comprometimento educacional dos professores de capoeira
Transcript of comprometimento educacional dos professores de capoeira
COMPROMETIMENTO EDUCACIONAL DOS PROFESSORES DE CAPOEIRA DE
PORTO VELHO-RO
Autora: ELIZANGELA MATIAS DE SOUZA
Orientadora: Profª.Dra. IVETE DE AQUINO FREIRE
Monografia apresentada ao curso de
Educação Física do Núcleo de Saúde da
Universidade Federal de Rondônia, para
obtenção do título de Graduada em
Licenciatura em Educação Física
Porto Velho – Rondônia
2008
8
Data da Defesa:______/______/______.
BANCA EXAMINADORA
Prof.___________________________________________________________________
Julgamento: ________________ Assinatura: ________________________________
Prof.___________________________________________________________________
Julgamento: ________________ Assinatura: ________________________________
Prof.___________________________________________________________________
Julgamento: ________________ Assinatura: ________________________________
9
DEDICATÓRIA
À minha dedicada mãe, que com a
firmeza de uma rocha e sem medir
esforços, me conduziu neste caminho; ao
meu querido filho, que suportou minha
ausência por todo período acadêmico e ao
meu compreensivo esposo, que com
carinho me ajudou a ter forças para chegar
aqui.
10
“Não há fera tão violenta, que não conheça
o toque da piedade”.
Elizangela Matias, 2001.
11
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela minha vida, saúde e oportunidade que tem
me presenteado, mesmo sem minha devida dedicação espiritual.
A minha amada família, que é meu alicerce, obrigada pela cumplicidade de todos
os momentos, sem o qual não seria possível a realização deste projeto de vida.
A professora e orientadora Dra. Ivete de Aquino Freire, pela paciência e empenho
durante todo o tempo da orientação deste estudo, pelo conhecimento teórico e prático.
A todos os professores que passaram pela minha vida, que orientaram meu
desenvolvimento e me mostraram o caminho a ser seguido.
Ao amigo e professor Ms. Luis Gonzaga de Oliveira Gonçalves, que me ajudou
diretamente na obtenção de dados e disponibilidade de material tecnológico para a
realização deste trabalho.
Ao meu amigo e orientador de estágio externo professor Armstrong Hércules, por
haver confiado em mim, por seu conhecimento e grande experiência.
As minhas amigas: Paola Patrícia, Juliana Nunes, Maria Islane e Luciana Oliveira,
pela amizade e apoio incondicional.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.
12
SUMÁRIO
Resumo..............................................................................................................................viii
Abstract...............................................................................................................................ix
Lista de Figuras....................................................................................................................x
1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................7
2. QUESTÕES DE PERSQUISA.........................................................................................9
3. JUSTIFICATIVA.............................................................................................................10
4. OBJETIVOS...................................................................................................................12
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................13
5.1. Origens e Definições...................................................................................................13
5.2. Fundamentos..............................................................................................................17
5.2.1. Movimentos Defensivos...........................................................................................17
5.2.2. Movimentos Desequilibrantes..................................................................................17
5.2.3. Golpes......................................................................................................................18
5.3. Pressupostos Educacionais........................................................................................19
5.3.1. Educação.................................................................................................................19
5.3.2. Relação entre Capoeira e Educação.......................................................................20
5.3.3. Relação professor-aluno..........................................................................................22
5.3.4. Motivação da Aprendizagem....................................................................................23
5.3.5. Ensino......................................................................................................................24
5.3.6. Métodos e Técnicas de Ensino................................................................................25
5.3.7. Avaliação..................................................................................................................29
6. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS.................................................................................32
6.1. Delineamento da Pesquisa.........................................................................................32
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................34
7.1 Dados de Identificação dos Professores e Mestres de Capoeira................................34
13
7.2. Relação professor-aluno.............................................................................................35
7.3. Métodos e Técnicas de Ensino...................................................................................36
7.4. Avaliação.....................................................................................................................37
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................39
9. REFERÊNCIAS..............................................................................................................41
ANEXOS............................................................................................................................45
Anexo I – Formulário..........................................................................................................46
14
RESUMO
Ao considerar a grande importância do ensino da capoeira em relação a sua
história e como ferramenta utilizada na área da educação, esta pesquisa procurou
descobrir os pressupostos educacionais de ensino dos professores e mestres de
capoeira da cidade de Porto Velho-RO. Para tanto, se fez necessário adotar a pesquisa
participante juntamente com a utilização de um formulário. A população amostra foi
composta por 07 (sete) profissionais da capoeira que foram acompanhados em seus
respectivos locais de trabalho, antes ou depois das aulas. Foi possível verificar, de
acordo com as observações e as respostas ao formulário, que embora alguns
profissionais apresentem muitos anos de vivências e experiências, faz-se necessário uma
qualificação em nível de ensino superior dos profissionais para um melhor
aproveitamento desta arte genuinamente brasileira, no processo educacional de
formação para a cidadania.
Palavras-Chave: Capoeira, pressupostos educacionais, mestres.
15
ABSTRACT
On considering the one ample amount of money from
the I school from the capoeira in relation to your history AND as a tool used in the area
from the education , this research had sought bare the assumptions educational as of I
school of the professors AND gurus as of capoeira from the citty as of Harbor Old man
RO. About to so much , in case that has made required adotar the search attendee along
with the use of um formulário. The population merchandise he went built up from By 07 (
seven ) business people from the capoeira than it is to have been accompanied well into
your respective sites as of I work , heretofore or afterward of the lessons. He went feasible
check , according to the observations AND the answers to the formulário , than it is to in
spite of a few business people I presented a great many years as of vivências AND
experiences , he does - if desired a qualification well into class as of higher education of
the business people for improved aproveitamento of this art genuinely Brazilian , in the
process educational as of formation for the citizenship.
Keywords: Capoeira , assumptions educational , gurus.
16
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Grupos de Capoeira Investigados....................................................................33
Figura 2 – Dados de investigação dos Informantes...........................................................35
17
1. INTRODUÇÃO
Há um fatídico debate envolvendo a origem da Capoeira. Sabe-se que no século
XIX ela passou por um período fortemente escravista, com população africana muito
grande. Sua origem está no século XVIII, nos primórdios da sociedade urbana, visto que
até o século XVII a população escrava era quase toda indígena. Diante das divergentes
explicações quanto sua origem, acredita-se que este jogo foi criado e desenvolvido no
Brasil, resultado da mistura entre negros, índios e brancos. Estes formavam a classe
oprimida da época colonial e em algum lugar entre as senzalas, quilombos e centros
urbanos manifestavam esta cultura.
ARAÚJO (2002) expõe que no contexto social da capoeira no Brasil, alguns
condicionantes concorreram para a transformação dessa expressão em ato e natureza
lúdica nas últimas décadas. Dentre esses condicionantes, identifica-se como principais:
1) o significado do termo jogo, para o contexto da luta brasileira; 2) o nacionalismo; 3) os
instrumentos propiciadores para a sua transformação em ato lúdico; 4) a repressão
jurídica policial contra a capoeira e os capoeiristas no curso da história e suas
adaptações; 5) o revivalismo das práticas ancestrais africanas pelos negros forros no
Brasil em quaisquer dos seus períodos históricos.
Em sua trajetória, a capoeira concentrou-se mais nos grandes centros como: Rio
de Janeiro, Recife, Minas Gerais e São Paulo com maior número de adeptos, mas, foi em
salvador que esta arte encontrou grande expressividade, talvez seja fruto dos
ensinamentos dos grandes ícones da capoeira como Mestre Pastinha e Mestre Bimba. O
primeiro foi o maior disseminador da capoeira Angola. Já Mestre Bimba, o criador da
Capoeira Regional.
Essa cultura chegou a Rondônia na década de 1970 e foi bem aceita no contexto
social local. Através de conversas informais com capoeiristas de vivência relevante,
verificou-se que esta atividade já foi desrespeitada até por quem a praticava.
Conseqüência disso criou-se uma imagem negativa frente à sociedade, diante da
rebeldia, rivalidades dos grupos de capoeira e descontrole de alguns mestres. Desta
forma, julgavam-na indigna de ser praticada por cidadãos de bem. Estes dados indicam
que no Estado de Rondônia, esta atividade foi mal explorada inicialmente.
Grandes grupos de capoeira se formaram na década de 90. Entretanto, alguns
não conseguiram vencer as barreiras impostas pelo preconceito, e aqueles que
sobreviveram, estão atualmente disseminando a capoeira à grande parte da sociedade.
Em Porto Velho, há cerca de 90 profissionais vinculados à Confederação Brasileira de
18
Capoeira (COSTA, 2005). Não é do conhecimento desta pesquisadora quantos desses
adeptos são profissionais de Educação Física.
Nesta última década, os professores e mestres de capoeira começaram a ser
questionados quanto a sua formação e metodologia de ensino. Esta indagação se dá
pelo fato de que a orientação do mestre tem influência direta na forma que os alunos
expressam esta cultura (Fachardo, 1997).
Fundamentando-nos no pressuposto de que a capoeira envolve pessoas de
idades variadas, com expectativas diferentes, de meios sociais distintos; por outro lado,
trata-se de uma atividade com graus de dificuldade variados, espera-se que o professor
possua conhecimentos e habilidades didático-pedagógicos. Considerando-se que o
docente é responsável pela aplicação dos conteúdos pedagógicos, seus objetivos e
forma de alcançá-los, respeitando os princípios biológicos de cada indivíduo, daí a
importância da aquisição dos conhecimentos e habilidades mencionadas.
Do ponto de vista didático-pedagógico, o ato de ensinar, deve levar em
consideração algumas variáveis tais como: relação professor-aluno, métodos e técnicas
utilizadas no processo ensino e aprendizagem e avaliação. Do ponto de vista teórico, a
prática dessas variáveis podem ser aplicadas a partir das Matrizes de Ensino e
Aprendizagem, que por sua vez expressam os pressupostos educacionais da ação do
professor. Diante do exposto, surge a seguinte pergunta: Quais os pressupostos
educacionais de ensino dos professores de capoeira da cidade de Porto Velho?
19
2. QUESTÕES DE PESQUISA
2.1. Como se dá a relação professor-aluno?
2.2. Quais os métodos e técnicas mais utilizadas pelos professores de capoeira?
2.3. Quais as formas de avaliações utilizadas pelos professores de capoeira e qual a
utilidade desta, na opinião dos mesmos?
20
3. JUSTIFICATIVA
De acordo com FALCÃO (2007), no Brasil, a partir da década de 1960, a capoeira
vem sendo disseminada no contexto educacional, desde o ensino fundamental até as
universidades. Nesse complexo movimento, às vezes como disciplina curricular, às vezes
como projeto de extensão, ou simplesmente como atividade extra-classe, a atividade vem
despertando interesse jamais verificado anteriormente, por parte da comunidade
educacional institucionalizada.
A capoeira é constituída por um repertório composto de exercícios de flexibilidade,
equilíbrio e destrezas, que encontra raízes na cultura do povo brasileiro. Trata-se de uma
modalidade de luta praticada ao som de cânticos e instrumentos musicais como
berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco.
