COMO PENSAR TUDO …

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www.comopensartudoisto10.asa.pt COMO PENSAR TUDO ISTO? Manual Versão do Professor Manual do Aluno Caderno do Estudante Caderno de Apoio ao Professor Cade erno Cade Man ual C Manual V do Prof V ersão fessor d Um manual para ensinar como pensar Um manual adaptável a diversas necessidades Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo erno de Apo o Professor Cade erno Estu udante Cade ao Man do Al ual luno C do d MILL KANT Os fins justificam os meios! Discordo! ssor d Estu udante do Al luno do d

Transcript of COMO PENSAR TUDO …

Page 1: COMO  PENSAR TUDO …

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Manual Versão do Professor

Manual do Aluno

Caderno do Estudante

Caderno de Apoio ao Professor

Cadeerno CadeManual CManual Vdo Prof

Versão fessor d

Um manual para ensinar como pensar

Um manual adaptável a diversas necessidades

Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo

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KANT

Os fins justificam os meios!

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Page 2: COMO  PENSAR TUDO …

22

Apresentação do assunto principal

Um manual para ensinar como pensar

Page 3: COMO  PENSAR TUDO …

3

Capítulos 1 a 3 dedicados a problemas relacionados com as competências filosóficas fundamentais.

Capítulos 4 a 7 dedicados aos problemas filosóficos destacados nas Aprendizagens Essenciais.

Capítulo 8 apresenta orientações sobre como escrever um ensaio filosófico e disponibiliza o acesso direto a recursos digitais para dois temas/problemas do mundo contemporâneo. Para o professor são disponibilizados recursos para quatro temas/problemas.

Organização do manual

Capítulos 1 problemas ras competêfundamenta

Capítulos 4 aaos problemadestacados nAprendizagen

Capítulo 8 apreorientações soescrever um ene disponibiliza odireto a recursopara dois temas/do mundo contemPara o professordisponibilizados para quatro temaproblemas.

Organizdo manu

Identificação do problema central

em análise

Explicitação dos objetivos de

aprendizagem

MUITO PRAZER, SOU O INSPETOR LEBEAUX!

AO SEU SERVIÇO NO CAPÍTULO 2 DESTE PROJETO.

Page 4: COMO  PENSAR TUDO …

4

Pretende-se munir os alunos de ferramentas que os ajudem a pensar de modo crítico e fundamentado.

Ensinar aos alunos não o que pensar mas como pensar.

Os problemas filosóficos são sempre o ponto de

partida através da rubrica Laboratório mental.

nos udem e

o quear.

emas filosóficos mpre o ponto de através da rubrica ratório mental.

Laboratório mental

Durante um jantar numa mansão isolada, Mr. Boddy, o anfitrião da noite, admite que está a chantagear todos os convidados. As luzes apagam-se e Mr. Boddy aparece morto, e agora todos são suspeitos. Quem será o assassino? A jovem astuta, atraente e sedutora Miss Scarlett? O elegante e perigoso Coronel Mustard? A governanta explorada Mrs. White? O Reverendo Green, que parece ser capaz de tudo para esconder o seu segredo? A Mrs. Peacock? Ou o enigmático Professor Plum?

Todos eles tinham um motivo e eram os únicos no local do crime. Mas como resolver este mistério?

Para o Inspetor LeBeaux, que ficou responsável por resolver este caso, a solução era óbvia. Depois de examinar todas as provas disponíveis e questionar todos os suspeitos, LeBeaux obteve as seguintes informações:• Os suspeitos são: a Miss Scarlett, o Coronel

Mustard, a Mrs. White, o Reverendo Green, a Mrs. Peacock e o Professor Plum.O M B dd f i d

• Pela distribuição do veneno no prato, pode perceber-se que este foi despejado por alguém destro.

• O Professor Plum e a Mrs. Peacock são destros, mas não tiveram acesso à comida do Mr. Boddy.

• A Miss Scarlett nunca esteve sozinha com a comida do Mr. Boddy. Numa ocasião, ela e o Reverendo Green estiveram a sós na cozinha. Noutra ocasião, o Coronel Mustard tentou seduzi-la na sala de jantar antes de os outros convidados chegarem. Portanto:

• Se foi a Miss Scarlett, então o Reverendo Green ou o Coronel Mustard teriam de ser seus cúmplices.

• O Reverendo Green estava verdadeiramente apaixonado pela vítima. Portanto:

• O Reverendo Green não matou nem compactuou com ninguém para matar o Mr. Boddy.

• O Coronel Mustard é esquerdino.• A Mrs. White teve acesso à comida do

Mr. Boddy, mas não teve acesso ao veneno.Mi é i l id ! i I d i

Na pista de um assassinostribuição do veneno no prato, podeer-se que este foi despejado por alguém

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oddy, mas não teve acesso ao veneno.l id ! i I d i

O planeta seguinte era habitado por

um bêbedo. A visita durou pouco, mas

mergulhou o principezinho numa grande

tristeza.E á a fazer o quê? – perguntou ao

l d

– Para me esquecer de que tenho

vergonha – confessou o bêbedo, baixando

a cabeça.– Vergonha de quê? – tentou saber

o principezinho, cheio de vontade de o

ajudar.h de beber! – concluiu o

Laboratório mental

O principezinho e o bêbedo

Um manual para ensinar como pensar

KANT

De mim não aprendereis filosofia, mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes como pensar.

