Contributos para a leitura das Troianas de Séneca · Este artigo organiza‐se nos seguintes...
Transcript of Contributos para a leitura das Troianas de Séneca · Este artigo organiza‐se nos seguintes...
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)299322ISSN:08745498
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca AcontributiontothereadingofSenecasTroades
JOOPAULORODRIGUESBALULA1(CentrodeEstudosemEducao,TecnologiaseSade(CI&DETS),EscolaSuperiordeEducaodoInstitutoPolitcnicodeViseuPortugal)
Abstract: This article proposes a reading of Senecas Troades.Mora stands out as thecrucialactionmechanismof theplay.Life isanobstacle to liberation.Moramarisandmoramortisequalwinnersandlosersingrief.Losersaregrantedtheliberationfromalltheirworriesandhopes.Winnersarehauntedbythedoubtsurroundingthesuccessoftheirjourney.Withthedepartureofships,moramortisistransferredfromwinnersontolosers. The reappraisal of questions pertaining to sources is omitted, particularly theparallelwithEuripidestragedies.
Keywords:Troades;Mora;freedom;Seneca;LatinLiterature.
Introduo
A leitura dos textos clssicos no tarefa fcil nem frequente, nostemposatuais,apesardenosalimentaraimaginao,nosajudaracompreenderopresenteeaperspetivarofuturo.
Assumindo,assim,aimportnciadocontactocomostextosdaliteratura latinanaatualidade,pretendemos,comasnotassobreasTroianasdeSneca apresentadas neste artigo, facilitar a aproximao a uma tragdiaquenosapresentaoHomemcomoumseradiado,que,quercomovencidoquercomovencedor,vavida,prolongadanosofrimento,comoumimpedimentoparaalibertao.
Propeseamoracomoomecanismofundamentaldapea.Avidaum impedimentoda libertao.Amoramariseamoramortisunemvencedoresevencidosnosofrimento.Aosvencidosconcedidaa libertaodetodos os receios e esperanas. Aos vencedores acrescentada a dvidaacercadosucessodaviagem.Apartidadosbarcosatransfernciadamoramortisdosvencidosparaosvencedores(BALULA(1994)).
Esteartigoorganizasenosseguintespontos:olamentodeHcubaedoCoro; o anncio de Taltbio; o agn Pirro/Agammnon; a resposta deCalcas;odesesperodoCoro;osonhodeAndrmacaeatentativadesalva
Textorecebidoem06.10.2014eaceiteparapublicaoem04.11.2014.1jpbalula@esev.ipv.pt.
300
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
odofilho;oconfrontoentreUlisseseAndrmaca;adespedidadeAndrmacaeAstanax;oagnHelena/AndrmacaeareaodeHcuba;anarraodoMensageiro;olamentofinaldeHcuba.
Omitese,quasesempre,aapreciaodequestesrelativassfontes,em particular o paralelo com as tragdias de Eurpides. SeguimosZWIERLEIN(1986)comoediodereferncia.
1.OlamentodeHcubaedoCoro
Troiaacabadeserconquistadaedestruda.Masosvencedoresaindanoregressaramacasanemosvencidosconhecemasuasorte.ummomentodechegadaeumpontodepartidaparanovosanseios.
AtravsdaspalavrasiniciaisdeHcuba,aprimeirapersonagemaintervir,desenhaseumquadroamplo,de tonspredominantementeescuros:o desaparecimento de Troia. Esse quadro aparece filtrado pela sensibilidadedeumapersonagemqueviveuecontinuaaviverdeforma intensatodososacontecimentos.2
Nas suaspalavras iniciais,podevislumbrarseuma crtica implcitaemrelaoaosdeuses,leuesdeos(Tro.,2),cujainconstnciaperturbaoshumanos.Essa inconstnciadaFortunacomocausadasituaopresenteopontodepartida:[....]nonumquamtulit/documentaForsmaiora,quamfragililoco/starentsuperbi.3(Tro.,46).
Troiae todososseushabitantessoamarcamaisvisvelparaodemonstrar(CAVIGLIA(1981)18).Hcubaagoraaimagemdaprpriacidade:umamontoadodeescombrosdeque restaum fumoque seelevaedesaparecegradualmente.Estefumoserumaimagemobsidiantenoarranquedeumapeaque pautadaporumbalancear constante entreopassado,opresente e o futuro.Opresente uma sombradopassado que ameaatornarserealnofuturo.
2EmvezdePosdon,comqueEurpidesiniciaapeahomnima,Hcuba,figura
profundamentehumana,surgenoinciodapeacomasuafalamaisextensa.Nocertamente alheia a este pormenor a importncia da condio humana que, em Sneca,assumeumlugarderelevo,emdetrimentodasdivindadesqueassumemumpapelmaissimblicodoqueatuante.
3NuncaaFortunaapresentou testemunhomaisgrandiosodecomoossoberbosocupamfrgeispedestais.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca301
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
AvelharainharepresentaaencarnaoconscientedosmalesedissaboresdaFortuna.Oscilaentreo lamentoeoorgulhodeumpassadoprximoeexortaascompanheirasdadesgraaaacompanharemoseupranto.Duplaadesgraadosvencidos sobreviventes:porum ladoestovivos,poroutrocondicionamafelicidadedosquemorreram.
Acidadequeforaacolunadapoderosasia,essaobramaravilhosadosdeuses, a terraquemovimentou reisdasmaisdiversas regies,4 caiusobresimesma:Pergamumincubuitsibi(Tro.,14).
MasHcubasentereanimarseoseuespritoaoimaginaraformacomoosvencedores olham o local onde outrora se ergueuTroia eonde agora seergueanuvemde fumoque fazdescera sombraea cinza sobreas runas.AlongaresistnciadeTroiaaosataquesdoinimigo,queapenasvenceugraas traio, redobra a admirao dos vencedores, conscientes assim, da realgrandezada cidade.Vitria edestruio chegam a atemorizaro adversrio,porqueduvida,pormomentos,quetenhasidoeleaconsumaraderrota.
AriquezadeTroiaaltimarstiadeorgulhodarainhaperanteacidadequeeraequejno:praedammillenoncapiuntrates(Tro.,27).Umariqueza to grande que criava dificuldades ao prprio inimigo para o seutransporte.
MasadornopermiteaHcubaesquecersedurantemuitotempodasuadesgraa.Comoexpressomximadodesespero,arainhaatribuiasiprpriaasculpasdetudooqueaconteceu.DizquemesmoantesdeCassandra,emquemningumacreditava,5terprofetizadootristefimdacidade,jHcubaotinhaprevisto.6
Numdiscursodeautopunio,chamaatestemunhoosdeuses,ascinzasdaptria,osmares,HeitoreosoutrosfilhosparaseresponsabilizarpeloquesucedeuaTroia.Hcuba retiraomritodadestruiodeTroiaaoastucioso
4 Para encarecer a grandeza de Troia, Sneca chega a cometer alguns erros
geogrficos.5CassandraobtevedeApoloodomdaprofecia,mas,porquenegouaretribuio
prometida,odeus cuspiulhenabocae retiroulhe,noodomdaprofecia,masodapersuaso.
