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XIII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design CONTRADIÇÕES DA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA ARQUITETÔNICA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A NBR-6492 E LIVROS DIDÁTICOS FULGÊNCIO, Vinicius Albuquerque 1 , PUTTINI, Carolina 2 . Resumo O objetivo deste estudo é investigar as contradições da representação gráfica arquitetônica nos materiais didáticos utilizados nos cursos de graduação em Ar- quitetura e Urbanismo, tendo como estudo de caso quatro Instituições Federais de Ensino Superior do Nordeste. Nesse sentido o presente trabalho focou no am- biente de ensino, considerando os reflexos que tais divergências podem acarre- tar na prática profissional. Para tal propósito foi utilizado o Método Comparativo entre dois objetos de estudo (NBR-6492 e livros didáticos). O procedimento me- todológico utilizado consistiu na seleção de documentos bibliográficos; desen- volvimento de categorias de análise; tabulação de dados e, por fim, análises e discussões. Em primeira instância não se pode afirmar que o material didático é o único responsável pelas contradições da representação gráfica arquitetônica, mas é possível dizer que há um conflito de informações no ambiente de ensino, pois os professores de representação gráfica podem estar ensinando a partir de referências documentais que não estão de acordo entre si. Palavras-chave: representação gráfica; desenho técnico; linguagem gráfica; projeto de arquitetura. Abstract The aim of this study is to investigate the architectural graphic representation contradictions in the didactic materials used in some Northeast Federal University. This way, the study focused in the teaching environment, considering the reflexes that such divergences can cause in professional practice. For this purpose, the Comparative Method was used between two objects of study (NBR- 6492 and textbooks). The methodological procedure consists in the selection of bibliographic documents; development of categories of analysis; tabulation of data and, finally, discussions and results. In the first instance it can not be said that the teaching material is the only one responsible for the contradictions of the architectural graphic representation, but it is possible to say that there is a conflict of information in the teaching environment, since the teachers of graphic representation can be teaching from contradictory documentary references. Keywords: graphic representation; technical drawing; graphic language; architectural design. 1 Universidade Federal de Pernambuco; [email protected] 2 Universidade Federal de Pernambuco; [email protected]

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  • XIII International Conference on Graphics Engineering for Arts and Design

    CONTRADIÇÕES DA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA ARQUITETÔNICA: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A NBR-6492 E LIVROS DIDÁTICOS

    FULGÊNCIO, Vinicius Albuquerque1,PUTTINI, Carolina2.

    Resumo

    O objetivo deste estudo é investigar as contradições da representação gráfica arquitetônica nos materiais didáticos utilizados nos cursos de graduação em Ar-quitetura e Urbanismo, tendo como estudo de caso quatro Instituições Federais de Ensino Superior do Nordeste. Nesse sentido o presente trabalho focou no am-biente de ensino, considerando os reflexos que tais divergências podem acarre-tar na prática profissional. Para tal propósito foi utilizado o Método Comparativo entre dois objetos de estudo (NBR-6492 e livros didáticos). O procedimento me-todológico utilizado consistiu na seleção de documentos bibliográficos; desen-volvimento de categorias de análise; tabulação de dados e, por fim, análises e discussões. Em primeira instância não se pode afirmar que o material didático é o único responsável pelas contradições da representação gráfica arquitetônica, mas é possível dizer que há um conflito de informações no ambiente de ensino, pois os professores de representação gráfica podem estar ensinando a partir de referências documentais que não estão de acordo entre si.

    Palavras-chave: representação gráfica; desenho técnico; linguagem gráfica; projeto de arquitetura.

    Abstract

    The aim of this study is to investigate the architectural graphic representation contradictions in the didactic materials used in some Northeast Federal University. This way, the study focused in the teaching environment, considering the reflexes that such divergences can cause in professional practice. For this purpose, the Comparative Method was used between two objects of study (NBR-6492 and textbooks). The methodological procedure consists in the selection of bibliographic documents; development of categories of analysis; tabulation of data and, finally, discussions and results. In the first instance it can not be said that the teaching material is the only one responsible for the contradictions of the architectural graphic representation, but it is possible to say that there is a conflict of information in the teaching environment, since the teachers of graphic representation can be teaching from contradictory documentary references.

