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Recursos Geológicos Conceitos Gerais e Classificações de Jazigos Minerais Engenharia Geológica e de Minas / IST

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Recursos Geológicos

Conceitos Gerais e

Classificações de Jazigos Minerais

Engenharia Geológica e de Minas / IST

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1. INTRODUÇÃO E PERSPECTIVA HISTÓRICA DA GEOLOGIA ECONÓMICA Os dados arqueológicos mostram que, desde a Antiguidade, o Homem se interessou pelos

materiais geológicos, vendo neles qualidades estéticas ou procurando neles propriedades físico-

mecânicas. É o caso do ouro, devido à sua cor, brilho, estabilidade química e trabalhabilidade, ou

da pederneira (sílex), pela sua dureza, tipo de fractura e resistência ao desgaste.

A importância dos materiais geológicos na história da humanidade é evidenciada pela própria

nomenclatura utilizada pelos historiadores (por exemplo os períodos do Paleolítico, do Neolítico e

do Calcolítico, ou as idades do cobre, do bronze e do ferro), cujos vestígios chegam até nós

através dos templos, monumentos, túmulos, ornamentações e artefactos.

Nos rios, o homem primitivo encontrava a água, o peixe, os seixos, que utilizava no fabrico dos

seus instrumentos, e a areia com que os polia. Aí encontraria também outros materiais, que pelas

cores vivas e brilho intenso, o teriam surpreendido, como são os casos do ouro e das pedras preciosas!

O interesse pelas pedras preciosas e decorativas entre os povos do antigo oriente e entre os

egípcios, por exemplo, está bem testemunhado nas jóias e noutros artefactos decorados,

encontrados em monumentos religiosos e em túmulos. Às gemas eram atribuídos simbolismos e

poderes de natureza religiosa ou mágica, tradição que ainda hoje persiste.

Desde muito cedo que o Homem começou a utilizar a argila e aperfeiçoou as técnicas de

desmonte de pedreiras e preparação de blocos (em algumas civilizações o desenvolvimento

técnico é notável).

As técnicas de tratamento dos minérios foram evoluindo naturalmente através dos tempos. A

metalurgia do ferro terá começado por volta de 1500a. C., tendo sido praticada pela primeira vez

pelos hititas, utilizando minérios do Cáucaso e da Arménia. Os primeiros fornos consistiam numa

cavidade, que era enchida com minério de ferro e carvão de madeira e depois tapada com terra e

pedras, ficando apenas uma abertura, na parte inferior, para entrar o ar. Obtiam assim uma massa

pastosa ao rubro (não atingiam a fusão completa) que era depois moldada.

Os Romanos produziam já três tipos de ferro, cada um com aplicações específicas. Os técnicos

metalúrgicos romanos eram também bastante hábeis na preparação de ligas metálicas. É-lhes

atribuída a invenção do latão, liga de zinco e cobre, dúctil e maleável, e o uso do estanho.

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Fizeram o uso sistemático do chumbo em complexas redes de canalização que abasteciam os

banhos públicos e as casas das elites romanas em toda a área do império.

Na Idade Média as técnicas de tratamento dos minérios eram essencialmente empíricas. As

operações de fusão e de refinação estavam associadas muitas vezes a práticas de magia, com o

fim de afastar alguns metais diabólicos, como o níquel, o zinco e o cádmio, que prejudicavam a

qualidade do material pretendido. Não obstante a preponderância da escolástica e as restrições

impostas à experimentação pela Igreja, ensaiaram-se e compreenderam-se então muitas reacções

químicas e descobriram-se novos metais, como o antimónio e o bismuto.

Desde cedo o Homem se dedicou à exploração mineira e também desde cedo tentou interpretar os

fenómenos que conduziriam à génese e concentração de substâncias minerais úteis.

É curiosa a ideia de Santo Isidoro de Sevilha que, na Idade Média, séc. VII, fundamentava a

génese do ouro a partir do ar, à semelhança dos vocábulos "aurum" e "aura".

Para Alberto Magno, séc. XIII, os metais formavam-se a partir do mercúrio e do enxofre pela acção

do fogo.

Para Agrícola, séc. XVI, na génese dos metais estavam soluções mineralizantes, que eram

combinações de terra e água aquecidas pelo fogo.

Com Werner, séc. XVII, nasceram as teorias metalogenéticas que defendiam que os minérios

seriam o resultado da concentração a partir de soluções descendentes e singenéticas com as

rochas encaixantes (a mineralização é contemporânea da rocha encaixante) - era a escola

Neptunista.

Mas Hutton, seu contemporâneo, defendia que, pelo contrário, as soluções mineralizantes eram

ascendentes, hidrotermais e na dependência do plutonismo, sendo epigenéticas (a mineralização

não é contemporânea da rocha encaixante) - era a escola Plutonista.

É já no séc. XX, com Launay, para quem os metais provinham da barisfera, sendo transportados

para a superfície da crusta por fluidos voláteis e aquosos, que nasce a METALOGENIA como

Ciência. Nascem as bases fundamentais da moderna análise metalogenética, com a introdução

dos conceitos de Província e de Época Metalogenética.

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1.1. OBJECTIVO DO RAMO DAS CIÊNCIAS GEOLÓGICAS “JAZIGOS MINERAIS “

O ramo das ciências geológicas apelidado correntemente, em Portugal, de JAZIGOS MINERAIS

tem por objecto o estudo dos jazigos minerais que ocorrem na zona da crusta terrestre acessível e

susceptível de exploração. Ocupa-se da geologia dos depósitos minerais, da sua mineralogia e

textura, da morfologia do depósito e da sua génese.

Os anglo-saxões chamam-lhe "Economic Geology" e, mais raramente, "Mining Geology". Em

França teve certa voga o termo metalogenia proposto por DE LAUNAY; contudo, o uso deste

nome só é correcto quando referido ao estudo dos jazigos minerais dos elementos metálicos. Mais

recentemente, tem tido largo uso, ainda em França, o termo "Gitologie" que, todavia, esbarra com

dificuldades de tradução.

Evidentemente, todas estas designações se prestam a crítica, por pouco explícitas umas (como

seja geologia mineira), por muito restritivas outras (como seja metalogenia). Utilizar-se-á, de

preferência, a designação de Geologia dos Jazigos Minerais por ser mais compreensiva e estar

mais de acordo com a finalidade deste ramo das ciências geológicas.

O estudo da geologia dos jazigos minerais pretende reconstituir a história da formação dos jazigos

e deduzir as leis da respectiva repartição na crusta terrestre, o que procura alcançar pelo

conhecimento dos processos genéticos, que presidiram à sua formação, e dos processos

evolutivos, que os afeiçoaram até ao estado em que se encontram na actualidade.

Os métodos de trabalho são os da Geologia Geral ou Geologia Física aplicados, neste caso, a

uma série restrita de constituintes da crusta terrestre. O facto de as entidades, objecto de estudo,

serem mais limitadas que em Geologia Geral e, por outro lado, serem estudadas, em regra, com

finalidade lucrativa permite desenvolver a aplicação de técnicas onerosas que raramente podem

ser empregadas, de modo generalizado, em estudos de Geologia Geral.

Compreende-se, portanto, que é impossível empreender o estudo dos jazigos minerais sem o

conhecimento prévio dos princípios e dos métodos de trabalho da Geologia Geral. De contrário, os

resultados obtidos serão sempre incertos senão francamente erróneos, facto que, dado o volume

de capitais indispensáveis ao desenvolvimento de qualquer indústria mineira, pode conduzir a

resultados catastróficos.

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É o estudo da geologia dos jazigos minerais que possibilita a limitação e a orientação dos

trabalhos de prospecção mineira e, ainda, a determinação das características qualitativas e

quantitativas das ocorrências das massas minerais que constituem os jazigos minerais.

As primeiras permitem realizar uma prospecção eficaz e económica, as últimas fornecem os

elementos indispensáveis para a resolução do problema da explorabilidade dos jazigos, isto é,

habilitam a resolver racionalmente os dois problemas práticos fundamentais que se põem à

geologia dos jazigos minerais: descoberta de jazigos e respectiva explorabilidade. Definiu-se o

objectivo da geologia dos jazigos minerais; é, contudo, necessário concretizar melhor a natureza

das entidades de que aquela se ocupa, embora todos tenham uma noção empírica do que sejam

jazigos minerais.

1.2. NOÇÃO DE JAZIGO MINERAL, MINÉRIO, RECURSO E RESERVA GEOLÓGICOS

Os conceitos de jazigo mineral e de minério, embora de uso corrente, são difíceis de precisar e

não existe, ainda hoje, uma definição verdadeiramente científica para eles.

A definição mais divulgada diz ser jazigo mineral toda a massa mineral cuja exploração é susceptível de ser remuneradora.

RAGUIN (1961, p.1) diz: "minérios são as substâncias minerais naturais susceptíveis de

exploração e venda com lucro para serem utilizadas, em geral, depois de uma elaboração

industrial física ou química".

A dificuldade, que apresenta a definição de jazigo mineral e de minério, reflecte-se na legislação

mineira dos diversos países.

Assim, a legislação portuguesa (Decreto nº 18713, de 1 de Agosto de 1930, art. 3°), sem dar

qualquer definição de jazigo mineral ou de minério, classifica aqueles nas seguintes classes:

1ª classe - Jazigos minerometalíferos: secreções, filões, camadas, massas e aluviões;

2ª classe - Depósitos não metalíferos de grafite, antracite, hulha, lignite, turfa, amianto, talco, sal-

gema, sais de potássio, fosfatos, nitratos, caulino e tripoli;

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3ª classe - Depósitos de hidrocarbonetos e substâncias betuminosas.

Como tal classificação não encerra uma definição de Jazigos Minerais, embora apresente uma

classificação dos mesmos, a legislação (Decreto citado, art. 4°) prevê o caso de poderem vir a ser

adicionados outros jazigos minerais aos acima citados, portanto outros minérios aos enumerados

(SERRANO, 1969, p.19-22).

F. BLONDEL (1950) criticou as noções de jazigo mineral e de minério, chamando a atenção para o

que há de absurdo em definir aqueles conceitos sobre considerações económicas. Um dado jazigo

mineral ser ou não economicamente explorável é uma conclusão a que só se chega pelo

respectivo estudo.

A definição de jazigo mineral deve, segundo BLONDEL, basear-se nos características intrínsecas do próprio jazigo e não na situação geográfica, condições de mercado e tantos

outros factores aleatórios que são introduzidos, na definição clássica, pela condição de ser

economicamente explorável.