Page 5: COMO  PENSAR TUDO …

5

Nas suas viagens intergalácticas, o Comandante

Shepard deparou-se com uma enorme diversidade

de espécies, culturas e costumes. Por vezes, essa

diversidade deixava-o um pouco perplexo. Os

Quarian, por exemplo, expulsavam os filhos de

casa antes de estes atingirem a maioridade e só os

aceitavam de volta depois de encontrarem algo de

valioso nas suas viagens de exploração da galáxia.

Entre os Krogan, naturais do inóspito planeta

Tuchanka, apenas a agressividade e o egoísmo eram

vistos como virtudes; a compaixão e o altruísmo,

pelo contrário, eram encarados como sinais de

fraqueza que deveriam ser evitados a todo o custo.

Devido a um vírus que afetou grande parte da

população, as fêmeas férteis eram raras e muito

preciosas. Por isso, viviam numa comunidade

à parte com as crianças e só esporadicamente

recebiam a visita de alguns machos, escolhidos de

entre os mais fortes para assegurar a continuidade

da espécie. Os Asari, por sua vez, eram uma

espécie só com um género. A sua fisiologia única

proporcionava-lhes uma esperança média de

vida de cerca de mil anos e a possibilidade de se

reproduzirem com qualquer género ou espécie.

Talvez por esse motivo tenham adotado uma

atitude cooperativa relativamente às outras espécies,

valorizando a diplomacia em vez do conflito.

As suas decisões eram tomadas sobretudo com base

na razão e consideravam que as outras espécies não

se deviam deixar levar tanto pelas emoções.

Os Salarian eram uma espécie de anfíbios com

um metabolismo extremamente rápido. Isso fazia

com que fossem capazes de pensar, falar e mover-

-se mais rápido do que qualquer outra espécie.

Os Salarian valorizavam o conhecimento, o

trabalho e a eficácia e consideravam as restantes

espécies ignorantes, lentas e preguiçosas.

Os Batarian viviam sob uma ditadura e estavam

proibidos de sair do seu planeta natal. Os poucos

que conseguiam escapar a esse destino viviam

espalhados pela galáxia e dedicavam-se a todo o

tipo de práticas ilegais, como o tráfico de escravos

e narcóticos, para assegurar a sua sobrevivência.

Tudo isto acabou por fazer com que o

Comandante se questionasse: “Será que o certo

e o errado dependem do planeta em que nos

encontramos?”. Mas, assim que esta esta pergunta

lhe passou pela cabeça, ocorreu-lhe que também

no seu planeta havia diferentes noções de bem e

de mal, consoante a região e a cultura dominante.

E, no entanto, o problema parecia ser ainda

mais profundo, pois mesmo dentro das mesmas

culturas havia opiniões divergentes acerca do certo

e do errado. “Será que tudo depende do ponto

de vista ou existem coisas objetivamente certas e

outras objetivamente erradas?” – interrogava-se

novamente o Comandante.

Mass Effect, jogo RPG desenvolvido pela Bioware e pela EA e Lucien Malson.

(1988). As Crianças Selvagens. Porto: Livraria Civilização, pp. 26-28

1. Será que existem coisas objetivamente certas ou erradas? Porquê?#agora_pensa

Laboratório mental

Cada planeta, sua sentença

Soluções

no Caderno de Apoio

Professor

• Animação: Cada

planeta, sua sentença

ioridade e só os ntrarem algo de ação da galáxia. spito planeta e e o egoísmo eram

ão e o altruísmo, omo sinais de dos a todo o custo. rande parte da m raras e muito a comunidade poradicamente chos, escolhidos de urar a continuidade

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rança média de possibilidade de se género ou espécie. am adotado uma

mente às outras espécies,

m vez do conflito. adas sobretudo com base

ue as outras espécies não

to pelas emoções.

trabaespécies ignorantes, lentas e preguiçosas.

Os Batarian viviam sob uma ditadura e estavam

proibidos de sair do seu planeta natal. Os poucos

que conseguiam escapar a esse destino viviam

espalhados pela galáxia e dedicavam-se a todo o

tipo de práticas ilegais, como o tráfico de escravos

e narcóticos, para assegurar a sua sobrevivência.

Tudo isto acabou por fazer com que o

Comandante se questionasse: “Será que o certo

e o errado dependem do planeta em que nos

encontramos?”. Mas, assim que esta esta pergunta

lhe passou pela cabeça, ocorreu-lhe que também

no seu planeta havia diferentes noções de bem e

de mal, consoante a região e a cultura dominante.

E, no entanto, o problema parecia ser ainda

mais profundo, pois mesmo dentro das mesmas

culturas havia opiniões divergentes acerca do certo

e do errado. “Será que tudo depende do ponto

de vista ou existem coisas objetivamente certas e

outras objetivamente erradas?” – interrogava-se

novamente o Comandante.

Mass Effect, jogo RPG desenvolvido pela Bioware e pela EA e Lucien Malson.

(1988). As Crianças Selvagens. Porto: Livraria Civilização, pp. 26-28

11. Será que existem coisas objetivamente certas ou erradas? Porquê?##agora_pensa

Em 2013, um surto de uma mutação de um fungo infesta os Estados Unidos, transformando os seus hospedeiros humanos em criaturas hostis, conhecidas como “infetados”.