6HcubaapresentadeformasintticaarecordaodeumsonhoquetevequandoestavagrvidadePris,queveioaserocausadordaguerra.
302
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
Ulisses,aoseucompanheiroDiomedeseaoprfidoSnon,paraoatribuirasiprpria.DassuasentranhassaramaschamasquequeimaramTroia.
Eoseudesesperolevaaadizerquejnoadiantachorar,poisTroiaummalantigo:Troiaiamuetusestmalum(Tro.,43).Recordacoisasexecrandas:oassassnio,cometidoaopdosaltares,doesposorei,Pramo,7paidetantosreis (Tro.,4456).NestasugestivanarraopreparaseaapariodePirro(SCHETTER(1965)397).
Outradesgraa,noentanto,ameaaosTroianossobreviventes:ascativasvosersorteadaspelosvencedores,mastodoselestememqueHcubalhescaibaemsorte.
Repentinamente,Hcubamudadeassuntoefazumapeloparaqueascativascontinuemos lamentos, laceremospeitose faamashonras fnebresdeTroia(Tro.,6366).
OCoroapresentasecomoquemjmuitosofreu:estpreparadoparaatarefaquelheincumbida.Foramdezanosdedor(Tro.,6782).
Hcuba retoma a palavra e as ordens acumulamse (Tro., 8398).Todasasindicaessopoucasparaqueoslamentosproduzamoecodesejado: soltar os cabelos e descobrir o peito. E, por brevesmomentos, vislumbramseoutravezlaivosdeorgulhonaspalavrasdeHcubaperanteabelezadoscorpossemidesnudos.Masbreveoesquecimentodador.Rapidamente se lembradoque representa omomentopresente e oque foi opassado.peranteestarecordaoqueordenaquesejachoradoHeitor.
OCoro reforaativamenteoqueHcubadesejaeexprimepelavoz(Tro.,99116).
ArainhadedicaaHeitoros lamentosqueseseguem (Tro.,117131).Aelesodirigidostodososeptetosetodooencarecimentoespervelnumamequesentedesaparecerprematuramenteumfilho,encarnaodosmuros que resistiram durante dez anos, mas que, desaparecido o heri,tambmsucumbiram.AquedadeHeitorarrastouconsigoaquedadeTroia.
Mas, subitamente,Hcuba transferedeHeitorparaPramo a razodas suas lgrimas e amotivaoque transmitia s suas companheirasde
7AdescriodamortedePramoapresenta claras semelhanas comaque fez
Verg.A.2,552ss.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca303
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
desgraa. Imediatamente,qual sombradeHcuba,oCoromuda tambmparaosoberanodeTroiaarazodosseuslamentos(Tro.,132141).
Com igual volubilidade, no entanto, Hcuba altera a sua ordem(Tro.,142156).NohrazesparaPramoserchorado.Elefeliz,porqueno tevede suportar ahumilhaodaderrota:podedescer ao lugardosmanessemlevarnacabeaojugodosAqueus.EleestlivredevernasuafrenteoqueHcubasuportar.Nasituaodevencidaterdesedeslocaraosabordasordensdosvencedores.TambmnestemomentooCorocorresponde (Tro., 157162). Pramo feliz, porque, ao contrrio deHeitor,quandomorreu, levou consigo a sua realeza,mantevese ntegro e assimdescansa em paz. o tema da felicidade no Alm, do (CAVIGLIA (1981)29),emqueamorteumbemquandoomortoaceitaasuacondiodemortoesepersuadedequenavidanadamaispodefazer.
AmortedePramoumavitriapossveleumaantecipaodavitria que outros vencidos podero alcanar: Polxena (uma das filhas dePramo,geralmenteconsideradaamaisnova)eAstanax(filhoprimognitodeHeitoreAndrmaca,naturalherdeirodoreinodeTroia).
Em suma, no lamento deHcuba sobressaem a revolta, o orgulho,aconsternao,odesesperoeopranto.Procuraoporagrandezadopassadoaoabatimentodopresente.Nofalamuitodesiprpria,falamuitodasuacidade; pouco do seu destino,muito do destino dos seus entes queridos(CAVIGLIA(1981)27).
2.OannciodeTaltbio:exignciadosacrifciodePolxena
Taltbioprecipitase,deformaabrupta,paraacena:vemliteralmenteapavorado.Estembrenhadonasuavisoepreocupadoempartilharoseuhorror.Assuaspalavrasdescrevemasituaopresentecomoarepetiodeumasituaoanterior:osacrifcioda filhadeAgammnon (Tro.,164165).AideiaretomadaporPirronoseuagncomAgammnon(Tro.,246)eporUlissesnoagncomAndrmaca(Tro.,555).
Assimocorreumtemadeimportnciacapitalnapea,amora.8Exatamentecomo,nopassado,osAqueustiveramdificuldadesparaconseguirem
8No sepodedeixarde referiro factodeHcuba j ter tocado levementeeste
temaquando, juntamente comoCoro, lamentava amortedeHeitor:Columen patriae,
304
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
partirrumoaTroia,tambmagoratardaoregressoacasa.Otemadamora,apesardenovonapea,nonovoparaosseuspacientes.
QuestionadopeloCorosobreasrazesqueretmosnavios,Taltbiodescreveumavisoquese inserenumambienteaterrador:porentreconvulsesdaterraedomar,Aquilesreclamaasuapartenosdespojosdacidadevencida.PelamodePirro,Polxenadeverserimoladascinzasdoheritesslio.
ComoobservaSCHETTER(1965)399,aapariodeAquileseoseupedidoestoemrelaocomosorteiodastroianasquefoirecordadonoprlogo(Tro.,56ss).Depoisdaapario,tudoseacalma,masocantonupcialdosTritesconfirmaoapoiodeNeptunoexignciadeAquiles(Tro.,202).
OCoronoreagede imediatospalavrasdeTaltbio.PoderpartirdoprincpioqueosacrifciosserrealizadoseAgammnonoconsentire,comooreidosreisnoforaamigodeAquilesemvida,parecepoucoprovvelquelhesatisfaaumpedidodepoisdemorto.
Outra razo possvel ser a preocupao de dar uma importnciaapenas relativa s palavras de um homem do vulgo que apresenta umavisodarealidadedeturpadapordadosirracionais.
Ocertoque,noagn imediato,nemPirronemAgammnonsereferemvisodeTaltbio.Posteriormente,contudo,Andrmaca,antesdefazerrefernciaaoaparecimentodeHeitor,aludevisodeTaltbio:[....]hostesabimoconditiDiteexeunt:/solisneretroperuiumestDanaisiter?9(Tro.,432433).
Nesta omisso se baseiam alguns autores (OWEN (1970b) 118) parafundamentaremaideiadequenasTroianashaveriafalhasdeestrutura.Estaideia, a partir de SCHETTER (1965) eOWEN (1968, 1970, 1970b), foi abandonada.Oefeitoespetaculardapeaestrealmenteconfirmado.
3.OagnPirro/Agammnon
Pirro, que j duas vezes foramencionado, uma porHcuba, comoassassinodePramo,eoutraporTaltbio,comoaquelequeAquilesdesti
morafatorum,(Tro.,124).Agrandeocorrnciadapalavramoraatestaasuaimportncia:Tro.,124,164,166,205,354,681,760,764,787,813,939,1126,1169.
