comprometimento educacional dos professores de capoeira

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COMPROMETIMENTO EDUCACIONAL DOS PROFESSORES DE CAPOEIRA DE PORTO VELHO-RO Autora: ELIZANGELA MATIAS DE SOUZA Orientadora: Profª.Dra. IVETE DE AQUINO FREIRE Monografia apresentada ao curso de Educação Física do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia, para obtenção do título de Graduada em Licenciatura em Educação Física Porto Velho Rondônia 2008

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COMPROMETIMENTO EDUCACIONAL DOS PROFESSORES DE CAPOEIRA DE

PORTO VELHO-RO

Autora: ELIZANGELA MATIAS DE SOUZA

Orientadora: Profª.Dra. IVETE DE AQUINO FREIRE

Monografia apresentada ao curso de

Educação Física do Núcleo de Saúde da

Universidade Federal de Rondônia, para

obtenção do título de Graduada em

Licenciatura em Educação Física

Porto Velho – Rondônia

2008

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Data da Defesa:______/______/______.

BANCA EXAMINADORA

Prof.___________________________________________________________________

Julgamento: ________________ Assinatura: ________________________________

Prof.___________________________________________________________________

Julgamento: ________________ Assinatura: ________________________________

Prof.___________________________________________________________________

Julgamento: ________________ Assinatura: ________________________________

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DEDICATÓRIA

À minha dedicada mãe, que com a

firmeza de uma rocha e sem medir

esforços, me conduziu neste caminho; ao

meu querido filho, que suportou minha

ausência por todo período acadêmico e ao

meu compreensivo esposo, que com

carinho me ajudou a ter forças para chegar

aqui.

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“Não há fera tão violenta, que não conheça

o toque da piedade”.

Elizangela Matias, 2001.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela minha vida, saúde e oportunidade que tem

me presenteado, mesmo sem minha devida dedicação espiritual.

A minha amada família, que é meu alicerce, obrigada pela cumplicidade de todos

os momentos, sem o qual não seria possível a realização deste projeto de vida.

A professora e orientadora Dra. Ivete de Aquino Freire, pela paciência e empenho

durante todo o tempo da orientação deste estudo, pelo conhecimento teórico e prático.

A todos os professores que passaram pela minha vida, que orientaram meu

desenvolvimento e me mostraram o caminho a ser seguido.

Ao amigo e professor Ms. Luis Gonzaga de Oliveira Gonçalves, que me ajudou

diretamente na obtenção de dados e disponibilidade de material tecnológico para a

realização deste trabalho.

Ao meu amigo e orientador de estágio externo professor Armstrong Hércules, por

haver confiado em mim, por seu conhecimento e grande experiência.

As minhas amigas: Paola Patrícia, Juliana Nunes, Maria Islane e Luciana Oliveira,

pela amizade e apoio incondicional.

A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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SUMÁRIO

Resumo..............................................................................................................................viii

Abstract...............................................................................................................................ix

Lista de Figuras....................................................................................................................x

1. INTRODUÇÃO.................................................................................................................7

2. QUESTÕES DE PERSQUISA.........................................................................................9

3. JUSTIFICATIVA.............................................................................................................10

4. OBJETIVOS...................................................................................................................12

5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.....................................................................................13

5.1. Origens e Definições...................................................................................................13

5.2. Fundamentos..............................................................................................................17

5.2.1. Movimentos Defensivos...........................................................................................17

5.2.2. Movimentos Desequilibrantes..................................................................................17

5.2.3. Golpes......................................................................................................................18

5.3. Pressupostos Educacionais........................................................................................19

5.3.1. Educação.................................................................................................................19

5.3.2. Relação entre Capoeira e Educação.......................................................................20

5.3.3. Relação professor-aluno..........................................................................................22

5.3.4. Motivação da Aprendizagem....................................................................................23

5.3.5. Ensino......................................................................................................................24

5.3.6. Métodos e Técnicas de Ensino................................................................................25

5.3.7. Avaliação..................................................................................................................29

6. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS.................................................................................32

6.1. Delineamento da Pesquisa.........................................................................................32

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO.....................................................................................34

7.1 Dados de Identificação dos Professores e Mestres de Capoeira................................34

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7.2. Relação professor-aluno.............................................................................................35

7.3. Métodos e Técnicas de Ensino...................................................................................36

7.4. Avaliação.....................................................................................................................37

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................39

9. REFERÊNCIAS..............................................................................................................41

ANEXOS............................................................................................................................45

Anexo I – Formulário..........................................................................................................46

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RESUMO

Ao considerar a grande importância do ensino da capoeira em relação a sua

história e como ferramenta utilizada na área da educação, esta pesquisa procurou

descobrir os pressupostos educacionais de ensino dos professores e mestres de

capoeira da cidade de Porto Velho-RO. Para tanto, se fez necessário adotar a pesquisa

participante juntamente com a utilização de um formulário. A população amostra foi

composta por 07 (sete) profissionais da capoeira que foram acompanhados em seus

respectivos locais de trabalho, antes ou depois das aulas. Foi possível verificar, de

acordo com as observações e as respostas ao formulário, que embora alguns

profissionais apresentem muitos anos de vivências e experiências, faz-se necessário uma

qualificação em nível de ensino superior dos profissionais para um melhor

aproveitamento desta arte genuinamente brasileira, no processo educacional de

formação para a cidadania.

Palavras-Chave: Capoeira, pressupostos educacionais, mestres.

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ABSTRACT

On considering the one ample amount of money from

the I school from the capoeira in relation to your history AND as a tool used in the area

from the education , this research had sought bare the assumptions educational as of I

school of the professors AND gurus as of capoeira from the citty as of Harbor Old man

RO. About to so much , in case that has made required adotar the search attendee along

with the use of um formulário. The population merchandise he went built up from By 07 (

seven ) business people from the capoeira than it is to have been accompanied well into

your respective sites as of I work , heretofore or afterward of the lessons. He went feasible

check , according to the observations AND the answers to the formulário , than it is to in

spite of a few business people I presented a great many years as of vivências AND

experiences , he does - if desired a qualification well into class as of higher education of

the business people for improved aproveitamento of this art genuinely Brazilian , in the

process educational as of formation for the citizenship.

Keywords: Capoeira , assumptions educational , gurus.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Grupos de Capoeira Investigados....................................................................33

Figura 2 – Dados de investigação dos Informantes...........................................................35

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1. INTRODUÇÃO

Há um fatídico debate envolvendo a origem da Capoeira. Sabe-se que no século

XIX ela passou por um período fortemente escravista, com população africana muito

grande. Sua origem está no século XVIII, nos primórdios da sociedade urbana, visto que

até o século XVII a população escrava era quase toda indígena. Diante das divergentes

explicações quanto sua origem, acredita-se que este jogo foi criado e desenvolvido no

Brasil, resultado da mistura entre negros, índios e brancos. Estes formavam a classe

oprimida da época colonial e em algum lugar entre as senzalas, quilombos e centros

urbanos manifestavam esta cultura.

ARAÚJO (2002) expõe que no contexto social da capoeira no Brasil, alguns

condicionantes concorreram para a transformação dessa expressão em ato e natureza

lúdica nas últimas décadas. Dentre esses condicionantes, identifica-se como principais:

1) o significado do termo jogo, para o contexto da luta brasileira; 2) o nacionalismo; 3) os

instrumentos propiciadores para a sua transformação em ato lúdico; 4) a repressão

jurídica policial contra a capoeira e os capoeiristas no curso da história e suas

adaptações; 5) o revivalismo das práticas ancestrais africanas pelos negros forros no

Brasil em quaisquer dos seus períodos históricos.

Em sua trajetória, a capoeira concentrou-se mais nos grandes centros como: Rio

de Janeiro, Recife, Minas Gerais e São Paulo com maior número de adeptos, mas, foi em

salvador que esta arte encontrou grande expressividade, talvez seja fruto dos

ensinamentos dos grandes ícones da capoeira como Mestre Pastinha e Mestre Bimba. O

primeiro foi o maior disseminador da capoeira Angola. Já Mestre Bimba, o criador da

Capoeira Regional.

Essa cultura chegou a Rondônia na década de 1970 e foi bem aceita no contexto

social local. Através de conversas informais com capoeiristas de vivência relevante,

verificou-se que esta atividade já foi desrespeitada até por quem a praticava.

Conseqüência disso criou-se uma imagem negativa frente à sociedade, diante da

rebeldia, rivalidades dos grupos de capoeira e descontrole de alguns mestres. Desta

forma, julgavam-na indigna de ser praticada por cidadãos de bem. Estes dados indicam

que no Estado de Rondônia, esta atividade foi mal explorada inicialmente.

Grandes grupos de capoeira se formaram na década de 90. Entretanto, alguns

não conseguiram vencer as barreiras impostas pelo preconceito, e aqueles que

sobreviveram, estão atualmente disseminando a capoeira à grande parte da sociedade.

Em Porto Velho, há cerca de 90 profissionais vinculados à Confederação Brasileira de

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Capoeira (COSTA, 2005). Não é do conhecimento desta pesquisadora quantos desses

adeptos são profissionais de Educação Física.

Nesta última década, os professores e mestres de capoeira começaram a ser

questionados quanto a sua formação e metodologia de ensino. Esta indagação se dá

pelo fato de que a orientação do mestre tem influência direta na forma que os alunos

expressam esta cultura (Fachardo, 1997).

Fundamentando-nos no pressuposto de que a capoeira envolve pessoas de

idades variadas, com expectativas diferentes, de meios sociais distintos; por outro lado,

trata-se de uma atividade com graus de dificuldade variados, espera-se que o professor

possua conhecimentos e habilidades didático-pedagógicos. Considerando-se que o

docente é responsável pela aplicação dos conteúdos pedagógicos, seus objetivos e

forma de alcançá-los, respeitando os princípios biológicos de cada indivíduo, daí a

importância da aquisição dos conhecimentos e habilidades mencionadas.

Do ponto de vista didático-pedagógico, o ato de ensinar, deve levar em

consideração algumas variáveis tais como: relação professor-aluno, métodos e técnicas

utilizadas no processo ensino e aprendizagem e avaliação. Do ponto de vista teórico, a

prática dessas variáveis podem ser aplicadas a partir das Matrizes de Ensino e

Aprendizagem, que por sua vez expressam os pressupostos educacionais da ação do

professor. Diante do exposto, surge a seguinte pergunta: Quais os pressupostos

educacionais de ensino dos professores de capoeira da cidade de Porto Velho?