Vinte anos mais tarde, a civilização foi dizimada pela infeção. Os poucos sobreviventes vivem em zonas de quarentena altamente policiadas, ou espalhados em pequenos povoados e grupos nómadas. Joel é um contrabandista a quem foi confiada a mais importante missão da história da humanidade: conduzir a jovem Ellie,

é indispensável para o sucesso do projeto e que, em consequência disso, acabará por morrer. Assim que ouve estas palavras, Joel irrompe pela sala de cirurgias, atacando todos aqueles que se atravessam no seu caminho, e arranca Ellie, ainda inconsciente, da mesa de operações, fugindo dali o mais depressa possível.

Quando estavam prestes a sair da cidade, Ellie recupera os sentidos e questiona Joel sobre o sucedido. Este resolve mentir-lhe e diz-lhe que os médicos chegaram à conclusão de que não era

Laboratório mental

O que resta de nós

• Animação: O que resta de nós

Page 6: COMO  PENSAR TUDO …

666

Textos filosóficos clássicos e contemporâneos para análise

direta em sala de aula.

Exposição clara e sistemática das

principais ideias e argumentos incluídos

nos textos.

Um manual adaptável a diversas necessidades

Ideia-chave identificada para

apoio à análise do texto.

Page 7: COMO  PENSAR TUDO …

7

Formulação explícita na forma canónica

dos argumentos centrais em análise.

O professor pode optar por explorar cada uma destas três possibilidades isoladamente, ou combiná-las do modo que considerar mais adequado às necessidades dos seus alunos.

TOMARA CONSEGUIR ORGANIZAR OS MEUS

PENSAMENTOS ASSIM TÃO CLARAMENTE!

De acordo com Rawls, se D2 não coin-

cidir com o tipo de distribuição exigida pelo

Princípio da Diferença, será necessário re-

distribuir o dinheiro para se voltar ao pa-

drão inicial D1, ou seja, a uma distribuição

da riqueza de acordo com o Princípio da Di-

ferença (e não meramente com base na ti-

tularidade, isto é, no direito de propriedade).

Mas, para voltar a esse padrão inicial

D1, de forma a respeitar o Princípio da Dife-

rença, será necessário o Estado redistribuir

o dinheiro de Chamberlain, por exemplo,

através de impostos.

Contudo, para Nozick isso constitui uma

interferência inaceitável do Estado, pois

viola direitos de propriedade e desrespeita

a liberdade individual de cada um gerir o

seu rendimento e riqueza como bem en-

tender. Por outras palavras, na perspetiva

de Nozick, e seguindo a ética deontológica

de Kant, o Estado estaria a tratar Cham-

berlain como um mero meio.

Nozick defende que a tributação dos

rendimentos do trabalho (isto é, cobrar

impostos sobre o salário obtido através da

realização de um trabalho) é equiparável

ao trabalho forçado. Nozick defende esta

ideia no texto que se segue:

A tributação dos rendimentos do trabalho é equiparável ao trabalho forçado. Ficar com os rendimentos de n horas de trabalho é ficar com n horas de trabalho da pessoa; é como forçar a pessoa a trabalhar n horas para os objetivos de outrem. Aqueles que se objetam ao trabalho forçado, também objetariam a obrigar cada pessoa a trabalhar cinco horas extra por semana para beneficiar os necessitados. Mas um sistema que fica com cinco horas do rendimento em impostos (normalmente) não lhes parece que force alguém a trabalhar cinco horas. O facto de outros intervirem intencionalmente, violando uma das partes, faz do sistema fiscal um sistema de trabalho forçado.

Robert Nozick. (2009). Anarquia, Estado e Utopia. Trad. Vitor Guerreiro.Lisboa: Edições 70, pp. 213-215 (com supressões e adaptado).

”A ideia central por detrás da argumen-

tação de Nozick é a seguinte: tributar o

trabalho é ficar com os rendimentos de

n horas do trabalho de uma pessoa, ou

seja, é como ficar com o resultado do es-

forço associado a essas n horas de traba-

lho. Ora, ficar com o resultado do esforço

associado a n horas de trabalho de uma

pessoa é como forçar essa pessoa a tra-

balhar essas n horas para garantir a satis-

fação dos objetivos de outrem. Mas isso é

equiparável a trabalho forçado. Portanto,

a tributação do trabalho é equiparável a

trabalho forçado.

Ideia-chave do texto

A tributação dos

rendimentos

do trabalho é

equiparável ao

trabalho forçado.

262 O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL

Este argumento consiste numa falácia da derrapagem. Serão as premissas do argu-

mento plausíveis?

Para melhor compreenderes a crítica de Nozick, considera o seguinte esquema:

Ações livres dos indivíduos

Interferência do Estado (impostos)

Eticamente inaceitável

Padrão (Princípio da Diferença)

Padrão quebrado

A interferência do Estado viola direitos de propriedade

e desrespeita a liberdade individual

D2D1

1

2

3

4

Analisando este esquema, podemos

tirar as seguintes conclusões:

1

O Princípio da Diferença é uma conce-

ção padronizada da justiça: a proprie-

dade deve ser distribuída de forma que

os mais desfavorecidos fiquem o me-

lhor possível. De acordo com Rawls, se

não se respeitar este padrão, então a

sociedade será injusta.

