um professor:Bem:

Mal:

- Uma pessoa idosa:Bem:

Mal:

- Uma criança pequena:Bem:

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Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal  •  Capítulo 2 37

Mal:

- Uma pessoa religiosa:Bem:

Mal:

- Um político:Bem:

Mal:

- Uma pessoa que encontrar na rua:Bem:

Mal:

O trabalho teórico deste capítulo é a base do estudo e entendi-mento do comportamento moral e ético que queremos que seja de todos na comunidade. Vamos agora realizar na turma esta ativi-dade, tendo presente a formação da C.A.I. que buscamos em todas as disciplinas escolares e também em nossas relações sociais.

construção de uma comunidade

Construindo a C.A.I.

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Capítulo 2  •  Costumes / Hábitos – Regras / Normas – Bem / Mal38

objetivo: Reflexão prática sobre a realidade, ligando com o conteúdo do

capítulo 1. Preparação da turma para a importância da Comuni-dade de Aprendizagem Investigativa.

material: Fichas com nomes de profissões (criadas pelo professor (a)).

desenvolvimento: ■ 1º passo - Cada participante recebe uma ficha com o nome

de uma profissão e deve encarná-la. Individualmente e em poucos minutos cada aluno deve analisar a importância da sua profissão nessa cidade, levantando argumentos, defen-dendo sua importância e escrevendo na sua ficha. Em se-guinte cada um lê ou defende na C.A.I. a sua profissão e a importância de sua existência.

■ 2º passo - O professor(a) coloca a seguinte situação: - Vamos viajar por mar, porque a cidade em que gostaríamos

de ter todas essas profissões fica distante. Depois ele alerta que haverá um problema, o navio poderá

afundar, e só há um bote capaz salvar sete pessoas. ■ 3º passo - O grupo deverá decidir quais profissões devem ser

salvas com mais urgência.

obs.: É importante que todos os alunos tenham conhecido todo o conteúdo e todas as discussões desse capítulo. Deve-se esco-lher um aluno que terá a função de secretariar, registrando os argumentos e fazendo uma síntese das discussões e das decisões e escolhas.

- Essas são as sete profissões escolhidas por nossa C.A.I.:

- Minhas ideias sobre essa atividade relacionada com os conteú-dos deste capítulo e a importância da afirmação: “Chegamos ao ponto central do assunto, que é a consciência e a responsabili-dade, condições indispensáveis para uma vida ética”.

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Liberdade de ação e decisão 3

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Capítulo 3  •  Liberdade de ação e decisão40

Somos livres?

O que significa liberdade para você?

Pensando uma definição oposta à sua, posso dizer que o

conceito de liberdade é diferente de pessoa para pessoa?

Ser livre é um direito, um dever, uma aspiração ou uma

grande utopia?

Quais entendimentos podemos ter da frase: “Minha liberda-

de começa onde termina a sua”?

É possível afirmar que sou totalmente livre e posso decidir

quais ações realizo em diferentes situações?

“Só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo – ser livre significa ser eu mesmo.”

(Jaspers)

“Nossa liberdade é uma liberdade condicionada, uma liberdade em condição humana, nossa vida se desenvolve entre os limites inacessíveis de uma liberda-de zero e de uma liberdade infinita.”

(Georges Gusdorf)

“A liberdade é um dos dons mais preciosos (...). Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida.”

(Miguel de Cervantes)

“A liberdade é o começo e o fim de toda filosofia.” (Schelling)

comunidade de aprendizagem investigativa:

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Liberdade de ação e decisão  •  Capítulo 3 41

comunidade de aprendizagem investigativa:

o pote e o furo

Certa vez, Deus resolveu descobrir quem era o ser humano mais inteligente e livre de todo o universo. Ele estava cansado de ver os seres que havia feito com tanto amor transfor-marem-se em criaturas preguiçosas, complica-das, desanimadas com a vida. Seu maior dese-jo era encontrar um ser humano que, além de inteligente, fosse corajoso, leal e livre, sincero e honesto. Então, Deus apanhou um pote de argila e fez um buraco no fundo. Depois, sempre que encontrava uma pessoa, dizia-lhe:

- Por favor, traga um pouco de água para mim.A primeira pessoa a quem Deus fez esse pedido correu para

atendê-lo. Mas, quanto mais ela enchia o pote, mais rapidamente este se esvaziava, porque a pressão da água alargava o buraco do fundo. A pessoa acabou desistindo e pediu perdão por não ter conseguido ajudá-lo. Deus apanhou o pote e continuou a procurar.

Encontrou outro homem e lhe fez o mesmo pedido. O homem reparou que havia um buraco no fundo do pote, mas fingiu igno-rá-lo. Correu para encher o pote e, cada vez que este se esvaziava, corria para enchê-lo novamente. E também acabou desistindo e se desculpando de não ter conseguido ajudar a Deus.

Deus continuou a pedir a mesma coisa a todas as pessoas que encontrava pelo caminho. Mas não achava ninguém que o en-frentasse e respondesse que seu pedido era absurdo. Como é que se poderia encher de água um pote furado?

Até que um dia passou por uma casa e avistou uma linda criança brincando na terra. Deus olhou ao seu redor, mas não viu ninguém por perto. Resolveu observar a criança. Ela havia feito vários buracos na terra e brincava de jogar pedrinhas dentro deles. Deus ficou surpreso com a pontaria certeira da criança e decidiu testá-la. Deu-lhe o pote furado e lhe pediu que o enchesse de água.

Depois de examinar cuidadosamente o pote e ver que estava furado, a criança levantou os olhos para o céu, que estava com-pletamente azul e sem nuvens, virou-se para Deus e lhe disse:

- Está começando a chover. Quero que o senhor pegue meus buracos e os guarde numa gruta para que eles não fiquem cheios de água.

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Capítulo 3  •  Liberdade de ação e decisão42

Ao ouvir esse pedido, Deus começou a rir. Percebeu que a criança lhe fazia um pedido tão extravagante quanto o que ele an-dava fazendo aos humanos. Então, abaixou-se, fez um carinho na cabecinha da criança e declarou:

- Você é o ser humano mais inteligente que já encontrei, mes-mo sendo tão pequenino!

(História do folclore africano)

comunidade de aprendizagem investigativa:

Quem não quer ser livre? Esta é uma aspi-ração que faz parte do ser humano. Na história dos povos, lutas, guerras e revoluções foram deflagradas buscando a liberdade. Quantas ve-zes reclamamos, brigamos e até nos magoamos em defesa da liberdade que queremos ou que achamos ser de nosso direito?

Buscamos a condição de ser livre. Como fa-lar da liberdade humana não levando em conta uma condição concreta, histórica e socialmen-te localizada? Liberdade é só aquela que existe realmente, e ela é possível dentro dos condi-cionamentos humanos, sociais e políticos.

Outra questão apresentada é sobre o signi-ficado do termo liberdade. Existem definições históricas, concepções particulares, dogmáti-cas e ideológicas em que a vida e a liberdade estão muito próximas – “Eu sou a minha liber-dade”, já dizia um dos personagens na peça As Moscas, de Sartre.“A liberdade guiando o povo”. Eugène Delacroix (1798-1863)

– Depois de conversar sobre a história na C.A.I., escreva algumas re-lações entre a história e o tema “Liberdade de ação e decisão”, que trabalharemos neste capítulo:

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Liberdade de ação e decisão  •  Capítulo 3 43

Em busca do significado dá para contrapor liberdade ao que não é ter liberdade de ação, de pensamento, de desejos. Na busca de um ponto comum, pode-se dizer que liberdade é, por essência, a capacidade de es-colha. Por isso, onde não há possibilidade de escolha, não há liberdade.

Diante disso, outras questões podem ser feitas: O que está e o que não está ao nosso alcance? Até que nível vai o poder de escolha, de desejo, de querer algo? Enfim, somos totalmente livres? Poderemos algum dia ser realmente livres?

Podemos escolher, viver situações

Seres humanos vivem determinadas circuns-tâncias. Somos levados a fazer algumas coisas, defendemos e escolhemos outras. Muitas vezes, a realidade que vivemos nos obriga a fazer ações contra nossa vontade, pois são necessárias. Aqui entra outra questão para pensar: As necessidades da vida, as regras sociais, não são maiores e mais fortes que o desejo de ser livre?

Ao fazer algumas coisas, apesar da definição de liberdade como a possibilidade de escolha, de autodeterminação, sofre-mos pressões internas e externas que chamamos de coação:

interna: Pelo inconsciente, os instintos, as energias vitais, os sentimen-tos reprimidos, a nossa herança genética. Vejamos alguns exemplos:

■ numa mesma família, há filhos com temperamentos, tendências, de-sejos, formas de expressar seus sentimentos totalmente diferentes;

■ uma pessoa que tentou se suicidar não pode ser julgada moral-mente, porque, no momento do seu ato, não estava em condições mentais estáveis, estava sob o domínio de forças inconscientes.

externa: quando as obrigações vêm do mundo em que vivemos. Alguns consideram essa forma de relação uma violência que pode ser física (ameaça à vida), moral (sua integridade) e psicológica (adotando certos comportamentos que são impostos por alguém).

Jean-Paul Sartre1 (1905-1980), filósofo, escritor de vários romances e peças de teatro, engajado nos problemas do seu tempo, afirmava que a liberdade é o fundamento do ser humano. A liberdade está no começo do comportamento humano, porque sempre há necessidade de escolha. Sendo assim, o homem é essencialmente livre, e por isso Sartre dizia que “o homem está condenado a ser livre”.

Com essa afirmação, a provocação para pensar em algo que não é possível escolher, e vem a condição da morte: “faço certas coisas ou morro!” Podemos

1 No Complemento filosófico (final do livro) vamos saber mais sobre esse Filósofo.

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Capítulo 3  •  Liberdade de ação e decisão44

pensar que morrer por algo em que se acredita é uma escolha, portanto, a morte pode ser uma escolha e, ao fazê-la, estamos exercitando a liberdade. É claro que, ao colocarmos esse extremo, estamos simplesmente reforçando a capacidade de escolha, pois a opção principal sempre é pela vida.

Para Sartre, a liberdade do homem é integral, não há possibilidade de escalas ou graus de liberdade. O homem não pode ser mais livre ou menos livre, ninguém pode escolher “mais ou menos” entre duas ou mais coisas.

A liberdade defendida por Sartre, a qual não admite graus, entra em atrito com a liberdade vivida, que leva em conta as condições do dia a dia. Essa liberdade não é absoluta, é situada. Sou livre em determinadas situações e, em outras, não. Essa é a liberdade que existe em graus, em etapas, que pode ser conquistada ou reprimida.

Viver cada situação é dar-se conta de que, na complexidade das re-lações sociais, culturais, político-econômicas, enfim, da vida humana, a possibilidade da liberdade é uma conquista. A liberdade é uma constru-ção a todo instante, aceitando as determinações das quais não se pode escapar e a resistência às determinações que serão superadas.

Essa liberdade vivida, situada, é também um ato de escolha. A todo instante precisamos exercer a capacidade para ser livre, pois ninguém foge da escolha. Quando há muitas ou poucas opções, essa liberdade pode ser mais fácil ou mais difícil de ser realizada.

escolha feita implica uma responsabilidade

A palavra responsabilidade deriva da palavra resposta. Assim, dar uma resposta a um fato, a uma situação, é dar o consentimento, o aceite, a palavra, e somos responsáveis por tal situação.

A definição filosófica do termo responsabilidade remete à possibilida-de de prever os efeitos do próprio comportamento e de corrigi-lo com base em tal previsão. Na verdade, a noção de responsabilidade baseia-se na de escolha, e a noção de escolha é essencial ao conceito de liberdade limitada2.

Ao escolher algo, deixo imediatamente outra possibilidade de lado. Isso implica consequências, resultados. Uma vez a escolha feita, pela ação dela, tenho responsabilidades. Também tenho responsabilidade sobre as conse-quências de minha ação. liberdade e responsabilidade estão sempre juntas.

Detectar o progresso moral é ter como índice a responsabilidade moral das pessoas ou dos grupos sociais. Porém, falar de responsabilidade moral é relacionar as ações com a necessidade e liberdade humanas. A pessoa só pode ser cobrada pelos seus atos quando tem certa liberdade de opção e decisão.

Nesse sentido, só posso julgar uma ação, um ato, como responsável ou não, ao examinar as condições concretas em que se realiza. Somente assim é possível perceber se existe a possibilidade de opção, de decisão, de escolha (= liberdade), para cobrar uma responsabilidade moral.

2 ABBAGNANO, Nicola. dicionário de Filosofia. 4ª.ed., São Paulo: Martins Fontes, 2000.

No senso comum e na tradição filosófica, religiosa e jurídica, a

responsabilidade, seja legal ou moral, é vista

como uma consequ-ência do livre arbítrio:

somos responsáveis por nossas ações porque

somos livres.

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Liberdade de ação e decisão  •  Capítulo 3 45

comunidade de aprendizagem investigativa:

as três Peneiras

Certa vez, um homem esbaforido aproximou-se de Sócrates

e sussurrou-lhe nos ouvidos:

- Na condição de teu amigo, tenho algo muito grave para

dizer-te, em particular.

- Espera! - juntou o sábio prudente. - Já passaste o que vais

dizer pelas três peneiras?

- Três peneiras? - perguntou-lhe o visitante espantado.

- Sim, meu caro amigo, três peneiras. Observemos se tua

confidência passou por elas. A primeira peneira é a da ver-

dade. Guardas absoluta certeza quanto àquilo que pretendes

comunicar?

- Bem - ponderou o interlocutor -, assegurar mesmo, não

posso… Mas ouvi dizer…

- Exato. Decerto peneiraste o assunto pela segunda peneira,

a da bondade. Ainda que seja real o que julgas saber, será pelo

menos bom o que me queres contar?

Excitado, o homem replicou:

- Isso não… Muito pelo contrário…

- Ah! - tornou o sábio - Então recorramos à terceira peneira,

a da utilidade, e diz-me o proveito do que tanto te aflige.

- Útil? - aduziu o visitante, ainda agitado. - Útil não é.

- Bem - rematou o filósofo num sorriso -, aquilo que pensas

confiar não é verdadeiro, nem bom, nem útil, portanto esque-

çamos o problema e não te preocupes com ele, já que de nada

valem casos sem edificação para nós.

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Capítulo 3  •  Liberdade de ação e decisão46

Certa vez, um homem esbaforido chegou-se a Sócrates...

... e sussurrou-lhe aos ouvidos:

Espera! Já passaste o que vais dizer pelas três peneiras?

Na condição de teu amigo, tenho algo muito grave para dizer-te, em particular.

Sim, meu caro amigo, três peneiras. Observemos se tua confidência passou por elas. A “primeira peneira” é a da verdade. Guardas absoluta certeza quanto àquilo que pretendes comunicar?

Bem, aquilo que pensas confiar não é verdadeiro, nem bom, nem útil, portanto esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que de nada valem casos sem edificação para nós.

Três peneiras?

Isso não… Muito pelo contrário…

Bem, assegurar mesmo, não posso… Mas ouvi dizer…Exato. Decerto peneiraste o assunto pela

“segunda peneira”, a da bondade. Ainda que seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar?

Ah! Então recorramos à “terceira peneira”, a da utilidade, e diz-me o proveito do que tanto te aflige.

Útil? Útil não é.

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Liberdade de ação e decisão  •  Capítulo 3 47

Aqui surgem algumas questões para refletirmos, relacionando essa histó-ria com o conteúdo do capítulo:

■ Há condições necessárias e suficientes para colocar alguém como responsável por determinado ato?

■ Quando e como posso censurar ou louvar uma pessoa por sua maneira de agir?

■ Onde se encontra o fio que separa a ação de um indivíduo, de modo que ele possa ser julgado total ou parcialmente responsável ou isento por seus atos?

estrutura do texto:

VERDADE ------------------------------------------------------------------- Qual a correspondência com o fato?

É verdadeira

É falsa

BONDADE ------------------------------------------------------------------ Qual a intenção daquele que fala?

É boa

É má

UTILIDADE ------------------------------------------------------------------- Qual a consequência daquilo que se fala?

É benéfica

É prejudicial

comunidade de aprendizagem investigativa:1. Vivemos em uma sociedade que defende liberdades para o ser hu-

mano, tais como: de expressão, de ir e vir, de crença, de trabalho, etc.. Procure assistir a dois programas de auditório na televisão. Analise e re-gistre no espaço abaixo se neles está sendo defendido ou não algum tipo de liberdade. Procure justificar suas anotações:

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Capítulo 3  •  Liberdade de ação e decisão48

Programas: e

Quais liberdades estão sendo defendidas?

Quais liberdades não estão sendo defendidas?

2. Nas artes, como na literatura, muito se fala sobre o desejo de liber-dade. Esta atividade, relacionada com as disciplinas de Língua Portugue-sa e Artes, consiste em fazer uma pesquisa ou um levantamento de poe-sias, músicas, ditados populares, pinturas, esculturas, etc., que tenham como tema a liberdade. O material resultante deverá ser exposto na sala de aula ou no colégio, para que todos venham a refletir e percebam o de-sejo de liberdade do ser humano.

3. Junto com o professor de História, a turma deverá fazer um levan-tamento de movimentos, revoltas populares e guerras que ocorreram na história do Brasil que tinham como finalidade a conquista por liberdades.

4. Uma pessoa pode se considerar livre mesmo com os seus direi-tos de ir e vir retirados temporariamente (Ex.: exilados políticos, presos, ameaçados e outros)?

5. Junto com a disciplina de língua inglesa, vamos traduzir a música “Free” (composição de: Donavon Frankenheiter e Jack Johnson). Em se-guida, vamos assistir ao vídeo www.youtube.com/watch?v=03UNOQDl0PE&feature=related, que tem o título: “Ética para meu filho”. Em segui-da, relacionar a reflexão apresentada com os conteúdos desse capítulo.

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Liberdade de ação e decisão  •  Capítulo 3 49

Como lemos e discutimos neste capítulo, “somente quando a pes-soa tem certa liberdade de opção e decisão, pode ser cobrada por seus atos”. Sendo assim, vamos realizar uma atividade, em pri-meiro lugar individual, e depois em grupo, para exercitar a liber-dade com responsabilidade.

desenvolvimento: Você faz parte da tripulação de uma nave es-pacial que deveria se encontrar com a nave-mãe na superfície iluminada da lua. Entretanto, devido a um defeito mecânico, sua nave foi obrigada a alunizar em um ponto distante cerca de 200 milhas (=322 km) do local do encontro. Durante a alunissa-gem, a maior parte do equipamento a bordo foi danificada. Uma vez que a sobrevivência da tripulação depende da chegada até a nave-mãe, devem ser escolhidos os utensílios mais importantes e necessários para a viagem de 200 milhas. A seguir, são apre-sentados os quinze utensílios que ficaram intactos, apesar da queda. Sua tarefa consiste em classificá-los por ordem de impor-tância para a sua tripulação alcançar o ponto de encontro. Co-loque o número 1 no mais importante, o número 2 no segundo mais importante e assim por diante, até o número 15, o menos importante. Lembre-se de que você tem liberdade para escolher num primeiro instante, depois irá discutir na C.A.I. o que levará, mas acima de tudo é preciso estar consciente da sua responsabi-lidade. O tempo para esta atividade será de dez minutos.

Só mudo o mundo se eu me conhecer

Decisão - MINHA

Decisão - NASA

Decisão - GRUPO

Caixa de fósforosComida concentrada20 metros de corda de náilonSeda de paraquedasEstufa portátilDuas pistolas calibre 45

Construindo a C.A.I.

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Capítulo 3  •  Liberdade de ação e decisão50

Uma lata de leite desidratado para animalDois tanques com 50kg de oxigênioMapa das estrelas Barco salva-vidasBússola Cinco galões de águaSinais luminosos (com chamas)Estojo de primeiros socorros com agulha de injeçãoRádio de frequência modulada transmissor-receptor com bateria solar

Regras:1. Ler as instruções e fazer a atividade, sem fazer perguntas.2. Perguntar apenas em caso de dúvida sobre o preenchimento do

formulário.3. Na fase da discussão e escolha na C.A.I., deve prevalecer a opi-

nião da maioria, sempre tendo justificativas.4. Atentar para o tempo estabelecido.5. O professor conseguirá junto à assessoria filosófica-pedagógica

do Centro de Filosofia e Editora Sophos – [email protected] – a resposta da NASA para continuação da atividade. Após sua resposta e a do grupo, vocês deverão chegar a um consenso.

Precauções:- Os participantes serão orientados durante o preenchimento do

formulário. - Durante as respostas, na discussão do grupo, deverá prevalecer

a opinião da maioria, mas todos devem insistir na argumenta-ção de suas ideias.

Avaliação:Conversar sobre o porquê das respostas, tanto pessoal quanto gru-pal. Os participantes podem chegar a algumas conclusões pensan-do como C.A.I. as questões abaixo: - O grupo pensa melhor e chega a resultados satisfatórios: a dife-

rença individual geralmente é menor do que a do grupo? - Quanto maior interação houver entre os participantes, melho-

res são os resultados? - Quanto maior o conhecimento sobre um assunto, também me-

lhores são os resultados? - A liberdade de escolha exige que sejam explicitados os argu-

mentos e a responsabilidade por essas escolhas?

