Contribuição do açúcar a História de Alagoas
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7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
1/523
MOACIR
MEDEIROS
DE
SANTANA
CONTRIBUIO
HISTRIA
DO
ACAR
EM
ALAGOAS
MUSEU
DO
ACAR
RECIFE
1970
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
2/523
Assegura
Manuel Digues
Jnior.'
em
Prefcio,
que este
livro
traz
no
apenas
unia
contribuio para
a
hist-
ria
do acar
nas
Alagoas;
traz,
isto
sim.
toda
uma soma
de
revelaes
e
d,*
dados
ou
elementos
que
at hoje
no
haviam
sido
explorados ,
afirman-
do
que
seu
autor
havia se tornado
o
maior
conhecedor
da
histria
das
Ala-
goas, no
por ouvir dizer ou
por repe-
tir
o
que os
antigos
j
disseram, mas
por
pesquisar, investigar,
estudar,
com-
parar , ajuntando que na
modstia
de
uma
contribuio
Moacir
Medeiros
de
SanfAna
oferece
muita coisa nova,
ainda
no
dita. inexplorada pelos
que
o
antecederam
(...), indispensvel
pa-
ra
quem quer
conhecer
a
histria
das
Alagoas
naquilo
que
ainda
hoje
lhe
para
interpretao
de
seu
passado
indispensvel
e
inalienvel
de sua
formao
econmica
ou
social:
o
a-
car ou
a
cana-de-acar .
No
captulo
Variedades e
doenas
pela
primeira
vez
se
conta, e
com ri-
queza
de
pormenores, a
histria da
introduo
de
variedades
de
canas
no
Brasil,
particularmente em
Alagoas,
bem
assim
das
doenas e
pragas que
atacaram
a
gramnea.
Da
introduo
dos
instrumentos
aratrios
em
Alagoas,
bem
como
da
irrigao,
trata pormenorizadamente
O
trato
da
terra,
que igualmente
nar-
ra,
pela
primeira vez
em
trabalho
no
gnero,
a histria
das experincias
de
adubao
qumica
ali
procedidas
na
dcada
inicial do
sculo.
Braos
livres
e
escravos
discorre so-
bre
a
mo-de-obra
utilizada
na
agro-
indstria do
acar
onde,
no
passado,
a
presena
do
negro
escravo
era
uma
constante.
Tambm
historia
a
introdu-
o
do
brao
livre na lavoura
cana-
vieira,
que
em
Alagoas
ocorreu
muito
antes
do que no
Sul
do
pas,
inclusive
forada
pela escassez de
fora de
tra-
balho,
decorrente
da
exportao
de
es-
cravos, principalmente
para atender
demanda
de mo-de-obra de
So
Paulo
e
Rio
de
Janeiro,
que
a partir
dos mea-
dos do sculo XIX haviam
comeado
a
substituir
a
lavoura
da
cana-de-acar
pela
do caf.
Em
A
monocultura
da
cana-de-a-
car
vem
focalizado
este
problema,
que
se acha
vinculado
a um
outro,
o
do
latifndio.
Este
teve,
como
se sabe,
maior
incremento
com
as
usinas,
mas
o
captulo
se
refere
a documentos,
da
fase
dos
engenhos,
referentes
ao
as-
sunto,
inclusive
um
de
1826,
que
trata
dos
meios
mais
possveis
para
au-
mento
da
agricultura ,
que
vivia
en-
to
enfraquecida,
em
face
de
no
terem
os
povos
que
a
frequentam
ter-
ras
prprias
para
lavrar.
(...)
por
se
acharem
as
terras
do
termo
(Macei)
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
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CONTRIBUIO HISTRIA
DO
ACAR EM
ALAGOAS
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
4/523
Do
Autor
Publicadas:
Os
estudos
histricos
e
os
arquivos
em
Alagoas.
Macei,
1962.
A
imprensa
oficial
em
Alagoas.
Macei,
1962.
Pequena histria
da
Biblioteca
Pblica
Estadual.
Macei,
1965.
O
historiador
Melo
Moraes.
Macei,
1966.
Uma
associao
centenria
(Associao
Comercial
de
Macei) Macei,
1966-
Benedito Silva
e sua
poca
(Biografia do compositor
do
Hino
de
Alagoas) Macei,
1966.
Contribuio
histria do
acar em
Alagoas. Recife,
1970.
A
publicar:
A
imprensa
maceioense
no
sculo
XIX
(Prmio
Cidade
de
Macei
1959).
Dicionrio bibliogrfico
alagoano.
Vultos
literrios
da
provncia.
Em preparo:
Velhas
e
novas
usinas alagoanas.
O
negro
em
Alagoas.
A
Guerra
dos
Cabanos
em
Alagoas.
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
5/523
MOACIR
MEDEIROS
DE
SANTANA
DIRETOR DO
ARQUIVO
PBLICO
DE
ALAGOAS
CONTRIBUIO
HISTRIA
DO
ACAR
EM
ALAGOAS
Prefcio
de
MANUEL
DIGUES
JNIOR
INSTITUTO DO
ACAR
E
DO
LCOOL
MUSEU DO
ACAR
RECIFE
1970
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
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7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
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SUMARIO
Prefcio
Nota
Introdutria
Primeira
Parte
FUNDAMENTOS
HISTRICOS DA ECONOMIA ALAGOANA
I
Exportao:
primeiros
tempos
II
Comrcio estrangeiro
em
Alagoas
III
Pecuria
IV
Algodo:
cultivo
e
indstria
V
Indstria
de
construo
naval
Segunda
Parte
A
CANA-DE-ACAR
EM
ALAGOAS
I
Variedades
e
doenas
II
Um
novo
mtodo
de
plantio
III
O
trato da
terra
IV
Braos livres
e
escravos
V
A
monocultura
da
cana-de-acar
Terceira
Parte
O
ACAR
EM
ALAGOAS
I
Engenhos
II
Progresso
tecnolgico
III
A
decadncia
do
engenho
IV
Engenhos
centrais
e
usinas
V
Os
Mornay
em
Alagoas
Bibliografia
ndice
remissivo e
de
assuntos
ndice
Onomstico
ndice
dos
quadros
e
anexos
-
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-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
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ABREVIATURAS
usadas
nas
referncias
bibliogrficas
Peridicos
AIN
Auxiliar
da
Indstria
Nacional
(O)
BA
Brasil
Aucareiro
BIJN
Boletim
do
Instituto
Joaquim
Nabuco
de
Pesqui-
sas
Sociais
DC
Desenvolvimento
&
Conjuntura
ES
Estudos Sociais
JA
Jornal
de
Alagoas
JAG
Jornal
do
Agricultor
RA
Revista Agrcola
RAPA
Rev.
Arquivo
Pblico
Alagoas
RAPP
Rev.
Arquivo
Pblico
(Pernambuco)
RBM
Rev.
Brasileira
de
Municpios
RIAGP
Rev. Inst.
Arqueolgico,
Histrico
e
Geogrfico
Pernambucano
RIHA
Rev.
Instituto
Histrico
de
Alagoas
RIHGB
Rev. Inst. Histrico e
Geogrfico Brasileiro
Corresp.
ativa do
Governo
da
Provncia Alagoas
(mss)
LAI
Autoridades
do
Imprio
LAP
Autoridades
da
Provncia
LGM
Governadores
Militares
LM
Ministrios
LMGE
Ministrios
da
Guerra
e
dos
Estrangeiros
LMI
Ministrio
do
Imprio
LMIA
Ministrios
do
Imprio
e
da
Agricultura
LMJ
Ministrio
da
Justia
LMRI
Ministrios
do
Reino
e
do
Imprio
LRA
Reparties
Arrecadadoras
LRP
Reparties da
Provncia
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
10/523
Corresp.
passiva do
Governo
da Provncia
Alagoas
(mss)
AA
Abaixo-assinados
AE
Autoridades
Estaduais
AF
Autoridades
Federais
ALF
Alfndegas
ALG
Algodo:
sua inspeo
ALP
Assembleia Legislativa
Provincial
AP
Autoridades
da
Provncia
ARJ
Avisos
Reservados
da
Justia
ARPB
Agncias
de
Rendas
em
Pernambuco e
Bahia
AS
Associaes
CD
Comandantes
de
Destacamentos
CDI
Corpo
Diplomtico
CL
Colnia
Leopoldina
CM
Cmaras
Municipais
CO
Comandantes
de
Ordenanas
CP
Capitania do
Porto
CPO
Chefe
de
Polcia
CROP
Corresp.
da
Repartio
de
Obras
Pblicas
Liv.