9 [...]os inimigosescondidossaemdas fundurasdeDite:saosDnaosestarabertoocaminhoderegresso?
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca305
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
narapara imolarPolxena, surge agora a reclamar,peranteAgammnon,osdespojosdevidosaseupai.Aqueleparaquemaconquistadetantascidadesimportantesfoiapenasumapreparaodograndecerco,aqueleaquemrealmente sedeveaquedadeTroia, foiesquecidonadistribuiodas recompensasdavitria.
PeranteahesitaodeAgammnon,Pirroapresentaumargumentoirrecusvel: por motivos muito menos nobres, o comandantechefe dosAqueusimolouasuaprpriafilha.OraPolxenaapenasumacativa.
A estaprovocaoAgammnonno respondediretamente.Em seuentender,hdesculpasparaocomportamentodePirro:so impulsosprpriosdosseusverdesanos.Eproferedepoispalavrasdemoderao,umcdigodeprocedimentoparaosoberanovirtuoso.
OtemadainconstnciadaFortuna,comqueHcubainiciaraapea,reapareceagoranabocadovencedor(Tro.,259263).Amoderaodeveserapreocupao constantedospoderosos e estesdevemduvidar continuamentedaposiofavorveldosdeuses.Noseroprecisosmilnaviosnemdezanosparaqueumreinocaia.NematodosaFortunad,comoaTroia,tantasdelongasdeproteo.
Agammnon,quenanoiteanteriornoconseguiracontrolarascrueldadeseindignidadescometidaspelosseussoldados,queosressentimentosdedezanosdeguerraimpeliamdesforra,procuraagoraevitarquesejamperpetrados mais crimes que podero ser gravemente punidos pelosdeuses.Paraele,maisquesuficienteocastigoquefoiinfligidoaTroia.
Assuaspalavrassoclaras.Aresponsabilidadedemaisumcrimerecairsobreele,poisquinonuetatpeccare,cumpossit,iubet10(Tro.,291).
MasPirronosedporvencido:Aquilestemdeobterasuarecompensa.Agammnonpropesacrifciosdeanimais:jhouvedemasiadossacrifcioshumanos.
Pirroassumeumtominsultuosoeameaador:parecedispostoaatentarcontraavidadoprprioAgammnon(Tro.,306310).Easuaconhecidabrutalidademostraquecapazdepassaragresso.
10Quemnoprobeumamao,quandopodefazlo,estaordenla.
306
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
AameaadePirronopoderiaserignorada.Estranhasequeosupremochefemilitarsejaameaadodemorteenoordeneoimediatocastigodoofensor.A rplica deAgammnon, embora sarcstica, quase uma confissode fraqueza (Agammnon erados chefes demais idade, enquantoPirroestavanaflordosanos).
EstaatitudedeAgammnonlevaPirro(Tro.,312)aconsiderlomedroso:repetenopresenteafaltadecoragemquerevelounopassado.Agammnon limitase a acentuar os defeitos de Aquiles que Pirro procuradesculpar.
Mas o confronto vai ganhar um ritmomuitomais acelerado.Agammnondefendeasvirtudesqueumreideveter,enquantoPirrovairetorquindo,quasesemprecommuitadureza.
nesta linha queAgammnon afirmaPraeferre patriam liberis regemdecet11 (Tro., 332); Quod non uetat lex, hoc uetat fieri pudor12 (Tro., 334);Minimumdecetliberecuimultumlicet13(Tro.,336).
Pirro,porseulado,procuradefenderasuaposiocomargumentosquedenunciam a brutalidadedo seu corao:Mortemmisericors saepe prouitadabit14 (Tro.,329);Lexnulla captoparcit autpoenam impedit15 (Tro.,329);Quodcumquelibuitfacereuictorilicet16(Tro.,335).
Rapidamente,estasquestesdocdigodehonradeumgovernantedo lugar s calniasdeparte aparte, aspeto em queAgammnon consegue responderaPirro,oquenoaconteceraquandose tratavadeameaas fsicas.OsataquesqueAgammnondesfereaPirroassentamna suaquase totalidade em crticas atuao ou comportamento de seu paiAquiles(Tro.,342343e347).Mas,aotransferirasuaresponsabilidadeparao adivinho, o rei dos reis enfraquece a sua bonamens e a determinaoinicial.
11Umreitemodeverdepreferiraptriaaosfilhos.12Oquealeinoprobe,ahonraoprobe.13Muitopoucodevequereraquelequemuitopode.14Amortepodesermuitasvezescompaixomaiorqueavida.15Nohleialgumaquemandeperdoaraocativoouqueimpeaoseusuplcio.16Umvencedorpodefazertudooquequiser.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca307
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
4.ArespostadeCalcas:exignciadossacrifciosdePolxenaedeAstanax
ArespostadeCalcasaconfirmaodaderrotadeAgammnonnoconfrontocomPirro.Osdeusesreclamam,nopresente,umpreo idnticoaoque forapagonopassado.Como sedeum cortejonupcial se tratasse,PolxenadeveserconduzidaaotmulodeAquiles,paraaserimolada.
Masalmdainsatisfaodoantigochefe,Aquiles,houtrarazoqueimpedeapartidadaarmada:aexistnciadeumfilhodeHeitor,Astanax,quetambmdevemorrer.
Esta respostadeCalcasvem introduzirum elementonovo,de capitalimportnciapara a estruturadapea.Com amortedePolxena reclamasetambmadeAstanax.OdestinodasduasvergnteasdeTroiadestruda apresentadonomesmomomentoequaseem tudo idntico,atnasrazesque o podemmotivar. Ambos so jovens, ambos tm sangue real, ambospodemdarvidaaumafuturavinganadeTroia.Importaaovencedoreliminarcompletamentequalquerveleidadederessurgimentodacidadedestruda.
5.OdesesperodoCoro
Peranteadupladesgraaqueacabadeseranunciada,oCoro jnopode guardar silncio.Agora pronunciase,motivado pela destruio deTroia,nopassado,epeladestruiodaesperana,nopresente.
A sua interveno iniciase comuma sriedeperguntas (Tro., 371),sinalevidentedainquietaoqueopercorreedaincertezaquerodeiaoseupensamento.Num segundomomento (Tro., 381 ss.), as certezas surgem.OCoronegaaexistnciadequalquervidaapsamorte.AexistnciahumanaalgosemelhanteaoqueforaaexistnciadeTroia,queseapagadeummomentoparaooutrocomoumanuvemdefumo.Corpoealmadesaparecemsimultaneamente.Todaaexistnciaparaalmdamorteapenasumaquimera.
Aposio tomadapeloCorope questesmuitodelicadas epertinentesacercadapea.Aprimeiraprendesecomofactodeestaintervenoterumaimportnciaacrescidaemrelaoaoutroscorosque,parteoprimeiro, so praticamente ornamentais e que servem para preencher intervalosdapea.Ora istono sepassa com esteCoro,quepequestesdedifcilcompreensoeseexprimecominegvelbeleza.