2

Mas, uma vez dado o rendimento e a ri-

queza às pessoas segundo o Princípio

da Diferença, algumas gastá-los-ão,

outras obterão mais, e assim a socie-

dade acaba por se afastar do Princípio

da Diferença. Portanto, algumas ações

livres (trocas, ofertas, apostas, seja o

que for) acabarão inevitavelmente por

quebrar o padrão.

3

Para que o padrão inicial seja reposto,

a propriedade terá de ser redistribuída.

O Estado terá de intervir através de

meios como a cobrança de impostos.

Deste modo, para se concretizar o pa-

drão do Princípio da Diferença o Estado

tira a alguns indivíduos parte daquilo

que possuem legitimamente para be-

neficiar os mais desfavorecidos.

4

Porém, de acordo com Nozick esta re-

distribuição interferirá consideravel-

mente com a liberdade e os direitos de

propriedade de que as pessoas deviam

gozar. Segundo Nozick, esta interfe-

rência do Estado é eticamente inacei-

tável, pois viola os direitos de proprie-

dade dos indivíduos e desrespeita a

liberdade individual.

263O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL

De acordo com Rawls, se D2 não coin-

cidir com o tipo de distribuição exigida pelo

Princípio da Diferença, será necessário re-

distribuir o dinheiro para se voltar ao pa-

drão inicial D1, ou seja, a uma distribuição

da riqueza de acordo com o Princípio da Di-

ferença (e não meramente com base na ti-

tularidade, isto é, no direito de propriedade).

Mas, para voltar a esse padrão inicial

D1, de forma a respeitar o Princípio da Dife-

rença, será necessário o Estado redistribuir

o dinheiro de Chamberlain, por exemplo,

através de impostos.

Contudo, para Nozick isso constitui uma

interferência inaceitável do Estado, pois

viola direitos de propriedade e desrespeita

a liberdade individual de cada um gerir o

seu rendimento e riqueza como bem en-

tender. Por outras palavras, na perspetiva

de Nozick, e seguindo a ética deontológica

de Kant, o Estado estaria a tratar Cham-

berlain como um mero meio.

Nozick defende que a tributação dos

rendimentos do trabalho (isto é, cobrar

impostos sobre o salário obtido através da

realização de um trabalho) é equiparável

ao trabalho forçado. Nozick defende esta

ideia no texto que se segue:

A tributação dos rendimentos do trabalho é equiparável ao trabalho forçado. Ficar com os rendimentos de n horas de trabalho é ficar com n horas de trabalho da pessoa; é como forçar a pessoa a trabalhar n horas para os objetivos de outrem. Aqueles que se objetam ao trabalho forçado, também objetariam a obrigar cada pessoa a trabalhar cinco horas extra por semanapara beneficiar os necessitados. Mas um sistema que fica com cinco horas do rendimentoem impostos (normalmente) não lhes parece que force alguém a trabalhar cinco horas. O facto de outros intervirem intencionalmente, violando uma das partes, faz do sistemafiscal um sistema de trabalho forçado.

Robert Nozick. (2009). Anarquia, Estado e Utopia. Trad. Vitor Guerreiro.Lisboa: Edições 70, pp. 213-215 (com supressões e adaptado).

”A ideia central por detrás da argumen-

tação de Nozick é a seguinte: tributar o

trabalho é ficar com os rendimentos de

Ideia-chave do texto

A tributação dos

rendimentos

do trabalho é

equiparável ao

trabalho forçado.

262 O PROBLEMA DA J

Este argumento consiste numa falácia da derrapagem. Serão as premissas do argu-

mento plausíveis?

Para melhor compreenderes a crítica de Nozick, considera o seguinte esquema:

Ações livresdos indivíduos

Interferência do Estado (impostos)

Eticamenteinaceitável

Padrão(Princípio da Diferença)

Padrão quebrado

A interferência do Estado viola direitos de propriedade

e desrespeita a liberdade individual

D2D1

1

2

3

4

Analisando este esquema, podemos

tirar as seguintes conclusões:

1

O Princípio da Diferença é uma conce-

ção padronizada da justiça: a proprie-

dade deve ser distribuída de forma que

os mais desfavorecidos fiquem o me-

lhor possível. De acordo com Rawls, se

não se respeitar este padrão, então a

sociedade será injusta.

3

Para que o padrão inicial seja reposto,

a propriedade terá de ser redistribuída.

O Estado terá de intervir através de

meios como a cobrança de impostos.

Deste modo, para se concretizar o pa-

drão do Princípio da Diferença o Estado

tira a alguns indivíduos parte daquilo

que possuem legitimamente para be-

neficiar os mais desfavorecidos.n horas do trabalho de uma pessoa, ou

seja, é como ficar com o resultado do es-

forço associado a essas n horas de traba-

USTIÇA SOCIAL

j

2

Mas, uma vez dado o rendimen e acordo com Nozick esta re-nto e a ri-

4

Porém, dç

L

,

John Stuart Mill é o defensor de uma

teoria chamada “utilitarismo”. O utili-tarismo caracteriza-se por defender que:

– a única coisa que tem valor intrínse-

co é a felicidade – teoria do valor;

– a ação correta é aquela que, de entre

as alternativas disponíveis, mais pro-

move a felicidade – teoria da obri-gação.

