GESTÃO DE PESSOAS EM AMBIENTE DE COOPETIÇÃO EMPRESARIAL Palestrante: Lívia Sousa Sant´Ana.
COOPETIÇÃO EM REDES INTERPESSOAIS: relacionamentos coopetitivos na rede de pesquisadores...
description
Transcript of COOPETIÇÃO EM REDES INTERPESSOAIS: relacionamentos coopetitivos na rede de pesquisadores...
-
PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Ps-Graduao em Administrao
Caio Cesar Giannini Oliveira
COOPETIO EM REDES INTERPESSOAIS:
relacionamentos coopetitivos na rede de
pesquisadores brasileiros em Administrao
Belo Horizonte
2013
-
Caio Cesar Giannini Oliveira
COOPETIO EM REDES INTERPESSOAIS:
relacionamentos coopetitivos na rede de
pesquisadores brasileiros em Administrao
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Administrao. Orientador: Humberto Elias Garcia Lopes.
Belo Horizonte
2013
-
FICHA CATALOGRFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais
Oliveira, Caio Cesar Giannini
O48c Coopetio em redes interpessoais: relacionamentos coopetitivos na rede de
pesquisadores brasileiros em administrao/ Caio Cesar Giannini Oliveira.
Belo Horizonte, 2013.
132f.: il.
Orientador: Humberto Elias Garcia Lopes
Tese (Doutorado) Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Programa de Ps-Graduao em Administrao.
1. Cooperao. 2. Competio. 3. Redes de relaes sociais. 4. Administrao
- Pesquisa. I. Lopes, Humberto Elias Garcia. II. Pontifcia Universidade Catlica
de Minas Gerais. Programa de Ps-Graduao em Administrao. III. Ttulo.
CDU: 658.012.6
-
Caio Cesar Giannini Oliveira
COOPETIO EM REDES INTERPESSOAIS:
relacionamentos coopetitivos na rede de pesquisadores brasileiros em
Administrao
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais como requisito parcial para obteno do ttulo de Doutor em Administrao. rea de concentrao: Gesto estratgica de organizaes.
Prof. Dr. Humberto Elias Garcia Lopes (Orientador) PUC Minas
Prof. Dr. Antnio Carvalho Neto (PUC Minas)
Prof. Dr. Julio Ferreira de Oliveira (PUC Minas)
Prof. Dr. Charles Kirschbaum (INSPER-SP)
Prof. Dr. Jorge Renato de Souza Verschoore Filho (UNISINOS-RS)
Prof. Dr. Jean Max Tavares (PUC Minas)
Belo Horizonte
2013
-
Para Ana Luiza, Vincius e Letcia. Em tudo o que fao, tenho vocs em pensamento.
-
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeo ao meu orientador, Prof. Dr. Humberto Elias
Garcia Lopes, que desde o momento da seleo para o doutorado acreditou em mim
e me apoiou em todas as etapas desta jornada.
Ao Prof. Dr. Dalton Jorge Teixeira, por me incentivar a continuar buscando
qualificar-me em minha carreira acadmica.
Aos colegas de GESTOR, pela ajuda em todos os nossos encontros, debates
e seminrios. Aos demais professores, funcionrios e colegas do Programa de Ps-
Graduao em Administrao (PPGA). Em diversos momentos fui apoiado,
aconselhado e ajudado por vocs.
A minha mulher, Ana Luiza. Seu apoio, presena, companheirismo e confiana
em meu trabalho fizeram toda a diferena. Tambm aos meus filhos, Vincius e
Letcia. Vocs trs me motivam a ser uma pessoa melhor a cada dia. Ao meu
cunhado e amigo, Guilherme, que me aconselhou e me ajudou a manter a cabea
no lugar. A toda a famlia, pelo apoio, disponibilidade, suporte e, principalmente,
pacincia.
Aos meus colegas de colegiado e curso na Faculdade de Comunicao e
Artes, pelo apoio e pelos infinitos galhos quebrados durante estes anos em que
estive imerso nesta empreitada.
Aos meus alunos, Lucas Almeida, Robson Neves e Tiago Aguiar, pela ajuda
no processo de coleta de dados.
Aos colegas Humberto Massa e Narclio Filho, pela intensa colaborao na
preparao dos dados. Sem a sua ajuda com expresses regulares no teria
conseguido terminar de limpar a enorme e confusa lista de autores em s
conscincia.
Aos pesquisadores que me auxiliaram respondendo meus e-mails e
participando desta pesquisa concedendo entrevistas. Sou-lhes muito grato pela
ateno e tempo que a mim dispensaram, atendendo e colaborando com meu
trabalho.
A todos os que colaboraram, de forma direta ou indireta, para a execuo
deste trabalho, mesmo que no os tenha citado nominalmente nesta pgina, meus
sinceros agradecimentos.
-
Bust the lock off the front door Once you're outside you won't want to hide anymore Like the light on the front porch Once it's on you'll never wanna turn it off anymore And now it's on now it's on (Gandaddy Sumday).
-
RESUMO
A sociedade se organiza em redes. A perspectiva das redes, ento, algo que deve
ser considerado como inerente vida social, especialmente quando se observa o
fato de que no vivel viver de forma completamente independente e isolada.
Esses arranjos ou estruturas em rede normalmente so abordados na literatura de
Administrao sob uma perspectiva organizacional e, nesse sentido, podem ser
formados em contextos que variam entre a competio, a colaborao e um tipo de
relao mista. Nesta ltima, atores que normalmente competem entre si resolvem
colaborar de alguma forma para atingir algum objetivo que seja comum, ou seja,
tem-se a colaborao entre atores que interagem em um ambiente competitivo. A
esse tipo de relao entre as organizaes d-se o nome de coopetio. Este
trabalho trata do tema dos relacionamentos de coopetio no nvel interpessoal.
Embora a literatura sobre coopetio no trate do tema no aspecto micro (das
relaes interpessoais), no h registro de pressupostos tericos que limitem sua
aplicao ao mbito meso. Prope-se aqui que seja abandonada a exclusividade da
adoo do termo e dessa modalidade de relao no contexto meso. Nesse sentido,
coopetitivos n Para demonstrar que no h
argumentao terica suficientemente organizada que leve a crer que essa
abordagem deva ser associada exclusivamente a um cenrio meso, lana-se mo
de um estudo bibliogrfico sobre o conceito em questo. Em seguida, so
apresentadas as diretrizes para uma investigao emprica acerca da plausibilidade
dessa premissa a partir da investigao da(s) eventual(ais) rede(s) de coautoria
formada(s) por pesquisadores em Administrao no Brasil. So identificadas e
apresentadas as caractersticas sociais das atividades de pesquisa e trabalho
cientfico, bem como listados os antecedentes tericos que buscam estabelecer
relaes entre a necessidade de colaborao entre os atores e a qualidade de seus
trabalhos, alm de apresentado o ambiente de atuao do pesquisador brasileiro e
contextualizado um cenrio para investigao. Feito isso, conduzido o
mapeamento de redes sociais aplicado ao ambiente em que atuam os
pesquisadores em Administrao no Brasil, com a finalidade de demonstrar que o
conceito de coopetio pode ser aplicado no nvel micro. As descobertas obtidas
com a realizao do mapeamento permitiram descobrir atores centrais da rede, bem
-
como detectaram um exemplo de programa em que as relaes internas de seus
pesquisadores indicam comportamentos de colaborao e competio
concomitantes que permitem avanar na demonstrao da aplicao do conceito de
coopetio micro. Por fim, foi conduzida investigao qualitativa por meio de
entrevistas com 10 pesquisadores centrais da rede, com a finalidade de se identificar
quem so os colaboradores desses pesquisadores, como se formam as alianas de
colaborao, como esses pesquisadores avaliam essas relaes e se os
pesquisadores brasileiros que atuam em Administrao enxergam o cenrio em que
atuam como um espao de competio. Os resultados mostraram que o cenrio de
competio e as relaes estabelecidas entre os pesquisadores podem ser
encaradas como coopetitivas. Dessa forma, a pergunta que norteia este trabalho foi
plenamente respondida.
Palavras-chave: Coopetio. Fronteiras mesomicro. Redes sociais. Pesquisa
cientfica. Redes de coautoria.
-
ABSTRACT
Social life is organized in networks. The networks perspective, then, is something
that should be regarded as inherent in social life, especially when considered that it is
not feasible to live completely independently and isolated. These arrangements or
network structures are usually addressed in the literature on management under an
organizational perspective and, accordingly, may be formed in contexts ranging from
the competition, collaboration and a mixed type of relationship. In the latter, players
who normally compete resolve somehow collaborate to achieve any goal that is
common, ie, has the collaboration between actors interacting in a competitive
environment. This type of relationship between organizations is called coopetition.
This work addresses the issue of coopetition relationships at the interpersonal level.
Although the literature on coopetition does not treat the subject in the micro level
(interpersonal relationships), there are no assumptions in the literature on the subject
that limit its application to the meso level. It is proposed here that the exclusive
adoption of the term and this type of relationship in the context meso should be
abandoned. Therefore, the question that guides this study is: "Is it possible to
observe coopetitive relationships in the context of interpersonal networks?". To
demonstrate that there is no theoretical argument organized enough to make a
researcher believe that this approach should be linked exclusively to a meso context,
a bibliographic study on the concept is organized. Then the guidelines for an
empirical investigation about the plausibility of the premise from the investigation are
presented. The scenario chosen for this investigation is the networks formed by
researchers in management in brazil. The characteristics of social research and
scientific work are identified and presented, as well as listed the theoretical
background that seek to establish relationships between the need for collaboration
between the actors and the quality of their work. It is also presented and
contextualized the brazilian researcher environmenta as a scenario for investigation.
After that a mapping is conducted to identify the social networks in which they
operate in order to demonstrate that the concept of coopetition can be applied at the
micro level.
