Contraventamento de Estruturas
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Anlise de Estruturas
Contraventamento de Edifcios
srie ESTRUTURAS
francisco carneiro
joo guerra martins 1 edio / 2008
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Apresentao
Este texto resulta, genericamente, o repositrio da Monografia do Eng. Francisco Carneiro.
Pretende, contudo, o seu teor evoluir permanentemente, no sentido de responder quer
especificidade dos cursos da UFP, como contrair-se ainda mais ao que se julga pertinente e alargar-
se ao que se pensa omitido.
Embora o texto tenha sido revisto, esta verso no considerada definitiva, sendo de supor a
existncia de erros e imprecises. Conta-se no s com uma crtica atenta, como com todos os
contributos tcnicos que possam ser endereados. Ambos se aceitam e agradecem.
Joo Guerra Martins
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Contraventamento de estruturas
I
Sumrio
objectivo da presente monografia justificar a razo de ser dos contraventamentos, bem
como sistematizar os conhecimentos fundamentais necessrios a uma boa compreenso das
aces que interagem nos edifcios e relacion-las com os vrios subsistemas estruturais
utilizados para este fim: o contraventamento estrutural.
Uma apresentao sobre as mais usuais aces e fenmenos que os contraventamentos tm
que suportar, alm dos materiais de materiais que os compem efectuada, identificam-se as
mais usuais aces verticais e horizontais, directas e indirectas, mencionando a sua natureza e
o modo de interferncia com as estruturas.
Apresentam-se e estudam-se os tipos de contraventamentos mais correntes, quer para edifcios
vulgares, como altos (torres) ou industriais, executados em beto armado, metlicos ou
mistos.
Uma breve sistematizao do modo de anlise dos sistemas de contraventamento foi ainda
realizada no final deste trabalho, sem qualquer outro propsito que no o meramente
qualitativo, dado no ser desgnio deste texto a quantificao numrica do tema, seja na
vertente das solicitaes, como dos esforos ou dimensionamento estrutural.
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Contraventamento de estruturas
II
ndice Geral
Apresentao ............................................................................................................................. II
Sumrio .......................................................................................................................................I
ndice Geral ............................................................................................................................... II
ndice de Figuras ...................................................................................................................... IV
ndice de Quadros..................................................................................................................... IX
Introduo................................................................................................................................... 1
1. Generalidades ..................................................................................................................... 1
2. Razo de ser dos contraventamentos.................................................................................. 2
3. Organizao do texto.......................................................................................................... 3
1. As aces................................................................................................................................ 5
1.1. Generalidades .................................................................................................................. 5
1.2. Aces verticais............................................................................................................... 7
1.3. Aces horizontais ........................................................................................................ 11
1.3.1. Vento ...................................................................................................................... 16
1.3.2. Sismo...................................................................................................................... 17
1.4. Aces indirectas........................................................................................................... 20
1.4.1. Assentamento dos apoios ....................................................................................... 20
1.4.2. Efeitos de 2. ordem ............................................................................................... 21
2. Contraventamentos............................................................................................................... 31
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Contraventamento de estruturas
III
2.1. Contraventamentos tipo................................................................................................. 31
2.1.1. Prticos (Moment-resisting frames)....................................................................... 32
2.1.2. Paredes (Shear-walls) ............................................................................................. 35
2.1.3. Paredes associadas a prticos................................................................................. 37
2.1.4. Ncleos e tubos (Tubes)......................................................................................... 38
2.1.5. Reticulada contraventada (Braced structures)........................................................ 43
2.1.6. Contraventamentos mais utilizveis....................................................................... 48
2.2. Contraventamentos em edifcios de grande altura ........................................................ 50
2.4. Contraventamentos especficos em estruturas metlicas .............................................. 53
2.4.1. Contraventamentos a foras horizontais (sismos e ventos) em edifcios urbanos . 53
2.4.2. Contraventamentos a foras horizontais (sismos e ventos) em edifcios industriais
.......................................................................................................................................... 58
3. Anlise de sistemas de contraventamento............................................................................ 67
Concluso ................................................................................................................................. 72
Bibliografia............................................................................................................................... 74
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Contraventamento de estruturas
IV
ndice de Figuras
Figura 1.1 Classificao dos diferentes tipos de aces em estruturas e seus materiais......... 6
Figura 1.2 Alguns subsistemas verticais [15].......................................................................... 8
Figura 1.3 Tipos de modos de instabilidade de prticos [12] ............................................... 10
Figura 1.5 Efeito do vento nas edificaes [26].................................................................... 12
Figura 1.6 Transmisso das aces horizontais em edifcios em altura................................ 13
Figura 1.7 Edifcios industriais: A) Viga horizontal de apoio dos pilares de fachada e de
fixao das madres (que por sua vez garantem o contraventamento dos banzos superiores das
vigas); B) Contraventamento das vigas metlicas; C) Elementos de rigidificao dos prticos
de fachada; D) Viga horizontal de apoio dos pilares. .............................................................. 14
Figura 1.8 Quadro comparativo da importncia relativa da aco dos sismos e do vento
[fonte]. ...................................................................................................................................... 15
Figura 1.9 Capacidade de carga de sapatas: a) esquema; b) diagrama genrico carga-
assentamento [15]..................................................................................................................... 21
Figura 1.11 Contraventamento em edifcios altos [13] ......................................................... 23
Figura 1.12 Efeito P- em edifcios [20] .............................................................................. 25
Figura 1.13 Efeito P- em edifcios [20] ............................................................................... 25
Figura 1.14 Hiptese de considerao da deformada para o clculo do momento [13] ....... 26
Figura 1.15 Hiptese de considerao da deformada para o clculo do momento [5] ......... 26
Figura 1.16 Efeitos de p-direito duplo e fundao elevada, por motivo da geometria
(comprimento) dos elementos [14] .......................................................................................... 27
Figura 1.17 Efeitos de variao da rigidez da estrutura, por motivo da geometria (inrcia)
das seces. .............................................................................................................................. 28
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Contraventamento de estruturas
V
Figura 1.18 Situaes de energia potencial de um corpo [4] ................................................ 28
Figura 1.19 De prtico deslocvel para indeslocvel por introduo de um
contraventamento [4]................................................................................................................ 29
Figura 1.20 De prtico deslocvel para indeslocvel por introduo de um
contraventamento [4]................................................................................................................ 29
Figura 1.21 Hiptese de considerao da deformada para o clculo do momento [13] ....... 30
Figura 1.22 Hiptese de considerao da deformada para o clculo do momento [5] ......... 30
Figura 2.1 Tipos de contraventamento: a) Parede cheia ou cega; b) Idem mas com pequenas
aberturas; c) Idem mas com uma ou vrias filas de abertura; d) Prticos, e) Paredes associadas
a prticos; f) Ncleo................................................................................................................. 32
Figura 2.2 Estrutura de prticos rgidos [22]. ....................................................................... 34
Figura 2.2 Estrutura em parede com pisos rgidos [7] .......................................................... 35
Figura 2.3 Estrutura com parede de contraventamento ao corte [22] ................................... 36
Figura 2.4 Deformaes parede/prtico [11] ........................................................................ 38
Figura 2.5 Ncleo estrutural (normalmente caixa de escadas ou elevadores) [22]............... 39
Figura 2.6 Rigidez relativa da unio viga padieira com o ncleo [15] ................................. 40
Figura 2.7 Estrutura tubular [15]........................................................................................... 40
Figura 2.8 Estrutura tubular [22]........................................................................................... 41
