Conflitos Eticos dos Estudantes de Medicina e Medicos Residentes

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Desafios e conflitos Desafios e conflitos é é ticos ticos dos m dos m é é dicos residentes dicos residentes Dr. Sami A R J El Jundi, MD, Dr. Sami A R J El Jundi, MD, MSc MSc

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Desafios e conflitos Desafios e conflitos ééticos ticos dos mdos méédicos residentesdicos residentesDr. Sami A R J El Jundi, MD, Dr. Sami A R J El Jundi, MD, MScMSc

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DeclaraDeclaraçção de conflitosão de conflitos

As idAs idééias, argumentos e opiniões aqui ias, argumentos e opiniões aqui apresentados ou expressados são de apresentados ou expressados são de responsabilidade responsabilidade úúnica e exclusiva do autornica e exclusiva do autor, , não representando, sob qualquer forma ou não representando, sob qualquer forma ou pretexto, a opinião das entidades ou instituipretexto, a opinião das entidades ou instituiçções ões ààs quais seu nome ests quais seu nome estáá vinculado publicamente.vinculado publicamente.O autor O autor não tem conflitos de interesse a não tem conflitos de interesse a declarardeclarar em relaem relaçção aos temas aqui ão aos temas aqui desenvolvidos.desenvolvidos.

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ÉÉticatica

““A A éética tica éé

a teoria ou ciência do a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em comportamento moral dos homens em

sociedade. Ou seja, sociedade. Ou seja, éé

ciência de uma forma ciência de uma forma especespecíífica de comportamento humanofica de comportamento humano””

CarCarááterter: cient: cientíífico (genfico (genéérico, racional, objetivo, rico, racional, objetivo, sistemsistemáático, mettico, metóódico e, no limite do possdico e, no limite do possíível, vel, comprovcomprováávelvel););ObjetoObjeto: o mundo moral, constitu: o mundo moral, constituíído por um do por um tipo peculiar de fatos ou atos humanos.tipo peculiar de fatos ou atos humanos.

Vázquez, A.S.

Ética. Ed. Civilização Brasileira, 1989.

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MoralMoral

““Conjunto de normas, aceitas livre e Conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o conscientemente, que regulam o

comportamento individual e social dos comportamento individual e social dos homenshomens””

CarCarááterter: hist: históórico, rico, ““de classede classe””, , ““evolutivoevolutivo”” ou ou ““progressistaprogressista””, social;, social;Plano normativo ou ideal: moralPlano normativo ou ideal: moralPlano fatual, real ou prPlano fatual, real ou práático: moralidade tico: moralidade

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Estrutura do Ato MoralEstrutura do Ato MoralMotivoMotivo: aquilo que impulsiona a agir ou a procurar alcan: aquilo que impulsiona a agir ou a procurar alcanççar ar determinado fim;determinado fim;Consciência do fim visadoConsciência do fim visado: antecipa: antecipaçção ideal do resultado que ão ideal do resultado que se pretende alcanse pretende alcanççar;ar;Escolha de um fim entre outrosEscolha de um fim entre outros: em dadas ocasiões h: em dadas ocasiões háá vváários rios fins possfins possííveis, mutuamente excludentes;veis, mutuamente excludentes;Decisão de realizDecisão de realizáá--lolo: qualidade de ato volunt: qualidade de ato voluntáário;rio;Consciência e escolha dos meiosConsciência e escolha dos meios;;Emprego dos meios adequadosEmprego dos meios adequados;;ObtenObtençção do resultadoão do resultado: ato moral consumado, do ponto de : ato moral consumado, do ponto de vista do agente;vista do agente;ObservaObservaçção das conseqão das conseqüüênciasências: ato moral consumado, do : ato moral consumado, do ponto de vista da comunidade ou sociedade.ponto de vista da comunidade ou sociedade.

O ato moral O ato moral éé

uma totalidade: o subjetivo e o objetivo estão uma totalidade: o subjetivo e o objetivo estão aqui como as duas faces de uma mesma moeda.aqui como as duas faces de uma mesma moeda.

