Contributos para a leitura das Troianas de Séneca · Este artigo organiza‐se nos seguintes...

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Ágora. Estudos Clássicos em Debate 17 (2015) 299322 — ISSN: 08745498 Contributos para a leitura das Troianas de Séneca A contribution to the reading of Seneca’s Troades JOÃO PAULO RODRIGUES BALULA 1 (Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde (CI&DETS), Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu — Portugal) Abstract: This article proposes a reading of Seneca’s Troades. Mora stands out as the crucial action mechanism of the play. Life is an obstacle to liberation. Mora maris and mora mortis equal winners and losers in grief. Losers are granted the liberation from all their worries and hopes. Winners are haunted by the doubt surrounding the success of their journey. With the departure of ships, mora mortis is transferred from winners onto losers. The reappraisal of questions pertaining to sources is omitted, particularly the parallel with Euripides’ tragedies. Keywords: Troades; Mora; freedom; Seneca; Latin Literature. Introdução A leitura dos textos clássicos não é tarefa fácil nem frequente, nos tempos atuais, apesar de nos alimentar a imaginação, nos ajudar a compreender o presente e a perspetivar o futuro. Assumindo, assim, a importância do contacto com os textos da literatura latina na atualidade, pretendemos, com as notas sobre as Troianas de Séneca apresentadas neste artigo, facilitar a aproximação a uma tragédia que nos apresenta o Homem como um ser adiado, que, quer como vencido quer como vencedor, vê a vida, prolongada no sofrimento, como um impedimento para a libertação. Propõese a mora como o mecanismo fundamental da peça. A vida é um impedimento da libertação. A mora maris ea mora mortis unem vencedores e vencidos no sofrimento. Aos vencidos é concedida a libertação de todos os receios e esperanças. Aos vencedores é acrescentada a dúvida acerca do sucesso da viagem. A partida dos barcos é a transferência da mora mortis dos vencidos para os vencedores (BALULA (1994)). Este artigo organizase nos seguintes pontos: o lamento de Hécuba e do Coro; o anúncio de Taltíbio; o agôn Pirro/Agamémnon; a resposta de Calcas; o desespero do Coro; o sonho de Andrómaca e a tentativa de salvaTexto recebido em 06.10.2014 e aceite para publicação em 04.11.2014. 1 [email protected].

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gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)299322ISSN:08745498

ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca AcontributiontothereadingofSenecasTroades

JOOPAULORODRIGUESBALULA1(CentrodeEstudosemEducao,TecnologiaseSade(CI&DETS),EscolaSuperiordeEducaodoInstitutoPolitcnicodeViseuPortugal)

Abstract: This article proposes a reading of Senecas Troades.Mora stands out as thecrucialactionmechanismof theplay.Life isanobstacle to liberation.Moramarisandmoramortisequalwinnersandlosersingrief.Losersaregrantedtheliberationfromalltheirworriesandhopes.Winnersarehauntedbythedoubtsurroundingthesuccessoftheirjourney.Withthedepartureofships,moramortisistransferredfromwinnersontolosers. The reappraisal of questions pertaining to sources is omitted, particularly theparallelwithEuripidestragedies.

Keywords:Troades;Mora;freedom;Seneca;LatinLiterature.

Introduo

A leitura dos textos clssicos no tarefa fcil nem frequente, nostemposatuais,apesardenosalimentaraimaginao,nosajudaracompreenderopresenteeaperspetivarofuturo.

Assumindo,assim,aimportnciadocontactocomostextosdaliteratura latinanaatualidade,pretendemos,comasnotassobreasTroianasdeSneca apresentadas neste artigo, facilitar a aproximao a uma tragdiaquenosapresentaoHomemcomoumseradiado,que,quercomovencidoquercomovencedor,vavida,prolongadanosofrimento,comoumimpedimentoparaalibertao.

Propeseamoracomoomecanismofundamentaldapea.Avidaum impedimentoda libertao.Amoramariseamoramortisunemvencedoresevencidosnosofrimento.Aosvencidosconcedidaa libertaodetodos os receios e esperanas. Aos vencedores acrescentada a dvidaacercadosucessodaviagem.Apartidadosbarcosatransfernciadamoramortisdosvencidosparaosvencedores(BALULA(1994)).

Esteartigoorganizasenosseguintespontos:olamentodeHcubaedoCoro; o anncio de Taltbio; o agn Pirro/Agammnon; a resposta deCalcas;odesesperodoCoro;osonhodeAndrmacaeatentativadesalva

Textorecebidoem06.10.2014eaceiteparapublicaoem04.11.2014.1jpbalula@esev.ipv.pt.

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odofilho;oconfrontoentreUlisseseAndrmaca;adespedidadeAndrmacaeAstanax;oagnHelena/AndrmacaeareaodeHcuba;anarraodoMensageiro;olamentofinaldeHcuba.

Omitese,quasesempre,aapreciaodequestesrelativassfontes,em particular o paralelo com as tragdias de Eurpides. SeguimosZWIERLEIN(1986)comoediodereferncia.

1.OlamentodeHcubaedoCoro

Troiaacabadeserconquistadaedestruda.Masosvencedoresaindanoregressaramacasanemosvencidosconhecemasuasorte.ummomentodechegadaeumpontodepartidaparanovosanseios.

AtravsdaspalavrasiniciaisdeHcuba,aprimeirapersonagemaintervir,desenhaseumquadroamplo,de tonspredominantementeescuros:o desaparecimento de Troia. Esse quadro aparece filtrado pela sensibilidadedeumapersonagemqueviveuecontinuaaviverdeforma intensatodososacontecimentos.2

Nas suaspalavras iniciais,podevislumbrarseuma crtica implcitaemrelaoaosdeuses,leuesdeos(Tro.,2),cujainconstnciaperturbaoshumanos.Essa inconstnciadaFortunacomocausadasituaopresenteopontodepartida:[....]nonumquamtulit/documentaForsmaiora,quamfragililoco/starentsuperbi.3(Tro.,46).

Troiae todososseushabitantessoamarcamaisvisvelparaodemonstrar(CAVIGLIA(1981)18).Hcubaagoraaimagemdaprpriacidade:umamontoadodeescombrosdeque restaum fumoque seelevaedesaparecegradualmente.Estefumoserumaimagemobsidiantenoarranquedeumapeaque pautadaporumbalancear constante entreopassado,opresente e o futuro.Opresente uma sombradopassado que ameaatornarserealnofuturo.

2EmvezdePosdon,comqueEurpidesiniciaapeahomnima,Hcuba,figura

profundamentehumana,surgenoinciodapeacomasuafalamaisextensa.Nocertamente alheia a este pormenor a importncia da condio humana que, em Sneca,assumeumlugarderelevo,emdetrimentodasdivindadesqueassumemumpapelmaissimblicodoqueatuante.