Entre os caracteres intrínsecos à natureza dos jazigos minerais faz, aquele autor, sobressair a

anomalia que constituem as concentrações minerais que dão origem àqueles, pois tais

concentrações apresentam-se como o resultado de fenómenos particulares, daí as raras

probabilidades de existência e ser necessário utilizar métodos especiais de pesquisa para a

evidenciar.

É esta característica particular que faz proteger por legislação especial os jazigos minerais e,

baseando-se nela, BLONDEL (1950, p.19) propõe, como tentativa para uma melhor definição:

Jazigo Mineral é uma massa mineral bastante rara e bastante anormal para que a sua pesquisa

necessite de métodos especiais.

Trata-se ainda de uma definição empírica e prática, como o próprio autor reconhece, mas que tem

a vantagem de afastar as condições económicas e definir essas massas minerais pelas

características que na realidade têm permitido enumerar as substâncias consideradas minérios: a

raridade e a anormalidade da sua concentração na zona da crusta terrestre acessível à

pesquisa.

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Aceitando aquela definição para jazigo mineral, pode definir-se (BLONDEL, 1950, p.19) minério

nos seguintes termos:

Minérios são aquelas substâncias minerais naturais que encerram um elemento químico em teor

relativamente elevado ou sob forma química facilmente redutível ou as que apresentam

propriedades físicas raramente realizadas na crusta terrestre.

O conceito de minério encerra, como se viu, a noção de concentração anormal. Esta noção é

referida, em regra, ao teor normal dos elementos químicos na crusta terrestre ou seja ao

respectivo clarke. O conceito de concentração é, pois, essencialmente de natureza química e

pode ser definido como traduzindo a concentração química anormal de um dado elemento químico

em relação ao respectivo teor médio na crusta terrestre (ROUTHIER, 1963,p.15).

A concentração exigida, de um dado elemento, para que origine um jazigo mineral é muito

variável. Em regra, essa concentração é da ordem de várias centenas a vários milhares do valor

do respectivo clarke (MASON, 1958, p.47).

Deve, no entanto, notar-se que o sódio e o magnésio são extraídos da água do mar onde a sua

concentração é inferior ao respectivo clarke (Tabela 1.1).

Metal Clarke Concentração nos jazigos (n x clarke)

Concentração mínima para exploração (%)*

Al 8,13 4 30

Zn 0,013 300 4

Sn 0,004 250 1

Cu 0,007 100 0,7

Pb 0,0016 2000 3

Na 2,83 1,06

Mg 2,09 0,13

* Os valores mínimos dependem essencialmente do desenvolvimento tecnológico

Tabela 1.1 – Concentração, em clarke, para os jazigos minerais de alguns metais.

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Quando se encontra um minério, existe alguma dificuldade em distinguir, a priori, se estamos

perante um jazigo mineral ou uma simples ocorrência esporádica. Esta dificuldade só poderá ser

esclarecida após uma fase de estudo mais ou menos longa.

Os recursos geológicos são bens naturais existentes na crusta terrestre susceptíveis de

aproveitamento económico no presente ou, admissivelmente, no futuro. São recursos geológicos

as substâncias minerais (minérios metálicos, recursos energéticos, as rochas industriais e minerais

não metálicos), encaradas como recurso não renovável e, por tal razão, são geridas como um

stock. Os recursos hidrominerais e geotérmicos são encarados como recursos renováveis sendo,

por isso, geridos como um fluxo.

Existe enquadramento jurídico específico para cada recurso geológico atrás citado, como foi

abordado em aulas anteriores. DEPÓSITO MINERAL é definido pelo Decreto-Lei nº 88/90 do

estado português como a ocorrência mineral existente no território nacional e nos fundos marinhos da ZEE que, pela sua raridade, alto valor específico ou importância, na aplicação em processos industriais das substâncias nelas contidas, se apresentar com especial interesse económico e como tal seja qualificada.

Apresenta-se na Tabela 1.2 a Classificação proposta pelo USGS -USBM,1976)

CLASSIFICAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS

United States Geological Survey – United States Bureau of Mines)

Recursos identificados Recursos por descobrir

Demonstrados Medidos / indicados

Inferidos

Prováveis

Hipotéticos/especulativos

Económicos RESERVAS Reservas inferidas

Económicos marginais

Reservas marginais

Reservas marginais

inferidas

Sub-

económicos

Recursos

Sub-económicos demonstrados

Recursos sub-económicos

inferidos

Tabela 1.2 - Classificação de recursos minerais (USGS)

Viabilidade económica

Grau de conhecimento geológico

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Esta classificação pode ser aplicada a várias escalas, desde a global até à do distrito mineiro ou à

do simples depósito mineral.

Designa-se por:

• recursos totais - os recursos identificados ou conhecidos e aqueles que, embora ainda

não descobertos, se presume existirem com base em evidências geológicas.

• recursos identificados - corpos bem definidos de um recurso cuja localização,

qualidade e quantidade são conhecidas ( já temos determinações analíticas, cálculos).

• recursos não identificados - corpos mal definidos dum recurso que se supõe existir com

base no conhecimento geológico regional e teórico.

• RESERVA – parte dos recursos conhecidos que podem no momento ser legal e

economicamente explorados. O conceito de Reserva é um conceito dinâmico porque para

além das propriedades intrínsecas da mineralização e da própria jazida, tem ainda em

conta outros factores de natureza tecnológica, económica (ex. a cotação em mercado das

substâncias é um dos factores mais determinantes) e política para que esse depósito

possa ser considerado um jazigo e dar lugar a uma exploração mineira.

• Reservas indicadas ou prováveis - aquelas cuja tonelagem e teor foram calculadas com

base em amostragem ainda escassa.

• Reservas inferidas ou possíveis - aquelas cujas estimativas foram baseadas quase

unicamente nas características geológicas regionais e com muito poucas determinações

analíticas.

• Os recursos sub-económicos - aqueles que não sendo hoje reservas, podem vir a sê-lo

no futuro como resultado de alterações económicas ou legais.

• Os recursos paramarginais - porções dos recursos sub-económicos que se encontram

no limite de se tornarem economicamente produtivos ou ainda não são apenas por

questões legais ou políticas.

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• Os recursos submarginais são porções dos recursos sub-económicos que necessitam

de um aumento substancial do preço no mercado ou do uso de tecnologia mais avançada

e que permita a rentabilização dos custos de exploração.

• Os recursos não descobertos hipotéticos são os que, embora ainda não descobertos,

espera-se que existam numa dada região já conhecida e de acordo com a geologia da

região já conhecida.

• Os recursos especulativos são os que podem ocorrer em determinados tipos de

depósitos em locais geologicamente favoráveis, quer em depósitos já conhecidos, quer em

depósitos ainda desconhecidos. 1.3. MINÉRIOS E GANGAS

A par do conceito de jazigo mineral, vamos analisar os conceitos de ocorrência e de mineralização.

A ocorrência exprime simplesmente a existência de um mineral ou rocha num dado local,

enquanto mineralização implica a existência de minerais "anormais" em relação às rochas

encaixantes de tipo comum (ROUTHIER, 1963, p.15).

São, portanto, conceitos mais latos que o de jazigo mineral e cujo emprego evitará a utilização

imprópria do de jazigo mineral. É, semelhantemente, bastante útil a utilização do termo corpo mineralizado (ore body) significando uma massa geológica constituída por um agregado de

minérios e outros minerais (ganga) que se individualiza no meio que o encerra.

Uma mineralização poderá corresponder a um corpo mineralizado e um jazigo mineral

corresponderá sempre a um ou mais corpos mineralizados.

Uma vez precisada, tanto quanto possível, a noção de minério, verifica-se que ela, incidindo sobre

entidades que tanto são minerais como rochas, é restritiva. Por exemplo, conhecendo-se para

cima de duas centenas de minerais de ferro somente cerca de meia dúzia pode ser considerada

como minérios de ferro.

Por outro lado existem, frequentemente, vários minérios para um mesmo elemento, como a

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scheelite e a volframite para o tungsténio. Também se encontram minérios que fornecem mais que

uma substância útil; é o caso das arsenopirites auríferas, das galenas argentíferas, etc.

Como regra muito generalizada, os minérios não se apresentam em concentrações monominerais,

mas sim associados a outros minerais. Ao conjunto de minerais que acompanham os minérios nas

suas ocorrências e que não são objecto de recuperação dá-se, no caso dos jazigos de substâncias

metálicas, o nome de ganga; nos jazigos de substâncias não metálicas é mais corrente, para o

mesmo material, a designação de estéril. Esta diferença entre ganga e estéril não é, todavia,

absoluta e depende muito das regiões mineiras consideradas.

Um dado minério que é explorado num jazigo pode ser incluído, num outro jazigo, na ganga por

ocorrer, por exemplo, em percentagem tal que torna a sua recuperação anti-económica.

Deve notar-se que, por vezes, alguns minérios podem ser recuperados como coprodutos. Quer

dizer, a recuperarão do ou dos minérios, que justificam a exploração mineira, pode facilitar a

recuperação de certos minérios que só por si não justificariam a exploração. Por exemplo nas

minas da Panasqueira e da Borralha, o tratamento por flutuação, usado para obter os

concentrados primários de volframite, permitiu o aproveitamento da calcopirite argentífera como

coproduto. Noutras circunstâncias, os minérios de um determinado metal podem encerrar outros

elementos metálicos na sua constituição, susceptíveis de separação e aproveitamento por

tratamento metalúrgico, reservando-se para esse caso a designação de subproduto.

É costume chamar, ainda, minério ao conjunto do minério, propriamente dito, mais a respectiva

ganga, o que se presta a confusões. Os anglo-saxões fazem a distinção chamando aos minérios,

no sentido em que se definiram atrás, ore minerals e ao conjunto minério mais ganga

simplesmente ore - LlNDGREN, 1933, p.13).

Não existe, em português, nome genérico que permita uma distinção clara. Deve, pois, procurar

evitar-se o uso do termo minério noutra acepção que não seja a precisa e quando a isso se for

obrigado, é sempre conveniente explicitá-Io.

Os minérios, aliás qualquer mineral, podem originar-se quer em consequência de fenómenos de

origem profunda, quer em consequência de fenómenos de origem superficial; no primeiro caso

designam-se por minérios hipogénicos e no último por minérios supergénicos.

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Os minérios podem ainda designar-se por primários ou secundários. Se ocorrem no meio em que

se originaram dizem-se primários; se, pelo contrário, ocorrem num meio estranho àquele em que

se originaram, embora não tenham sofrido qualquer modificação para além de uma

individualização, mais ou menos completa, e de uma possível divisão mecânica, dizem-se

secundários.

Esta última classificação pode, evidentemente, aplicar-se a qualquer mineral, contudo é de uso

corrente para os minérios metálicos.