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Qualidade do ato moralQualidade do ato moral

SingularidadeSingularidade: o ato assume um significado em : o ato assume um significado em relarelaçção a uma norma e se apresenta como a soluão a uma norma e se apresenta como a soluçção de ão de um caso determinado.um caso determinado.A mesma norma enfrenta situaA mesma norma enfrenta situaçções diferentes, com ões diferentes, com riscos de resultados diferentes.riscos de resultados diferentes.O resultado pode ser afastar da intenO resultado pode ser afastar da intençção originão origináária e o ria e o ato pode adquirir um significado moral negativo.ato pode adquirir um significado moral negativo.A casuA casuíística, como mstica, como méétodo de determinar de antemão a todo de determinar de antemão a maneira de realizar o ato moral, acarreta um maneira de realizar o ato moral, acarreta um empobrecimento da vida moral.empobrecimento da vida moral.

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A avaliaA avaliaçção da moralão da moral

Os objetos avaliados são os atos humanos. Não Os objetos avaliados são os atos humanos. Não se pode falar em uma se pode falar em uma ““moralmoral”” dos atos de dos atos de animais, dos irracionais, etc.animais, dos irracionais, etc.Somente podem ser avaliados os atos que, por Somente podem ser avaliados os atos que, por seus resultados e conseqseus resultados e conseqüüências, afetam a ências, afetam a outros.outros.O ato moral pretende ser uma realizaO ato moral pretende ser uma realizaçção do ão do ““bombom””, isto , isto éé, encarnando ou plasmando o valor , encarnando ou plasmando o valor da bondade.da bondade.

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Mas o que Mas o que éé bom?bom?

O bom como O bom como felicidadefelicidade ((eudemonismoeudemonismo):):AristAristóóteles: exercteles: exercíício da razão (sob condicio da razão (sob condiçções ões concretas).concretas).SSóócrates: a crates: a ““boa vidaboa vida”” (trabalho, amigos, (trabalho, amigos, contemplacontemplaçção)ão)Iluminismo: felicidade no plano abstrato, ideal, fora Iluminismo: felicidade no plano abstrato, ideal, fora das condidas condiçções concretas da vida social.ões concretas da vida social.

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Mas o que Mas o que éé bom?bom?

O bom como O bom como prazerprazer (hedonismo):(hedonismo):Como sentimento ou estado afetivo agradComo sentimento ou estado afetivo agradáável (o oposto vel (o oposto de de ““desprazerdesprazer””))Como sensaComo sensaçção agradão agradáável produzida por estvel produzida por estíímulos (o mulos (o oposto de oposto de ““dordor””))

Todo prazer ou gozo Todo prazer ou gozo éé intrinsecamente bom;intrinsecamente bom;Somente o prazer Somente o prazer éé intrinsecamente bom;intrinsecamente bom;A bondade de um ato ou experiência depende do A bondade de um ato ou experiência depende do prazer que contprazer que contéém.m.

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Mas o que Mas o que éé bom?bom?

O bom como O bom como ““boa vontadeboa vontade”” (formalismo (formalismo Kantiano):Kantiano):

O bom deve ser algo absoluto, incondicionado, sem O bom deve ser algo absoluto, incondicionado, sem restrirestriçção alguma.ão alguma.

““Nem no mundo nem tambNem no mundo nem tambéém, em geral, fora do m, em geral, fora do mundo mundo éé

posspossíível conceber alguma coisa que vel conceber alguma coisa que

possa considerarpossa considerar--se boa sem restrise boa sem restriçções, a não ões, a não ser unicamente uma ser unicamente uma boa vontadeboa vontade””

Kant, I. FundamentaKant, I. Fundamentaçção da metafão da metafíísica dos costumes, sica dos costumes, CapCap

1.1.

DeveDeve--se atuar de acordo com o dever e se atuar de acordo com o dever e pelo deverpelo dever..

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Mas o que Mas o que éé bom?bom?

O bom como O bom como úútiltil (utilitarismo):(utilitarismo):ÚÚtil para quem?til para quem?

AltruAltruíísmo smo éético x egotico x egoíísmo smo éético = tico = ““para o maior npara o maior núúmero mero de homensde homens””..

Em que consiste o Em que consiste o úútil?til?Naquilo que tem boas conseqNaquilo que tem boas conseqüüências, independentemente ências, independentemente do motivo ou da intendo motivo ou da intençção.ão.Utilitarismo pluralista: o bom não Utilitarismo pluralista: o bom não éé uma suma sóó coisa, mas coisa, mas vváárias que podem, ao mesmo tempo, considerarrias que podem, ao mesmo tempo, considerar--se boas.se boas.