A felicidadeSegundo Mill, o fundamento da mora-

lidade é aquilo a que ele decidiu chamar

“Princípio da Utilidade” (ou “Princípio da Maior Felicidade”). Este princípio es-

tabelece que:

Para justificar a sua perspetiva, Mill

começa por argumentar a favor da sua

teoria do valor. Nas suas palavras:

Neste excerto, Mill começa por defen-

der que a única prova de que algo é visível

(ou audível) é o facto de ser visto (ou ouvi-

do) por alguém. Por analogia, Mill conclui

que a única prova de que algo é desejável

é o facto de ser desejado por alguém. Em

seguida, nota que a única coisa que as pes-

soas desejam, como um fim em si, é a sua

própria felicidade. Por isso, conclui que a

felicidade individual é a única coisa que é,

por si mesma, desejável para cada pessoa.

Chamemos a este argumento “ar-gumento da felicidade”. O argumento

pode ser reconstruído conforme se segue:

(1) A única prova de que algo é visível

(ou audível) é o facto de ser visto

(ou ouvido) por alguém.

(2) Logo, a única prova de que algo

é desejável é o facto de ser desejado

por alguém. (De 1, por analogia)

(3) A única coisa que cada pessoa

deseja, por si mesma, é a sua

felicidade.

(4) Se a única prova de que algo é

desejável é o facto de ser desejado

por alguém, e a única coisa que cada

pessoa deseja, por si mesma, é a

sua felicidade, então a felicidade

individual é a única coisa que é, por si

mesma, desejável para cada pessoa.

(5) Logo, a felicidade individual é

a única coisa que é, por si mesma,

desejável para cada pessoa. (De 2 a 4)

No que diz respeito à premissa (1),

o que Mill está a tentar fazer é mostrar

que o tipo de prova que podemos for-

necer em relação a certos assuntos,

embora possa ser encarado por alguns

como sendo bastante limitado, é o único

tipo de prova que pode alguma vez ser

[…] as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade.

John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 13

A única prova que se pode apresentar para mostrar que um objeto é visível é o facto de as pessoas efe-tivamente o verem. A única prova de que um som é audível é o facto de as pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do mesmo modo com as outras fontes da nossa experiência. Similarmente, entendo que a úni-ca evidência que se pode produzir para mostrar que uma coisa é desejável é o facto de as pessoas efetiva-mente a desejarem. […] [C]ada pessoa, na medida em que acredita que esta é alcançável, deseja a sua própria felicidade. Isto […] dá-nos […] toda a prova que é possível exigir, para mostrar que [...] a felicida-de de cada pessoa é um bem para essa pessoa […].

John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 62

John Stuart Mill (1806-

1873), filósofo

e economista

inglês, foi um dos

mais importantes

reformistas sociais

do séc. XIX.

Ideia-chave do texto

A felicidade

é um bem.

2. O utilitarismo de John Stuart Mill

194 A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

,

[É] notório que as pessoas desejam coi-sas que, na linguagem comum, são de-cididamente distintas da felicidade. […]O princípio da utilidade não significa que qualquer prazer (como a música, por exemplo) ou que qualquer ausência de dor (como a saúde, por exemplo) devam ser vistos como um meio para uma coisa coletiva chamada “felicidade” e desejados nessa perspetiva – são desejados e desejá-veis em si e por si mesmos. […]Nestes casos […] [a]quilo que che-gou a ser desejado como instrumento para atingir a felicidade acabou por se tornar desejado por si mesmo. Ao ser desejado por si mesmo é, no entanto, desejado enquanto parte da felicidade.A pessoa torna-se feliz, ou pensa que se tornaria feliz, com a sua simples posse, e torna-se infeliz por não conseguir obtê-lo.

John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, pp. 62-66

apresentado a esse respeito e, em certa

medida, parece ser suficiente para satis-

fazer a nossa necessidade de justificação.

Por exemplo, que outra prova posso apre-

sentar para justificar a minha convicção

de que está um livro à minha frente a não

ser a de que estou a ver o livro? Aparente-

mente, nenhuma. Mas isso não nos deixa

insatisfeitos. Pegamos no livro, folheamos

o livro, lemos o livro, sem necessitar de

qualquer outro tipo de prova de que este

efetivamente existe.

Mill considera que algo de semelhante

se passa com o facto de algo ser visível

(ou audível). Isso só pode ser demonstra-

do pelo facto de ser, efetivamente, visto

(ou ouvido) por alguém.

Com base nessa premissa, Mill infere,

por analogia, o passo (2) do seu argumen-

to: “a única prova de que algo é desejável

é o facto de ser desejado por alguém”.

A estas duas ideias, Mill acrescenta a

premissa (3), que sustenta que “a única

coisa que cada pessoa deseja, por si mes-

ma (e não apenas como um meio para

qualquer outra coisa), é a sua felicidade”.

Mas como pode Mill defender esta

ideia? Pelo menos à primeira vista, parece

haver diversas coisas que as pessoas de-

sejam independentemente da felicidade.

Por exemplo, ser boa pessoa exige, fre-

quentemente, que as pessoas sacrifi-

quem a sua felicidade individual e, no en-

tanto, há quem deseje ser boa pessoa. Há,

também, quem deseje ter dinheiro, fama

e poder, a todo o custo. Como é que Mill

explica estas possibilidades?