Embora a capoeira ainda seja profundamente marcada pelas características
introduzidas por Mestre Bimba e Mestre Pastinha, a mesma não encontrou,
posteriormente, mecanismos de perpetuação dos princípios adotados por estes mestres.
Entre estes princípios destacam-se: disciplina, responsabilidade e o respeito,
considerados peças base da metodologia por eles utilizada.
Através de experiência pessoal, nota-se que muito se polemiza sobre a
metodologia de ensino dessa arte. Tais questionamentos partem principalmente de
indivíduos com formação universitária. Questiona-se o nível intelectual, formação
pedagógica e educacional, e a irreverência de alguns professores. Estes últimos, por sua
vez, não mostram muito interesse em ampliar seus conhecimentos.
A intenção deste estudo, não é desvalorizar o ensino da capoeira por sujeitos sem
formação acadêmica. A pesquisa aqui proposta, pretende conhecer como se dá a prática
da capoeira em Porto Velho do ponto de vista educacional, de sua proposta como veículo
de formação de cidadãos.
Este estudo justifica-se pela possibilidade da pesquisa, oferecer subsídios para o
aprimoramento do ensino e aprendizagem da capoeira. A partir deste estudo, será
possível propor, seminários, encontros científicos e oficinas para se discutir e trocar
experiências sobre metodologias de ensino mais voltada para a realidade social. Ao
apontar para a descrição parcial sobre o ensino da capoeira em Porto Velho se verão
ampliados os estudos sobre esta arte no âmbito pedagógico. São incipientes os estudos
direcionados a este enfoque.
As maiorias das publicações sobre capoeira constituem em obras voltadas a
estudos bibliográficos referente a historia da capoeira, a pesquisas quanto à evolução
quantitativa de adeptos e análise de movimentos considerados complexos do ponto de
21
vista da Biomecânica. Quanto a abordagem didático-pedagógica do ensino desta arte,
ainda são escassos as publicações.
22
4. OBJETIVOS
4.1. Geral
Descobrir os pressupostos educacionais de ensino dos professores e mestres de
capoeira da cidade de Porto Velho.
4.2. Específicos
4.2.1. Conhecer a formação dos professores;
4.2.2. Estudar a relação professor-aluno;
4.2.3. Descobrir os métodos e técnicas de ensino mais utilizadas pelos professores;
4.2.4. Conhecer e analisar as formas de avaliação desenvolvida pelos professores.
23
5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Diante dos objetivos propostos, trabalharemos neste capítulo um referencial
teórico que será utilizado como base para a concretização desta pesquisa.
5.1. Origens e Definições
A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja
controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar
que a capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre
africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na
África, bem como em nenhum outro país onde houve escravidão africana, (COSTA,
2005).
Este mesmo autor relata que no processo histórico da capoeira surgiram três
eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Angola, Capoeira Regional e
Capoeira Desportiva. Estes eixos se associaram ao longo dos tempos, estando hoje
amalgamados na prática. Desde o século XVIII, sujeita à proibição pública, ao longo do
século XIX, a capoeira encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados
do sudeste e nordeste. Ocorreram várias manifestações da dança-luta na Bahia,
Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro. Este último, mais utilitário no século XX. Na década
de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na década de 1980, em escala
internacional.
Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada
qual referindo-se a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-
se de jogo de destreza corporal. Neste jogo utiliza-se movimentos de pernas, braços e
cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de
cânticos e instrumentos musicais como: berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-
reco. Esta arte enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando
desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte
marcial, folclore, recreação e teatro. Atualmente caracteriza-se, de modo geral, como
uma atividade lúdica (Costa, 2005).
Falcão (1995, p. 177), também se refere à capoeira como jogo. Segundo este
autor, o jogo acontece na roda de capoeira, que pode ser espontânea ou não. A mesma é
constituída de elementos essenciais, próprios e característicos, como a música e os ritos,
entre outros. Geralmente a figura do mestre é a autoridade máxima na roda. Na ausência
24
do mestre, a pessoa mais graduada, ou mais considerada entre os presentes, é quem o
representa na condução da roda.
Segundo ARAÚJO (2002), alguns condicionantes marcaram a trajetória da
capoeira. Entre eles está o significado do termo jogo, para o contexto da luta brasileira; o
nacionalismo; os instrumentos propiciadores para a sua transformação em ato lúdico; a
repressão jurídica policial contra a capoeira e os capoeirista no curso da história e suas
adaptações; e o revivalismo das práticas ancestrais africanas pelos negros forros no
Brasil em quaisquer dos seus períodos históricos. É nesse sentido que CARNEIRO
(1975, p.106) afirma:
Tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, há cerca se
cinqüenta anos, a capoeira se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com
esse caráter inocente na Bahia (...). Trata-se de um combate singular em que os “moleques de
sinhá”, apenas demonstram a sua capacidade de ataque e defesa, sem atingir efetivamente os
oponentes.
Conforme VASSALLO (2006), o jogo, considerado o elemento lúdico, também
chamado de vadiação ou brincadeira, passa a encarnar a verdadeira essência da
capoeira. Trata-se do primeiro condicionante citado por ARAÚJO (2002). Esse elemento
lúdico é contrário da violência atrelada ao jogo da capoeira carioca do século XIX, ou
seja, às Maltas de negros capoeiristas, reflexo da decadência rígida da sociedade
patriarcal rural da era clássica do Brasil colônia. As maltas eram grupos de capoeira do
Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Elas eram
compostas principalmente por negros e mulatos, que aterrorizavam a sociedade carioca.
Conseqüentemente, o uso da capoeira para práticas ilícitas ocasionou sua proibição em
11 de outubro de 1890 com a promulgação da Lei nº 487. Somente na década de 1930,
foi revogada a lei que proibia a prática deste jogo, que começou a ser ensinada nas
academias, inicialmente em Salvador. Em seguida conquistou adeptos em todo país, e
nos últimos anos no mundo inteiro.
Já o segundo condicionante, refere-se a esta arte como prática nacionalizada.
Para autores como CASCUDO (1967), o combate afro-brasileiro teria sido praticado
inicialmente nas senzalas das grandes plantações, durante o período da escravidão.
Graças a esta atividade, os negros cativos teriam conseguido lutar contra seus senhores
e conquistar a liberdade. Assim, acredita o autor que a capoeira era antes uma forma de
luta, muito valiosa no processo de conquista pela liberdade de fato ou de direito do
escravo ou defesa da liberdade do negro liberto.
Para ARAÚJO (2002, p. 108), “muitas das expressões culturais africanas sofreram
modificações e adaptações em alguns dos componentes culturais que as configuravam,
agora não mais como manifestações genuínas dos seus pontos de origem, para
25
enquadrar como práticas nacionalizadas”. Sem perder as características africanas
essenciais tão presentes, principalmente nos elementos musicais, rítmicos, ritualísticos e
outros, destacou-se a capoeira que contribuiu significativamente para a construção de um
fenômeno de cultura nacional.
O terceiro condicionante é identificado como os instrumentos propiciadores para a
transformação do jogo em ato lúdico. Este é atrelado ao primeiro condicionante, mas
pesquisas recentes constatam que a ludicidade desta arte, nos acompanha desde as
senzalas, que os escravos aprimoravam suas técnicas à frente de seus senhores como
forma de brincadeira.
Quanto ao penúltimo condicionante, não é o objetivo dessa pesquisadora
aprofundar-se nas causas e conseqüências de proibição legal da capoeira. Entretanto há
que destacar-se que esse fato contribuiu significativamente para a evolução e valorização
desta arte, como atividade sistematizada na conquista da liberação de sua prática.
Finalizando, o último condicionante, trata-se do revivalismo de práticas culturais
ancestrais africanas pelos negros forros no Brasil em quaisquer dos seus períodos
históricos. Esse condicionante é considerado por ARAÚJO (2002) como o fator de maior
relevância para o esclarecimento da introdução dos elementos musicais, instrumentais,
orais e rituais no âmbito dessa manifestação brasileira.
Berimbaus, atabaque e pandeiro são os instrumentos mais comuns que dão o
ritmo para o desenvolvimento do jogo de capoeira. Cada ritmo destes instrumentos se
relaciona com um tipo de jogo a ser realizado que podem ser moderados ou não. O toque
dos instrumentos e os cantos são, na atualidade, indissociáveis do jogo da capoeira.
BOLA SETE (1997), concluiu que são sete os toques básicos dos instrumentos: Angola
(Angola Pequena e Angola Dobrada), São Bento (São Bento Pequeno e São Bento
Grande), Santa Maria, Amazonas, Idalina, Benguela e Yuna. Os demais foram criados
por alguns mestres que se utilizavam de variações e repiques dos sete toques básicos
acima mencionados.
Os toques de Angola Pequena e São Bento Pequeno são utilizados para
acompanhamento dos cânticos, das ladainhas e dos “corridos”1, bem como quando dois
capoeiristas vão jogar lentamente. Já a Angola Dobrada e São Bento Grande são usados
exclusivamente para o acompanhamento dos “cânticos corridos”, quando o andamento
do jogo pode ser moderado ou mais rápido. Utiliza-se o toque Santa Maria para
demonstração de um jogo bastante técnico, no qual os capoeiristas mostram todas suas
habilidades técnicas e criativas. Na capoeira este tipo de jogo é compreendido como
predominantemente malicioso. O toque de Amazonas serve para o desenvolvimento do
1 Denominam-se “corridos” o momento que o jogo de capoeira acontece somente ao som dos instrumentos.
26
“jogo fechado”, com pouquíssima distância do oponente. No toque de Idalina, os
capoeiristas praticam um jogo mais aberto e solto, com uma distância maior do
adversário; visa aprimorar os golpes. No toque de Benguela, exclusivo para o
treinamento do jogo com facas, praticamente extinto, os capoeiristas demonstram sua
capacidade para livrar-se de um ataque à mão armada (BOLA SETE, 1997).
Sem o acompanhamento de cânticos, o toque de Yuna é executado para jogos
com movimentos lentos e rasteiros. É considerado um toque de rituais e exige uma
perfeita coordenação dos movimentos, adquirida depois de muitos anos de prática da
capoeiragem. O toque de Yuna é geralmente utilizado somente para jogos de mestres.
O berimbau, acompanhado ou não de cânticos, tem importância relevante na roda
de capoeira. É o toque deste instrumento que comanda o jogo e, inclusive, é na frente do
mesmo que inicia a prática propriamente dita. Muitos capoeiristas costumam se
aproximar e tocar no instrumento antes de se benzerem para iniciar o jogo, numa espécie
de ligação deste instrumento com o sagrado.
Os cânticos, também denominados cantos de capoeira, conferem certo “clima” à
roda de capoeira. Acompanhados da instrumentação, envolvem os jogadores na roda de
capoeira levando-os, segundo Decânio Filho (2004, p.11), a um estado alterado de
consciência, denominado de “transe capoeirano”. Nesta ocasião, o praticante passa a ser
“parte integrante do conjunto harmonioso em que se encontra inserido naquele
momento”.
