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CONTROLE DE DOENÇAS DE PLANTAS CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS DE PLANTAS 1.1. Introdução O controle químico de doenças de plantas é, em muitos casos, uma medida bastante eficiente e economicamente viável para se garantir as altas produtividades e a qualidade da produção. Variedades de plantas cultivadas, interessantes pelo bom desempenho agronômico e pela preferência dos consumidores, geralmente aliam uma certa vulnerabilidade a agentes fitopatogênicos. O controle químico de doenças de plantas é praticado com maior intensidade nos países economicamente mais desenvolvidos, onde a agricultura é tecnologicamente mais avançada, com aplicação de mais insumos e previsão de melhores colheitas. Entretanto, o controle químico não deve ser considerado como alternativa única para o controle das doenças, mas sim deve estar integrado junto a um sistema de manejo que visa a adoção das outras práticas já vistas. No entanto, apesar dos esforços de obtenção de cultivares resistentes para as doenças mais destrutivas de muitas culturas importantes como alho, amendoim, batata, cebola, feijão, maçã, morango, soja, tomate, dentre outras, ainda não se pode abrir mão do controle químico para se obter uma produção econômica e estável. 1.2. Breve histórico do uso de substâncias químicas no controle de doenças Substâncias com propriedades fungicidas já eram utilizadas pelas antigas civilizações, embora de forma bastante empírica. Os povos daquela época, através de suas experiências, descobriram a efetividade de certos produtos contra o que denominavam de pestes. Entretanto, o progresso no conhecimento dos fungicidas ocorreu após o século XVIII, graças aos avanços da química, durante os dois últimos séculos. A seguir serão relatados alguns fatos interessantes durante a história do desenvolvimento dos fungicidas. Em 1883, Millardet na França acidentalmente descobriu o valor fungicida da calda bordalesa, para controlar o míldio da videira, constituindo-se, assim num marco na história da utilização dos fungicidas. Em 1886, uma formulação comercial de enxôfre e cal líquida foi introduzida nos EUA, para controlar a cochonilha e a crespeira do pessegueiro. A mistura de enxôfre-cal tornou-se, assim, o primeiro fungicida erradicante. Em 1889, C.M. Weed, em Ohio, usou pela primeira vez a mistura de fungicida com inseticida. Em 1908, Scott, tentando tornar a mistura enxofre-cal menos fitotóxica, adicionou água e ferveu até obter uma pasta que deveria ser diluída em volume maior de água, antes de ser usada. Essa mistura denominou-se calda sulfo-cálcica. Em 1934, Tisdale e Williams, nos E.U.A., relataram a fungitoxicidade dos ditiocarbamatos. Esta contribuição marcou o início da era dos fungicidas orgânicos, embora só tenham entrado em produção comercial mais tarde. Em 1966, Von Schmeling e Harshal Kulka relataram a atividade sistêmica fungicida dos derivados do 1,4 oxathiins (carboxin e oxicarboxin) para tratamento de sementes e em atomização para certos fungos da classe Basidiomycetes. O ano de 1966, portanto, marca o início da era dos fungicidas sistêmicos. De 1970 para frente, numerosos fungicidas sistêmicos, protetores e misturas de fungicidas foram desenvolvidos, mostrando que a importância do controle de doenças por processos químicos é cada vez

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CONTROLE DE DOENÇAS DE PLANTAS

CONTROLE QUÍMICO DE DOENÇAS DE PLANTAS

1.1. Introdução

O controle químico de doenças de plantas é, em muitos casos, uma medida bastante eficiente e economicamente viável para se garantir as altas produtividades e a qualidade da produção.

Variedades de plantas cultivadas, interessantes pelo bom desempenho agronômico e pela preferência dos consumidores, geralmente aliam uma certa vulnerabilidade a agentes fitopatogênicos.

O controle químico de doenças de plantas é praticado com maior intensidade nos países economicamente mais desenvolvidos, onde a agricultura é tecnologicamente mais avançada, com aplicação de mais insumos e previsão de melhores colheitas.

Entretanto, o controle químico não deve ser considerado como alternativa única para o controle das doenças, mas sim deve estar integrado junto a um sistema de manejo que visa a adoção das outras práticas já vistas. No entanto, apesar dos esforços de obtenção de cultivares resistentes para as doenças mais destrutivas de muitas culturas importantes como alho, amendoim, batata, cebola, feijão, maçã, morango, soja, tomate, dentre outras, ainda não se pode abrir mão do controle químico para se obter uma produção econômica e estável.

1.2. Breve histórico do uso de substâncias químicas no controle de doenças

Substâncias com propriedades fungicidas já eram utilizadas pelas antigas civilizações, embora de forma bastante empírica. Os povos daquela época, através de suas experiências, descobriram a efetividade de certos produtos contra o que denominavam de pestes.

Entretanto, o progresso no conhecimento dos fungicidas ocorreu após o século XVIII, graças aos avanços da química, durante os dois últimos séculos.

A seguir serão relatados alguns fatos interessantes durante a história do desenvolvimento dos fungicidas.

Em 1883, Millardet na França acidentalmente descobriu o valor fungicida da calda bordalesa, para controlar o míldio da videira, constituindo-se, assim num marco na história da utilização dos fungicidas.

Em 1886, uma formulação comercial de enxôfre e cal líquida foi introduzida nos EUA, para controlar a cochonilha e a crespeira do pessegueiro. A mistura de enxôfre-cal tornou-se, assim, o primeiro fungicida erradicante.

Em 1889, C.M. Weed, em Ohio, usou pela primeira vez a mistura de fungicida com inseticida. Em 1908, Scott, tentando tornar a mistura enxofre-cal menos fitotóxica, adicionou água e ferveu até

obter uma pasta que deveria ser diluída em volume maior de água, antes de ser usada. Essa mistura denominou-se calda sulfo-cálcica.

Em 1934, Tisdale e Williams, nos E.U.A., relataram a fungitoxicidade dos ditiocarbamatos. Esta contribuição marcou o início da era dos fungicidas orgânicos, embora só tenham entrado em produção comercial mais tarde.

Em 1966, Von Schmeling e Harshal Kulka relataram a atividade sistêmica fungicida dos derivados do 1,4 oxathiins (carboxin e oxicarboxin) para tratamento de sementes e em atomização para certos fungos da classe Basidiomycetes.

