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    CONCEPÇÃO E LINGUAGEM PROJETUAL

    DE HABITAÇÕES AUTOCONSTRUÍDAS EM FLORIANÓPOLIS/SC -UM ESTUDO NA BARRA DO SAMBAQUI

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTR0 TECNOLÓGICO

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

    Mestranda: Adriana Sales Cordeiro

    Orientador: Prof. Dr. Wilson Jesus da Cunha Silveira

    Linha de Pesquisa: Planejamento e Projeto de Arquitetura

    Florianópolis, junho de 2005

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    UNIVERSIDADEFEDERALDESANTACATARINA

    CENTROTECNOLÓGICO

    PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMARQUITETURAEURBANISMO

    PROJETOETECNOLOGIADOAMBIENTECONSTRUÍDO

    Euver

    ADRIANASALESCORDEIRO

    CONCEPÇÃO E LINGUAGEM PROJETUAL

    DE HABITAÇÕES AUTOCONSTRUÍDAS EM FLORIANÓPOLIS/SC –

    UMESTUDONABARRADOSAMBAQUI 

    Orientador:Prof.Dr.WilsonJesusdaCunhaSilveira

    LinhadePesquisa:PlanejamentoeProjetodeArquitetura

    DissertaçãosubmetidaaoProgramadePós-Graduação emArquiteturaeUrbanismo daUniversidade Federal de Santa Catarinacomo requisito para obtenção do grau deMestreemArquiteturaeurbanismo.

    Florianópolis,Junhode2005

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    ADRIANASALESCORDEIRO

    CONCEPÇÃO E LINGUAGEM PROJETUAL DE HABITAÇÕES AUTOCONSTRUÍDAS

    EM FLORIANÓPOLIS/SC – UMESTUDONABARRADOSAMBAQUI

    EstadissertaçãofoijulgadaeaprovadaemsuaformafinalpeloProgramadePós-GraduaçãoemArquiteturaeUrbanismoparaobtençãodotítulode

    MESTREEMARQUITETURAEURBANISMO

    Florianópolis,Junhode2005

     _______________________________________

    Prof.Drª.SôniaAfonsoCOORDENADORADOPROGRAMA

     ________________________________________

    Prof.Dr.WilsonJesusdaC.SilveiraUFSC,DEPTO.DEARQUITETURAEURBANISMO-

    ORIENTADOR

    BANCAEXAMINADORA:

     _______________________________

    Prof.Drª.CarolinaPalermoSzücs

    UFSC,DEPTO.DEARQUITETURAEURBANISMO-PÓSARQ

     _______________________________

    Prof.Dr.HugoCamiloLuciniUFSC-PÓSARQ

     _______________________________

    Prof.Drª.AliciaNormaG.deCastells

    UFSC,DEPTO.DEANTROPOLOGIASOCIAL

     _______________________________

    Prof.Msc.MarinaEsterF.deSouzaUFSC,DEPTO.DEARQUITETURAEURBANISMO

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    AGRADECIMENTOS

    Aosmeuspaispeloamor,carinho,apoioeconfiança,indispensáveisemtodososmomentosemque

    estiveramfisicamenteausentes;

    AtodososmoradoresdaRuaIzabelJoãoJacintoquesedispuseramacolaborarcomestetrabalho,

    atravésda boa vontadede abrirasportasde suascasas, deixando transparecer aestranhos seu

    mododevida,hábitosecostumes;Semsuacooperaçãoesteestudonãoseriapossível;

    AoProf.Dr.Wilson Silveiranão sópelaorientação, como também pelaamizade incondicionalao

    longo dos dois anos de trabalho conjunto, e aos demais membros da banca examinadora pelas

    críticasesugestões;

    AoGrupodeEstudosdaHabitação–GHab,porterproporcionadoaestruturafísica,osequipamentos

    eexcelenteambientedetrabalhopararealizaçãodapesquisa.AgradeçoespecialmenteàProfª.Drª.

    CarolinaPalermoSzücspelaco-orientação(mesmoqueinformal)eprincipalmentepeloaprendizado

    quemeproporcionouduranteoEstágiodeDocência,oqualcontribuiusignificativamenteparaminha

    formaçãoprofissional;

    ÀsecretáriadoPósARQ,IvoneteCoutinhoSeifert,pelaatenção,prestezaeamizadeaolongodetodo

    ocurso;

    ÀCoordenaçãodeAperfeiçoamentodePessoaldeNívelSuperior–CAPESeàFundaçãodeAmparo

    àPesquisadoEstadodeAlagoas–FAPEAL,peloapoiofinanceiro;

    ÀsamigasqueforamminhafamíliaemFlorianópolis:LucianaCarvalho,ElisabethDuarteeClaudia

    Madalossopelocarinhoecompanheirismodesdeoingressonomestrado,em2003;MarianaMeloe

    JulianaOliveirapelaimensaamizadequesefortaleceunoúltimoanoepelaajudanapesquisadecampo,alémdasleituras,comentários,críticasediscussõessobreaestruturadadissertaçãonafase

    final;

    Aosamigosque,dealgumaforma,meajudaramaolongodesseperíodo:JusaraPetinnepeloapoio

    comomaterialsobreoestudodecaso;ThaískrambeckeJosiclerOrbemAlbertonpelacompanhia

    diárianoGHab;LucianaDecker,CarlaCastelloeThaísProvenzannopelavaliosaajudadurantea

    pesquisadecampo;AndersonGonçalvespelotratamentodigitaldasimagensdotrabalho.

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    RESUMO

    O presente trabalho busca analisar a relação entre forma de concepção, dimensionamento e

    articulação dos ambientes domésticos, bem como o desempenho funcional de habitações

    autoconstruídas.OestudotemcomofocoumacomunidadeinstaladanobairroBarradoSambaqui,

    nomunicípiodeFlorianópolis,EstadodeSantaCatarina.

    Apesquisaaborda,pormeiodométododoEstudodeCaso,aquestãocomportamentalnotocanteà

    concepçãoelinguagemprojetualutilizadapelosautoconstrutoresquecompõemogrupopesquisado.

    AtravésdautilizaçãodométododeIndicadordeFuncionalidadedaHabitação,buscou-severificaro

    graudefuncionamentodessasconstruções.Oestudocomparativoentreashabitaçõesocupadasporseusconstrutoresoriginaisehabitaçõesocupadaspormoradoressecundários,possibilitouidentificar

    as relações de apropriação espacial e as diferentes formas de uso e funcionamento dessas

    edificações,relacionandoousorealcomousopretendidoemprojeto.

    Combasenumaamplarevisãodeliteraturaacercadasdiversasquestõesquepermeiamaanálisedo

    universo habitacional, foi realizada a pesquisa de campo exploratória. Os dados obtidos foram

    analisados sob três enfoques distintos, a fim de traçar o perfil comportamental dos moradores,

    identificaropadrãodimensionaleaqualidadedefuncionamentodashabitaçõesestudadas.

    Pode-seconcluirqueo estudodoespaçoautoconstruído constitui-senumcampode investigação

    científica bastante rico e pouco explorado pelos arquitetos que trabalham com a produção

    habitacional formal. O conhecimento acerca da vivência desses espaços possibilita melhor

    compreensãodomododevidadaquelesquehabitamdomicíliospopulares,fornecendoinformações

    comportamentais que permitem traçar um perfil real dos usuários, o que pode vir a favorecer a

    elaboraçãodeprojetosmaiscondizentescomarealidadedeusoefuncionamentodashabitações

    pelascamadaspopulacionaisdebaixarenda.

    Palavras Chave: Linguagemprojetual dehabitaçõesautoconstruídas,Funcionalidadeda habitação,Métodosdepesquisaqualitativos.

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    ABSTRACT

    This work aims to analyze the relation among conception form, sizing and joint of domestic

    environments,aswellasthefunctionalperformanceofselfconstructedhousings.Thestudyhasas

    focusacommunityinstalledinthequarteroftheBarradoSambaqui,inthecityofFlorianópolis,State

    ofSantaCatarina,Brazil.

    Theresearchapproaches,bymeansof themethodof theStudyofCase,themanneringquestionin

    movingtotheconceptionandthedesignlanguageusedbytheselfconstructorsthatcomposethe

    searched group. Through the use of the method ofPointer of Functionalityof the Habitation,one

    searchedtoverifythedegreeoffunctioningoftheseconstructions.Thecomparativestudyentersthebusyhabitations for its originalconstructors andbusyhabitations for secondary inhabitants,made

    possible to identify to the relations of space appropriation and the different forms of use and

    functioningoftheseconstructions,relatingtherealusewiththeuseintendedinproject.

    The research of field was carried through, based in an ample literature review concerning the

    questionsrelatedtotheanalysisofthedomesticuniverse.Thegottendatahadbeenanalyzedunder

    threedistinctapproaches,inordertotracethemanneringprofileof theinhabitants,to identifytothe

    dimensionalstandardandthequalityoffunctioningofthestudiedhabitations.

    Itcouldbeconcludedthatthestudyoftheselfconstructedspaceconsistsinasufficientlyrichfieldof

    scientificinquiryandlittleexploredbythearchitectswhoworkswiththeformaldwellingproduction.

    Theknowledgeconcerningtheexperienceofthesespacesmakespossibleabetterunderstandingin

    thelifewayofthattheyinhabitpopulardomiciles,supplyingmanneringinformationthatallowtotrace

    a real profile of the users, that brings a elaboration of adequate projects with the real use and

    functioningofthehabitationsforthepopulationlayersoflowincome.

    Key Words:Designlanguageofselfconstructedhabitations,Functionalityofthehabitation,Qualitative

    methodsofresearch.

