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Copyright PERDIDOS poesias de José M. da Silva © Rio de Janeiro, 2011

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PERDIDOSpoesias

deJosé M. da Silva

© Rio de Janeiro, 2011

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ÍNDICE

Não sei do que faloSó sei que não calo ........................................................................... 3De gentes e coisas............................................................................. 5............................................................................................................ 6............................................................................................................ 7A conversa do desejo........................................................................ 8............................................................................................................ 9............................................................................................................ 10............................................................................................................ 11CICLO ................................................................................................. 12CICLO II .............................................................................................. 12Cia Ltda .............................................................................................. 13Conto Final......................................................................................... 14INSOSSOS E INTENSOS.................................................................... 15............................................................................................................ 19............................................................................................................ 20Movimento.......................................................................................... 21............................................................................................................ 22............................................................................................................ 23............................................................................................................ 24............................................................................................................ 25............................................................................................................ 26............................................................................................................ 27Flexível ............................................................................................... 28Três Horas.......................................................................................... 29Deixa Rolar......................................................................................... 30Fato Consumado................................................................................ 31Dúvida................................................................................................. 32Mulher Intensa ................................................................................... 33............................................................................................................ 35............................................................................................................ 36Enjambement ..................................................................................... 37............................................................................................................ 38............................................................................................................ 39............................................................................................................ 40............................................................................................................ 41............................................................................................................ 42............................................................................................................ 43............................................................................................................ 44Canção da Alma................................................................................. 45............................................................................................................ 46............................................................................................................ 47............................................................................................................ 48............................................................................................................ 49............................................................................................................ 50............................................................................................................ 51Eterno ................................................................................................. 52Tormenta e Calmaria ......................................................................... 53Hermética Incoerência....................................................................... 54CEDO FIM DE NOITE ......................................................................... 55CONVERSA ........................................................................................ 56PRESENTE ......................................................................................... 57

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3

Não sei do que faloSó sei que não calo

É que o mundo é perverso com a minha paixãoUm dia é o sim e no outro é o nãoHá poesia na vida, obscura mas háOnde foi desventura é que o verso mais dá

Escrever um poema é ponderar o absurdo da existênciaEm palavras naufragadas de saudade estoicaO metro só flui na medida momentânea do serQuando o espírito é entãoA própria luz da inspiração

O poeta adota o verso como mercador persaDe ilusões afogadas num dia a dia perdulário e inócuoA vantagem da morte é o não-ser da existênciaValorada somente pelo devir do montanteAh! que mundo arroganteQue usa e abusa da bondade do serEm tépido aguar de tensões galopantesA porta que abre e que deixa entreverO véu da maldade e a idade a bater

Oh luz, que te não me mostrasOh infortúnio, que tu me desgostas

Abraçar um lunático em perdido idílio asquerosoOnde o amor é lamber suas roupas sebentasQuem nunca plantou em sadia nojênciaNão sabe do verbo da vida a regênciaPois que a virgem, senhora,Tem um dia o agora

O agora do mundo perdeu-se entre o ido e o porvirMediante as questões nada há a dizerOs castelos dos homens começaram a ruirPela milésima vez o ciclo volta a nascer

E que se cuidem os bárbarosOs santos ignarosOs reles mortaisE os sexos anaisA nova mudança não deixa sua marcaNa pele oleosa da amante do diaO agora do mundo, pessoa,Não tem quem lhe aventa e apregoa

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E o mar corre para o lodaçalComo sempre correuA secar mais cedo a inspiraçãoRoçando excitado a próxima estação

Ao cabo do sabor de azeitonaAperta-se o mundo em suspiros de noites festivasE enquanto se benzem os padresSacodem-se os réus da justiçaE enquanto se amam os noivosEsquecem-se da louca premissa

Existir é perecer diariamente entre rancores e culpasAspergidos de intermitente prazerO prazer eufórico da fugaz agonia de desejar algo maisO prazer catastrófico de achar que não se morre jamaisO prazer de pensar que o próximo dia é melhorO prazer de supor que uma alegria é maior

Aborrece-se o tédio com a falta de assuntoO verde é mais verdeNo obséquio do ouroO negro da noiteTem o cheiro do agouro

É que minha paixão não entende este mundoUm dia ele é raso e no outro é fundoHá muita vida no lado escuroE muita poesia do outro lado do muro

Agora respondaSe for capazO que é melhorO ir à frente ou à-trás?