As duas classificações de minérios, acabadas de citar, não são equivalentes. A primeira baseia-se

no processo de formação e a última no respectivo modo de ocorrência. Assim, um minério

hipogénico ou supergénico pode ocorrer no meio em que se originou ou num outro meio; no

primeiro caso será hipogénico ou supergénico e primário, no segundo caso será hipogénico ou

supergénico e secundário.

Na composição das gangas pode entrar uma grande variedade de minerais; aqueles que

caracterizam, quer pela frequência, quer pela abundância, um dado tipo de ganga são, todavia, em

número reduzido. Daqui resulta poderem classificar-se os tipos de gangas mais frequentes num

número muito restrito:

o gangas siliciosas (quartzo, calcedónia, jaspe)

o gangas carbonatadas (calcite, dolomite, siderite)

o gangas sulfatadas (barita)

o gangas fosfatadas (apatite)

o gangas silicatadas (feldspatos, micas, granadas, minerais argilosos, etc.)

o gangas rochosas (fundamentalmente constituídas por elementos das rochas encaixantes)

Tal como se verá durante as aulas práticas, as gangas são bons indicadores dos ambientes de formação das mineralizações, nomeadamente sobre as condições de pressão (profundidade), temperatura e composição dos fluidos envolvidos.

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1.4 CLASSIFICAÇÃO DOS JAZIGOS MINERAIS

Dada a multiplicidade de jazigos minerais, impõe-se proceder ao agrupamento daqueles que

pareçam semelhantes, de modo a definirem-se tipos ou categorias que sejam facilmente

referenciados e identificados.

É esta finalidade que se procura com a classificação ou sistemática de jazigos minerais. Esta

pretende, portanto, definir tipos, tanto quanto possível homogéneos, que facilitem o estudo e

permitam tirar, por analogia, do conhecimento de uns ensinamentos que ajudem na prospecção,

pesquisa e exploração de outros.

Embora o objectivo da classificação seja sempre aquele, esta pode basear-se em critérios

diferentes e, dentro de um mesmo critério, pode apresentar variações consoante o autor, prova

evidente de que nenhuma é inteiramente satisfatória.

Teoricamente, seriam as classificações genéticas as que melhor poderiam corresponder ao fim em

vista, uma vez que elas deveriam explicar a concentração anormal, que está na origem dos jazigos

minerais, e as relações entre aquela e o meio geológico ambiente.

Na realidade, o conhecimento da génese dos jazigos minerais é muito desigual e está longe de ter

atingido a profundidade indispensável para o estabelecimento de uma tal classificação. Daí, o

deparar-se com várias classificações genéticas, traduzindo a tendência de escolas, todas elas

sujeitas a crítica mais ou menos fácil.

As dificuldades de estabelecimento de uma classificação genética traduzem-se bem no facto de

entre os tratados clássicos só o de W. LlNDGREN (1933) e o de H. SCHNEIDERHÖHN (1941)

seguirem, na parte descritiva, as classificações genéticas propostas pelos respectivos autores. Já

os de A. M. BATEMAN (1950) e de E. RAGUIN (1961), depois de discutirem e proporem

classificações genéticas, mau grado o alto interesse científico e mesmo prático destas, descrevem

os jazigos seguindo uma classificação utilitária, o primeiro, e uma classificação químico-geológica,

o segundo.

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1.4.1. Classificações morfológicas (geométricas)

Um dos primeiros critérios, em que se pretendeu basear a classificação dos jazigos minerais, foi o

da forma, isto é, o das características morfológicas. Este facto explica-se pela importância

primordial que tem, para a escolha do método de lavra, a forma do jazigo a explorar. Daí a razão

de tal critério se ter imposto desde muito cedo.

Se estas classificações, só por si, pouco podem adiantar para o conhecimento da origem e da

formação dos jazigos minerais, porquanto se baseiam numa característica puramente extrínseca,

que se poderia dizer acidental (GRODDECK, 1884, p.11), são, contudo, indispensáveis para a

Lavra de Minas.

Por esta razão e porque prestam relevantes serviços na individualização dos jazigos minerais, sem

a pretensão de dar uma classificação morfológica coerente e completa, definem-se os termos mais

correntes.

Massas - são grandes corpos mineralizados de forma irregular, que tanto podem apresentar um

pendor qualquer como não ser possível definir neles tal característica morfológica (Fig.1. 1).

Fig. 1.1 – Massa de sulfuretos cupríferos (legenda 7) no seio de quartzitos e tufos, intersectados por sistema filoniano subvertical.

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Filões - são corpos mineralizados de forma tabular ou lenticular, mais ou menos acentuada, que

podem apresentar qualquer pendor (Fig.1.2 e Fig. 1.3). Caracterizam-se pela desproporção

existente entre o comprimento e a largura, por um lado, e a espessura, por outro; normalmente

esta última é praticamente desprezável em relação àquelas.

Tomando o pendor para critério secundário de classificação, podem considerar-se os seguintes

tipos de filões:

Pendor Designação

90 a 75° Verticais e sub verticais 75 a 45° Inclinados 45 a 15° Sub-inclinados 15 a 0° Deitados ou sub-horizontais

Os limites de pendor, que determinam esta classificação dos filões, são determinados pelo campo

de aplicabilidade dos diversos métodos de lavra.

Fig . 1.2 – (A) -Filão simples, com apófises; (B) - filão compósito. A região acima do filão é designada por

tecto (T -hanging wall) e a região que o limita inferiormente é designada por muro (M -foot wall).

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Fig. 1.3. Morfologias filonianas. a – filão bem definido; b – filão com câmaras (bolsadas) laterais; c –filão em sela; d – filões em escada; rede filoniana e com evidência de deslocação.

Atendendo às relações geométricas entre os filões e a rocha encaixante, quando esta é

estratificada ou apresenta xistosidade, os filões podem ainda classificar-se em (Fig.1.4 e Fig. 1.5):

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o Discordantes, quando cortam os planos de estratificação ou de xistosidade das rochas

encaixantes,

o Concordantes, filões-camada ou sills, quando se apresentam interestratificados ou

concordantes com a xistosidade; a designação de filão-camada é mais reservada para o

caso de filões interestratificados.

Fig.1.4 – Filões auríferos, concordantes (horizontais) e discordantes (verticais) relativamente à estratificação.

Fig.1.5 – Filões concordantes e discordantes relativamente a uma estrutura em anticlinal com falhas subverticais. Parte da mineralização fixa-se nos contactos entre a rocha calcária e o xisto.

Amas - quando a espessura de um filão se torna notável, em relação à respectiva extensão; esta

designação é sobretudo empregada em França.

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Camadas - é a designação atribuída aos jazigos exógenos, de configuração tabular e

interestratificados; as camadas podem considerar-se como correspondendo a filões estratificados

de extensão muito grande e de configuração tabular (Fig.1.6).

Fig. 1.6 – Mineralização em camada ou estrato

Veios ou venulações - são filões de extensão muito reduzida e de pequena espessura (no

máximo alguns centímetros).

Sistema filoniano - esta designação é atribuída, com muita generalidade, a um conjunto de filões

sensivelmente paralelos entre si e intersectando-se mutuamente (Fig. 1.7); é, ainda,

frequentemente, atribuída contemporaneidade aos filões de um sistema.

Fig.1.7 – Campo filoniano tungstífero

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Esta definição de sistema filoniano, embora muito corrente não parece feliz e julga-se preferível

definir sistema filoniano como um conjunto de filões apresentando direcção e pendor comuns.

Assim definido, corresponde mais ao que os anglo-saxões chamam "vein set" cuja tradução, para

português, não se apresenta fácil a não ser por sistema de filões. Adoptando-se aquela última

definição, considerar-se-á como campo filoniano o agrupamento de sistemas filonianos (Fig.1.8).

Evidentemente, o tipo mais simples de campo filoniano corresponderá a um único sistema de filões

e o mais complexo a um conjunto de filões todos com direcção e pendor diferentes.

Fig.1.8 - Sistema filoniano e de falhas. Na direcção E-W observam-se estruturas do tipo “cauda de

cavalo”.

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Stockwerk ou stockwork - massa de rocha densa e irregularmente fracturada, em diversas

direcções, por pequenas fracturas descontínuas ao longo das quais se alojou a mineralização

(Fig.1.9).

Fig. 1.9 – Mineralizações em Stockwork (bloco diagrama, representação em planta e amostra na escala

macroscópica)

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21

Representa-se na Fig 1.10 uma situação comum, de ocorrência em jazigos de sulfuretos

polimetálicos (Ex. Faixa Piritosa Ibérica), onde por baixo de uma massa com morfologia lenticular pode existir uma mineralização disseminada do tipo stockwork; nesse caso, essa zona é

considerada como uma zona ascensional (alimentação) de fluidos mineralizados.

Figura 1.10 – Esquema de uma massa lenticular com mineralização de sulfuretos maciços, apresentando um

stockwork inferior. Py –pirite, sp – blenda/esfalerite, ga – galena, cp – calcopirite.

Fahlband - massa de rocha metamórfica fortemente impregnada por sulfuretos finamente divididos

que, por meteorização, imprimem cor castanha à rocha encaixante. É termo pouco corrente fora da

Escandinávia.

Chaminé mineralizada (ore pit) - corpo mineralizado com a configuração de coluna vertical ou

próxima de vertical, de secção geralmente circular ou elíptica, preenchida em regra por material

brechóide (Fig.1.11 e Fig 1.12). Não é frequente este tipo morfológico, de que o exemplo mais

célebre é constituído pelas chaminés kimberlíticas (ou quimberlíticas) diamantíferas.

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22

Fig. 1.11– Representação esquemática de uma chaminé vulcânica (diatrema) quimberlítica e exploração de diamantes no Canadá

Fig.1.12 – Chaminé carbonatítica

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23

Ainda a respeito dos corpos mineralizados do tipo filão, convém salientar que a mineralização

raramente se distribui de maneira uniforme; em regra, concentra-se em zonas restritas a que se dá

o nome de colunas mineralizadas (oreshoots) que, quando particularmente ricas e para o caso

dos jazigos filonianos auríferos e argentíferos, tomam a designação de "bonanzas".

Tais zonas, quando de dimensões muito restritas, podem constituir ninhos e bolsadas.

Frequentemente, todavia, apresentam configuração alongada, daí aquela designação, e então

define-se o pitch da coluna mineralizada (nome para que não há tradução) como o ângulo formado

pelo eixo daquela e a direcção do pendor do filão, medido sobre o plano deste (Fig.1.13).

