Compreendendo o Conceito de Homem

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Compreendendo o conceito de homem. A disciplina Homem, Cultura e Sociedade tem como objetivo refletir e debater questões relacionadas a nossa humanidade, reconhecendo que uma área distinta de conhecimento não tem condições de explicar as diferentes facetas próprias do humano.Dessa forma, para evitar um olhar unilateral, a disciplina propõe trazer aspectos de diferentes campos de conhecimento para minimizar a fragmentação, buscando refletir sobre a trilogia: homem, cultura e sociedade. Que é o homem e qual é a sua finalidade? Como as pessoas me veem? Como eu me vejo? Foram incontáveis as tentativas de elaboração de uma definição que abarcasse o conceito de homem ao longo do tempo. Religiosos, sociólogos, antropólogos, historiadores, filósofos, biólogos, psicólogos, dentre outros, todos investigaram a realidade humana e os aspectos e complexidades que o cercam: sua origem, sua natureza, suas aspirações, suas fraquezas e grandezas. Para encontrarmos nossa resposta, vamos seguir juntos um percurso interessante sobre a evolução do homem, seus valores e sua cultura. Para começar, vejamos as explicações da antropologia a seguir: I. ANTROPOLOGIA O termo antropologia (anthropos, homem; logos, estudo) significa o estudo do homem. Classificada como ciência da humanidade, preocupa-se em conhecer o ser humano na sua totalidade, o que abriu em três campos distintos de pesquisa: Ciência Social – que visa estudar o homem como ser integrante de grupos organizados. Ciência Humana – Enfoque no homem de forma global: sua história, suas crenças, usos e costumes, Filosofia, linguagem etc Ciência Natural – Visa conhecer o lado físico do homem considerando processos evolutivos. conceituação A Antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o que torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação mais ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu comportamento. O seu interesse está no homem como um todo - ser biológico e ser cultural -, preocupando-se em revelar os fatos da natureza e da cultura.

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Compreendendo o conceito de homem.   A disciplina Homem, Cultura e Sociedade tem como objetivo refletir e debater questões relacionadas a nossa humanidade, reconhecendo que uma área distinta de conhecimento não tem condições de explicar as diferentes facetas próprias do humano.Dessa forma, para evitar um olhar unilateral, a disciplina propõe trazer aspectos de diferentes campos de conhecimento para minimizar a fragmentação, buscando refletir sobre a trilogia: homem,

cultura e sociedade.     

 Que é o homem e qual é a sua finalidade? 

Como as pessoas me veem?  Como eu me vejo?  

   Foram incontáveis as tentativas de elaboração de uma definição que abarcasse o conceito de homem ao longo do tempo. Religiosos, sociólogos, antropólogos, historiadores, filósofos, biólogos, psicólogos,  dentre outros, todos investigaram a realidade humana e os aspectos e complexidades que o cercam: sua origem, sua natureza, suas aspirações, suas fraquezas e

grandezas.   Para encontrarmos nossa resposta, vamos seguir juntos um percurso interessante sobre a

evolução do homem, seus valores e sua cultura. Para começar, vejamos as explicações da antropologia a seguir:   I. ANTROPOLOGIA

   O termo antropologia (anthropos, homem; logos, estudo) significa o estudo do homem. Classificada como ciência da humanidade, preocupa-se em conhecer o ser humano na sua

totalidade, o que abriu em três campos distintos de pesquisa:   Ciência Social – que visa estudar o homem como  ser integrante de grupos organizados.  Ciência Humana – Enfoque no homem de forma global: sua história, suas crenças, usos e

costumes, Filosofia, linguagem etc  

Ciência Natural – Visa conhecer o lado físico do homem considerando processos evolutivos.    conceituação  A Antropologia visa ao conhecimento completo do homem, o que torna suas expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação mais ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas produções e seu comportamento. O seu interesse está no homem como um todo - ser biológico e ser cultural -, preocupando-se em revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta compreender a existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo, partindo do princípio da estrutura biopsíquica. Busca também a compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da vida social. 

   Na próxima página, vamos conhecer o objetivo do estudo na antropologia. 

Objeto de estudo da Antropologia  

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O homem e suas obras. Seus estudos se concentram no homem como membro do reino

animal, e por outro, no comportamento do homem como membro de uma sociedade.   Objetivo da Antropologia    É objetivo da antropologia o estudo do homem como um todo, sendo a ciência que estuda sistematicamente todas as manifestações do ser humano de forma unificada, buscando

chegar ao entendimento da existência humana   amos abordar nessa página sobre a Antropologia Cultural porque é neste eixo que iremos abordar as questões de nossas discussões.  ANTROPOLOGIA CULTURAL 

  Este é o campo mais amplo da ciência antropológica. Tem raízes na antiguidade clássica quando os primeiros relatos escritos acerca de outros povos iniciaram as discussões acerca da cultura dos mesmos. Os registros discutiam os povos descobertos como exóticos e

estranhos ao mundo europeu.  Investiga as culturas humanas no  decorrer do tempo e no espaço, suas origens e desenvolvimento, suas semelhanças e diferenças. 

 Todas as sociedades humanas passadas, presentes e futuras interessam ao antropólogo

cultural.  IMPORTÂNCIA DA ANTROPOLOGIA CULTURAL 

Podemos perceber que nas culturas dos povos primitivos e mesmo nas dos “civilizados”, o homem sempre centra sua atenção sobre si mesmo. Por isso, o estudo do homem, é tão antigo como o próprio homem. Contando ou escrevendo sua história, se explicando pelos mitos, refugiando-se na religião, preocupa-se o ser humano consigo mesmo.Muitas pessoas vivem fechadas em si mesmo, sem perceber a riqueza que o mundo e as pessoas a sua volta oferecem para o crescimento e desenvolvimento.  

 A sociologia não vê o homem sozinho como homem, por definir este como um ser estritamente social. A psicologia vê o homem como um ser autoconsciente enquanto a filosofia o define como um ser moral e racional como defendia Hegel . Para a teologia, o fato

de ser espiritual o distingue de toda a criação. Ronaldo Lidório/Antropólogo   

MAS...DE ONDE SURGIU O HOMEM?  

 Há algumas teorias que buscam explicar a origem do homem, vamos conhecer algumas

delas: 

  

Teoria Criacionista 

E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou; homem e mulher os

criou. Gênesis 1:27  

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 Teoria Evolucionista  

 Os seres vivos evoluíram a partir de um ancestral comum, o mecanismo biológico pelo qual

as espécies mudam, evoluem e se diferenciam é a seleção natural, processo em que os indivíduos mais adaptados ao meio ambiente têm maiores chances de sobreviver e deixar

descendentes.    

  Vamos conhecer agora os principais pontos de contraposição de   cada uma das

teorias: A teoria da Criação  X A Teoria da evolução          

 A corrente criacionista defende a tese de que o ser humano possui a exata forma na qual

foi criado.   Muitas  religiões,  como cristianismo,  islamismo, judaísmo, hinduísmo etc. têm descrevem em narrativas que o  homem foi criado de forma perfeita  e com todas as  características

atuais.   

 Já o evolucionismo defende o ponto de vista que a raça humana, da mesma forma que  os outros animais e  também as plantas, é o resultado  de uma evolução biológica, que levou alguns  milhões de anos para acontecer. De acordo com essa teoria o ser humano teria

surgido na Terra a mais de três milhões de anos atrás e nunca parou de evoluir.   A Teoria da Evolução é obra do biólogo inglês  Charles Darwin,  quem afirmou que os homens e os macacos de grande porte (chimpanzé, orangotango e gorila) possuiam um ancestral em

comum.    A evolução humana segundo Darwin:     As pesquisas científicas atuais permitem  afirmar que o surgimento da raça humana  ocorreu há cerca de 4 milhões de anos, pois  o fóssil mais antigo de um ancestral humano  foi datado

dessa época. 

 Ancestral mais antigo do homem é encontrado  

 Foi descoberta na Etiópia uma ossada do ancestral mais antigo dos humanos modernos. O Ardipithecus ramidus, apelidado de “Ardi”, viveu há aproximadamente 4,4 milhões de anos, e é 1,2 milhões de anos mais velho que “Lucy” da espécie Australopithecus afarensis, até

então o hominídeo mais antigo conhecido pela ciência. 

  

 

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 VOCÊ ACHA QUE O ELO PERDIDO FOI ENCONTRADO? 

 

 (Elo perdido: ponto em que o homem deixou as características puramente animais tornando-

se humano.)   

    Do ponto de vista físico, o homem é um animal que nasce, cresce, reproduz-se e morre,

como todo e qualquer ser vivo.   

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Do ponto de vista filosófico o homem é um ser incompletamente determinado,

potencialmente bom e potencialmente mau. Tudo é possível, nada é certo. (Todorov)      Do ponto de vista da linguagem, esta é elemento constituinte do humano, pois com ela o homem significa emoções, interesses, pensamentos, sentimentos, vontades e atos.  A linguagem permite que o homem possa organizar o seu mundo  dando  sentido para o que

faz e aprende, bem como para o que existe e acontece  no mundo.   Do ponto de vista psicológico frequentemente é um ser inventivo e progressivo, pensante, possui senso ético com uma consciência moral é reflexivo, religioso, dotado de

emoções estética, animal social e político, criatura finita e inacabada. 

 

  

 UMA DÚVIDA: NASCEMOS HUMANOS OU NOS TORNAMOS HUMANOS? O QUE VOCÊ ACHA?

 VEJA UM CASO ANTIGO QUE AINDA CAUSA CONTROVÉRSIAS:  

 AMALA E KAMALA: as meninas-lobo 

   

  Percebe como esta reportagem nos leva a pensar sobre a nossa existência no mundo, a

importância da vida em sociedade e o sentido que a cultura tem na vida humana? 

 

 

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 ASSIM PODEMOS CONCLUIR APÓS NOSSO PERCURSO: NOS TORNAMOS HUMANOS PELA CULTURA 

  

  Para discutir  

 

De onde surgiu o homem? Da criação ou da evolução? 

Web Aula 1   UNIDADE II - A explicação antropológica da diversidade cultural   

UNIDADE II - A explicação antropológica da diversidade cultural Diversidade cultural: do estranhamento à alteridade. Etnocentrismo x Relativismo cultural. Explicações deterministas & Explicações antropológicas. Explicações sobre a origem das diferenças culturais. Características da cultura. 

 

 Olá, vimos na aula passada diversas formas de definir o homem ao longo do tempo e concluímos que NOS TORNAMOS HUMANOS PELA CULTURA! Agora vamos analisar como a cultura determina e justifica o comportamento do homem. O que você acha da seguinte atitude? Há um costume em diversas culturas indígenas em que no momento em que uma mulher fica grávida, o pai da criança fica em casa deitado, repousando. É um jeito de mostrar para a sociedade que ele é o pai da criança. O que pensariam as pessoas de nossa sociedade de um homem que tomasse tal atitude? 

 

2.1. A  CONDIÇÃO HUMANA E  O OLHAR ANTROPLÓGICO        

 Rubem Alves, falando sobre o homem diz uma coisa bonita que quero compartilhar com

vocês:   “O  fato é que os homens se recusaram a ser aquilo que, à semelhança dos animais, o  lhes propunha. Tornaram-se inventores de mundos. E plantaram jardins, fizeram choupanas, casas e palácios, construíram tambores, flautas e harpas, fizeram poemas, transformaram os seus corpos, cobrindo-os de tintas, metais, marcas e tecidos, inventaram bandeiras, construíram altares, enterraram os seus mortos e os prepararam para viajar e, na sua ausência, entoaram lamentos pelos dias e pelas noites. . .” Leia o texto na íntegra: OS

SÍMBOLOS DA AUSÊNCIA  

 Podemos inferir que Rubem Alves concebe a cultura como um sistema simbólico.   Vejamos o que diz o antropólogo Geertz  

 

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“Cultura é um padrão historicamente transmitido, de significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atitudes acerca da vida”. (Geertz) 

 Assim, quando do descobrimento do Brasil, houve um choque de culturas, entre os índios,

habitantes do pais recém descoberto e os colonizadores europeus. Veja a imagem a seguir:   

   Um verdadeiro confronto entre as duas culturas, demonstrando uma incompreensão aos

hábitos e costumes de ambas as culturas, não é mesmo? 

A Cultura segundo a definição antroplógica  

 A cultura em si, de acordo com Levi- Strauss, Surgiu no momento em que o homem

convencionou a primeira regra, que teria sido a proibição do incesto.   Já  para Leslie White a cultura foi inaugurada quando o homem foi capaz de gerar símbolos. Os símbolos são instrumentos para a transmissão de sentimentos,  atitudes, idéias, informações e meios de ação para provocar outro homem. Os símbolos dão sentido às

coisas.   O ser humano sempre teve preocupação em compreender e dar sentido a sua própria

existência e da sua vida no meio social.   No século XVI, com as grandes navegações, os europeus chegaram ao “Novo Mundo” e se depararam com um cenário muito diferente de seu ambiente de origem. A natureza se mostrava espantosa, mas, o que causou ansiedade foi o encontro com os nativos. Tal

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encontro gerou, em ambas as partes espanto e medo, ao mesmo tempo em que procuraram, dentro do repertorio de cada grupo compreender quem era esse “Outro” que tinha uma aparência incomum. Portugueses e espanhóis queriam  saber se aqueles seres  encontradas

nus eram humanos, isto é, se tinham alma  pois se tem então são homens.   A mesma preocupação estava com os recém encontrados. Seriam aquelas seres do corpo peludo realmente humanos? Há relatos que passaram a afundar os corpos dos europeus mortos na água para observar se acontecia o mesmo que com os corpos dos índios; se

apodrecer, como eles próprios, podiam concluir que também eram homens.   O IMAGINÁRIO EUROPEU  

    Alguns monstros que europeus julgavam existir.   Até os séculos XV e XVI, acreditavam que viviam nas Índias. Porém, à medida que os navegadores foram chegando a tais regiões e não encontraram tais monstros julgaram que estariam  em outras terras que ainda eram desconhecidas. Dessa forma o oceano  e o Continente Americano, passaram a ser o lugar

onde habitavam esses monstros.    As sereias são monstros marinhos que têm sua origem na tradição grega, e que foram

identificadas, por exemplo, com a criatura denominada Ipupiara, encontrada nas brasileiras.   Seriam os colonizadores Deuses? Seriam os colonizados monstros selvagens?   A visão que os europeus tiveram do Novo Mundo e de seus habitantes estava contaminada pela religiosidade, supertições e mitos. Os conceitos medievais de bem e mal, foram

projetados nos habitantes do Novo Mundo.   Dessa forma, podemos dizer que o encontro gerou uma forte necessidade de classificar o diferente. Enquanto os nativos se questionavam acerca dos europeus se eram seres divinos, portugueses e espanhóis buscavam na religião uma resposta a dúvida se os habitantes da terra descoberta possuíam alma. Caso tivessem, como teriam vivido tanto tempo afastados

de Deus?   É nesse ponto que voltamos a pensar na essência da antropologia e entendemos que trata-se fundamentalmente da descoberta do outro. Do diferente, daquele que age de forma estranha a minha cultura e que é necessário para que não seja uma ameaça conhecê-lo e explica-

lo.Lévi-Strauss já dizia que “Toda ordem é melhor do que o caos”.   O homem passa de sujeito a objeto do conhecimento. Até então o conhecimento sobre o homem se pautava nos mitos, na teologia e na arte.Uma ideia inicial é de que o outro é

capaz de cometer atos impensáveis pela sua selvageria ou maldade.   