Figura 2.9 -Empenamento da seco do ncleo [15] ............................................................... 42
Figura 2.10 Funcionamento diferenciado entre paredes unidas ou independentes [15] ....... 43
Figura 2.11 Contraventamento em Cruz de St. Andr [7]................................................ 44
Figura 2.12 Tipo de contraventamento comuns [7] .............................................................. 44
Figura 2.13 Contraventamento planos conjuntos com resultante espacial [7] e [26] ........... 45
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Contraventamento de estruturas
VI
Figura 2.14 Travamento realizado pelo contraventamento [7] ............................................. 46
Figura 2.15 Contraventamento planos conjuntos com resultante espacial [4] ...................... 47
Figura 2.16 Contraventamento em V (ou K), em Y e em X [26].......................................... 47
Figura 2.17 Composio dos sistemas estruturais de edificaes elevadas pelo subsistema
horizontal e vertical [26] .......................................................................................................... 48
Figura 2.18 Composio dos prticos planos e paredes do ncleo na direco x [26] ......... 49
Figura 2.19 Composio dos prticos planos e paredes do ncleo na direco y [26] ......... 49
Figura 2.20 Estruturas de contraventamento para mega edifcios altos: a) tubular perifrico;
b) tubular treliado + tubular central; c) tubular treliado + ncleo central [26]..................... 50
Figura 2.21 Petronas Towers (modelo tubular circular) [26] e novo World Trade Centre... 51
Figura 2.22 Discretizao de uma face do edifcio em superfcies elementares................... 51
Figura 2.23 Comparao de sistemas estruturais [3, adaptado do original].......................... 52
Figura 2.24 Deformabilidade por insuficincia do contraventamento .................................. 54
Figura 2.25 Soluo de solidarizao e uniformidade de desdobramentos........................... 54
Figura 2.26 Forma eficiente de dissipao de energia com barras em K aberto ou fechado 55
Figura 2.27 Chapas laterais nos perfis dos pisos mais baixos............................................... 55
Figura 2.28 Esquema de contraventamento vertical para edifcios baixos ........................... 56
Figura 2.29 Esquema de funcionamento do contraventamento vertical para edifcios baixos
.................................................................................................................................................. 56
Figura 2.30 Esquema de prtico metlico contraventado com ncleo rgido ....................... 57
Figura 2.31 Esquema de prtico metlico contraventado de formas diversas ...................... 57
Figura 2.32 Esquema de prtico metlico contraventado de formas diversas ...................... 58
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Contraventamento de estruturas
VII
Figura 2.33 Esquema de contraventamentos horizontais para edifcios baixos.................... 58
Figura 2.34 Vigas de bordadura, que unem os prticos lateralmente, devem ter ligaes
rgidas ....................................................................................................................................... 59
Figura 2.35 Contraventamentos de juntos s empenas (vento) e a meio da cobertura
(variaes trmicas).................................................................................................................. 59
Figura 2.36 Contraventamentos dos pilares de empena efectuados com transmisso pelas
madres ...................................................................................................................................... 59
Figura 2.37 - Deformao transversal devida variao trmica ............................................ 60
Figura 2.38 Desfazamento de madres ................................................................................... 61
Figura 2.39 Esquema correcto de introduo de contravantamento para as madres s terem
traces..................................................................................................................................... 62
Figura 2.40 Travamento complementar das madres de cobertura ........................................ 63
Figura 2.41 Travamento para momentos negativos das travessas dos prticos .................... 63
Figura 2.42 Elementos estruturais de um edifcio industrial, com contraventamento na zona
superior da asna (compresses por efeito das foras gravticas: carga permanente e
sobrecarga) ............................................................................................................................... 64
Figura 2.43 Elementos estruturais de um edifcio industrial, com contraventamento na zona
inferior da asna (por efeito da aco horizontal do vento, quando provoca suco na
cobertura) ................................................................................................................................. 64
Figura 2.43 Contraventamento lateral dos prticos por elementos metlicos....................... 65
Figura 2.44 Contraventamento lateral dos prticos por alvenaria ........................................ 65
Figura 2.45 Sistemas de contraventamento para revestimentos de fachadas........................ 66
Figura 2.46 - Trelia espacial como sistema auto-contraventado de cobertura[4]................... 66
Figura 2.47 Contraventamentos em sistemas de apoio espaciais [23] .................................. 66
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Contraventamento de estruturas
VIII
Figura 3.1 Assimetrias e irregularidades a evitar nos edifcios............................................. 68
Figura 3.2 Ensaios no tnel de vento. ................................................................................... 70
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Contraventamento de estruturas
IX
ndice de Quadros
Tabela 1.1 Relaes de distribuio em planta entre rigidez e massa [18] ........................... 19
Tabela 2.1 - Consequncias da regularidade estrutural na anlise e dimensionamento ssmico
[27] ........................................................................................................................................... 69
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Contraventamento de estruturas
1
Introduo
1. Generalidades
Com o desenvolvimento das cidades h uma tendncia de localizao de grandes contingentes
da populao junto dos centros urbanos, elevando o custo financeiro e provocando escassez
dos terrenos disponveis, tornando os edifcios altos numa caracterstica fsica dominante nas
cidades modernas.
O clculo de estruturas de edifcios e os processos de verificao da sua segurana tm sofrido
um desenvolvimento importante ao longo dos anos, devido em grande parte utilizao de
computadores como instrumentos de apoio. Esta evoluo tem gerado a procura intensa de
novos mtodos numricos cada vez mais aperfeioados e capazes de analisar estruturas com
um grau crescente de complexidade e com maior preciso [24].
Sendo funo prioritria das estruturas suportar todas as solicitaes a que a estrutura possa
estar exposta, mantendo a sua forma espacial e integridade fsica, se faz necessrio o estudo
dos possveis arranjos estruturais que garantam estrutura o desenvolvimento do papel a que
se destina.
O comportamento de qualquer estrutura influenciado por diversos factores, sendo os
principais:
A forma (ou geometria), desde a global (tipo de prtico, de asnas, etc) das seces (rectangulares cheias ou vazadas, circulastes cheias ou vazadas, em I em H, em
C, em Z, etc), passando pela dos elementos (vigas, pilares de seco constante ou
varivel, etc);
O nmero e tipo de ligaes da estrutura (internas e externas e se de continuidade, simplesmente apoiadas, sem-rgidas, etc);
Os materiais de fabrico;
As foras, as aceleraes e deformaes impostas (no fundo, as aces);
O solo.
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Contraventamento de estruturas
2
Portanto, o comportamento estrutural depende das caractersticas dos materiais, das
dimenses da estrutura, das ligaes entre os diferentes elementos, das condies do terreno,
etc. O comportamento real de uma construo normalmente to complexo que obriga a que
seja representado atravs de um esquema estrutural simplificado, ou seja, atravs de uma
idealizao da construo que mostre, com o grau de preciso adequado, como que esta
resiste s diversas aces. O esquema estrutural ilustra o modo como a construo transforma
aces em tenses e como garante a estabilidade. Uma construo pode ser representada
atravs de diferentes esquemas, com diferente complexidade e diferentes graus de
aproximao realidade [21].
O papel do engenheiro de estruturas, frente a essa perspectiva, elaborar projectos seguros e
que resultem em edifcios com custos de construo e manuteno relativamente baixos. Para
tal finalidade necessrio a utilizao de procedimentos e tcnicas de clculo que permitam
uma boa aproximao ao comportamento real da estrutura. Como veremos, sendo as
estruturas de contraventamento substruturas que visam assegurar a absoro de alguns tipos
de foras e/ou diminuir deslocamentos de grandeza significativa da estrutura principal,
constituem uma tarefa de grande interesse para a engenharia estrutural.
2. Razo de ser dos contraventamentos
O presente trabalho tem como finalidades principais estudar os diversos subsistemas de
contraventamento de edifcios, pretendendo-se estudar os principais sistemas estruturais
utilizveis em edifcios contraventados e avaliar as suas possibilidades e limitaes, elegendo
o recomendvel a cada um dos fundamentais casos tipo.
Proceder-se- anlise dos diversos sistemas estruturais sob o ponto de vista da resistncia a
aces verticais e da resistncia a aces horizontais.
Duas definies bsicas devem ser consideradas:
A estrutura de um edifcio um sistema tridimensional, formado pela associao de elementos estruturais lineares e laminares, dispostos, em geral, em planos horizontais e
em planos verticais;
O contraventamento uma estrutura auxiliar organizada para resistir a solicitaes extemporneas que podem surgir nos edifcios. A sua principal funo aumentar a
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Contraventamento de estruturas
3
rigidez da construo, permitindo-a resistir s aces horizontais, sendo os grandes
responsveis pela segurana das estruturas tridimensionais de edifcios altos [24].
Contudo, mesmo em edifcios de baixo porte estes sistemas podem ser ainda mais
importantes, como em naves, em que uma grande rea apenas coberta por uma estrutura
bastante esbelta, dado o reduzido valor das cargas permanentes.
Resumidamente, poderemos afirmar que os contraventamentos tm sua razo de ser:
Na necessidade de limitar os deslocamentos das estruturas, quer por restringir
ou inibir o aparecimento de efeitos de 2. ordem, quer por verificao de
Estados Limites de Utilizao;
Na necessidade de absorver foras excepcionais (sismo e vento) para as quais
a estruturas principal no est habilitada, ou outras foras secundrias cuja
natureza indirecta (como o travamento lateral de pescas comprimidas).
