Controle Maquina Sincrona 2001

download Controle Maquina Sincrona 2001

of 8

Transcript of Controle Maquina Sincrona 2001

  • CONTROLE DE POSIO DE UMA MQUINA SNCRONA A MS PERMANENTES

    Wilian Soares Lacerda - Ms. Eng. Eltrica UFMG Professor Assistente da UFLA - [email protected]

    Paulo Fernando Seixas - Dr. Ing. INPT/Frana Professor Adjunto da UFMG - [email protected]

    Neste trabalho realizado um estudo do controle de posio de uma mquina sncrona a ms permanentes. O mtodo de controle vetorial de campo descrito e analisado. Os resultados experimentais so mostrados evidenciando a eficcia do mtodo de controle para o acionamento de uma mquina eltrica.

    1 INTRODUO

    Mquinas sncronas, com rotor excitado eletricamente, tem um enrolamento de estator geralmente trifsico, e um enrolamento de campo no rotor excitado com corrente CC. O enrolamento de campo pode ser substitudo por ms permanentes. O uso de ms permanentes apresenta diversas vantagens, entre elas: A eliminao de escovas e perdas no

    enrolamento de campo. Como as perdas no cobre e ferro so

    concentradas no estator, o resfriamento da mquina mais fcil.

    A alta eficincia reduz a dimenso da mquina.

    Para um mesmo tamanho da mquina, suas caractersticas podem ser variadas enormemente de acordo com o tipo de ms escolhidos e com a forma de disp-los no rotor.

    Alta densidade de fluxo de entreferro.

    Alta razo potncia/peso. Alta razo torque/inrcia, permitindo

    obter alta acelerao.

    Para acionamentos de alto desempenho, principalmente em servomecanismos de posio, as seguintes caractersticas devem ser satisfeitas: Torque contnuo (sem ripple),

    principalmente em baixas rotaes. Controle de torque mesmo em velocidade

    nula. Operao em altas velocidades. Alta acelerao e desacelerao em curto

    intervalo de tempo. Alto cos(). Estes requisitos podem ser atendidos pelo emprego do mtodo de controle vetorial no acionamento da mquina sncrona a ms permanentes [10]. Neste artigo descreve-se o controle de posio de uma mquina sncrona a ms permanentes empregando-se o mtodo de controle vetorial.

    2 CONTROLE VETORIAL DA MQUINA SNCRONA A MAS PERMANENTES

    Assume-se neste estudo que os ms permanentes so localizados na superfcie do rotor (mquina de polos lisos) ou que os efeitos de salincia do rotor so

  • desprezveis. Os efeitos da saturao magntica tambm so desprezados. Os ms so posicionados num ngulo , relativo ao eixo magntico do enrolamento da fase A do estator, produzindo um pico de distribuio de fluxo magntico (F) conforme FIG. 1.

    Is

    F

    A

    B

    C

    FIGURA 1 - Distribuio de fluxo magntico na mquina sncrona

    As correntes trifsicas dos enrolamentos de estator produzem o fasor espacial das correntes de estator (Is), o que determina a magnitude e deslocamento do pico da fora magnetomotriz de estator produzida pelos trs enrolamentos de estator. O torque eletromagntico pode ser entendido fisicamente como sendo produzido pela tendncia dos ms a alinharem-se com o eixo da fora magnetomotriz do estator. O torque eletromagntico dado por: T =

    32.P. F.|Is|.sen( - ) (1)

    onde: |Is| - o mdulo do fasor espacial da corrente de estator. - o ngulo do fasor espacial da corrente de estator relativo ao eixo

    magntico do enrolamento de estator da fase A. F - o fluxo de rotor. P - o nmero de pares de polos. O fasor espacial da corrente de estator (Is) pode ser decomposto em duas componentes (Isd, Isq) no sistema de dois eixos ortogonais fixos no rotor (eixos dq). No controle vetorial, o eixo direto est sempre colinear com o fasor do fluxo magntico de rotor (F). Veja FIG. 2.