The findings obtained with the completion of the mapping procedures allowed to
uncover key players in a network and detect a sample program in which the internal
relations of its researchers indicate behaviors of collaboration and competition that
-
allow simultaneous advance in demonstrating the application of the concept of
coopetition in a micro context. Finally, we conducted a qualitative research through
interviews with ten researchers identified as central to network for the purpose of
identifying who are the research partners of these researchers, how they form
collaboration alliances, discover how these researchers evaluate these relationships
and see if the Brazilian researchers who work in management see the scene where
they act as a venue for competition. The findings show that the environment is
remarkably competitive and the relationships established between researchers can
be seen as coopetitive. Thus, the question that guides this work is fully answered.
Key words: Coopetition. Meso-micro boundaries. Social networks. Scientific
research. Coauthorship.
-
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Viso geral da rede ampla de pesquisadores brasileiros em
Administrao..............................................................................
64
Figura 2 - A rede formada pelos pesquisadores vinculados ao Programa
de Ps-Graduao em Administrao e Desenvolvimento Rural
(PADR) Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
67
Figura 3 - Os 20 pesquisadores com melhores ndices de centralidade de
intermediao..............................................................................
76
Figura 4 - Os 20 pesquisadores com mais quantidades de conexes........ 81
-
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Os 20 mais bem-conectados pesquisadores brasileiros em
Administrao...........................................................................
71
Quadro 2 - Notas da CAPES para os programas de filiao dos
pesquisadores mais bem conectados.......................................
74
Quadro 3 - Os 20 pesquisadores brasileiros em Administrao com mais
conexes...................................................................................
77
Quadro 4 - Notas da CAPES para os programas de filiao dos
pesquisadores mais conectados.................................................
79
Quadro 5 - Os pesquisadores mais conectados e os melhores
conectados ordenados pela quantidade de publicaes.............
83
Quadro 6 - Os pesquisadores convidados para entrevista.......................... 93
Quadro 7 - Os principais parceiros dos pesquisadores entrevistados......... 96
Quadro 8 - Como so formadas as associaes entre os pesquisadores... 105
-
LISTA DE SIGLAS
ANPAD Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao
ARS Anlise de Redes Sociais
CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
CEPEAD Centro de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao
CNPq Centro Nacional de desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
DAE Departamento de Administrao e Economia
EIASM European Institute for Advanced Studies in Management
EnANPAD Encontro da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em
Administrao
ESPM Escola Superior de Propaganda e Marketing
EURAM European Academy of Management
FAPEMIG Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais
FEA Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade
FEARP Faculdade de Economia, Administrao e Contabilidade de Ribeiro Preto
FECAP Fundao Escola de Comrcio lvares Penteado
FGV Fundao Getlio Vargas
FINEP Financiadora de Estudos e Projetos
FUMEC Fundao Mineira de Educao e Cultura
PADR Programa de Ps-Graduao em Administrao e Desenvolvimento Rural
PPGA Programa de Ps-Graduao em Administrao
UCS Universidade de Caxias do Sul
UEL Universidade Estadual de Londrina
UFLA Universidade Federal de Lavras
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
UFMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UFSM Universidade Federal de Santa Maria
UFV Universidade Federal de Viosa
UNB Universidade de Braslia
-
UNIMEP Universidade Metodista de Piracicaba
UNINOVE Universidade Nove de Julho
USP Universidade de So Paulo
-
SUMRIO1
1 INTRODUO......................................................................................... 17
2 REDES SO REDES............................................................................... 22
2.1 Introduo............................................................................................ 23
2.2 Competio, colaborao e coopetio............................................ 26
2.3 Coopetio em redes interpessoais: uma alternativa possvel?.... 31
2.4 Consideraes sobre a aplicao do conceito................................ 36
3 PROPONDO UMA INVESTIGAO PARA IDENTIFICAR
RELACIONAMENTOS COOPETITIVOS EM REDES
INTERPESSOAIS........................................................................................
38
3.1 Introduo............................................................................................ 39
3.2 Colaborao, coautoria e o carter social da atividade do
pesquisador em cincia...........................................................................
40
3.3 Capital social....................................................................................... 46
3.4 O cenrio brasileiro: objeto de investigao.................................... 49
3.5 Mtodos propostos............................................................................. 53
3.6 Consideraes sobre a proposta....................................................... 57
4 AS RELAES ENTRE OS PESQUISADORES BRASILEIROS EM
ADMINISTRAO.......................................................................................
58
4.1 Introduo............................................................................................. 59
4.2 Identificando a grande rede ampla e os seus ns............................ 60
4.3 Consideraes sobre a rede e os procedimentos de anlise
executados..................................................................................................
85
5 A REDE DE PESQUISADORES EM ADMINISTRAO NO BRASIL:
PERCEPES SOBRE OS RELACIONAMENTOS COOPETITIVOS.......
87
1 Este trabalho foi revisado de acordo com as novas regras ortogrficas aprovadas pelo Acordo Ortogrfico assinado entre os pases que integram a Comunidade de Pases de Lngua Portuguesa (CPLP), em vigor no Brasil desde 2009. E foi formatado de acordo com o Padro PUC-MINAS de Normalizao, de 2011.
-
5.1 Introduo............................................................................................. 88
5.2 Capital social como fator de influncia e motor da produo
cientfica.....................................................................................................
90
5.3 Metodologia.......................................................................................... 92
5.4 As percepes dos pesquisadores.................................................... 94
5.4.1 Os principais parceiros................................................................... 95
5.4.2 Como se estabelecem e so avaliadas as relaes de
colaborao................................................................................................
98
5.4.3 Competio na rede de pesquisadores.......................................... 106
5.5 Consideraes sobre as entrevistas com os pesquisadores......... 110
6 CONCLUSO.......................................................................................... 114
REFERNCIAS........................................................................................... 120
APNDICE A............................................................................................... 132
-
17
1 INTRODUO
bastante oportuno e relevante tratar do tema das redes interpessoais. Em
um momento em que se vive a proliferao das tecnologias digitais interativas, tm-
se as redes sociais como tema emergente. No entanto, os relacionamentos entre os
indivduos antecedem e no se restringem ao ambiente digital. Da mesma forma, a
relevncia e alcance do tema no se restringem aos servios encontrados na
Internet. Podem-se perceber arranjos em rede desde o primeiro momento em que as
pessoas comeam a viver em grupos. A vida em sociedade implica relaes em rede
por parte dos indivduos em diferentes nveis.
Apesar da relevncia do tema, a literatura sobre redes bastante
fragmentada, no sendo homognea nem pertencente a uma rea especfica. So
diversos os campos da cincia que se debruam sobre este tema de forma a tentar
compreend-lo sob diferentes abordagens. Em alguns momentos, esses diferentes
campos se relacionam e, nessas relaes, as descobertas feitas em um determinado
campo proporcionam as bases para que aconteam avanos em outras frentes. Por
exemplo, neste trabalho esse tipo de relao entre diferentes reas pode ser
percebida ao serem tomadas referncias das cincias exatas para auxiliar na
compreenso do conceito de redes, no relato das bases dos estudos sobre redes
sociais e na construo da estratgia metodolgica executada.
Essas referncias externas se mostram muito importantes, visto que nas
cincias sociais aplicadas, em especial na Administrao, o tema das redes
normalmente estudado tendo-se como foco as instituies, ou seja, o nvel meso.
Nesse sentido, as redes, na maior parte dos estudos de Administrao, so
observadas como arranjos entre instituies. No entanto, as fronteiras entre micro e
meso mostram-se difusas (Blau, 1987; Braga, Gomes, & Ruediger, 2008; Lopes,
2004; Peng & Luo, 2000; Schillo, Fischer, & Klein, 2001). As referncias de
diferentes campos da cincia podem permitir ao pesquisador observar relaes e
fazer descobertas que possibilitem verdadeiro avano no trabalho cientfico. No caso
deste trabalho, a dificuldade de definio das fronteiras entre o micro e o meso,
somada ao crescente interesse pela abordagem focada nos indivduos em estudos
que abordam o tema das redes na Administrao, motivou o pesquisador a buscar
referencial complementar externo, disponibilizando um importante complemento em
sua sustentao terica.
-
18
Como dito, a pesquisa sobre redes em Administrao est focada de forma
preponderante, porm no exclusiva, na compreenso dos meandros das relaes
entre as instituies. Esse foco proporcionou a identificao de trs tipos principais
de relacionamentos que envolvem os arranjos em redes: a competio, a
colaborao e um terceiro tipo, hbrido, composto simultaneamente por traos de
competio e colaborao entre os envolvidos. A esse tipo hbrido de relao d-se
o nome de coopetio.
Embora a primeira apario do termo coopetio em um livro tenha ocorrido
em uma publicao de 1913 (Cherington, 1913), apenas no final do sculo XX
(Brandenburger & Nalebuff, 1996) o assunto passou a ser discutido da forma em que
trabalhado atualmente (Stein, 2010). Foi Kirk S. Pickett que, em 1911, cunhou o
termo coopetio, quando se referia relao existente entre os diferentes agentes
de venda de ostras nos Estados Unidos ao argumentar para um vendedor:
[ ] voc apenas um de vrios vendedores de ostras em sua cidade. Mas vocs no esto competindo entre si. Vocs esto cooperando um com o outro no desenvolvimento de um negcio amplo. Vocs esto coopetindo, no competindo. A competio existente entre vocs do tipo em que todos vocs podem lutar para obter vantagens comuns (Cherington, 1913, p. 144).
A expresso coopetio foi, portanto, a modalidade de relao que deveria ser
enxergada entre competidores no mercado de venda de ostras dos Estados Unidos,
como Kirk S. Pickett salientou na edio de 19 de janeiro de 1911 da revista Printer's
Ink (Cherington, 1913). Para ele, os diferentes vendedores deveriam trabalhar,
embora competindo entre si, para o desenvolvimento do mercado como um todo.
Como consequncia disso, todos se beneficiariam.