Portanto, a funo dos contraventamentos tem pertinncia quer em termos da mobilidade da
estrutura como da sua resistncia.
3. Organizao do texto
O trabalho constitudo por trs captulos, a presente e uma breve concluso. A estrutura
utilizada, bem como o nvel de desenvolvimento dado a cada assunto, procuram contribuir
para tornar este trabalho uma referncia til e atractiva para futuros interessados pela rea
abordada.
No primeiro captulo faz referncia s aces e aos materiais intervenientes nas estruturas
numa forma generalizada, abordam-se as aces horizontais (directas e indirectas) e verticais,
mencionando a sua natureza e o modo de interferncia com as estruturas.
No segundo captulo descrevem-se os tipos de contraventamentos: planos, no planos e de
edifcios altos (torres), abordando-se os mais utilizados.
No terceiro captulo realiza-se uma breve sistematizao do modo de anlise dos sistemas de
contraventamento, bem como se referem alguns mtodos construtivos aos quais os edifcios
devem obedecer, de forma a existir uma melhor distribuio dos esforos pela estrutura.
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Contraventamento de estruturas
4
Conforme se tornou claro no sumrio, no tm este estudo qualquer outro objectivo que no o
meramente qualitativo, dado no ser seu propsito a quantificao numrica do tema, seja na
vertente das solicitaes, como dos esforos ou dimensionamento estrutural.
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Contraventamento de estruturas
5
1. As aces
1.1. Generalidades
A primeira preocupao do Engenheiro que vai projectar um edifcio a escolha de uma
soluo estrutural adequada, que consiga conciliar a resoluo dos problemas arquitectnicos
e funcionais com a necessidade de garantir resistncia estrutura actuada pelas aces a que
ir estar sujeita [24].
As aces so definidas como qualquer agente (foras, deformaes, etc.) que produza
tenses e deformaes na estrutura e qualquer fenmeno (qumico, biolgico, etc.) que afecte
os materiais, normalmente reduzindo a sua resistncia. As aces originais, que ocorrem
desde o incio da construo at sua concluso (por exemplo, o peso prprio), podem ser
modificadas durante a sua vida e frequente que estas mudanas produzam danos e
degradaes.
As aces tm naturezas diversas, com efeitos muito diferentes na estrutura e nos materiais.
Frequentemente, a estrutura afectada por vrias aces (ou modificaes das aces
originais), as quais devem ser claramente identificadas antes de se decidirem as medidas de
reparao.
As aces podem ser classificadas em aces mecnicas, que afectam a estrutura, e aces
qumicas e biolgicas, que afectam os materiais. As aces mecnicas so estticas ou
dinmicas, sendo as primeiras directas ou indirectas [21].
No caso de contraventamento de edifcios, o caso que nos interessa em especial, os
contraventamentos so sobretudo pensados tendo em conta as aces horizontais, como o
vento e os sismos. Estas servem de travamento aos deslocamentos da estrutura principal, mas
tambm absorvem esforos induzidos por estas aces.
Na figura 1.1 encontra-se esquematizadas as aces genricas que podem solicitar uma
estrutura, sendo de salientar, para o efeito deste estudo, as de carcter dinmico, como o vento
e o sismo. Na verdade tratam-se aces de sentido horizontal, predominantemente, em termos
de do seu significado condicionante de dimensionamento da estrutura, em oposio s foras
gravticas tradicionais, como o peso prprio e a sobrecarga.
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Contraventamento de estruturas
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Figura 1.1 Classificao dos diferentes tipos de aces em estruturas e seus materiais.
Aces
Aces Mecnicas (actuam sobre a estrutura)
Aces Fsicas
(actuam sobre os i i )
Aces Qumicas (actuam sobre os materiais)
Aces Biolgicas (actuam sobre os
materiais)
Aces Estticas
Aces Dinmicas (aceleraes impostas)
Aces Directas (cargas aplicadas)
Aces Indirectas (aceleraes impostas)
Aces gravticas
Aces acidentais
Assentamento dos Apoios
Efeitos de 2. Ordem
Aco dos sismos
Aco do Vento
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Contraventamento de estruturas
7
Basicamente o sismo relaciona-se com a massa e o vento com a superfcie e a geometria,
sendo o primeiro importante em estruturas com pavimentos em altura e o segundo em
edifcios leves, de piso nico e cobertura, do tipo industrial ou de armazenamento (grandes
superfcies comerciais trreas tambm caiem neste mbito).
1.2. Aces verticais
A primeira finalidade dos edifcios a sua resistncia s aces verticais, sendo este factor
que condiciona a escolha inicial de um sistema estrutural. A localizao e distribuio em
planta dos pilares e paredes corresponde ao incio da organizao estrutural e
consequentemente escolha de um outro sistema [24]. Na verdade, uma forma de conceber
edifcios de vrios pisos inicialmente criar a malha de pilares que absorvem as aces
verticais, e depois introduzir-lhe as paredes (ou outros elementos ou sistemas de
contraventamento) para fazer face s aces horizontais.
As aces verticais so, fundamentalmente, a carga permanente (peso prprio dos elementos
estruturais, das alvenarias, dos revestimentos, etc.) e a sobrecarga (carga distribuda por metro
quadrado nos andares, devido s pessoas, mveis e divisrias, desde que no includa nas
permanentes, etc).
As aces verticais so suportadas pelas lajes que as transmitem s vigas, que podem
trabalhar em conjunto com as lajes, no caso de vigas mistas (vigas de ao estrutural, perfis
metlicos, e laje de beto armado). As vigas podem transmitir as aces para outras vigas nas
quais se apoiam, ou directamente para as colunas (situao mais recomendvel). As colunas
transmitem as aces verticais directamente para as fundaes [22]. Contudo, tambm
comum o caso lajes que descarregam directamente nos pilares.
O efeito das cargas verticais sobre os edifcios , geralmente, estimado de uma maneira
simples, considerando as superfcies de influncia dos pisos. Os resultados, assim obtidos, so
suficientemente prximos da realidade e apenas para estruturas de excepcional importncia se
justifica ter em conta um clculo rigoroso.
Os sistemas de contraventamentos verticais podem ser obtidos atravs de vrios tipos de
modelos, como, por exemplo [9]:
Os sistemas em prticos planos ou tridimensionais;
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Contraventamento de estruturas
8
Os sistemas em prticos treliados;
Painis tipo parede (toda a estrutura em paredes resistentes) e prtico-parede;
Os sistemas com ncleos rgidos em beto armado ou em ao e os pilares
isolados;
Os sistemas tubulares.
Esta classificao no estanque e pode variar com o autor. As lajes e as vigas integram este
grupo sendo denominadas de elementos horizontais de contraventamento [15].
Figura 1.2 Alguns subsistemas verticais [15]
Os sistemas estruturais resistentes s aces verticais podem-se subdividir em sistemas
horizontais, correspondentes aos pisos, e sistemas verticais, correspondentes aos pilares e
paredes, que fazem a transmisso de cargas entre pisos ou para o solo. Os sistemas estruturais
verticais sero descritos quando nos referirmos resistncia de aces horizontais [24].
Estabilidade
O clculo e dimensionamento de estruturas, e no caso particular de estruturas porticadas,
tende a ser condicionado pelos fenmenos de instabilidade global, ao nvel do elemento pilar,
ou mesmo da seco local. Sendo tal verdade para qualquer material, torna-se mais premente
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Contraventamento de estruturas
9
no caso de estruturas metlicas. Contudo, a avaliao do comportamento de um prtico, em
termos de estabilidade global, substancialmente diferente caso se trate de um prtico com
deslocamentos laterais ou de um prtico sem deslocamentos laterais, ou seja: a mobilidade de
uma estrutura condicionante na verificao da sua estabilidade.
A maior ou menor mobilidade depende do carregamento aplicado numa estrutura lhe gerar
deslocamentos laterais significativos, sendo o conceito de significativo o aparecimento de
efeitos de segunda ordem no negligenciveis.
Num prtico sem deslocamentos laterais, ao que se convencionou designar por prtico de ns
fixos, a verificao da segurana em termos de estabilidade (excepto na situao de
fenmenos de instabilidade local), passa por verificar a encurvadura por flexo das barras
comprimidas (normalmente os pilares) no plano do prtico, no plano perpendicular e ainda a
encurvadura lateral em barras submetidas a esforos de flexo (vulgarmente as vigas).