Registro
DE
Diversos
do
Exterior
DP
Delegados
de
Polcia
EFA
Estrada
de
Ferro
Alagoas Railway
ENG
Engenheiros
da
Provncia
JF
Junta
da
Fazenda
JM
Juzes Municipais
JP
Juzes de
Paz
MAA
Ministrio
da Agricultura.
Avisos
ME
A
Ministrio
dos Estrangeiros.
Avisos
MFA
Ministrio
da
Fazenda.
Avisos
MIA
Ministrio
do Imprio. Avisos
MJ
Ministrio
da
Justia. Avisos
MMA
Ministrio
da
Marinha.
Avisos
MN
Ministrios
OP
Obras
Pblicas
PP
Presidentes
de
Provncia
RM
Regimento
de Milcias
TF
Tesouraria
da
Fazenda
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
11/523
PREFACIO
Do
muito
que
j
se
tem
escrito
sobre
o
acar
ou a
cana
de
acar
no
Brasil
ou,
em
particular,
no
Nordeste,
histria
ou
sociologia,
folclore ou
poltica, ecologia
ou
geografia,
se
poderia
deduzir que
tudo
j
estava
dito.
Poderia
deduzir-se,
mas
no
verdadeiro.
Muito se
tem
repetido;
o
que os
primei*
ros
cronistas
disseram
se vem repisando
pelos
tempos
afora.
O
que historiadores disseram,
no
sculo
passado
ou
neste, con-
tinua sendo dito e
repetido.
A histria, neste
campo
o
do
acar
ou
da
cana
de
acar
nada
renovou.
Quer
dizer,
nada
acrescentou de
novo. Interpretao
sociolgica
acerca do
acar,
e
seu
papel na
formao
da
sociedade
brasileira,
ou
da
nordestina,
em
especial,
tambm
tem sido
quase
repetida.
De
novo
pouca
coisa se
acrescentou.
Por que? Claro
que
a
pesquisa
no
Brasil ainda
engatinha;
documentos,
papis, relatrios,
correspondncia
dormem
serena-
mente
nos arquivos.
Se as
traas
no
os
destroem,
so
esque-
cidos
nas gavetas. E
o
que
pior
quanto no
j
foi
vendido
a quilo? ou dado
a
amigos que
fizeram
coleo de
autgrafos
ou
separaram coisas curiosas
ou
pitorescas,
botando
o resto
fora?
Quanta coisa no h, nos
arquivos, nos
cartrios,
aguardando
seja
descoberta para
refazer
as
histrias
contadas
at
hoje
Quanta
coisa
no
surpreenderia retificando o
lugar
comum, comumente,
semcerimonio
smente,
repetido
Do
sculo
XIX, em
particular,
est quase
tudo
por
escre-
ver.
E quero
esclarea-se logo
referir-me
to s
ao a-
car ou
cana
de
acar, em
sua
dimenso
histrica,
sociolgica,
ecolgica,
e
no
apenas econmica.
Poderamos
dizer
simples-
mente
em sua
viso
histrica.
E
seria
o
bastante. Histria
a
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
12/523
compreendemos
aqui
no
sentido
mais
amplo
possvel:
o
material
indispensvel, a
fonte
irrecorrvel,
para
se
interpretar
sociolo-
gicamente
ou
economicamente
ou ecologicamente o
fato.
No
caso,
o
que
se
passa,
ou se
passou,
com
o
acar.
Ainda
no
se
explorou
devidamente
o
que
h de
precioso
e
continuamos
a nos
referir
to
s
ao
sculo XIX
como
informao,
como
fato,
como
documento,
nas
falas
ou
rela*
trios
presidenciais
das
Provncias.
Relatrios
de
Inspetores
de
Higiene ou de
Instruo ou
de
Obras.
Correspondncia
con-
sular ou
entre
os
governos
provinciais
e os
ministrios.
Corres-
pondncia
de
outra
natureza
tambm
guardada
em
arquivos,
igualmente.
Pouco ou
nada
tem sido
explorado
este
material
de
sentido
histrico, imprescindvel
para
reconstituir
o
passado
novecentista do
Brasil.
E
que
mundo
de
coisas
a
se
encon-
traria: as
falas
ou
relatrios
presidenciais
so
um
manancial,
quase
ainda virgem, apenas
aqui
ou ali tocado,
aqui ou ali uti-
lizado
e
explorado.
E nessa documentao,
fixando
o
quase
dia-a-dia da
administrao
tais
falas
ou
relatrios
so
cons-
tantes
porque
o
presidente
ao
deixar a
administrao
fazia
o
seu
relatrio
h
informaes
e
elementos capazes
de
contri-
buir
para toda
uma reconstituio
hoje histrica.
Se
ainda
h
muito
que pesquisar,
que
investigar nos
ar-
quivos,
que
rebuscar
nessas
falas''
presidenciais,
de
louvar
os que
vo
enfrentando
as
dificuldades
e
procurando
o
que
h
nos
arquivos.
O
caso,
por exemplo,
desse moo
que
hoje
traz,
com
este
livro,
no
apenas
uma
contribuio
para
a
histria do
acar
nas
Alagoas;
traz,
isto
sim,
toda
uma
soma
de
revela-
es
e
de dados
ou
elementos
que
at hoje
no haviam
sido
explorados.
Moacir
Medeiros
de
Sant
9
Ana um pesquisador
nato;
nato
e,
sobretudo,
honesto.
E
se
tornou
hoje
descul-
pem a
franqueza
os mestres
o
maior conhecedor
da
histria
das
Alagoas,
no por
ouvir
dizer
ou por repetir
o
que
os
antigos
j
disseram,
mas
por pesquisar,
investigar,
estudar,
comparar.
O
que,
alis,
faz
neste
volume,
que
tenho a
honra
de
apre-
sentar,
com
a
satisfao de
quem
j
teve
e
bem sei
as
difi-
culdades,
grandes
e
quase
intransponveis
dificuldades
a
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
13/523
pachorra
de pesquisar
sobre
os
velhos
bangiis alagoanos, pro-
curando
dar uma
contribuio
que
representou
o
primeiro
estu-
do
srio acerca do engenho
de
acar
e
por
extenso,
de
todo
o
acar
no
passado
das
Alagoas:
em sua
histria,
em
sua
sociedade,
em
sua
poltica,
em
sua
atividade cultural.
Na
modstia
de uma
contribuio
traz Moacir
Medeiros
de SanfAna elementos novos,
arrancados
de
velhos documentos
do
Arquivo
alagoano,
para
informar muita
coisa que
se
igno-
rava. Para
dizer
muita
coisa de
que mal
se
tinha
notcia.
Para
aclarar
muitos
pontos
at
ento
em
dvida.
Muito
do que
eu
no
pude
dizer,
em
O
bang
nas
Alagoas,
justamente
pela
carncia
no
caso, mais
pelo
desconhecimento
das
fontes,
pde
ele
agora
revelar
e
informar
.
O
que
se
denomina
modes-
tamente de
Contribuio
se
transforma num estudo
que
j
se
torna
indispensvel
para
o
conhecimento
do
passado
aucareiro
das
Alagoas,
revelando-nos
fatos
e coisas mal
entrevistos,
e
quase sempre
no
registrados
at
agora.
Do
que
se
pode
dedu*
zir,
consequentemente, a
importncia
deste
volume.
Claro que um
historiador
no
faz,
por
si
s,
uma
histria.
Histria
se
escreve
pelo
trabalho
continuado das
geraes.
Varnhagen
estaria
incompleto sem
as
notas
que
Capistrano
e
Rodolfo
Garcia
lhe
acrescentaram.
Um
historiador
ergue
os
alicerces,
os primeiros
muramentos; outros
vm seguidamente
lhe
acrescentar
os
andaimes, levantar
os
andares
e
as
paredes.
