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PREFÁCIO

Das centenas de tragédias que foram representadas no século V a.C.1,conservamossomenteumastrinta,emsuamaiorpartefundamentaisparaanossacivilização. É tamanha a riqueza dessas obras que cada crítico pode encontrarnelasoqueprocura:umavisãopolíticaousociológicadacidadeateniense,umamanifestação literária de ritos de iniciação, um canto lírico de luto, umacombinação métrica e musical de grande rigor, uma visão disfarçada daatualidade, um ensinamento religioso ou cívico, um espetáculo de divertimentoetc.Jáexisteumaquantidadeimpressionantedevolumes,àsvezesnotáveis,queabordamessesaspectosdatragédiagrega.Opresentelivronãopretendeserumestudo literário, uma interpretação dos tragediógrafos gregos2; seu objetivo,levandoemcontasuasdimensõesreduzidas,ésimplesmenteserumguiacômodopara os não-especialistas ou para aqueles, numerosos, que desejam estudar ouconhecerocontextodessaspeçasantigas,dasquais2.500anosnosseparammasquepermanecemespantosamentevivas.Asrelaçõesentreessaspeçaseosmitosgregossãosublinhadasafimdemostrarcomoostrêsprincipaisautorestrágicostrataramdemaneirabastantediferenteofundomíticocomumqueservedebaseasuas tragédias. Assim, estas serão abordadas por ciclos míticos, seguindo odesenrolarcronológicodaslendasenão,comoéhabitual,adatadecomposiçãodaspeças.3

1.Salvoindicaçãocontrária,todososdadoscronológicossubentenderãoantesdeCristo(a.C.).(N.A.)2.Parareferênciasmaisaprofundadas,oleitorpoderáconsultarabibliografianofinaldovolume.(N.A.)3. O relato dos mitos gregos pode ser encontrado no livro de P. Grimal,Mitologia grega, coleçãoEncyclopaedia,L&PM,2009.Quantoàsprópriasrepresentações,àpráticadoteatrogrego,àsuaarquitetura,àsuamise-en-scène,àsuaimportânciaenquantoelementodavidapolíticaereligiosa,permitimo-nossugeriraoleitornossoAristophaneetl’anciennecomédie,Paris,“Quesais-je?”,nº3438,1999.(N.A.)

INTRODUÇÃO

Em 480, durante a segunda guerra médica4, aconteceu a batalha naval deSalamina.A frota ateniense infligiu uma derrota decisiva aos invasores persas,apesar da sua inferioridade numérica.Uma tradição liga a essa grande façanhaguerreiraostrêsprincipaispoetastrágicosgregos:Ésquilo,com45anosdeidade,participoudocombate;ojovemSófoclesdirigiuocorodosefebosquecelebrouavitória; Eurípides, dizem, nasceu nessa ilha no mesmo dia da batalha. Essatradição–certamenteumpoucobelademaisparaserverdadeiranoquesereferea Eurípides – realça, porém, dois fatos importantes: ela mostra que todo esseteatrogregofoicolocadosobosignodaguerra(primeirocontraospersas,depoisdos gregos entre si na Guerra do Peloponeso) e estabelece bem a relaçãocronológica entre os três autores trágicos, considerados desde a Antiguidadecomoostrêsmaioreseosúnicosdequemtemospeçascompletas.

Defato,comoexplicarque,dentrecentenasdetragédiascompostasnoséculoV por dezenas de poetas, somente cerca de trinta tenham chegado até nós eapenasdessestrêsautores?Trata-secertamentedoresultadodeumaseleçãofeitapelo estabelecimento de compilações de peças escolhidas inicialmente poreruditos alexandrinos, segundo critérios estéticos ou escolares: peças damaturidadedospoetasque tinhamentre si ligações temáticasouquepermitiamcomparaçõesentreostrêsgrandestragediógrafos.OnúmerodaspeçasescolhidasdeÉsquiloeSófocleseraseteparacadaum(umnúmerosimbólico)edezparaEurípides, mais lido e mais imitado nessa época (tanto na tragédia quanto nacomédia novas). Todas as peças contidas nessas diversas compilações sãoacompanhadasdeescólios(notasàmargemdostextos),oquemostraclaramenteuma intenção pedagógica. No caso de Eurípides, além das dez peças dacompilação (Alceste,Medeia,Hipólito, Andrômaca,Hécuba, As Troianas, AsFenícias,Orestes,AsBacantes,Resos),noschegouporacasoumfragmentodeuma edição “completa”, na qual as tragédias eram classificadas por ordemalfabética.Estevolume(desprovidodeescólios)compreendeos títulosquevãodeépsilon(E)acapa(K):Helena,Electra,OsHeraclidas,Héraclesfurioso,AsSuplicantes,IfigêniaemÁulis,IfigêniaemTáurida,Íon,OCiclope.Natradiçãomedieval,asduascoleçõesestãomisturadas.

Por volta de metade do século VI, um poeta ateniense, Téspis, teriaacrescentado a fala ao canto do ditirambo (espécie de balé, de poema cíclicocantado e dançado por um coro em honra de um herói ou de um deus),encarregandoumatorderecitarum“prólogo”euma“narração”.Assim,Téspiségeralmenteconsideradocomoo inventorda tragédia(opróprionometragoidía,

literalmente o “canto do bode”, deu ensejo a numerosas interpretações). Osconcursosdramáticos(tragédiasecomédias)sedesenrolavamporocasiãodeduasfestasreligiosasconsagradasaDioniso,deusdovinhoedoteatro:asLeneanas,no fimde janeiro e começode fevereiro, e asGrandesDionísias (ouDionísiasurbanas), celebradas no fim demarço e começo de abril.O primeiro concursotrágico foi realizado em 534. Temos raros fragmentos dos predecessores deÉsquilo,masdevesercitadoFrinico,cujoscantosharmoniososforampormuitotempopopulares emAtenas equeobteve suaprimeiravitória entre511e508.Dele conhecemos uma dezena de títulos. Frinico é tido como o primeiro aintroduzir personagens femininos e a compor tragédias sobre assuntos daatualidade:AtomadadeMileto (492) eAsFenícias (476).A tomadadeMiletolembravaarevoltadestacidadegregadaJôniacontraospersasem494,portantodoisanosantes,earepressãoqueseseguiu.Apeçacomoveutantoopúblicoquefoi interditada.Quatro anos após avitóriagrega emSalamina, em480,FrinicoobteveoprimeiroprêmiocomAsFenícias,emqueocorodemulheresdeSídon[atualLíbano],cidadealiadadospersas,lamentava-sesobreaderrotadeXerxes.AsFenícias anunciam, assim,OsPersas de Ésquilo, representado quatro anosmaistarde.

Essastrêstentativasdepôremcenaassuntoshistóricosparecemtersidoumaexperiência abandonada, pois não conhecemos nenhum outro exemplo detragédiahistóricanoséculoV.

Nas Leneanas, menos prestigiosas, participavam apenas dois dramaturgos,com duas peças cada um; já nas Grandes Dionísias cada um dos três autorestrágicos apresentava uma tetralogia, composta de uma trilogia trágica (trêstragédias)maisumdramasatírico5.Atrilogiapodiailustrarumúnicomito(comoAOresteiadeÉsquilo),enestecasosefalavadetrilogialigada,ouserformadadeelementosindependentes,oqueocorrianamaioriadasvezes.Odramasatíriconão parece ter sido uma obrigação, pois temos o exemplo de Eurípides queapresentou seuAlceste comoquartapeça–e foioqueaconteceu tambémcomoutrasdesuastragédiasquetinhamumfinalfelizecomportavamcenascômicas.

Uma tragédia grega é composta em versos, a variedade deles sendodeterminadaporumarranjodecombinaçõespossíveisdesílabascurtaselongas.Nãoháatos,masumaalternânciadepartesfaladaspelosatoresoupelocorifeu6,e de partes líricas cantadas pelo coro.As partes faladas, chamadasepisódios,consistememdiálogos escritos geralmente em trímetros iâmbicos7; seunúmeropodevariardedoisacinco.Oscantosdocorosãochamadosstasima(stasimon,cantosemmovimento).Havianumerososcantosedançasconfiadosaocoro,aosatores ou a solistas. Um tocador deaulos entrava com o coro e fazia o

acompanhamento musical das peças. Oaulos é um instrumento de soprosemelhante aooboéouà clarinetadeduplo tubo;outros instrumentosde corda(lira ou cítara) ou de percussão podiam eventualmente ser utilizados,especialmente pequenos tambores ou crótalos, instrumento parecido com ascastanholas. As danças do teatro trágico eram principalmente aemelia, maisgestualelenta,queacompanhavaosstasima,eohiporquema,bemmaisritmadoedinâmico.

Aestruturahabitualdatragédiaconsisteemumprólogo,queexpõeaaçãooumesmo o desfecho, seguido dopárodo (entrada do coro), dosepisódios,separadosporstasima,edofinalouêxodo8,quetradicionalmenteteminícioapósoúltimostasimon.Todosesseselementospodemterumaduraçãomuitovariável.O esquema tradicional não dá conta da variedade das partes cantadas, poisacontecemuito frequentementedeumator seunir aocoro (ouvice-versa)paracompartilhar no canto uma emoção comum. Esse canto dialogado chamava-sekommos (doverbokoptô,bater,poisnaorigemeracantadobatendocomamãono peito em sinal de luto). Há aindamonodias (árias) cantadas por umpersonagem ouduos líricos entre atores.Por fim, encontramos cenas típicas namaioria das peças: cenas de mensageiro, em que alguém vem contaracontecimentos próximos ou distantes no tempo ou no espaço; situações dereconhecimento,verdadeirasoufalsas;cenasdeassassinatosperpetradosforadopalco mas dos quais se ouvem os gritos no exterior. Geralmente os poetasprocuram tratardemaneiraoriginal essas cenas típicas, sobretudo jogandocomdiferençasmusicais de ritmos a que o público era bastante sensível, o que, àsvezes,sechamapalintonosharmonia,aharmoniadoscontrários,umadistorçãoentre uma forma elevada e o conteúdo trivial de um canto. Encontramo-laparticularmente nas últimas peças de Eurípides, por exemplo na “canção davassoura”deÍon(versos112-183):ojovemcomeçaporumapreceàsdivindades,antesdeenxotarasavesqueestãopousadasnotelhadodotemplo.

Adivisãoentreepisódiosestasimaémuitasvezesdifícildeestabelecer,nãosendoclaranemparaosatosdenossas tragédiasclássicas,nemmesmoparaascenas, pois ela não depende das entradas e saídas dos personagens.Mesmo asraras mudanças de lugar (emAs Eumênides de Ésquilo e talvez noAjax deSófocles) intervêm nomeio de um episódio.Às vezes a tragédia começa pelopárodo, às vezes oêxodo se encadeia diretamente a umepisódio; encontramosmesmo um prólogo cantado por um ator e seguido de umpárodo falado.Podemosmuitasvezesnosperguntarsetalkommossubstituiumstasimon,sefazpartedesteoudoepisódio,seoêxodoincluitalcantodocoroetc.Porisso,nãodevemosnos surpreenderdevervariaronúmerodosepisódiosdeumamesma

peçadeumaediçãoaoutra,sendoconvenientetomarasindicaçõeseseparaçõesdoseditoresecríticos (acomeçarporaquelasqueveremosmaisadiante)comosimplesproposições.

4.RelativoàMédia,regiãodaÁsiaincorporadaaoimpériopersa.(N.T.)5.Odramasatíricotratavadeformadivertidaostemasmíticos,semprecomumcorodesátirosconduzidoporSileno,umfilhodePã(oudeHermes)quehaviaeducadoDioniso.(N.A.)6.Osmembrosdocoro(coreutas)eramamadores.Seuchefechamava-secorifeu.(N.A.)7.Versosdetrêspés,comumaunidadebreveseguidadeumalonga.(N.T.)8.Nacomédia,aocontrário,oêxodoéocantodesaídadocoro,ocantofinaldançadoqueencerraapeça,acompanhandogeralmenteocasamentoqueconcluinumerosascomédias.(N.A.)

CAPÍTULO I

VIDA E OBRA DOS POETAS TRÁGICOS GREGOS

Osbiógrafosantigosdosautoresgregostiramgeralmentesuasinformaçõesdeescólios duvidosos ou glosam o próprio texto, às vezes de maneira muitofantasiosa. Inúmeras fábulas ligam-se, assim, à vida desses autores, segundo atendênciauniversaldeassociarfatosmarcantesouextraordináriosapersonagensilustres. Foi o que aconteceu no caso preciso dos poetas dramáticos que nosinteressam, sem esquecer a distorção proveniente de caricaturas e paródias quedelesfizeramosautorescômicos,especialmenteAristófanesemrelaçãoaÉsquiloeEurípides.

I.Ésquilo(525-456)

Ésquilo,filhodeEufórion,nasceunoúltimoanoda63ªOlimpíada,istoé,em525, trintaanosantesdePériclesedeSófocles,45anosantesdeEurípides,nopovoadoáticodeElêusis, aoestedeAtenas, a cidadedos famosos“Mistérios”celebradosemhonradeDeméteredesuafilhaPerséfone.Elepertencia,dizem,aumafamílianobre,“nobreza”quelhefoitalvezatribuídaporcausadagrandezadoseuestiloedo seu teatro.Deacordocomumadessas lendasqueosgregosestimavam,Dioniso lhe teriaaparecidoemsonhoquandoeracriançae lhe teriarevelado sua vocação poética. Ele parece ter feito sua estreia nos concursostrágicosaos25anoseviveuasprincipaisetapasdamutaçãoquelevouAtenasàdemocracia. Era adolescente quando, nos últimos anos do século VI, osatenienses expulsaram Hípias após o assassinato de seu irmão Hiparco9, cujogoverno fizera os atenienses detestarem a tirania, antes do aparecimento daprimeira constituição democrática de Clístenes. Quando os persas invadiram aGrécia por ocasião das duas guerras médicas, ele combateu valorosamente:primeiroemMaratona(490),ondeseuirmãoCinegiromorreuaocapturarumdosbarcos de Dario, depois na batalha naval de Salamina (480), onde seu outroirmão, Amínias, conquistou o prêmio do valor. Tendo já 45 anos, Ésquilocombateu,enquantoAtenas,evacuada,eraocupadaeincendiadapelosexércitosdeXerxes.Elecontouessagloriosabatalhaoitoanosmaistarde,em472,emOsPersas.

De472a458,acarreiradeÉsquiloprossegueemAtenaseeleobtémumaimensa fama. Só alcançou o primeiro prêmio em 484,mas a seguir acumulouvitórias.SuareputaçãochegouatéaSicília,ondeHíeron,otiranodeSiracusa,o

convidouparacomporumatragédiaemhonradacidadedeEtna,queeleacabavade refundar. Nessa corte brilhante, Ésquilo fez representarAs Etneanas efrequentou os poetas líricos Píndaro, Simônides e Epicarmo. Volta aAtenas,onde Sófocles obtém seu primeiro sucesso em 468, e tira sua desforra no anoseguintecomatrilogiadeÉdipo(daqualsónosrestaOsSetecontraTebas ).SuaúltimavitóriaéobtidacomAOresteia,em458.RetornaentãoàSicíliaparalásefixar definitivamente10, em Gela, na costa sul, onde morreu em 456.11 Tevedireito a funerais grandiosos, e seu túmulo virou um lugar de peregrinação.Durantemuitotempo,peregrinosvindosdetodososcantosdaGrécialeramnessetúmulo esta orgulhosa inscrição que ele mesmo redigiu, dizem, passando emsilêncio suaatividadedramática: “Aqui jazÉsquilo, filhodeEufórion.Nascidoateniense,morreunasplaníciesfecundasdeGela.AaldeiafamosadeMaratonaeopersadelongacabeleiradirãoseelefoibravo:elesoviram!”

Os biógrafos antigos lhe atribuem entre 73 e 90 peças (tragédias e dramassatíricos),sendoqueoitentatítulossãoconhecidos,oquerepresentaentre18e22tetralogias.Comoeleobteve13vitóriasentreosanosde484a458,issosignifica(levando em conta o fato de não haver tetralogias nas festas Leneanas) quetriunfoupelomenosumavezacadaduas.Essesucessonãodiminuiuapóssuamorte, pois um decreto especial autorizou a retomada de suas peças nosconcursos. Dois filhos de Ésquilo foram também tragediógrafos: Evaion (ouBíon)eEufórion,queconquistouquatrovitóriascompeçasdopaieobteveelemesmo um primeiro prêmio, em 431, enfrentando Sófocles e Eurípides. Seusobrinho Fílocles, por sua vez, foi o vencedor do concurso no qual SófoclesapresentouÉdiporei.

Alémdenumerososfragmentos,chegaramaténóssetetragédiasdeÉsquilo.OsPersas (472), tragédiadeatualidade,foirepresentadacomduas tragédiasdeassunto mítico,Fineu eGlauco de Potnies.Os Sete contra Tebas (467) era aúltimapeçadeuma trilogia tebanaque incluíaLaio eÉdipo, seguidadodramasatíricoAEsfinge.AsSuplicantes,queabriaumatrilogiadedicadaàsDanaides,édatadaprovavelmentede463.AOresteia (468) é aúnica trilogia completaquepossuímos, composta porAgamênon, As Coéforas eAs Eumênides (mais umdramasatíricoperdido,Proteu).Prometeuacorrentado,enfim,faziapartedeumatrilogiaqueterminavacertamentecomalibertaçãodoTitã,masnãoconhecemossuadata, e desde aAntiguidade algunsduvidammesmoque tenha sido escritaporÉsquilo.

II.Sófocles(497-405)

Sófoclesnasceuem497/496emColono,aunsvintequilômetrosdeAtenas,

num domínio de seu pai, Sofilos, um rico fabricante de armas. Recebeu umaeducaçãocuidadosa,esuararabelezaeseustalentosdedançarinolhevaleram,em 480, dirigir o coro dos efebos que celebrou a vitória de Salamina. Obtevetambémumgrandesucessoemsuaestreianoteatro,nospapéisdeNausicaedoaedolegendárioTamíristocandocítara.

Sua carreira foi sempre marcada pelo sucesso: diz a tradição que ele fezrepresentarem469/468suasprimeiraspeças,entreasquaisumTriptólemo,equesaiu vencedor diante de Ésquilo que também concorria naquele ano. Sófoclesescreveuentre115e130peças,obteve23ou24vitóriasenuncafoiclassificadoem terceiro lugar – o que era considerado comoum fracasso.Em409, aos 87anos, ainda se classificou em primeiro, comFiloctetes.Assim, competiu comÉsquilo durante doze anos, e no resto de sua carreira foi o rival de Eurípides,apenasdozeanosmaisjovem,masquemorreualgunsmesesantesdele.SófoclescompôstambémotratadoSobreocoro,segundoPlutarco,bemcomoumaodeaHeródoto. Segundo Aristóteles (mas é uma afirmação a ser tomada comprudência), ele teria introduzido importantes mudanças nas representaçõesteatrais,aumentandodedoisatrêsonúmerodosatores,dedozeaquinzeodoscoreutas,edandomaisdestaqueaocenário.

RestamapenassetetragédiascompletasdeSófocles:Ajax,certamenteamaisantiga de suas peças conservadas,Antígona (cerca de 442),As Traquinianas,Édipo rei (cerca de 427),Electra (cerca de 427),Filoctetes (409) eÉdipo emColono (representaçãopóstuma em401).De suas outras peças restam somentefragmentos.

Paralelamenteaessacarreirateatralexitosa,eleocupouváriasvezesfunçõesimportantesnacidade.Em443/442 foihelenotamias12, em440, estrategista13,participandocomPériclesdaexpediçãoaSamos;em428,nocomeçodaGuerradoPeloponeso,foinovamenteestrategistae,em413/412,proboulos14.Sófoclestambémcumpriufunçõesreligiosas:erasacerdotedoheróiHaloneteveumpapeldeterminantenaintroduçãoemAtenas,em420,docultodeAsclépio15vindodeEpidauro [cidade daArgólida, naGrécia].De suamulher,Nicóstrata, teve umfilholegítimo,Iofon,quesetornouumpoetatrágicobastanterenomado;deumaconcubinadeSícion[cidadedoPeloponeso],Teóris,teveumoutrofilho,Aríston,paideSófocles,oJovem,seunetopreferidoetambémpoetatrágico.Nofinaldesualongavida,sofreuumaaçãonajustiçamovidaporseufilhoIofon,queexigiaa colocação em tutela dos seus bens (talvez sob pretexto de demência senil).Sófocles,dizem,contentou-seemrecitardiantedo tribunal trechosdapeçaqueestavacompondo,ÉdipoemColono,efoiabsolvidosobaplausos.

Quandomorreu,em405,poucoantesdaderrota finaldeAtenas,ogeneral

espartanoLisandro,quefaziaentãoocercodacidade,decretouumatréguaparaquefossemprestadashonrasfúnebresaopoeta,decisãoqueeledisselhetersidoditadaemsonho.Apóssuamorte,Sófoclestevedireitoahonrariasexcepcionais:construíram-lheumaestátuaeumheroôn,espéciedemonumentoreservadoaosheróis,noqual foihomenageadocomo títulodeDexion (oHospitaleiro).Numfragmento deMusas, o poeta cômico Frinico16 escreveu: “bem-aventuradoSófocles,quemorreuaocabodeumalongavida,homemdotadoecorreto,quecompôsinúmerasbelastragédias;eleconheceuumbelofimsemnuncatersofridonenhum mal”.Assim, os sofrimentos que Sófocles exprime em sua obra nãoparecemseroreflexodedorespessoais,mastalvezosdesuacidadequerida,poiseleviveutodososacontecimentosdoséculoV:ahegemoniadeAtenas,osanosde ouro do século de Péricles, a ascensão do imperialismo ateniense, e toda aGuerra doPeloponeso, de 431 a 404, que acabaria coma derrota deAtenas eumacriseterrívelqueabalouosvaloresmorais,cívicosereligiosostradicionais.

III.Eurípides(484-406)

AmaioriadasinformaçõesqueosbiógrafosantigosnosdãosobreavidadeEurípides sãogracejosdospoetascômicos–especialmentedeAristófanes,quefezdeleumdeseusalvosfavoritos–equeelestomaramaopédaletra.Assim,atradiçãodizqueEurípidesnasceuemSalamina,em480,nomesmodiadafamosabatalha, num meio muito modesto, filho de uma vendedora ambulante. Naverdade,eleterianascidoquatroanosmaistarde,numafamíliabemestabelecidaquelhedeuumaexcelenteeducação.Eurípidesfoiumdosprimeirosateniensesapossuirumabiblioteca.

Dizemqueinicialmentequisseratleta,depoistentouapintura,antesdeseguirasliçõesdosfilósofos;frequentouAnaxágoras,ProtágoraseSócrates,adquirindoumgostopelaretóricaquetranspareceráfrequentementeemsuasobras.Porfim,sua vocação decidiu-se: em 455, apresentou no teatro deAtenas sua primeiratrilogia, que incluíaAsPelíades; classificou-se em terceiro.E raramenteobtevesucesso emvida, pois só se classificou emprimeiro treze anosdepois; e foramsomentetrêsvitóriasnumperíodode36anos,quandoteriaescrito92peças.Dostrês trágicos,porém,éaquelecujaobra foimelhorconservada: temos19peçascompletas (entre as quais o drama satíricoO Ciclope e uma tragédia cujaautenticidade foi posta em dúvida desde a Antiguidade:Resos) e numerososfragmentos.Alémdisso,suaobraconheceuumagrandedifusãoapóssuamorte.

DaexistênciadeEurípidesnãosabemospraticamentenada,anãoserquesemanteve afastado da vida pública. Ganhou a reputação de misantropo e demisógino(atribuem-lhedoiscasamentosinfelizes).Conta-seque,fustigadopelos

poetas cômicos, refugiava-se para compor em Salamina, numa gruta que davapara o mar. Em 408, no final da Guerra do Peloponeso, deixouAtenas e seretirounaMacedônia,emPela,nacortedoreiArquelau,ondemorreuem406,atacado,dizem,porumamatilhadecães.Emhomenagemaopoetadesaparecido,Sófocles,seucoroeseusatores,apresentaram-seemtrajedelutonoproagon17do concurso. Um de seus filhos, Eurípides, o Jovem, fez representar no anoseguinteemAtenasaspeçasqueelecompuseranaMacedônia,IfigêniaemÁulis,AlcméonemCorinto(perdida)eAsBacantes.

Conhecemos a data de oito de suas tragédias conservadas:Alceste (438),Medeia (431),Hipólito (428),AsTroianas (415),Helena (412),Orestes (408),Ifigênia em Áulis eAs Bacantes (representadas em 405).Os Heraclidas, AsSuplicantes,Andrômaca eHécuba devem ter sido representadas antes de 421;Héracles furioso, Íon,Electra, Ifigênia emTáurida eAsFenícias, entre 418 e409.Alémdoseuteatro,eleescreveuem416umepinício(cantodevitória)emhonra do jovem Alcibíades, vencedor nas corridas de quadrigas dos JogosOlímpicos.