308
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
Poroutro lado,oniilismo totalaquidefendidopeloCoro,aonegarqualquerexistnciadepoisdamorte,17nocorroboradonorestodapea.Emoutrosmomentos surgemnos situaesque contrariamas afirmaesdoCoro,porquantonelaspareceaceitarseaexistnciadaalma,paraalmdamorte,nomundodassombras.ocasodeTaltbioquenarraaaparioespetacular deAquiles e o caso das palavras deAndrmaca, quando serefereaoaparecimentodeHeitorduranteosono,paraaconselharaesposaaesconderofilho.
importanteo factodeosnovosgolpesquevo ser infligidos aosTroianos,amortedePolxenaedeAstanax,noseremdeterminadospelosvivos,massimporquemjnopertenceaomundodosvivos.ParaoCoro,amortedePolxenafoideterminadapelasombradeAquiles,eadeAstanax,pelasdivindades.Erabemmelhorquenadaexistisseparaldamorte,poisassimestessacrifciosseriamevitados.
EsteCoro,quevemnasequnciadarevelaodeCalcas,aexpressodesentimentosacumuladosdesdeaintervenodeTaltbio.umacrticaquelesqueobedecemaomundodassombras.Odesesperogrande,ascativasnadamaisesperamdavidaetambmnadareceiamnamorte.
Desdequenohaja sofrimento,desdequeadorque existenopresentedesaparea,tudoorestobom,mesmoquesejaoaniquilamentototal.
6.OsonhodeAndrmacaeatentativadesalvaodofilho
DepoisdeHcuba,depoisdoCoro,tambmAndrmacaapareceaexprimirasuador.Doraindamaiorqueadasrestantescativas,poisaheronaquase jse tornou insensvelaossofrimentosdahora.Paraela,TroiacaiuquandoHeitorcaiu:foramosseusmembrosque,comosdovencido,Aquilesarrastouvoltadasmuralhas.Por isso, todasasdesgraaspresentesadeixam insensvel. J teriaposto termovida,seaexistnciadeAstanaxnoprolongasseasuamisria18(Tro.,419420).Efetivamente,miserrimumest
17MailveroSeneca,nelcampodellatragedia,simanifestapiuttostonelfamoso
secondocorodelleTroiane,incuisiponeilproblemadellesistenza,dellaldil[....](esinotilaconcezionedesolatadellesistenzadellanima,nelsensoquasichelamorte,laldilperpetuinolintimotormentodellanimadurantelavitaterrena).(PARATORE(1965)413).
18Notese,contudo,que,depoisdamortedeAstanax,elanopetermovidaeaceitasemresistnciasercativaeescravadePirro.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca309
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
timere,cumsperesnihil19(Tro.,425):atrsdeumgrandemalvemsempreumpior.20
Quando, depois de ter passado amaior parte da noite acordada,finalmenteadormeceu,apareceulheHeitor,extenuado,abatidoedesfiguradopelochoro,cheiodetristezaecomoscabelosemdesalinho.21Assimsesublinhao contraste entreaapariodovencidoqueno temaproteodivinaeadovencedorqueapoiadopelasdivindadesmarinhas.
OespectroordenaqueAndrmacaescondaAstanax,nicaformadeosalvar.MasaspalavrasdeHeitor,lateat,haecunaestsalus(Tro.,453),soambguas.Elenodizondedeve serescondidoo filho: amouequocumque.Mandaoparaqualquerlugar:massrestaotmulo,lugardemorte,smbolodosseusreaisdesejos.
AambiguidadedestaspalavrasacentuasepeloderrotismodeHeitorquandomanifestaodesejodeveradestruiodeTroiacompletamenteacabada:Vtinamiacerettota!22(Tro.,455).HumacontradioentreaordemparaesconderofilhoeointeressenodesaparecimentodoquerestadeTroia.
Andrmaca repartese entrea emoode reverHeitor eo terrorporsentiroperigoquecorreofilho,aquelequetemtodosostraosdeseupai,nica esperana de Troia, aquele que pode vir a ser o reconstrutor e vingadordacidade.Umaambioqueataelaprpriapareceperigosae inadequadasituaoemqueseencontram.Paraoscativos,jbastasobreviver.
Asuagrandepreocupaopassaaserencontrarumlugarondepossaescondero filho: [...]Heume, quis locus fidusmeo / erit timori quaue te sedeocculam?23(Tro.,476477).
Dagrande cidadeque foraTroia restaapenasummontede runas,decinza,defumo.MasocorreaAndrmacaquehumedifcio,onicorespeitadoatquelemomento:otmulodeHeitor.Nomesmoinstante,com
19Amaiordesgraatermedo,quandonadahqueesperar.20Exorituraliquodmaiusexmagnomalum.(Tro.,427).21 Sed fessus ac deiectus et fletu grauis / similisque nostro, squalida obtectus coma.
(Tro.,449450).22Oxalestivessetodaelaporterra!23Aidemim,quelugarserdeconfianaparaacudiraosmeusterroreseemquelugarte
esconderei?
310
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
tudo,ummaupressgiofazestremeceroseucoraodeme.Otmuloumlocaldemorte.
Apenasos conselhos eas sentenasdeumancio,decertooaiodoprncipe,lhepermitemtomarumaresoluoeenfrentar,commuitainsegurana,osnovosperigos:necessrioafastarastestemunhas,mentiraoinimigoeesperarqueeleacalmeosmpetosdoprimeiromomento.Asituaonopermitemelhorescolha.
EntoAndrmacainvocaHeitorepedelhequeprotejaagoraofilho,tal como o fazia no passado:Quis proteget?Qui semper, etiamnunc tuos, /Hector, tuere: coniugis furtum piae / serua et fideli cinere uicturum excipe.24(Tro.,500502).
MasAstanaxera filhode reise futuro rei.Asuagrandeza,agrandezadaquelesque sedestinam a ser reis, impediao,apesarde ser aindacriana,de tomaruma atitude to indigna, ade se esconder.Andrmacapedelhequeesqueapormomentosessareao,querefreieosseuspensamentosorgulhososeonimodopassado.
Agora, todaaaocabeaodestino (Tro.,510512).QuandoAstanaxobedece,Andrmacaafastasedotmuloparanoseratraioadaporqualquermovimentodenunciador.Mas,aoouvirfalardeUlisses,temumaexclamaocarregadadeironiatrgicaemquepedeavidaparaAstanaxcompalavras de morte: Dehisce tellus, tuque, coniunx, ultimo / specu reuulsamscindetelluremetStygis/sinuprofundocondedepositummeum.25(Tro.,519521).
AndrmacaencarregaHeitorde tomarcontado filho.ConfiaAstanaxmortee,comose,atcertoponto,condicionasseafuturaatuaodasombradeHeitor.
7.OconfrontoentreUlisseseAndrmaca
O episdio emqueUlisses eAndrmaca sedefrontam configurasecomo o centro da pea pela posio que ocupa, pela importncia que
24Quemnosproteger?Tuquenosprotegestesempre,guarda tambm,nopresente,os
teus,Heitor:salvaoentesonegadopelatuadedicadaesposaequeastuascinzasfiisacolhamoteufilhoparaquepossaviver.
25Rasgate,terra,etu,meuesposo,fendeeremoveaterranofundodessacovaatssuasprofundezasparaesconderestemeudepsitonoinsondvelseiodaEstige.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca311
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
assume,pelabelezaeequilbriocomqueestconstrudo,pelosignificadodequesereveste.