A ideia de coopetio, ento, no nova. Apesar disso, a aplicao ao
universo dos negcios relativamente recente. Mesmo assim, o tema da coopetio
tem sido reconhecido e trabalhado em pesquisas acadmicas ao redor do mundo de
forma crescente. O European Institute for Advanced Studies in Management
(EIASM) realizou, em setembro de 2012, na cidade de Katowice, Polnia, a quinta
edio do Workshop on Coopetition Strategy. Os melhores trabalhos apresentados e
discutidos nesse evento sero publicados em edies especiais dos peridicos
International Studies of Management and Organization e International Journal of
Business Environment, fazendo crescer a lista de trabalhos sobre o assunto
-
19
publicados na ltima dcada, que j ultrapassa os 160 textos. Os encontros da
EIASM so realizados a cada dois anos desde 2004 e, somados aos eventos sobre
o tema realizados pela European Academy of Management (EURAM) como parte de
seus encontros anuais em 2002 e 2007, ao workshop realizado pela Academy of
Management, em 2009, aos painis realizados em 2010 e ao simpsio organizado
em 2011 pela Strategic Management Society, totalizam ao menos 11 eventos
internacionais sobre o tema coopetio nos ltimos 10 anos (EIASM, 2012).
Alm dos trabalhos que apresentam o conceito de coopetio (Bengtsson &
Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff, 1996), aqueles que versam sobre a criao
de valor em arranjos de coopetio entre atores que se complementam (Tsai, 2002)
e interdependncia entre os atores (Dagnino & Padula, 2002) e buscam trazer um
panorama geral do estado da pesquisa sobre coopetio (Stein, 2010; Walley, 2007)
esto entre as publicaes mais representativas sobre o assunto.
Ainda assim, apesar do esforo de pesquisadores, das publicaes e eventos
dedicados ao assunto, o tema da coopetio, no entanto, ainda carece de bases
tericas e estruturao prpria (Stein, 2010). O presente trabalho representa um
esforo na busca por essa consolidao ao proporcionar literatura respectiva a
proposio terica e a comprovao emprica de que esse tipo de relacionamento
pode ser identificado e, portanto, trabalhado tambm nos relacionamentos
interpessoais. A colaborao efetiva para a busca de consolidao terica para o
tema subsequente concluso deste trabalho e refere-se possibilidade de se
aplicar s redes de empresas conceitos que esto consolidados na teoria sobre
redes sociais. Afinal, como prope o ttulo do segundo captulo deste trabalho: redes
so redes. Nesse sentido, redes de indivduos ou instituies devem ser
trabalhadas de forma semelhante.
Reforando, a colaborao e a importncia da realizao deste trabalho se
do em funo da observao de uma lacuna na literatura sobre o assunto, que
considera coopetio como algo que apenas ocorre nas relaes entre as
instituies. Como ser apresentado adiante, no possvel detectar argumentao
que limite a aplicao do conceito e, em consequncia disso, a aplicao desse tipo
de relacionamentos apenas a um aspecto meso.
A observao dessa lacuna nas publicaes ajuda a compor a justificativa
para a realizao deste trabalho, que teve como objetivo responder a seguinte
-
20
questo norteadora: possvel observar relacionamentos coopetitivos nas relaes
interpessoais?
Para tanto, foi necessrio construir, em primeiro lugar, as bases tericas que
justificam afirmar que existe uma falha de informaes sobre coopetio. O segundo
captulo reporta esse esforo terico, que busca, a partir da compreenso das
diferentes descries conceituais feitas sobre redes e, em especial a coopetio,
apresentar que no h na teoria argumentos que impeam que esse tipo de
relacionamento possa ser identificado em relaes interpessoais. Nesse ponto a
colaborao do presente trabalho para a literatura sobre o tema comea a emergir.
Na sequncia, apresentado o plano de investigao emprica executado
para demonstrar que esse tipo de relacionamento pode ser detectado em mbito
micro. As discusses iniciadas em diferentes momentos e situaes sobre o
desempenho dos pesquisadores em Administrao no Brasil (Machado-da-Silva,
2003; Mattos, 2008; Mello, Crubellate, & Rossoni, 2010; Rodrigues, 2004; Roesch,
2003; Rosa, 2008) motivaram a seleo do cenrio em questo como o mais
adequado para a conduo da investigao emprica proposta.
O cenrio em questo, em que os pesquisadores e os programas de ps-
graduao que os empregam so avaliados periodicamente pela Coordenao de
Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES), mostra-se um ambiente
em que h competio em diferentes nveis. Primeiramente, no nvel institucional,
um programa com avaliao mais detalhado da Capes tem mais relevncia do que
outro com avaliao mais superficial. A busca pela melhor avaliao institucional ,
ento, estratgica para os programas.
Em segundo lugar, no nvel individual particular a este trabalho e bastante
importante na classificao das instituies pela Capes , os pesquisadores so
avaliados periodicamente levando-se em conta a sua produo cientfica. Como
essa produo reportada basicamente por meio de publicao de trabalhos em
peridicos de carter cientfico, a Capes usa o ndice Qualis como forma de valorar a
produo do pesquisador de acordo com o impacto, alcance, carter e relevncia do
peridico em que seu trabalho publicado. Essa deciso implica um incentivo extra
na busca por parte dos pesquisadores pela publicao em peridicos com mais
relevncia, pois na contabilizao dos pontos referentes sua produtividade, esses
peridicos possibilitam melhor avaliao ao pesquisador (Mattos, 2008).
-
21
Como consequncia disso, publicar em peridicos de mais alcance e
relevncia torna-se quase um imperativo para os pesquisadores. No entanto, os
espaos para publicao so limitados. A quantidade de peridicos com as melhores
classificaes no sistema Qualis restrita, o que demonstra a escassez de um
recurso disputado pelos indivduos pesquisadores. Estes, portanto, atuam como
competidores, buscando os pontos representados pelas publicaes. Entretanto, sua
atividade a pesquisa cientfica algo que demanda a colaborao em sua
natureza (Merton, 1979; Newman, 2004a, 2004b; Roebken, 2008; Roesch, 2003;
Rossoni & Filho, 2009; Silva, 2002).
Nesse sentido, observar as redes sociais numa perspectiva da atuao
profissional dos atores mostra-se relevante para estabelecer um recorte apropriado
no enquadramento adotado e contribui de forma preponderante para desenhar o
cenrio da presente pesquisa.
No terceiro captulo deste trabalho, alm da proposta de estratgia emprica
para busca pela resposta da pergunta norteadora, tem-se tambm a descrio e
contextualizao mais detalhadas do cenrio em que os pesquisadores brasileiros
atuam.
O quarto captulo trata dos procedimentos executados para identificao das
redes de pesquisadores em Administrao no Brasil e reporta os procedimentos de
anlise de redes sociais (ARS) executados com a finalidade de se conhecer a
topologia dessa ampla rede e detectar indivduos-chave. Alm disso, os
procedimentos de ARS executados possibilitaram descobrir caractersticas dos
arranjos entre os pesquisadores que auxiliam a responder a pergunta norteadora
estabelecida.
Na sequncia, o quinto captulo descreve a etapa qualitativa, que buscou, por
meio de entrevistas com atores-chave da rede mapeada, informaes que os
procedimentos de ARS no conseguem fornecer e que so importantes para a
consolidao das argumentaes que so usadas para responder a pergunta
proposta.
Por fim, o sexto e ltimo captulo consolida as argumentaes necessrias
para responder a pergunta norteadora desta pesquisa. Alm disso, indicam-se
direcionamentos para possveis estudos que possam vir a contribuir para o
aprofundamento do tema e colaborar para a viabilizao de estudos sobre
coopetio em relacionamentos interpessoais.
-
22
2 REDES SO REDES
Resumo: a sociedade se organiza em redes. A perspectiva das redes, ento, algo
que deve ser considerado inerente vida social, especialmente quando se observa
o fato de que no vivel (ou mesmo possvel) para um dado ator seja ele uma
pessoa ou uma organizao viver de forma completamente independente e isolada
de outros e em mltiplas instncias. Esses arranjos ou estruturas em rede
normalmente so abordados na literatura de Administrao sob uma perspectiva
organizacional e, nesse sentido, podem ser formados em cenrios que variam entre
a competio, a colaborao e um tipo de relao mista. Nesta ltima, atores que
normalmente competem entre si resolvem colaborar de alguma forma para atingir
algum objetivo que seja comum, ou seja, tem-se a colaborao entre atores que
interagem em um ambiente competitivo. A este tipo de relao entre as organizaes
d-se o nome de coopetio. O presente trabalho prope que seja abandonada a
exclusividade da adoo do termo e dessa modalidade de relao no contexto
meso. Para demonstrar que no h argumentao terica suficientemente
organizada que leve o pesquisador a acreditar que essa abordagem deva ser
associada exclusivamente a um panorama meso, o presente trabalho lana mo de
um estudo bibliogrfico sobre o conceito em questo. Como previamente
apresentado, o objetivo evidenciar que o conceito de coopetio tambm pode ser
aplicado s relaes individuais.
Palavras-chave: Redes sociais. Coopetio. Fronteiras meso-micro.
Abstract: Society is organized in networks. The perspective of networks, then, is
something that should be regarded as inherent in social life, especially when looking
at the fact that it is not feasible (or even possible) for a given actor - whether a
person or an organization - to live completely independently and isolated from others
and in multiple instances. These arrangements or network structures are usually
addressed in the literature of Administration under an organizational perspective and,
accordingly, may be formed in contexts ranging from the competition, collaboration
and a mixed type of relationship. In the latter, players who normally compete,
collaborate to achieve any goal that is common. This type of relationship between
-
23
organizations is denominated coopetition. This paper proposes abandonning the
exclusive adoption of the term and this type of relationship in the meso context. To
demonstrate that there is no theoretical argument sufficiently organized that leads
researchers to believe that this approach should be linked exclusively to a meso
context, this paper makes use of a bibliographic study. As presented, the goal is to
show that the concept of coopetition can also be applied to the context of individual
relationships (micro).
Key words: Social networks; coopetition; Meso-micro boundaries.