NãoémuitosurpreendentequeaartedeEurípidestenhadesconcertadoseuscontemporâneos (comomostra bemAristófanes emAsrãs): elemostravamuitaoriginalidade em relação aos concorrentes, tanto pela música quanto pelasmodificaçõesfeitasnosmitosqueutilizava.Emsuaspeças,Eurípidesapresentasituações complexas, com muitos personagens, peripécias, lances teatrais eespetaculares, recorrendo com frequência aodeus ex machina18 para resolversuas intrigas. Encontramos muitas tiradas de caráter filosófico e retórico, emalgumas tragédias há inclusive passagens romanescas, triviais ou cômicas. Osatores cantam frequentemente nos diálogos, em detrimento dos cantos do coroque às vezes têm uma relação bastante fraca com os episódios, apresentandolamentaçõesumtantoconvencionais.

IV.Ostragediógrafos“menores”

EssaevoluçãodatragédiaqueencontramosemEurípidesseconfirmarácomumde seus discípulos,Agáton, do qual nada foi conservado,mas que aparececomo personagem em duas obras célebres,O Banquete de Platão eAsTesmoforiantesdeAristófanes.Agátonnasceuem445econquistousuaprimeiravitória em 416; para festejar esse acontecimento é que ele teria oferecido ofamosobanquete.EmAsTesmoforiantes,em411,Aristófanescoloca-oemcenae faz uma longa paródia do seu estilo, o que prova sua importância e suaoriginalidade (poisAristófanesnuncaparodiavaosmedíocres).Restam-nosseis

títulosdesuastragédias:Aérope,Alcméon,OsMisianos,Télefo,Tiestes eAnteu,que Aristóteles critica (Poética, 1456) assinalando que se trata da primeiratragédia em que os personagens e o tema eram invenção do poeta. Agátonsubstituiu tambémosstasima do coropelosembolima (interlúdiosmusicaisnãorelacionados ao tema da tragédia) que inovavam igualmente por seu conteúdomusical. Agáton, portanto, teve uma grande importância para a evolução datragédia. Em 408/407 ele vai também a Pela, na corte de Arquelau, ondecertamentemorreu,poisdaípordiantenãotemosmaisnotíciasdele.

Alémdosfilhos,sobrinhosoudescendentesdeÉsquilo,SófocleseEurípidescitadosmaisacima,podemosassinalaralgunsoutrospoetastrágicosateniensesdoséculoVquedeixaramumnome.

Íon de Quios viveu entre 480 e 420. Conhecemos onze títulos dele. SuaprimeiratragédiafoirepresentadaemAtenasporvoltade450,eeleobtevepelomenos uma vitória. Em 428, quando Eurípides venceu o concurso com seuHipólito, ele ficou em terceiro, atrás de Iofon. Íon compôs tambémditirambos,hinoseelegias,bemcomoobrasemprosa.Crítias,umdostrintatiranosequefoidiscípulo de Sócrates, escreveu duas tragédias filosóficas,Pirítoo eSísifo.Conservamos um belo fragmento desta última tragédia, que diz que os deusesforam inventadosporumhomemsábioa fimde trazeraosprimeiroshomensotemor,amoraleadisciplina.NéofrondeSícioncompôsumaMedeia que teriaservidodemodeloàdeEurípides, e foioprimeiroa introduzirpersonagensdepedagogos. Podemos ainda citar Cárcino, do povoado de Torikos, que teriaconquistado o primeiro prêmio de tragédia nas Dionísias de 446, e seus trêsfilhos, Xênacles, Xenótimo e Xenarco, que desenvolveram o aspecto “grandeespetáculo”datragédia.XênaclestriunfoucomumatetralogialivrecompostaporÉdipo,Lícaon,AsBacantes eÁtamasnasDionísiasde415,diantedeEurípidesqueapresentavaAlexandre,Palamedes,AsTroianaseodramasatíricoSísifo.

Cronologia

Cerca de 534: Primeiro concurso trágico nas Grandes Dionísias; vitória deTéspis.

Cercade525:NascimentodeÉsquilo.Cercade496:NascimentodeSófocles.484:NascimentodeEurípides.472:OsPersasdeÉsquilo.468:EstreiadeSófocles,conquistandooprimeiroprêmiocomTriptólemo.467:OsSetecontraTebasdeÉsquilo.

Cercade463:AsSuplicantesdeÉsquilo.458:AOresteiadeÉsquilo(Agamênon,AsCoéforas,AsEumênides).456:MortedeÉsquilo.455:EstreiadeEurípidescomPelíades.Cercade445:AjaxdeSófocles.442:AntígonadeSófocles.441/440:PrimeiravitóriadeEurípides;Sófocleséeleitoestrategista.438:AlcestedeEurípides.Cercade432:RepresentaçãodetragédiasnasLeneanas.431:MedeiadeEurípides.IníciodaGuerradoPeloponeso.429:ÉdiporeideSófocles(?).OsHeraclidasdeEurípides(?).428:HipólitodeEurípides.425:AndrômacadeEurípides(?).424:HécubadeEurípides.423:AsSuplicantesdeEurípides(?).415:AsTroianasdeEurípides.414:HéraclesfuriosoeIfigêniaemTáurida(?)deEurípides.413:Electra(?)eOCiclope(?)deEurípides.412:HelenaeAndrômedadeEurípides.409:FiloctetesdeSófocles.AsFeníciasdeEurípides(?).408:OrestesdeEurípides.406:MortesdeEurípidesedeSófocles.405:RepresentaçãopóstumadeIfigêniaemÁulisedeAsBacantesdeEurípides.401:RepresentaçãopóstumadeÉdipoemColonodeSófocles.

9.FilhosdotiranoPisístrato,quehaviaestabelecidooprimeiroconcursotrágicoem534.(N.A.)10.Muitasexplicações foramdadasparaesseexíliovoluntário:ele teriaseafastadodeAtenasporqueeraacusadodeimpiedade,outeriaabandonadosuaingratapátriapordespeitodetersidovencidoporSófocles.(N.A.)11. Uma lenda, provavelmente forjada por um autor cômico posterior, conta que uma águia, querendoquebraracarapaçadeumatartaruga,soltou-asobresuacabeça,tomandoseucrâniocalvoporumrochedo!(N.A.)12.Oshelenotamias,emnúmerodedez,administravamasfinançasdeAtenas.(N.A.)13. A tradição diz que os atenienses quiseram recompensá-lo desse modo por suaAntígona do ano

precedente.(N.A.)14.ApósodesastredaexpediçãoàSicília,umacomissãoespecialdedezmembros,osprobouloi,foicriadaemAtenas.Eleseramencarregadosdetomarasmedidasnecessáriasparaarecuperaçãodacidade.(N.A.)15.Odeusdamedicina,chamadoEsculápiopelosromanos.(N.T.)16.Nãoconfundircomopoetatrágicodoséculoanterior.(N.A.)17.Cerimôniadeapresentaçãodosdramaturgoseatores(semmáscara)paraquefossemconhecidosantesdacompetição.(N.E.)18.Espéciedeguindastequeserviaparaelevarosatoresnoar.(N.A.)

CAPÍTULO II

O CICLO TEBANO

Eurípides:AsBacantes; Sófocles:Édiporei; Ésquilo:OsSetecontraTebas ;Eurípides:AsFenícias;Sófocles:ÉdipoemColono;Eurípides:AsSuplicantes.

O ciclo tebano é muito complexo, pois se apresenta sob a forma de umasucessãodeepisódiosqueabrangemumlonguíssimoperíodoereúnemosmitosda fundaçãodeTebas,deDioniso,deÉdipoeda luta fratricidade seus filhos,incluindotodososmitosrelacionadosàexpediçãodosSetecontraTebaseadosEpígonos19. Poderíamos acrescentar ainda personagens associados, comoHéracles (ou Hércules), Anfiarau, Antíope, Crisipo e Tideu, que têm seusprópriosmitoseestendemalocalizaçãogeográficaforadoslimitesdeTebas,semfalardoselementosreligiosos,rituaisefolclóricos.20

AsBacantesdeEurípides

AsBacantes,umdosmaioresdramasgregos,mostraa introduçãodifícildocultodeDionisonaGrécia,nacidadenataldodeus,Tebas.Escritaem408-407,duranteatemporadadeEurípidesnacortedeArquelau,reidaMacedônia,essatrilogia de peças independentes, comAlcméon (perdida) eIfigênia em Áulis(conservada),foirepresentadapostumamenteemAtenasporseufilhoEurípides,oJovem,em405,eobteveoprimeiroprêmio.

A ação se passa em Tebas, diante do palácio real, perto do túmulo deSêmele21.PRÓLOGO(versos1-64)–Dioniso,devoltadaÁsiacomumCorodeMênades[ouBacantes], disfarçado de sacerdote lídio de seu próprio culto, explica que querpunirPenteu (filhodeSêmele, a filhado antigo reiCadmo)queproíbeque seinstitua seu rito emTebas; ele já castigou as irmãs de Sêmele – Ino,Agave eAutônoe – que se recusavam a crer em sua divindade, fazendo-as delirar;transformadas em bacantes, elas arrastaram asmulheres de Tebas até omonteCitéron.PÁRODO(v.65-167)–OCorodasbacantescantaaglóriadeDioniso,seufervoreseujúbilo.EPISÓDIO1 (v. 168-369)–OvelhoCadmoeo adivinhoTirésias, vestidos comobacantes, estão dispostos a juntar-se às Mênades e a dançar, apesar da idadeavançada,emhonradodeus.AparecePenteu,queficousabendodasdesordense

seenfurececontraaloucuradosdoisvelhos.TirésiaseCadmomostramopoderdeDionisoeinsistemnoseuprojeto.Penteusai,furioso,paramandarprendero“charlatão”estrangeiro.Stasimon (v. 370-433) – O Coro invoca a Piedade e condena Penteu, depoiscantanovamenteaglóriadeDioniso.EPISÓDIO2(v.434-518)–Umguardalevaosacerdotelídioacorrentado;Penteuoinvectivacomviolência,enquantoDionisozombadelecalmamente.Stasimon (v. 519-575) –OCoro canta sua indignaçãodiante da impiedadedePenteu.EPISÓDIO3(v.576-861)–Dointeriordaskené22,DionisochamaoCoroeavisaque o palácio vai desmoronar.Oprisioneiro aparece, livre de suas correntes, econtaàsbacantesporquaismilagresenganouPenteu,queretornaestupefato.Umboiadeirovemcontarqueasbacantes,conduzidaspelasfilhasdeCadmo,fazemprodígios, dilaceramos animais comasmãos nuas, raptam crianças e põemoshomensemfuga.Penteudecideaveriguarelemesmooqueestáacontecendo,eDionisoconvenceoreiadisfarçar-sedebacanteparaespiá-las.Stasimon (v. 862-911) –As bacantes louvam a sabedoria dos que honram osdeuses.EPISÓDIO4(v.912-976)–Penteureaparece,grotescamentedisfarçadodebacante.Dioniso o ajuda a completar o ridículo disfarce, lhe dá os últimos conselhos egarantequeelevoltará“carregadonosbraçosdesuamãe”.Stasimon(v.977-1021)–OCoropedevingançaeamortedoímpio.ÊXODO

23(v.1022-1392)–Umservidorentra,horrorizado,econtacomoPenteu,quehaviaseempoleiradonoaltodeumpinheiro,viuaárvoreserdesenraizadaporsuamãe,suastiaseasbacantesemdelírio,queaseguirodespedaçaramcomasprópriasmãos.Umbrevecantode triunfodasbacantesprecedeumkommoscomAgave,que retorna,primeiro triunfante, brandindonapontadeum tirso acabeçadofilho,queelatomapeladeumleão.CadmoentracomservidoresquecarregamumapadiolaondejazemosrestosdePenteu.Aospoucosele trazsuafilha de volta à razão, fazendo-a ver a horrível realidade. No meio daslamentações, Dioniso reaparece e proclama a legitimidade da sua vingança,condenandoCadmoeAgaveaoexílio.

ÉdiporeideSófocles

AdataexatadarepresentaçãodeÉdiporei(ouÉdipotirano)édesconhecida,mas é posterior à famosa peste de Atenas (430-429). Sófocles só obteve osegundoprêmio, atrás deFílocles, um sobrinhodeÉsquilo.Édipo rei temuma

importância singular na história do teatro ocidental e merece uma atençãoparticular,poiséessaobraqueAristótelestomacomomodelodogêneroedefinecomo a tragédia ideal. Assim ela foi especialmente estudada e imitada pelosautores e pelos críticos da Antiguidade e do século XVII clássico francês.Sófocles se inspirou nos mitos tebanos emÉdipo rei, Édipo em Colono,Antígona,Alcméon,AnfiaraueOsEpígonos.

AaçãosepassaemTebas,diantedopaláciodos labdácidas (donomedeLábdaco,oantepassadodalinhagem).PRÓLOGO(v.1-150)–Tebasédevastadapelapeste.OsacerdotedeZeus,criançase velhos suplicantes estão ajoelhados diante do palácio. Eles suplicam ao reiÉdipo, que outrora os libertou da Esfinge, para pôr fim ao flagelo. Édipo ostranquiliza:eleenviouCreonte,seucunhado,paraconsultarooráculodeApoloemDelfos.Creonteacabaderetornar,trazendoumarespostafavorável.ApestecessarásuadevastaçãotãologofordescobertoebanidooassassinodoreiLaio.Édipo assume solenemente esse compromisso e convoca de imediato aassembleiadostebanos.PÁRODO(v.151-215)–OCorodosanciãosfazsuaentradaesuplicaaosdeusesdoOlimpoqueexpulsemAres,odeusdaguerraedapeste.EPISÓDIO1 (v.216-462)–DispostoavingarLaiocomose fosse seuprópriopai(todos acreditam, a começar por ele mesmo, que ele é filho de Pólibo, rei deCorinto, e de sua esposa Mérope, quando em realidade é filho de Laio e deJocasta),Édipoamaldiçoaoautordesconhecidodocrimeetodoaquelequetentarocultá-lo.

Entra o adivinho Tirésias, cego, que uma criança conduz pela mão.Inicialmente ele se recusa a falar, mas, exasperado pelos ataques de Édipo,anunciaaoreiqueoassassinoqueelebuscaéelemesmo.Édipo, indignado,oexpulsa.Stasimon (v. 463-512) – O Coro exprime sua perturbação cruel; apesar dasacusaçõesdoadivinho,elenãoadmitequeÉdiposejaoculpado.EPISÓDIO 2 (v. 513-862) –Após uma violenta altercação com Creonte, que eleacusadeter,porambição,inspiradoTirésias,ÉdipoconversacomJocasta(cenada“duplaconfidência”).Jocasta,querendotranquilizarseuesposo,conta-lhequeosadivinhosafirmavamqueLaiopereceriapelamãodoprópriofilho.Ora,estefora abandonado logo após o nascimento numamontanha deserta, e Laio foramorto muitos anos mais tarde na encruzilhada de três caminhos, por váriosbandidos,aacreditarnoúnicosobreviventedomassacre.Édipoficaperturbadoeconta,porsuavez,queoutroradeixouCorintoeacortedoseupai,oreiPólibo,parafrustrarumoráculosegundooqualelematariaopaiedesposariaamãe.Pois

bem,noencontrodetrêscaminhos,elehaviasedesentendidocomumvelhocujadescrição corresponde à de Laio, matando-o num momento de cólera. Paradissiparsuaansiedade,Édipoordenaque tragamàsuapresençaoservidorquetestemunhouamortedeLaio.Stasimon (v. 863-910) – O Coro, inquieto, canta algumas estrofes em quecensuradiscretamenteadesmedidadeÉdipoeaimpiedadedeJocasta.EPISÓDIO3(v.911-1085)–ChegaummensageirodeCorinto,anunciandoamortede Pólibo: a eventualidade do parricídio, portanto, parece afastada, mas Édipocontinuaatemerumincestopossível.Paratranquilizá-lo,omensageirolherevelaqueelenãoéfilhodePóliboedeMérope:elemesmoguardararebanhosoutrorae,tendorecebidodasmãosdeumpastortebanoodesventuradorecém-nascido,decidiulevá-loaossoberanosdeCorinto,queoadotaram.ApesardassúplicasdeJocasta,quecompreendeu,Édipomandaconvocaropastortebano.Horrorizada,elaentranopalácio.Stasimon(v.1086-1109)–Numbrevecantoalegre,oCoroimaginaqueÉdipopoderiaserfilhodeumdeusedeumaninfa.EPISÓDIO4 (v.1110-1185)–Omomentodaconfrontaçãoé inevitável: eisqueoservidor que acompanhava Laio, no dia de suamorte, se revela ser também opastordequefalavaomensageirodeCorinto.OinfortunadoÉdipocompreendeahorrívelverdadeefogeparaopalácio.Stasimon (v.1186-1222)–Comovido,oCorodeploraadesgraçadaquelequefoioutroraseusalvadoreafragilidadedafelicidadehumana.ÊXODO(v.1223-1530)–UmservidorvemanunciarqueJocastaseenforcouequeÉdipo furou os próprios olhos ao vê-la morta. Édipo sai, com os olhosensanguentados,e suplicaque lhepermitam iracabar suavida longedeTebas,queeledesonrou.Kommosseguidodeumareflexãodoheróisobreseudestino.Édipo abraça as filhas, trazidas por Creonte; este, o novo senhor da cidade,declaraqueaguardaráarespostadooráculodeDelfosparadecidirasortedoex-rei;Édipo,arrasado,élevadodevoltaaopalácio.

OsSetecontraTebasdeÉsquilo

Terceira peçadeuma tetralogia tebana, representada em467, queobteveoprimeiro prêmio; as duas primeiras tragédias,Laio eÉdipo, se perderam, assimcomoodramasatíricoAEsfinge.

AaçãosepassaemTebas,naÁgora24.PRÓLOGO (v. 1-77) – Tebas, a cidade das sete portas, defendida por Etéocles, ésitiadaporumexércitoargivo [deArgos,cidadedoPeloponeso]queapoiaseu

irmãoPolinice,aquemelerecusouentregarotrono.OsdoissãofilhosdeÉdipoedeJocasta.EtéoclesexplicaasituaçãoaopovodeTebas:umadivinhoindicouqueosinimigoslançarãoumassaltoduranteanoite.Apareceummensageiroqueanuncia que sete chefes inimigos fizeram um sorteio da porta que cada umatacará.PÁRODO (v. 78-180) – Entrada doCoro demulheres tebanas: aterrorizadas, elassuplicamlongamenteaosdeusesqueprotejamacidade.EPISÓDIO 1 (v. 181-286) – Retorno de Etéocles, irritado com essa atitude dasmulheres.Eleasintimaasecalaremeapararemdesemearaconfusão,dizendoquesaberátomarasmedidasnecessárias.Stasimon (v. 287-368) –OCoro continua a cantar seu terror e a suplicar aosdeusesquepoupemosdramasdatomadadeumacidade.EPISÓDIO2(v.369-719)–UmmensageirovemdescreveraEtéoclescadaumdossete chefes argivos: Tideu para a porta Proítida,Capaneu para a porta Electra,EtéocloparaaportaNeís,HipomedonteparaaportadePalasOnca,Partenopeupara a porta doNorte,Anfiarau para a portaHomolóis e, finalmente, Polinicepara a última porta. Ele descreve seus escudos, seus brasões e sua ousadia,enquanto Etéocles vai nomeando o guerreiro tebano que oporá a cada um:Melanipo,Polifonte,Megareu,Hipérbio,Áctor,Lástenes;elemesmoenfrentaráseu irmão. O Coro pontua cada decisão e termina o episódio num diálogosemilírico com o rei (o Coro canta, Etéocles fala) para tentar desviá-lo dessecombatefratricida.Stasimon (v. 720-791) –Após a partida de Etéocles, o Coro lamenta o tristedestinodoslabdácidaseamaldiçãodecorrentedeculpasantigas.EPISÓDIO 3 (v. 792-830) –Omensageiro retorna:Tebas venceu,masEtéocles ePolinicemataram-sereciprocamente.Stasimom(v.831-874)–CantodedordoCoro,enquantotrazemoscorposdosdoisirmãos.ÊXODO(875-1004)–AntígonaeIsmene,suasirmãs,chegam:longocantodelutolíricodoCoro(cantosamebeus).EPÍLOGO

25(v.1005-1078)–UmarautoanunciaqueCreonte,agorarei,ordenaquehonrasfúnebressejamconcedidasaEtéocles,masqueocadáverdePolinicesejajogadoaoscães.Mesmoassim,AntígonadeclaraquesepultaráPolinice.OCorosai, dividido entre os que aprovamAntígona e os que seguirão a ordem deCreonte.

AsFeníciasdeEurípides

Essa peça, representada entre 410 e 407, retoma o tema deOs Sete contra

Tebas, apresentando um quadro completo da lenda tebana, mas com muitasvariantes:napeçadeEurípides,JocastanãoseenforcoueÉdipocontinuareclusonopalácio(comona tradiçãohomérica).Osdois irmãosseenfrentamdiantedeJocasta; a ambição deles se opõe ao sacrifício voluntário do jovem filho deCreonte,Meneceu.

AaçãosesituaemTebas,diantedopalácioreal.PRÓLOGO(v.1-201)–AvelharainhaJocastacontaahistóriadoslabdácidasatéodia em que seus dois filhos estão em guerra um contra o outro: Polinice cercaTebas com seus aliados, tentando reconquistar o trono. Jocasta conserva aesperança de que eles possam se reconciliar durante uma última conversa. OpedagogodescreveàAntígona,do terraçodopalácio(ondeovelhoÉdipoestárecluso), o exército argivo e os sete chefes acampados na Planície;Antígonacantanessediálogosemilírico.PÁRODO(v.202-260)–OCoro,formadoporjovensfeníciasacaminhodeDelfos,onde devem se colocar a serviço deApolo, evoca essa guerra que as obriga ainterrompersuaviagem.EPISÓDIO 1 (v. 261-637) – Entrada de Polinice, receoso, que se introduziufurtivamentenacidadeembuscadeumatrégua;eleencontraJocasta,quecantasuaalegrianumamonodia.Etéocles tambémchega,masrecusacomarrogânciacederopoder,apesardosesforçosdamãeparaconvencê-lo.Osdois irmãossedeixam,lançando-semutuamenteumúltimodesafio.Stasimon(v.638-689)–OCorocantaasligaçõesancestraisentreTiroeTebas,einvocaseuantepassadoÉpafoparaqueprotejaacidade.EPISÓDIO 2 (v. 690-783) – Etéocles e Creonte fazem um conselho de guerra edecidem postar sete batalhões com seus chefes nas sete portas de Tebas, paradefendê-las contra os sete chefes argivos e suas tropas.26 Etéocles indica suasúltimasvontadesaCreonte,casoasortelhesejacontrária.Stasimon (v.784-833)–OCoroevocaahistóriadeTebas, seusmomentosdeglóriaededesolação.EPISÓDIO3 (v.834-1018)–Tirésiasentraguiadoporsuafilha,emcompanhiadeMeneceu,ojovemfilhodeCreonte.Eleanunciaque,comopreçodasalvaçãodeTebas,osdeusesexigemosacrifíciodeMeneceu.Creonterecusacomenergiaeordenaao filhoque fuja.Este fingeaceitar,mas, apósapartidadopai,declaraqueaceitasacrificar-se.Stasimon (v. 1019-1066) – O Coro lembra a façanha de Édipo ao vencer aEsfinge, os crimes com que ele manchou a cidade, depois canta a glória deMeneceu.EPISÓDIO4(v.1067-1283)–UmmensageirovemcontaraJocastaqueMeneceuse

matou e que o ataque dos argivos fracassou. Ele termina por confessar que osdois irmãos decidiram se enfrentar num duelo demorte para pôr fim à guerra.JocastaseprecipitajuntocomAntígonaparatentarsepará-los.Stasimon(v.1284-1306)–OCorocantasuaangústia.ÊXODO (v. 1307-1766) – Entrada de Creonte, arrasado pela morte do filho. Omensageiroretorna,paracontaroduelo:osdoisirmãossematarammutuamente,e Jocasta se suicidou sobre seus corpos.Trazemos três cadáveres, eAntígonaacompanha o cortejo fúnebre com um canto de luto. O velho Édipo chegagemendo e inicia um duo lírico comAntígona. Creonte, sucessor de Etéocles,exila Édipo e proíbe que Polinice seja sepultado.Antígona declara que não oobedeceráe,comseupai,tomaocaminhodeAtenas.

ÉdipoemColonodeSófocles

Representaçãopóstumaem401–quatroanosapósamortedopoeta–porseuneto,Sófocles,oJovem;primeiroprêmio.

AaçãosepassaemColono,povoadosituadoanoroestedeAtenas,juntoaobosquesagradodasEumênides.PRÓLOGO(v.1-116)–OvelhoÉdipo,cegoevestidocomomendigo,entra,guiadoporsua filhaAntígona.Comoelesse refugiaramnumbosque,umhabitantedolugarosinformadequeviolaramosantuáriodasEumênides.ÉdipoexigeveroreiTeseu,eohomemseafastaparaavisarseusconcidadãos.