    Is

    FA

    B

    C

    d

    q

    Isd

    Isq

    FIGURA 2 - Diagrama fasorial mostrando as componentes de eixo direto e quadratura

    Neste sistema de eixos, o torque eletromagntico dado por:

    T = 32.P. F.Isq (2)

    onde: Isq - a componente de eixo em quadratura do vetor espacial da corrente de estator expressa no eixo de referncia fixo no rotor. Como o fluxo magntico produzido pelos ms permanentes constante, o torque eletromagntico pode ser ajustado pela corrente de eixo em quadratura de estator no sistema de eixos de referncia fixos no rotor (Isq). O fluxo de excitao fixo no eixo direto do rotor, ento sua posio pode ser obtida

  • diretamente da posio angular do rotor medida, por exemplo, com um sensor do tipo "resolver" [1]. Para uma dada corrente de estator, o torque mximo obtido quando o fasor espacial da corrente de estator contm apenas a componente de eixo em quadratura (Is = Isq), ou seja, a componente de eixo direto zero (Isd = 0). Este modo de operao, mostrado na FIG. 3, possvel abaixo da velocidade nominal, onde suficiente tenso obtida do inversor que alimenta o motor.

    Fd

    q

    Is

    FIGURA 3 - Diagrama fasorial mostrando o modo Isd=0

    Em velocidades acima da nominal, o aumento da fora contraeletromotriz (FCEM) induzida no estator exige um aumento da tenso terminal, que limitada pela tenso CC de entrada do inversor. Neste caso, pode-se reduzir a fora contra-eletromotriz induzida pelo enfraquecimento do campo do rotor. O enfraquecimento de campo pode ser obtido pelo controle da corrente de estator de tal modo que o fasor espacial da corrente de estator no sistema de eixos de referncia fixos em rotor contenha uma componente de eixo direto negativa como mostra a FIG. 4.

    A equao da tenso de estator no eixo de referncia estacionrio quando os efeitos da saturao magntica so ignorados :

    F rjKsq)jIsLjs(R

    sd)IsLjs(R sU++

    ++=

    (3)

    onde: r - a velocidade do rotor. K - constante de proporcionalidade. jKrF - o fasor da fora contraeletromotriz induzida no enrolamento de estator. Rs - a resistncia do enrolamento de estator. Ls - a indutncia prpria do enrolamento de estator.

    Is

    Fd

    q

    Isd

    Isq

    FIGURA 4 - Diagrama fasorial mostrando o enfraquecimento de campo

    Utilizando a equao (3), o seguinte diagrama pode ser traado, onde o ngulo entre a FCEM e Us, e o ngulo de deslocamento da corrente de estator (FIG. 5):

    F d

    q

    Is Isq

    Isd

    FCEM

    RsjIsq

    Us

    jwLsIsd

    RsIsd

    -wLsIsq

    FIGURA 5 - Diagrama fasorial mostrando a tenso Us

  • Considerando Isd=0 (abaixo da velocidade nominal):

    FrjK

    sq)jIsLjs(RsU ++= (4)

    Utilizando a equao (4), o diagrama pode ser traado (FIG. 6):

    F d

    q

    Is Isq

    FCEM

    RsjIsqUs-wLsIsq

    =

    FIGURA 6 - Diagrama fasorial quando Isd=0

    Neste caso o ngulo de carga () coincide com o ngulo de deslocamento da corrente de estator (). Como a reatncia sncrona (Ls) pequena, praticamente zero.

    3 SISTEMA DE CONTROLE

    A FIG. 7 mostra o diagrama do sistema de acionamento completo para realizao do controle de posio da mquina sncrona a ms permanentes [5]. A implementao do sistema de controle vetorial feita por software em computador IBM PC compatvel, utilizando-se linguagem de programao de alto nvel. Atravs de interfaces [4] acopladas ao barramento do computador, possvel a medio das grandezas necessrias ao controle, alm do acionamento das chaves do inversor trifsico [7] que alimenta a mquina sncrona. O ngulo do rotor da mquina (), indicado na FIG. 1 para uma mquina de 2 plos, medido atravs de um sensor do tipo "resolver" [9]. O ngulo medido comparado com o de referncia (*). O sinal de erro utilizado no controlador proporcional de posio cuja sada a velocidade de referncia (*).