2.1 Introduo
A sociedade se organiza em redes. Desde os arranjos sociais mais simples
at as estruturas mais complexas, as pessoas interagem entre si em matrizes de
relacionamentos de redes (Nohria & Eccles, 1992) em diferentes dimenses. Essas
redes podem ser compostas de pessoas ou organizaes; ambos os casos so
considerados ns de redes de interao social que se ligam por meio de
relacionamentos (Castilla, Hwang, Granovetter, & Granovetter, 2000). A perspectiva
das redes, ento, algo que deve ser considerado inerente vida social,
especialmente quando se observa o fato de que no vivel (ou mesmo possvel)
para um dado ator seja ele uma pessoa ou uma organizao viver de forma
completamente independente e isolada de outros e em mltiplas instncias. Tudo e
todos esto interligados de alguma forma (Barabasi, 2003).
Em cada um dos diferentes aspectos da vida h uma ou vrias redes nas
quais as pessoas se encontram inseridas em relacionamentos sociais interativos de
mltiplos nveis (Kilduff, Tsai, & Hanke, 2006). Essas relaes sociais se mostram
dinmicas em termos principalmente estruturais, em que os laos que se
estabelecem entre as pessoas podem apresentar diferentes pesos ou foras
(Granovetter, 1973) e tambm direes, indicando poder ou influncia.
Tanto no nvel meso quanto no micro (Blau, 1977) de anlise de redes as
relaes que se estabelecem entre os atores configuram campo importante para a
Administrao, uma vez que seus desdobramentos moldam as alteraes que
acontecem tanto dentro das organizaes quanto no prprio ambiente em que essas
-
24
organizaes se inserem. Da mesma forma, as relaes entre indivduos so
afetadas e moldadas pela dinmica relao de rede.
Esses arranjos ou estruturas em rede normalmente so abordados na
literatura de Administrao sob uma perspectiva organizacional e, nesse sentido,
podem ser formados em situaes que variam entre a competio, a colaborao e
um tipo de relao mista. Nesta ltima, atores que normalmente competem entre si
resolvem colaborar de alguma forma para atingir algum objetivo que seja comum, ou
melhor, tem-se a colaborao entre atores que interagem em um ambiente
competitivo. A esse tipo de relao entre as organizaes d-se o nome de
coopetio (Bengtsson & Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff, 1996; Dagnino &
Padula, 2002; Garcia & Velasco, 2002; Kotzab & Teller, 2003; Padula & Dagnino,
2007; Tsai, 2002).
A coopetio chama a ateno porque comum e esperado que se
enxerguem em relacionamentos interpessoais as relaes puras de competio ou
de colaborao. Isso porque, afinal, os grupos e, numa escala mais ampla, as
organizaes tm origem em associaes entre indivduos (Boissevain, 1968). No
entanto, o terceiro tipo de relacionamento coopetio no explorado quando se
observam as redes entre os indivduos. O presente trabalho tem como objetivo
questionar a exclusividade da aplicao e do estudo do conceito de coopetio nas
organizaes, propondo que sua utilizao seja tambm estendida ao micro, ou seja,
s relaes individuais.
Levando-se em considerao a dificuldade de se identificar os limites que
separam o que de nvel micro, meso ou macro (Blau, 1987; Lopes, 2004; Peng &
Luo, 2000; Schillo et al., 2001) e tendo-se em conta ainda que o entendimento de
estruturas em rede uma espcie de resposta para essa dicotomia entre os nveis
(Granovetter, 1973, 1992), encarar as relaes entre instituies de forma diferente
daquelas que se estabelecem entre indivduos pode representar uma barreira para o
avano no entendimento pleno da maneira pela qual as estruturas sociais
funcionam.
A crescente importncia das redes de indivduos que se relacionam de forma
independente, rompendo as fronteiras das organizaes (Castilla et al., 2000), ajuda
a reforar a importncia da necessidade de que se inverta o foco de anlise das
relaes sociais, partindo agora das relaes entre os indivduos, e - dentro de um
-
25
continuum - chegar aos grupos (Boissevain, 1968). Observar as relaes entre as
pessoas, atribuindo a esse grau de anlise o dos relacionamentos interpessoais, a
sua devida importncia, ser possvel inferir que, em determinada indstria ou setor,
mesmo que as organizaes no se relacionem de forma direta, a existncia de
laos entre os indivduos a elas pertencentes pode fornecer indicadores importantes
referentes a influncia e alinhamento.
A importncia da mudana do foco do nvel meso para o micro se d tambm
em funo da j relatada dificuldade de se estabelecer as fronteiras das relaes
entre as organizaes e as relaes entre os indivduos que fazem parte dessas
organizaes. Enquanto as redes formadas por organizaes formam grupos s
vezes independentes e que no se ligam entre si, as redes de indivduos que
pertencem a essas organizaes mostram-se uniformemente distribudas,
desmontando a estrutura atomizada das redes de organizaes (Castilla et al.,
2000).
Encarar as relaes em rede de forma a separar os relacionamentos
interpessoais dos relacionamentos interorganizacionais pode, portanto, ocasionar
problemas para a pesquisa sobre redes especialmente no que se refere aos
relacionamentos de coopetio. Nesse sentido, a finalidade deste trabalho
demonstrar que o conceito de coopetio pode ser aplicado aos relacionamentos
interpessoais. Para tanto, buscou-se a desconstruo do conceito de coopetio
para demonstrar que no h justificativa conceitual para que sua aplicao se
restrinja a relaes entre organizaes.
O ponto central da argumentao que defende o conceito de coopetio a
de que, aps avaliadas as possibilidades de atuao por parte de uma organizao,
haver momentos em que se aliar s organizaes concorrentes poder ser mais
vantajoso - em diferentes aspectos - do que simplesmente atuar competindo
diretamente com elas (Bengtsson, Hinttu, & Kock, 2003; Bengtsson & Kock, 2000;
Brandenburger & Nalebuff, 1996; Dagnino & Padula, 2002; Das & Teng, 2000; Gee,
2000; Ketchen, Snow, & Hoover, 2004; Kotzab & Teller, 2003; Loebecke, Fenema, &
Para demonstrar que no h argumentao terica suficientemente
organizada para afirmar que essa abordagem deva ser associada exclusivamente a
um contexto meso, o presente trabalho lana mo de um estudo bibliogrfico sobre
-
26
o conceito em questo. Como previamente apresentado, o objetivo evidenciar que
o conceito de coopetio tambm pode ser aplicado s relaes individuais.
Foi realizada pesquisa bibliogrfica tendo como ponto de partida o conceito de
coopetio. Para auxiliar na reunio de material terico publicado sobre o tema,
utilizou-se a ferramenta de pesquisa Google Acadmico. Foram reunidas as
publicaes com mais quantidade de citaes e, a partir delas, outras publicaes
sobre o tema foram localizadas e devidamente estudadas, a fim de se obter um
panorama consistente do que se publica e se afirma acerca do tema e das
definies atribudas pelos diferentes autores acerca do que vem a ser coopetio e
suas caractersticas.
O intuito de se conduzir este formato de investigao para o presente trabalho
foi levantar as definies de coopetio a fim de se descobrir as eventuais
peculiaridades conceituais do construto terico e reforar a argumentao inicial de
que o que se afirma sobre essa modalidade de relacionamento, embora inicialmente
associado a relaes interorganizacionais, pode ser aplicado num nvel micro das
relaes interpessoais.
2.2 Competio, colaborao e coopetio
As organizaes podem se relacionar de trs formas: competindo entre si por
um recurso escasso, colaborando em conjunto para a obteno de benefcios e
numa perspectiva mista em que competidores cooperam entre si em algum aspecto
de sua atuao. A competio uma relao de rivalidade direta entre atores, que
se estabelece devido necessidade, ou dependncia, de condies estruturais
ambientais (Bengtsson & Kock, 2000).
Os relacionamentos entre atores que competem so, ento, processos
interativos em que as aes de um ator afetam os outros componentes da estrutura.
Trata-se de um processo em que diferentes atores detm interesses divergentes que
os fazem atuar em um comportamento orientado para atender s suas necessidades
individuais (Padula & Dagnino, 2007). Dessa forma, como os atores que competem
em busca de um recurso que no pode ser obtido em sua plenitude por todos os
atores do ambiente, a conquista desses recursos por um dado ator se d custa da
perda por parte de outros atores.
-
27
Normalmente, portanto, relacionamentos de competio so enxergados
como sendo caractersticos de um recorte horizontal de um dado ambiente, quando
os atores presentes no ambiente no se relacionam em uma estrutura hierrquica,
disputando os mesmos recursos e objetivos (Achrol, 1997; Chandler, 1969;
Rindfleisch, 2000; Sheth & Sisodia, 1999).
Em se tratando das relaes de cooperao, embora seja mais fcil entend-
las quando observado um recorte vertical, ou seja, nas situaes em que as funes
dos atores so complementares entre si, possvel estabelecer relaes de
cooperao tambm no recorte horizontal. Ampla definio de cooperao (Franco,
2007), apresenta essa modalidade como sendo uma deciso estratgica que pode
ser formalizada ou no entre duas ou mais partes que tem como objetivo a troca
ou compartilhamento de recursos a fim de obterem benefcios mtuos.
Tendo em vista que as redes de cooperao proporcionam ambiente favorvel
aprendizagem e s inovaes, de se esperar que esse tipo de relao acontea
independentemente de relao hierrquica entre os atores envolvidos, sendo
relevantes para sua formao os seguintes fatores: acesso a solues; escala e
poder de mercado; aprendizagem e inovao; relaes sociais; e reduo de custos
(Verschoore & Balestrin, 2008).
A reunio de caractersticas que permitem adaptao a um ambiente de
competio em uma estrutura unificada e que padronizam aes de atores que
competem entre si, mas que permitam, a estes, ganhos competitivos a ideia
central para o estabelecimento de redes de cooperao (Verschoore & Balestrin,
2008). Essa ideia reforada quando se leva em considerao o fato de que atores
que agem cooperativamente no significa a ausncia de concorrncia entre eles
(Leite, Lopes, & Silva, 2009).