3NuncaaFortunaapresentou testemunhomaisgrandiosodecomoossoberbosocupamfrgeispedestais.

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AvelharainharepresentaaencarnaoconscientedosmalesedissaboresdaFortuna.Oscilaentreo lamentoeoorgulhodeumpassadoprximoeexortaascompanheirasdadesgraaaacompanharemoseupranto.Duplaadesgraadosvencidos sobreviventes:porum ladoestovivos,poroutrocondicionamafelicidadedosquemorreram.

Acidadequeforaacolunadapoderosasia,essaobramaravilhosadosdeuses, a terraquemovimentou reisdasmaisdiversas regies,4 caiusobresimesma:Pergamumincubuitsibi(Tro.,14).

MasHcubasentereanimarseoseuespritoaoimaginaraformacomoosvencedores olham o local onde outrora se ergueuTroia eonde agora seergueanuvemde fumoque fazdescera sombraea cinza sobreas runas.AlongaresistnciadeTroiaaosataquesdoinimigo,queapenasvenceugraas traio, redobra a admirao dos vencedores, conscientes assim, da realgrandezada cidade.Vitria edestruio chegam a atemorizaro adversrio,porqueduvida,pormomentos,quetenhasidoeleaconsumaraderrota.

AriquezadeTroiaaltimarstiadeorgulhodarainhaperanteacidadequeeraequejno:praedammillenoncapiuntrates(Tro.,27).Umariqueza to grande que criava dificuldades ao prprio inimigo para o seutransporte.

MasadornopermiteaHcubaesquecersedurantemuitotempodasuadesgraa.Comoexpressomximadodesespero,arainhaatribuiasiprpriaasculpasdetudooqueaconteceu.DizquemesmoantesdeCassandra,emquemningumacreditava,5terprofetizadootristefimdacidade,jHcubaotinhaprevisto.6

Numdiscursodeautopunio,chamaatestemunhoosdeuses,ascinzasdaptria,osmares,HeitoreosoutrosfilhosparaseresponsabilizarpeloquesucedeuaTroia.Hcuba retiraomritodadestruiodeTroiaaoastucioso

4 Para encarecer a grandeza de Troia, Sneca chega a cometer alguns erros

geogrficos.5CassandraobtevedeApoloodomdaprofecia,mas,porquenegouaretribuio

prometida,odeus cuspiulhenabocae retiroulhe,noodomdaprofecia,masodapersuaso.

6HcubaapresentadeformasintticaarecordaodeumsonhoquetevequandoestavagrvidadePris,queveioaserocausadordaguerra.

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Ulisses,aoseucompanheiroDiomedeseaoprfidoSnon,paraoatribuirasiprpria.DassuasentranhassaramaschamasquequeimaramTroia.

Eoseudesesperolevaaadizerquejnoadiantachorar,poisTroiaummalantigo:Troiaiamuetusestmalum(Tro.,43).Recordacoisasexecrandas:oassassnio,cometidoaopdosaltares,doesposorei,Pramo,7paidetantosreis (Tro.,4456).NestasugestivanarraopreparaseaapariodePirro(SCHETTER(1965)397).

Outradesgraa,noentanto,ameaaosTroianossobreviventes:ascativasvosersorteadaspelosvencedores,mastodoselestememqueHcubalhescaibaemsorte.

Repentinamente,Hcubamudadeassuntoefazumapeloparaqueascativascontinuemos lamentos, laceremospeitose faamashonras fnebresdeTroia(Tro.,6366).

OCoroapresentasecomoquemjmuitosofreu:estpreparadoparaatarefaquelheincumbida.Foramdezanosdedor(Tro.,6782).

Hcuba retoma a palavra e as ordens acumulamse (Tro., 8398).Todasasindicaessopoucasparaqueoslamentosproduzamoecodesejado: soltar os cabelos e descobrir o peito. E, por brevesmomentos, vislumbramseoutravezlaivosdeorgulhonaspalavrasdeHcubaperanteabelezadoscorpossemidesnudos.Masbreveoesquecimentodador.Rapidamente se lembradoque representa omomentopresente e oque foi opassado.peranteestarecordaoqueordenaquesejachoradoHeitor.

OCoro reforaativamenteoqueHcubadesejaeexprimepelavoz(Tro.,99116).

ArainhadedicaaHeitoros lamentosqueseseguem (Tro.,117131).Aelesodirigidostodososeptetosetodooencarecimentoespervelnumamequesentedesaparecerprematuramenteumfilho,encarnaodosmuros que resistiram durante dez anos, mas que, desaparecido o heri,tambmsucumbiram.AquedadeHeitorarrastouconsigoaquedadeTroia.

Mas, subitamente,Hcuba transferedeHeitorparaPramo a razodas suas lgrimas e amotivaoque transmitia s suas companheirasde

7AdescriodamortedePramoapresenta claras semelhanas comaque fez

Verg.A.2,552ss.

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desgraa. Imediatamente,qual sombradeHcuba,oCoromuda tambmparaosoberanodeTroiaarazodosseuslamentos(Tro.,132141).

Com igual volubilidade, no entanto, Hcuba altera a sua ordem(Tro.,142156).NohrazesparaPramoserchorado.Elefeliz,porqueno tevede suportar ahumilhaodaderrota:podedescer ao lugardosmanessemlevarnacabeaojugodosAqueus.EleestlivredevernasuafrenteoqueHcubasuportar.Nasituaodevencidaterdesedeslocaraosabordasordensdosvencedores.TambmnestemomentooCorocorresponde (Tro., 157162). Pramo feliz, porque, ao contrrio deHeitor,quandomorreu, levou consigo a sua realeza,mantevese ntegro e assimdescansa em paz. o tema da felicidade no Alm, do (CAVIGLIA (1981)29),emqueamorteumbemquandoomortoaceitaasuacondiodemortoesepersuadedequenavidanadamaispodefazer.

AmortedePramoumavitriapossveleumaantecipaodavitria que outros vencidos podero alcanar: Polxena (uma das filhas dePramo,geralmenteconsideradaamaisnova)eAstanax(filhoprimognitodeHeitoreAndrmaca,naturalherdeirodoreinodeTroia).

Em suma, no lamento deHcuba sobressaem a revolta, o orgulho,aconsternao,odesesperoeopranto.Procuraoporagrandezadopassadoaoabatimentodopresente.Nofalamuitodesiprpria,falamuitodasuacidade; pouco do seu destino,muito do destino dos seus entes queridos(CAVIGLIA(1981)27).