O ano de 1966, portanto, marca o início da era dos fungicidas sistêmicos. De 1970 para frente, numerosos fungicidas sistêmicos, protetores e misturas de fungicidas foram

desenvolvidos, mostrando que a importância do controle de doenças por processos químicos é cada vez

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maior. No início da década de 90 surgiu o difeconazole, para uso em manchas foliares de hortaliças e doenças de final de ciclo em soja.

Finalmente, no final da década de 90 surge o grupo das estrobilurinas, sendo o produto Azoxystrobin um dos mais vendidos no Brasil e no mundo.

Novos grupos químicos têm sido lançados como os SAR (systemic acquired resistance) que são os indutores de resistência em plantas.

4.3. Grupos de produtos utilizados

Além do uso dos fungicidas, o controle químico das doenças pode ser feito mediante nematicidas, inseticidas, herbicidas ou bactericidas.

Além de proporcionar um controle direto dos nematóides fitopatogênicos, os nematicidas podem controlar os nematóides que são vetores de patógenos ou matar os nematóides que promovem focos de infecção para fungos e bactérias.

De modo análogo, os inseticidas controlam insetos vetores de patógenos, tais como os cicadelídeos e afídeos transmissores de vírus, ou reduzem os danos devido a ataques de insetos que podem constituir focos de infecção.

Tanto os nematicidas como os inseticidas podem atuar reduzindo o inóculo na fonte como em trânsito. Os herbicidas são usados para prevenir a produção de inóculo ao eliminar o hospedeiro alternado. Estes também podem destruir as ervas daninhas que as vezes servem de hospedeiros a patógenos que atacam determinados cultivos. Certos vírus são particularmente suscetíveis a esse procedimento de controle.

Os parasitas fanerógamos também são controlados mediante o uso de herbicidas, assim como diversos fungos.

O emprego de fungicidas deve ser associado sempre que possível com outras práticas culturais importantes, tais como: destruição de restevas, rotação de culturas, tratamento de sementes, cultivares resistentes, etc., dando um enfoque de controle integrado, a fim de ser logrado maior êxito. Por outro lado, o controle químico deve ser, se possível, inserido no contexto de um sistema de alarme contra doenças.

O uso do termo fungicida, entretanto, restringiu-se a produtos químicos capazes de prevenir infecção de tecidos de plantas por fungos fitopatogênicos.

Três são as classes de substâncias fungicidas: Fungistáticas - paralisam o crescimento dos fungos, e inibem a germinação dos esporos; Genistáticas - inibem a esporulação e Erradicantes - matam os fungos.

4.4. Princípios envolvidos e grupos de produtos Conforme estudado anteriormente, os diferentes grupos de produtos químicos podem ser

empregados segundo os diferentes princípios de controle de doenças. Inseticidas e acaricidas atuam predominantemente pelo princípio da exclusão, prevenindo a

disseminação dos patógenos, geralmente vírus, pela eliminação ou diminuição dos vetores; Herbicidas: atuam pela erradicação do patógeno junto com o hospedeiro, diminuindo a sobrevivência

e a probabilidade de disseminação. Os nematicidas mais comuns são biocidas, com alto poder erradicante, devendo ser aplicados no solo

antes do plantio. Fungicidas e bactericidas: envolvem vários princípios Os inseticidas, acaricidas e herbicidas, não tendo ação direta sobre os agentes infecciosos mais

importantes (fungos, bactérias, vírus e nematóides), não são muito utilizados no controle de doenças. Os Fungicidas e bactericidas constituem um grupo com propriedades químicas e biológicas muito

variáveis, podendo envolver vários princípios de controle em função da natureza do produto, da época e metodologia de aplicação e do estádio de desenvolvimento epidemiológico da doença. Por exemplo, um biocida, como o brometo de metila, só pode ser aplicado de modo erradicante e num ambiente sem o

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hospedeiro; só fungicidas sistêmicos têm potencial curativo; fungicidas protetores podem atuar também de maneira erradicante e sistêmica.

4.5. Controle de doenças com fungicidas O grupo mais importante de pesticidas utilizados para o controle de doenças de plantas é o dos

fungicidas. O emprego de fungicidas no controle de doenças de plantas envolve um ou mais princípios de controle

estudados anteriormente, dependendo da época e metodologia de aplicação, da natureza da doença e do fungicida.

Baseando-se no princípio em que se fundamenta predominantemente a sua aplicação, os fungicidas envolvem:

Proteção – os fungicidas são aplicados na superfície de plantas suscetíveis sadias com o fim de impedir a ocorrência da doença;

Erradicação - as substâncias atuam diretamente sobre o patógeno, na fonte de inóculo ou no hospedeiro doente com a finalidade de reduzir ou minimizar o inóculo primário dos patógenos;

Imunização – consiste na aplicação de substâncias em plantas suscetíveis sadias com o fim de torná-los imunes às doenças;

Quimioterapia – baseia-se na aplicação de substâncias em suscetíveis doentes com o fim de curá-los. 4.5.1 Propriedades dos fungicidas Muitas substâncias químicas são diferencialmente tóxicas ou inibidoras dos organismos. Este é um aspecto essencial no controle químico das doenças das plantas. As substâncias químicas

devem ser menos tóxicas à planta cultivada do que aos organismos (fungos, bactérias, etc) que se pretende controlar.

Um fungicida foliar protetor ou sistêmico, na concentração eficaz, deve matar aos fungos sem danificar a planta hospedeira. Esta toxicidade diferencial é em parte a razão do grande incremento no uso de fungicidas orgânicos desde 1940.

Ainda que muito eficazes contra os fungos, em geral causam menos danos às plantas que os fungicidas inorgânicos. Também é imperativo que o emprego das substâncias químicas nos cultivos sejam inócuas para o homem e animais, enfim, ao meio ambiente.

Alguns termos são comumente usados em relação ao controle químico (ver quadro abaixo)

4.5.2.