Mill defende que tudo o que nós de-sejamos é desejado ou como um meio para a nossa felicidade, ou porque se tornou uma parte constituinte e in-distinguível da própria felicidade. Nas

suas palavras:

De seguida, na premissa (4), Mill limita-

-se a estabelecer que as ideias defendidas

nos passos (2) e (3) implicam que “A felici-

dade individual é a única coisa que é, por si

mesma, desejável para cada pessoa”.

Assim sendo, uma vez que as duas

condições que formam a antecedente des-

sa condicional parecem estar satisfeitas

(linhas (2) e (3)), Mill conclui, no passo (5),

que “A felicidade individual é a única coisa

que é, por si mesma, desejável para cada

pessoa.”

Ideia-chave do texto

Tudo aquilo que nós desejamos é parte

da nossa felicidade ou um meio para a

alcançar.

195A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

John Stuart Mill é o defensor de uma

teoria chamada “utilitarismo”. O uutili-tarismo caracteriza-se por defender que:

– a única coisa que tem valor intrínse-

co é a felicidade – teoria do valoor;

– a ação correta é aquela que, de entre

as alternativas disponíveis, mais pro-

move a felicidade – teoria da oobri-gação.

A felicidadeSegundo Mill, o fundamento da mora-

lidade é aquilo a que ele decidiu chamar

“Princípio da Utilidade” (ou “Princcípio da Maior Felicidade”). Este princípio es-

tabelece que:

Para justificar a sua perspetiva, Mill

começa por argumentar a favor da sua

teoria do valor. Nas suas palavras:

Neste excerto, Mill começa por defen-

der que a única prova de que algo é visível

(ou audível) é o facto de ser visto (ou ouvi-

do) por alguém. Por analogia, Mill conclui

que a única prova de que algo é desejável

é o facto de ser desejado por alguém. Em

seguida, nota que a única coisa que as pes-

soas desejam, como um fim em si, é a sua

própria felicidade. Por isso, conclui que a

felicidade individual é a única coisa que é,

por si mesma, desejável para cada pessoa.

Chamemos a este argumento “ar-gumentoo da feliciddade”. O argumento

pode ser reconstruído conforme se segue:

(1) A única prova de que algo é visível

(ou audível) é o facto de ser visto

(ou ouvido) por alguém.

(2) Logo, a única prova de que algo

é desejável é o facto de ser desejado

por alguém. (De 1, por analogia)

(3) A única coisa que cada pessoa

deseja, por si mesma, é a sua

felicidade.

(4) Se a única prova de que algo é

desejável é o facto de ser desejado

por alguém, e a única coisa que cada

pessoa deseja, por si mesma, é a

sua felicidade, então a felicidade

individual é a única coisa que é, por si

mesma, desejável para cada pessoa.

(5) Logo, a felicidade individual é

a única coisa que é, por si mesma,

desejável para cada pessoa. (De 2 a 4)

No que diz respeito à premissa (1),

o que Mill está a tentar fazer é mostrar

que o tipo de prova que podemos for-

necer em relação a certos assuntos,

embora possa ser encarado por alguns

como sendo bastante limitado, é o único

tipo de prova que pode alguma vez ser

[…] as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade.

John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 13

A única prova que se pode apresentar para mostrar que um objeto é visível é o facto de as pessoas efe-tivamente o verem. A única prova de que um som éaudível é o facto de as pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do mesmo modo com as outras fontes danossa experiência. Similarmente, entendo que a úni-ca evidência que se pode produzir para mostrar que uma coisa é desejável é o facto de as pessoas efetiva-mente a desejarem. […] [C]ada pessoa, na medida em que acredita que esta é alcançável, deseja a suaprópria felicidade. Isto […] dá-nos […] toda a provaque é possível exigir, para mostrar que [...] a felicida-de de cada pessoa é um bem para essa pessoa […].

John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 62

””

John StuartMill (1806-

1873), filósofo

e economista

inglês, foi um dos

mais importantes

reformistas sociais

do séc. XIX.

Ideia-chavedo texto

A felicidade

é um bem.

2. O utilitarismo de John Stuart Mill

194 A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

[É] notório que as pessoas desejam coi-sas que, na linguagem comum, são de-cididamente distintas da felicidade. […]O princípio da utilidade não significaque qualquer prazer (como a música, por exemplo) ou que qualquer ausência de dor (como a saúde, por exemplo) devamser vistos como um meio para uma coisacoletiva chamada “felicidade” e desejadosnessa perspetiva – são desejados e desejá-veis em si e por si mesmos. […]Nestes casos […] [a]quilo que che-gou a ser desejado como instrumento para atingir a felicidade acabou por se tornar desejado por si mesmo. Ao ser desejado por si mesmo é, no entanto, desejado enquanto parte da felicidade.A pessoa torna-se feliz, ou pensa que setornaria feliz, com a sua simples posse, e torna-se infeliz por não conseguir obtê-lo.

John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, pp. 62-66

apresentado a esse respeito e, em certa

medida, parece ser suficiente para satis-

fazer a nossa necessidade de justificação.

Por exemplo, que outra prova posso apre-

sentar para justificar a minha convicção

de que está um livro à minha frente a não

ser a de que estou a ver o livro? Aparente-

mente, nenhuma. Mas isso não nos deixa

insatisfeitos. Pegamos no livro, folheamos

o livro, lemos o livro, sem necessitar de

qualquer outro tipo de prova de que este

efetivamente existe.