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Fundamentos da Ética 4

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Capítulo 4  •  Fundamentos da Ética52

Qual é a definição de ética?

O que entendemos quando escutamos a afirmação: “aquela

pessoa não tem ética”?

Você já ouviu a afirmação “minha ética profissional não permi-

te aceitar tal situação”, o que podemos entender dela?

A ética é uma atitude pessoal ou ela tem um caráter universal?

Buscar os fundamentos de uma ação é conhecer mais o signifi-

cado ou somente entender a parte teórica?

Como seria viver numa sociedade onde todos fossem éti-

cos no pensar e agir?

comunidade de aprendizagem investigativa:

“Outrora a palavra ética significava doutrina dos costumes (…) Em geral, que se

denominava também doutrina dos deveres. Julgou-se bom, em seguida, aplicar

este termo apenas a uma parte da doutrina dos costumes, isto é, à doutrina dos

deveres que não se submetem a leis exteriores.”

(Kant)

“A ética é uma ciência prática, das maneiras de ser (…) não é uma moral.”

(Spinoza)

“As virtudes éticas são: coragem, temperança, liberdade, magnanimidade, man-

sidão, fraqueza e justiça; esta última é a maior de todas.”

(Aristóteles)

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Fundamentos da Ética  •  Capítulo 4 53

comunidade de aprendizagem investigativa:

o discípulo honesto

– Imagine e escreva qual seria a sua resposta ao rabino.

Uma vez um rabino decidiu testar a honestidade de seus discí-pulos; por isso, os reuniu e lhes fez uma pergunta:

- O que vocês fariam se estives-sem caminhando e achassem uma bolsa cheia de dinheiro caída na es-trada?

- Eu a devolveria ao dono - disse um discípulo.

- A resposta dele foi muito rápida, preciso desco-brir se ele realmente pensa assim -, pensou o rabino.

- Eu guardaria o dinheiro se ninguém me visse encontrá-lo - disse um outro.

- Ele tem uma língua fraca, mas um coração mau -, o rabino falou consigo mesmo.

- Bem, rabino - disse um terceiro discípulo, - para ser honesto, acredito que eu ficaria tentado a guardá-lo. Por isso, eu rezaria a Deus, pedindo que me desse forças para resistir a tal tentação e para fazer a coisa certa.

- Ah! - pensou o rabino. - Eis o homem no qual posso confiar.

(História do folclore judaico)

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Capítulo 4  •  Fundamentos da Ética54

comunidade de aprendizagem investigativa:

Com as reflexões surgidas pelas perguntas e a história inicial deste capítulo, e para aprofundar o tema “ética e seus fundamentos”, é impor-tante relembrar do capítulo 2.

Na história da Filosofia, a ética é vista como um estudo ou uma re-flexão sobre os costumes ou sobre as ações humanas e também como a própria realização de um tipo de comportamento:

¨ Quanto trata das regras de comportamento social, poderia ser chamada de ética normativa.

¨ Quando se refere aos costumes, é mais uma ética descritiva, especulativa.

Assim, de maneira didática, costuma-se diferenciar os problemas éti-cos em dois segmentos:1º que trata dos problemas gerais e fundamentais, que são liberdade,

consciência, bem, valor, lei, etc.; 2º que trata dos problemas específicos, que se aplicam nas ações indi-

viduais, que são os da ética profissional, da ética política, da ética sexual, da bioética, etc.. Vale a importante observação de que essa separação é didática, pois na vida real os problemas éticos (gerais) estão juntos com os aspectos específicos.A ética, sendo uma reflexão sobre os costumes, as ações e as realizações,

pode ser vista como uma arte que torna bom aquilo que é feito e também aquele que a faz. Sendo uma arte, um hábito (ethos), é esforço repetido, cujo fim é a boa qualidade das ações e do próprio indivíduo como pessoa.

Um comportamento ético exemplar deveria atender às pretensões de universalidade e explicar as variações de comportamento, devido às for-mações culturais e históricas.

Filósofos pioneiros nas reflexões sobre a éticaÉ importante saber que a reflexão ética sempre foi preocupação de mui-

tos filósofos. Também muito do que hoje é aceito como comportamento mo-ral e postura ética foi discutido e vivido por filósofos em todos os tempos.

Faz-se necessário saber que desde a Grécia Antiga, no período clás-sico grego, filósofos que viveram nos séculos V ao III a.C. consolidaram pensamentos que fundamentam muitas ações hoje. Entre outros temos1:

1 No Complemento filosófico (final do livro), encontramos mais sobre a vida e as obras destes e de outros filósofos que refletiram sobre a ética.

ética vem da língua grega, ethos, significan-do modo de ser, a forma usada pela pessoa para organizar sua vida em

sociedade. É o processo a partir do qual transfor-

mamos em normas/re-gras práticas os valores surgidos no grupo e na

cultura em que vivemos. É a análise e reflexão so-bre o comportamento do

homem na vida social de uma coletividade.

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Fundamentos da Ética  •  Capítulo 4 55

Sócrates:Um dos maiores filósofos da Grécia clássica, consta que ele não es-

creveu nada, mas andava pelas praças e ruas de Atenas conversando com todos. Usava o método da Maiêutica, o qual consistia em interrogar a pessoa até que esta chegasse por si mesma à verdade. Questionava as crenças das pessoas, ia atrás das ideias, sendo uma espécie de “parteiro de ideias” (no sentido de trazer à luz, dar vida), querendo e buscando um conhecimento mais elaborado. Só que, quanto mais conhecia, mais tomava consciência do limite do seu saber.

Usando o diálogo, levava as pessoas a perceberem, a partir de suas perguntas, os pontos fracos de suas reflexões. Buscava compreender os conflitos da cidade, das gerações, dos costumes, enfim, procurava en-tender a vida. Uma de suas afirmações famosas é a que retrata o filósofo humilde e investigador e é o ponto de partida para chegar à verdade: “Só sei que nada sei”.

Acreditava que, ao sabermos o que é o certo, estaríamos agindo cor-retamente. Por meio dos seus questionamentos, queria encontrar defini-ções claras e válidas para o que é o certo e o errado. Isso só seria possível pelo uso da razão. Usando a razão, a pessoa seria feliz, e teria não uma felicidade passageira, mas real. Isto é, uma felicidade na qual está o de-sejo de fazer os outros felizes.

Platão:Discípulo de Sócrates, fundou em Atenas uma escola que chamou de

Academia. Nela era ensinada filosofia, matemática e ginástica. Usava o método socrático – a Maiêutica. Platão considerava esse método seguro e importante para o avanço do pensamento filosófico entre os seus alunos.

Constatou Platão que tudo o que sabemos e fazemos ou se dá pelos sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato) ou pelo pensamento, pela razão. O conhecimento pelos sentidos é transitório e até enganoso. O verdadeiro conhecimento é o das ideias. O mundo das ideias é o mundo da perfeição, que é eterno.

Esses dois mundos e sua divisão são o ponto central da filosofia de Platão, também caracterizada por sua visão de homem como sendo corpo e alma. Assim, a alma, ou o espírito, é intelectiva (racional), superior. O corpo é irracional (sensível), inferior.

Por isso em sua Academia ensinava ginástica, pois acreditava que pe-los exercícios físicos era possível vivificar a alma e se concentrar na con-templação das ideias. Platão era um atleta e defendia que pela ginástica e música consegue-se a superioridade do espírito sobre o corpo. Portanto, num corpo saudável e forte poderá haver um desenvolvimento da alma. Já num corpo de fraqueza física não há possibilidade de vida superior.

Para Platão, o Estado era como um corpo, pois o corpo era cabeça, pei-to e baixo-ventre, e para existir uma perfeição social, o Estado também deveria organizar-se como corpo:

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Capítulo 4  •  Fundamentos da Ética56

¨ Cabeça = governante;

¨ Peito = soldados;

¨ Baixo-ventre = trabalhadores em geral.

Dirigir uma sociedade é tarefa daquele que tem pleno uso da razão, isto é, capaz de compreender a ideia de justiça. Para Platão, só o filósofo tem o pleno uso da razão. Então, ou os filósofos tornam-se governantes ou os governantes tornam-se filósofos.

aristóteles:

Discípulo de Platão, participou da Academia. Filho de médico e cientista, nasceu na cidade de Estagira. Por causa de sua formação, o interesse pela natureza o fez divergir do mestre Platão. É considerado o responsável, na cul-tura grega, pela organização, sistematização e ordenação de várias ciências.

Defendia que as ideias não nascem conosco, mas formam-se em nós pela experiência que temos. Portanto, a realidade está em percebermos ou sentirmos o que está em nossa frente e daí elaborarmos nossa visão de mundo. Também há no homem uma razão inata que lhe permite a capaci-dade de ordenar e classificar as impressões dos sentidos. Isto é, o homem é capaz de criar conceitos e classificá-los.

Preocupado em ordenar as ideias, estabeleceu uma ordem lógica na classificação do mundo diante de certos princípios. Assim temos um pensamento silogístico e a lógica formal que regem nossos pensamentos até hoje. Tomemos um exemplo de silogismo:

Todo homem é uma criatura viva.

As criaturas vivas são mortais.

Então, todo homem é mortal.

Aristóteles teve também preocupações com a organização da socieda-de e a organização que cada indivíduo atribui à sua vida particular. Por isso, ele é considerado o primeiro filósofo da Antiguidade a falar de uma ética com relação à vida humana.

Afirmava ele que somos diferentes dos animais por termos intenciona-lidades, vontade e desejo de ser feliz. Defendia três formas de felicidade:

■ a primeira sendo uma vida de prazeres e satisfações; ■ a segunda, uma vida de cidadão livre e responsável; ■ a terceira, viver como pesquisador e filósofo. Queria dizer que, ao

se buscar um equilíbrio corporal, espiritual e social, a vida seria uma realização da felicidade.

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Fundamentos da Ética  •  Capítulo 4 57

Esta realização da felicidade não é individual, precisa do Estado. Segun-do Aristóteles, há três formas puras de governo: a monarquia, a aristocracia e a democracia. Para ele, essas formas de governo são válidas e justas na medida em que organizem os cidadãos e consigam garantir as necessidades básicas (comida, trabalho, educação, saúde, etc.), visando à promoção do bem de todos (iremos aprofundar mais essas ideias no 9º ano).

a ética e a análise metafísica como seu fundamento

O que é metafísica? Como e o que faz?Entendendo metafísica como uma maneira

profunda, que vai além da física do objeto, de en-tender e encarar as coisas, os fatos, a realidade. Portanto é uma investigação de tudo aquilo que pode ser experimentado, tanto na percepção sen-sível, na imaginação ou no sentimento, quanto numa experiência mítica, pois sempre está per-guntando: “o que está por trás disso tudo?”

Esta é a função do filósofo: refletir sobre os fatos e suas consequências. Filósofos modernos (dentre tantos, Heidegger e Lukács) utilizam a palavra me-tafísica quando a reflexão busca o significado das coisas, dos seres. Como a filosofia, a metafísica leva o homem a “ler dentro” dos fatos acontecidos e que acontecerão.

O “ler por dentro” nada mais é do que investigar a base, o que susten-ta, o que é permanente, para daí interpretar a dinâmica das coisas e dos homens (substância ou essência ou modelo de interpretação do mundo).

Diante disso, é possível analisar os modos como pessoas veem o mun-do e o que sustenta tal forma de viver. Assim temos:

- Para uma pessoa religiosa, a base, o modelo, é Deus. Ex.: a vida é dom de Deus, é sagrada porque Deus é sagrado. Intocável em embrião ou quando desenvolvida.

- Para uma pessoa que vê o mundo racionalmente, a base, o modelo é o Lo-gos. Em outras palavras, uma inteligência ou ideia ou Razão que está dentro do universo e manifesta-se, sobretudo, na mente e na história dos homens.

- Para uma pessoa materialista, a base, o modelo, é o Trabalho e sua di-mensão humana. Por isso, as relações de trabalho são vistas em sua dimen-são humana, e daí são analisados os problemas da sociedade e os cami-nhos de solução.

- Para uma pessoa pragmática, a base, o modelo, é o Agir humano atual. É boa a ação com resultados positivos, é o futuro ou o resultado que dirá se a ação é boa ou má, verdadeira ou falsa.

- Para uma pessoa positivista, a base, o modelo, é o Fato observado. Com as leis físicas é possível entender toda a realidade. As leis naturais dão a ordem, e dentro desta acontece o progresso da razão humana/científica.

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Capítulo 4  •  Fundamentos da Ética58

Assim, por meio da base ou do modelo, é possível julgar as ações e a vivência ética das pessoas. Sendo a Ética a arte de realizar o Bem, nada mais é do que a realização plena da pessoa, tendo em vista o fim para o qual ela existe. Então, temos de definir primeiro o sujeito da ética e de-pois as normas de seu comportamento moral.

comunidade de aprendizagem investigativa:

alguns ideais éticos ao longo da história da Filosofia

No mundo grego antigo, a arte de realizar o Bem, de viver dignamente na Pólis, era enten-dida da seguinte forma: ■ em Platão e Aristóteles – o ideal ético esta-

va na busca teórica e prática do Bem, que poderia ser conseguida pela realidade do mundo ou na felicidade, entendida como uma vida bem organizada, virtuosa;

■ para os Estóicos – o ideal ético era viver de acordo com a natureza, em harmonia com o universo.

■ para os Epicuristas – o ideal ético era o pra-zer: “tudo o que dá prazer é bom”.

No cristianismo, o ideal ético passava a ser o de uma vida espiritual, isto é, uma vida de amor e fraternidade. O homem viveria para conhecer, amar e servir a Deus.

No Renascimento e Iluminismo (entre os séculos XV e XVIII), com o crescimento da burguesia, o ideal ético era viver de acordo com a própria liberdade pessoal e, em termos sociais, com o lema da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Para Kant, grande pensador do Iluminismo, o ideal ético era a au-tonomia individual, pois o homem racional, autônomo, é aquele que age segundo a razão e a liberdade.

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Fundamentos da Ética  •  Capítulo 4 59

No século XX, os pensadores existencialistas insistiram na questão da liberdade como ideal ético. Os pensadores sociais e dialéticos tinham como ideal ético a busca por uma vida social mais justa. Vemos então a ética voltar-se para as relações sociais, procurando construir um mundo mais humano.

Quando buscamos o ideal ético do momento no qual vivemos, na realidade em que estamos, podemos observar o quê? Uma massificação das ações por um comportamento amoral. Como este se dá? Pelos meios de comunicação, interesses econômicos, interesses políticos, pelas ideologias, dentre outros fatores, e isto vem mostrar que não é fácil a existência de pessoas livres, de ci-dadãos conscientes, participantes e críticos. Até parece que hoje é mais difícil o indivíduo ter autonomia, ter um ideal ético.

comunidade de aprendizagem investigativa:

1. Com a colaboração do professor(a) de História, vamos organizar dois painéis. A turma será divida em dois grupos. Um deles irá pesquisar sobre a Revolução Francesa e a busca dos seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Outro grupo irá deter-se na Revolução Industrial e seus be-nefícios e prejuízos para a humanidade. Os dois painéis serão explicados para todos da turma e será feita uma exposição deles para toda escola, com a finalidade de que todos possam entender o que aconteceu nestes dois momentos históricos fundamentais para a humanidade nos níveis econô-micos, sociais, políticos, ideológicos, religiosos, e comportamentais.

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Capítulo 4  •  Fundamentos da Ética60

até quando esperar?

Plebe rude

Composição: André X/Gutje/Philippe Seabra

Não é nossa culpa Nascemos já com uma bênção Mas isso não é desculpa Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí, onde é que está Cadê sua fração Com tanta riqueza por aí, onde é que está Cadê sua fração

Até quando esperar E cadê a esmola que nós damos Sem perceber que aquele abençoado Poderia ter sido você

Com tanta riqueza por aí, onde é que está Cadê sua fração Com tanta riqueza por aí, onde é que está Cadê sua fração

Até quando esperar a plebe ajoelhar Esperando a ajuda de Deus Até quando esperar a plebe ajoelhar Esperando a ajuda de Deus

Posso Vigiar teu carro Te pedir trocados Engraxar seus sapatos

Posso Vigiar teu carro Te pedir trocados Engraxar seus sapatos

Sei não é nossa culpa Nascemos já com uma bênção Mas isso não é desculpa Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí, onde é que está Cadê sua fração Com tanta riqueza por aí, onde é que está Cadê sua fração

Até quando esperar A plebe ajoelhar Até quando esperar A plebe ajoelhar Esperando a ajuda de Deus

2. Você irá reescrever a história inicial des-se capítulo (pág. 53) , criando um novo exem-plo, que tenha ligação com uma situação ética dos nossos dias atuais, utilizando os conteúdos que trabalhamos neste capítulo. Com a disci-plina de Língua Portuguesa, iremos trabalhar na produção do texto, nas correções, e também faremos a escolha, por intermédio da C.A.I. e junto com o professor(a) de Filosofia e Portu-guês, da melhor história, que será divulgada de várias maneiras pela escola.

3. Tendo presente que a Ética “pode ser vis-ta como uma arte que torna bom aquilo que é feito e também aquele que a faz”, procure ob-servar no seu dia a dia dois exemplos de com-portamentos sociais que chamamos de:

- Ética normativa:

- Ética descritiva:

* Lembrando que essa separação é didática, pois, na vida real, os problemas éticos e os problemas específicos da vida prática estão juntos.

4. Junto com a disciplina de música, vamos analisar a letra da música ao lado e cantá-la junto com a banda Plebe Rude. É importante termos em conta que letra e música surgiram nos anos 80, foram regravadas por várias ban-das e músicos e continuam atuais. Em equipe, será feita a ilustração da letra, utilizando pe-quenos recortes de revistas e jornais. Este tra-balho será exposto na escola.

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Fundamentos da Ética  •  Capítulo 4 61

5. Junto com a disciplina de Língua Portuguesa, o trabalho da C.A.I. é analisar o poema ”Só de Sacanagem”, de Elisa Lucinda, disponibilizado abaixo. Após a análise, cada aluno deve registrar o seu entendimento. A seguir, a turma assistirá ao vídeo Ética (disponível em: <www.youtube.com/watch?v=tlMFPg7RUBI&feature=fvsr>.

Meu coração está aos pulos!

Quantas vezes minha esperança será posta à prova?

Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas,

cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que

reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para

cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja

na bagagem da impunidade e eu não posso mais.

Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à

prova?

Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?

É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não

é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.

Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples

de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: “Não

roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, “Esse apontador não é seu,

minha filha”. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que

escutar.

Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e

sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício

que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha

e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta

ainda vou ficar.

Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo

mundo rouba” e vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou

confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos

pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o

tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau”.

Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem

que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.

Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se

a gente quiser, vai dar para mudar o final!

Só de Sacanagem

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Capítulo 4  •  Fundamentos da Ética62

Como ideia forte desse capítulo, temos: “Sendo a Ética a arte de realizar o Bem, nada mais é do que a realização plena da pessoa, tendo em vista o fim para o qual ela existe”. Vamos cumprir a tarefa abaixo fazendo o contraponto do crescimento grupal com a partici-pação de todos e capacidade de negociação.

objetivo: conscientização sobre a estrutura da sociedade que reforça a

defesa dos interesses particulares, não estimulando o compro-misso solidário.

material: uma maleta chaveada, chave da maleta, dois lápis sem ponta,

duas folhas de papel em branco, dois apontadores iguais.

desenvolvimento: formam-se duas equipes. • Para uma equipe entrega-se a maleta chaveada, dois lápis sem

ponta e duas folhas de papel em branco dentro da maleta.• Para a outra equipe entrega-se a chave da maleta e dois apon-

tadores iguais.• O professor pede para as duas equipes negociarem entre si

o material necessário para cumprir a tarefa, que é a seguin-te: ambas deverão escrever “Eu tenho Ética e sou cidadão”. A equipe vencedora será a que escrever primeiro a frase e entregá-la ao coordenador.

A frase deve ser anotada no quadro ou em cartaz em letra gran-de e legível.

a maleta

Construindo a C.A.I.

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Comportamento Humano e convivência social

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social64

O comportamento do homem diante das diversas situações da vida depende de cada momento e de cada um, ou há um comportamento padrão aceito universalmente?

Poderia haver uma convivência social harmoniosa, com cada indivíduo comportando-se do seu jeito? Pense em al-guns exemplos práticos para justificar sua resposta.

Quem diz como e qual é o melhor comportamento diante de qualquer situação?

Nossos comportamentos diante dos fatos são todos cons-cientes? Fundamente sua resposta com um exemplo.

O que dizer das afirmações: “eu não queria fazer isso...”; ou “foi sem querer...”; ou “eu não sabia das consequências...”?

A convivência social, em um grupo, faz com que ações se-jam feitas sem muito pensar?

“A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua, já que nunca pensaremos todos da mesma maneira, já que nunca veremos senão uma parte da verdade e sob ângulos diversos.”

(Mahatma Gandhi)

“Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal.”

(Immanuel Kant)

“Não há nada de errado em sentirmos raiva, tristeza, paixão, inveja... É humano. Só não devemos deixar que as emoções nos dominem e nos impeçam de fazer aquilo que estamos fazendo.”