2.OannciodeTaltbio:exignciadosacrifciodePolxena

Taltbioprecipitase,deformaabrupta,paraacena:vemliteralmenteapavorado.Estembrenhadonasuavisoepreocupadoempartilharoseuhorror.Assuaspalavrasdescrevemasituaopresentecomoarepetiodeumasituaoanterior:osacrifcioda filhadeAgammnon (Tro.,164165).AideiaretomadaporPirronoseuagncomAgammnon(Tro.,246)eporUlissesnoagncomAndrmaca(Tro.,555).

Assimocorreumtemadeimportnciacapitalnapea,amora.8Exatamentecomo,nopassado,osAqueustiveramdificuldadesparaconseguirem

8No sepodedeixarde referiro factodeHcuba j ter tocado levementeeste

temaquando, juntamente comoCoro, lamentava amortedeHeitor:Columen patriae,

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partirrumoaTroia,tambmagoratardaoregressoacasa.Otemadamora,apesardenovonapea,nonovoparaosseuspacientes.

QuestionadopeloCorosobreasrazesqueretmosnavios,Taltbiodescreveumavisoquese inserenumambienteaterrador:porentreconvulsesdaterraedomar,Aquilesreclamaasuapartenosdespojosdacidadevencida.PelamodePirro,Polxenadeverserimoladascinzasdoheritesslio.

ComoobservaSCHETTER(1965)399,aapariodeAquileseoseupedidoestoemrelaocomosorteiodastroianasquefoirecordadonoprlogo(Tro.,56ss).Depoisdaapario,tudoseacalma,masocantonupcialdosTritesconfirmaoapoiodeNeptunoexignciadeAquiles(Tro.,202).

OCoronoreagede imediatospalavrasdeTaltbio.PoderpartirdoprincpioqueosacrifciosserrealizadoseAgammnonoconsentire,comooreidosreisnoforaamigodeAquilesemvida,parecepoucoprovvelquelhesatisfaaumpedidodepoisdemorto.

Outra razo possvel ser a preocupao de dar uma importnciaapenas relativa s palavras de um homem do vulgo que apresenta umavisodarealidadedeturpadapordadosirracionais.

Ocertoque,noagn imediato,nemPirronemAgammnonsereferemvisodeTaltbio.Posteriormente,contudo,Andrmaca,antesdefazerrefernciaaoaparecimentodeHeitor,aludevisodeTaltbio:[....]hostesabimoconditiDiteexeunt:/solisneretroperuiumestDanaisiter?9(Tro.,432433).

Nesta omisso se baseiam alguns autores (OWEN (1970b) 118) parafundamentaremaideiadequenasTroianashaveriafalhasdeestrutura.Estaideia, a partir de SCHETTER (1965) eOWEN (1968, 1970, 1970b), foi abandonada.Oefeitoespetaculardapeaestrealmenteconfirmado.

3.OagnPirro/Agammnon

Pirro, que j duas vezes foramencionado, uma porHcuba, comoassassinodePramo,eoutraporTaltbio,comoaquelequeAquilesdesti

morafatorum,(Tro.,124).Agrandeocorrnciadapalavramoraatestaasuaimportncia:Tro.,124,164,166,205,354,681,760,764,787,813,939,1126,1169.

9 [...]os inimigosescondidossaemdas fundurasdeDite:saosDnaosestarabertoocaminhoderegresso?

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narapara imolarPolxena, surge agora a reclamar,peranteAgammnon,osdespojosdevidosaseupai.Aqueleparaquemaconquistadetantascidadesimportantesfoiapenasumapreparaodograndecerco,aqueleaquemrealmente sedeveaquedadeTroia, foiesquecidonadistribuiodas recompensasdavitria.

PeranteahesitaodeAgammnon,Pirroapresentaumargumentoirrecusvel: por motivos muito menos nobres, o comandantechefe dosAqueusimolouasuaprpriafilha.OraPolxenaapenasumacativa.

A estaprovocaoAgammnonno respondediretamente.Em seuentender,hdesculpasparaocomportamentodePirro:so impulsosprpriosdosseusverdesanos.Eproferedepoispalavrasdemoderao,umcdigodeprocedimentoparaosoberanovirtuoso.

OtemadainconstnciadaFortuna,comqueHcubainiciaraapea,reapareceagoranabocadovencedor(Tro.,259263).Amoderaodeveserapreocupao constantedospoderosos e estesdevemduvidar continuamentedaposiofavorveldosdeuses.Noseroprecisosmilnaviosnemdezanosparaqueumreinocaia.NematodosaFortunad,comoaTroia,tantasdelongasdeproteo.

Agammnon,quenanoiteanteriornoconseguiracontrolarascrueldadeseindignidadescometidaspelosseussoldados,queosressentimentosdedezanosdeguerraimpeliamdesforra,procuraagoraevitarquesejamperpetrados mais crimes que podero ser gravemente punidos pelosdeuses.Paraele,maisquesuficienteocastigoquefoiinfligidoaTroia.

Assuaspalavrassoclaras.Aresponsabilidadedemaisumcrimerecairsobreele,poisquinonuetatpeccare,cumpossit,iubet10(Tro.,291).

MasPirronosedporvencido:Aquilestemdeobterasuarecompensa.Agammnonpropesacrifciosdeanimais:jhouvedemasiadossacrifcioshumanos.

Pirroassumeumtominsultuosoeameaador:parecedispostoaatentarcontraavidadoprprioAgammnon(Tro.,306310).Easuaconhecidabrutalidademostraquecapazdepassaragresso.

10Quemnoprobeumamao,quandopodefazlo,estaordenla.

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AameaadePirronopoderiaserignorada.Estranhasequeosupremochefemilitarsejaameaadodemorteenoordeneoimediatocastigodoofensor.A rplica deAgammnon, embora sarcstica, quase uma confissode fraqueza (Agammnon erados chefes demais idade, enquantoPirroestavanaflordosanos).

EstaatitudedeAgammnonlevaPirro(Tro.,312)aconsiderlomedroso:repetenopresenteafaltadecoragemquerevelounopassado.Agammnon limitase a acentuar os defeitos de Aquiles que Pirro procuradesculpar.

Mas o confronto vai ganhar um ritmomuitomais acelerado.Agammnondefendeasvirtudesqueumreideveter,enquantoPirrovairetorquindo,quasesemprecommuitadureza.

nesta linha queAgammnon afirmaPraeferre patriam liberis regemdecet11 (Tro., 332); Quod non uetat lex, hoc uetat fieri pudor12 (Tro., 334);Minimumdecetliberecuimultumlicet13(Tro.,336).

Pirro,porseulado,procuradefenderasuaposiocomargumentosquedenunciam a brutalidadedo seu corao:Mortemmisericors saepe prouitadabit14 (Tro.,329);Lexnulla captoparcit autpoenam impedit15 (Tro.,329);Quodcumquelibuitfacereuictorilicet16(Tro.,335).