 

Deglutição Eucarística   “Cortez ordena que cada um dos [sessenta] caciques faça vir seu herdeiro. A ordem é . Todos os caciques são então queimados numa imensa fogueira e seus herdeiros  à execução. Cortez chama-os em seguida e lhes pergunta se sabem como foi dada a sentença contra seus pais assassinos, depois, tomando um ar severo, acrescenta que espera que o exemplo baste e que eles não sejam mais suspeitos de desobediência.”(Pierre Martyr Anghiera, “De Orbe Novo”, publicado em 1511).   Diferentes opiniões podem ser identificadas no contato com outras culturas. No caso dos índios brasileiros, às vezes é identificado como um ser agradável, ingênuo e solidário Outras

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vezes ele é visto como um ser próximo da animalidade da natureza. Num momento existe

uma exaltação do “outro’’; em outro momento existe uma depreciação desse “outro”.   Toda essa dicotomia deve-se aos valores culturais, crenças e moral diferenciadas, que

acabaram por ocasionar inúmeros conflitos, discordâncias e até mortes. Vejamos mais um pouco sobre esse choque de culturas.   Hans Staden, um alemão que esteve na América portuguesa no século XVI e acabou prisioneiro de uma tribo tupinambá, na região do atual litoral de São Paulo. Sobre os nativos

que conheceu, ele escreveu: “1547   

   Já para Bartolomé das Las Casas integrante da Ordem dos Dominicanos, que viveu na América, a opinião sobre os habitantes da nova terra é bastante distinta. Las Casas é

considerado um dos primeiros europeus defensores dos  índios brasileiros. 

     

Apesar  dos representantes da Igreja se posicionarem favoravelmente na defesa dos índios, eram fieis à fé católica e buscavam convertê-los à essa crença, impondo aos habitantes da terra um processo de negação de suas tradições e crenças promovendo uma aculturação.

 

Como foi uma  imposição feita por quem tinha o poder, gerou situações de discriminação e preconceito étnico, que tem ressonância até os dias atuais.

A ALTERIDADE  

 A antropologia pode ser pensada como o estudo do outro em relação a nós. Um aspecto fundamental desse campo de conhecimento e a dimensão comparativa possibilitada por

causa dessa relação. Sempre estamos comparando as culturas, buscando as diferenças.   Você já observou  a quantidade de programas de TV que colocam o seu foco no estabelecimento das diferenças culturais? Percebemos a alteridade  na  relação de contraste, de comparação. Assim poderíamos dizer que a antropologia busca produzir um

conhecimento sobre nós, mas analisando  o outro.      

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A capacidade de simbolizar e de fazer cultura é um diferencial entre os homens e os outros

animais. A experiência e elaboração da alteridade levam a ver aquilo que nem se consegue imaginar devido à dificuldade em prestar atenção ao que é habitual, familiar, cotidiano e considerado

evidente.   Através da experiência da “diferença” passa-se a notar que o menor dos comportamentos

não é natural, causando surpresa sobre nós mesmos.      O conhecimento antropológico de nossa cultura passa pelo conhecimento das outras

culturas.   Para a antropologia o que caracteriza “unidade” do homem é sua aptidão para inventar modos de vida e formas de organização social muito diversos. O que seres humanos têm em comum é a capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos muito diverso.

TRIBO KAMAYURÁ | RITUAL DE PASSAGEM PARA A VIDA ADULTA  

 Na relação com o outro a percepção que temos de nos mesmos é mudada, quando ao observar que os outros podem fazer as mesmas coisas, mas de forma diferente, nos indaga- mos sobre as nossas próprias maneiras. Por exemplo, pensem em que há de “natural” em comer com garfo e faca? Pode ser  “natural” para nós, mas como outra cultura, os Bororo do

parque do Xingu, por exemplo vê a mesma situação?   No  Século XIX já existia a preocupação com a alteridade e com as formas culturais diferentes das encontradas na Europa. A isso damos o nome de estudo do outro. Esse será o objeto da antropologia. Nesse momento, aquelas sociedades, que no Século XVIII se conheciam como sociedades da natureza, começaram a ser chamadas de sociedades ou

culturas primitivas. E esse vai ser o objeto empírico da antropologia.   Também havia um método. Ele consistia em estudar os relatos das viagens nas quais se descreviam esses diferentes modos de vida. Com ele a antropologia encontrou uma forma de interpretar a diversidade cultural e, desse modo, estabelecer uma ordem nas culturas diferentes do mundo.

RELATIVISMO CULTURAL – O movimento inicial do relativismo cultural é colocar sob suspeita a sua própria visão de mundo e de sociedade. É a busca de compreender o ponto de vista do outro, não importando ele qual for. Dessa forma, para que haja entendimento das diferentes práticas culturais, valores e normas,  estes devem ser entendidos dentro da cultura mais ampla da sociedade. Essa atitude leva à suspensão provisória das próprias crenças culturais e permite o exame de uma situação de acordo com os padrões de outra

cultura (ex.: Ramadã: jejum da alvorada ao pôr-do-sol).   

Relativismo cultural  – princípio segundo o qual não é possível compreender, interpretar ou avaliar de maneira significativa os fenômenos sociais a não ser que sejam considerados em relação ao papel que desempenham no sistema cultural. No relativismo cultural a ideia de bem e mal entre outras categorias de valores, dependem de cada cultura. Aquilo que a  sociedade entende como  "bem" torna-se  o bem, o certo. A moral reflete as convenções sociais e é compartilhada pelo grupo cultural.

 

 ESTRANHAMENTO 

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 Este é outro conceito importante a considerar. Primeiramente, estranho... para quem? Estranho e familiar são ideias que envolvem a mesma coisa, e à construção  social de familiaridades. Estranho ou familiar são ideias que dependem de quem observa  da carga de  influências culturais a que foi exposto e que determinou sua maneira de comportar  e de enxergar o mundo.   A palavra “estranho” refere-se a esse “outro” que  foi construído a partir

de uma  lógica diferente da minha.   Isso implica entender que estranhar é  reconhecer e aceitar a existência da diferença, sabendo que existem outras lógicas  que, por serem estranhas a que temos , precisamos 

decifra-las.   Descoberta proporcionada pela distância em relação a nossa sociedade: “aquilo que tomávamos por natural em nós mesmo é, de fato, cultural; aquilo que era evidente é

infinitamente problemático” (Laplantine, 1996:21).   Daí a necessidade na formação antropológica do “estranhamento”, isto é, a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais distantes, levando tal

encontro à modificação do olhar que se tinha de si mesmo.   

 Presos a uma única cultura ficamos cegos às outras e míopes em relação a nossa.   

Questão para discussão: O relativismo cultural significa que todos os costumes e comportamentos são igualmente legítimos? Há padrões universais aos quais todos os humanos deveriam aderir?

  

ETNOCENTRISMO  

 A imagem encontra-se no Atlas "Theatrum Orbis Terrarum", de Ortelius Abraham

(1527/1598), cuja primeira edição foi publicada em 1570.   Veja que a imagem possui quatro figuras. Elas representam os quatro Continentes: Europa, América, Ásia e África. A figura da parte superior representa a Europa, na parte inferior

temos a América, à direita a África e a esquerda a Ásia.   "Em posiçao proeminente encontramos a Europa.(...) Está retratada com vestes de soberana, com coroa e cetro e segura um globo imperial que simboliza claramente a  das potências católicas. À esquerda, uma princesa oriental ornada de jóias,  um turíbulo de incenso, personifica a Ásia das especiarias; em frente, do outro lado, a África tem um aspecto de uma negra pobremente vestida, à qual meteram na mão um raminho de bálsamo, a santa planta de Nossa Senhora, que floresce, apenas, num jardim egípcio. A América reconhece-se na mulher impudicamente nua que jaz embaixo, com uma cabeça de homem cortada na mão e brandindo uma clava, a indicar que se alimenta de carne humana e que vive no estado de

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'natura', isto é, na ignorância de qualquer forma de organização civil e política."   (ZAMBONI, 1996)   A Europa majestosa e a América selvagem: um exemplo da visão de mundo do colonizador     

 O que você acha dessa representação?  

 Em antropologia temos dois conceitos básicos para compreender os fenômenos que envolvem o contato de pessoas de culturas diferentes: relativismo cultural e etnocentrismo. Se o relativismo cultural trata-se de procurar ver o mundo a partir do ponto de vista do outro, considerando seu sistema simbólico e valores, o etnocentrismo faz o contrario. Coloca-se como modelo do que e correto e natural, e faz  julgamentos que depreciam o comportamento

daqueles que agem fora dos padrões de sua comunidade. 

 Nossos valores, costumes, hábitos culturais, nos são tão caros que, dificilmente, achamos que outros além de nós mesmos são mais humanos, verdadeiros, honestos, justos, bons, cultos, civilizados do que nós. Mas isso é um engano. Se tomo minha cultura, minha sociedade e minha forma de encarar e entender o mundo como sendo mais correta,

verdadeira e melhor do que todas as outras, estou agindo etnocentricamente.   Observe o que diz o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss sobre o tema.   Consiste em repudiar pura e simplesmente as formas culturais: morais, religiosas, sociais, estéticas, que  são as mais afastadas daquelas com as quais nos identificamos. “Hábitos de selvagens”, “na minha terra é diferente”, “não se deveria permitir isso”, etc, tantas reações grosseiras que traduzem esse mesmo calafrio, essa mesma repulsa diante de maneiras de

viver, crer, ou pensar que nos são  estranhas.   Assim, a antiguidade confundia tudo o que não participava da cultura grega (depois greco-romana) sob a denominação de bárbaro; a  civilização ocidental utilizou em seguida o termo selvagem com o mesmo sentido. Ora, subjacente a esses epítetos, dissimula-se um mesmo julgamento: é provável que a palavra bárbaro  se refira etimologicamente à confusão e à inarticulação do canto dos pássaros, opostas ao valor da linguagem humana; e  selvagem quer dizer “da selva”, evoca também um gênero de vida animal, por oposição à cultura humana. Em ambos os casos, recusamos admitir o próprio fato da diversidade cultural; preferimos lançar fora da cultura, na natureza, tudo o que não se conforma à norma sob a

qual se vive (LÉVI-STRAUSS, 1976, p. 334).   ETNOCÍDIO E GENOCÍDIO  

 Vimos que o etnocentrismo é uma relação em que uma sociedade se toma como medida ou critério de excelência para julgar outras. Mas há outro termo que nos interessa bastante. Trata-se do etnocídio. Conforme adianta Clastres (1982), enquanto o genocídio é a negação total do outro, pois não admite nenhum diálogo, simplesmente propõe a supressão de toda vida diferente, o etnocídio vislumbra a possibilidade de mudança: transformar o diferente em

um reflexo de outra cultura.   A expressão  genocídio remete a idéia de raça e ao desejo de extermínio de uma minoria racial, a expressão etnocídio aponta   não para a destruição física dos homens para a

destruição de sua cultura (CLASTRES, 1982, p. 53).    

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   LEIA MAIS“(...) e é por isso que as feras são domadas e submetidas ao império do homem. Por esta razão, o homem manda na mulher, o adulto na criança, o pai no filho: isso quer dizer que os mais poderosos e os perfeitos dominam os mais fracos e os mais imperfeitos. Constata-se essa mesma situação entre os homens, pois há os que, por natureza,são senhores e os que, por natureza são servos. Os que ultrapassam os outros pela prudência e pela razão, mesmo que não os dominem pela força física, são, pela própria natureza, os senhores; por outro lado, os preguiçosos, os espíritos lentos, mesmo quando tem a força física para realizar todas as tarefas necessárias, são, por natureza,servos. E é justo e útil que sejam servos, e vemos que isso é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios:‘O tolo servirá ao sábio’. Assim são as nações bárbaras e desumanas,estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acordo com o direito natural que essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humanas, de modo que graças à virtude dos últimos e à prudência de suas leis, eles abandonam a barbárie e se adaptam a uma vida mais humana e ao culto da virtude. E se recusam esse império, é permissível impô-lo por meio das armas e tal guerra será justa,assim como o declara o direito natural (...) Concluindo: é justo, normal e de acordo com a lei natural que todos os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem essas virtudes.” (Juan Gines Sepúlveda, in:

CASAS, Frei Bartolomé de Las. O Paraíso destruído. Porto Alegre: L&PM, 1985,p. 23.)

EXPLICAÇÕES DETERMINISTAS PARA JUSTIFICAR AS DIFERENÇAS  

 O Determinismo Biológico  

 Imagine a seguinte situação:   Você vai disputar uma vaga em um concurso que há bastante tempo tem aguardado. Ocorre que quando lê a lista de candidatos percebe que há um grande número de japoneses concorrendo.  O fato dos concorrentes serem japoneses pode significar dificuldades

para você?  

 Dizem que o brasileiro, herdou a preguiça dos negros, a imprevidência dos índios e a

sensualidade  dos portugueses. Será isso verdade?  

 De acordo com as teorias deterministas, existem raças com atributos e  capacidades especiais de forma inata, de maneira  que o indivíduo é determinado geneticamente. O  conceito de raça veio do italiano razza, que por sua vez veio do latim ratio, significando espécie, categoria sorte. Inicialmente foi usado pela botânica e depois, na Idade Média

passou a ser usado para classificar pessoas.      O determinismo biológico racial que explicava o comportamento das pessoas de um grupo social, ao mesmo tempo em que justificava a escravidão, uma vez que indivíduos  eram considerados inferiores biologicamente . O antropólogo Edward Tylor (1832-1917) rompeu com essa ideia quando fugiu a regra e propôs uma definição diferente da biologista, desconsiderando a ideia de  “raça”, abrindo os estudos voltados para a cultura e diversidade

humana.   Hoje  os  antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são  determinantes das diferenças culturais, e a antropologia e entendida como um sistema simbólico, que passou  a estudar a atribuição de sentidos, o significados e os sentidos impregnados nas coisas de forma geral. Dessa maneira, as diferentes atribuições de sentidos dados as coisas e circunstancias sociais determina a diferença entre povos. Por exemplo, para alguns grupos sonhar com parentes que já morreram é uma forma de lembrar destes. Para outros é chegado o momento da própria morte e há um pânico por parte de quem

sonhou. As diferentes culturas atribuem diferentes significados as coisas do mundo. 