(Pensamento Zen-Budista)

“Por realização da moral entendemos a encarnação dos princípios, valores e nor-mas numa dada sociedade não só como tarefa individual, mas coletiva, isto é, como processo social no qual as diferentes relações, organizações e instituições sociais desempenham um papel decisivo.”

(Sánchez Vásques)

comunidade de aprendizagem investigativa:

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 65

comunidade de aprendizagem investigativa:

amizade, amor, generosidade

Um velhinho muito bondoso e trabalhador levava uma vida tranquila ao lado da mulher que adorava. Havia apenas um problema: eles não tinham filhos. Assim, quando seu irmão caçula morreu, deixando três jovens órfãs, o velhinho rapidamente convidou as sobrinhas para morar na casa dele.

– Nós seremos sua nova família – ele lhes disse. – Aqui vocês terão tudo o que precisa-rem. Estamos muito felizes com a chegada de vocês.

Durante alguns anos, a harmonia reinou naquele lar e o velhinho foi muito feliz. Porém, quando sua mulher morreu e ele se viu sozinho com as sobrinhas, teve uma profunda decepção, pois as garotas não se preocupavam em cuidar dele, só queriam passear. No início, ainda o ajudavam um pouco nos afazeres domésticos, mas depois passaram a interessar-se apenas pelos amigos, roupas novas, festas e namorados. O velhinho esta-va triste e com saudade da mulher, quando um amigo de infância veio de longe para visitá-lo.

– Que bom revê-lo! – o amigo lhe disse. – Tantos anos se pas-saram desde que brincávamos juntos na montanha! Mas você está me deixando preocupado. Quando me contaram que agora suas sobrinhas viviam com você, pensei que fosse encontrá-lo alegre e bem cuidado. Só que você está tão magro, suas roupas estão furadas… O que é isso?

– Eu não sei onde foi que errei. Minhas sobrinhas mudaram da noite para o dia. Às vezes tenho a impressão de que nem se lembram mais que existo! – disse o velhinho, amargurado.

– Ah, então vamos mudar tudo isso! – disse o amigo sorrindo. – Tenho um bom plano! Quero que você me encontre amanhã no meio da praça, para que todos possam nos ver. Vou lhe dar um baú de presente. Ele vai lhe trazer muita sorte e felicidade, mas você nunca poderá abri-lo, certo?

O velhinho concordou e, no outro dia, foi até o local combi-nado esperar pelo amigo. Este chegou muito bem vestido, parou

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social66

comunidade de aprendizagem investigativa:

Pela natureza, o homem se relaciona com o mundo exterior, podendo transformá-lo materialmente, conhe-cendo-o, contemplando-o e até mesmo ignorando-o quando o destrói.

Há quem afirme que o homem usa o mundo ex-terior conforme suas necessidades. Nesse comporta-mento prático e utilitário, transforma a natureza com seu trabalho, produzindo muitas vezes objetos úteis, outras vezes destruindo-a por causa de interesses

econômicos particulares ou de grupos.

no meio da praça e, fazendo de tudo para chamar a atenção das pessoas, disse em alto e bom som:

– Velho amigo! Quero honrar nossa amizade e retribuir sua bondade! Por isso lhe trouxe este baú. Ele contém um grande te-souro. Mesmo assim, é pouco diante de tudo o que lhe devo.

No dia seguinte, na cidade inteira só se falava da fortuna do velhinho. Mal souberam da novidade, as sobrinhas passaram a fa-zer de tudo para agradar-lhe. Até o final da vida ele foi muito bem tratado pelas três garotas.

Quando o velhinho morreu, suas sobrinhas correram para abrir o baú, certas de que estava repleto de ouro e pedras preciosas. Foi grande a surpresa que tiveram ao ver que ali só havia um amon-toado de pedregulhos e um bilhetinho onde se lia: “A amizade, o amor e a generosidade não têm preço. Espero que tenham apren-dido a lição. Adeus”.

(História do folclore do Himalaia)

– A C.A.I. deverá comparar (escrevendo abaixo), tendo presente os comportamentos dos personagens dessa história, os comportamentos morais e a convivência social em nossa realidade atual.

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 67

O homem é capaz de estabelecer com os objetos do mundo exterior uma relação teórico-cognitiva. Por isso, compreende o que e como as coisas são e estabelece comportamentos (lembre que você estudou inves-tigação sobre a teoria do conhecimento no livro O desafio de pensar sobre o pensar, no 6º ano). Também é importante dar conta da capacidade de se ter comportamentos políticos e estéticos (investigação política e estética com o livro Somos filhos da Polis, no 9º ano). Podemos mudar, conhecer e reproduzir o mundo, o que chamamos de comportamento político e esté-tico. Nesse aspecto, está colocada a capacidade de expressar, exteriorizar ou mesmo reconhecer-se no mundo exterior e no mundo interior, seja por capacidade própria, seja via natureza ou em obras de arte.

No que se refere ao mundo interior, existe também um comportamen-to religioso. Assim, o homem relaciona-se indiretamente com o mundo mediante sua religação com um ser transcendente, sobrenatural ou Deus.

Esses comportamentos do homem, ou suas relações com o mundo, desencadeiam uma diversidade de relações entre si. Dessa maneira, te-mos diversos tipos de comportamentos humanos que se materializam na economia, na política, na educação, perante as leis, na sociedade e nas questões morais.

Diversificamos então o comportamento, de acordo com o objeto com o qual entramos em contato (a natureza, as obras de arte, Deus, outras pesso-as). Isso acontece também com o tipo de necessidades que criamos diante do objeto (produção, conhecimento, forma de expressar-se, transformar ou manter a ordem social estabelecida, maneira de expressar o belo).

Precisamos estar atentos, pois as condições históricas concretas deter-minam qual é o tipo de comportamento humano dominante nas socieda-des ou em épocas determinadas. Por isso, vemos que na história houve épocas em que o comportamento humano predominante era o religioso, outras épocas em que era o político, outras em que o comportamento era de submissão.

O comportamento humano dominante em to-das as épocas históricas foi o da necessidade vital e inadiável de produzir os bens necessários para so-brevivência, isto é, a estrutura econômica.

Vendo as diferentes formas do comportamen-to humano na história, dentro de estruturas sociais e econômicas, podemos tentar entender o porquê de certos comportamentos hoje. Também devemos ter presente que o comportamento moral relaciona-se com os outros comportamentos humanos: religioso, político, jurídico, científico, social…

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social68

comportamento moral e religião

Vamos buscar entender religião aqui num sentido mais abrangente. A religião é a fé ou a crença na existência de forças sobrenaturais ou num ser transcendente (Deus). O homem procura estabelecer uma relação com ele, quer se ligar a ele.

Assim entendida a religião, ela se caracteriza por: ■ produzir um sentimento de dependência no homem; ■ garantir que os males do mundo não têm efeito sobre quem terá o

bem no outro mundo.Essas características da religião, colocadas pelas igrejas cristãs, de-

fendem:1. a certeza de um Deus como verdadeiro sujeito e a consequente

negação da autonomia do homem;2. que a verdadeira libertação do homem acontecerá num outro

mundo que só será alcançado após a morte.Ora, reconhecer a salvação dos males des-

se mundo por um Deus é ter como verdadeira a existência real dos males e da incapacidade do

pleno desenvolvimento do homem. Porém, quan-do a religião promete outra vida melhor, não quer só

ressaltar a incapacidade do comportamento humano autônomo. A religião também mostra a necessidade

de um protesto contra a miséria real. Vale ressaltar que, se ela não é protesto, passa a ser um instrumen-

to de conformismo, resignação ou conservadorismo. Em outras palavras, um comportamento passivo. Por isso, na

história da humanidade, vemos muitas vezes a religião como ideologia, servindo à classe dominante. Hoje, como

em suas origens (religião dos oprimidos, dos excluídos), surge uma religião não-conformista, que está na luta com outros segmentos sociais por uma transformação efetiva do mundo humano real.

Quando analisamos as relações entre a moral e a religião, é preciso lembrar que a sua interferência no comportamento humano ocorre:

a. quando a religião inclui regulamentação das relações entre os homens, uma certa moral – ex.: Os Dez Mandamentos;

b. quando a religião passa a ser a garantia de que os valores morais vêm de um fundamento absoluto – ex.: Deus.

Assim, podemos afirmar que, sem religião, não haverá moral. Ouvi-mos o personagem Ivan, na obra Os Irmãos Karamazov, do romancista russo Dostoiévski, afirmar: “se Deus não existisse, tudo seria permitido”.

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 69

Um comportamento moral não é originário da religião, é até anterior a ela. Os homens primitivos tinham certas normas que regulamentavam as relações entre os indivíduos e a comunidade. Houve épocas em que a relação entre os homens estava pontuada por procedimentos religiosos. No passado, tínhamos o fundamento e a garantia de um comportamento moral, Deus. Hoje, ainda se faz presente tal garantia, assim como são cada dia mais numerosos os que procuram no próprio homem seu funda-mento e sua garantia.

comportamento moral e Política

O que é política? Quais as características de um comportamento moral e de um comportamento político? Quando faço algo, escolho algo, é um ato político ou não? Veja o exemplo: “Vou deixar de usar tal produto, pois descobri que é feito por trabalho infantil ou por mão de obra semiescrava e com explorações nos países pobres”. Pense em outro exemplo que seja um comportamento político, nessa mesma proporção, e registre-o aqui.

Queremos entender por política, aqui, as relações entre grupos hu-manos (classes sociais, povos, nações). Essas relações podem ser vistas como atividades que as pessoas realizam por meio de organizações espe-cíficas, os partidos políticos.

Os partidos políticos buscam orientar, desenvolver, derrubar ou trans-formar o regime político-social que existe. Por isso, o partido é o meio de expressão de grupos sociais visando aos interesses econômicos, sociais, e buscando a conquista do poder estatal para mudar ou conservar a ordem político-econômica e ideológica existente.

A política é, então, uma forma de participação consciente, organiza-da, de setores da sociedade, com seus programas que trazem objetivos em curto e médio prazos, com seus métodos para realizá-los. Também é entendida como possibilidade dos atos espontâneos de indivíduos ou grupos, como atividade prática, organizada e consciente.

O ato político, portanto, tem função coletiva, e a atuação diz respeito a interesses comuns. No comportamento político tem o elemento gru-po ou classe social. No comportamento moral, ainda que o coletivo seja fundamental, porque somos seres sociais, o elemento íntimo e pessoal é importante, uma vez que tomamos decisões pessoais, aceitamos normas e assumimos uma responsabilidade pessoal.

Filosofia política – disciplina centrada na natureza e função do Estado que está muito ligada à Ética e que, tal como esta, tem um caráter normativo.

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social70

Comportamento político e comportamento moral não podem identi-ficar-se. Um não absorve o outro. Ambos são realizados no grupo social, no coletivo, numa relação mútua. Poderíamos exemplificar assim:

¨ Usar cargo político em benefício próprio – comportamento político injus-to e comportamento moral reprovável;

¨ Explorar a força de trabalho de uma pessoa e não pagar adequadamen-te – comportamento político injusto e comportamento moral reprovável;

¨ Colar numa prova, enganando a si e ao professor – comportamento po-lítico injusto e comportamento moral reprovável.

Agora é com você e toda a C.A.I. do 8º ano. Pensem, discutam e re-gistrem outros comportamentos políticos injustos e amorais que sejam passíveis de reprovação pela sociedade:

comportamento moral e convivência social

As normas de convivência social, também chamadas de convenções, são um tipo de comportamento normativo. Dentre elas, as várias formas de saudação, as maneiras de atender a um amigo ou a um convidado em casa, o uso da roupa, formas de cortesia, a fineza, o cavalheirismo e a pontualidade.

Muitas dessas regras sociais passam de uma época a outra, para as sociedades, e acontecem em diversos países e diferentes grupos sociais. Outras desaparecem ou sofrem modificações, devido às mudanças so-

ciais e culturais. Um exemplo disso é a regra, para os homens, de tirar o chapéu quando estão em um lugar reservado. Hoje, os homens não usam mais chapéus, mas a regra ainda vale para o boné, ou não?

Historicamente, a convivência social costuma ser aceita em razão da classe ou do grupo social dominante. Há mu-

danças quando forças sociais adversas impõem ou buscam expressar seu inconformismo com as normas vigentes, como no caso dos hippies, de grupos que se identificam pelo corte de cabelo, pelas roupas, tatuagens, etc..

Cabe perguntar: O que aproxima e o que dis-tancia o comportamento moral do comportamento na

convivência social?

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 71

a. O comportamento na sociedade tem a função de regular as relações entre pessoas, isto é, ditar um comportamento normativo. Assim está garantida a convivência social dentro da ordem estabelecida.

b. Tanto as regras morais quanto as sociais são obrigatórias, e seu cumpri-mento passa pela opinião dos outros. Mesmo sendo uma coação externa, não assume um padrão coercitivo.

c. Posso conviver numa sociedade, aceitar as regras de comportamento sem apresentar a adesão íntima ou cumprir de maneira sincera a convenção. Por exemplo, aceitar dividir o mesmo espaço com alguém que internamen-te não se tolera.

Por isso o comportamento social é normativo, pois regula a forma ex-terior da convivência de todos em sociedade.

comportamento moral para quê?

Partindo do princípio de que as ações são, em sua maioria, conscien-tes e que cada um é senhor de sua própria vida, surgem questões: Como resolver o que fazer? Quando se toma uma decisão, sabe-se o que faz? O que dizer dos momentos em que a ação é um impulso?

Costuma-se defender que numa sociedade onde há progresso moral acontece a elevação da responsabilidade moral das pessoas ou dos gru-pos sociais no comportamento moral. Isso só é possível havendo liberda-de de opção, de decisão.

Julgar um comportamento por uma norma ou regra de ação, sem exa-minar as condições concretas em que se realiza, pode ser um julgamento precipitado. Agora, examinando as condições concretas para ver se há possibilidade de opção e de decisão, poderemos atribuir uma responsa-bilidade moral.

Ficam então algumas questões: Em que condições uma pessoa pode defender ou censurar um comportamento, uma ação? Em que condi-ções pode-se atribuir responsabilidade ou não a um comportamento de uma pessoa?

Aristóteles respondeu a essas duas questões, estabelecendo duas con-dições fundamentais para o indivíduo assumir sua responsabilidade:

■ que seu comportamento apresente um caráter consciente; e ■ que sua conduta seja livre.

Assim, um comportamento, para ser julgado moralmente, precisa, de um lado, o conhecimento; de outro lado, a liberdade. Desse modo, é pos-sível exigir e cobrar uma responsabilidade.

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social72

comunidade de aprendizagem investigativa:

comportamento moral = conhecimento e liberdade

Somente pela reflexão e pelo aprimoramento do espírito crí-tico (=conhecimento) é que se constroem ideias e pensamentos para o exercício da liberdade, fator indispensável para o compor-tamento moral na história da humanidade.

A sociedade, cada vez mais marcada por ideias e visões cientí-ficas e tecnicistas, aponta para visões mecanicistas e materializan-tes das relações. A riqueza é apresentada como modelo de poder supremo. E porque os ricos são poderosos, buscam-se os bens da fortuna e não os bens da sabedoria. E com o exercício do mando há a ilusão da liberdade. Daí o modelo: “ser rico e não ser sábio”.

A riqueza só é atingida por meio de instrumentos, daí a ne-cessidade de fazer sempre a pergunta: “para que serve isto?”. O “para que” é sempre valorização utilitária. E o útil nunca é visto em si, mas como um meio, um intermediário, para se atingir um fim. Após a utilização podemos dispensar.

“Útil” é tudo que tem um fim no outro, e não em si mesmo. Exemplos são muitos:

- um computador é útil, porque seu fim é .................................................................................................................................... ;

- um carro é útil porque seu fim é ................................................................................................................................................ .

Ninguém faria um computador ou um carro somente como obje-tos estéticos, isto é, apenas para serem contemplados. Pelo próprio conceito de “útil”, verificamos que não pode ser considerado como um critério absoluto para o julgamento dos valores, pois o que é útil não tem valor por si, mas só tem valor por aquilo que serve.

“Inútil” é o que não tem um fim no outro, é o que não se sujei-ta ser meio, instrumento ou intermediário, mas o que tem valor por si e em si mesmo. Impõe-se pelo seu ser e não por sua utili-dade na conquista de um fim fora de si. O seu fim é ele mesmo.

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 73

É dentro desta “inutilidade” que deve re-sidir o homem com comportamento moral (= liberdade e conhecimento). Por outro lado, o homem máquina vive no campo da utilidade. O homem dentro da observância do comportamento moral é o sábio pensador. Em oposição está o ho-mem máquina, que é quase sempre o técnico prag-mático e consumista.

conhecimento e liberdade

Cada vez mais, viver significa utilizar com sabedo-ria os conhecimentos e as exigências da reflexão em todas as situações e todos os fatos que colocam obstá-culos à convivência e realização humana.

No decorrer da história, o homem, como ser pensante, tenta encontrar formas novas para superar dificuldades e encontrar so-luções para seus problemas. Para isso, precisa estar sempre aberto à reflexão, tanto com relação ao que acontece no mundo como consigo mesmo.

A inteligência humana, sempre desafiada, se depara com as grandes interrogações, e muitas respostas são mistérios. O que nos deixa no desafio tranquilo do entendimento pela reflexão.

Situações que preocupam e deixam o homem contemporâneo em constante investigação:

■ conquistas e conhecimentos espaciais; ■ avanços científicos, tecnológicos, sociais; ■ guerras e intolerâncias; ■ o bem-estar produzido pela tecnologia e sua adequação

com a vida, consumismo x necessidades; ■ preocupações com a poluição e destruição da natureza:

- com o trânsito;- com a explosão demográfica;- com a mão de obra ociosa (desemprego);- com a disparidade social;- com a desigualdade econômica;- com o número crescente de marginalizados;- com a fome;- com o crescente poder aquisitivo por parte de alguns;

■ contestação dos valores tradicionais e incertezas de quais valores seguir, principalmente por parte da juventude;

■ conflitos de gerações que separam pais e filhos; ■ angústia pela sobrevivência num mundo desigual;

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social74

■ insegurança que impõe visão do outro como coisa (coisifi-cação da relação e do homem);

■ a rapidez com que se efetuam as mudanças; ■ dificuldade de se situar no mundo; ■ desajustes familiares; ■ falta de motivação para a vida; ■ toxicomania; ■ lutas ideológicas; ■ irresponsabilidade na profissão e na sociedade; ■ desinteresse pelo bem comum (individualismo, egocen-

trismo); ■ problemas com a crença religiosa;

Conhecimentos que desafiam a mente humana, levando a constantes interrogações:

■ Qual é a origem e o destino do homem e da humanidade? ■ Para onde vai a História? ■ Qual o sentido da existência humana? ■ Como explicar o sofrimento e a dor? ■ Para onde caminha o futuro, a liberdade e a consciência? ■ É importante a religião, a fé, o mistério, Deus? ■ Como conviver com a ideia da sobrevivência da humanidade?

Num mundo que se transforma, é preciso pensar constante-mente e refletir sobre as novas possibilidades. Para não deixar-se envolver emocionalmente por todas as angústias, é preciso parar e pensar. Precisamos criar métodos de pensar e refletir.

A característica predominante é a de seres humanos dependen-tes do econômico, um instrumento do comércio, um imitador do so-cial, massificados e sem ideias próprias. Quando, pela reflexão (= conhecimento e liberdade), a pessoa percebe que é manuseada pela sociedade, acaba se revoltando e tenta reencontrar novamente o seu caminho. É o momento em que se obriga a pensar e refletir. Para o mundo de hoje não basta ter muitos conhecimentos. Estes poderão ser adquiridos fora da sala de aula. Pouco adiantaria possuir conhe-cimentos sem sabedoria. Principalmente se estiver desintegrado da vida, se não souber situar-se na sociedade e no mundo.

Somos convocados a saber viver bem. Por isso é importante uma reflexão constante sobre o comportamento moral, tendo pre-sente o conhecimento e a liberdade como panos de fundo.

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 75

comunidade de aprendizagem investigativa:

1. Podemos dizer que o comportamento do homem diante de um fato qualquer é fácil? Quando a escolha for entre dois fatos bons, também é fácil? Procure, a partir do exemplo abaixo, pensar e registrar situações relevantes para discutir com seus colegas. Ex.: Tenho duas possibilidades de utilizar meu tempo livre após as aulas: posso ficar na frente do colégio com meus amigos e os alunos do outro período ou ir até a biblioteca iniciar um estudo. Supondo que uma situ-ação é má e outra é boa, fica fácil a escolha. Agora, dois fatos bons: ir ao cinema com alguém de quem gosto muito e estar numa festa animada com toda minha turma. Fica fácil fazer a escolha?

Agora seu exemplo e comportamento:

2. Lemos: “Precisamos estar atentos, pois as condições históricas con-cretas determinam qual é o tipo de comportamento humano dominante nas sociedades ou em épocas determinadas”. Agora, em C.A.I., vamos che-gar a um consenso de qual é o comportamento humano dominante hoje?

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social76

3. É importante fazermos uma pesquisa no nosso colégio para saber o que a Direção Geral e a Pedagógica pensam sobre o Comportamento Hu-mano e a Moral no espaço escolar. A tarefa consiste em organizar uma en-trevista para sabermos a opinião desses profissionais e relacioná-la com os conteúdos que trabalhamos neste capítulo.