Relação entre

dose e reação

As

substâncias

químicas que são

ativas como

fungicidas podem

TERMOS UTILIZADOS NO CONTROLE QUÍMICO

• Princípio ativo (p.a.): composição química (molécula) do componente do fungicida com atividade tóxica. • Tolerância de resíduo (TR): quantidade, em ppm, de resíduo do fungicida permitida no produto vegetal comercializado. • Poder residual (PR): espaço de tempo, em dias, em que os resíduos do fungicida são tóxicos ao patógeno. • Período de carência (PC): espaço de tempo, em dias, entre a última aplicação do fungicida e a colheita, para que não ocorram níveis de resíduos acima dos tolerados para comercialização do produto vegetal. • DL50: quantidade de produto químico, em mg/kg de peso vivo do organismo, que causa 50% de mortalidade na população. Quanto menor a DL50 , mais tóxico é o produto.

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ter uma ampla gama de atividades biológicas e afetar fungos, plantas e animais. Comumente, o uso seguro de um fungicida depende de uma toxicidade diferencial, de maneira que

uma dose específica mate ou iniba os fungos sem prejudicar a planta ou ao homem. A razão desta toxicidade diferencial pode dever-se a que:

o As substâncias químicas penetram nas membranas das células do fungo com mais rapidez que nas do hospedeiro;

o Pode suceder que o fungo não possa metabolizar o fungicida e transformá-lo em, compostos menos tóxicos, enquanto que outras espécies (plantas) podem, fazê-lo;

o Pode ser que existam compostos metabólicos intermediários ou críticos que os fungicidas inativam no fungo e que estes mesmos compostos não sejam críticos para o metabolismo de outros organismos;

o Pode haver outras razões desconhecidas; ou o Associação das razões acima citadas. Qualquer que seja a razão fundamental, o resultado final é que algumas substâncias que são

basicamente tóxicas para todos os organimos, quando utilizadas, em concentrações determinadas, controlam especificamente aos fungos, sem prejudicar as plantas cultivadas.

A relação da DE50 (dose efetiva que inativa ou inibe 50% da população) do patógeno, e a DL50 da planta hospedeira é um índice da margem da segurança do uso de um fungicida em um cultivo determinado. A toxidade de certos fungicidas para os microorganismos está vinculada a sua capacidade de penetrar as membranas celulares. A permeabilidade das membranas celulares se relaciona com a solubilidade dos lipídios (gorduras).

Por outro lado, a toxicidade de um fungicida depende de suas propriedades físicas e químicas. As propriedades físicas que afetam a toxicidade são: o tamanho da partícula; polaridade; solubilidade diferencial em água e em lipídios; aderência á superfície das folhas; tamanho e forma molecular; e evaporação. As propriedades químicas envolvem reação diferencial entre o composto (fungicida) e os sistemas metabólicos essenciais do parasita e do hospedeiro, assim como a estabilidade em condições variáveis do ambiente.

Entre os fatores que ocasionam limitações no uso de fungicidas podemos citar: a) Valor econômico das culturas; b) falta de conhecimento dos agricultores; c) fitotoxidez; d) incompatibilidade com outros defensivos; e) morte de insetos entomófagos e insetos úteis; f) problemas de resíduos.

4.5.3.Classificação dos fungicidas Os fungicidas podem ser classificados segundo vários critérios. Aqui serão apresentadas as

classificações segundo a toxicidade, segundo a cronologia, ou seja a ordem de surgimento dos produtos e finalmente a classificação segundo o modo de aplicação segundo o princípio envolvido. 4.5.3.1. Classificação toxicológica Classe I - Extremamente tóxico - rótulo vermelho Classe II - Altamente tóxico - rótulo amarelo Classe III - Medianamente tóxico - rótulo azul Classe IV - Pouco tóxico - rótulo verde 4.5.3.2. Classificação cronológica a) 1ª Geração

Fungicidas inorgânicos protetores e alguns com ação erradicante. Quanto à natureza química, destacam-se os fungicidas à base de enxofre e cobre, amplamente utilizados na agricultura. Os fungicidas à

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base de mercúrio, inorgânicos ou orgânicos, utilizados em larga escala nas primeiras décadas do século XX, e hoje proibidos, fazem parte dessa geração. b) 2ª Geração

Fungicidas protetores orgânicos introduzidos no controle de doenças de plantas a partir da década de 1940. Constitui o conjunto de fungicidas atualmente mais utilizados no controle de doenças de plantas, possuindo largo espectro de ação. Os principais grupos de fungicidas dessa geração são: ditiocarbamatos, nitrogenados heterocíclicos, dinitrofenóis, fenóis halogenados, nitro-benzeno halogenados, compostos diazo, nitrilas, guanidinas, orgânicos a base de enxofre, derivados de antraquinona e acetamida. c) 3ª Geração

Fungicidas sistêmicos, como thiabendazole e de alguns antibióticos. Entretanto, o grande impulso no uso de fungicidas sistêmicos teve início com a descoberta do carboxin e do benomyl, no fim da década de 1960. Os fungicidas sistêmicos pertencem a uma classe de produtos diferentes dos existentes nas gerações anteriores, pois são muito específicos no modo de ação e tóxicos a baixas concentrações. Os principais grupos de fungicidas dessa geração são: carboxamidas, benzimidazóis, dicarboximidas, inibidores da biossíntese de esteróis, inibidores de oomicetos, inibidores da biossíntese de melanina, fosforados orgânicos e antibióticos. 4.5.3.3. Classificação segundo o modo de ação a) Fungicidas erradicantes ou de contato Há três casos em que fungicidas erradicantes podem ter ação eficiente: no tratamento de sementes, de solo e no tratamento de inverno. Os fungicidas erradicantes visam principalmente a diminuição do potencial de inóculo primário. A eficiência exige desses fungicidas o seguinte: a) alta fungitoxocidade; b) capacidade de atuação mesmo em presença de matéria orgânica e; c) capacidade de penetração nas células mortas.

Tratamento de solo Os fungicidas de solo são essencialmente erradicantes e, em muitos casos, protetores. O sucesso dos fungicidas desse grupo está sujeito a uma série de fatores, alguns dos quais muito mais complexos do que aqueles que atuam sobre os fungicidas das partes aéreas das plantas, isso porque, o fungicida terá que atuar num ambiente complexo onde está sujeito a sofrer interações físico-químicas e biológicas (maiores detalhes foram vistos na seção sobre o princípio de controle da erradicação).