E ainda outraPra terminarDói mais se rirOu chorar?

Ah, que pena que o amanhã terminou.

Rio, 1992.

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De gentes e coisas

Tem gente que não sabe o que querTem homem que quer ser mulherTem o aqui e o láTem o amanhã e o jáSe é que se pode esperarSe é que se pode sonharTem o desejo de ser o não-serTem o lampejo de crer ou não crerTem o prenúncio de um ricto agônicoTem o telúrico e o astronômicoQuando a noite escurece em manhãQuando o jovem padece na cãO terror do idealO sargento animalO horror o louvor e o favorO senão o pendão e o perdãoTem a solidão do eremita infielTem o afã do perfeito a granelTem o jogo de tudo na vidaO insosso de uma pugna renhidaO roçar o gozar o amarO tentar o olhar o amarPara que tudo se acabe algum diaPara que o doce renasça na aziaPois que o uno é o vário do serPois que o tudo é um eterno escrever.

Rio, 199?.

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Nesta casa, de valor,Só há livros e amor.

Rio, 199?

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7

Te amo macho e fêmeaMinha alma gêmea

Rio, 200?

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A CONVERSA DO DESEJO

À Vilma Matos - conversante de primeira

Entardece o dia, a praia e a cidadeO mormaço convida ao prazer do sedentárioUm bar, um encontro e a novidadeA explosão do inusitado libertário Onde irá esta conversa tão intensaA mente, o desejo, a emoçãoO tema, uma possibilidade imensaDois seres, filosofia e intuição São distintos o homem e a mulherSão instintos o acaso e o ensejoA razão é tudo aquilo que ele querEmoção é ela viver como um arpejoAmanhece uma nova amizadeUm assunto que nunca tem fimSão histórias que não têm idadeA união do como faz com o faz assim.

JMS, Fortaleza-Rio, 2005Publicado na revista Fortaleza em Notícias nº 9

http://www.portalcen.org/bv/index.htm

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9

Não tenho nada a perderPorque não tenho nada a ganhar

Rio, 2007

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10

O que me toca são as sensaçõesDo momentoPassageiroUm tormentoInteiro

Rio, 2007

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11

Escrevo e desescrevoSobre coisas e não-coisasOlho e desolhoSeres e impessoasOnde foi parar meu senso de realidadeComo vou estar quando chegar a pior idadeQue importaO queImportante é o verboDizendo, fazendo, agindo, sentindoEspero coisas invindourasE donzelas casadourasImprovávelIncontestávelO incoerente sabor da vidaA dormente rima insentidaEscrevo um arremedo de poesiaDescrevo um enredo de agoniaNinguém perceberá as entrelinhasDestas tão desalinhadas linhas.

Rio, 2007.

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CICLO

Viver é driblar o absurdo cotidiano do existirEvitar o mais negro pensamentoUsar o talentoQuando falta o alentoPara suportar o momento

Amar é desafiar a razão em prol do mais íntegro sentirLibertar o mais negro pensamentoAbusar do talentoEsgotar o alentoNa eternidade do momento

Morrer é abdicar da beleza de ter chegado sem partirProibir o mais negro pensamentoIgnorar o talentoJá que falta o alentoNo desperdício do momento

José M. da SilvaRio, 2007

Publicado em Linguagem Global:Informativo do Centro de Idiomas do Senac Rio (2008-1)

CICLO II

Viver é driblar o absurdo cotidiano do existirEvitar o mais negro pensamentoQuando falta o alentoPara suportar o momento