    Keywords: graphic representation; technical drawing; graphic language; architectural design.

    1 Universidade Federal de Pernambuco; [email protected] Universidade Federal de Pernambuco; [email protected]

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    1 Introdução

    A representação gráfica aplicada à arquitetura se refere ao conjunto de métodos utilizados para expressar ideias e conceitos, desde as representações comumente associadas e utili-zadas (plantas, cortes e fachadas) àquelas como a mídia digital e os desenhos analíticos à mão livre (FARELLY, 2014).

    Dentre os diversos meios de representação aplicados à arquitetura, o desenho técnico é um dos mais utilizados e responsável por comunicar graficamente o objeto arquitetônico de forma padronizada. Sua principal função é passar as informações essenciais para a execu-ção do edifício, privilegiando clareza e precisão na transmissão desses dados (GOÉS, 2008). French (1951) define o desenho técnico como aquele utilizado por engenheiros, desenhistas e projetistas para comunicar ideias e registrar dados para a fabricação de máquinas e estru-turas. Já para Souza e Rocha (2010), “o desenho técnico é uma forma de expressão gráfica que tem por finalidade a representação de forma, dimensão e posição de objetos de acordo com as diferentes necessidades requeridas pelas diversas áreas técnicas”.

    No sentido de propiciar a informação padronizada o desenho técnico deve seguir as pres-crições previstas em normas de representação da ABNT (GOÉS, 2008). A normatização da re-presentação técnica arquitetônica corresponde a um conjunto de normas internacionais, sob a supervisão da ISO (International Organization for Standardization). Cada país tem suas próprias versões da norma adaptadas à sua realidade e especificidades. No caso brasileiro, a norma que se refere à representação gráfica arquitetônica é a NBR-6492 que tem por objetivo, conforme sua descrição, fixar as condições exigíveis para representação gráfica de projetos de arquitetura, visando à sua boa compreensão. Ainda destaca: tal norma não abrange os critérios de projeto, que são objeto de outras normas ou de legislação específicas de municípios ou estados.

    A padronização da representação técnica é importante e necessária àqueles que traba-lham na indústria da construção civil, pois a troca de informações entre esses profissionais deve acontecer de maneira eficiente e clara para a construção do edifício. Assim, a represen-tação configura-se como uma ferramenta de comunicação, registro e documentação da obra (GOÉS, 2008). No entanto, o que se vê empiricamente nas faculdades de arquitetura e no mercado da construção civil são conflitos entre representações do mesmo objeto.

    Nesse sentido o presente trabalho focou nas contradições existentes no ensino, consi-derando os reflexos que tais divergências podem acarretar na prática profissional. Assim, o objetivo dessa pesquisa foi investigar as contradições da representação gráfica arquitetô-nica nos materiais didáticos. Para isso utilizou-se de uma análise documental comparativa entre a NBR-6492 e dois livros didáticos.

    2 Metodologia

    Tendo em vista que o trabalho se estrutura através dos resultados da comparação de dois objetos de estudo (NBR-6492 e livros didáticos) a pesquisa irá utilizar o Método Comparati-vo para o seu desenvolvimento. Marconi e Lakatos (2012) definem esse método como uma “experimentação indireta” onde, a partir da comparação entre semelhanças e diferenças, se constrói uma explicação dos fenômenos. Fachin (2006) aponta que nesse método é possível deduzir dos dados concretos seus elementos abstratos, constantes e gerais.

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    Dito isso, apresentamos o conjunto de procedimento metodológicos adotados: 1) sele-ção de documentos bibliográficos; 2) desenvolvimento de categorias; 3) tabulação de dados; 4) análises e discussões. Em relação aos documentos bibliográficos, a pesquisa está reali-zando um levantamento das bibliografias3 das disciplinas de desenho arquitetônico nas Uni-versidades Federais do Nordeste. Os resultados prévios, referentes a quatro Universidades, nos mostram que os três materiais bibliográficos mais utilizados, considerando às ementas, são: NBR 6492, o livro “Desenho Arquitetônico” de Gildo Montenegro e o livro “Dimensiona-mento em Arquitetura” de Emile Pronk. No entanto, o livro de Pronk não contempla os con-teúdos referentes à representação gráfica arquitetônica e, por isso, selecionamos o quarto colocado nesse ranking: o livro “Desenho Arquitetônico” de Oberg (ver quadro 1).