    PIP PI

    PI

    Iq* Vq*

    FCEM

    Iq

    Id*Id

    Vd*

    RST

    Mquina CA

    Taco-

    Resolver

    + + + +

    +

    - -

    +

    -

    -

    iaibic

    ABC/dq

    dq/ABC

    MLP

    RetificadorInversor

    va vb vc

    gerador

    FIGURA 7 - Diagrama em blocos do sistema de controle

  • A velocidade do rotor da mquina () medida com um tacmetro e comparada com a velocidade de referncia. O erro utilizado no controlador proporcional-integral de velocidade que fornece a amplitude da corrente em quadratura de referncia (Iq*). Esta componente da corrente de estator a responsvel pelo torque gerado pela mquina. As correntes trifsicas de estator (ia, ib, ic) so medidas por sensores de efeito Hall. Estas correntes no sistema natural so transformadas para o sistema dq fixo no rotor, atravs da seguinte relao [8]:

    (5)

    )

    +

    +

    =

    ci

    bi

    ai

    .

    120e

    sen(- )120e

    sen(- )e

    sen(

    )120e

    cos( )120-e

    cos( )ecos(

    .

    3

    2

    sqI

    sdI

    onde: e o ngulo do rotor em radianos eltricos e = P. A corrente de referncia de eixo direto (Id*) zero, uma vez que no ser utilizado o processo de enfraquecimento de campo. A corrente de eixo direto medida comparada com a referncia. O erro utilizado no controlador proporcional-integral de corrente de eixo direto, fornecendo a tenso de referncia de eixo direto. A corrente de referncia de eixo em quadratura (Iq*) comparada com a corrente medida (Iq). O erro utilizado no controlador proporcional-

    integral de corrente de eixo em quadratura. A sada deste controlador somada fora contra-eletromotriz de estator (FCEM), fornecendo a tenso de referncia de eixo em quadratura (Vq*). Isto corresponde a uma compensao "feed-forward" desta FCEM. A fora contra-eletromotriz calculada em funo da velocidade de rotor medida, no caso da mquina sncrona a ms permanentes. As tenses Vd* e Vq* no eixo de referncia dq so transformadas para o sistema de referncia natural, fixo no estator, atravs da seguinte relao:

    (6) qV

    dV

    .

    )120e

    sen(- )120e

    cos(

    )120e

    sen(- )120-e

    cos(

    )e

    sen(- )ecos(

    cv

    bvav

    ++

    =

    As larguras dos pulsos de comando do inversor [2] so ento calculadas em funo das tenses va, vb, vc. O inversor [3] sintetiza ento a tenso desejada em sua sada.

    4 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

    O sistema de acionamento [6] foi utilizado para acionar uma mquina sncrona a ms permanentes, cujos dados de placa so:

    Servomotor trifsico a im permanente potncia: 1,68KW tenso: 180V corrente: 6,6A frequncia: 133Hz nmero de polos: 8 constante tenso: 0,718Vs

    A seguir, so apresentadas as formas de onda de corrente, posio, velocidade e conjugado adquiridas por um osciloscpio Tektronix TDS460. Consideramos,

  • primeiramente, o caso da malha de velocidade desligada, isto , a referncia de corrente em quadratura definida pelo usurio do sistema. A FIG. 8 mostra o mdulo da corrente em quadratura de referncia (Iq*) e medida (Iq) no sistema de eixos fixos no rotor.

    FIGURA 8 - Corrente de eixo em quadratura (esc: 1V = 2A) canal 1: corrente de referncia (Iq*) canal 2: corrente medida (Iq)

    A FIG. 9 mostra a mesma corrente com maior detalhe.

