Comunicado 44 TécnicoDezembro, 2007 · 2 Solos da Área de Reassentamento de Colonos no Projeto...

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Solos da Área de Reassentamento de Colonos no Projeto Jusante, Município de Glória - BA Introdução O presente trabalho é uma sinopse do levantamento detalhado dos solos e avaliação do potencial de terras para irrigação, na escala 1:5.000, executado pela equipe da Unidade de Execução de Pesquisa e Manoel Batista de Oliveira Neto 1 Roberto da Boa Viagem Parahyba 1 José Carlos Pereira dos Santos 1 Aldo Pereira Leite 1 José Coelho de Araújo Filho 1 44 ISSN 1517-5685 Rio de Janeiro, RJ Dezembro, 2007 Técnico 1 Embrapa Solos - UEP Nordeste, Rua Antônio Falcão 402. CEP: 51020-240 Recife – PE. E-mails: [email protected] , [email protected] , [email protected] , [email protected] e [email protected] Comunicado Desenvolvimento da Embrapa Solos – UEP Nordeste em convênio com Companhia Hidroelétrica do São Francisco, numa área de aproximadamente 2.544 ha, localizada próximo às margens do lago de Itaparica, destinada a colonos reassentados no projeto Jusante, Município de Glória, Estado da Bahia (figura 1). Fig. 1. Localização do Município de Glória no Estado da Bahia e do Projeto Jusante - áreas 1 e 2.

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Solos da Área de Reassentamento de Colonos noProjeto Jusante, Município de Glória - BA

Introdução

O presente trabalho é uma sinopse do levantamentodetalhado dos solos e avaliação do potencial de terraspara irrigação, na escala 1:5.000, executado pelaequipe da Unidade de Execução de Pesquisa e

Manoel Batista de Oliveira Neto1

Roberto da Boa Viagem Parahyba1

José Carlos Pereira dos Santos1

Aldo Pereira Leite1

José Coelho de Araújo Filho1

44ISSN 1517-5685Rio de Janeiro, RJDezembro, 2007Técnico

1 Embrapa Solos - UEP Nordeste, Rua Antônio Falcão 402. CEP: 51020-240 Recife – PE. E-mails: [email protected], [email protected],[email protected], [email protected] e [email protected]

Comunicado

Desenvolvimento da Embrapa Solos – UEP Nordeste emconvênio com Companhia Hidroelétrica do SãoFrancisco, numa área de aproximadamente 2.544 ha,localizada próximo às margens do lago de Itaparica,destinada a colonos reassentados no projeto Jusante,Município de Glória, Estado da Bahia (figura 1).

Fig. 1. Localização do Município de Glória no Estado da Bahia e do Projeto Jusante - áreas 1 e 2.

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Trata-se de uma região com grande escassez de terrasirrigáveis, de modo que o grande desafio deste estudofoi o detalhamento necessário para identificação deterras aptas para o uso sob manejo irrigado em áreascom predomínio de solos arenosos.

O Projeto Jusante localiza-se na interface dasformações sedimentares da Bacia do Tucano, ondepredominam relevos suave ondulado e plano, com asáreas de rochas cristalinas dos pediplanos sertanejos dovale do rio São Francisco, nas mesmas condições derelevo. Nessa região, destacam-se áreas sedimentarespouco elevadas em forma de platôs que, por vezes, sãodissecadas por vales abertos com encostas suaves.Ocorrem, ainda, algumas áreas rebaixadas, próximasdos níveis cristalinos com contornos suaves. Na área doprojeto, é pouco freqüente a presença de elevações naforma de serras ou serrotes.

A geologia é representada por formações sedimentaresda Bacia do Tucano e por uma faixa de rochas doembasamento cristalino. Os materiais sedimentaresincluem as coberturas eluviais Cenozóicas, sedimentosfinos, principalmente da Formação Aliança e Serigi, erochas areníticas, sobretudo da Formação Tacaratu. Oembasamento cristalino é representado por rochasgranitóidicas do Proterozóico Embrapa (EMBRAPA,1977-1979; ROCHA, 1999).

O clima é seco, influenciando diretamente na formaçãovegetal de caatinga hiperxerófila. Segundo aclassificação de Köppen (EMBRAPA, 1977-1979), oclima dominante é do tipo BSs’h’, definido como muitoquente, semi-árido, tipo estepe com estação chuvosa nooutono. A precipitação média anual situa-se na faixa de400 a 500 mm (SUDENE, 1990a, 1990b, 1990c), comgrandes irregularidades na distribuição das chuvas. Aevapotranspiração potencial média anual é muitoelevada, situando-se na faixa de 1.000 a 1.400 mm, oque favorece o acúmulo de bases e sais nos solos. Emconformidade com a classificação bioclimática deGaussen (EMBRAPA, 1977-1979), a região estáinserida, dominantemente, no contexto do clima tipo3aTh, descrito como nordestino de seca acentuada com7 a 8 meses secos no decorrer do ano.

As maiores dificuldades para a produção agrícola em con-dições naturais na região correspondem, não apenas àescassez, mas, principalmente, às irregularidadespluviométricas regionais, de modo que a agricultura de-pendente de chuvas torna-se uma atividade de alto risco.