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    LISTA DE ILUSTRAÇÕES

    Ilustração 2.1 EtapasdeimplementaçãometodológicadeumaPP........................   26

    Ilustração 2.2 EsquemadaAPO................................................................  28

    Ilustração 2.3Características e modo de avaliação dos quesitos de quantidade equalidade...........................................................................   30

    Ilustração 2.4Relação dos quesitos de quantidade e qualidade para cadacompartimentodahabitaçãodeinteressesocial................................   32

    Ilustração 2.5 Gráficodoindicadordefuncionalidadedocompartimento....................  34

    Ilustração 2.6 Gráficodoindicadordefuncionalidadedoquartodecasal...................   36

    Ilustração 2.7 GráficodefuncionalidadedahabitaçãocomIFH105..........................   37Ilustração 2.8 Fluxogramametodólogicodedesenvolvimentodapesquisa.................  41

    Ilustração 3.1ExemplaresdehabitaçõesdonordesteedosuldoBrasil,evidenciandoadisposiçãodacozinhadeacordocomasdiferençasculturaisdecadaumadasregiões..........................................................................   45

    Ilustração 3.2Quadro geral do referencial teórico e sua relação com asetapas depesquisa....................................................................................   62

    Ilustração 4.1Localizaçãoda região sul no contexto do Brasil, com destaque paraFlorianópolis...............................................................................   64

    Ilustração 4.2 RegiãoMetropolitanadaCidadedeFlorianópolis...............................   67

    Ilustração 4.3Ocupaçãodemorros:desmatamentodacoberturavegetalemáreasdepreservação...............................................................................   68

    Ilustração 4.4 QuadrodosprojetoshabitacionaisexecutadospelaPMFnoperíodode1989–2002................................................................................   73

    Ilustração 4.5 VistageraldaimplantaçãodoconjuntoVilaCachoeira........................   74

    Ilustração 4.6 Tipologia habitacional daVila União – casa térrea geminada duas aduas.........................................................................................   74

    Ilustração 4.7 Casasgeminadasemfita–VilaCachoeira........................................   74

    Ilustração 4.8 VistageraldaimplantaçãodocondomínioVilares..............................   74

    Ilustração 4.9 Casasgeminadasduasaduas-condomínioVilares...........................  74

    Ilustração 5.1 LocalizaçãodoBairronocontextodaCidadedeFlorianópolis..............   77

    Ilustração 5.2 DistritodeSantoAntôniodeLisboa,comdestaqueparaalocalizaçãodaRIJJ......................................................................................   78

    Ilustração 5.3LocalizaçãoeacessosdaRuaIzabelJ.JacintonocontextodaBarradoSambaqui..................................................................................   80

    Ilustração 5.4Campodefutebol:limiteentrearuaIzabelJ.JacintoeomanguezaldeRatones.....................................................................................   80

    Ilustração 5.5 VisãogeraldaruaIzabelJ.Jacinto.................................................   80

    Ilustração 5.6Visão da rua Izabel J. Jacinto no sentido:manguezal/rua FlordovinaVentura.....................................................................................   80

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    Ilustração 5.7 Exemplosdetipologiashabitacionaisdaáreadeestudo.....................   80

    Ilustração 5.8 Visãodoloteamentonosentido:ruaFlordovinaVentura/manguezal......   80

    Ilustração 5.9 VisãodoloteamentoapartirdaruaFlordovinaVentura.......................   80

    Ilustração 5.10 Ortofoto da área de estudo no início de sua ocupação, em1994.........................................................................................   81

    Ilustração 5.11Ortofotodaáreadeestudoindicandoaevoluçãodesuaocupação,em2000.........................................................................................   82

    Ilustração 5.12 PraiadoSambaqui......................................................................   83

    Ilustração 5.13RelaçãocronológicadeacontecimentoshistóricosdoDistritodeSantoAntônio......................................................................................   84

    Ilustração 5.14 RioVeríssimo,localizadonomanguezaldeRatones..........................   86

    Ilustração 5.15 Canal que recebe os efluentes domésticos do loteamento

    RIJJ..........................................................................................   86

    Ilustração 5.16 ConfiguraçãourbanadaRIJJ:ausênciademeio-fioecalçadas............   87

    Ilustração 5.17 Localizaçãodasunidadesanalisadasnocontextodoloteamento..........  93

    Ilustração 6.1 Localizaçãodamoradia“Cláudia”nocontextodoloteamento...............   100

    Ilustração 6.2 Plantadelocação-moradia"Cláudia".............................................   101

    Ilustração 6.3 Fachadamoradia“Cláudia”...........................................................   101

    Ilustração 6.4 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Cláudia”............................   102

    Ilustração 6.5 Localizaçãodamoradia“Joãozinho”nocontextodoloteamento...........   104

    Ilustração 6.6 Plantadelocação–moradia“Joãozinho”..........................................   105

    Ilustração 6.7 Fachadamoradia“Joãozinho”........................................................   105

    Ilustração 6.8 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Joãozinho”........................   106

    Ilustração 6.9 Localizaçãodamoradia“Margarete”nocontextodoloteamento...........   107

    Ilustração 6.10 Plantadelocação–moradia“Margarete”..........................................   108

    Ilustração 6.11 Fachadamoradia“Margarete”........................................................   108

    Ilustração 6.12 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Margarete”.........................  109

    Ilustração 6.13 Localizaçãodamoradia“Giovana”nocontextodoloteamento..............   111Ilustração 6.14 Plantadelocação–moradia“Giovana”.............................................   112

    Ilustração 6.15 Fachadamoradia“Giovana”..........................................................   112

    Ilustração 6.16 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Giovana”...........................   112

    Ilustração 6.17 Localizaçãodamoradia“AnaCláudia”nocontextodoloteamento.........  115

    Ilustração 6.18 Plantadelocação–moradia“AnaCláudia”.......................................   116

    Ilustração 6.19 Fachadamoradia“AnaCláudia”.....................................................   116

    Ilustração 6.20 Plantadezoneamentodeusos–moradia“AnaCláudia”......................   117

    Ilustração 6.21 Localizaçãodamoradia“Salete”nocontextodoloteamento................   119

    Ilustração 6.22 Plantadelocação–moradia“Salete”...............................................   120

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    Ilustração 6.23 Fachadamoradia“Salete”.............................................................   120

    Ilustração 6.24 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Salete”..............................   121

    Ilustração 6.25 Localizaçãodamoradia“Carmem”nocontextodoloteamento.............   122

    Ilustração 6.26 Plantadelocação–moradia“Carmem”............................................   123

    Ilustração 6.27 Fachadamoradia“Carmem”..........................................................   123

    Ilustração 6.28 Plantadezoneamentodeusos–moradia“Carmem”...........................   124

    Ilustração 6.29 Planilha de compilação das entrevistas com moradoresautoconstrutores..........................................................................   126

    Ilustração 6.30 Planilhadecompilaçãodasentrevistascommoradoressecundários.....   127

    Ilustração 6.31 Arranjo do mobiliário da moradia “Cláudia” em planta e fotos dacozinha......................................................................................   133

    Ilustração 6.32 Sugestão de rearranjo de mobiliário para o quarto 3 da moradia“Cláudia”....................................................................................   133

    Ilustração 6.33 Arranjo do mobiliário da moradia “Joãozinho” em planta e fotos dacozinha......................................................................................   134

    Ilustração 6.34 Sugestão de rearranjo de mobiliário para o quarto 1 da moradia“Joãozinho”................................................................................   134

    Ilustração 6.35 Arranjo do mobiliário da moradia “Margarete” emplanta........................................................................................   135

    Ilustração 6.36 Arranjodomobiliáriodamoradia“Giovana”emplantaefotosdasaladeestar,cozinhaeáreadeserviço.....................................................

    136

    Ilustração 6.37 Arranjo domobiliáriodamoradia “AnaCláudia” em planta e fotosdobanheiro,quarto2,cozinhaesaladeestar.......................................

    137

    Ilustração 6.38 Arranjodomobiliáriodamoradia“Salete”emplantae fotosdasaladeestar,zonadearticulaçãodoscômodosecozinha.............................

    138

    Ilustração 6.39 Sugestão de rearranjo de mobiliário para a cozinha da moradia“Salete”.....................................................................................

    139

    Ilustração 6.40 Arranjo do mobiliário da moradia “Carmem” em planta e fotos dosquartos2e3...............................................................................

    140

    Ilustração 6.41 Sugestãoderearranjodemobiliárioparaosquartos2e3damoradia“Carmem”..................................................................................

    140

    Ilustração 6.42 GráficodoIFHdamoradia“Cláudia”...............................................   142

    Ilustração 6.43 GráficodoIFHdamoradia“Joãozinho”............................................   143

    Ilustração 6.44 GráficodoIFHdamoradia“Margarete”............................................   144

    Ilustração 6.45 GráficodoIFHdamoradia“Giovana”..............................................   145

    Ilustração 6.46 GráficodoIFHdamoradia“AnaCláudia”.........................................  146

    Ilustração 6.47 GráficodoIFHdamoradia“Salete”.................................................  147

    Ilustração 6.48 GráficodoIFHdamoradia“Carmem”..............................................   148

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 Equivalênciaentreconceitoeindicador........................................................   33

    Tabela 2.2 Equivalênciaentrecoeficiente,conceitoeindicador.......................................  33

    Tabela 2.3 Intervalosdedesempenhodafuncionalidadenoscompartimentos....................   35

    Tabela 2.4 FuncionalidadedaHabitaçãoIFH105..........................................................   36

    Tabela 4.1 DadosdesuperfícieedeedificaçõesdeFlorianópolis.....................................   66

    Tabela 4.2População residente em áreas de risco ou de proteção ambiental emFlorianópolis............................................................................................   68

    Tabela 4.3 PopulaçãomoradoraportipodedomicílioemFlorianópolis..............................   69

    Tabela 5.1 PopulaçãoResidentenaBarradoSambaqui.................................................   88

    Tabela 5.2 NaturalidadedosMoradoresdaÁreaPesquisada...........................................   89