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Obrigatoriedade moralObrigatoriedade moral

O comportamento moral O comportamento moral éé obrigatobrigatóório e devido, isto rio e devido, isto éé, , se funda na obrigase funda na obrigaçção do agente a comportarão do agente a comportar--se de se de acordo com uma regra ou norma de aacordo com uma regra ou norma de açção e a excluir ou ão e a excluir ou evitar os atos proibidos por ela.evitar os atos proibidos por ela.A obrigatoriedade moral impõe deveres.A obrigatoriedade moral impõe deveres.Toda norma funda um dever.Toda norma funda um dever.Inclui a Inclui a liberdade de escolhaliberdade de escolha (vontade livre) e de (vontade livre) e de aaççãoãodo sujeito e que este do sujeito e que este deve aceitardeve aceitar como fundamentada como fundamentada e justificada a mesma obrigatoriedade.e justificada a mesma obrigatoriedade.A coaA coaçção externa ou interna destitui o carão externa ou interna destitui o carááter de ter de

moralidade do atomoralidade do ato

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Teorias da obrigaTeorias da obrigaçção moralão moral

DeontolDeontolóógicasgicas ((dedeóónn = dever)= dever)A obrigatoriedade de uma aA obrigatoriedade de uma açção não se faz depender ão não se faz depender exclusivamente das conseqexclusivamente das conseqüüências da prências da próópria apria açção ão ou da norma com a qual se conforma.ou da norma com a qual se conforma.““CCóódigos de digos de ÉÉtica Profissionaltica Profissional””

TeleolTeleolóógicas (gicas (ttééloslos = fim)= fim)A obrigatoriedade de uma aA obrigatoriedade de uma açção deriva unicamente de ão deriva unicamente de suas conseqsuas conseqüüências.ências.

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Teorias Teorias deontoldeontolóógicasgicas

Do atoDo atoO carO carááter especter especíífico de cada situafico de cada situaçção, ou de cada ato, ão, ou de cada ato, impede que possamos apelar para uma norma geral a impede que possamos apelar para uma norma geral a fim de decidir o que fazer.fim de decidir o que fazer.Sartre (existencialismo):Sartre (existencialismo):

A liberdade A liberdade éé a a úúnica fonte de valornica fonte de valorCada um de nCada um de nóós s éé absolutamente livreabsolutamente livreO que importa O que importa éé o grau de liberdade com que se escolhe o grau de liberdade com que se escolhe ou realiza o atoou realiza o ato““Escolhe livrementeEscolhe livremente”” ou ou ““decide com plena liberdadedecide com plena liberdade””!!

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Teorias Teorias deontoldeontolóógicasgicas

Da normaDa normaO dever deve ser determinado por normas que são vO dever deve ser determinado por normas que são váálidas lidas independentemente das conseqindependentemente das conseqüüências de sua aplicaências de sua aplicaçção.ão.Kant (teoria da obrigatoriedade moral):Kant (teoria da obrigatoriedade moral):

O O úúnico bom nico bom éé a boa vontade;a boa vontade;A boa vontade A boa vontade éé a vontade de agir por dever;a vontade de agir por dever;A aA açção moralmente boa ão moralmente boa éé aquela se realiza não somente de acordo aquela se realiza não somente de acordo com o dever, mas pelo dever;com o dever, mas pelo dever;

Conflitos de deveres não encontram soluConflitos de deveres não encontram soluçção em Kant, pois se ão em Kant, pois se encontram no mesmo plano.encontram no mesmo plano.PrincipialismoPrincipialismo biobioééticotico..

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DeontologiaDeontologia MMéédicadica

““Um CUm Cóódigo de digo de ÉÉtica Mtica Méédica que não for dica que não for senssensíível vel ààs modificas modificaçções surgidas com a ões surgidas com a concepconcepçção que se tem da sociedade e do ão que se tem da sociedade e do

homem, marcadas pela experiência que as homem, marcadas pela experiência que as mudanmudançças produzem a partir da pras produzem a partir da práática tica

profissional, dos costumes e das idprofissional, dos costumes e das idééias, ias, éé

um um mau Cmau Cóódigodigo””

FranFrançça, G.V. Direito Ma, G.V. Direito Méédico. Fundo Editorial Byk, 2003.dico. Fundo Editorial Byk, 2003.