    Após a seleção de documentos, foram desenvolvidas duas grandes categorias de análi-se. A primeira é baseada nos critérios definidos por Schuler et al (2014) quanto aos dados fundamentais para a informação gráfica: 1) elementos construtivos e 2) representação das informações. Considerando que a representação das informações está vinculada a organi-zação informacional, utilizou-se apenas o primeiro critério ( elementos construtivos), o qual divide-se nos seguintes grupos e itens: paredes e elementos estruturais; aberturas (portas, janelas, portões); pisos e seus componentes (degraus, rampas, escadas); equipamentos de construção (aparelhos sanitários, roupeiros, lareiras); aparelhos elétricos de porte (fogões, ge-ladeiras, máquinas de lavar) e elementos de importância não visíveis. A segunda categoria, baseada no critério de Farelly (2011), trata da comunicação gráfica de projetos de arquitetura: as variações de espessura e tipos de linha. O componente “elementos de importância não visíveis”, da primeira grande categoria analítica, foi excluído tendo em vista que termina por se repetir na segunda categoria, ao tratarmos das linhas de projeção e elementos não visíveis. Como resultado, temos as duas grandes categorias de análise dos projetos, conforme Figura 1.

    Quadro 1 – Bibliografia utilizada em disciplina de desenho arquitetônico (UFAL, UFPB, UFPE, UFPI).BIBLIOGRAFIA DISCIPLINAS DE DESENHO ARQUITETÔNICO UFAL UFPB UFPE UFPI QNT QNTLIVROS %ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Elaboração de projetos de edificações - Arquitetura – NBR 13532 X 1 4,8

    ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Representação de projetos de arquitetura – NBR 6492, Rio de Janeiro, 1994. X X X X 4 19,0

    CHING, Arquitetura – forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins Fontes, 1998. X 1 4,8

    CHING, Francis D. K. Representação gráfica em arquitetura. Porto Alegre: Bookman,1996. X 1 4,8

    DAGOSTINO, Frak R. Desenho arquitetônico contemporâneo. São Paulo: Hemus,2004. 446p. X 1 4,8

    LEGGITT, J. Desenho de arquitetura. Técnicas e atalhos que usam tecnologia. Porto Alegre: Editora Bookman, 2004 X 1 4,8

    MONTENEGRO, G. Desenho Arquitetônico. São Paulo: Edgar Blucher, 2001. X X X X 4 19,0

    NEIZEL, Ernst. Desenho técnico para a construção civil. Sao Paulo: EPU, 1974. X 1 4,8

    OBERG, L. Desenho arquitetônico. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.153p X X 2 9,5

    PRONK, Emile. Dimensionamento em Arquitetura. , 4ª edição Ed.Universitária/UFPB, 1995, 65 p X X X X 4 19,0

    SILVA, Gilberto Soares da. Curso desenho técnico. Porto Alegre: Sagra-DcLuzzato, 1993. X 1 4,8

    Fonte: Autores, 2019.

    3 Apenas quatro Universidades Federais da região Nordeste possuem as ementas completas de suas disciplinas disponíveis online. As demais estão incompletas ou ausentes. A pesquisa realizou a soli-citação desses documentos às respectivas coordenações de curso e está aguardando para concluir os dados com maior exatidão.

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    Figura 1: Categorias de análise.

    Fonte: autores, 2019.

    Por fim, foram comparadas as semelhanças e diferenças entre os documentos selecio-nados. Desenvolveu-se um quadro para cada categoria analítica, comparando a NBR-6492 com as duas outras principais referências bibliográficas definidas nesse trabalho. Embora a NBR-6492 seja considerada como parte do documento bibliográfico, decidiu-se utilizá-la como balizador comparativo entre os livros didáticos pelo fato de que muitos órgãos públicos utilizam a norma como parâmetro de avaliação de projeto arquitetônico – conforme pode ser averiguado no plano diretor ou no código de obras das cidades de João Pessoa, Maceió, Re-cife e Teresina, sedes das Universidades Federais utilizadas no levantamento deste estudo.