E no raro
nesta
tarefa
que
complementa
precisa
revisar
o
que
foi
feito
antes.
o
trabalho
da
pesquisa,
continuado, ininter-
rupto,
insubstituvel
. Muitas
vezes
o
historiador
v apenas,
num
documento,
um
aspecto
ou
uma
informao
que,
no
momento^
lhe interessa
de
maneira
quase
exclusiva. Outro
explora,
de-
pois,
o
mesmo
documento,
e da
tira ovos
elementos,
s
vezes
um
fato
inesperado,
uma interpretao distinta
da
anterior.
Assim
tem sido,
neste
contnuo
de
reviso
histrica,
o
trabalho
dos
historiadores,
na
sequncia
do
tempo,
atualizando-se
o
que
foi
dito, no
raro
retificando
e
reformulando,
muitas vezes com-
pletando
o
que
os antepassados
disseram,
no
legado
decerto
sem-
pre
valioso
e
indispensvel
do
que
deixaram
escrito.
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
14/523
Na
histria
a
tarefa
da pesquisa
ininterrupta.
Nenhum
historiador
pode
considerar
sua
obra completa. H
sempre
um
elemento a
descobrir, a encontrar,
que
retifica
ou
aclara
o
dito
anterior.
De
modo
que
as
contribuies
so
sempre
recebidas
como
qualquer
coisa
que vem,
se no atualizar,
ao
menos
escla-
recer o
que
ficou
no tempo passado.
No caso
deste estudo
de
Moacir
Medeiros
de
Sant'Ana
no se trata
de contribuio ape-
nas com
esse
fim
ou
por
isso;
ao
contrrio:
contribuio
que
traz muita
coisa nova, ainda
no
dita,
inexplorada
pelos
que
o
antecederam.
como
uma renovao,
mais
que
uma
reviso,
acerca do acar nas Alagoas.
Veja-se, por
exemplo,
que
o
autor
no
explora
a
temtica
clssica
da
histria
tambm
clssica:
vir
cronologicamente
refe-
rindo os
fatos,
reconstituindo
os
acontecimentos.
Moacir
Me-
deiros
de Sant
9
Ana pega
certos aspectos
da
cultura
da
cana
ou
da
indstria
do
acar
e os
situa,
na
viso
histrica,
no
quadro
de
nossa
formao
econmica
ou
de
nossa
vida
societria.
No
se
apegou
cronologicamente
aos
fatos
nem
se
preocupou
com
datas
e
nomes, muito
embora datas
e
nomes apaream
muitas
vezes,
e
com uma
considervel
importncia,
pela
prpria natu-
reza
dos
temas
abordados.
No
se preocupou
com
perodo
co-
lonial
ou
imperial;
nem
com
a
sequncia
administrativa.
O
que
o
preocupou
foram
os
fatos,
possveis
de serem
arrancados
dos
documentos, em sua
extraordinria
maioria
ainda
inditos
ou,
pelo
menos,
desconhecidos
do
grosso
pblico,
e os
interpretou,
Deu-lhes
a
vestimenta do
historiador,
e
os trouxe
colao
his-
trica; tirou-os
do
esquecimento
e
lhes
deu
a
colocao
que
na-
turalmente
lhes
cabia
no
processo
histrico
da
economia
au-
careira
.
S este
dizer
se
me
afigura
suficiente
para
mostrar
a
im-
portncia
deste
volume
modestamente
apresentado como
uma
contribuio.
Se contribuio,
,
de
fato,
uma
contribuio
j
hoje
indispensvel para quem
quer
conhecer
a
histria das
Alagoas
naquilo
que
ainda
hoje
lhe
para interpretao de
seu
passado
indispensvel
e inalienvel
de
sua
formao
eco-
nmica
ou
social:
o
acar,
ou
a cana
de
acar.
Pois no
se
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
15/523
pode
falar
em
histria das
Alagoas
sem
referir o
acar;
no
se
pode
escrever
o
passado
econmico ignorando
a
presena
do
acar;
no se
pode
descrever
a sociedade
colonial
ou imperial
sem
lig-la
ao
domnio
do
acar;
enfim,
no se
pode
ignorar,
na
histria
das
Alagoas,
qualquer
a
dimenso que
se a
estude
ou a interprete,
esta
presena
imperial,
soberanamente
domi-
nante, quase
absorvente, como
o
prprio massap
da
terra
que
alimentou os
canaviais:
a do
acar,
desde
a prtica
agrcola
no
que
se
refere
cana
de
acar,
at
industrializao
ou
ao
comrcio, no
que
diz respeito
ao
acar.
So
dois
aspectos
o
da agricultura
e o
da
indstria
a
que
o
Autor d natural
importncia.
E no
poderia
ser
dife-
rente.
Da
agricultura
aborda
o
Autor
alguns
temas
realmente
pouco explorados
at
agora,
mas
que, na
histria
da
sociedade
canavieira,
tem
uma
posio importante
pelo
que
refletem
na
produo.
De um lado,
os
temas relacionados
com a tcnica
agronmica
que,
em
geral,
tem
sido
esquecida:
as
variedades
de
cana, os mtodos de
plantio,
o
trato
da
terra;
do
outro
lado,
o
que
se
refere
ao
elemento
humano,
ou seja,
o
homem que
trabalha
a
terra,
e
o
exclusivismo
da
lavoura,
criando
os
natu-
rais
problemas
sociais e econmicos
decorrentes
da
monocultura.
Como velho
e
quase
aposentado
pesquisador
de
assuntos
aucareiros,
creio
ser,
neste
estudo,
a primeira
vez
que
vejo
contado
o
que
se
refere
a
variedades
de canas
e
sua
introduo
no
Brasil.
O tema
no
tratado
apenas
quanto
s
Alagoas;
Moacir
Medeiros
de San?
Ana estendeu-o
ao pas, em seu todo.
Parece-me, a
esse
respeito,
trabalho
originalmente
nico,
pois
descreve
a
introduo
de
variedades de
cana no Brasil, utili-
zando
uma
documentao
at
ento
inexplorada. Talvez
o
mesmo
se
possa
dizer
quanto a
pragas
e
doenas
na cana
de
acar
.
No
que se
refere,
especificamente,
indstria,
no
apenas
aborda
o
que trata
das
tcnicas
de
produo
os
engenhos,
a
tecnologia,
os
engenhos
centrais e
as
usinas,
como
tambm
estuda
a
contribuio
que
para
melhoria da tcnica
deram
alguns
especialistas.
De
modo
particular
refere-se
aos
Mornay,
cuja
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
16/523
presena no
Nordeste
foi
expressiva
no
fomento
da
economia
aucareira.
Ingleses
de
origem
francesa,
fixaram-se
na
regio
o
pai
e
trs
filhos
e
a
se tornaram
uma
famlia,
da
qual
o
ento presidente
da
Provncia
das Alagoas,
Souza
Carvalho,
em
1862,
podia
dizer:
cuja
inteligncia
e atividade
se
tm
exercido
de
modo
utilssimo
ao
progresso
do
Brasil .
Dessa
referncia
do
ofcio
presidencial
se pode deduzir
que
se trata
realmente
de
especialistas
com contribuies
de
mrito
para
a
economia
do acar nas
Alagoas.
Dos
Mornay,
alis,
pouca
coisa
se
sabia at agora;
e
muita
coisa
nos
revela
o
estudo
de
Moacir
Medeiros
de San?
Ana.
Outro
aspecto interessante,
que
me
parece
tambm
pela
primeira
vez
revelado
e
j
agora
no
que toca
ao
aperfeioa-
mento
do
processo
tecnolgico
o
que trata
da
introduo
do
engenho
a vapor nas
Alagoas.
Com
base em
referncia
encontrada em
relatrio
presidencial,
havia
eu
informado,
em
O
bang
nas
Alagoas, uma
certa
data
para
a
introduo
do
vapor nos engenhos alagoanos.
J
agora, utilizando
informa-
es
de um documentrio
de
natureza
policial ,
Moacir
Me-
deiros
de San?Ana
pde
recuar
esta
data:
o
primeiro engenho
a
vapor
funcionou,
realmente,
cinco anos antes
do
que havamos
eu
e
igualmente outros
autores
acreditado,
ou seja
em
1846,
no
engenho Vrzea
do
Souza,
em Camaragibe.