EmvezdeperturbarÉdipo,essanotíciaoalegra:Apololhepredisseraqueeleveria o fim de suas misérias quando as Eumênides lhe oferecessem asilo. Eledirigeaelasumaprecesolene,antesdeirseescondernobosquecomAntígona.PÁRODO (v. 117-253) com breves diálogos, seguido de umkommos – O Coro,composto de anciãos deColono, acorre, indignado com a profanação.Os doisexilados se mostram, e o infortúnio deles sensibiliza o Coro, que se contentaprimeiro em fazê-los sair do bosque; no entanto, assim que Édipo declara seunome, eles se assustam e querem expulsá-lo, apesar de seus protestos deinocênciaedassúplicasdeAntígona.EPISÓDIO 1 (v. 254-667) – Comovido com as súplicas de Antígona, o Coroconsente em esperar a vinda de Teseu. Nesse meio-tempo, chega Ismene, asegundafilhadeÉdipo.Apósumacenaemocionantedereconhecimento,eladánotícias de Tebas: Etéocles expulsou Polinice, que reuniu um exército parainvadir o território.Mas um oráculo anunciou que a vitória caberá a quem seapoderardapessoaoudosrestosmortaisdeÉdipo.Creontetentaráconvencerovelho rei banido a se aliar a Etéocles. Édipo, alegre com essa predição queconfirmaoantigooráculo,respondequenuncamaisretornaráaTebas,amaldiçoa

osfilhosingratosqueoexpulsaramepedeaIsmeneparafazerumaoferendaàsEumênidessegundoosritosprescritospelocorifeu.NumkommoscomoCoro,Édipocontaseuscrimespassadosedeclaraquedevemlamentá-loenãocensurá-lo. Teseu chega finalmente e demonstra uma grande generosidade para comÉdipo.EstelhepedeasilonaÁtica,paraquealipossamorrer:umdia,seusossosdarãoavitóriaaosatenienses.Teseucompromete-seaprotegê-loeseretira.Stasimon (v. 668-719) –OCoro canta, com um brilhante lirismo, a glória daÁtica.EPISÓDIO2(v.720-1043)–ChegadadeCreonte,escoltadoporsoldados.Eletenta,com palavras hipócritas, induzir Édipo a acompanhá-lo, mas este recusa comfirmeza. Creonte insulta os habitantes de Colono e manda prender Ismene.Kommos e diálogo entre os dois homens e o Coro. Os soldados arrastamAntígonaà força,eCreonte tentaelemesmoseapoderardeÉdipo;masTeseuretornanestemomento,intimaCreonteasejustificar,toma-ocomorefémeenviacavaleiros em busca dos sequestradores. Édipo clama a infâmia dos seusfamiliares e sua própria inocência. Teseu parte levando consigo Creonte eprometendoaÉdipodevolver-lheasfilhas.Stasimon (v.1044-1095)–OCoroimaginaaperseguição,a lutaeavitóriadeTeseu,depoispedeaosdeusesseuapoio.EPISÓDIO3(v.1096-1210)–Teseu,vencedor,trazdevoltaasduasfilhasaÉdipo,que as abraça com efusão e agradecimentos. Teseu pede então a Édipo querecebaumsuplicantequesolicitaumaaudiência.Édipo,compreendendoquesetratadePolinice,primeirorecusa,depoisconsenteanteainsistênciadeTeseuedeAntígona.Stasimon (v. 1211-1248) –CantodoCoro sobre as dores davelhice e o tristedestinodeÉdipo.EPISÓDIO4(v.1249-1555)–Poliniceaparece.Diantedasirmãsedopaisilencioso,ele tenta justificar-se e obter sua indulgência. Édipo permanece insensível aosremorsosdePolinicecomoofizeraanteasameaçasdeCreonte,eoexpulsacomterríveismaldições.Antígonatentaumaúltimavezconvenceroirmãoarenunciaràguerra,masesterecusaepartedesesperado.CantosdoCoroentrecortadosdediálogos;ressoamtrovoadaseÉdiporeconhecenelasosinaldeseufimpróximo.Teseureaparece,eÉdipolhepedeparaacompanhá-loaolugarondeirámorrer,que deverá permanecer secreto.Atenas se beneficiará assim de uma proteçãoeternacontraostebanos.Apósumaúltimasaudaçãoàluz,eleparte,seguidoporTeseu,AntígonaeIsmene.Stasimon(v.1556-1578)–OCorosuplicaàsdivindadesdamortequeconcedamumfimpacíficoaÉdipo.

ÊXODO (v. 1579-1779) – Um mensageiro narra os últimos instantes de Édipo,marcadosdecalmaesolenidadeatéoseusúbitodesaparecimento,misteriosoparatodos,comexceçãodeTeseu.AntígonaeIsmeneaparecem:cheiasdedoredeemoção mística, elas cantam com o Coro um longokommos de luto. TeseuretornaparadeclararqueÉdipoencontrouapazedeixaasduas irmãspartiremparaTebas.

AntígonadeSófocles

Representadaem442,essatragédiaobteveprovavelmenteoprimeiroprêmio,poisatradiçãodizqueseusucessovaleuaSófoclessernomeadoestrategistaparaa expedição dirigida contra Samos. Escrita muito tempo antes deÉdipo rei eÉdipo em Colono, da qual é a continuação lógica, essa peça é visivelmenteinspiradapelaúltimapartedeOsSetecontraTebasdeÉsquilo.

AaçãosepassaemTebas,diantedopalácioreal.PRÓLOGO(v.1-99)–AntígonaexpõeasituaçãoàsuairmãIsmene:oexércitodeArgos levantou o cerco. Tebas está salva,mas Etéocles e Polinicemataram-semutuamente. Creonte, agora rei, promulgou um édito desumano: quer que ocadáver de Polinice permaneça sem sepultura e seja deixado aos animais derapina,edecretouapenacapitalcontraosque infringiremesseédito.Antígonaresolveu prestar os últimos deveres ao cadáver do irmão e pressiona a irmã aajudá-la.Ismene,temerosa,recusa.Antígonadecideagirsozinha.PÁRODO(v.100-161)–OCoro,compostodeanciãostebanos,saúdaavitóriadeTebas,cantaosepisódiosdabatalhaequercelebrarosdeuses.EPISÓDIO 1 (v. 162-331) – Creonte sai do palácio e proclama novamente suasordens.Eleseráinflexívelcomtodoaquelequedesrespeitarsuavontade.Umdosguardasencarregadosdevigiarocadáverchega, tremendo,econtaao rei,comumpavorcômico,queumdesconhecidoousoujogarumpoucodeterrasobreocadáver de Polinice: assim os ritos foram cumpridos. Creonte se enfurece eameaça,prometepuniçõesseoculpadonãoseentregar.Stasimon(v.332-383)–OCorolouvaogêniodohomemeseusprogressos,maslamentaquesuaaudáciapossatambémconduzi-loàperdição.EPISÓDIO2(v.384-581)–Oguardaretornamuitosatisfeito.EleconduzAntígonaque, tendovoltado para sepultar o irmão, desta vez foi pega em flagrante.Umviolento confronto se estabelece entre o tirano e a heroína.Às recriminações einvectivasdeCreonte, que fala emnomeda razãodeEstado,Antígona replicacomaafirmaçãodasleis“nãoescritas,masimutáveis”:ajustiçadivinaprevalecesobreadoshomens.Creonteacondenaàmorte.Ismenepedeparacompartilharsuasorte,masAntígonaarechaça.Asduasjovenssãolevadasaopalácio.

Stasimon (v. 582-630) – O Coro deplora a triste condição dos homens e asinfelicidadesdoslabdácidas.CantaopoderdeZeusedeAte,adeusaquetentaoshumanosparamelhorfazê-loscairsobogolpedocastigodivino.EPISÓDIO3 (v. 631-780) –EntraHêmon, o filhomais jovemdeCreonte, primo-irmãoenoivodeAntígona.Respeitosamentemascomfirmeza,elesuplicaaopaiquereflitaepoupeavidadeAntígona.Oreinãocedeeinjuriaojovem,queseafasta desesperado, pronunciando palavras lúgubres que fazemoCoro temer opior. Creonte repete que mandará encerrar Antígona viva numa caverna,deixando-aàmercêdosdeuses.Stasimon(v.781-805)–OsanciãostebanoscantamopodereosefeitosdeEros,“oindomávelAmor”.EPISÓDIO 4 (v. 806-943) – Antígona reaparece, escoltada pelos guardas que alevam para a prisão. Longokommos entre o Coro e Antígona: os velhos alamentam ao mesmo tempo em que a censuram – é sua audácia desmedida eatávica que a conduz a essa situação.Antígona faz uma dolorosa despedida àjuventude e à vida. Depois dirige a palavra a Creonte, que veio apressar osguardas,eexplica-sepelaúltimavez:elanãolamentanadaemarchaaosuplíciocom a consciência de que morrerá vítima de um sagrado dever. Ela é levadadefinitivamente.Stasimon (v. 944-987) – O Coro dá exemplos de personagens que foramaprisionados ou sofreramumcruel destino:Dânae,Licurgo e os dois filhos deFineu,cegadosporsuamadrasta.EPISÓDIO5 (v.988-1114)–ChegaoadivinhoTirésias:ospresságiosaconselhamCreontealibertarAntígonaeasepultarPolinice.Oreirespondecomzombariaseinsultos.Tirésiaspredizquelheaconteceráumadesgraçasemelhanteeseretira.Creonteperturba-secomaspredições sinistrasdoadivinhoe, aconselhadopelocorifeu,precipita-separaanularaordemfatal.Stasimon(v.1115-1154)–OCorochamaBaco,odeustebano,emsocorrodacidadeameaçadapornovasdesgraças.ÊXODO (v. 1155-1353) – Um mensageiro anuncia que Creonte, vindo libertarAntígona,encontrou-aenforcadanacaverna,equeHêmonsematoujuntodela,apóstercuspidonorostodopai.ApareceEurídice,mulherdeCreonte:elaescutaosdetalhesdorelatodomensageiroedepoisseretirasemumapalavra.Creonteretornatrazendonosbraçosocorpodofilho.Longokommos, intensificadopelanotícia trazida por um servidor: Eurídice também se suicidou. Esmagado poressasdesgraças,Creontecompreendetardedemaissuacegueira.

AsSuplicantesdeEurípides

Essa tragédia, representada em 423, é uma continuação deOs Sete contraTebas de Ésquilo e deAsFenícias do próprio Eurípides,mas, na verdade, elaretoma o conjunto dos acontecimentos da expedição contra Tebas e anuncia afuturaexpediçãodosEpígonos.Trata-sedeumaespéciedepropagandaàglóriade Atenas e de sua democracia, contendo numerosas passagens retóricas oumesmo didáticas (é Teseu, rei de Atenas, que faz o elogio do regimedemocrático!).

AaçãosepassaemElêusis,diantedotemplodeDeméter.PRÓLOGO (v. 1-41) – Etra, a velha mãe de Teseu, está de pé diante do altar,rezando a Deméter; à sua volta estão as mães dos sete heróis argivos quemorreramnocercoaTebas,osseusórfãos,Adrasto,oreideArgos,únicochefesobreviventedaexpediçãocontraTebas,eacompanhantes.Elaexpõeasituação:após amorte dos Sete, suasmães foram a Elêusis, não longe deAtenas, parapedir a Teseu que interceda junto aos tebanos a fim de que lhes devolvam oscorpos dos filhos para cumprir os ritos fúnebres. Compadecida, Etra mandachamarofilho.PÁRODO

27 (v. 42-86) –Asmães suplicam a Etra que se compadeça delas. Suasacompanhantesreforçamessaslamentações.EPISÓDIO1(v.87-364)–ChegaTeseu:eleinterrogaAdrasto,censurasuacondutafunesta e o assalto ímpio contra Tebas, e rejeita seu pedido. O Coro imploranovamente a Etra que peça ao filho para ajudar as Suplicantes. Teseucondescende,masdesejaantesobteraconcordânciadoseupovo.EleseafastacomEtraeAdrasto.Stasimon(v.365-380)–OCorofazoelogiodeTeseuedeAtenas.EPISÓDIO 2 (v. 381-597) –Teseu retorna: ele está disposto a enviar um arauto aTebasparapediraautorizaçãodesepultaroscorpos.Nestemomento,chegaumarauto com uma mensagem de Creonte: este ataca com insolência o regimedemocrático deAtenas e proíbe a Teseu receberAdrasto sob pena de guerra.Longoagôn(debate)retóricoentreosdoishomenssobreosméritosrespectivosdademocraciaedatirania.Teseudefendeapiedadedevidaaosmortos,recusaoultimatodeCreonteevaiprepararseuexércitoparamarcharcontraTebas.Stasimon(v.598-633)–TemoreseesperançasdoCoro,queficaapreensivocomessanovaguerraepedeaosdeusesqueapóiemAtenas.EPISÓDIO 3 (v. 634-777) – Um mensageiro vem contar aAdrasto e ao Coro abatalha e a vitória de Teseu, que sepultou ele mesmo os corpos dos soldadosargivosnomonteCitéronetrazdevoltaosdossetechefes.Stasimon (v.778-836)–AdrastoeoCorocantamsuaalegriaesuadorqueseintensificamàchegadadocortejofúnebre.

EPISÓDIO4(v.837-954)–TeseuretornaepedeaAdrastoparafazeroelogiodossetechefes,massemrelatar seu fatalcombate.28Apósumbrevecantode lutodasmães,Teseumandaerguerduasfogueiras,umaparaCapaneu,fulminadoporZeus,easegundaparaosoutroschefes.Stasimon(v.955-979)–Cantodelutodasmãessobreoscorposdeseusfilhos.EPISÓDIO5(v.980-1122)–ApareceEvadne,aviúvadeCapaneu,quecantanumamonodiaseuamorpeloesposoeseudesejodesejuntaraelenamorte.Seuvelhopai,Ifis,nãoconseguedissuadi-la:elaselançanaschamasdafogueira,eeleseretiradesesperado.Stasimon (v. 1123-1164) – Lamentações dasmães e dos jovens órfãos 29 quetrazemasurnasfunerárias.ÊXODO (v. 1165-1234) – Cumprida a sua missão, Teseu se despede e dá suasrecomendaçõesaosargivos.ElerecebeosagradecimentosdeAdrasto,quandoadeusaAtenaaparece.ElapedequeAdrastofaçaojuramentodequeArgosseráaeternaaliadadeAtenas,equeos filhosdessesheróisargivos sepreparemparavingarseuspaisquando tiveremidadepara isso,predizendoa futuraexpediçãovitoriosadosEpígonoscontraTebas.Teseujuraquetodoselesobedecerãoasuasordens.

19.NomedadoaosfilhosdossetechefesquepereceramdiantedeTebas.Elessairãovitoriosos,maistarde,numasegundaexpediçãocontraessacidade.(N.T.)20.ConhecemosunstrintatítulosdetragédiasrelacionadasaoslabdácidaseàhistóriadeTebas.(N.A.)21.FilhadeCadmo,reideTebas;seduzidaporZeus,eladeuàluzDioniso.(N.T.)22.Construçãoaofundodopalco,quefuncionavacomocenárioebastidores.(N.T.)23.Ofinaldapeçaestámutiladoeapresentamuitaslacunas.Amaiorpartedasreconstituiçõessebaseianumlongodramareligiosode2.610versos,ChristosPaschon (ouChristusPatiens,oCristosofredor ),escritonoséculoXIounoXIId.C.porumautorbizantino (ConstantinoManassés?),e talvezoriginadodeumacompilaçãodeEurípidesfeitaporGregóriodeNazianzanoséculoIVd.C.(N.A.)24.Praçaprincipaldasantigascidadesgregas.(N.T.)25. Esse epílogo é talvez apócrifo, composto algumas décadas mais tarde por referência àAntígona deSófocleseàsFeníciasdeEurípides.Nessecaso,teriahavidocertamentemodificaçõesapartirdoverso861,eAntígonaeIsmenenãoparticipariamdoscantosdoêxodo.(N.A.)26. “Nomear cada um deles te faria perder muito tempo, quando o inimigo acampa ao pé de nossasmuralhas”,dizEtéocles(v.751-752),alusãoàlongalitaniadosnomesdoschefesnosegundoepisódiodeOs Sete contra Tebas , peça representada sessenta anos antes. Eurípides critica assim implicitamente o“falatório”eapoucaverossimilhançadeseuilustrepredecessor,comoofarátambémparaoreconhecimentodeOrestesemsuaElectra.(N.A.)27.Nãosetratadeumpárodopropriamentedito,poisasmulheresdocorojáseencontramemcena.(N.A.)28. Eurípides critica de novo implicitamente, como emAs Fenícias, o “falatório” de Ésquilo que,provavelmente,fezesserelatoemsuasEleusinianas.(N.A.)

29.Essesjovensformamumcorosecundárioouparachoregema.(N.A.)

CAPÍTULO III

O CICLO DE HÉRACLES

Eurípides:Héracles furioso,Alceste; Sófocles:As Traquinianas; Eurípides:OsHeraclidas.

AsfaçanhasdeHéraclescombinamelementosmuitodiversos,quevãodesdecontos folclóricosatémitosdeorigemreligiosa.Elascompreendemos famososdoze Trabalhos, bem como guerras comandadas pelo herói, episódios que nãosãotratadosnastragédiasconservadas.Aessecorpusprincipalseacrescentamasaventuras que lhe aconteceramantes dosTrabalhos (Héracles furioso), duranteesseperíodo(Alceste)ounomomentodesuamorte(AsTraquinianas),edepoisasguerrasconduzidasporseusdescendentes(OsHeraclidas).Contrariamenteaociclo tebano,noqual intervêmmuitospersonagens importantes, todoociclodeHéracles gira em torno da figura do herói, e as tragédias conservadas retêmapenasalgunsdosseusepisódios.

Héracles é o único herói que aparece aomesmo temponas tragédias e nascomédiasconservadas(AsaveseAsrãsdeAristófanes).SeseupapelemAlcesteémais pitoresco e cômico, cumpre reconhecer que as três tragédias que fazemdeleseuheróitalveznãofigurementreasobras-primasdeseusautores.

Héraclesfurioso(ouHéracles,ouAloucuradeHéracles)deEurípides

Tragédiarepresentadaprovavelmenteem414.Eurípidessituaaaçãonofinaldos doze Trabalhos de Héracles30, mudando a cronologia tradicional doepisódio, que acontece antes de Héracles colocar-se a serviço de Euristeu. OpoetacombinaassimoassassinatodosfilhosqueeletevedeMégara,filhamaisvelhadeCreonte, o rei deTebas, e ahistóriadeLico, umusurpadorvindodaEubeia,quematouCreonteeseapoderoudotronoenquantoHéraclesdesciaaosInfernos.Alémdisso,EurípidesintroduzTeseu,querepresentaasabedoriaáticaopostaàviolênciadória.

AaçãosepassaemTebas,diantedopaláciodeCreonte.PRÓLOGO (v. 1-106) – O velho Anfitrião, ex-rei de Argos e pai putativo deHéracles,expõeasituação:HéraclesdesceuaosInfernosparabuscarCérbero,etodos o creemmorto. Lico, um eubeu, usurpou o poder, assassinouCreonte edecidiumatartodaasuafamília.Anfitrião,suanoraMégaraeostrêsfilhosqueela teve de Héracles, se refugiaram ao pé de um altar.Mégara perdeu toda a

esperançaedeclaraaceitaramorte;ovelhotentaapaziguá-la.PÁRODO (v. 107-137) – O Coro dos anciãos tebanos faz sua entrada: eles sequeixamdesuavelhiceelamentamafamíliadeHéracles.EPISÓDIO 1 (v. 138-347) – Lico vem com arrogância confirmar suas ordens, aomesmo tempo em que zomba damemória deHéracles;Anfitrião responde-lhecomeloquência,masLicoordenaque lhepreparemuma fogueira.Os anciãos,indignados, tomam corajosamente o partido dos condenados, mas Mégaraconvence Anfitrião de que é melhor aceitar a morte. Ela obtém de Lico apermissãodevoltaraopalácioparavestirosornamentosfúnebres.Stasimon(v.348-441)–OCorocantalongamenteasfaçanhasdeHéracles.EPISÓDIO2(v.442-636)–OscondenadosvoltameselamentamquandoHéracles,inesperadamente, aparece: ele voltou dos Infernos de onde trouxe Cérbero eTeseu; ao saber do perigo que corre sua família, ele planeja comAnfitrião oassassinatodeLico.Todosvoltamaentrarnopalácio.Stasimon (v. 637-700) – O Coro canta as alegrias da juventude, as Musas eHéracles.EPISÓDIO3(v.701-734)–Licoreaparece,eAnfitriãofazcomqueelemesmovábuscarMégaranopalácio.Stasimon(v.735-814)–AoouvirosgritosdotiranoqueHéraclesmatou,oCorocantasuaalegriaeaglóriadofilhodeZeus.EPISÓDIO 4 (v. 815-1015) – Duas deusas aparecem acima do palácio: Íris,mensageiradosdeuses,eLissa(aRaiva).ÍrisanunciaaoCoroqueHeradecidiuenlouquecerHéraclesa fimdequeelemassacreospróprios filhos, acreditandomatar os de Euristeu. Lissa declara que obedecerá, mas a contragosto. Numapassagem lírica, oCoro se lamenta aoouvirosgritosdeAnfitrião emmeio aomassacre.Um servidor sai do palácio e narra em detalhe a terrível carnificina,primeirocantando,depoisnum longo relato falado:Héraclesmatou seus filhos,depoisamãedeles,eiaatacarAnfitriãoquandoAtenaoatingiucomumapedraqueomergulhounosono.Kommos(v.1016-1085)–OCorolembraalgunscrimesmonstruosos,quandooeciclema31 faz aparecer Héracles adormecido, cercado dos cadáveres de seusfilhos.Anfitrião, desesperado, vempedir aoCoro para não despertarHéracles.Todoschoramemsilêncio,temendoodespertardofurioso.ÊXODO(v.1086-1428)–Héraclesdesperta:seupaiolevaaospoucosaconstatarahorrívelrealidade.Aoveroscrimesqueinvoluntariamentecometeu,elepensaemse matar. Aparece Teseu que, sabendo da usurpação de Lico, vinha em seuauxílio.Héracles lheexpõelongamentesuasdesgraças,masTeseuoencorajaaviver e o convida a expiar sua culpa em Atenas. Héracles deixa-se por fim

convencereaceitaahospitalidadedoprimo.Afasta-secomele,dominandocomdificuldadesuador.

AlcestedeEurípides

Alcesteeraaúltimapeçadatetralogiaapresentadaem438porEurípides,istoé, ocupavao lugardodrama satírico. Isso certamente explicao tomsatíricodealgumascenaseofinalfelizdapeça.Eurípidesobteveosegundoprêmio.AaçãosepassaquandoHéraclessepreparapararealizarseuoitavoTrabalho,acapturadaséguasdeDiomedes,reidaTrácia,queasalimentavacomcarnehumana.

AaçãoéambientadaemFeras,naTessália,diantedopaláciodeAdmeto.PRÓLOGO (v.1-76)–Apolosaidopaláciodoseuamigo,oreiAdmeto,comumarco namão e expõe o tema em algumas palavras. Ele obteve das Parcas queAdmetovivasealguémconsentiremmorreremseulugar.SomenteAlceste,suaesposa, aceitou sacrificar-se e ela deve morrer naquele dia. Assim, Apolo seafastaparaevitaravisãodeumcadáver,oqueéumamáculaparaosImortais.Cruza então comTânatos (aMorte) que vem buscar sua vítima.Num diálogovivo e sutil, Apolo tentar enternecer Tânatos, mas sem êxito. Vai embora,predizendo-lhequesuavítimalheseráarrebatadaporHéracles.PÁRODO(v.77-135)–OCoro,compostodecidadãosdeFeras,fazsuaentradaeseinterrogasobreasortedeAlceste,poisnenhumsinaldelutoévisível.Umapartedo Coro exprime uma pequena esperança, enquanto a outra crê que o destinofatalsecumprirá.EPISÓDIO1(v.136-212)–Umaservavemanunciar,comlágrimasnosolhos,queAlceste ainda vive, mas se debate contra a morte. Num relato simples ecomovente, a serva conta a despedida deAlceste à sua morada e a seu leitonupcial.Porfimanunciasuavinda,poisAlcestequerverpelaúltimavezosraiosdosol.Stasimon (v. 213-243) – O Coro lamenta brevemente o rei que vai perder aesposabem-amada.EPISÓDIO 2 (v. 244-434) – Alceste aparece moribunda na entrada do palácio,sustentada pelo esposo, cercada dos filhos e dos servidores. Ela canta, numdiálogo semilírico, sua despedida à vida, mas, antes de morrer, faz o esposoprometer nunca dar umamadrasta aos filhos. Ele promete com emoção, e elamorre docemente, enquanto seu filho mais jovem, o pequeno Eumélio, entoalamentos comoventes. Entristecido, Admeto entra no palácio para preparar ocortejofúnebre.Stasimon (v.435-475)–Enquantoesperaos funerais,oCoro louva“amelhordas mulheres”; deseja que ela seja feliz no Hades e prediz que os poetas a

celebrarãoeternamente.EPISÓDIO3(v.476-567)–ApareceHéracles,queestáacaminhodaTráciaparaseapoderardaséguasdeDiomedes.Constatandoatristezaquereinanopalácio,elepropõeaAdmeto,quevemrecebê-lo,pedirhospitalidadenoutrolugar.Masoreiretémseuhóspede,convencendo-odequeosfuneraissãodeumaestrangeira,eordenaquelhesirvamumarefeiçãocopiosanumalojamentoafastado.Stasimon(v.568-605)–OCoroexaltaahospitalidadedeAdmeto,tãoapreciadaporApolo,eesperaqueelaencontresuarecompensa.EPISÓDIO4 (v. 606-961)–Admeto retornapara juntodocortejo fúnebrequandochega seupai,Feras,oantigo reique lhecedeuo trono,comoferendasparaamorta.Admetoorechaçaduramente,reprovando-lheporterrecusadosacrificar-se.Começaumaviolentadiscussãodiantedoataúde,osdoishomensacusando-sede egoísmo, lançando injúrias emaldições umao outro. Feras vai embora, e ocortejoseafasta,seguidopeloCoro.