4. Em que condições uma pessoa pode defender ou censurar um com-portamento, uma ação? Em que condições pode-se atribuir responsabili-dade ou não ao comportamento de uma pessoa?

5. Vimos que é preciso ter conhecimento e liberdade para exercer ple-namente nossa responsabilidade moral. Também nos foram apresentadas várias situações que preocupam o homem contemporâneo e o deixam em constante investigação. Junto com o professor de história, vamos pensar o que mais desafia o conhecimento humano em situações que nos levam a investigar e ter conhecimento para podermos ser livres:

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Comportamento Humano e convivência social  •  Capítulo 5 77

O comportamento humano e a convivência social exigem cada vez mais de cada ser humano a concretização do binômio Conhe-cimento e Liberdade. Nesta atividade, vamos exercitar esse binô-mio, tendo presente também a necessidade da responsabilidade.

dificuldades nas escolhas

Participantes: toda a C.A.I. do 8º ano.

tempo: Uma aula.

descrição: O professor explica os objetivos do exercício, relacionando o

conteúdo com a atividade da C.A.I.. Divide-se a turma em pe-quenos grupos e cada aluno lê a sua escolha referente ao “abrigo subterrâneo” (lembrando que é necessário saber justificar). Logo a seguir, em cada pequeno grupo, abre-se a discussão e são ex-postos os entendimentos dos participantes, para que tomem uma decisão, escolhendo as seis pessoas de preferência do grupo (com justificativas). Ao final, forma-se novamente o grupo maior, para que cada subgrupo possa relatar o resultado da decisão grupal. Segue-se um debate sobre a experiência vivida.

abrigo subterrâneo Imaginem que nossa cidade está sob ameaça de um bombardeio.

Aproxima-se um homem e solicita aos habitantes uma decisão imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode acomodar seis pessoas. Há doze pessoas interessadas em entrar no abrigo. Façam as escolhas, destacando seis somente. ■ Um violinista, com 40 anos de idade, narcótico viciado; ■ Um advogado, com 25 anos de idade, recém formado; ■ A mulher do advogado, com 24 anos de idade, que acaba de

sair do manicômio. Ambos preferem ou ficar juntos no abri-go, ou fora dele;

Construindo a C.A.I.

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Capítulo 5  •  Comportamento Humano e convivência social78

■ Um sacerdote, com setenta e cinco anos de idade, aposentado mas atuante no seu magistério;

■ Uma prostituta, com 34 anos de idade; ■ Um ateu, com 20 anos de idade, autor de vários assassinatos; ■ Uma universitária que fez voto de castidade; ■ Um físico, com 28 anos de idade, que só aceita entrar no abri-

go se puder levar consigo sua arma; ■ Um declamador fanático, com 21 anos de idade; ■ Uma menina com 12 anos e baixo QI; ■ Um homossexual, com 47 anos de idade; ■ Um deficiente mental, com 32 anos de idade, que sofre de

ataques epilépticos.

Minhas escolhas:

Justificativas:

Escolhas do grupo:

Justificativas:

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responsabilidade Moral, determinismo, determinismo Moderado, Livre-Arbítrio

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado80

O que é ser responsável? Como medir o grau de responsabilidade de uma pessoa? A responsabilidade moral é só individual, ou há uma res-

ponsabilidade moral social? Existem situações que parecem predeterminadas? Como e o que decidir numa sociedade que determina os

comportamentos? Podemos fazer tudo o que queremos porque somos livres?

“Atribuir a um homem a responsabilidade de uma conduta é o que se chama imputar-lhe essa conduta. Às crianças, que estão ainda no estado de natureza, não se pode imputar nenhuma conduta: elas não são ainda responsáveis; o mesmo ocorre com os loucos ou os idiotas.”

(Hegel)

“O homem, estando condenado a ser livre, carrega o peso do mundo inteiro em suas costas; ele é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto ma-neira de ser.”

(Sartre)

“Na medida em que a faculdade de fazer ou não fazer segundo sua vontade está ligada à consciência da faculdade de agir para produzir o objeto, ela cha-ma-se arbítrio (…). O arbítrio que pode ser determinado pela razão chama-se o livre-arbítrio.”

(Kant)

comunidade de aprendizagem investigativa:

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 81

comunidade de aprendizagem investigativa:

o rouxinol e o caçador

Era uma vez um caçador que capturou um rouxinol. “Vou assar essa ave para comer no jan-tar”, pensou satisfeito. Levou o pássaro para sua cabana e o prendeu numa pequena gaiola.

Quando percebeu que o caçador afiava a faca para matá-lo, o pássaro perguntou:

– Por que você vai me matar? Estou tão magrinho… Meu corpo não bastará para matar sua fome. Mas, se você me libertar, eu lhe darei três bons conselhos. E, se você souber segui-los, terá muita sorte e felicidade na vida.

O homem já ouvira falar muitos dos rouxinóis. Conhecia sua reputação de sábios e bons conselheiros. Por isso, e também por-que o pobre pássaro era realmente muito magrinho, o caçador decidiu concordar com ele.

– Quais são seus conselhos? – perguntou à ave.– Escute bem – disse o rouxinol. – Nunca se arrependa daqui-

lo que perdeu. Pare de desejar aquilo que não pode alcançar. E, por fim, não acredite naquilo que lhe soar falso.

O homem libertou o pássaro e ficou pensando em seus con-selhos. Observando que o caçador estava com uma expressão um tanto estranha, como se não tivesse compreendido muito bem o que ele falara, o pássaro disse:

– Você foi tolo. Não deveria ter me libertado. Porque eu trago imensas pedras preciosas em minha barriga. Elas são mágicas e valiosíssimas.

O caçador ficou furioso e começou a dar saltos tentando apa-nhar o pássaro. Mas este voou mais alto ainda e lhe disse:

– Estou vendo que você não entendeu nada. Pense só nos meus conselhos: eu não lhe falei para não se arrepender daquilo que perdeu? Você não pode mais me prender, mas está chateado por ter me libertado. Depois, eu o aconselhei a nunca desejar aquilo que não pode alcançar. E você fica pulando feito um tolo, tentando alcançar um pássaro. E, por último, eu não lhe disse para não acreditar naquilo que lhe soasse falso? Pois então, olhe

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado82

comunidade de aprendizagem investigativa:

a ignorância e a responsabilidade moral

Conforme afirmação nos capítulos anterio-res, só pode ser responsabilizada a pessoa que conhece, escolhe, decide e age consciente-mente. Está livre da responsabilidade moral quem ignora as circunstâncias e consequên-cias da sua ação.

A ignorância pode ser (em algumas si-tuações) uma condição que livra a pessoa de responder por seu ato. Essa afirmação é forte porque pode desencadear uma série de atos e alegações de não estarem previstas as conse-quências, mas só não conhecer não basta. Há casos em que a pessoa não conhecia, não podia

bem para mim. Eu não estou magrinho? Você acha que existem pedras preciosas imensas dentro de mim? Não vê que é mentira?

O homem, sem saber o que fazer, sentou-se no chão. O rouxi-nol sentiu pena dele, aproximou-se e cantou. Ao ouvir o som de seus lindos trinados, o caçador sorriu. Olhou para as árvores, o rio e a relva, e sentiu-se feliz mesmo sem ter jantado, sem ter en-contrado um tesouro, nem compreendido bem os conselhos. E o pássaro partiu sossegado, porque percebeu que um dia o homem entenderia os estranhos conselhos das aves.

(História do folclore da Europa Oriental)

– Após ler esta história, vamos encontrar indícios do conteúdo que tra-balharemos neste capítulo: responsabilidade moral, determinismo, livre-arbítrio e determinismo moderado:

Prisioneiros judeus em Buchenwald, campo de concentração nazista. (Foto: 16 de abril de 1945)

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 83

e não tinha obrigação de conhecê-las (exemplo clássico é o de solda-dos nazistas que participaram das barbáries da 2ª guerra mundial). Você consegue dar exemplo das colocações expostas nesse parágrafo? Vamos registrar exemplos que foram discutidos e aceitos na C.A.I.:

Portanto, quando se alega ignorância para não ser responsabilizado, deve ser analisada a situação concreta. Conforme as circunstâncias, a ignorância não pode livrar da responsabilidade, pois a pessoa é respon-sável por não saber o que devia saber (um exemplo são as leis de trânsito para o motorista). Vamos pensar em outro exemplo?

Valores são construídos na família, no dia a dia, no trabalho, nas es-colas, nas manifestações culturais, nos movimentos e nas organizações locais. Conhecê-los, compreendê-los e praticá-los é uma necessidade fundamental da convivência social.

O que pensar da seguinte situação: um pai, vendo um filho passar fome, resolve roubar alimentos no super-mercado. Ele agiu certo ou errado ao cometer o roubo? A resposta poderia ser: “Ele agiu certo, porque viu o filho com fome e não suportava a cena de misé-ria em sua casa, não teve saída senão roubar. Ou: agiu errado por ter roubado, sabemos que roubar não é a coisa certa”. O exemplo pode dar uma ideia da complexidade que é viver em sociedade.

A luta por um mundo melhor, por uma civiliza-ção mais humana, mais democrática e mais justa tem sido historicamente construída pelo homem. E nessa construção temos justiças e injustiças, ações e acomodações, pensamentos coletivos e situações de levar vantagens. Mas vivemos em comunidade e, portanto, é preciso cada vez mais discutir e ampliar os entendimentos para uma convivência digna e responsável.

a questão da Força externa e a responsabilidade moral

Podemos atribuir responsabilidade por um ato quando a causa esteja dentro da própria pessoa e não em alguém que a force contra a vontade a praticar esse ato, portanto, se a pessoa não for obrigada a fazê-lo.

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado84

Quando alguém é obrigado a fazer um ato, chamamos isso de coação externa (lembra que vimos esse conteúdo no capítulo 3 – Liberdade de ação e decisão). A coação externa é uma pressão que leva a pessoa a perder o controle dos seus atos e a impede de decidir livremente. Assim, ela realiza um ato que não escolheu e não decidiu, por isso não pode ser responsabilizada pela ação que fez.

Aristóteles já dizia que a coação externa pode vir de alguém (pessoa) ou de algo (objeto/circunstância) que força a pessoa a ter uma ação contra sua vontade, não havendo escolha e decisão. Portanto, a ação da pessoa não pode exigir responsabilidade moral.

Vamos analisar os exemplos e discutir se há possibilidade de livrar os envolvidos da responsabilidade moral:

■ Na 2ª. Guerra Mundial, os nazistas construíram campos de concentração onde judeus e outras minorias eram dizimadas, e seus corpos serviam para expe-riências médicas, com atrocidades genéticas. Ao fim da guerra, os principais dirigentes foram presos e submetidos a julgamentos – o famoso processo de Nuremberg. Todos alegavam não ter responsabilidade legal e muito menos moral pelos crimes cometidos, justificando estarem cumprindo ordens supe-riores (coação externa) ou desconhecimento dos fatos (ignorância).

■ Alguém, de revólver na mão, obriga você a postar no seu Facebook fotos comprometedoras em que difama outra pessoa. Você pode ser considerado responsável por esse ato?

O que pensar sobre estes exemplos? Há outros exemplos para discutir e que acontecem na sociedade, encaixando-se na ideia de coação externa e ignorância? Vamos registrar os exemplos levantados na C.A.I.:

as Forças internas e a responsabilidade moral

É preciso ter presente que a pessoa só é responsável moralmente pelos atos cuja natureza conhece, cujas consequências pode prever, ou seja, aque-les atos que, não havendo coação externa, estão sob domínio e controle.

Existem alguns casos em que pessoas têm coação interna, uma força que as leva a cometer atos que não poderiam ser considerados de respon-sabilidade moral. São mais desvios de conduta por forças internas, tais como: o cleptomaníaco, o neurótico, o desajustado sexual. Nesses casos, o sujeito não tem consciência no momento em que realiza tais atos, ele desconhece o porquê do ato e as suas consequências.

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 85

1. Tudo está determinado, portanto, não há

liberdade e muito menos responsabilidade

moral.

2. O homem pode determinar-se,

conquistar sua liberdade e responder moralmente

por seus atos.

3. O homem é determinado, e essa é a condição necessária

da liberdade (liberdade e necessidade estão

juntas).

Mesmo sendo difícil estabelecer a linha divisória entre comportamen-to normal e anormal (doentio), costuma-se dizer que pessoas normais não fazem ações por forças internas irresistíveis. Somos pessoas que têm coações internas controláveis, que nos permitem optar. Por isso, desejos, paixões, impulsos, motivações inconscientes e crenças podem sim levar à responsabilidade moral.

as três Posturas e a responsabilidade moral

Este é um problema ético antigo, pois estamos diante de duas visões opostas de mundo. De um lado, estamos num mundo casualmente deter-minado, e isso faz com que pessoas aceitem as ideias do determinismo. Aqui não há espaço para a responsabilidade moral, pois tudo já está de-finido, pronto. Do outro lado, está a condição de escolha ilimitada, o que é improvável que também aconteça. É preciso ter presente as relações entre necessidade, vontade e liberdade.

Temos, assim, três posturas filosóficas, relacionadas com a responsa-bilidade moral:

1. Determinismo AbsolutoÉ uma visão de mundo, uma doutrina que aceita o fato de que cada

um dos acontecimentos do universo está submetido às leis naturais, leis entendidas dentro de uma estrutura de causa. Há quem relacione o

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado86

determinismo à questão do destino e da predestinação, aplicados tanto aos objetos quanto às pessoas. Nesse caso, descarta-se a existência da criação e da liberdade.

O ponto de partida é que, neste mundo, tudo tem uma causa. Assim, a ciência, bem como a experiência cotidiana, comprovam a tese determinista.

Se tudo tem uma causa, como podemos evitar agir como agimos? Será que a ação, nesse momento, tendo uma causa que nem sequer co-nheço, é livre? Então, a decisão e a ação são causadas por circunstân-cias? Assim, não haveria liberdade, mas apenas efeitos de uma causa ou de uma série causal?

Para o determinista absoluto, tomar uma decisão é fruto de uma cau-sa, e isso significa que a escolha não é livre. Dizer, então, que houve uma escolha livre é ilusão, pois não há liberdade da vontade. Escolhe-se sim, mas por força das causas que determinam a escolha.

Dessa forma, com o determinismo absoluto, teríamos a condição da possibilidade de, ao conhecer todas as circunstâncias que atuam sobre um fato, num determinado momento, predizer com exatidão o futuro.

É o que afirma Laplace em sua obra de 1820, Theórie analytique des probabilités:

“Uma inteligência que conhecesse em um dado momento todas as forças que atuam na natureza e a situação dos seres que a com-põem e que fosse suficientemente vasta para submeter estes da-dos à análise matemática poderia expressar em uma só fórmula os movimentos dos maiores astros e dos menores átomos. Nada seria incerto para ela, e tanto o futuro como o passado estariam presen-tes aos seus olhos.”

Resumindo, poderíamos dizer que, para o determinismo absoluto, tudo é causado. Sendo assim, a liberdade humana é falsa, e não pode ha-ver responsabilidade moral. Somente poderia ter acontecido o que acon-teceu de fato.

Pensadores que se opõem ao determinismo do ponto de vista ético e antropológico filosófico assinalam que, dentro de uma doutrina deter-minista, não cabe o livre-arbítrio. Filósofos existencialistas criticam o determinismo ao defender que, na existência humana, a liberdade é um direito natural, faz parte do ser do homem. Defendem que existir é fun-damentalmente ser livre.

2. Livre-ArbítrioVamos iniciar lendo a fábula do “Asno de Buridan”, escrita por Jean

Buridan, mestre e reitor da Universidade de Paris na primeira metade do século XIV:

Causa/efeito: chama-se “causa” ao que provoca

algo; e “efeito” ao que é provocado. O modo como se estabelece a relação entre causa e

efeito tem sido objeto de amplo debate entre

os filósofos.

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 87

“Um asno que tivesse diante de si, e exatamente à mesma distância, dois feixes de feno exatamente iguais não poderia manifestar prefe-rência por um mais do que pelo outro e, portanto, morreria de fome.”

Essa questão foi formulada para mostrar a dificuldade do problema do livre-arbítrio. Não havendo uma preferência, não pode haver esco-lha. O que fica claro é que o problema do asno de Buridan é sumamente instrutivo: analisá-lo como é devido requer revisar por inteiro as difíceis noções de escolha, preferência, razão, vontade e liberdade.

Para os defensores do livre-arbítrio da ação humana, ser livre signifi-ca decidir e agir como se quer, independentemente da causa determinan-te. Então, o homem é capaz de julgar, e isso lhe possibilita fazer escolhas voluntárias, autônomas, sem pressão interna ou externa.

“O homem tem o poder de escolher um ato ou não, independente-mente das forças que o constrangem. Ser livre é decidir e agir como se quer, sem qualquer determinação causal, quer seja exterior (am-biente em que se vive), quer seja interior (desejos, caráter). Mesmo admitindo que essas forças existam, o ato livre pertence a uma esfe-ra em que se perfaz a liberdade humana. Ser livre é ser incausado”.1

A liberdade é um dado da experiência imediata e também uma certe-za que não se abala pela existência da causalidade. O homem é absoluta-mente livre em aceitar que faz parte da natureza e que vive em sociedade, de forma moral, ao comportar-se.

Nessa postura, temos a liberdade da vontade, excluindo o princípio causal. Ser livre é não ter um princípio causal. Aqui precisamos considerar alguns itens. É certo que a pessoa que quer algo decide e age para consegui--lo. Não somente determina, mas também é determinada. Está dentro de relações causais, mudando-as ou modificando-as com sua decisão e ação.

Resumindo, poderíamos perguntar: Sendo tudo possível, quais cri-térios usar ao julgar um ato moral? Se os fatos causais não interferem na decisão e ação, como considerar responsabilidades pelo ocorrido? Se vivêssemos num mundo do acaso, em que tudo fosse possível, haveria sentido em falar de liberdade e responsabilidade moral? Assim, a liber-dade da vontade, longe de excluir a causalidade, necessita dela.

3. Determinismo ModeradoAo aceitar o determinismo absoluto, conclui-se que o homem não é li-

vre e, portanto, não é moralmente responsável pelo que faz. Ao defender o livre-arbítrio como forma de conduta, dizemos que a pessoa também não responde moralmente por seus atos, pois toma decisão e age não su-jeita à necessidade e ao resultado, mas ao acaso.

1 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria H.Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2ª. ed., São Paulo: Moderna, 1996, p. 316.

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado88

Como visto até aqui, para haver responsabilidade moral, exige-se cer-

ta liberdade de decisão e de ação, em outros termos, uma conduta cons-

ciente, entendida como decisão com conhecimento de causa e de razões.

Assim, liberdade e causalidade (necessidade) não se excluem.

Três filósofos deram suas contribuições para as reflexões sobre liber-

dade e necessidade causal:

■ Spinoza: Para ele, o homem, sendo parte da natureza, está sujeito

às leis da necessidade universal. Por isso, a ação, o movimento do

mundo exterior, provoca no homem um estado interior chamado

por ele de “paixão” ou “afeto”, sendo assim, determinado de fora.

Ao comportar-se dessa maneira (pela paixão), é escravo, pois suas

ações são determinadas por causas externas. Ser livre, então, é to-

mar consciência da necessidade ou compreender que tudo o que

acontece é necessário. Deve-se notar que, embora a alma humana

seja determinada pelas coisas exteriores para afirmar ou negar,

não é determinada a ponto de ser constrangida por elas, mas per-

manece sempre livre, pois nenhuma coisa tem o poder de destruir

sua essência. Portanto, aquilo que afirma e nega, afirma e nega

livremente. (…) E se, depois disso, alguém perguntar: por que a

alma quer isto e não quer aquilo? A resposta pode ser: porque a

alma é uma coisa pensante, isto é, uma coisa que, por sua nature-

za, tem o poder de querer e não querer, de afirmar e de negar, pois

isto é ser uma coisa pensante.

■ hegel: Esse filósofo também define a liberdade como conheci-

mento da necessidade. Ele diz: “A liberdade é a necessidade com-

preendida”. Relacionando a liberdade com a história, ela é histó-

rica, há graus de liberdade ou de entendimento das necessidades.

■ marx e engels: quando falam do determinismo moderado, não

vão contra a posição de Spinoza e Hegel. Afirmam que o homem

busca ser livre pelo poder que tem sobre a natureza e sobre si

mesmo, transformando o mundo e a si mesmo sob as bases de sua

interpretação (conhecendo as ligações causais e as necessidades

que movimentam os fatos).

Ao pensarmos em responsabilidade moral, devemos ter presente a

liberdade e a necessidade que estão ligadas ao ato moral.

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 89

comunidade de aprendizagem investigativa:

livre-arbítrio na literatura

O escritor russo Fiódor Dostoiévski escreveu um romance universal chamado Os Irmãos Karamazov1, obra da literatura universal. Vale a pena ler e refletir a parte de sua obra que fala de livre-arbítrio como “uma carga terrível” que devemos supor-tar em nossa existência.