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2. QUESTÕES DE PESQUISA

2.1. Como se dá a relação professor-aluno?

2.2. Quais os métodos e técnicas mais utilizadas pelos professores de capoeira?

2.3. Quais as formas de avaliações utilizadas pelos professores de capoeira e qual a

utilidade desta, na opinião dos mesmos?

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3. JUSTIFICATIVA

De acordo com FALCÃO (2007), no Brasil, a partir da década de 1960, a capoeira

vem sendo disseminada no contexto educacional, desde o ensino fundamental até as

universidades. Nesse complexo movimento, às vezes como disciplina curricular, às vezes

como projeto de extensão, ou simplesmente como atividade extra-classe, a atividade vem

despertando interesse jamais verificado anteriormente, por parte da comunidade

educacional institucionalizada.

A capoeira é constituída por um repertório composto de exercícios de flexibilidade,

equilíbrio e destrezas, que encontra raízes na cultura do povo brasileiro. Trata-se de uma

modalidade de luta praticada ao som de cânticos e instrumentos musicais como

berimbau, pandeiro, atabaque, agogô e reco-reco.

Embora a capoeira ainda seja profundamente marcada pelas características

introduzidas por Mestre Bimba e Mestre Pastinha, a mesma não encontrou,

posteriormente, mecanismos de perpetuação dos princípios adotados por estes mestres.

Entre estes princípios destacam-se: disciplina, responsabilidade e o respeito,

considerados peças base da metodologia por eles utilizada.

Através de experiência pessoal, nota-se que muito se polemiza sobre a

metodologia de ensino dessa arte. Tais questionamentos partem principalmente de

indivíduos com formação universitária. Questiona-se o nível intelectual, formação

pedagógica e educacional, e a irreverência de alguns professores. Estes últimos, por sua

vez, não mostram muito interesse em ampliar seus conhecimentos.

A intenção deste estudo, não é desvalorizar o ensino da capoeira por sujeitos sem

formação acadêmica. A pesquisa aqui proposta, pretende conhecer como se dá a prática

da capoeira em Porto Velho do ponto de vista educacional, de sua proposta como veículo

de formação de cidadãos.

Este estudo justifica-se pela possibilidade da pesquisa, oferecer subsídios para o

aprimoramento do ensino e aprendizagem da capoeira. A partir deste estudo, será

possível propor, seminários, encontros científicos e oficinas para se discutir e trocar

experiências sobre metodologias de ensino mais voltada para a realidade social. Ao

apontar para a descrição parcial sobre o ensino da capoeira em Porto Velho se verão

ampliados os estudos sobre esta arte no âmbito pedagógico. São incipientes os estudos

direcionados a este enfoque.

As maiorias das publicações sobre capoeira constituem em obras voltadas a

estudos bibliográficos referente a historia da capoeira, a pesquisas quanto à evolução

quantitativa de adeptos e análise de movimentos considerados complexos do ponto de

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vista da Biomecânica. Quanto a abordagem didático-pedagógica do ensino desta arte,

ainda são escassos as publicações.

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4. OBJETIVOS

4.1. Geral

Descobrir os pressupostos educacionais de ensino dos professores e mestres de

capoeira da cidade de Porto Velho.

4.2. Específicos

4.2.1. Conhecer a formação dos professores;

4.2.2. Estudar a relação professor-aluno;

4.2.3. Descobrir os métodos e técnicas de ensino mais utilizadas pelos professores;

4.2.4. Conhecer e analisar as formas de avaliação desenvolvida pelos professores.

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5. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Diante dos objetivos propostos, trabalharemos neste capítulo um referencial

teórico que será utilizado como base para a concretização desta pesquisa.

5.1. Origens e Definições

A capoeira é hoje um dos esportes nacionais do Brasil, embora sua origem seja

controvertida. Há uma tendência dominante entre historiadores e antropólogos de afirmar

que a capoeira surgiu no Brasil, fruto de um processo de aculturação ocorrido entre

africanos, indígenas e portugueses. Entretanto, não houve registro de sua presença na

África, bem como em nenhum outro país onde houve escravidão africana, (COSTA,

2005).

Este mesmo autor relata que no processo histórico da capoeira surgiram três

eixos fundamentais, atualmente denominados de Capoeira Angola, Capoeira Regional e

Capoeira Desportiva. Estes eixos se associaram ao longo dos tempos, estando hoje

amalgamados na prática. Desde o século XVIII, sujeita à proibição pública, ao longo do

século XIX, a capoeira encontrou abrigo em pequenos grupos de praticantes em estados

do sudeste e nordeste. Ocorreram várias manifestações da dança-luta na Bahia,

Maranhão, Pará e no Rio de Janeiro. Este último, mais utilitário no século XX. Na década

de 1970 sua expansão se iniciou em escala nacional e na década de 1980, em escala

internacional.

Embora sejam encontrados diversos significados para o vocábulo “capoeira”, cada

qual referindo-se a objetos, animais, pessoas ou situações, em termos esportivos, trata-

se de jogo de destreza corporal. Neste jogo utiliza-se movimentos de pernas, braços e

cabeça, praticado em duplas, baseado em ataques, esquivas e insinuações, ao som de

cânticos e instrumentos musicais como: berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-

reco. Esta arte enfocada em suas origens como uma dança-luta, acabou gerando

desdobramentos e possibilidades de emprego como: ginástica, dança, esporte, arte, arte

marcial, folclore, recreação e teatro. Atualmente caracteriza-se, de modo geral, como

uma atividade lúdica (Costa, 2005).

Falcão (1995, p. 177), também se refere à capoeira como jogo. Segundo este

autor, o jogo acontece na roda de capoeira, que pode ser espontânea ou não. A mesma é

constituída de elementos essenciais, próprios e característicos, como a música e os ritos,

entre outros. Geralmente a figura do mestre é a autoridade máxima na roda. Na ausência

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do mestre, a pessoa mais graduada, ou mais considerada entre os presentes, é quem o

representa na condução da roda.

Segundo ARAÚJO (2002), alguns condicionantes marcaram a trajetória da

capoeira. Entre eles está o significado do termo jogo, para o contexto da luta brasileira; o

nacionalismo; os instrumentos propiciadores para a sua transformação em ato lúdico; a

repressão jurídica policial contra a capoeira e os capoeirista no curso da história e suas

adaptações; e o revivalismo das práticas ancestrais africanas pelos negros forros no

Brasil em quaisquer dos seus períodos históricos. É nesse sentido que CARNEIRO

(1975, p.106) afirma:

Tanto a repressão policial quanto as novas condições sociais fizeram com que, há cerca se

cinqüenta anos, a capoeira se tornasse finalmente um jogo, uma vadiação entre amigos. Com

esse caráter inocente na Bahia (...). Trata-se de um combate singular em que os “moleques de

sinhá”, apenas demonstram a sua capacidade de ataque e defesa, sem atingir efetivamente os

oponentes.

Conforme VASSALLO (2006), o jogo, considerado o elemento lúdico, também

chamado de vadiação ou brincadeira, passa a encarnar a verdadeira essência da

capoeira. Trata-se do primeiro condicionante citado por ARAÚJO (2002). Esse elemento

lúdico é contrário da violência atrelada ao jogo da capoeira carioca do século XIX, ou

seja, às Maltas de negros capoeiristas, reflexo da decadência rígida da sociedade

patriarcal rural da era clássica do Brasil colônia. As maltas eram grupos de capoeira do

Rio de Janeiro que tiveram seu auge na segunda metade do século XIX. Elas eram

compostas principalmente por negros e mulatos, que aterrorizavam a sociedade carioca.

Conseqüentemente, o uso da capoeira para práticas ilícitas ocasionou sua proibição em

11 de outubro de 1890 com a promulgação da Lei nº 487. Somente na década de 1930,

foi revogada a lei que proibia a prática deste jogo, que começou a ser ensinada nas

academias, inicialmente em Salvador. Em seguida conquistou adeptos em todo país, e

nos últimos anos no mundo inteiro.

Já o segundo condicionante, refere-se a esta arte como prática nacionalizada.

Para autores como CASCUDO (1967), o combate afro-brasileiro teria sido praticado

inicialmente nas senzalas das grandes plantações, durante o período da escravidão.

Graças a esta atividade, os negros cativos teriam conseguido lutar contra seus senhores

e conquistar a liberdade. Assim, acredita o autor que a capoeira era antes uma forma de

luta, muito valiosa no processo de conquista pela liberdade de fato ou de direito do

escravo ou defesa da liberdade do negro liberto.

Para ARAÚJO (2002, p. 108), “muitas das expressões culturais africanas sofreram

modificações e adaptações em alguns dos componentes culturais que as configuravam,

agora não mais como manifestações genuínas dos seus pontos de origem, para

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enquadrar como práticas nacionalizadas”. Sem perder as características africanas

essenciais tão presentes, principalmente nos elementos musicais, rítmicos, ritualísticos e

outros, destacou-se a capoeira que contribuiu significativamente para a construção de um

fenômeno de cultura nacional.

O terceiro condicionante é identificado como os instrumentos propiciadores para a

transformação do jogo em ato lúdico. Este é atrelado ao primeiro condicionante, mas

pesquisas recentes constatam que a ludicidade desta arte, nos acompanha desde as

senzalas, que os escravos aprimoravam suas técnicas à frente de seus senhores como

forma de brincadeira.

Quanto ao penúltimo condicionante, não é o objetivo dessa pesquisadora

aprofundar-se nas causas e conseqüências de proibição legal da capoeira. Entretanto há

que destacar-se que esse fato contribuiu significativamente para a evolução e valorização

desta arte, como atividade sistematizada na conquista da liberação de sua prática.

Finalizando, o último condicionante, trata-se do revivalismo de práticas culturais

ancestrais africanas pelos negros forros no Brasil em quaisquer dos seus períodos

históricos. Esse condicionante é considerado por ARAÚJO (2002) como o fator de maior

relevância para o esclarecimento da introdução dos elementos musicais, instrumentais,

orais e rituais no âmbito dessa manifestação brasileira.

Berimbaus, atabaque e pandeiro são os instrumentos mais comuns que dão o

ritmo para o desenvolvimento do jogo de capoeira. Cada ritmo destes instrumentos se

relaciona com um tipo de jogo a ser realizado que podem ser moderados ou não. O toque

dos instrumentos e os cantos são, na atualidade, indissociáveis do jogo da capoeira.