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AER ÁreasdeExploraçãoRural

    APL ÁreasdePreservaçãocomUsoLimitado

    APO AvaliaçãoPós-Ocupação

    APP ÁreasdePreservaçãoPermanente

    ARP 0 ÁreasResidenciaisPredominantesZero

    BID BancoInteramericanodeDesenvolvimento

    CASAN CompanhiaCatarinensedeÁguaseSaneamento

    CELESC CentraisElétricasdeSantaCatarinaS.A

    CIB ConseilInternationaleduBâtiment(ConselhoInternacionaldaIndústriadaConstrução)

    COHAB/ SC CompanhiaHabitacionaldeSantaCatarina

    COMCAP CompanhiadeMelhoramentodaCapital

    EC EstudodeCaso

    ESECC EstaçãoEcológicadeCarijós

    FMIS FundoMunicipaldeIntegraçãoSocial

    GHAB GrupodeEstudosdaHabitação

    HIS HabitaçãodeInteresseSocial

    IFC IndicadordeFuncionalidadedoCompartimento

    IFH IndicadordeFuncionalidadedaHabitação

    IFQ IndicadordeFuncionalidadedoQuesito

    IPT InstitutodePesquisasTecnológicas

    IPTU ImpostoPredialTerritorialUrbano

    IPUF InstitutodePlanejamentoUrbanodeFlorianópolis

    PMF PrefeituraMunicipaldeFlorianópolis

    PNAD PesquisaNacionalporAmostragemdeDomicílios

    PP PesquisaParticipante

    RIJJ RuaIzabelJoãoJacinto

    TICEN TerminalIntegradodoCentro

    TISAN TerminalIntegradodeSantoAntônio

    UFSC UniversidadeFederaldeSantaCatarina

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    SUMÁRIO 

    CAPÍTULO – INTRODUÇÃO

    ....................................................................   15

    1.1 Justificativa e relevância do tema...............................................   16

    1.2 Motivação para realização do estudo apresentado...................   18

    1.3 Objetivos.........................................................................................   21

    1.3.1 Objetivo Geral........................................................................   21

    1.3.2 Objetivos Específicos.............................................................   21

    1.4 Metodologia e procedimentos de pesquisa..................................   22

    1.4.1 Técnicas de pesquisa..............................................................   22

    1.4.2 Etapas de pesquisa.................................................................   22

    1.5 Recortes da pesquisa e limitações do trabalho.........................   23

    1.6 Estrutura e apresentação do trabalho......................................   24

    CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE

    PESQUISA

    ..................................................................................................   25

    2.1 A utilização do Estudo de Caso em pesquisas sociais...............   25

    2.2 Avaliação Pós-Ocupação como método de investigaçãocomportamental..............................................................................   27

    2.3 O Indicador de Funcionalidade da habitação e suaaplicabilidade..................................................................................   29

    2.3.1 Exemplo de aplicação do método..........................................   35

    2.4 Técnicas de pesquisa......................................................................   37

    2.4.1 A observação...........................................................................   38

    2.4.2 A entrevista............................................................................   39

    2.5 Etapas de pesquisa.........................................................................   40

    CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO..................................................   42

    3.1 O significado antropológico do espaço doméstico....................   42

    3.2 Fenomenologia em arquitetura.....................................................   46

    3.3 Apropriação do espaço habitacional............................................   48

    3.4 Adequação do espaço ao modo de vida dos usuários.................   50

    3.5 O mobiliário popular e sua adequação ao espaço doméstico....   53

    3.6 Princípios antropométricos para o projeto habitacional.........   57

    3.7 A autoconstrução enquanto solução para o déficithabitacional....................................................................................   58

     

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    CAPÍTULO 4 – O CONTEXTO HABITACIONAL DE

    FLORIANÓPOLIS.......................................................................................   63

    4.1 Breve histórico...............................................................................   63

    4.2 O contexto metropolitano............................................................   66

    4.3 A política habitacional do município.............................................   69

    4.3.1 A atuação do poder público..................................................   71

    CAPÍTULO 5 – ESTUDO DE CASO: BARRA DO SAMBAQUI...................   76

    5.1 Escolha da área de estudo...........................................................   77

    5.2 Descrição físico-territorial..........................................................   78

    5.3 Caracterização da Barra do Sambaqui........................................   83

    5.3.1 Aspectos histórico-culturais................................................   83

    5.3.2 Aspectos ambientais...............................................................   85

    5.3.3 Uso e ocupação do solo.........................................................   86

    5.3.4 Perfil sócio-econômico...........................................................   88

    5.3.5 Infra-estrutura urbana..........................................................   89

    5.4 Trabalho de campo..........................................................................   92

    5.4.1 Determinação da amostra......................................................   92

    5.4.2 Definição da entrevista estruturada e pré-teste...............   94

    5.4.3 Elaboração do roteiro de entrevista final.........................   95

    5.4.4 Realização das entrevistas...................................................   95

    5.4.5 Levantamento arquitetônico das unidades analisadas......   96

    5.4.6 Levantamentos de dados para determinação dosIndicadores de funcionalidade..............................................   96

    CAPÍTULO 6 –RESULTADOS.....................................................................   98

    6.1 Análise comportamental................................................................   99

    6.1.1 Descrição das unidades habitacionais.................................   99

    6.1.1.1Moradia “Cláudia” – A territorialidade entreirmãos...............................................................................   100

    6.1.1.2 Moradia “Joãozinho” – Solidão protegida...................   103

    6.1.1.3 Moradia “Margarete” – A casa feminina.......................   107

    6.1.1.4 Moradia “Giovana” – O palácio......................................   110

    6.1.1.5 Moradia “Ana Cláudia” – A expressão do nãolugar................................................................................   114

    6.1.1.6 Moradia “Salete” – O sonho realizado........................   118

    6.1.1.7 Moradia “Carmem” – A plenitude da satisfação..........   122

    6.1.2 Caracterização dos grupos familiares envolvidos............   125

    6.1.2.1 Perfil dos moradores autoconstrutores.....................   128

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    Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis SC – U m estudo na Barra do Sambaqui

    6.1.2.2 Perfil dos moradores secundários...............................   128

    6.1.2.3 Relação entre morador e edificação.............................   129

    6.2 Análise dimensional.......................................................................   131

    6.3 Análise funcional...........................................................................   141

    6.3.1 Determinação dos indicadores de funcionalidade..............   142

    CAPÍTULO 7 – CONCLUSÕES..................................................................   150

    7.1 Recomendações para trabalhos futuros....................................   155

    REFERÊNCIAS

    ...........................................................................................   156

    Referências complementares..................................................................   161

    APÊNDICE

    ..................................................................................................   163

    Apêndice A - Conceituação e delimitação metodológica da PesquisaParticipante..............................................................................................   163

    Apêndice B – Roteiro de entrevista........................................................   165

    Apêndice C – Quadros de atividades, Inventário de mobiliário eArranjo físico dos equipamentos...........................................................   167

    Apêndice D – Planilha dos indicadores de funcionalidade..................   170

    ANEXO........................................................................................................   171

    Anexo A - Critérios de avaliação do método do Indicador deFuncionalidade da habitação..................................................................   171

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    Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui

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    CAPÍTULO

    INTRODUÇÃO

    O presente trabalho de investigação científica é de cunho social, baseado na questão

    comportamental,econsistenumestudodecasodeumloteamentopopularclandestino,situadono

    bairroBarradoSambaqui,nacidadedeFlorianópolis,capitaldoestadodeSantaCatarina.Oestudo

    buscaanalisararelaçãoentreaformadeconcepção,dimensionamento,articulaçãoedesempenho

    funcional dos cômodos em domicílios populares autoconstruídos, visto que a mesma reflete

    diretamentenaqualidadedevidadeseusmoradores.

    Através de uma pesquisadecampodecaráter exploratório, buscou-se investigar omodo

    comoapopulação de baixa rendaconcebeespacialmente suamoradia,bemcomoas formas de

    apropriaçãoe transformaçãodasedificações pelos usuários. Buscou-sedetectar tambémas reais

    condições de conforto ergonômico desse tipo de habitação, na tentativa de identificar soluções

    “projetuais”dequalidadeno tocanteaoatendimentodasnecessidadesespaciais dosusuários,as

    quaispossamserincorporadasaoprojetoarquitetônicovoltadoparaaproduçãooficialdahabitação

    deinteressesocial(HIS).

    Nessecontexto, a utilização dométododo Estudo deCaso,em associaçãocom técnicas

    inerentes aométodo de Avaliação Pós-Ocupação – APO1 possibilitou não sóo conhecimento dos

    problemasdeordemfísicadahabitação,mastambémaexperiênciadevivenciarsocialmenteesses

    espaços.

    SegundoBinsEly(1997)osmétodosexistentesparaaavaliaçãodeobjetosarquitetônicos

    são baseados em técnicas comportamentais (referentes à observação do comportamento dos

    usuários)eemtécnicasdedeclaraçãoourevelaçãodepreferências,asquaisconsideramaopinião

    dosusuários.Noentanto,empesquisasquevisamdeterminarqualidadesdoambientereferentesao

    dimensionamento das peças2 e sua funcionalidade, o emprego destas técnicas, exclusivamente,

    impossibilitaaobtençãodedadosobjetivos,vistoqueosresultadosquasesempresãodecaráter

     

    1 Entende-seAvaliação Pós-Ocupação (APO)comoo estudo das relaçõesdos moradores com a edificação,desenvolvidonumdeterminadoespaçodetempo,cominícioefimdemarcados.2Nodecorrerdestedocumentootermo“peça”seráreferenteaosdiversoscômodosquecompõemahabitação,deacordocomReis;Lay,2002.

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    qualitativo.Nessesentido,sefaznecessáriaautilizaçãodemétodosquepossibilitemaquantificação

    dessesdados,vistoqueapesquisaqualitativaeapesquisaquantitativasãocomplementares.