O canto na roda de capoeira, para Rego (1968, p. 89), pode “narrar fatos da vida
cotidiana, usos, costumes, episódios históricos, a vida e a sociedade na época da
colonização, o negro livre e o escravo na senzala, na praça e na comunidade social”. O
canto tem também, nesse contexto, uma importante função ritual, de manutenção e
preservação da memória histórica e das tradições, bem como de questionamento dessa
mesma história, das tradições e da sociedade atual (Vieira, 1995).
Os jogadores, antes de iniciarem o primeiro jogo, escutam agachados e em
silêncio o canto inicial na roda de capoeira, chamado “ladainha”. Estes se posicionam, no
que se convencionou chamar no “pé do berimbau”2. Após este ritual num momento certo
da cantiga, sabido pelos praticantes, benzem-se e em seguida iniciam as movimentações
balizadas pela ginga, considerado o jogo propriamente dito.
2 Espaço compreendido em frente dos berimbaus, próximo à parte inferior.
27
5.2. Fundamentos
Bola Sete (1997) destaca 15 (quinze) movimentos básicos da capoeira angola.
Segundo o autor, deles derivam-se os demais movimentos desta arte, estes movimentos
básicos dividem-se em quatro defensivos, quatro desequilibrantes e sete golpes, que
serão vistos com mais detalhes a seguir.
5.2.1. Movimentos Defensivos
São considerados movimentos defensivos aqueles que permitam que o
capoeirista livre-se do ataque do oponente. Esses movimentos poderão ser seguidos ou
não e contra-ataque. Dentre os movimentos defensivos está a Ginga, que é considerada
o principal movimento da capoeira; acompanha o ritmo do toque e lembra uma dança. Na
ginga, o capoeirista poderá defender-se com o auxílio das mãos e braços, deslocar-se
em qualquer direção. Este movimento permite melhor posicionamento para defesa,
ataque e contra-ataque. A ginga apesar de ter suas peculiaridades, pois cada individuo
tem sua característica na hora de gingar, não perde sua forma original. O movimento
inicia-se com pernas afastadas paralelamente; posteriormente desloca-se uma das
pernas em afastamento ântero-posterior e retorna a posição paralela; em seguida, repete
o movimento com a outra perna, e assim sucessivamente.
Outro fundamento dos movimentos defensivos é a Negativa; considerado todo
movimento defensivo executado com auxílio das mãos e dos pés no solo. A maneira mais
utilizada para aplicar a “Negativa” consiste em uma queda rápida do corpo, com uma
perna estendida e a outra perna flexionada, com uma das mãos apoiadas no solo ao lado
do corpo e a outra apoiada no solo, próxima ao rosto;
No movimento Rolê, o capoeirista gira lateralmente o corpo flexionando-o
rapidamente e próximo ao chão, com o auxílio das mãos. Este deslocamento é utilizado
para confundir o oponente. O movimento Aú, consiste em um salto com as pernas para o
ar, e as mãos apoiadas no solo. Esse movimento atualmente é conhecido como
estrelinha.
5.2.2. Movimentos Desequilibrantes
São características dos movimentos desequilibrantes aqueles que desestabilizam
o equilíbrio do oponente. Estes podem ser seguidos de ataque e contra-ataque. Os
movimentos desequilibrantes são: Rasteira, Banda, Tesoura e Boca-de-calça. A Rasteira
28
consiste em uma “varredura” giratória com a perna estendida buscando encaixar o pé no
calcanhar do adversário com a finalidade de desequilibrá-lo. No movimento
desequilibrante Banda, o capoeirista se posiciona lateralmente ao oponente, passa a
perna por trás do mesmo, na altura da parte posterior da coxa, e tenta desequilibrá-lo
com o auxílio do braço e da cabeça. Já no movimento desequilibrante denominado
Tesoura, a execução consiste em encaixar as duas pernas na altura dos joelhos do
adversário e, com uma girada de corpo, procurar derrubá-lo no chão. A capoeira conta
ainda com o movimento Boca-de-calça. Neste movimento desequilibrante segura-se a
barra da calça ou a perna do adversário, na altura do tornozelo aproximadamente O
movimento finaliza com uma puxada violenta em sua direção, desequilibrando o
oponente, podendo inclusive derrubá-lo em decúbito dorsal.
5.2.3. Golpes
Os golpes se caracterizam pelo seu efeito ofensivo, de ataque e contra-ataque ao
oponente. Vários autores defendem que esses golpes foram inspirados nos movimentos
dos animais, principalmente em momentos de combate. Dentre os golpes destacam-se o
Rabo-de-arraia, a Meia-lua, a Ponteira, a Chibatada, a Chapa, a Joelhada e a Cabeçada.
O Rabo-de-arraia, consiste em um giro do corpo em direção ao adversário. Neste
movimento o capoeirista ficará com uma perna flexionada e outra estendida, com mãos
apoiadas no solo. O golpe Meia-lua, é muito usado como finta nas seqüências de golpes.
É executado com a articulação coxo-femural flexionada. Projeta-se a perna estendida
para a frente do corpo fazendo ao mesmo tempo movimento de circundução deste
segmento, ao mesmo tempo a outra perna mantem-se semi-flexionada, bem apoiada no
solo. O objetivo é atingir o adversário, na altura da cabeça, com as faces laterais do pé. O
golpe Ponteira é de fácil aplicação e bastante ofensivo. Sua execução inicialmente ocorre
a partir de uma flexão nas articulações do quadril e do joelho seguida de uma rápida
extensão do último, seguindo para o movimento de chute. O intuito é afetar o oponente
com a ponta do pé. Já o golpe Chibatada, é aplicado com o dorso do pé. Sua parte inicial
é bem semelhante ao golpe Ponteira, a diferença é que a perna de apoio faz um giro,
deixando o indivíduo lateralmente posicionado diante do opositor. O golpe Chapa é um
pouco mais complexo. Inicia-se com uma abdução das pernas e flexão lateral do tronco,
ocasionando o apoio em uma perna só; com a outra perna, que deverá estar flexionada,
ocorrerá uma extensão rápida para atingindo o adversário com a face lateral do pé. A
Joelhada é aplicada com uma distância reduzida entre os sujeitos. Tem como objetivo
atingir com o joelho as regiões frontal e lateral do tórax e a cabeça. No golpe Cabeçada o
29
capoeirista ataca buscando afetar o adversário com a parte eminente frontal da cabeça.
Como é um golpe muito perigoso, sugere-se sua aplicação com cautela. Não se costuma
ensiná-lo a iniciantes; comumente só é realizado por professores e mestres.
5.3. Pressupostos educacionais
Nessa abordagem, falaremos sobre alguns itens que serão de fundamental
importância para este trabalho, já que se busca uma mediação teórica entre a capoeira e
seus pressupostos educacionais. Primeiro será abordado aspectos inerentes à educação
de modo em geral, pois nesta pesquisa busca-se verificar as intenções educacionais dos
professores e mestres de capoeira ao ensinarem esta atividade.
Posteriormente os aspectos a serem abordados são voltados a relação entre
capoeira e educação, considerando o ponto de vista social, educacional, saúde mental e
física para o desenvolvimento humano; relação professor-aluno e seus diferentes
significados de acordo com as teorias da educação; motivação da aprendizagem e
esclarecimentos referente aos conceitos e finalidade; Outro aspecto a ser abordado é o
ensino que traz as ideologias das teorias de aprendizagem. Em seguida, será feito uma
reflexão teórica sobre os métodos e técnicas de ensino e seus objetivos; e concluindo, a
avaliação e sua aplicabilidade.
Finalmente serão discutidos do ponto de vista teórico, algumas categorias
importantes para a análise dos pressupostos educacionais em qualquer conteúdo
ensinado. Neste caso, se buscam fazer relação com o principal objetivo deste estudo: a
capoeira.
5.3.1. Educação
Segundo GUARESCHI (2002), a palavra educação vem do latim: “e” ou “ex”
significa de dentro, para fora; e “ducere”, significa tirar, levar. Então educação é o
processo de extrair de alguém, algo que já está presente em seu interior. A educação
supõe, que o indivíduo possui potencialidades próprias, que vão sendo atualizadas e
desenvolvidas através do processo educativo. Veremos a seguir alguns conceitos de
educação na opinião de alguns autores:
Para NÉRICI (1985), educação é o processo que visa levar o indivíduo a explicar
e desenvolver as suas virtualidades; promover o seu desenvolvimento espiritual, a fim de
conduzi-lo a atuar na realidade atual com conhecimento, eficiência e responsabilidade,
para serem atendidas necessidades pessoais, sociais e transcendentais da criatura
30
humana. Já para Hildedrandt-Stramann (2001), educação quer dizer uma parte da
socialização geral; setor de interações conscientes, socialmente regulamentadas, nas
quais o indivíduo, no seu processo de desenvolvimento, será qualificado a aprender
maneiras culturais de uma sociedade; a prosseguir no seu desenvolvimento, e nesse
processo de qualificação tornar-se uma pessoa independente, responsável.
Defende ainda este último autor que a educação ramifica-se em duas dimensões:
a primeira caracteriza-se como processo da socialização, através do qual indivíduos se
desenvolvem como seres sociais; a segunda como processo de individualização, através
do qual sujeitos se desenvolvem como indivíduos únicos e inconfundíveis. Para ambos
autores, educação é o processo que leva o indivíduo a desenvolver-se para atuar na
sociedade e adaptar-se às constantes transformações do meio.
Nessa perspectiva, a educação representa o campo organizado, planejado,
sistematizado e intencional. Na sociedade, agências sociais e instituições específicas,
como, a família, a escola, a fábrica e outras, são as responsáveis pela construção
cotidiana do processo aducacional.
Segundo MUSIS (2007, p 144), “a educação assume um caráter dialético, onde é
de sua responsabilidade inserir elementos depurativos na composição do indivíduo que o
permitam transcender uma sociedade que a afeta, direta ou indiretamente, como um
todo”. Mas para TOSI (2003), educação é o meio de se fazer aflorar as potencialidades
dos indivíduos. Considera-se também como um ato psicossocial, pelo qual uma pessoa
trabalha inflenciando outra com suas idéias, ideologias e valores.
O que se percebe é que o termo Educação remete a idéia de que a ação de
determinada pessoa altera a percepção de outra a respeito do mundo e de seus valores.
Essas ações, entretanto não se limitam ao âmbito do ensino formal, mas podem se dá
em várias esferas, como no ensino da Capoeira por exemplo. Na perspectiva
educacional, esta arte favorece o repasse de valores e crenças. Acredita-se que a
Capoeira educa através do movimento e da evolução histórica de uma raça.
5.3.2. Relação entre Capoeira e Educação
Com base nos conceitos fundamentais de educação apresentados, podemos
analisar a relação entre capoeira e educação em dois aspectos: o interesse pedagógico
deve possibilitar o desenvolvimento da capacidade de ação através da capoeira e para a
capoeira.