BOLA SETE (1997), concluiu que são sete os toques básicos dos instrumentos: Angola

(Angola Pequena e Angola Dobrada), São Bento (São Bento Pequeno e São Bento

Grande), Santa Maria, Amazonas, Idalina, Benguela e Yuna. Os demais foram criados

por alguns mestres que se utilizavam de variações e repiques dos sete toques básicos

acima mencionados.

Os toques de Angola Pequena e São Bento Pequeno são utilizados para

acompanhamento dos cânticos, das ladainhas e dos “corridos”1, bem como quando dois

capoeiristas vão jogar lentamente. Já a Angola Dobrada e São Bento Grande são usados

exclusivamente para o acompanhamento dos “cânticos corridos”, quando o andamento

do jogo pode ser moderado ou mais rápido. Utiliza-se o toque Santa Maria para

demonstração de um jogo bastante técnico, no qual os capoeiristas mostram todas suas

habilidades técnicas e criativas. Na capoeira este tipo de jogo é compreendido como

predominantemente malicioso. O toque de Amazonas serve para o desenvolvimento do

1 Denominam-se “corridos” o momento que o jogo de capoeira acontece somente ao som dos instrumentos.

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“jogo fechado”, com pouquíssima distância do oponente. No toque de Idalina, os

capoeiristas praticam um jogo mais aberto e solto, com uma distância maior do

adversário; visa aprimorar os golpes. No toque de Benguela, exclusivo para o

treinamento do jogo com facas, praticamente extinto, os capoeiristas demonstram sua

capacidade para livrar-se de um ataque à mão armada (BOLA SETE, 1997).

Sem o acompanhamento de cânticos, o toque de Yuna é executado para jogos

com movimentos lentos e rasteiros. É considerado um toque de rituais e exige uma

perfeita coordenação dos movimentos, adquirida depois de muitos anos de prática da

capoeiragem. O toque de Yuna é geralmente utilizado somente para jogos de mestres.

O berimbau, acompanhado ou não de cânticos, tem importância relevante na roda

de capoeira. É o toque deste instrumento que comanda o jogo e, inclusive, é na frente do

mesmo que inicia a prática propriamente dita. Muitos capoeiristas costumam se

aproximar e tocar no instrumento antes de se benzerem para iniciar o jogo, numa espécie

de ligação deste instrumento com o sagrado.

Os cânticos, também denominados cantos de capoeira, conferem certo “clima” à

roda de capoeira. Acompanhados da instrumentação, envolvem os jogadores na roda de

capoeira levando-os, segundo Decânio Filho (2004, p.11), a um estado alterado de

consciência, denominado de “transe capoeirano”. Nesta ocasião, o praticante passa a ser

“parte integrante do conjunto harmonioso em que se encontra inserido naquele

momento”.

O canto na roda de capoeira, para Rego (1968, p. 89), pode “narrar fatos da vida

cotidiana, usos, costumes, episódios históricos, a vida e a sociedade na época da

colonização, o negro livre e o escravo na senzala, na praça e na comunidade social”. O

canto tem também, nesse contexto, uma importante função ritual, de manutenção e

preservação da memória histórica e das tradições, bem como de questionamento dessa

mesma história, das tradições e da sociedade atual (Vieira, 1995).

Os jogadores, antes de iniciarem o primeiro jogo, escutam agachados e em

silêncio o canto inicial na roda de capoeira, chamado “ladainha”. Estes se posicionam, no

que se convencionou chamar no “pé do berimbau”2. Após este ritual num momento certo

da cantiga, sabido pelos praticantes, benzem-se e em seguida iniciam as movimentações

balizadas pela ginga, considerado o jogo propriamente dito.

2 Espaço compreendido em frente dos berimbaus, próximo à parte inferior.

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5.2. Fundamentos

Bola Sete (1997) destaca 15 (quinze) movimentos básicos da capoeira angola.

Segundo o autor, deles derivam-se os demais movimentos desta arte, estes movimentos

básicos dividem-se em quatro defensivos, quatro desequilibrantes e sete golpes, que

serão vistos com mais detalhes a seguir.

5.2.1. Movimentos Defensivos

São considerados movimentos defensivos aqueles que permitam que o

capoeirista livre-se do ataque do oponente. Esses movimentos poderão ser seguidos ou

não e contra-ataque. Dentre os movimentos defensivos está a Ginga, que é considerada

o principal movimento da capoeira; acompanha o ritmo do toque e lembra uma dança. Na

ginga, o capoeirista poderá defender-se com o auxílio das mãos e braços, deslocar-se

em qualquer direção. Este movimento permite melhor posicionamento para defesa,

ataque e contra-ataque. A ginga apesar de ter suas peculiaridades, pois cada individuo

tem sua característica na hora de gingar, não perde sua forma original. O movimento

inicia-se com pernas afastadas paralelamente; posteriormente desloca-se uma das

pernas em afastamento ântero-posterior e retorna a posição paralela; em seguida, repete

o movimento com a outra perna, e assim sucessivamente.

Outro fundamento dos movimentos defensivos é a Negativa; considerado todo

movimento defensivo executado com auxílio das mãos e dos pés no solo. A maneira mais

utilizada para aplicar a “Negativa” consiste em uma queda rápida do corpo, com uma

perna estendida e a outra perna flexionada, com uma das mãos apoiadas no solo ao lado

do corpo e a outra apoiada no solo, próxima ao rosto;

No movimento Rolê, o capoeirista gira lateralmente o corpo flexionando-o

rapidamente e próximo ao chão, com o auxílio das mãos. Este deslocamento é utilizado

para confundir o oponente. O movimento Aú, consiste em um salto com as pernas para o

ar, e as mãos apoiadas no solo. Esse movimento atualmente é conhecido como

estrelinha.

5.2.2. Movimentos Desequilibrantes

São características dos movimentos desequilibrantes aqueles que desestabilizam

o equilíbrio do oponente. Estes podem ser seguidos de ataque e contra-ataque. Os

movimentos desequilibrantes são: Rasteira, Banda, Tesoura e Boca-de-calça. A Rasteira

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consiste em uma “varredura” giratória com a perna estendida buscando encaixar o pé no

calcanhar do adversário com a finalidade de desequilibrá-lo. No movimento

desequilibrante Banda, o capoeirista se posiciona lateralmente ao oponente, passa a

perna por trás do mesmo, na altura da parte posterior da coxa, e tenta desequilibrá-lo

com o auxílio do braço e da cabeça. Já no movimento desequilibrante denominado

Tesoura, a execução consiste em encaixar as duas pernas na altura dos joelhos do

adversário e, com uma girada de corpo, procurar derrubá-lo no chão. A capoeira conta

ainda com o movimento Boca-de-calça. Neste movimento desequilibrante segura-se a

barra da calça ou a perna do adversário, na altura do tornozelo aproximadamente O

movimento finaliza com uma puxada violenta em sua direção, desequilibrando o

oponente, podendo inclusive derrubá-lo em decúbito dorsal.

5.2.3. Golpes

Os golpes se caracterizam pelo seu efeito ofensivo, de ataque e contra-ataque ao

oponente. Vários autores defendem que esses golpes foram inspirados nos movimentos

dos animais, principalmente em momentos de combate. Dentre os golpes destacam-se o

Rabo-de-arraia, a Meia-lua, a Ponteira, a Chibatada, a Chapa, a Joelhada e a Cabeçada.

O Rabo-de-arraia, consiste em um giro do corpo em direção ao adversário. Neste

movimento o capoeirista ficará com uma perna flexionada e outra estendida, com mãos

apoiadas no solo. O golpe Meia-lua, é muito usado como finta nas seqüências de golpes.

É executado com a articulação coxo-femural flexionada. Projeta-se a perna estendida

para a frente do corpo fazendo ao mesmo tempo movimento de circundução deste

segmento, ao mesmo tempo a outra perna mantem-se semi-flexionada, bem apoiada no

solo. O objetivo é atingir o adversário, na altura da cabeça, com as faces laterais do pé. O

golpe Ponteira é de fácil aplicação e bastante ofensivo. Sua execução inicialmente ocorre

a partir de uma flexão nas articulações do quadril e do joelho seguida de uma rápida

extensão do último, seguindo para o movimento de chute. O intuito é afetar o oponente

com a ponta do pé. Já o golpe Chibatada, é aplicado com o dorso do pé. Sua parte inicial

é bem semelhante ao golpe Ponteira, a diferença é que a perna de apoio faz um giro,

deixando o indivíduo lateralmente posicionado diante do opositor. O golpe Chapa é um

pouco mais complexo. Inicia-se com uma abdução das pernas e flexão lateral do tronco,

ocasionando o apoio em uma perna só; com a outra perna, que deverá estar flexionada,

ocorrerá uma extensão rápida para atingindo o adversário com a face lateral do pé. A

Joelhada é aplicada com uma distância reduzida entre os sujeitos. Tem como objetivo

atingir com o joelho as regiões frontal e lateral do tórax e a cabeça. No golpe Cabeçada o

Page 23: comprometimento educacional dos professores de capoeira

29

capoeirista ataca buscando afetar o adversário com a parte eminente frontal da cabeça.

Como é um golpe muito perigoso, sugere-se sua aplicação com cautela. Não se costuma

ensiná-lo a iniciantes; comumente só é realizado por professores e mestres.

5.3. Pressupostos educacionais

Nessa abordagem, falaremos sobre alguns itens que serão de fundamental

importância para este trabalho, já que se busca uma mediação teórica entre a capoeira e

seus pressupostos educacionais. Primeiro será abordado aspectos inerentes à educação

de modo em geral, pois nesta pesquisa busca-se verificar as intenções educacionais dos

professores e mestres de capoeira ao ensinarem esta atividade.

Posteriormente os aspectos a serem abordados são voltados a relação entre

capoeira e educação, considerando o ponto de vista social, educacional, saúde mental e

física para o desenvolvimento humano; relação professor-aluno e seus diferentes

significados de acordo com as teorias da educação; motivação da aprendizagem e

esclarecimentos referente aos conceitos e finalidade; Outro aspecto a ser abordado é o

ensino que traz as ideologias das teorias de aprendizagem. Em seguida, será feito uma

reflexão teórica sobre os métodos e técnicas de ensino e seus objetivos; e concluindo, a

avaliação e sua aplicabilidade.

Finalmente serão discutidos do ponto de vista teórico, algumas categorias

importantes para a análise dos pressupostos educacionais em qualquer conteúdo

ensinado. Neste caso, se buscam fazer relação com o principal objetivo deste estudo: a

capoeira.