UmservidorvemcontarqueHéraclesseembriagoudemaneira indecenteequecantaaosberros.Esteapareceeoservidor,censurandosuaatitude,acabaporlheinformaratristeverdade.Héracles,confusoporseuengano,precipita-separaarrancar Alceste de Tânatos. Admeto retorna do funeral e, desesperado, searrepende de ter aceito o sacrifício. Ora cantando, ora falando, ele derramaabundanteslágrimas,enquantoéconsoladopeloCoro.Stasimon(v.962-1005)–OCorocantaumhinosobreaNecessidadeeprometequeAlcesteseráhonradatantoquantoosdeuses.ÊXODO(v.1006-1163)–Héraclesreaparece,seguidodeumamulhervelada.Eleafirma que é umprêmio ganho num concurso atlético e pede aAdmeto que aguardeatéseuretornodaTrácia.Porrespeitoàfalecida,oreicomeçaporrecusar,masporfimaceita.HéraclesretiraentãoovéueAdmetoreconheceaesposa(quesóvoltará a falar trêsdiasmais tarde).Emmeio a festejos,Héraclesparteparanovasfaçanhas.

AsTraquinianasdeSófocles

Datade representaçãodesconhecida.Trata-se deumapeça emduaspartes,com uma heroína, Dejanira, na primeira, que cederá o lugar a Héracles nasegunda,semjamaisencontrá-lo.

AaçãosepassaemTraquine,naTessália,pertodasTermópilas,diantedopaláciodoreiCeix,queacolheuHéraclesapósoassassinatodeÍfito.PRÓLOGO(v.1-93)–Dejanirasequeixadequeseumarido,Héracles,aabandonouhámuitomeses,após tê-laconduzidoemexílioaTraquine.Aconselhodesuaaia,elaenviaHilo,umdeseus filhos,embuscadopaiqueestáguerreandona

EubeiacontraÊurito,reideEcália.PÁRODO (v. 94-140) – Entrada do Coro, composto de jovens mulheres deTraquine,quetentamtranquilizarDejanira.EPISÓDIO1(v.141-496)–Dejanirainsistenasrazõesquetemdeseinquietar,maschegaummensageiroparaanunciarqueHéraclesestávivoeévencedor:eleestáacaminhodevoltaeenviouseuarautoLicas.Asjovensentoamumbrevecantodealegria(peã)interrompidopelachegadadeLicas,acompanhadodeumgrupodeprisioneiras.Licasdáas razõesda longaausênciadeHéracles:porculpadeÊurito,eletevequepassarumanocomoescravodeÔnfaleemexpiaçãodamortede Ífito. Cumprida sua pena, ele voltou para vingar-se de Êurito e tomou suacidade de Ecália; as prisioneiras representam sua parte no butim. Dejanira sealegra, mas se compadece da sorte daquelas infelizes.Aponta uma delas, masLicasfingeignorarquemelaéesaicomascativas.OmensageirorevelaentãoaDejaniraqueaquelajoveméIole,filhadeÊurito,equeaverdadeirarazãodessaguerrafoiapaixãoqueHéraclessentiuporela.Nãotendopodidoobtê-ladeseupai,eledestruiuacidade.LicasretornaparalevararespostadeDejaniraeacabapor confirmar as palavras do mensageiro. Dejanira afirma não ter ciúmes eencarregaLicasdelevarumpresenteaHéraclesjuntamentecomsuamensagem.Stasimon(v.497-530)–OCorocantaocombatequeHéraclestravoucontraorioAquelóo, outro pretendente deDejanira, que se transformou em touro paraesseconfronto.EPISÓDIO2(v.531-632)–DejaniraexplicaaoCoroemqueconsisteopresentequeela encarregou Licas de levar ao esposo: é uma túnica que ela tingiu com osangue do centauro Nesso, que Héracles matou outrora com uma flechaenvenenada.NessohaviaditoaDejaniraque,seconvencesseomaridoausá-la,elenãoa trocariapornenhumaoutramulher.OCoroaaprova,eelaentregaaLicasa túnicadentrodeumcofre,comarecomendaçãodequeHéraclesnãoaexponhaaosolnemàschamasantesdeusá-la.LicasparteparaseencontrarcomHéracles.Stasimon(v.633-662)–OCorocantaaalegreperspectivadoretornodoherói.EPISÓDIO 3 (v. 663-820) – Dejanira reaparece, alarmada: a cobertura de lã quehavia utilizado se volatilizou, e ela teme que a túnica esteja envenenada. Hilochegaeacusaamãedeterassassinadoopai:acarnedelepôs-seaqueimarassimquevestiuatúnica.Dominadoporsofrimentosatrozes,elematouLicas;agoraétrazidodevolta,agonizante,aTraquine.Horrorizada,Dejaniraentranopaláciosemdizerumapalavra.Stasimon(v.821-861)–OCorocomentadolorosamenteessegolpedodestinoedeAfrodite.

EPISÓDIO 4 (v. 862-946) – A aia de Dejanira vem anunciar que a infeliz sesuicidou,primeironumkommoscomoCoro,depoisdandooshorríveisdetalhesnumrelatofalado.Stasimon(v.947-970)–OCorolamentabrevementeotristedestinodocasal.ÊXODO (v. 971-1278) –Homens trazemHéracles adormecido, acompanhado dofilhoedeumvelho.Oheróidespertae,orafalando,oracantando,exprimesuadoreamaldiçoaDejanira.Hilo lherevelaqueelasesuicidou, transtornadapelaculpa involuntária e movida por amor. Héracles, compreendendo a vingançapóstumadeNesso,seapaziguaumpoucoeindicaaHilosuasúltimasvontades:queeleergaumafogueiranomonteEtaparaaliardervivoeque,apóssuamorte,HilosecasecomIole.Hiloobjeta,masporfimconsente.HéraclesélevadoatéoEta.

OsHeraclidasdeEurípides

Tragédia“patriótica”,representadaentre430e428,apósaprimeirainvasãodaÁticapeloexércitoespartano.Nesseperíodo,AtenasbuscaaaliançadeArgoscontraoslacedemônios,quedescendemdosHeraclidas.Issoexplicacertamenteareviravolta final, em que Euristeu, perseguidor ímpio de crianças, torna-se ofuturodefensordeAtenascontraosdescendentesingratosdaquelesqueacidadedadeusaAtenahaviasalvo.

AaçãosepassaemMaratona,diantedoaltardeZeus.PRÓLOGO (v. 1-72) – Iolau, um sobrinho deHéracles, expõe a situação: após amortedoherói,seusfilhosvagaramdeumacidadeaoutraparaescapardoódiodeEuristeu.Esperandoque a cidade deAtenas, onde reinamos dois filhos deTeseu,tomesuadefesa,elessedetiveramcomosuplicantesemMaratona.Iolaucuida dos filhos homens, eAlcmene, a mãe de Héracles, das filhas mulheres,refugiadas no interior do templo.Aparece Copreu, o arauto de Euristeu, quepretendelevarascriançasàforça.ComeçaumcombateentreCopreueIolau,quelevaapioreclamaporauxílio.PÁRODO (v. 73-110) – O Coro, composto por anciãos do vilarejo deMaratona,precipita-se a esse chamado e, num diálogo semilírico, tenta separar osadversários.OsanciãoscondenamaimpiedadedeCopreu.EPISÓDIO1(v.111-352)–OreiDemofonte,filhodeTeseu,chegacomseuirmãoeguardas.EledáapalavraaCopreu,depoisaIolau,epronuncia-seemfavordossuplicantes.Copreupartefurioso,declarandoqueoexércitodeArgosnãotardaráaatacarAtenas.IolauagradeceaDemofonte,quevaiseprepararparareceberoataquedeEuristeu.Stasimon(v.353-380)–OCorocantaasuperioridadedeAtenassobreArgos.

EPISÓDIO 2 (v. 381-607) –Demofonte retorna, preocupado: o exército argivo seapresentou e o deAtenas está preparado,mas os oráculos dizem que deve serimoladaumavirgemderaçanobreparaobteravitória.Oreiserecusaasacrificarumaateniense.AjovemMacária,umadasfilhasdeHéracles,saidotemploeseoferece à morte. Demofonte e Iolau admiram sua abnegação e consentem seusacrifício.Stasimon (v. 608-629) – Breves considerações do Coro sobre os reveses dafortunaeatristesortedamenina.EPISÓDIO 3 (v. 630-747) –Umservidor vemanunciar a chegadadeumexércitocomandadoporHilo,ofilhomaisvelhodeHéraclesedeDejanira.Iolauexplicaa situação a Alcmene e declara que ele também combaterá, apesar da idadeavançada.Stasimon (v. 748-783) –OCoro invoca o apoio de Zeus e principalmente deAtena,deusatutelardacidade.EPISÓDIO 4 (v. 784-891) – Um mensageiro chega para anunciar a vitória aAlcmene:elenarraemdetalheabatalhaedequemaneiraIolau,milagrosamenterejuvenescido,fezEuristeuprisioneiro.Stasimon(v.892-927)–OCorocantaaalegriadeveroperigoafastado,aglóriadeHéracleseopoderdeAtena.ÊXODO (v. 928-1055) – Euristeu, acorrentado, é arrastado aos pés deAlcmene.ApesardaatitudedignaecorajosadeEuristeu,eladespejaseuódiocontraaquelequeperseguiusuaraça.Comoosateniensesserecusamamatá-lo,Alcmenedizqueelamesmaomatará.EuristeurevelaumoráculodeApoloquepredizqueseucorpo, sepultado em Atenas, protegerá os atenienses contra os descendentesdaquelasmesmascrianças,osquais,cheiosdeingratidão,voltarãomaistardeparainvadiraÁtica.Escravosolevamaosuplício.

30.EleconsideraqueseuúltimotrabalhoéacapturadeCérbero,ocãodosInfernos,enãoasmaçãsdeourodasHespérides.(N.A.)31.Plataformaqueserveparamostrarcadáveresoucenasquesupostamentesepassamnointerior.(N.A.)

CAPÍTULO IV

O CICLO MICENIANO

Ésquilo:AsSuplicantes;Eurípides:IfigêniaemÁulis;Ésquilo:Agamênon,AsCoéforas;Sófocles:Electra;Eurípides:Electra,Orestes;Ésquilo:AsEumênides;Eurípides:IfigêniaemTáurida.

AArgólidaéaregiãodoPeloponesoondesedesenvolveuaIdadedoBronzedacivilizaçãoditamiceniana,quecorrespondeàidadedosheróisdeHesíodoeàGuerradeTroia,istoé,cercade1.200a.C.AstrêscidadesprincipaissãoArgos,Micenas e Tirinto; distantes uns vinte quilômetros uma da outra, dominando ogolfo de Náuplia, elas tiveram sucessivamente a hegemonia na região.Muitasvezes a localizaçãoprecisa deste oudaquele episódio é difícil: via de regra, ospoetas empregam o nome de “Argos” tanto para essa cidade quanto para aArgólidainteiraoumesmoMicenas.

Com exceção deAsSuplicantes de Ésquilo, que faz referência a ummitoantigo da Argólida, todas as outras tragédias conservadas desse ciclo dizemrespeitoàfamíliadosátridas32,umadasmaisantigasdaGrécia,queacumuloumaldiçõesdesdeasuaorigem.

AsSuplicantesdeÉsquilo

AsSuplicantesiniciavaumatrilogiadedicadaàsDanaideseeraacompanhadadeOsEgípcios,AsDanaideseodramasatíricoAmimone.Ésquiloconquistouoprimeiroprêmio.

As Suplicantes foi por muito tempo considerada como a mais arcaica e,portanto, a mais antiga das tragédias conservadas, datada dos anos 493-490.Nessa peça, o coro das “cinquenta33 filhas” de Dânaos tem um papelexcepcionalmenteimportante(elepronunciamaisdametadedosversosdapeça),aaçãoémuitoreduzida,osegundoatorépoucoutilizado,osepisódiosdeatoressãocurtoseosstasima,longosemagníficos.Adescoberta,publicadaem1952,de um papiro egípcio no qual um fragmento de didascália34 estabelecia que atrilogia das Danaides fora representada juntamente com obras de Sófocles, foiuma “revelação filológica”. Provouque a obra não podia ser anterior aos anos465-460,adatamaisplausívelsendo463.Assim,foiprecisoabandonar(apesardemuitas reticências) a teoria de uma evolução progressiva do ritual ao dramabaseadanestatragédia,quepareciaumexemplocaracterísticodogêneroemseus

começos. Isso mostra também os perigos das teorias fundadas sobre critériospuramenteestilísticos.

A ação se passa na Argólida, perto da beira do mar, diante de um altarornadodeestátuasdosdeuses.PRÓLOGO-PÁRODO(v.1-175)–Ocorifeuexpõebrevementeasituação:Dânaos,reidaLíbia,embarcoucomsuascinquentafilhasquequeremescapardocasamentocomseusprimos,oscinquentafilhosdeEgito,irmãodeDânaosereidoEgito,osquaistambémtomaramocaminhodomarparapersegui-las.OsfugitivoschegamàArgólida, terra de seu antepassado Io.As Danaides cantam longamente suaangústia e sua determinação e invocam seus ancestrais, Io e Zeus, cujo poderglorificam.EPISÓDIO1(v.176-523)–Dânaosdáconselhosàsfilhassobreaatitudemodestaaadotara fimdesensibilizarasautoridadesdopaís.Chegao reiPelasgoe,numdiálogo semilírico, procede a um longo interrogatório do Coro, que lhe pedeajuda.Pelasgopesaosriscosdeumaguerraderepresália,seconcederoasilo,edeseja antes obter a concordância do seu povo. As Danaides juram que seenforcarão nas estátuas dos deuses se ele recusar. O rei autoriza Dânaos adefendersuacausaemArgosdiantedopovodospelasgos;asjovensficarãosobaproteçãodosdeuses.Stasimon(v.524-599)–OCoroinvocaZeuselhepedeparasalvá-lo,comofezcomIonofinaldesuaerrância.EPISÓDIO 2 (v. 600-624) –Dânaos reaparece, feliz: o povo deArgos aceita porunanimidadeacolherassuplicantesemseusolo.Stasimon(v.625-709)–OCorolouvaospelasgosporteremescolhidodefenderasmulherescontraoshomensepedeaosdeusesbenefíciosaessepovo.EPISÓDIO3 (v.710-775)–OaparecimentodaesquadradeEgito semeiaopavorentreoCoro;Dânaostentatranquilizarasfilhaseparteembuscadesocorro.Stasimon(v.776-824)–OCorocantaseuterroreimploraaZeusparasalvá-lo.ÊXODO(v.825-1073)–Umarautoegípciochegaacompanhadodesoldados:numlongokommos, ele ameaça as Danaides e quer embarcá-las à força. Pelasgochegaa tempode impedi-loemandaemboraoarauto; estedeclaraquehaveráumaguerra terríveleparteprometendoavitóriadosmachos.O rei asseguraàsjovensque elas poderão contar comahospitalidade e a proteçãodospelasgos.Dânaosasconvidaairàcidadeelávivervirtuosamente.Elasconsentemepõem-se a caminhodeArgos, numcanto alternado35 emqueglorificamosdeuses ereafirmam seu voto de virgindade e seu horror ao casamento, com o risco deirritarAfrodite.36

IfigêniaemÁulisdeEurípides

Essa tragédia, que inspirou a Racine o seuIphigénie, faz parte da trilogiaescrita em 408/407 por Eurípides na corte de Arquelau da Macedônia. Foiencenada postumamente emAtenas por seu filhoEurípides, o Jovem, em405,comAs Bacantes eAlcméon (perdida), e obteve o primeiro prêmio. Muitaspassagenschegaramaténósemmauestadoousãosuspeitasdeinterpolações,doséculoIVoudaépocabizantina,especialmenteodesfechomilagroso(v.1578-1629).

AaçãosepassadiantedatendadeAgamênon,noacampamentodosgregosemÁulis,nacostadaBeócia,diantedailhadeEubeiaedacidadedeCálcis.PRÓLOGO (v. 1-163) – É noite. O rei Agamênon, tomado de um grandenervosismo, expõe a um velho servidor a causa de sua agitação: ele evocaprimeiroocasamentodeseuirmãoMenelaucomHelena,oraptodestaporPárisea reuniãoda frotadoschefesgregos,bloqueadaemÁulispor faltadevento.Depois ele revela que, segundo o adivinho Calcas, a deusa Ártemis exige osacrifíciodesuafilhaIfigêniaparapermitiraosbarcosgregosnavegaremdireçãoaTroia.O primeiromovimento deAgamênon foi desistir do empreendimento,mas, pressionado por Menelau, ele cedeu e escreveu à esposa Clitemnestrapedindo-lhe para enviar a jovem filha, sob pretexto de casá-la comAquiles, oherói tessálio, que ignora este projeto.Agora ele se arrepende e envia o fielservidor a Argos com uma mensagem secreta a Clitemnestra que anula suasprimeirasinstruções.PÁRODO(v.164-302)–Despontaaaurora.EntradadoCoro,compostodemoçasde Cálcis. Curiosas e tagarelas, elas cantam longamente sua visita aoacampamentodosgregos,oscélebresheróispresentes,especialmenteAquiles,eo“catálogodosnavios”aqueus.EPISÓDIO 1 (v. 303-542) –Aparece Menelau, que surpreendeu o velho e leu amensagemsecretadeAgamênon.Este seapresenta:violentadiscussãoentreosdois irmãos,Agamênonrecusando-sea imolarafilhaeMenelauacusando-odetraição. Um fato repentino põe fim a essa disputa: um mensageiro anuncia achegadadeIfigêniaedeClitemnestra;Agamênondispõe-seaaceitarseudestino,masMenelau,comovido,mudadeopinião,cessadeexigiramortedasobrinhaese reconcilia com o irmão. Mas Agamênon teme as reações do exército e,principalmente,deUlisses.Stasimon (v. 543-589) – O Coro canta a serenidade que a virtude traz e aperdiçãodosamoresculpados,comoodeHelenaedePáris.EPISÓDIO 2 (v. 590-750) – Agamênon vai ao encontro de Clitemnestra e deIfigênia, que descem de sua carruagem, mas a alegria infantil e as perguntas

ingênuas da filha o dilaceram. Ifigênia entra na tenda. Clitemnestra pede aAgamênon detalhes sobre a genealogia deAquiles, depois sobre a cerimônianupcial.O rei, embaraçado, propõe a ela que volte aArgos,masClitemnestrainsisteemassistiraocasamentodafilha.Stasimon(v.751-800)–OCorotemavisãodatomadadeTroiaedatristesortedatroianasqueserãoreduzidasàescravidão.EPISÓDIO3 (v.801-1035)–Aquiles seapresentana tendadeAgamênonpara sequeixar da inação do exército. Depois ele encontra Clitemnestra que saúda-o,para sua grande surpresa, como seu futuro genro. O equívoco logo se explicaatravésdovelhoservidor,querevelaaambososplanosdeAgamênon.Aquiles,indignadoqueseunometenhasidoutilizado,juraaClitemnestraqueimpediráosacrifício.Stasimon (v. 1036-1097) – O Coro canta as bodas de Tétis e Peleu, pais deAquiles,eopõeessecasamentofelizàfúnebrecerimôniaqueaguardaIfigênia.EPISÓDIO4(v.1098-1508)–AgamênonvembuscarIfigênia.Clitemnestra,comopequenoOrestesnosbraços, reprovaduramenteomarido,napresençada filhaemprantos.Ifigêniasuplicaaopai,masAgamênonrespondebrevementequenãopode se opor à vontade dos gregos e se retira. Ifigênia canta sua infelicidadecausadaporAfroditeePáris.Aquilesvemanunciarquetodooexército,lideradopor Ulisses, exige o sacrifício, mas que ele está disposto a combater sozinhocontratodosparadefenderIfigênia.Estadeclaraqueseresignaamorrereaceitasacrificar-sepelaGrécia.Aquileshomenageiaseuheroísmo,afirmaqueteriasidofelizemtomá-larealmenteporesposaequeestádispostoasocorrê-laatéoúltimomomento, se ela mudar de opinião. Ifigênia despede-se da mãe e da vida emarchaparaamortecantandoumbrevekommoscomoCoro.Stasimon (v. 1509-1531) –OCoro a vê afastar-se, celebrando sua coragem einvocandoÁrtemis.ÊXODO (v. 1532-1629) – Um mensageiro narra o sacrifício a Clitemnestra: noúltimomomento,Ártemis veio, no altar, substituir por uma corça a vítima quedesapareceunocéu.AgamênonapareceparaconfirmarbrevementeomilagreedizerumapalavradeadeusaClitemnestra.

AgamênondeÉsquilo

Agamênon, As Coéforas eAs Eumênides constituem a única trilogiaconservada,A Oresteia.A tetralogia de que faziam parte (perdeu-se o dramasatíricoProteu)foirepresentadaem458econquistouoprimeiroprêmio.

Obra-prima de uma força expressiva e poética extraordinárias,A Oresteiaintroduztambémmuitasmudançastécnicasemrelaçãoàstragédiasanterioresde

Ésquilo que conhecemos: uma ação dramática sustentada, utilização daskené edo terceiro ator.As passagens corais continuam sendo grandiosas, sublinhandoem termos metafóricos e geralmente enigmáticos a complexidade dos temasprincipais,míticos,religiososoupolíticos.

