Conhecendo a informatica

4
Mudando paradigmas Conhecendo a informática educacional (disponível na Biblioteca Digital do Proinfo – http://www.proinfo.mec.gov.br/) Vicente Willians Meu primeiro contato com a Informática Educacional foi em 1993. Nesta época, ministrava aulas de informática em um Curso Profissionalizante de Ensino Médio (2º Grau). Estava visitando uma Feira de Informática realizada no antigo MEC e, neste evento, além da exposição de stands, seriam realizadas algumas palestras. Vendo o programa daquele dia, achei que seria bastante interessante assistir a uma palestra sobre Inteligência Artificial. Antes desta palestra haveria outra sobre Informática Educacional?!. Eu não tinha idéia do que se tratava, mas, como tinha que esperar pela palestra sobre Inteligência Artificial, fiquei no auditório. Para tentar encurtar essa história, posso dizer que aquela palestra sobre Informática Educacional mudou de forma radical a minha postura quanto ao que pensava ser educação. Os relatos e questionamentos levantados pelo palestrante me fizeram repensar sobre tudo que considerava ser o "papel de um professor". A partir daquele momento, comecei a entender que nem sempre ou até, por que não dizer?, Quase nunca é o aluno o único responsável pela sua dificuldade de aprendizado. Entendi que para se trabalhar com educação é necessário um "algo mais", que não dá para explicar, algo que faz com que você aceite participar de um processo de construção. Trocando em miúdos, depois desta palestra procurei estudar e conhecer mais sobre Informática Educacional. Através dos estudos feitos nesta área, comecei a modificar minha postura frente aos problemas de aprendizagem dos meus alunos, procurando tratar cada um como sendo único, respeitando sua individualidade ajudando-os perceber a importância de estarem aprendendo algo para ser utilizado em sua vida. É importante ressaltar as dificuldades encontradas neste período, pois eu era o tipo de professor "turrão", que acreditava estar "dando" uma aula maravilhosa e que todos os alunos deveriam ficar muito satisfeitos e atentos à mesma. Esta minha nova postura não me trouxe problemas com os alunos; pelo contrário, a minha relação passou a ser muito mais prazerosa. Uma das observações mais importante que fiz neste período foi a de que a relação professor / aluno melhorou muito gerando o companheirismo e favorecendo a aprendizagem. Os problemas que não tive com os alunos foram os encontrados com meus colegas de profissão e com a coordenação da escola, pois todos achavam que minha nova postura contrastava com a da maioria dos outros professores. Só para exemplificar esta fase, houve um dia em que, como sempre acontecia, estávamos em um Conselho de Classe, e os professores começaram a falar das dificuldades que a maioria dos alunos tinha em assimilar os conteúdos "tão bem explicados". Como já era de costume, estávamos todos indo para o lugar-comum de falar que os alunos não conseguiam aprender, usando, inclusive, expressões bastante grotescas. Diante deste panorama, tomei a atitude de perguntar à Diretora da escola,

description

ARTIGO QUE ESTUDAREI PARA O MEU ARTIGO DA PUC RIO

Transcript of Conhecendo a informatica

Page 1: Conhecendo a informatica

Mudando paradigmas

Conhecendo a informática educacional

(disponível na Biblioteca Digital do Proinfo – http://www.proinfo.mec.gov.br/)

Vicente Willians

Meu primeiro contato com a Informática Educacional foi em 1993. Nesta época, ministrava aulas

de informática em um Curso Profissionalizante de Ensino Médio (2º Grau). Estava visitando uma Feira de

Informática realizada no antigo MEC e, neste evento, além da exposição de stands, seriam realizadas

algumas palestras. Vendo o programa daquele dia, achei que seria bastante interessante assistir a uma

palestra sobre Inteligência Artificial. Antes desta palestra haveria outra sobre Informática Educacional?!.

Eu não tinha idéia do que se tratava, mas, como tinha que esperar pela palestra sobre Inteligência Artificial,

fiquei no auditório. Para tentar encurtar essa história, posso dizer que aquela palestra sobre Informática

Educacional mudou de forma radical a minha postura quanto ao que pensava ser educação. Os relatos e

questionamentos levantados pelo palestrante me fizeram repensar sobre tudo que considerava ser o "papel

de um professor". A partir daquele momento, comecei a entender que nem sempre ou até, por que não

dizer?, Quase nunca é o aluno o único responsável pela sua dificuldade de aprendizado. Entendi que para se

trabalhar com educação é necessário um "algo mais", que não dá para explicar, algo que faz com que você

aceite participar de um processo de construção. Trocando em miúdos, depois desta palestra procurei estudar

e conhecer mais sobre Informática Educacional.