5.3.1. Educação

Segundo GUARESCHI (2002), a palavra educação vem do latim: “e” ou “ex”

significa de dentro, para fora; e “ducere”, significa tirar, levar. Então educação é o

processo de extrair de alguém, algo que já está presente em seu interior. A educação

supõe, que o indivíduo possui potencialidades próprias, que vão sendo atualizadas e

desenvolvidas através do processo educativo. Veremos a seguir alguns conceitos de

educação na opinião de alguns autores:

Para NÉRICI (1985), educação é o processo que visa levar o indivíduo a explicar

e desenvolver as suas virtualidades; promover o seu desenvolvimento espiritual, a fim de

conduzi-lo a atuar na realidade atual com conhecimento, eficiência e responsabilidade,

para serem atendidas necessidades pessoais, sociais e transcendentais da criatura

Page 24: comprometimento educacional dos professores de capoeira

30

humana. Já para Hildedrandt-Stramann (2001), educação quer dizer uma parte da

socialização geral; setor de interações conscientes, socialmente regulamentadas, nas

quais o indivíduo, no seu processo de desenvolvimento, será qualificado a aprender

maneiras culturais de uma sociedade; a prosseguir no seu desenvolvimento, e nesse

processo de qualificação tornar-se uma pessoa independente, responsável.

Defende ainda este último autor que a educação ramifica-se em duas dimensões:

a primeira caracteriza-se como processo da socialização, através do qual indivíduos se

desenvolvem como seres sociais; a segunda como processo de individualização, através

do qual sujeitos se desenvolvem como indivíduos únicos e inconfundíveis. Para ambos

autores, educação é o processo que leva o indivíduo a desenvolver-se para atuar na

sociedade e adaptar-se às constantes transformações do meio.

Nessa perspectiva, a educação representa o campo organizado, planejado,

sistematizado e intencional. Na sociedade, agências sociais e instituições específicas,

como, a família, a escola, a fábrica e outras, são as responsáveis pela construção

cotidiana do processo aducacional.

Segundo MUSIS (2007, p 144), “a educação assume um caráter dialético, onde é

de sua responsabilidade inserir elementos depurativos na composição do indivíduo que o

permitam transcender uma sociedade que a afeta, direta ou indiretamente, como um

todo”. Mas para TOSI (2003), educação é o meio de se fazer aflorar as potencialidades

dos indivíduos. Considera-se também como um ato psicossocial, pelo qual uma pessoa

trabalha inflenciando outra com suas idéias, ideologias e valores.

O que se percebe é que o termo Educação remete a idéia de que a ação de

determinada pessoa altera a percepção de outra a respeito do mundo e de seus valores.

Essas ações, entretanto não se limitam ao âmbito do ensino formal, mas podem se dá

em várias esferas, como no ensino da Capoeira por exemplo. Na perspectiva

educacional, esta arte favorece o repasse de valores e crenças. Acredita-se que a

Capoeira educa através do movimento e da evolução histórica de uma raça.

5.3.2. Relação entre Capoeira e Educação

Com base nos conceitos fundamentais de educação apresentados, podemos

analisar a relação entre capoeira e educação em dois aspectos: o interesse pedagógico

deve possibilitar o desenvolvimento da capacidade de ação através da capoeira e para a

capoeira.

Para o desenvolvimento da capacidade de ação através da capoeira, serão

apresentadas cinco possibilidades. A primeira delas é de que a capoeira pode cooperar

Page 25: comprometimento educacional dos professores de capoeira

31

no desenvolvimento da capacidade de ação do indivíduo. Esta possibilidade decorre do

jogo, como atividade física sistematizada, proporcionado ao corpo aptidão através de

inúmeras possibilidades de movimento. A experiência da corporalidade é uma condição

imprescindível para a educação, é base da capacidade humana de ação. Na segunda

possibilidade entende-se que a capoeira pode ser importante para a atividade motora

cotidiana, visto proporcionar a prática de amplo repertório de movimentos. A viabilidade

de Movimentos contribui para a segurança, habilidade de destreza em situações não

desportivas além de desenvolver a capacidade de vencer obstáculos e problemas

motores. Outra interpretação sobre o potencial da capoeira para o desenvolvimento da

capacidade de ação é a sua contribuição para a dimensão social da capacidade de ação.

O jogo em questão, além de possibilitar interação e comunicação oferecendo diversão e

alegria, também apresenta dificuldades e problemas a serem solucionados. Tudo isso

proporciona inúmeras vivências e possibilita várias ações. A quarta capacidade de ação

da capoeira está intimamente relacionada com a saúde e o bem estar. A atividade

oferece inúmeras possibilidades para contribuir com ambos aspectos através de

movimentos motores amplos, de esforço corporal, de comunicação e de situações

relaxantes posteriores. A quinta possibilidade está em oferecer às crianças e jovens um

modelo compreensível da realidade social. Através da capoeira, os modelos de ação e

regras sociais podem ser esclarecidos e melhor compreendidos.

O desenvolvimento da capacidade de ação para a capoeira é explicado através

dos seguintes fundamentos:

a) A capoeira é um fenômeno positivamente marcante na sociedade, que adquire um

significado crescente na configuração da vida dos indivíduos. Desse modo, a mesma

possui um alto valor na vida de sujeitos. Um exemplo é a formação de grupos informais

ou a identificação com os “ídolos”, como possibilidades para auto-afirmação e para a

auto-identidade;

b) É uma possibilidade ideal para superar a pobreza, a repressão de movimentos na

sociedade atual. Oferece ainda, inúmeras possibilidades de movimentos significativos,

oportunidades de recreação e realizações estéticas;

c) Proporciona possibilidades de vivenciar de forma significativa o crescente tempo

livre, num ambiente natural ou artificial.

Diante do exposto, nota-se que a capoeira é uma ferramenta de relevância

considerável, do ponto de vista social, educacional, saúde mental e física para o

desenvolvimento humano. Esta afirmativa se dá tendo em vista a influência positiva na

formação de indivíduos, e a contribuição desta arte para uma boa qualidade de vida.

Page 26: comprometimento educacional dos professores de capoeira

32

No que se refere ao aspecto sócio-educativo alguns parâmetros serão aqui

analisados afim de subsidiar a análise da prática docente dos mestres e professores de

capoeira.

5.3.3. Relação professor aluno

VEIGA (1996, p. 70) sustenta que “é muito difícil definir os limites do conceito

relação professor-aluno. Esses conceitos se intrincam na prática do processo pedagógico

com o conteúdo de ensino e com a metodologia adotada. Dessa forma, a aula torna-se

um lugar de interação entre pessoas, um momento único de troca de influências”.

Os comportamentos do professor e dos alunos fazem parte de uma expectativa

baseada na ideologia definidora da sociedade. Os valores se passam nem sempre de

forma clara e determinada, mas, sempre de forma eficiente. O aluno espera ser

reconhecido como pessoa e valoriza no professor as qualidades que os ligam

afetivamente. Do professor se espera um papel que lhe é próprio, visto que tem muito

mais poder para definir a relação entre os papéis.

O ambiente institucional interfere no desempenho e nas relações professor-aluno.

Quando a escola valoriza o professor como profissional e lhe permite melhorar seu

desempenho, coloca em ação um mecanismo de ruptura do círculo vicioso que apresenta

como intransponíveis as dificuldades inerentes ao seu papel e às condições de ensino de

modo geral. No caso da capoeira, o ambiente institucional pode ser a escola, o clube, o

prédio da associação de bairro ou qualquer local que se dê o ensino (NÉRICI, 1985).

Ainda este autor refere-se à relação professor-aluno como de fundamental

importância no processo pedagógico. Princípios como honestidade, coragem,

compromisso, responsabilidade e tantos outros importantes na educação se passam no

cotidiano da instituição. Quanto mais o professor é próximo do aluno, mais eficiência ele

tem sobre seu comportamento.

Já para MARTINS (1995), a relação professor-aluno assume diferentes

significados, de acordo com as diferentes teorias da educação. Na teoria da Escola

tradicional, essa relação é vertical, autoritária. O professor transmite o conteúdo como

verdade absoluta, tendo o aluno um papel passivo-receptivo. Nesta teoria o aluno não

precisa pensar, só repetir. O princípio básico dessa relação é que o professor detém o

saber e o aluno não. A aula é entendida como sinônimo de silêncio e ordem, para facilitar

a transmissão do saber.

Outro significado encontra-se na Teoria da Escola Nova. Nesta tendência a

relação é democrática. O professor assume o papel de orientador das atividades do aluno

Page 27: comprometimento educacional dos professores de capoeira

33

e este tem um papel ativo, participativo no processo de ensino. O pressuposto básico

dessa relação é que os alunos têm necessidades e interesses próprios, são diferentes

uns dos outros, cabendo ao professor o atendimento das diferenças individuais. Assim, o

aluno disciplinado é aquele que é solidário, participante, ativo e conhecedor das regras

de convívio em grupo.

Já na Teoria da Escola Tecnológica, tanto o professor como os alunos

desempenham o papel de executores de tarefas programadas por um grupo de

especialistas. A relação é vertical e autoritária, com o agravante do professor não

participar da concepção do seu trabalho. O pressuposto básico é a possibilidade de

ensinar tudo a todos, desde que se dê tempo e instrumental suficientes para isso. O

aluno disciplinado é aquele que faz todas as tarefas conforme os objetivos operacionais;

o aluno produtivo é capaz de dar respostas adequadas aos programas previamente

esquematizados.

Nessa perspectiva resume-se a relação professor–aluno no estabelecimento de

ações participativas e recíprocas que se ampliam conforme o amadurecimento e

responsabilidade assumida pelas partes: professor e aluno. O engajamento, competência

e responsabilidade docente são fatores fundamentais para o sucesso desta vivência.

5.3.4. Motivação da Aprendizagem

Para melhor compreender a motivação, é necessário que se esclareça ser esta

uma condição interna, mistura de impulsos, propósitos, necessidades e interesses que

levam o indivíduo a agir. Todo comportamento é dependente de estímulos internos,

externos e das condições biopsicológicas do indivíduo.

Na visão de NÉRICI (1991, p.269), “motivação é o processo que provoca certo

comportamento, mantém a atividade ou a modifica”. No contexto educacional, significa

predispor o aluno ao que se quer ensinar; estimulá-lo a participar ativamente das

atividades. Em outras palavras é predispor o indivíduo ao aprendizado e à realização de

um esforço para que este alcance certos objetivos.