A mais importante caracterstica da cooperao a sua circunscrio a
projetos e objetivos bem delimitados pelos envolvidos e compartilhados por eles.
Nesse aspecto, ela pode acontecer entre rivais diretos (Guimares, 2002). A lgica
predominante no estabelecimento de redes de cooperao fundamenta-se, seguindo
esse princpio, na possibilidade de ganhos para as partes envolvidas que se
associam (Verschoore & Balestrin, 2008). Do contrrio, esses atores no
cooperariam.
Sistemas de cooperao so projetados para que todos os envolvidos se
beneficiem na construo e sustentao de vantagem competitiva, combinando seus
-
28
recursos e competncias para a criao de valor ( sando a
emerso de conhecimento (Balestrin, Vargas, & Fayard, 2005). mais comum que
organizaes se aproximem em relacionamentos de rede com o intuito de
colaborarem em arranjos construdos para servir a diferentes propsitos que vo
desde a colaborao para a busca de um recurso comum, o compartilhamento de
capacidades para benefcio mtuo ou a regulamentao de uma dinmica de ao
conjunta entre os envolvidos. No entanto, o surgimento ou formao desse tipo de
arranjo entre atores no necessariamente acontece de forma planejada, podendo se
desenvolver e se manter de maneira espontnea, enquanto houver um
relacionamento entre os envolvidos (Axelrod & Hamilton, 1981; Axelrod, 1988).
Esses extremos de relacionamento competio e colaborao foram
muitas vezes tratados como as nicas formas possveis de interao em uma rede.
Contudo, nas ltimas dcadas, no entanto, tem sido notado que muitos atores
organizacionais competem e cooperam de forma simultnea (Walley, 2007). As
relaes que emergem entre atores que competem e cooperam entre si num mesmo
relacionamento so paradoxais e fazem transparecer uma terceira abordagem
relacional que constitui uma maneira diferente de enxergar esses relacionamentos
(Bengtsson & Kock, 2000).
O nome dado a essa terceira modalidade de relacionamentos coopetio e
seu conceito oriundo de um trabalho (Brandenburger & Nalebuff, 1996) que
abordava a teoria dos jogos e suas relaes com as estratgias de organizaes.
Um dos pontos-chave da argumentao deste trabalho que uma abordagem de
conduo das atividades de uma organizao baseando-se apenas na competio
com outros atores leva a inmeras perdas (Brandenburger & Nalebuff, 1996; Walley,
2007).
Ao serem analisados sob a perspectiva da teoria dos jogos, os cenrios
caracterizados pela ao competitiva predadora dos atores eram considerados
perda-e-ganho. Nesse sentido, para obter certo ganho em determinado aspecto de
sua ao, um ator abria mo de ganhos potenciais que seriam obtidos se, em
alguma esfera, cooperassem com aqueles com quem competem. A partir de meados
da dcada de 1990, essa viso passou a dar lugar a uma concepo de relaes de
cooperao que produzem um cenrio de ganho-e-ganho (Walley, 2007), mesmo
sendo observadas as relaes entre competidores.
-
29
Sobre essas relaes entre atores, h trabalhos que defendem a
possibilidade da existncia de relacionamentos de colaborao entre competidores
de forma indireta (Axelrod, 1987, 1988; Axelrod & Dion, 1988; Axelrod & Hamilton,
1981; Khanna, Gulati, & Nohria, 1998; Lado, Boyd, & Hanlon, 1997; Sauaia & Kalls,
2007) no se referindo exatamente ao termo coopetio e de forma direta
(Bengtsson & Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff, 1996; Dagnino & Padula,
2002; Garcia & Velasco, 2002; Garraffo, 2002; Kotzab & Teller, 2003; Leite et al.,
2002; Walley, 2007), ainda afirmando que esta seja, na verdade, uma modalidade de
colaborao em que os envolvidos atuam de forma a perpetuar a relao, uma vez
que percebem que, se assim procederem, obtero ao mesmo passo que
proporcionaro benefcios.
Os benefcios obtidos a partir da formao de arranjos de colaborao ou
cooperao entre competidores podem ser da ordem de ganho em fora competitiva
(Ahuja, 2000; Jarillo, 1988; Leite et al., 2009; Verschoore & Balestrin, 2008), acesso
e compartilhamento de informaes, mercados, recursos e tecnologias (Ahuja, 2000;
Biermann, 2007; Gulati, Nohria, & Zaheer, 2000; Vanhaverbeke, Gilsing, Beerkens, &
Duysters, 2009), criao de conhecimento (Balestrin et al., 2005), valor
(Brandenburger & Nalebuff, 1996), aprendizado (Cowan, 2006), transferncia de
conhecimento (Loebecke et al., 1999), desenvolvimento conjunto de tecnologias e
inovao (Ahuja, 2000; Guimares, 2002; Gulati et al., 2000; Vanhaverbeke et al.,
2009), sucesso no alcance de objetivos (Balestrin, Verschoore, & Reyes Junior,
2010; Oliver & Ebers, 1998; Zineldin, 2004), aumento nos lucros (Sauaia & Kalls,
2007; Silva, Motta, & Costa, 2007), desenvolvimento colaborativo de vantagens
individuais dos atores envolvidos (Das & Teng, 2000) e tambm do poder de
negociao (Bertolin, Santos, Lima, & Braga, 2008).
As relaes de coopetio so formadas com a finalidade de trazer benefcios
para os envolvidos e so consideradas uma maneira eficiente de lidar com a
cooperao e a competio entre competidores (Bengtsson & Kock, 2000) que
compartilhem caractersticas semelhantes e sejam, portanto, similares (Das & Teng,
2000) alm de terem viso e objetivos concomitantes (Zineldin, 2004).
Percebe-se, em funo disso, que as argumentaes que auxiliam na
construo de um conceito de coopetio se confundem com aquelas presentes na
literatura sobre colaborao e cooperao, especificamente quando se argumenta
-
30
acerca dos benefcios dos arranjos de colaborao e cooperao
interorganizacional.
Tem-se, dessa forma, que o conceito de coopetio refere-se s relaes de
colaborao e cooperao concomitantemente estabelecidas entre dois atores que
competem entre si. No entanto, as relaes coopetitivas extrapolam as definies de
colaborao, uma vez que se referem a questes mltiplas fundamentais para os
atores envolvidos, enquanto as relaes de colaborao so direcionadas a
questes especficas (Gee, 2000). Trata-se de uma abordagem - com crescente
adeso por parte de pesquisadores (Ketchen et al., 2004) - de arranjos que mescla
as definies de competio e da cooperao (Dagnino & Padula, 2002), sendo
possvel notar a ocorrncia, de forma concomitante, de competio e cooperao
entre atores de um mesmo setor ou indstria, mesmo em um ambiente altamente
competitivo (Kotzab & Teller, 2003).
Embora disputem numa instncia de suas relaes um ou mais recursos que
podem ser limitados, esses atores se arranjam em grupos de cooperao que visam
a minimizar a competio e unir foras na disputa pelos eventuais recursos limitados
ou mesmo ganhos que podem no vir a ser mensurveis (Balestrin et al., 2010; A.
Guimares, 2002; Oliver & Ebers, 1998).
Numa abordagem coopetitiva, os atores envolvidos consideram que, para seu
sucesso individual, no necessrio que outros atores falhem na disputa pelo
objetivo que tm em comum (Zineldin, 2004). Para tanto, os relacionamentos entre
os atores so construdos de forma que a capacidade competitiva individual de cada
ator - e tambm do conjunto - seja aumentada sem que outros elementos
estratgicos individuais sejam minados (Ketchen et al., 2004). Ao trabalharem em
conjunto para que sejam obtidos benefcios mtuos, os atores envolvidos - mesmo
que competidores - colaboram para que o sistema no qual esto envolvidos se
beneficie (Gee, 2000).
Esses tipos de relacionamento de coopetio podem envolver diferentes
graus de colaborao e competio (Luo, 2004). Nesse sentido, pode ser possvel
observar que em determinadas associaes exista mais competio do que
colaborao e, em virtude disso, as relaes entre os envolvidos demandam mais
cautela. J em outras associaes, o comprometimento e a parceria so superiores
competio em si.
-
31
Ao reunir elementos descritivos tanto de relacionamentos competitivos quanto
de relaes de colaborao e cooperao, os arranjos coopetitivos demandam dos
atores envolvidos a habilidade de lidar com os ganhos referentes poro
cooperativa e colaborativa da relao, como acesso a fontes externas de
conhecimento e know-how (Loebecke et al., 1999). Isso de d ao mesmo tempo em
que se veem forados a se diferenciarem e gerarem vantagens competitivas
distintas das dos atores com os quais esto se relacionando (Bengtsson et al.,
2003). Nesse sentido, a poro cooperativa da relao assegura o bom
funcionamento do relacionamento (Das & Teng, 2000).
2.3 Coopetio em redes interpessoais: uma alternativa possvel?
As relaes de coopetio envolvem dois tipos de lgica de interao
diferentes, porm de ocorrncia simultnea: competio e cooperao. De um lado,
h a hostilidade motivada pelo conflito de interesses e, de outro, a necessidade de
se estabelecer comprometimento e confiana mtua para que o objetivo comum a
dois atores seja atingido (Garcia & Velasco, 2002).
Na literatura sobre coopetio possvel observar ao menos trs perspectivas
tericas principais que possibilitam a construo de um entendimento dos
relacionamentos coopetitivos: economia de custos de transao (Dagnino & Padula,
viso baseada em recursos (Garcia
& Ve
1996; Dagnino & Padula, 2002; Garcia & Velasco, 2002; Leite et al., 2009; Levy,
Loebbecke, & Powell, 2003; Loebecke et al., 1999).