“Em lugar de te apoderares da liberdade humana, tu ainda a es-tendeste! Esqueceste-te então de que o homem prefere a paz e até mesmo a morte à liberdade de discernir o bem e o mal? Não há nada mais sedutor para o homem do que o livre-arbítrio, mas também nada mais doloroso. E, em lugar de princípios só-lidos que teriam tranquilizado para sempre a consciência hu-mana, tu escolheste noções vagas, estranhas, enigmáticas, tudo quanto ultrapassa a força dos homens, e com isso agiste como se não os amasses, tu, que vieras dar tua vida por eles! Aumen-taste a liberdade humana em vez de confiscá-la e assim im-puseste para sempre ao ser moral os pavores dessa liberdade. Querias ser livremente amado, voluntariamente seguido pelos homens fascinados. Em lugar da dura lei antiga, o homem de-via doravante, com coração livre, discernir o bem e o mal, não tendo para se guiar senão tua imagem; mas não previas que ele repeliria afinal e contestaria mesmo tua imagem e tua liberda-de, esmagado sob essa carga terrível: a liberdade de escolher?

É hora de registrar suas reflexões pessoais e também da sua C.A.I. sobre o livre-arbítrio exposto no texto:

1 DOSTOIEVSKY, Fiódor. os irmãos Karamazov. Trad. Natalina Nunes e Os-car Mendes. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s.d., p. 219

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado90

comunidade de aprendizagem investigativa:

1. É importante relacionarmos os nossos atos e ações ao conceito de responsabilidade moral. Por isso, procure escrever três ações, atos, que você praticou ou pratica e, diante da definição de responsabilidade mo-ral, analise se você está sendo livre nessas ações.

2. O que dizer da expressão popular: “foi Deus que quis assim”? Em qual visão de mundo podemos colocar essa afirmação?

3. Analisando sua vida até o presente, você aceita as coisas, os fatos, dentro da visão determinista, do livre-arbítrio ou do determinismo mode-rado? Procure dar exemplos.

4. Na C.A.I. vamos acompanhar a música e o vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=KGjTdt2AeGA

A seguir, será hora de fazer a análise da letra e marcar ao seu lado os trechos onde se encontram ideias que retratam: responsabilidade moral, determinismo absoluto, livre-arbítrio e determinismo moderado.

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 91

até quando?

Composição: Gabriel o Pensador; Itaal Shur; Tiago Mocotó

Não adianta olhar pro céuCom muita fé e pouca lutaLevanta aí que você tem muito protesto pra fazerE muita greve, você pode, você deve, pode crerNão adianta olhar pro chãoVirar a cara pra não verSe liga aí que te botaram numa cruz e só porque JesusSofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!Até quando você vai ficar usando rédea?!Rindo da própria tragédiaAté quando você vai ficar usando rédea?!Pobre, rico ou classe médiaAté quando você vai levar cascudo mudo?Muda, muda essa posturaAté quando você vai ficando mudo?muda que o medo é um modo de fazer censura

Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!!)Até quando vai ficar sem fazer nada?Até quando você vai levando? (Porrada! Porrada!!)Até quando vai ser saco de pancada?

Você tenta ser feliz, não vê que é deprimenteO seu filho sem escola, seu velho tá sem denteCê tenta ser contente e não vê que é revoltanteVocê tá sem emprego e a sua filha tá gestanteVocê se faz de surdo, não vê que é absurdoVocê que é inocente foi preso em flagrante!É tudo flagrante! É tudo flagrante!!

A políciaMatou o estudanteFalou que era bandidoChamou de traficante!A justiçaPrendeu o pé-rapadoSoltou o deputadoE absolveu os PMs de Vigário!

A polícia só existe pra manter você na leiLei do silêncio, lei do mais fracoOu aceita ser um saco de pancada ou vai pro sacoA programação existe pra manter você na frenteNa frente da TV, que é pra te entreterQue é pra você não ver que o programado é você!Acordo, não tenho trabalho, procuro trabalho, quero trabalharO cara me pede o diploma, não tenho diploma, não pude estudarE querem que eu seja educado, que eu ande arrumado, que eu saiba falarAquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dáConsigo um emprego, começa o emprego, me mato de tanto ralarAcordo bem cedo, não tenho sossego nem tempo pra raciocinarNão peço arrego, mas onde que eu chego se eu fico no mesmo lugar?Brinquedo que o filho me pede, não tenho dinheiro pra dar!Escola! Esmola!Favela, cadeia!Sem terra, enterra!Sem renda, se renda! Não! Não!!

Muda que quando a gente muda o mundo muda com a genteA gente muda o mundo na mudança da menteE quando a mente muda a gente anda pra frenteE quando a gente manda ninguém manda na gente!Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem curaNa mudança de postura a gente fica mais seguroNa mudança do presente a gente molda o futuro!

Até quando você vai ficar levando porrada,até quando vai ficar sem fazer nada

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado92

5. Junto com a disciplina de Português, vamos interpretar este texto para entender o que está nas entrelinhas. Depois, em C.A.I., vamos criar um texto filosófico onde estejam destacados os tipos de coação (externa e interna) sobre este assunto.

o que os outros pensam sobre mim?

É a pergunta que atormenta a grande maioria dos adolescentes, período da vida em que o corpo e a mente sofrem inúmeras mudanças. Assim estão cada vez mais preocupados com o corpo, com a aparência e a avaliação do outro.

Pesquisas com base em entrevistas com mais de seis mil adolescentes de vários lugares do mundo apontam que, nessa fase, começa o interes-se por produtos que valorizam as qualidades físicas, pois desejam ser reconhecidos como pessoas atraentes. Além de terem revelado que um adolescente nunca é igual ao outro, de modo geral os resultados mostra-ram ainda que o corpo, a aparência e ser reconhecidos como atraentes representam as coisas mais importantes na escala de valores.

Os jovens acreditam que com uma boa apresentação estarão mais se-guros e serão respeitados dentro de um grupo. Nessa pesquisa, 80% dos adolescentes sacrificariam, voluntariamente, 25% de sua inteligência se pudessem ser 25% mais atraentes.

O corpo representa o bem mais valioso que possuem. Consideram que, ao usar produtos de marca, sentem-se mais preparados para todos os tipos de situações da vida. Por isso, respostas como “eu quero me desta-car para que outras pessoas me percebam” e “eu gostaria de ser o centro das atenções, mas outras pessoas podem facilmente me fazer perder a confiança” foram muito utilizadas.

Nas idades entre 14 e 18 anos, à medida que o corpo vivencia mu-danças hormonais e emocionais, passa a ser cada vez mais o centro de

interesse. Nesta fase, em meio à busca pela pró-pria identidade, os jovens tentam se destacar para serem aceitos pelos outros. Fica evidente também que a identidade, expressa por escolhas de cuida-dos com o corpo e estilo individual, está direta-mente relacionada ao objetivo de se tornar atraen-te para o sexo oposto. E o corpo acaba se tornando o caminho no momento das conquistas.

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Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado  •  Capítulo 6 93

objetivos: Colocar os participantes em situação de negociação, a fim de se

observar a negociação, persuasão, criatividade, o foco no objeti-vo, a fluência verbal, produtividade sob tensão e o saber ouvir.

Participantes: toda a C.A.I..

desenrolar: Escolher de um a três alunos que representarão o produtor de

laranjas Ugli e dividir o restante da turma em dois grupos.

texto para os produtores: Vocês são os únicos produtores brasileiros de laranjas Ugli, uma

qualidade rara de laranjas, uma verdadeira descoberta, com se-mentes importadas do Oriente Médio que, segundo as últimas descobertas, têm um grande poder curativo e poderão ser usa-das na composição de drogas poderosas no combate a doenças graves. Trata-se de uma produção modesta.

Em breve, estarão recebendo algumas propostas de grandes la-boratórios.

Cada um dos laboratórios interessados na produção de laran-jas Ugli precisa de um componente específico da laranja. Um está interessado na casca, outro do bagaço, e assim por diante. Entretanto, este detalhe não será abordado pelos produtores, esperando-se que os representantes dos laboratórios percebam e entrem num acordo ganha-ganha. Ainda sobram o suco e a se-

o caso das laranjas ugli(= sobre responsabilidade, determinismo, livre-arbítrio)

A intenção é que a C.A.I. possa interiorizar melhor os conceitos. Nessa atividade é importante, além das discussões, o entendi-mento e a arte de argumentação, para que os conteúdos possam ser assimilados na prática.

Construindo a C.A.I.

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Capítulo 6  •  Responsabilidade Moral, Determinismo, Livre-Arbítrio e Determinismo Moderado94

mente. As sementes interessam aos produtores para o replantio. Os produtores investiram no plantio desta qualidade de laranja com objetivo de lucro, e a procura dos laboratórios valoriza ain-da mais esta qualidade de laranjas.

texto do grupo 1: Vocês fazem parte do quadro de cientistas de um grande la-

boratório multinacional, o Labo-saúde, que está prestes a des-cobrir uma droga que será a solução definitiva para a cura da Aids. Seus cientistas dependem apenas de uma matéria prima rara, a casca da laranja Ugli, muito difícil de ser encontrada no mercado. Porém, acabaram de descobrir um produtor de laranjas Ugli. Embora este tenha uma produção abaixo das ne-cessidades do Labo-saúde, trata-se de uma grande descoberta, devido à grande dificuldade de se conseguir esta espécie rara de laranjas. Portanto, o laboratório empenhará todos os seus esforços para que esta produção seja integralmente fornecida para este grandioso projeto. Fechar negócios com esse produ-tor será a solução para que o Labo-saúde resolva todos os seus problemas financeiros e assuma expressão no mercado mun-dial pela grande descoberta...

texto do grupo 2: Vocês fazem parte do quadro de cientistas de um grande la-

boratório, o Labormed, que acaba de descobrir uma droga que previne e cura qualquer tipo de câncer. O grande drama está sendo em relação à matéria-prima para confecção da droga, que é o bagaço da laranja Ugli. Acabaram de ter notícias de um produtor cuja produção inteira viria a atender à neces-sidade do laboratório e o possibilitaria colocar no mercado uma droga que poderá prevenir e aliviar o sofrimento de mui-tas pessoas. O grande desafio do Labormed é convencer esse produtor de laranjas tão raras e valorizadas a fornecer toda sua produção em benefício deste projeto, que será um grande benefício para a humanidade e ainda tornará o Labormed um dos maiores Laboratórios do mundo.

■ Cada equipe terá a missão de convencer o produtor a fornecer

toda a sua produção de laranjas Ugli. ■ O professor solicitará às duas equipes que leiam suas informa-

ções e dará 10 minutos para que escolham um negociador para representar cada empresa na reunião com os produtores de la-ranja. A reunião deverá durar 20 minutos, e ao final os partici-pantes deverão ter chegado a alguma conclusão.

■ Após chegarem à conclusão final, os participantes farão a ava-liação da sua participação e do resultado da reunião.

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ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias96

Quais os argumentos para defendermos uma educação para o ser ético?

Escutamos falar muito em postura ética, atitude ética… Isso é só expressão ou carrega um apelo de comportamento?

É possível pensar numa ética universal no momento histórico em que vivemos? Como esta ética universal se constituiria?

Que ética escolher: uma ética libertária ou moralista? Uma ética emancipatória ou limitadora das ações?

Você concorda que agir de acordo com um comportamento ético passou a ser moda, dá status, charme?

Podemos dizer que é obrigação de todo cidadão de bem ter e exigir uma postura ética nos relacionamentos com os outros?

“Pessoas que se enquadram cegamente no coletivo fazem de si mesmas meros objetos materiais, anulando-se como sujeitos dotados de motivação própria.”

(Adorno)

“O estudo de uma filosofia rigorosamente teórica é mediado pela ideia e somen-te ela confere um sentido ético à ação.”

(Habermas)

“A única concretização efetiva da emancipação consiste em que aquelas poucas pessoas interessadas nesta direção orientem toda a sua energia para que a edu-cação seja uma educação para a contestação e para a resistência.”

(Adorno)

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a socie-dade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

(Paulo Freire)

comunidade de aprendizagem investigativa:

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 97

comunidade de aprendizagem investigativa:

o gigante e as crianças

Em uma vila nas montanhas Altai, não ha-via crianças porque, naquelas cercanias, mo-rava um terrível gigante que as levava embora logo que começavam a andar. Os jovens ca-sais, vendo o desespero dos pais das crianças raptadas, temiam ter filhos e sofrer também. Assim, a vila foi lentamente se tornando um lugar em que só habitavam idosos, até que um casal resolveu que teria um bebê, custasse o que custasse.

Quando o menino nasceu, esconderam-no numa gruta e, quando ele já podia entender o que lhe diziam, contaram-lhe que teria que ser corajoso, pois um dia precisaria enfrentar o gigante. O menino aprendeu a correr a grande velocidade e a atirar com arco e flecha. Quando ele completou oito anos, o pai falou-lhe:

- Meu filho, precisamos libertar este lugar da tirania do gigan-te. Quero que você venha até as montanhas e lute ao meu lado. Mas, para que possamos vencer, você deve confiar completamen-te em mim.

A criança concordou. Sabia que o pai era um homem de muita coragem, além de ser o melhor arqueiro da vila. A viagem rumo à caverna do gigante durou dois dias. Assim que chegaram às montanhas, ouviram o ruído dos passos dele:

- É agora, meu filho! – sussurou o pai.Em seguida, pôs o menino diante de uma árvore e lhe disse:- Não se afaste da árvore e tenha confiança em mim. Virei

buscá-lo quando chegar a hora.O menino passou a tarde toda esperando pelo gigante. Quando

o sol já desaparecia no horizonte, ele surgiu. O garoto estremeceu, assustado, porque o gigante era muito mais terrível do que ele ha-via imaginado. A voz era cruel, o olhar duro, os gestos violentos.

- Ah! – disse o gigante quando o viu. – Ganhei uma criança de presente hoje! Que bom! Eu estava mesmo morrendo de fome!

O gigante abaixou-se para pegar o menino. O garoto sentiu uma vontade imensa de fugir, mas lembrou-se das palavras do

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias98

comunidade de aprendizagem investigativa:

pai e, reunindo toda a sua coragem, permaneceu imóvel. Foi então que uma flecha certeira atingiu a testa do gigante, que caiu morto. O pai correu ao encontro do filho e abraçou-o, dizendo:

- Obrigado, meu filho! Conseguimos vencer! Obrigado por con-fiar em mim!

Com a morte do gigante, a felicidade voltou a reinar na vila. As pessoas jamais se esqueceram da coragem daquele home e da confiança daquele menino. Por isso, esta história é contada até os dias de hoje.

(História do folclore da Ásia Central)

– Escreva a moral da história, tendo presente o título deste capítulo, as frases iniciais e as perguntas que foram colocadas para pensar, discu-tir e construir ideias na C.A.I..

É preciso encontrar um ponto comum para, a partir dele, entender as várias posições sobre o alcance e a função da ética nos períodos históri-cos que abordaremos neste capítulo.

Por isso a ética (como ciência) clareia a consciência humana, dá rumo à conduta individual e social das pessoas. É uma criação histórico-cultu-ral. Sendo assim, há variações do conceito de virtude, do bem e mal, certo

e errado, consentido e proibido, etc., para cada cultura e sociedade.A ética torna-se universal, na medida em que estabelece formas

de conduta moral, válidas para todos os membros de determi-nada sociedade. Essas formas de conduta moral levam em conta o contexto social, político, econômico e cultural em

que as pessoas vivem e onde realizam as ações morais.Hoje é grande o volume de publicações e dis-

cussões sobre a ética em todo o mundo, nos di-versos ramos do conhecimento (ética na política,

na indústria, na escola, no esporte, na economia,

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 99

nos meios de comunicação). Também é grande o interesse pelo estudo da filosofia, principalmente a parte da Axiologia ou Filosofia dos Valo-res. Há movimentos populares, associações e entidades exigindo ética na vida pública, na vida social e até no comportamento pessoal.

Considere que faremos agora um sobrevoo na história do comporta-mento moral, principalmente para visualizar a ética moderna, a contem-porânea e a postura ética diante das questões da cidadania num mundo tecnológico, excludente, materialista e consumista.

a ética no Período moderno

Entre o século XVI até o começo do século XIX, o ponto principal das reflexões éticas foi a tendência antropocêntrica (= o homem é o centro de tudo. Na Idade Média era a ética teocêntrica = Deus é o centro de tudo).

Nesse período, aconteceram mudanças variadas na economia, na ideia de ciência (Galileu, Newton), nas relações de produção (capitalismo), sur-giu a burguesia, apareceram grandes Estados, únicos e centralizados. A Igreja Católica deixou de ser a única representante do cristianismo, pois os movimentos de Reforma (Luteranismo e Calvinismo, etc.) terminaram com a unidade cristã medieval. Vemos nesse período, portanto, as separações:

¨ a razão da fé (filosofia diferente de teologia);

¨ o mundo da natureza do mundo espiritual (ciências naturais diferente das ideias teológicas);

¨ o poder terrestre do poder divino (forças políticas autônomas);

¨ o homem de Deus.

O homem afirmou seu valor nos diversos campos, pois, vendo-se cor-póreo, sensível, dotado de razão e vontade, interferiu na ciência (como meio para resolver suas necessidades humanas), na natureza (pode trans-formá-la ou usá-la para produzir bens materiais) e na arte (pode repre-sentar tudo).

No período antropocêntrico, o homem interveio nas diversas áreas do saber e também no comportamento moral. Passou a criar e legislar sobre diferentes domínios, até sobre a moral.

Com Kant, inicia uma filosofia e uma ética que aceitam e veem o homem antes de tudo como um ser ativo, produtor e criador do compor-tamento moral.

a ética no Período contemporâneo

Alguns pensamentos éticos, surgidos no século XIX, ainda exercem in-fluência nos dias atuais. Correntes filosóficas expuseram maneiras de ver e entender o mundo, o homem e a sociedade, e estruturaram as ideias e as

emmanuel Kant (1724-1804) é o grande filósofo dessa época, com suas obras fundamentais: Fundamentação da metafísica dos costumes (1785) e Crítica da razão prática (1788). Para ele, é um fato indiscutível que o homem se sinta res-ponsável pelos seus atos e tenha consciência de seu dever. Daí vem o seu imperativo categórico:

“Age de maneira que pos-sas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”.

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias100

ações do homem no mundo. Entre as principais, temos: o existencialismo (Kierkegaard, Sartre), o marxismo (Marx), o anarquismo (Max Stirner).

Temos a ética contemporânea, na sua fase mais recente, conhecendo o sistema socialista, a descolonização, a globalização, avanços tecnológi-cos, biológicos, modificações nas relações entre pessoas, produção (tra-balho), crenças...

A ideia contemporânea mostra-se como reação contra o formalismo e o universalismo abstrato de Kant, em favor de um homem concreto, um indivíduo, um homem social (existencialismo). Ela é contra o raciona-lismo absoluto, reconhecendo o irracional no comportamento humano e buscando a origem ética no próprio homem.

No existencialismo, a partir de Kierkegaard, há três estágios na exis-tência individual – o religioso, o ético e o estético. O estágio superior é o religioso (a fé como relação pessoal, subjetiva com Deus); o seguinte é o ético, em que a pessoa se comporta por normas gerais, nas quais não há autenticidade. Já para Sartre, outro existencialista, Deus não existe. Na medida em que o fundamento último dos valores está abolido, não podemos falar de valores, princípios ou normas. O homem é, então, fun-damento sem fundamento (não tem razão para ser).

Para Sartre, o homem é liberdade. Essa é a única fonte de valor, pois, ao escolher, o homem cria o seu valor. Dizia Sartre que cada ato ou cada indivíduo vale moralmente não por sua submissão a uma norma ou a um valor estabelecido, mas pelo uso que faz da própria liberdade. Sendo a liberdade um valor supremo, valioso é escolher e agir livremente. A crí-tica à ética de Sartre reside no cunho libertário e individualista, pois o homem assim se define:

■ por ser livre para escolher (não há circunstâncias); e ■ pela radicalidade da escolha (considera-se o outro, mas não deixa

a sua liberdade).Outro comportamento ético contemporâneo é o pragmatismo, defen-

dido por filósofos americanos já nas primeiras décadas do século XX. Pierce, James, Dewey são os filósofos pragmáticos.

Característica marcante desta corrente é a identificação da verdade como sendo útil, ou seja, aquilo que melhor contribuir para viver e conviver. As-sim, na ética pragmática vemos que algo bom equivale a dizer que conduz à obtenção de um fim, para chegar ao êxito. Temos, então, valores, princípios e normas que podem variar de acordo com cada situação. O bom é o útil.

O marxismo tem como reflexão ética uma explicação e crítica sobre as morais do passado e busca evidenciar de maneira teórica e prática uma nova moral. Para Marx, o homem é um ser concreto, real, espiritual e sensível, teórico e prático. Pelo seu trabalho é produtor, transforma-dor, criador. Um ser social, pois pelo seu trabalho estabelece relações de produção que são relações econômicas, sociais, políticas e ideológicas. Algumas teses do marxismo para a ética são as seguintes:

existencialismo – Movimento filosófico

constituído por diversas doutrinas unidas no

objeto de reflexão que é a existência humana. Principal representante

foi Sartre.

Pragmatismo – Corrente filosófica segundo a qual

a eficácia na aplicação prática fornece o critério para determinar a verda-

de das proposições.

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 101

¨ O comportamento moral estabelecido tem uma função social e é ideoló-gico. Conforme os interesses da classe dominante, são estabelecidas as relações e condições da existência humana. É uma moral de classe.