Fig. 1.13– Medição do pitch de uma coluna mineralizada

Embora sejam frequentes os jazigos filonianos com a mineralização essencialmente distribuída

sob a forma de colunas, as causas, a que se devem estas, são ainda pouco conhecidas e

certamente diversas (TATARINOV, 1955, p.42-43). Dum modo bastante genérico, pode dizer-se

que têm sido atribuídas à influência do tipo e morfologia da fracturação das rochas, da natureza

mais ou menos reactiva ou mais ou menos impermeável das rochas encaixantes, e das variações

bruscas de temperatura e pressão das soluções mineralizantes.

Sem entrar na crítica destas influências, não se pode deixar de apontar que deve existir muita

dependência entre as variações de temperatura e pressão das soluções mineralizantes e a

morfologia das fracturas por onde circulam aquelas. Apresentam-se nas figuras seguintes alguns

exemplos de sistemas de fracturas e de algumas mineralizações filonianas associadas (Fig. 1.14 e

Fig. 1.15).

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24

Fig. 1.14 – Sistemas de fracturação. A – paralelo; B – em leque; C – radial; D - intersecção de falhas

contemporâneas ; E – intersecção de falhas com sobreposição; F – conjugado (inclinações opostas)

Fig. 1.15– Filões de preenchimento de fracturas. A – filão com câmaras laterais; B – Filões dilatacionais em

micaxisto; C – filões paralelos; D – filões escalonados no micaxisto; E – filões interligados

Ainda pelo que diz respeito às classificações morfológicas, deve salientar-se que, se elas se

baseiam numa característica extrínseca aos jazigos minerais, nota-se todavia tendência para que

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25

certos tipos genéticos de jazigos ocorram predominantemente sob certos tipos morfológicos.

Apresentam-se nas figuras seguintes (Fig. 1.16 e Fig. 1.17) mais algumas morfologias típicas de

jazigos minerais. A propósito da Fig. 1.17, recomenda-se uma revisão sobre os modos de

ocorrência correspondentes aos tipos de rochas mais comuns, pois muitos jazigos apresentam as

suas morfologias típicas.

Fig. 1.16 – Mineralizações (hidrotermais) em forma de bolsada. Note-se que existe um controlo estrutural

(falhas) e litológico (contacto calcário-xisto) no posicionamento das bolsadas.

Fig. 1.16 – Mineralizações do tipo placer em depósitos aluvionares (terraços de rios). Local privilegiado para

a prospecção de minerais resistentes à meteorização (resistatos) – ouro, cassiterite, ilmenite, diamantes, outras gemas

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26

1.4.2. Classificações utilitárias

Um tipo de classificação muito generalizado é o que toma para critério a utilização das substâncias

minerais úteis, englobando minérios e minerais e rochas industriais.

São classificações deste tipo que seguem BATEMAN (1950) e RAGUIN (1961) na parte descritiva

dos respectivos tratados sobre jazigos minerais e que são largamente empregadas nos estudos de

carácter económico. Embora sejam de estabelecimento e emprego relativamente simples, têm o

inconveniente de se basearem num critério estranho a natureza do jazigo e, ainda, conduzir à

divisão de um mesmo minério por várias secções em função da utilização considerada.

Por outro lado, tais classificações apresentam, ainda, o grave inconveniente de não fazer realçar

as relações, por vezes muito estreitas, que existem entre jazigos de substâncias diferentes.

Este tipo de classificação é, fundamentalmente, uma classificação utilitária de substâncias

minerais e como tal se apresenta, no Tabela 1.3, um esquema adaptado de vários autores.

Recursos energéticos

Recursos Não energéticos

Metálicos

Não Metálicos

Tabela 1.3 - Classificação utilitária dos recursos geológicos

Entre os recursos metálicos podemos ainda considerar :

• os metais preciosos ou nobres (ouro, prata, platina, paládio, ródio, irídio, ósmio)

• os metais ferrosos (ferro, manganês, níquel, cobalto, molibdénio, crómio, vanádio,

volfrâmio)

• os metais base não ferrosos (cobre, chumbo, zinco, estanho, mercúrio, cádmio)

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27

• os metais leves (alumínio, lítio, magnésio, titânio)

• os metais raros com usos especiais (berílio, bismuto, césio, gálio, germânio, zircónio)

De entre os recursos não metálicos consideram-se:

• os minerais industriais que incluem grande variedade de produtos: os de custo baixo,

como por exemplo a areia, areão, as britas e os de custo elevado como por exemplo o

diamante industrial (usado como abrasivo)

• os minerais fertilizantes (fosfatos e outros)

• os minerais para a indústria vidreira (areias siliciosas, feldspato, argila)

• os minerais para a indústria química (halite, silvite, boratos, trona)

• os isolantes (asbestos, vermiculite)

• os minerais para a indústria cerâmica (argilas, feldspato, quartzo)

• os minerais usados como filtros (areias, zeólitos)

• e outros

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28

Apresenta-se na Tabela 1.4 a divisão sectorial correspondente à indústria portuguesa

Sector

Subsector Principais Produções

Internas Produções menores e

importações Carvões

Antracite Carvões betuminosos

Lenhite Minerais Radioactivos Minérios de Urânio Energéticos Petróleo Petróleo Ferrosos Minério de Ferro-Manganês Minério de Ferro Minério de Cobre Minério de Alumínio Minerais Minério de Chumbo Minério de Berílio Metálicos Minério de Estanho Minério de Crómio Não ferrosos Minério de Ouro Minério de Manganês Minério de Prata Minério de Molibdénio Minério de Tungsténio Minério de Tântalo-Nióbio Minério de Zinco Minério de Titânio Minério de Vanádio Minério de Zircónio Minerais não metálicos Pirites para a indústria química Salgema Barita Diatomito Feldspato Outros minerais Gesso não metálicos Mica Quartzo Talco Outros minerais não metálicos Brechas e rochas Mármore Calcários industriais Pedras Naturais Gabro Gabro-Diorito Granito Pórfiro ácido Sienito nefelínico Areias comuns Bentonite Areias especiais Calcite Ardósia Cré Argilas comuns Gabro-Diorito Outras rochas Argilas especiais Grauvaque industriais Basalto Grés Calcário Ofito Caulino Pedra pomes Diorito Dolomito Granito Quartzito Saibro Xisto

Tabela 1.4 -Divisão sectorial da indústria extractiva portuguesa (IGM-INETI)

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29

1.4.3. Classificações Genéticas

As classificações genéticas são as que oferecem maior interesse científico porquanto o perfeito

conhecimento do modo de formação dos jazigos minerais permitiria não só compará-los e agrupar

em bases gerais válidas para todos como, ainda, prever, para uma dada região, quais os tipos de

jazigos que nela poderiam ocorrer; sobretudo, desde que se tenha em conta os dados

geotectónicos ao estabelecer aquelas classificações.

É, evidentemente, o processo de formação o critério fundamental para o estabelecimento das

classificações genéticas, enquanto os caracteres químicos e mineralógicos fornecem os critérios

para as subdivisões.

São, como era de esperar, as classificações mais difíceis de estabelecer e as mais complexas,

não só devido a complexidade dos processos formativos dos jazigos mas, ainda, pelo imperfeito

conhecimento que se tem da maior parte deles.

As dificuldades, que se encontram, traduzem-se bem no facto de entre os tratados clássicos,

depois de reconhecida a enorme importância das classificações genéticas, só o de LlNDGREN

(1933) e o de SCHNEIDERHÖHN (1941) seguirem, na parte descritiva as classificações propostas

pelos autores.

As dificuldades encontradas no estabelecimento das classificações genéticas têm conduzido ao

desenvolvimento de classificações geológicas, isto é, tomando para critério de base os fenómenos

geológicos fundamentais da evolução da crusta terrestre.

Antes de se examinarem estas classificações, definem-se alguns termos de classificação genética,

de carácter geral.

Uma classificação genética muito simples é aquela que considera, simplesmente,

o Jazigos primários, originais o Jazigos secundários, derivados

Serão incluídos na primeira categoria aqueles que conservam as características originais e na

segunda os que sofreram modificações que lhes alteraram aquelas. Veja-se a Fig. 1.17 para o

caso de jazigos auríferos

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30

Fig . 1.17 - Mineralização filoniana de Au (jazigo primário) e em depósito eluvial (jazigo secundário).

Uma outra classificação genética ainda muito geral que, por assim dizer, se apresenta como uma

extensão da classificação genética das rochas, é aquela que considera os seguintes grupos

fundamentais:

o Jazigos magmáticos

o Jazigos sedimentares

o Jazigos metamórficos

Tal classificação encontra-se, de resto, sempre implícita em qualquer classificação genética dos

jazigos minerais.

No primeiro grupo incluem-se todos os jazigos supostos relacionados com o magmatismo, isto é,

jazigos profundos, hipogénicos; o respectivo estudo é baseado em possíveis relações com

magmas de que teriam derivado. Todavia, a designação magmática é pouco feliz porquanto

existem muitos jazigos cujas relações com o magmatismo são muito obscuras, se é que existem,

sem que se possa por em dúvida uma origem profunda para os mesmos.

A dificuldade que se apresenta é semelhante à que supõe para as rochas magmáticas pelo que

será preferível designá-los por jazigos endógenos, salientando-se deste modo só a atribuição de

origem profunda.

Na segunda categoria entram não só os jazigos, verdadeiramente sedimentares mas ainda outros

provenientes de fenómenos de evaporação, de acções de alteração meteórica, etc., quer dizer,

entram todos aqueles jazigos cuja formação se deve a fenómenos ocorrendo à superfície da Terra.

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31

É, pois, preferível, tal como para as rochas correspondentes, designá-los por jazigos exógenos,

salientando unicamente a origem externa dos respectivos processos formativos, relegando para

uma primeira subdivisão a classificação baseada naqueles processos.

A última categoria engloba os jazigos que, posteriormente à sua formação original, sofreram

quaisquer modificações devidas a processos metamórficos e aqueles que se originaram devido ao

próprio processo metamórfico. Quer dizer, têm de se considerar os dois tipos:

o Jazigos metamorfisados

o Jazigos metamórficos propriamente ditos

Na realidade, a primeira categoria é pouco importante e não deve constituir um grupo

independente nem ser incluído no dos jazigos metamórficos, pois os minérios raramente sofrem

outras alterações, por metamorfismo, além de texturais.

Em contrapartida, o último tipo é já importante pela existência de um certo número de jazigos

minerais de substâncias não metálicas cuja formação se deve a processos de metamorfismo

regional.

O facto de os jazigos metamorfisados não serem originados pelos processos metamórficos

aconselha a que sejam incluídos nos respectivos grupos, endógenos ou exógenos, e a limitar a

designação de jazigos metamórficos àqueles que são de facto resultado dos processos

metamórficos.