AaçãosepassaemArgos,diantedopaláciodosátridas.PRÓLOGO (v. 1-39) –Dez anos se passaram desde a partida deAgamênon paraTroia.OvigiapostadoporClitemnestranotelhadodopalácio,àesperadosinalde fogo que anunciaria a vitória dos gregos, evoca suas longas vigílias. Derepente,achamaaparece:Troiafoitomada.PÁRODO (v. 40-257) – O Coro, formado por nobres anciãos deArgos, faz suaentrada:elesevocamsuavelhice.Numalongasériedeestrofeslíricas,cantamoque sabemdessa guerra, isto é, apenas os acontecimentos que se passaram emÁulis:ospresságiosdeCalcas,asintervençõesdivinas,osacrifíciodeIfigêniaeapartidadafrotagrega.EPISÓDIO1(v.258-354)–ClitemnestrasaidopalácioeanunciaaoCoroaquedadeTroia;eladescreveatransmissãodanotíciaporsinaisdefogodesdeomonteIda atéArgos, depois a visão que ela mesma teve da última noite de Troia,esperando que os vencedores saibam não irritar com seu comportamento osdeuses.Stasimon(v.355-488)–NovasériedeestrofeslíricasdoCoro:Zeuscastigouafalta de Páris e a má conduta de Helena, mas a guerra arrasta seu cortejo demortes e de sofrimentos. O Coro teme que novas desgraças possam advir aosátridas.EPISÓDIO 2 (v. 489-680) – Um arauto argivo chega, precedendoAgamênon.37Feliz de estar finalmente de volta à pátria, ele conta aos anciãos as misériascotidianasdo interminávelcercoaTroia.Clitemnestraaparecebrevementeparadizerquenão temnecessidadedesabermais,poisos fogos jáapreveniramdodesfecho da guerra, apesar dos céticos. Em termos ambíguos, ela faz alusão amexericosdeadultérioeàacolhidaquereservaaoesposo.Entranovamentenopalácio, após encarregar o arauto de dizer a Agamênon que o espera comimpaciência.Antesdepartir,oarauto relataaoCoroaviolenta tempestadequedestruiu e dispersou a frota ao regressar, não havendo notícias do navio deMenelau.Stasimon(v.681-781)–OCorovoltaafalardasinfelicidadesdequeHelena,anefasta,foiacausa.EPISÓDIO3(v.782-974)–Agamênonchegaemsuacarruagem,acompanhadodasuacativaCassandra, filhadePríamo,ex-reideTroia.Ocorifeuoacolhecomcalorerespeito,aomesmotempoemqueocriticaporterfeitoaguerraporuma

mulher como Helena. Agamênon concorda e fala de suas boas intenções.Clitemnestraapareceentãoe,apósumlongoemelífluodiscursodeboas-vindas,oconvidaaentrarnopaláciocomCassandra,pisandonostapetesdepúrpuraqueela fez desenrolar em honra dele.Agamênon, a princípio reticente, acaba poraceitar, não sem uma certa ironia. Ele entra no palácio, enquanto Cassandrapermaneceimóvelnacarruagem.Stasimon(v.975-1034)–OCorocantasuaapreensãoeosnegrospresságiosqueoangustiam.EPISÓDIO 4 (v. 1035-1447) – Clitemnestra reaparece por um breve instante paraconvidar Cassandra a juntar-se aos ritos, depois volta a entrar, irritada com osilêncio dela. Cassandra sai do seu mutismo e canta horríveis visões em quepassado e futuro se confundem, numkommos comoCoro.Depois se acalma,explicaaocorifeuasorigensdoseudomdeprofecia,deadivinhacondenadaporApolo a nunca ser acreditada, antes de ser novamente tomada pelas visões dehorror:ummatadourohumanocomochãoencharcadodesangue,Clitemnestraeseu amante Egisto lançando uma rede sobreAgamênon durante seu banho, aesposaapunhalando-o,seuprópriodegolamento,ofuturocastigodoscriminosos.Porfim,elaentranopalácio.Ouvem-seosgritosdeAgamênonassassinado.Oscoreutas reagem de maneira diversa e individual. A porta se abre, apareceClitemnestra,cobertadesangue,comosdoiscadáveresaseuspés.Sarcástica,elacontaemdetalheosassassinatosaoCorohorrorizado.Kommos (v. 1448-1576) – A rainha e o Coro se enfrentam: Clitemnestraapresenta-senãoapenascomoumaesposainjuriada,mastambémcomoogêniovingadordoscrimesda raçadosátridas–desdeos filhosdeTiestemortosporAtreuatéIfigêniaimoladaporAgamênon.ÊXODO (v. 1577-1673) – Egisto aparece e diz que a justiça foi feita.OCoro oameaça; eles se insultam mutuamente e chegam a sacar as espadas, quandoClitemnestraretornaparasepará-los,intimandoosanciãosaconsiderá-losapartirde agora,Egisto e ela, como seusúnicos senhores.OCoro continua com seussarcasmosepredizaosdoisavingançadeOrestes.

AsCoéforasdeÉsquilo

AsCoéforas(asportadorasdelibações),segundapartedeAOresteia,temportema o castigo de Clitemnestra e de Egisto por Orestes e Electra. Como esseepisódio foi também retomado por Sófocles (Electra) e Eurípides (Electra), épossívelcompararamaneiracomofoitratadopelostrêsgrandestragedistas.

AaçãosesituaemArgos,diantedopaláciodosátridas,pertodotúmulodeAgamênon.

PRÓLOGO38(v.1-21)–SeteanossepassaramdesdeoassassinatodeAgamênone

deCassandra.Orestes acaba de voltar secretamente aArgos, acompanhado doseuamigoPílades, filhodo rei daFócida,Estrófio, seu tio, queo acolhera eoeducara.Elevai se recolher juntoao túmulodopaie ládeposita,emoferenda,uma mecha de seus cabelos. Vendo chegar um cortejo de mulheres, os doisamigosseescondem.PÁRODO(v.22-83)–OCoro,compostodecativastroianasservidorasnopalácio,traz libações ao túmulo de Agamênon. Elas contam que foram enviadas porClitemnestra,atormentadaporumsonho,eselamentamdesuaprópriasorteedadealgunsdeseussenhores.EPISÓDIO1(v.84-305)–ComasCoéforasveioElectra.Aconselhodacorifeu,elaprocedeàslibações,nãoparaapaziguaromortomas,aocontrário,parapedirocastigodarainhaedeEgisto.Notandoamechadecabelossobreotúmuloeasmarcasdospassos,Electraadivinhaquesetratadoirmão.Orestesaparece,faz-sereconhecererevelaaordemquerecebeudeApolo,paraagrandealegriadairmã.Kommos (v.306-475)–Longacena líricaentreoCoro,OresteseElectra,quecantamsuasdoreseseuódioaocasalassassino,rogandoàsdivindadesvingançaaopaiassassinado.EPISÓDIO2(v.476-584)–OresteseElectrainvocamnovamenteomorto.AcorifeuexplicaporqueClitemnestraordenouaslibações:elasonhouquedavaàluzumaserpentequesugavaumcoágulodesangueemseuleite;aohonraromorto,elaesperadissiparsuaansiedade.Orestessereconhecenaserpente:eledevemataramãe. Expõe seu plano: para ganhar a confiança de Clitemnestra e de Egisto,Pílades e ele vão se apresentar como mensageiros fócios que vêm anunciar amortedeOrestes.Stasimon (v. 585-651) – O Coro entoa uma litania de monstros e mulherescriminosas, entre as quais Clitemnestra, depois exalta a justiça da Erínis,divindadedavingança.EPISÓDIO3(v.652-782)–OrestesePíladesseapresentamnopalácio.Clitemnestraofereceahospitalidadeaosestrangeiros,eOrestesdizaelaqueseufilhomorreu.Arainhafingeadoreosfazentrarnopalácio.AvelhaamadeleitedeOrestes,Cilissa,saiàprocuradeEgistoparaanunciar-lheessanotíciaqueadesespera.Acorifeudáaentenderaelaquenemtodaaesperançaestáperdidaepede-lhequearranjeummeiodeEgistovirsemescolta.Stasimon (v.783-837)–OCoroinvocaZeuseoutrosdeusesparaqueajudemOrestesacumprirsemfraquezasuasinistratarefa.EPISÓDIO 4 (v. 838-930) – Egisto entra no palácio para ver omensageiro. Seusgritosdeagonialogoseescutam.Umporteirosurge,correndo,paraanunciarsua

morte.Alertada pelos gritos, Clitemnestra chega no momento em que Orestesaparece.Elacompreende tudo, tenta justificar-see fazero filhocompadecer-se;este hesita,masPílades lembra a ordemdeApolo.Orestes arrasta amãe até ointeriorparamatá-lajuntodoamante.Stasimon(v.931-970)–OCorocantasuaalegriadeverrealizadaaJustiça.ÊXODO (v. 971-1076) – Orestes aparece no eciclema entre os cadáveres deClitemnestraedeEgisto,brandindoaredecomqueosassassinosenvolveramseupai.Elelamentaocrimeeocastigo,maslogoétomadodepavoraoversurgiremas Erínias, vingadoras do sangue materno, e foge aterrorizado em direção aDelfos,perseguidoporessasdivindadesqueéoúnicoaver.Acorifeudeseja-lheboasorteeseperguntaquandoadeusaAte,quesecomprazcomascalamidadesdosmortais,irádeter-se.

ElectradeSófocles

Adataderepresentaçãoédesconhecida.AaçãosepassaemMicenas,diantedopaláciodosátridas.

PRÓLOGO(v.1-120)–OresteschegasecretamenteaMicenas,acompanhadodoseuamigoPíladesedopreceptorqueoutroraosalvou.Eleexpõeas razõesdasuavinda:Apololhedissequehaviachegadoahorapropíciadevingaramortedopaiequeeledeviaagircomastúcia.Orestesencarregaopreceptordeanunciarque ele morreu acidentalmente e ele próprio virá em seguida trazer a urnacontendo supostamente suas cinzas. Introduzido assimno palácio, ele cumprirásua sangrenta tarefa.Mas primeiro deve honrar o pai e depositar, em oferendasobreotúmulo,umamechadeseuscabelos.

Assimqueelesseafastam,Electrasaidopalácioemanifestaasuador.PÁRODOemformadekommos (v.121-250)–OCoro,compostodemulheresdeMicenas devotadas a Electra, vem escutá-la. Num diálogo lírico, elas tentamapaziguá-la, enquantoElectra exprime sua dor pelamorte do pai, seu ódio aosassassinoseavidaindignaqueleva.EPÍSÓDIO 1 (v. 251-471) –HabitualmenteElectra permanece reclusa,mas, comoEgistoestáausentedeMicenas,elaaproveitaparaextravasarsuasqueixas.Numdiálogo com a corifeu, Electra se lamenta por ser obrigada a conviver comcriminosos,porouvirosinsultosqueamãenãocessadelhedirigirportersalvoopequenoOrestes,queéumaameaçaparaeles,masquecontinuasendoaúnicaesperança da jovem. Sua irmã Crisótemis entra em cena e dirige a Electraconselhos demoderação, pois ficou sabendo que pretendem emparedá-la viva.Electra a recebe mal, porém a alegria renasce em sua alma ao tomarconhecimentodequeClitemnestrateveumsonhopremonitórioqueaatormenta,

e que enviou Crisótemis para fazer libações a fim de apaziguar Agamênon.Electra a convida a jogar fora essas oferendas ímpias, dando-lhe em troca seucintoeumamechadeseuscabelosparadepositarsobreotúmulo.Stasimon (v. 472-515) – O Coro, a quem o relato do sonho voltou a darconfiança,cantaaaproximaçãodeErínis,ajusticeiraimplacável.EPISÓDIO2(v.516-1057)–Clitemnestraapareceeumadiscussãoviolentaecheiade ódio irrompe entre mãe e filha. Clitemnestra pede a Apolo, por meio depalavrasencobertas,parasuprimirosqueaestorvam.

Chegaopreceptorecontaemdetalhesàrainhacomosupostamenteseufilhomorreu,vítimadeumacidentedecarronosJogosPíticosdeDelfos.Clitemnestra,semalegriamasaliviada,conduzomensageiroaopalácio.ElectradeixaescaparseudesesperonumkommoscomoCoro.Crisótemisretorna,muitoalegre,paraavisarairmãqueencontrousobreotúmulodopaioferendasquesópodemserdeOrestes.Electraanunciaaelaamortedoirmãoelhepedeparaajudá-laamatarEgisto.Crisótemis,assustada,recusaeseretira,perseguidapelasreprovaçõesdairmã.Stasimon(v.1058-1097)–OCoroentoaoelogiodeElectra,desuapiedadeedesuatenacidade.EPISÓDIO3(v.1098-1383)–ChegamOrestesePílades,trazendoaurnafuneráriaque supostamente contém as cinzas de Orestes. Os lamentos e os soluços deElectra são tão tocantes que Orestes lhe revela o segredo, e essa cena dereconhecimentoqueculminanumduolíricoéumdosepisódiosmaispatéticosdoteatrogrego.OpreceptorretornaelhesdizquedevemaproveitaraausênciadeEgistoparamatarClitemnestra.Osquatroentramnopalácio.Stasimon(v.1384-1397)–OCorosublinhabrevementequeahoradavingançachegou.ÊXODO (v.1398-1510)–Electra tornaasairparaficaràespreitaeescutacomoCoro os gritos dilacerantes deClitemnestra, degolada porOrestes e Pílades nointerior do palácio.Cantando, ela encoraja o irmão.Orestes e Pílades saemdopaláciocomasmãosensanguentadas.Brevekommos.Elesvoltamaentrar,poisEgisto se aproxima.Electra lhe informa queOrestesmorreu e que estão vindotrazer seu cadáver.Orestes e Pílades reaparecem comum corpo velado.Muitofeliz,Egistolevantaovéuevêcomhorrorocadáverdarainha.Orestesarrasta-oparadentrodopalácio,afimdeexecutá-lonomesmolugarondeesteassassinouAgamênon.

ElectradeEurípides

A data também é desconhecida, talvez por volta de 420. A Electra de

EurípidesseriaanterioràdeSófocles.AaçãosepassanocampomontanhosodaArgólida,diantedapropriedade

ruraldomaridodeElectra,umlavradormicênio.PRÓLOGO (v.1-165)–Olavradorexpõeasituação:ClitemnestraeEgistoreinamapós terem matadoAgamênon, sete anos antes. Egisto deu a ele Electra emcasamento,afimdequeseuseventuaisfilhosnãopossamvingarahumilhaçãodamãe e o assassinato deAgamênon; quanto a Orestes, foi enviado ao exteriorainda criança e talvez tenha morrido. O lavrador indica, porém, que semprerespeitou a joveme fazumabrevedescrição realistadavidahumildedo casal.Electrasaidacasae,apósumbrevediálogoamistoso,elespartemcadaumparaseu lado, ele em direção aos campos, ela para buscar água.Aparece Orestes,secretamentedevoltaaMicenas,acompanhadodePílades;eleprocuraairmã.Osdois rapazesseescondemquandoElectra retorna,cantandoo lutodopainumamonodia.PÁRODO (v. 166-213) –As jovens camponesas micênias que compõem o Corofazem sua entrada e, juntando-se à monodia de Electra, cantam com ela umkommos,tentandoconsolá-la.EPISÓDIO1 (v. 214-431)–Tendocompreendidoquemé a jovem,Orestes se fazpassarporumestrangeiro e afirma ternotíciasdeOrestes.Electra, inicialmentedesconfiada,abre-secomele.Olavradorretornaeofereceaosestrangeirosumahospitalidadefrugalmascalorosa.ElectraoenviaabuscarovelhoqueserviuaAgamênoneaela,paraquetragamantimentosaoshóspedes.Stasimon (v. 432-485) – O Coro canta as danças das Nereides e a glória deAquiles que acompanhava Agamênon em Troia, ao mesmo tempo em queamaldiçoaClitemnestra.EPISÓDIO2(v.486-698)–Chegaovelhoservidor,carregadodevíveres.Eleestáperturbado:viusobreotúmulodeAgamênonoferendas,umamechadecabeloepegadasque, segundo ele, sópodem ser deOrestes.Electra rejeita esses sinaiscomo inverossímeis, mas Orestes se mostra e o velho o reconhece por umacicatriz. O irmão e a irmã caem nos braços um do outro e depois organizamjuntos a dupla vingança: Orestes se fará convidar por Egisto, que se encontrajustamentenosarredoresparafazerumsacrifício,eomatarádesurpresa.QuantoaClitemnestra,Electraafarávirdando-lheafalsanotíciadequedeuàluz,eamataráporsuavez.Stasimon (v.699-746)–OCorocantaahistóriadocarneirocomum tosãodeouroqueTiestesconseguiuobterporastúcia,parasefazerproclamarrei.EPISÓDIO 3 (v. 747-858) – Ummensageiro vem anunciar a Electra que tudo sepassouconformeoprevistoerelataemdetalheoassassinatodeEgisto.

Stasimon(v.859-879)–BrevecantodoCoroealegriadeElectra.EPISÓDIO 4 (v. 880-1146) – Orestes e Pílades retornam. Electra os recebe comentusiasmo. É trazido o cadáver de Egisto sobre o qual ela despeja violentosinsultos,àguisadeoraçãofúnebre.Clitemnestraéanunciada,eOrestessentesuadeterminação fraquejar,masElectra o encoraja.Ele se escondedentroda casa.Violentadiscussãoentreamãeeafilha,aofimdaqualElectrafingeacalmar-se,convidandoamãeaentrarparaajudá-laafazerossacrifíciosdecostume.Stasimon (v. 1147-1232) – Enquanto o Coro recorda o assassinato deAgamênon, ouvem-se os gritos de Clitemnestra que Orestes e Electra matam.Elestornamasairecantam,numkommos,ohorrordeseucrime.ÊXODO (v.1233-1359)–CástorePólux,osDióscuros, irmãosdeClitemnestraedeHelena,aparecem.EmboraescusemOrestes,queapenasobedeceuàordemdeApoloqueelescondenam,dizemqueele seráperseguidocomoparricidapelasErínias.QuantoaElectra,eladesposaráPílades.ElesconvidamOrestesapartirparaAtenasafimdeserjulgadopeloAreópago39queoabsolverá.

OrestesdeEurípides

Essa peça “espetacular”, com uma participação importante reservada àmúsica,foirepresentadaem408.Elatemumdesfechofelizecomportaelementoscômicose romanescosque lheasseguraramumagrande trajetória ao longodosséculosseguintes.

AaçãosepassaemArgos,diantedopaláciodosátridas,cincodiasapósamortedeClitemnestra.PRÓLOGO (v. 1-139) – Electra vigia Orestes, adormecido. Primeiro, ela contarapidamente a história dos átridas e o assassinato de Clitemnestra. Agora osargivosdevemjulgá-los,enquantoasEríniasperseguemseuirmão,mergulhando-o em acessos de demência e torpor. Menelau e Helena, enfim de volta deTroia40, reencontraram sua filha Hermíone, que fora confiada a Clitemnestra.HelenaquerfazerasoferendasrituaissobreotúmulodairmãClitemnestra,masfinalmentedecideenviarHermíoneemseulugar.PÁRODO(v.140-207)–OCoro,compostodemulheresargivasamigasdeElectra,fazsuaentrada.ElasentoamumkommoscomElectraeselamentamdasortedeOrestes.EPISÓDIO 1 (v. 208-315) – Orestes desperta. Electra se ocupa ternamente dele eanunciaachegadadeMenelau,oquedáaeleumpoucodeesperança.MasumanovacrisedeloucuraedealucinaçõesseapoderadeOrestes,aocabodaqualelevoltaaadormecer,enquantoElectraentranopalácio.

Stasimon (v.316-347)–OCoro invocaasEríniase lamentao infelizqueelasperseguem.EPISÓDIO 2 (v. 348-806) –ApareceMenelau. Orestes lhe faz um relato de suasinfelicidadeseimplorasuaajuda,masovelhoTíndaro,paideClitemnestra,vemexigir vingança contra os dois parricidas, enquanto Orestes defende sua causaacusando a mãe. Após a partida de Tíndaro, Menelau recusa finalmentecomprometer-seevaiembora.ChegadadePílades,dispostoatudoparasocorreroamigo.Eleolevaparafazersuadefesadiantedosargivos.Stasimon(v.807-843)–OCorocantaasdesgraçaseoscrimesdosátridas.EPISÓDIO3(v.844-959)–UmvelhocamponêsvemrelataraElectraosdebatesnaassembleiadosargivos,quedecidempelacondenaçãoàmortedelaedoirmão.MONODIA(v.960-1012)–Electralamenta-senumalongaedolorosa“ária”.EPISÓDIO4 (v. 1013-1245)–Orestes retorna comPílades.Enquantoo irmãoe airmãsepreparamparamorrer,PíladesafirmaqueserecusaasobreviveraoamigoepropõematarHelenaparapunirMenelauporsuacovardia.Eleselaboramumplano, e Electra sugere tomar Hermíone como refém, ameaçando matá-la seMenelauquisersevingar.OrestesePíladespenetramnopalácio.Kommos(v.1246-1310)–EnquantooCoro,espalhado,espreita,ElectraescutaàportadopalácioosgritosdeHelenaeencorajaOrestesePíladesamatá-la.ÊXODO(v.1311-1681)–ChegaHermíone.Electraconsegueconvencê-laaentrarnopalácio.Umescravofrígio,aterrorizado,saidopalácioefazumlongorelatocantado41,pitorescoequasecômico,descrevendoachegadadosdoisamigosatéHelena, o assassinato dela, o massacre que fizeram dos escravos que vieramajudar a patroa, sua própria fuga e o desaparecimento misterioso do corpo deHelena.Orestessaidopalácioembuscadoforagido,queconseguetersuavidapoupada.OrestesretornacomElectraaopalácioparaaliseentrincheirar.ChegaMenelau com guardas e tenta derrubar a porta. Orestes aparece no telhado,ameaçandomatar Hermíone e incendiar o palácio. Eles se afrontam de longe,comviolência.SubitamenteapareceApolo,comHelenaaseu lado.EleacalmatodoseproclamaaapoteosedeHelena,queiráaocéujuntar-seaseusirmãos,osDióscuros.Orestespartiráemexílioduranteumano,depoisiráaAtenasparaserjulgadonoAreópago,ondeseráabsolvido,desposaráHermíoneereinarásobreArgos.QuantoaElectra,elasecasarácomPílades.Todossealegrameafirmamqueobedecerãoaodeus.

AsEumênidesdeÉsquilo

As Eumênides (As Benevolentes, nome que por eufemismo será dado às

Eríniasnofinaldapeça)éaterceiraeúltimapartedeAOresteia:ojulgamentodeOrestesmostraráque, coma ajudadosdeuses, a justiçahumana substituirádaípordiantealeidotalião.ÉsquilolembratambémaorigemdivinadoConselhodoAreópago(acolinadeAres),cujasatribuiçõeshaviamsidoreduzidasquatroanosantesporEfialtes.42

Apeçaapresentaaparticularidadede sepassaremdois lugaresdistintos:primeiroemDelfos,diantedo templodeApolo;depois,apartirdoverso235,emAtenas,naAcrópole,diantedotemplodeAtena.PRÓLOGO (v. 1-139) – A Pítia, sacerdotisa de Apolo, invoca os deuses quepresidem ao oráculo de Delfos. Ela penetra no templo, mas torna a sair emseguida, agitada: um homem, com as mãos ensanguentadas, está agachado esuplicajuntoàpedrasagradacentral,cercadoderepugnantesmonstrosfemininosquedormem,roncando.Otemploseabre:ApoloasseguraaOrestessuaproteçãoeoexortaa iraAtenasparaserefugiar juntoaPalasAtena.Lá,umtribunalojulgará.Elespartem.OfantasmadeClitemnestra logovemdespertareatiçarasEríniasquesepõemalatir.PÁRODO (v. 140-178) – As Erínias se indignam contra os jovens deuses, emparticularcontraApoloquelhesretirousuacaça.EPISÓDIO1a(v.179-234)–ApoloatacaasEríniaseasexpulsadosantuário:elesalvaráOrestes,mesmoseelasoperseguirematéAtenas.EPISÓDIO1b (v. 235-306) –A cena transporta-se paraAtenas:Orestes se lança,suplicando, aos pés da estátua deAtena.OCoro faz umanova entrada e vematormentá-lo,ameaçandosugarseusangue.Stasimon(v.307-396)–DançaecantodemortedoCoro,quecelebraseupoderimemorial.EPISÓDIO 2 (v. 397-489) –Atena aparece, chegando de Troia: ela interroga asEríniasedepoisOrestes.Adeusarecusatomarumadecisão:mesmoseOrestessepurificou,asErínias têmdireitosantigosecontestá-lasécorrero riscodeatrairsua maldição sobreAtenas; ela resolve então reunir os melhores cidadãos dacidadenumjúriparadebateraquestão.Stasimon(v.490-565)–OCorotemequenovasleisderrubemajustiçasagradaeojustomeio-termoqueelasencarnam.EPISÓDIO3(v.566-777)–AtenafundasolenementeoConselhodoAreópago,quedaí em diante será chamado a julgar as questões de sangue, e faz suasrecomendaçõesparaostemposfuturos.Oprocessocomeça.Acorifeuapresentasuasacusações,eApolo fazadefesadeOrestes,demonstraqueopai, enãoamãe,équedáavidaaofilho,eprometequeOrestesselaráaaliançaentreAtenaseArgos. É feita a votação: os votos dos juízes se dividemmeio a meio, mas

Atenasedeclaraafavordoacusadoeproclamaaabsolvição.ÊXODO (v.778-1047)–Indignadas,asEríniasameaçamcomseufuroracidade,masadeusaAtena,numlongokommos(elafalaenquantooCorocanta),acabapor convencê-las a renunciar à vingança e a se instalar emAtenas: assim elasprotegerão a cidade e, em troca, os atenienses as amarão e as honrarão parasemprecomonomede“Eumênides”.TodosformamumaprocissãosoleneparairinstalaralegrementeasEumênidesnoseunovosantuário.

IfigêniaemTáuridadeEurípides

Essa peçamarca o fim damaldição dos átridas.A data de representação édesconhecida,masEurípidescertamenteacompôsantesdoseuOrestes.Asduastragédias (assim comoHelena, de que falaremos no capítulo seguinte) têm umfinalfelizeelementosespetaculareseromanescoscomparáveis.

AaçãosepassaemTáurida,diantedotemplodeÁrtemis.PRÓLOGO (v. 1-122) – Ifigênia conta sua história: outrora os gregos quiseramimolá-laemÁulisparaobterventosfavoráveis,masÁrtemissubstituiu-aporumacorçae levou-aparaTáurida(aCrimeiaatual), regiãoselvagemondese tornousacerdotisa.Entreoutras funções,eladeveanunciaro sacrifíciodosgregosquenaufragam nas praias desse lugar onde reina o tirano Toas, tarefa que lherepugna. Na noite anterior, ela sonhou que Orestes estava morto e quer fazerlibaçõesemhonradesseirmãoqueelanãovoltouaverdesdeainfância.Assimquevolta a entrarno templo,Orestes aparececomseu fiel amigoPílades.Parareencontrar a paz após seumatricídio, ele deve, por ordemdeApolo, roubar aestátuadeÁrtemiselevá-laparaAtenas.Elesvãoseesconderatéanoite.PÁRODO (v. 123-235) – OCoro, composto de cativas gregas, faz sua entrada ejunta-se numkommosaIfigênia,quereaparecepara lamentarsua tristesortedeexiladaeamortedeOrestes.EPISÓDIO1(v.236-391)–Umboiadeirovemanunciaràsacerdotisaqueeladevese preparar para o sacrifício de dois gregos que se escondiam. Eles teriamescapadoseumdelesnãotivessesidotomadodeumfuriosodelírioqueobrigouseucompanheiro,chamadoPílades43,ainterromperafugaparaseocupardele.Ao ficar sozinha, Ifigêniacondenaos sacrifícioshumanosepensaqueÁrtemistampoucoosaprova.Stasimon(v.392-455)–AscativasdoCoroseperguntamquemsãoessesgregosque percorreram osmares para encontrar ali um triste fim. Elas gostariam quefosseHelenaquemchegasseequeelasmesmaspudessemembarcardevolta àpátria.