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DeontologiaDeontologia MMéédicadica

CCóódigo de digo de ÉÉtica Mtica Méédica (Res. CFM 1.246/1988)dica (Res. CFM 1.246/1988)DeclaraDeclaraçção de princão de princíípios (Art. 1pios (Art. 1--19)19)DeclaraDeclaraçção de direitos (Art. 20ão de direitos (Art. 20--28)28)CodificaCodificaçção e sistematizaão e sistematizaçção de normas ão de normas fundamentais especfundamentais especííficas de conduta ficas de conduta –– vedavedaçções ões (Art. 29(Art. 29--140)140)

CCóódigo de Processo digo de Processo ÉÉticotico--Profissional (Res. Profissional (Res. CFM 1.897/2009)CFM 1.897/2009)

Normas processuaisNormas processuais

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DeontologiaDeontologia MMéédicadica

Lei 3.268 de 30/09/1957 (Dispõe sobre os Lei 3.268 de 30/09/1957 (Dispõe sobre os Conselhos de Medicina e dConselhos de Medicina e dáá outras providências)outras providências)

Penalidades disciplinaresPenalidades disciplinares

ResoluResoluçções e Pareceres do CFM e ões e Pareceres do CFM e CRMsCRMsDecisões das Comissões de Decisões das Comissões de ÉÉtica e Biotica e BioééticaticaObjeObjeçções de Consciênciaões de Consciência

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Relato de casoRelato de casoPaciente masculino, 65 anos, Paciente masculino, 65 anos, ííndio, veio ndio, veio àà emergência, trazido emergência, trazido por seu filho e pela enfermeira que presta assistência por seu filho e pela enfermeira que presta assistência àà tribo de tribo de sua origem, por apresentar dor abdominal hsua origem, por apresentar dor abdominal háá 1 semana, que se 1 semana, que se agravou nas agravou nas úúltimas 24 horas. Durante sua chegada e toda sua ltimas 24 horas. Durante sua chegada e toda sua permanência no servipermanência no serviçço de emergência, apresentouo de emergência, apresentou--se sempre se sempre acordado, lacordado, lúúcido, comunicandocido, comunicando--se com seu filho por se com seu filho por ““dialetodialeto”” e de aparência calmae de aparência calma..O paciente apresentava quadro clO paciente apresentava quadro clíínico de nico de insuficiência renal insuficiência renal gravegrave com elevacom elevaçção nos não nos nííveis sveis sééricos de urricos de urééia (300 ia (300 mgmg/dL), /dL), creatininacreatinina (13,8 (13,8 mgmg/dL), pot/dL), potáássio (8,7 ssio (8,7 mEqmEq/L), PSA (37,40 /L), PSA (37,40 ngng/mL) al/mL) aléém de US e TC do abdômen evidenciando m de US e TC do abdômen evidenciando volumosa volumosa ascite, alascite, alçças intestinais dilatadas, bexiga distendida com as intestinais dilatadas, bexiga distendida com paredes espessadas e prparedes espessadas e próóstata com aumento de tamanhostata com aumento de tamanho. O . O ECG apresentava alteraECG apresentava alteraçções grões grááficas compatficas compatííveis com veis com hiperpotassemiahiperpotassemia..

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A equipe de cirurgia indicou A equipe de cirurgia indicou necessidade de necessidade de exploraexploraçção cirão cirúúrgica aprgica apóós estabilizas estabilizaçção clão clíínicanica. Na . Na avaliaavaliaçção nefrolão nefrolóógica, foi visto diante dos exames gica, foi visto diante dos exames obtidos que o paciente tinha indicaobtidos que o paciente tinha indicaçção naquele ão naquele momento de momento de hemodihemodiáálise para posterior cirurgialise para posterior cirurgia..Foi então dito Foi então dito àà enfermeira e ao filho do paciente para enfermeira e ao filho do paciente para explicar ao mesmo sobre o quadro clexplicar ao mesmo sobre o quadro clíínico e condutas a nico e condutas a serem tomadas. Apserem tomadas. Apóós tomar conhecimento das s tomar conhecimento das condutas, condutas, o paciente negouo paciente negou--se a realizar qualquer se a realizar qualquer procedimento mprocedimento méédicodico, j, jáá que acreditava ter que acreditava ter ““chegado chegado sua horasua hora”” (conforme contou seu filho).(conforme contou seu filho).