Resumindo, tem-se, como resultado de uma primeira classificação genética, baseada nos grandes

processos de formação dos constituintes da crusta terrestre, os seguintes grandes grupos:

o Jazigos endógenos

o Jazigos exógenos

o Jazigos metamórficos

Embora estas designações se apresentem mais apropriadas que as primeiras não se pode deixar

de apontar a incongruência que existe entre jazigos endógenos e metamórficos pois ambos

resultam de processos profundos e, muito provavelmente, até certo ponto correlacionados entre si.

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32

Estas dificuldades de nomenclatura representam uma herança da Petrografia que não é possível

remediar totalmente e que o melhor é ainda procurar abandonar.

1.4.4. Características definidoras dos jazigos minerais

Viu-se que qualquer tipo de classificação oferece dificuldades que conduzem a classificações

pouco correctas ou coerentes, mesmo do ponto de vista do critério seleccionado para base da

classificação. Este facto resulta da complexidade oferecida pelos jazigos minerais e do

conhecimento multo variável dos respectivos processos genéticos, agravado pela herança de uma

nomenclatura nem sempre feliz.

Antes pois de se passar ao exame das classificações geológicas, que oferecerão o esquema para

a exposição do estudo dos jazigos minerais, vão examinar-se as características que realmente

permitem caracterizar os diversos tipos de jazigos.

Estas características (ROUTHIER, 1963, p.44) devem agrupar-se em características intrínsecas

ou próprias do jazigo e características extrínsecas ou próprias do ambiente que rodeia o jazigo e

que, sem dúvida, podem imprimir a este certos aspectos peculiares.

1.4.4.1. Características intrínsecas

As características intrínsecas ou próprias de um jazigo, isto é aquelas que traduzem a natureza

deste são: a paragénese, a sucessão mineral, a alteração superficial, a composição química e os

teores, a reserva de minério ou de metal, e a possível relação entre teores e reservas.

A paragénese de um jazigo mineral é o conjunto dos minerais (minérios e gangas) que o

constituem e que resultaram de um mesmo processo geológico ou geoquímico. A paragénese

traduz-se, portanto, pela enumeração das espécies minerais constituintes do jazigo.

Deve ter-se em atenção que a identificação dos minerais constituintes de um jazigo traduz o

resultado de um estudo progressivo e que, iniciando-se a escala macroscópica, se deve continuar

à microscópica. É um trabalho que nunca se deve considerar finalizado, pois a utilização de meios

mais poderosos de investigação ou exame de outros sectores do jazigo podem sempre vir a

revelar a presença de outras espécies mineralógicas.

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33

Se se deve ter sempre presente aquele carácter provisório da paragénese, não se pode esquecer,

todavia, que ele se refere ao facto de a paragénese ser conhecida de modo mais ou menos

completo e não ao rigor da determinação das espécies presentes. Esta, em princípio, pode e deve

ser sempre correcta.

Outra observação, que se impõe, diz respeito à conveniência em distinguir a escala ou escalas a

que a paragénese foi determinada, porquanto se a escala microscópica garante maior

pormenorização, a macroscópica permite salientar o conjunto de minerais que, pela percentagem,

constituem certamente a quase totalidade da massa do jazigo e que, por esse facto, têm de ter

importância particular.

A sucessão mineral ou cronológica é a ordem de deposição ou cristalização dos minerais

constituintes de um jazigo mineral, isto é, a ordem de formação dos minerais da respectiva

paragénese durante o desenrolar do processo geológico ou geoquímico que a originou.

A determinação da sucessão mineral, baseando-se em critérios morfológicos, fundamentalmente

texturais e estruturais (Fig. 1.18 e Fig. 1.19) é trabalho muito delicado e que mesmo realizado à

escala microscópica, nem sempre pode ser considerado definitivo.

Fig. 1.18 – A partir da posição das bandas mineralizadas relativamente ao encosto do filão é possível deduzir a ordem de formação da paragénese presente : quartzo (I)→ blenda (I) → quartzo ametista (II)→ blenda (II).

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34

Fig. 1.19 – Quadro paragenético e de sucessão mineral interpretação, com indicação das principais etapas de formação. Depósito em escarnito (metamorfismo de contacto) de Tyrny-Auz (segundo Kalenov)

Esta característica é fundamental, evidentemente, para os jazigos originados ou modificados pela

meteorização e, além disso, oferece importantes elementos para a prospecção mineira na medida

em que pelas características da alteração superficial se pode inferir a natureza da composição

mineralógica da parte do jazigo não alterada.

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35

Neste caso, as relações determinadas à escala macroscópica oferecem sempre maior confiança

por corresponderem mais facilmente a uma observação tridimensional do que as determinações a

escala macroscópica (sobre lâmina delgada ou superfície polida). Há todo o interesse em nunca

passar ao exame em menor escala, mau grado o emprego de meios mais poderosos de

observação, sem ter procurado primeiramente esgotar as possibilidades oferecidas pelo exame em

maior escala.

É devido às dificuldades, frequentemente encontradas na interpretação das relações texturais e

estruturais entre os minerais de uma paragénese, que qualquer sucessão mineral conserva

sempre um certo carácter hipotético, embora a sucessão possa encontrar-se perfeitamente

determinada para uma parte mais ou menos importante daqueles.

Verifica-se, frequentemente, o uso de paragénese como significado de sucessão mineral,

sobretudo na literatura americana. Tal emprego deve ser evitado, não só por estar em desacordo

com a definição original de paragénese mas porque é de toda a conveniência evitar confusão entre

as duas características que, como se viu, têm significados distintos; muito especialmente, deve ter-

se em conta que paragénese corresponde a uma identificação de factos geológicos que exige rigor

e em que não tem cabimento qualquer hipótese, enquanto sucessão mineral, apesar de ainda ter

como base a observação de factos geológicos (texturas e estruturas), não se limita à observação

destes mas resulta de uma elaboração dos mesmos que contém inevitavelmente uma parte mais

ou menos importante de hipótese.

A alteração superficial é aqui referida no sentido de alteração meteórica (weathering), isto é, todo

o processo de alteração que pode sofrer um jazigo mineral por acção dos agentes da

meteorização na zona em contacto e próxima da superfície terrestre. São os agentes da

meteorização que provocam a alteração, no entanto, as formas assumidas e os produtos

resultantes dependem da natureza do jazigo pelo que aquela se pode considerar uma

característica específica. Pode fazer-se o reparo de que para haver alteração superficial é

indispensável que o jazigo atinja a zona de alteração superficial e que se ele não a atingir não

haverá lugar para fenómenos de alteração superficial. O reparo é pertinente mas não se deve

esquecer que nem por isso tal jazigo deixa de dar lugar a um certo tipo de alteração, que lhe é

característico, desde que seja alcançado pelos processos de meteorização.

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36

1.4.4.2. Características extrínsecas

A composição química está relacionada com a paragénese mas distingue-se desta por se referir à

composição do jazigo, aqui fundamentalmente referida aos minérios, do ponto de vista químico e

não do mineralógico.

A importância desta característica é evidenciada se se tiver em atenção que os jazigos de um

dado metal podem apresentar este sob forma química diversa, por exemplo sob a forma de

sulfuretos, de óxidos, de carbonatos, de silicatos, etc., portanto diferindo radicalmente entre si sob

o aspecto químico. É, pois, uma característica própria do jazigo que tem de se ter em

consideração.

Relacionados com esta característica encontram-se teores em minério ou em metal que,

evidentemente, também caracterizam ou individualizam os jazigos. Estes teores podem variar

dentro de limites bastante largos dentro de um mesmo jazigo mas o teor ou teores médios são

característicos do jazigo.

As reservas de minério ou de metal são também uma característica intrínseca visto que é o jazigo

que determina a quantidade de substância útil; esta quantidade não está dependente de factores

externos mas é, sobretudo, do ponto de vista económico que esta característica é importante, pois

que são as reservas de minério ou de metal, num dado jazigo, que definem o seu interesse

económico.

Apesar do carácter essencialmente económico desta característica, tem ainda interesse do ponto

de vista da classificação ou agrupamento de tipos de jazigos porque há jazigos de uma mesma

substância que se distinguem por a teores baixos corresponderem elevadas reservas e a teores

altos corresponderá baixas reservas, de modo muito generalizado.

Realmente, o valor económico de um jazigo resulta da conjugação das duas características (teor e

reservas); uma só não determina o valor económico do jazigo.

As características extrínsecas são aquelas que, dependendo de factores estranhos ao jazigo, lhe

imprimem certas características. São fundamentalmente características do meio ambiente ou seja

do "invólucro" do jazigo e compreendem (ROUTHIER, 1963, p.44): natureza litológica das rochas

encaixantes, morfologia do jazigo em relação com as estruturas das rochas encaixantes, rochas

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37

plutónicas ou vulcânicas próximas, idade do jazigo e história geológica da região.

A importância da natureza litológica das rochas encaixantes reside nas possíveis relações entre a

mineralização e as rochas encaixantes, relações não só físicas e mecânicas mas até químicas,

conforme se há fenómenos de inter-reacção entre a mineralização e as rochas encaixantes.

A morfologia dos jazigos, característica particularmente importante do ponto de vista do

reconhecimento e da exploração mineira, é-lhe evidentemente imposta pela estrutura das rochas

encaixantes. Deste modo, o estudo da morfologia dos jazigos minerais apresenta-se intimamente

associado e mesmo dependente do estudo estrutural das rochas encaixantes. Daí a importância

do estudo do controlo estrutural exercido pelas estruturas das rochas encaixantes na distribuição e

localização das mineralizações, portanto dos jazigos.

A presença próxima de rochas plutónicas ou vulcânicas pode oferecer grande interesse no estudo

dos jazigos endógenos e de certos jazigos estratiformes na medida em que podem estar

relacionados com elas, isto é, terem resultado do processo de intrusão daquelas rochas ou de

manifestações vulcânicas.

O interesse desta característica para os jazigos exógenos é simplesmente indirecto. Pode

interessar para eliminar áreas impróprias para certas mineralizações ou para determinar, no caso

dos jazigos aluviais, a distância entre a origem da substância útil e os locais de acumulação. Os

jazigos, como se viu, são concentrações anómalas e a realização das condições conducentes à

formação destas concentrações anómalas depende, fundamentalmente, da história geológica da

região. É a evolução geológica que, em dados momentos, origina as condições propícias para a

concentração anómala de certas substâncias; em última análise, portanto, os jazigos minerais

estão dependentes e são mesmo consequência da história geológica da região.