Levantamento de Solos

A fase inicial constou da aquisição, junto ao setor degeoprocessamento da Chesf, das cartas digitaisplanialtimétricas na escala 1:5.000, com a localizaçãodas áreas a serem mapeadas e dos relatórios técnicospedológicos disponíveis sobre as áreas de trabalho(CHESF, 1987).

A partir das cartas digitais, foram produzidos os mapasbásicos e feito o planejamento estratégico dos trabalhosde campo. Foi elaborado um esquema para o traçado daslinhas de base (eixos) e das seções transversais (picadas),de forma a facilitar as atividades de prospecção emapeamento dos solos. As picadas foram planejadas demodo a atravessarem as áreas de mapeamento nosentido perpendicular às linhas de drenagem. Os eixos,sempre que possível, foram localizados onde já existiamestradas ou outro tipo de acesso, de modo a racionalizaros serviços das equipes de topografia. Gerou-se assimuma malha de pontos (piquetes codificados), de 100 x100m. Cada ponto foi georreferenciado utilizando-seGPS* de navegação e examinado por meio dasprospecções pedológicas. Cada exame constou daabertura de uma minitrincheira com cerca de 40 a 60 cmde profundidade, seguido de tradagem até umaprofundidade máxima de 200 ou 220 cm, ou até ondefosse encontrada a camada de impedimento.

Durante as prospecções de campo, foram coletadasamostras de solos em uma proporção média de 1:3, ouseja, um ponto de tradagem foi coletado para cada trêspontos examinados. Em cada ponto de amostragem,foram coletadas amostras de dois ou três horizontespara análises granulométricas e, quando necessário,análises mineralógicas por difração de raios-X (DRX).Após a plotagem dos dados referentes aos exames dastradagens, elaborou-se um mapa preliminar de solosonde foram selecionadas as classes de solosrepresentativas e abertas trincheiras para descriçãomorfológica e coleta de amostras para análises físicas equímicas. Nos solos rasos considerados inadequadospara irrigação e solos com pouca representatividade naárea, não houve coleta de amostras.

Foi então elaborado um mapa preliminar com as principaisunidades de mapeamento que serviu de base para a defini-ção dos locais para descrição e coleta dos perfis de solos.

Os trabalhos de descrição e coleta de tradagens e perfisforam realizados conforme as normas do “Manual de

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descrição e coleta de solo no campo” (SANTOS et al.2005). As análises físicas, químicas e mineralógicas paracaracterização dos solos foram realizadas segundo o“Manual de métodos de análise de solo” (EMBRAPA,1997).

Os solos foram classificados de acordo com o SistemaBrasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006).

Os resultados morfológicos e analíticos dos solos foramarmazenados em um banco de dados (BD) desenvolvidopelo setor de informática da Embrapa Solos, juntamentecom os mapas das classes de solos identificadas na áreaestudada, em condições de serem consultados emanipulados (Figuras 2 e 3 em anexo).

Resultados

Nas tabelas 1 e 2, estão os quantitativos mapeados nasáreas 1 e 2, que juntas totalizam aproximadamente2.244 ha. Podemos observar para o total das duasáreas, o predomínio dos Neossolos quartzarênicos comaproximadamente 1.198 ha, o que representa cera de47% da área total e em segundo lugar aparecem osPlanossolos com aproximadamente 839 ha, o querepresenta cerca de 33% da área total. O restante daárea estudada, em valores decrescentes, está ocupadapelos Neossolos Regolíticos, Latossolos Amarelos,Neossolos Litólicos, Tipos de Terrenos, ArgissolosAmarelos e Cambissoloos vérticos que juntos somamaproximadamente 507 ha, o que representam um poucomenos de 20% da área total.

As unidades de mapeamento listadas na legenda desolos foram quantificadas em termos de áreas conformeconsta nas tabelas 1 e 2.

* Sistema de posicionamento geográfico.

Tabela 1. Unidades de mapeamento de solos, suasextensão e proporções em relação à área 1 do projetoJusante, Município de Glória, BA.

Simbologia da Unidadede Mapeamento

Área(ha)

Proporção em relaçãoa área 1 (%)

PAdeCXve1SNo1SNo2SXe1SXe2RQo3RQo5RQo6RRq1RRq2RLeTT1TT2

6,1411,9875,7172,09

261,0019,09

190,49138,5131,7769,76

114,1857,8337,9726,01

0,551,086,816,48

23,461,72

17,1212,45

2,866,27

10,265,203,412,34

Total 1.112,53 100,00

Tabela 2. Unidades de mapeamento de solos, suasextensões e proporções em relação à área 2 do projetoJusante, Município de Glória, BA.