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     A antropologia busca decifrar o “sistema simbólico” próprio de cada  sociedade e sua

diversidade nas sociedades humanas.   Assista ao Filme:  “Os deuses devem estar loucos” (1980).   Um avião sobrevoa o deserto de Kalahari, no Botswana, junto à África do Sul . Alguém no avião joga pela janela uma garrafa de Coca Cola que cai perto de crianças que estão brincando por ali. Rapidamente a crianças recolhem o objeto desconhecido e torna-se um brinquedo coletivo. Inventam diferentes usos para o mesmo. Mas, a tranquilidade do grupo é alterada pois a garrafa torna-se objeto de disputa, trazendo agressividade nas relações pelo

desejo de posse e por inveja. 

Trecho da Declaração elaborada por antropólogos  físicos e culturais, geneticistas,  biólogos e

outros especialistas, reunidos em Paris Reunião da UNESCO em 1950:   Os  dados científicos de que dispomos atualmente não confirmam a teoria segundo a qual as diferenças genéticas hereditárias constituiriam um  fator  de importância primordial entre as causas das diferenças que  se manifestam entre as culturas e as obras das civilizações dos  diversos  povos ou grupos étnicos. Eles nos informam, pelo contrário,  que essas diferenças se explicam, antes de tudo, pela história cultural de cada grupo. Os atores que tiveram tini papel preponderante na evolução do  homem são a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptidão é o apanágio de todos os seres  humanos. Ela constitui,  de

fato,  uma das características específicas do Homo sapiens.   OBS: as culturas são diferentes porque um mesmo objeto, crença ou valor, para uma cultura,

têm um significado completamente diferente do que para outra. 

 Caminhando mais um pouco na questão da diversidade cultural ...  

 O DETERMINISMO GEOGRÁFICO  

 Observe o que diz Aristóteles  

 O filósofo Aristóteles, que viveu na Grécia entre 384 - 322 a.C., em seu “Livro Quarto da

Política”   “[...] Os povos que moram nos países frios e nas diversas partes da Europa são, em geral, audaciosos, porém inferiores em inteligência e iniciativa. Por esse motivo é que eles sabem manter sua liberdade, porém não são capazes de organizar um governo, e não podem conquistar os países vizinhos. Os povos da Ásia têm inteligência e são industriosos, porém lhes falta coragem, e por esse motivo é que não deixam sua sujeição e cativeiro perpétuos. A raça dos gregos, que ocupam as regiões intermediárias, engloba essas duas espécies de tipos: é forte e inteligente. Permanece, pois, livre, mantém o melhor dos governos e poderia até submeter à sua obediência todas as nações, se fossem fundidas em um só Estado”.

(ARISTÓTELES, 2001 p. 129).   Estariam os que  habitassem regiões quentes condicionados à escravidão e a governos despóticos?  Quanto aos asiáticos em quem faltava energia, estariam condenados ao

despotismo e para a escravidão?   

Page 15: Compreendendo o Conceito de Homem

Em “Do Espírito das Leis”, de Montesquieu (1689 - 1755) pode-se encontrar  que o calor excessivo diminui a força e a coragem dos homens e que nos climas frios haveria uma força de corpo e de espírito que tornava os homens capazes de ações penosas, grandes e ousadas. Ainda como consequência das condições naturais derivaria a coragem dos povos de clima

frio e a covardia dos de clima quente.   Montesquieu também faz suas considerações...  

 “[...] Os povos dos países quentes são tímidos tais quais os anciãos; os dos países frios são corajosos tais quais os jovens. [...] Nas regiões frias, ter-se-á pouca  sensibilidade para prazeres; ela será maior nos países temperados; nos países quentes será extrema. Assim  como se distinguem os climas pelos graus de latitude, poderíamos distingui-los, por assim dizer, pelos graus de sensibilidade [...] Encontrareis nos climas  do Norte povos que têm poucos vícios, muitas virtudes, sinceridade e franqueza. Aproximai-vos dos países do Sul e julgareis afastar-vos da própria moral; ali, as paixões mais ardentes multiplicarão os crimes.

[...]” (MONTESQUIEU, 2002 p. 236-238)   O QUE VOCÊ ACHA QUE ELES DIRIAM CASO TIVESSEM A OPORTUNIDADE DE CONHECER

CIVILIZAÇÕES TROPICAIS COMO OS INCAS E OS MAIAS?    

 Para refletir mais sobre o assunto você pode assistir ao filme Apocalypto, e

também ao conhecidíssimo  AVATAR.Ambos lhe darão muitas oportunidades para refletir sobre as questões de

dominação e  diferenças culturais. 

Finalizando nosso tema, pudemos perceber que as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens a partir das variações do ambiente físico são muito antigas.  O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente geográfico 

condicionam a diversidade cultural.   Porém, em 1920 essa concepção foi modificada frente aos estudos Boas,  Wissler, Kroeber que  demonstraram que a influencia do ambiente geográfico  sobre a cultura possui muitas limitações. Inclusive demonstraram que no mesmo ambiente físico os grupos humanos

podem ter culturas muito diferentes.   Exemplo: Lapões( norte da Europa) e os Esquimós (norte da América) vivem em regiões muito semelhantes, com invernos prolongados e rigorosos.  Mas, a organização cultural dos

povos é bastante diferente mesmo tendo fauna e flora semelhante.      As casas dos  esquimós são construídas a partir de blocos de gelo e revestidas com peles de animais. Quando se mudam simplesmente abandonam a casa (iglu)não carregando peso. Já os  lapões,  armam tendas de peles  de rena que são desarmadas, limpas e secadas quando o grupo se muda para outro local. Os lapões são criadores de renas e fazem isso com muita competência. Já os esquimós  apenas caçam esses animais, havendo a possibilidade da caça

falhar e as pessoas terem fome.   Exemplos como esse demonstram que não dá para dizer que o ambiente geográfico age  sobre  a humanidade determinando o seu comportamento como se as pessoas fossem  puramente receptivas. O ser humano, apesar de frágil, com pouca força física  rompeu com suas limitações e desenvolveu técnicas e tecnologias  que o elevaram a condição de o mais

temível predador. Isso  porque é o único ser vivo que  possui cultura. 

WEB 2: A formação do pensamento ocidental

Page 16: Compreendendo o Conceito de Homem

UNIDADE 1: O pensamento mitológico

Vamos partir da frase a seguir: O homem sempre tentou dar sentido às coisas e colocar ordem no seu mundo para que pudesse saber como agir no seu cotidiano. “O  espírito do homem não  suporta a desordem porque não pode  pensá-la” (ARAGON, 1996, p. 215 ).  

 Mas, como organizar a realidade? A humanidade seguiu por dois caminhos diferentes: 1. Fabulação: mitos 

2. Razão: filosofia      

Na busca de explicar e ordenar o mundo estão presentes tanto o mito, que utiliza a representação do pensamento por meio de figuras quanto a  racionalidade que se empenha em pensar por conceitos.

Desde os inicio, os fenômenos do dia a dia instigaram a curiosidade do ser humano a encontrar explicações para as diversas situações. Como a ciência ainda era inexistente, a alternativa para entender o mundo foi durante muito tempo o conhecimento mitológico (ou cosmogonia). Dessa forma, temos o conhecimento mitológico como uma das primeiras formas de organizar um conhecimento sobre a realidade.Mas o que é o conhecimento mitológico? São características do pensamento mítico: uso do sobrenatural, do símbolo, na explicação das coisas, como a origem do universo, da natureza e dos valores. É crença sem fundamento justificável, com a utilização de representações simbólicas para a transmissão de suas idéias. Pertence à tradição cultural e representa a visão de mundo de determinada sociedade, sendo aceita e interiorizado pelo povo. O mito grego de Hélios conta que esse deus tinha a função de trazer luz e calor aos homens. Percorria o céu num carro de fogo puxado por 4 cavalos brancos, soltando fogo por suas narinas. Todas as manhãs, depois que a Aurora aparecia de madrugada no horizonte no seu carro dourado, Hélios saia do Oriente com seu carro e subia até o ponto mais alto do Meio-Dia. Então começava a descer para o Ocidente e mergulhava no oceano ou descansava atrás das montanhas. 

Mitos (mithos)– palavra grega que significa contar, falar alguma coisa para os outros.Mitos são explicações descomprometidas com a racionalidade que usam do fabuloso, da simbologia para explicar as coisas e os eventos no mundo.   Segundo Mircea Eliade, pode-se  definir mito como:   O mito é uma realidade cultural extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada em perspectivas múltiplas e complementares [...] o mito conta uma história sagrada, relata um acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos começos...O mito conta graças aos feitos dos seres sobrenaturais, uma realidade que passou a existir, quer seja uma realidade tetal, o Cosmos, quer apenas um fragmento, uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, é sempre, portanto uma narração de uma criação descreve-se como uma coisa foi produzida, como começou a existir... (ELIADE,M 1992).   

Page 17: Compreendendo o Conceito de Homem

O mito foi o primeiro passo que o homem deu para conhecer a si mesmo e o meio em que vivia. Ele traduzia não apenas as forças da natureza como a chuva, o dia e a noite, as secas, mas também questões de ordem humana, vida e morte, dor, angústia, felicidade.  O homem primitivo enxergava a si mesmo (enquanto pessoa) no mundo, e assim atribuía alma às coisas do mundo. Deuses foram criados com a dualidade pertinente aos seres humanos, ou seja, possuíam defeitos e virtudes.  Zeus (mitologia grega) é conhecido como o deus dos raios. É casado com a deusa Hera, mas teve diversos casos extraconjugais que resultaram no nascimento de filhos bastardos. Sua constante infidelidade fazia com que sua esposa, enfurecida,  se vingasse das amantes. Disponível em: Loki é o deus do fogo da mitologia nórdica. É conhecido por ser mentiroso, traiçoeiro e de pouca confiança. Outra característica do conhecimento mitológico é seu caráter dogmático. Não há necessidade de comprovar sua veracidade, não pode ser contestado, basta apenas que o indivíduo creia na sua explicação. 

Funções do mito   De acordo com Chauí, o mito tem três frentes de funções: explicar, organizar e compensar (CHAUÍ,1995).   1. Mito com função de explicar : O mito tem por função explicar a realidade de maneira a tranquilizar o homem em um mundo assustador. 

 Exemplo disso é o mito de Perséfone, que tem por característica explicar o surgimento das estações do ano como você pode ver no vídeo a seguir. 

    

  

O mito de Perséfone simboliza a divisão das estações do ano. Nos seis meses em que

Perséfone está com sua mãe, se faz na terra primavera – verão, é o tempo de felicidade pra

terra, as flores nascem à paisagem se enfeita, e quando está com seu marido, se faz outono

– inverno, a terra fica triste, gelada e sem emoção.  

  

2. Mito com função de organização – Determina o que pode ou não pode ser feito nas

relações entre as pessoas. Como exemplo o mito de Édipo com a explicitação da proibição do

incesto nas relações sociais,que você já aprendeu na webaula 1. 

  

3. Mito com função compensatória - Segundo Chauí(1995),o mito com função

compensatória narra uma situação passada, que é a negação  do presente e que serve tanto

para compensar os humanos de alguma perda como para garantir-lhes que um erro passado

foi corrigido no presente, de modo a oferecer uma visão estabilizada e regularizada da

Natureza e da vida comunitária.” (CHAUÍ, 1995). 

Como exemplo, entre os mitos gregos, encontra-se o da origem do fogo, que Prometeu

roubou do Olimpo para entregar aos mortais e permitir-lhes o desenvolvimento das técnicas.

Numa das versões desse mito, narra-se que Prometeu disse aos homens que se protegessem

da cólera de Zeus realizando o sacrifício de um boi, mas que se mostrassem mais astutos do

que esse deus, comendo as carnes e enviando-lhe as tripas e gorduras. Zeus descobriu a

artimanha e os homens seriam punidos com a perda do fogo se Prometeu não lhes ensinasse

uma nova artimanha: colocar perfumes e incenso nas partes dedicadas ao deus.  

Com esse mito, narra-se o modo como os humanos se apropriaram de algo divino (o fogo) e criaram um ritual (o sacrifício de um animal com perfumes e incenso) para conservar o que

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haviam roubado dos deuses.  Agora vamos iniciar uma nova reflexão, buscando ampliar seu conhecimento. Quais são as diferenças entre Filosofia e mito?    Podemos apontar três como as mais importantes: 

1. O mito se preocupava em narrar histórias de um tempo passado que não era possível precisar a época,  sem explicar o  presente. A Filosofia, diferentemente, procura explicar  como e por que, no passado, no presente e no futuro as coisas são como são.

2. O mito narrava a origem através de genealogias conflitos ou acordos entre deuses, já a filosofia se preocupa em explicações com bases racionais.

3. O fabuloso, o contraditório são características do mito, sendo a autoridade do  narrador inquestionável, pois acreditava-se que era escolhido dos deuses para transmitir os mitos às pessoas. Já a  Filosofia tem como princípio as explicações coerentes, racionais, não abrindo espaço para a fabulação. Não há autoridade divinamente estabelecida.

Continuando nosso percurso sobre os mitos vamos juntos entender  um pouco mais sobre  sua finalidade,Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? De três maneiras principais:  1. O principio de todas as coisas -  toda existência é oriunda das relações sexuais entre os deuses e destes com humanos, surgindo os titãs (seres semi-humanos e semidivinos), os heróis (filhos de um deus com uma humana ou de uma deusa com um humano), os humanos, e a natureza. Exemplos:

Sobre a origem do amor, deus do amor, Eros (Cupido) há o seguinte relato, exemplo extraído do Banquete203a, de Platão, após a observação das atitudes de uma pessoa apaixonada, sempre insegura, ansiosa e disposta a tudo para conseguir seu intento.

Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros (o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.”   2. A a guerra de Tróia. Justifica o motivo pelo qual  em certas batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Havia  divisão entre os deuses e na medida que Zeus se unia a um grupo de deuses ou outro, determinava na terra quem vencia a batalha.

Já de início, a guerra começou em função de rivalidade entre as deusas. Por disputa do titulo de mais bela aparecem em sonho para o príncipe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a  Afrodite. Isso gerou ciúmes nas outras deusas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general grego Menelau, promovendo a guerra. 