Ulissesentra frontaledireto:apresentaseaAndrmacacomomandatriodosAqueus,representantedeumacausaquenoexclusivamentesua.Agravidadedomomento implicaagravidadedamissoque temdelevar a cabo. Contudo, amaior responsabilidade do destino: hanc fataexspetunt26(Tro.,528).OfilhodeHeitorimpedeoregressodosnavios.Almdavontadedivina,houtrarazo:osAqueusreceiamnovasameaasquepossamprovirdeAstanax.
Aimagemdonovilho,quedesdecedoensaiagolpesidnticosaopai,traduzoreceiodosAqueus.Astanaxno,aosolhosdosvencedores,umacriana,mas simum futurusHector.Estaanica razo,dizUlisses,queaindaretmosnavios.
Poroutraspalavras:AstanaxfilhodeHeitor,tememsiosanguedeumheriaguerridoe,seviver,cedovaiprocurarimitlo.
Existeuma oposio significativa entre a ordemporque so anunciadasasmortesdePolxenaedeAstanaxeaordemporquesoexecutadas.AmortedeAstanax,motivadaprincipalmenteporrazesdeordempolticaedeestratgiamilitar(Tro.,529535),noreferidaporTaltbioeapresentadaporCalcasemsegundolugar.Entretantoaprimeiraaserreclamadaeocupaocentrodapea.Aocontrrio,amortedePolxena,determinadasobretudopormotivosreligiosos,anunciadaporTaltbioeconfirmada, emprimeiro lugar,porCalcas.Snecaparece terquerido realaroaspetopolticodamortedeAstanaxemoposiosrazesreligiosas.
Aoencerrara suaprimeira interveno,Ulissesapresentaumargumento j anteriormente utilizado por Pirro: Patere quod uictor tulit(Tro.,555).27
Apesardemergulhadanoabismodasuador,Andrmaca,queassimiloubemosconselhosdoAncio,consegueencontrar foraspara tentar
26Estadeciso,soosdestinosqueareclamam.27Suportaoqueovencedorjsofreu.umanovarefernciaaIfignia(Cfr.Tro.,246
e 164165). Vencedores e vencidos so vtimas do fatum inelutvel e profundamentedoloroso.
312
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
enganarUlisses,28 fazeracreditarqueomenino estperdidonomeiodasrunasdacidadeemchamase,provavelmente,jmorto.
AspalavrascruzamseentreAndrmacaeUlissesaumritmointenso.EnquantoameprocurafazervingaratodocustoaideiadequeAstanaxjmorreu,oheriempregatodaasuaastciaparatentardesvendarosegredoque Andrmaca parece resolvida a guardar ciosamente. As ameaas demortequeUlissesproferedeterminam emAndrmaca reao contrria pretendida:Siuis,Vlixe,cogereAndromachammetu,/uitamminare:nammoriuotumestmihi.29(Tro.,576577).
Situaoeminentementetrgicaquesereveladegrandeeficciaestilstica(BOELLA(1979)74).Masa incredulidadedeUlissesmantmseeeleexigeprovas.AspalavrasqueAndrmacaprofereaseguirconseguem,pormomentos, perturbarUlisses: no so enganosas,mas ambguas, porquecorrespondemverdadeirasituaodofilho,embora inculquemumaverdade diferente da queUlisses percebe: [...] inter exstinctos iacet / datusquetumulodebitaexanimistulit.30(Tro.,603604).
Comonopodeapresentarprovas, fazum juramento.Peranteestaspalavrastoseguras,Ulissesdseporconvencidoemboraporpoucosinstantes.ConfrontaaagitaodeAndrmacacomoqueseriaonormalcomportamentodeumamequeacabadeperderofilho.Econcluiquetemdeusarmuitomaisoseuengenhoparaconseguiroquepretende.
A fim de abalarAndrmaca,Ulisses congratulase com a pretensamortedeAstanax e revelade forma abruptao fimqueo esperava, casoestivessevivo:seriaprecipitadodocimodatorrequerestava(Tro.,621622).
Andrmaca estremece eUlisses explora este sinal de fraqueza quedetetou para conseguir o que pretende. Imediatamente d ordens aos
28EmEur.,Troad.,nohatentativadeAndrmacaparasalvarofilhodasmos
dosAqueus,aopassoque,emSneca,esta cenaassumeumaposio centralnapea(SCHETTER(1965)418).HparalelismoentreatentativadeAgammnonparasalvarPolxena e esta tentativa deAndrmaca para salvarAstanax. TantoAgammnon comoAndrmacasoderrotados.
29Ulisses,sequeresforarAndrmacapeloterror,ameaaacomavida,poismorreromeuanseio.
30 Jaz entre osmortos e, entregue ao tmulo, recebeu as homenagens devidas aos queperderamavida.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca313
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
soldados (Tro.,627630)paraquebusquemAstanax,enquantoobservaasreaesdame.
Adesventuradaoscilae,antesquepossarecomporse,Ulisses lanamodenovo estratagema.Dizque, segundo o orculo, seAstanax tivermorrido, para os navios poderem partir, o tmulo deHeitor ter de serarruinadoataosalicerceseacinzadoheritroianoespalhadanomar.
EstanovaameaadesorientacompletamenteAndrmaca.duroverdesaparecerAstanax,onovoHeitor.Masno menospenosover espalhadas no mar as cinzas do marido. Lutam Andrmaca, a boa esposa,eAndrmaca,aboame.
Pormomentos,ainfelizpensaapenasnoultrajequepermitiradestruio do tmulo. Smais tarde compreende que, se o tmulo for destrudo, tambm Astanax sucumbir, esmagado pelas pedras (SCHETTER(1965) 414).Odilema apenasumaquimera.Com a foraque lhe resta,tenta loucamente resistir aos soldados (Tro., 671672).Estes,pressionadosporUlisses,afastamna.Andrmacaapelaaindaparaa sombraentrevistadeHeitor(Tro.,682685),masestanopassadeumaalucinao.31
Depois, tentaaindasocorrersedonicodireitodosvencidos,apiedade,edonicodeverdosvencedores:nocometerhybrissobreovencido(CAVIGLIA(1981)75).Mas,deUlisses,apenasconsegueumaordem:Exhibenatumetroga32(Tro.,704).
AndrmacachamaAstanaxdoseuesconderijo.Aspalavrasdapobreme (Tro., 705735) comovem Ulisses,mas, aomesmo tempo, fazemlhesentiraresponsabilidadedamissoquelhefoiatribuda.Astanax,narealidade,umaameaaparaofuturodosAqueus.
Andrmacaprocura,atodoocusto,demonstrarqueumabsurdoopovo que venceu Troia recear uma criana inofensiva como Astanax:Hicest,hicestterror,Vlixe,/millecarinis!33(Tro.,707708).
31Mais tarde (Tro.,805),Andrmacavaicensuraraatuaodomaridoqueno
correspondeussuasexpectativas.32Apresentaoteufilhoedepoispede.33Aquiest,aquiest,Ulisses,oterrordosmilnavios!