Tratamento de sementes Os fungicidas de sementes visam eliminar os patógenos transmissíveis por sementes ou proteger sementes e plântulas contra patógenos do solo (veja maiores detalhes no módulo sobre tratamento de sementes).

Tabela 5 – Principais fungicidas erradicantes ou de contato

PRODUTO CARACTERÍSTICAS

Brometo de metila Produto gasoso aplicado sob cobertura plástica mantida por 24 a 48 horas. Esperar 7 dias antes do plantio.

Metam sodium Dosagem de 120 mL do produto a 31% por m2 em solos arenosos. Aumentar par 150 a 240 mL em solos argilosos. Encharcar o solo para forçar a penetração do fungicida a uma profundidade de 10 a 15 cm. Devido sua toxicidade fazer intervalo de 14 a 21 dias entre a aplicação e o plantio.

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Dazomet Aplicado com o adubo ou em suspensão aquosa, por meio de irrigação por aspersão. Após a aplicação, irrigar o solo permitindo sua penetração até uma profundidade de 15 cm. Manter o solo em repouso por pelo menos 14 a 21 dias, antes do plantio.

Quintozene Persiste no solo e é excelente para fungos que produzem esclerócios (Rhizoctonia, Sclerotinia, Sclerotiorum, Botrytis, etc.). Aplicar no sulco de plantio ou durante a semeadura. Usar de 300 a 600 g do produto a 75% por kg de semente de amendoim ou de algodão. Também se pode tratar todo o solo (canteiros) com 2 litros da calda por m2, obtida pela dissolução de 300 a 750 g do produto a 75% em 100 litros de água.

b) Fungicidas protetores ou residuais

São aqueles aplicados nas folhagens, ramos novos, flores e frutos, funcionando predominantemente como protetores. Também os fungicidas aplicados no tratamento de sementes são, na maioria dos casos, protetores, estando geralmente associados com ação erradicante e, em alguns casos, com ação curativa ou terapêutica.

Quanto ao modo de ação, os fungicidas típicos deste grupo são inibidores não epecíficos de reações bioquímicas, afetando um grande número de processos vitais que são compartilhados por todos os organismos vivos.

Há evidências de atuação tanto na membrana como no protoplasma celular supondo ser ela maior no protoplasma, onde é maior o número de processos vitais.

Para fungicidas metálicos, há evidências de que o acúmulo inicial e muitas reações subseqüentes ocorrem sobre ou fora da membrana celular.

Fungicidas com alta atividade iônica superficial como o Dodyne, podem reagir com grupos iônicos (sulfidrílicos, carboxílicos, etc.), situados na superfície celular, interferindo irreversivelmente na permeabilidade da membrana e provocando extravasamento dos constituintes celulares. Tais produtos, entretanto, agem também fortemente na inibição enzimática do metabolismo de carboidratos, possibilitando interpretar mudanças de permeabilidade como efeitos secundários da atuação intracelular.

Captan e Dichlone podem inibir simultaneamente muitas enzimas e coenzimas, particularmente as que contêm grupos sulfidrílicos, afetando inespecificamente um grande número de processos metabólicos.

Fungicidas metálicos, como os cúpricos, também envolvem reações com grupos sulfdrílicos; mas, simultaneamente, inibem enzimas não dependentes do grupo sulfidrílico, como a sacarase, catalase, arginase, asparaginase, betaglucosidase, etc.

O enxofre age como competidor de receptores de hidrogênio, rompendo as reações normais de hidrogenação e desidrogenação.

Os bisditiocarbamatos, através do íon isotiocianato, derivado de sua decomposição, reage inespecificamente com enzimas sulfidrílicas.

Os principais fungicidas protetores são apresentados na Tabela 6.

- Fungicigas protetores de folhagens Os fungicidas deste grupo, para serem eficientes em proteger as plantas dependem de uma série de características muitas vezes difíceis de se conciliarem entre si, sendo isso motivo de fracasso de muitos dos compostos químicos candidatos a fungicidas. Vejamos cada uma dessas características de um fungicida protetor de folhagens:

- Fungitoxicidade e especificidade - O espectro de ação dos fungicidas varia grandemente. Portanto, no controle de determinados patógenos, o primeiro fator de sucesso é a fungitoxicidade inerente associado a especificidade. Não se controla míldio da videira com enxofre, nem requeima da batata

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com Karathane, isso porque enxofre e Karathane são fungicidas específicos para oídios. Míldio da videira se controla melhor com calda bordalesa e requeima com Maneb ou Zineb.

o Deposição e distribuição - Os fungicidas protetores, em geral, apresentam textura muito fina, são formulações pós-molháveis ou secos, orgânicos ou inorgânicos, com baixa solubilidade, que podem ser pulverizados ou polvilhados. Para que as partículas se depositem nas plantas, devem ter um momento adequado para superar as forças repulsivas, de natureza eletrostática ou oriundas de correntes de convecção, existentes nas proximidades das superfícies vegetais. Além do problema descrito anteriormente, para que ocorra uma boa deposição e redistribuição, devemos levar em consideração, também, o tamanho das partículas no polvilhamento e da gotícula no caso de pulverizações.

o Aderência e cobertura - Os fungicidas protetores, cuja ação depende dos depósitos nas superfícies tratadas, precisam aderir bem e cobrir o máximo possível da superfície tratada. A adesão e cobertura dependem das propriedades do fungicida, da superfície da planta, da formulação e do equipamento utilizado. Uma das maneiras de melhorar a cobertura e aderência é diminuir o diâmetro das gotas, o que produz um aumento na superfície e na força de adesão. Outra maneira é adicionar espalhante, entretanto, isto geralmente implica na diminuição da tenacidade.

o Redistribuição - Apenas o depósito do fungicida na superfície foliar não garantirá a efetividade do produto, em condições de campo. Atualmente, por mais perfeita que seja a aplicação, sempre escapam espaços que ficam sem proteção. A tenacidade e a natureza do fungicida deve ser levada em consideração pois foi comprovado que a redistribuição é eficiente no caso da calda bordalesa cujas partículas são carregadas com cargas eletrocinéticas positivas e têm grande tenacidade, mas é ineficiente e mesmo prejudicial para o Zineb, cujas partículas são carregadas com cargas eletrocinéticas negativas e tem tenacidade menor.