  

 

Page 19: Compreendendo o Conceito de Homem

3. Exigência de submissão:  recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece. 

   

 A explicação para a origem mal no mundo: a caixa de Pandora   

Prometeu, com pena dos homens que passavam necessidades, resolveu furtar uma centelha de fogo dos deuses e doa-la aos homens juntamente com a orientação de como acendê-lo.Zeus ficou furioso com essa atitude de Prometeu pois, o fogo deveria ser um segredo mantido entre os deuses. Por essa razão acorrenta prometeu numa montanha e todos os dias uma águia vinha devorar-lhe o fígado que, durante a noite se reconstituís para ser novamente devorado pela manhã. Aos homens detrminou outra punição. Ordenou a  Hefesto, que criasse uma mulher  perfeita, e que a levasse à reunião dos deuses. . Hefesto a conduziu pessoalmente aos deuses, e todos ficaram admirados; cada um lhe deu um dom particular: Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, vestiu essa mulher ricamente e  enfeitou sua cabeça com uma guirlanda de flores, montada sobre uma coroa de ouro. Atena lhe ensinou as artes das mulheres como a arte de tecer; Afrodite lhe deu o encanto, que despertaria o desejo dos homens; As Cárites, deusas da beleza, e a deusa da persuasão ornaram seu pescoço com colares de ouro; Hermes, o mensageiro dos deuses além de lhe dar o dom da fala  de falar, ensinou-lhe  a arte de seduzir os corações por meio de palavras insinuantes. Ela recebeu o nome de Pandora, que em grego quer dizer "todos os dons".  Zeus lhe entregou uma caixa fechada, e mandou que ela a levasse como presente a Prometeu. Ele porém, não quis receber nem Pandora, nem a caixa, e recomendou a seu irmão, Epimeteu, que também não aceitasse nada vindo de Zeus. Mas  Epimeteu, ficou encantado com a beleza de Pandora e casou-se com ela. Pandora não resistindo à curiosidade abre a caixa  de lá escaparam  todos os males que afligem a humanidade:  Loucura,  Doença,  Inveja,  Paixão,  Vício,  Praga,  Fome e todos os outros males, que se espalharam pelo mundo e tomaram miserável a existência dos homens a partir de então. Epimeteu tentou fechá-la, mas só restou dentro a Esperança, e é graças a ela que os homens conseguem diante dos sofrimentos não desistem de viver. 

  Hesíodo conta duas vezes o mito de Pandora; na Teogonia  não lhe dá nome, mas diz (590-93): Dela vem a raça das mulheres e do gênero feminino: dela vem a corrida mortal das mulheresque trazem problemas aos homens mortais entre os quais vivem,nunca companheiras na pobreza odiosa, mas apenas na riqueza. Hesíodo segue lamentando que aqueles que tentam evitar o mal das mulheres evitando o casamento não se sairão melhor (604–7): Ele chega a velhice mortal sem ninguém para cuidar de seus anos,e, embora, pelo menos, não sinta falta de meios de subsistência enquanto ele vive,ainda, quando ele está morto, seus parentes dividem suas posses entre eles.Hesíodo admite que, ocasionalmente, um homem encontra uma mulher boa, mas ainda assim o "mal rivaliza com o bem." Veja o filme a seguir para ter uma nova visão do mito da caixa de pandora. 

 

 

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A curiosidade matou o gato.  Caixa de Pandora é uma expressão utilizada para designar qualquer curiosidade que nos move  mas que é sensato não tocar.

você já participou de um rito?   O rito é a linguagem em ação do mito. Considera  os opostos como a possibilidade mudança de condição.  De acordo com a crença mitológica, para que algo novo seja construído é preciso que haja uma destruição da forma anterior. A morte, por exemplo, seria uma eterna condição de renascimento.   Para ligar os humanos aos deuses, organizando o espaço e o tempo, são criados os ritos.Lévi- Strauss diz que o ritual coloca em prática o mito, não se tratando apenas de formalidades. O seu estudo permite melhor compreensão da sociedade.  Quando o missionário e etnólogo Strehlow perguntava aos arunta por que celebravam determinadas cerimônias, obtinha invariavelmente a mesma resposta: "Porque os ancestrais assim o prescreveram". Essa é também a justificativa invocada pelos teólogos e ritualistas hindus: "Devemos fazer o que os deuses fizeram no princípio"; "Assim fizeram os deuses, assim fazem os homens".

 Veja o filme : Fúria de titãs  que é uma grande oportunidade para entender melhor os

conceitos   

 Vamos agora aprofundar nosso conhecimento sobre o que são os ritos,vamos lá.  O rito é uma cerimônia repetitiva em que   imita-se o ser sagrado que em algum tempo realizou a ação que os humanos buscam repetir e perpetuar. Para isso tudo é pré determinado: gestos, palavras, objetos, pessoas e emoções adquirem o poder  misterioso de promover a ligação entre os humanos e a divindade.  O ritual é um sistema cultural de comunicação simbólica . A simbologia de um ritual, deverá ser seguida pois a sua eficácia dependerá da  repetição minuciosa e perfeita do rito, tal como foi praticado na primeira vez, porque  nela os próprios deuses orientaram gestos e palavras dos humanos.     

  Nas famílias cristãs, católicos, e evangélicos existe o momento de repetir o gesto de Cristo na última ceia. Os alimentos são consagrados e portanto fazem parte de um mundo simbólico em que representam o próprio Cristo.   Já teve medo de algum objeto? Um patuá, um amuleto de religião que você não conhece?

Areligião sacraliza o espaço e o tempo, seres e objetos do  mundo, que se tornam símbolos de algum fato religioso. 

 

Cheios de carga simbólica, os objetos são retirados de seu  lugar habitual, passando a ter novo sentido  para toda a comunidade – protetor, perseguidor, benfeitor, ameaçador. Sobre esse ser ou objeto recai a noção de  tabu (palavra polinésia que significa intocável): é um interdito, ou seja, não pode ser tocado nem manipulado por ninguém  que não esteja religiosamente autorizado para isso. É assim, por exemplo, que certos animais se tornam sagrados ou tabus, como a vaca na  Índia, o tucano para a nação tucana, do Brasil. 

Page 21: Compreendendo o Conceito de Homem

  

É assim, por exemplo, que certos objetos se tornam sagrados ou  tabus, como o pão e o vinho consagrados pelo padre cristão, durante o ritual da missa.  

  A figuração do sagrado se faz por emblemas: assim, por exemplo, o emblema da deusa  Fortuna era uma roda, e uma cornucópia; o da deusa Atena, o  capacete e a espada. 

Ex.: Tipos de ritos:

Ritos de passagem -  estes relacionados às mudanças mais significativas pelas quais passamos em nossas vidas: nascimento, entrada na vida adulta, casamento, morte. Estes quatro acontecimentos são marcados por rituais em quase todas as culturas e, num certo sentido, “simbolizam uma iniciação”, nas palavras dos autores.O vídeo abaixo apresenta o ritual da tucandeira, que são os  adolescente que estão em transição para a idade adulta (guerreira) para poder mostrar que são pescadores, caçadores Esse ritual, representa o casamento, o homem tem que passar por esse ritual da tucandeira, tem que passar por esse ritual para se tornar guerreiro.

 fenômeno natural' (a vida - ou a alma – abandonando o corpo ), mas também de uma mudança de regime ao mesmo tempo ontológico e social: o defunto deve afrontar certas provas que interessam ao seu próprio destinopost-mortem, mas deve também ser reconhecido pela comunidade dos mortos e aceito entre eles"'. 

 

São exemplos de ritos, o casamento, o batizado , entre tantas outras cerimônias que ocorrem em nosso dia a dia.

 

Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar de fato. Hoje, a televisão, o cinema e a internet são os divulgadores de mitos. Embora sejam as histórias de sempre, aparecem com a roupagem que essa geração se identifica. Narcisos, apaixonados por si mesmo, Cinderelas, esperando um bom casamento, e tantos outros quanto nos mitos antigos.

A atualidade dos mitos 

 Hoje, buscamos os heróis, da mesma forma que nossos antepassados 

   Shakespeare, diz que heróis são pessoas que fizeram o que era preciso ser feito e pagaram o preço essa escolha.      

Page 22: Compreendendo o Conceito de Homem

Morin parte da idéia de que o cinema é o atual difusor de mitologias. Ao cinema agregamos a televisão e a internet. Se na antiguidade os mitos eram narrados pessoalmente, hoje a distancia foi desconsiderada frente a internet. 

  Para Tavola (1985:12), 

A mitologia, as lendas, os contos de fadas, a comunicação de massas, servem-se de mitos por ser mais fácil para a mente expressar os conteúdos (valores) através das histórias e narrativas do que de conceitos. O mito serve para tal captação. Tudo o que não se torna (jamais) claro para a mente ou é inconsciente ou transcendente emerge sob a forma de mito. Expressar-se por meios simbólicos é a forma de as mentes individual e coletiva fazerem emergir ao consciente o que nelas jaz ou lateja em profundidade, oclusão, alcance, memória ancestral ou futura”  

WEB 2: A formação do pensamento ocidental 

 

Unidade 2 - O pensamento pré-socrático 

 

 Fatores de transição do pensamento mitológico para o pensamento racional-filosófico 

 Principais características do período pré-socrático 

 O mobilismo e a dialética de Heráclito e o conceito de Ser em Parmênides    

   

A MUDANÇA NO PENSAR   A passagem do pensamento mítico para o filosófico: o surgimento da racionalidade   Com o  surgimento do pensamento racional, conceitual, entre os gregos, a conquista da autonomia da razão (lógos) diante do mito,  a historia do pensamento e do desenvolvimento alcança inúmeros setores da vida social. Um desses setores é a experiência política, a escrita, o comércio, dentre outros. 

A filosofia, diferentemente do mito, busca respostas lógicas para os eventos, Coerência e racionalidade são quesitos indispensáveis para organizar a vida real de modo que fique compreensível. Essa mudança no pensamento ocorreu de forma lenta, influenciada pelas mudanças na sociedade, na política e na economia. 

Page 23: Compreendendo o Conceito de Homem

A palavra Filosofia vem do grego (philo: aquele ou aquela que tem um sentimento amigável; e sophía: sabedoria). Ou seja, amigo da sabedoria.   

Para aprofundar o conhecimento, acesse o material  - A passagem do pensamento mítico para o filosófico: o surgimento da racionalidade 

Colocar a lupa.... A PASSAGEM DO PENSAMENTO MÍTICO PARA O FILOSÓFICO (material em anexo). 

    Diversos fatores contribuíram para o estabelecimento do pensamento racional.:   Viagens marítimas – Com o desenvolvimento das tecnologias para viagens marítimas, os gregos puderam conhecer outros  povos, nos lugares em que pensavam ser habitados por seres mágicos. No encontro com outros homens, iguais a eles, tiveram a oportunidade de aprender outros modos de vida. Diante disso, começam a refletir sobre a sua própria existência, questionar seus próprios costumes.. e ver outras possibilidades de conduzir a vida.   

    Calendário – Um calendário com base nos movimentos dos astros permitiu a compreensão do tempo, não sendo mais necessário esperar pela boa vontade dos deuses.   

Moeda – A moeda desempenha papel revolucionário, pois está vinculada ao nascimento do pensamento racional crítico 

     Vida Urbana –  A pólis se faz pela autonomia da palavra, não mais a palavra mágica dos mitos, palavras dadas pelos deuses e, sim pela palavra comum a todos, a palavra humana, do conflito, da discussão, da argumentação.  Os comerciantes foram bem sucedidos nos negócios, destacando-se na sociedade e passaram a patrocinar  as artes, as técnicas e o conhecimento. Esse ambiente foi determinante para o surgimento da filosofia. 

   Escrita – Na  palavra escrita exige-se uma abstração grande para comunicar as ideias e debate-las Política - Do Grego pólis que originariamente significa “cidade organizada por leis e instituições”. Todos os atos públicos do estado subordinados à lei que expressa a vontade do cidadão da polis, dá a esse cidadão também a responsabilidade pelo destino da cidade e, por conseqüência, pelo seu próprio destino.Na convivência em liberdade espera-se conduta ética, sempre sujeita à questionamentos.   O conhecimento de como isso se deu e quais foram as condições  que permitiram a passagem do mito à filosofia elucidam uma das questões fundamentais para a compreensão das grandes linhas de pensamento que dominam todas as nossas tradições culturais.   Deste modo, é de fundamental importância conhecer o contexto histórico e político do surgimento da filosofia e o que ela significou para a cultura. Esta passagem do pensamento mítico ao pensamento racional no contexto grego ainda é importante  pois os mesmos conflitos entre mito e razão, vividos pelos gregos, são problemas presentes, ainda hoje, em nossa sociedade, na qual a própria ciência depara-se com o elemento da crença mitológica ao apresentar-se como neutra, escondendo interesses políticos ou econômicos em sua roupagem sistemática, por exemplo.   Frente a essa nova  realidade histórica, fica difícil aceitar as explicações  sobrenaturais e misteriosas. É preciso compreender essa nova realidade. Por esses motivos, surge a filosofia e os filósofos foram modificando as narrativas míticas e passaram a dar explicações racionais para os fenômenos, porém, não houve  uma ruptura brusca nessa passagem do conhecimento mítico ao conhecimento racional. Com essa nova forma de pensar a sociedade foi impactada em todos os setores: Criaram a organização social e política que conhecemos hoje, ou seja, as sociedades até então desconheciam a separação entre poder publico,

Page 24: Compreendendo o Conceito de Homem

privado e religioso. Foram os gregos que fizeram essa separação através da organização de leis e instituições como forma de poder e governo. Criaram a ideia de justiça e lei, características da organização política atual.   

  

  Em relação aos conhecimentos, os gregos transformaram em ciência o que era prática para uso na vida: as curas viraram a medicina. Criaram a ideia de que o pensamento segue regras, normas e leis universais, ou seja, que o pensamento pode ser racional. 

A relação com outros povos trouxe estremecimento nas crenças de verdades absolutas

proclamadas pelos mitos, pois, percebeu-se que cada povo tinha o seu próprio repertório de

narrativas primordiais, sua bagagem cultural, entendida como tradições e valores. 

 

Não fazia mais sentido para aquela sociedade preocupada com  o comércio   e  aos 

interesses  pragmáticos,  as  tradições míticas  e  religiosas propostas pela visão mítica, que

passa a perder  progressivamente sua  importância.  Este cenário sócio político econômico

parece ser hipótese razoável para  justificar  a instauração do tipo de pensamento 

inaugurado  por Tales  e  pela  chamada Escola  de Mileto,  naquele momento  e  naquele

contexto.   

 

De acordo com Aristóteles, Tales de Mileto, no séc. (640-548 a.C.) teria inaugurado o

pensamento filosófico-científico, cuja ênfase esta em argumentos racionais , já que as

respostas oferecidas pelos mitos não eram mais aceitáveis. Por esse motivo,  é considerado

por muitos como o “pai da filosofia”.  

 

 

http://oqueeh.com.br/tales-de-mileto-biografia 

Aristóteles 

 

Diante desse conflito  entre o mito e a razão os   primeiros  filósofos  estudaram possíveis

explicações do mundo natural, a physis, de onde decorre o  termo “física”,  com base em

causas estritamente naturais.  Acreditavam que as respostas para às indagações humanas

poderiam ser encontradas no próprio mundo e não fora dele, em alguma realidade misteriosa

e incompreensível como rezava o mito.  