EPISÓDIO2(v.456-1088)–Osdoisprisioneirossãotrazidos,acorrentados.Ifigêniaordenaquelhesretiremascorrenteseosinterroga.Aosaberquesãoargivos,elalhes faz muitas perguntas sobre a Guerra de Troia, a sorte dos guerreiros e,principalmente, deAgamênon e de sua família. Orestes comunica que os paisdelamorreram,mastambémqueOrestesaindavive.EssanotíciacausaumatalalegriaemIfigêniaqueelapropõesalvarumdelescomacondiçãodequeleveumamensagemaArgos.OrestessuplicaqueessefavorsejaconcedidoaPílades.Ifigêniaadmirasuanobrezaeseretiraparaescreveramensagem.Quandoelasai,PíladesdeclaraquequermorrercomOresteseosdoisamigosfazemumadisputade generosidade, mas Pílades acaba por ceder. Ifigênia retorna e confia astabuinhasaPílades,mas,paramaiorsegurança, lêseuconteúdoemvozalta.Oirmãoeairmãentãosereconhecemecantamsuaalegrianumlongoduetolírico.Orestes narra suas desgraças, depois os três buscam um plano para fugir deTáuridalevandoaestátuadeÁrtemis.Ifigêniaencontraumestratagema:eladiráqueosdoisgregossãoparricidasquedevemserpurificadosnomar,assimcomoaestátuadadeusaqueelesmacularamaotocá-la.Stasimon (v. 1089-1151) – As cativas, que prometeram guardar silêncio, sealegramcomafelicidadedeIfigêniaefazemvotosparaqueafugadêcerto,aomesmotempoemquelamentamnãopoderem,elastambém,voltaràGrécia.EPISÓDIO 3 (v. 1152-1233) – Quando o rei Toas vem ver se o sacrifício estáconsumado, Ifigênia lhe diz, conforme o plano estabelecido, que purificaçõespréviassãonecessáriasequeeladeverealizá-lassozinha.Semdesconfiar,eledásua permissão e a deixa partir em direção à praia comOrestes, Pílades e umaescolta.Stasimon(v.1234-1283)–OCoroentoaoelogiodeLetoedeseufilhoApolo.ÊXODO (v. 1284-1499) – Um mensageiro vem anunciar a Toas que Ifigênia oenganou: ela conseguiu embarcar, com os prisioneiros e a estátua, num naviogrego, após um combate entre os guardas e os dois cativos protegidos pelosarqueirosabordo.Umaforteventaniaoslançouentãoàcosta,eelesestãoagoradesprotegidos.Toasprepara-separapuni-losquandoapareceadeusaAtena.Elaordena ao rei soltar os filhos deAgamênon emandar de volta à sua pátria asescravasgregasdoCoro.Toassubmete-seedeclaraqueaestátuaseráinstaladanaÁtica.OCorosealegracomessedesfechoinesperado.

32.Conhecemoscercadetrintatítulosdetragédiasrelativasaosátridas.(N.A.)33.Essenúmero“ditirâmbico”eratomadoaopédaletra.(N.A.)

34.Instruçõesdadaspeloautordramáticoaosatores.(N.T.)35.Algunseditoresjulgamqueessecantofazintervirumcorosecundáriodasacompanhantes.(N.A.)36.EsseúltimocantomostraadesmedidadasvirgenseanunciaassimavingançadeAfrodite,amortedoscinquentafilhosdeEgitoeocastigodasDanaides,certamentecontadosnaspeçasseguintesdatrilogiaqueseperderam(maso famoso tonel furado [queZeusascondenouaenchereternamente]aindanãoexistianastradiçõesdaépoca).(N.A.)37.Evidentementeumcertotemposepassou,poisaviagemderetornodafrotanãopodiaserfeitanumdia,sobretudocomatempestade,mas,comoaconteceseguidamente,oscantosdocoroabolemdecertomodoaduração.(N.A.)38.Oprólogoestámutiladoecomlacunas.(N.A.)39.Tribunal de Justiça ou ConselhoAteniense, a céu aberto, famoso pela honestidade e retidão de juízo.(N.E.)40.VeraHelenadeEurípidesnocapítuloseguinte.(N.A.)41.Éoúnicoexemploquepossuímosdeumrelatotrágicocantado.(N.A.)42.AreformadoAreópagoporEfialtes,em462a.C.,desagradouosaristocrataselevouaoseuassassinatonoanoseguinte.(N.T.)43.PíladesnasceuduranteatemporadadeIfigêniaemTáurida,portantoeladesconheceonomedele.(N.A.)

CAPÍTULO V

O CICLO TROIANO

Eurípides:Resos;Sófocles:Ajax,Filoctetes;Eurípides:AsTroianas,Hécuba,Helena,Andrômaca.

Todas as tragédias que nos restam do ciclo troiano44 se passam durante odécimoeúltimoanodaGuerradeTroia.SomenteumadelastratadeumepisódiodeAIlíada(Resos),sendoasoutrasposterioresàmortedeAquiles,que,portanto,jamais aparece como o herói da Guerra de Troia nas tragédias conservadas,embora sua sombra paire sobre a maior parte delas. O destino das armas deAquileséevocadonasduaspeçasdeSófocles:seráacausadaloucuraedamortedeAjax(Ajax)eumpretextoemFiloctetes,ondeafiguradeHéraclesdominaaintriga.Eurípides,porsuavez,seinteressaprincipalmentepelasortedasmulherestroianas no momento da queda da cidade (As Troianas) ou pouco depois(Hécuba)eduranteoseucativeiro(Andrômaca),semesqueceraquelaqueétidacomo a causadora do mal, Helena, desculpada emHelena para depois serassassinadaedivinizadaemAndrômaca.

ResosdeEurípides

Essa tragédia de data desconhecida é a única das peças conservadas queutilizaprecisamenteumepisódiodeHomero,aDoloneia,nocantoXdeAIlíada.É também a única peça grega cuja ação se passa toda em plena noite. SuaatribuiçãoaEurípidesfoipostaemdúvidadesdeaAntiguidade.

A ação transcorre em plena noite, diante da tenda de Heitor, noacampamento troiano, entreasmuralhasdeTroia eobaluartequeosgregosedificaramparaprotegerseusnavios.PRÓLOGO-PÁRODO(v.1-51)–Umgrupodesoldadostroianos,queformamoCoro,vemdespertaremplenanoiteHeitor,ochefesupremodoexército troiano.Elesviramfogossuspeitosnoacampamentodosgregos,quedevemestarpreparandoalgumacoisa.EPISÓDIO1 (v. 52-223)–Heitor, convencidodequeosgregos sepreparamparaembarcar,estádispostoaatacaremseguida,masEneias,ofilhodeAnquisesedeAfrodite,oconvenceaenviarprimeiroumespiãoaoacampamentoinimigoparaesclarecera situação.Dólon (oAstuto), filhodoarautoEumedes,umguerreiropequeno mas muito rápido na corrida, se oferece como voluntário; Heitor lhe

prometeque,setiverêxito,receberácomorecompensaocarrodeAquileseseusdois cavalos divinos quando os troianos tiverem esmagado os gregos. Dólonvesteumapeledeloboepartesemdemora.Stasimon(v.224-263)–OCorocantasuaadmiraçãopelacoragemeaastúciadeDólon.EPISÓDIO2(v.264-341)–UmpastoranunciaaHeitorachegadadoreidaTrácia,Resos,filhododeus-rioEstrímon45,quevememsocorrodos troianoscomumexército inumerável, montado num carro puxado por seus famosos cavalosbrancostãorápidoscomoovento.Heitorconstatacomirritaçãoqueessealiadosemanifestaquandoafortunadasarmaslhesorri.Stasimon(v.342-387)–OCorocantacomexaltaçãoachegadadeResosesuaascendênciadivina.EPISÓDIO3(v.388-526)–ChegaResos.Heitorlhecensuraofatodeterdemorado;otráciorespondeprontamentequeconseguiránumasójornadavencerosgregos,o queHeitor não conseguiu emdez anos.Heitor aceita finalmente sua ajuda epartecomeleparalhemostrarondeacamparseuexército.Stasimon (v. 527-564) – Os soldados do Coro se alarmam, porque a noiteavança,ninguémvemrevezá-losnaguardaeDólonaindanãoretornou.Elesvãoalertarseuscompanheiros.EPISÓDIO4 (v.565-674)–UlisseseDiomedes,oheróiargivo,filhodeTideu,seintroduzemfurtivamentenoacampamentotroiano;elesencontraram,interrogaramemataramDólon e querem agora abaterHeitor em seu sono.Atena aparece elhes sugere que matem primeiro Resos e roubem seus cavalos, pois, se elesobreviveraestanoite,osgregosserãoderrotados.Osdoispartemparaexecutaras ordens da deusa. Entra em cena Páris, que procura seu irmão Heitor parainformá-lodapresençapossíveldeespiões;AtenasefazpassarporAfroditeeoafasta.AdeusaanunciaamortedeResos.Stasimon(v.675-727)–OssoldadosdoCorochegam,perseguindoUlisses,masesteconsegueescapargraçasàsenhaqueDólonlhedera.OCoroseperguntasenãoeraUlisses,cujosinúmerosardissãoevocados.ÊXODO(v.728-996)–OcocheirodeResos,emestadolastimável,vemcontarqueseumestrefoitraiçoeiramenteassassinadopordoisdesconhecidosqueferiramaeletambém.HeitorretornaerepreendeossoldadosdoCoro,porteremmontadomalaguarda.OcocheirooacusadetersuprimidoResosparaseapoderardeseuscavalos. Heitor não dá ouvido a essa acusação e ordena que o cocheiro sejamedicado.

A Musa que engendrou Resos aparece então acima de suas cabeças,segurandoocadáverdofilhonosbraços.Elachorao filho,cujodestinoestava

traçadoeaquemestáreservadoummisteriosodestinonoalém-túmulo.ElaacusaAtena,UlisseseDiomedes,eanunciaamortedeAquiles.Atragédiaterminanomomentoemquesurgeodia,anunciandoaretomadadoscombates.

AjaxdeSófocles

Ajax é amais antiga das tragédias conservadas deSófocles, provavelmentecomposta por volta de 445, num período em que elemesmo declarava buscarescrever como Ésquilo. Considera-se geralmente que se trata de uma peça emduaspartes,oheróidesaparecendonofinaldaprimeira.

A ação se passa no acampamento dos gregos, diante da tenda de Ajax,erguidajuntoàpraia.PRÓLOGO(v.1-133)–AtenasedirigeaUlissesque,perplexo,dávoltasemtornoda tenda deAjax, tentando descobrir por que este massacrou todo o rebanhoduranteanoite.Adeusa lherevela tercausadoumacessode loucuraemAjax,quepensouexterminaroschefesdoexércitogrego:eleestavafuriosoporteremdadoasarmasdeAquiles,apósamortedeste,aUlissesenãoaele.DissimulandoUlisses,elachamaAjax,aindaemplenodelírio,queserejubilacomsuafaçanhaevoltaaentrarnatenda.Atenadesaparece,eUlissesseafasta.PÁRODO (v. 134-200) –OCoro, composto demarinheiros de Salamina, faz suaentradaeseinquietacomacondutaaberrantedoseuchefe.EPISÓDIO1(v.201-595)–Tecmessa,filhadoreifrígioTeleutaseesposadeAjax,saidatendaeconfirmaaoCoroacarnificina.Ajaxrecuperouarazãoeagoraestámergulhado numprofundo desespero.O herói aparece e canta longamente suavergonhadiantedeTecmessaedoCoro,quetentamapaziguá-lo.Eleseperguntacomosalvarahonraepensaemmorrer,apesardassúplicasdeTecmessa.Pedeque lhe tragam seu jovem filho Eurísaces, lega a ele suas armas, despede-se evoltaaentrarnatenda,ignorandoaafliçãodacompanheira.Stasimon(v.596-645)–LamentaçãodoCoroqueevocasuailhadeSalaminaeolutoquevaiseabatersobreosvelhospaisdeAjax.EPISÓDIO2 (v. 646-692)–Ajax reaparece, tendoàmãoa espadaqueHeitor lhehaviaoferecido.Emtermosambíguos,quefazemTecmessaeoCoropensarquerenunciouaosuicídio,eledeclaraquererenterraraquelaarmamalditaepurificar-senapraia.Stasimon (v. 693-718) – Quando ele se afasta, o Coro manifesta sua alegria,convencidodequeAjaxrenunciouaseufunestoprojeto.EPISÓDIO3(v.719-865)–ChegaummensageiroenviadoporTeucro,meio-irmãodeAjax:oadivinhoCalcasrevelouqueoúnicomeiodesalvaravidadeAjaxeraimpedi-lodeabandonara tendadurante todoaqueledia.TecmessaeoCorose

precipitamimediatamenteparatrazê-lodevolta.Ajaxretornasozinho,invocaosdeuses,medita,dáadeusàpátriaesemata,

curvando-sesobreaespadafixadanochão.Stasimon(v.866-973)–OCororetornaabatido,eTecmessavêocorpodeAjax:todoschoramessamortecruel.EPISÓDIO4(v.974-1184)–Teucroapareceeselamentasobreoirmão,pensandotambém nas reprovações que o pai lhe fará. Menelau vem anunciar que foidecidido que o corpo de Ajax será abandonado às aves. Teucro se opõeenergicamente,eosdoishomensseinsultam.Menelauretira-se,eTeucrodeixaocorpo sob a guarda de Tecmessa, de Eurísaces e doCoro enquanto vai tomarprovidênciasparaasepultura.Stasimon(v.1185-1222)–OCorocantaasmisériasdaguerraeaperdadeAjax.ÊXODO (v. 1223-1420) –Teucro retorna, seguidodeAgamênonque confirma ainterdição.Novoconfrontoenovosinsultos.ChegaUlissesque,comdiplomacia,tomaopartidodeTeucroemnomedavalentiadeAjaxedapiedade.Agamênoncede.TeucroagradeceaUlisses,maslhepedeparanãoparticipardosfuneraisafimdenãoirritaromorto.Ocortejofúnebresepõeemmarcha.

FiloctetesdeSófocles

Essa tragédia foi representada nas Dionísias de 409 e obteve o primeiroprêmio.Sófoclestinhaentãoquasenoventaanos.OsfatoscontadosnomitonãoimportamtantoaSófoclesquantoaprópriafiguradeFiloctetes,queéumdeseuspersonagensmais bemacabados.Ésquilo eEurípides tambémescreveramcadaqualumFiloctetes,masessasobrasseperderam.

AaçãosesituanailhadeLemnos,diantedeumagruta.PRÓLOGO(v.1-134)–UlisseseNeoptólemo,ofilhodeAquilesquevemsubstituiro pai morto, desembarcaram em Lemnos. Eles chegam diante da gruta ondeUlissesabandonou,noveanosantes,Filoctetes–oherdeirodoarcoedasflechasenvenenadasdeHéracles–,horrivelmente feridonopéquandonavegavamemdireção a Troia. Seus gritos incessantes e o cheiro de putrefação tornaram-seinsuportáveis.ComoumoráculoanunciouqueacidadenãopoderiasertomadasemasarmasdeHéracles,osgregosqueremagoraseapoderardeFiloctetespelaastúcia. Ulisses, que não ousa enfrentar suas flechas infalíveis, permaneceráescondido; Neoptólemo deverá atrair a simpatia do infeliz fingindo ter-sedesentendidocomosátridasecomUlisses,afimdeconduzi-loabordodonavio.Ojovemsenterepugnânciaporesseardil,masaceitaamissão.Ulissesseafasta.PÁRODO (v. 135-218) – O Coro, formado por marinheiros do navio deNeoptólemo,fazsuaentradaerecebeasordensdojovemchefe.Osmarinheiros

secompadecemdasortedeFiloctetesaoouviremruídosegemidosqueindicamsuachegada.EPISÓDIO1(v.219-675)–Filoctetesaparece,acolhecomalegriaoscompatriotaselhes narra como foi mordido por uma víbora e abandonado, quase morrendo,nessa costa deserta, onde sobrevive miseravelmente numa sombria caverna,devorandoacarnedosanimaisselvagensquematacomseuarco.Eleproclamaseu ódio aos chefes gregos, e Neoptólemo o aprova, contando que estes lherecusaramasarmasdopaiequeeledecidiuvoltarparacasa.Filoctetes suplicaque o leve consigo. Chega um homem que Ulisses disfarçou de mercador eenvioupara apressar as coisas.Ele afirmaque umnavio grego foi lançado emperseguiçãodeNeoptólemoequeUlisses,por suavez, se aproximapara levarFiloctetes a Troia. Este volta a entrar na gruta comNeoptólemo para prepararrapidamenteapartida.Stasimon (v. 676-729) –OCoro canta a sorte e os sofrimentos imerecidos deFiloctetes.EPISÓDIO 2 (v. 730-826) – No momento em que saem da gruta, Filoctetes éacometidodeumaviolentacrisedoseumal,quelheinfligedoreshorríveis.Eleconfia o arco a Neoptólemo, que promete não partir sem ele, e adormece,exausto.Stasimon (v. 827-864) – O Coro invoca o Sono curativo e aconselhaNeoptólemoaaproveitaraocasiãoeembarcarimediatamentecomoarco.EPISÓDIO3(v.865-1080)–Quandooenfermodesperta,Neoptólemo,arrependido,lheconfessaoembuste.Filoctetesexplodeemimprecaçõeseexigeseuarcodevolta.Ulisses se apresenta e, semdar atenção àsmaldições de Filoctetes, tentalevá-loparaonavio.Filoctetesrecusa:eleprefereperderoarcoemorrerdefomedoquecederaseusinimigos.Ulissesdecideentãoabandoná-losemsuasarmas,condenando-o a uma morte certa. Ele parte com Neoptólemo que deixa, noentanto, os marinheiros do Coro com Filoctetes, esperando que este mude deopinião.Kommos (v.1081-1217)–Longodiálogo líricoentreFiloctetes,quebrada seusofrimento e chama amorte, e o Coro, que tenta caridosamente,mas em vão,convencê-loaacompanhá-losaTroia.ÊXODO(v.1218-1471)–Neoptólemoretorna,seguidodeUlisses:seusescrúpulosprevalecerameeleestádecididoadevolveroarco.Osdoishomensseenfrentame por pouco não lutam,masUlisses acaba por desistir.Neoptólemo devolve aarmaaFiloctetese,apóstentaremvãoconvencê-loairaTroiavoluntariamente,aceitalevá-lodevoltaparacasa.HéraclesapareceentãodivinizadoeordenaaoantigocompanheiroqueváaTroia:láchegando,Asclépioocuraráeelematará

Páriscomsuasflechas.Filoctetesconsenteedespede-sedeLemnos.

AsTroianasdeEurípides

Últimapeça (depoisdeAlexandre ePalamedes,seguidapelodramasatíricoSísifo) da única trilogia ligada de Eurípides cujo tema conhecemos, umrequisitório contra a guerra. Ela foi representada em 415 e obteve apenas oterceirolugar.Essatragédiamuitolírica(todasasmulherescantamcomexceçãodeHelena)écompostadeváriosepisódiosquerefletemtodosamesmacatástrofeegiramemtornodopersonagemcentral,Hécuba,encarnaçãodador,quenuncaabandonaacena.

A ação se passa no acampamento dos gregos em Troia, diante da tendaondeestãoreunidasascativastroianas.PRÓLOGO (v.1-153)–AvelhaHécuba, rainhadeTroiaeviúvadePríamo,estáprostrada no chão. Poseidon, o deus protetor de Troia cujas muralhas haviaconstruído,chorasobreasruínasfumegantesdacidadequeacabadesertomadapelos gregos. Atena, que até então tomara o partido deles, aparece: ela estáultrajada, poisAjax46 arrancou Cassandra do seu próprio templo, onde ela serefugiara.AdeusavempediraajudadePoseidonparacastigarosgregosduranteseuretorno;eleprometequedesencadearáterríveistempestades.HécubaseergueecantaumamonodiaemqueamaldiçoaHelenaeselamentapelosinfortúniosdeTroia.PÁRODO (v.154-234)–OCorodasviúvas troianas fazsuaentrada,divididoemdoisgrupos.ElasfazemumkommoscomHécubaeseperguntam,gemendo,qualseráseudestino,aquepaísserãolevadascomoescravas.EPISÓDIO1(v.235-510)–OarautoTaltíbioanunciaquecadaumaseráentregueaumsenhordiferente:CassandraseráaconcubinadeAgamênon;Polixena,afilhamais jovem de Hécuba, servirá o túmulo de Aquiles (perífrase carregada desentido,masqueHécubaentãonãocompreende);Andrômaca,aviúvadeHeitor,caberá a Neoptólemo, e Hécuba, a Ulisses. Cassandra aparece, descabelada,brandindoumatocha:elagiraecantafreneticamentesuaspróximasbodas.Umavezapaziguadoseufuror,aprofetisapredizcomumaalegriasinistraaruínadosátridas e as errâncias de Ulisses: Troia terá menos a lamentar do que seusvencedores.EnquantoTaltíbioaconduz,Hécubachoranovamenteseudestinoeseusmalespassados.Stasimon (v.511-567)–OCorocantaaúltimanoitedeTroia,oardil fataldocavalodemadeiraeapilhagemdacidade.EPISÓDIO 2 (v. 568-798) – Andrômaca chega no carro que deve conduzi-la aNeoptólemo, segurando nos braços o pequenoAstíanax, filho deHeitor.Num

diálogolíricocomHécuba,elasdeploramsuasdesgraças.Andrômacacomunicaentão a Hécuba que Polixena foi imolada sobre o túmulo deAquiles e tentaacalmar a dor da sogra. Taltíbio retorna e informa com repugnância que osgregos, a conselhodeUlisses, decidiram lançarAstíanaxdoaltodasmuralhas.Andrômaca,desesperada,despede-sedofilho.Taltíbio,cheiodepiedade,levaosdois.Stasimon(v.799-859)–OCoroevocaaprimeiradestruiçãodeTroia,feitaporHéracles e Télamon, história dolorosa que se repete naquele dia, emboraZeustenhaumpríncipetroiano,Ganimedes,comocopeiro.EPISÓDIO3(v.860-1059)–MenelauvembuscarHelena,afimdelevá-ladevoltaàGréciaedematá-laparapunirsuatraição.Hécubaoaprovaeaconselhaqueelenãofiquemuitotempocomainfielparanãoserenfeitiçadonovamenteporseuencanto.HelenaapareceesuplicaaMenelauque lhepermitadefender-seantesdemorrer.HécubapedequeeleescuteHelena,masqueaseguiradeixe,aela,falarcomoacusadora.LongadiscussãoemqueHelenadefendehabilmentesuainocência, atribuindo a culpa a Afrodite47, enquanto Hécuba pronuncia umaacusação arrasadora. Menelau parece convencido pela velha rainha e levaHelena, mas adivinha-se que sua severidade não vai durar e que ele acabaráperdoandoaculpada.Stasimon(v.1060-1117)–Asviúvastroianaschoramseusmaridosmortoseosfilhosque lhes foramarrancados; elas suplicamaZeusque fulmineonaviodeHelenaeMenelau.ÊXODO(v.1118-1352)–TaltíbiotrazdevoltaocorpodeAstíanaxsobreoescudodeHeitor.Hécubachoralongamenteamortedacriançainocentee,ajudadapeloCoro, presta os últimos deveres ao neto. Taltíbio retorna mais uma vez paraordenaraossoldadosgregosqueacabemdeincendiarTroia,e,àscativas,quesedirijam aos navios gregos.Hécuba e oCoro se afastam, entoando umkommosfúnebreenquantosuacidadeédestruída.

HécubadeEurípides

Essa tragédia foi composta provavelmente em 424, antes deAs Troianas.Aqui também é a personagemdeHécuba que dá unidade à peça, dividida emduaspartes,aprimeiradedicadaaosacrifíciodePolixenaeasegunda,àvingançadeHécuba.FoiapeçadeEurípidesmaisadmiradanaAntiguidade.

AaçãosepassaemQuersonesodaTrácia(hojeapenínsuladeGallipoli),ondeosgregosestabeleceramseuacampamentoapósatomadadeTroia,diantedatendadeAgamênon.