Para o desenvolvimento da capacidade de ação através da capoeira, serão
apresentadas cinco possibilidades. A primeira delas é de que a capoeira pode cooperar
31
no desenvolvimento da capacidade de ação do indivíduo. Esta possibilidade decorre do
jogo, como atividade física sistematizada, proporcionado ao corpo aptidão através de
inúmeras possibilidades de movimento. A experiência da corporalidade é uma condição
imprescindível para a educação, é base da capacidade humana de ação. Na segunda
possibilidade entende-se que a capoeira pode ser importante para a atividade motora
cotidiana, visto proporcionar a prática de amplo repertório de movimentos. A viabilidade
de Movimentos contribui para a segurança, habilidade de destreza em situações não
desportivas além de desenvolver a capacidade de vencer obstáculos e problemas
motores. Outra interpretação sobre o potencial da capoeira para o desenvolvimento da
capacidade de ação é a sua contribuição para a dimensão social da capacidade de ação.
O jogo em questão, além de possibilitar interação e comunicação oferecendo diversão e
alegria, também apresenta dificuldades e problemas a serem solucionados. Tudo isso
proporciona inúmeras vivências e possibilita várias ações. A quarta capacidade de ação
da capoeira está intimamente relacionada com a saúde e o bem estar. A atividade
oferece inúmeras possibilidades para contribuir com ambos aspectos através de
movimentos motores amplos, de esforço corporal, de comunicação e de situações
relaxantes posteriores. A quinta possibilidade está em oferecer às crianças e jovens um
modelo compreensível da realidade social. Através da capoeira, os modelos de ação e
regras sociais podem ser esclarecidos e melhor compreendidos.
O desenvolvimento da capacidade de ação para a capoeira é explicado através
dos seguintes fundamentos:
a) A capoeira é um fenômeno positivamente marcante na sociedade, que adquire um
significado crescente na configuração da vida dos indivíduos. Desse modo, a mesma
possui um alto valor na vida de sujeitos. Um exemplo é a formação de grupos informais
ou a identificação com os “ídolos”, como possibilidades para auto-afirmação e para a
auto-identidade;
b) É uma possibilidade ideal para superar a pobreza, a repressão de movimentos na
sociedade atual. Oferece ainda, inúmeras possibilidades de movimentos significativos,
oportunidades de recreação e realizações estéticas;
c) Proporciona possibilidades de vivenciar de forma significativa o crescente tempo
livre, num ambiente natural ou artificial.
Diante do exposto, nota-se que a capoeira é uma ferramenta de relevância
considerável, do ponto de vista social, educacional, saúde mental e física para o
desenvolvimento humano. Esta afirmativa se dá tendo em vista a influência positiva na
formação de indivíduos, e a contribuição desta arte para uma boa qualidade de vida.
32
No que se refere ao aspecto sócio-educativo alguns parâmetros serão aqui
analisados afim de subsidiar a análise da prática docente dos mestres e professores de
capoeira.
5.3.3. Relação professor aluno
VEIGA (1996, p. 70) sustenta que “é muito difícil definir os limites do conceito
relação professor-aluno. Esses conceitos se intrincam na prática do processo pedagógico
com o conteúdo de ensino e com a metodologia adotada. Dessa forma, a aula torna-se
um lugar de interação entre pessoas, um momento único de troca de influências”.
Os comportamentos do professor e dos alunos fazem parte de uma expectativa
baseada na ideologia definidora da sociedade. Os valores se passam nem sempre de
forma clara e determinada, mas, sempre de forma eficiente. O aluno espera ser
reconhecido como pessoa e valoriza no professor as qualidades que os ligam
afetivamente. Do professor se espera um papel que lhe é próprio, visto que tem muito
mais poder para definir a relação entre os papéis.
O ambiente institucional interfere no desempenho e nas relações professor-aluno.
Quando a escola valoriza o professor como profissional e lhe permite melhorar seu
desempenho, coloca em ação um mecanismo de ruptura do círculo vicioso que apresenta
como intransponíveis as dificuldades inerentes ao seu papel e às condições de ensino de
modo geral. No caso da capoeira, o ambiente institucional pode ser a escola, o clube, o
prédio da associação de bairro ou qualquer local que se dê o ensino (NÉRICI, 1985).
Ainda este autor refere-se à relação professor-aluno como de fundamental
importância no processo pedagógico. Princípios como honestidade, coragem,
compromisso, responsabilidade e tantos outros importantes na educação se passam no
cotidiano da instituição. Quanto mais o professor é próximo do aluno, mais eficiência ele
tem sobre seu comportamento.
Já para MARTINS (1995), a relação professor-aluno assume diferentes
significados, de acordo com as diferentes teorias da educação. Na teoria da Escola
tradicional, essa relação é vertical, autoritária. O professor transmite o conteúdo como
verdade absoluta, tendo o aluno um papel passivo-receptivo. Nesta teoria o aluno não
precisa pensar, só repetir. O princípio básico dessa relação é que o professor detém o
saber e o aluno não. A aula é entendida como sinônimo de silêncio e ordem, para facilitar
a transmissão do saber.
Outro significado encontra-se na Teoria da Escola Nova. Nesta tendência a
relação é democrática. O professor assume o papel de orientador das atividades do aluno
33
e este tem um papel ativo, participativo no processo de ensino. O pressuposto básico
dessa relação é que os alunos têm necessidades e interesses próprios, são diferentes
uns dos outros, cabendo ao professor o atendimento das diferenças individuais. Assim, o
aluno disciplinado é aquele que é solidário, participante, ativo e conhecedor das regras
de convívio em grupo.
Já na Teoria da Escola Tecnológica, tanto o professor como os alunos
desempenham o papel de executores de tarefas programadas por um grupo de
especialistas. A relação é vertical e autoritária, com o agravante do professor não
participar da concepção do seu trabalho. O pressuposto básico é a possibilidade de
ensinar tudo a todos, desde que se dê tempo e instrumental suficientes para isso. O
aluno disciplinado é aquele que faz todas as tarefas conforme os objetivos operacionais;
o aluno produtivo é capaz de dar respostas adequadas aos programas previamente
esquematizados.
Nessa perspectiva resume-se a relação professor–aluno no estabelecimento de
ações participativas e recíprocas que se ampliam conforme o amadurecimento e
responsabilidade assumida pelas partes: professor e aluno. O engajamento, competência
e responsabilidade docente são fatores fundamentais para o sucesso desta vivência.
5.3.4. Motivação da Aprendizagem
Para melhor compreender a motivação, é necessário que se esclareça ser esta
uma condição interna, mistura de impulsos, propósitos, necessidades e interesses que
levam o indivíduo a agir. Todo comportamento é dependente de estímulos internos,
externos e das condições biopsicológicas do indivíduo.
Na visão de NÉRICI (1991, p.269), “motivação é o processo que provoca certo
comportamento, mantém a atividade ou a modifica”. No contexto educacional, significa
predispor o aluno ao que se quer ensinar; estimulá-lo a participar ativamente das
atividades. Em outras palavras é predispor o indivíduo ao aprendizado e à realização de
um esforço para que este alcance certos objetivos.
Já para SAMULSKI (2002, p. 51), “a motivação é caracterizada como um
processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores
pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos)”.
Diante dos conceitos apresentados, deduz-se que a motivação é fator decisivo no
processo da aprendizagem. Não poderá haver, por parte do professor, direção da
aprendizagem se o aluno não estiver motivado, se não estiver disposto a despender
esforços. Não há, de modo geral, aprendizagem sem esforço. Não há método ou técnica
34
de ensino que dispense o esforço por parte do aluno. Daí a necessidade da motivação
para as atividades em geral, para que haja esforço voluntário por parte de quem aprende.
A motivação tem por fim estabelecer conexão entre o quê o professor pretende
que o aluno realize e os interesses deste último. O fracasso de alguns professores está
em não motivarem suas aulas, ficando, desse modo, professor e aluno isolados, sem
comunicação. O professor querendo dirigir a aprendizagem e os alunos não querendo
aprender.
Considera-se que um aluno está motivado para a aprendizagem quando
apresenta necessidade de aprender o que está sendo proposto. Essa necessidade leva-o
a aplicar-se, a esforçar-se e a perseverar no trabalho até sentir-se satisfeito.
5.3.5. Ensino
Diante de inúmeras definições do fenômeno rotulado de ensino, verificou-se que
em geral os estudiosos estabelecem relação entre o ensino à aprendizagem. Esta
relação é tão profunda que é notória a afirmação de que o ensino significa tarefa,
enquanto aprendizagem quer dizer êxito.
Para aprofundarmos no conceito de ensino, se faz necessário o conhecimento,
mesmo que superficial, da ideologia das teorias de aprendizagem. De acordo com
GUARESCHI (2002), Todos nós possuímos uma teoria de como se ensina e de como se
aprende. Pode-se dividir essas teorias em duas matrizes principais: a matriz dos
condicionantes, ou comportamental e matriz dialogal. A matriz comportamental se
caracteriza pela imitação e repetição, nada se pede de novo, de iniciativa por parte do
aluno. Este não poderá decidir, pensar, criar. Já a matriz dialogal prioriza o diálogo,a
igualdade de posições e o respeito ao mundo do outro. A prática educativa dialogal
fornece um novo modelo de vivência social baseado na mudança da sociedade por novas
práticas vividas e incentivadas entre as pessoas.
O ensino, segundo SMITH (1971), é identificado como um sistema de ações cuja
intenção é a aprendizagem. Deste modo, pode-se dizer que se o aluno não aprende o
ensino, não alcançou sua finalidade. Analisando os termos ensino e aprendizagem,
constatou-se que ensino pode existir sem a aprendizagem. O uso intencional do verbo
ensinar não implica, necessariamente, o sucesso dessa atividade (SCHEFFLER, 1974).
Tal afirmação pode ser mais bem compreendida se considerarmos a diferença entre as
regras usadas na realização de uma atividade qualquer.
Algumas regras, as chamadas “exaustivas”, são as que se seguidas corretamente,
sempre garantem o sucesso de uma ação. Por exemplo, se é respeitada a regra que
35
governa a disposição das letras na escrita de uma palavra, o êxito estará assegurado.
Outras regras, as “inexaustivas”, entretanto, mesmo quando obedecidas não garantem
que o objetivo da atividade será alcançado. Na capoeira, existem algumas regras
exaustivas, como a execução de habilidades motoras e no estímulo de competências
Sociais como a interação, a cooperação, dentre outras.
De acordo com PARRA (2002, p.209), “as regras do ensino podem, no melhor dos
casos, melhorar o próprio ensino, no sentido de torná-lo mais eficiente; mas elas não
podem eliminar, exaustivamente, a possibilidade de um fracasso”. Para estimar o peso
dessa afirmação, basta pensar nas inúmeras variáveis que atuam sobre o aluno e sobre
as quais nem o processo de ensino em geral, nem o professor em particular, dispõem de
poder absoluto de controle: nível socioeconômico-cultural, saúde física e mental, etc.