 

Essa mudança na forma de pensar a realidade (séc. VI a.C) se dá de forma radical com o

pensamento mítico, apesar de não acontecer de forma completa e imediata. As novas

Page 25: Compreendendo o Conceito de Homem

explicações conviveram com as antigas através das supertições, crenças, objetos do nosso

imaginário, tendo –se perpetuado até os dias atuais. 

 

Mas, o mito, com suas características de apelo ao sobrenatural  vai ficando distanciado das

necessidades sociais calcadas na realidade concreta, num momento em que o comércio

toma grandes proporções e a política torna-se intensa, cobrando pensamento racional  para

atender as novas demandas. Assim, houve um contexto favorável para o nascimento do

pensar filosófico.  PERÍODO PRÉ-SOCRÁTICO OU COSMOLÓGICO   O período pré-socrático ou cosmológico,  é um  momento na história da humanidade  em que aconteceram mudanças radicais na forma de conceber  o mundo e tudo que nele há. Ocorre no final do séc. V e início do VI  a. C.,  e é visto como o tempo do  nascimento da Filosofia, momento em que se investiga o mundo e as transformações naturais. Alguns filósofos relevantes desse período são: Tales de Mileto, Anaximandro  de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Pitágoras de Samos, Heráclito de Éfeso, Parmênides de Eléia, e Zenão de Eléia, oriundos de  várias escolas. A preocupação dos pensadores do  período cosmológico gira em torno da busca de explicações racionais e sistemáticas (uma cosmologia) para o mundo (o cosmo), que ficasse no lugar da antiga cosmogonia (explicação mítica). Procuraram estruturar uma  visão ordenada do mundo, com explicações racionais e sistemática sobre o inicio, a ordem e  a transformação da natureza e seres humanos além de investigar o princípio universal, imutável e eterno que gerou todas as coisas e seres: de onde tudo vem e para onde tudo retorna.  Bom, já sabemos como a Filosofia nasceu, e os motivos que levaram a essa forma de pensar. Mas quais foram os primeiros filósofos? O que fizeram? 

 Tales de Mileto (cerca de 625/4-558/6 a.C.) e considerado o primeiro filósofo,mas, infelizmente,  não temos materiais escritos por ele.  Aristóteles escreveu sobre ele:  “A maior parte dos primeiros filósofos considerava como os únicos princípios de todas as coisas os que são de natureza da matéria. Aquilo de que todos os seres são constituídos, e de que primeiro são gerados e em que por fim se dissolvem, enquanto a substância subsiste mudando-se apenas as afecções, tal é, para eles, o elemento, tal é o princípio dos seres; e por isso julgam que nada se gera nem se destrói, como se tal natureza subsistisse sempre… Pois deve haver uma natureza qualquer, ou mais do que uma, donde as outras coisas se engendram, mas continuando ela mesma. Quanto ao número e à natureza destes princípios, nem todos dizem o mesmo. Tales, o fundador da filosofia, diz ser água [o princípio] (é por este motivo também que ele declarou que a terra está sobre água), levando sem dúvida a esta concepção por ver que o alimento de todas as coisas é o úmido, e que o próprio quente dele procede e dele vive (ora aquilo de que as coisas vem e, para todos, o seu princípio. Por tal observar adotou esta concepção, e pelo fato de as sementes de todas as coisas terem a natureza úmida; e a água é o princípio da natureza para as coisas úmidas (…).”ARISTÓTELES. Metafísica, I, 3.983 b6 .Você já parou para pensar qual é o princípio das coisas? 

 Esse era o desejo de Tales: encontrar o segredo do princípio do mundo Há alguns motivos que levaram Tales a pensar que o princípio de todas as coisas fosse a água ou o úmido: a) Havia uma explicação mítica de que o oceano que estava em volta do mundo o teria criado.  

 b) A mudança do estado físico da água de liquido para sólido ou gasoso  abriu a curiosidade do filósofo quanto a possibilidade de que esse elemento natural pelas suas qualidades pudesse ser o principio fundador de todas as coisas. 

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 c) De acordo com Simplício, Tales teria observado que existe umidade nos seres vivos que ao morrerem, secam; 

 d) Tales fez uma viagem pelo Egito. Lá ele notou que, após a cheia do Nilo as plantas apareciam; 

 e) Fósseis de animais marinhos identificados em lugares  montanhosas, contribuíram com a sedimentação da  idéia em Tales de que, um dia, tudo era água.    

    

 Lembre-se: 

 Tales faz uso do pensamento cosmológico: explica o mundo de forma racional fundamentado nas observações que fez sobre ele. a mesma época, outros pensadores explicaram o mundo da mesma forma, mas fazendo uso de diferentes elementos como princípio: 

Enquanto Tales de Mileto  fizera da água o princípio de  todas as coisas, e Anaximandro escolhida o ar, Pitágoras de Samos o número, Heráclito opta vê no fogo o elemento explicativo dos diferentes fenômenos.  

Dessa forma, os pré socráticos procuraram fugir das explicações fabulosas dos mitos e partiram do que aparecia para eles  como fundamental:  os elementos da natureza.  A partir de uma cosmologia: a ordem (cosmos) do mundo passa a ser vista racionalmente , sendo que  o modelo de pensamento calcado na   genealogia a partir dos deuses, foi substituído por outro fundado na razão  da ordem do mundo. Temos aí o nascimento da filosofia. Vejamos quais foram estas noções, mencionadas por Marcondes (2005, p.24-27),  aponta algumas noções estudadas por eles que aqui apresento de forma sucinta: 

1. A physis 

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O objeto de investigação era o mundo natural. A compreensão da realidade natural está nela mesma e não no mundo sobrenatural 

2. A causalidade  

Procuravam explicar, relacionando um efeito a uma causa que antecedia outra. Tomavam um fenômeno como efeito de uma causa. O nexo deve ser dado entre os fenômenos naturais, e não através de causas sobrenaturais, é isto que distingue o discurso mítico do filosófico-científico. Mas há um problema! A explicação causal pode ir ao infinito em caráter regressivo, desta forma chegaríamos a um momento inexplicável, a um mistério. Assim acabaríamos novamente no mito. Para isso não ocorrer se estabelece uma causa primeira, um ponto de partida para o processo racional a arqué. 

3. A Arqué (elemento primordial) 

Procuravam o elemento primeiro, gerador de todas as coisas . Como já vimos, para  Tales de Mileto,  essa noção, diz ser a água (hydor) o elemento primordial. Para Anaxímenes e Anaximandro, o ar e o apeiron (algo ilimitado, indefinido, subjacente à própria natureza); Já Heráclito defendia a ideia de  ser o fogo; Demócrito dizia que era o átomo e assim ; Empédocles que dizia ser: terra, água, ar e fogo.  Dessa forma escapariam do infinito causal. A química hoje supõe que o hidrogênio, esteja presente em todo o universo. Estes filósofos buscavam um princípio básico permeando toda a realidade, um elemento natural, inaugurando a ciência. 4. O cosmo 

  

O cosmo para os pré-socráticos, vincula-se a ideia de  mundo  natural  regido  por  uma  ordem,  por  princípios  racionais  inteligíveis,  no  qual  se  percebe  uma  ordem hierárquica, na qual alguns princípios estão na base. A falta de uma ordem e organização da matéria é conhecida com a expressão caos.  A noção de  kosmos, para os pré-socráticos  trata-se de ordem, harmonia e mesmo beleza (considerando que a beleza resulta da harmonia das formas; daí o termo “cosmético”). 

 5. O logo 

 O termo logos significa literalmente discurso, mas de forma diferente do discurso do mythos. É  um discurso racional, crítico, argumentativo e sujeito à superação durante a discussão racional.  

 

6. O caráter crítico 

 Os pré socráticos partiam da ideia de que nada pode se transformar em verdade absoluta, dogma inquestionável. Tudo estava sujeito às divergências , as  discordâncias eram aceitáveis pois  abriam a possibilidade de novos entendimentos. Isso se as novas ideias estivessem pautadas  na racionalidade  racionalmente,  e postas nos debates, submetendo-se às a nálises de seus argumentos.   

 Como nos lembra Hadot (2004 p. 43) “Tales de Mileto (fim do século VII-VI) possui, antes de tudo, um saber que poderíamos qualificar de científico: prevê o eclipse do sol de 28 de maio de 585, afirma que a Terra

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repousa sobre a água; mas ele tem igualmente um saber técnico: se lhe atribui o desvio do curso de um rio”. 

 “Parmênides (c.530 a 460 a.C.) Esse pensamento de Parmênides está exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza, dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza. De modo simplificado, a doutrina de Parmênides sustenta o seguinte: Unidade e a Imobilidade do Ser; o mundo sensível é uma ilusão; o Ser é uno, eterno, não-gerado e imutável. “ FRAGMENTOS:   Veja a seguir algumas partes que foram conservadas dos textos de Heráclito e Parmênides.   

    Heráclito: (544-484 a.C.) Nascido em Éfeso, na Jônia (atual Turquia) Heráclito (540-480 a. C.) pertencia à aristocracia,  sua  família remontava ao fundador da colônia de Éfeso. Primogênito, herdou privilégios reais e tinha direito ao ofício honorário de sacerdote do rei, porém o transferiu a seu irmão. Recusou também o convite para fazer parte da corte do rei em exercício da Pérsia, Dario. Heráclito era defensor veemente da aristocracia e, após a implementação da democracia em Éfeso, retirou-se para sua residência de campo. Entretanto, foi sepultado em Éfeso, na praça do mercado, e por séculos sua imagem pôde ser vista nas moedas da cidade. 

 Heráclito, é conhecido como o filósofo do movimento. Platão descrevia a visão de mundo de Heráclito com a famosa expressão Panta rhei - Tudo flui. Para Heráclito, todas as coisas se encontram em fluxo contínuo, nosso mundo se encontra em contínua mudança. A única certeza é a mudança interminável. Nada permanece o mesmo. O mundo é um perpétuo  renascer e morrer,  rejuvenescer e  envelhecer.  

 O sol é novo a cada dia. Não se pode tomar banho duas vezes no mesmo rio pois, a pessoa já mudou e o rio também. 

 Da mesma forma que não é possível tocar duas vezes uma mesma substancia mortal no mesmo  estado,  porque  se  recompõe  e  se  reconstitui  de  novo  através da rapidez da mudança, ou melhor, não é de novo, nem em seguida, mas ao  mesmo tempo que surge e desaparece. 

 Quando acreditamos ter reconhecido uma constância, significa que fomos enganados por nossos próprios sentidos. A permanência é só uma ilusão. Não apenas o ambiente, mas nós mesmos vivemos em incessante processo de mudança. 

 É  aqui,  no  campo  do  devir,  que  a  luta  dos  contrários  acontece  e  nos  possibilita  conhecer  algo.  Exemplificando,  sabemos  o  que  é  a  alegria  porque  experimentamos  a  tristeza,  e  vice-versa.  “As  coisas  frias  se  reaquecem,  o  quente arrefece, o úmido seca e o árido umedece”  (p.23) 

 Heráclito  é  o  filósofo  do  devir.  Mas  não  é  um  devir  do  Ser,  mas  no  Ser.  Pois  as  mudanças  sempre  acontecem no interior mesmo do Ser.  É lei do universo, tudo nasce, se transforma e se dissolve. Contudo, não se  trata de um puro devir linear, o que seria o mesmo que negar o Ser. A vida acontece num circulo. 

 Enquanto Tales de Mileto  fizera da água o princípio de  todas as coisas, e Anaximandro escolhida o ar,  Heráclito opta vê no fogo o elemento explicativo dos diferentes fenômenos. Heráclito recebeu o nome de filósofo do fogo, por que defendia a idéia de que o agente transformador é o fogo: ele purifica e faz parte do espírito dos homens. Esses conceitos inspiraram os primeiros cientistas que exploraram na prática a união do material e o imaterial através do fogo: os famosos Alquimistas. 

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 O  fogo  transforma-se primeiro em mar; do mar, metade  torna-se  terra e a outra metade sopro  ígneo  [.../ O fogo, sob o efeito do Logos divino que governa  todas as coisas,  transforma-se através do ar em umidade, germe de toda a ordem do universo e a que chama mar. Deste nascem de novo a terra, o céu e tudo o que contém. Como  o mundo  volta  de  novo  atrás  e  é  devorado  pelo  fogo,  explica-o  claramente  assim:  a  terra dissipa-se em mar e a sua massa é conservada segundo a mesma medida que possuía antes de se  tornar terra. ( p.31) 

 A vida do fogo nasce da morte da terra, a vida do ar nasce da morte do fogo, a vida da água nasce da morte do ar e a terra nasce da morte da água. A morte do fogo engendra o ar e a morte do ar engendra a água. A morte  da  terra  faz  nascer  a  água,  a morte  da  terra  faz  nascer  o  ar,  a morte  do  ar  engendra  o  fogo. 

 A única certeza permanente que temos é a mudança. Tudo esta em constante devir, sendo até mais adequado dizer que alguma coisa está de alguma forma pois não sabemos como será no futuro. Por isso Heráclito disse que tudo é fogo, porque este modifica todas as coisas. 

Afinal, o que existe? A mudança ou a permanência? 

  Parmênides. 

Parmênides (século V a.C.). nasceu em família socialmente privilegiada e foi influenciado pela escola de Pitágoras. Escreveu um poema, “Da Natureza”, o qual não chegou inteiro à posteridade. Visitou Atenas por volta de 450 a. C., onde teria encontrado-se com Sócrates.No tempo em que viveu Parmênides a filosofia estava começando a se desenvolver. Havia grande  otimismo e a crença na razão exagerada.  Neste período Tales e Pitágoras trazem grandes contribuições à matemática que  fascinava.  O desafio de ter um problema posto com uma alternativa correta universalmente motivava os estudiosos de então. O pensamento e a razão seduziam os  filósofos gregos que buscavam uma ordem racional para entender o mundo, o lógos. 

De  acordo com Parmênides a mente vê o mundo conceitualmente, ela classifica e organiza a realidade a partir de conceitos. Os sentidos captam as informações do mundo de forma desarticulada  como uma multiplicidade, sem ordenação, categorização das informações captadas.Pelos sentidos vejo diferentes tipos de árvores. Umas altas, outras baixas, umas frutíferas, outras não.  Pelos sentidos temos uma grande variedade de informações sem ordem, sendo, portanto caótica.O pensamento diferentemente dos sentidos, hierarquiza conceitos, classifica, trazendo ordem e sentido.Por isso Parmênides trabalha com a ideia de que a razão  é superior aos sentidos reflexão  que influenciou inúmeros pensadores  inclusive  Platão. 

  No fórum,  procure responder as perguntas a seguir: 

Afinal, o que existe? A mudança ou a permanência? Você está mais inclinado a pensar com Heráclito ou Parmênides? 