Rapidamente,estasquestesdocdigodehonradeumgovernantedo lugar s calniasdeparte aparte, aspeto em queAgammnon consegue responderaPirro,oquenoaconteceraquandose tratavadeameaas fsicas.OsataquesqueAgammnondesfereaPirroassentamna suaquase totalidade em crticas atuao ou comportamento de seu paiAquiles(Tro.,342343e347).Mas,aotransferirasuaresponsabilidadeparao adivinho, o rei dos reis enfraquece a sua bonamens e a determinaoinicial.

11Umreitemodeverdepreferiraptriaaosfilhos.12Oquealeinoprobe,ahonraoprobe.13Muitopoucodevequereraquelequemuitopode.14Amortepodesermuitasvezescompaixomaiorqueavida.15Nohleialgumaquemandeperdoaraocativoouqueimpeaoseusuplcio.16Umvencedorpodefazertudooquequiser.

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4.ArespostadeCalcas:exignciadossacrifciosdePolxenaedeAstanax

ArespostadeCalcasaconfirmaodaderrotadeAgammnonnoconfrontocomPirro.Osdeusesreclamam,nopresente,umpreo idnticoaoque forapagonopassado.Como sedeum cortejonupcial se tratasse,PolxenadeveserconduzidaaotmulodeAquiles,paraaserimolada.

Masalmdainsatisfaodoantigochefe,Aquiles,houtrarazoqueimpedeapartidadaarmada:aexistnciadeumfilhodeHeitor,Astanax,quetambmdevemorrer.

Esta respostadeCalcasvem introduzirum elementonovo,de capitalimportnciapara a estruturadapea.Com amortedePolxena reclamasetambmadeAstanax.OdestinodasduasvergnteasdeTroiadestruda apresentadonomesmomomentoequaseem tudo idntico,atnasrazesque o podemmotivar. Ambos so jovens, ambos tm sangue real, ambospodemdarvidaaumafuturavinganadeTroia.Importaaovencedoreliminarcompletamentequalquerveleidadederessurgimentodacidadedestruda.

5.OdesesperodoCoro

Peranteadupladesgraaqueacabadeseranunciada,oCoro jnopode guardar silncio.Agora pronunciase,motivado pela destruio deTroia,nopassado,epeladestruiodaesperana,nopresente.

A sua interveno iniciase comuma sriedeperguntas (Tro., 371),sinalevidentedainquietaoqueopercorreedaincertezaquerodeiaoseupensamento.Num segundomomento (Tro., 381 ss.), as certezas surgem.OCoronegaaexistnciadequalquervidaapsamorte.AexistnciahumanaalgosemelhanteaoqueforaaexistnciadeTroia,queseapagadeummomentoparaooutrocomoumanuvemdefumo.Corpoealmadesaparecemsimultaneamente.Todaaexistnciaparaalmdamorteapenasumaquimera.

Aposio tomadapeloCorope questesmuitodelicadas epertinentesacercadapea.Aprimeiraprendesecomofactodeestaintervenoterumaimportnciaacrescidaemrelaoaoutroscorosque,parteoprimeiro, so praticamente ornamentais e que servem para preencher intervalosdapea.Ora istono sepassa com esteCoro,quepequestesdedifcilcompreensoeseexprimecominegvelbeleza.

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Poroutro lado,oniilismo totalaquidefendidopeloCoro,aonegarqualquerexistnciadepoisdamorte,17nocorroboradonorestodapea.Emoutrosmomentos surgemnos situaesque contrariamas afirmaesdoCoro,porquantonelaspareceaceitarseaexistnciadaalma,paraalmdamorte,nomundodassombras.ocasodeTaltbioquenarraaaparioespetacular deAquiles e o caso das palavras deAndrmaca, quando serefereaoaparecimentodeHeitorduranteosono,paraaconselharaesposaaesconderofilho.

importanteo factodeosnovosgolpesquevo ser infligidos aosTroianos,amortedePolxenaedeAstanax,noseremdeterminadospelosvivos,massimporquemjnopertenceaomundodosvivos.ParaoCoro,amortedePolxenafoideterminadapelasombradeAquiles,eadeAstanax,pelasdivindades.Erabemmelhorquenadaexistisseparaldamorte,poisassimestessacrifciosseriamevitados.

EsteCoro,quevemnasequnciadarevelaodeCalcas,aexpressodesentimentosacumuladosdesdeaintervenodeTaltbio.umacrticaquelesqueobedecemaomundodassombras.Odesesperogrande,ascativasnadamaisesperamdavidaetambmnadareceiamnamorte.

Desdequenohaja sofrimento,desdequeadorque existenopresentedesaparea,tudoorestobom,mesmoquesejaoaniquilamentototal.

6.OsonhodeAndrmacaeatentativadesalvaodofilho

DepoisdeHcuba,depoisdoCoro,tambmAndrmacaapareceaexprimirasuador.Doraindamaiorqueadasrestantescativas,poisaheronaquase jse tornou insensvelaossofrimentosdahora.Paraela,TroiacaiuquandoHeitorcaiu:foramosseusmembrosque,comosdovencido,Aquilesarrastouvoltadasmuralhas.Por isso, todasasdesgraaspresentesadeixam insensvel. J teriaposto termovida,seaexistnciadeAstanaxnoprolongasseasuamisria18(Tro.,419420).Efetivamente,miserrimumest

17MailveroSeneca,nelcampodellatragedia,simanifestapiuttostonelfamoso

secondocorodelleTroiane,incuisiponeilproblemadellesistenza,dellaldil[....](esinotilaconcezionedesolatadellesistenzadellanima,nelsensoquasichelamorte,laldilperpetuinolintimotormentodellanimadurantelavitaterrena).(PARATORE(1965)413).

18Notese,contudo,que,depoisdamortedeAstanax,elanopetermovidaeaceitasemresistnciasercativaeescravadePirro.

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timere,cumsperesnihil19(Tro.,425):atrsdeumgrandemalvemsempreumpior.20

Quando, depois de ter passado amaior parte da noite acordada,finalmenteadormeceu,apareceulheHeitor,extenuado,abatidoedesfiguradopelochoro,cheiodetristezaecomoscabelosemdesalinho.21Assimsesublinhao contraste entreaapariodovencidoqueno temaproteodivinaeadovencedorqueapoiadopelasdivindadesmarinhas.

OespectroordenaqueAndrmacaescondaAstanax,nicaformadeosalvar.MasaspalavrasdeHeitor,lateat,haecunaestsalus(Tro.,453),soambguas.Elenodizondedeve serescondidoo filho: amouequocumque.Mandaoparaqualquerlugar:massrestaotmulo,lugardemorte,smbolodosseusreaisdesejos.