Mill considera que algo de semelhante

se passa com o facto de algo ser visível

(ou audível). Isso só pode ser demonstra-

do pelo facto de ser, efetivamente, visto

(ou ouvido) por alguém.

Com base nessa premissa, Mill infere,

por analogia, o passo (2) do seu argumen-

to: “a única prova de que algo é desejável

é o facto de ser desejado por alguém”.

A estas duas ideias, Mill acrescenta a

premissa (3), que sustenta que “a única

coisa que cada pessoa deseja, por si mes-

ma (e não apenas como um meio para

qualquer outra coisa), é a sua felicidade”.

Mas como pode Mill defender esta

ideia? Pelo menos à primeira vista, parece

haver diversas coisas que as pessoas de-

sejam independentemente da felicidade.

Por exemplo, ser boa pessoa exige, fre-

quentemente, que as pessoas sacrifi-

quem a sua felicidade individual e, no en-

tanto, há quem deseje ser boa pessoa. Há,

também, quem deseje ter dinheiro, fama

e poder, a todo o custo. Como é que Mill

explica estas possibilidades?

Mill defende que tudo o que nós de-sejamos é desejado ou como um meiopara a nossa felicidade, ou porque se tornou uma parte constituinte e in-distinguível da própria felicidade. Nas

suas palavras:

De seguida, na premissa (4), Mill limita-

-se a estabelecer que as ideias defendidas

nos passos (2) e (3) implicam que “A felici-

dade individual é a única coisa que é, por si

mesma, desejável para cada pessoa”.

Assim sendo, uma vez que as duas

condições que formam a antecedente des-

sa condicional parecem estar satisfeitas

(linhas (2) e (3)), Mill conclui, no passo (5),

que “A felicidade individual é a única coisa

que é, por si mesma, desejável para cada

pessoa.”

Ideia-cchave do texto

Tudo aquilo que nós desejamos é parte

da nossa felicidade ou um meio para a

alcançar.

195A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

Page 8: COMO  PENSAR TUDO …

8

Avaliação crítica do argumento da boa vontadeUm utilitarista, como Mill, poderá rejeitar

a premissa (1) do argumento da boa vonta-de, defendendo que a felicidade tem valor intrínseco independentemente do facto de estar associada a uma boa vontade ou não.

De acordo com esta perspetiva, a infede é sempre intrinsecamente má (aindpossa ser instrumentalmente boa). Amesmo a infelicidade de um criminoso na melhor das hipóteses, um valor mmente instrumental (pois pode dissuadirtras pessoas de agir de forma semelhanideias em diálogo

Olá Kant! Não percebo como é que podes defender que a felicidade não é a única coisa com valor intrínseco.

Mill

Como assim? Não achas que a felicidade é algo que tem valor por si só?Mill

Na minha opinião, a felicidade é sempre intrinsecamente boa. Julgo que a única razão que podemos dar para justificar porque é que a felicidade do criminoso é uma coisa má é o facto de ela poder servir de encorajamento para outros possíveis criminosos.

Mill

Não só acho que não é a única, como nem sequer acho que ela é intrinsecamente boa.Kant

Não. Para que a felicidade tenha valor tem de ser merecida. A felicidade de um criminoso que escapou à justiça não é uma coisa boa.

Kant

Então afinal admites que alguma felicidade pode ser má?

Kant

Sim, mas se reparares limitei-me a afirmar que era instrumentalmente má, isto é, má porque pode conduzir a muita infelicidade. Nunca defendi que era intrinsecamente má.

Mill

Mill deixou de seguir-te.

Pois eu acho que seria justo ele sofrer e ser de alguma forma castigado pelo mal que fez.Kant

Queres dizer que se não houvesse maneira de essa felicidade influenciar negativamente o comportamento dos outros, não seria má de todo? Por exemplo, imagina que o criminoso fugiu em segredo para uma ilha deserta, preferias que ele vivesse feliz para o resto dos seus dias ou que viesse a sofrer de alguma forma por todo o mal que causou?

Kant

Para mim, todo o sofrimento é intrinsecamente mau, ainda que, por vezes, possa ser instrumentalmente bom. Assim, dado que nessas circunstâncias o seu sofrimento seria absolutamente inútil, penso que seria melhor que vivesse feliz sem causar mais nenhum tipo de sofrimento seja a quem for.

Mill

• Animação: Ideias em diálogo – Mill e Kant

214A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

Na minha opinião, a felicidade é sempre intrinsecamente boa. Julgo que a única razão que podemos dar para justificar porque é que a felicidade do criminoso é uma coisa má é o facto de ela poder servir de encorajamento para outros possíveis criminosos.

Mill

Não. Para que a felicidade tenha valor tem de ser merecida. A felicidade de um criminoso que escapou à justiça não é uma coisa boa.

KKaantt

Então afinal admites que alguma felicidade pode ser má?

Kant

• Animação: Ideias em diálogo – Mill e Kant

214A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PE

ideias em diálogo

Robert Nozick criou o grupo “Teoria da justiça”

Robert Nozick alterou o ícone do grupo

É uma maneira de garantir

que toda a gente tem

condições mínimas de vida. Rawls

E qual é o problema disso?

Rawls

Como assim?!

Rawls

Mas porquê?

Rawls

John Rawls foi adicionado ao grupo

por Robert Nozick

Olá, Nozick!