Por outro lado, o estudo geológico da Terra mostra que a ocorrência daquelas oportunidades não

foi uniforme. Verifica-se que houve períodos da evolução da crusta terrestre mais ou menos

propícios para a formação de um dado tipo de concentrações. Portanto, no estudo de um jazigo

tem também importância a determinação da respectiva idade para a definição das épocas mais

propícias ou menos propícias para a formação de dadas concentrações.

Passadas em revista as características fundamentais dos jazigos, convém salientar que no estudo

geológico são de primordial importância, pelo que respeita às características próprias, a

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38

paragénese, a sucessão mineral, a alteração superficial e a composição química. Quanto às

características do meio ambiente são todas elas igualmente importantes e, de um modo lato,

podem considerar-se todas englobadas na história geológica da região, supondo que,

individualizadas, constituem aspectos particularizados daquela.

1.4.5 Classificações Geológicas

Com base nas características apontadas pode tentar-se uma classificação, evidentemente não

genética, dos jazigos minerais que levaria a uma identificação de tipos de jazigos, com o

inconveniente de ser de utilização pouco cómoda dado o elevado número de tipos a que se seria

conduzido.

Aquele inconveniente resulta de que as características citadas para os jazigos têm função

essencialmente analítica, conduzem à identificação de tipos elementares.

Para que uma classificação seja útil é indispensável que aqueles tipos se possam agrupar de

modo que, dado um tipo de jazigo seja possível identificar o tipo geral em que se pode incluir e ter

ideia das relações com os tipos próximos e, por outro lado, dado um grupo geral saber-se

facilmente quais os tipos que o compõem.

É, portanto, indispensável procurar associar àquelas características um outro critério que tenha

função sintética, isto é, que permita uma classificação em que os diversos tipos elementares

venham colocar-se segundo uma hierarquia de unidades, cada vez de âmbito mais geral. Só uma

classificação que se baseie simultaneamente em critérios de identificação e de associação poderá

corresponder à finalidade que se espera de qualquer sistemática.

O critério para aquele agrupamento é lógico que se vá procurar aos fenómenos geológicos

geradores da crusta terrestre e que promovem a respectiva evolução, com os quais estão

necessariamente relacionados os jazigos minerais pois não são mais que um resultado particular

daqueles.

Assim, deve procurar-se uma classificação que relacione, tanto quanto possível, os jazigos com os

fenómenos geológicos que presidem à evolução da crusta terrestre. Por outras palavras, devem

enquadrar-se os jazigos minerais nas suas relações com os grandes fenómenos geradores da

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39

crusta terrestre e com as grandes unidades litológicas (ROUTHIER, 1963, p.45); deste modo, ser-

se-á conduzido a uma classificação natural do ponto de vista geológico, sem apresentar o

inconveniente de quadros genéticos demasiado apertados que, frequentemente, se mostram em

desacordo com os factos geológicos, como sucede com as classificações genéticas clássicas.

Qualquer destes ciclos menores caracteriza-se por proceder, essencialmente, a diferenciações

químicas e, se aqueles já se apresentam complexos, o ciclo maior atinge a maior complexidade

(RANKAMA e SAHAMA, 1950, p.243). É possível, todavia, apresentá-lo de uma maneira

esquemática, que é suficiente para o fim presente, desde que se apresente com base nos

conjuntos fundamentais de fenómenos geológicos. É o que se pretendeu com a Fig.1.20, adaptada

de ROUTHIER (1963, p.46).

Fig. 1.20 –Ciclo Geológico - fenómenos determinantes da evolução da crusta terrestre

Os fenómenos geológicos que presidem à evolução da crusta terrestre podem ser considerados

como definindo um grande ciclo de diferenciação geoquímica, geralmente denominado ciclo maior,

e que engloba dois ciclos menores. Um, o ciclo exógeno, compreende os fenómenos que se

passam à superfície Terra e que determinam a desintegração e decomposição das rochas e

formação dos sedimentos e das rochas exógenas; o outro, ciclo endógeno, compreende os

fenómenos que se passam no interior da crusta terrestre e que conduzem à deformação,

metamorfização e fusão das rochas e à formação das rochas endógenas.

Assim, o primeiro conjunto, indicado sob a designação de gliptogénese, compreende os

Gliptogénese

Meteorização e erosão

Orogénese

Metamorfismo, granitização e deformação, rochas cristalofílicas e eruptivas, emersão das cadeias

orogénicas

Subsidência

Acumulação

Sedimentos, diagénese e rochas sedimentares

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40

fenómenos que se passam à superfície da Terra e que tendem a nivelar a superfície desta, a

meteorização (desintegração e decomposição das rochas) e erosão.

Segue-se o conjunto de fenómenos que conduzem à acumulação dos materiais libertados pelos

processos de gliptogénese e que vão originar os sedimentos e, através dos processos de

diagénese ou lapidificação, as rochas exógenas (sedimentares).

Sob a designação de subsidência englobam-se os fenómenos que conduzem ao afundamento

progressivo de áreas extensas da crusta terrestre e, por conseguinte, a acumulação de espessas

séries sedimentares.

O grupo de fenómenos incluídos sob a designação orogénese é o mais complexo de todos, pois

engloba a maior parte dos fenómenos que ocorrem no interior da crusta terrestre: metamorfismo

regional, granitização e deformação, conduzindo à formação das rochas cristalofílicas e

endógenas (eruptivas) e a emersão das cadeias de montanhas orogénicas.

Conduzindo a orogénese à formação de cadeias de montanhas, submete os materiais elaborados

no interior da crusta terrestre à gliptogénese, fechando-se, deste modo, o ciclo maior.

Deve notar-se que não se referiu o vulcanismo que pode promover a introdução de material juvenil

na crusta terrestre, na medida em que introduz nesta material proveniente do manto externo.

Aquela omissão deve-se a que o vulcanismo pode associar-se a vários daqueles grupos de

fenómenos geológicos e, dada a extrema simplicidade que se imprimiu ao ciclo maior, não era fácil

tê-lo em consideração.

As concentrações minerais, que conduzem à formação dos jazigos minerais, originam-se em momentos diversos daquele ciclo, dentro do esquema geral da evolução da crusta terrestre, donde uma primeira classificação "natural" será em jazigos exógenos e jazigos

endógenos, consoante o ciclo menor com que se relacionam.

Dum modo mais pormenorizado, pode estabelecer-se uma primeira grande classificação dos

jazigos minerais consoante a sua dependência:

o Alteração meteórica

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o Sedimentação e das rochas sedimentares

o Metamorfismo e das séries metamórficas

o Granitos e da granitização

o Rochas básicas granulares e ultrabásicas

o Vulcanismo e das rochas vulcânicas

É a classificação geral proposta por ROUTHIER (1963, p.45) e que se seguirá nas linhas gerais.

Uma classificação deste tipo só indirectamente é genética. É genética na medida em que cada um

dos grupos de rochas, com que estão relacionados os jazigos, corresponde a processos genéticos

diferentes mas dela não se infere, explicitamente, uma determinada origem para os jazigos

relacionados com certo tipo de fenómeno ou com certo tipo de rochas.

Na dependência dos processos de alteração meteórica distinguem-se dois grupos de jazigos: os

que resultam da concentração residual de uma mineralização preexistente ou mesmo de

constituintes banais das rochas, em consequência de a alteração e a erosão eliminarem uma parte

do material estéril (jazigos residuais), e aqueles que derivem de ,jazigos preexistentes pela acção

dos processos de alteração supergénica jazigos de alteração supergénica ou de oxidação e

cementação).

Com a sedimentação e as rochas sedimentares relacionam-se vários grupos de jazigos pois que

os termos "sedimentação" e rochas "sedimentares" estão aqui empregados no sentido lato e

tradicional; mais correcto seria utilizar "acumulação" e rochas "exógenas".

De facto, tem de se considerar dependentes daquelas os jazigos resultantes da sedimentação

detrítica em que minerais densos e resistentes à decomposição meteórica se concentram por

classificação mecânica (jazigos de sedimentação detrítica ou de concentração mecânica); os

jazigos que resultam de precipitação química de substâncias provenientes, ainda, da meteorização

das rochas e transportadas em solução pelas águas (jazigos sedimentares ou, mais

correctamente, de precipitação química); finalmente, os jazigos que resultam da precipitação

física ou evaporação, originando a acumulação de substâncias dissolvidas nas águas e

provenientes também da destruição de rochas continentais (jazigos de evaporação ou de

precipitação física.

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42

Deve ter-se em atenção que nos jazigos de precipitação química se englobam os de precipitação

bioquímica pois que as acções biológicas andam intimamente associadas às químicas, não sendo

sempre fácil distinguir umas das outras. Por este motivo seria mais correcto denominá-los

genericamente por jazigos de precipitação bioquímica.

Ainda dentro da categoria geral de jazigos relacionados com a acumulação e as rochas exógenas,

têm de se considerar os jazigos de acumulação orgânica, englobando os jazigos de carvões e os

de petróleos. Há uma certa distinção, que merece salientar-se, entre este grupo e o relacionado

com a precipitação bioquímica: enquanto este é característico das plataformas epicontinentais

estáveis, aquele é-o, pelo que diz respeito aos jazigos de carvões, de zonas continentais de

subsidência, que não devem ser confundidas com as grandes áreas de subsidência relacionadas

com a orogénese.

Todos os grupos de jazigos nomeados até aqui caracterizam-se por estarem relacionados com os fenómenos de geodinâmica externa, daí o poderem ser englobados sob a designação de

jazigos exógenos.

Com o metamorfismo e as rochas metamórficas estão relacionados os jazigos metamorfizados e

os metamórficos. Na verdade, o metamorfismo actua sobre qualquer tipo de rocha preexistente;

pode, portanto, afectar concentrações preexistentes, modificando mais ou menos profundamente a

respectiva natureza mineralógica. É, no entanto, difícil atribuir ao metamorfismo regional ou

metamorfismo em sentido restrito a criação de concentrações embora possa, sem dúvida, actuar

sobre uma concentração preexistente de modo tal que ela adquira composição mineralógica que

lhe permita atribuir o significado de jazigo mineral.

Os maciços graníticos, podem, fundamentalmente, ser classificados em dois tipos: maciços

concordantes e maciços circunscritos ou discordantes. Os primeiros, constituídos por granitos sin-

cinemáticos ou de anatexia, portanto relacionados com o metamorfismo regional, não parecem ter

grande interesse sob o ponto de vista da formação de jazigos minerais; são os últimos,

constituídos por granitos pós-tectónicos, que apresentam grande interesse dado o número e

variedade de mineralizações que ocorrem na sua dependência.

Apesar desta ideia sobre a impotência do metamorfismo para originar concentrações, há um

aspecto que convém não perder de vista que é o de que o metamorfismo pode causar a migração

de certos elementos das massas rochosas, em curso de metamorfização, e provocar,

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indirectamente, a respectiva concentração sobre as orlas daquelas massas.