AambiguidadedestaspalavrasacentuasepeloderrotismodeHeitorquandomanifestaodesejodeveradestruiodeTroiacompletamenteacabada:Vtinamiacerettota!22(Tro.,455).HumacontradioentreaordemparaesconderofilhoeointeressenodesaparecimentodoquerestadeTroia.

Andrmaca repartese entrea emoode reverHeitor eo terrorporsentiroperigoquecorreofilho,aquelequetemtodosostraosdeseupai,nica esperana de Troia, aquele que pode vir a ser o reconstrutor e vingadordacidade.Umaambioqueataelaprpriapareceperigosae inadequadasituaoemqueseencontram.Paraoscativos,jbastasobreviver.

Asuagrandepreocupaopassaaserencontrarumlugarondepossaescondero filho: [...]Heume, quis locus fidusmeo / erit timori quaue te sedeocculam?23(Tro.,476477).

Dagrande cidadeque foraTroia restaapenasummontede runas,decinza,defumo.MasocorreaAndrmacaquehumedifcio,onicorespeitadoatquelemomento:otmulodeHeitor.Nomesmoinstante,com

19Amaiordesgraatermedo,quandonadahqueesperar.20Exorituraliquodmaiusexmagnomalum.(Tro.,427).21 Sed fessus ac deiectus et fletu grauis / similisque nostro, squalida obtectus coma.

(Tro.,449450).22Oxalestivessetodaelaporterra!23Aidemim,quelugarserdeconfianaparaacudiraosmeusterroreseemquelugarte

esconderei?

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tudo,ummaupressgiofazestremeceroseucoraodeme.Otmuloumlocaldemorte.

Apenasos conselhos eas sentenasdeumancio,decertooaiodoprncipe,lhepermitemtomarumaresoluoeenfrentar,commuitainsegurana,osnovosperigos:necessrioafastarastestemunhas,mentiraoinimigoeesperarqueeleacalmeosmpetosdoprimeiromomento.Asituaonopermitemelhorescolha.

EntoAndrmacainvocaHeitorepedelhequeprotejaagoraofilho,tal como o fazia no passado:Quis proteget?Qui semper, etiamnunc tuos, /Hector, tuere: coniugis furtum piae / serua et fideli cinere uicturum excipe.24(Tro.,500502).

MasAstanaxera filhode reise futuro rei.Asuagrandeza,agrandezadaquelesque sedestinam a ser reis, impediao,apesarde ser aindacriana,de tomaruma atitude to indigna, ade se esconder.Andrmacapedelhequeesqueapormomentosessareao,querefreieosseuspensamentosorgulhososeonimodopassado.

Agora, todaaaocabeaodestino (Tro.,510512).QuandoAstanaxobedece,Andrmacaafastasedotmuloparanoseratraioadaporqualquermovimentodenunciador.Mas,aoouvirfalardeUlisses,temumaexclamaocarregadadeironiatrgicaemquepedeavidaparaAstanaxcompalavras de morte: Dehisce tellus, tuque, coniunx, ultimo / specu reuulsamscindetelluremetStygis/sinuprofundocondedepositummeum.25(Tro.,519521).

AndrmacaencarregaHeitorde tomarcontado filho.ConfiaAstanaxmortee,comose,atcertoponto,condicionasseafuturaatuaodasombradeHeitor.

7.OconfrontoentreUlisseseAndrmaca

O episdio emqueUlisses eAndrmaca sedefrontam configurasecomo o centro da pea pela posio que ocupa, pela importncia que

24Quemnosproteger?Tuquenosprotegestesempre,guarda tambm,nopresente,os

teus,Heitor:salvaoentesonegadopelatuadedicadaesposaequeastuascinzasfiisacolhamoteufilhoparaquepossaviver.

25Rasgate,terra,etu,meuesposo,fendeeremoveaterranofundodessacovaatssuasprofundezasparaesconderestemeudepsitonoinsondvelseiodaEstige.

ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca311

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assume,pelabelezaeequilbriocomqueestconstrudo,pelosignificadodequesereveste.

Ulissesentra frontaledireto:apresentaseaAndrmacacomomandatriodosAqueus,representantedeumacausaquenoexclusivamentesua.Agravidadedomomento implicaagravidadedamissoque temdelevar a cabo. Contudo, amaior responsabilidade do destino: hanc fataexspetunt26(Tro.,528).OfilhodeHeitorimpedeoregressodosnavios.Almdavontadedivina,houtrarazo:osAqueusreceiamnovasameaasquepossamprovirdeAstanax.

Aimagemdonovilho,quedesdecedoensaiagolpesidnticosaopai,traduzoreceiodosAqueus.Astanaxno,aosolhosdosvencedores,umacriana,mas simum futurusHector.Estaanica razo,dizUlisses,queaindaretmosnavios.

Poroutraspalavras:AstanaxfilhodeHeitor,tememsiosanguedeumheriaguerridoe,seviver,cedovaiprocurarimitlo.

Existeuma oposio significativa entre a ordemporque so anunciadasasmortesdePolxenaedeAstanaxeaordemporquesoexecutadas.AmortedeAstanax,motivadaprincipalmenteporrazesdeordempolticaedeestratgiamilitar(Tro.,529535),noreferidaporTaltbioeapresentadaporCalcasemsegundolugar.Entretantoaprimeiraaserreclamadaeocupaocentrodapea.Aocontrrio,amortedePolxena,determinadasobretudopormotivosreligiosos,anunciadaporTaltbioeconfirmada, emprimeiro lugar,porCalcas.Snecaparece terquerido realaroaspetopolticodamortedeAstanaxemoposiosrazesreligiosas.

Aoencerrara suaprimeira interveno,Ulissesapresentaumargumento j anteriormente utilizado por Pirro: Patere quod uictor tulit(Tro.,555).27

Apesardemergulhadanoabismodasuador,Andrmaca,queassimiloubemosconselhosdoAncio,consegueencontrar foraspara tentar

26Estadeciso,soosdestinosqueareclamam.27Suportaoqueovencedorjsofreu.umanovarefernciaaIfignia(Cfr.Tro.,246

e 164165). Vencedores e vencidos so vtimas do fatum inelutvel e profundamentedoloroso.

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enganarUlisses,28 fazeracreditarqueomenino estperdidonomeiodasrunasdacidadeemchamase,provavelmente,jmorto.

AspalavrascruzamseentreAndrmacaeUlissesaumritmointenso.EnquantoameprocurafazervingaratodocustoaideiadequeAstanaxjmorreu,oheriempregatodaasuaastciaparatentardesvendarosegredoque Andrmaca parece resolvida a guardar ciosamente. As ameaas demortequeUlissesproferedeterminam emAndrmaca reao contrria pretendida:Siuis,Vlixe,cogereAndromachammetu,/uitamminare:nammoriuotumestmihi.29(Tro.,576577).