A colaborao da perspectiva da economia de custos de transao para a
formao do conceito de coopetio est no entendimento da necessidade de um
ator estabelecer aes coordenadas com seus competidores em arranjos de
colaborao em que cada um fornece ao grupo aquele recurso que apenas ele
detm e que importante ou necessrio para todos (Dagnino & Padula, 2002;
er considerado que essa
perspectiva leva em conta risco e confiana. Os atores vo escolher aliar-se aseus
competidores num esquema em que a possibilidade de ganho maior mesmo que
pouco do que o risco de ser vtima de uma ao oportunista de seu parceiro.
-
32
Economia de custos de transao parte da teoria da firma (Coase, 1937;
Williamson, 1973, 1985). De acordo com esta teoria, os custos de transao definem
se um recurso ser produzido externamente ou internalizado. Voltando questo da
coopetio, valer a pena para um ator aliar-se a outro que detm um recurso
especfico se o risco de sofrer uma ao oportunista desse ator for neutralizado pelo
custo de internalizar a produo
2005).
A viso baseada em recursos levanta a necessidade de se desenvolver
vantagens competitivas distintas para que um ator institucional seja escolhido para
fornecer determinado bem ou servio num mercado. Para tanto, o ator em questo
deve identificar seus recursos-chave e avaliar se estes tm valor nas relaes em
que ele se envolve, se so raros, no facilmente copiveis e insubstituveis. Se
esses recursos internos so trabalhados corretamente, esse ator ocupar uma
posio de vantagem em relao a seus pares. Essa vertente terica d sustentao
e colabora na construo do conceito de coopetio, uma vez que a oferta desses
recursos nicos que lhe fornece o fator de atrao para que outros atores se
associem a ele em busca do desenvolvimento de algo comum (Garcia & Velasco,
).
A compreenso de que os indivduos no so sempre bem-intencionados e
tendem a olhar primeiro para si e suas necessidades antes da coletividade e,
antagonicamente, a percepo de que a cooperao ocorre mesmo assim e que a
civilizao baseada nessa cooperao (Axelrod, 1988) formam um bom ponto
inicial para que se entenda a colaborao dos conceitos da teoria dos jogos para a
construo do conceito de coopetio. A abordagem dos jogos trabalha as escolhas
dos atores e representa outra fonte de sustentao para a construo do conceito de
coopetio. Ela aplicada no estudo de relaes em que um equilbrio cooperativo
emerge de aes dos atores (Axelrod, 1987, 1988; Axelrod & Hamilton, 1981; Nowak
& Sigmund, 2000).
A principal maneira usada para explicar a teoria dos jogos a partir da
ilustrao do paradigma da escolha por meio do dilema do prisioneiro. Esse jogo
ilustra que em relaes humanas a escolha pela cooperao suplanta o risco de
adotar uma postura de competio predadora. Apesar de a recompensa ser maior na
situao em que um dos suspeitos delata o outro que fica em silncio, a escolha
-
33
mais recorrente (Axelrod, 1987, 1988; Axelrod & Hamilton, 1981) a de minimizar os
prejuzos em vez de tentar a sorte grande e ambos escolhem ficar em silncio.
O dilema utilizado como uma forte argumentao em prol de uma
associao de colaborao entre instituies que competem entre si (Brandenburger
& Nalebuff, 1996) e, como visto, aplica-se a relaes entre competidores tanto em
nvel meso quanto micro.
Alm dessas trs bases tericas principais, h as questes estruturais da
rede (Bengtsson & Kock, 2000), as cap
2005; Teece & Pisano, 1994) e os fatores relacionados sua imerso na estrutura
(Tsai, 2002) como outros elementos que ajudam a consolidar a construo do
conceito de coopetio na literatura.
A dependncia entre competidores pode ocorrer em funo das
caractersticas da rede, uma vez que as aes dos atores moldam a rede e esta
molda as aes dos atores que dela fazem parte (Bengtsson & Kock, 2000). Essas
questes que envolvem a formao e a dinmica da rede evidenciam a inclinao de
atores para a adoo de posturas de colaborao com outros agentes presentes na
rede com os quais competem por um recurso escasso. Alm disso, a compreenso
dessa dinmica e influncia estrutural permite compreender que em alguns aspectos
das relaes entre os atores a competio ser maior do que a colaborao; e em
outros a situao se inverte. No entanto, em virtude da necessidade da manuteno
da rede os atores tendem a adotar uma postura que minimize a postura unicamente
predadora.
As capacidades dinmicas dos atores referenciam-se aprendizagem de
novos conhecimentos que se transformam em vantagens competitivas. Os atores,
nessa perspectiva, aprendem tanto interna quanto externamente para
desenvolverem suas vantagens competitivas. O aprendizado externo encorajado,
pois a partir dele se obtm know-how dos outros atores envolvidos em arranjos de
cooperao - mesmo que estes sejam seus competidores diretos (
Teece & Pisano, 1994). Nesse sentido, atores escolhem estabelecer relaes de
cooperao que proporcionem aprendizado com base no compartilhamento de
conhecimento (Tsai, 2002).
As relaes que se estabelecem entre os atores, como dito, influenciam e so
influenciadas pela rede. Uma vez que uma rede est estabelecida, as relaes entre
os atores envolvidos tendem a ser gerenciadas pelos prprios atores imersos nessa
-
34
estrutura por meio de aes de colaborao com a finalidade de perpetuar os
benefcios obtidos pelos atores na rede (Tsai, 2002). A manuteno da rede passa a
ser tarefa de todos os atores envolvidos, uma vez que o bem-estar de todos mais
importante do que a maximizao dos resultados obtidos por um ator apenas
(Bengtsson & Kock, 2000).
Um exemplo que ilustra a aplicao das bases conceituais descritas s
relaes interpessoais o de um relacionamento que pode ser estabelecido entre
um cozinheiro, um caador e um carpinteiro que vivem numa pequena vila. Todos
disputam alimento e abrigo e cada um detm um conjunto especfico de habilidades
que importante para o grupo, mas no exatamente distintivo, visto que o
carpinteiro pode aprender a cozinhar, o caador pode aprender a lidar com a
madeira e o cozinheiro pode aprender a caar, por exemplo. No entanto, os custos
envolvidos nos processos de aprendizado para cada um desses indivduos podem
representar prejuzos em suas atividades principais. Cada um deles precisar de
tempo para aprender este novo ofcio sozinho e esse tempo dedicado ao
aprendizado-solo um tempo em que cada um no estar realizando a tarefa que
sua especialidade.
Ento, decidindo cooperar, cada um colabora com o grupo fornecendo o
resultado de seu trabalho e obtendo o benefcio do resultado do trabalho dos outros
envolvidos. Caso um dos indivduos julga que vale a pena correr o risco de produzir
menos aquilo que sua especialidade para aprender um novo ofcio, podendo ser
abalada a relao de cooperao com um de seus pares ou mesmo com o grupo.
nesse ponto de equilbrio das relaes entre esses indivduos que se percebe a
analogia com o cenrio meso. Nele so levados em conta os custos envolvidos em
produzir internamente um recurso ou obter esse recurso de fontes externas, em que
se encaixa a colaborao das teorias dos custos de transao e da viso baseada
em recursos para o entendimento das relaes coopetitivas.
Alm disso, a escolha de cada um dos indivduos, por no cooperar com seu
par, pode lhe trazer consequncias no desejadas. Por exemplo, se o cozinheiro no
colaborar com o carpinteiro, poder ter comida, mas no o abrigo necessrio para se
proteger das intempries. Assim sendo, minimizar seus ganhos tendo que dividir o
fruto de seu trabalho pode proporcionar o benefcio de um abrigo. A perpetuao das
relaes entre o cozinheiro, o carpinteiro e o caador consolida uma rede de
-
35
benefcios mtuos que se fortalece com o tempo. Romper com esses
relacionamentos pode ser desconfortvel para os atores. Assim, pode-se concluir
que colaborar com seu competidor um negcio arriscado, uma vez que as chances
de ser vtima de uma ao oportunista do adversrio alta (Garcia & Velasco, 2002).
Por outro lado, a frequncia de interaes entre os atores pode diminuir o
risco de uma ao oportunista, uma vez que os atores tendem a aprender sobre
seus pares e uma rotina criada ( Ainda assim, o risco no
totalmente eliminado, pois proteger um recurso especfico como conhecimento
tcito, por exemplo, difcil. Isso estimula cada um dos envolvidos a desenvolver
novas capacidades nicas que fazem com que sua presena nesse esquema de
benefcio de grupo seja primordial. Ademais, mesmo sabendo que h a chance de
maximizao dos ganhos individuais, o risco alto e os atores tendem a agir com o
objetivo de perpetuar a relao e no eliminar a concorrncia.
No obstante os princpios tericos listados fazerem referncia a um contexto
meso, possvel compreender que esses princpios se aplicam s relaes
interpessoais.
Observar os tipos de relacionamentos de coopetio que podem ser
estabelecidos entre atores proporciona outra forma de verificar a aplicao desses
relacionamentos a um mbito micro. Embora no existam muitos trabalhos que
proponham uma tipologia dos relacionamentos coopetitivos (Walley, 2007), o esforo
vlido e ajuda a corroborar a proposta deste trabalho.
Ao serem observados os tipos de relacionamentos coopetitivos de acordo
com a carga de competio e colaborao existente na relao cooperao
dominante, relacionamento igualitrio e competio prevalente (Bengtsson & Kock,
2000; Luo, 2004) , a analogia referente aplicao em meso e micro permanece
vlida. Num aspecto micro, as relaes entre cada par de atores pode ser deslocada
para a colaborao ou para a competio; mesmo quando a atuao desses atores
no a de competir diretamente em suas especialidades.
Outra classificao de relacionamentos coopetitivos, desta vez de acordo com
a sua finalidade (Garraffo, 2002), tambm se mostra aplicvel a relacionamentos
interpessoais, uma vez que estes podem se estabelecer para a troca de
conhecimento, colaborao mtua em atividade de pesquisa e desenvolvimento,
estabelecimento de padres e integrao de atividades.