Através dos estudos feitos nesta área, comecei a modificar minha postura frente aos problemas de

aprendizagem dos meus alunos, procurando tratar cada um como sendo único, respeitando sua

individualidade ajudando-os perceber a importância de estarem aprendendo algo para ser utilizado em sua

vida. É importante ressaltar as dificuldades encontradas neste período, pois eu era o tipo de professor

"turrão", que acreditava estar "dando" uma aula maravilhosa e que todos os alunos deveriam ficar muito

satisfeitos e atentos à mesma. Esta minha nova postura não me trouxe problemas com os alunos; pelo

contrário, a minha relação passou a ser muito mais prazerosa. Uma das observações mais importante que

fiz neste período foi a de que a relação professor / aluno melhorou muito gerando o companheirismo e

favorecendo a aprendizagem.

Os problemas que não tive com os alunos foram os encontrados com meus colegas de profissão e

com a coordenação da escola, pois todos achavam que minha nova postura contrastava com a da maioria

dos outros professores. Só para exemplificar esta fase, houve um dia em que, como sempre acontecia,

estávamos em um Conselho de Classe, e os professores começaram a falar das dificuldades que a maioria

dos alunos tinha em assimilar os conteúdos "tão bem explicados". Como já era de costume, estávamos

todos indo para o lugar-comum de falar que os alunos não conseguiam aprender, usando, inclusive,

expressões bastante grotescas. Diante deste panorama, tomei a atitude de perguntar à Diretora da escola,

Page 2: Conhecendo a informatica

que participava do conselho, se aquela reunião se resumiria ao levantamento dos problemas de alunos. Ela

pediu para que eu fosse mais claro em minha indagação. Relatei, então, que já estava na escola há 4 anos e

que em todos os conselhos eram levantadas as mesmas dificuldades, algo que devo reconhecer que também

era feito por mim um tempo atrás. Falei que o importante seria que, além de estarmos levantando os

problemas, também estivéssemos fornecendo sugestões sobre como solucioná-los. Para minha "grande"

surpresa, alguns professores pensavam da mesma forma que eu. Aproveitando o fato de já ter conseguido

fazer com que os professores entendessem que, pelo menos em parte, eram responsáveis pelas dificuldades

dos alunos, sugeri que fosse criada o que chamamos na época de "aula de reforço", e fazer nessas aulas,

algo "diferente", utilizando outros recursos que não fossem somente o quadro-negro e o giz.

Neste momento o grupo se dividiu, pois para alguns a solução estava no aumento da quantidade de

aulas; já outros sabiam que o problema não era a quantidade e sim a qualidade dessas aulas. Meus

argumentos não foram aceitos por todos, porém alguns professores abraçaram a idéia por completo e nas

suas aulas começaram a utilizar filmes, palestras de profissionais da área, etc. Um dos maiores ganhos que

tivemos foi à criação de projetos integrados com a utilização da Informática como ferramenta. Nesta

oportunidade os alunos começaram a perceber que as disciplinas não são coisas isoladas; perceberam,

também, a importância de se aprender determinados conteúdos das disciplinas para solucionar problemas.

Outra constatação importante que tive dessa experiência foi a de que, quando o aluno não participa somente

como espectador, os resultados são muito mais expressivos e comprometidos.

Conhecendo o berço da Informática Educacional

Quando acreditava ser um mestre em informática educacional, tive diversas surpresas. Vim

trabalhar na Trend Tecnologia Educacional e fiquei sabendo que se tratava da mesma empresa na qual

trabalhava aquele palestrante a que assisti no evento do MEC, e que me fez rever conceitos antes imutáveis

na minha prática pedagógica. Porém, esta foi apenas à primeira das surpresas. A maior delas foi quando

percebi que deveria permitir que os alunos descobrissem, suas soluções e seus próprios caminhos, e que

meu papel era o de auxiliar nesta caminhada. Mesmo para mim que já estava acostumado a trabalhar de

forma "diferente", achava um pouco estranho ser professor "sem ensinar", ainda mais pelo fato de ser um

professor de curso profissionalizante em que se trabalha de forma totalmente sistematizada. Eu ficava me

perguntando: e se o aluno não descobrir?, E se ele não aprender nada? Eu serei o culpado? Como eles vão

me considerar como professor se minha disciplina (informática educacional) não tem nota? Qual será a

minha importância na vida daquele aluno? O aluno não está acostumado a pensar, o sistema escolar entrega

tudo definido; por que só eu tenho que fazer tão diferente?

Bem, essas perguntas, embora sendo bastante angustiantes, foram sendo respondidas. Entendi que, para o

aluno querer descobrir, era necessário que fosse instigado; que, para aprender, ele teria que saber a

importância daquele aprendizado na sua vida; e que, para ser considerado professor, não é preciso ter o

poder de dar nota, basta despertar o interesse dos alunos. É claro que para chegar a este estágio tive que

passar por várias etapas, sendo que a primeira e mais importante era a de acreditar naquilo que falava, pois

nós só podemos convencer alguém de algo em que nós próprios acreditamos.