¨ Numa mesma sociedade podem coexistir várias morais, pois a cada classe temos uma conduta moral correspondente.

¨ Essa moral de classe é relativa, porém está num processo de busca da mo-ral humana e universal. Os homens, vivendo em sociedade, necessitam da moral, pois ela tem uma função social. O que implica em uma nova moral, que deixe de ser expressão das relações sociais alienadas.

Para Marx, os valores da moral, como liberdade, felicidade, raciona-lidade, respeito à subjetividade e à humanidade das pessoas, são falsos numa sociedade que tem como fundamento a exploração do trabalho, a desigualdade social e econômica e a exclusão social.

Só mudando a sociedade é que poderá haver uma ética concreta. En-quanto houver essa organização social violenta, onde uma parte dos ho-mens é tratada como coisa ou instrumento ou meio, não se concretiza o imperativo categórico de Kant: “age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”.

a ética hoje

Conforme a frase de Kant colocada acima, temos como centro a cons-ciência moral e, portanto, a responsabilidade moral da pessoa. Assim, o dever ético apela para o pessoal, individual, mesmo porque não se vive sozinho no mundo. O filósofo Theodor Adorno (1903-1969) diz que a ética está reduzida a algo individual, privativo.

Como vimos, os filósofos defendiam que a liberdade acontece etica-mente dentro das instituições históricas e sociais, como na família, na sociedade civil e no Estado. O filósofo Hegel afirmava que “o Estado é a realidade efetiva da ideia ética”.

Hoje os grandes problemas éticos estão ao redor da família, da sociedade civil e do Estado. Então, ao ver uma ética concreta, não podemos deixar de lado essas estruturas em que estamos inseridos.

A humanidade no século XX sentiu-se abalada em duas ocasiões. Foram episódios devastadores os de 1914-1918, a Primeira Guerra Mundial, e de 1939-1945, a Segunda Guerra Mundial. Esses acontecimentos atingiram todos os aspectos da vida e da cultura mundial. Houve um repensar sobre a sociedade, a política, os costumes, as crenças, saberes e ciências. Algumas análises, diagnósticos e previsões apon-tavam para uma responsabilidade ética para a humanidade numa perspectiva otimista, e outras mostravam um fim fatal.

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias102

No período de 1980, temos o início da chamada “idade da ética”. Nas linguagens religiosas, nas filosofias, nas políticas, nas ciências humanas em geral, os temas éticos passam a ser privilegiados, e a exigência ética no com-portamento do homem desencadeou uma nova maneira de ser na sociedade.

Na década de 1990, a crise maior da humanidade aconteceu no terre-no das razões de viver e nos fins que dão sentido ao viver. Estamos hoje numa crise ética, anunciada no presente, mas que será do futuro. Ela não é a crise do Ter, mas a crise do Ser. É a busca entre sentido e não-sentido. Aqui se localiza a crise onde se desenrolam os temas éticos, tanto na lin-guagem quanto nas preocupações do mundo ocidental.

Voltando ao lugar dos acontecimentos dos grandes problemas éticos de hoje – a família, sociedade civil e o Estado –, deparamo-nos com uma ética concreta. Então, cabe uma investigação e reflexão sobre essas ques-tões e outras mais, como as seguintes:

O que é Ética no Relacionamento Familiar? ■ Quem dita os direitos e deveres dos pais e filhos? ■ A autoridade dos pais vem de onde? ■ Que tipo de educação deve ser dada aos filhos? ■ Quem dá as ordens da casa são os pais ou os filhos? ■ Quem pode querer impor a sua vontade, os pais ou os filhos? ■ O amor é um sentimento livre? ■ Qual o sentido de fidelidade que temos hoje? ■ O que dizer hoje da promessa do “sim, até que a morte os se-

pare?” ■ Qual deve ser a nova ética nas formas de relacionamento he-

terossexual? ■ Como fundamentar as diferentes escolhas de vida, desde a vida

celibatária até a homossexual?

O que é Ética no Relacionamento da Sociedade Civil? ■ Numa sociedade excludente, como falar de ética onde a pro-

priedade é um privilégio de poucos? ■ O que dizer quando o desemprego é alto e a perspectiva de

salário justo é baixa? ■ Quais as formas de exploração da mão-de-obra num sistema

capitalista? ■ Numa sociedade civil composta de analfabetos (nas letras e na

política), falar de ética é sempre pensar em revolucionar toda uma situação atual?

Ouvimos constantemente dizer que é necessário ter em nosso país uma reforma do Estado (reforma política, fiscal, estrutural…). O discurso

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 103

é longo e duradouro, pois parece que não há interesse que isso venha a acontecer. De outro lado, vemos que não haverá reforma do Estado se não houver uma reforma ética sobre a ideia do bem comum e do bem público – “o que é de todos e é de ninguém” –, da propriedade particular, que hoje nas doutrinas éticas é vista como uma forma de extensão da personalida-de humana, do seu corpo, de sua segurança pessoal e, acima de tudo, da sua autoconfiança sobre o mundo em transformação.

O que é Ética no relacionamento com o Estado?Temos aqui problemas éticos complexos. Somente há liberdade do

indivíduo quando se respeita a liberdade do cidadão em um Estado livre e de direito. Portanto, com as leis: a Constituição, os Direitos Humanos, a definição e divisão dos poderes para evitar abusos, a prática de eleições periódicas. Ninguém é livre numa ditadura. O questionamento sobre a função do Estado está entre dois lados, que são:

■ os Estados existem de fato, pois buscam um interesse comum universal, deixando os interesses de classes ou de pequenos grupos; ou

■ os Estados são aparelhos conquistados por grupos ou classes para deles fazer uso como instrumento de hegemonia, para do-minação e exploração.

Inquieta muito em nossa consciência moral toda forma de política ditatorial, totalitária e autoritária. Quem gosta de ser mandado de forma arbitrária? Quem de livre consciência gosta de ser submetido a uma for-ma de incapacidade de escolha, de ação, de questionamento e mudança? O que está sustentando hoje as relações internacionais?

O que dizer deste problema moderno que enfrentamos e vivenciamos, que é a massificação? Essa massificação acontece nas relações de traba-lho, na vida social e familiar. As pessoas são colocadas cada vez mais na função de simplesmente aceitar as coisas, de serem indiferentes aos fatos, perdendo a arte de falar e de se expressar, perdendo, por isso, a voz e a vez. Filósofos do nosso tempo falam de despolitização das massas, do desaparecimento ou da dominação do espaço público.

a cidadania e a Sociedade tecnológica

Há uma inversão dos valores morais, os quais são o fundamento da ética. O progresso científico e tecnológico, rápido, grande e intenso, fruto do trabalho do homem, faz com que este mesmo homem seja colocado em segundo plano.

O trabalho alienado, fruto desse tempo, transforma o homem em mais uma mercadoria, deixando de ser sujeito das situações, perdendo sua “humanidade”. Por isso, em nossa sociedade capitalista, o dinheiro, a

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias104

produção, a posse e o consumo são valorizados em demasia, o ter é tido como uma busca, em detrimento do ser.

A não valorização da pessoa leva à valorização do dinheiro, do lucro e do poder. É comum, então, a pergunta diante da ação do homem: “o que você vai ganhar com isso?”. Só assim podemos entender alguns fatos que são notícias e muitas vezes tratados com indiferença ou mesmo com o consentimento por muitos:

¨ corrupção e desvio de dinheiro do sistema previdenciário;

¨ superfaturamento de obras públicas, “caixa dois” em órgãos públicos e empresas sonegadoras;

¨ uso do cargo, poder, em benefício próprio e/ou de grupo restrito;

¨ desvios de verbas da saúde, educação e moradia;

¨ execução de projetos mirabolantes em detrimento do auxílio à parcela pobre da população;

¨ a Justiça tendo dois pesos e duas medidas.

A sociedade tecnológica, da qual fazemos parte, pode causar muitos problemas A massificação di-fundida pelos meios de comunicação, assim como a informática pode contribuir para alienar e tirar o espírito criativo das pessoas. Dessa forma, a domi-nação se tornar cada vez mais intensa. Ao mesmo tempo, nas pessoas que utilizam o espírito crítico,

essas mesmas tecnologias e meios de comunicação podem possibilitar a realização da singularidade.

A realidade está aí, mas isso não significa que será sempre essa. Nossa capacidade de escolher, por-

tanto, nossa liberdade e responsabilidade ética, por nossa capacidade de escolher e sermos livres, têm uma finalidade maior. Como vimos, a finalidade da ética é a de nos fazer viver bem, é a arte de escolher o que mais nos convém e viver do melhor modo possível.

Ao colocarmos no centro, como valor fundamental, o ser humano, a ciência e a tecnologia poderão abrir espaços nos quais o homem será autor de seu pensar e viver. Com a rede de computadores, é possível uma comunicação com o mundo de forma prática e instantânea. A aprendi-zagem, a vivência democrática e a participação política de cada pessoa poderão ser ampliadas a ponto de vermos a singularidade como a con-dição básica para a cidadania. E este será um forte incentivo para a vida coletiva e para o ser autônomo pensar, agir e buscar sua realização.

Somos, portanto, convocados a ser felizes. Podemos ficar esperando dos outros a solução dos problemas, mas estaremos delegando algo que é essencial, que é a nossa liberdade, nossa possibilidade de escolha. Ao re-

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 105

solvermos ser os autores da vida particular e da vida política em geral, es-taremos fazendo uma ação consciente e responsável nas escolhas éticas, nos atos políticos e, assim, construindo-nos como verdadeiros cidadãos.

A filosofia pode nos ajudar nesse empreendimento, quando apren-demos a refletir, a ver o todo e as partes de cada fato. A medida deve ser o homem colocado no centro das questões, dos valores. Assim, a ciência e a tecnologia contribuirão para uma ação cidadã efetiva, mini-mizando os grandes problemas, como a miséria (material e espiritual), tão presentes em nosso cotidiano, e o individualismo (como omissão na participação política).

comunidade de aprendizagem investigativa:

a ética, a estética e a emancipação humana

Dentro da filosofia, temos uma linha de investigação e estu-dos chamada axiologia (as definições mais comuns de axiologia são as seguintes: ramo da filosofia que estuda os valores; ciência dos valores; padrão dominante de valores em determinada so-ciedade. Etimologicamente, significa “teoria do valor”, “estudo do valor” ou “ciência do valor”).

A axiologia envolve-se com reflexões éticas e estéticas. Atu-almente a discussão sobre valores ganha maior relevância devi-do aos avanços do progresso tecnológico e, por outro lado, ca-minha num sentido quase inverso às capacidades humanas de garantir um sentido ético, estético e emancipatório para a vida em coletividade.

A sociedade está cada vez mais globalizada e tecnologica-mente avançada, mas a maioria da população vive submetida a processos de exclusão e violência sem precedentes. Existe uma ética que atende muito mais aos interesses do mercado do que às necessidades das pessoas. Tem-se o desenvolvimento das ciências e, ao mesmo tempo, a banalização da vida e desuma-nização do ser.

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias106

Participar da sociedade no mundo globalizado é adquirir uma consciência ética e estética orientada por princípios axiológicos. E isto implica fazer constantemente uma reflexão e investigação ética, estética e política, que dá condições ao indivíduo de ser consciente de si e dos outros. Reconhecendo a existência dos outros como sujeitos éticos iguais, dotados de vontade, isto é, ca-pacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos, capacidades de escolhas e decisões entre várias al-ternativas.

Nessa sociedade e mundo globalizados, ser ético, estético e po-lítico é reconhecer-se como autor das ações, capaz de avaliar os efeitos e consequências sobre si e os outros, respondendo por elas. Portanto ser livre, capaz de entender os sentimentos, atitudes e ações, e não estar submetido a poderes externos (coações) que for-cem ou constranjam nosso sentir, decidir, querer e fazer qualquer coisa. Em outras palavras – Ser Ético é ser autônomo (“autono-mia” vem do grego autos, que significa: “o mesmo”, “ele mesmo” e “por si mesmo”. Nomos, por sua vez, significa: “compartilhamen-to”, “lei do compartilhar”, “instituição”, “uso”, “lei”, “convenção”. Neste sentido, autonomia significa propriamente a competência humana em “dar-se suas próprias leis”).

Ser autônomo é ser emancipado. Mas não é só a ética que emancipa o ser humano. A estética (área da filosofia que estu-da racionalmente o belo – aquilo que desperta a emoção estética por meio da contemplação – e o sentimento que ele suscita nos homens. A palavra estética vem do grego aesthesis, que signifi-ca conhecimento sensorial ou sensibilidade, e foi adotada pelo filósofo alemão Alexander Baumgarten (1714-1762) para nomear o estudo das obras de arte como criação da sensibilidade, tendo por finalidade o belo) tem contribuição importante com a ética e a política neste processo. A arte desperta o sentimento nacional e cívico, como também a consciência moral e religiosa. A estética é instrumento de educação do povo. E a sua função social e coletiva é transformar o caráter do povo, visando a formar o homem que age por convicção própria, de acordo com a lei moral e universal que se aplica para toda a humanidade.

Portanto, a reflexão ética e estética concederá percepção para os acontecimentos e ideologias que o circundam e autonomia para agir moralmente conforme ponderações de sua consciência. Essa ação será baseada no bem-estar de si, do outro e da sociedade (vi-vência política).

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 107

comunidade de aprendizagem investigativa:1. Na C.A.I., com os alunos divididos em grupos, vamos pesquisar

pensando sobre os grandes avanços relacionados aos direitos e deveres ocorridos nos últimos anos em nosso país, seja nas áreas tecnológicas, da saúde, na ordem política e social . Após ter sido feita a pesquisa, cada grupo irá apresentar aos colegas o que encontrou, para dar início a uma discussão sobre os avanços e os progressos na valorização do ser humano e ampliação da vida política.

2. Vamos entrevistar pessoas que trabalham com a informática e de-pendem dela para viver. Como seria o mundo se toda essa tecnologia terminasse hoje? Organize outras perguntas e procure, junto com os en-trevistados, encontrar alternativas.

3. Na disciplina de Língua Portuguesa, cada aluno irá produzir um texto. Este texto será produzido a partir das discussões levantadas pe-las perguntas colocadas no subitem “O que é Ética no relacionamento familiar?”. Os melhores textos serão enviados ao endereço [email protected] e colocados no Corujinha, jornal de ideias da Filosofia com crianças, adolescentes e jovens.

4. Qual a relação que existe entre Ética, Política e Estética, subtítulo de nosso livro no 8º e 9º ano?

5. No capítulo sobre a defesa de uma ética emancipatória, várias ve-zes você leu e discutiu sobre globalização. O que é globalização?

Vamos então assistir ao vídeo “Os dois lados da globalização”, cantar a música “Globalização” e discutir sobre a letra. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=3_I3vV0t8YQ&feature=related

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias108

globalização

Tribo de Jah

- Globalização é a nova ondaO império do capital em açãoFazendo sua rotineira ronda

- No gueto não há nada de novoAlém do sufoco que nunca é poucoAlém do medo e do desemprego, da violência e da im-paciênciaDe quem partiu para o desespero numa ida sem voltaAlém da revolta de quem vive às voltasCom a exploração e a humilhação de um sistema im-piedosoNada de novoAlém da pobreza e da tristeza de quem se sente traído e esquecidoAo ver os filhos subnutridos sem educaçãoCrescendo ao lado de esgotos, banidos a contragosto pela sociedadeDeclarados bandidos sem identidadeQue serão reprimidos em sumária execuçãoSem nenhuma apelação

- Não há nada de novo entre a terra e o céuNada de novoSenão o velho dragão e seu tenebroso véu de destruição e fogoSugando sangue do povo,De geração em geraçãoEspeculando pelo mundo todoÉ só o velho sistema do dragãoNão, não há nenhuma ilusão, ilusãoSó haverá mais tribulação, tribulação

- Os dirigentes do sistema impõem seu lema:Livre mercado, mundo educado para consumir e existir sem questionar

Não pensam em diminuir ou domar a voracidadeE a sacanagem do capitalismo selvagemCom seus tentáculos multinacionais querem mais, e mais, e mais...Lucros abusivosGrandes executivos são seus abastados serviçaisNão se importam com a fome, com os direitos do homemQuerem abocanhar o globo, dividindo em poucos o boloDeixando migalhas pro resto da gentalha, em seus mui-tos planosNão veem seres humanos e os seus valores, só milhões e milhões de consumidoresSão tão otimistas em suas estatísticas e previsõesFalam em crescimento, em desenvolvimento por muitas

e muitas gerações- Não há nada de novo entre a terra e o céuNada de novoSenão o velho dragão e seu tenebroso véu de destruição e fogoSugando sangue do povo,De geração em geraçãoEspeculando pelo mundo todoÉ só o velho sistema do dragãoNão, não há nenhuma ilusão, ilusãoSó haverá mais tribulação, tribulação

- Não sentem o momento crítico, talvez apocalípticoOs tigres asiáticos são um exemplo típico,Agora mais parecem gatinhos raquíticos e asmáticosSe o sistema quebrar será questão de tempoAté chegar o racionamento e o desabastecimentoQue sinistra situação!O globo inchado e devastado com a superpopulaçãoTempos de barbárie então virão, tempos de êxodos e dis-persãoA água pode virar ouroO rango um rico tesouro

- Globalização é uma falsa noção do que seria a inte-gração,Com todo respeito à integridade e a dignidade de cada nação

- É a lei infeliz do grande capital,O poder da grana internacional que faz de cada país apenas mais um seu quintalÉ o poder do dinheiro regendo o mundo inteiro

- Ricos cada vez mais ricos e metidosPobres cada vez mais pobres e falidosGlobalização, o delírio do dragão!

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Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias  •  Capítulo 7 109

objetivo: Colocar os alunos em contato com seus próprios valores, levando cada

um a refletir sobre o que considera mais importante em sua vida.

tempo de duração: Uma aula.

material necessário: Quadro negro, giz, papel ofício, canetas.

descrição:1 - Escrever no quadro negro, com letras grandes (de maneira que todos

possam ler), algumas frases que expressem uma atitude diante da vida ou um valor.

Ex.: - Para ir a uma festa, Carlos não hesitou em gastar as economias que tinha para comprar uma calça nova (valor subtendido: a impor-tância do ter).

- Stefane ofereceu-se para cuidar da irmã caçula para sua mãe ir ao supermercado, mesmo tendo que adiar o encontro com o namorado (valor subtendido: solidariedade, o que é mais importante para todos).

Podem ser usadas frases mais diretas e objetivas, com valores explí-citos e não subtendidos. Estabeleça o que é mais importante:

- Ir a uma festa. - Sair com o(a) namorado(a). - Cuidar da irmã caçula (ou irmão). - Almoçar em família. - Ir visitar parentes. - Sair com amigos. - Estudar para uma prova. - Ter o DVD mais recente do grupo do momento. - Ir ao ponto de encontro dos amigos. - Fazer o trabalho de escola.

emancipação pelos valores – axiologia

A atividade na C.A.I. é um momento de síntese de todo capítulo, bem como uma preparação dos entendimentos sobre estética e política, pois implica em decidir, ter responsabilidade, fazer escolhas e agir.

Construindo a C.A.I.

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Capítulo 7  •  Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias110

2 - Distribua as folhas de papel ofício entre os participantes e peça que eles a dobrem ao meio, de maneira que elas terão um lado direito e outro esquerdo.

3 - Peça que leiam com atenção as frases escritas.4 - Em seguida, peça que escrevam do lado direito da folha, em ordem

de importância, as atitudes que fazem parte da sua maneira de agir no cotidiano.

5 - A seguir o participante deverá colocar em primeiro lugar o que para ele é o valor mais importante de todos e assim sucessivamente, até que tenha escolhido pelo menos cinco valores.

6 - Após todos terem terminado, o facilitador pede que, do lado esquer-do da folha, o participante escreva: quando eu era criança, as coisas mais importantes para mim eram...

7 - Depois peça que os participantes leiam as frases, comparando e esta-belecendo a diferença entre a escala de valores que têm hoje e a que tinham quando eram crianças.

8 - Em seguida pedir aos participantes que discutam com seus colegas mais próximos sua lista de valores atuais (lado direito da folha).

9 - Todos os participantes devem discutir, em pequenos grupos, sua or-denação de valores, estabelecendo a comparação com a dos colegas.

10 - Depois todos devem voltar para o grupão, onde o professor coorde-nará a discussão, definindo:

- A escala de valores do grupo (a partir da verificação de quais valo-res aparecem mais em primeiro lugar, em segundo etc.).

- A escala de valores que os participantes tinham quando eram crianças.

- A diferença entre uma escala e outra. - Que tipo de sociedade e vida em grupos os valores apresentados

tendem a construir.

comentários:1) É uma oportunidade para os adolescentes se perceberem enquanto

uma pessoa em mudança, com questionamentos sobre os valores que tinham em sua infância, uma vez que, geralmente, os valores da infância refletem o comportamento que os pais esperavam deles.

2) É possível que se encontre uma verdadeira inversão de valores entre a infância e o momento atual.

3) É importante que, nestes casos, o professor, sem criticar, aponte a necessidade que o adolescente tem de contestação, sua busca per-manente de autoafirmação e diferenciação da família ou dos pais.

4) É importante que a atividade seja aplicada em um grupo que já te-nha alguma convivência entre si e com o professor.