    Para determinar os níveis de qualidade física e de funcionamento dos cômodos e das

    habitaçõesemestudocomoumtodo,em funçãodediferentesvariáveisdoambienteconstruído,foi

    utilizadoométododesenvolvidoporLeite (2003),denominadode IndicadordeFuncionalidadeda

    Habitação. O modelo teórico deste método pressupõe que o indicador de funcionalidade é

    determinado a partir do estabelecimento de critérios quantitativos e qualitativos. Assim, a

    funcionalidadedosambientesédeterminadaatravésdauniãodavariáveldequantidadedemobiliário

    eequipamentoscomavariáveldequalidadedoarranjofísicooudisposiçãodestes(LEITE,2003).

    Nodecorrer deste capítulo serão apresentados, de maneira sucinta, as conceituações da

    temáticaabordadaeosobjetivosdotrabalho,bemcomoametodologiadepesquisaadotadaparasua

    realização.

    1.1 Justificativa e relevância do tema

    A habitação, enquanto objeto edificado, surgiu para abrigar o homemdas manifestações

    climáticas(sol,chuva,ventos,nevascas,etc.)edoseventuaisataquesdeanimais.Maistardepassou

    aserlocaldepermanênciaetevequeseradaptadaparadarcondiçõesderenovaçãodaforçade

    trabalho do homem, através do repouso físico e mental diário. Nestemomento, a casa também

    passouarefletirastradiçõesculturais,hábitosepráticasdeseususuários,traduzidaspelocotidiano

    domésticovivenciadoemseuinterior,deixandodeserapenasumuniversopráticoparaatuartambém

    comouniversosimbólico.SegundoLemos(1989):

    Taisatuaçõesdomésticas,quecostumamosdizerligadasaoshábitosepráticasdeumasociedade, devem se desenvolver em circunstâncias ideais e a qualidade dodesempenho evidentemente está condicionada às condições oferecidas pelaconstrução(LEMOS,1989:09).

    Arealidadedahabitaçãopopularbrasileiranãoatendesatisfatoriamenteàsfunçõesbásicas

    mencionadasanteriormente.Sabe-sequeamaioriadosmoradoresdefavelas,cortiços,loteamentos

    clandestinos e demais assentamentos subnormais habitam precariamente em casebres cujas

    dimensõescomprometemavidafamiliar.Afaltadetrabalhoouarendainsuficienteparasustentara

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    família, aliados a uma jornada de trabalho exaustiva, sem o conforto habitacional adequado que

    possibilite ao trabalhador descansar o corpo, também afetam a todos os usuários da residência,

    provocandoatritosediscussõesfamiliares(CORDEIRO,2002).

    Moraréumanecessidadebásicadoserhumanoecondiçãoindispensávelà(re)produçãode

    sua força de trabalho. Habitar em condições precárias implica na redução do desempenho do

    trabalhador,poisénointeriordahabitaçãoondeohomemrepõesuasenergiasatravésdorepouso,

    das refeições e de sua higiene pessoal (ROBALINHO, 1980). Morar mal também implica no

    aparecimentodeproblemas de cunho sócio-econômico, tal como o aumentoda violência urbana,

    vistoqueocrescimentoexcludentedascidadesbrasileirasprivaparcelasignificativadapopulaçãode

    teracessoaosserviçosdeinfra-estruturaurbanabásicos3

    (deboaqualidade)quelhesgarantamviver

    comomínimodedignidade.

    Opanoramaapresentadoacimacaracterizaoschamadosbolsõesdepobrezaurbanos,cada

    vezmais presentes nas cidades brasileiras. Maricato (2000) afirma que “nossas cidadescrescem

    produzindoemseu interiorverdadeiras bombassociológicas,depósitodemultidõesabandonadas,

    semquaisquerdireitoslegais”.Nessecontexto,afaltademoradiaconstitui-secomoumdosprincipais

    problemasurbanosenfrentadosnaatualidadepelascidadesbrasileiras.DeacordocomaFundação

    IBGE,emcemanos(1900–2000)apopulaçãourbanadoBrasilpassoude15.941.181habitantes

    para 137.755.550 habitantes; conseqüentemente, aumentaram também as desigualdades sócio-

    econômicasemnossascidades(OLIVEIRA,2001).

    Odéficit habitacional tambémguarda relação com aprecariedade física da habitação.De

    acordocomumestudorealizadopelaFundaçãoJoãoPinheiro,cercade12milhõesdebrasileiros

    vivem em habitações impróprias4, sejam elas barracos improvisados em plástico, unidades

    habitacionaissuperlotadasouedificaçõesantigasmalconservadas(FJP,2001).Impossibilitadasdeseinserirnomercadoimobiliárioformal,famíliasinteirasdetrabalhadores

    semqualificaçãoemalremuneradossãoobrigadasaocuparemáreasinadequadasede risco,tais

    como terrenosalagáveis e encostasdosmorros, como única alternativade inserçãonascidades.

    Dessemodo,torna-sepatenteoaumentodonúmerodedomicíliosirregularescaracterizadospela

    concentração de população de baixa renda, carência de infra-estrutura básica para o seu

    desenvolvimento,eporcondiçõesprecáriasdehabitabilidadeesalubridade(SILVEIRA,2000). 

    3ALeifederalnº6.766/1979consideracomoinfra-estruturabásicaosequipamentosurbanosdeescoamentodas águas pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável, energiaelétricapúblicaedomiciliareasviasdecirculaçãopavimentadasounão.4OtermoImpróprio,utilizadopelaFJP,nestecasotemsentidodeinadequado(FERREIRA,1993).

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    Anualmente,oaumentodonúmerodedomicíliosurbanosquesurgemnopaístemsidoda

    ordemde 1.200.000 unidades, sendoum terçodesse valor (360mil unidades) correspondente a

    domicíliosquesurgememdiversasmodalidadesdeassentamentosinadequadosousubnormais,cuja

    existênciajánãopodemaisserignoradapelopoderpúblicoepelasociedadecivilcomoumtodo.Isso

    correspondeaosurgimento,acadaano,deumacidadeirregularaproximadamentedo tamanhoda

    cidadedeRecife(BRASIL,2001).

    Écadavezmaioronúmerodefamíliasemmédiadecincopessoaspordomicílio5convivendo

    em espaços reduzidos, que impõem a superposição de atividades num mesmo ambiente. Essa

    situaçãoé reflexo doalto índice de exclusãosócio-territorial que impera nas cidadesde médio e

    grandeporte,caracterizadopeloadensamentopopulacionaldecorrentedosmovimentosmigratórios,

    oriundosnãosódocampocomotambémdepequenasemédiascidadesdointerioremdireçãoàs

    capitais(LUCINI,2003).

    Ocontextoapresentado,comumamuitascidadesdoBrasil,temimpulsionadoaproduçãode

    inúmeraspesquisasrelacionadasàquestãohabitacionalnosmaisdiversosâmbitos,dentreelesas

    políticas e programas voltados para a HIS e a prática da autoconstrução desenvolvida pelas

    populaçõesdebaixarenda(CRUZ;ORNSTEIN,1995).Noentanto,umaspectoqueaindaépouco

    privilegiadonoâmbitoacadêmicoéoestudodosaspectosfuncionaisdahabitaçãopopular,sobretudo

    os que se referem à área útil disponível para cada morador, às áreas de circulação e ao

    desenvolvimentodasatividadesdomésticassemsobreposições(LEMOS,1989).

    1.2 Motivação para realização do estudo apresentado

    Opresentetrabalhodeinvestigaçãocientíficateveinícioapartirdoseguintequestionamento:

    “Como a população à margem do mercado formal de trabalho e portanto sem acesso a programas de

    financiamento da casa própria resolve seu abrigo e como esta resolução se dá sob o ponto de vista

    do desempenho funcional?”

    Aautoconstruçãoéaprincipalformadesuprimentododéficithabitacionalpelapopulaçãode

    baixarenda,vistoqueatravésdelaomoradoreconomizaopagamentode mão-de-obraeconstrói

     

    5EmFlorianópolis,onúmerodemoradorespordomicílioéde3,23(FundaçãoIBGE,2000).

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    sua habitaçãodeacordo com asnecessidades espaciais (esobretudo financeiras) de sua família

    (MARICATO,1979;BONDUKI,1986;SILVEIRA,2000).É importantedestacarqueem loteamentos

    popularestambémémuitocomumaproduçãohabitacionalatravésdoprocessodeautogestão,no

    qualomoradoragecomoempreiteiro,contratandoamão-de-obra,semperderocontrolesobreo

    planejamentoeconstruçãodaedificação.

    Neste trabalho,considera-seo processodeautogestãosemelhanteàautoconstrução,visto

    que o objetivo principal é identificar as formas de concepção espacial da moradia pelomorador

    usuário, independentementedo fato dele terconstruídoou terpagadoalguémpara construiresse

    espaço,deacordocomsuasnecessidades(financeiras,espaciais,estéticas).

    Apesardamorosidadedoprocesso,vistoquenãohácapitalfinanceirosuficienteparacustear

    todaaobradeumasóvez,edodesgastefísicodetodaafamíliaautoconstrutora,omoradorse

    apropriadahabitaçãomaisfacilmente,devidoaofatodelemesmoseroresponsávelpelaconcepção

    econstrução(MARICATO,1979).Essarelaçãodeapropriaçãoespacialimplicadiretamentenograu

    desatisfaçãodousuárioparacomasuamoradia,deformaqueosespaçosautoconstruídosmuitas

    vezesseadequammelhoràsnecessidadesculturaisdafamíliadoqueashabitaçõespromovidaspelo

    poderpúblico(SOUZA,1999).