Simbologia da Unidadede Mapeamento

Área(ha)

Proporção em relaçãoa área 2 (%)

LAdPAdeCXve2SXe1SXe2RQo1RQo2RQo3RQo4RQo5RQo6RLeTT2

108,6930,7819,03

195,24216,1233,86

179,63146,4850,16

409,6617,7316,018,52

7,592,151,33

13,6315,09

2,3612,5410,23

3,5028,61

1,241,120,60

Total 1.431,91 100,00

Conclusões

As áreas do projeto Jusante compreendem dois grandesambientes: (a) os domínios sedimentares arenosos rela-cionados à Bacia do Tucano, onde se destacam terrascom solos profundos, sendo alguns deles com potencialpara manejos irrigados; e, (b) os domínios das rochascristalinas relacionadas à depressão sertaneja do vale dorio São Francisco, onde predominam terras com solos,não recomendados para manejos irrigados.

Nos domínios sedimentares da Bacia do Tucano, os soloscom possibilidades de serem aproveitados em manejosirrigados estão representados pelos Latossolos,Argissolos e por uma parte dos NeossolosQuartzarênicos, que apresentam textura na classeareia-franca dentro de 100 a 200 cm de profundidade.Tais solos ocupam aproximadamente 696,0 ha, o querepresenta aproximadamente 27% da área totalmapeada. Nos domínios das rochas cristalinas, ondepredominam terras não recomendadas para manejosirrigados, ocorrem: (a) solos com fortes restrições dedrenagem e riscos de salinização, representadosprincipalmente pelos Planossolos; (b) solos com boafertilidade natural, mas com riscos de salinização,erosão e pequena profundidade efetiva, representadospelos Cambissolos e Luvissolos; (c) solos rasos com ousem pedregosidade e, ou, rochosidade representadospelos Neossolos Litólicos; e, (d) alguns solos comcaracterísticas favoráveis para o uso com lavouras emcondições não irrigadas, com alto risco de perda desafras devido ao clima regional, representados pelosNeossolos Regolíticos. No momento, não há dados sobreesses solos que permitam recomendá-los para manejosirrigados, com critérios de sustentabilidade. Tais solosocupam cerca de 1.848,0 ha, o que corresponde aaproximadamente 73% da área total mapeada.

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Embrapa Solos / UEP NordesteEndereço: Rua Antônio Falcão, 402. Boa Viagem.Recife, PE - Brasil. CEP: 51020-240Fone: (81) 3325-5988Fax: (81) 3325-0231E-mail: [email protected]

1a edição1a impressão (2007): online

Comitê depublicações

Expediente

ComunicadoTécnico, 44

Referências Bibliográficas

CHESF. Companhia Hidroelétrica do São Francisco. Pro-jeto de ocupação da borda do Lago de Itaparica, mar-gem esquerda: relatório de pedologia. Recife, 1987. To-mos 1, 2 e 3. (Themag Engenharia. Relatório técnico).

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Riode Janeiro, RJ). Manual de métodos de análise de solos.2. ed. ver. Atual. Rio de Janeiro, 1997. 212p.

EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Siste-ma brasileiro de classificação de solos 2. ed. Rio deJaneiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p.

EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Con-servação de Solos. Levantamento exploratório-reconhe-cimento de solos da margem direita do Rio São Francis-co, Estado da Bahia. Recife: SUDENE: DRN: EMBRAPA-SNLCS, 1977-1979. 2 v. (EMBRAPA-SNLCS. Boletimtécnico, 52; SUDENE. Série recursos de solos, 10). In-clui 2 mapas coloridos na escala 1:1000.000.

ROCHA, D. E. G. A. Estudo hidrogeológico da Bacia doJatobá – PE. Recife: CPRM, 1999. 20 p. (Sériehidrogeologia; Estudos e projetos, 2).

SANTOS, R. D; LEMOS, R. C.; SANTOS, H. G.; KER, J.C.; ANJOS, L. H. C. Manual de descrição e coleta desolo no campo. 5. ed. Viçosa, MG: Sociedade Brasileirade Ciência do Solo, 2005. 92 p.

SUDENE. Dados pluviométricos mensais do Nordeste:Estado Alagoas. Recife, 1990a. 116 p. (SUDENE. Sériepluviometria, 7).

SUDENE. Dados pluviométricos mensais do Nordeste:Estado Bahia. Recife, 1990b. 3 v. (SUDENE. Sériepluviometria, 9).

SUDENE. Dados pluviométricos mensais do Nordeste:Estado Pernambuco. Recife, 1990c. 363 p. (SUDENE.Série pluviometria, 6).

Presidente: Aluísio Granato de AndradeSecretário-Executivo: Antônio Ramalho FilhoMembros: Jacqueline S. Rezende Mattos, MarceloMachado de Moraes, Marie Elisabeth C. Claessen,José Coelho de A. Filho, Paulo Emílio F. da Motta,Vinícius de Melo Benites, Rachel Bardy Prado, Mariade Lourdes Mendonça S. Brefin, Pedro Luiz de Freitas.

Supervisão editorial: Jacqueline S. Rezende MattosRevisão de texto: André Luiz da Silva LopesRevisão bibliográfica: Marcelo M. de MoraesEditoração eletrônica: Pedro Coelho Mendes Jardim

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Fig. 2. Solos de Jusante - área 1.

Anexo

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Fig. 3. Solos de Jusante - área 2