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A equipe insistiu em mostrar ao tradutor (filho do A equipe insistiu em mostrar ao tradutor (filho do paciente) a importância da conduta mpaciente) a importância da conduta méédica, onde apdica, onde apóós s conversar com o pai, resolveu conversar com o pai, resolveu chamar o chamar o ““pajpajé”é” da da tribo para avalitribo para avaliáá--lolo..Com a chegada do pajCom a chegada do pajéé, acompanhado do , acompanhado do ““cacique cacique geralgeral””, como identificou, como identificou--se, os mesmos conversaram se, os mesmos conversaram com o paciente e chegaram com o paciente e chegaram àà conclusão de que conclusão de que se se tratava de tratava de ““coisa de Deus brancocoisa de Deus branco””, autorizando o , autorizando o paciente a submeterpaciente a submeter--se aos procedimentos, o qual apse aos procedimentos, o qual apóós s isso, isso, concordouconcordou com todos os atos necesscom todos os atos necessáários para rios para ajudajudáá--lo. lo.

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Conflitos de normasConflitos de normas

PrincPrincíípiospiosBeneficênciaBeneficênciaNãoNão--maleficênciamaleficênciaAutonomiaAutonomiaEmpowermentEmpowerment: condi: condiçções concretas para o exercões concretas para o exercíício da cio da autonomia (incapacidade relativa, norma legal, autonomia (incapacidade relativa, norma legal, aspectos culturais, elementos coercitivos, aspectos culturais, elementos coercitivos, impeditivos ou indutivos)impeditivos ou indutivos)

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Conflitos de normasConflitos de normas

““A noA noçção de indivão de indivííduo investido de direitos duo investido de direitos morais representa... uma construmorais representa... uma construçção da ão da

modernidademodernidade””ALMEIDA, J. L. T. ALMEIDA, J. L. T. Respeito Respeito àà

autonomia do paciente e consentimento livreautonomia do paciente e consentimento livre

e esclarecido: uma abordagem e esclarecido: uma abordagem principalistaprincipalista

da relada relaçção mão méédicodico--pacientepaciente..

““Em pacientes competentes,nunca se pode Em pacientes competentes,nunca se pode interferir em seu printerferir em seu próóprio benefprio benefíício sem seu cio sem seu expresso consentimento, não importando expresso consentimento, não importando

quanto mal quanto mal éé

prevenido e quão pequena prevenido e quão pequena éé

a a violaviolaçção da regra moralão da regra moral””

T. T. BeauchampBeauchamp

––

““PrinciplesPrinciples

ofof

BiomedicalBiomedical

EthicsEthics””(1979)(1979)

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Conflitos de normasConflitos de normas

“O pensamento

pós-metafísico

deve impor

a si

próprio

uma

moderação,

quando

se trata

de tomar

posições definitivas

em

relação

a questões

substanciais

sobre

a vida

boa ou não-fracassada”

Habermas,JHabermas,J. O . O futurofuturo

dada

naturezanatureza

humana,Sãohumana,São

Paulo,MartinsPaulo,Martins

Fontes,2004Fontes,2004CitadoCitado

porpor

SiqueiraSiqueira, J. , J. ReflexõesReflexões

ééticasticas

sobresobre

a a autonomiaautonomia

do do pacientepaciente. III . III

CNEM, BrasCNEM, Brasíília, 2009.lia, 2009.

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Modelo idealModelo ideal

DELIBERATIVODELIBERATIVOComunidade ideal de comunicaComunidade ideal de comunicaçção;ão;

ModeraModeraçção justificada;ão justificada;

Vontade racionalVontade racionalautonomia solidautonomia solidáária;ria;

éética da deliberatica da deliberaçção;ão;

decisões sobre conflitos moraisdecisões sobre conflitos morais

CitadoCitado

porpor

SiqueiraSiqueira, J. , J. ReflexõesReflexões

ééticasticas

sobresobre

a a autonomiaautonomia

do do pacientepaciente. III . III CNEM, BrasCNEM, Brasíília, 2009lia, 2009

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EducaEducaçção mão méédicadica

““MMéédicos são instrudicos são instruíídos, treinados e socializados no dos, treinados e socializados no interior de uma cultura profissional para a consecuinterior de uma cultura profissional para a consecuçção ão de um projeto coletivo de poder e mobilidade social...de um projeto coletivo de poder e mobilidade social...””““Um longo treinamento especializado e unificado... Um longo treinamento especializado e unificado... éé o o critcritéério fundamental para a constituirio fundamental para a constituiçção do conceito de ão do conceito de profissão.profissão.””LarsonLarson: : ““produproduçção de mão de méédicosdicos””!!