Contudo, a verificao da segurana dos elementos depende, essencialmente, de uma correcta
definio dos comprimentos de encurvadura no caso de elementos compresso e dos
comprimentos entre seces contraventadas lateralmente, no caso de elementos submetidos
flexo.
Num prtico com deslocamentos laterais, designado vulgarmente por prtico de ns mveis,
ao contrrio da noo anterior, em que a preocupao se situa exclusivamente ao nvel das
peas individualmente, depende incondicionalmente da estabilidade global para se apreciar a
sua segurana estrutural. De facto, para as estruturas de ns mveis o modo de encurvadura
fundamental corresponde a um modo de instabilidade global da estrutura enquanto que para
as estruturas de ns fixos, sendo desprezveis os efeitos dos deslocamentos relativos de andar,
os modos de encurvadura relevantes correspondem a modos de instabilidade local dos pilares
da estrutura, pelo que sero distintas as metodologias a adoptar num e noutro caso [3].
Neste caso, a avaliao da carga critica global do prtico, ou eventualmente do parmetro de
carga (cr) no caso de carregamentos proporcionais, a base para a verificao da estabilidade
global da estrutura. Para tal, existem vrios mtodos para a sua determinao, com maior ou
menor exactido. Dos modelos simplificados refira-se o Mtodo de Horne que, apesar de ser
somente aplicvel a prticos regulares e ortogonais no contraventados, o mais utilizado nos
prticos correntes [12].
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Contraventamento de estruturas
10
Na figura 1.3 exposto o tipo encurvadura que pode suceder no caso de estruturas de ns
mveis e de ns fixos, sendo ntido que no primeiro caso a instabilidade pode ser gerada por
movimento global lateral da estrutura, enquanto no segundo so os elementos que sofrem
fenmenos de encurvadura sem que a estrutura o sofra globalmente.
Sem contraventamento o modo crtico de instabilidade, ao qual corresponde o valor crtico do
parmetro de carga cr, envolve sempre deslocamentos laterais.
Com deslocamentos laterais (ns mveis) Sem deslocamentos laterais (ns fixos)
Figura 1.3 Tipos de modos de instabilidade de prticos [12]
P P
P 1c r 3) tm uma
deformao devida flexo do conjunto (deformao por flexo), o prtico tem uma
deformao rgida pelo esforo transverso do conjunto (deformao por distoro).
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Contraventamento de estruturas
38
Tais deformaes, resultado de um conjunto de foras de interaco, variveis em altura
sempre que os elementos so obrigados a deformar-se conjuntamente (com os pisos rgidos a
impor a cada nvel igualdade de deslocamentos), conforme figura 2.4 [3].
Figura 2.4 Deformaes parede/prtico [11]
2.1.4. Ncleos e tubos (Tubes)
Um ncleo resistente (figura 2.5), enquanto definido como um conjunto de paredes resistentes
dispostas perpendicularmente e com planta reduzida face do piso, considerado um dos
principais elementos componentes dos sistemas estruturais de edifcios de andares mltiplos,
conseguindo conferir estrutura um aprecivel acrscimo de rigidez, nas duas direces
principais da estrutura. Os tubos associam esta propriedade com a resistncia toro, dada a
sua implantao em planta ser da ordem de grandeza da prpria estrutura, evitando modos de
rotao global da mesma.
Assim, denominam-se de ncleos resistentes ou estruturais os elementos de elevada rigidez,
constitudo pela associao tridimensional de paredes rectas ou curvas, formando seces
transversais abertas ou semi-fechadas. As suas dimenses transversais so superiores s dos
demais elementos que normalmente compem as estruturas de contraventamento, sendo sua
rigidez a flexo responsvel por grande parte da resistncia global da estrutura. Estes
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Contraventamento de estruturas
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elementos so usualmente posicionados nas reas centrais dos edifcios, ou seja, em torno das
escadas, elevadores, depsitos ou espaos reservados para a instalao de tubulao hidrulica
ou elctrica. Ao nvel das lajes apresentam seco parcialmente fechada devido a presena
desta ou de lintis [15].
Figura 2.5 Ncleo estrutural (normalmente caixa de escadas ou elevadores) [22]
Os ncleos, que normalmente so a envolvente de caixa de escadas, so subsistemas
estruturais tridimensionais resultantes da associao de elementos verticais de parede, capaz
de resistir isoladamente a todos os esforos actuantes na estrutura de um edifcio,
contribuindo na determinao mais precisa dos seus deslocamentos. Tais elementos so
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Contraventamento de estruturas
40
compostos pela associao tridimensional de paredes, formando uma seco transversal
aberta, cuja funo arquitectnica , comummente, a de abrigar as caixas de elevadores e
escadas [15].
Em geral, as seces dos ncleos de caixa de escadas no so abertas, nem totalmente
fechadas contendo antes, pequenas aberturas dominadas por vigas padieira, correspondentes
s portas de entrada/sada do ncleo [6]. Estas vigas de contorno das aberturas dos ncleos
podem ligar-se com maior ou menor continuidade aos prprios ncleos, conforme a rigidez da
ligao, muito funo da eventual reentrncia que o ncleo faa para dentro do espao da
abertura, conforme se pode apreciar na figura 2.6
Figura 2.6 Rigidez relativa da unio viga padieira com o ncleo [15]
Em alguns edifcios de altura a rigidez lateral da estrutura est assegurada parcialmente por
um ou vrios ncleos centrais que contm os meios de comunicao vertical [11].
Figura 2.7 Estrutura tubular [15].
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Contraventamento de estruturas
41
Os ncleos estruturais ganham importncia medida que se aumenta ainda mais a altura da
edificao. Geralmente so utilizadas as circulaes verticais enclausuradas para que este
elemento seja vivel arquitectonicamente. Ncleos estruturais so constitudos pela unio de
paredes macias de beto armado em direces diferentes (fig. 2.7), ou por pilares metlicos
contraventados formando estruturas tubulares treliadas (figura 2.8).
Figura 2.8 Estrutura tubular [22].
Em suma, so essencialmente caixas, com ou sem aberturas, os ncleos resistentes de
edifcios elevados e paredes tendo seces em L, T, etc. Estes elementos tm dupla rigidez de
flexo (planos ortogonais) e para as caixas fechadas existe, ainda, rigidez torcional expressiva.
De facto, a caracterstica principal que o distingue dos demais elementos que compem a
estrutura, encontra-se na sua capacidade de restrio ao empenamento, que nada mais que o
deslocamento na direco longitudinal da seco causado pela rotao da mesma em torno do
centro de toro, como esquematizado na figura 2.9.
Uma soluo ainda mais eficaz a composta pela soluo em tubo na fachada (tubo de
contorno) e por um ncleo interior, sendo por isso conhecida por sistema tubo em tubo,
indicada e com recursos para edifcios com mais de 40 andares.
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Contraventamento de estruturas
42
Figura 2.9 -Empenamento da seco do ncleo [15]
o resultado recente da evoluo estrutural dos edifcios de grande altura. Os prticos ou
contraventamentos so trazidos para as faces externas do edifcio, ao longo de toda altura e
todo permetro, obtendo-se na forma final um grande tubo reticulado altamente resistente aos
efeitos de flexo e toro.
Em geral, estas estruturas tm planta rectangular com dois planos verticais de simetria. Sob a
aco de foras horizontais as estruturas em tubo, quando no so perfuradas, tm um
comportamento semelhante ao das estruturas parede [24].
De realar que o funcionamento conjunto de paredes isoladas ou unidas num ncleo
bastante distinto, assim:
A rigidez do ncleo muito superior das paredes (com base na inrcia total somada das seces e, comparativamente, a do ncleo);
Contudo, ser precavido no realizar os clculos com a rigidez matemtica directa da seco
integral do ncleo, dado a mesma poder vir a fissurar em caso de um sismo com significado,
nomeadamente nos cunhais entre paredes do ncleo, dada a sua diferente rigidez nas
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Contraventamento de estruturas
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direces ortogonais (X e Y). Com a queda da rigidez dos ncleos, ao fim de alguns ciclos do
sismo, as foras ssmica subsequentes tero tendncia a ser, percentualmente, mas atradas
pelos pilares, em caso destes manterem a rigidez de clculo inicial. Deste modo, estes pilares
podero ter que suportar foras ssmicas para as quais no estariam dimensionados. Assim,
ser de apenas considerar 60% da inrcia da seco dos ncleos na determinao da sua
rigidez, admitindo uma seco fendilhada.