PRÓLOGO(v.1-97)–SurgeofantasmadePolidoro,omaisjovemfilhodeHécubaedoreiPríamo.Elecontaque,quandoacidadefoisitiadapelosgregos,seupaioenviouàcortedoreidaTrácia,Polimestor,comtesourosconsideráveis.QuandoestesoubedaquedadeTroiaedamortedePríamo,apropriou-sedas riquezas,matou o jovem e lançou seu corpo aomar. Polidoro anuncia a seguir amortepróximadesuairmãPolixena,adescobertadoseuprópriocadáver,edesapareceaoveramãesairdatendadeAgamênon.Avelharainha,prostrada,cantanumamonodia suas desgraças e os presságios funestos que lhe trazem suas visõesnoturnas.PÁRODO

48 (v. 98-153) – Entram as cativas troianas que formam o Coro,transtornadas.AcorifeucomunicaaHécubaqueofantasmadeAquilesreclamouosacrifíciodePolixena,afilhamaisjovemdePríamo,sobreseutúmulo.Ulisses,queconvenceuosgregosaimolarajovem,virábuscá-la.EPISÓDIO 1 (v. 154-443) –O episódio começa por um duo lírico:Hécuba gemecom esse novo golpe que a atinge, chama a filha e lhe anuncia a sorte que aespera:elasunemseussofrimentos.EntraUlisses,exigindoavítima.Hécubaselamenta,suplica,lembraaelequeoutrorasalvousuavida49,masnadacomoveUlisses. A jovem Polixena declara heroicamente que não teme a morte, poisassim estará livre da vergonha da escravidão.Após despedir-se ternamente damãe,elamarchacomorgulhoparaoquesetornouumsacrifíciovoluntário.Stasimon(v.444-483)–AscativastroianasseperguntamaqueregiãodaGréciacadaumadelasserálevadacomoescrava.EPISÓDIO 2 (v. 484-628) – O arauto Taltíbio, sempre compassivo, vem relatar aHécubaamortedePolixena.Estamostroutantacoragemquefoiaclamadapelosgregos.Hécuba, temendoosexcessosdossoldados,exigequeadeixemprestarsozinhaashonrasfúnebresàfilha.Stasimon(v.629-657)–OCorolamentaqueapaixãodePárisporHelenatenhaprovocadotantascalamidades.EPISÓDIO3(v.658-904)–Entraumaservidora,arrastandoumcadáverveladoqueela encontrou na praia quando buscava água para lavar o corpo de Polixena.Hécuba canta seu novo luto e a aversão que o crime de Polimestor inspira.ApareceAgamênon,paraapressarHécubaaenterrarafilha.AvelharainhalheinformaatraiçãodoreidaTrácia,queacabadechegaraoacampamentogrego,esuplica que ele a vingue.Agamênon fica indignado de que Polimestor tenhaassassinadoseuhóspede,masnãoquerseenvolver,temendoreaçõesdoexército.Hécuba declara que se encarregará de tudo, e o rei consente em enviar-lhePolimestor.Stasimon (v. 905-952) – O Coro evoca a última noite de Troia e amaldiçoa

novamentePáriseHelena.ÊXODO (v. 953-1295) –Chamado porHécuba, Polimestor chega com seus doisfilhosjovens.Comomaiordescaramento,eleafirmaaHécubaquePolidorovaibem. Sob pretexto de lhe mostrar tesouros escondidos, ela o introduz na suatenda.Ouvem-seosgritosdelequandoHécubaesuascompanheiraslhefuramosolhoseapunhalamseusfilhos.Polimestortornaasair,cobertodesangue,ecantasuaimpotênciadecego.EleexigejustiçaaAgamênon,queretorna.OreiescutaPolimestoreHécubaexporemlongamenteseusargumentosedárazãoaHécuba.PolimestorprofetizaamortedeHécubanomar,assimcomoasdeCassandraedeAgamênon.Esteordenaqueoabandonemnumailhadeserta.Começaasoprarovento:Hécubavaisepultarosfilhosantesdesedirigircomascompanheirasaosnaviosdosgregos.

HelenadeEurípides

Em 412, Eurípides fez representar essaHelena juntamente com umaAndrômedaqueseperdeu.50Helena temumfinalfelizenumerososelementosespetaculares e cômicos que aproximam essa peça deOrestes, Alceste, Íon e,sobretudo,IfigêniaemTáurida.Eurípides segue,nessaespéciede tragicomédiaemque, por umavez, semostra favorável aHelena, uma tradição relatadaporHeródoto(II,112-121)quediziatê-larecolhidodabocadesacerdotesegípcios.Segundo essa tradição, Páris foi lançado por uma tempestade na costa egípcia,perto da foz do Nilo, quando velejava com Helena em direção a Troia. ElecompareceuperanteoreidoEgito,Proteu,quelhereprovouocrimeeomandouembora, retendo a esposa de Menelau. No começo da guerra, os troianosrespondem aos gregos – que os intimam a devolver Helena – que ela está noEgito,masnãosãoacreditados.ApósatomadadeTroia,constatandodefatoqueHelena não se encontra ali, Menelau parte para o Egito onde Proteu entregaHelena, casta e pura, às suas mãos. Na peça de Eurípides, Proteu morre e ésucedido por seu filhoTeoclímeno.Violentamente apaixonado porHelena, elequerabusardela,eafielesposadeMenelauserefugiajuntoaotúmulodeProteu.

O drama satírico que concluía aOresteia de Ésquilo,Proteu, parece quetambémteveportemaatemporadadeHelenaedeMenelaunoEgito.

AaçãosepassaemFaros,noEgito,diantedopalácioreal,pertodotúmulodeProteu.PRÓLOGO(v.1-166)–Helenacontaquefoitransportada,dezesseteanosantes,porHermes ao Egito, ao palácio do deus-rei Proteu. Lá devia ficar escondidaenquanto uma falsa Helena (trata-se de umeídolon, de um duplo criado por

Hera)51acompanhavaPárisaTroia,provocandoassimaguerra.ApósamortedeProteu,Teoclímeno, seu filho, tornou-se rei e quer desposá-la.Helena, parapermanecer fiel a Menelau, embora não tenha notícias dele há muitos anos,refugiou-se junto ao túmulo deProteu para escapar do assédio deTeoclímeno.ChegaTeucro,irmãodeAjax,quefoiexpulsodeSalaminaporseupai,Télamon,esedirigeaChipre,ondequerfundarumacidade.Semsaberquemelaé,emboraespantadocomasemelhança,elelheinformaaquedadeTroiaeoboatodequeMenelauteriamorrido.HelenaaconselhaTeucroapartiromaisrápidopossível,poisTeoclímeno,quesaiuacaçar,mandamatartodososgregos.PÁRODO(v.167-251)–Helenaentoaumatristecançãodelutoàqualsejunta,numkommos, o Coro, composto de escravas gregas. Elas deploram os males, asmorteseascalúniasprovocadaspelafalsaHelena.EPISÓDIO1 (v.252-329)–Helenaacusasuabelezaedeclaraquequermorrer.OCoroareconfortaeaexortaaconsultaraadivinhaTeonoé,irmãdeTeoclímeno,parasaberseMenelauestárealmentemorto.Kommos (v.330-384)–Helenadecideseguiresseconselhoeentranopalácio,acompanhadadoCoro.EPISÓDIO2 (v.385-514)–EntraMenelaucomroupasesfarrapadas(comoasquegeralmentevestemosreisinfortunadosemEurípides),lançadoporumnaufrágioàsproximidadesdoNilo.Elecontaquevagoupormuitotemponomar,antesdeencalharnessaterradesconhecidacomHelena(istoé,oeídolonqueeletomaporHelena) e alguns companheiros.Numacena francamente cômica, a porteira dopalácio,velhaerabugenta,manda-oembora,nãosemterlheditoincidentalmenteque Helena de Esparta vive naquele palácio. Menelau, atordoado, decideaguardaroreiapesardasadvertênciasdavelha,esperandoqueseurenomelhedêumaacolhidafavorável.Stasimon (v. 515-527) – O Coro retorna e anuncia muito brevemente que,segundoTeonoé,Menelaucontinuavivo.EPISÓDIO3(v.528-1106)–Helenareaparece,reconheceMenelauequersejogarnosseusbraços,maselearechaça,julgandoquesetratadeumespectro.Apesardas explicações de Helena, Menelau não acredita, pois pensa que sua mulherficounapraiacomoscompanheiros...atéqueumdeles,umvelhoservidor,vemanunciar-lhequeaesposasubitamentedesapareceunosares.Asdúvidasentãosedissipam: os esposos caem nos braços um do outro e exprimem sua felicidadenumduolírico.Ovelhoservidorcomentafamiliarmenteessereencontroeparteacontar a novidade aos outros, emitindo dúvidas sobre a competência dosadivinhos.HelenacontasuahistóriaaMenelau,depoiselesbuscamummeiodefugir. Para isso é preciso contar com o apoio de Teonoé, que vem justamente

celebrar um rito. À força de súplicas e de argumentos, Helena e Menelau aconvencemanadadizer ao irmão.Helenaelaboraumplanode fuga:diráque,tendosabidoqueomaridomorreuafogado,deveprestar-lhehonrasfúnebresnomar,segundoocostumegrego.Stasimon(v.1107-1164)–OCorodeploraoshorroresdaGuerradeTroiaeosdesígniosindecifráveisdosdeuses.EPISÓDIO 4 (v. 1165-1300) –ApareceTeoclímeno, cheio de suspeitas, pois sabequeumgregodesembarcou.Helenasaidopaláciovestidadeluto:elaapresentaMenelaucomoumnáufragoqueveioanunciar-lhequeomaridomorreunomarepedeaorei–conformeoplanoprevisto–apermissãodepegarumbarcoparalançar na água oferendas fúnebres. Cumprido esse rito, ela se casará comTeoclímeno.Entusiasmado,estesedispõeafornecertudooquelhepedem.Stasimon(v.1301-1368)–OCorocelebraCibele,aGrandeDeusaMãe.EPISÓDIO 5 (v. 1369-1450) – Helena conta ao Coro que Menelau está agoraequipado com as armas que supostamente teriam caído no mar. Teoclímenopreferiria que Helena não assistisse à cerimônia, mas, seduzido por suaspromessasenganadoras,colocaàsuadisposiçãoumnavioemarinheiros,eentranopalácioparaprepararasbodas.Stasimon (v. 1451-1511) –OCoro reza para que os dois esposos tenhamumfelizretornoelamentanãopoderfugirtambém.ÊXODO(v.1512-1692)–UmdosmarinheirosveminformaraoreiqueonáufragoeraMenelauequeelesaiuaolargocomHelena,contandoemdetalhesabatalhaépicatravadanomar.MenelaueHelenaembarcaramcomoutrosnáufragos,poreles convidados a tomar parte do rito fúnebre.Após ter sacrificado um touro(embarcado com grande dificuldade), Menelau lançou os náufragos armadoscontraosmarinheirosegípciosquedispunhamapenasderemos.Alutafoibreveeomarinheirocontaqueescapoudomassacrepormilagre,nadandoatéapraia.Teoclímeno, furioso, quer matar Teonoé que não o advertiu. A corifeu tentaimpedi-loedeclara-seprontaamorrerporela,masnessemomentoosDióscuros,irmãosdivinosdeHelena, aparecemeordenamaTeoclímenoperdoarTeonoé,quenão fezsenãoajudaradecisãodoDestino.Osdoisespososvoltarãoà suapátria e,no finalde suavida,Helena se tornaráumadeusa, enquantoMenelauviveráeternamentenailhadosbem-aventurados.ATeoclímenonãorestasenãosubmeter-se.

AndrômacadeEurípides

A datação dessa tragédia é muito discutida, mas seu caráter violentamenteantiespartanofazpensarqueelacorrespondeaumperíodomuitodurodaGuerra

doPeloponeso.Amaioriadoseditorespropõeoanode425.A ação se passa em Ftia, na Tessália, diante do palácio de Neoptólemo,

pertodeumaltardeTétis.PRÓLOGO (v. 1-116) – Andrômaca, a viúva de Heitor, expõe a situação:Neoptólemo,ofilhodeAquiles,aobtevecomobutimdeguerraeatransformouemconcubina,tendocomelaumfilho,Molosso.ElealevouconsigoparaFtia,onde continua a reinar Peleu, o velho pai de Aquiles, e depois desposouHermíone,afilhadeMenelauedeHelena,masessauniãopermaneceestéril.Porciúme, Hermíone persegue Andrômaca, cujos feitiços, segundo ela, seriam acausa da sua esterilidade.Aproveitando a ausência de Neoptólemo, que foi aDelfos,HermíonedecidiumatarAndrômacaeseufilho.EstaescondeuacriançaeserefugioujuntoaoaltardeTétis,adeusaquedeuàluzAquiles.ElalamentaaausênciadeNeoptólemo,nãoporqueoame,pois seucoraçãoaindapertenceaHeitor,masporqueelepoderiaprotegê-la.UmaservavemanunciaraAndrômacaqueMenelauesuafilhapegaramMolosso.AndrômacaaenviaparapedirsocorroaPeleu;depois,asós,elaentoaumadolorosamonodia.PÁRODO (v.117-146)–OCoro, compostodemulheresdeFtia, faz suaentrada:elassecompadecemdeAndrômacaeaaconselhamaresignar-se,sobretudoportemeremHermíone.EPISÓDIO1 (v.147-273)–ChegaHermíone, tomadaporumacrisedeódiocego,para atormentar e humilharAndrômaca, acusando-a de introduzir na Grécia aamoralidadeeadevassidãodosbárbaros.Andrômacarespondeinicialmentecomcalma,depoiselevaotom,eHermíoneseafastaproferindoameaças.Stasimon (v. 274-308) – O Coro deplora que Páris tenha vivido, ele que é acausadaruínadeTroia.EPISÓDIO2(v.309-463)–ApareceMenelautrazendoconsigoMolossoejuraqueo matará se Andrômaca não abandonar seu refúgio inviolável. Após tentarconvencê-loemvãodequeessecrimeseria inútil,Andrômacasaichorandodosantuárioeconsenteemsesacrificarparasalvaro filho.Menelaudeclaraentãoque sua promessa de poupar Molosso era apenas um ardil: Andrômaca serádegolada, e Hermíone fará o que quiser da criança. Andrômaca amaldiçoa afalsidadedosespartanos.Stasimon(v.464-493)–OCoroexplicaqueumhomemdevetersóumamulher,umEstado, sóum soberano, umnavio, sóum timoneiro, comoprovaodramarepresentadonaqueledia.EPISÓDIO 3 (v. 494-765) – Menelau leva, para que sejam mortos, Andrômacaacorrentadaeseufilho,queentoamumduolíricofúnebre.Nomomentoemquevaimatá-los,surgerepentinamenteovelhoPeleu,bisavôdeMolosso.Eleexige

explicações, condena duramente Menelau, que não consegue se justificar ecovardemente vai embora. Emocionada,Andrômaca agradece a Peleu, que oslevaparaprotegê-loscomsegurança.Stasimon (v.766-801)–OCoroexaltaasalmasnobresemgeraleadePeleu,emparticular.EPISÓDIO4(v.802-1008)–AaiadeHermíoneexplicaqueajovem,abandonadapelopai,temeacóleradeNeoptólemoepensaemsematar.EntraHermíone,queexprimeseudesesperoenquantoaaiatentaacalmá-la.Novaapariçãoinesperada:surge Orestes, primo e ex-noivo de Hermíone, e ainda apaixonado por ela.Hermíone lhe explica o que fez, lançando a culpa sobre mulheres más que ainstigaram.Orestes,quequersevingardeNeoptólemo,propõeaHermíonefugircom ele: dá a entender também que suscitou a hostilidade do povo de DelfoscontraofilhodeAquilesafimdequeestesejaassassinado.Stasimon(v.1009-1046)–Depoisqueelespartem,oCoroseperguntaporqueosdeusesprotetoresdeTroiaaabandonaram.ÊXODO(v.1047-1288)–PeleuvemperguntaraoCoroseéverdadequeHermíonepartiu.Acorifeu confirmae lhe informa tambémas ameaçasdeOrestes contraseu neto. O velho quer enviar um servidor a Delfos, mas é tarde... UmmensageirodáanotíciadoassassinatodeNeoptólemo:OrestesfizeraopovodeDelfos acreditar que Neoptólemo tinha vindo saquear os tesouros do templo;mesmo negando veementemente, ele fora apunhalado. São trazidos os restosmortaisdoherói,sobreosquaisPeleueoCoroentoamumkommosdeluto.Tétisaparece então para consolar seu esposo e revelar o futuro: Neoptólemo seráenterrado emDelfos;Andrômaca será a esposa do adivinho troianoHeleno, oúnico sobrevivente dos filhosdePríamoeHécuba;Molosso fundará a dinastiadosreisdoÉpiro;ePeleuse tornaráumdeusqueviveráao ladodela.52Peleuenxuga as lágrimas para obedecer à deusa e conclui a tragédia dizendo que éprecisozelarparaterumanobreesposaecasarbemasfilhas.

44.AGuerradeTroiaesuasconsequênciasrepresentamcercadesetentatítulosdetragédiasconhecidos,oquefazessecicloserdelongeomaistratadopelosdramaturgos.(N.A.)45. Em Homero, seu pai é Eioneu.As tradições também divergem sobre aMusa que é sua mãe: Clio,Terpsícore,CalíopeouEuterpe.Eurípidesnãoanomeianapeça.(N.A.)46.Trata-se do filhodeOileu, cognominadoo “pequeno”Ajax, por oposição ao “grande”Ajax, filhodeTélamon,cujamortefoiotemadatragédiadeSófocles.(N.A.)47.Segundouma tradiçãomaisdifundida–masmenos trágica–,Helenadesarmoua fúriadomarido aodescobrirumdosseios.(N.A.)

48.Éoúnicoexemplodepárodofaladoquepossuímos.Eurípidesinverteoesquematradicional,jáqueessepárodoéprecedidodeumamonodiadeHécubaeoprimeiroepisódiocomeçaráporumdiálogocantadoporHécubaeafilha.(N.A.)49.Ulisses,dissimulado,introduziu-seemTroiaparafazerummassacre.ElefoireconhecidoporHelenaquenãoodenunciou.Hécubanãointervémnoepisódiohomérico.(N.A.)50.EssasduaspeçasserãolongamenteparodiadasnoanoseguinteporAristófanesemsuasTesmoforiantes(v.849-928paraaparódiadeHelena).EmAristófanes,éopróprioEurípidesquesedisfarçadeMenelauparatirarseuparenteMnesílocodasgarrasdasmulheresquecelebramafestadasTesmofórias.(N.A.)51.RéplicaperfeitaapontodetergeradofilhosemTroia!(N.A.)52. Tétis nada diz a respeito de Hermíone e de Orestes que, segundo a tradição, viveram daí em diantepacificamente.(N.A.)

CAPÍTULO VI

TRAGÉDIAS QUE NÃO PERTENCEM A UM CICLO

Ésquilo:Prometeuacorrentado; Eurípides:Medeia,Hipólito, Íon; Ésquilo:OsPersas.

Com exceção deOsPersas, tragédia de atualidade, e deÍon, próxima dacomédia, as peças que seguem são restos de ciclos míticos às vezesabundantementeutilizadosnoteatrotrágico,comoodosArgonautas,mascujostextos não chegaram até nós. Buscar uma ligação entre elas seria assimmuitoartificial.

PrometeuacorrentadodeÉsquilo

Prometeu acorrentado faz parte de uma trilogia ligada, comPrometeuportador do fogo ePrometeu libertado; esta última peça seguiaPrometeuacorrentado,masignoramossePrometeuportadordofogoabriaouencerravaatrilogia. A data de representação é desconhecida, e alguns põem mesmo emdúvida sua atribuição a Ésquilo. Observemos que essa é a única tragédiaconservadacujospersonagenssãotodosdivindades.

Divindade do fogo, na origem, Prometeu adquiriu uma dimensãoconsiderávelepassouasimbolizaroespíritohumanoqueaspiraaoconhecimentoe à liberdade. EmOs trabalhos e os dias de Hesíodo, o primeiro poeta a seinspirarnessemito,PrometeuaparececomoumbomTitã,protetordoshomensaquemconcedeofogoeensinaasartes,infringindoumaproibiçãodeZeus.Esteenviaentãoà terraaprimeiramulher,Pandora,queestánaorigemde todososmales, e acorrenta Prometeu no Cáucaso, onde uma águia não cessa de lhedevorar o fígado.SegundoPlatão, em seuProtágoras,Prometeu seriaopaidetodas as raças. Como Héracles, Prometeu é um personagem ora trágico, oracômico,eseumitofoitratadotambémporSófocleseEurípides,bemcomoporAristófaneseoutrosautoresdacomédiaática.

AaçãosepassanumaregiãoselvagemeescarpadadaCítia[regiãoaonortedoMarNegro],nãolongedomar.PRÓLOGO (v. 1-127) – Chega Hefesto, acompanhado de Crato e Bia53 queseguramPrometeu,condenadoporZeusporterroubadoofogodocéuafimdedá-loaoshomens.HefestoacorrentaeprendePrometeunumrochedo,comolheordenouZeus,emborasinta simpatiapeloTitã,enquantoCrato lhecensurasua

compaixãoeoapressaaagir.Prometeupermanecesilencioso,mas,assimqueosoutrosoabandonam,exprimeseussofrimentoseainiquidadedoreidosdeuses.PÁRODO(v.128-196)–Dofundodomar,asOceânidesouvemsuaqueixaevêmreconfortaroTitã.Juntos,elesevocamnumkommosopodertirânicodeZeus.EPISÓDIO 1 (v. 197-396) – Prometeu se queixa da ingratidão de Zeus, a quemajudouaderrubaratiraniadeCronosedosTitãs.ZeusqueriaacabarcomaraçahumanaepuniuPrometeuportercontrariadoseusplanosereveladoaoshomensosbenefíciosdofogo.OceanoapareceeaconselhaoTitãamostrarhumildadeearrepender-se. Prometeu rejeita essas recomendações e declara que conhece ofuturoecontinuaráasofrercomoAtlaseTífon,vítimastambémdeZeus,atéqueesteoliberte.Stasimon (v. 397-435) – Após a partida de Oceano, suas filhas OceânideslamentamasortedoTitã.EPISÓDIO2 (v.436-525)–Prometeucontinuaaenumerarseusbenefíciosparaoshumanose fazalusãoaum terrívelemisterioso segredoqueeleguardade suamãeTêmis, eque será a armade sua libertaçãonodia emqueopróprioZeusdeverácederaodestino.Stasimon(v.526-560)–OCorocantanovamenteseutemordiantedopoderdeZeus.EPISÓDIO3(v.561-886)–ApareceIo,ofegante,perseguidaporumamutucaepeloespectrodeArgos,oboiadeirodemilolhos.Elacantasuador,depoisseacalmaecontasuahistóriaàsOceânides:Zeus,tomadodedesejoporela,forçouseupai,odeus-rio Ínaco, filho de Oceano, a expulsá-la de casa; Hera, com ciúmes, fezbrotarnasuatestadoischifresdenovilha,confiou-aàguardadeArgos(queZeusfezmatarporHermes)elançouemsuaperseguiçãoumamutucamonstruosaquenãocessadepicá-laeacondenaapercorreraterraemperpétuafuga.PrometeuindicaaelacomprecisãoalongaviagemquedevefazerequealevaráfinalmenteàsmargensdoNilo;lá,daráàluzaÉpafo,dequemdescenderãoasDanaidesedepois,nadécimasegundageração,umarqueiroglorioso(Héracles)quelivraráPrometeudeseustormentos.EntãooTitãimpediráqueZeussejadestronado.Amutucaretorna,eIorecomeçasuacorridalouca.Stasimon (v.887-906)–OCoro se compadeceda triste sortede Io,vítimadodesejodeZeus.ÊXODO (v.907-1093)–PrometeucontinuaadesafiarZeusapesardosconselhosdeprudênciadacorifeu,quandochegaHermes,enviadoporZeusparaarrancar-lhe o segredo.EmboraHermes o ameace comnovos suplícios que o esperam,Prometeunãocede.Hermesretira-se,avisandoaoCoroqueZeusvaifulminarorebelde, mas as Oceânides respondem que permanecerão com o Titã. Raios e

tempestadeseabatemsobrePrometeu,quedesaparecenumúltimodesafio.54

MedeiadeEurípides

Medeia foi representada em 431, o ano em que começou a Guerra doPeloponeso,numatetralogianãoligadacomDictis,FilocteteseodramasatíricoOsceifeiros. Eufórion, filho deÉsquilo, obteve o primeiro prêmio, Sófocles, osegundoeEurípides,oúltimo.Eurípideshaviaestreadonoteatroem455comAsPelíades, uma tragédia na qual já tratava de um episódio da história dosArgonautas, quandoMedeia ajudou Jasão naCólquida.55Vinte e quatro anosmaistarde,elemostraavingançadeMedeiacontraJasão,quehaviasetornadoseuesposo.