Se
nestas duas
partes
a da
agricultura
e
a
da inds-
tria
h
toda
uma contribuio
nova
para
conhecimento
do
assunto
tratado,
no
menos se
pode dizer
da
primeira parte,
de-
dicada
ao
conhecimento
histrico
da economia
aucareira,
no
que particulariza
o
comrcio,
a
presena
da
pecuria
e
do
algo-
do em
suas relaes
com
o
acar,
os
preos,
enfim
o
quadro
que,
a
partir
da emancipao
das Alagoas,
em
1817,
caracte-
riza
economicamente a
histria
do
acar
na ento Provncia
e
hoje Estado.
Porque
justamente
este
perodo
que
o
Autor
toma para seu estudo:
o
que
se
inicia com a emancipao
das
Alagoas.
Quando
Alagoas
comea
a
governar-se
diretamente,
autnoma
e
livre,
com
a
iniciativa
de
seus
prprios
filhos.
Os
aspectos
histricos
desses
captulos
no se
situam
numa
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
17/523
enumerao
cronolgica
de
datas
ou
de
fatos; os
temas
focali-
zados
referem-se
especificamente
ao
processo
econmico,
visto
justamente
em
sua
dimenso
histrica,
e
partindo
da
anlise
de
documentos,
oficiais
em
sua
maioria,
atravs
dos
quais
ressurge
toda
a
histria
do perodo.
E
a
est
outro
aspecto
que
merece
ser
salientado
neste
livro:
o da
documentao
utilizada.
Moacir
Medeiros
de SantAna
utiliza
fontes,
em sua
quase
exclusividade,
inditas.
So
documentos
de
um
arquivo que
deve
a ele
mesmo
sua
prpria
ressurreio:
o
arquivo
do
Esta-
do.
Eram
documentos
papis
oficiais,
correspondncia
mi-
nisterial,
ofcios
consulares,
enfim
fontes
ainda
inditas
que
viviam
abandonados,
esquecidos, ofertados
gratuitamente
s
traas.
le
conseguiu
o
milagre
de
recuper-los,
de
organiz-
los, de
agrup-los;
e
principalmente
o
de
estud-los
e
analis-
los,
interpretando,
com
eles,
uma
fase
bem
larga
da
histria
alagoana naquilo que lhe
,
do
ponto
de vista
econmico,
funda-
mental:
a do
acar.
Pois
o
Arquivo
Pblico
de Alagoas
o
que
graas
a
Moacir
Medeiros
de
SanfAna.
Seria
este
o
melhor
elogio
que
se
lhe poderia
fazer,
se
seu
trabalho,
de
fundo
em grande
parte
material
o
da
recupe-
rao e
o da arrumao
desses
documentos
preciosos, mas
at
ento
esquecidos
no
tivesse
sido
completado
pelo de
car-
ter
intelectual:
o
do
aproveitamento, por
le
prprio,
do
que
se
refere
economia
aucareira.
O
que
constitui um
verda-
deiro
chamado
aos
historiadores
e aos
cronistas das Alagoas
para
que
corram
a
esse
manancial,
que
o
utilizem, que
o
ex-
plorem,
e
que assim
possam
dar,
aos
quadros da
histria
ala-
goana,
uma
reconstituio mais
autntica, na
caracterizao
dos
fatos
luz
dessa
documentao,
quase
toda
indita, conse-
quentemente
original
e
quase virgem
para
ser
devidamente
es-
tudada
e
interpretada. Estudo
e interpretao
da histria
ala-
goana,
que
est
reclamando
se
faa
com a maior urgncia.
Contudo,
suas
pesquisas no se
restringiram
s
fontes
en-
contradas nas
Alagoas. Outros
arquivos,
sobretudo no Rio
de
Janeiro
e no
Recife, foram
investigados.
Tambm
a muita
coisa
foi
encontrada e
revelada,
com
o que
o
Autor
levantou,
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
18/523
de
fato,
um
acervo
de
informaes
rico
e
variado. Foram,
porm, as
fontes
do
Arquivo Pblico
de Alagoas sua
base
principal,
em
especial
porque
quase
totalmente ainda
inexplo-
rado.
E
quase
mesmo
perdido, pelo
descuido
com
que,
duran-
te
muitos
anos,
foram
tratados
os
documentos ali
reunidos.
Creio que
este
,
afinal
de
contas,
um outro
mrito
dessa
Contribuio
:
o
de
abrir
perspectivas para
novos estudos,
com
base
na documentao
que
o
Arquivo
Pblico
oferece ao
pes-
quisador,
historiador ou cronista,
que
queira investigar
o
pas-
sado
alagoano.
No
s do
ponto
de
vista
econmico,
a con-
tribuio
do
algodo,
da
pecuria,
o
papel da
administrao
pblica, os
problemas
de
educao,
de sade pblica,
de
ini-
ciativas
tecnolgicas
;
tambm na
paisagem
humana
regional,
a
presena
de
estrangeiros,
a
vivncia
social, as
relaes
de
tra-
balho
numa
sociedade
escravocrata,
a
implantao
do trabalho
livre.
Tudo
isso,
acredito,
proporcionar
ao
pesquisador
novos
elementos
para estudo e
interpretao
do
passado alagoano,
sobretudo
a
partir
do sculo
XIX.
Sculo
repita-se
de
importncia
considervel
na
vida alagoana,
como,
de
resto,
na
de todo
o
Brasil, mas
ainda
no
devidamente
pesquisado
e
estudado
de crer
que as
pistas
aqui
indicadas,
em
documentos
ainda
no explorados,
tero
oportunidade
de abrir
novos
aspec-
tos para
estudo
do
passado
alagoano
.
o
que
se
pode
deduzir
da
leitura
dessa
Contribuio
que,
com
nome
to
modesto
e
to simples,
representa,
na
realidade,
a abertura
de
novos
co-
nhecimentos
na
histria
alagoana
no
que
esta
tem
de
particular
ligao
e
ligao
to
ntima,
to
constante,
to
definidora
com
a economia
do acar.
Rio
de
Janeiro,
julho
de
1969.
MANUEL
DIGUES
JNIOR
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
19/523
NOTA INTRODUTRIA
Em
1986
o
engenheiro-agrnomo
Evaldo Inojosa. ento
Presidente
do
Sindicato
da
Indstria do Acar,
no
Estado
de
Alagoas,
nos
formulou
convite
para
a
elaborao
de uma
histria
do acar
em
nosso
Estado.
A
17
de agosto
do
citado
ano,
em
correspondncia
diri-
gida
quele Presidente, frisamos o
quanto
seria
difcil
a
obten-
o
de
documentos
bsicos
destinados
elaborao
do
pre-
tendido trabalho, haja
vista
o
desaparecimento
dos
arqui-
vos
das
entidades
s
quais
sempre
estiveram
ligados os
pro-
blemas
da
agro-indstria
do
acar
em
Alagoas,
a
exemplo
do
Comcio
Agrcola do Quitunde
e
Jetituba
(fundado
em
23
de
maio
de
1375)
; da
Sociedade
de Agricultura
Alagoana
(instalada a 23
de
maro
de
1904)
;
da
Comisso
de
Vendas
dos
Usineiros
de
Alagoas
(instituda
em outubro
de
1933),
para
n^o
falar
no
documentrio
dos
antigos engenhos
e
usi-
nas
e outros
rgos
que
tiveram estreita
ligao
com
a
la-
voura
canavieira alagoana, privando assim
os
estudioso: i
histria
regional
de
documentrio
insubstituvel.
Mas
ao
dirigirmos
a
aludida correspondncia
de
17
de
agosto
j
nos
encontrvamos
a
braos
desde
o
incio
do
ano
com as
pesquisas
para
o
preparo
de
um
estudo
acerca
da
Asscciao
Comercial
de Macei,
para ser
divulgado
no
centenrio
de
sua instalao,
a
7
de setembro
do
mesmo
ano,
cuja
histria, logo
ao
iniciarmos
as investigaes,
compro-
vamos entrelaar-se
intimamente
corn
a do
acar e
do al-
godo
em Alagoas.
Principalmente
a
do
acar,
que
tem
sempre
constitudo
o
termmetro
das
finanas
do
Estado.