o Tenacidade - É a propriedade que tem os "depósitos" fungicidas de resistir ao intemperismo. Feito um "depósito" sobre a superfície da planta, sob a ação do intemperismo ele é reduzido a um resíduo. A diferença entre ambos constitui medida de tenacidade (depósito - resíduo = tenacidade). Como regra a tenacidade é diretamente proporcional a insolubilidade dos "depósitos" e inversamente proporcional a toxidez.

o Fitotoxidez - Um composto químico pode ser excelente fungicida mas, se for fitotóxico, na prática, seu uso no controle de doenças pode ser limitado. Por exemplo, em cucurbitáceas não se deve aplicar, ou se aplica com muitos cuidado, fungicidas a base de enxôfre e de cobre. A ação fitotóxica se manifesta por crestamento, redução de crescimento, queda de flores e frutos, pequena produção e redução da fotossíntese.

o Toxidez ao homem e animais - Fungicidas não devem ser tóxicos ao homem e aos animais, principalmente aqueles aplicados diretamente na proteção de órgãos comestíveis, como no caso de hortaliças, frutas e grãos de cereais.

o Compatibilidade - Entende-se como compatíveis duas substâncias que, misturadas, não apresentam alterações em suas características. Em muitos casos é interessante que fungicidas sejam compatíveis com inseticidas, pois é desejável a aplicação simultânea visando controlar doenças e pragas. Em culturas, como a do tomateiro, que está sujeita a muitas doenças e pragas, inclusive vetores de vírus, é imprescindível que os fungicidas recomendados sejam compatíveis com os inseticidas. Quando ocorrer incompatibilidade, em alguns casos, a fitotoxidez pode ser aumentada.

o Economia - Por mais eficiente que seja um fungicida sob todos os pontos de vista técnico, o seu emprego estará condicionado ao fator econômico. Não só o preço entra nessa consideração, pois muitas vezes o que mais encarece é a mão-de-obra e o equipamento.

- Fungicidas protetores de pós-colheita

Prejuízos consideráveis são acarretados continuamente pelas doenças que incidem sobre frutas e hortaliças após a colheita, durante o transporte, armazenamento e exposição a venda. Para se evitar os prejuízos decorrentes de inúmeras podridões, estão sendo utilizados tratamentos fungicidas em escala cada

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vez maior. O sucesso desse grupo depende de sua capacidade em atingir o patógeno e do potencial de inóculo nos locais onde se processem a germinação e a penetração do patógeno.

Aplicações protetoras pós-colheita são feitas pela imersão do produto vegetal na calda fungicida, como no caso da banana imersa em calda de mancozeb. Entretanto, geralmente, em frutas como mamão e manga, o tratamento protetor é feito simultaneamente com banho térmico e os produtos preferidos são os sistêmicos, como o thiabendazol. Doenças causadas por fungos Peniccilium e Rhizopus, que incidem durante ou depois da colheita podem ser facilmente controlados pela aplicação superficial de um fungicida eficiente logo após a colheita. Por outro lado, doenças como antracnose e a podridão da coroa em banana, causada por Gloeosporium musarum e a podridão de Botrytis do morangueiro são difíceis de controlar com tratamento químico após colheita, pois a penetração pode ter ocorrido no campo. Para tais doenças há necessidade de controle prévio, antes da colheita, para que os tratamentos pós-colheitas surtam os efeitos esperados.

O sucesso do controle pós-colheita depende também grandemente da fitotoxidez e da toxidez dos resíduos de fungicidas para os futuros consumidores. Por exemplo, o dióxido de enxôfre, o tricloreto de nitrogênio e o difenil têm uso como fumigantes limitados pela fitotoxidez; os antibióticos, como estreptomicina, oxitetraciclina e clorotetraciclina, são eficientes para o controle de podridões moles em hortaliças, mas têm seu uso proibido devido aos inconvenientes que apresentam para a saúde humana.

Tabela 6 – Principais fungicidas protetores ou residuais

GRUPO PRODUTO CARACTERÍSTICAS

Enxofre Enxofre elementar

Tem como principal problema a fitotoxicidade principalmente em cucurbitáceas sob temperaturas altas (26 a 30ºC) causando queima de folhas, desfolha e diminuição da produção. As vantagens do enxofre são a baixa toxicidade ao homem e aos animais domésticos e o baixo custo. Pode ser aplicado por polvilhamento ou pulverização.

Calda sulfo-cálcica

Recomendada nos tratamentos de inverno em fruteiras de clima temperado. Deve ser aplicada em menor dosagem do que a do enxofre, devido à sua maior fitotoxidez, devido sua maior solubilidade em água com capacidade de penetração na planta

Cúpricos Calda bordaleza

Deve ser usada logo após seu preparo. As dosagens das formulações variam de 0,5 a 1,3 kg de cada componente para 100 litros de calda. Pode ser fitotóxica a cucurbitáceas, rosáceas, solanáceas e crucíferas, particularmente em tecidos jovens e em baixas temperaturas. Tem sido pouco utilizada devido ser trabalhosa de preparar

Cobres fixos Menos tóxicos e mais fácil preparo do que a calda bordaleza Inclui o hidróxido de cobre, oxicloreto de cobre, óxido cuproso e sulfato básico de cobre. Tem largo espectro de ação antifúngica e antibacteriana e baixa toxidez aos animais e ao homem. São amplamente utilizados na horticultura, fruticultura e cafeicultura

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Ditiocarbamatos Thiram Recomendado para tratamento de sementes.

Ferban Em frutíferas e ornamentais, controla ferrugem, antracnose e sarna das rosáceas e podridão parda do pêssego. Em ornamentais, indicado para controle de pinta preta e oídio da roseira, ferrugem do cravo e septoriose do crisântemo. Também tem boa ação contra os agentes de míldios e antracnoses de hortaliças e mofo cinzento do fumo.

Ziran Tem grande poder residual. Controla grande número de doenças, principalmente míldios e antracnoses. A eficiência no controle de pinta preta do tomateiro e da batata tornou o seu uso generalizado por volta de 1940 a 1950, em substituição à calda bordalesa.