Amar é desafiar a razão em prol do mais íntegro sentirLibertar o mais negro pensamentoOnde falta o alentoNa eternidade do momento

Morrer é abdicar da beleza de ter chegado sem partirProibir o mais negro pensamentoSempre falta o alentoNa inexistência do momento

José M. da SilvaRio, 2007

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Cia Ltda

O rio corre e nunca paraA gente morre e nunca saraO dia, o céu, o mar, o solExistem inúteis do outro lado do muroUm espaço tão claro que ofusca o escuroDa alma, do gozo, do ser, do desejoO tempo é pesado, o ar tão puro sufocaO absurdo de estar aquiPoder efêmero, alegria fugazEstar à frente, ficando pra trásA noite traz o som chuvoso e atordoadoUm descanso ilusório, um sonho derrotadoO amor tem um preço, as amizades valorOs fins sem começo, o interesse é senhorAqui de cima parece fácilBastaria um impulso, um pequeno empurrãoMas resta ainda esperançaDe que isso acabe, sem um ataque à razãoAh se o mundo imundo se amasseAh se o mundoAh se...

BH-RJ, 2007

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Conto Final

O inesperado se alojou em meu peitoUm morno desconfortoSurpresa, incerteza

Parte de mim chora lágrimas escurasUma dor crescentePulsante, vibrante

A vida passa por meus olhosO amor e o ódioO dinheiro e o poderO desejo e o saberE mais o queVocêAh, vocêEterna em meu sorriso matreiroEnquanto aguardo o suspiro derradeiro

Rio, 2007

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INSOSSOS E INTENSOS

Onde foi parar minha saudadeTerá se perdido com a idadeObsoleta como a modernidadeInútil como a integridade

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I’m so lonely I could flyTo another lifeAnother worldAnother bodyI’m so lonely I could dieJust like the lines on a night starry

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Noite quenteRepelenteAmor urgenteE-carente

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O do primeiro verso universoInversoReflexo inconscienteBranco multicorA do poeta imaginação

Entredestinos o ser se atormentaE se contentaA tortura da almaPoder e dinheiroA do amor ilusão

Gemidos sofridosGesta indigestaExpansão, contençãoPobreza, avarezaO segredo do enredoDa vida, o alentoTalentoEterna busca da metadeDe tudo, da felicidade.

Rio, 2008.

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19

A maior tristezaÉ saber dos limitesA impossibilidadeDe serO que deseja a vontade

A beleza de viverÉ domar a incertezaDuvidar do prazerCriar a própria nobreza

Um sopro do infinitoA mescla de sentidoA morte, um ruídoO choro aflitoA calma do amanhecer, apósO gozo do entardecer

Rio, 2008.

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20

A vida no fundo é impossívelÉ difícil viver nesse mundoTodos os povos se vão matandoSempre alimentando ódios antigos e novos

A vida em verdade é a mortePara todos que nascem sem sortePoder dinheiro e amorA trilogia insolúvel do terror

Mas a vida tem algo de bomQuando se busca além do comumDescobrir os desenhos do somNa poesia de cada um.

Rio, 2008

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Movimento

O que vai e o que vemMãos que deslizam pelo corpoArdente, carente, impotente

Rio, 2008

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22

Você é políticoVocê é elípticoVocê é reptílicoSifilítico

Rio, 2008

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23

O que mais me toca é o amorProfundo e abrangenteFecundo y caliente

Rio, 2008

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Quero pedir ajudaE não consigoNinguém entendeQuando peçoO mundo se avoluma sobre mim

PesoDesprezoO avessoDo espessoQuero entregar os pontosE não consigoQuando tentoChegar ao fimÉ um vendavalEuAnimalDe mim

Busco o auxílioTotal eclipse do espíritoImensidão,Mundo vãoInvasão, destruiçãoIntromissãoDe um desfinal onírico.