Ou você buscará fazer o que fez Platão alguns anos depois: conciliar os dois, dizendo que a essência não muda, e o que muda são as aparências?                                                                         Aguardo vocês,nos encontramos lá! 

WEB 3: O PENSAMENTO CLÁSSICO

Unidade 1. Os sofistas, Sócrates e PlatãoUnidade 2. A lógica aristotélica e formação dos conceitos universaisOlá,Vimos na aula passada que o pensamento mítico na Grécia foi bastante alterado com o surgimento dos pré-socráticos. Lembram-se deles? Queriam descobrir qual era a substancia de onde tudo surgia no mundo.

Page 30: Compreendendo o Conceito de Homem

Hoje vamos falar de outra categoria de pensadores com visões e intenções bem diferentes dos pré-socráticos: os sofistas. Mas antes, vejamos como as coisas andavam na velha Grécia. Unidade 1. Os sofistas e Sócrates A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA VIDA DEMOCRÁTICA EM ATENAS

Depois de ser governada por reis, por nobres e até tiranos, a Grécia conheceu a democracia

(século V a.C.). Com essa forma política torna-se natural que as pessoas expressem

livremente suas ideias em praça pública (Ágora) e também nos tribunais. A FORMAÇÃO DA POLIS GREGA A Grécia Antiga

Polis era o local em que os gregos viviam, sendo pequenas cidades auto-suficientes (cidade-estado). Nessas localidades aconteciam as discussões públicas e se tomavam decisões sobre tudo que pudesse interferir na vida da comunidade. Decidia-se sobre guerra e paz, financiamento de guerra, recrutamento de tropas, tratados e negociações diplomáticas, regulamentação do culto, obras públicas, impostos e tudo mais que demandasse decisão governamental. (FINLEY 1984, p. 65) 

Na Grécia a democracia era direta, ou seja, os cidadãos participavam diretamente da vida

pública, não havia escolha de representantes políticos. Por esse motivo era necessário saber

falar bem para expor suas idéias. POLÍTICA, EXERCÍCIO DA LINGUAGEM E EDUCAÇÃO

Você fica tímido quando vai falar em público? Esquece o que ia dizer e esfria as

mãos?

Aprender a falar bem, usar a retórica (uso da linguagem de forma eficaz e persuasiva), era a possibilidade do cidadão ter participação real sociedade, fazendo valer o seu ponto de vista. Essa educação faria toda diferença na vida do cidadão, considerando que poderia alcançar seus objetivos com o uso da palavra.

O SURGIMENTO DOS  SOFISTAS  NA GRECIA DEMOCRÁTICA 

 Quem eram os sofistas? 

 

Os sofistas eram professores de oratória (arte de bem falar) que ensinavam a arte da

persuasão (estratégia para fazer crer, convencer). Eram geralmente estrangeiros sem

direitos políticos, não possuíam residência fixa, viajavam pelas cidades fazendo palestras e

tinham muito sucesso com elas. Eles reuniam muitos alunos e ministravam aulas particulares

em troca de boa remuneração. 

Ensinavam os alunos as técnicas de argumentação, e como driblar a opinião adversária,para

que tivessem êxito nos negócios privados e na vida pública, se preocupando com a forma

como se falava e não com o conteúdo. O importante, para os sofistas, era ganhar uma

discussão, independentemente do critério utilizado. 

  

É comum encontrarmos imagens bem sugestivas que nos incitam a tomar gosto pela

campanha de algum candidato. Observe a imagem a seguir: 

  

CAMPANHA: QUERO UM BRASIL DECENTE 

  O meigo garotinho nos leva  a relacionar o símbolo do partido com alguma coisa desejável. Somos envolvidos emocionalmente, deixando de lado a racionalidade. 

Page 31: Compreendendo o Conceito de Homem

Os sofistas, ignorando os principios da lógica formal utilizado pela filosofia afirmavam que

em filosia tudo é possível e tudo é verdade. Decorrem destas afirmações as duas grandes

teorias sofísticas: o relativismo subjetivo e o ceticismo absoluto.   O SOFISTA PROTÁGORAS E O RELATIVISMO MORAL 

 Protágoras 

O homem é a medida de todas as coisas; das coisas que são, enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são.  

Protágoras de Abdera (492 a.C.- 422 a.C.) É considerado o primeiro e um dos mais importantes sofistas 

    O que ele quis dizer com isso? 

Que todas as coisas dependem de quem as vê, não havendo verdades absolutas.  

O impasse sofistas x Platão poderia ser analisado a partir da situação a seguir, considerando

que quando a situação é analisada de modo mais completo podemos perceber que a verdade

acerca dela é objetiva e compreensível para todas as pessoas mesmo tendo duas versões.  

Um homem está preocupado porque acha que sua esposa está ficando surda e por isso vai ao médico. O médico sugere-lhe que experimente um simples teste em casa: parar atrás dela e fazer-lhe uma pergunta,

primeiro a seis metros, depois a três metros e, por fim, mesmo atrás dela.  O homem vai para casa e vê a mulher na cozinha, virada para o fogão. Da porta, pergunta: - Que vamos jantar esta noite? Nenhuma resposta. Três metros atrás dela, repete: - Que vamos jantar esta noite? Continua sem resposta. Por fim, mesmo atrás dela, pergunta: - Que vamos jantar esta noite? A mulher volta-se e diz: 

- Pela terceira vez… frango!" Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco entram num Bar..., Dom Quixote, Lisboa, 2008, pp.

73-74. http://duvida-metodica.blogspot.com.br/2010_03_01_archive.html 

 

 Mafalda 1   

  

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Para os sofistas, a verdade é pessoal, depende do contexto, da situação, não existe verdade plena, mas tudo é provável.  De acordo com Platão, os sofistas ensinavam opiniões, desconsiderando a verdade por isso eram falaciosos.    FALACIA 

 É um argumento falho ou inválido para comprovar o que alega. O pior é que tem “cara de verdade”. Temos que prestar atenção porque geralmente atacam nosso emocional nos levando a esquecer de fazer uma analise critica do assunto. Podemos resumir assim: falácia é uma falha técnica que torna o argumento inconsistente ou inválido. 

 

Existem muitos tipos de falácias. Veja a falácia de apelo à autoridade com o “Rei Pelé”. 

 

    

A figura do Pelé no Brasil é bastante respeitada quando se trata de saúde. Afinal ele é um atleta com mais de 60 anos que apresenta saúde e vigor. Quando ele diz: "Eu fico tão feliz por que a Invel é uma empresa que trabalha e faz o possível para melhorar a saúde das pessoas. Então, eu não poderia estar longe dela", está avalizando a qualidade do produto. A tendência é acharmos que o produto é de fato muito bom, afinal é o Pelé quem está dizendo. Mas, não há autoridade científica, sendo uma falácia de alto apelo à autoridade.     SABER E APARENCIA DE SABER – CONSIDERAÇÕES DE SÓCRATES         Sócrates 

 

  “Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei.”  Sócrates

 No livro Górgias de Platão (455) Sócrates diz que os sofistas não teriam condições, por falta de conhecimento, de opinar nas assembleias que tratavam da construção de muralhas, do aparelhamento dos portos, dos arsenais, e outras providencias relativas a defesa da cidade. Quem teria condições de discutir esses temas seriam os profissionais da área que conhecem do assunto, podendo dar conselhos válidos, úteis.  

 

  “o não sabedor, entre não sabedores, será mais convincente que o sabedor”. Para a oratória o conhecimento é desnecessário, basta encontrar uma astucia, uma sutileza de  persuasão “para, entre não sabedores, passar por saber mais do que os que sabem”.

 

Os sofistas buscavam poder e riquezas. Por esses desejos usaram da retórica para seduzir e conquistar poder na polis. 

  UM MÉTODO PARA SE CHEGAR A VERDADE: A IRONIA E A MAIEUTICA 

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 Você se lembra do antigo ditado popular: Quem dá o pão dá o castigo? Sócrates critica os so?stas por fazer de sua educação um negócio e com isso  perderem a liberdade de agir conforme seu próprio desejo para atender as expectativas  de quem lhes fazia os pagamentos. 

 Por fim, “Sócrates compara a sofística à arte da cozinha que procura satisfazer o paladar, mas não se preocupa se os alimentos são bené?cos”, caso satisfaça o paladar, não é necessário saber se sua composição é boa ou

prejudicial. (ABUZZI, 1992, p. 134)   

Fonte: 

A IRONIA SOCRÁTICA   

A ironia socrática é uma espécie de jogo de palavras que procura desmontar vaidades, pré-conceitos, arrogância e a

presunção do saber que atrapalham o entendimento da verdade. A palavra ironia para nós tem um sentido negativo,

pois, nos lembra de depreciação, zombaria. Mas, Sócrates faz uso bem diferente desse termo.  No grego, ironia quer

dizer “interrogação”. Este é o uso que o filósofo fazia dessa palavra. Ele questionava seus alunos naquilo que

pensavam saber. 

O que é a justiça? E a coragem?  

O reconhecimento da própria ignorância é a primeira virtude de um sábio. “Sei que nada sei” dizia Sócrates. Assim, a

ironia fazia uma purificação no pensamento dos alunos, levando-os a compreenderem suas limitações, contradições e

ignorâncias, sendo que antes se achavam muito competentes. É uma desconstrução do pensar.     A MAIÊUTICA – O PARTO DAS IDEIAS   

Esta é a segunda parte do método de Sócrates. Propunha uma serie de perguntas novamente, agora com o objetivo

de levar a pessoa a pensar sobre o assunto maneira mais organizada. Os alunos, livres dos preconceitos e de achar

que sabiam muito, podiam agora começar a reconstruir suas ideias.     

A MORTE DE SÓCRATES  

  

O JULGAMENTO DE SÓCRATES 

È triste pensar que um dos mais destacados pensadores da historia da humanidade tenha sido morto por estimular o pensamento crítico,  por defender  a justiça  e uma vida sem vícios. Os acusadores do filósofo dominavam a retórica e com isso persuadiam as pessoas a pensarem como eles queriam.  Como diria Sócrates, “o poder se torna mais forte quando ninguém pensa

   Sócrates em 399 a.C, Janeiro, já com 71 anos, foi acusado de ateísmo e de corromper os jovens com a sua filosofia, mas na realidade, estas acusações encobriam ressentimentos contra Sócrates por parte de pessoas poderosas da época. 

 Unidade 2. Platão e Aristóteles   O mundo das ideias de Platão    A lógica aristotélica    Sócrates conversava muito e escrevia pouco. Sabemos de suas ideias atraves de seu discípulo Platão.   MAS QUEM FOI PLATÃO?  

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Arístocles, conhecido como Platão, nasceu em Atenas (427-347) Foi o discípulo mais notável de Sócrates (469-399 a.C) é considerado um dos  marcos  do pensamento ocidental  pela profundidade e alcance de sua obra ele. Influenciado por seu mestre fez oposição declarada aos sofistas, escrevendo livros que passaram uma ideia

bastante negativa desses sábios..    Em relação ao homem Platão dizia é um ser dual possuindo corpo e alma..  Sócrates    

     

  A ALMA CABE EM UM CHIP? 

  E AGORA PLATÃO, COMO É QUE FICA?  

Como você acha que Platão explicaria  isso? É possível à Ibn Sina possuir alma?     TEORIA DAS IDEIAS    Em sua teoria, Platão distingue a realidade em dois níveis: o   mundo sensível, mutável, imperfeito percebemos pelos nossos sentidos, e o mundo das ideias, que é imaterial, eterno, imutável, e perfeito , a que só temos acesso por meio da razão.    Esse conceito é meio complicado não é? Vamos tirar algumas dúvidas com o vídeo de Viviane Mosé. Características do Mundo das ideias e Mundo das sombras 

 Vejamos um exemplo: Todos os médicos de um hospital estão numa confraternização de final de ano em um clube. O que podemos ver?  Que são pessoas diferentes, sendo um médico  alto e bonitão, outro japonês e recatado,  uma médica  muito bonita, outra não tão bela.  Mas,  todos eles têm algo em comum: são  médicos. Se quando quando olhamos para eles individualmente percebemos que  eram diferentes,   se os ouvirmos,  poderemos perceber que nem mesmo trabalham da mesma maneira.  Mas há algo que não muda: o fato de serem médicos.  

  Mas existem alguns médicos que se parecem mais com outras coisas como um pai ou professor, e ainda há aqueles que nem mesmo se parecem com médicos. Braços tatuados, colares indígenas, véu mulçumano. Mas nada disso modifica o fato de serem médicos.   A verdade  (Mundo Inteligível) é a ideia de médico que pode ficar obscurecida pelos  nossos sentidos ( Mundo dos Sentidos) que nos levam ao engano quando passamos a observar características individuais e perdemos a Ideia, o conceito que envolve a todos:  de serem médicos.   Melhorou a compreensão? Veja outro exemplo:   

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O Mundo Sensível  é apenas cópia. Mas as cópias precisam necessariamente da ideia original para refleti-la. Veja a relação entre ideias e cópias: Abaixo temos a ideia de casa e veículo.  

  

Teoria do Conhecimento Verdadeiro.    ALEGORIA DA CAVERNA A história é uma metáfora usada por Platão para nos fazer entender a teoria das ideias, alem de denunciar a injustiça na condenação de Sócrates. Veja o texto escrito por Platão, em seu livro “A República”, que serviu de base para a produção do vídeo. 

   Gostou do vídeo?  Pois bem, ele  trata da  teoria das ideias de Platão. Na busca pela verdade, Platão defendendo a ideia de existência de duas possibilidades de se abordar a realidade: a sensível, dependente de nossos sentidos para ser percebida, trata-se de um mundo ilusório, e a inteligível,  alcançada pela razão.   Vejamos um exemplo na próxima página.  leia a Alegoria da caverna de Platão  A história que Platão nos conta  diz respeito à necessidade de termos  o conhecimento filosófico e de sermos educados como estratégia para superarmos a nossa  própria ignorância. Isso acontece de forma gradual, passando das explicações  do mundo e da vida inicialmente em nível de senso comum para outra forma de explicar pautada na racionalidade cuja base é o conhecimento filosófico.   O aluno mais destacado de Platão foi Aristóteles que trouxe ricas contribuições ao pensamento racional. Veja um pouco da vida desse filósofo no vídeo a seguir.   

A LOGICA ARISTOTÉLICA 

 Observou como Aristóteles pensava de forma diferente de seu mestre Platão?   Apesar da profunda admiração que Aristóteles tinha por Platão, ele construiu uma teoria do conhecimento bastante diferente daquela pensada pelo seu mestre. 

 Você se recorda que Platão dizia que existem dois mundos, o inteligível e o sensível? Que o conhecimento é inato, só precisamos nos lembrar? 