    FIGURA 9 - Detalhe da corrente de eixo em quadratura; corrente de referncia e medida (esc: 1V = 2A)

    A FIG. 10 mostra a corrente de eixo direto de referncia (Id* = 0) e medida (Id) para as mesmas condies da

    corrente de eixo em quadratura descrita na FIG. 8.

    FIGURA 10 - Corrente de eixo direto (esc: 1V = 2A) canal 1: corrente medida canal 2: corrente de referncia

    A FIG. 11 mostra as correntes de eixo direto de referncia e medida com maior detalhe.

    FIGURA 11 - Detalhe da corrente de eixo direto; corrente de referncia e medida (esc: 1V = 2A)

    As FIG. 12 e 13 mostram o conjugado medido nas condies indicadas nas figuras anteriores.

  • FIGURA 12 - Conjugado medido na mquina (esc: 1V = 2N.m)

    FIGURA 13 - Detalhe do conjugado medido na mquina (esc: 1V = 2N.m)

    A seguir, so mostrados os resultados obtidos no controle de posio da mquina sncrona a ms permanentes conforme o diagrama da FIG. 7. Inicialmente mostrado na FIG. 14 a posio de referncia (*), definida pelo programa, em conjunto com a posio medida (). As velocidades de referncia (*) e medida () so mostradas na FIG. 15 para as condies indicadas na FIG. 14. O conjugado referente s FIG. 14 e 15 mostrado na FIG. 16.

    FIGURA 14 - Posio de referncia e medida (esc: 1V = 60)

    Figura 15 Velocidades (esc: 1V = 2rps) Canal 1: velocidade medida Canal 2: velocidade de referncia

    FIGURA 16 - Conjugado Canal 1: conjugado medido (esc: 1V = 4N.m) Canal 2: conjugado de referncia

  • 5 CONCLUSO

    Neste artigo foi descrito o controle de posio de uma mquina sncrona a ms permanentes. O mtodo de controle vetorial foi estudado e implementado para o controle da mquina sncrona. Os resultados experimentais obtidos demonstram o bom funcionamento do mtodo empregado.

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    [1] BEIGBEDER, G. A special transducer for the control of brushless motors. Revista PCIM, [s.l.], p. 24-28, ago. 1987.

    [2] BOWES, S. R. et al. Microprocessor control of PWM inverters. IEE Proceedings, [s.l.], v. 128, pt. B, n. 6, p. 293-305, nov. 1981.

    [3] DONCKER, R. W., LYONS, J. P. The auxiliary resonant commutated pole converter. IEEE - Industry Applicatons Society Conference Records, [s. l.], p. 1228-1235, out. 1990.

    [4] EGGEBRECHT, Lewis C. Interfacing to the IBM personal computer. 2. ed. Estados Unidos: Howard W. Sams, 1990. 345 p.

    [5] LACERDA, Wilian Soares. Sistema de desenvolvimento para acionamentos eltricos, aplicao ao controle de posio de uma mquina sncrona a mas permanentes.

    Belo Horizonte: UFMG, 1994. 210 p. (Tese, Mestrado em Engenharia Eltrica).

    [6] LACERDA, Wilian Soares, SEIXAS, Paulo Fernando. Proposta de um sistema de desenvolvimento para acionamentos eltricos. Revista Educao & Tecnologia, Belo Horizonte, p. 7-9, no 3, jul./dez. 1996.

    [7] LACERDA, Wilian Soares, CORTIZO, Porfrio Cabaleiro. Estudo e implementao de um inverosr polo ressonante auxiliar. Revista Educao & Tecnologia, Belo Horizonte, p. 11-17, v. 2, no 2, jul./dez. 1997.

    [8] SEIXAS, Paulo F. Commande numrique d'une machine synchrone autopilote. Toulose: Institut National Polytechnique de Toulose, 1988. 237 p. (Tese, Doutorado em Engenharia Eltrica).

    [9] SYLVAN, John. New Options for Resolver to Digital Conversion. Revista Machine Design, outubro de 1987, pg 141-146.

    [10] VAS, Peter. Vector Control of AC Machines. New York: Oxford University Press, 1990.