    3 Resultados e discussões

    Categoria 1: elementos construtivos

    A partir do primeiro estudo comparativo (Quadro 2), verificamos que nenhum material didá-tico está de acordo com a norma em sua totalidade. O livro de Montenegro é o que mais se aproxima, com 70% dos itens em conformidade com a norma, enquanto o de Oberg apresen-ta apenas 10%. Inicialmente é preciso colocar que a primeira NBR-6492 foi publicada em 1985 e substituída em 1994, por uma versão atualizada. Ambas as versões são posteriores ao livro de Oberg (publicado em 1979), o que pode indicar a razão da ausência de base e referência à norma. Enquanto o livro de Montenegro que consta nas ementas foi publicado em 2001, posterior à norma.

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    Quadro 2 – Elementos Construtivos: concordância entre livros didáticos x NBR 6492

    Fonte: Autores, 2019.

    Tratando dos itens de forma mais específica, verificou-se que as paredes em ambos os livros são representadas com duas linhas contínuas, grossas e paralelas. No entanto a nor-ma define sua representação como uma linha dupla, sendo a interior mais grossa e a exterior mais fina (Figura 2).

    Figura 2 – Elementos Construtivos: paredes. Livros didáticos x NBR 6492.

    Fonte: (a) NBR-6492 (1994); (b) Montenegro (2001); (c) Oberg (1979), adaptado pelos autores.

    A Figura 3 demonstra as representações explicativas na NBR--6492, bem como nos livros de Montenegro e Oberg. Em relação a janela baixa, tanto Oberg quanto Montenegro a representam de forma centralizada à parede e simplificada: duas linhas externas, represen-tando o peitoril em vista, e duas linhas internas, representando a folha da janela. Enquanto que na NBR-6492 a janela é representada de duas maneiras: 1) esquadria - com elementos de fixação - posicionada na parte mais interna ao ambiente (Figura 3- a1); 2) esquadria - simplificada - posicionada no eixo da parede (Figura 3 – a2). Em relação à janela alta, Oberg representa igualmente à baixa, sem diferenciar que a mesma se encontra acima do plano de corte. Montenegro, por sua vez, representa a janela alta com linha tracejada. Já a NBR-6492 indica que elementos acima do plano de corte devem ser representados com a linha do tipo “traço e dois pontos”, sem determinar o elemento construtivo “janela”.

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    Figura 3 – Aberturas: janelas. Livros didáticos x NBR 6492

    Fonte: NBR-6492 (1994); Montenegro (2001; Oberg (1979), adaptado pelos autores.

    A Figura 4 apresenta a maneira como a porta é representada nos documentos pesquisa-dos. Verificou-se que a NBR-6492 (Figura4-a) representa da seguinte maneira: folha da porta com duas linhas médias paralelas entre si, a 90º da parede, e com o giro em linha fina con-tínua e em arco. Montenegro representa da mesma maneira que a NBR-6492 (Figura 4-b1), ao mesmo tempo que relata convenções alternativas à norma, ou seja, práticas de mercado (Figura 4-b2). Por fim, Oberg apresenta em seu livro duas maneiras distintas de representar a porta, ambas diferem da norma.

    Figura 4 – Aberturas: portas. Livros didáticos x NBR 6492

    Fonte: NBR-6492 (1994); Montenegro (2001); Oberg (1979), adaptado pelos autores.

    Seguindo a metodologia, passamos para a análise dos pisos e componentes. As rampas em ambos os livros não apresentam indicação de fluxo, numeração e símbolos conforme a norma e, no caso de Oberg as escadas também. Por fim, a representação dos equipamentos de construção apenas Oberg apresenta espessuras e algumas simbologias diferentes das prescritas em norma.

    Figura 5 – Pisos e componentes. Livros didáticos x NBR 6492Fonte: NBR-6492 (1994); Montenegro (2001); Oberg (1979), adaptado pelos autores.

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    Categoria 2: linhas de representação

    Conforme descrito na metodologia, partindo para a segunda categoria de análise, se investi-gou a concordância entre a NBR-6492 e os livros didáticos quanto à diferenciação de linhas. O Quadro 3 mostra que tanto Montenegro quanto Oberg apresentam 75,00 % de concordân-cia com a norma técnica. Tal resultado é esperado quanto a Montenegro - considerando seu índice na categoria 1 de análise - mas é uma surpresa quando tratamos de Oberg. De modo geral foram poucas as discordâncias quanto as linhas de representação, ficando restritas ao tipo de linha para projeção acima do plano de corte (para ambos os livros), linhas de eixo para Oberg e cotas para Montenegro.