-
36
Uma terceira tipologia de coopetio (Dowling, Roering, Carlin, & Wisnieski,
1996) prope que esse tipo de relacionamento pode acontecer de forma direta ou
indireta entre compradores e fornecedores e entre parceiros que competem
diretamente. O exemplo usado neste trabalho insere os indivduos claramente em
trs tipos de coopetio propostos por essa tipologia.
Cozinheiro, carpinteiro e caador competem diretamente, disputando o
recurso escasso do abrigo e alimentao. Competem indiretamente em relao aos
insumos necessrios para o desempenho de suas funes, uma vez que todos
precisam de madeira para a fabricao de suas ferramentas de trabalho, mas esse
recurso parte principal da atividade do carpinteiro apenas. Caso ampliada a rede
do exemplo proposto, poder ser observado o terceiro tipo de relao de coopetio
dessa tipologia. Um novo grupo pode se ligar a esses trs primeiros indivduos e
outro carpinteiro pode se associar ao primeiro para fornecer um novo tipo de
construo de abrigo mais elaborado que demande trabalho especializado de mais
profissionais.
2.4 Consideraes sobre a aplicao do conceito
Embora o conceito de cooperao num quadro de competio seja bastante
claro e importante para a compreenso das relaes entre os indivduos (Axelrod,
1987, 1988; Axelrod & Dion, 1988; Axelrod & Hamilton, 1981) e tambm na teoria
dos jogos (Armstrong, 2002; Brandenburger & Nalebuff, 1996; Zhong, Zheng, Zheng,
Xu, & Hui, 2007), na literatura de Administrao as relaes de cooperao e
competio concomitantes apenas relatam relacionamentos em uma esfera meso
(Schillo et al., 2001), ou seja, no nvel das organizaes.
Apesar dos estudos dedicados a estes assuntos predominantemente terem
como foco as organizaes (Schillo et al., 2001), possvel perceber que parte da
base conceitual sobre esse tipo de relacionamento tem seu cerne baseado numa
abordagem micro, relacionada aos indivduos (Boissevain, 1968; Borgatti & Foster,
2003; Castilla et al., 2000; Fombrun, 1982; Granovetter, 1985; Newman & Park,
2003).
Alm disso, a aplicao dos conceitos que servem como base para explicar
os relacionamentos coopetitivos se d, como visto, tanto no nvel meso quanto
-
37
micro. Auxilia esta argumentao a meno de que os atores individuais ou
organizacionais , para desenvolverem relacionamentos coopetitivos, devem reunir
interaes, relaes, atitudes, motivos, necessidades objetivos e aes em comum
(Zineldin, 2004).
Com base nas caractersticas e componentes que proporcionam a
sustentao da coopetio, no possvel restringir esse conceito apenas s
relaes interorganizacionais. Mesmo nas relaes interpessoais, possvel
identificar os mesmos componentes que estimulam as relaes de colaborao com
competidores.
A partir da anlise do conceito de coopetio e da relao ntima deste com
os conceitos evidenciados e descritos de colaborao e cooperao, podem-se tecer
argumentaes que permitem concluir que nada existe na apresentao conceitual
sobre relacionamentos coopetitivos que prenda esse conceito ao espao meso. As
mesmas premissas que regem as relaes das empresas podem ser aplicadas s
relaes entre pessoas.
Quando o tema das redes tratado nos estudos de Administrao ou
Economia, normalmente h uma espcie de tendncia a se abordar os agentes
organizacionais e trat-los como indivduos racionais numa rede de relacionamentos
puramente econmicos. Entretanto, os conceitos trabalhados, como j referenciado,
podem tambm referir-se a relacionamentos sociais em configurao micro, ou seja,
das relaes interpessoais.
Deve-se deixar claro, no entanto, que no se trata de negar que relaes
entre pessoas podem ser encaradas de maneira diferente das relaes entre
instituies. O que se prope aqui que sejam adotados os mesmos princpios
usados num nvel quando analisadas as relaes formadas em outro nvel; afinal,
redes so redes.
-
38
3 PROPONDO UMA INVESTIGAO PARA IDENTIFICAR RELACIONAMENTOS
COOPETITIVOS EM REDES INTERPESSOAIS
Resumo: este trabalho parte da premissa de que possvel observar
relacionamentos interpessoais que se encaixem na descrio atribuda coopetio
(Oliveira, 2012a). O objetivo propor diretrizes para uma investigao emprica
acerca da plausibilidade dessa premissa a partir da investigao da(s) eventual(ais)
rede(s) de coautoria formada(s) por pesquisadores em Administrao no Brasil. Na
primeira parte do texto so identificadas e apresentadas as caractersticas sociais
das atividades de pesquisa e trabalho cientfico, bem como listados os antecedentes
tericos que buscam estabelecer relaes entre a necessidade de colaborao entre
os atores e a qualidade de seus trabalhos, alm de apresentado o ambiente de
atuao do pesquisador brasileiro e contextualizado um cenrio para investigao.
Na segunda parte do texto apresentada a proposta de investigao pra conduo
de uma pesquisa emprica a fim de comprovar a premissa que sustenta a ideia
central do trabalho.
Palavras-chave: Coopetio. Redes interpessoais. Pesquisa cientfica. Redes de
Coautoria.
Abstract: This work starts from the premise that it is possible to observe
interpersonal relationships that fit the description given to coopetition (Oliveira,
2012a). The goal is to propose guidelines for an empirical investigation about the
plausibility of this assumption by investigating the possible networks formed by co-
authoring researchers in the field of Administration in Brazil. In the first part of the text
are identified and presented the characteristics of social research and scientific work,
as well as listed the theoretical background that seek to establish relationships
between the need for collaboration between the authors and the quality of their work,
then we present the work environment faced by the Brazilian researcher and
contextualize the scenario for investigation. In the second part of the text we present
a research proposal of an empirical research to prove the premise that supports the
central idea of the work.
-
39
Key words: Coopetition. Interpersonal networks. Scientific research. Networks of co-
authorship.
3.1 Introduo
O termo coopetio (Bengtsson & Kock, 2000; Brandenburger & Nalebuff,
1996; Dagnino & Padula, 2002; Garcia & Velasco, 2002; Kotzab & Teller, 2003; Tsai,
2002) refere-se s relaes simultneas de competio e cooperao entre dois
atores que competem entre si. Esse tipo de relao pode ser vantajoso, uma vez
que proporciona menos perdas para as partes envolvidas na disputa por algum
recurso escasso, mas necessrio, para ambos (Axelrod, 1988). A premissa para
esse tipo de relacionamento simples: para atores que competem em um
determinado segmento mais vantajoso aliar-se aos concorrentes em momentos
especficos para que ambos possam trabalhar conjuntamente na gerao de
resultados que possam ser compartilhados. Consequentemente, ao final do
processo, ambos podem ter individualmente acumulado mais recursos do que se
tivessem mantido apenas a competio entre si.
As relaes coopetitivas extrapolam as definies estabelecidas tanto para a
competio quanto para a colaborao (Dagnino & Padula, 2002), apesar de terem
mais proximidade conceitual com a ltima. Considerando que essas relaes
referem-se a mltiplos elementos fundamentais para os atores envolvidos, essa
extrapolao de definies ocorre porque tais relaes renem caractersticas que
vo alm das questes especficas de um acordo de colaborao, por exemplo
(Gee, 2000). Numa abordagem coopetitiva, os atores envolvidos consideram que
seu sucesso individual no demanda que outros atores falhem na disputa pelo
objetivo que tm em comum (Zineldin, 2004).
As modalidades de relaes concomitantes que so compreendidas pelo
termo coopetio competio e colaborao so familiares aos que estudam os
relacionamentos entre atores tanto no nvel meso (interorganizacional) quanto micro
(interpessoal). No entanto, o conceito no tem sido utilizado para se referir s
relaes interpessoais, permanecendo sua aplicao restrita aos trabalhos que se
referenciam ao nvel meso. Isso se constitui em uma visvel lacuna terica, uma vez
que a literatura especfica sobre o tema no contm qualquer justificativa para que o
-
40
termo coopetio entendido como uma nova abordagem de relacionamento entre
atores tenha seu uso restrito ao nvel meso.
Isto posto, este trabalho parte da premissa de que possvel observar
relacionamentos interpessoais que se encaixem na descrio atribuda coopetio
e classific-los como tal. Desta forma, o objetivo central deste trabalho propor
diretrizes para uma investigao emprica acerca da plausibilidade dessa premissa.
Para tanto, o objeto de estudo a(s) eventual(ais) rede(s) de coautoria formada(s)
por pesquisadores em Administrao no Brasil. Este objeto foi escolhido porque
conforme ser descrito neste texto acredita-se que o ambiente em que atuam os
pesquisadores brasileiros dos programas de ps-graduao stricto sensu em
Administrao proporciona o cenrio ideal para a investigao aqui proposta.
Este texto est dividido em duas grandes partes. Na primeira so identificadas
e apresentadas as caractersticas sociais das atividades de pesquisa e trabalho
cientfico, bem como listados os antecedentes tericos que buscam estabelecer
relaes entre a necessidade de colaborao entre os atores e a qualidade de seus
trabalhos. Esta parte finalizada ao ser apresentado o cenrio de atuao do
pesquisador brasileiro, tendo-se como foco a rea de pesquisa em Administrao,
suas peculiaridades e a apresentao de um cenrio para investigao.
Na segunda parte do texto apresentada a proposta de investigao para
que seja conduzida uma pesquisa emprica a fim de comprovar a premissa que
sustenta a ideia inicial e central deste trabalho.
3.2 Colaborao, coautoria e o carter social da atividade do pesquisador em
cincia
O processo de produo cientfica, independentemente de qualquer outro
aspecto, j denota e demanda a necessidade de associaes (Silva, 2002). Esse
aspecto reflete o carter social da cincia (Rossoni & Filho, 2009), sendo uma das
questes que acabam por proporcionar sua qualidade (Roesch, 2003). Essas
associaes esto na ordem do dia para os que trabalham com pesquisa cientfica
(Merton, 1979), representando as manifestaes mais vvidas e formais da
colaborao entre pesquisadores (Newman, 2004b), bem como construindo um dos
-
41
cenrios mais indicados para a investigao de redes sociais de produo cientfica
(Roebken, 2008).