Dada
a
exiguidade
de
tempo
evolumos
para
a
ideia da
reconstituio tanto
quanto
possvel
completa
e
exata da
capital
maceioense naquele
longnquo ano
de
1866,
quando
a
Associao
Comercial de
Macei surgiu,
seguida
de
um
his-
trico
dos
seus
primeiros
anos
de
funcionamento,
reservan-
do
para
posterior
trabalho
os
informes relativos
agro-inds-
tria
aucareira
alagoana.
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
20/523
20
MOACIR
MEDEIROS
DE
SANTANA
Pudemos,
ento,
aquilatar
a
importncia
do acervo
do-
cumental
do
Arquivo
Pblico
de
Alagoas,
que
a
incria
ou
desinteresse
de
certos
governantes
no foram
suficientes
paia
destruir,
e
que
viria depois servir
de
base fundamental
ela-
borao
deste
estudo.
No
ser,
pois,
exagero
afirmar
que sem
le
este
trabalho
no
seria
escrito.
Nos dois
anos
e
meio
que
estivemos
em
regime
de
tempo
integral
dedicado
ao
preparo deste
trabalho
as surpresas
dos
achados
de
relevncia cresciam
medida
que avanam
as
nossas
pesquisas
de
mxima amplitude,
efetuadas
numa
m-
dia
de
12
horas
dirias.
(*)
Estas
investigaes, porm,
no
se
restringiram
Pro-
vncia.
Durante
os
meses
de
julho
e
agosto
de
1967
estive-
mos no
Rio
de
Janeiro, onde empreendemos pesquisas,
igual-
mente
em jornadas de
12
horas, nas
bibliotecas
da
Socieda-
de
Nacional de
Agricultura,
Ministrio
das
Relaes
Exterio-
res
(Itamarati),
Instituto
Histrico
e
Geogrfico
Brasileiro,
Gabinete
Portugus
de
Leitura,
na
Biblioteca
Nacional
e
no
Arquivo
Nacional.
Tambm
pesquisamos no
Recife,
nas
bibliotecas
do
Museu
do
Acar
e
do
Gabinete
Portugus
de
Leitura.
Das
investigaes
procedidas
no
Rio
de
Janeiro
resultou
a
coleta
de
preciosos
informes
recolhidos
em
antigos
peri-
dicos,
a
respeito
da
indstria aucareira no
Brasil, quase
de
todo
desconhecidos
dos
nossos
historiadores
do
acar,
ape-
nas
parcialmente
aproveitados
por
Jernimo
de Viveiros
nu-
ma
srie
de
artigos
estampados
no
Brasil Aucareiro
a
partir
de
setembro de
1944,
subordinada
ao
ttulo
O
acar atra-
vs
do
peridico
O
Auxiliador
da
Indstria Nacional .
Dividido
o
presente estudo
em
trs
partes,
a primeira
delas
Fundamentos
histricos
da
economia
alagoana
constitui
praticamente
parte
introdutria.
Se
bem
que
de
acar tratem
seus
dois
primeiros
cap-
tulos
Exportao: primeiros
tempos
e Comrcio
Es-
trangeiro em
Alagoas
,
atravs
dos quais damos
conhe-
(*)
Durante seu transcurso,
ao
lado
de
informes
pertinentes
indstria
aucareira
alagoana, encontramos
material
indito
to
extenso
quan-
to
importante,
para um
estudo
histrico
sobre O
negro
em
Alagoas,
bem
assim
para
outro,
a
respeito
da
Guerra
dos
Cabanos
em
Alagoas,
apenas
citada
de
raspo
nos
compndios
de
histria,
luta
fratricida
que
de
1832
a
1835
ensanguentou
a
zona
norte
da
antiga
Provncia,
onde
se
achava
na
poca levantado
o
maior
nmero
entre
os quais
os
melhores
dos
nossos
engenhos
de
fabricar
acar.
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
21/523
CONTRIBUIO HISTRIA DO
ACAR EM
ALAGOAS
21
cimento
da
exportao
direta
daquele
produto
para
o
exte-
rior,
desde
a
poca
da
nossa
emancipao
poltica,
bem
assim
do
monoplio do comrcio aucareiro
exercido
em Macei
por
firmas
estrangeiras,
notadamente
inglesas,
a
incluso
dos
de-
mais captulos na parte
referida
Pecuria ;
Algodo:
cultivo
e
indstria
e
Indstria
de
construo
naval
vi-
sou
antes
de tudo
a divulgao
de
material
indito,
face
sua
importncia
primordial
para
estudos
acerca
da
histria
econmica
de
Alagoas,
cuja
bibliografia
sumamente escassa.
Nas
duas outras
partes
A
cana-de-acar
em
Alagoas
e O
acar em Alagoas
,
nos
limitamos a enfocar quase
que
unicamente
a
histria
da
agro-indstria
em
nosso
Estado
a
partir
do
sculo
XIX,
mesmo
porque
muito pouco
h,
na
verdade,
a se
acrescentar
ao histrico
acerca de
seus
primr-
dios
a
respeito
dos quais
rareiam
os
documentos
,
j
minuciosa
e
magistralmente
tratados por Manuel
Digues
Jnior
em
O
bangii
nas Alagoas.
(**)
i
No
preparo
do
presente
estudo
a nossa
preocupao
maior
foi
a
de
utilizar documentos inditos. Da constitui-
rem-se
principalmente
deles
as
fontes
das
quais fizemos
uso,
todas
elas
integrantes
do
acervo
do Arquivo
Pblico
de
Alagoas
.
A parte consultada
desse documentrio,
constituda
por
cerca
de 200.000 peas, no s
nos
permitiu carrear novos
elementos
para
a
histria
do
acar
em
Alagoas, como
serviu
para
dirimir
algumas dvidas acerca
dela
existentes, corri-
gindo declaraes
inexatas,
algumas at
consagradas.
Infelizmente
no pudemos
dar ao
captulo
Engenhos
centrais
e
usinas
um desenvolvimento
mais
pormenorizado,
em
virtude
de
apenas
a
usina
Sinimbu
haver
respondido
a
questionrio
que preparamos, enviado
atravs
do
Sindicato
da
classe,
abrangendo
aspectos
histricos,
sociais
e
econmi-
cos
de
cada
uma
daquelas nossas fbricas de acar.
Tais respostas
nos
possibilitariam
apresentar
uma
viso
global
da evoluo
da
indstria
aucareira
alagoana.
(**)
J
se
achava
este
livro em
fase
de
concluso,
quando
recebemos
novo comunicado
do
nosso
prestimoso
informante
Fernando
Jos da
Rocha
Cavalcanti,
radicado
no Recife,
dizendo da
existncia de
documentrio
relacionado
com
o
assunto
que
tratamos,
levantado
ultimamente em arquivos
de
Portugal
pelo historiador pernambu-
cano
Flvio
Guerra
do
qual este
publicou
catlogo
,
material
em
parte
microfilmado para o
Arquivo Pblico Estadual de Per-
nambuco .
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
22/523
22
MOACIR
MEDEIROS
DE
SANTANA
No
poderamos
deixar
de
formular
nossos
agradecimen-
tos a
determinadas
pessoas,
a
comear
por Evaldo
Inojosa,
esclarecido
homem de
empresa,
a
quem
coube
sugerir
a
rea-
lizao
deste
livro;
a
Francisco
Oiticica
Presidente
do
Instituto
do
Acar e
do
lcool
, e a
Luiz
da
Rosa
Oiticica
Diretor
do
Museu
do
Acar
,
entusiastas das
promo-
es
culturais, sem o
concurso dos quais
no
poderia haver
esta
ido
adiante;
a
Fernando
Jos
da
Rocha
Cavalcanti,
pelas
copiosas
informaes
que nos
prestou
com
uma
solicitude
realmente
incomum
,
extradas
do
arquivo
da
famlia Ro-
cha
Cavalcanti,
principalmente
sobre
a
usina S&r-a
Grande;
ao
socilogo e
historiador
Manuel
Digues
Jnior
pelo
incen-
tivo
e
interesse
que
sempre demonstrou
pelo andamento das
medidas
preparatrias
para
a
execuo desta
obra;
a
Jos
Maria
de
Carvalho
Veras,
Diretor
do
Departamento
Estadual
de
Estatstica,
pelos
dados que nos
forneceu;
a
Tobias
Medei-
ros,
antigo
Secretrio da
Junta
Comercial
do Estado,
por
nos
haver
gentilmente
permitido
consultar
o
arquivo
daquela
entidade;
a
Nelson Tenrio, Presidente
da
Associao
dos
Produtores
de
Aca~*
do
Estado
de
Alagoas,
por haver
faci-
litado
ao
autor
a realizao
de uma parte
das
pesquisas;
Cooperativa
dos
Usineiros
de
Alagoas,
da
qual
somos funcio-
nrio
nas
pessoas
de
seus
Diretores
Osman
Loureiro,
Jos
Carlos
Correia
Maranho,
Jos Otvio Moreira Filho e Olival
Tenrio
Costa
,
que
a
pedido de Evaldo
Inojosa nos
ps
disposio
do
Sindicato
da
Indstria
do
Acar, no
Estado de
Alagoas, permitindo
assim
a
continuidade
que
exigem
os
tra-
balhos de pesquisa.