Etilenobisditiocarbamatos Zineb Controla grande número de doenças, principalmente de hortaliças e frutíferas, devido a seu amplo espectro de ação antifúngica e baixa toxicidade a plantas e animais. É indicado no controle de míldios, podendo ter também ação acaricida, mostrando eficiência contra o ácaro da falsa ferrugem dos citros.

Maneb Indicado para grande número de doenças, particularmente míldios. O produto comercial deve ser armazenado em ambiente seco, pois se degrada com facilidade em presença de umidade. Algumas cultivares de maça e cucurbitáceas são sensíveis ao produto

Mancozeb Indicado para hortaliças e frutíferas em geral. Apresenta efeito tônico em alho e cebola, aumentando substancialmente a produção mesmo na ausência de doenças. Indicado para o controle do ácaro da falsa ferrugem dos citros.

Compostos aromáticos Chlorothalonil Fungicida de amplo espectro com boa atividade contra oomicetos (Phytophthora spp.), ascomicetos (Botryotinia, Mycosphaerella, Dydimella), basidiomicetos (ferrugens) e fungos imperfeitos (Alternaria solani e Colletotrichum gloeosporioides). Apresenta boa persistência, apesar da considerável remoção inicial do depósito pela chuva.

Dicloran Baixa toxicidade aguda a animais, seletivo para fungos formadores de escleródios (Sclerotinia, Botryotinia, Monilinia) e para Rhizopus, comumente envolvido em podridões de frutas e hortaliças. Apresenta baixa fitotoxicidade. Deve-se, porém, evitar pulverizações nas horas mais quentes do dia e misturas com formulações inseticidas oleosas.

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Compostos heterocíclicos nitrogenados

Captan Controla grande número de doenças de frutas, hortaliças e plantas ornamentais. Por não afetar negativamente a qualidade do produto, tem sido empregado no controle de doenças de maçã, pêra, pêssego, ameixa, morango e uva. É relativamente ineficiente contra míldios, oídios e ferrugens. De amplo uso tratamento de sementes, tendo em vista a proteção contra Pythium spp. e Rhizoctonia solani, importantes causadores de damping-off.

Folpet Relacionado ao Captan porém mais eficiente no controle de mancha preta e oídio da roseira e podridão parda do pêssego. Eficiente no controle de sarna da macieira e antracnose e míldio de cucurbitáceas. Em condições de alta temperatura e alta umidade, doses elevadas podem ocasionar injúrias em videira e em plântulas de cucurbitáceas.

Dyrene Controla doenças de tomateiro, batata e aipo, com um amplo espectro de ação fungitóxica. No tomateiro apresenta alta eficiência contra pinta preta e septoriose e menor eficiência contra requeima. Mais utilizado comercialmente sobre gramados para controlar helmintosporioses, fusariose e rizoctoniose.

Protetores orgânicos adicionais

Dodine Introduzido para controlar sarna da macieira, apresenta alta fungitoxicidade inerente e destaca-se pela capacidade de melhorar a cobertura por redistribuição. Além disso, tem certa ação curativa, conseguindo eliminar o fungo da sarna da macieira 28 horas após a infecção.

Dichlofluanid fungicida de amplo espectro, particularmente eficiente no controle de Botrytis spp., agente de mofo cinzento, em culturas frutíferas e ornamentais.

c) Fungicidas sistêmicos ou curativos

Fungicidas dos dois grupos anteriores, tendo uma limitada capacidade de penetração através da cutícula do hospedeiro ou sendo aplicado em condições que atenuam a fitotoxidez, não entram em contato com o protoplasma vivo do hospedeiro e, assim não necessitam ser específicos para atuarem seletivamente contra o patógeno.

No caso de fungicidas curativos, entretanto, salvo algumas exceções, é importante que não sejam fitotóxicos, tenham alta capacidade de penetração e sejam translocados, uma vez que devem atuar predominantemente atuar dentro da planta. Os conhecimentos atuais levam a admitir que eles se movem, fundamentalmente, pelo apoplasto, termo que se refere ao conjunto não vivo na planta (paredes celulares, intercelulares, xilema), de forma ascendente (acropetal).

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Em consequência de seu movimento via apoplasto, dependente da transpiração os fungicidas sistêmicos acumulam-se nas margens das folhas, enquanto que se dá uma diminuição da sua concentração na parte central daquelas e nos caules. Geralmente, a movimentação no simplasto (floema e protoplasma) é‚ reduzida ou nula e, portanto, a movimentação basipetal (descendente) também o seja. No caso de fungicidas aplicados no solo, dá-se a absorção passiva pelas raízes, o transporte através do xilema do caule e das folhas e nestas o movimento faz-se para as regiões de evaporação, através das paredes celulares, resultando, assim, a acumulação dos fungicidas no vértice e nas margens das folhas.

A densidade dos estômatos desempenha um papel importante afetando a distribuição do fungicida dentro dos tecidos. Por exemplo, as pétalas, sem estômatos, não são irrigadas por fungicidas e o mesmo acontecerá aos frutos com índice de transpiração baixo relativamente as suas dimensões, como por exemplo o tomate e as vagens de feijão. Evidentemente que fungicidas com possibilidade de circulação no simplasto teriam vantagens sobre os que são transportados no apoplasto visto que seriam facilmente distribuídos dentro da planta, e o movimento descendente daria maior possibilidade no controle das doenças, pois, permitiria que um produto aplicado nas folhas fosse transportado para as raízes. Todos os fungicidas sistêmicos são potencialmente capazes de agir curativamente, entretanto, na prática, observa-se que sob o ponto de vista epidemiológico, o mais importante princípio de controle envolvido na aplicação de fungicidas sistêmicos é o da imunização, porque o fungicida circulando na seiva e estando presente nos locais passíveis de infecção torna a planta resistente aos patógenos..

Como exemplo de imunização cita-se a possível formação da fitoalexina, hidroxiphaseolina, em soja tratada pela parte não fungitóxica do Benomyl, a butilamina. O princípio ativo do Benomyl seria benzimidazol carbamato. Alguns antibióticos têm sido utilizados contra as doenças bacterianas. As plantas de feijoeiro se protegem da mancha do halo tratando-as com estreptomicina. A agrimicina (estreptomicina mais oxitetraciclina) exerce atividade sistêmica contra a bactéria da queima da pereira (Erwinia amylovora): o problema é que as bactérias adquirem resistência rapidamente aos antibióticos. Os principais fungicidas sistêmicos são apresentados na Tabela 7.