314
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
AAndrmacaparececastigosuficienteofilhoterdesuportarojugodaescravaturanasuanobrecabea.34MasUlissesrespondenomesmotomcomquetinhaentradoemcena:atribuiaresponsabilidadeaCalcas(Tro.,749).
Ento,Andrmacapedeumapequenamoraparasedespedirdofilho.EUlisses,agoramaisvitorioso,dignaseatenderesteltimopedidodacativa.
8.AdespedidadeAndrmacaeAstanax
Andrmacavofilhocondenadoaomundodastrevasdeondesaiu.Todososseusdesejosvocairporterra.naturaladormanifestadapelassuaspalavras.OtristefimqueteveHeitorseraindasuplantadopelamortedeAstanax.
Tentaanimarofilhoerecomendalhequesejalivre,equevejalivresosTroianos: I,uade liber, liberTroasuide (Tro.,791). Jquenoconsegueacontinuaodavida,aomenosquesejanobrenamorte.Transformaassimodestinodemortenonicocaminhopossveldeliberdade(CAVIGLIA(1981)84,95).
EntretantoAstanax,peranteadordesuame,dirigelhealtimasplica:Miserere,mater!35 (Tro.,792).Tentaagarrarsenica tbuadesalvaoquepensarestarlhe:asuame.Aquelasituaoaflitivaquebrantalhe,porinstantes,onimo.Omesmosuceder,depois,comPolxena.
Andrmacabeijaofilhoepedelhequetransmitaaopaiumamensagemdeamargor.Heitornoagiunamortecomoagiraemvida.Enquantoomaridojazinerteefraco:permitiuamortedeAstanaxeocativeirodeAndrmaca,Aquiles regressaem foraecontinuaacausardanosao inimigo(Tro.,805806).
Por fim, pede a veste com que Astanax tinha estado escondidodentrodotmuloparaprocurarnela,comoslbios,algumgrodacinzade
34Andrmaca,nestaformadepensaremrelaoaAstanax,entraemcontradio
comoquedizemTro.,576e577.TambmestemcontradiocomoqueHcubadizapropsitodePramo(Tro.,142147).Masnopodeesperarsecoernciadeumamequepede a vidapara o seu filho, como a av apediriapara o neto.Por estaremmortosPramo eHeitor, edestrudas as vidasdeHcuba eAndrmaca,no se segue que omesmodevaforosamenteacontecerqueleque,pelosseusverdesanos,eraopenhordaressurreiodeTroia.
35Piedade,minhame!EstassoasnicaspalavrasproferidasporAstanaxnapea.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca315
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
Heitor que a ela tenha aderido (Tro., 809812).Uma nota algomacabra,emboraentoadaaogostodapocaneroniana.
Terminou a pequena mora concedida a Andrmaca por Ulisses.Amoradosnaviosterminarquandoossacrifciosestiveremcumpridos.
OCoro,entretanto,interrogaseansiosamentesobreoslocaisondeirsuportar o cativeiro.uma enumerao erudita que apenas servirparaevocarotema,aindasuspenso,dosorteio.
9.OagnHelena/AndrmacaeareaodeHcuba
AHelena,atribudoumpapelsempartesemelhanteaoqueforaatribudoaUlisses(Tro.,524765).CompetelheapenasatarefadeprepararPolxenaparasersacrificada,deacordocomasexignciasdeAquiles.
Tal comoUlisses, tambmHelena seapresenta comoquem est incumbidadeumamisso.Istopodesignificarquenoconcordacomosvencedoresesecompadecedainfelicidadedosvencidos.
Nacenapodemosver,deum lado,Helenae,dooutro, trscativas:HcubaeAndrmacaquefalam;ePolxenaquepermanecemuda.36
Helena convidaPolxena a alegrarse, a substituir as vestesde lutoporvestesdefesta,poisvaiseresposadePirro.
A explicao dada a Polxena assenta numa ambiguidade trgica.Aspalavras de Helena tanto podem referirse a Pirro como a seu pai,Aquiles,quereclamavaosacrifcio.Polxenaserparentedadeusadomar,sernoradePeleuedeNereu(Tro.,879882).TodosesteslaossovlidosquerparaaesposadePirro,querparaadeAquiles.
Andrmaca ironiza com a hiptese de uma festa naquelas circunstncias e lembra que a destruio a que se assiste em redor foi obra deHelena.
Aacusadaargumentaquetambmumacativaeestempiorescondiesqueastroianas.Mastradapelassuaslgrimas.Contraela,vencedoresevencidos tm igual furor.37EAndrmaca,queatravessaraamaiorcriseporqueumamepodepassarverpartirofilhoparasermorto,
36 Facto que obviamente lhe confere uma grandeza preparatria da cena do
sacrifcio.37[....]inmeuictoretuictusfurit.(Tro.,914).
316
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
reclama a verdade, pormais dura que seja. Para Andrmaca no podehavermalmaior do que ver Pirro transformado em genro de Pramo, aquemassassinouimpiedosamente,edeHcuba.
Helena tenta imitar,pelomenos empalavras, anobrezade atitudequecaracterizaoscativos:tambmparaelaseriabomqueamorteaapadrinhasse.Depois disto, revela a sorte que est destinada realmente a Polxena:38serimoladajuntodascinzasdeAquilesparaqueelesejaseumaridonosCamposElsios(Tro.,944).
Estarevelaopermiteumamudanadecomportamentonadonzela,mudanaessaquerelatadaporAndrmaca(Tro.,945948).Polxenareageagora perante a notcia da suamorte como se se encaminhasse para umcasamento,emoposioatitude tomadaanteriormente,quandopensavaestardestinadaacasarcomPirro.Emergedenovo39otemado.
Hcuba,entretanto,caiinanimadacomogolpe(Tro.,950954):tambmAndrmacaquenosdaocorrnciadestefacto.
EmoposioaosilnciodePolxenaquealegrementecaminhaparaamorte(CAVIGLIA(1981)91),Hcubaretomaasforaseevocaamargamenteoseupassado.Aindahpoucotemposeviarodeadadegrandenmerodefamiliares eagoraaquela filha, a suanica esperana, j tem traadoumdestinodemorte.EstamorteodestinoansiadoporCassandraeAndrmaca,masnoirbafejlas.
Andrmaca,ao reconhecera sortedePolxena,motivaHelenaparaapresentaro resultadodo sorteiodascativas.Assim,depoisde surgiremprimeiroplanootemadamortecomoliberdade,aparecenos,emoposio,o temado cativeiro (CAVIGLIA (1981)92).O sorteio j se realizou:AndrmacacoubeaPirro;Cassandra,aAgammnon;eHcuba,aUlisses.
Esta notcia vem despertar emHcuba novo acesso de indignao.Comeaporproferirpalavrascontraosdeuses inquosquepermitemquereis sejam escravosdeoutros reis,que avelha rainhadeTroia sejadadaquelequepossuiasarmasquemataramo seu filhoHeitor.Hcubano
38Notesea facilidadecomqueHelenacedeperanteo inimigo.Ulisses,noagn
comAndrmaca,agiucomumadeterminaomuitomaior,queoconduziuvitria.39EstetemajestpresentenolamentoinicialdeHcubaapropsitodamortede
Pramo.