 Pois é, para Aristóteles dá-se exatamente ao contrário: as imagens que formamos em nosso pensamento surgem a partir da percepção das coisas materiais, captadas pelos sentidos. Podemos observar que Aristoteles valoriza o que é concreto, é bem pé no chão. "Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos", dizia o filósofo.   A FILOSOFIA DE ARISTOTELES: O MUNDO CONCRETO COMO REALIDADE 

 

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Você conhece essa ave? Na figura temos a imagem de um Tuiuiú, ave típica do Pantanal. 

 Para Aristóteles, eu só tenho condições de ter uma ideia sobre esta ave se fizer uma observação direta ou realizar uma pesquisa sobre ela. Senão, Tuiuiú seria apenas uma palavra difícil de falar, vazia de significado. Da mesma forma será com nosso intelecto se não receber as informações pelas vias sensoriais.  Enquanto Platão dizia que as ideias eram inatas, Aristóteles afirmava que a razão é inata: nascemos com razão, que nos possibilita ordenar e classificar todas as coisas do mundo conforme são captadas pelos sentidos. 

 Viviane Mosé  apresenta no vídeo uma das mais ricas contribuições da teoria de Aristóteles: a lógica. 

 

 Fonte: (SER OU NÃO SER – ARISTÓTELES E A LÓGICA- VIVIANE MOSÉ- GLOBO – FANTÁSTICO,

2009)Para ele, a lógica é uma forma de abordar qualquer conhecimento, sendo ferramenta necessária para se chegar à verdade. Com ela é possível analisar a forma como o pensamento  foi estruturado, identificando  se o raciocínio foi conduzido de forma correta. Isso é possível através do estudo das proposições.  

 Mas, o que é uma proposição? É um conjunto  de palavras ou símbolos que expressam um pensamento completo.  Um raciocínio é uma sequencia de proposições, finalizada por conclusão.    De forma simplificada... Lógica é o estudo dos argumentos.   O que é mesmo um argumento? 

São encadeamentos de proposições que expressam uma ideia.Quando se aplica o pensamento para chegar a um novo conhecimento ou compreensão, as proposições são encadeadas de modo que delas seja possível extrair uma nova, denominada conclusão, que contém uma ideia que antes não estava expressa claramente, ou era mesmo desconhecida. Esses encaminhamentos de proposições recebem o nome de argumento. (Chalita, 2004, p. 67).   Os argumentos não válidos são chamados de falácia ou sofisma. Trata-se de  um tipo de raciocínio que apesar de ter aparência de correção é na verdade  incorreto.    Há muitos tipos de falácias, algumas nossas velhas conhecidas. Viu como essa falácia é nossa conhecida?  Não é difícil encontrarmos situações no nosso dia a dia  em que sejamos convidados a provar que determinado argumento de outra pessoa não se fundamenta. Lembre-se: quem precisar provar a validade do argumenta é quem o falou e não quem o ouviu. 

 Os argumentos gregos para se chegar à felicidade    No mundo grego antigo cada cidadão tinha um papel a desempenhar na sociedade com vistas ao bem coletivo. O objetivo comum era a felicidade de todos dentro do grupo. 

 

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Leia o fragmentos  de textos abaixo,  e prepare-se para defender seus argumentos em nosso FORUM. 

 Texto1 

 Sendo de comum acordo que o supremo bem é a Felicidade, basta então definir quais os meios para se chegar a ela. Aristóteles faz uma importante distinção entre virtudes intelectuais (sabedoria, inteligência e o discernimento, por exemplo) e virtudes morais (liberalidade e moderação, por exemplo), sendo as primeiras geradas pelo ensino e requerem experiência e tempo, e as segundas são adquiridas em resultado do hábito, o que sugere (e o próprio autor explicita na Ética) que nenhumas das excelências nos são dadas naturalmente. Conforme Aristóteles, a Excelência Moral é o meio-termo entre duas deficiências morais, uma das quais envolve excesso e a outra se relaciona com a falta. “Pois a natureza da virtude é visar a mediania nas paixões e nos atos”, por exemplo: o meio-termo entre a covardia e a temeridade é a coragem, assim como a temperança é o meio-termo entre a licenciosidade e a insensibilidade.  “Em moral, a virtude do homem é a força com a qual ele se aplica ao dever e o realiza. A virtude é a permanente disposição para querer o bem, o que supõe a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação. Uma vida autenticamente moral não se resume a um ato moral, mas é a repetição e continuidade do agir moral. Aristóteles afirmava que “uma andorinha, só, não faz verão” para dizer que o agir virtuoso não é ocasional e fortuito, mas deve se tornar um hábito, fundado no desejo de continuidade e na capacidade de perseverar no bem. Ou seja, a verdadeira vida moral se condensa na vida virtuosa”.  STIRN, François, Compreender Aristóteles. Vozes, Petrópolis, RJ, 2006 Quanto aos componentes da Felicidade, parecem múltiplos: os bens exteriores (insuficientes, mas necessários, dado que sem riqueza a pessoa só vive preocupada com a difícil satisfação das necessidades mais imediatas); o prazer que, embora não seja a Felicidade é o coroamento da atividade bem-sucedida, perfeita, da atividade que alcançou o seu fim. (...). A atividade feliz não é apenas a do médico que curou o doente, do professor que lecionou, do sapateiro que fez lindas sandálias. É a atividade do homem que realizou sua tarefa de ser homem: mostrou-se de modo excelente um homem, desenvolveu na medida do possível suas qualidades específicas de ser humano: a racionalidade, a linguagem, a sociabilidade. A excelência do ser humano é a sua virtude: bens exteriores (riqueza e honrarias), prazer, virtude, são, portanto, os componentes, todos necessários, da Felicidade: Felicidade é a atividade conforme a virtude”. 

 ARANHA, Maria Lúcia, Introdução à Filosofia. 2ª Ed. Moderna, São Paulo, 1993.     O que acha das afirmações contidas nos textos acima? 

 Você consegue estabelecer diferenças entre o conceito de felicidade do mundo antigo e do atual?  Quais são as principais diferenças que você notou? 

 Para Aristóteles o que é necessário para ser feliz? Como devemos agir? 

 Aristóteles está superado?   Para Aristóteles o homem busca a felicidade, e quando alguém consegue ser feliz basta a si mesmo. A virtude, que é o equilíbrio de todas as coisas é a porta pela qual conseguimos chegar a sermos felizes. A aparente contradição é que uma vida virtuosa cobra esforços e não divertimentos.Os prazeres, a diversão não são felicidade mas sim uma vida pautada no equilíbrio, sendo a virtude o meio - termo entre  dois extremos viciosos. 

 Entre o esbanjador e o avarento temos o generoso. Este, não desperdiça e nem fecha a mão exageradamente. Entre o imprudente e o covarde temos o corajoso que controla  sua impetuosidade e seu medo e age. 

 

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Assim, para Aristóteles a forma de se chegar à felicidade é através do equilíbrio, você concorda com ele?  

  O QUE É NECESSÁRIO PARA SER FELIZ? O QUE DIRIA ARISTÓTELES? E OS SOFISTAS? 

Web Aula 4 - IDADE DE DEUS   UNIDADE 1 - A IDADE MÉDIA

 Você está agora frente a frente com uma nova forma de entender o mundo. Uma nova

realidade explicada a partir do pensamento teológico cristão.   Como entender a união do cristianismo, que é uma religião, com a filosofia grega, que havia

rompido com o pensamento mítico e religioso e se pautava na racionalidade?    Vamos dar uma olhadinha para entender como tudo começou e terminou.  O “período medieval” abrangeu em torno de 1000 anos, ficando entre a queda do Império

Romano em 476 e a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.  Com a invasão dos “povos bárbaros” (séc. V) a estrutura da vida social foi modificada, e

temos ai o início da Idade Média.  Muitos problemas surgiram nessa época gerando graves crises econômicas e sociais, como por exemplo, fenômenos naturais que devastaram plantações e animais, fome, rebeliões de

servos, guerras e pestes, tudo isso anunciou o final da época medieval.  A filosofia medieval foi bastante influenciada por povos de diferentes localidades e

costumes: judeus, europeus e árabes que estavam em Roma.   O Cristianismo surge no Oriente, chega à Grécia, segue para Roma se espalhando posteriormente para outras localidades. Paulo de Tarso é o nome mais importante na divulgação da doutrina cristã. Observe a passagem do texto bíblico que está em Atos dos Apóstolos, capítulo 17 – versículos 16 a 23, que relata o encontro de São Paulo com os

atenienses:  

Enquanto estava esperando Silas e Timóteo em Atenas, Paulo ficou revoltado ao ver a cidade tão cheia de ídolos. Ele ia para a sinagoga e ali falava com os judeus e com os não-judeus convertidos ao Judaísmo. E todos os dias, na praça pública, ele falava com as pessoas que se encontravam ali. Alguns professores epicureus e alguns estóicos discutiam com ele e perguntavam: – O que é que esse ignorante está querendo dizer? Outros comentavam: – Parece que ele está falando de deuses estrangeiros. Diziam isso porque Paulo estava anunciando Jesus e a ressurreição. Então eles o levaram a uma reunião da Câmara Municipal e disseram: 

 – Gostaríamos de saber que novo ensinamento é esse que você está trazendo para nós. 

Pois você diz algumas coisas que nos parecem esquisitas, e nós gostaríamos de saber o que elas querem dizer. É

contando e ouvindo as últimas novidades.

Então Paulo ficou de pé diante deles, na reunião da Câmara Municipal, e disse: – Atenienses! Vejo que em todas as coisas vocês são muito religiosos.De fato, quando eu estava andando pela cidade e olhava os lugares onde vocês adoram os seus deuses, encontrei um altar em que está escrito: “AO DEUS DESCONHECIDO”. Pois esse Deus que vocês adoram sem conhecer é justamente aquele que eu estou anunciando a vocês. 

 

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que todos os moradores de Atenas e os estrangeiros que viviam ali gostavam de passar o tempo

Paulo usa de uma estratégia para ser ouvido pelos atenienses visando à divulgação da nova doutrina religiosa. No debate com os filósofos epicureus e estóicos, apresenta o Cristianismo não como rompimento das crenças dos gregos, mas como um complemento e aperfeiçoamento da teologia e da filosofia deles. De outra forma provavelmente não seria ouvido, mas, esta aproximação com a filosofia antiga possibilitou a aceitação gradativa do Cristianismo. Na Idade Média, a Igreja Católica dominou o cenário religioso. Detentora do poder espiritual influenciava o modo de pensar, e as formas de comportamento das pessoas. Ela tinha também grande poder econômico, possuindo terras em grande quantidade e até mesmo servos trabalhando. Nesse contexto, inaugura-se a patrística. 

Você se recorda do que foi a “Patrística?”

A palavra patrística vem de padre tem o sentido de “pai”, pois, foram eles que formularam os primeiros conceitos da fé e da tradição católica. Alguns Padres, após a morte dos apóstolos Paulo e João, elaboraram alguns problemas teológicos e tentaram conciliar religião e filosofia para solucioná-los. Nascia, assim, a filosofia Patrística que era uma forma de engrandecer o cristianismo, passando a ideia de uma religião com fundamentos racionais. Com a filosofia patrística temos a difusão, consolidação e constituição do pensamento cristão. O nome mais expressivo desse movimento é o de Santo Agostinho.   MAS, QUEM FOI MESMO SANTO AGOSTINHO?       

 

 Nasceu em Tagaste (África) e faleceu em Hipona (Argélia), onde ocupou o cargo de bispo da Igreja.Durante algum tempo seguiu a religião maniqueísta que prega que o bem e o mal são duas forças que regem o universo. Mas, influenciado pelo

arcebispo Ambrósio, de Milão, foi atraído para o cristianismo.

   Mas... 

  Uma nova corrente o neoplatonismo chamou a atenção de Agostinho. Ela defendia a idéia de que, com algumas alterações, poderia ajudar a fé cristã a elaborar e defender-se com argumentos racionais, criando assim a teologia.  

VOCÊ SE LEMBRA DA ALEGORIA DA CAVERNA DE PLATÃO? AQUELA HISTÓRIA DO POVO QUE FICOU PRESO NUMA CAVERNA ESCURA?   

Alegoria da caverna de Platão   

Platão dizia que a verdade, como conhecimento eterno, deve ser buscada intelectualmente no “mundo das idéias”, pela reflexão, e a escuridão representa a nossa ignorância.    A partir das ideias de Platão, Agostinho formula a doutrina da iluminação e explica como é possível receber de Deus as verdades eternas. Conclui que todo conhecimento verdadeiro é resultado de uma iluminação divina, que permite ao homem chegar à verdade.     Da mesma forma como o povo preso na caverna viu a verdade quando saiu de dentro dela, a luz divina tem o poder de iluminar nosso pensamento. Agostinho dizia que para sermos iluminados por Deus precisamos crer nas escrituras. Porém, apenas com o trabalho da razão a fé poderá ser demonstrada, assim como ocorre na física, as coisas para serem conhecidas devem receber luz do sol, situação semelhante acontece com relação a Deus que é o Sol que nos ilumina. Ele é o Bem.     

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E quanto ao mal, quem é o responsável?  Como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e

bondade?   Tendo o livre-arbítrio o homem se torna responsável pela existência do mal no mundo.    Agostinho tinha a intenção de provar a existência de Deus. Veja os argumentos no vídeo.   

  O que achou? Ele pode provar a existência de Deus?    Política e Religião na Idade Média  Na Antiguidade, as teses de Platão e Aristóteles afirmavam que a política era o único caminho possível para que o bem fosse realizado. Já na Idade Media entendia-se que só seria possível chegar ao bem apenas no convívio da comunidade cristã. Apesar das ideias conflitantes o pensamento Greco-romano tornou a doutrina religiosa cristã mais racional. Os teólogos passaram a desenvolver argumentos para provar que acreditar em Deus não vai contra a razão, pelo contrário, tem tudo a ver com ela.  

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 Você concorda com a posição da Antiguidade que a política era o único caminho possível para que o bem fosse realizado? Por quê? Você já havia pensado sobre isso?   A política a serviço da igreja  Apesar da parceria da Igreja com o estado as duas instituições tinham funções diferentes: ao Estado cabia o papel de analisar as necessidades das pessoas nas suas vidas no mundo como também de reprimir as paixões humanas pela força física. Já a Igreja se preocupava com a salvação da alma e na manutenção das pessoas na religião.  Santo Agostinho, dizia que por sua vez dizia que as instituições políticas e seus governantes são tendentes ao mal; elas se corrompem com facilidade, sendo desonestos, demonstrando serem piores que os piratas que saqueiam os navios, sendo pior o que fazem os governantes, pois saqueiam povos inteiros.   