    Assim,oestudodoespaçohabitacionalespontâneopermitecompreendercomoapopulação

    debaixarendaserelacionacomacasaequalosignificadoqueelaatribuiaosespaços,mesmoque

    a solução por ela utilizada seja improvável ouaté mesmo inviável, doponto de vista técnico.O

    conhecimentodessasquestõesporpartedosprojetistasquetrabalhamcomaproduçãodahabitação

    de interesse social pode auxiliá-losnaelaboraçãode projetosmais condizentes com a realidade

    dessapopulação,demodoqueosaspectospositivosdaautoconstrução,quandoexistentes,possam

    serintegradosàproduçãohabitacionalformal,melhorandoconsideravelmenteaqualidadedeusoefuncionamentodessasedificações.DeacordocomFolz(2003):

    Para projetaradequadamente uma habitação para a população debaixa rendaénecessárioconheceromododevidadessapopulação.Nãobastadividiroscômodoscom metragens mínimas, achar uma densidade-limite e considerar resolvido ointeriordessamoradia.Noentanto,nãoéfácilobservaroconjuntodeexigências,uma vez que o comportamento e asatitudesdas famíliasapresentamumcaráterunitárioedependentedocontextonoqualelasvivem(FOLZ,2003:76).

    Nesse sentido, o estudo desse tipo específico de habitação implica também num estudo

    comportamentalacercadeseusagentespromotoreseusuários,baseadoemseusvaloresculturais,costumes,elementossimbólicosenecessidadesespaciais(SOUZA,1999).ParaOliven(1980):

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    Asociedadebrasileiraéumcamporicoparapesquisasantropológicasemcidades.Édesesuporquenumasociedadecomummodelodedesenvolvimentoquetendeagerar profundas diferenças sociais isto se reflita nas nossas cidades, e que osgrupos envolvidos neste processo tendam a desenvolver estratégias desobrevivência e sistemasde representação que necessitem ser estudados com origorqueométodoantropológicopossibilita.Enquantoasclassesaltasdascidades

    brasileirasseidentificammaisprontamentecomosvaloresecostumesdominantes,as classes baixas desenvolvemmecanismos adaptativos que lhes permitem lidarcomasrelaçõescapitalistasdeproduçãoeaomesmotempomantersuaidentidade.(OLIVEN,1980apudSOUZA,1999:04).

    Osaspectosdedimensionamentodosespaçoshabitacionaistêm importância fundamental

    paraousoe funcionamentoadequadosdoscômodos,vistoquesituaçõesextremasdeexcessode

    áreaousubdimensionamentopodemrepresentarperdasdopontodevista funcional,ergonômicoe

    financeiroparaseususuários(REIS; LAY, 2002). Desta forma, osestudosdo arranjoespacialda

    habitaçãopopularautoconstruídaedavivêncianoseuinteriorpassamasertãoimportantesquanto

    os demais anteriormente citados, visto que a qualidade física da habitação influi diretamente na

    qualidadedevidadeseusocupantes.

    NoBrasil,nosúltimosvinteanos,têmsidodesenvolvidosestudosacercadasatisfaçãode

    usuários com relação a diversas edificações colocadas em uso no espaço urbano. Tais estudos

    buscamodesenvolvimentodeavaliaçõessistemáticasdodesempenhodasedificaçõesemquestão,

    a fim de possibilitar a melhoria das relações humanas em seu interior , através do método de

    pesquisadenominadoAvaliaçãoPós-Ocupação(ORNSTEIN,1992).

    No caso deumapesquisa sobre a qualidade funcional deespaçoshabitacionais, torna-se

    imprescindíveltambémaanáliseergonômicadosambientes.Aergonomiaanalisaasinteraçõesentre

    o homem e os outros elementos de um dado sistema, visando melhorá-los quanto a respostas

    motoras,conforto,fadiga,esforçoebem-estar(LOPESFILHO;SILVA,2003).Olevantamentodos

    aspectosergonômicosdashabitaçõesautoconstruídas,aliadoaumainvestigaçãoprofundasobreo

    mododevidaeapropriaçãoespacialdosusuários,poderevelarograudeinteraçãodohomemcomo

    seuambientefísicoderepouso,lazeretrabalhodoméstico.

    Assim,faz-senecessáriaarealizaçãodeestudosquepossibilitemaconcepçãodelayouts

    maissatisfatórios,emtermosdedimensionamentodosambientes,equepermitamumgraumaiorde

    flexibilidade daHIS. Acredita-se que desta forma seja possível o provimento habitacional deboa

    qualidadeparaparcelasdepopulaçãodebaixarenda,desmistificandoapremissadequeedificações

    arquitetonicamentebemplanejadassãoprivilégiodeclassessociaisdetentorasdemédioealtopoder

    aquisitivo.

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    1.3 Objetivos

    Os objetivos que se buscaram alcançar com este trabalho foram classificados em duas

    categorias,definidasemfunçãodoseugraudeimportânciaeexplicitadasaseguir.

    1.3.1 Objetivo Geral

    Compreenderomododeconcepçãodamoradiaautoconstruídapelapopulaçãodebaixarenda,em

    termosdedimensionamentoearticulaçãodosespaçosinternosdaedificação.

    1.3.2 Objetivos Específicos

    Identificar:

    • A(s)forma(s)dedistribuiçãoeáreasúteisdoscômodosemhabitaçõesautoconstruídasno

    bairroBarradoSambaqui,nacidadedeFlorianópolis/SC;

    • Osfatoresquedeterminaramouinfluenciaramseudimensionamento;

    • Odesempenhofuncionaldessashabitaçõesconstruídassemacompanhamentotécnico;

    • Aarticulaçãoentreoscômodoseodesenvolvimentodasatividadesdomésticascomesem

    sobreposições;

    • Asmudançasdeuso,forma,quantidadeearticulaçãodoespaçohabitacionalaolongodo

    tempo,relacionando-asaograudedesempenho;

    • As formas de apropriação do espaço habitacional pelos usuários, sejam os construtores

    originaisouosusuáriossecundários,identificandosuaspeculiaridades;

    • Aqualidadedefuncionamentodoscômodosindividualmenteedashabitaçõescomoumtodo.

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    1.4 Metodologia e procedimentos de pesquisa

    Para alcançar os objetivos estabelecidos, adotou-se como metodologia de trabalho os

    métodosdeEstudodeCasoe IndicadordeFuncionalidadedaHabitação,associadosa técnicasde

    pesquisapertinentesaométododeAvaliaçãoPós-Ocupação.Esseassuntoseráabordadocommais

    ênfase nocapítulo2,noqual serão explicitados todososconceitos e procedimentosdepesquisa

    utilizados.Sucintamente,seguemabaixoasrespectivastécnicaseetapasderealizaçãodapresente

    pesquisa.

    1.4.1 Técnicas de pesquisa

    • Levantamentobibliográficoedocumental;

    • Levantamentoarquitetônicodashabitações,comproduçãodematerialiconográfico;

    • Realização de entrevistas semi-estruturadas com os usuários-chave – moradores

    autoconstrutoresemoradoressecundários(não-originais);

    • Observaçãodoshábitosdeusodasedificaçõespelosusuários;

    • Descriçõesfísicasdashabitaçõesedasrelaçõessociaisaelasinerentes;

    • Atribuiçãodegrausdefuncionalidadeaoscômodoseàshabitações.

    1.4.2 Etapas de pesquisa

    • Revisãodeliteratura;

    • Delimitaçãoeconceituaçãometodológicadapesquisa;

    • Caracterizaçãodaproblemáticahabitacionaledefiniçãodaáreadeestudo;

    • Revisãodostrabalhostécnicosproduzidospordiferentesinstituiçõeseórgãospúblicossobre

    aBarradoSambaqui;

    • Determinaçãodaamostra;

    • Definiçãodaentrevistaestruturadaerealizaçãodopré-teste;

    • Realizaçãodasentrevistas;

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    • Levantamentosarquitetônicosdasedificações;

    • Análisedosdadosobtidos;

    • Atribuiçãodosgrausdefuncionalidade;

    • Conclusões.

    1.5 Recortes da pesquisa e limitações do trabalho

    O presenteestudo limita-sea analisaremprofundidadesetehabitaçõespré-selecionadas,

    localizadasnumloteamentoclandestinodaBarradoSambaqui,emFlorianópolis,comoobjetivode

    conheceromododeconcepçãodamoradiaautoconstruídapelapopulaçãodebaixarendaapenas

    emtermosdedimensionamentoearticulaçãodoscômodos.Nessecontexto,osaspectospertinentes

    aoconfortoambientalemateriaisconstrutivosnãoforamabordadosemprofundidade.

    Porsetratardeumestudocomportamental,envolvendoaspectosdeintimidadeeprivacidade

    dacomunidadepesquisada,amestrandaenfrentoudificuldadesparaconseguirseinserirerealizaros

    levantamentosnecessários.Porcontadisso,apesquisadecampodemandoumaistempodoqueo

    esperadoparaserconcluída,eapresentoudificuldadesqueatéentãonãotinhamsidoprevistas,tais

    como:

    • Dificuldadedeinserçãonacomunidadeemfunçãodadesconfiançadosmoradoresacercado

    possívelenvolvimentodaprefeituramunicipaldacidadenoestudo;

    • Ausênciadeliderançascomunitáriasquepudessemintroduzirogrupodepesquisajuntoaos

    moradores;

    • Inexperiênciadapesquisadoracomrelaçãoàaplicaçãodosmétodosdeinvestigação;

    • Substituiçãodasunidadespré-selecionadasquenãoconcordaramemparticipardoestudono

    momentodasentrevistase,principalmente,aobservaçãodocotidianodogrupopesquisadocom

    maisênfase.

    Apósalistagemdetodasasunidadesdoloteamentoqueseenquadravamnosquesitosde

    análisedoestudoedareformulaçãodaabordagemdecampo(comapresençadeumaex-integrante

    daassociaçãodosmoradores),foipossívelcontornarosentravesdescritosacima,deformaquesua

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    Concepção e linguagem projetual de habitações autoconstruídas em Florianópolis /SC Um estudo na Barra do Sambaqui

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    ocorrência não inviabilizoua coleta de dados e por conseqüência, os resultados alcançadospela

    presentepesquisa.