Rio, 2008

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25

Eu só queria ser amadoUm amor idolatrado

*Eu não aprendoE no fundoNão entendoComo é difícilSeguir vivendo

*Vida minhaQue te quero vinhaPara me dar o suco do amor

Rio, 2008

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26

Quero molhar minha alma em vocêE encolher em seu prazer

Conter o gozo dos sentidosAninhar meu corpo em teus gemidos

Olhar sentir deixar me permitirPensar fruir jorrar me expandir

A vida toda num momentoMeu instante contraídoAmor que não sai do pensamento

Rio, 2008.

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É só um daqueles diasEm que a vida paraE você se pergunta:Quanto falta?

É só a agoniaQue não tem caraE você se pergunta:O que falta?

É só raiar o diaE tudo se escancaraE você se pergunta:Qual é a falta?

É a mesma aziaQue disparaE você se pergunta:Quem é que falta?

É o blues do meio-diaA dor que não saraE você se pergunta:Será que falta?

Sempre falta a quantiaO desespero te encaraE você se pergunta:Por que sempre falta?

É a decisão que se adiaE a coisa é tão claraNão há nem perguntaTudo é falta.

Rio, 2008.

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28

Flexívelpara Cris

A felicidade é flexívelVariávelImpossívelMuda com as erasAs pessoasO momentoMas no fundo é uma sóIlusão de dar dóEstá para o amorComo a doença para a dorIncompatíveisRisíveisIndizíveisSer feliz é quererSe acabarMorrerDe prazerOu seja lá de queMomentos, nada maisSentimento fugazMas não o amor,O amor é flexível...

Rio, 2009.

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29

Três Horaspara H

Três horas de amorTrês horas de calorO afã de dar prazerCuste o que custar

A dor, o prazer, a surpresaO forte, o suave, a certezaIdealizar a conquistaSe entregar sem pensar

A pele suadaA boca molhadaA vida toda contida na tardeUm eterno não acabar

Teu gozo me olhandoTeus olhos brilhandoAmor proibido consentidoAguardado, intenso, exemplar

O gosto, o calor, o teu cheiroO pulsar, o gemer, teu corpo por inteiroSentir por dentro e por foraTanto desejo faz o tempo parar

Percorro todos os teus caminhosSentindo cada um dos teus carinhosTúneis escuros que me trazem a luzA espera que não aguenta esperar

A tarde se vai e com ela vocêO engarrafamento vem desacontecerLevo a música de teu corpoAbafada, até te reencontrar.

Icaraí, 2009.

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30

Deixa Rolarpara H

Tentei me enganarDizendo-me que não te queriaQue não te merecia

O destino, safado, me enganouTe trouxe de bandeja pra mimGostosa, amorosa, toda assim

Sorte ou azar eu não seiDeixa o tempo dizer, o corpo sentirO coração meditar e nosso gozo fluir.

Rio, 2009.

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31

Fato Consumadopara H

Teu cheiro é doceTeu gosto forteMe tens apaixonadoTeu eterno consorte

Rio, 2009.

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32

Dúvidapara H

Se o amor é divinoE o sentido mortalNão sei a quem adorarSe a um deus que te trouxeOu se a esse corpo que mexe comigoSe ao sentimento imaterialOu à loucura carnalUm fatoIndiscutívelVocêImperdível.

Rio, 2009.

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Mulher Intensapara Marília, não a de Dirceu

mulher intensano olharno viverno falar

teu corpo chorade prazerde gozarde seduzir

teu jeito � meigoem ouvirem dizerem sentir

tua voz ensinaa medira contera libertar

mulher intensano intuirno afagarno se exibir

intensa mulherde inten��esde perdi��esde emo��es

mulher intensapor amorpor conhecerpor saber

prazer em conhecermulher intensate dou sem rimaum carinho imensoou uma emo��o extensao que te conviera teu bel prazermas pense em mimcomo o descobridoro desbravadorde tu’alm’escondidapros pobres mortais

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34

n�o para mimnavegante profundodos mares oce�nicosredundantesda poesia dos seres imortais

pois tudo se acabatudo desabao amor terminaquem diria!os temposos temploso tudo e o nadailus�es domadastudo s�o apelosdo s�culo novo

e voc�,ah, voc�...um encontro fortuitouma vis�o do amanh�em tua boca o pref�cioem teus seios o textoem tu’alma o desafioem teu gemido o sentidoem teu gozo o al�vio

mulher intensapropensaa me desfazerem poesia

Rio, 2009.