 

  Agostinho formulou o problema das relações entre a fé e a razão, estudados no período da escolástica.  1 - O Que foi a Escolástica?  Entre o século IX e XV, a igreja Romana, ampliava seu poder, dominava a Europa, preparava as cruzadas e também abria as primeiras escolas. Este período do pensamento cristão é denominado escolástica, porque era a filosofia ensinada nas escolas da época por mestres chamados escolásticos. Diversamente da patrística, que queria elaboração a teologia católica, o interesse da escolástica era a elaboração da filosofia cristã.  O auge da escolástica ocorre com S. Tomaz de Aquino, no séc. XIII. TOMÁS DE AQUINO (1.226-1.274): A CRISTIANIZAÇÃO DE ARISTÓTELES  Tomaz de Aquino - Nasceu no castelo de Aquino, em Roccasecca (Reino de Nápoles), entre o ano de 1.224/5. Filho do conde Landolfo de Aquino e de Teodora, seu pai e um de seus irmãos pertenciam à aristocracia da corte de Frederico II. De 1230 a 1239 foi educado na abadia de Monte Cassino (Roma) onde toma contato com a Lógica e a filosofia Natural de Aristóteles.  Aquino procurou harmonizar a doutrina aristotélica com a doutrina cristã e defendeu a existência de um acordo entre a fé e a razão. Defende a posição de que a última palavra deveria estar na revelação, porém é a razão que norteia a fé e lhe dá coerência.  Observe a situação a seguir: VOCÊ CRÊ QUE O UNIVERSO SEMPRE EXISTIU? Tomaz tenta conciliar duas ideias que se contradizem:  

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  A POSSIBILIDADE DE SE DEMONSTRAR A EXISTÊNCIA DE DEUS  Como pensador cristão, Santo Tomás serve-se da filosofia para que possa deduzir, racionalmente, a existência de Deus, que ele não questiona; ao contrário, mostra como se pode inferir a Sua existência através dos cinco caminhos que a razão pode percorrer para concluir, daí, a existência de Deus.    AS CINCO VIAS PARA SE PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS  O argumento do primeiro motor: se tudo que existe é movido por alguma coisa, podemos dizer que há um primeiro motor, que move todas as coisas, mas não precisa de nada para ser movido, pois seria impossível remeter-se infinitamente a uma causa motriz; esse primeiro motor só pode ser, portanto, Deus.   A causa eficiente – se tudo aquilo que existe tem a sua causa eficiente, isto é, aquilo que lhe proporcionou existência imediata, necessariamente haverá uma causa eficiente que, em última instância, seja responsável por tudo aquilo que existe; essa primeira causa eficiente só pode ser, portanto, Deus.  Ser necessário e ser contingente – tudo aquilo que existe poderia ou não existir, uma vez existindo significa que, então, necessariamente existe algo, pois, se não existisse esse Ser Necessário, nada mais existiria; esse Ser Necessário, portanto, só pode ser, portanto, Deus.  Os graus de perfeição – se tudo aquilo que existe tem diferentes graus de ser, ou seja, alguns seres são mais perenes, outros mais efêmeros, uns mais perfeitos e outros mais imperfeitos, verifica-se que há uma escala ou uma hierarquia entre esses mesmos seres; assim, deve existir um ser que esteja no topo de tal hierarquia, com o máximo de ser, de perfeição e de perenidade; esse ser, portanto, só pode ser Deus.  A finalidade do ser - O argumento do governador supremo das coisas: se a totalidade dos seres obedece a um governo, ou seja, a uma ordem, é preciso, pois, que haja um ser responsável por ele; esse ser, portanto, só pode ser Deus.  

 UNIDADE 2 - O PENSAMENTO MODERNO   

 

TRANSIÇÃO DA IDADE MÉDIA PARA A IDADE MODERNA RENÉ DESCARTES E O RACIONALISMO JOHN LOCKE E O EMPIRISMO IMMANUEL KANT E O MOVIMENTO ILUMINISTA

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  TRANSIÇÃO DA IDADE MÉDIA PARA A IDADE MODERNA    No sec. XIV, no final do período medieval, o pensamento muda novamente e surgem outras formas de pensar, agora se defende a separação radical entre a razão e a fé, entre Filosofia e Teologia.     O homem e seus atributos de liberdade e razão passam a ser importantes novamente, e não apenas o mundo divino. Nas artes, predominam os temas pagãos, afastados da temática religiosa. Valoriza-se o corpo e a dignidade humana.    Podemos localizar a Modernidade entre 1453 (séc. XV) - data da tomada de Constantinopla, até 1789 (séc. XVIII) - no início da Revolução Francesa.    NOVO TEMPO E NOVO MUNDO: IDADE MODERNA, RENASCIMENTO E REFORMA    Choque de mentalidades    O conjunto de atitudes do homem moderno contrapunha-se à mentalidade medieval influenciada pelo pensamento contemplativo e submisso às verdades da fé. O homem moderno buscava não somente conhecer a realidade, mas exercer controle sobre ela. Ele queria descobrir as leis que regem os fenômenos naturais. O objetivo era prever para prover.    Ameaças à nova mentalidade    A transição para a mentalidade científica moderna não foi um processo súbito, tranquilo e sem resistências. A Igreja não aceitava as transformações e por isso castigava pensadores da época (Tribunal da Inquisição) e organizando listas de livros proibidos (o Index). A teoria heliocêntrica: atingia a concepção cristã de que o homem é o ser supremo da criação e a terra perderia o privilégio de ser o centro. A natureza e o universo passariam a ser concebidos a partir de um novo paradigma baseado tanto na observação quanto na representação matemática. Essa mudança passou a ser vista como uma ameaça aos dogmas da Igreja.   

Tribunal da Inquisição  

  Novos valores, novas ideias propostas pela burguesia    

Em vez de um mundo centrado em Deus, (teocêntrico), um mundo centrado no homem (antropocêntrico). Trata-se da valorização da obra humana; 

Em vez de um mundo centrado na fé (verdades reveladas), um mundo explicado pelas operações racionais (verdades estabelecidas pela razão). Isso levou a um desenvolvimento do Racionalismo e de uma filosofia laica (não religiosa);  

Em vez da ênfase no ideal da cristandade, um mundo marcado pela individualidade.  

  Observe a imagem. Veja como o homem afasta a mão da mão de Deus    Michelangelo, A criação de Adão, detalhe do teto da Capela Sistina, Vaticano 1483   

       Este sentimento de auto-suficiência do ser humano foi um dos fatores que provocou o surgimento do humanismo.     

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MAS O QUE É HUMANISMO?    Surge na Idade Média como uma corrente filosófica que  foi marcada pela transição do pensamento religioso e oposição ao mesmo. Alimentou o interesse pela investigação da natureza, estimulou a admiração pela razão e pela beleza, características presentes na cultura grega e romana, o que serviu de sustentação para o surgimento do Renascimento artístico e científico dos séculos XV e XVI.     As três mudanças mais significativas da modernidade são: a descoberta da América, o Renascimento e a Reforma.   

1. A descoberta do Novo Mundo - Um fator importante, que levou a mudança do pensamento moderno, foi a descoberta do Novo Mundo, pois revelou a falsidade e fragilidade da geografia antiga, o desconhecimento da flora e fauna encontradas. Revelou também a falta de conhecimento de outros povos e culturas.   

2. O RENASCIMENTO – REVALORIZAÇÃO DO HOMEM E DA NATUREZA  Movimento cultural (séculos XV e XVI), que criaria a base conceitual e de valores que permitiria a valorização da razão e da ciência no século XVII. Inspirou-se no humanismo, que defendia o estudo da cultura greco-romana e o retorno a seus ideais de exaltação do homem e de seus atributos como: a razão e a liberdade. Propiciou o desenvolvimento de uma mentalidade racionalista voltada para a observação e a investigação dos problemas do mundo.     3. O movimento da Reforma – Iniciada no século XVI, a Reforma Protestante foi um movimento que visou reformar a Igreja Católica Romana, e que terminou por originar as Igrejas protestantes. O monge alemão Martinho Lutero foi o iniciador desse processo histórico e fundador do Luteranismo.   

A credibilidade da Igreja Católica estava em queda desde a Idade Média. Havia muita preocupação do clero com luxo e bens materiais. As regras religiosas estavam sendo desrespeitadas, principalmente no que diz respeito ao celibato. A corrupção ficou insustentável e além tudo havia padres que nem conheciam os ritos da igreja, não sabendo nem mesmo rezar uma missa. Essas questões foram gerando insatisfação entre a população. 

Os religiosos condenavam a burguesia comercial, de obter lucro e juros, típicos do comércio emergente em plena expansão no século XVI, mas, o papa arrecadava dinheiro para a construção da basílica de São Pedro em Roma, com a venda das indulgências (venda do perdão) e de simonias (venda de cargos eclesiásticos). Havia também um comércio de objetos sagrados realizado padres e bispos, sendo que na maior parte das vezes vendiam peças falsas.  

 Em reunião com o cardeal Caetano, é solicitado a Lutero que desminta suas teses, pedido a que ele recusou. 

 

 UMA NOVA CONCEPÇÃO DO HOMEM E DO MUNDO  Século XVII e o surgimento da ciência moderna  

 A partir do século XVII a ciência passou por grandes mudanças. A partir dos estudos de Descartes e de Locke, o racionalismo e o empirismo passaram a serem considerados os pilares da ciência moderna.  

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 Racionalismo e razão têm alguma relação? Opa..., tem sim! O Racionalismo é a concepção que afirma que a razão é a única faculdade capaz de propiciar conhecimento adequado da realidade. Descartes pode ser considerado o representante ilustre do racionalismo. Recomendava que desconfiássemos das percepções sensoriais, responsabilizando-as pelos frequentes erros do conhecimento.   

QUEM FOI DESCARTES?   

   René Descartes (1596-1650) era francês, filho de prósperos burgueses, estudou em colégio jesuíta em La Flèche. Viveu num período chamado de Revolução Científica um tempo de acelerados avanços científicos. Era apaixonado pela matemática.   Veja o vídeo que trata de Descartes, filósofo, físico e matemático francês René Descartes, considerado o fundador da Filosofia Moderna: 

 

  Dizia que se quisermos alcançar a verdade temos que colocar tudo o que sabemos em dúvida, procurando analisar se é possível ter certeza de alguma coisa. Ele chega à seguinte consideração: “meus pensamentos existem e a existência desses pensamentos se confunde com a essência da minha própria existência como ser pensante. Daí surge a frase clássica de Descartes. Penso, logo existo”. Para ele, o termo pensamento abrange tudo o que cremos, sonhamos, afirmamos, negamos, sentimos.  Dessa forma, a pessoa era para ele, uma substancia essencialmente pensante. Sendo, o pensamento é algo mais concreto do que o corpo da pessoa.  

  Da sua Obra: - Discurso do método; podemos destacar quatro regras básicas, capazes de conduzir espírito na busca de verdade:  

1. Evidência: Despreza todo conhecimento vindo dos sentidos, da imaginação ou formulação apressada.

2. Divisão: Dividir cada dificuldade no maior número possível de parcelas e estudar cada uma separadamente.

3. Ordem: Partir dos problemas mais simples para os mais complexos.

4. Enumeração: Checklist, revisão de todo o processo, para garantir não ter esquecido

nada.A maior importância do trabalho de Descartes não foram os problemas que ele resolveu, mas sim as perguntas que ele formulou.  

 

O empirismo apóia-se nas teorias de John Locke (1632 – 1704) e considera a experiência a base do conhecimento – só se pode aceitar como válido o que pode ser demonstrado experimentalmente.  

   MAS QUEM FOI JOHN LOCKE?  

  

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John Locke é identificado como pertencendo ao grupo dos filósofos empiristas britânicos. O empirismo é uma doutrina científica, segundo a qual só é possível adquirir conhecimentos com experiência prática. Nascido em, Wrington, Inglaterra, no ano de 1632, era filho de um advogado inglês e estudou na universidade de Oxford, formando-se em medicina. Em 1675, exilou-se na França, mais tarde vai para a Holanda, e somente em 1688 volta à Inglaterra.   

  É conhecido como o teórico do liberalismo e seu pensamento parte da seguinte indagação: "Qual é a essência, qual é a origem, qual é o alcance do conhecimento humano?" 

Os teóricos do empirismo consideravam que o homem não tem em si mesmo conhecimento algum. Locke afirma que não há nada em nossa mente que não tenha passado antes pelos nossos sentidos. Esta doutrina representava uma ruptura radical com a filosofia e a ciência medieval, segundo as quais o homem possuía um conhecimento inato, infundido por Deus, e que se desenvolvia por meio da fé nos princípios revelados por Ele. Locke foi crítico da doutrina das ideias inatas de Descartes.  

  Para ele todo conhecimento humano deve vir direta ou indiretamente da experiência de mundo adquirida por meio do uso exclusivo dos sentidos.   

O que foi o Iluminismo? Foi um movimento político, cultural e filosófico. Autores iluministas defendiam a lógica e o raciocínio como base do conhecimento da natureza, do progresso e da compreensão entre os homens.  Kant é tido como o maior filósofo iluminista. Nascido em Konigsberg, na Alemanha (1724-1804). Estudou as possibilidades de conhecimento da mente humana, analisando os limites e as condições nas quais a razão pode conhecer o mundo.  E, então, você acha dá para conhecer Deus, o infinito? Como podemos chegar a uma resposta segura sobre essas perguntas? Somos capazes de saber como as coisas são na realidade? Kant afirma que a filosofia deve responder a quatro questões fundamentais: O que posso saber? Como devo agir? O que posso esperar? O que é o ser humano? Tentando responder essas questões, ele desenvolveu um exame crítico da razão, a fim de investigar as condições nas quais se dá o conhecimento humano: A teoria do “Esclarecimento”.  O que é o esclarecimento para Kant? É a saída do homem de sua condição de menoridade. Menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outra pessoa. O próprio indivíduo é o culpado em permanecer na minoridade. 

  Ele prossegue dizendo que todos nos vivemos em algum momento uma situação de minoridade. Pode ser por preguiça, medo oportunidade ou mesmo comodismo. 

  Kant se fez a seguinte pergunta: “vivemos numa época esclarecida?” A resposta é direta e concreta: 

   

[...] “Não, vivemos em uma época de esclarecimento” [...] Falta ainda muito para que os homens, nas condições atuais, tomados em conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser colocados nela, na qual em matéria religiosa sejam capazes de fazer uso seguro e bom de seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem. Somente temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo no qual podem lançar-se

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livremente a trabalhar e tornarem progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento geral ou à saída deles, homens, de sua menoridade, da qual são culpados. Considerada sob este aspecto, esta época é a época dos esclarecimentos. (KANT, 2005. p 70)

   Sobre o conhecimento Kant afirma que a filosofia deve responder a quatro questões fundamentais: O que posso saber? Como devo agir? O que posso esperar? O que é o ser humano? Tentando responder essas questões, ele desenvolveu um exame crítico da razão, a fim de investigar as condições nas quais se dá o conhecimento humano: A teoria do “Esclarecimento” O que você acha que podemos de fato conhecer?