Quanto ao metamorfismo de contacto, sobretudo quando é exercido por granitos, verifica-se que

pode dar origem a concentrações de um tipo especial das rochas encaixantes, principalmente

quando estas apresentam certa ou elevada reactividade química como é o caso das rochas

calcárias. São exemplo os jazigos classicamente denominados pirometassomáticos ou de

metamorfismo de contacto.

Destes três grupos de jazigos, relacionados com o metamorfismo e as rochas cristalofílicas,

verifica-se, contudo, que nos jazigos metamorfizados a concentração se operou na dependência

de outros fenómenos que não os metamórficos; estes limitam-se a modificar as características

texturais e/ou mineralógicas. Nos jazigos de metamorfismo de contacto a dependência é mais das

rochas que originaram o metamorfismo do que deste propriamente.

Deste modo, embora todos tenham relações com o metamorfismo, são os jazigos metamórficos,

em sentido restrito, os que são aqui considerados e, como os fenómenos de metamorfismo

regional estão dependentes da subsidência das massas rochosas, é no enquadramento deste

fenómeno de geodinâmica interna que se localizam.

Desde longa data que se verificou a existência de uma série de mineralizações mais ou menos

estreitamente relacionadas com os maciços graníticos; não é, contudo, de qualquer tipo de maciço

granítico que surgem, dependentes, aquelas mineralizações.

Estas mineralizações distribuem-se em torno daqueles maciços, penetrando mesmo neles mas

estendendo-se sobretudo para o exterior dos mesmos. Caracterizam-se por a ganga ser

essencialmente quartzosa, o que traduz uma constante eliminação de sílica.

Foi este facto e a estreita dependência de rochas graníticas que levou o metalogenista francês L.

De Launay a designar globalmente, as referidas mineralizações, por "de départ acide".

Recentemente, tem sido muito utilizada a designação de mineralizações pós-magmáticas,

pretendendo-se, com isso, acentuar que embora relacionadas com os referidos maciços graníticos,

se terão originado depois da consolidação destes, portanto numa fase tardia da consolidação e

diferenciação magmática dos mesmos. Esta designação é sobretudo utilizada, e mesmo muito

corrente, na literatura russa e da Europa de Leste.

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Em França, foi proposta a designação de tardimagmáticos com o mesmo significado mas

explicitando melhor que se trata de mineralizações a que se atribui uma formação durante as fases

mais tardias da diferenciação e consolidação dos maciços graníticos.

Estas mineralizações tendem a definir um certo zonamento, em relação ao limite dos maciços

graníticos circunscritos, quer pelo que respeita ao tipo de jazigos, quer dos metais concentrados,

que se terá ocasião de examinar pormenorizadamente.

A par destes Jazigos, têm de se considerar aqueles que se situam sobre os contactos com rochas

carbonatadas; são os jazigos de contacto metamórfico ou pirometassomáticos, que ocorrem em

skarns ou tactitos, quer dizer rochas carbonatadas transformadas em rochas essencialmente

silicatadas cálcicas por acção do metamorfismo de contacto ácido, com introdução de novas

substâncias.

Nestes jazigos, o zonamento referido esbate-se ou mesmo desaparece, como se a grande

reactividade química das rochas carbonatadas fixasse as mineralizações na zona imediatamente a

seguir ao contacto com a rocha granítica, não as deixando evoluir e fixando-as, portanto, desde

muito cedo por metassomatose e a alta temperatura. São estas últimas características que

levaram W. Lindgren a atribuir-lhes o nome de pirometassomáticas, que não quer dizer mais que

mineralizações fixadas por metassomatismo a elevada temperatura.

Dentro das mineralizações tardimagmáticas distinguem-se os seguintes grupos: jazigos

pegmatíticos, pneumatolíticos e hidrotermais, além dos de metamorfismo de contacto já referidos.

Os primeiros são considerados como resultando da consolidação de uma fase magmática residual,

com carácter derradeiro, os segundos resultando da deposição de substâncias transportadas em

meio essencialmente gasoso, e os últimos de deposição a partir de soluções hidrotermais.

Os jazigos tardimagmáticos estão relacionados com a orogénese, sendo portanto de carácter

endógeno.

Os jazigos relacionados com as rochas básicas granulares e ultrabásicas foram, dentro das teorias

genéticas clássicas, englobados num mesmo esquema que os relacionados com as rochas

graníticas. As dificuldades que levanta tal correlação são, porém, muito grandes e torna-se

indispensável considerá-los à parte, tanto mais que a origem magmática para as rochas básicas

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granulares e ultrabásicas é hoje posta em dúvida.

As mineralizações que aparecem caracteristicamente associadas a estes tipos de rochas são

constituídas por metais nativos, óxidos e sulfuretos que se mostram concentrados como se se

tivessem separado numa fase mais ou menos precoce do meio silicatado em que ocorrem. Daí a

generalidade com que vêm referidas por jazigos de segregação (Fig. 1.21).

Uma outra particularidade destas mineralizações, que as diferencia das relacionadas com a

granitização, é que não se nota qualquer indício de fuga nas mineralizações; estas encontram-se

onde parecem ter-se formado.

As substâncias mais características deste tipo de jazigo são bastante mais limitadas que para o

caso dos jazigos relacionados com a granitização. São, fundamentalmente, a cromite, a platina e

os platinóides, a titanomagnetite, a ilmenite e sulfuretos de níquel e de cobre, que aliás não

aparecem dependentes indiferentemente de qualquer tipo de rocha básica ou ultrabásica.

Na realidade, as concentrações de cromite e de platina ocorrem, sobretudo, em rochas

peridotíticas e serpentínicas; estas últimas derivadas, geralmente, por metamorfismo regional das

primeiras.

A titanomagnetite e a ilmenite, pelo contrário, encontram-se mais associadas a rochas

feldspáticas, mesmo caracteristicamente feldspatos, como sejam os anortositos e, de um modo

geral, os plagioclasitos, sempre de carácter essencialmente básico.

Os sulfuretos de cobre e de níquel encontram-se na dependência de rochas ainda feldspáticas

mas não de carácter feldspático tão acentuado como as anteriores, que são os noritos, isto é,

rochas compostas essencialmente por plagioclase básica e piroxena rômbica.

As mineralizações constituídas por óxidos encontram-se preferentemente no interior das massas

básicas e ultrabásicas, enquanto as sulfúreas se vão encontrar preferentemente numa posição

marginal, facto que levou De Launay a designar estas mineralizações por segregações periféricas (Fig. 1.21).

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Fig. 1.21 – Jazigos de segregação magmática As dúvidas que rodeiam a origem das rochas em cuja dependência surgem as referidas mineralizações, levam a que se estudem mais à luz das relações com as grandes unidades litológicas, que as encerram, do que à luz dos fenómenos geológicos geradores daquelas unidades.

Até há uns 20 anos, era dominante a ideia de que o vulcanismo desempenhava um papel

extremamente secundário na concentração dos elementos; havia mesmo forte tendência para se

limitar esse papel a algumas substâncias particularmente susceptíveis de sublimação, de que é

exemplo característico o enxofre e os respectivos depósitos vulcânicos das solfataras. Atribuía-se, ainda, ao vulcanismo a formação de concentrações de boro, nalgumas mineralizações

bastante pobres e dispersas, e pouco mais. Presentemente, em consequência dos estudos

posteriores à última guerra mundial, considera-se que o papel do vulcanismo é muito importante,

não só por originar concentrações de elementos mas ainda por transportar outros de zonas mais

profundas da crusta terrestre e talvez mesmo da parte externa do manto para zonas mais

superficiais, onde essas substâncias são retomadas pelo metamorfismo regional e pela

granitização.

As concentrações dependentes do vulcanismo podem-se agrupar em três séries:

o concentrações relacionadas com o vulcanismo básico, do tipo ofiolítico, isto é, um

vulcanismo que se origina num estádio geossinclinal, portanto, um vulcanismo submarino

ou, seja, ante-orogénico;

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47

o concentrações relacionadas com o vulcanismo andesítico, pós-orogénico;

o concentrações relacionadas com o vulcanismo alcalino, ainda hoje mal conhecido.

Com o vulcanismo ofiolítico estão relacionadas mineralizações de crómio, cobre, pirite de ferro,

etc. Estas mineralizações constituem, regra geral, pequenos jazigos, embora numerosos e por

vezes de elevado teor, excepto para o caso da pirite de ferro, pois os grandes jazigos constituídos

por massas piritosas estariam também relacionados com este tipo de vulcanismo.

Na dependência do vulcanismo andesítico, pós-orogénico, encontram-se concentrações muito

importantes de cobre, ouro, prata, estanho, chumbo, antimónio, etc.

Este tipo de mineralizações apresenta uma série de características que o distingue de qualquer

outro e que dentro das teorias clássicas se poderia considerar, talvez, como aberrante.

Assim, em primeiro lugar, verifica-se uma associação de minérios que nos jazigos de origem

granítica, formados portanto a maior profundidade, tinham tendência para se separar, originando,

como se viu, um zonamento das diferentes mineralizações em torno dos maciços graníticos. Por

outro lado, as paragéneses contêm um número muito variado e grande de sulfossais, sobretudo

sulfo-antimonietos cuja presença nos jazigos de filiação granítica tem, em regra, carácter

esporádico.

Quer dizer, estas mineralizações, relacionadas com o vulcanismo andesítico, caracterizam-se por

paragénese muito variada e rica, são sempre paragéneses complexas e onde os sulfossais

desempenham papel importante. Não se nota distribuição zonal das mineralizações facto que

levou, dentro das teorias clássicas, a definir os fenómenos de telescopagem, isto é, a

sobreposição de zonas de diferentes mineralizações no espaço.

A definição de telescopagem foi mesmo provocada pela necessidade de explicar estas

mineralizações dentro dos sistemas genéticos clássicos.

As mineralizações relacionadas com o vulcanismo alcalino, ou seja com os carbonatitos, foram

reconhecidas muito recentemente, já depois da última guerra. Os carbonatitos, como o nome

indica, são rochas essencialmente carbonatadas relacionadas com um vulcanismo alcalino; é

comum a associação carbonatitos - sienitos nefelínicos.

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48

Estas rochas podem aparecer sob a forma filoniana mas o modo de jazida mais comum é no

interior dos aparelhos vulcânicos. Hoje em dia, são estas rochas que constituem a fonte principal

dos minérios das terras raras, existindo ainda alguns carbonatitos com concentrações

relativamente elevadas de apatite, que se têm tentado explorar para fertilizantes.