Já para SAMULSKI (2002, p. 51), “a motivação é caracterizada como um

processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores

pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos)”.

Diante dos conceitos apresentados, deduz-se que a motivação é fator decisivo no

processo da aprendizagem. Não poderá haver, por parte do professor, direção da

aprendizagem se o aluno não estiver motivado, se não estiver disposto a despender

esforços. Não há, de modo geral, aprendizagem sem esforço. Não há método ou técnica

Page 28: comprometimento educacional dos professores de capoeira

34

de ensino que dispense o esforço por parte do aluno. Daí a necessidade da motivação

para as atividades em geral, para que haja esforço voluntário por parte de quem aprende.

A motivação tem por fim estabelecer conexão entre o quê o professor pretende

que o aluno realize e os interesses deste último. O fracasso de alguns professores está

em não motivarem suas aulas, ficando, desse modo, professor e aluno isolados, sem

comunicação. O professor querendo dirigir a aprendizagem e os alunos não querendo

aprender.

Considera-se que um aluno está motivado para a aprendizagem quando

apresenta necessidade de aprender o que está sendo proposto. Essa necessidade leva-o

a aplicar-se, a esforçar-se e a perseverar no trabalho até sentir-se satisfeito.

5.3.5. Ensino

Diante de inúmeras definições do fenômeno rotulado de ensino, verificou-se que

em geral os estudiosos estabelecem relação entre o ensino à aprendizagem. Esta

relação é tão profunda que é notória a afirmação de que o ensino significa tarefa,

enquanto aprendizagem quer dizer êxito.

Para aprofundarmos no conceito de ensino, se faz necessário o conhecimento,

mesmo que superficial, da ideologia das teorias de aprendizagem. De acordo com

GUARESCHI (2002), Todos nós possuímos uma teoria de como se ensina e de como se

aprende. Pode-se dividir essas teorias em duas matrizes principais: a matriz dos

condicionantes, ou comportamental e matriz dialogal. A matriz comportamental se

caracteriza pela imitação e repetição, nada se pede de novo, de iniciativa por parte do

aluno. Este não poderá decidir, pensar, criar. Já a matriz dialogal prioriza o diálogo,a

igualdade de posições e o respeito ao mundo do outro. A prática educativa dialogal

fornece um novo modelo de vivência social baseado na mudança da sociedade por novas

práticas vividas e incentivadas entre as pessoas.

O ensino, segundo SMITH (1971), é identificado como um sistema de ações cuja

intenção é a aprendizagem. Deste modo, pode-se dizer que se o aluno não aprende o

ensino, não alcançou sua finalidade. Analisando os termos ensino e aprendizagem,

constatou-se que ensino pode existir sem a aprendizagem. O uso intencional do verbo

ensinar não implica, necessariamente, o sucesso dessa atividade (SCHEFFLER, 1974).

Tal afirmação pode ser mais bem compreendida se considerarmos a diferença entre as

regras usadas na realização de uma atividade qualquer.

Algumas regras, as chamadas “exaustivas”, são as que se seguidas corretamente,

sempre garantem o sucesso de uma ação. Por exemplo, se é respeitada a regra que

Page 29: comprometimento educacional dos professores de capoeira

35

governa a disposição das letras na escrita de uma palavra, o êxito estará assegurado.

Outras regras, as “inexaustivas”, entretanto, mesmo quando obedecidas não garantem

que o objetivo da atividade será alcançado. Na capoeira, existem algumas regras

exaustivas, como a execução de habilidades motoras e no estímulo de competências

Sociais como a interação, a cooperação, dentre outras.

De acordo com PARRA (2002, p.209), “as regras do ensino podem, no melhor dos

casos, melhorar o próprio ensino, no sentido de torná-lo mais eficiente; mas elas não

podem eliminar, exaustivamente, a possibilidade de um fracasso”. Para estimar o peso

dessa afirmação, basta pensar nas inúmeras variáveis que atuam sobre o aluno e sobre

as quais nem o processo de ensino em geral, nem o professor em particular, dispõem de

poder absoluto de controle: nível socioeconômico-cultural, saúde física e mental, etc.

Na concepção de NÉRICI (1985), ensino é o processo que visa a modificação do

comportamento do indivíduo por intermédio da aprendizagem. Esse processo tem como

propósito, efetivar as intenções do conceito de educação, bem como de habilitar cada um

a orientar a sua própria aprendizagem, a ter iniciativa, a cultivar a auto-confiança , a

esforçar-se, a desenvolver a criatividade e a entrosar-se com seus semelhantes. A partir

dessa aprendizagem, o indivíduo estará preparado para participar da sociedade como

pessoa consciente, eficiente e responsável.

O ensino é o instrumento de que se utiliza a educação para alcançar seus fins,

uma vez que a educação necessita do ensino para efetivar-se. Daí, conclui-se que

educação e ensino se integram em um todo de interações e de operacionalidade.

5.3.6. Métodos e técnicas de ensino

O ensino deve partir da multidão de fatos, pessoas e objetos que o aluno conhece

na sua vida diária e sobre os quais manifesta interesse. Dessa forma, o indivíduo torna-

se capaz de compreender mais facilmente o que está distante de si, no espaço e no

tempo (HURTADO, 1983). Deve-se levar em consideração as aptidões e os interesses

individuais, procurando desenvolver as potencialidades de cada sujeito, através de uma

metodologia eficaz e responsável.

Continua o mesmo autor afirmando que metodologia de ensino “é o conjunto de

procedimentos didáticos, representados pelos seus métodos e técnicas de ensino, que

visam alcançar os objetivos do ensino e, conseqüentemente da educação, com o mínimo

de esforço e o máximo de rendimento” (HURTADO, 1983, p.34)

Consideram-se métodos de ensino, o conjunto de procedimentos lógica e

psicologicamente ordenados, de que se vale o professor para possibilitar o educando a

Page 30: comprometimento educacional dos professores de capoeira

36

elaborar conhecimentos, adquirir técnicas ou habilidades e a incorporar atitudes e ideais.

Já as técnicas de ensino, são os procedimentos também lógica e psicologicamente

estruturados, destinados a dirigir a aprendizagem. Pode-se dizer que o método de ensino

se efetiva por meio das técnicas de ensino.

Na capoeira método de ensino consiste na forma de condução das aulas, sua

organização geral e os procedimentos metodológicos. Já a técnica, no ensino deste jogo,

se dá na forma de ensinar um movimento ou fundamento.

Segundo NERICI (1973), os métodos e técnicas de ensino para serem

conseqüentes e organizados, devem atender os seguintes princípios: ordenação,

adequação, eficiência, realidade psicológica, dificuldade, participação, espontaneidade,

transferência, reflexão e responsabilidade.

O princípio da Ordenação prevê a seqüência em que deve-se desenvolver os

trabalhos ou atividades, para que sejam mais facilmente aprendidos e assimilados pelo

estudante. Já o princípio da Adequação prevê o ajustamento das noções, tarefas e

objetivos que se pretende alcançar e as possibilidades e necessidades do aluno. No

princípio da Eficiência prioriza-se levar o educando a despender o mínimo de esforço

para alcançar o máximo de rendimento na aprendizagem. Outro princípio é o da

Realidade Psicológica que visa não perder de vista a idade evolutiva do educando, bem

como suas diferenças individuais. Este aspecto é fundamental ao serem projetadas as

atividades a serem realizadas. Para o princípio da Dificuldade, recomenda-se colocar o

educando em situações problemáticas e que exijam esforço para a sua solução. Já o

princípio da Participação prevê a condução do aluno a assumir uma atitude dinâmica nos

trabalhos escolares. É no princípio da Espontaneidade que o método ou técnica tem a

possibilidade de favorecer a criatividade e as manifestações desinibidas do educando. No

princípio da Transferência, o professor deverá pensar que todo ensino por métodos e

técnicas deve contribuir para uma assimilação de forma de comportamento útil para todas

as situações de vida e não só para as escolares. O princípio da Reflexão enfatiza a

preocupação básica do ensino que há de estimular o aluno a refletir. Finalmente, no

princípio da Responsabilidade proclama-se a necessidade de desenvolver no educando o

senso de responsabilidade profissional e social.

Assim, métodos e técnicas de ensino, de modo geral, devem ser instrumentos

para conduzir o aluno a criticar, pesquisar, julgar, concluir, correlacionar, diferenciar,

sintetizar, conceituar. Enfim, servir ao processo educacional de formação para a

cidadania. Neste contexto, favorecerá a reflexão do indivíduo de maneira organizada,

conduzir este para que seja agente da sua própria aprendizagem e não um receptor de

dados e de normas elaboradas por outrem.

Page 31: comprometimento educacional dos professores de capoeira

37

Os métodos de ensino classificam-se em dois grupos: o de ensino individualizado

e de ensino socializado. O método de ensino individualizado consiste em dirigir-se

diretamente ao educando, procurando atendê-lo em suas reais condições de preparo,

motivação e possibilidades pessoais de estudo, objetivando fundamentalmente levar o

indivíduo a explicitar todas as suas possibilidades pessoais.

Segundo NÉRICI (1991), o método individualizado apresenta as seguintes

vantagens: o educando passa a ser o centro da ação didática; o ensino é adequado às

reais possibilidades de cada educando; o educando passa a trabalhar com o máximo de

liberdade, mas sob condições que permitam desenvolver o senso de responsabilidade;

possibilita a motivação; tem condições de atender às diferenças individuais; proporciona

o desenvolvimento da criatividade.

Já os métodos de ensino socializado, têm por objetivo principal a integração

social, o desenvolvimento da aptidão de trabalho em grupo e do sentimento comunitário e

o cultivo da atitude de respeito às pessoas, embora sem descuidar a individualização.

Entende-se como método de ensino socializado a prática escolar que visa:

fortalecer o espírito de grupo; levar o educando a coordenar seus esforços com os

demais colegas; socializar o educando, isto é, levá-lo a sentir a necessidade dos

objetivos do grupo que o conduzirá à moderação em suas exigências egoístas; favorecer

o apreço as necessidades coletivas acima das exigências individuais; levar o aluno a um

comportamento que o conduza a cooperar na ordem social.

Nesse método, o aluno se integra ao trabalho comum segundo as peculiaridades

e preferências, mas é levado a praticar, também, o que seja necessário para atender a

necessidades do grupo, desenvolvendo assim, a capacidade de solidariedade humana.