Seja-me
permitido,
por
fim,
registrar
meu
reconhecimen-
to
minha
esposa
ris
e s
minhas
filhas
Miran
e
Ftima,
bem
como
minha
sobrinha
Cludia:
a
primeira
pela dedi-
cao,
compreenso
e
estmulo
demonstrados
no
decorrer
do
preparo
deste
estudo;
s
demais
pelas
poucas
queixas
que
me
fizeram por
no
haver
eu
podido participar
intensamente
de nossos
divertimentos familiares,
durante
o mesmo
perodo.
Estendemos nosso reconhecimento
a
Abelardo
Buarque
de
Ivma, Agesislau Machado,
Carlos
de
Gusmo,
Hamilton
Soutinho,
Jos
Clvis
de Andrade,
Osman
Loureiro
e
Werther
Brando, pela
boa
vontade
com
que
nos
emprestaram
livros,
e a Jos
Casado
Silva
pela
reviso
gramatical
feita
nos
ori-
ginais
deste
estudo.
Macei,
maro
de 1969.
Moacir
Medeiros
de
SantfAna
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
23/523
PRIMEIRA PARTE
FUNDAMENTOS
HISTRICOS
DA
ECONOMIA
ALAGOANA
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
24/523
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
25/523
EXPORTAO:
PRIMEIROS
TEMPOS
A
Histria
Econmica
das Alagoas independente
come-
a
em
1819,
ano
em que
seu
primeiro
governante,
o
Tenente
Coronel
Sebastio
Francisco
de Mello
e
Pvoas,
assumiu
as
rdeas da administrao.
Oficial efetivo
de
Infantaria
adido
ao
Estado
Maior
do
Exrcito,
Mello
e
Pvoas fora
nomeado Governador
da
nova
Capitania
aos
28
anos
de
idade, pelo
prprio
decreto
que
con-
cedera
a
emancipao
poltica
s
Alagoas,
em
16
de setem-
bro de
1817.
ratificado por outro, datado
de
12 de janeiro
de
1818.
Entretanto,
somente
a
27
de
dezembro
seguinte
o
neto
do
Marqus
de
Pombal desembarcou
na
enseada
de
Jaragu,
dirigindo-se
ento
vila
das
Alagoas,
onde
no
dia
22
de
ja-
neiro
de
1819
tomou posse
do cargo
para
o
qual
fora
nomeado.
A
esse
tempo
contava
Alagoas
com
oito
vilas,
quatro
junto
a
beira mar (Macei,
Porto Calvo,
Porto
de
Pedras e
Poxim)
e
quatro no
interior
(Alagoas,
Anadia,
Atalaia
e
Penedo) .
A
sua populao
(podia) montar
a
cento
e
dez
mil
habitantes.
As suas
principais produes
(eram)
acar,
algodo, couros,
alguns
legumes
de toda a
qualidade, farinha
de
mandioca, azeite
de
mamona,
madeiras de construo na-
val
e
algum taboado de
louro
e
vinhtico . Assim descrevia
o
prprio Governador,
em 20
de
julho
de
1819,
o
estado
da
Capitania
em
exposio
enviada
ao Ministro
da
Guerra.
(1)
Correspondncia
do
Tenente Coronel
Francisco
de
Ser-
queira
e
Silva,
Comandante
de
Ordenanas
das
Alagoas, da-
tada
de
24 de maro
de
1819,
d
notcia
da
realizao
de
um
recenseamento
na gesto
de
nosso
primeiro
governante.
Atra-
vs
dela
aquele militar
encaminhou ao
Governador
da
Capi-
tania
o
Mapa
do
qual consta
o
numeramento
dos
habitan-
tes
desta
Vila
desde
o
Bomfim at
o
Tuntum
com suas
com-
petentes classificaes
de cada
uma
das
pessoas
na
forma
do
Mapa
que
por
V.
Exa. foi
enviado , bem
assim
a
Relao
que
contm
o
nmero
das
casas
de
telhas
da
Vila
das
Alagoas
e
seu
territrio,
capazes
de
habitao... ,
igualmente
rela-
tiva
quela
regio.
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
26/523
26
MOACIR
MEDEIROS DE SANTANA
Infelizmente,
anexo
quela
correspondncia
de
24
de
maro,
apenas
hoje
resta no
Arquivo
Pblico
de
Alagoas
a
citada
relao,
por
onde
se
verifica
que
existiam
naquela vila
484
casas,
das
quais 25
eram assobradadas.
(2)
A
24
de
novembro
de
1819
Mello
e
Pvoas
dirigiu-se
aos
Capites-Mores
de
todas as
vilas
da
Capitania
das
Alagoas,
pedindo o
preenchimento
de
Mapas
da
populao, exportao
e
importao
das
mencionadas vilas
e
respectivos termos,
os
quais me
dever
V.
Mc.
enviar
infalivelmente
at
o
dia
31
de
janeiro
prximo
futuro, tempo
em
que todos
os
anos
cum-
prir
igual
remessa .
(3)
De
um
mapa remetido
no ano de
1816
ao
Desembargo
do
Pao
pelo
Ouvidor
Antnio
Jos
Ferreira Batalha,
consta
o
nmero
de
habitantes
adultos
da
ento
Comarca
das
Alagoas
89.598
,
aos
quais
o
Conselheiro
Antnio
Rodrigues
Veloso
de
Oliveira,
no
Mapa
do
Arcebispado
de
Pernambu-
co
e
seus sufragneos ,
de
1819,
acrescentou 22.384
habitan-
tes,
a
quarta
parte da
populao
da
primeira contagem,
re-
ferentes
aos
menores
de sete anos;
tropa paga
e
s
mui-
tas pessoas
adultas
no
descritas .
(4)
Excessivo,
contudo,
foi
o
nmero
de
escravos consignado
naquele
mesmo
Mapa,
ou
sejam,
69.094,
mais
de
cento
e
sessenta
por
cento
da
populao
livre,
estimada
em
42.879
pessoas,
exagero
patenteado
pela
proporo
da
populao
es-
crava
dos
censos
posteriores.
(5)
Em ofcio de
11
de
maro
de
1820,
atravs
do qual o Pre-
sidente
da
Provncia das
Alagoas
encaminhou
ao
Ministro
da
Fazenda requerimento
de
Francisco
Solano
da
Fonseca,
Es-
crivo
da Casa
de
Arrecadao
dos
Direitos
Nacionais
da
Vila
de
Macei,
(*)
vamos
encontrar
preciosos informes
a
res-
peito
do crescimento
da
exportao
atravs
do
porto
de
Ja-
ragu,
sobre
a
evoluo
do
comrcio no
s
da
florescente
vila
de
Macei
como tambm
de
toda a Provncia.
Do
citado requerimento consta
que
aquele cargo
fora
criado a 14
de
abril
de 1819,
tendo
sido
nele
provido
o supli-
(*)
A
Junta
da
Real Fazenda,
criada
por Carta
Rgia
de
15
jun.
1818,
foi instalada
a 16 fev.
1819,
quando
em sesso da referida
Junta,
mandou-se
alfandegar
mercadorias de
importao.
|Liv. 112, f.
39
v,
est.
20,
do APA|.
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
27/523
CONTRIBUIO
HISTRIA
DO
ACAR
EM
ALAGOAS
27
cante
a
5
de junho
de 1820.