Esta classificação dos jazigos minerais, que se acaba de passar em revista, distingue-se

profundamente das classificações genéticas clássicas pelo facto de, em vez de considerar uma

única origem para formação dos jazigos endógenos, considerar uma pluralidade de origens e de

processos. relacionando aqueles jazigos com os três tipos de rochas: granítico, granular básico e

ultrabásico, e vulcânico.

Para se procurar evidenciar um pouco mais a tendência actual para o estudo dos jazigos minerais

nas suas relações com a evolução da crusta terrestre, examina-se, embora de modo sumário, a

classificação proposta por V. I. Smirnov (1966, 1968) para os jazigos endógenos que são, aliás,

aqueles para que tal tratamento é mais original.

A apresentação da classificação de Smirnov, apesar de menos geral que a de Routhier, tem a

vantagem de traduzir as ideias de uma outra escola, a russa que, menos radical que a francesa,

baseia a classificação dos jazigos endógenos na evolução do ciclo geossinclinal.

Assim, para Smirnov os elementos concentrados nos jazigos minerais de carácter endógeno

podem provir de:

o Origem juvenil associados com os magmas basálticos subcrustais;

o Assimilação de rochas pelos magmas palingenéticos, isto é, magmas originados pela fusão

de rochas preexistentes, no interior da parte predominantemente granitóide da crusta

terrestre;

o Filtração em que o material constituinte dos minérios é lixiviado, ao longo do circuitos de

circulação, por soluções hidrotermais agressivas de origem muito diversa (magmática,

metamórfica ou exógena).

A formação dos jazigos endógenos distribuir-se-ia pelas diferentes fases de desenvolvimento dos

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orógenos; assim, ter-se-iam jazigos relacionados com cada uma das três fases normalmente

reconhecidas na transformação de geossinclinais em zonas enrugadas relativamente estáveis:

o Fase precoce correspondente ao período de flexões;

o Fase intermédia correspondente ao período de fracturação principal;

o Fase tardia correspondente à extinção completa do regime geossinclinal.

Na fase precoce, o magmatismo e os jazigos dependentes deste ocorrem somente em

eugeossinclinais, isto é, em geossinclinais longos e estreitos caracterizados pela abundância de

rochas vulcânicas.

Nesta fase, Smirnov distingue os seguintes tipos de rochas magmáticas e de jazigos com elas

relacionados:

1) tipo peridotítico com jazigos de crómio, e de ósmio e irídio; 2) tipo gabróico com jazigos de titanomagnetite, e platina e paládio; 3) tipo granito-sienítico plagioclásico com jazigos em skarn de ferro e cobre;

4) tipo vulcânico submarino espilito-queratófiro e porfirítico com jazigos de pirite-calcopirite, de

ferro férrico e manganês.

São, pois, os elementos basaltófilos (Fe, Mn, V, Ti, Cr, Pt, Pd, Os, Ir, Cu e Zn) ou calcófilos os

característicos dos jazigos relacionados com a fase precoce e a respectiva origem é geralmente

atribuída a magmas subcrustais.

Durante a fase intermédia originam-se os grandes batólitos graníticos confinados às zonas

internas e periféricas dos miogeossinclinais, isto é, geossinclinais onde as rochas vulcânicas são

raras ou não existem mesmo. Aqueles batólitos formar-se-iam durante a inversão do regime

geossinclinal, durante a fase de deformação mais intensa ou imediatamente a seguir a esta;

resultariam da fusão de rochas sedimentares, que alcançaram níveis profundos, e seriam

injectados para níveis mais elevados onde aquelas rochas não teriam sofrido metamorfismo

profundo e granitização.

Os tipos de rochas magmáticas e de jazigos com elas relacionados são fundamentalmente dois:

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1) tipo granodiorítico, geralmente localizado na periferia das zonas geossinclinais, com jazigos de

metais variados e raros em skarn;

2) tipo granítico, localizado nas zonas centrais dos geossinclinais, com jazigos pegmatíticos,

greisenosos e quartzosos de Sn, W, Se, Li, Nb, Ta, etc.

Dada a natureza palingenética destas rochas, não é de estranhar a variedade de mineralizações

com elas relacionadas e, até certo ponto, a paragénese destes jazigos depende da composição

química das rochas que sofreram fusão. Os elementos característicos destas mineralizações são

os granitófilos ou litófilos.

Os tipos mais importantes de rochas magmáticas e de jazigos que se originam durante a fase

tardia da evolução geossinclinal, correspondente a plataformas activadas tectonicamente, são,

segundo Smirnov, os seguintes:

1) tipo "trap" com jazigos de sulfuretos de cobre e níquel;

2) tipo kimberlítico com jazigos de diamantes; 3) tipo ultramáfico alcalino com jazigos confinados a carbonatitos; 4) tipo alcalino com jazigos pegmatíticos e hidrotermais, predominantemente de metais raros; 5) tipo granitóide com jazigos hidrotermais de metais preciosos e raros.

Estas mineralizações teriam como característica comum o facto de estarem relacionadas com

pequenas intrusões de composição diversa ou com vulcanismo andesito-dacítico.

A origem das substâncias que dão origem a estes tipos de jazigos deve evoluir gradualmente

desde juvenis e subcrustais, a material crustal assimilado pelos magmas graníticos e alcalinos, até

material remobilizado das rochas pela filtração de águas quimicamente activas.

Na Tabela 1.5 apresenta-se, de modo esquemático, a classificação proposta por Smirnov para os

jazigos endógenos ou magmáticos e séries sedimentares associadas. Na Fig. 1.22 ilustra-se a

ocorrência das rochas magmáticas e dos jazigos correspondentes aos diferentes estágios da

evolução do geossinclinal.

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Séries Formações Tipos de Jazigos

Magmática Sedimentar

ESTADIO JUVENIL formações peridotíticas formações gabro-piroxenito-duniticas formações vulcânicas submarinas espilito ceratofíricas formações sieniticas e plagiograníticas formações clásticas formações carbonatadas formações chamosíticas formações siliciosas formações betuminosas

Jazigos intramagmáticos de cromite, Os, Ir Jazigos intramagmáticos de magnetite titanada, Pt, Pd Jazigos de óxidos de Fe e Mn; sulfuretos de Fe-Cu-Zn-Pb Jazigos de skarn de Fe e Cu Conglomerados; grés; argilas Óxidos e carbonatos de Fe, Mn; fosforitos; calcários Silicatos de Fe e Mn . Minérios pobre de Fe e Mo Matéria orgânica dispersa; sulfuretos dispersos de Fe, Cu, Zn, Mo, óxidos de U e V

Magmática Sedimentar

ESTÁDIO INTERMÉDIO formações granodioríticas formações graníticas formações de flysch formações de caustobiolitos

Jazigos de W; plutónicos hidrotermais de Au, Cu- Mo e Pb-Zn Pegmatitos; greisens; jazigos hidrotermais de Sn, W, Li e Be Calcários, argilas, margas (materiais de construção) Xistos carbonosos; carvões

Magmática Sedimentar

ESTÁDIO TARDIO formações hipoabissais de pórfiros graníticos, dioríticos e sieníticos formações supercrustais vulcânicas de andesitos e dacitos Molassos formações das" red beds" formações salinas formações argilosas e arenosas de hidrocarbnetos

Jazigos hidrotermais de metais raros, radioactivos, de não ferrosos; Jazigos complexos de skarns Pb-Zn e W-Mo Jazigos subvulcânicos hidrotermais Rochas arenosas e conglomeráticas (usadas como materiais de construção) Jazigos sedimentares de infiltração de Fe, Cu, V e U Jazigos de sais de Na e K; gesso e anidrite; gás e petróleo Jazigos de carvão; jazigos de petróleo com rochas betuminosas; gás natural

Formações e jazigos minerais tipomórficos dos estádios juvenil, intermédio e tardio de zonas de

dobramento orogénico.(Segundo SMIRNOV. 1970)

Tabela 1.5 – Formações mais importantes e jazigos endógenos tipomórficos com elas associados, segundo V. I. Smirnov, em função das fases de desenvolvimento das zonas orogénicas.

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Figura 1.22 – Distribuição das rochas magmáticas e dos jazigos correspondentes pelos estágios geossinclinais inicial (a), intermédio (b) e tardio (c) de acordo com Smirnov (1970).

O aparecimento das novas concepções sobre a tectónica global permitiu o entendimento dos

conceitos metalogenéticos, sendo mais fácil estabelecer relações entre as províncias

metalogenéticas e as placas tectónicas, à escala global, do que à escala regional. Simplesmente,

nem sempre é pacífico o estabelecimento das margens das placas no passado recuado!

GuiId (1974) apresenta um ensaio de sistematização dos jazigos minerais e províncias

metalogénicas segundo a Tectónica de Placas (Tabela 1.6):

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Tabela 1.6 – Sistematização de jazigos minerais e províncias metalogenéticas de acordo com a Tectónica de

Placas

Nas Figuras seguintes (Fig. 1.23 a Fig. 1.25) ilustra-se, esquematicamente, a localização

preferencial de alguns jazigos de minérios metálicos no contexto da Tectónica de Placas, em

particular, na dependência de zonas de subducção.

Convidamos os alunos à descoberta da ligação genético-espacial de outros tipos de jazigos de

importância mundial relativamente ao quadro geral da Tectónica de Placas.

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Fig. 1.23 – Modelo geotectónico global de ocorrência de jazigos de pórfiros cupríferos e estaníferos

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Fig. 1.24 – Localização mundial dos jazigos de pórfiros cupríferos e estaníferos

Fig. 1.25 – Modelo de formação dos jazigos de pórfiros cupríferos no contexto da Tectónica de Placas

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Nota final:

O texto base é da autoria do Prof. Décio Tadeu, regente das cadeiras de Jazigos Minerais no IST

até 1986, a quem prestamos uma homenagem póstuma. A maioria das figuras foram extraídas de

Smirnov (1976) – “Geology Of Mineral Deposits” e Bateman (1957) – (Trad. Castelhano)

Yacimientos Minerales de Rendimento Económico.

A bibliografia citada no texto, assim como um amplo espólio de documentos no âmbito dos Jazigos

Minerais podem ser encontrados na Biblioteca Décio Tadeu anexa ao Museu de Geologia do IST.

Destacamos os trabalhos “Mineral Deposits of Europe – Portugal”, de Décio Tadeu, onde se

apresenta o panorama global dos jazigos portugueses, “A Global Geology – Industrial Minerals” de

Harben & Kuzvart (1996), onde as substâncias minerais industriais estão classificados numa base

geológica e, The Geology of Ore Deposits de Guilbert & Park (1999), uma edição que abrange

uma visão moderna dos Jazigos Minerais e dos Recursos Geológicos em geral.