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35

o pior amor é aquele que não tem futurono duroé aquele que acabouque se esgotouou assim parece

Rio, 2009.

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desejodistânciaritualda saudadeda vontadeum longe pertodoloridodesejo doloridodesejodistânciahoras infindasem um minutodesejodesejo.

Rio, 2009

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Enjambement

MetaMundoArcaicoProtoSerLivreDo ódioDo horrorRetroGuinadaAmorfaPósVidaEstérilMegaSintomaDe nada.

São Gonçalo, 2009.

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38

Onde foi pararA musa desnudaPor onde andaA energia vitalO coloridoO sentidoO sonho evaporaNo suor da lidaSofridaCorrida.Enquanto houver dilemaEnquanto houver dúvidaA vida escorreO sonho não morre.

São Gonçalo, 2009.

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39

No escurecer da vidaO limite do amorO arcoO barcoNo portoUm amargo na bocaDe doce saborO sentidoPulando amarelinhaSe a ruaDo eternoFosse minha.

São Gonçalo, 2009.

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40

Você de novoA insistirAbro a janelaPra ouvirPra sentirÉ só o ventoA fugir.

São Gonçalo, 2009.

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41

Divina chuva que refresca minha almaMeu pensamento úmido saboreia teu cheiroPingos do etéreoInundam meu coraçãoDe paixãoDe rimas toscasDe saudadeA chuva não traz meu amorPrepara a terraDe onde brota o desejoDe ser feliz.

São Gonçalo, 2009.

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42

A gente que passa na ruaDe alma nuaOlhando a luaDeslizaNa luzDa noite intensa

São Gonçalo, 2009.

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43

AgoraOu nuncaUm grito interiorVara a noiteAguda luzDe um pensamento

DepoisJá eraSilêncio enormeGemidoCombate intensoDe hoje e sempre

São Gonçalo, 2009.

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44

Onde é que você vaiMenina bonitaPor aí é perigosoVem por aquiEu te protejoNo sabor do meu beijo

Onde é que você vaiMenina bonitaIsso não são horasDe andar sozinhaVem por esse ladoE saboreia o meu agrado

Fica mais um poucoVamos conversarOlha só, um barAinda é cedoDeixa eu saberDo teu segredo

Onde é que você vaiMenina bonitaLevando assim meu coraçãoGostei do teu olharEsse abraço apertadoVai me deixando embriagado

São Gonçalo, 2009.

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Canção da Alma

Não conto a ninguémDo que pensoSintoMintoTudo isso me pertence

Não conto a ninguémDo meu céuMeu infernoEternoA compaixão não me convence

Não conto a ninguémQue fantasioVou pensandoImaginandoToda você ao meu alcance

Não conto a ninguémMeu desesperoInsegurançaInesperançaO teu amor, nenhuma chance

Passam as gentesMove-se o tempoEncosto meu corpo em outros corposPenso e despensoDurmo e desdurmoE vejo meu sonho em traços tortos

Não conto a ninguémQue não te contoA dorDo amorSaudade do que não se tem.

São Gonçalo, 2009.

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De que adianta tanto saberSe não me seiSe não te seiSe não sei saberSe não sei dizer o meu viver

AcademiaBulimiaDo excesso de pensarAnorexiaDo processo de aportarNo serNa vidaNa existênciaEssência

De que vale tanto amor...

Rio, 2009.

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Foi tudo muito rápidoO olharO gestoA vozO toqueO carinho a reboqueGozoEstoque

Rio, 2009.