    Quadro 3 – Linhas de representação: concordância entre livros didáticos e NBR-6492

    Fonte: Autores, 2019.

    Quanto ao tipo de linha dos elementos em projeção acima do plano de corte, verificou-se que não houve concordância entre os livros e a norma. Isso porque a norma define que para objetos acima do plano de corte deve-se usar a linha traço e dois pontos com espessura de 0,2 mm. Na prática significa que elementos como marquises, beirais e janela alta devem ser representados com esse tipo e espessura de linha. O livro de Montenegro (2001), bem como o de Oberg (1979) não especificam em suas explicações como tais elementos devem ser representados, mas nos exercícios propostos tanto os elementos acima, como os que ficam abaixo do plano de corte são representados com linha fina traço e traço (0,2 mm).

    No caso das janelas baixas, tanto Montenegro, quanto Oberg as representam de forma genérica, sem diferenciar a linha média interna (referente à esquadria) da linha fina externa (referente ao peitoril). O livro de Montenegro se mostra contraditório neste quesito, pois na sua explicação ele demonstra a diferenciação de espessuras, mas nos exercícios práticos e em outros exemplos no decorrer da obra as linhas não possuem tal distinção.

    Em relação às cotas, Montenegro não obedece à norma, pois ao invés de apresentar traço oblíquo no limite da linha de cota, apresenta uma circunferência preenchida com hachura sólida. Oberg, por sua vez, apresenta as linhas de eixo ou coordenadas com linha tracejada ao invés de traço e ponto.

    Nesse sentido, é importante ressaltar a necessidade de se trabalhar com as categorias de análise aqui propostas, pois se considerássemos apenas uma delas, teríamos índices com níveis significativamente opostos. Se por um lado Oberg não se aproxima da represen-tação dos elementos construtivos da norma, está mais de acordo com o tipo de linha. Nesse

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    sentido, o material de Montenegro se apresenta mais vantajoso, pois cumpre uma confor-midade maior em ambas as categorias. Isso não indica que o material de Oberg deva ser desconsiderado, pois há outros elementos que podem ser aproveitados, como os exercícios propostos e a abordagem mais próxima com o projeto de arquitetura. Tais questões não cabem nessa discussão, mas são necessárias para que lembremos de considerar outros aspectos para além dos conteúdos aqui tratados.

    4 Considerações finais

    Os resultados obtidos nessa pesquisa são de caráter preliminar, uma vez que ainda falta analisar as outras Universidades Federais do Nordeste. É preciso frisar que essa pesquisa e seus resultados refletem um contexto referente à região Nordeste e, portanto, pode-se en-contrar dados diferentes em outras regiões. Ao mesmo tempo, a metodologia pode ser utili-zada para contextos diferentes em que se busque investigar a mesmas questão: os possíveis reflexos das contradições entre a NBR- 6492 e os materiais didáticos.

    Quanto aos resultados desse trabalho, em primeira instância não se pode afirmar que o material didático é o único responsável pelas contradições da representação gráfica arqui-tetônica. No entanto, se ele é utilizado pelos professores, serve de base para o desenvolvi-mento de atividades, aulas expositivas ou até a maneira como o professor conduz os con-teúdos da disciplina. É preciso apontar também que o professor pode, nem sempre, utilizar as referências aqui estudadas. Tais questões podem ser melhor mensuradas em um estudo que aplique entrevistas e questionários com professores e alunos das disciplinas desse con-teúdo. Também se faz necessário uma outra investigação que aponte essas divergências na prática de mercado e em que medida tais práticas é reflexo do ensino.

    Outro aspecto importante ressaltar é a necessidade de se trabalhar com as categorias de análise aqui propostas, pois se considerássemos apenas uma delas poderíamos fazer uma leitura incompleta do material didático. Se por um lado Oberg não se aproxima da re-presentação dos elementos construtivos da norma, está mais de acordo com o tipo de linha. Desse modo, o material de Montenegro se apresenta mais vantajoso, pois cumpre uma con-formidade maior em ambas as categorias. Isso não indica que o material de Oberg deva ser desconsiderado, pois há outros elementos que podem ser aproveitados, como os exercícios propostos e a abordagem mais próxima com o projeto de arquitetura. Tais questões não cabem nessa discussão, mas são necessárias para que lembremos de considerar outros aspectos para além dos conteúdos.