Ento
a
exportao
registra
o documento
era excessivamente
diminuta
e
quase todo
o
comrcio
de
cabotagem;
foi-se
aumentando
gradualmente
e,
de dez
a
doze
mil
sacos
(de algodo)
que saam
pela ensea-
da
de
Jaragu,
tem
chegado nos
ltimos
trs
anos
(1827
a
1829)
a
26
e
28
mil. Por
outro lado
acrescenta
aquele
funcionrio
alfandegrio
,
com
o
crescimento
da
vila
de
Macei,
e
estabelecimento
de
casas
inglesas,
cresceram
os
preos
dos
vveres
a
ponto
de
oferecer
grande
dificuldade
de
subsistncia.
(6)
Com
destino
a
portos
europeus
de 1819
a
1823
saram,
da
enseada
de
Jaragu,
22 embarcaes
carregadas
de
gne-
ros
de
produo local.
(7)
Em
1824,
o
primeiro
ano
aps
aquele
perodo,
e
acerca
do
qual possumos informes precisos,
daqui
zarparam
16 em-
barcaes
para
diversos
portos
da
Europa,
levando
1.028 cai-
xas,
39 barricas
e
4 fechos de acar;
13.309
arrobas
de algo-
do; 1.369
couros
e
100 meios
de
sola,
o
que
representa,
em
mdia,
mais de
200
%
de
acrscimo
no
nmero
de
navios
de
longo
curso
sados
do
ancoradouro
da
vila.
(8)
Dois
anos
depois, em
1826,
este nmero
decrescera para
10 embarcaes,
que levaram
302 caixas
de acar,
contra
426
caixas
do
ano
anterior,
sendo
que
uma
dessas
embarca-
es
se
destinara
ao
porto
norte-americano de
Boston;
em
1827
elevara-se para
22
a
quantidade
das
que seguiram
para
o
exterior;
em
1828,
para
31;
em
1829
observa-se
uma
dimi-
nuio
para
16,
e
em
1830
apenas
registrou-se
a
sada de
9
embarcaes.
(9)
Entre
os
anos
de
1831
e
1832
tudo
indica ter sofrido
au-
mento
a
exportao
atravs do
porto
de
Macei,
j
que
o
Pre-
sidente Manoel
Lobo
de
Miranda
Henriques,
em
correspon-
dncia
dirigida
ao
Ministrio
da
Fazenda,
em
setembro
de
1832,
afirmou que
ento
ali se
carregam em
diretura
para
Europa,
de 20
a
30
embarcaes .
(10)
A
despeito
de
se
achar Alagoas
encravada
entre dois
grandes
centros comerciais que
a
comprimiam
Pernambu-
co
e
Bahia
,
atravs
dos
quais
exportava
parte
da sua
pro-
duo
de
acar e
algodo,
desde cedo
a nova
Capitania, logo
depo
Is
Provncia,
comeara
a
exportar aqueles
e
outros
pro-
dutos direi
amente
para
os portos
estrangeiros.
Do
ano
de 1824
a
mais
recuada
informao
estatstica
acerca
da
exportao
alagoana para
o
exterior.
A
2
de
janei-
ro
saa de Jaragu, com
destino
a
um
dos
maiores portos
da
Inglaterra,
o de
Liverpool,
o
brigue
ingls Alice ,
carregado
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
28/523
28
MOACIR
MEDEIROS DE
SANTANA
com
746
arrobas de
algodo.
Idntico
destino demandaram
outras
embarcaes
inglesas
que
da Provncia zarparam
du-
rante todo
aquele
ano,
transportando
um
total de
13.151 ar-
robas
de
algodo,
170
caixas
de acar
e
299
couros
salgados.
Para
a
possesso
inglesa
de
Gibraltar
seguiu
o
brigue
brasileiro
Esprito Santo , em
15
de
maro, conduzindo 245
caixas
e
39 barricas
de
acar,
158
arrobas de
algodo,
1.140
couros e
100
meios
de
sola
e,
a
18
de junho
seguinte,
o
brigue
ingls James ,
com 110
caixas
de
acar.
Com
destino
ao
porto
de
Cowes,
na
ilha
inglesa
de
Wight,
no
Canal
da
Mancha,
levou
o
brigue
Traves , em
11 de
maio,
334
caixas e
4
fechos
de
acar.
Trieste,
porto
da
Itlia,
foi
o
destino
do brigue
ingls
Meridian ,
zarpado
em
16
de
setembro,
levando
a
bordo
169
caixas
e
4 fechos
de
acar.
(11)
Em
outra
fonte
documental
fomos encontrar informe
in-
teressante:
o
da
exportao
de 800
cocos,
para
Liverpool,
ao
que
tudo
indica
um
dos primeiros
embarques
de
tal gnero,
levados
pelo
brigue
ingls
Union ,
sado
de Jaragu
em
7
de
fevereiro
de 1826.
(12)
Do Livro
de
registro
de
termos
de sada
de
embarcaes
do
porto
de
Jaragu,
do
perodo
de
1825
a
1837,
(13)
extra-
mos
os
informes
utilizados
no
quadro
da
pgina
seguinte.
Destinado
a
Hamburgo,
a 7
de
julho de
1844 saiu do
porto
de
Jaragu
o
brigue
Emma ,
tripulado
por
nove
pes-
soas, levando
carregamento
de
acar.
(14)
Como se
verifica,
para
vrios
portos
do
Imprio
Britni-
co
(Londres,
Liverpool, Falmouth,
Cowes, Alexandria e
Gi-
braltar),
exportvamos
algodo,
acar, pau-brasil,
couros
salgados,
meios
de
sola
e
coco; para
a
Blgica,
acar
e algo-
do;
para
alguns
portos
dos
Estados
Unidos
da
Amrica do
Norte
(Boston,
Filadlfia
e Nova
Iorque),
acar
e
couros
salgados; para
Hamburgo,
na
poca
cidade livre,
mandva-
mos acar;
para
Trieste, ento
pertencente
ustria, igual-
mente acar
e,
finalmente,
para Portugal
(Lisboa
e
Alco-
baa),
este ltimo
produto
e
mais
algodo,
couros
salgados,
madeira
de marcenaria
e
aguardente.
O
incipiente
comrcio
dos
primrdios
da
Capitania
das
Alagoas era
constantemente
embaraado
pelos
corsrios.
No
dia
4 de
setembro
de
1819
a
sumaca So
Joo
Diligente ,
comandada
pelo
mestre
Joo
Batista
Pereira
e
de
proprie-
dade
de
Antnio
Jos
Teixeira,
da
Praa
da
Bahia,
foi
abor-
dada nas
costas
alagoanas,
entre
o
Peba
e
Coruripe,
por uma
escuna
com
bandeira
norte-americana,
armada com
duas pe-
-
7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
29/523
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7/24/2019 Contribuio do acar a Histria de Alagoas
30/523
30
MOACIR
MEDEIROS DE
SANTANA
as
calibre
seis,
duas
pequenas
coronadas de
pio
proa
e
quinze
homens
de
tripulao.
Da
equipagem e
passageiros
da
sumaca
foi
tomada toda
a
roupa
e
dinheiro, alm
dos
mantimentos,
inclusive
uma
caixa de
acar, e
lanados
ao
mar
seis
sacos
de
algodo.
Relatando
o
acontecido
ao Conde
de Palma,
Governador
da
Capitania
da
Bahia,
o
Governador das Alagoas pediu
um
cruzeiro
sobre estas
costas , nica
providncia
capaz
de
im-
pedir
a
ao
dos
piratas.
(15)
Os
corsrios
viviam ento
rondando
as
costas
alagoanas,
tanto assim que
em
outra
participao
dirigida
ao
Governa-
dor da
Capitania
de
Pernambuco, Pvoas
d
notcia
de
dois
deles
que
navegavam
to perto
da
terra,
que tm sido vistos
de
vrios
pontos
dela (Provncia)
.
(16)
Em
abril
de
1820
eram
tantos que o
governante
das
Alagoas declarou
que,
ten-
do
de
sair
em
comboio,
do
porto
de
Jaragu
para
o
da
Bahia,
algumas
embarcaes mercantes que estavam
carregadas,
no
se
animava
a
ordenar
a
sada debaixo
s da salvaguarda do
brigue de guerra
Escuna Real ,
ao
servio desta Capitania
por
ordem
da
Corte,
por
ser
fora
muito
inferior
dos
refe-
ridos corsrios ,
razo pela
qual pediu
a
remessa
de
um
dos
vasos
de
guerra
estacionados
na
Bahia,
para
reforar
o
men-
cionado
comboio.