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48

No desatino está a soluçãoNo desafio a superaçãoNa dúvida o conhecimentoNo fim o renascimento

Rio, 2009.

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49

Olho rostos diferentesEspelhos coloridosRugas e emoçõesSorrisos e paixõesTristeza profundaApatia, alegriaSão rostos de corposRostos de almasRostos que me veemRostos que me têm.

Rio, 2009.

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50

Entre o amor e o desamorUm terreno baldioDia sem noiteDeserto nebulosoSonho irrealizadoEntre o amor e o desamorA fugaA lutaA morteMortalha.

Rio, 2009.

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51

Deletei minha memóriaAcabei com minha históriaQueimei todos meus cdsFormatei meus hds

Sou de mim nova versãoUm pc de ocasiãoTurbinei processadorPara achar meu novo amor

Tempos novosNovos meiosMeios termosTermos tudoTudo passaPassa a limpoLimpo a telaTela adentroDentro em poucoPouco tempo

MáquinaLástimaVirtualIrrealRealDigitalEssênciaAparência

Rio, 2009.

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Eterno

Sei láOnde é que foi parar aquele grande amorPor que se era eterno tudo se acabouSó quero saberComo está você

SeráQue tudo aconteceu com uma direçãoQue o tempo vai cuidar, reunir o coraçãoSó quero saberOnde está você

TalvezUm dia tudo tenha a sua explicaçãoPra tanto pandemônio na nossa razãoNão quero saberCom quem está vocêSó quero saberComo está vocêSó quero saberOnde está você

Rio, 2009.

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Tormenta e Calmariapara Ziza, que não sabe chegar em casa

Amor tempestuosoEm meio à tempestadeForça que reviraEspalhaAlagaDescobreRecobreA noite que não terminaSempre recomeçaChuva e ventoMudando a cada momento

Dois corpos na lama do corpoAfogadosCansadosAbraçadosO amor em sérieEm plena intempérieUivos do ventoUrros do momento

A chuva se acalmaO vento abrandaDois corpos que caemEm sono de esperaEnconchadosEncoxados

A rua esvaziaO povo se vaiLá fora o medo amainou

No quarto alugadoUm breve interlúdioA espera pelo amanhecerUm ralo descansarE tudo recomeçar

Rio, 2010.

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54

Hermética Incoerência

Discretamente um ruído no pensarLembrança futura do inacontecidoSabor amargo da crise anímicaRuidosa, fria ventaniaDesmorona em catástrofe o edifício da linguagemO ser em crise é só sentirO não sentirEmoções se avolumam em doce apaixonamentoFantasia concreta de desejos incontidosContinentes perdidos em idílios fugazesO não-ser do ser se espalha irreversívelO frio-quente rubro do não ditoFerindo a incólume clareza do destinoEnquanto a vida segue seu martírio rotineiroA água e o vaporA crise e o temorO óbvio e o amorNa paisagem a chuva que cessa sem cairLá fora o ruído do existirPor dentro o silêncio da tortura incandescente a oprimir

Rio, 2010

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55

CEDO FIM DE NOITEPara Julio, que bebeu pouco.

O bar vai pesando em mimO bar vai pisando em mimPor isso esse ardorEsse cansaço assim

Percorrer a dor de uma via sem fimAnsiar pelo vagar de um andarilho da noitePerdido no tempo sem tempo do simSentir no corpo um não-desejo do açoite

Que a vida é issoFogo mortiçoMulher douradaFogo do nada

Rio, 2011.

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56

CONVERSAPara William, que também bebeu pouco.

O samba te chamaTe reclamaInflama

Compromissos pré-datadosNoite mornaFériasIndolência

O fim da conversa se adiaO bar vai estar no mesmo lugarA gente tambémSe o até não virar porém.

Rio, 2011.

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PRESENTE

eu amanheçona noitequente

eu apodreçono dia

em frente

eu esmoreçona fêmeaardente

eu esqueçoda vidaurgente

Rio, 2011.