Moura, Moura, L.C.L.C.S A face reversa da educaS A face reversa da educaçção mão méédica.dica. AGE Editora, AGE Editora, SimersSimers

e GEM, 2004.e GEM, 2004.

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EducaEducaçção mão méédicadica

““Medical Medical schoolschool is is reallyreally weirdweird. It is a . It is a forcedforced emotionalemotional experienceexperience. . WeWe handlehandle cadaverscadavers, ,

havehave fecesfeces lablab wherewhere wewe examine examine ourour ownown fecesfeces, , gogo to [a mental hospital to [a mental hospital wherewhere wewe getget lockedlocked upup] ] withwith screamingscreaming patientspatients. . TheseThese are total are total experiencesexperiences, , likelike anan occultoccult thingthing oror boot boot campcamp..””

Entrevista de estudante do 2Entrevista de estudante do 2ºº

ano de Harvard, citada porano de Harvard, citada por Moura, Moura, L.C.L.C.S A face reversa da educaS A face reversa da educaçção mão méédica.dica. AGE Editora, AGE Editora, SimersSimers

e GEM, 2004. e GEM, 2004.

Page 29: Conflitos Eticos dos Estudantes de Medicina e Medicos Residentes

““Ao mesmo tempo eles reconhecem que não Ao mesmo tempo eles reconhecem que não são suficientemente experientes para julgar são suficientemente experientes para julgar

o que deve ser feito e o que deve ser feito e sentem profundamente sentem profundamente a pressão para demonstrar solidariedadea pressão para demonstrar solidariedade, ,

para não questionar os atos daqueles para não questionar os atos daqueles hierarquicamente superioreshierarquicamente superiores””

GoodGood, 1994. Traduzido e citado por, 1994. Traduzido e citado por Moura, Moura, L.C.L.C.S A face reversa da educaS A face reversa da educaçção mão méédica.dica. AGE Editora, AGE Editora, SimersSimers

e GEM, 2004. e GEM, 2004.

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“A submissão

a tal programa de treinamento e a adesão aos seus princípios estruturantes é

condição fundamental

para o ajustamento do estudante ao mundo médico, para a adoção dos

valores profissionais, para a assunção de atitudes tipicamente médicas que, ao longo do

treinamento, vão se consolidando a partir de sinais de aprovação ou reprovação dos professores e

instrutores. Este enquadramento... é

fator que se reveste de importância vital para as chances de

sucesso futuro, para o surgimento de oportunidades de trabalho e colocação e para a

obtenção do respeito dos colegas.”

Moura, Moura, L.C.L.C.S A face reversa da educaS A face reversa da educaçção mão méédica.dica. AGE Editora, AGE Editora, SimersSimers

e GEM, 2004.e GEM, 2004.

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A escola mA escola méédica como introspecdica como introspecççãoão

“De fato, a introspecção –

não a reflexão da mente do homem quanto ao estado de sua alma ou de seu

corpo, mas o mero interesse cognitivo da consciência em relação ao seu próprio conteúdo –

deve produzir a certeza, pois na introspecção só está

envolvido aquilo que a própria mente

produziu; ninguém interfere, a não ser o produtor do produto; o homem vê-se diante de nada e de

ninguém a não ser de si mesmo.”ArendtArendt, Hannah. A condi, Hannah. A condiçção humana. Forense Universitão humana. Forense Universitáária, 1981.ria, 1981.

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Dilemas atuais da profissão mDilemas atuais da profissão méédicadica

EspecializaEspecializaçção e fragmentaão e fragmentaçção dos saberesão dos saberes e das e das prprááticas mticas méédicas, com o isolamento de grupos de dicas, com o isolamento de grupos de especialidades organizados em sociedades distintas;especialidades organizados em sociedades distintas;InstitucionalizaInstitucionalizaçção e burocratizaão e burocratizaççãoão do trabalho do trabalho mméédico, erodindo sua autonomia;dico, erodindo sua autonomia;FragilizaFragilizaçção do modelo liberalão do modelo liberal de profissão e de profissão e empresariamentoempresariamento dos profissionais, limitando a dos profissionais, limitando a autonomia tautonomia téécnica e o domcnica e o domíínio do conhecimento global nio do conhecimento global e implantando a le implantando a lóógica mercantil.gica mercantil.

DrumondDrumond, , J.G.F.J.G.F.

O O ““ethosethos””

mméédico: a velha e a nova moral mdico: a velha e a nova moral méédica. Editora dica. Editora UnimontesUnimontes, 2005., 2005.