Situaoeminentementetrgicaquesereveladegrandeeficciaestilstica(BOELLA(1979)74).Masa incredulidadedeUlissesmantmseeeleexigeprovas.AspalavrasqueAndrmacaprofereaseguirconseguem,pormomentos, perturbarUlisses: no so enganosas,mas ambguas, porquecorrespondemverdadeirasituaodofilho,embora inculquemumaverdade diferente da queUlisses percebe: [...] inter exstinctos iacet / datusquetumulodebitaexanimistulit.30(Tro.,603604).

Comonopodeapresentarprovas, fazum juramento.Peranteestaspalavrastoseguras,Ulissesdseporconvencidoemboraporpoucosinstantes.ConfrontaaagitaodeAndrmacacomoqueseriaonormalcomportamentodeumamequeacabadeperderofilho.Econcluiquetemdeusarmuitomaisoseuengenhoparaconseguiroquepretende.

A fim de abalarAndrmaca,Ulisses congratulase com a pretensamortedeAstanax e revelade forma abruptao fimqueo esperava, casoestivessevivo:seriaprecipitadodocimodatorrequerestava(Tro.,621622).

Andrmaca estremece eUlisses explora este sinal de fraqueza quedetetou para conseguir o que pretende. Imediatamente d ordens aos

28EmEur.,Troad.,nohatentativadeAndrmacaparasalvarofilhodasmos

dosAqueus,aopassoque,emSneca,esta cenaassumeumaposio centralnapea(SCHETTER(1965)418).HparalelismoentreatentativadeAgammnonparasalvarPolxena e esta tentativa deAndrmaca para salvarAstanax. TantoAgammnon comoAndrmacasoderrotados.

29Ulisses,sequeresforarAndrmacapeloterror,ameaaacomavida,poismorreromeuanseio.

30 Jaz entre osmortos e, entregue ao tmulo, recebeu as homenagens devidas aos queperderamavida.

ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca313

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soldados (Tro.,627630)paraquebusquemAstanax,enquantoobservaasreaesdame.

Adesventuradaoscilae,antesquepossarecomporse,Ulisses lanamodenovo estratagema.Dizque, segundo o orculo, seAstanax tivermorrido, para os navios poderem partir, o tmulo deHeitor ter de serarruinadoataosalicerceseacinzadoheritroianoespalhadanomar.

EstanovaameaadesorientacompletamenteAndrmaca.duroverdesaparecerAstanax,onovoHeitor.Masno menospenosover espalhadas no mar as cinzas do marido. Lutam Andrmaca, a boa esposa,eAndrmaca,aboame.

Pormomentos,ainfelizpensaapenasnoultrajequepermitiradestruio do tmulo. Smais tarde compreende que, se o tmulo for destrudo, tambm Astanax sucumbir, esmagado pelas pedras (SCHETTER(1965) 414).Odilema apenasumaquimera.Com a foraque lhe resta,tenta loucamente resistir aos soldados (Tro., 671672).Estes,pressionadosporUlisses,afastamna.Andrmacaapelaaindaparaa sombraentrevistadeHeitor(Tro.,682685),masestanopassadeumaalucinao.31

Depois, tentaaindasocorrersedonicodireitodosvencidos,apiedade,edonicodeverdosvencedores:nocometerhybrissobreovencido(CAVIGLIA(1981)75).Mas,deUlisses,apenasconsegueumaordem:Exhibenatumetroga32(Tro.,704).

AndrmacachamaAstanaxdoseuesconderijo.Aspalavrasdapobreme (Tro., 705735) comovem Ulisses,mas, aomesmo tempo, fazemlhesentiraresponsabilidadedamissoquelhefoiatribuda.Astanax,narealidade,umaameaaparaofuturodosAqueus.

Andrmacaprocura,atodoocusto,demonstrarqueumabsurdoopovo que venceu Troia recear uma criana inofensiva como Astanax:Hicest,hicestterror,Vlixe,/millecarinis!33(Tro.,707708).

31Mais tarde (Tro.,805),Andrmacavaicensuraraatuaodomaridoqueno

correspondeussuasexpectativas.32Apresentaoteufilhoedepoispede.33Aquiest,aquiest,Ulisses,oterrordosmilnavios!

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AAndrmacaparececastigosuficienteofilhoterdesuportarojugodaescravaturanasuanobrecabea.34MasUlissesrespondenomesmotomcomquetinhaentradoemcena:atribuiaresponsabilidadeaCalcas(Tro.,749).

Ento,Andrmacapedeumapequenamoraparasedespedirdofilho.EUlisses,agoramaisvitorioso,dignaseatenderesteltimopedidodacativa.

8.AdespedidadeAndrmacaeAstanax

Andrmacavofilhocondenadoaomundodastrevasdeondesaiu.Todososseusdesejosvocairporterra.naturaladormanifestadapelassuaspalavras.OtristefimqueteveHeitorseraindasuplantadopelamortedeAstanax.

Tentaanimarofilhoerecomendalhequesejalivre,equevejalivresosTroianos: I,uade liber, liberTroasuide (Tro.,791). Jquenoconsegueacontinuaodavida,aomenosquesejanobrenamorte.Transformaassimodestinodemortenonicocaminhopossveldeliberdade(CAVIGLIA(1981)84,95).

EntretantoAstanax,peranteadordesuame,dirigelhealtimasplica:Miserere,mater!35 (Tro.,792).Tentaagarrarsenica tbuadesalvaoquepensarestarlhe:asuame.Aquelasituaoaflitivaquebrantalhe,porinstantes,onimo.Omesmosuceder,depois,comPolxena.

Andrmacabeijaofilhoepedelhequetransmitaaopaiumamensagemdeamargor.Heitornoagiunamortecomoagiraemvida.Enquantoomaridojazinerteefraco:permitiuamortedeAstanaxeocativeirodeAndrmaca,Aquiles regressaem foraecontinuaacausardanosao inimigo(Tro.,805806).

Por fim, pede a veste com que Astanax tinha estado escondidodentrodotmuloparaprocurarnela,comoslbios,algumgrodacinzade

34Andrmaca,nestaformadepensaremrelaoaAstanax,entraemcontradio

comoquedizemTro.,576e577.TambmestemcontradiocomoqueHcubadizapropsitodePramo(Tro.,142147).Masnopodeesperarsecoernciadeumamequepede a vidapara o seu filho, como a av apediriapara o neto.Por estaremmortosPramo eHeitor, edestrudas as vidasdeHcuba eAndrmaca,no se segue que omesmodevaforosamenteacontecerqueleque,pelosseusverdesanos,eraopenhordaressurreiodeTroia.