A questo social da atividade do pesquisador praticamente mandatria.
Chega-se a avaliar negativamente o autor que produz sozinho, publicando apenas
trabalhos individuais. Aqueles que adotam essa postura no raramente so
considerados pesquisadores solitrios, sendo classificados como pouco capazes de
cooperar com seus pares ou de proporcionar orientao eficiente para seus alunos
(Bayer & Smart, 1991). No entanto, embora o apelo por colaborar seja forte,
trabalhar de forma colaborativa no uma obrigao; mesmo porque, no outro
extremo, autores que apenas produzem em conjunto por vezes tambm recebem
avaliaes negativas, sendo classificados como incapazes de produzir de forma
independente (Bayer & Smart, 1991). Neste ponto importante destacar o aparente
dilema que se impe aos pesquisadores: se sua produo concentra-se em
esforos-solo, mais identificados com uma postura relacional competitiva, eles
podem ser avaliados como individualistas. Se essa produo basicamente
resultado de trabalho conjunto, ou seja, fundada em relacionamentos
colaborativos, o pesquisador pode ser considerado dependente do grupo.
Essas avaliaes so extremadas, contendo vises limitadas que pouco
contribuem para o avano dos estudos em determinada rea. Afinal, a postura mais
competitiva e individualista pode ser importante para que um pesquisador produza
conhecimento inovador e relevante. Ao mesmo tempo, a troca de ideias e o debate
conjunto, tpicos da produo colaborativa em grupo, pode igualmente resultar em
trabalhos inovadores e relevantes. Na verdade, a posio adotada neste trabalho a
de que essas posies extremas so importantes apenas para reforar a ideia de
que devem ser consideradas as associaes entre os pesquisadores e seu impacto
na produo cientfica.
Deve-se reiterar aqui que as redes formadas para a colaborao cientfica so
especialmente caras para este trabalho. Em se tratando, portanto, de redes sociais,
deve-se entend-las como sendo o conjunto de atores que atuam num determinado
cenrio e, obviamente, as relaes entre eles (Wasserman & Faust, 1994). Tanto
que, ao observar as redes nas quais os atores so os docentes e/ou pesquisadores
e as conexes entre eles so evidenciadas pela partilha de autoria de trabalhos de
pesquisa (Barabasi, Jeong, & Neda, 2002; Newman, 2001a; Silva, Matheus,
-
42
Parreiras, & Parreiras, 2006), percebe-se que o progresso da cincia depende de
forma preponderante dessas associaes (Autry & Griffis, 2005).
Nesse sentido, as redes de coautoria entre autores e pesquisadores
cientficos consistem em uma importante classe de redes sociais que tm sido
usadas de forma extensiva para se compreender a dinmica das relaes entre
esses indivduos (Liu, Bollen, Nelson, & Sompel, 2005). Como j argumentado, as
relaes de coautoria se mostram como representaes fiis do trabalho de
colaborao intelectual em pesquisa cientfica (Acedo, Barroso, Casanueva, &
Galan, 2006) tendo sua produo s vezes mais bem-avaliadas do que as
produes individuais (Nudelman & Landers, 1972) e reforando a ideia de que as
revolues na cincia no acontecem do dia para a noite nem so fruto de esforos
solitrios (Kuhn, 1970). Pelo contrrio, as revolues so resultados dos trabalhos
de indivduos que atuam em comunidades formando redes que revelam muitas
informaes de grande importncia para quem estuda e trabalha determinado tema
(Newman, 2004b).
A colaborao cientfica mostra-se um empreendimento social, de carter
cooperativo que envolve metas comuns, esforos coordenados e seus resultados
tm responsabilidade e mrito compartilhados (Balancieri, Bovo, Kern, Pacheco, &
Barcia, 2005). Esse empreendimento se traduz em relaes que podem ocorrer em
nvel micro: orientador-orientando, entre colegas, supervisor-assistente e
pesquisador-consultor; e em nvel meso entre organizaes (Subramanyam, 1983),
assumindo diferentes formas que variam desde o simples aconselhamento e
contribuio com ideias at a participao ativa no trabalho conjunto de pesquisa e a
responsabilidade por um procedimento especfico (Katz & Martin, 1997).
Alm de representarem o trabalho de colaborao entre os pesquisadores, as
relaes de coautoria podem refletir uma busca por parte dos envolvidos em
aumentar sua produtividade e a qualidade de seu trabalho (Acedo et al., 2006;
Laband & Tollison, 2000), o que refora as argumentaes que defendem que o bom
desempenho da produo cientfica reflexo de uma comunidade densamente
conectada de autores (Silva et al., 2006).
Complementa esta descrio a questo da homofilia como um dos
impulsionadores do trabalho cientfico colaborativo (Roebken, 2008). O conceito de
-
43
homofilia refere-se tendncia observada de indivduos a se associarem a pares
que compartilham caractersticas sociodemogrficas semelhantes s suas.
A homofilia uma caracterstica de grupos que responde de forma a
influenciar mais do que qualquer outro fator na formao de grupos coesos (Cohen,
1977; Roebken, 2008). Observando por este prisma, espera-se embora este no
seja um quesito obrigatrio para tanto (Laband & Tollison, 2000) que redes de
colaboradores evidenciadas por suas publicaes evidenciem que esses atores
compartilham caractersticas semelhantes (Brass, 2011). Afinal, muitas redes so
homogneas no que diz respeito s caractersticas sociodemogrficas de seus
componentes (Roebken, 2008).
Essas similaridades entre os coautores so preponderantes para que as
relaes se estabeleam com base em confiana e reciprocidade (Katz, Lazer,
Arrow, & Contractor, 2004), reduzindo a tenso e a possibilidade de que se
desenvolvam conflitos nas relaes entre os envolvidos (Sherif, 1958). Afinal,
reforando o que j fora exposto, tem-se que as redes se formam porque os
indivduos tendem a replicar em seus relacionamentos a construo de seus valores
pessoais (Bourdieu, 1980; Coleman, 1988). Dessa forma, os indivduos acabam se
relacionando com outros que compartilham os mesmos valores e interpretam o
mundo de forma semelhante (Granovetter, 1973).
A busca por capacidades complementares tanto para garantir o
enriquecimento em qualidade do trabalho quanto para proporcionar mais
aprofundamento em determinado assunto abordado tendo em vista o alto grau de
especializao, a crescente complexidade do trabalho do cientista e,
consequentemente, de suas pesquisas, demandando esforo conjunto para a
conduo de trabalhos tambm representa motivao para que se estabeleam
associaes (Barnett, Ault, & Kaserman, 1988; Smith, 1958). Alm disso, deve ser
ressaltado que a busca por conhecimento e a demanda por gerao de novo
referencial exercem importante papel nesse sentido (Acedo et al., 2006), bem como
a destacada funo que as relaes de colaborao entre autores, refletidas em
coautoria de trabalhos de pesquisa, tm no processo de formao de
relacionamentos de nvel meso, entre as instituies que abrigam os pesquisadores
(Roebken, 2008).
No podem deixar de ser consideradas questes que adicionalmente
funcionam como motivadoras de associaes entre pesquisadores para a produo
-
44
de trabalhos em coautoria, como a necessidade de aumentar a sua rede e,
possivelmente produzir com novos colaboradores no futuro (Newman, 2001b).
Somam-se a esses motivadores: a necessidade de aportes financiadores cada vez
mais altos para que seja conduzido o trabalho de pesquisa; o reconhecimento
financeiro (Sauer, 1988; Stephan, 1996); e a relevncia - obtidos por um dado autor
ou grupo em virtude de ser o primeiro a publicar sobre determinado tema ou a relatar
determinado achado. E, com isso, traduzindo a questo da prioridade de seu
trabalho (Merton, 1979) bem como o desejo de aumentar a visibilidade do autor ou
grupo (Lawani, 1986).
Fora da esfera acadmica, deve-se reconhecer que coautoria no
necessariamente implica resultado de trabalho colaborativo, mas sim de reflexos de
relaes sociais (Hagstrom, 1965 as cited in Smith & Katz, 2000). No entanto, como
praticamente impossvel detectar essa nuana em procedimentos bibliomtricos,
bem como entender de forma completa o que cada indivduo listado na relao de
autores efetivamente fez no trabalho e qual foi o tamanho do esforo em grupo
necessrio para sua realizao (Smith, 1958), a identificao de coautores
representa (ao menos em tese) que houve trabalho de colaborao.
De qualquer forma, tem-se que a produo cientfica se d de forma a
considerar as associaes entre os atores envolvidos (neste caso, os
pesquisadores). Observar os trabalhos produzidos em coautoria e identificar a partir
disso o resultado da colaborao apresenta-se como um procedimento vlido e que
traz consigo algumas vantagens (Subramanyam, 1983), entre elas a possibilidade de
verificao e replicao de procedimentos bem como a adoo de amostras
significativamente grandes, uma vez que essas relaes de nomes e publicaes
so facilmente acessadas em bases de dados de peridicos. Tem-se em vista que
os dados coletados para investigao de relaes de colaborao observando-se os
trabalhos produzidos em coautoria algo barato e relativamente simples.
No obstante a questo motivadora da formao de associaes de
colaborao entre autores para a publicao de trabalhos cientficos, as redes de
coautoria proporcionam verdadeiro mapa j desenhado e pronto para ser estudado
das relaes tanto pessoais quanto profissionais dos autores (Newman, 2004b). A
observao e anlise dessas relaes de colaborao cientfica entre autores nas
redes de coautoria cientfica mostram que um autor produtivo predominantemente
-
45
colaborativo (Laband & Tollison, 2000; Maia & Caregnato, 2008). Como ser
ressaltado mais a