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Dilemas do atual modelo de Dilemas do atual modelo de educaeducaçção mão méédicadica

Modelo Modelo ““totalizadortotalizador””, de constru, de construçção de ão de ““ethosethos”” ou ou habitushabituse de hegemonia sociale de hegemonia social::

Onde se estabelece uma clara hierarquia e relaOnde se estabelece uma clara hierarquia e relaçções de poder;ões de poder;Depende da adesão voluntDepende da adesão voluntáária de seus membros;ria de seus membros;Se reproduz de forma continuada e conservadora.Se reproduz de forma continuada e conservadora.

PermePermeáável vel àà realidade social e realidade social e ààs mudans mudançças do mercado de as do mercado de trabalho:trabalho:

Se submete Se submete ààs mudans mudançças sociais necessas sociais necessáárias a sua prrias a sua próópria sobrevivência;pria sobrevivência;Vivencia e reproduz os mesmos dilemas do mercado Vivencia e reproduz os mesmos dilemas do mercado ““externoexterno””;;AgudizaAgudiza alguns desses dilemas.alguns desses dilemas.

Introspectivo:Introspectivo:ConstrConstróói certezas sobre si mesmo, alienandoi certezas sobre si mesmo, alienando--se da realidade se da realidade ““externaexterna””;;Incapaz de produzir autoIncapaz de produzir auto--crcríítica consistente, mesmo quando perde espatica consistente, mesmo quando perde espaçço o social.social.

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Dilemas do atual modelo de Dilemas do atual modelo de educaeducaçção mão méédicadica

Gerador de conflitos de ordem moral que são Gerador de conflitos de ordem moral que são substitusubstituíídos pela pura e simples adesão ou são dos pela pura e simples adesão ou são

submetidos submetidos àà

reprovareprovaçção hierão hieráárquica (e dos que rquica (e dos que a ela aderiram) e remetidos a ela aderiram) e remetidos àà

introspecintrospecçção ão

individual, onde geram profundo sofrimento ou individual, onde geram profundo sofrimento ou final submissão. No futuro, serão reproduzidos final submissão. No futuro, serão reproduzidos

sem autosem auto--crcríítica e, quando questionados e tica e, quando questionados e sancionados seus atos, dirão que sancionados seus atos, dirão que ““a disciplina de a disciplina de

éética mtica méédica da faculdade era muito fracadica da faculdade era muito fraca””

ou ou algo semelhante!algo semelhante!

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O nosso dilemaO nosso dilema

De um lado um profissional formado em um modelo De um lado um profissional formado em um modelo de adesão / submissão total, irrestrita e acrde adesão / submissão total, irrestrita e acríítica, onde os tica, onde os conflitos são negados e prevalece a certeza, sem conflitos são negados e prevalece a certeza, sem qualquer perspectiva do qualquer perspectiva do ““outrooutro””,,De outro um indivDe outro um indivííduo / paciente, que engatinha no duo / paciente, que engatinha no exercexercíício de sua prcio de sua próópria autonomia, numa situapria autonomia, numa situaçção em ão em que imperam os conflitos de valores e perspectivas, que imperam os conflitos de valores e perspectivas, eivado de incertezas e sofrimentos, sem qualquer eivado de incertezas e sofrimentos, sem qualquer perspectiva de perspectiva de ““si mesmosi mesmo””,,Qual o diQual o diáálogo posslogo possíível???vel???

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Mudar nossa formaMudar nossa formaçção, como meio ão, como meio de mudar nossa perspectivade mudar nossa perspectiva

O modelo deliberativo O modelo deliberativo intracorporisintracorporis::

DeliberaDeliberaçção sem deformaão sem deformaçções internas ou externasões internas ou externas

Livre expressão dos argumentosLivre expressão dos argumentos

Acolher argumentaAcolher argumentaçções discordantesões discordantes

Diante de conflitos morais nem sempre Diante de conflitos morais nem sempre éé posspossíível atingirvel atingir--se decisões se decisões consensuaisconsensuais

Habermas,J Teoria de Habermas,J Teoria de lala

acciaccióónn

comunicativa,Madrid,comunicativa,Madrid,TaurusTaurus,1987,1987

Espaços formais de solução de conflitos e construção de consensos são fundamentais, mas de nada adiantam se não vierem acompanhados de

uma atitude compatível, tanto do ponto de vista individual, quanto institucional.

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