35Piedade,minhame!EstassoasnicaspalavrasproferidasporAstanaxnapea.

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Heitor que a ela tenha aderido (Tro., 809812).Uma nota algomacabra,emboraentoadaaogostodapocaneroniana.

Terminou a pequena mora concedida a Andrmaca por Ulisses.Amoradosnaviosterminarquandoossacrifciosestiveremcumpridos.

OCoro,entretanto,interrogaseansiosamentesobreoslocaisondeirsuportar o cativeiro.uma enumerao erudita que apenas servirparaevocarotema,aindasuspenso,dosorteio.

9.OagnHelena/AndrmacaeareaodeHcuba

AHelena,atribudoumpapelsempartesemelhanteaoqueforaatribudoaUlisses(Tro.,524765).CompetelheapenasatarefadeprepararPolxenaparasersacrificada,deacordocomasexignciasdeAquiles.

Tal comoUlisses, tambmHelena seapresenta comoquem est incumbidadeumamisso.Istopodesignificarquenoconcordacomosvencedoresesecompadecedainfelicidadedosvencidos.

Nacenapodemosver,deum lado,Helenae,dooutro, trscativas:HcubaeAndrmacaquefalam;ePolxenaquepermanecemuda.36

Helena convidaPolxena a alegrarse, a substituir as vestesde lutoporvestesdefesta,poisvaiseresposadePirro.

A explicao dada a Polxena assenta numa ambiguidade trgica.Aspalavras de Helena tanto podem referirse a Pirro como a seu pai,Aquiles,quereclamavaosacrifcio.Polxenaserparentedadeusadomar,sernoradePeleuedeNereu(Tro.,879882).TodosesteslaossovlidosquerparaaesposadePirro,querparaadeAquiles.

Andrmaca ironiza com a hiptese de uma festa naquelas circunstncias e lembra que a destruio a que se assiste em redor foi obra deHelena.

Aacusadaargumentaquetambmumacativaeestempiorescondiesqueastroianas.Mastradapelassuaslgrimas.Contraela,vencedoresevencidos tm igual furor.37EAndrmaca,queatravessaraamaiorcriseporqueumamepodepassarverpartirofilhoparasermorto,

36 Facto que obviamente lhe confere uma grandeza preparatria da cena do

sacrifcio.37[....]inmeuictoretuictusfurit.(Tro.,914).

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reclama a verdade, pormais dura que seja. Para Andrmaca no podehavermalmaior do que ver Pirro transformado em genro de Pramo, aquemassassinouimpiedosamente,edeHcuba.

Helena tenta imitar,pelomenos empalavras, anobrezade atitudequecaracterizaoscativos:tambmparaelaseriabomqueamorteaapadrinhasse.Depois disto, revela a sorte que est destinada realmente a Polxena:38serimoladajuntodascinzasdeAquilesparaqueelesejaseumaridonosCamposElsios(Tro.,944).

Estarevelaopermiteumamudanadecomportamentonadonzela,mudanaessaquerelatadaporAndrmaca(Tro.,945948).Polxenareageagora perante a notcia da suamorte como se se encaminhasse para umcasamento,emoposioatitude tomadaanteriormente,quandopensavaestardestinadaacasarcomPirro.Emergedenovo39otemado.

Hcuba,entretanto,caiinanimadacomogolpe(Tro.,950954):tambmAndrmacaquenosdaocorrnciadestefacto.

EmoposioaosilnciodePolxenaquealegrementecaminhaparaamorte(CAVIGLIA(1981)91),Hcubaretomaasforaseevocaamargamenteoseupassado.Aindahpoucotemposeviarodeadadegrandenmerodefamiliares eagoraaquela filha, a suanica esperana, j tem traadoumdestinodemorte.EstamorteodestinoansiadoporCassandraeAndrmaca,masnoirbafejlas.

Andrmaca,ao reconhecera sortedePolxena,motivaHelenaparaapresentaro resultadodo sorteiodascativas.Assim,depoisde surgiremprimeiroplanootemadamortecomoliberdade,aparecenos,emoposio,o temado cativeiro (CAVIGLIA (1981)92).O sorteio j se realizou:AndrmacacoubeaPirro;Cassandra,aAgammnon;eHcuba,aUlisses.

Esta notcia vem despertar emHcuba novo acesso de indignao.Comeaporproferirpalavrascontraosdeuses inquosquepermitemquereis sejam escravosdeoutros reis,que avelha rainhadeTroia sejadadaquelequepossuiasarmasquemataramo seu filhoHeitor.Hcubano

38Notesea facilidadecomqueHelenacedeperanteo inimigo.Ulisses,noagn

comAndrmaca,agiucomumadeterminaomuitomaior,queoconduziuvitria.39EstetemajestpresentenolamentoinicialdeHcubaapropsitodamortede

Pramo.

ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca317

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sente vergonha de ser cativa, mas do seu dono, um rei de uma terramiservel,desprovidadosbensessenciais.

Depois,proferepalavraspressagasqueevidenciamansiadevinganaqueadevora(Tro.,994996).Entretanto,aprimeiravingana,Hcubajaconseguiu, ao impedirqueUlisses tivesse outra sortenadistribuiodascativas.Coubeaochefeaqueuodespojoquemaisdetestava.40

OCoroantevcomamargorahoraemque,dasnaus,severapenas,aolonge,ofumoremotodaptriadestruda.

10.AnarraodoMensageiro:sacrifciosdeAstanaxedePolxena

OMensageiro aqueu,masno Taltbio.41Asprimeiraspalavrasqueproferedonosomoteparaoquesevaiseguir.Sopalavrasdequemsenterepulsadoqueviuenuncapensarapoderver(Tro.,10561059).

Depois de breves palavras deHcuba, que se reassume como paradigmadadesgraadeTroia,oMensageiro,retomandoumaideiajexpressano lamento inicial, vai apresentar, apenas com as palavras estritamentenecessrias,tudoaquiloquevinhadizer:AstanaxePolxenamorreram,nodeumaformaqualquer,masdeumaformaheroica.Mactatauirgoest,missusemurispuer;/seduterqueletummentegenerosatulit.42(Tro.,10631064).

OsdestinosdePolxenaedeAstanaxqueatagorasedesenrolaramdeformaparalela,masemplanosdistintos,encontramseeterminamnestemomento(CAVIGLIA(1981)94).OMensageiroantecipaoelementocomums duas vtimas: a grandeza que os aproxima no momento da morte.AformacomoumacrianaeumajovemenfrentamcomtantaheroicidadeamortemotivodeadmiraoparaAqueuseTroianos.