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca317
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
sente vergonha de ser cativa, mas do seu dono, um rei de uma terramiservel,desprovidadosbensessenciais.
Depois,proferepalavraspressagasqueevidenciamansiadevinganaqueadevora(Tro.,994996).Entretanto,aprimeiravingana,Hcubajaconseguiu, ao impedirqueUlisses tivesse outra sortenadistribuiodascativas.Coubeaochefeaqueuodespojoquemaisdetestava.40
OCoroantevcomamargorahoraemque,dasnaus,severapenas,aolonge,ofumoremotodaptriadestruda.
10.AnarraodoMensageiro:sacrifciosdeAstanaxedePolxena
OMensageiro aqueu,masno Taltbio.41Asprimeiraspalavrasqueproferedonosomoteparaoquesevaiseguir.Sopalavrasdequemsenterepulsadoqueviuenuncapensarapoderver(Tro.,10561059).
Depois de breves palavras deHcuba, que se reassume como paradigmadadesgraadeTroia,oMensageiro,retomandoumaideiajexpressano lamento inicial, vai apresentar, apenas com as palavras estritamentenecessrias,tudoaquiloquevinhadizer:AstanaxePolxenamorreram,nodeumaformaqualquer,masdeumaformaheroica.Mactatauirgoest,missusemurispuer;/seduterqueletummentegenerosatulit.42(Tro.,10631064).
OsdestinosdePolxenaedeAstanaxqueatagorasedesenrolaramdeformaparalela,masemplanosdistintos,encontramseeterminamnestemomento(CAVIGLIA(1981)94).OMensageiroantecipaoelementocomums duas vtimas: a grandeza que os aproxima no momento da morte.AformacomoumacrianaeumajovemenfrentamcomtantaheroicidadeamortemotivodeadmiraoparaAqueuseTroianos.
Depoisdisto,Andrmaca impe aoMensageiroquenarre todos ospormenores.umaformadereviverodramadasvtimas,daquelesquelhesocaros.PeranteAndrmacaeHcuba,oMensageirorefereamortedosdoisprncipes.Astanaxprecipitousedanica torreque restavadasmu
40Hcubajaludiraaofactonolamentoinicial(Cf.Tro.,62).41OMensageironotroiano,poistrataHcubacomo velha,oquenosuce
deriasesetratassedeumsbdito.42Adonzela foi imolada;acriana,precipitadadasmuralhasmasumeoutrosupor
taramcomnobrezaamorte.
318
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
ralhasdeTroia;43PolxenafoimortapelaespadadePirrosobreotmulodeAquiles.A torreeo tmulo foramopalcodaltimadestruio.Oltimoespetculopresenciadoporvencedoreseporvencidosprovocouemambosa comunhonosgemidos enador.Osgemidosdovencedor chegaramasuplantarosdosvencidos.Nesteshsentimentosdevitria.
AstanaxnodeixouqueUlissesacabasseoseuritualeprecipitouseda torre:o seucorpo ficoudesfeitocomoodeHeitor (observaAndrmaca).44AcoragemdacrianadeixaosAqueusestupefactos.
AmortedePolxena,aseguirdescrita,estemcontrastecomasortedas troianas, destinadas vida em escravido (SCHETTER (1965) 423).Aprincesa,queseencaminhaparaosacrifciocomosesedirigisseparaocasamento,guiadaporumaHelenaentristecida,deixaAqueuseTroianosespantados, querpela sua beleza, querpela coragem quedemonstra.Aocair trespassada, lanasesobreo tmulodeAquiles,paraquea terrasejaaindamaispesadaquelasombraqueamedrontavencedoresevencidoseexigesacrifciosquenemosbrbarosalgumavezrealizaram.Oseusangue imediatamente absorvido pela terra, como se a presena de Aquiles,sfregadevida,oreclamasse.
EstaaltimabatalhaentreTroianoseAqueus.AatitudedoMensageirotraduzasuacomunhonadorcomosvencidos.
11.OlamentofinaldeHcuba
Apenasagoraestodestrudas todasasesperanas latentesquepudessemencobrirsenaspalavrasiniciaisdeHcuba.45NohdescendentesvaronisdeTroiaqueapossamreconstruir.RestaaesperananadesgraaqueHcubaprofetizouparaaviagem.
43AspalavrasdeSnecaquedescrevemUlissesaconduzirAstanaxevocamas
deVirglioquandoEneias levaAscniopelamo: [...]dextraeseparuus Iulus / implicuitsequiturquepatremnonpassibusaequis(Aen.,2,723724).Mas,enquantoemSnecasediztrahens,emVirglioocorresequitur.Adurezadapalavratrahenscontrariadapelaltotesnecgradusegni,quesublinhaassimaliberamors.
44Sicquoqueestsimilispatri(Tro.1117).Tambmnestepontoseregistaapreocupaosenequianadeinsistirnadescriodefactoscruentos.
45NotesequetambmHcubaqueabreapeacomumlamento(Cf.ponto1).
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca319
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
, possivelmente, esta esperana que anima as palavras com que arainhainiciaestelamentofinal:Ite,ite,Danai!Petiteiamtutidomos./Optatauelismariadiffusissecet/securaclassis.Concidituirgoacpuer./Bellumperactumest.46(Tro.,11651168).
Na ironia que repassa estas palavras, transferese para omar, prximodestinodosAqueus,avinganaqueAstanaxnopoderrealizar.
Mas, depois deste ltimo esforo,Hcuba volta ao sentimento quenelapredomina:odesejodamorte,cruelparatodosequeatodossurpreendecomasuaantecipao,queabateuumajovemeumacriana,masqueparecetemlaeevitla:mesolamtimesuitasque(Tro.,11731174).
Apeaterminaematmosferadeamargoreincerteza.Serqueomardarcorpos imprecaes finaisdeHcuba,amulheremqueseconcentram todas asdesgraas, aopontodeno saberquemhde chorar, se afilha,seoneto,seomarido,seaprpriaptria?
Sobressaem,assim,no final,oanseiodamorte libertadora,mortequetardaequeaspalavrasdeHcubainvocaramparavencidosevencedores.
BibliografiaARGENIO,R.(1969)LavitaelamorteneidrammidiSeneca:RSC17(1969)
339348.BALULA,J.P.R.(1994),MoraMortis:OsCaminhosdoSofrimentoedaLiberdadenas Troades de Sneca. (Dissertao de Mestrado no publicada).Coimbra,FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeCoimbra.
BISHOP,J.D.(1972)SenecasTroades:dissolutionofawayoflife:RhM115(1972)329337.
BOELLA,U.(1979)OsservazionisulleTroianediSeneca:RSC27(1979)6679.BONELLI,G.(1978)IlcarattereretoricodelletragediediSeneca:Latomus37
(1978)395418.CAMPOS, J. A. S. (1987) A linguagem dos gestos no teatro de Sneca:Euphrosyne15(1987)109134.
CAMPOS,J.A.S.(1991)LcioAneuSneca,CartasaLuclio.Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian.
46Partam,partam,Dnaos!Demandem agora seguros a casa.A armada em segurana
sulqueosmaressuspiradoscomasvelasbemabertas.Morreuadonzelaeacriana.Aguerraestterminada.