    Noentanto,nãofoipossívelaprofundarintensamenteasquestõespertinentesàinvestigação

    comportamental,deformaqueosresultadosprovenientesdessefocodeanáliseficaramrestritosàs

    informações fornecidas pelosmoradoresentrevistadose pelas observações realizadas duranteas

    visitasdelevantamentodasunidadespesquisadas.

    1.6 Estrutura e apresentação do trabalho

    A fim de possibilitar melhor compreensão do estudo aqui apresentado, o documento foi

    estruturado da seguinte maneira: primeiramente serão apresentados a metodologia e os

    procedimentosdepesquisautilizados(capítulo2).Emseguidaexpõe-seumrelatosobreoreferencial

    teórico adotado (capítulo 3) e o panorama da questão habitacional na cidade de Florianópolis

    (capítulo4).Naseqüência,serãoapresentadosoobjetodeestudo(capítulo5),aanálisedosdadose

    resultados obtidos (capítulo 6). Por fim, o capítulo 7 apresenta as conclusões e sugestões para

    trabalhosfuturosrelacionadosaotemaabordadonapresentedissertação.

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    CAPÍTULO

    METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

    Opresentetrabalhosedesenvolveapartirdeumaabordagemqualitativa,representadapelo

    método doEstudodeCaso(EC),em associaçãocom técnicasinerentesaométododeAvaliação

    Pós-ocupação–APO.NaanálisedosresultadosfoiutilizadoométododoIndicadordeFuncionalidade

    da Habitação (IFH), como forma de apresentar quantitativamente as conclusões do trabalho de

    campo.

    AescolhadométododeEstudodeCasojustifica-sepelanecessidadederealizaçãodeum

    estudo comportamental acerca dos agentes promotores e usuários das edificações em estudo,

    baseado em seus valores culturais, elementos simbólicos e necessidades espaciais. Em

    contrapartida,astécnicasempregadasnométododeAPOpossibilitamaaferiçãododesempenhodo

    ambienteconstruídoemuso,atravésdeprocedimentosquepermitemocruzamentodeavaliações

    técnicas, aliadas a avaliações comportamentais, com a opinião dos usuários destes ambientes

    (BENEVENTE,2002).Emfunçãodanaturezadoestudo,considerou-sedesumaimportânciapara

    sua realização uma complementação teórica do EstudodeCaso apartir dométodo daPesquisa

    Participante (PP), a fim de esclarecer os pressupostos básicos do universo de investigação e

    observaçãodegrupossociais(ApêndiceA).

    No presente capítulo serão apresentadas as conceituações metodológicas dos métodos

    utilizadoseastécnicasdepesquisaempregadas,bemcomoasetapasderealizaçãodotrabalhoeda

    pesquisadecampo,objetodopresenteestudo.

    2.1 A utilização do Estudo de Caso em pesquisas sociais

    O método de Estudo de Caso presume que a obtenção de conhecimento do fenômeno

    estudadosedáapartirdaexploraçãointensadeumúnicocaso,atravésdareuniãodomaiornúmero

    possíveldeinformaçõesdetalhadas,pormeiodediversastécnicas(BECKER,1999;GOLDEMBERG,

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    2002).Seuobjetivoéapreenderatotalidadedeumadadasituaçãoedescreveracomplexidadede

    umcasoconcreto,vistoquepermiteoconhecimentodeumarealidadesocialquenãopoderiaser

    conseguidoatravésdaanáliseestatística.Nessesentido,oestudodecasoconstitui-secomoumadas

    principaismodalidadesdepesquisaqualitativaemciênciassociais(BECKER,1999;GOLDEMBERG,

    2002).

    Diferentedapesquisamédica(apartirdaqualsedesenvolveuessemétodo),oestudode

    caso realizado em pesquisas sociais refere-se não só a um único indivíduo, mas sim a uma

    organização ou comunidade, tais como cidades industriais, bairros urbanos, fábricas, hospitais

    psiquiátricos,entreoutros.Assimcomonosdemaismétodosdepesquisaqualitativa,asprincipais

    técnicas de coleta de dados utilizados pelo estudo de caso são a observação participante e as

    entrevistas(BECKER,1999),asquaisserãoabordadasposteriormentecommaisprofundidade.

    EssemétodopodesercomplementadometodologicamentepelaPesquisaParticipante(PP),

    aqualédefinidaporBorda(1988)comoummétododepesquisavoltadoparaasnecessidadesde

    populações que compreendemas classes mais carentes nas estruturas sociais contemporâneas,

    levandoemcontasuasaspiraçõesepotencialidadesdeconhecereagir.APPpressupõearelação

    fundamentalentresujeitoeobjetodepesquisa,fundamentadanoconhecimentodaexperiênciade

    vidadacomunidadeemestudo(saberpopular)enodirecionamentodasatividadesemseubenefício

    (HAGUETTE,1997).

    De acordo com Freire (1988), a implementação metodológica adequada de uma PP

    compreendeasetapasconstantesdaIlustração2.1.Nestetrabalho,asduasprimeirasetapaslistadas

    abaixocompreenderamasprimeirasaçõesdepesquisaeimplementaçãodoestudodecaso.

    1ªETAPA 2ªETAPA 3ªETAPA

    Verificar a existência deestudos anteriores na áreaescolhida, com o intuito decaracterizá-la previamente,evitando assim a produçãode informações repetidas;delimitar a área depesquisa.

    Fazer visitas exploratórias,anotando tudo aquilo quechamar a atenção; identificarorganismosoficiaise privadosexistentes. Fazer visitas àsliderançasdessesorganismos,afimdeexplicarapesquisaeométodoparticipante.

    Sugerir às lideranças, caso sejanecessário, reuniõesmaisamplas,nas quais a interpretação dosobjetivos da organização quedesenvolve a pesquisa e seumétododetrabalhopossaserfeita,em parte, por representantespopulares.

    Ilustração2.1–EtapasdeimplementaçãometodológicadeumaPesquisaParticipante

    Fonte:FREIRE,1988.Dadoscompiladospelaautoradestetrabalho.

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    OEstudodeCasodiferedométodocientíficotradicional(baseadoemanálisesquantitativas,

    experimentos de laboratório, etc) por tratar-se de uma intervenção num grupo social real, a qual

    envolve os valores essenciais das pessoas e sua vida cotidiana (HAGUETTE, 1997). Em

    contrapartida, umadasmaiores limitações impostaspelosmétodosqualitativosaospesquisadores

    quebuscamcompreenderorganizações, grupose comunidadesdomundo realéadificuldadede

    inserçãoem seu objeto deestudo.Conseguir permissão paraestudaraquiloque sepretende, ter

    acessoàspessoasquesequerobservar,entrevistarouentregarquestionáriossãotarefasdifíceise

    aindapoucodiscutidasmetodologicamente(BECKER,1999).

    2.2 A Avaliação Pós-Ocupação como método de investigação

    comportamental

    Aqualidadedoambienteconstruídopodeserdefinidacomoumconjuntodecaracterísticas

    inerentesà construção que satisfazem asmaisdiversasnecessidadesdeseususuários,estando

    desta forma diretamente associada ao grau de desempenho técnico do edifício (ROMÉRO;

    ORNSTEIN,2003).Nahabitação,ograudedesempenhoéreferenteàeficáciadesuaestruturafísica

    emrelaçãoaoatendimentodasfunçõesquelhessãoatribuídas(LEITE,2003).

    O desempenho de uma edificação pode ser aferido através de dois tipos de avaliações

    distintas(ORNSTEIN,1992):aavaliaçãotécnica(calcadaemexperimentoslaboratoriaisounão,com

    ousemocontroledascondiçõesambientais)eaavaliaçãocomportamental(baseadanasopiniõese

    observaçõesdomododevidadosusuários).

    O método de pesquisa denominado de Avaliação Pós-Ocupação surgiu em função da

    necessidadedeadequaçãodasconstruçõesnãosóàsexigênciastécnicasdeproduçãoeusodo

    edifício,masprincipalmente às expectativas comportamentais deseususuários.Nesse sentido,a

    APOvisaigualmenteidentificarasnecessidadeseosníveisdesatisfaçãodosusuários,emrelação

    aoespaçoconstruído.

    Cruz (1998) afirma que a avaliação gera informações acerca da detecção de aspectos

    positivos e negativos da edificação em uso. Dessa forma, as avaliações pós-uso servem como

    instrumentodecontroledequalidadedoprocessoprodutivo,oqualenglobaasetapasdeprojeto,

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    construção, fabricação de materiais e componentes, uso, manutenção e operação dos edifícios

    (Ilustração2.2).

    Ilustração2.2–EsquemadaAPO

    Fonte:ROMÉRO;ORNSTEIN,2003,p.26.

    Os diagnósticos produzidos visam realimentar futuros projetos semelhantes, a fim de

    disseminarassoluçõespositivaseminimizaraocorrênciadeerrosrepetitivos.Aatuaçãomaisefetiva

    deveocorrernaetapadeprojeto,ouseja,naquelademenorcustodentrodociclodeproduçãoeuso

    dosambientes(CRUZ,1998;ROMÉRO;ORNSTEIN,2003).

    NoBrasilarealizaçãodeavaliaçõesdoambienteconstruídoaindaérecente,masnocampo

    internacional os métodos e técnicas de pesquisa da APO vêm sendo adotados por psicólogos

    ambientaiseuropeusenorte-americanosdesdeadécadade60,comoobjetivodeidentificarograu

    deinfluênciadodesempenhodoespaçoconstruídosobreocomportamentohumano.Asprimeiras

    avaliaçõesnopaísforamrealizadaspeloInstitutodePesquisasTecnológicasdoEstadodeSãoPaulo

    (IPT),noiníciodadécadade70.