Page 3: Conhecendo a informatica

Uma coisa muito importante nesta época era o fato de saber que todos nós, professores da

empresa, estávamos na mesma situação, o que fez com que recorrêssemos uns aos outros, buscando idéias e

trocando experiências de sala de aula. Naquela época já usávamos a inteligência coletiva, hoje tão

discutida. Conseguimos avanços significativos, pois, além da experiência em sala de aula, também

contávamos com total apoio da empresa, que nos oferecia oportunidade de estar sempre atualizado com o

que havia de mais moderno na área de Tecnologia Educacional e nos oferecia momentos de troca.

Trabalhando com projetos

Mesmo tendo diversos avanços no trabalho com os alunos no laboratório, descobrimos que utilizar

o computador não era o único e nem o principal objetivo da Informática Educacional, pois isto poderia ser

feito em qualquer um dos muitos cursos existentes no mercado; o grande ganho no uso desta tecnologia nas

escolas era a forma que ela poderia ser utilizada no processo pedagógico. Foi, então, que começamos a

elaborar projetos, tendo a informática como ferramenta, fazendo com que os alunos ao trabalharem as

diversas disciplinas utilizassem a informática, tornando a aprendizagem mais interessante, pois, ao invés de

estarem sentados apenas assistindo ao que está sendo falado pelo professor, eles atuam diretamente na

construção de seu conhecimento.

O nosso trabalho com projetos foi ficando cada vez mais intenso, pois com a dimensão que

informática começou a ter em todas as áreas, não só na educação, mas em todas as áreas da sociedade,

tivemos cada vez mais a participação dos professores e realizamos projetos cada vez mais interessantes.

O Curso Técnico

Quando fui chamado para assumir a coordenação do curso técnico na empresa, procurei me

inteirar ao máximo sobre tudo o que a ele se relacionava. Comecei pela lei que regulamentava os cursos

profissionalizantes. Pode parecer incrível, mas enquanto era "só" professor, nunca tinha dado atenção a

LDB. Assim, a nova LDB foi o meu objeto de estudo. Como já tinha começado a ver o que a lei dizia sobre

cursos técnicos, aproveitei para estudá-la por inteiro, e foi muito interessante descobrir que sua estrutura era

bem parecida com o que nós da empresa pensávamos sobre educação, algo do tipo valorizar mais o

caminho do que o resultado, não supervalorizar o erro, etc.

Bem, faltava, agora, fazer com que nossos professores entendessem que "nota" não poderia ser a única

maneira de fazer com que os alunos tivessem interesse em nossas aulas. Só para exemplificar o que estou

falando, havia um professor que, quando foi chamado para trabalhar no curso técnico, disse o seguinte,

"Legal! Agora já posso mandar aluno para fora de sala! “. Diante deste panorama, tenho procurado dar uma

ênfase muito grande ao que diz respeito à relação "aluno / professor". Cada vez torna-se mais necessário

estar preparado para trabalhar não só com o conteúdo do curso, mas também com a parte afetiva de nossos

alunos, pois acreditamos que é importante para a aprendizagem o interesse do aluno, nestas aulas, assim

como é importante a postura do professor para com estes alunos.

Page 4: Conhecendo a informatica

Em nossas aulas procuramos utilizar diversos recursos, pois, já que estamos formando técnicos em

informática, nada mais natural que tenham contato com os recursos existentes nesta área, além de estarmos

sempre relacionando nossas aulas com o cotidiano que encontrarão no mercado de trabalho. Se for para

trabalhar com programação, então vamos fazer um programa sobre como registrar as notas da turma,

calcular médias finais, etc.; se a disciplina for manutenção, vamos abrir um computador e mexer de verdade

nos seus componentes, etc.

Este trabalho tem sido muito gratificante, pois é uma forma prática de responder perguntas do tipo:

onde eu usarei isto. Acho que este é o nosso diferencial.

Outra particularidade do curso é o fato de que, mesmo tendo professores com formação bastante

técnica (tecnólogos, analistas, engenheiros, etc.), conseguimos ter uma boa dinâmica pedagógica em nossas

aulas; com certeza, isso ocorre por serem aqueles professores os mesmos que, desde o início de nosso

trabalho na Trend, vinham revendo sua postura diante dos alunos, convergindo para uma verdadeira

mudança de paradigma educacional.

Falar de profissionalização nos dias de hoje é algo extremamente delicado, pois a única coisa que

podemos garantir nesta área é que as exigências do mercado de trabalho atual serão quase que obsoletas

dentro de 2 ou 3 anos. Logo fica claro que é necessário oferecer um plano de curso bastante abrangente e,

mais ainda, capacitar nosso alunos a conseguirem se adaptar às mudanças que estão por vir.

O que nos cabe, como educadores que somos, é saber que estaremos sempre diante de obstáculos,

que nunca estaremos prontos, e que crescemos a cada dia. Com nossas experiências e com as de nossos

alunos. Ou seja, cada professor deve ser um eterno aprendiz.