Ainda seguindo o pensamento de NÉRICI (1991), os principais métodos de ensino

individualizado são: o método de projetos; o plano Dalton; a técnica Winnetka; o ensino

por unidades; o ensino programado, dentre outros. O método de projetos tem por

finalidade levar o aluno a realizar, a agir. Trata-se pois, de determinar uma tarefa e pedir

ao aluno que faça. Outro método de ensino individualizado é o plano de Dalton que

baseia-se na atividade, individualidade e liberdade. O objetivo principal desta forma de

ensino é desenvolver a intelectualidade. Para tanto, cultiva também a iniciativa, uma vez

que esta liberdade permite que o aluno escolha seus trabalhos e o momento de realizá-

los. A técnica Winnetka procura conjugar as vantagens do trabalho individualizado com

as do trabalho coletivo sem desprezar as diferenças individuais. A doutrina deste método

se baseia em alguns princípios essenciais, com ênfase no respeito à personalidade do

educando. O método de ensino por unidades é dividido em partes que são de cunho

fortemente intelectual. Finalmente, o ensino programado representa mais uma tentativa

Page 32: comprometimento educacional dos professores de capoeira

38

de individualizar o ensino, a fim de permitir que cada aluno trabalhe seguindo seu próprio

ritmo e possibilidades.

Consta na literatura que os métodos de ensino socializado são os seguintes: o

estudo em grupo; o método socializado-individualizante; o método da discussão; o

método de assembléia; o método do painel simples e outros. Os métodos de ensino em

grupo são baseados na dinâmica de grupo; dão ênfase à interação e cooperação dos

educandos. Esses métodos conduzem o aluno a enfrentar tarefas de estudo em conjunto,

em que subtarefas são repartidas entre seus membros, e os resultados aceitos depois de

discutidos entre todos. Já o método socializado–individualizante sintetiza o estudo em

grupo, considerado ótimo veículo de sociabilização. Já o estudo individualizado, é

eficiente para o educando tomar consciência de si mesmo e assumir atitudes pessoais

com relação ao que deseja sendo estudando ou realizando. No método da discussão os

educandos realizam trabalhos intelectuais de interação de conceitos, conhecimentos ou

informações, sem posições tomadas ou pontos de vista a defender. Para NÉRICI (1985),

o método da assembléia consiste em fazer os alunos estudarem um tema e discuti-lo,

como em um parlamento. O método requer um presidente, que pode ser o professor, e

oradores que apresentam pontos de vista distintos. Estes últimos serão ouvidos pelo

resto do grupo e depois discutidos por todos. Concluindo, o método do painel baseia-se

em reunião de várias pessoas especialistas ou bem informadas a respeito de

determinado assunto. Os especialistas expõem suas idéias diante de um auditório, de

maneira informal, mesmo patrocinando pontos de vista divergentes, mas sem atitude

polêmica.

Para HURTADO (1983), as técnicas de ensino representam maneiras particulares

de organizar as condições externas à aprendizagem. Estas têm a finalidade de provocar

as modificações comportamentais desejáveis no aluno. As técnicas de ensino

classificam-se em: técnicas de ensino individualizado e técnicas de ensino em grupo.

O atendimento às diferenças individuais é o fundamento das técnicas de ensino

individualizado. Estas técnicas buscam alcançar os seguintes objetivos: a) satisfazer as

necessidades e interesses do aluno; b) oportunizar o progresso individual de acordo com

o ritmo próprio do educando; c) desenvolver a iniciativa para a realização de atividades

variadas; d) permitir a participação ativa no processo de aprendizagem.

Nas técnicas de ensino em grupo, a ênfase é no aproveitamento das

possibilidades que o indivíduo traz de interagir com o outro. A atividade grupal só será

eficaz quando cada membro se preparar antecipadamente para isso, tanto que algumas

técnicas de ensino individual podem ser desenvolvidas em grupo. O fato de atendermos

Page 33: comprometimento educacional dos professores de capoeira

39

às diferenças individuais habilita o indivíduo a ter melhores condições de participar

ativamente em grupo.

Os métodos e técnicas de ensino dever proporcionar oportunidades para que o

educando perceba, compare, selecione, classifique, defina, critique, que elabore os frutos

da sua aprendizagem.

5.3.7. Avaliação

Avaliar poderá ser uma proposta de sucesso, mas também de fracasso, pode

conduzir a resultados significativos ou não, pode defender ou ameaçar. Dessa

desafiadora concepção da avaliação resulta, como imprescindível, a capacitação de

educadores, líderes, dirigentes e profissionais, nos vários âmbitos disciplinares, para a

melhor utilização da avaliação. Mais especificamente, a formação do avaliador é um

desafio conseqüente para a avaliação deste século.

ELIZABETH VARJAL (2007) na sua palestra na Universidade Federal do

Pernambuco sobre Avaliação no Ensino Superior, refere-se à avaliação da seguinte

forma: “a avaliação aplicada ao ensino e às aprendizagens consiste em um processo

sistemático, rigoroso e contínuo de pesquisas que visa interpretar os conhecimentos,

habilidades e atitudes dos alunos, de maneira que seja possível se dispor de informação

referente à situação desses sujeitos, para que seja possível a tomada de decisões

adequadas e prosseguir a atividade educativa, melhorando-a progressivamente”.

CASTRO (1972) foi pertinente em conceituar avaliação como um processo

sistemático, contínuo e integral, destinado a determinar até que ponto os objetivos

educacionais foram alcançados. Dessa forma, a avaliação deverá constatar se o aluno

atingiu ou não sua meta, ou seja, se assimilou o que lhe foi ensinado.

FALCÃO (1995) acredita que por ser o ensino um processo que tem em vista a

aquisição de conhecimentos e habilidades que impliquem a mudança de comportamento

de quem dele participa, encontra-se na avaliação um elemento fundamental desse

processo. É através da avaliação que se poderá verificar até que o ponto o ensino tem

alcançado os resultados pretendidos. Ao mesmo tempo, esta ação oferece subsídios

para a alteração do processo, quando os objetivos visados não são alcançados.

Analisando as propostas pedagógicas nacionais, verificou-se que a avaliação tem

constituído conteúdo fundamental e obrigatório nos programas de disciplina ou de ensino

de qualquer natureza. Pesquisas realizadas acerca do conteúdo atual da Didática

demonstraram que a avaliação é um dos grandes temas abordados pelos autores e

professores da área.

Page 34: comprometimento educacional dos professores de capoeira

40

No que se refere a conceituar avaliação, alguns autores estabelecem a distinção

entre testar, medir e avaliar, tomando como critério a amplitude do significado de cada

termo. Entretanto testar e medir se restringe aos aspectos quantitativos, avaliar envolve a

verificação de mudanças qualitativas do comportamento do aluno (PILETTI, 1984).

Considerada como um processo que permite ao professor verificar se os objetivos

visados foram alcançados, a avaliação deverá, portanto, estar vinculada a esses

objetivos. Ao mesmo tempo, é tida como fonte de elementos para o planejamento das

novas etapas do processo de ensino ou para o replanejamento do processo que se

mostrar ineficiente para o alcance dos objetivos.

PILETTI (1984) analisa ainda o conceito de avaliação inferindo algumas

características do processo avaliativo:

A avaliação só terá sentido se os objetivos estiverem claramente definidos. Não é

possível avaliar se não tivermos estabelecido o que se pretende do aluno. Portanto,

dizemos que a avaliação é funcional, visto que se realiza em função dos objetivos;

A avaliação é um processo sistemático, isto é, não é improvisado e se insere num

sistema mais amplo, o sistema ensino-aprendizagem. Não é, portanto, uma fase

separada no processo ensino-aprendizagem, mas tem que estar inserida nesse processo

global;

A avaliação é contínua, não é algo que ocorre apenas no final de um período ou

semestre, mas deve ser algo acontecendo ao longo de todo o processo, proporcionando,

dessa forma, oportunidade de recuperação imediata quando houver bloqueios no

processo ensino-aprendizagem;

A avaliação é integral, ocupando-se do aluno como um todo. Julga aspectos

cognitivos, afetivos e psicomotores.

HURTADO (1983) preconiza três tipos de avaliação para que possa levar a bom

termo qualquer estratégia de aprendizagem para o domínio: avaliação somativa,

formativa e avaliação como diagnóstico.

A avaliação somativa é aquela que ocorre no final de um curso, de um semestre

ou de um espaço de tempo. Sua principal característica é a de ser realizada ao término

de um período, com a finalidade de proporcionar uma nota ou um conceito. Visa verificar

o produto de uma aprendizagem, o que resultou do trabalho do professor e do aluno.

Esse tipo de avaliação pouco pode fazer no sentido de corrigir as falhas do ensino e da

aprendizagem; seus resultados só poderão frutificar em cursos futuros.

Já a avaliação formativa é a que ocorre durante o processo ensino-aprendizagem,

neste caso, o professor poderá interagir com o aluno. Constitui-se, entre outros, de testes

e instrumentos rápidos de checagem, que são ministrados periodicamente, visando

Page 35: comprometimento educacional dos professores de capoeira

41

verificar até que ponto a aprendizagem está realmente ocorrendo e em que condições.

Este tipo de avaliação dá ao professor um feedback contínuo acerca de seu ensino, da

mesma forma ao aluno, mostrando-lhe aspectos relativos a sua aprendizagem,

permitindo-lhe oportunidade de esforçar-se a fim de atingir o domínio esperado.

Na avaliação como diagnóstico, esse processo tem diferentes objetivos e é usada

em diferentes momentos do processo ensino-aprendizagem. Quando usada antes do

início do processo, pode servir para localizar o aluno no momento certo da partida num

curso ou numa unidade ensino, isto é, mede seu comportamento de entrada. Pode

ocorrer que o aluno não possua habilidades necessárias ao que vai ser ensinado e

precise adquiri-las antes de começar essa nova fase da aprendizagem.

A avaliação como diagnóstico, nesse primeiro momento, atende a dois propósitos.

O primeiro é de verificar os alunos que não possuem as habilidades pré-requisitos ao

assunto em foco; busca recuperar estas habilidades a fim de colocá-los em situação de

poder trabalhar no objetivo que se pretende. O segundo momento diz respeito a

verificação dos alunos que já alcançaram os objetivos do ensino a ser desenvolvido,

liberando-os dessa tarefa e permitindo-lhes, dessa forma, aprofundar o assunto ou

avançar para outros objetivos.