5) O professor tem que ter segurança da sua capacidade de interferên-cia no grupo, caso haja uma tendência de conflito entre os partici-pantes (se sentirem pessoas vazias, superficiais etc., por causa dos valores que descobrem ter).

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Conhecendo alguns filósofos que refletiram sobre a Ética, a política e a estética

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Complemento Filosófico  •  Conhecendo alguns filósofos que refletiram sobre a Ética, a Política e a Estética112

mundo da grécia cláSSicao comportamento ético ligado à vida da Pólis

Para o mundo filosófico grego clássico, os problemas éticos e políticos ti-nham um destaque. Após o naturalismo dos pré-socráticos (Tales, Heráclito, Parmênides, Anaxágoras, Empédocles…), há uma preocupação com os pro-blemas políticos e morais do homem na sociedade. Por isso, as ideias de Só-crates, Platão e Aristóteles sobre a ética e a política estão ligadas a uma comu-nidade limitada e local – o Estado-cidade ou a Pólis, principalmente Atenas.

Filósofos naturalistas: dedicavam-se ao problema de determinar o prin-cípio material de que era constituída a ordem da natureza. Foram cha-mados de naturalistas porque procuravam responder a questões do tipo: O que é a natureza? Qual é o fundamento último das coisas? Tinham como principal objetivo viver para contemplar a natureza.

Sócrates (470-300 a.C)o “perguntador”.

Na democracia ateniense, temos a arte da conversação como principal instrumento da convivência social. Por isso, Sócrates perguntava, inqui-ria as pessoas sobre assuntos que eram do dia a dia. Mostrava que, no plano das opiniões, todos têm razão, e por isso mesmo, ninguém a tem. Ampliando o diálogo pelas perguntas, queria chegar à essência das coisas.

Há quem diga que, a partir de Sócrates, começou de fato a existir a Filosofia, pois ela chegou à sua maturidade. Sem dúvida, ele é o destaque da filosofia clássica grega. Não escreveu nada, mas falava e muito, inter-rogava as pessoas sobre suas crenças, buscava um conhecimento mais elaborado. Percebia e fazia perceber que, quanto mais conhecia, mais tinha consciência de que sabia muito pouco.

Sócrates participou do apogeu e da crise na democracia ateniense. A vida cultural de Atenas era repleta de escultores, artistas, dramaturgos, historiadores, filósofos, oradores, grandes personalidades, como médicos (Hipócrates) e homens públicos (Péricles).

Filho de um escultor e de uma parteira, era conhecido em Atenas como “sábio”, isso com cerca de 40 anos. Nessa fase madura da vida, dizia ter recebido uma missão. Sócrates perguntava simplesmente, não queria en-sinar a ninguém, queria aprender. Muitas vezes seu pensamento parecia desprovido de conteúdo. Ao perguntar, destruía as respostas fáceis, pois se a resposta é fácil é porque a pergunta foi mal formulada e assim só contor-na o problema. Por isso, ele propõe formular perguntas adequadas, a partir

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Conhecendo alguns filósofos que refletiramsobre a Ética, a Política e a Estética  •  Complemento Filosófico 113

de um método de investigação que encaminhe o pensamento em direção à essência das coisas, sem desvios. Comparava seu caminho de investigação com o trabalho da sua mãe, que era parteira, pois auxiliava os homens a trazerem à tona um conhecimento que estava dentro de cada um.

Além de conversar sobre assuntos do dia a dia com as pessoas, o que queria era esclarecer sobre o que é o homem e suas ações – principal-mente as ações consideradas virtuosas. Nessa época, ser virtuoso era si-nônimo de “ser cidadão”. Suas perguntas corriqueiras eram: o que é a sabedoria? A virtude? A beleza? A coragem? A justiça?

Para Sócrates, conhecimento e virtude eram sinônimos, pois só prati-ca o mal quem ignora o que seja a virtude. Quem conhece o que é virtude só pode agir bem. Com ele, as questões morais deixaram de ser tratadas como convenções baseadas nos costumes, que podem mudar pelas cir-cunstâncias e interesses, e se tornaram problemas que exigem do pensa-mento um esclarecimento racional.

O esclarecimento racional nas questões morais leva a uma denúncia de tudo o que aparecia como virtude, fazendo, assim, aparecer a sua fal-sidade. Desta forma, Sócrates pôs às claras a sociedade ateniense, que estava mergulhada em vícios e na corrupção e fingia ser justa. Com isso, os governantes decidiram condená-lo. O pretexto foi o de que ele ofendia os deuses da cidade e corrompia a juventude. Aos 70 anos foi condenado em um julgamento, após fazer sua própria defesa, na qual não pediu per-dão. Sua morte foi decretada. Deveria beber um cálice de cicuta (veneno extraído de pequena planta que crescia nos pântanos perto de Atenas). Para ele a lei era soberana. Por isso, não fugiu, como poderia tê-lo feito.

É do seu discurso de defesa diante do tribunal ateniense:

“Enquanto respirar e estiver em condições, não deixarei nunca de filo-sofar, exortando-os e desmascarando-os sempre que estiver entre vocês e lhes direi, como de costume: bom homem, pois que és da cidade de Atenas, a maior e mais famosa por sua sabedoria e poder, tu não te envergonhas de procurares o quanto for possível de dinheiro, fama e honrarias, mas de não te preocupares e cuidares da sabedoria, da ver-dade e de que tua alma se torne tão boa quanto possível? (…) é chegada a hora de partir: a mim, para morrer; a vós, para viver. Quem de nós enfrentará o melhor destino é desconhecido de todos, exceto de Deus”.

Quando Sócrates usa sua máxima “conhece-te a ti mesmo”, fala em três aspectos:

■ é um conhecimento universalmente válido; ■ é antes de tudo um conhecimento moral; e ■ é um conhecimento político – conhecer-se para agir correta-

mente.

Assim, a ética socrática é racionalista, pois nela encontramos:

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Complemento Filosófico  •  Conhecendo alguns filósofos que refletiram sobre a Ética, a Política e a Estética114

¨ uma concepção do bem (como felicidade da alma) e do bom (como o útil para a felicidade);

¨ uma tese da virtude (conhecimento do vício como ignorância – quem age mal é porque desco-nhece o bem; assim ninguém faz o mal voluntariamente);

¨ que a virtude pode ser transmitida ou ensinada.

Há uma ligação entre bondade, conhecimento e felicidade. O homem sempre age certo quando conhece o bem e, conhecendo o bem, não pode deixar de praticá-lo; da mesma forma, quando deseja o bem, por isso se sente dono de si mesmo e assim é feliz.

Para ler e Saber mais…

a defesa de Sócrates

Como Sócrates não escreveu nenhuma linha sequer, conta-nos a tra-dição filosófica que ele pelo diálogo (método da Maiêutica: pergunta/resposta) fazia sua Filosofia. Foi condenado sob a acusação de corrom-per a juventude, ter atitudes e ideias contra os deuses da Pólis. Lemos isso no livro de Platão A Defesa de Sócrates1, que relata o processo e a condenação de Sócrates, em 399 a.C.. Foi acusado por Meletos, Anitos e Líncom, por corromper a juventude e de introduzir novos deuses, além de questionar outros já existentes na cidade.

O conteúdo do livro de Platão se apresenta em três partes. A primei-ra fala das objeções de Sócrates às acusações a ele impostas. Na segunda parte Sócrates se defende da sentença, que segundo o costume e as leis era a pena merecida. Na terceira parte Sócrates reflete sobre o sentido político e filosófico que representava sua condenação à morte.

Neste julgamento Sócrates não queria convencer o júri de sua inocência, nem buscar ajuda de outros para tal fim. Ele mesmo faz a exposição da verdade, com toda sua crueza. Por isso, não satis-feito em mostrar que as acusações eram tolas, assume o papel que escolheu cumprir na cidade. Assim propõe que a cidade, em reco-nhecimento aos seus serviços, viesse a sustentá-lo gratuitamente. É óbvio que tal proposta soou como provocação e contribuiu para sua condenação à morte pela grande maioria dos juízes.

A defesa de Sócrates é, mais que qualquer outro escrito, uma modelagem do caminho para o surgimento do primeiro mártir da Filo-sofia. “Bem, é chegada a hora de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue melhor destino, se eu, se vós, é segredo para todos, exceto para a divindade”. O livro “Apologia de Sócrates (ou defesa...) é responsável por ampliar a imagem do Sócrates emblemático, persegui-do pelos poderes constituídos, e até pela opinião do povo.

1 Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

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Conhecendo alguns filósofos que refletiramsobre a Ética, a Política e a Estética  •  Complemento Filosófico 115

Platão (427-347 a.C.)“A visão do outro”.

Discípulo de Sócrates, é responsável pela primeira sistematização do conhecimento filosófico. Afirma-se que quase tudo o que a Filosofia toma como tema para investigação tem origem em Platão, seja para aprofundar ou para ir contra.

Como seu mestre, ele tem críticas à vida política e cultural de Atenas, tanto pelo falso saber quanto na questão dos valores humanos. Em seus escritos, temos críticas à política de Atenas, que tinha orgulho de que seu modo de governo era o mais justo, mas se desgastava de injustiça em injustiça. Escreveu ele: “A legislação e a moralidade estavam a tal pon-to corrompidas que eu, antes cheio de ardor para trabalhar para o bem público, considerando essa situação e vendo que tudo rumava à deriva, acabei por ficar aturdido”.

Quando jovem, Platão tinha a intenção de seguir carreira política. Com a condenação e morte de Sócrates, as intenções modificaram-se e ele escreve em outro diálogo: “Fui então irresistivelmente levado a louvar a verdadeira filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reco-nhecer onde está a justiça na vida pública e na vida privada”.

Funda uma escola por volta de 387 a.C., quando compra nos arredores de Atenas uma propriedade. Sua Academia, na entrada, tinha a seguin-te frase: “Não entre quem não saiba geometria”. Não era uma escola no sentido que temos hoje. Era uma espécie de “convento”, até com algumas conotações religiosas. Nesse espaço, discutia-se livremente a respeito de temas como matemática, música, astronomia e questões filosóficas.

A ética, em Platão, está ligada à sua filosofia política, pois a Pólis é o terreno próprio da vida moral. Pela razão, o homem se eleva ao mundo das ideias e assim alcança seu fim último, que é libertar-se da matéria e contemplar a ideia do bem. Chega-se a essa ideia praticando várias vir-tudes, tais como: a virtude da razão, que é a prudência; a da vontade ou ânimo, que é a fortaleza; a do apetite, que é a temperança. A harmonia entre as virtudes constitui a quarta virtude, a justiça.

Afirmava Platão que sozinho o homem não conseguiria aproximar-se da perfeição. Precisa do Estado ou da comunidade que vive na Pólis. Ho-mem bom é um bom cidadão; aqui temos o entrelaçamento entre a ética e a política.

Temos em suas reflexões éticas o desprezo (característico do seu tem-po) pelo trabalho físico. Em sua obra, A República, ele constrói um Estado ideal, onde as classes sociais separam-se pelas virtudes. Assim temos:

■ virtude da razão: classe dos governantes (no seu entender, o filó-sofo deveria governar ou o governante deveria tornar-se um filó-sofo, pois ele tem a prudência);

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Complemento Filosófico  •  Conhecendo alguns filósofos que refletiram sobre a Ética, a Política e a Estética116

■ virtude da vontade ou ânimo: classe dos guerreiros, defensores do Estado, guiados pela fortaleza;

■ virtude do apetite: classe dos artesões e comerciantes (trabalhos físicos), guiados pela temperança.

Cada classe faz sua parte, e compete à justiça social estabelecer a har-monia indispensável entre as várias classes.

Para ler e Saber mais…

a república, ou sobre a justiça

É considerada uma das principais obras de Platão. É a obra da ma-turidade. Abrange toda sua filosofia, da ética à política e à metafísica. Inicia-se assim a maioridade das problemáticas filosóficas. Sua obra se divide em dez livros, originalmente apresentadas em forma de conversa entre Sócrates e um pequeno grupo de discípulos e amigos sobre a na-tureza política.

No Livro I, busca-se a definição de justiça – será ela dar a cada um o que lhe é devido? Fazer o bem aos amigos e mal aos inimigos? Isso se-ria piorá-los! A justiça não pode produzir injustiça. Trasímaco protesta: Justo é o que é útil ao mais forte, aos governantes que fazem as leis em seu interesse. Mas toda arte e a política, assim como a medicina, vão agir no interesse de seus sujeitos? Aqui, Trasímaco tira a máscara lou-vando a injustiça. Continua a conversa falando sobre a impossibilidade da ação que tenha origem na injustiça, tanto ao nível pessoal quanto social. Chega finalmente à questão da definição de justiça – ser feliz cumprindo a função que lhe é própria.

No Livro II, a busca em provar que a justiça é um bem em si. Exa-mina sua natureza na vida da cidade e não mais do indivíduo. Descreve o nascimento da cidade, como as necessidades e a divisão do trabalho, depois os requintes organizacionais e, por fim, a expansão (conquistas, guerras). Para que haja justiça, é necessário o guardião, que deve ter dons naturais, uma educação especial. Os comandantes dos guardiões serão escolhidos entre os mais velhos, mais ilustrados e que amem a cidade. Defendia que os guardiões não tivessem nenhum bem próprio, e fossem alimentados e alojados em comunidade pela cidade.

Os Livros III e IV abordam o tema da exclusão da música dolente e debilitante e a importância da ginástica para fortalecer a força moral mais que a física. Também trata da questão do bem-estar dos guardiões para que haja felicidade na cidade inteira.

Já no Livro V promove uma discussão sobre a educação para homens e mulheres; suas diferenças não importam para a função de guardião. Mulheres e crianças não serão propriedade deste ou daquele homem, mas serão comuns a todos. Para que haja felicidade na cidade, é preciso que os filósofos se tornem reis, ou os reis filósofos.

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Conhecendo alguns filósofos que refletiramsobre a Ética, a Política e a Estética  •  Complemento Filosófico 117

A questão do conhecimento, a ideia de Bem e o mito da caverna estão presentes nos Livros VI e VII. Platão chega a falar do governo perfeito, em oposição ao governo corrupto, presente no Livro VIII. No Livro IX, fala do homem tirânico com desejos desregrados. Faz a pergunta: esse homem é feliz? Platão responde com três argumentos: compara a cidade tirânica, infeliz porque escrava do tirano, e o tirano, infeliz porque escravo de seus desejos; cada parte da alma tem seus prazeres, mas só o filósofo conhece todos e pode julgar, preferindo os prazeres do sábio aos do tirano.

Finalmente, no Livro X da obra A República, surge a crítica aos artis-tas: eles praticam a imitação afastada do real. Descreve o julgamento e a reencarnação das almas segundo a escolha delas, que dependem da vida passada; a filosofia é, portanto, necessária para que não haja enganos.

aristóteles (384-322 a.C.)“A felicidade (eudaimonia) como busca”.

Filósofo decisivo na história da Filosofia, serviu de fonte inspiradora para muitos outros, e as questões lógicas por ele propostas são importan-tes até hoje.

Ele não nasceu em Atenas, mas em Estagira, por isso foi apelidado de “O Estagirita”. Seu pai foi médico da corte de Felipe, rei da Macedônia, pai de Alexandre Magno, do qual Aristóteles foi professor.

Realizou seus estudos na Academia e foi discípulo destacado de Pla-tão, permanecendo ali até a morte do mestre. Funda então sua própria es-cola, o Liceu, situada nos arredores de Atenas. Foi um centro de estudos de ciências naturais. No Liceu havia dois cursos: um aberto ao público em geral, chamado “exotérico”, e outro só para os discípulos, chamado “esotérico”. Os seus discípulos eram chamados de peripatéticos (porque aprendiam enquanto passeavam com seu mestre).

Defendia que a causa final do homem, seu objetivo supremo, é a fe-licidade. Não como um prazer que se desmancha logo, mas como algo perene e tranquilo, sem excessos, pois o excesso faz com que a boa ação acabe sendo o oposto. Dizia que uma pessoa amável em demasia não passava de incômodo bajulador.

Como conseguir a felicidade? Tendo uma conduta moral moderada, sem excesso, no “meio-termo”. Esse modo de viver se consegue pelo há-bito, como o atleta que se forma pelos exercícios repetidos. Portanto, habituar-se a uma boa conduta é ter bons costumes. Para ele, isso vale muito mais do que praticar uma série de boas ações isoladas. Chega-se à felicidade por meio de uma vida contemplativa e de uma vida intelectual sossegada, longe das tribulações do dia a dia.

Os hábitos, conseguidos mediante a aquisição de certos modos repe-tidos de agir, tornam-se virtudes, conseguidas pelo exercício do homem

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que é, ao mesmo tempo, racional e irracional. As virtudes para Aristóteles dividem-se em duas classes: as intelectuais ou dianoéticas (conseguidas pela razão) e as práticas ou éticas (conseguidas irracionalmente, ou seja, pelas paixões e pelos apetites que à luz da razão podem ser úteis). Homem virtuoso é aquele que se coloca no meio termo das duas classes de virtude.

Mesmo sendo a felicidade uma busca que se alcança pela virtude, há algumas condições necessárias, como a maturidade, os bens materiais, a liberdade pessoal, a saúde, etc., que sozinhas também não deixam ninguém feliz.

Tanto em Platão como em Aristóteles, o comportamento ético está ligado à filosofia política. Para ambos, a comunidade social e política é o meio necessário da moral. Sozinho, o homem não pode ter uma vida moral. Ele a tem na comunidade política, na Pólis. Pensando na Grécia, a Pólis da época de Aristóteles, onde a maior parte da população era escra-va (excluídos da vida teórica e da vida política), vemos que a verdadeira vida moral era exclusiva da elite. Então, só essa elite poderia procurar a felicidade na contemplação, e o homem bom (= sábio e feliz) necessaria-mente será um bom cidadão.

Para ler e Saber mais…

ética a nicômacos

Obra em dez livros, escrita por Aristóteles e endereçada ao seu filho Nicômacos. O título indica o tema ética, designando as concepções mo-rais nas quais o ser humano deve acreditar.

Aristóteles fala das virtudes humanas, que se dividem em dois tipos: as que nascem do hábito e as virtudes dianoéticas, que decorrem da inte-ligência e podem ser desenvolvidas por um ensinamento (Livro I). Todo o Livro II discorre sobre as virtudes: “A virtude é uma qualidade que se adquire voluntariamente, mas é preciso ser justo, comedido e razoável. A virtude não é nem um dom nem uma paixão, mas um ato perfeito”.

No Livro III Aristóteles trata do aspecto voluntário e involuntário da ação. Uma ação pensada tem origem no desejo da pessoa. O homem é, por-tanto, totalmente responsável por sua virtude, que nasce de sua intenção.

A descrição, no Livro IV, é de certas atitudes éticas necessárias, tais como a temperança, o pudor, a magnanimidade, a fraqueza. Já o Livro V trata da justiça e dos diversos tipos de relações. No Livro VI estão as virtudes dianoéticas, que decorrem da inteligência; e ele fala de cin-co: ciência (episteme), arte (techne), prudência (phronésis), inteligência (noûs) e sabedoria (sophia).

Aristóteles condena os homens que utilizam o saber para objetivos nefastos no Livro VII. Já os Livros VIII e IX são os mais conhecidos e tratam da amizade, do amor.

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Finalmente, no Livro X, Aristóteles escreve sobre a teoria da felicida-de: o exercício da virtude pode dar-se no prazer, que é a contemplação pura da verdade eterna. Libertado de seus males terrestres, o homem atin-ge a felicidade suprema, que não é contínua, por isso, é preciso ser virtu-oso e respeitar os valores morais segundo os quais cada um foi formado.

no mundo modernouma ética antropocêntrica

Após a Idade Média, caracterizada pela sociedade feudal, houve vá-rias mudanças nos aspectos econômico, científico, social, político e reli-gioso. Na Idade Moderna, do século XVI até o começo do século XIX, a ética antropocêntrica atingiu seu ponto culminante com a ética de Kant, a mais perfeita expressão da ética moderna, que repercute em nossa época.

emmanuel Kant (1724-1804)“Moral do dever e imposição de normas a si mesmo”.

Contam de sua vida que nunca saiu da sua cidade natal e que tinha uma vida bastante regrada, tanto nos horários, na organização, nos afaze-res quanto no seu pensamento sobre a Filosofia.

Suas obras éticas fundamentais, Fundamentação da metafísica dos costumes (1875) e crítica da razão prática (1788), antecedem a Revolu-ção Francesa, de 1789. O próprio Kant acompanha de longe, com admira-ção, a Revolução, querendo que esta venha a acontecer na Alemanha, o que não era possível. Consegue, sim, que a Revolução se inicie no campo do pensamento. Ele revolucionou a filosofia ao inverter a ordem nas re-lações sujeito-objeto. No aspecto do conhecimento, não é o sujeito que gira ao redor do objeto, mas o contrário. Aquilo que o sujeito conhece é o produto de sua consciência.

No campo moral, o sujeito ( = consciência moral) dá a si mesmo a sua própria lei. Como sujeito que pensa ou sujeito moral da ação, é criador, autônomo e está no centro tanto do conhecimento quanto da moral.