Na concepção de NÉRICI (1985), ensino é o processo que visa a modificação do
comportamento do indivíduo por intermédio da aprendizagem. Esse processo tem como
propósito, efetivar as intenções do conceito de educação, bem como de habilitar cada um
a orientar a sua própria aprendizagem, a ter iniciativa, a cultivar a auto-confiança , a
esforçar-se, a desenvolver a criatividade e a entrosar-se com seus semelhantes. A partir
dessa aprendizagem, o indivíduo estará preparado para participar da sociedade como
pessoa consciente, eficiente e responsável.
O ensino é o instrumento de que se utiliza a educação para alcançar seus fins,
uma vez que a educação necessita do ensino para efetivar-se. Daí, conclui-se que
educação e ensino se integram em um todo de interações e de operacionalidade.
5.3.6. Métodos e técnicas de ensino
O ensino deve partir da multidão de fatos, pessoas e objetos que o aluno conhece
na sua vida diária e sobre os quais manifesta interesse. Dessa forma, o indivíduo torna-
se capaz de compreender mais facilmente o que está distante de si, no espaço e no
tempo (HURTADO, 1983). Deve-se levar em consideração as aptidões e os interesses
individuais, procurando desenvolver as potencialidades de cada sujeito, através de uma
metodologia eficaz e responsável.
Continua o mesmo autor afirmando que metodologia de ensino “é o conjunto de
procedimentos didáticos, representados pelos seus métodos e técnicas de ensino, que
visam alcançar os objetivos do ensino e, conseqüentemente da educação, com o mínimo
de esforço e o máximo de rendimento” (HURTADO, 1983, p.34)
Consideram-se métodos de ensino, o conjunto de procedimentos lógica e
psicologicamente ordenados, de que se vale o professor para possibilitar o educando a
36
elaborar conhecimentos, adquirir técnicas ou habilidades e a incorporar atitudes e ideais.
Já as técnicas de ensino, são os procedimentos também lógica e psicologicamente
estruturados, destinados a dirigir a aprendizagem. Pode-se dizer que o método de ensino
se efetiva por meio das técnicas de ensino.
Na capoeira método de ensino consiste na forma de condução das aulas, sua
organização geral e os procedimentos metodológicos. Já a técnica, no ensino deste jogo,
se dá na forma de ensinar um movimento ou fundamento.
Segundo NERICI (1973), os métodos e técnicas de ensino para serem
conseqüentes e organizados, devem atender os seguintes princípios: ordenação,
adequação, eficiência, realidade psicológica, dificuldade, participação, espontaneidade,
transferência, reflexão e responsabilidade.
O princípio da Ordenação prevê a seqüência em que deve-se desenvolver os
trabalhos ou atividades, para que sejam mais facilmente aprendidos e assimilados pelo
estudante. Já o princípio da Adequação prevê o ajustamento das noções, tarefas e
objetivos que se pretende alcançar e as possibilidades e necessidades do aluno. No
princípio da Eficiência prioriza-se levar o educando a despender o mínimo de esforço
para alcançar o máximo de rendimento na aprendizagem. Outro princípio é o da
Realidade Psicológica que visa não perder de vista a idade evolutiva do educando, bem
como suas diferenças individuais. Este aspecto é fundamental ao serem projetadas as
atividades a serem realizadas. Para o princípio da Dificuldade, recomenda-se colocar o
educando em situações problemáticas e que exijam esforço para a sua solução. Já o
princípio da Participação prevê a condução do aluno a assumir uma atitude dinâmica nos
trabalhos escolares. É no princípio da Espontaneidade que o método ou técnica tem a
possibilidade de favorecer a criatividade e as manifestações desinibidas do educando. No
princípio da Transferência, o professor deverá pensar que todo ensino por métodos e
técnicas deve contribuir para uma assimilação de forma de comportamento útil para todas
as situações de vida e não só para as escolares. O princípio da Reflexão enfatiza a
preocupação básica do ensino que há de estimular o aluno a refletir. Finalmente, no
princípio da Responsabilidade proclama-se a necessidade de desenvolver no educando o
senso de responsabilidade profissional e social.
Assim, métodos e técnicas de ensino, de modo geral, devem ser instrumentos
para conduzir o aluno a criticar, pesquisar, julgar, concluir, correlacionar, diferenciar,
sintetizar, conceituar. Enfim, servir ao processo educacional de formação para a
cidadania. Neste contexto, favorecerá a reflexão do indivíduo de maneira organizada,
conduzir este para que seja agente da sua própria aprendizagem e não um receptor de
dados e de normas elaboradas por outrem.
37
Os métodos de ensino classificam-se em dois grupos: o de ensino individualizado
e de ensino socializado. O método de ensino individualizado consiste em dirigir-se
diretamente ao educando, procurando atendê-lo em suas reais condições de preparo,
motivação e possibilidades pessoais de estudo, objetivando fundamentalmente levar o
indivíduo a explicitar todas as suas possibilidades pessoais.
Segundo NÉRICI (1991), o método individualizado apresenta as seguintes
vantagens: o educando passa a ser o centro da ação didática; o ensino é adequado às
reais possibilidades de cada educando; o educando passa a trabalhar com o máximo de
liberdade, mas sob condições que permitam desenvolver o senso de responsabilidade;
possibilita a motivação; tem condições de atender às diferenças individuais; proporciona
o desenvolvimento da criatividade.
Já os métodos de ensino socializado, têm por objetivo principal a integração
social, o desenvolvimento da aptidão de trabalho em grupo e do sentimento comunitário e
o cultivo da atitude de respeito às pessoas, embora sem descuidar a individualização.
Entende-se como método de ensino socializado a prática escolar que visa:
fortalecer o espírito de grupo; levar o educando a coordenar seus esforços com os
demais colegas; socializar o educando, isto é, levá-lo a sentir a necessidade dos
objetivos do grupo que o conduzirá à moderação em suas exigências egoístas; favorecer
o apreço as necessidades coletivas acima das exigências individuais; levar o aluno a um
comportamento que o conduza a cooperar na ordem social.
Nesse método, o aluno se integra ao trabalho comum segundo as peculiaridades
e preferências, mas é levado a praticar, também, o que seja necessário para atender a
necessidades do grupo, desenvolvendo assim, a capacidade de solidariedade humana.
Ainda seguindo o pensamento de NÉRICI (1991), os principais métodos de ensino
individualizado são: o método de projetos; o plano Dalton; a técnica Winnetka; o ensino
por unidades; o ensino programado, dentre outros. O método de projetos tem por
finalidade levar o aluno a realizar, a agir. Trata-se pois, de determinar uma tarefa e pedir
ao aluno que faça. Outro método de ensino individualizado é o plano de Dalton que
baseia-se na atividade, individualidade e liberdade. O objetivo principal desta forma de
ensino é desenvolver a intelectualidade. Para tanto, cultiva também a iniciativa, uma vez
que esta liberdade permite que o aluno escolha seus trabalhos e o momento de realizá-
los. A técnica Winnetka procura conjugar as vantagens do trabalho individualizado com
as do trabalho coletivo sem desprezar as diferenças individuais. A doutrina deste método
se baseia em alguns princípios essenciais, com ênfase no respeito à personalidade do
educando. O método de ensino por unidades é dividido em partes que são de cunho
fortemente intelectual. Finalmente, o ensino programado representa mais uma tentativa
38
de individualizar o ensino, a fim de permitir que cada aluno trabalhe seguindo seu próprio
ritmo e possibilidades.
Consta na literatura que os métodos de ensino socializado são os seguintes: o
estudo em grupo; o método socializado-individualizante; o método da discussão; o
método de assembléia; o método do painel simples e outros. Os métodos de ensino em
grupo são baseados na dinâmica de grupo; dão ênfase à interação e cooperação dos
educandos. Esses métodos conduzem o aluno a enfrentar tarefas de estudo em conjunto,
em que subtarefas são repartidas entre seus membros, e os resultados aceitos depois de
discutidos entre todos. Já o método socializado–individualizante sintetiza o estudo em
grupo, considerado ótimo veículo de sociabilização. Já o estudo individualizado, é
eficiente para o educando tomar consciência de si mesmo e assumir atitudes pessoais
com relação ao que deseja sendo estudando ou realizando. No método da discussão os
educandos realizam trabalhos intelectuais de interação de conceitos, conhecimentos ou
informações, sem posições tomadas ou pontos de vista a defender. Para NÉRICI (1985),
o método da assembléia consiste em fazer os alunos estudarem um tema e discuti-lo,
como em um parlamento. O método requer um presidente, que pode ser o professor, e
oradores que apresentam pontos de vista distintos. Estes últimos serão ouvidos pelo
resto do grupo e depois discutidos por todos. Concluindo, o método do painel baseia-se
em reunião de várias pessoas especialistas ou bem informadas a respeito de
determinado assunto. Os especialistas expõem suas idéias diante de um auditório, de
maneira informal, mesmo patrocinando pontos de vista divergentes, mas sem atitude
polêmica.
Para HURTADO (1983), as técnicas de ensino representam maneiras particulares
de organizar as condições externas à aprendizagem. Estas têm a finalidade de provocar
as modificações comportamentais desejáveis no aluno. As técnicas de ensino
classificam-se em: técnicas de ensino individualizado e técnicas de ensino em grupo.
O atendimento às diferenças individuais é o fundamento das técnicas de ensino
individualizado. Estas técnicas buscam alcançar os seguintes objetivos: a) satisfazer as
necessidades e interesses do aluno; b) oportunizar o progresso individual de acordo com
o ritmo próprio do educando; c) desenvolver a iniciativa para a realização de atividades
variadas; d) permitir a participação ativa no processo de aprendizagem.
Nas técnicas de ensino em grupo, a ênfase é no aproveitamento das
possibilidades que o indivíduo traz de interagir com o outro. A atividade grupal só será
eficaz quando cada membro se preparar antecipadamente para isso, tanto que algumas
técnicas de ensino individual podem ser desenvolvidas em grupo. O fato de atendermos
39
às diferenças individuais habilita o indivíduo a ter melhores condições de participar
ativamente em grupo.
Os métodos e técnicas de ensino dever proporcionar oportunidades para que o
educando perceba, compare, selecione, classifique, defina, critique, que elabore os frutos
da sua aprendizagem.
5.3.7. Avaliação
Avaliar poderá ser uma proposta de sucesso, mas também de fracasso, pode
conduzir a resultados significativos ou não, pode defender ou ameaçar. Dessa
desafiadora concepção da avaliação resulta, como imprescindível, a capacitação de
educadores, líderes, dirigentes e profissionais, nos vários âmbitos disciplinares, para a
melhor utilização da avaliação. Mais especificamente, a formação do avaliador é um
desafio conseqüente para a avaliação deste século.