Esse tipo de avaliação também pode ser usada durante o processo de

aprendizagem. Quando, através da avaliação formativa, descobre-se que o aluno está

apresentando dificuldades, o professor proporciona-lhe recuperação, modificando suas

técnicas de ensino, usando material diferente, dando-lhe um tratamento individualizado.

Se mesmo com esses recursos o professor concluir que a recuperação não surtiu efeito,

nesse momento faz-se necessário uma avaliação diagnóstica, a fim de identificar as

causas das repetidas falhas da aprendizagem. As causas podem não estar ligadas aos

métodos usados pelo professor, mas a problemas na natureza física, emocional, social e

cultural. Nesse caso, a avaliação diagnóstica poderá extrapolar a esfera de ação do

professor e solicitar a cooperação de outros especialistas como médicos, orientadores

educacionais, psicólogos, etc.

É importante que a forma de avaliação seja escolhida de acordo com os objetivos

que se deseja atingir. Também é fundamental que se ofereça ao aluno, oportunidades

diversas de mostrar seu desempenho, evidentemente evitando fazer no processo de

ensino, um mecanismo de só aplicar instrumentos de avaliação.

Page 36: comprometimento educacional dos professores de capoeira

42

6. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

Neste capítulo abordaremos os procedimentos metodológicos utilizados durante

esta pesquisa.

6.1. Delineamento da Pesquisa

Foi realizada uma Pesquisa do tipo participante nas escolas de capoeira de Porto

Velho. Este tipo de investigação justificou-se por atender as finalidades da pesquisa que

foi analisar e interpretar o fenômeno, a partir da convivência direta da pesquisadora com

os indivíduos do estudo, em convivência com o fenômeno investigado. Na fase de

observação foi possível assistir a seis aulas de capoeira por escola, distribuídos em duas

turmas distintas, três aulas em cada turma. Ao todo pôde-se somar quarenta e duas

horas aproximadamente de observação e participação. A intenção principal da

observação foi verificar as intenções sócio-educacionais dos ministrantes de capoeira,

denominados Professores e/ou Mestres3. Para a obtenção de dados, além da observação

e conversas informais, foi utilizado 1 (um) formulário composto de quatro perguntas

referentes a formações dos ministrantes, ao relacionamento com os alunos, aos métodos

e técnicas que utilizam em suas aulas e avaliações (anexo 1). Os indivíduos que fizeram

parte da amostra, responderam ao formulário em seus respectivos locais de treinamento

antes do início ou ao término das aulas e rodas de capoeira4.

A observação foi do tipo assistemática. Constou de sete semanas: uma semana

para cada escola. Em maioria, as escolas dividem suas turmas com treinos três vezes na

semana: segundas e quartas-feira desenvolvem as aulas e sextas-feira realizam as rodas

de capoeira; ou terças e quintas-feira as aulas e sábados as rodas. Constituiu-se a

amostra desta pesquisa, escolas consideradas tradicionais na cidade de Porto Velho-RO.

Foram selecionadas sete escolas, conforme aponta a figura 1, totalizando um

atendimento em torno de 183 (cento e oitenta e três) alunos.

3 Na capoeira adota-se a nomenclatura “mestre” diferente do âmbito acadêmico. Entende-se por mestre

aquele indivíduo que já possui vasta vivência dedicada ao ensino da capoeira. 4 Nas aulas (também denominados treinos), os ministrantes ensinam os movimentos considerando-se os

processos pedagógicos: movimentos separados e em pequenas seqüências. Já nas rodas, acontece jogo

propriamente dito.

Page 37: comprometimento educacional dos professores de capoeira

43

Figura 1: Grupos de Capoeira Investigados

Número do Grupo e

dos sujeitos

investigados

Número de aulas

observadas

Média de alunos que

participaram das

aulas

Dias de aulas

01 6 32 2ª, 4ª e 6ª feira

02 6 11 3ª, 5ª e sábado

03 7 48 2ª, 4ª e 6ª feira

04 5 25 2ª, 4ª e 6ª feira

05 7 29 2ª, 4ª e 6ª feira

06 6 17 3ª, 5ª e sábado

07 6 21 2ª, 4ª e 6ª feira

Page 38: comprometimento educacional dos professores de capoeira

44

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este item do trabalho está organizado em vários sub-itens, de acordo com as

variáveis a serem analisadas.

7.1. Dados de identificação dos Professores e Mestres de Capoeira

Com relação a formação dos professores, os sujeitos de número 02, 03 e 04 têm

formação acadêmica superior em Educação Física; três deles, os de número 01, 06 e 07

estão engajados na capoeira há mais de dez anos. O informante de número 06 possui

graduação de professor desta atividade e os de números 01 e 07 de mestre de capoeira.

O terceiro sujeito com formação superior possui titulação de mestre de capoeira há mais

de trinta anos (ver figura 2). Em comentário quase unânime, professores e mestres

afirmam que a formação acadêmica em Educação Física é o que falta para se fazer um

trabalho mais consciente envolvendo o ensino da capoeira voltada para formação de

cidadãos esclarecidos, críticos, conhecedores dos seus direitos e de seus limites.

Somente um dos indivíduos participantes do estudo é professor de capoeira há

onze anos e está concluindo curso superior em Educação Física; trata-se do indivíduo de

número 05. Em análise ao seu trabalho, este expõe em conversa informal que sua forma

de ministrar as aulas vem gradativamente avançando nos últimos anos. Segundo o

mesmo, este progresso é atribuído, ao conhecimento que tem adquirido no meio

universitário. Por outro lado, acredita ainda, que sua vivência na capoeira é muito

importante no seu aprendizado no meio acadêmico. Em análise a esta questão, deduz-se

que trata-se da união do conhecimento adquirido através de seus mestres na capoeira,

com a didática ensinada na universidade. O resultado dessa união é importante na

qualificação profissional e contribui para a evolução do ensino da capoeira.

No que se refere aos ministrantes 01, 06, e 07, dois deles (01 e 07), são

considerados mestres de capoeira e o de número 06, apresenta-se como professor de

capoeira; nenhum deles possuem formação acadêmica Superior. Ainda que sem esta

formação acadêmica, estes trazem consigo algumas décadas de experiência no ensino

da capoeira na cidade de Porto Velho-RO.

Page 39: comprometimento educacional dos professores de capoeira

45

Figura 2: Dados de identificação dos informantes

INFORMANTES FORMAÇÃO

ACADÊMICA

FORMAÇÃO

PROFISSIONAL

FORMAÇÃO NA

CAPOEIRA

TEMPO DE

EXPERIÊNCIA

COM O ENSINO DA

CAPOEIRA

1 Ensino

Fundamental

incompleto

Não

identificado

Mestre + de 20 anos

2 Ensino Superior Professor de

Educação

Física

Mestre + de 16 anos

3 Ensino Superior Professor de

Educação

Física

Mestre + de 30 anos

4 Ensino Superior Professor de

Educação

Física

Professor + de 10 anos

5 Ensino Superior

incompleto

Acadêmico de

Educação

Física

Professor 11 anos

6 Ensino

Fundamental

Não

identificado

Professor 15 anos

7 Ensino

Fundamental

Não

identificado

Mestre 27 anos

No passado foi comum a presença de profissionais no ensino da capoeira que

possuíam somente conhecimento prático. Atualmente, observa-se através dos dados

levantados que alguns profissionais da cidade de Porto Velho-RO estão buscando

formação Superior. Esta preocupação com a formação acadêmica talvez se dê pela

concorrência em que vivemos neste mundo globalizado, onde só sobrevivem os mais

bem preparados.

Page 40: comprometimento educacional dos professores de capoeira

46

7.2. Relação Professor-aluno

Na questão que trata do relacionamento com os alunos, todos os participantes do

estudo dizem que seus relacionamentos com os alunos é positivo. Palavras como

respeito, disciplina e reciprocidade foram constantemente salientadas. No formulário

observou-se que as respostas dos informantes são breves e objetivas.

A partir das observações e conversas informais sobre a questão do

relacionamento professor-aluno, constatou-se que os ministrantes de capoeira

investigados atuam de forma prática para criar um bom relacionamento com os

educandos. Entretanto, na prática a maioria dos informantes, apresenta uma relação

autoritária que lembra a teoria da escola tradicional, exceto um deles, o indivíduo número

05. Este demonstrou atuação didático-pedagógica com características que se identificam

com a teoria da escola nova. No primeiro caso, esse entendimento teve como base o que

foi observado: o professor fala e o aluno ouve atentamente sem interrupções. Em

Qualquer manifestação do aluno nesse momento, o mesmo é advertido grosseiramente

podendo até ser retirado da aula. No segundo caso, a relação entre as partes é mais

democrática. O aluno interage com o professor tanto nas aulas quanto nas rodas de

capoeira. Neste caso, confirma-se a literatura que trata a aproximação do professor ao

aluno como eficiente controle sobre o comportamento do segundo. No período de

observação, constatou-se que as potencialidades da capoeira poderiam ser mais

exploradas para a criação de situações que pudessem fortalecer a relação professor-

aluno. O vínculo professor-aluno pode ser um dos fatores decisivos pelo processo

educativo na capoeira. De acordo com a literatura consultada, considera-se esse vínculo

como um ato psicossocial, de que uma pessoa influencia outra com suas idéias,

ideologias e valores.

Dos dados levantados, verificou-se uma falta de coerência entre o que os

ministrantes responderam no formulário e as suas práticas. Observou-se, de modo geral,

que o ambiente não é propício para estimular a interação e a troca de experiências

professor-aluno conforme sugere a literatura consultada. A relação professor-aluno é uma

condicionante importante no processo pedagógico, pois quanto mais o professor

favorecer a interação entre ambos, maior será o êxito no ensino e na aprendizagem.

7.3. Métodos e técnicas de ensino

Na questão dos métodos e técnicas de ensino, os indivíduos encontraram uma

grande dificuldade em expor a forma que trabalham, tanto ao responderem ao formulário

Page 41: comprometimento educacional dos professores de capoeira

47

como nas conversas informais. Para alguns “isso é coisa de futebol”. Nas observações

constatou-se que os professores ensinam o mesmo movimento ao grupo como um todo.