Figura 2.10 Funcionamento diferenciado entre paredes unidas ou independentes [15]
2.1.5. Reticulada contraventada (Braced structures)
Em edifcios elevados somente a ligao contnua das vigas com os pilares pode no conferir
a rigidez necessria estabilidade. Surge, ento, outro tipo de composio estrutural: os
prticos enrijecidos por contraventamentos, ou diagonais que prendem de um n ao outro,
tornando-os indeslocveis. Poder utilizar-se esse recurso em estruturas de beto armado,
inclusive fazendo estas diagonais deste material. Contudo, funcionar de maneira mais
adequada se as estruturas forem metlicas, podendo estar, ou no, sujeitas tanto compresso
como traco. Nas edificaes metlicas, de uma maneira geral, este o sistema mais
utilizado de contraventamento, podendo as unies entre vigas e pilares ser perfeitamente
rotuladas [10]. Na figura 2.11 encontra-se um exemplo tpico de um contraventamento em
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Contraventamento de estruturas
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Cruz de St. Andr, talvez o mais conhecido e corrente, e na figura 2.12 outros tipos
tambm usados.
Figura 2.11 Contraventamento em Cruz de St. Andr [7]
Figura 2.12 Tipo de contraventamento comuns [7]
Na figura 2.13 podemos apreciar vrios edifcios com contraventamentos do tipo acima
ilustrados.
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Contraventamento de estruturas
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Figura 2.13 Contraventamento planos conjuntos com resultante espacial [7] e [26]
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Contraventamento de estruturas
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A estabilidade estrutural obtida atravs de contraventamentos verticais ao invs de ligaes
vigas-pilares encastradas. Os contraventamentos, geralmente em X, K e Y, so colocados ao
longo de toda a altura do edifcio. A estrutura adquire rigidez horizontal atravs de efeitos de
traco e compresso nas diagonais, alm dos efeitos adicionais de traco e compresso nas
colunas adjacentes aos contraventamentos. Digamos que como se a resistncia por flexo
fosse transferida por traco e compresso, sendo certo que a prpria flexo a resultante de
um binrio de traco com compresso (figura 2.14).
Figura 2.14 Travamento realizado pelo contraventamento [7]
Por outro lado, ser de referir que muito embora os diversos tipos de contraventamento e suas
possveis direces, em estruturas reticuladas, a verdade estes acabam por funcionar como
um todo, mais no seja como uma composio de figuras planas, tanto horizontais como
verticais, com resultante espacial [4] (figura 2.15).
So mostrados na figura 2.16 exemplos de edifcios onde foram utilizados os
contraventamentos a partir dos ns de prticos, em edificaes de ao, dos tipos de
contraventamento enumerados. Para acomodar os prticos enrijecidos estes podem ser
colocados em paredes cegas, ou ento utilizados arquitectonicamente nas fachadas [10].
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Contraventamento de estruturas
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um sistema composto inteiramente de elementos estruturais lineares, caracterizado pela
deformao axial dos elementos horizontais dos pisos e das diagonais. Este sistema tem
grande aplicao em edifcios em ao estrutural. A dificuldade de fazer as ligaes em beto
armado, aliada s vantagens dos sistemas em estrutura parede, tem reduzido o uso desta
soluo em edifcios de beto armado. O contraventamento pode ser feito interiormente ou
nas paredes exteriores [24].
Figura 2.15 Contraventamento planos conjuntos com resultante espacial [4]
Figura 2.16 Contraventamento em V (ou K), em Y e em X [26]
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Contraventamento de estruturas
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2.1.6. Contraventamentos mais utilizveis
Apresentou-se anteriormente um conjunto de sistemas estruturais utilizados em edifcios para
resistirem a aces horizontais e a aces verticais. Apesar de sua descrio isolada, na
realidade o processo de concepo da estrutura no consiste, necessariamente, na escolha
separada de um destes sistemas mencionados. Pelo contrrio, trata-se de um processo criativo
em que a concepo desenvolvida como resposta a um conjunto de condies impostas ou
de restries. Raramente a escolha cair numa das solues bsicas apresentadas, mas poder
ser o fruto da combinao de algumas destas solues de modo a se conseguir responder
adequadamente s exigncias arquitectnicas e funcionais impostas [24].
Como exemplo admita-se a discretizao da estrutura do edifcio da figura 2.17, sendo esta
efectuada atravs da considerao de um conjunto de prticos, em ambas as direces e,
eventualmente, de paredes e/ou caixa de escadas, sendo os correspondentes deslocamentos
horizontais ao nvel de cada piso compatibilizados com os deslocamentos da respectiva laje
de pavimento, suposta indeformvel no seu plano mdio [6].
Figura 2.17 Composio dos sistemas estruturais de edificaes elevadas pelo subsistema horizontal e
vertical [26]
O tipo de contraventamento mais utilizado em edifcios o constitudo por paredes ou por
ncleo ou caixa resistente, sendo este sistema particularmente adequado para edifcios de
altura pequena ou mdia (no ultrapassando 100 metros), a que corresponde a generalidade
das construes em Portugal.
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Contraventamento de estruturas
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Muitas vezes, as circulaes verticais (ascensores, escadas), assim como as canalizaes
verticais (fluidos, energia), so concentradas numa ou vrias zonas do edifcio. Estas zonas,
chamadas de ncleos (ou caixas), devem ser isoladas por paredes do resto do edifcio
(isolamento sonoro, segurana contra incndios), constituindo elementos de contraventamento
por excelncia.
As estruturas, que nas construes tero que configurar composies tridimensionais, so
obtidas a partir de estruturas planas, quer dizer, com comportamento estrutural possvel de ser
reduzido a comportamentos de elementos planos. Na figura 2.17 pode-se visualizar uma
estrutura tridimensional composta pelo plano de piso (subsistema horizontal) e pelo
subsistema vertical, no caso de prticos e ncleo tridimensional rgido central, que podem ser
reduzidos a planos segundo as duas direces (figura 2.18 e 2.19) [10], tanto para efeitos de
visualizao didctica, como para real clculo e anlise da estrutura no seu global.
Com o desenvolvimento das ferramentas de clculo e o incremento do desempenho dos
computadores, estes modelos planos, como o ilustrado, tem vindo a ser substitudos por
efectivos esquemas e modos espaciais de anlise.
Figura 2.18 Composio dos prticos planos e paredes do ncleo na direco x [26]
Figura 2.19 Composio dos prticos planos e paredes do ncleo na direco y [26]
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Contraventamento de estruturas
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2.2. Contraventamentos em edifcios de grande altura
Os designados arranha-cus, edifcios com nmero de pavimentos na ordem das vrias
dezenas, necessitam de cuidados subsistemas verticais, como os includos na figura 2.20:
estrutura tubular de periferia, tubo treliado em todas as fachadas do edifcio, tubo dentro de
tubo que a associao pelo diafragma rgido de tubo de periferia com tubo central (ou
ncleo estrutural rgido). Mas vrias outras possibilidades de composies de sistemas de
contraventamento para os mega edifcios em altura, porm, podem ser concebidas [26].
Figura 2.20 Estruturas de contraventamento para mega edifcios altos: a) tubular perifrico; b) tubular
treliado + tubular central; c) tubular treliado + ncleo central [26]
As outrora torres do World Trade Center (figura 2.21), com 110 pavimentos, totalizando 417
m de altura, tinham o subsistema vertical composto por estrutura tubular perifrica, formada
por pilares de ao afastados de apenas 1 m entre eles, e ncleo central, onde 2/3 do
carregamento gravtico era suportado pela estrutura central, ou seja, a estrutura tubular
perifrica tinha a finalidade principal de conter as cargas horizontais. Os edifcios do World
Trade Center foram os primeiros do mundo a ter um estudo de modelo em tnel de vento,
onde foi determinado a presso esttica de 2,20 kN/m2 e deslocamentos horizontais no topo
que chegariam a 91 cm [26].