(17)
A
11
de
junho
de
1820,
na
altura
da chamada Barra
da
Lagoa,
a
galera Thelemaco ,
de
que
era
mestre
Antnio
Pereira Osrio,
foi tomada por um bergantim
pirata,
armado
com
quacorze
coronadas
de
doze
e
duas
peas
de
dezoito,
com
uma
tripulao de cerca de 80
homens,
norte-americanos
ou
ingleses, que
conservou
a
bordo
a
tripulao
de
sua
presa
por
trs
dias,
abandonando-a
depois
em
uma lancha
sem lerne
nem
remos,
mas
que assim
mesmo
deu
costa
alagona.
(18)
Os
ousados
corsrios
chegaram
ao
cmulo
de
atacar
as
embarcaes fundeadas
em
Barra Grande.
O
Governador
Pvoas
mandou
ento
postar
em
cima
de
um estrado,
naquele
local, duas
peas de
calibre
12,
com
seus
reparos
e
compe-
tente
palamenta, onde ainda
se
achavam
no
ano
de
1822.
(19)
Em
1854
a
exportao
de
maior
vulto
na
provncia
era
a
do acar e
a do
algodo;
a
importao,
a
de
fazenda
e
g-
neros,
na
maioria
estrangeiros,
feita
uma
e
outra
por
inter-
mdio
das
Provncias
de Pernambuco
e
Bahia .
As
transaes
comerciais
com
o
estrangeiro
eram
mais
-
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CONTRIBUIO
HISTRIA
DO
ACAR
EM
ALAGOAS
31
de
exportao
do
que de
importao,
sendo
raros
os
navios
estrangeiros
que
trazem
fazendas
para
a
Alfndega
de
Ma-
cei, o que
tem
causado
alguma
decadncia
no
fraco
comr-
c
:
.o
desta
Provncia.
(20)
Tal
estado
de
coisas
somente
viria
melhorar
no
fim
da
dcada
de
70,
precisamente
a
partir
de 13
de dezembro
de
1373,
com
a
inaugurao
da
navegao
direta,
regular,
para
os
portos
do
Velho
Continente.
REFERNCIAS
BIBLIOGRFICAS
(1)
LMGE.
1819/33,
liv.
115,
est.
20
(2)
CO.
1819/21, mao
6,
est.
9.
(3)
LAP.
1819/25,
f.
123,
liv.
110,
est. 20.
(4)
OLIVEIRA,
Antnio Rodrigues
Veloso de.
A
igreja
do
Brasil
RIHGB.
Rio, I
o
trim.
1866,
p.
159.
(5)
COSTA,
Craveiro.
Os
inquritos
censitrios
em Alagoas.
RIHA
Macei, ano
53,
v. X,
1925,
p.
73.
(6)
LAI. 1828/35,
f.
25,
liv.
122, est. 20.
(7)
MFA.
1821/36
(Representao
da
Cmara
da Vila
de Macei,
de
5
jul. 1823,
anexa
ao Aviso
de
23 out.
1823) mao
237,
est. 11.
8)
ALF. 1821/36
(Mapa das embarcaes
que
saram
do porto
da Vila
de
Mace
da
Prov. Alagoas em
1824,
anexo
ao
of. do
Juiz
da
Alfn-
dega
ao
Presid.
Prov.,
de
27
mai. 1825) mao
136, est. 8.
9)
LIVRO
registro
termos
sada
embarcaes
do porto
de
Jaragu.
1825/17,
do
APA;
PRESIDENTES
DE ALAGOAS.
Corresp.
dirigida
ao Mm.
Imprio.
1826/29 (Mapa
anexado
ao
of.
de
6
mar.
1827,
da
Contadoria Geral
do
Tesouro
Nacional)
IJJ
9-279,
do
Arquivo
Na-
cional,
Rio de
Janeiro.
(10)
LAI.
1828/35,
f.
54,
cit.
(11)
ALF.
1821/36,
mapa
e
mao cit. ref. 8.
(12)
LIVRO
registro
termos sada, cit.
ref. 9.
(13)
Ibidem.
(14) CD. 1843/52
(Parte
da
visita
da
embarcao
que
saiu deste
porto
de
Jaragu,
de
7
jul.
1844)
mao
162,
est.
8.
(15)
LMG.
1819/24,
f. 6,
liv. 111,
est.
20.
(16)
Ibid.,
f.
8.
(17)
Ibid..
f.
13 (Of.
de
Mello
e
Pvoas
ao
Governador
da
Capitania
da
Bahia,
de
19
abr. 1820).
18)
Ibid., f.
14
(Of.
de Pvoas
ao
Gov. da
Capitania
da
Bahia,
de
23
jun.
1820).
(19)
LMGE.
1819/33,
f. 24 (Of.
a
Junta do
Governo
Alagoas
ao
Min.
Guerra,
de
15 abr.
1822)
liv.
115, est.
20.
(20)
LMI. 1853/57
(Of. do
Presidente
Prov.,
de
15
mar.
1854)
liv.
217,
est.
20.
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COMRCIO
ESTRANGEIRO EM ALAGOAS
J
em
1820 existiam negociantes ingleses
em Macei,
o
que
no
deixa
de
representar
um atestado
do
desenvolvimen-
to
comercial
da ento
vila
e
da
prpria
Provncia.
Foi,
alis,
britnico o
primeiro
Vice-Cnsul
a
exercer
suas
funes nas
Alagoas,
e que,
a
exemplo
dos
demais
a
seguir
acreditados
na
Provncia,
fixou-se
em
Macei,
naturalmente
devido
ao
fato de
a
se encontrar
o
melhor
porto
da
regio,
o
de
Jaragu.
Baldwin
Sealy,
natural
da vila de Randon,
ao
sudoeste
da cidade
de Cork,
no
Reino
da
Irlanda,
era o
nome
do
Vice-
Cnsul de
Sua
Majestade
Britnica,
nomeado
em
Londres
a
7
de
novembro
de
1821,
por Henrique
Chamberlain,
Cnsul
Geral
daquela
nao
no
Brasil,
cujo
ato
foi
confirmado
em
5
de
janeiro
do
ano
seguinte
por
D.
Joo
VI.
Tendo
entrado
em
exerccio
do
cargo
a
22
de
maio
de
1822,
(1)
retirou-se
do
pas
em
agosto
de
1838,
por
motivo
de
sade,
sendo subs-
titudo
por Arthur
Mac
Hardy,
cirurgio
escocs,
aqui
che-
gado
em
4 de
dezembro
de
1827,
sucedido
logo
depois
nas
funes,
pelo
comerciante
britnico
Diogo
Burnett.
No ano
de 1830
algumas
casas inglesas
aqui estabele-
cidas
(em
Macei)
e
as
nicas
quase
que carregavam
para
a
Europa ,
eram
filiais
de
matrizes
da
Bahia.
(2)
A
colnia
britnica
em
Macei
j
devia
contar,
em
1825,
com
nmero
suficiente
de membros para
justificar
a
ideia
da
edificao
de
um
cemitrio
para
os fiis
da
Igreja
Epis-
copal
da
Inglaterra, haja
vista
que naquele
ano
o
Governo
Britnico
adquiriu
terreno
para esse
fim,
na
praia
de
Jara-
gu,
atual
Avenida Duque
de
Caxias.
Em 1835
podia
no ser
numerosa aquela
colnia, mas
se
destacava
das
demais pela
arrogncia de seus
membros.
Tanto
assim que,
encaminhando
requerimento
dirigido
Pre-
sidncia
da
Provncia
das
Alagoas
por
negociantes
britni-
cos,
em
que
pediam
a indenizao de moeda
de
cobre
falsa
recolhida
em
1829
Junta da
Fazenda,
por
ordem
do
Govr-
-
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34
MOACIR
MEDEIROS DE
SANTANA
no,
o
Presidente
Jos
Joaquim
Machado
de
Oliveira,
em
of-
cio
ao
Ministrio da
Fazenda, datado
de 31 de
janeiro
do
citado
ano
de
1835,
solicitou
ao titular
daquela
pasta,
o
Mi-
nistro
Manoel