Tabela 7 – Principais fungicidas sistêmicos ou curativos

GRUPO PRODUTO CARACTERÍSTICAS / INDICAÇÕES

Carboxamidas Carboxin Para tratamento de sementes de cereais (contra carvões e cáries), de amendoim e de hortaliças (Rhizoctonia solani).

Oxicarboxin Semelhante ao carboxin, porém de fungitoxidade mais baixa e mais estável. Controla ferrugens, particularmente no feijoeiro.

Pyracarbolid Semelhante ao dois outros componentes do grupo, porém com potência levemente maior. Formulações oleosas tendem a ser fitotóxicas em algumas variedades de feijão e de cravo.

Benzimidazois Benomyl Propriedades preventivas e curativas contra um amplo espectro de fungos, dentre os quais os ascomicetos e os fungos imperfeitos (exceto dematiáceos). Alguns basidiomicetos, particularmente agentes de carvões e cáries, são muito sensíveis.

Carbendazin Semelhante ao benomyl porém menos eficiente no campo no controle das mesmas doenças.

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Tiofanato metílico

Semelhante ao benomyl

Thiabendazole Um dos poucos produtos permitidos em tratamentos pós-colheita de muitas frutas, como mamão e banana. Amplamente utilizado em tratamento de sementes.

Dicarboximidas Iprodione Em tratamento de sementes, do solo e de partes aéreas de um grande número de culturas: alface (podridão de Sclerotinia), alho (podridão branca), batata e tomate (pinta preta), cebola (mancha púrpura), cenoura (queima das folhas), pêssego (podridão parda), crisântemo, morango, videira (mofo cinzento)

Vinclozolin Tem o mesmo espectro antifúngico do iprodione, sendo, portanto, recomendado para o controle de doenças causadas por Botrytis, Sclerolinia, Sclerotium, Monilinia e Phoma.

Procimidone Idêntico aos dois anteriores

Inibidores de síntese de esteróis

Bytertanol Controla a ferrugem do gladíolo e sarna da macieira.

Cyproconazole Controla a ferrugem do cafeeiro com alta eficiência (excelente controle a baixa dose de 40 a 100 g por hectare)

Propiconazole Controla doenças do amendoim (cercosporioses), banana (mal

de Sigatoka), café (ferrugem), seringueira (mal das folhas), cevada e trigo (helmintosporioses, septorioses, ferrugens e oídio), sendo preferido na cultura do trigo em função de seu espectro de ação e de sua alta eficiência.

Tebuconazole Controla doenças de cereais de inverno, particularmente trigo, onde tem bom desempenho contra ferrugens, helmintosporioses, septorioses, oídio, giberela e brusone.

Triadimefon Controla ferrugens (café, trigo, alho, gladíolo), oídios (cucurbitáceas e de cereais de inverno), sarna da macieira, etc.

Triadimenol Em tratamento de sementes de cereais (cevada e trigo), visando controlar cáries, helmintosporioses e oídios.

Tridemorph Específico para oídios em cucurbitáceas e cereais. Em cevada, tem mostrado alta eficiência, numa dosagem de 500 a 600 g do princípio ativo/ha, apresentando poder residual de 4 a 5 semanas.

Triforine Altamente eficiente no controle da sarna da macieira, ferrugem da roseira e oídios em geral.

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Inibidores de oomicetos

Propamocarb Tratamento erradicante do solo e protetor de sementes e plântulas, contra fungos dos gêneros Pythium e Phytophthora, somente na floricultura. Exibe boa atividade em rega, contra míldios de cucurbitáceas, alface, crucíferas e cebola. Mais eficiente contra Phytophthora do que contra Pythium.

Cymoxanil Controla requeima da batata e do tomateiro, míldio da videira e requeima e cancro estriado do painel da seringueira. Boa atividade preventiva e curativa contra míldios de videira e cucurbitáceas e requeima do tomate e da batata. Especialmente para míldio da videira, apresenta notáveis efeitos curativos.

Metalaxyl Recomendado no controle de requeima da batata e do tomate, míldio da videira e da roseira e requeima da seringueira. Em batata para controle da requeima pode ser aplicado na dosagem de 200 a 250 g de i.a/ha. É vulnerável ao surgimento de populações resistentes do patógeno, devendo ser formulado junto com um fungicida protetor (mancozeb, cúprico ou chlorothalonil).

Efosite Controla doenças causadas por Phytophthora em abacaxi, abacate e citros. Não apresenta boa atividade contra requeima da batata e do tomateiro, mofo azul do fumo e podridão radicular da soja.

Inibidores da biossíntese de melanina

Bin Altamente eficiente no controle da brusone do arroz, mas sem efeito sobre outras doenças da cultura. A recomendação usual é a pulverização foliar na dosagem de 200 a 250 g de i.a./hae, aplicado no final do emborrachamento. Havendo necessidade, pode-se fazer uma segunda aplicação, 21 dias após.

Pyroquilon Formulado em pó molhável, com 50% de princípio ativo, recomendado para tratamento de sementes de arroz e de trigo, visando ao controle da brusone. Em arroz, apenas uma aplicação de 800 g do produto comercial por 100 kg de semente garante um período de controle de mais de 55 dias, com um aumento médio de produção de 30%

Fosforados orgânicos

IBP Controla eficientemente a brusone do arroz, não apresentando fitotoxicidade quando aplicado adequadamente. Possui também efeito inseticida. Recomendado em aplicações foliares (2 a 3 pulverizaçôes) ou, preferivelmente, na água do tabuleiro, em formulação granular.

Pyrazophos Especifico a oídios, recomendado para cucurbitáceas, frutíferas e ornamentais. Absorvido pela folhagem e ramos novos, transloca-se na planta. Não é absorvido pelas raízes, não podendo ser aplicado via sementes ou solo.