As torres Petronas (figura 2.21), na Malsia, com 88 pavimentos, totalizando 452 m, tm
pilares perifricos circulares em beto armado de alta resistncia associados a ncleo
estrutural tambm macio, com uma conexo rgida entre pilares perifricos e ncleo meia
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Contraventamento de estruturas
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altura do edifcio, em trs pavimentos. A escolha do beto armado como material da estrutura
de um dos edifcios mais altos do mundo, dentre outros factores, deve-se a melhor resposta de
amortecimento das vibraes geradas pelo vento, principalmente pelas seces robustas que o
beto armado propicia, quando comparadas s seces de ao.
Figura 2.21 Petronas Towers (modelo tubular circular) [26] e novo World Trade Centre
Muitas destas solues usam sub-estruturao, ou seja, o travamento realizado para conjunto
de andares, pois de outro modo no seria exequvel (exemplo na figura 2.22).
Figura 2.22 Discretizao de uma face do edifcio em superfcies elementares
A figura 2.23 ilustra diferentes formas de concepo de sistemas de contraventamento de
mega edifcios em funo da altura [3, adaptado do original].
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Contraventamento de estruturas
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Figura 2.23 Comparao de sistemas estruturais [3, adaptado do original].
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Contraventamento de estruturas
53
Como se pode apreciar da figura 2.23, edifcios muitssimo altos, com nmero de pavimentos
em mdia superior a 60 andares, exigem solues mais arrojadas para o subsistema vertical
contraventamento, ou seja, torna-se necessrio fazer participar a fachada conjuntamente com
o ncleo central [10].
De reparar que a tendncia em edifcios extremamente altos assemelhar a estrutura (e a
prpria construo) o mais possvel a um tubo verdadeiro, sendo hoje a aproximao
arquitectnica a um tubo circular uma realidade (torres Petronas, figura 2.21, e arranha-cus
substituto das torres gmeas em Nova Iorque World Trade Centre). Na verdade consegue-
se aliar uma forma aerodinmica altamente favorvel a uma soluo estrutural extremamente
eficaz, com uma simetria perfeita, mesmo total, e com mxima resistncia torcional
(praticamente insensvel ao empenamento). Esta geometria , em suma, excelente, pois alm
de universalmente simtrica (logo com comportamento idntico independentemente da
direco de anlise), tem uma excelente rigidez e resistncia em flexo e toro, para qualquer
eixo imaginvel (no por acaso esta a configurao dos foguetes).
2.4. Contraventamentos especficos em estruturas metlicas
2.4.1. Contraventamentos a foras horizontais (sismos e ventos) em edifcios urbanos
No sentido de uma boa concepo de edifcios urbanos em estrutura metlica, seguem-se
algumas regras que devem ser atendidas:
Os pisos devem funcionar como diagramas rgidos (no existir deformabilidade no plano da laje);
Lajes com um mnimo de 50 mm de espessura;
Evitar grandes frentes com um nico sistema de contraventamento, pois h deformabilidade lateral (figura 2.24). Assim, os contraventamentos horizontais devem-
se criar diafragmas rgidos (figura 2.25);
A ideia, tal como numa boa concepo resistncia global ssmica, evitar grandes
excentricidades entre o centro de massa (CM) e de rigidez (CR) (d = CM CR < 15% da
largura do edifcio);
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Contraventamento de estruturas
54
O ideal, quando no possvel a estrutura tubo em tubo, ou seja, o ncleo interior associado
ao ncleo exterior, ser de adoptar dois ncleos afastados (perto das empenas, conforme
esquema inferior da figura 2.25);
Figura 2.24 Deformabilidade por insuficincia do contraventamento
Figura 2.25 Soluo de solidarizao e uniformidade de desdobramentos
De notar que os pisos se vo deslocando em altura, aumentando a excentricidade dos pilares
(efeitos de 2 ordem);
Para reduzir a excentricidade dos esforos dos ncleos (e = M/N), convm que estes recebam
um esforo axial (N) significativo, afastando os pilares deste;
sempre vantajoso para ajudar os ncleos a receber as foras horizontais ou, para eliminar
estas, conceber sistemas de contraventamento, tipo cruz de Santo Andr (X) em pontos
apropriados da estrutura;
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Contraventamento de estruturas
55
A ductilidade da estrutura essencial ao seu bom comportamento ssmico, sendo que o uso de
paredes de beto recomendvel. Tambm nos sistemas de contraventamento de barras
triangulares a dissipao de energia se pode fazer de forma eficiente com barras em K aberto
ou fechado (figura 2.26);
Figura 2.26 Forma eficiente de dissipao de energia com barras em K aberto ou fechado
A ideia a criao de rtulas plsticas em locais em que as mesmas dissipem energia sem
formar um mecanismo de colapso;
Em geral a ideia baixar a rigidez, a frequncia de vibrao e as foras ssmicas, aumentado a
capacidade de deformao;
De notar que os sistemas de contraventamento tambm funcionam como geradores de foras
de estabilidade e no apenas de resistncia directa a foras horizontais, tal como, vento e
sismos;
Em edifcios altos, para no fazer variar a seco dos pilares (sua envolvente) podemos incluir
chapas laterais nos perfis dos pisos mais baixos (Fig. 2.27), fazer variar a espessura das
chapas das seces ou aumentar a classe resistente do ao (S275S355S460);
Figura 2.27 Chapas laterais nos perfis dos pisos mais baixos
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Contraventamento de estruturas
56
Apresentam-se, seguidamente, vrios esquemas/modelos estruturais recomendveis para
estruturas metlicas de edifcios urbanos.
A figura 2.28 ilustra um esquema corrente de contraventamento em estruturas metlicas de
edifcios de poucos pisos, bem como um prtico transversal da mesma estrutura, em modelo
de clculo.
Figura 2.28 Esquema de contraventamento vertical para edifcios baixos
Figura 2.29 Esquema de funcionamento do contraventamento vertical para edifcios baixos
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Contraventamento de estruturas
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A figura 2.29 contm o funcionamento do esquema anterior e a figura 2.30 mostra uma
alternativa, eventualmente mais econmica e eficaz, com ncleo de beto armado. Na figura
2.31 surge uma sequncia das alternativas mais usuais a este fim.
Figura 2.30 Esquema de prtico metlico contraventado com ncleo rgido
Figura 2.31 Esquema de prtico metlico contraventado de formas diversas
Na figura 2.32 pode-se constatar a influncia dos contraventamentos sobre os deslocamentos
horizontais de uma estrutura, designadamente, sobre a aco do vento. A diminuio destes
deslocamentos atinge, com facilidade, valores acima de 80% dos iniciais.
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Contraventamento de estruturas
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Figura 2.32 Esquema de prtico metlico contraventado de formas diversas
A figura 2.33 ilustra um esquema corrente de contraventamento horizontal em estruturas
metlicas de edifcios de poucos pisos.
Figura 2.33 Esquema de contraventamentos horizontais para edifcios baixos
2.4.2. Contraventamentos a foras horizontais (sismos e ventos) em edifcios industriais
No sentido de uma boa concepo de edifcios industriais em estrutura metlica, seguem-se
algumas ideias e regras que devem ser atendidas:
O vento mais condicionante para vos pequenos de cobertura;
As vigas de bordadura, que unem os prticos lateralmente, devem ter ligaes rgidas aos mesmos (figura 2.34);
Os contraventamentos devem ser localizados, para a cobertura e para foras horizontais, como o vento, na extremidade (empenas), para receber uma reaco das resultantes
(pilares) dos prticos dos topos (empenas) (figura 2.35 e 2.36);
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Contraventamento de estruturas
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Os contraventamentos devem ser localizados, para a cobertura e para variaes trmicas das fachadas longitudinais (perpendiculares s empenas) devem estar a meio da
cobertura, pois vai receber as foras que incidem nos topos dos pilares dos prticos
(figura 2.35);
Figura 2.34 Vigas de bordadura, que unem os prticos lateralmente, devem ter ligaes rgidas
Figura 2.35 Contraventamentos de juntos s empenas (vento) e a meio da cobertura (variaes trmicas)
Ven
to
Figura 2.36 Contraventamentos dos pilares de empena efectuados com transmisso pelas madres
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Contraventamento de estruturas
60
Para os elementos resistentes transversais aos edifcios os prticos principais as variaes trmicas s produzem efeitos apreciveis no caso de vos muito grandes ou de
existirem vrias naves em paralelo. Dado que elas s introduzem esforos de coaco
(auto-equilibrados) em princpio no afectam a resistncia ltima do prtico. H, no
entanto, que ter em ateno aos esforos normais introduzidos nas travessas, pois podem
afectar a sua estabilidade, s deformaes em fase de servio e aos efeitos de 2 ordem
que estes eventualmente produzem (figura 2.37).