320
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
CATTIN,A.,(1956)LmehumaineetlaviefuturedanslestexteslyriquesdestragdiesdeSnque:Latomus15(1956)359365;544550.
CAVIGLIA,F.(1981),L.AnneoSeneca,LeTroiane.Roma,Ateneo.DUPONT, F. (1975), Le personnage et sonmythe dans les tragdies de
Snque:ActesduIXeCongrsde lAssociationG.Bud.Paris,LesBellesLettres,447458.
DUPONT,F. (1985),Lacteurroiou le thtredans laRomeantique,Paris,LesBellesLettres.
FANTHAM, E. (1982), Senecas Troades.New Jersey, Princeton UniversityPress.
FAVEZ,CH.(1947)LepessimismedeSnque:REL25(1947)158163.FAVEZ,CH.(1938)LesopinionsdeSnquesurlafemme:REL16(1938)
335345.FERGUSON, J. (1972),Seneca theman:D.R.DUDLEY (ed.),Neronians andFlavians.London,RoutledgeK.Paul,123.
FUTRE,M.P. (1992), AExaltaodosVencidosnasTroianasde Sneca:MiscelneaemhonradoProf.A.CostaRamalho.Coimbra,INIC,103110.
GIANCOTTI,F.(1953),SaggiosulletragediediSeneca.RomaNapoliCittdiCastello,DanteAlighieri.
GIARDINA,G.C. (1964) Perun inquadramentodi Seneca nella cultura enellasocietdelsuotempo:RCCM6(1964)171180.
GIARDINA,G.(1989),TragediediLucioAnneoSeneca.Torino,UTET.GRIMAL,P.(1978),SnqueoulaconsciencedelEmpire.Paris,LesBellesLettres.GRIMAL,P.(1981),Snque.Paris,P.U.F.GRIMAL,P.(1966),Snque:savie,sonuvre.Paris,P.U.F.HERINGTON,C.J.(1966)Senecantragedy:Arion5(1966)422471.HERRMANN,L.(1924),LethtredeSnque.Paris,LesBellesLettres.HERRMANN,L.(1985),Snque,Tragdies.I.Paris,LesBellesLettres.LANA, I. (1976), Introduzione a Seneca: Seneca. Letture critiche.Milano,
Mursia,2538.LPEZ,A.(2008),Mujerestrgicasanteunacrisisdepoder:LasTroyanasde
Sneca: J.V.BAULS,F.deMARTINO eC.MORENILLA (eds.),Teatroysociedad en la antigedad clsica. Las relaciones de poder en poca de crisis.Bari,LevateEditori,219238.
LPEZ,A. (2010),En lavictoriaoen laderrota, siempreperdedoras.Lasmujeres y la guerra en las tragedias de Sneca: F. de MARTINO eC.MORENILLA (eds), Teatro y sociedad en la antigedad clsica. La redefi
ContributosparaaleituradasTroianasdeSneca321
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
nicindelrledelamujerporelescenariodalaguerra.Bari,LevanteEditori,149165.
MANS,M. J. (1984) Themacabre in Senecas tragedies:AClass 27 (1984)101119.
MAECOSIGNORI, A. M. (1960) Il concetto di virtus tragica nel teatro diSeneca:Aevum34(1960)217233.
MATIAS, M. M. (2009), Paisagens naturais e paisagens da alma no dramasenequianoTroades eThyestes.Coimbra,CentrodeEstudosClssicoseHumansticos.
OWEN, W. H. (1968) Commonplace and dramatic symbol in Senecastragedies:TAPhA99(1968)291313.
OWEN,W.H.(1970)TheexcerptaThuaneaandtheformofSenecasTroades67164:Hermes98(1970)361368.
OWEN,W.H. (1970b), Time and event in Senecas Troades:WS 4 (=83)(1970)118137.
PARATORE,E.(1957)OriginalitdelteatrodiSeneca:Dioniso20(1957)5374.PARATORE,E.(1965)Seneca(nelXIXcentenariodellamorte):StudRom13
(1965)405423.POCIA PREZ,A. (1976) Finalidad polticodidctica de las tragedias de
Sneca:Emerita44(1976)279301.SCHETTER,W.(1965)SullastrutturadelleTroianediSeneca:RFIC93(1965)
396429.SILVA, A. F. I. (2008), O mito de Hrcules recriado: da loucura trgica deEurpidesserenidadeestoicadeSneca(DissertaodeMestrado).Lisboa,FaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa.
SOLER, A. (1966) Algunas observaciones sobre el coro segundo de LasTroyanasdeSneca:ECls10(1966)135147.
TRAINA,A.(1976),IntroduzioneaSeneca:Letturecritiche.Milano,Mursia,524.
TSIRPANLIS,C.(1970)HelenainSenecasTroades:22(1970)127144.UCCATESCU, G. (1967) Seneca, autore drammatico attuale: Dioniso 41
(1967)103131.ZWIERLEIN, O. (1986), L. Annaei Senecae, Tragoediae. Oxford, Oxford
UniversityPress.
322
JooPauloRodriguesBalula
gora.EstudosClssicosemDebate17(2015)
*********
Resumo:EstetextoapresentaumapropostadeleituradasTroianasdeSneca.Destacasea mora como o mecanismo fundamental da pea. A vida um impedimento dalibertao.Amoramaris e amoramortis unem vencedores e vencidos no sofrimento.Aosvencidosconcedidaalibertaodetodososreceioseesperanas.Aosvencedoresacrescentadaadvidaacercadosucessodaviagem.Apartidadosbarcosatransferncia da mora mortis dos vencidos para os vencedores. Omitese a apreciao dequestesrelativassfontes,particularmenteoparalelocomastragdiasdeEurpides.
Palavraschave:Troianas;mora;liberdade;Sneca;literaturalatina.
Resumen:EstetextopresentaunapropuestadelecturadelasTroyanasdeSneca.Sedarelievealamoracomomecanismofundamentaldelapieza.Lavidaesunobstculoparala liberacin.Lamoramarisy lamoramortisunenavencedoresyvencidosenelsufrimiento.A losvencidos se les concede la liberacinde todos losmiedosyesperanzas.Alosvencedoresseaadeladudasobreelxitodelviaje.Lapartidadelosbarcoseslatransferenciadelamoramortisdelosvencidosalosvencedores.Seomitelaapreciacindecuestionessobrelasfuentes,enparticularelparaleloconlastragediasdeEurpides.
Palabrasclave:Troyanas;mora;libertad;Sneca;literaturaLatina.
Rsum:CetexteproposeunelecturedesTroyennesdeSnque.Lamoraestenvisagecomme lemcanisme fondamentalde lapice.La vie estun empchement la libration.Lamoramarisetlamoramortisunissentvainqueursetvaincusdanslasouffrance.Auxvaincus, ilestdonn la librationde toutes lespeursetespoirs.Auxvainqueurs,ilestajoutledouteencequiconcernelesuccsduvoyage.Ledpartdesbateauxestletransfert de lamoramortis des vaincus aux vainqueurs. Les questions concernant lessourcesserontomises,etplusprcismentleparallleaveclestragdiesdEuripide.
Motscls:Troyennes;mora;libert;Snque.;littraturelatine.