    Em relação aos parâmetros o que podemos observar é que a representação gráfica ar-quitetônica se configura a partir da relação entre os elementos construtivos e a tipificação de linhas. Esse conjunto de códigos é que definem o modo de se comunicar graficamente um projeto de arquitetura. Aparentemente pode ser uma consideração lógica, mas que é pouco explorada de forma metodológica e sistêmica. Nesse sentido percebe-se que a NBR-6492 é bastante específica quanto à tipificação de linhas, mas ainda é restrita em relação aos elementos construtivos. Assim precisa aprofundar quanto à maneira de se representar tais elementos, pois algumas vezes aparecem de forma dúbia ou incompleta.

    A variedade nos resultados dos itens específicos nos mostra a necessidade de ampliar o debate aqui proposto. Em relação aos elementos construtivos, podemos destacar as discor-

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    dâncias entre os seguintes elementos: paredes e aberturas. Em relação às paredes, o que muda está mais relacionada a representação detalhada ou simplificada. Dependendo do tipo de desenho e escala, não se faz necessário representar reboco e emboço. Em relação às aberturas, há quem represente a porta com linha contínua e há quem represente com linha tracejada, assim como as janelas altas que, na verdade, deveriam ser representadas com li-nha de projetação acima do nível do plano de corte (traço - dois pontos - fino), apresentam-se em sua maioria como linhas tracejadas.

    A partir do exposto fica uma questão: seriam os livros didáticos que estão simplifican-do a representação ou a NBR-6492 que não está mais de acordo com os novos processos produtivos? É preciso lembrar que a NBR-6492 é de 1994 e, até então, não foi revisada. Atualmente, com os novos softwares de computação gráfica e os novos modos de trabalho, muitas representações vêm auxiliadas por tabelas e informações complementares em anexo ou acopladas ao modelo computacional.

    Por fim, é possível dizer que há um conflito de informações no ambiente de ensino, pois os professores de representação gráfica podem estar ensinando a partir de referências do-cumentais que não estão de acordo. Além disso os professores de projeto de arquitetura, os quais se utilizam da representação gráfica como ferramenta, podem também referenciar-se por outros documentos também contraditórios.

    Referências

    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6492: Representação de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.

    FACHIN, Odilia. Fundamentos da Metodologia. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

    FARELLY, Lorraine. Fundamentos da Arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2014

    __________. Técnicas e representação. Porto Alegre: Bookman, 2011.

    FRENCH, Thomas. Desenho Técnico. Rio de Janeiro, Porto Alegre, São Paulo: Globo, 1951.

    GOÉS, Mariza. O desenho no processo projetual: suas diferentes funções e representações. Revista da Vinci, Curitiba, v. 5, n. 1, p. 51-59, 2008.

    LUNA, Sérgio. Planejamento de pesquisa: uma introdução. São Paulo: EDUC, 2007.

    MARCONI, Marina; LAKATOS, Eva. Técnicas de pesquisa. 7a. Ed. São Paulo: Atlas, 2012.

    MONTENEGRO, Gildo. Desenho Arquitetônico. 4a Edição. São Paulo: Edgar Blücher, 2001.

    NADOLSKIS, Hendricas. Comunicação redacional atualizada. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

    OBERG, L. Desenho Arquitetônico. 22. ed. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1979.

    SCHULER, Denise ; FILHO, Heitor; FILHO, José. Noções gerais do desenho técnico. Santa Catarina: 2014. Disponível em: https://wiki.ifsc.edu.br/mediawiki/images/0/0d/ARU_TMC_PBA_Apostila_Parte_A.pdf> Acesso em: 17 de gosto de 2018.

    SOUZA, Gilson Jandir de; ROCHA, Sérgio Pereira da. Área de refrigeração e ar condicionado: Introdução ao desenho técnico. Santa Catarina: IFSC- Instituto Federal Santa Catarina, 2010