dDilataes trmicas
d2Dilataes trmicas
d1
Dilatao trmicas impedida
dDilataes trmicas
Figura 2.37 - Deformao transversal devida variao trmica
As madres fora do sistema de contraventamento, mas no seu enfiamento, tm que suportar os esforos axiais que possuem. O sistema pode ser calculado como uma trelia
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Contraventamento de estruturas
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e quando os esforos axiais so elevados ou se fecha a seco com 2 UPN ([ ]) ou passa
de I ou H;
Quando se faz o travamento por elemento flexveis devem estes ser cabos de pr-esforo (que tm os fios j acomodados e seco compacta, pois os cabos ordinrios relaxam e
tm os fios a acomodar-se nos espaos do eixo, ou seja, a adaptar-se aos vazios);
Hoje o INP foi substitudo pelo IPE;
Madres trianguladas sempre haja que vencer mais de 10 m;
As madres no vencem mais que dois vos pois so difceis de manusear (encurvadura). Logo se a madre vencer dois vos, existem prticos mais carregados do que outros
(umas a 1,25 Q e outros a 0,75 Q), devendo-se efectuar um desfazamento (figura 2.38);
Figura 2.38 Desfazamento de madres
O uso de vares em contraventamento possvel, mas ter que haver apoios que impeam a deformao gravtica (dos vares), sendo sempre preferveis os tubos;
As madres contraventam as travessas dos prticos se estiverem fixas num sistema de contraventamento;
Se estivermos a trabalhar com dois sistemas de contraventamento simtricos, as madres podem, neste caso, trabalhar s com esforos de traco. De outro modo tambm tero
que resistir compresso (figura 2.39);
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Contraventamento de estruturas
62
Figura 2.39 Esquema correcto de introduo de contravantamento para as madres s terem traces
A chapa de cobertura tambm trava o banzo superior das madres (e a prpria cobertura) mas deve ser desprezada, em caso de dvida, em abono da segurana e por dificuldade
de contabilizao;
Aceitando que a face superior da madre, para momentos positivos, pode ser travada pelas chapas de cobertura, para momentos negativos tal no sucede. Assim, para que as
madres (perfis em I com altura entre 100 a 140 mm) no tenham comprimentos de
encurvadura da dimenso dos prticos (4 a 5 m, passados cerca de 50 mm do banzo)
pode-se introduzir travamentos laterais entre os prticos de forma complementar (figura
2.40);
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Contraventamento de estruturas
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Madre
Trava Madre
Figura 2.40 Travamento complementar das madres de cobertura
Quando as chapas de cobertura podem constituir um diafragma rgido impedem a flexo das madres segundo o eixo da seco de menor inrcia (zzs). Ainda assim, na
construo, com ausncia das chapas de cobertura, e sobretudo para guas bastante
inclinadas, tal mecanismo no se mobiliza, ou seja: se as madres fazem flecha tanto
maior quanto a inclinao da cobertura, mesmo para o seu peso prprio, as chapas se
constituam um diafragma podem evitar o fenmeno e dispensar o seu travamento lateral.
No entanto, h que estudar o que se passa durante a montagem, na ausncia das telhas;
Para momentos negativos necessrio impedir a encurvadura das travessas dos prticos (provocados, por exemplo, pela suco do vento na cobertura), por compresso do
banzo inferior, podendo usar-se travamentos desde a base da alma s madres, conforme
figura 2.41;
Figura 2.41 Travamento para momentos negativos das travessas dos prticos
As vigas inclinadas dos prticos (normalmente com seco em I), so essencialmente submetidas a flexo em torno do eixo de maior inrcia (yys). Nestas condies, para
evitar a ocorrncia de encurvadura lateral necessrio contraventar o banzo comprimido.
Em geral, as madres so consideradas como contraventamentos efectivos do banzo
superior das vigas, pelo que o banzo inferior pode ser contraventado com o recurso a
reforos ligados s madres (figura 2.41);
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Contraventamento de estruturas
64
As madres em coberturas e paredes so tambm consideradas como contraventamentos efectivos em relao encurvadura global. Assim, na direco perpendicular ao plano de
um prtico, considera-se que o comprimento de encurvadura dos elementos (vigas e
pilares) igual distncia entre madres;
Quando da existncia de asnas o comprimento de encurvadura da perna (gua inclinada) desta tambm ser a distncia entre madres (figura 2.42). Contudo poder suceder ser a
linha da asna a sofrer traces (aco do vento em suco na cobertura), pelo que poder
ser de exigir o seu travamento (figura 2.43);
Figura 2.42 Elementos estruturais de um edifcio industrial, com contraventamento na zona superior da
asna (compresses por efeito das foras gravticas: carga permanente e sobrecarga)
Figura 2.43 Elementos estruturais de um edifcio industrial, com contraventamento na zona inferior da
asna (por efeito da aco horizontal do vento, quando provoca suco na cobertura)
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Contraventamento de estruturas
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O contraventamento lateral dos prticos tambm essencial (figura 2.43), podendo ser efectuado por paredes de alvenaria com rigidez e resistncia suficiente (figura
2.44);
Figura 2.43 Contraventamento lateral dos prticos por elementos metlicos
Viga de beto a confinar a alvenaria
Prticos
Parede de alvenaria
Figura 2.44 Contraventamento lateral dos prticos por alvenaria
No caso de revestimentos de fachada tambm pode ser necessrio proceder ao seu travamento (figura 2.45);
De frisar que os sistemas de cobertura em trelia espacial so auto-contraventados no seu plano e para fora deste (figura 2.46);
Refira-se, ainda e se bem que fora do mbito dos edifcios industriais, que as estruturas de suporte em trelia espacial tero ser contraventadas vertical e horizontalmente (figura
2.47).
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Contraventamento de estruturas
66
Figura 2.45 Sistemas de contraventamento para revestimentos de fachadas
Figura 2.46 - Trelia espacial como sistema auto-contraventado de cobertura[4]
Figura 2.47 Contraventamentos em sistemas de apoio espaciais [23]
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Contraventamento de estruturas
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3. Anlise de sistemas de contraventamento
A distribuio em planta dos elementos verticais, influencia o modo como os edifcios se
comportam. partida, pode referir-se que quanto maior for o nmero de elementos verticais,
melhor o comportamento das estruturas porque, no s a existncia de maior nmero de ns
permite uma maior capacidade de dissipao de energia mas tambm no caso de acontecerem
roturas localizadas, as mesmas tem maior capacidade de redistribuio de esforos [16].
Assim necessrio que haja um bom envolvimento dos ns com cintas e, de um modo geral,
assegurar que a estrutura tenha um grau de ductilidade adequado.
Na verdade, sendo a ductilidade a propriedade que materiais e estruturas tm de se deformar
sem perda significativa da sua resistncia, assume esta particular relevncia na dissipao de
energia, nomeadamente de origem ssmica, tornando-se a garantia da sua existncia, em
estruturas e subsistemas de contraventamento, assumida importncia.
Outro aspecto de grande destaque o posicionamento dos pilares nas edificaes altas. O seu
mau posicionamento impede a formao de prticos ortogonais nas direces de actuao do
vento e, dessa maneira, podem tornar os edifcios muito flexveis. Alm da posio relativa de
um pilar em relao ao outro, importante que se tenha uma distribuio das maiores inrcias
dos pilares segundo as direces ortogonais de actuao das solicitaes. Pilares com inrcias
maiores flexo para um mesmo lado da edificao, sob a aco do vento na direco menos
rgida, podem levar fissurao das alvenarias de enchimento e compartimentao (externas e
internas) e dos elementos estruturais, como j visto, pela movimentao excessiva do edifcio
e, em ltimo instante, causar colapso global. Inrcias maiores distribudas nas duas direces
principais enrijecem o edifcio de maneira global.
Como os pilares interferem directamente na arquitectura, j que obstruem o espao construdo
e utilizvel, importante que o arquitecto os posicione j na concepo arquitectnica,
informando o engenheiro, de clculo estrutural, quais os locais e dimenses com que os
pilares podero ser implantados, para que no venham a ser pontos de discrdia durante a
construo e, o que seria pior, depois da obra executada. H casos onde o posicionamento
inadequado dos pilares chega at a inviabilizar o uso para que foi projectada determinada
edificao [10].