    Quandosetratadeestudosrelacionadosàhabitação,eparticularmenteàhabitaçãosocial

    produzidaemsérie,aaplicabilidadedaAPOtorna-semaisrelevanteparaareduçãodosimpactos

    negativosprovocadospelapadronizaçãoemmassa.Oprévioconhecimentodasvariáveisculturais,

    hábitos,crençasemododevidadosdiversosgruposdeusuáriospossibilitaaoprojetistaatenderuma

    gamadeexigênciasmaisampla,proporcionandoousodoedifíciodeumamaneiramaissegurae

    confortávelparaoindivíduo.Éimportantedestacarqueasatisfaçãodousuáriocomoespaçoqueele

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    habitaédeterminadanãosópelasqualidadesfísicasdahabitação,mastambémporfatoresexternos

    taiscomoasrelaçõesdevizinhançaeaqualidadeambientaldoentornourbano(IMAI,2000).

    De acordo com Ornstein (1992), existem três níveis de pesquisa possíveis de serem

    realizadosnumaAPO,asaber:

    • Indicativaoudecurtoprazo;

    • Investigativaoudemédioprazo;

    • Diagnósticooudelongoprazo.

    Neste trabalho, a APO não foi utilizada como método de pesquisa, mas sim como um

    complementometodológicoparaoestudoecompreensãodarelaçãoentreusuárioeedificação,a

    partir do emprego de técnicas investigativas peculiares. No entanto, as etapas de trabalho

    implementadasassemelham-seàquelaspertinentesaumaAPOindicativaoudecurtoprazo,visto

    que pretendeu-se fazer um levantamento dos aspectos construtivos, funcionais e de conforto

    ergonômicodashabitaçõespré-selecionadas.Esse levantamentoconsistiunarealizaçãodevisitas

    exploratórias ao ambiente em estudo e entrevistas semi-estruturadas com usuários-chave,

    propiciandoaindicaçãodosprincipaisaspectospositivosenegativosdaedificação,alémdoscritérios

    referenciaisdedesempenho.

    2.3 O Indicador de Funcionalidade da Habitação e sua

    aplicabilidade

    O Indicador de Funcionalidade da Habitação (IFH) consiste num modelo de análise e

    avaliaçãodaqualidadedoprojetoresidencialdeinteressesocialpadronizado(produzidopelopoder

    público), desenvolvido por Leite (2003) com base no método apresentado por Silva (1982). Esse

    modelopossibilitaaidentificaçãodeproblemasdefuncionalidadeespacialtantonaetapadeprojeto

    quanto na etapa de pós-ocupação da edificação (LEITE, 2003), através do levantamento de

    informaçõessobreodesempenhodoscômodosemrelaçãoàsdemandasdeusoefuncionamento

    quelhessãoimpostaspelomododevidadosusuários.

    OobjetivoprincipaldoIFHéexpressarahabitabilidadedaedificaçãoatravésdeumvalor

    numérico.Arelaçãoentreoindicadorresultanteeosintervalosdevaloresestabelecidospelométodo

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    30

    expressa a adequação ou inadequação para o uso, num primeiro momento dos cômodos, e

    posteriormente da habitação como um todo. Caso um aspecto da moradia não apresente o

    desempenho previsto e sua habitabilidade fique comprometida, isto se torna visível através da

    representaçãográficadoIFH,aqualsedápormeiodegráficosdotiporadar(LEITE,2003).

    O modelo teórico de determinação do indicador de funcionalidade é proposto a partir do

    estabelecimento de critérios de avaliação quantitativos e critérios de avaliação qualitativos. Os

    aspectos quantitativos referem-se à quantidade de mobiliáriomínimo e adicional. Já os aspectos

    qualitativossãopertinentesaoarranjoespacialdessesequipamentosnoscômodos,considerandoos

    espaçosdecirculaçãoparaosusuárioseaarticulaçãoentreosprópriosequipamentoseoambiente

    (Ilustração2.3)(LEITE,2003).

    Compartimento Quesito

    Característica do

    quesito

    Modo de avaliação

    MobiliáriomínimoTodososcompartimentos

    Mobiliárioadicional

    Quantidade

    (quantoetipo)

    Verificar se a quantidade e tipode equipamentos existentes nocompartimento atendem àsnecessidadesmínimas

    Proximidadedoroupeiroàporta

    CirculaçãoeutilizaçãoAcessibilidadeàjanela

    QuartodocasaleQuartodosfilhos

    Otimização

    Circulaçãolivre

    Árealivrecentral

    AcessibilidadeàjanelaSaladeEstareJantar

    Otimização

    Passagemlivre

    Relaçãofogão/janela

    Aberturadeportasdeequipamentos

    Cozinha

    ProximidadedorefrigeradorOtimização

    Utilizaçãosimultânea

    IluminaçãonaturalBanheiro

    Privacidade

    Aberturaparaoexterior

    Circulaçãoeutilização

    EspaçoparadepósitoÁreadeserviço

    Otimização

    Qualidade

    (arranjofísicooudistribuição)

    Verificar se a qualidade do oudisposição dessesequipamentos permitem tanto aplena utilização deles própriosquantoadeoutrosequipamentos

    Ilustração2.3–Característicasemododeavaliaçãodosquesitosdequantidadeequalidade

    Fonte:LEITE,2003,p.92.

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    31

    Na realidade, o IFH é o resultado do somatório dos indicadores de funcionalidade dos

    compartimentos(IFC),osquaissãodeterminados,porsuavez,pelosomatóriodosindicadoresde

    funcionalidade dos quesitos (IFQ). Significa dizer que a adequação da funcionalidadedoquesito

    determina a adequação do compartimento e assim por diante, culminando com a adequação ou

    habitabilidadedaedificaçãocomoumtodo.

    A ilustração da página anterior mostra que Leite (2003) estabeleceu quinze critérios

    diferenciadosparaaadequaçãodosseiscompartimentosdahabitaçãopadronizadaaosquesitosde

    qualidadepressupostospelométodo.Todososcritérios,bemcomoascaracterísticasdeavaliaçãode

    cadaumdeles,constamdoanexoAdopresentetrabalho.

    A fim deotimizar a identificação desses critérios em campo, optou-se por agrupá-los em

    apenas quatro quesitos, de acordo com as características semelhantes entre eles, conforme a

    ilustração 2.4. Pode-se citar como exemplodesse agrupamentoa reunião dos quesitos descritos

    comocirculaçãolivre,árealivrecentralepassagemlivredentrodoquesitodenominadodecirculação

    eutilização.

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    AaplicaçãodométododoIFHpressupõeasseguintesetapas(LEITE,2003):

    • Elaboraçãodeumalistagemdasatividadesexercidasnoambientedomiciliar;

    • Realizaçãodoinventáriodoequipamentodomésticoconvencionalcontemporâneo;

    • Definiçãodoscritériosadotadosnaarticulaçãodosequipamentoscomosusuários,como

    espaçoeentresi;

    • Formulação de hipóteses de articulação dos equipamentos e espaços segundo critérios

    definidos,embuscadospadrõesdeotimizaçãoeconômicaefuncional.

    A partir da análise dométodo proposto por Silva (1982), Leite (2003) estabeleceu cinco

    conceitos de funcionalidade, aos quais foram atribuídos valores numéricos denominados de

    indicadores.Atabela2.1apresentaarelaçãoentreosconceitoseseusrespectivosindicadores.

    Tabela2.1–Equivalênciaentreconceitoeindicador

    Conceito Supera Atendeplenamente

    Atendeparcialmente

    Atendeprecariamente

    Atendemuitoprecariamente

    Indicador

    4 3 2 1 0

    Fonte:LEITE,2003,p.92.

    AdeterminaçãodoIFQdequantidadeconsistenaidentificaçãodaexistênciadoequipamento

    comomínimoouadicionalconformediscriminadonocritériocorrespondenteaestecompartimento.

    Emseguida,calcula-seocoeficienteentreaquantidadedeequipamentosexistenteseaquantidade

    mínimarecomendadae,porfim,identifica-senatabela2.2oconceitoeoindicadordefuncionalidade

    correspondenteaestecoeficiente.

    Tabela2.2–Equivalênciaentrecoeficiente,conceitoeindicador

    Coeficiente

    Maiorque1,20 Iguala1,0 Entre0,9e0,7 Entre0,7e0,5 Menorque0,5

    Conceito

    SuperaAtende

    plenamenteAtende

    parcialmenteAtende

    precariamenteAtendemuitoprecariamente

    Indicador

    4 3 2 1 0

    Fonte:LEITE,2003,p.93.

    OIFQdequalidadeédeterminadoatravésdacomparaçãodasdimensõesdosespaçosentre

    osequipamentos, indicadas no inventáriodemóveis e espaços de utilização, com asdimensões

    especificadasparacadacritério.Emseguida,atribui-seoconceitodefuncionalidadecorrespondente,

    deacordocomatabela2.1.

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    34

    ApósadeterminaçãodosIFQ’s,osvaloresobtidossãolançadosnumgráficodotiporadar,de

    acordocomailustração2.5,comointuitodedeterminaroIFCdecadacômodoanalisado.Oseixos

    radiaismarcamaescalados indicadoresquevariamde0 a4,e paracada critérioquecompõeo

    quesito,ovalordoindicadorémarcadonoeixocorrespondente.Externamente,emcadaeixoconsta

    o nome do critério que está sendo analisado (LEITE, 2003). A partir dessas características se

    estabelece umaescala dedesempenhoda funcionalidade, representada, neste caso, porgráficos

    hexagonais(emfunçãodonúmerodecômodosanalisados).

    Ilustração2.5–Gráficodoindicadordefuncionalidadedocompartimento

    Fonte:LEITE,2003,p.100.