Defendendo a liberdade do homem, o ponto de partida da sua ética é o fato da moralidade. Isto é, acredita que o homem sente-se responsável pelos seus atos e é consciente dos seus deveres. O que seria o bom? Para Kant o único bom em si mesmo, sem restrição, é uma boa vontade, que nada mais é do que agir em respeito ao dever, ou seja, estando conforme a lei moral. É o seu imperativo categórico: “Age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”.

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Complemento Filosófico  •  Conhecendo alguns filósofos que refletiram sobre a Ética, a Política e a Estética120

Sua ética é formal e autônoma. Por isso, dita um dever para todos os homens, independentemente de sua situação social. É uma ética de ten-dência antropocêntrica, pela qual o homem é antes de tudo ativo, produ-tor ou criador de seu pensar e de suas ações.

Para ler e Saber mais…

Fundamentação da metafísica dos costumes

Obra escrita em 1785, é a primeira especificamente dedicada por

Kant à moral, tema também presente em outras obras posteriores,

como crítica da razão Prática e metafísica dos costumes.

No prefácio, Kant coloca a posição que deve ser ocupada pela mo-

ral na Filosofia, justificando sua iniciativa com considerações teóricas

e imperativos éticos.

Este livro está dividido em três seções. Na primeira, “Passagem do

conhecimento racional comum da moralidade ao conhecimento filo-

sófico”, aborda principalmente que agir moralmente é agir por dever,

o que não tem o mesmo valor de agir conforme o dever; por exemplo,

posso pagar minhas dívidas para ter mais crédito, ou evitar mentir

para que sempre acreditem em mim, mas, nesses dois casos, não ajo

moralmente. O dever é a necessidade de realizar uma ação unicamente

por respeito à lei moral.

A segunda seção realiza a “Passagem da filosofia moral popular

para a metafísica dos costumes”, onde aparecem algumas fórmulas ou

imperativos categóricos:

• “Age unicamente segundo uma regra de conduta que possas

querer transformar em lei universal ”.

• “Age como se a tua regra de conduta devesse ser erigida por

tua vontade em lei universal da natureza”.

• “Age de tal sorte que trates a humanidade, tanto em tua pessoa

quanto na de outrem, sempre como fim, e jamais apenas como

meio”.

A terceira seção realiza a “Passagem da metafísica dos costumes

para a crítica da razão pura prática”. A liberdade é a chave de tudo e

ela consiste na ausência de determinações coercitivas estranhas, mas

não significa ausência da lei. O homem pode conceber-se sob dois

pontos de vista: como ser natural sensível, submetido ao determinis-

mo, e como ser inteligível, livre.

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no mundo contemPorâneouma ética do homem que vive no mundo

A Ética contemporânea, em suas origens, é uma reação contra o for-malismo e o racionalismo abstrato de Kant e contra o racionalismo ab-soluto de Hegel. Busca uma ética do homem concreto como indivíduo, como ser social existente.

jean-Paul Sartre (1905-1980)“A angústia da liberdade”.

Filósofo e escritor de sucesso, escreveu romances, contos, teatro, crô-nicas, fez crítica literária, ensaios, análise política e jornalismo. Foi al-guém que soube sempre distinguir cada modalidade de expressão. Foi sem dúvida o mais popular dos filósofos contemporâneos.

Existencialista, defendia que o homem nada é enquanto não fizer de si alguma coisa. Por isso, tem um aspecto subjetivo que é a própria projeção de si e a plena e autêntica consciência disso. Segundo Sartre, o homem alcança maior dignidade na medida em que responde pelo seu próprio ser.

Entre suas diversificadas obras, temos: as Palavras, a náusea, o Ser e o nada, os caminhos da liberdade, o Fantasma de Stálin, crítica da razão dialética e a engrenagem.

Para Sartre, Deus não existe. Não existindo o fundamento último dos valores, não há valores, normas ou princípios que sejam objetivos ou universais. Somente o homem é fundamento sem fundamento (sem razão de ser) dos valores. Temos em sua filosofia dois aspectos essenciais: o seu individualismo radical e o seu libertarismo.

O homem é liberdade, dizia Sartre. Como demonstrar isso? Sendo o que escolheu ser. Ao fazer a escolha, cria o seu valor. Como não há valor objetivo ou universal, cada um deve criar ou inventar os valores ou as normas que guiem o seu comportamento. Cada ato ou indivíduo vale moralmente pelo uso que faz da sua liberdade. Sendo a liberdade o valor supremo, é valioso escolher e agir livremente.

Mesmo buscando ser livre, existem os outros. Por isso, só posso tomar minha liberdade como fim se aceito a liberdade dos outros. O homem se define então como:

■ absoluta liberdade de escolha; e ■ sendo único ao escolher.

Portanto: “O homem está condenado a ser livre” (Jean-Paul Sartre).

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Para ler e Saber mais…

o Ser e o nada

Livro publicado em 1943, é a principal obra de Jean-Paul Sartre, por

ser considerado o marco inicial de toda a história do existencialismo

francês.

A ideia central dessa obra vem de outro filósofo, Husserl: “toda

consciência é consciência de algo”. Para Sartre, não há inconsciência. O

homem deve sempre estar consciente de alguma coisa, a começar de si

mesmo – é o “ser para si”. Para ele, existência e liberdade andam juntas:

existir, para um homem, é ser livre. “O homem nasce livre, responsável

e sem desculpas”.

O homem tem sempre a possibilidade ou a necessidade de escolher

o caminho que será seu, de escolher os caminhos da liberdade que se

abrem diante dele e que ele aceitará, ou não, trilhar. A questão é se terá

a coragem de assumir suas responsabilidades ou preferirá refugiar-se na

má-fé do determinismo.

Além de outras obras nas quais Sartre vai desenvolvendo seu pen-

samento, esse livro teve repercussão considerável, e a escola existencia-

lista desenvolveu-se a partir de sua publicação. Entre 1943 e 1970, esse

livro serviu de referência e foi o mais citado por aqueles influenciados

pelo existencialismo.

Há quem afirme que nos Estados Unidos essa obra continua exer-

cendo influências mais fortes do que na Europa e que Sartre está sendo

chamado de Voltaire do século XX.

comunidade de aprendizagem investigativa:

1. Faça uma relação entre o pensamento de Sócrates, quando faz sua defesa no seu julgamento, diante do tribunal ateniense, e a forma de vida que temos hoje em nossa sociedade.

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Conhecendo alguns filósofos que refletiramsobre a Ética, a Política e a Estética  •  Complemento Filosófico 123

2. Conforme Platão, ou o filósofo governa, ou o governante se torna fi-lósofo. Escreva sua opinião, com argumentos, sobre essa afirmação. Pelo que sabemos sobre nossos governantes e suas decisões, podemos afirmar que eles se enquadram no que Platão defendia?

3. O que é ser feliz para Aristóteles? Você concorda com ele sabendo da maneira como a mídia defende para precisamos viver nessa sociedade?

4. O filósofo Kant, com seu imperativo categórico, afirmava: “age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”. Quais argumentos poderíamos utilizar hoje tanto para de-fender como para criticar essa sua afirmação?

5. Sartre fala da morte de Deus e da liberdade do homem. O que pode-mos comentar sobre suas posições a respeito do mundo em que vivemos?

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Avaliações  •  Formativa e Reflexiva124

1. hoje a importância vital de uma educação ética

1) Na escola e no mundo em que vivemos, existe clima de respeito entre as pessoas?

2) Como era vista a ética nas sociedades tradicionais? E hoje qual é o entendimento sobre a ética?

3) Qual é o grande avanço com relação ao tempo dos nossos pais e o que vivemos hoje no aspecto discussão ética?

4) Quais são os Valores Universais e por que são os pilares para a con-vivência entre cidadãos do mundo?

5) Imagine uma sociedade onde cada um lute por sua sobrevivência utilizando qualquer estratégia. Como seria a relação entre as pessoas no aspecto moral e ético?

avaliaçõeSFormativa e reflexiva

• Para cada aluno perceber seu nível de entendimento dos conteúdos.• Para o professor perceber seu desempenho e dinamismo no envolvi-

mento com a matéria.• Para sentir como se processa o nível de discussão e entendimento da

turma que forma a C.A.I..• Para que cada questão sirva para ampliar as reflexões e discussões

individuais e do grupo na C.A.I..

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Formativa e Reflexiva  •  Avaliações 125

2. costumes / hábitos - regras / normas - bem / mal

1) O pensamento de Aristóteles: “Somos o que fazemos repetidamen-te. Por isso o mérito não está na ação e sim no hábito”, colocado no iní-cio do capítulo, oportunizou algumas discussões e entendimentos na sua sala de aula. Agora registre suas ideias a partir da afirmação do filósofo.

2) Escreva a relação do significado da palavra motivo com o título do capítulo 1: “A importância vital de uma educação ética hoje”.

3) O que é Moral? O que é Ética? Após responder às duas perguntas, escreva sobre seu entendimento do que é ter consciência ética.

4) Em Reflexões e Ações Interdisciplinares, na pág. 35, temos a per-gunta nº 2, que traz a história – uma discussão sobre regras e normas. Faça uma relação entre ter consciência e responsabilidade, ligando com a ideia de Bem e Mal (ou certo e errado).

5) Dê exemplo de uma situação em sua vida em que acontecem cos-tumes / hábitos ou regras / normas e justifique.

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Avaliações  •  Formativa e Reflexiva126

3. liberdade de ação e decisão

1) Lembre-se das discussões sobre a frase: “Só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo – ser livre sig-nifica ser eu mesmo”. Agora escreva suas ideias e reflexões sobre o que é liberdade a partir desta frase.

2) Somos livres mas sofremos pressões internas e externas. O que são essas pressões?

3) O filósofo Sartre falava de liberdade vivida. O que significa isso?

4) Qual é a definição filosófica do termo responsabilidade?

5) Pense em uma situação concreta de sua vida, escreva-a e reflita sobre ela, levando em conta a análise das três peneiras (texto pag. 45).

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Formativa e Reflexiva  •  Avaliações 127

4. Fundamentos da ética

1) A ética é uma atitude pessoal ou ela tem um caráter universal?

2) Escreva a diferença entre ética normativa e ética descritiva

3) Faça uma análise do modo como pessoas religiosas veem o mundo e o que sustenta a forma de viver dessas pessoas. Após escreva a respeito, dando um exemplo prático.

4) Sendo a ética a arte de realizar o Bem, nada mais é do que a realiza-ção plena da pessoa, tendo em vista o fim para o qual ela existe. A partir disso, vamos pensar e escrever sobre como deve ser o relacionamento humano na escola?

5) Como seria viver numa sociedade onde todos fossem éticos no pen-sar e agir?

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Avaliações  •  Formativa e Reflexiva128

5. comportamento humano e convivência social

1) O comportamento do homem diante das diversas situações da vida depende de cada momento e de cada um, ou há um comportamento pa-drão aceito universalmente?

2) O capítulo traz a seguinte afirmação: “O comportamento humano dominante em todas as épocas históricas foi o da necessidade vital e inadiável de produzir os bens necessários para sobrevivência, isto é, a estrutura econômica.” A partir dela, escreva sua posição e argumente, sendo favorável ou contrário à ideia colocada.

3) O comportamento humano como ação política representa a inteira vivência consciente na comunidade. Quem não participa também está fazendo política?

4) São muitos os problemas que afligem a existência humana. O que dizer da afirmação no capítulo: “Somos convocados a saber viver bem. Por isso é importante uma reflexão constante sobre o comportamento mo-ral, tendo presente o conhecimento e a liberdade como panos de fundo.”?

5) A convivência social, em um grupo, faz com que ações sejam feitas sem muito pensar?

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Formativa e Reflexiva  •  Avaliações 129

6. a Política, as convenções, as leis

1) Escreva seus comentários sobre o pensamento de Otto Von Bismarck – “Leis são como salsichas, é melhor não saber como são feitas”.

2) A política é tudo o que se refere à organização e à forma de ser das pessoas, das empresas, da sociedade?

3) Para que existem as leis? Como podemos saber se elas são justas ou não?

4) Pense e escreva duas ações ou atividades que você faz e que podem ser consideradas convenções sociais.

5) Somos éticos e políticos. Esta afirmação quer dizer o quê?

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Avaliações  •  Formativa e Reflexiva130

7. responsabilidade moral, determinismo, determinismo moderado, livre-arbítrio

1) O que é ser responsável?

2) Como e o que decidir numa sociedade que determina os compor-tamentos?

3) Diga o que você sabe sobre a afirmação: “só pode ser responsabili-zada a pessoa que conhece, escolhe, decide e age conscientemente”.

4) Diga com suas palavras o que você entende por Determinismo Ab-soluto.

5) O que é o Determinismo Moderado e o Livre-arbítrio?

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Formativa e Reflexiva  •  Avaliações 131

8. Ser feliz ou por uma ética e uma estética emancipatórias

1) Paulo Freire foi um grande educador brasileiro. Reescreva a ideia dele colocada abaixo e dê um exemplo.

“Não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”

2) Escutamos falar muito em postura ética, atitude ética… Isso é só expressão ou carrega um apelo de comportamento?

3) Que ética escolher: uma ética libertária ou moralista? Uma ética emancipatória ou limitadora das ações?

4) A ética contemporânea é uma reação contra o que e a favor de quê?

5) Hoje os grandes problemas éticos estão ao redor da família, da so-ciedade civil e do Estado. Então, ao ver uma ética concreta, não podemos deixar de lado estas estruturas em que estamos inseridos. Como você e sua C.A.I. entendem esta afirmação?

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Avaliando minha caminhada  •  Afinal sou um SER pensante132

avaliando minha caminhadaafinal sou um Ser pensante – faço filosofia no 8º ano

auto-avaliação 1º semestre 2º semestre

1. Minha nota como participante da turma, pelo cuidado que te-nho com meus pertences e com os objetos da sala e da escola.

(______) (______)

2. Minha nota como membro da C.A.I., onde aprendo a lidar com as minhas fraquezas e forças e com as fraquezas e forças de meus colegas.

(______) (______)

3. Minha nota sobre o relacionamento com os professores de todas as matérias, os quais são profissionais que optaram por trabalhar com adolescentes e jovens.

(______) (______)

4. Minha nota sobre o relacionamento com os funcionários e de-mais responsáveis pelo andamento da escola, os quais traba-lham muito para que a escola cresça.

(______) (______)

5. Minha nota sobre as atitudes durante as aulas de filosofia, frente ao conhecimento compartilhado com os outros nas in-vestigações em sala ou em qualquer lugar.

(______) (______)

6. Nota do professor(a) por minha participação nas aulas de Filo-sofia.

(______) (______)

Minha nota para a C.A.I., que se forma dia a dia. (______) (______)

obs.: Com critérios estipulados na C.A.I. e tendo em vista como sua es-cola mede o desempenho e a participação nas disciplinas, estabe-leça um valor numérico (5 a 10) ou um conceito (bom, ótimo, exce-lente) para sua participação. Também é necessário você justificar a cada semestre o porquê de sua média ou conceito geral:

1º semestre - (_________) Justificativa:

2º semestre - (_________) Justificativa:

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Afinal sou um SER pensante  •  Avaliando minha caminhada 133

avaliação abrangente:

Quadro das equivalências de cada nota ou conceito atribuí-do na caminhada desse ano:

Critérios para serem avaliados COR SENTIMENTO SÍMBOLO NOTA

Os outros melhoram, e isso acontece também por causa do meu incentivo; percebo cada vez mais que sou res-ponsável pelo bem comum.

Cresço a cada dia, mas sei que sou capaz e posso melhorar muito mais. Acomodando-me aqui, estarei men-tindo para mim mesmo.

Percebi que não é difícil mudar aqui-lo que em mim prejudica os outros; de minha parte, tenho ficado muito contente com minhas melhoras.

Estou naquela de deixar para ama-nhã o que posso mudar hoje; tenho que reconhecer que estou esconden-do minhas capacidades.

Estou naquela situação: se não largar os amigos e as ideias egoístas que te-nho, nunca virão as ideias e os ami-gos novos; tenho que ousar mudar.

Preciso de uma boa conversa com al-guém maduro; meu orgulho me en-ganou, pois pensei que poderia viver sem a ajuda de ninguém.

guia para completar o quadro de equivalências – pensando em concei-tos: Bom, Ótimo e Excelente.• Cor – Você deverá escolher três cores e justificar o significado de cada

cor, pensando nos conceitos.• Sentimento – escolha um desses três rostos e saiba justificá-los, con-

forme o conceito atribuído.• Símbolo – crie três símbolos para utilizá-los e justifique.• Nota – Você irá, com critério e coerência, estipular o valor numérico:

– Bom: 5 ou 6; – Ótimo: 7 ou 8; – Excelente: 9 e 10.

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Avaliando minha caminhada  •  Afinal sou um SER pensante134

considerações e critérios sobre avaliação (para os pais e professores)

avaliação Formativa e reflexiva:

No Programa filosófico-pedagógico “Educar para o Pensar: Filosofia com crianças, adolescentes e jovens”, avaliar é:

■ valorizar o ser humano, pois defendemos que ele é responsável, generoso, solidário e quer ser feliz;

■ acreditar no desenvolvimento de todas as suas potencialidades; ■ incentivar para que o estudante assimile a importância de parti-

cipar ativamente da Comunidade de Aprendizagem Investigati-va (C.A.I.). Assim perceberá a importância de saber trabalhar e aprender em grupo, de dialogar em equipe, agora e para sua vida pessoal e profissional;

■ considerar cada aluno como protagonista de seu crescimento, incentivando a pesquisa, argumentação e clareza de suas ideias. Bem como estimulá-lo a estar aberto ao pensar do outro, aos avan-ços científicos, sociais, às inovações tecnológicas.

O Programa propõe desenvolver os conceitos filosóficos de maneira equilibrada e condizente com a faixa etária, relacionando-os aos demais conteúdos. De cada aluno e turma busca-se o respeito aos aspectos fí-sicos e estéticos, o equilíbrio no tocante à afetividade, inteligência, aos conhecimentos, à valorização das dimensões comunitária e social, for-mando para os valores humanos. Isso feito em equipe, que, tecnicamente, chamamos de formar em sala de aula a Comunidade de Aprendizagem Investigativa (C.A.I.).

Defendemos que o processo de avaliação é amplo e complexo, tem um papel importante na vida de cada aluno, do professor e do grupo de alunos. Deve essa avaliação mais ampla mostrar o desenvolvimento do estudante e da C.A.I., analisando seus resultados para a construção dos conhecimentos.

Quais os caminhos para avaliar o desempenho intelectual, social, filo-sófico, interativo? Defendemos que o ensino, a aprendizagem e a avalia-ção acontecem de maneira integrada no cotidiano de cada aluno e turma de sala de aula. Em outras palavras, a avaliação é um processo coletivo no qual a participação de cada um soma para o todo, de modo que é pos-sível perceber o desenvolvimento de cada aluno. Portanto, nos momentos de ensino e aprendizagem, todas as C.A.I. avaliam e são avaliadas, pois promovem aprendizagens.

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Afinal sou um SER pensante  •  Avaliando minha caminhada 135

O professor dispõe de recursos, metodologia e instrumentos diversos para a regulação da aprendizagem, tendo possibilidade de diferentes in-tervenções e práticas pedagógicas, conforme as ideias filosóficas apresen-tadas para investigação e discussão. Sempre tendo presente (ao professor e aos alunos) que o estabelecimento do diálogo é fundamental, explici-tando os objetivos a atingir e as estratégias que serão adotadas.

Na avaliação proposta pelo Programa, deve-se levar em conta os obje-tivos traçados para os diferentes assuntos levantados, tendo presente que toda a abordagem dos conteúdos é interdisciplinar, pois queremos que os alunos e professores (na C.A.I.) aprendam a filosofar. Para isso, são uti-lizadas observações feitas na C.A.I., nos cadernos, livros, nas atividades avaliativas (roteiros de avaliação), atividades de produção (individual e coletiva), nos trabalhos em grupos, roteiros de estudo, em pesquisas, para construções de conhecimentos e saberes. A discussão racional em sala de aula se estabelece por meio do diálogo e da participação ativa em todas as atividades, incluindo reflexões e ações.

A avaliação é um momento importante no processo de crescimento e, no Programa, um marco valorativo do trabalho e da participação do aluno, do professor e de toda a Comunidade de Aprendizagem Investi-gativa. Sempre tendo presente que é um processo e não um produto da aprendizagem.

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Silvio Wonsovicz – nasceu em Curitiba/PR e aos dez anos foi estudar no seminário salesia-no. Fez os cursos de Filosofia, Letras e Admi-nistração Escolar. Trabalhou como professor do Ensino Fundamental, Médio e fez seu Mestra-do na PUC/RS. Foi morar em Florianópolis/SC para ser professor universitário, criou o Centro de Filosofia Educação para o Pensar (1989) e a Editora Sophos. Fez seu Doutorado na UNI-CAMP/Campinas-SP em Filosofia da Educação. Tem mais de vinte livros publicados nas áre-as de Filosofia e Educação. Casado, tem três filhos e é apaixonado pelo que escolheu fa-zer em sua vida – ser educador. Sonha e vibra com um mundo melhor, com pessoas reflexi-vas, críticas e cada vez mais criativas e felizes.

Fotos do autor, arquivos da Editora e re-tirados do Wikimedia Commons, disponí-vel em: <http://commons.wikimedia.org>