ELIZABETH VARJAL (2007) na sua palestra na Universidade Federal do
Pernambuco sobre Avaliação no Ensino Superior, refere-se à avaliação da seguinte
forma: “a avaliação aplicada ao ensino e às aprendizagens consiste em um processo
sistemático, rigoroso e contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos,
habilidades e atitudes dos alunos, de maneira que seja possível se dispor de informação
referente à situação desses sujeitos, para que seja possível a tomada de decisões
adequadas e prosseguir a atividade educativa, melhorando-a progressivamente”.
CASTRO (1972) foi pertinente em conceituar avaliação como um processo
sistemático, contínuo e integral, destinado a determinar até que ponto os objetivos
educacionais foram alcançados. Dessa forma, a avaliação deverá constatar se o aluno
atingiu ou não sua meta, ou seja, se assimilou o que lhe foi ensinado.
FALCÃO (1995) acredita que por ser o ensino um processo que tem em vista a
aquisição de conhecimentos e habilidades que impliquem a mudança de comportamento
de quem dele participa, encontra-se na avaliação um elemento fundamental desse
processo. É através da avaliação que se poderá verificar até que o ponto o ensino tem
alcançado os resultados pretendidos. Ao mesmo tempo, esta ação oferece subsídios
para a alteração do processo, quando os objetivos visados não são alcançados.
Analisando as propostas pedagógicas nacionais, verificou-se que a avaliação tem
constituído conteúdo fundamental e obrigatório nos programas de disciplina ou de ensino
de qualquer natureza. Pesquisas realizadas acerca do conteúdo atual da Didática
demonstraram que a avaliação é um dos grandes temas abordados pelos autores e
professores da área.
40
No que se refere a conceituar avaliação, alguns autores estabelecem a distinção
entre testar, medir e avaliar, tomando como critério a amplitude do significado de cada
termo. Entretanto testar e medir se restringe aos aspectos quantitativos, avaliar envolve a
verificação de mudanças qualitativas do comportamento do aluno (PILETTI, 1984).
Considerada como um processo que permite ao professor verificar se os objetivos
visados foram alcançados, a avaliação deverá, portanto, estar vinculada a esses
objetivos. Ao mesmo tempo, é tida como fonte de elementos para o planejamento das
novas etapas do processo de ensino ou para o replanejamento do processo que se
mostrar ineficiente para o alcance dos objetivos.
PILETTI (1984) analisa ainda o conceito de avaliação inferindo algumas
características do processo avaliativo:
A avaliação só terá sentido se os objetivos estiverem claramente definidos. Não é
possível avaliar se não tivermos estabelecido o que se pretende do aluno. Portanto,
dizemos que a avaliação é funcional, visto que se realiza em função dos objetivos;
A avaliação é um processo sistemático, isto é, não é improvisado e se insere num
sistema mais amplo, o sistema ensino-aprendizagem. Não é, portanto, uma fase
separada no processo ensino-aprendizagem, mas tem que estar inserida nesse processo
global;
A avaliação é contínua, não é algo que ocorre apenas no final de um período ou
semestre, mas deve ser algo acontecendo ao longo de todo o processo, proporcionando,
dessa forma, oportunidade de recuperação imediata quando houver bloqueios no
processo ensino-aprendizagem;
A avaliação é integral, ocupando-se do aluno como um todo. Julga aspectos
cognitivos, afetivos e psicomotores.
HURTADO (1983) preconiza três tipos de avaliação para que possa levar a bom
termo qualquer estratégia de aprendizagem para o domínio: avaliação somativa,
formativa e avaliação como diagnóstico.
A avaliação somativa é aquela que ocorre no final de um curso, de um semestre
ou de um espaço de tempo. Sua principal característica é a de ser realizada ao término
de um período, com a finalidade de proporcionar uma nota ou um conceito. Visa verificar
o produto de uma aprendizagem, o que resultou do trabalho do professor e do aluno.
Esse tipo de avaliação pouco pode fazer no sentido de corrigir as falhas do ensino e da
aprendizagem; seus resultados só poderão frutificar em cursos futuros.
Já a avaliação formativa é a que ocorre durante o processo ensino-aprendizagem,
neste caso, o professor poderá interagir com o aluno. Constitui-se, entre outros, de testes
e instrumentos rápidos de checagem, que são ministrados periodicamente, visando
41
verificar até que ponto a aprendizagem está realmente ocorrendo e em que condições.
Este tipo de avaliação dá ao professor um feedback contínuo acerca de seu ensino, da
mesma forma ao aluno, mostrando-lhe aspectos relativos a sua aprendizagem,
permitindo-lhe oportunidade de esforçar-se a fim de atingir o domínio esperado.
Na avaliação como diagnóstico, esse processo tem diferentes objetivos e é usada
em diferentes momentos do processo ensino-aprendizagem. Quando usada antes do
início do processo, pode servir para localizar o aluno no momento certo da partida num
curso ou numa unidade ensino, isto é, mede seu comportamento de entrada. Pode
ocorrer que o aluno não possua habilidades necessárias ao que vai ser ensinado e
precise adquiri-las antes de começar essa nova fase da aprendizagem.
A avaliação como diagnóstico, nesse primeiro momento, atende a dois propósitos.
O primeiro é de verificar os alunos que não possuem as habilidades pré-requisitos ao
assunto em foco; busca recuperar estas habilidades a fim de colocá-los em situação de
poder trabalhar no objetivo que se pretende. O segundo momento diz respeito a
verificação dos alunos que já alcançaram os objetivos do ensino a ser desenvolvido,
liberando-os dessa tarefa e permitindo-lhes, dessa forma, aprofundar o assunto ou
avançar para outros objetivos.
Esse tipo de avaliação também pode ser usada durante o processo de
aprendizagem. Quando, através da avaliação formativa, descobre-se que o aluno está
apresentando dificuldades, o professor proporciona-lhe recuperação, modificando suas
técnicas de ensino, usando material diferente, dando-lhe um tratamento individualizado.
Se mesmo com esses recursos o professor concluir que a recuperação não surtiu efeito,
nesse momento faz-se necessário uma avaliação diagnóstica, a fim de identificar as
causas das repetidas falhas da aprendizagem. As causas podem não estar ligadas aos
métodos usados pelo professor, mas a problemas na natureza física, emocional, social e
cultural. Nesse caso, a avaliação diagnóstica poderá extrapolar a esfera de ação do
professor e solicitar a cooperação de outros especialistas como médicos, orientadores
educacionais, psicólogos, etc.
É importante que a forma de avaliação seja escolhida de acordo com os objetivos
que se deseja atingir. Também é fundamental que se ofereça ao aluno, oportunidades
diversas de mostrar seu desempenho, evidentemente evitando fazer no processo de
ensino, um mecanismo de só aplicar instrumentos de avaliação.
42
6. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Neste capítulo abordaremos os procedimentos metodológicos utilizados durante
esta pesquisa.
6.1. Delineamento da Pesquisa
Foi realizada uma Pesquisa do tipo participante nas escolas de capoeira de Porto
Velho. Este tipo de investigação justificou-se por atender as finalidades da pesquisa que
foi analisar e interpretar o fenômeno, a partir da convivência direta da pesquisadora com
os indivíduos do estudo, em convivência com o fenômeno investigado. Na fase de
observação foi possível assistir a seis aulas de capoeira por escola, distribuídos em duas
turmas distintas, três aulas em cada turma. Ao todo pôde-se somar quarenta e duas
horas aproximadamente de observação e participação. A intenção principal da
observação foi verificar as intenções sócio-educacionais dos ministrantes de capoeira,
denominados Professores e/ou Mestres3. Para a obtenção de dados, além da observação
e conversas informais, foi utilizado 1 (um) formulário composto de quatro perguntas
referentes a formações dos ministrantes, ao relacionamento com os alunos, aos métodos
e técnicas que utilizam em suas aulas e avaliações (anexo 1). Os indivíduos que fizeram
parte da amostra, responderam ao formulário em seus respectivos locais de treinamento
antes do início ou ao término das aulas e rodas de capoeira4.
A observação foi do tipo assistemática. Constou de sete semanas: uma semana
para cada escola. Em maioria, as escolas dividem suas turmas com treinos três vezes na
semana: segundas e quartas-feira desenvolvem as aulas e sextas-feira realizam as rodas
de capoeira; ou terças e quintas-feira as aulas e sábados as rodas. Constituiu-se a
amostra desta pesquisa, escolas consideradas tradicionais na cidade de Porto Velho-RO.
Foram selecionadas sete escolas, conforme aponta a figura 1, totalizando um
atendimento em torno de 183 (cento e oitenta e três) alunos.
3 Na capoeira adota-se a nomenclatura “mestre” diferente do âmbito acadêmico. Entende-se por mestre
aquele indivíduo que já possui vasta vivência dedicada ao ensino da capoeira. 4 Nas aulas (também denominados treinos), os ministrantes ensinam os movimentos considerando-se os
processos pedagógicos: movimentos separados e em pequenas seqüências. Já nas rodas, acontece jogo
propriamente dito.
43
Figura 1: Grupos de Capoeira Investigados
Número do Grupo e
dos sujeitos
investigados
Número de aulas
observadas
Média de alunos que
participaram das
aulas
Dias de aulas
01 6 32 2ª, 4ª e 6ª feira
02 6 11 3ª, 5ª e sábado
03 7 48 2ª, 4ª e 6ª feira
04 5 25 2ª, 4ª e 6ª feira
05 7 29 2ª, 4ª e 6ª feira
06 6 17 3ª, 5ª e sábado
07 6 21 2ª, 4ª e 6ª feira
44
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este item do trabalho está organizado em vários sub-itens, de acordo com as
variáveis a serem analisadas.
7.1. Dados de identificação dos Professores e Mestres de Capoeira
Com relação a formação dos professores, os sujeitos de número 02, 03 e 04 têm
formação acadêmica superior em Educação Física; três deles, os de número 01, 06 e 07
estão engajados na capoeira há mais de dez anos. O informante de número 06 possui
graduação de professor desta atividade e os de números 01 e 07 de mestre de capoeira.
O terceiro sujeito com formação superior possui titulação de mestre de capoeira há mais
de trinta anos (ver figura 2). Em comentário quase unânime, professores e mestres
afirmam que a formação acadêmica em Educação Física é o que falta para se fazer um
trabalho mais consciente envolvendo o ensino da capoeira voltada para formação de
cidadãos esclarecidos, críticos, conhecedores dos seus direitos e de seus limites.
Somente um dos indivíduos participantes do estudo é professor de capoeira há
onze anos e está concluindo curso superior em Educação Física; trata-se do indivíduo de
número 05. Em análise ao seu trabalho, este expõe em conversa informal que sua forma
de ministrar as aulas vem gradativamente avançando nos últimos anos. Segundo o
mesmo, este progresso é atribuído, ao conhecimento que tem adquirido no meio
universitário. Por outro lado, acredita ainda, que sua vivência na capoeira é muito
importante no seu aprendizado no meio acadêmico. Em análise a esta questão, deduz-se
que trata-se da união do conhecimento adquirido através de seus mestres na capoeira,
com a didática ensinada na universidade. O resultado dessa união é importante na
qualificação profissional e contribui para a evolução do ensino da capoeira.