    0

    1

    2

    3

    4

    a1

    b1

    a

    b

    c

    d

    IFC 18

    NarepresentaçãográficadoIFC,quandotodososquesitosapresentamomesmoindicador,o

    gráficoassumeaformadeumhexágonoperfeito.Seoindicadoremquestãoforiguala3(Atende)o

    hexágonopassaarepresentarasituaçãoidealdefuncionalidadedocompartimento.Porsuavez,as

    deformaçõesemsuaformabásica(emvirtudedosdiferentesvaloresparacadaquesito)representam

    osconflitosarquitetônicosinerentesaocompartimento,caracterizandoassimsuainadequabilidadeao

    usosatisfatório.AmesmasituaçãotambéméválidaparaográficodoIFH.Aanálisedasdiferentes

    formas representadas nos gráficos possibilita a identificação das causas de inadequabilidade

    funcional,econseqüentementeabuscaporsoluçõesadequadasaocontextoanalisado.

    A tabela 2.3 apresenta a relação entre os conceitos e indicadores para os quesitos de

    quantidade e de qualidade, bem como os intervalos de desempenho da funcionalidade nos

    compartimentosenahabitaçãocomoumtodo.

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    35

    Tabela2.3–Intervalosdedesempenhodafuncionalidadenoscompartimentos

    Conceito e Indicador de

    Funcionalidade dos Quesitos

    Intervalo de variação do Indicador de

    Funcionalidade do Compartimento

    Compartimento

    N

    m

    e

    o

    d

    Q

    u

    o

    S

    a

     

    e

    P

    c

    a

    P

    e

    o

    M

    u

    o

    P

    e

    a

    m

    e

    e

    S

    a

     

    e

    P

    c

    a

    P

    e

    o

    M

    u

    o

    P

    e

    a

    m

    e

    e

    QuartodoCasal

    QuartodosFilhos

    SaladeEstar/Jantar

    CozinhaBanheiro

    Áreadeserviço

    6 4 3 2 1 0 4 3 2 1 0

    Intervalos de variação do Indicador de Funcionalidade

    da Habitação

    144 108 72 36 0

    Fonte:LEITE,2003,p.99.

    2.3.1 Exemplo de aplicação do método

    Para melhor compreensão do método apresentado, segue um exemplo prático de

    determinaçãodoIFHdeumaunidadehabitacionalhipotética,resultantedoestudorealizadoporLeite

    (2003)duranteodesenvolvimentodametodologiaemquestão.

    Habitação com maior indicador do estudo: IFH 105

    A tabela 2.4 apresenta a relação entre os cômodos avaliados nessa unidade, seus

    respectivosIFQ's,IFC'seconceitosdefuncionalidade.Emtodososcompartimentososquesitosa1e

    b1correspondemàsvariáveisdemobiliáriomínimoeadicional,respectivamente.Osdemaisquesitos

    variam de acordo com as características de avaliação do cômodo. Assim, os quesitos

    correspondentesàsvariáveisab,cedsão,respectivamente,emcadacompartimento:

    Quartodocasal-proximidadedoroupeiroàporta,áreadecirculação,acessoàjanela,otimização;

    Quartodosfilhos-proximidadedoroupeiroàporta,áreadecirculação,acessoàjanela,otimização;

    SaladeEstar/Jantar-circulaçãolivre,árealivrecentral,acessoàjanela,otimização;

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    Cozinha-passagemlivre,relaçãofogãoejanela,aberturadeportaseequipamentos,proximidadedo

    refrigerador;

    Banheiro-otimização,utilizaçãosimultânea,iluminaçãonatural,privacidade;

    Áreadeserviço-aberturaparaoexterior,circulação,espaçoparadepósito,otimização.

    Tabela2.4–FuncionalidadedaHabitaçãoIFH105

    Indicador de Funcionalidade do

    Quesito IFQ

    Quantidade Qualidade

    Compartimento

    a1 b1 a b c d

    Indicador de

    Funcionalidade do

    Compartimento

    IFC

    Conceito de

    funcionalidade do

    compartimento

    QuartodoCasal 4 3 4 3 2 3 19 Atende

    QuartodosFilhos 2 4 2 4 1 3 16 AtendeSaladeEstar/Jantar 3 3 4 4 0 3 17 Atende

    Cozinha 4 3 3 3 3 3 19 Atende

    Banheiro 3 3 4 0 3 3 16 Atende

    Áreadeserviço 3 3 3 3 3 3 18 Atende

    Indicador e Conceito de Funcionalidade da Habitação 105 ATENDE

    Fonte:LEITE,2003,p.104.

    AinterpretaçãodosvaloresdosIFC'ssedáatravésdarepresentaçãográficadosmesmos.É

    necessáriosalientarqueaproduçãodosgráficosparatodososcompartimentosemestudopossibilita

    aanálisemaisaprofundadadosdadosobtidos.Ailustração2.6demonstraoexemplodográficoradar

    paraoquartodecasal.

    0123

    4Equipamento mínimo

    Equipamento adicional

    Roupeiro próximo à porta

    Área de circulação

    Acesso à janela

    Otimização

    IFC 19

    Ilustração2.6–Gráficodoindicadordefuncionalidadedoquartodecasal

    Fonte:LEITE,2003,p.108.Adaptadopelaautoradestetrabalho.

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    OsgráficosdosIFC'spossibilitamcompararodesempenhodosquesitoseindicamquaisos

    aspectos que merecem ser estudados e aprimorados. No exemplo acima, o quesito com menor

    desempenhocorrespondeaoacessoàjanela,oqueindicaqueesseaspectodeveserestudadocom

    ointuitodeaumentaraqualidadedeseufuncionamento.OgráficorepresentativodoIFH,porsuavez,

    reúneosvalorespertinentesacadaum dos cômodosanalisados.A interpretaçãodesses valores

    permite identificar quais oscompartimentosqueapresentamproblemas, sejamelesresultantesdo

    projetodearquiteturaoudasformasdeutilizaçãodoespaçopelosusuários(Ilustração2.7).

    0

    6

    12

    18

    24Quarto Casal

    Quarto Filhos

    Sala Estar/ Jantar 

    Cozinha

    Banheiro

    Área de Serviço

    IFH 105

    Ilustração2.7–GráficodefuncionalidadedahabitaçãocomIFH105

    Fonte:LEITE,2003,p.107.Adaptadopelaautoradestetrabalho.

    2.4 Técnicas de pesquisa

     Astécnicasdepesquisautilizadasnaproduçãodestetrabalhoforamasseguintes:

    • Levantamentobibliográficoapontandoparaaquestãodamoradiapopular,fenomenologiaem

    arquitetura,antropologiacultural,métodosdepesquisasocial,fatoresdedimensionamentoda

    habitaçãoequalidadedoambienteconstruído;

    • Levantamento documental de estudos produzidos por instituições governamentais e de

    ensinosobreaBarradoSambaqui;

    • Levantamentoarquitetônicodashabitações,comproduçãodematerialiconográficoreferente

    àsedificações–plantasbaixasmobiliadasefotografias;

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    • Realização de entrevistas semi-estruturadas com os usuários-chave – moradores

    autoconstrutores e moradores secundários (não-originais), a fim de identificar o grau de

    satisfação dos usuários com o espaço autoconstruído e as formas de produçãoespacial

    dessashabitações(qualopartidoarquitetônico,asprioridadesespaciaisehierarquiaentreos

    espaçosaseremconstruídos);

    • Observaçãodoshábitosdeusodasedificaçõespelosusuários,nodecorrerdasvisitasem

    campo;

    • Descriçõesfísicasdashabitaçõesedasrelaçõessociaisaelasinerentes,afimdeconhecero

    comportamento do morador em relação à edificação a partir dos usos atribuídos aos

    diferentesespaçosdeatividadeepermanênciadomésticos;

    • Atribuiçãodegrausdefuncionalidadeaoscômodos.

    Dentre as técnicas mencionadas anteriormente, a observação dos hábitos de uso e a

    entrevistaconstituem-secomoasprincipaisformasdecoletasdedadosemcampoparaesteestudo.

    Assim,faz-senecessáriasuaconceituaçãomaisaprofundada.

    2.4.1 A Observação

    Umestudocomportamentalécaracterizadopelacompreensãodomododevidadosmembros

    dogruposocialpesquisado,oqualnãopodesertotalmenteconhecidoapenasatravésdeentrevistas

    formaisouquestionáriosestruturados:faz-senecessárioconhecerossistemasderelaçõessociaise

    deparentescoentreaspessoas,bemcomoasreaçõessensoriaiseemocionaiscaracterísticasda

    comunidadeemestudo-seuscheiros,cores,comoaspessoaslidamcomsuasperdas,ansiedadese

    medos(DAMATTA,1974).Velho(1981:124)afirmaqueessessão"aspectosdeumaculturaede

    umasociedadequenãosãoexplicitados,quenãoaparecemàsuperfícieequeexigemumesforço

    maior,maisdetalhadoeaprofundadodeobservaçãoeempatia".

    Empesquisasdecunhosocial, a técnicadeobservaçãomaisutilizadaéconhecida como

    observação participante, a qual consiste na coleta de dados pelo pesquisador através de sua

    participaçãonavidacotidianadapopulaçãopesquisada(ApêndiceA).

    Essatécnicadepesquisaexigenãosóumaboapreparaçãodopesquisadoracercadesua

    aplicaçãoemcampo,comotambémumadedicaçãoprofundadomesmoaoinserir-senumgrupodo

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    qualelenãofazparte,natentativadecaptarvivênciasparticularesmantendoumacerta"distância

    socialepsicológica"(VELHO,1981:124),afimdegarantiraconfiabilidadedosdadosobtidos.

    Nopresente trabalho, em função das limitaçõesdetempo parasua realização,daprópria

    natureza investigativa do estudo e da dificuldade de inserção na comunidade pesquisada, a

    observação dos hábitos de uso das edificações pelos usuários foi caracterizada pelo exame

    minuciosodassituaçõesvivenciadasduranteasvisitasacampo,asquaispossibilitaramumasériede

    informações ricas em conteúdo sociológico. Os dados provenientes de tais observações foram

    complementadospelasentrevistas,asquaispermitiramsuaanálisesoboenfoquecomportamental,

    abord