Depoisdisto,Andrmaca impe aoMensageiroquenarre todos ospormenores.umaformadereviverodramadasvtimas,daquelesquelhesocaros.PeranteAndrmacaeHcuba,oMensageirorefereamortedosdoisprncipes.Astanaxprecipitousedanica torreque restavadasmu

40Hcubajaludiraaofactonolamentoinicial(Cf.Tro.,62).41OMensageironotroiano,poistrataHcubacomo velha,oquenosuce

deriasesetratassedeumsbdito.42Adonzela foi imolada;acriana,precipitadadasmuralhasmasumeoutrosupor

taramcomnobrezaamorte.

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ralhasdeTroia;43PolxenafoimortapelaespadadePirrosobreotmulodeAquiles.A torreeo tmulo foramopalcodaltimadestruio.Oltimoespetculopresenciadoporvencedoreseporvencidosprovocouemambosa comunhonosgemidos enador.Osgemidosdovencedor chegaramasuplantarosdosvencidos.Nesteshsentimentosdevitria.

AstanaxnodeixouqueUlissesacabasseoseuritualeprecipitouseda torre:o seucorpo ficoudesfeitocomoodeHeitor (observaAndrmaca).44AcoragemdacrianadeixaosAqueusestupefactos.

AmortedePolxena,aseguirdescrita,estemcontrastecomasortedas troianas, destinadas vida em escravido (SCHETTER (1965) 423).Aprincesa,queseencaminhaparaosacrifciocomosesedirigisseparaocasamento,guiadaporumaHelenaentristecida,deixaAqueuseTroianosespantados, querpela sua beleza, querpela coragem quedemonstra.Aocair trespassada, lanasesobreo tmulodeAquiles,paraquea terrasejaaindamaispesadaquelasombraqueamedrontavencedoresevencidoseexigesacrifciosquenemosbrbarosalgumavezrealizaram.Oseusangue imediatamente absorvido pela terra, como se a presena de Aquiles,sfregadevida,oreclamasse.

EstaaltimabatalhaentreTroianoseAqueus.AatitudedoMensageirotraduzasuacomunhonadorcomosvencidos.

11.OlamentofinaldeHcuba

Apenasagoraestodestrudas todasasesperanas latentesquepudessemencobrirsenaspalavrasiniciaisdeHcuba.45NohdescendentesvaronisdeTroiaqueapossamreconstruir.RestaaesperananadesgraaqueHcubaprofetizouparaaviagem.

43AspalavrasdeSnecaquedescrevemUlissesaconduzirAstanaxevocamas

deVirglioquandoEneias levaAscniopelamo: [...]dextraeseparuus Iulus / implicuitsequiturquepatremnonpassibusaequis(Aen.,2,723724).Mas,enquantoemSnecasediztrahens,emVirglioocorresequitur.Adurezadapalavratrahenscontrariadapelaltotesnecgradusegni,quesublinhaassimaliberamors.

44Sicquoqueestsimilispatri(Tro.1117).Tambmnestepontoseregistaapreocupaosenequianadeinsistirnadescriodefactoscruentos.

45NotesequetambmHcubaqueabreapeacomumlamento(Cf.ponto1).

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, possivelmente, esta esperana que anima as palavras com que arainhainiciaestelamentofinal:Ite,ite,Danai!Petiteiamtutidomos./Optatauelismariadiffusissecet/securaclassis.Concidituirgoacpuer./Bellumperactumest.46(Tro.,11651168).

Na ironia que repassa estas palavras, transferese para omar, prximodestinodosAqueus,avinganaqueAstanaxnopoderrealizar.

Mas, depois deste ltimo esforo,Hcuba volta ao sentimento quenelapredomina:odesejodamorte,cruelparatodosequeatodossurpreendecomasuaantecipao,queabateuumajovemeumacriana,masqueparecetemlaeevitla:mesolamtimesuitasque(Tro.,11731174).

Apeaterminaematmosferadeamargoreincerteza.Serqueomardarcorpos imprecaes finaisdeHcuba,amulheremqueseconcentram todas asdesgraas, aopontodeno saberquemhde chorar, se afilha,seoneto,seomarido,seaprpriaptria?

Sobressaem,assim,no final,oanseiodamorte libertadora,mortequetardaequeaspalavrasdeHcubainvocaramparavencidosevencedores.

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46Partam,partam,Dnaos!Demandem agora seguros a casa.A armada em segurana

sulqueosmaressuspiradoscomasvelasbemabertas.Morreuadonzelaeacriana.Aguerraestterminada.

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JooPauloRodriguesBalula

gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)

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Resumo:EstetextoapresentaumapropostadeleituradasTroianasdeSneca.Destacasea mora como o mecanismo fundamental da pea. A vida um impedimento dalibertao.Amoramaris e amoramortis unem vencedores e vencidos no sofrimento.Aosvencidosconcedidaalibertaodetodososreceioseesperanas.Aosvencedoresacrescentadaadvidaacercadosucessodaviagem.Apartidadosbarcosatransferncia da mora mortis dos vencidos para os vencedores. Omitese a apreciao dequestesrelativassfontes,particularmenteoparalelocomastragdiasdeEurpides.

Palavraschave:Troianas;mora;liberdade;Sneca;literaturalatina.

Resumen:EstetextopresentaunapropuestadelecturadelasTroyanasdeSneca.Sedarelievealamoracomomecanismofundamentaldelapieza.Lavidaesunobstculoparala liberacin.Lamoramarisy lamoramortisunenavencedoresyvencidosenelsufrimiento.A losvencidos se les concede la liberacinde todos losmiedosyesperanzas.Alosvencedoresseaadeladudasobreelxitodelviaje.Lapartidadelosbarcoseslatransferenciadelamoramortisdelosvencidosalosvencedores.Seomitelaapreciacindecuestionessobrelasfuentes,enparticularelparaleloconlastragediasdeEurpides.

Palabrasclave:Troyanas;mora;libertad;Sneca;literaturaLatina.

Rsum:CetexteproposeunelecturedesTroyennesdeSnque.Lamoraestenvisagecomme lemcanisme fondamentalde lapice.La vie estun empchement la libration.Lamoramarisetlamoramortisunissentvainqueursetvaincusdanslasouffrance.Auxvaincus, ilestdonn la librationde toutes lespeursetespoirs.Auxvainqueurs,ilestajoutledouteencequiconcernelesuccsduvoyage.Ledpartdesbateauxestletransfert de lamoramortis des vaincus aux vainqueurs. Les questions concernant lessourcesserontomises,etplusprcismentleparallleaveclestragdiesdEuripide.

Motscls:Troyennes;mora;libert;Snque.;littraturelatine.