No que se refere aos ministrantes 01, 06, e 07, dois deles (01 e 07), são
considerados mestres de capoeira e o de número 06, apresenta-se como professor de
capoeira; nenhum deles possuem formação acadêmica Superior. Ainda que sem esta
formação acadêmica, estes trazem consigo algumas décadas de experiência no ensino
da capoeira na cidade de Porto Velho-RO.
45
Figura 2: Dados de identificação dos informantes
INFORMANTES FORMAÇÃO
ACADÊMICA
FORMAÇÃO
PROFISSIONAL
FORMAÇÃO NA
CAPOEIRA
TEMPO DE
EXPERIÊNCIA
COM O ENSINO DA
CAPOEIRA
1 Ensino
Fundamental
incompleto
Não
identificado
Mestre + de 20 anos
2 Ensino Superior Professor de
Educação
Física
Mestre + de 16 anos
3 Ensino Superior Professor de
Educação
Física
Mestre + de 30 anos
4 Ensino Superior Professor de
Educação
Física
Professor + de 10 anos
5 Ensino Superior
incompleto
Acadêmico de
Educação
Física
Professor 11 anos
6 Ensino
Fundamental
Não
identificado
Professor 15 anos
7 Ensino
Fundamental
Não
identificado
Mestre 27 anos
No passado foi comum a presença de profissionais no ensino da capoeira que
possuíam somente conhecimento prático. Atualmente, observa-se através dos dados
levantados que alguns profissionais da cidade de Porto Velho-RO estão buscando
formação Superior. Esta preocupação com a formação acadêmica talvez se dê pela
concorrência em que vivemos neste mundo globalizado, onde só sobrevivem os mais
bem preparados.
46
7.2. Relação Professor-aluno
Na questão que trata do relacionamento com os alunos, todos os participantes do
estudo dizem que seus relacionamentos com os alunos é positivo. Palavras como
respeito, disciplina e reciprocidade foram constantemente salientadas. No formulário
observou-se que as respostas dos informantes são breves e objetivas.
A partir das observações e conversas informais sobre a questão do
relacionamento professor-aluno, constatou-se que os ministrantes de capoeira
investigados atuam de forma prática para criar um bom relacionamento com os
educandos. Entretanto, na prática a maioria dos informantes, apresenta uma relação
autoritária que lembra a teoria da escola tradicional, exceto um deles, o indivíduo número
05. Este demonstrou atuação didático-pedagógica com características que se identificam
com a teoria da escola nova. No primeiro caso, esse entendimento teve como base o que
foi observado: o professor fala e o aluno ouve atentamente sem interrupções. Em
Qualquer manifestação do aluno nesse momento, o mesmo é advertido grosseiramente
podendo até ser retirado da aula. No segundo caso, a relação entre as partes é mais
democrática. O aluno interage com o professor tanto nas aulas quanto nas rodas de
capoeira. Neste caso, confirma-se a literatura que trata a aproximação do professor ao
aluno como eficiente controle sobre o comportamento do segundo. No período de
observação, constatou-se que as potencialidades da capoeira poderiam ser mais
exploradas para a criação de situações que pudessem fortalecer a relação professor-
aluno. O vínculo professor-aluno pode ser um dos fatores decisivos pelo processo
educativo na capoeira. De acordo com a literatura consultada, considera-se esse vínculo
como um ato psicossocial, de que uma pessoa influencia outra com suas idéias,
ideologias e valores.
Dos dados levantados, verificou-se uma falta de coerência entre o que os
ministrantes responderam no formulário e as suas práticas. Observou-se, de modo geral,
que o ambiente não é propício para estimular a interação e a troca de experiências
professor-aluno conforme sugere a literatura consultada. A relação professor-aluno é uma
condicionante importante no processo pedagógico, pois quanto mais o professor
favorecer a interação entre ambos, maior será o êxito no ensino e na aprendizagem.
7.3. Métodos e técnicas de ensino
Na questão dos métodos e técnicas de ensino, os indivíduos encontraram uma
grande dificuldade em expor a forma que trabalham, tanto ao responderem ao formulário
47
como nas conversas informais. Para alguns “isso é coisa de futebol”. Nas observações
constatou-se que os professores ensinam o mesmo movimento ao grupo como um todo.
Os alunos, por sua vez, executavam esses movimentos, um de cada vez e o professor
vai corrigindo enquanto os outros observam. Em outro momento o ministrante divide a
turma em pequenos grupos, solicita que criem uma seqüência de golpes que deverá ser
apresentada ao resto da turma depois de alguns minutos de treino, O tempo da tarefa é
determinado pelo ministrante. A metodologia utilizada pelos ministrantes lembra a matriz
comportamental. Essa teoria caracteriza-se pelo processo de estímulo-resposta; o
professor mostra o movimento e cabe ao aluno repetir fielmente o estímulo. Dos sete
entrevistados, observou-se que seis utilizam o método socializado e técnicas de ensino
em grupo e somente um deles, o informante nº 2, trabalha com métodos e técnicas
individualizadas. Este ultimo informante não aglomera vários alunos na mesma aula. Nas
observações, constatou-se que o informante dividiu os onze alunos em duas turmas. Em
seguida, ensinava-os cada um afastado do outro, que, executavam movimentos distintos.
Observando as aulas e as rodas de capoeira sob a orientação destes
profissionais, foi possível constatar uma grande diferença nas técnicas utilizadas entre
eles. Os sujeitos com formação superior trabalham as aulas de forma criativa e lúdica,
mais voltada para a individualidade biológica de cada aluno. Apesar da característica
tradicional dos ministrantes de números 02, 03, 04 e 05, observou-se que durante as
aulas ocorreram algumas brincadeiras: o professor mostrava o movimento; escolhia de
olhos fechados o aluno a realizar o movimento que, independente do resultado era
sempre elogiado com palmas. Nessas aulas, os alunos que encontravam dificuldades
relevantes, se mantinham motivados e esforçados e mesmo não dominando muito bem
as habilidades que os movimentos exigem, entravam nas rodas. Por outro lado, os
indivíduos sem formação superior, os de números 01, 06 e 07, apesar de utilizarem
técnicas de grupo, seus treinos aconteceram de forma mecanizada. Neste caso, o
professor fala sobre o movimento e/ou seqüência e os alunos repetem o que foi
ensinado. Verificou-se também nas observações e nas respostas ao formulário, que a
metodologia utilizada por esses ministrantes, vai de encontro com a literatura quando
refere-se às técnicas como procedimentos estruturados, destinados a dirigir a
aprendizagem. De modo geral, os métodos e técnicas de ensino devem ser instrumentos
para conduzir o aluno a criticar, julgar, concluir, favorecer a reflexão do indivíduo de
maneira organizada, dentre outras.
48
7.4. Avaliação
Sobre a avaliação, verificou-se no formulário, unanimidade nas respostas dos
informantes. Todos os ministrantes afirmaram utilizar a avaliação formativa,
principalmente nas rodas de capoeira que ocorrem freqüentemente. Argumentou-se que
no momento da roda é detectado o progresso e as dificuldades de cada aluno.
Observando as aulas, constatou-se que os alunos são avaliados simultaneamente e
constantemente. A orientação dos ministrantes aos alunos se dava de forma individual;
parava-se a roda, os ministrantes mostravam o movimento e explicavam a execução e
em que momento este movimento pode ser utilizado. Os professores 03 e 04 avaliaram
seus alunos, em seguida os motivaram a executar a atividade mais uma vez, no caso dos
insucessos na execução das atividades.
Os indivíduos 1 e 3, ao finalizarem os treinos, realizaram uma roda e os alunos
eram instruídos a executarem os movimentos e seqüências ensinadas no treino. Desta
forma os ministrantes, se necessário, revêem suas técnicas para facilitar a aprendizagem
dos alunos.
Quanto à importância da avaliação, todos os indivíduos investigados reconhecem
a relevância deste instrumento em suas metodologias. Reconhecem que é através dela
que selecionam os alunos considerados aptos para serem graduados ou evoluir no nível
da graduação. Por outro lado, verificou-se na observação, que no processo de avaliação
não ocorreu interação entre aluno e professor, ocasionando a desistência de alguns
alunos em realizarem a atividade. Dessa forma, acredita-se que o objetivo da avaliação
formativa, que é dar um feedback contínuo em relação ao ensino e aprendizagem do
aluno, não foi alcançado em alguns casos.
Constatou-se que em geral, os professores e mestres avaliam seus alunos no
momento da roda. Estas rodas de capoeira, durante as etapas de observação da
pesquisa, ocorreram depois dos treinos ou no terceiro dia de aula da semana. Nas aulas
ministradas nas segundas, quartas e sextas-feiras. Nas escolas que os treinos são nas
terças, quintas-feiras e sábado, as rodas são no sábado. A avaliação foi realizada sem os
alunos se pronunciarem.
Verificou-se também que a avaliação se dá de forma unilateral; só ocorre para
avaliar o aluno. Em nenhum momento ficou esclarecido que a avaliação seria utilizada
para analisar o ensino destes professores e mestres.
A avaliação que os ministrantes se referiram e a que foi observada, se referem ao
aprendizado dos fundamentos (golpes e movimentos): repertório de movimentos e
habilidades físicas do capoeirista
49
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da importância deste estudo, faz-se necessário realizar algumas
considerações que giram em torno evolução da capoeira. A mesma apresenta-se
atualmente como um fenômeno histórico-sócio-cultural, que surgiu no bojo desumano da
escravidão no Brasil, em permanente construção, desenvolvimento e re-significação. A
capoeira vive um momento histórico ímpar de maior inserção social, tanto em âmbito
global, como local, devido a ações organizadas por seus precursores influenciados por
fatores de ordem social, política e econômica. Foram esses precursores que trouxeram a
capoeira fortalecida até os dias atuais. Daí, nosso respeito e admiração a estes
indivíduos que independente de sua formação contribuíram e ainda contribuem para a
manutenção desta arte genuinamente brasileira.
O presente estudo procurou descobrir os pressupostos educacionais de ensino
dos professores e mestres de capoeira da cidade de Porto Velho. Tem a intenção
principal de contribuir no desenvolvimento e aprimoramento constante da capoeira.
Espera-se que este trabalho, potencialize a organização de eventos diversos para que
estimulando a produção de conhecimentos sobre o ensino da capoeira e, de modo geral,
que se busque alternativas para o uso de todas as potencialidades sócio educativas
desta luta.