AaçãosepassaemCorinto,diantedacasadeMedeia.PRÓLOGO(v.1-130)–AaiadeMedeialamentaqueJasãotenhaidobuscarotosãodeouronaCólquidaequesuasenhoratenhadeixadotudoparasegui-lo.EmboraelatenhasalvoavidadeJasão,esteaabandonoucomseusfilhosparadesposarGlauce,afilhadeCreonte,reideCorinto.Chegaopedagogo,trazendoosdoisfilhos de Medeia, e anuncia que Creonte decidiu exilá-los com a mãe.A aiaconfessa a ele seu temor de queMedeia, cujos gritos se ouvem no interior dopalácio,sevinguecruelmentedessatraição.PÁRODO(v.131-213)–Atraídaspelosgritos,asmulheresdeCorintoqueformamoCoro acorrem. Numkommos (o Coro canta, a aia fala,Medeia continua suasimprecaçõesnopalácio),elaslamentamaprincesarepudiadaepedemàaiaquefaçavirMedeia,queelasqueremconsolar.EPISÓDIO 1 (v. 214-409) –Medeia aparece e deplora, com força retórica, a tristesortedasmulheres,desprezadasemaltratadaspeloshomens.EladizplanejarumavingançacontraomaridoepedeaoCoroqueguardeissoemsilêncio.ChegaoreiCreonte: ele temeas reaçõeseopoderda feiticeira e lheordenaabandonarimediatamente o território de Corinto com os filhos. Com palavras e súplicas,Medeiaconsegueobterumprazode24horas.FicandoasóscomoCoro,elanãoescondequeaproveitaráesseprazoparadestruirCreonte,suafilhaeJasão.Stasimon(v.410-445)–OCoroseindignacomaperfídiadoshomensemgeraledeJasãoemparticular.EPISÓDIO 2 (v. 446-626) – Jasão aparece e começa uma longa discussão:inconscienteeegoísta,eletentaapaziguarMedeianumtomleviano,brincalhão,cheio de sofismas. Quanto a Medeia, ela replica com raiva e eloquência,lembrandoos serviçosque lheprestou; suplica emvãoquepossa ficar comosfilhoseacabaporexpulsarJasão,ameaçandodestruirsuafelicidade.

Stasimon(v.627-662)–OCorodeploraosmalesdaspaixõeselamentaapobreesposaabandonada.EPISÓDIO3(v.663-823)–Egeu,reideAtenas,queforaaDelfosparaconheceracausa da sua esterilidade, encontra-se justamente emCorinto e vem saudar suaamigaMedeia.ElecondenaacondutadeJasãoeasseguraaMedeia,quedizsercapaz de lhe dar filhos, que a acolherá emAtenas se ela for até lá por seusprópriosmeios.EssapromessaencheMedeiadeumaalegriasemlimites.AssimqueEgeuparte,elarevelaaoCoroseuplanodevingança:paraqueJasãosofraaindamais,elamataránãoapenasanovaesposa,oferecendo-lheumvéueumdiademaenvenenados,mastambémosfilhosquetevecomele.Stasimon (v. 824-865) – O Coro canta o louvor deAtenas e tenta dissuadirMedeiadeseuterrívelpropósito.EPISÓDIO4 (v.866-975)–MedeiamandachamarJasão;elasedesculpaporseusexcessosefingeaceitaroque lhefoiordenado.JasãodizquepediráaCreontequeos filhosnãosejambanidoscomamãeeos levaaopalácio, juntocomospresentesenvenenadosdestinadosaGlauce.Stasimon(v.976-1001)–OCorotremediantedaterrívelarmadilhaelamentaasmortesquevirão.EPISÓDIO5 (v.1002-1250)–OpedagogotrazdevoltaaMedeiaseusfilhos,queobtiveram o indulto. No momento de sacrificá-los, ela hesita longamente e sedespede deles com muito sofrimento, enquanto a corifeu discursa sobre osproblemasqueos filhoscolocam.Ummensageirovemanunciar,paraagrandealegriadeMedeia,queGlauceacabademorrerematrozessofrimentosaovestiros presentes que ela enviou, e queCreonte pereceu ao querer socorrer a filha.Medeiaretornaentãoàsuacasaparadegolarosfilhos.Stasimon (v. 1251-1292) – O Coro roga a Medeia que renuncie a esse atoimpiedoso,depoisexprimeseuhorroraoouvirosgritosdascriançasassassinadaspelamãe.ÊXODO (v. 1293-1419) – Jasão chega para levar os filhos, mas descobre que étarde demais. Medeia aparece acima da casa, na carruagem do Sol, seuantepassado,puxadapordragõesalados.Jasãoaamaldiçoaesuplicaqueelalhedeixe aomenos os corpos dos filhos.Medeia se recusa, responde que ele é oúnicoculpadoepartenumvooemdireçãoaAtenas, levandoconsigoosrestosmortaisdosfilhos.

HipólitodeEurípides

OHipólito de Eurípides que conhecemos é o segundo que ele escreveu; échamadoàsvezesoHipólitoporta-coroaparadistingui-lodoprimeiro,perdido,

oHipólito velado, título que se explicava, ao que parece, pelo fato de o heróicobrirorostoquandoFedralhedirigiapalavrasindecentes.Comoapeçachocou,Eurípides modificou sua tragédia e conquistou desta vez um de seus rarosprimeiros prêmios. EsseHipólito foi representado em 428: Iofon, filho deSófocles,obteveosegundolugar,eÍondeQuios,oterceiro.

AaçãosepassaemTrezena,naArgólida,diantedopaláciodeTeseu,pertodoqualseveemasestátuasdeÁrtemisedeAfrodite.PRÓLOGO(v.1-120)–Afroditeexpõeotemaeodesfechododrama:Hipólito(oquesoltaoscavalos),filhodeTeseuedeAntíope,rainhadasAmazonas,recusa-se a honrá-la: ele permanece casto e consagra-se unicamente a Ártemis. Paravingar-se, ela fez comqueFedra, filha deMinos e jovemesposa deTeseu, seapaixonasse loucamente pelo enteado.Até então, a rainha pôde dissimular suapaixão,maslogodeixaráescaparaconfissãofataleosdoismorrerão.Assimqueadeusadesaparece,Hipólitoretornadeumacaçada,cantandocomosamigos.56Elecoroade floresaestátuadeÁrtemis (o títulodapeçasedeveaessacena);quantoàdeAfrodite,apesardosconselhosdeumvelhoservidor,eleserecusaaprestar-lheamenorhomenagem.PÁRODO(v.121-169)–OCoro,compostodemulheresdeTrezena,apresenta-seàsportas do palácio.Elas ficaram sabendo queFedra sofre de ummalmisteriososobreoqualfazemconjeturas.EPISÓDIO1(v.170-524)–Fedrasaidopalácio,sustentadaporsuavelhaaiaquesequeixadoscaprichosdaenferma.Arainhasofredeumaespéciededelírio,masguardaosilêncioquandoaaiaeoCoroainterrogamparaconheceracausadomal.Fedra finalmenteconfessaqueamaHipólito,maspreferemorreracederaessapaixãoculpadacontraaquallutacomtodasasforças.OCoroaadmira,masa aia, ao contrário, aconselha-a muito diretamente a assumir seu amor. Fedraacabaporaceitarqueavelhalheprepareumremédioqueacurarádomal.Stasimon (v. 525-564) – O Coro canta o poder deAfrodite e de Eros, e osinfortúniosdeIoleedeSêmele57.EPISÓDIO2(v.565-731)–Ouve-senopalácioavozfuriosadeHipólito,queinjuriaaaiaquefoilhecontartudo.Fedra,transtornada,entoaumbrevekommoscomoCoro.Hipólitoaparece, forade si, rechaçandoaaiaque tentacontê-lo, e lançaviolentasimprecaçõescontraasmulheres;maselenadadiráaopai,poisjurouàaiaguardar segredo.Fedracanta seudesespero,depoisamaldiçoaavelhaaiaedeclara que vai se matar para salvar sua reputação, mas vingando-se daarrogânciadeHipólito.Stasimon(v.732-775)–OCorolamentanãopoderfugiratéofimdomundoesentedódodestinodeFedra.

EPISÓDIO3(v.776-1101)–Ouve-seavozdeumaescravanointeriordopalácio,gritandoquearainhaseenforcou.Teseucheganessemomento;trazemocadáverda suicida e Teseu entoa umkommos de luto com o Coro. Ele vê então umatabuinhadeescritanasmãosdeFedraelêcomhorrorqueelaacusaHipólitodeterqueridoseduzi-la.ChegaHipólito.Teseuacusaofilho,queojuramentofeitoàaiaimpededesejustificar.Teseuoexpulsa,condenando-oàfúriadePoseidon.Stasimon (v. 1102-1150) – O Coro lamenta o infortúnio de Hipólito, que osdeusesvãocastigaremborasejainocente.ÊXODO (v. 1151-1466) – Um mensageiro anuncia ao rei que seu filho estámorrendo: assustados por um touromonstruoso enviado do fundo domar porPoseidon,seuscavalosoderrubaramdacarruagemeoarrastaramporumalongadistância.Teseurecebeanotíciacomfrieza,mas,apósumbrevecantodoCoro,Ártemisapareceelhecontaaverdade.Teseuficaarrasadocomessarevelação.Hipólitoétrazido,agonizante:oinfeliz temforçaapenasparacantarsuainjustadesgraça, mas sua deusa bem-amada o apazigua antes de desaparecer,anunciandoquecastigaráAfrodite.Hipólitoperdoaopaiemorreemseusbraços.

ÍondeEurípides

Adatadarepresentaçãoédesconhecida.Apeça tempor temaodestinodeÍon,descendentedePrometeueancestralmíticodosjônios.EurípidesfezdeÍon,filhodeXuto(porsuavezfilhodeÉoloeorigináriodaEubeia)edeCreusa(filhado rei deAtenas,Erecteu), umherói puramente ateniense, dando-lhepor pai odeusApoloerelegandoXutoaopapeldepaiadotivo.

Íon possui uma importância particular na história do teatro e merece umaatenção especial. Assim comoÉdipo rei de Sófocles tornou-se o modelo datragédia ideal,Íonexerceuumagrandeinfluênciasobreodesenvolvimento...danovacomédiagregae,portanto,dacomédialatinaedacomédiaocidental,poisnessapeçaencontramosnumerososelementosquepassarãoasertradicionaisnogênero cômico: a criança encontrada que vive abaixo de sua condição, o falsoreconhecimento seguido do verdadeiro, o escravo ardiloso e mesmo o velhocaduco.

AaçãosepassaemDelfos,diantedotemplodeApolo.PRÓLOGO (v.1-183)–Hermescontaahistória,passadae futura,de Íon:Creusa,violadaporApolo,deuà luzumfilhoqueelaabandona,por temorda família,numcesto,esperandoqueseupaidivinoosalve.Defato,paraprestarserviçoaApolo,HermeslevouacriançaaDelfos,ondeelafoieducadapelaPítia.Tendoagora quinze anos de idade, Íon vive ali como servidor do templo, sem saberquem são seus pais.Nessemeio-tempo,Creusa desposouXuto, para transmitir

seureinoaumfilho,masauniãodelespermaneceestéril.TendoosespososidoaDelfosconsultarodeus,ApolodiráaXutoqueelejátemumfilho,eassimÍon,sem conhecer seu pai divino, será rei e fundará uma raça naÁsia. Hermes seesconde, e Íon aparece na entrada do templo para se ocupar, como fazdiariamente,da limpeza.Enquantovarre, ele cantanumagraciosamonodia seucontentamentodeservirodeus,emborasofraporserórfão.PÁRODO (v. 184-236) –Chega nessemomento oCoro, formadopelas servas deCreusa:elassemaravilhamcomabelezadotemploeasoferendasfeitasaodeus.Numbrevekommos,pedeminformaçõesaojovem,quelhesdizqueasmulheresnãopodementrarnosantuário.EPISÓDIO1 (v. 237-451)–Creusa aparece,visivelmentemuito entristecida. Íonainterrogagentilmentesobreacausadatristeza.Elalheconfessaopesardenãoterfilhoseconta tambémqueumadesuasamigas teveumfilhodeApoloquefoiabandonado num cesto, e agora ela gostaria de saber o que lhe aconteceu.Aoficar sabendo que o jovem não temmãe, ela sente piedade e afeição por ele.ChegaXuto:ooráculodeTrofônio,queeleconsultouacaminho,jálherevelouqueelesnãosairãodeDelfossemumfilho.EleentranotemploenquantoCreusaseafasta.AspalavrasdeCreusaperturbaram Íon,queconsideraa condutadosdeusesbastanteinconveniente.Stasimon (v.452-509)–OCoro invocaAtenaeÁrtemis, asdeusasvirgens, ecantaasalegriasdeumanumerosaprogênie.EPISÓDIO2(v.510-675)–Xutosaidotemplo:odeuslhedeclarouqueaprimeirapessoa que encontrasse seria o seu filho. Ele vê Íon e corre para abraçá-lo,chamando-odefilho.Íontoma-oporlouco–aindamaisporqueXutoesqueceude perguntar aApolo quem era amãe –,mas depois se resigna, confiando nooráculodeApolo.Xutooconvidaentãoaacompanhá-loaAtenasondeoesperaumdestino real,mas Íonnãoquerabandonar suavida tranquila.Xuto insisteeacabaporconvencê-lo,decidindoporémnadadizeraCreusaparanão irritá-la.Elesseafastamjuntos.Stasimon(v.676-724)–OCoro,indignadocomosofrimentoqueessebastardocausaráaCreusa,deciderevelartudoaela,apesardasordensdeXuto.EPISÓDIO 3 (v. 725-1047) – Quando Creusa chega, acompanhada de um velhoescravo,acorifeuconta-lhetudoduranteumbrevekommos.Ovelhoservidorainstiga contra Xuto, dizendo que ele estaria querendo tirar a Ática da casa deErecteu.Creusaconfessa,então,numadolorosamonodia,suaverdadeirahistória.OvelhoaaconselhaamatarÍoneelalhedáumveneno,umagotadesanguedaGórgona,queeledespejaránataçadorapaz.Stasimon(v.1048-1105)–OCoro,sozinhoemcena,fazumapreceparaoêxito

doatentadoeestigmatizaasinfidelidadesdoshomens.EPISÓDIO 4 (v. 1106-1228) – Um mensageiro vem contar que a tentativa deassassinato fracassou: no momento em que Íon levava aos lábios a taçaenvenenada, alguém deixou escapar uma palavra nefasta; Íon pediu então quetodos derramassem seu vinho para uma libação propiciatória; pombas vierambebernastaçasdevinho,eaqueingeriualibaçãodeÍonmorreuemseguida.Ovelhotevequeconfessartudo.Creusa,condenadaàmorte,foge.Stasimon (v. 1229-1243) –As coreutas cantam brevemente omedo de seremapedrejadas.ÊXODO(v.1244-1622)–Creusa,transtornada,vemserefugiarjuntoàestátuadoaltardeApolo.ChegaÍonesepreparaparamataraculpada,quandonoúltimomomentoaparece aPítia, proibindo-lhederramaro sanguedeumamulher.Elamostra a ele o cesto onde descobriu o recém-nascido. Creusa compreendeimediatamenteque Íoné seu filhoeapresenta-lheasprovas.Cantaa felicidadedele,daqualÍongostariaqueseupaitambémparticipasse.CreusalherevelaqueseupainãoéXuto,masApolo.Diantedacomplexidadedasituação,Íoncomeçaa ter dúvidas, felizmente dissipadas pelo aparecimento de Atena. A deusaconfirmaqueApoloquer que Íon considereXuto como seupai e queherdeoreinodeAtenascomodescendentedeErecteu.MãeefilhobendizemApolo.

OsPersasdeÉsquilo

OsPersas, amais antiga tragédia conservada, é aquela cujo tema é omaisrecente,sendoquasecontemporâneoàobra:representadanaprimaverade472,apeça não trata de um temamítico, mas de um acontecimento da atualidade, aderrota de Xerxes, rei dos persas, na batalha naval de Salamina, ocorrida oitoanos antes, em 480, no dia 20 domês de boedrômio, isto é, entre 20 e 28 desetembro.Alémdisso,oacontecimentoérelatadoporumatestemunha,opróprioÉsquilo, que, apesar da idade, deixou a pena, retomou a lança (a oposiçãosimbólicaentrealançagregaeoarcopersaéconstanteemOsPersas)evoltouacombater–dezanosdepoisdeMaratona–emSalaminae,aseguir,emPlateias.Oaspectopolíticodessapeça,queobteveoprimeiroprêmio,erasublinhadopelofatodeojovemPériclesserocorego58.

Umadasoriginalidadesdessatragédiamagnificamentepoéticaéqueelanosmostraosefeitosdabatalhanocampoinimigo,asreaçõeseaangústiadosnobrespersas que esperamnotícias da expedição deXerxes.59 Contudo, não se devepensar que Ésquilo buscou se compadecer dos vencidos, pois seus persasraciocinameseexprimemcomogregos;suaslamentaçõesdeorientaisnãofazem

senãorealçaravitóriadosgregossobreuminimigomuitomaispoderoso.OtemarealdapeçaéoquepercorreaobrainteiradeÉsquilo:nãoodestinodeumherói,masaFatalidadequepesasobretodososmortais.Maisdoquecontardeformadramática um acontecimento histórico, Ésquilo introduz o espectador numuniversocarregadodeterrorreligioso,paracontemplarodramadadesmedidadeumhomem:XerxeslevouseupovoàruínaporquecaiunarededeAte,adeusaque tenta os humanos para melhor fazê-los sofrer o castigo divino. Ésquilocertamentequeriamostraraosateniensesqueépelosofrimentoquesechegaaoconhecimento, aomesmo tempoemque faziaumpanegíricodademocraciadeAtenasfrenteàautocraciapersa.Opoetafezquestãodedestacaradesproporçãodariquezapersa,damultidãosobre-humanadoseuexército,quecaiudiantedopequenobaluartedos atenienses: testemunhoàposteridadedequeumpovodehomens livres será semprecapazdevencerum impériodeescravos,dequeosdeuses,emsua justiça, favorecemsempreodireitoeamoderaçãoecastigamoorgulhoeoexcesso.

OsPersas estava intercalado, na trilogia, entreFineu eGlauco; essas duaspeças, perdidas, mostravam o rei de uma cidademarítima severamente punidopelos deuses. Ao aproximar Xerxes desses dois reis míticos, talvez Ésquiloquisessemostrarqueavitóriagregajáeradignadefigurar,daípordiante,entreasgrandeslendas.

AaçãosepassaemSusa,naPérsia,juntoaopaláciodeXerxes.PRÓLOGO-PÁRODO(v.1-139)–OsFiéis,conselheirosdoGrandeRei,estãoreunidosjunto ao palácio de Xerxes. Com o espírito cheio de presságios funestos, elesevocamapartidadaexpediçãocontraaGréciaeseperguntamoqueéfeitodoimensoexército,ausentehátantotempoedoqualnãohánotícias.Enumeramosnomesbárbarosdospovosedoschefesquepartiramelamentamasortedopaís,privado de seus homens jovens.Gemendo, angustiados, eles pressentem que aloucaambiçãodeXerxescausaráaruínadaÁsia.EPISÓDIO1(v.140-531)–EntraAtossa,viúvadoreiDarioemãedeXerxes.OsFiéis se prosternam diante dela. A rainha, angustiada, lhes relata um sonhoterrívelqueteveduranteanoite.OCorolheaconselhafazeroferendasaosdeusespara apaziguá-los. Aparece então um mensageiro com o anúncio brutal dodesastre,queprovocaumlúgubrecantodelutodosanciãos.ApedidodeAtossa,omensageirocontaemdetalhesodesastredafrotapersanaságuas,juncadasdecadáveres, de Salamina e a terrível retirada dos raros sobreviventes. Quanto aXerxes,estávivoeretornaaSusa.Stasimon(v.532-597)–OCorocantaolutodosguerreirosedoimpériopersas.EPISÓDIO2(v.598-632)–Arainharetorna,comoferendasparaseuesposomorto,

epedeaosFiéisparainvocá-loenquantoelafazaslibaçõesrituais.Stasimon (v.633-680)–OCoroentoacantosmágicosparachamarofantasmadoreidefunto.EPISÓDIO3(v.681-851)–OfantasmadeDarioapareceeperguntaàesposaoquesignificamaslamentaçõesqueofizeramvirdosInfernos.Aoserinformado,eledeploraadesmedidadofilhoeexpõeasrazõesdodesastre:oimpériopersanãodevequererultrapassaros limitesdaÁsianemcombaternomar,nematacarosgregos,pois aprópria terra luta a favordeles.Antesde retornarpara juntodosmortos,DarioanunciaumnovodesastredospersasemPlateias.Stasimon (v. 852-907) – O Coro canta o elogio de Dario, sob cujo reinadofloresceuessericoimpérioqueagorasucumbenomar.ÊXODO (v. 908-1077) – Chega Xerxes, abatido, com as vestes suntuosas emfarrapos. Num longokommos comoCoro, ele lamenta a sorte de seus bravoscompanheiroseadestruiçãodoimpério.Elespartememdireçãoaopalácionumalúgubreprocissão.

53.PodereViolência,servidoresdeZeus.(N.A.)54. A tragédia seguinte,Prometeu libertado , devia mostrar o Titã acorrentado no Cáucaso; Héracles olibertavaeelerevelavaseusegredo.(N.A.)55.ConhecemoscercadevintetítulosdetragédiasrelacionadasàviagemdanaveArgos,seusantecedentesesuasconsequências.(N.A.)56.OcorosecundáriodoscompanheirosdecaçadeHipólitosóintervémnoprólogo.(N.A.)57.AmantesdeHéraclesedeZeus,respectivamente.(N.T.)58.Responsávelpelocusteioeaorganizaçãodosespetáculosdramáticos.(N.T.)59.VimosqueFrinicojáhaviaencenadoquatroanosantesFeníciassobreomesmotema.(N.A.)

CONCLUSÃO

No século V, os atenienses consideravam os grandes poetas trágicos,especialmenteÉsquilo, como investidosdeumaautoridademoral: “Ascriançassão educadas pelo mestre-escola, os jovens, pelos poetas. Somos estritamenteobrigadosafalarumalinguagemelevada”,dizÉsquiloemAsrãsdeAristófanes(v. 1054-1055). De fato, ele utilizava um vocabulário “nobre”, uma sintaxecaótica, imagens rudes, dignas dos heróis lendários postos em cena, e queseparavamosespectadoresdarealidadecotidiana.Noentanto,querselamenteousefestejeisso,osdramaturgosatenienseschegaramemmenosdeumséculoaumteatro mais realista, dando prioridade aos personagens, às intrigas, ao lirismoindividualeatémesmoaograndeespetáculo.Agátontranspõemaisumaetapanofinal do século, inventando intrigas e isolando os cantos do coro da açãodramática.

Mas essa evolução não foi contínua: a própria estrutura das tragédias nãocessa de variar e chega a ser desconcertante, os autores buscando inventar,surpreender,mostrar seuvirtuosismo tantonoplanodramáticoquantono lírico,namaneiradeconduzircertascenastípicasoudeexplorarosgrandesmitos.AsBacantesdeEurípides,umadaspeçasmais tardias, temcaracterísticasarcaicas,enquantoA Oresteia pode parecer “moderna” sob muitos aspectos. O tom“elevado” de Ésquilo não impede que Dânaos, no final deAs Suplicantes (v.1011),sealegredequeAtenasasreceba...semfazê-laspagaraluguel!

Oquemaismarcouessasmudançasfoiautilizaçãoqueospoetasfizeramdocoro, elemento mais específico do drama e o mais importante do espetáculo.DuranteoséculoV,aimportânciarelativadoscoroslíricosedaaçãodramáticaquaseseinverteu.NatragédiafundadoradeÉsquilo,emlutacontraosbárbaros,ocoroapareceemprimeiroplanoeservedeveículoàaçãodramática.AtragédiadeSófocles corresponde ao auge do poder e da glória deAtenas e encontra oequilíbrioqueAristótelestantoapreciava:ocoronãofazavançaraação,massecomporta como um personagem distinto. Quanto a Eurípides, ele privilegia ospersonagens,nummundoemtransiçãoeemplenaderrocada:seucoro temumpapeldetestemunha,exprimindotemoresesecompadecendocomasdesgraçasdoherói.Emtodos,noentanto,ocoropurificaopoematrágico,aomeditarsobreaaçãodapeçanumaformalírica.

Assim,odesaparecimentoprogressivodocoronoséculoIVexplicaempartea própria evolução dos dramas: não há mais participação de amadores noespetáculo,o fossoentreopúblicoeosatoresgradualmente seampliou,oqueinfluenciará inclusive a arquitetura dos teatros, culminando no palco elevado e

independente, “à italiana”, que conhecemos. Seja qual for a forma do teatro,porém, tragédias de Ésquilo, de Sófocles e de Eurípides continuam sendorepresentadasnomundotodo...mesmosenãosecantamais“paraobode”.