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Contraventamento de estruturas
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Como se referiu, os edifcios devem possuir uma distribuio uniforme e regular de rigidez e
de massa em altura e planta, estrutura em malha ortogonal e no demasiado deformvel, pisos
que funcionem como diafragmas rgidos (no seu plano) [2], devendo ainda evitar-se espaos
alargados sem paredes transversais, com elementos salientes (torres ou chamins) [3] ou
reentrncias.
Casos tpicos de assimetrias e irregularidades que devem ser evitadas esto reproduzidos na
figura 3.1.
Figura 3.1 Assimetrias e irregularidades a evitar nos edifcios.
Assim, os aspectos desejveis para a estrutura de um edifcio so a simplicidade, a
regularidade e a simetria, quer em desenvolvimento vertical como horizontal. Estas
propriedades contribuem para uma mais previsvel distribuio das foras horizontais no
sistema estrutural e eficcia do seu contraventamento. Qualquer irregularidade da distribuio
da rigidez ou da massa, conduz-nos, necessariamente, a um abaixamento da sua resposta
dinmica [17].
Para evidenciar o valor intrnseco da regularidade, diga-se que o EC8 [27] condiciona a
anlise a efectuar em funo dessa harmonia estrutural, sendo o modelo de estudo tanto mais
complexo e exigente quanto mais irregular essa estrutura se mostrar (Ttabela 2.1).
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Contraventamento de estruturas
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Tabela 2.1 - Consequncias da regularidade estrutural na anlise e dimensionamento ssmico [27]
Regularidade Simplificao permitida Coeficiente
Comportamento
Planta Altura Modelo Anlise elstica e linear (para anlise linear)
Sim Sim Plano Esttica (a) Valor de referncia
Sim No Plano Sobreposio Modal Valor reduzido
No Sim Espacial (b) Esttica (a) Valor de referncia
No No Espacial Sobreposio Modal Valor reduzido
(a) Se o perodo fundamental de vibrao T1 4Tc e T1 2.0, com Tc definido na tabela
3.2 e 3.3 do EC8.
(b) Dentro das condies estabelecidas no ponto 4.3.3.1(8) do EC8, um modelo plano pode
ser usado segundo as duas direces principais horizontais (includo frente).
A observao do comportamento dos edifcios, tanto em experimentao laboratorial como na
prtica, mostram que as estruturas simples, simtricas e regulares so as que menos danos
sofrem e melhor resistem s aces horizontais.
Contudo, e para edifcios com geometria irregular, as aces do vento podem ser
determinadas por simulaes em tneis de vento atravs da instrumentao de modelos
reduzidos da sua forma e volumetria, recorrendo a maquetas volumtricas e arquitectnicas
(figura 3.2).
Nas simulaes prticas tambm possvel determinar deslocamentos, vibraes e estudar
pontos especficos da arquitectura em relao ao conforto de utilizadores, como aberturas ou
passagens pelos edifcios, onde o vento pode limitar ou at inviabilizar o uso do espao
projectado.
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Contraventamento de estruturas
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Figura 3.2 Ensaios no tnel de vento.
Com os carregamentos determinados tambm se pode fazer modelagens computacionais, com
programas que utilizem Mtodos Numricos, como o Mtodo dos Elementos Finitos,
largamente aplicado actualmente, buscando simular o comportamento do edifcio frente s
presses estticas e tambm dinmicas do vento [10].
O estudo do comportamento de sistemas resistentes a aces laterais e o seu dimensionamento
so, em geral, efectuados por meio de uma anlise elstica. De facto, muito embora o
comportamento material, aquando da aco de um sismo expressivo, ultrapasse os limites da
elasticidade, torna-se mais vantajoso efectuar os clcios em regime linear e introduzir os
coeficientes de comportamento correctivos, tendo em conta o material de fabrico e o tipo de
estrutura. As hipteses de base desta anlise so geralmente as que a seguir se enumeram:
O comportamento do sistema admitido linear e elstico, o que correcto no domnio das cargas de utilizao normal e pondervel (coeficientes de comportamento) em
situaes de aces violentas e de curta durao (como o sismo). S no caso de edifcios
muito elevados, ter significado tomar em conta o comportamento no linear do material
e os efeitos de 2. ordem sob a aco da solicitao ssmica;
A rigidez das paredes de enchimento e elementos no estruturais desprezada;
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Contraventamento de estruturas
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A rigidez das lajes no seu prprio plano considerada infinitamente grande;
A rigidez das paredes e das lajes para fora do seu plano desprezvel (numa anlise plana);
As deformaes de esforo transverso de elementos esbeltos (L/h > 3) e a rigidez torsional de elementos esbeltos e de paredes delgadas so insignificantes. Repare-se que
para um conjunto de paredes de beto armado formando uma caixa a rigidez torsional
no desprezvel e poder ser muito favorvel;
As reas e a rigidez das seces so baseadas nas seces de beto ou metlicas;
As juntas entre elementos so supostas rgidas. Esta hiptese em geral vlida no caso de ncleos de paredes em beto armado. No caso de paredes de alvenaria mais seguro
considerar em separado os vrios elementos, atendendo s baixas tenses de corte
admissveis;
A deformao axial dos elementos verticais desprezvel;
Os efeitos de 2. ordem so desprezveis, em geral, tendo em considerao que a estrutura contraventada e, logo, de ns fixos;
Os comprimentos de encurvadura so, verificando-se a premissa do ponto anterior, correspondentes a estrutura de baixa mobilidade e, como tal, no limite iguais ao
comprimento do elemento estrutural.
Note-se que o grau de complexidade existente na anlise a aces laterais bastante elevado
(sistema tridimensional altamente hiperesttico). Assim, o projectista deve fazer as
simplificaes adequadas de acordo com a importncia da estrutura em estudo, de forma a
diminuir o tempo e custo do clculo.
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Contraventamento de estruturas
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Concluso
A identificao dos vrios tipos de contraventamento, que foi efectuada, conduziu sua
posterior recomendao face natureza e dimenso da estrutura principal, tendo sido
percorridas as mais utilizadas formas de construes, quer urbanas quer industriais.
Entre outros reparos finais que se poderiam efectuar, sublinham-se os seguintes [9, adaptado]:
Na concepo arquitectnica de edifcios altos devem contemplar-se solues
prvias para o adequado lanamento do subsistema de contraventamento, no
que diz respeito ao posicionamento dos elementos verticais e continuidade
estrutural seja pela formao de prticos ou pelo uso de laje como diafragma
rgido, composio esttica, pela definio ou no dos componentes estruturais
como participantes da arquitectura. Os pilares, medida que se aumenta a
altura das edificaes, ganham seco pelo esforo normal (carregamentos
gravticos) e tambm pelo papel desempenhado na estabilidade s solicitaes
horizontais - factor extremamente relevante para a concepo arquitectnica
das edificaes elevadas. O prvio conhecimento da importncia do subsistema
vertical e das possibilidades j consagradas permite grande compatibilidade,
ento, entre o projecto arquitectnico e o projecto estrutural;
Nos sistemas rgidos, os esforos solicitantes e os deslocamentos horizontais
so maiores do que nos sistemas contraventados. Pelo que no primeiro caso
formam-se estruturas mais pesadas, maior consumo de ao e,
consequentemente, menor economia;
O incremento da altura das edificaes determina o aumento da rigidez da
estrutura, o que para modelos rgidos ocorre com o aumento da rigidez das
vigas e, para os modelos de contraventados, com o aumento da rigidez das
diagonais [9].
Do exposto parece poder-se concluir que, em regra e para edifcios urbanos, o sistema ideal
(at economicamente) ser o de uma estrutura base em pilares (para fazer face solicitao
gravtica) auxiliada por um sistemas de contraventamento (absorvedor das aces horizontais,
vento e sismo), sendo certo que certos tipos de subsistemas de contraventamento podem,
simultaneamente, tomar conta de aces verticais.
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No que respeita a construes industriais, coberturas de um s piso com fecho lateral, as
solues apresentadas so genricas e comuns a qualquer situao, no existindo uma
panplia to diversa como nos edifcios urbanos, o que facilmente estendvel e aceitvel.
No fecho deste trabalho fica o desafio para uma futura incurso no campo da anlise numrica
(clculo e dimensionamento) de sistemas de contraventamento, estudo que no teve aqui
lugar.
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Contraventamento de estruturas
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