Ao conhecer a formação dos indivíduos que fizeram parte da amostra e o
desenvolvimento de seus trabalhos, verificou-se que existe uma gama de fatores
diferenciadores das atividades destes que nos leva fazer algumas observações. O
primeiro deles, refere-se ao comportamento dos ministrantes diante dos alunos. Os
professores com formação superior foram mais atentos quanto à motivação de seus
alunos. Em contrapartida, os sujeitos sem formação superior conduziram seus treinos em
meio ao silêncio de todos os alunos, que repetiam o que o professor ensinava. Dessa
forma os alunos pareciam tão somente, indivíduos a serem ensinados. Os indivíduos com
formação superior introduziram algumas Atividades lúdicas no desenvolvimento dos
treinos. Assim, nessas aulas os alunos mostravam-se mais alegres. Por outro lado, os
ministrantes que não possuem formação superior começavam suas aulas sem muito
diálogo; professor fala e o aluno executa. Esses fatores nos levam crer que, diante a
evolução de todas as áreas do conhecimento, é natural que o ensino da capoeira exija
uma melhor qualificação profissional do professores e mestres de capoeira.
Quanto à relação professor-aluno, constatou-se que predomina um
comportamento hierarquizado entre as partes, apesar do não reconhecimento deste fato
por parte dos informantes. Observou-se em conversas informais, que é do conhecimento
50
da maioria dos professores a fundamental importância no processo de ensino-
aprendizagem um bom relacionamento com o aluno.
Em relação aos métodos e técnicas de ensino, a maioria dos ministrantes
demonstraram através da prática que utilizam métodos socializados e técnicas de ensino
em grupo. Entretanto, nas respostas ao formulário os ministrantes que não possuem
formação superior, demonstraram desconhecimento sobre o que são métodos e técnicas
de ensino, visto a analogia feita ao futebol. Já os indivíduos com formação superior,
apesar de utilizarem métodos e técnicas de ensino considerados mais indicados,
observou-se que demonstraram pouco conhecimento teórico referente aos métodos e
técnicas de ensino.
Na questão da avaliação, deram a entender que só existe uma forma de avaliar
um capoeirista, que é através da roda de capoeira. Por outro lado, verificou-se que este
instrumento didático-pedagógico é aplicado de forma unilateral: avaliam apenas o aluno e
não a forma que estão ensinando. Apesar dos ministrantes utilizarem a avaliação
formativa, esta por sua vez, não cumpriu o seu papel que, de acordo com a teoria a
avaliação é o elemento fundamental da aquisição de conhecimentos e habilidades que
impliquem na mudança de comportamento. Através das observações percebeu-se que o
tipo de avaliação é formativa, sempre ocorreu periodicamente e durante as rodas, mas,
nem sempre ocorreu a interação do professor com o aluno, como sugere a literatura.
Embora alguns profissionais apresentam muitos anos de vivências e experiências,
faz-se necessário uma qualificação a nível de ensino superior dos profissionais para um
melhor aproveitamento desta arte genuinamente brasileira, no processo educacional de
formação para a cidadania.
Finalmente, conclui-se que comprometimento educacional dos professores de
capoeira de Porto Velho ainda é deficiente. Esta reflexão se dá na medida que em
nenhum momento da observação, esses profissionais mostraram-se preocupados em
formar cidadãos críticos e autônomos. Atualmente a sociedade está presenciando
através de relatos de experiências divulgados na literatura a eficácia de métodos de
ensino voltados para o lúdico e a prática dialogal, que no seu novo modelo de vivência
social, leva esta sociedade à novas experiências vividas e incentivadas pelos indivíduos
nela inseridos.
51
9. REFERÊNCIAS
ABRAMOWICZ, Mere. Participação e avaliação em uma sociedade democrática
multicultural. Séries Idéias n.22. São Paulo:FDE, 1994.
ALMEIDA, Guido de. O professor que não ensina. São Paulo: Summus, 1986.
ARAÚJO, Paulo Coelho de. O Revivalismo Africano e suas implicações para a
prática da Capoeira. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. Ano I, n.1,
p.107-116, 2002.
AVALIAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR. Elizabeth Varjal. Palestra apresentada na
Universidade Federal do Pernambuco, 2007.
BARBANTE, Valdir. Dicionário de Educação Física e Esportes. Manole, 1994.
BARBARIERI, Cesar Augusto S. (org.).Esporte Educacional: uma proposta renovada.
ESEF-UPE, Pernambuco, v.11, n.1, p.98-102, 1996.
BOLA SETE, Mestre. A capoeira Angola na Bahia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Pallas, 1997.
BRASILEIRO, Tânia Suely Azevedo. La Formación Superior de Magisterio. Uma
experiência piloto em La Amazonia Brasileña. Tese de Doutorado. Tarragona, 2002.
BRITO, Mary Therezinha Paz. Qualidade em Educação: uma questão de consciência
crítica. Educar. Curitiba, n. 9, p. 81-89, 1993.
CARNEIRO, Édison. “Capoeira”. Cadernos de folclore 1. Rio de Janeiro: Funarte/MEC,
1975.
CASCUDO, Luiz da Câmara. Folclore do Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fundo de
Cultura, 1967.
CASTRO, Amélia Domingues et all. Didática para a Escola de 1º e 2º graus. São Paulo:
Edibell, 1972.
CASTRO JÚNIOR, Luís Vitor. O ensino da Capoeira: por uma prática Nagô. Revista
Brasileira de Ciências do Esporte. Campinas, v. 23, n. 2, p. 89-103, jan.2002.
52
COSTA, Lamartine Pereira da (Org.). Atlas do Esporte no Brasil. São Paulo: Shape,
2005.
DECÂNIO FILHO, Ângelo Augusto, A importância do transe capoeirano no jogo de
capoeira da Bahia. Disponível em:
<http://www.planta.terra.com.br./esporte/capoeiradabahia>. Acesso em 20/07/2007.
FACHARDO, Ana Maria; GRECO, Pablo Juan. Treinamento mental como forma de
controle da emoção negativa na capoeira. Revista Mineira de Educação Física,
Viçosa, v.5,n.1,p.5-16, 1997.
FALCÃO, José Luiz Cirqueira. O processo de escolarização da capoeira no Brasil.
Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 16, n. 3, p. 173-182, 1995.
________. O jogo da Capoeira em jogo. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.
27, n. 2, p. 59-74, jan.2006.
________. Publicações sobre Capoeira: abordagens e tendências. Salvador: UFBA,
2007.
FEITOSA, Wallacy Milton do Nascimento. As Competências específicas do
profissional de Educação Física: um estudo Delphi. Dissertação de Mestrado da
Universidade Federal de Santa Catarina, 2002.
FREITAS, Jorge luiz de. Capoeira Infantil: a arte de brincar com o próprio corpo.
Curitba, 1997.
FONTOURA, Adriana Raquel Ritter. História da Capoeira. Revista da Educação
Física/UEM, Maringá, v. 13, n. 2, p. 141-150, 2.sem. 2002.
GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia Crítica: alternativas de mudança. 50ª ed. Porto
Alegre: EDIPUCCS, 2002.
HILDEBRANDT-STRAMANN, Reiner. Textos Pedagógicos sobre o ensino da
Educação Física. Ijuí: UNIJUÍ, 2001.
________. Experiência: uma categoria central na teoria didática das aulas abertas.
HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora. Série Idéias.São Paulo: FDE,
n. 22, 1994.
53
HURTADO, Johann G.G. Melchers. O Ensino da Educação Física: uma abordagem
didática. 2ª ed. Curitiba:Educa/Editer, 1983.
JÚNIOR, Paulo Gonçalves. Capoeira na formação do esquema corporal do portador
de necessidades especiais. Revista Baiana de Educação Física,v. 2, n. 2, 2001.
KASSAB, Álvaro. Capoeira e outras trdições rebeldes. Campinas: UNICAMP, 2007.
MACEDO, Lino de. Para uma avaliação construtivista. Escola em Movimento. São
Paulo: SE/CENP,1994.
MARTINS, Paula Lúcia Oliver. Didática Teórica/Didática Prática: para além do
confronto. 4ª ed. São Paulo: Loyola, 1995.
MASINI, Elcie Aparecida Fortes Salzano. Uma experiência de inclusão – providências,
viabilização e resultados. Educar, Curitiba, n. 23, p. 29-43, 2004.
MUSIS, Carlo Ralph de. Educação, Emancipação e Sensus Communis. Diálogo Educ.
Curitiba, v.7, n.22, p.175-182, set/dez.2007.
NÉRICI, Imídeo G. Educação e Ensino. São Paulo: IBASA, 1985.
________. Metodologia do ensino superior. 2ª ed. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, p.
205.1973.
________. Introdução a Didática Geral. 16ª ed. São Paulo:Atlas, 1991.
OLIVEIRA, Amauri A. Bássoli de. Metodologias Emergentes no ensino da Educação
física. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 1, n. 8, p. 21-27, 1997.
PARRA, Nélio. Caminhos do Ensino. São Paulo: Thomson, 2002.
PÉREZ, Luis Miguel Ruiz. Aprender a ser incompetente em educación física: um
enfoque psicosocial. Educación Física y Deportes, 2004.
PILETTI, Cláudio. Didática Geral. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1984.
RAMOS DE OLIVEIRA, Zilma de Moraes. Avaliação da aprendizagem e progressão
continuada: bases para a construção de uma nova escola. Revista de Estudos e
Avaliação Educacional. São Paulo: Fundação Carlos Chagas, jul./dez., 1998.
54
REGO, Valdeloir. Capoeira Angola: ensaio sócio-etnográfico. Salvador: Itapoá, 1968.
Revista Brasileira de Ciências do esporte, Maringá, v.14, n. 3, p. 140-145, 1993.
REIS FILHO, Casemiro dos. A Educação e a Ilusão Liberal: origens da escola pública
paulista. Campinas: Autores Associados, 1995.
SAMULSKI, Dietmar Martin. Psicologia do Esporte. São Paulo: Manole, 2002.
TOSI, Maria Raineldes. Didática Geral: um olhar para o futuro. Campinas: Alínea, 2003.
VASSALO, Simone Ponde. Resistência ou Conflito? O legado folclorista nas atuais
representações do Jogo da Capoeira. Campos, 7(1):71-82, 2006.
VAZ, Alexandre Fernadez; MWEWA, Muleka. Coerpos, Cuçtura, Paradoxos:
observações sobre o jogo da capoeira. Revista Brasileira de Ciências do Esporte,
Campinas, v. 27, n. 2, p. 45-58, jen. 2006.
VEIGA, Ilma Passos Alencastro (coord.). Repensando a Didática. 12ª ed. Campinas:
Papirus, 1996.
VIEIRA, Luiz Renato. O jogo da capoeira: Corpo e Cultura Popular no Brasil. Rio de
Janeiro: Sprint, p. 189, 1995.
55
ANEXOS
56
Formulário para coleta de dados que será utilizada na pesquisa de Trabalho de Conclusão
de Curso de Elizangela Matias de Souza, acadêmica do Curso de Educação Física da
Universidade Federal de Rondônia .
E-mail: [email protected]
ACADEMIA (A) PROFESSOR (1)
1. Qual sua formação?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
2. Como você descreve seu relacionamento com os alunos? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. De que forma suas aulas são desenvolvidas, isto é, quais os métodos e técnicas mais utilizadas? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
4. De que forma os alunos são avaliados? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5. Qual a sua opinião sobre a importância da avaliação? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________