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Antibióticos Aureomicina Eficiente no tratamento de sementes de crucíferas, com ação terapêutica contra Xanthomonas campestris pv. campestris, agente da podridâo negra das crucíferas. Imergir as sementes por 30 minutos em uma suspensão comtendo 1 a 2 g do antibiótico por litro de água; em seguida, por mais 30 rninutos, em uma solução salina (20 g de sal de cozinha por litro de água), para evitar fitotoxicidade.

Blasticidina Sistemicamente ativo contra bactérias e fungos, particularmente Pyricularia oryzae, agente da brusone do arroz. É mais fungitóxica para o crescimento micelial do que para germinação dos conídios desse fungo.

Cicloheximida Uuso limitado pela fitotoxicidade e pelo preço. Eficiente contra oídios em plantas ornamentais e ferrugem do pinheiro branco

Estreptomicina alguma eficiência no controle de crestamentos bacterianos do feijoeiro e da soja, canela preta da batata, mancha angular do pepino, podridão negra das crucíferas, cancro do tomateiro, podridão mole da alface, requeima da batata e do tomateiro, míldio do brócolis e oídio da roseira. A eficiência é melhorada pela adição de 1% de glicerol e pela associação com cobre. Mais comum é no tratarnento de sementes pois aplicações aéreas são de alto custo.

Kasugamicina Desenvolvido para controle de brusone do arroz, com alta fungitoxicidade a Pyricularicz orizae, semelhante à da blasticidina; atua também sobre bactérias fitopatogênicas do gênero Pseudomonas.

4.5.4. Resistência de fungos a fungicidas

O número de fungos fitopatogênicos resistentes a fungicidas, antes do advento dos fungicidas sistêmicos, era surpreendentemente pequeno. Assim, até por volta de 1967, problemas de resistência de fungos a fungicidas, em condições de campo, se limitavam a alguns relatos, dentre os quais o de Penicillim digitatum e P. italicum em relação ao bifenil e ao ortofenilfenato de sódio; de Tilletia foetida em relação ao BHC, ao quintozene ou PCNB e ao tetracloronitroanisol; de Pyrenophora avenae em relação aos organomercuriais.

Acredita-se que os problemas de resistência de fungos a fungicidas têm sido causados devido a uso amplo e contínuo de fungicidas. Com o desenvolvimento de fungicidas sistêmicos o que equivale dizer, fungicidas mais específicos no seu modo de ação, como já era esperado, o problema de resistência assumiu interesse prático relevante. A seletividade, que permite a um fungicida atuar de maneira sistêmica na planta, aumentando sua eficiência em relação aos não-sistêmicos, é, ao mesmo tempo, a causa de sua vulnerabilidade.

Hoje, o número de relatos de fungos resistentes a fungicidas, mesmo levando em consideração somente a ocorrência em condições de campo é bastante grande e está em constante ascensão. Assim, desde já se conhecem linhagens de fungos, antes sensíveis, que se tornaram resistentes a benomyl, tiofanato metílico, thiabendazole, ethirimol, dodine e kasugamicina, entre outros. O maior número de relatos se

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relacionam aos benzimidazóis, envolvendo, mais freqüentemente, os fungos Botrytis cinerea, Cercospora spp, oídios, Venturia inaequalis, Verticillium spp.,e Penicillium.

Os fungos são organismos geneticamente maleáveis e podem, através de mutações, tornarem-se resistentes a fungicidas específicos que atuam em um ou poucos processos metabólicos vitais. Com isto, linhagens resistentes aparecem na população de sensíveis através de mutações espontâneas, sendo então selecionadas pela aplicação do fungicida. Não se descarta, porém, a possibilidade de mutações serem provocadas pelo próprio fungicida, se bem que faltam ainda estudos que demonstrem inequivocamente a capacidade mutagênica de tais produtos.

As conseqüências do desenvolvimento de populações de fungos resistentes a fungicidas podem ser desastrosas, tanto para o usuário, que pode perder toda sua produção por falta de um sucedâneo de eficiência equivalente, quanto para o fabricante, que investiu alto na sua descoberta e no seu desenvolvimento. É importante, portanto, que essas novas e poderosas armas do arsenal químico sejam utilizadas com as estratégias certas para diminuir esses riscos.

A pressão de seleção exercida pelo fungicida sistêmico é uma função da extensão e duração da exposição, sendo tanto maior quanto maior a área tratada com apenas um princípio ativo específico; maior a dosagem e o número de aplicações e, portanto, o poder residual do produto; maior a taxa de infecção da doença e mais favoráveis às condições para ocorrência de epidemias.

Fungicidas para os quais se esperam problemas de resistência não devem ser usados contra doenças que sejam adequadamente controladas com fungicidas convencionais (protetores) ou com outros métodos de controle. Devem ser usados contra doenças em que a população do patógeno resistente aumenta só lentamente, ou pode ser controlada por uma combinação de fungicidas e métodos culturais; o controle possa ser obtido a uma baixa pressão de seleção (uma ou duas pulverizações/ estação).

Dentre as Estratégias para prevenção da resistência de fungos, incluem-se: Emprego de fungicidas menos específicos Restringir a aplicação do fungicida vulnerável a períodos críticos; Reduzir a quantidade aplicada e a freqüência de aplicação a um mínimo necessário para

controle econômico; Reduzir o período de contato e exposição do patógeno ao fungicida; Limitar a área tratada com qualquer fungicida isoladamente; Restringir a multiplicação de formas resistentes pelo uso de um segundo fungicida (em

mistura), de preferência um inibidor inespecífico; Usar dois fungicidas específicos em seqüência e não em mistura, quando adaptabilidade da

forma resistente é menor do que a da sensível Realizar monitoramento para detectar a presença de linhagens resistentes e mudando

métodos de controle antes que falhem. Informações acerca de resistência de fungos a fungicidas podem ser encontradas no website do

FRAC - Fungicide Resistance Action Comittee (http://www.gcpf.org/frac) que é um comitê formado por grupos de trabalho, com o objetivo de prolongar a efetividade dos fungicidas vulneráveis de encontrar resistência e limitar as perdas da culturas. É importante que os diversos segmentos envolvidos no controle químico de doenças de plantas estejam conscientes dos problemas, causas e soluções. Segundo Azevedo (2001) o treinamento por meio de cursos, palestras e publicações a respeito do assunto é fundamental para todos os profissionais envolvidos tanto na assistência técnica para agricultores.