Os alunos, por sua vez, executavam esses movimentos, um de cada vez e o professor

vai corrigindo enquanto os outros observam. Em outro momento o ministrante divide a

turma em pequenos grupos, solicita que criem uma seqüência de golpes que deverá ser

apresentada ao resto da turma depois de alguns minutos de treino, O tempo da tarefa é

determinado pelo ministrante. A metodologia utilizada pelos ministrantes lembra a matriz

comportamental. Essa teoria caracteriza-se pelo processo de estímulo-resposta; o

professor mostra o movimento e cabe ao aluno repetir fielmente o estímulo. Dos sete

entrevistados, observou-se que seis utilizam o método socializado e técnicas de ensino

em grupo e somente um deles, o informante nº 2, trabalha com métodos e técnicas

individualizadas. Este ultimo informante não aglomera vários alunos na mesma aula. Nas

observações, constatou-se que o informante dividiu os onze alunos em duas turmas. Em

seguida, ensinava-os cada um afastado do outro, que, executavam movimentos distintos.

Observando as aulas e as rodas de capoeira sob a orientação destes

profissionais, foi possível constatar uma grande diferença nas técnicas utilizadas entre

eles. Os sujeitos com formação superior trabalham as aulas de forma criativa e lúdica,

mais voltada para a individualidade biológica de cada aluno. Apesar da característica

tradicional dos ministrantes de números 02, 03, 04 e 05, observou-se que durante as

aulas ocorreram algumas brincadeiras: o professor mostrava o movimento; escolhia de

olhos fechados o aluno a realizar o movimento que, independente do resultado era

sempre elogiado com palmas. Nessas aulas, os alunos que encontravam dificuldades

relevantes, se mantinham motivados e esforçados e mesmo não dominando muito bem

as habilidades que os movimentos exigem, entravam nas rodas. Por outro lado, os

indivíduos sem formação superior, os de números 01, 06 e 07, apesar de utilizarem

técnicas de grupo, seus treinos aconteceram de forma mecanizada. Neste caso, o

professor fala sobre o movimento e/ou seqüência e os alunos repetem o que foi

ensinado. Verificou-se também nas observações e nas respostas ao formulário, que a

metodologia utilizada por esses ministrantes, vai de encontro com a literatura quando

refere-se às técnicas como procedimentos estruturados, destinados a dirigir a

aprendizagem. De modo geral, os métodos e técnicas de ensino devem ser instrumentos

para conduzir o aluno a criticar, julgar, concluir, favorecer a reflexão do indivíduo de

maneira organizada, dentre outras.

Page 42: comprometimento educacional dos professores de capoeira

48

7.4. Avaliação

Sobre a avaliação, verificou-se no formulário, unanimidade nas respostas dos

informantes. Todos os ministrantes afirmaram utilizar a avaliação formativa,

principalmente nas rodas de capoeira que ocorrem freqüentemente. Argumentou-se que

no momento da roda é detectado o progresso e as dificuldades de cada aluno.

Observando as aulas, constatou-se que os alunos são avaliados simultaneamente e

constantemente. A orientação dos ministrantes aos alunos se dava de forma individual;

parava-se a roda, os ministrantes mostravam o movimento e explicavam a execução e

em que momento este movimento pode ser utilizado. Os professores 03 e 04 avaliaram

seus alunos, em seguida os motivaram a executar a atividade mais uma vez, no caso dos

insucessos na execução das atividades.

Os indivíduos 1 e 3, ao finalizarem os treinos, realizaram uma roda e os alunos

eram instruídos a executarem os movimentos e seqüências ensinadas no treino. Desta

forma os ministrantes, se necessário, revêem suas técnicas para facilitar a aprendizagem

dos alunos.

Quanto à importância da avaliação, todos os indivíduos investigados reconhecem

a relevância deste instrumento em suas metodologias. Reconhecem que é através dela

que selecionam os alunos considerados aptos para serem graduados ou evoluir no nível

da graduação. Por outro lado, verificou-se na observação, que no processo de avaliação

não ocorreu interação entre aluno e professor, ocasionando a desistência de alguns

alunos em realizarem a atividade. Dessa forma, acredita-se que o objetivo da avaliação

formativa, que é dar um feedback contínuo em relação ao ensino e aprendizagem do

aluno, não foi alcançado em alguns casos.

Constatou-se que em geral, os professores e mestres avaliam seus alunos no

momento da roda. Estas rodas de capoeira, durante as etapas de observação da

pesquisa, ocorreram depois dos treinos ou no terceiro dia de aula da semana. Nas aulas

ministradas nas segundas, quartas e sextas-feiras. Nas escolas que os treinos são nas

terças, quintas-feiras e sábado, as rodas são no sábado. A avaliação foi realizada sem os

alunos se pronunciarem.

Verificou-se também que a avaliação se dá de forma unilateral; só ocorre para

avaliar o aluno. Em nenhum momento ficou esclarecido que a avaliação seria utilizada

para analisar o ensino destes professores e mestres.

A avaliação que os ministrantes se referiram e a que foi observada, se referem ao

aprendizado dos fundamentos (golpes e movimentos): repertório de movimentos e

habilidades físicas do capoeirista

Page 43: comprometimento educacional dos professores de capoeira

49

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da importância deste estudo, faz-se necessário realizar algumas

considerações que giram em torno evolução da capoeira. A mesma apresenta-se

atualmente como um fenômeno histórico-sócio-cultural, que surgiu no bojo desumano da

escravidão no Brasil, em permanente construção, desenvolvimento e re-significação. A

capoeira vive um momento histórico ímpar de maior inserção social, tanto em âmbito

global, como local, devido a ações organizadas por seus precursores influenciados por

fatores de ordem social, política e econômica. Foram esses precursores que trouxeram a

capoeira fortalecida até os dias atuais. Daí, nosso respeito e admiração a estes

indivíduos que independente de sua formação contribuíram e ainda contribuem para a

manutenção desta arte genuinamente brasileira.

O presente estudo procurou descobrir os pressupostos educacionais de ensino

dos professores e mestres de capoeira da cidade de Porto Velho. Tem a intenção

principal de contribuir no desenvolvimento e aprimoramento constante da capoeira.

Espera-se que este trabalho, potencialize a organização de eventos diversos para que

estimulando a produção de conhecimentos sobre o ensino da capoeira e, de modo geral,

que se busque alternativas para o uso de todas as potencialidades sócio educativas

desta luta.

Ao conhecer a formação dos indivíduos que fizeram parte da amostra e o

desenvolvimento de seus trabalhos, verificou-se que existe uma gama de fatores

diferenciadores das atividades destes que nos leva fazer algumas observações. O

primeiro deles, refere-se ao comportamento dos ministrantes diante dos alunos. Os

professores com formação superior foram mais atentos quanto à motivação de seus

alunos. Em contrapartida, os sujeitos sem formação superior conduziram seus treinos em

meio ao silêncio de todos os alunos, que repetiam o que o professor ensinava. Dessa

forma os alunos pareciam tão somente, indivíduos a serem ensinados. Os indivíduos com

formação superior introduziram algumas Atividades lúdicas no desenvolvimento dos

treinos. Assim, nessas aulas os alunos mostravam-se mais alegres. Por outro lado, os

ministrantes que não possuem formação superior começavam suas aulas sem muito

diálogo; professor fala e o aluno executa. Esses fatores nos levam crer que, diante a

evolução de todas as áreas do conhecimento, é natural que o ensino da capoeira exija

uma melhor qualificação profissional do professores e mestres de capoeira.

Quanto à relação professor-aluno, constatou-se que predomina um

comportamento hierarquizado entre as partes, apesar do não reconhecimento deste fato

por parte dos informantes. Observou-se em conversas informais, que é do conhecimento

Page 44: comprometimento educacional dos professores de capoeira

50

da maioria dos professores a fundamental importância no processo de ensino-

aprendizagem um bom relacionamento com o aluno.

Em relação aos métodos e técnicas de ensino, a maioria dos ministrantes

demonstraram através da prática que utilizam métodos socializados e técnicas de ensino

em grupo. Entretanto, nas respostas ao formulário os ministrantes que não possuem

formação superior, demonstraram desconhecimento sobre o que são métodos e técnicas

de ensino, visto a analogia feita ao futebol. Já os indivíduos com formação superior,

apesar de utilizarem métodos e técnicas de ensino considerados mais indicados,

observou-se que demonstraram pouco conhecimento teórico referente aos métodos e

técnicas de ensino.

Na questão da avaliação, deram a entender que só existe uma forma de avaliar

um capoeirista, que é através da roda de capoeira. Por outro lado, verificou-se que este

instrumento didático-pedagógico é aplicado de forma unilateral: avaliam apenas o aluno e

não a forma que estão ensinando. Apesar dos ministrantes utilizarem a avaliação

formativa, esta por sua vez, não cumpriu o seu papel que, de acordo com a teoria a

avaliação é o elemento fundamental da aquisição de conhecimentos e habilidades que

impliquem na mudança de comportamento. Através das observações percebeu-se que o

tipo de avaliação é formativa, sempre ocorreu periodicamente e durante as rodas, mas,

nem sempre ocorreu a interação do professor com o aluno, como sugere a literatura.

Embora alguns profissionais apresentam muitos anos de vivências e experiências,

faz-se necessário uma qualificação a nível de ensino superior dos profissionais para um

melhor aproveitamento desta arte genuinamente brasileira, no processo educacional de

formação para a cidadania.

Finalmente, conclui-se que comprometimento educacional dos professores de

capoeira de Porto Velho ainda é deficiente. Esta reflexão se dá na medida que em

nenhum momento da observação, esses profissionais mostraram-se preocupados em

formar cidadãos críticos e autônomos. Atualmente a sociedade está presenciando

através de relatos de experiências divulgados na literatura a eficácia de métodos de

ensino voltados para o lúdico e a prática dialogal, que no seu novo modelo de vivência

social, leva esta sociedade à novas experiências vividas e incentivadas pelos indivíduos

nela inseridos.

Page 45: comprometimento educacional dos professores de capoeira

51

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ANEXOS

Page 50: comprometimento educacional dos professores de capoeira

56

Formulário para coleta de dados que será utilizada na pesquisa de Trabalho de Conclusão

de Curso de Elizangela Matias de Souza, acadêmica do Curso de Educação Física da

Universidade Federal de Rondônia .

E-mail: [email protected]

ACADEMIA (A) PROFESSOR (1)

1. Qual sua formação?

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________

2. Como você descreve seu relacionamento com os alunos? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. De que forma suas aulas são desenvolvidas, isto é, quais os métodos e técnicas mais utilizadas? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. De que forma os alunos são avaliados? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Qual a sua opinião sobre a importância da avaliação? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________