Rawls

Então e se alguém, como tu,

que até aqui usufruiu de bons

rendimentos fruto do seu trabalho,

sofrer algum infortúnio

Não estou de acordo com a tua

teoria da justiça.

Olá Rawls!

O teu Princípio da Diferença parece

não respeitar as nossas liberdades

fundamentais.

As pessoas são livres e fazem o

que bem entenderem com a sua

pessoa e com os seus bens (desde

que legitimamente adquiridos).

E então?!

Não vês que isso vai exigir uma

interferência constante do

Estado para repor esse padrão,

desrespeitando assim a liberdade

individual?

Imagina que duas pessoas têm a

mesma riqueza; uma delas esbanja

todo o seu dinheiro e a outra faz

investimentos que acabam por lhe

trazer mais dinheiro.

Achas justo que o Estado

redistribua esse dinheiro?

Mas isso é equiparável

a trabalho forçado!!!

O que estás a dizer é que os mais

desfavorecidos têm direito a uma

parte do meu trabalho.

E isso parece-me

simplesmente inaceitável!

Nozick

Nozick

Nozick

Nozick

Nozick

Nozick

Nozick

(um incêndio ou um

acidente, por exemplo)

fi privado do usufruto desses

Rawls

Rawls

• Animação: Ideias em diálogo – Nozick e Rawls

Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo

ill deixou de seguir-te.

eu acho que seria justo ele e ser de alguma forma ado pelo mal que fez.Kant

ade influenciar negativamente o comportamento dos outros, não seria má de todo? Por exemplo, imagina que o criminoso fugiu em segredo para uma ilha deserta, preferias que ele vivesse feliz para o resto dos seus dias ou que viesse a sofrer de alguma forma por todo o mal que causou?

Kant

Para mim, todo o sofrimento é intrinsecamente mau, ainda que, por vezes, possa ser instrumentalmente bom. Assim, dado que nessas circunstâncias o seu sofrimento seria absolutamente inútil, penso que seria melhor que vivesse feliz sem causar mais nenhum tipo de sofrimento seja a quem for.

AS FILOSÓFICAS

ideias em diálogo

Diálogos imaginários entre filósofos que ajudam os alunos a compreender as ideias em confronto.

Os diálogos recriam o ambiente da popular aplicação WhatsApp e trazem os filósofos e as suas ideias para o universo dos alunos.

Page 9: COMO  PENSAR TUDO …

9

elicida-

da que

Assim,

o terá,

mera-

ir ou-

nte).

o que era a justiça, elogiaram a justiça como algo da maior importância, mas acaba-

ram por não conseguir responder de forma satisfatória à pergunta. Mais ainda, de cada

vez que tentavam oferecer algo que se assemelhasse a uma definição de justiça, aca-

bavam por cair em flagrantes contradições, mostrando, assim, que afinal não sabiam

muito bem de que é que estavam a falar. Um exemplo disto é o diálogo que se segue:

Sócrates mostrou que a definição de justiça apresentada pelo seu interlocutor, se-

gundo a qual “é justo restituir a cada um o que se lhe deve”, não se aplica a todas as

situações, demonstrando que talvez este não saiba, afinal, em que consiste a justiça.

Algo de semelhante aconteceu quando se aproximou dos militares e lhes per-

guntou: “O que é a coragem?”, e também quando questionou os professores:

“O que é o conhecimento?”, ou quando perguntou aos artistas: “O que é a be-

leza?”. Enfim, aqueles que reclamavam ser especialistas nos respetivos assuntos

acabavam por revelar o seu desconhecimento a respeito dos mesmos. Foi aí que se

fez luz, e Sócrates acabou por perceber a mensagem do oráculo. Ao contrário da-

queles que julgam possuir o conhecimento, mas quando devidamente questionados

acabam por demonstrar a sua ignorância, ele pelo menos tinha consciência da sua

ignorância.

SÓCRATES: Explica então tu, […] que é que afirmas que

Simónides disse tão acertadamente acerca da justiça?

POLEMARCO: Que é justo restituir a cada um o que se lhe

deve. Parece-me que diz bem, ao fazer esta afirmação.

SÓCRATES: Sem dúvida que não é fácil deixar de dar cré-

dito a Simónides, pois é homem sábio e divino. Em todo

o caso, tu, Polemarco, sabes talvez o que ele quer dizer

com isso, ao passo que eu ignoro-o. Pois é evidente que

se alguém receber armas de um amigo em perfeito juízo,

e este, tomado de loucura, lhas reclamasse, toda a gente

diria que não se lhe deviam entregar, e que não seria justo

restituir-lhas […]. E contudo, fica-se a dever, penso eu,

uma coisa que foi entregue em depósito? Ou não?

POLEMARCO: Fica.SÓCRATES: Mas de modo algum se deve restituir, quando

alguém que esteja privado da razão reclamar?

POLEMARCO: É verdade – disse ele.

SÓCRATES: Então não é isto, mas outra coisa, ao que pa-

rece, que Simónides quer dizer, relativamente a ser justo

restituir-se o que se deve.

Platão. (2017). República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:

Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 9-10 (adaptado)

ideias em diálogo

O que é a justiça?

Sócrates

Então, se um amigo te pedir

para guardar a sua arma e

depois enlouquecer, a coisa

certa a fazer é devolver-lha?!

Sócrates

Então, afinal, o que é a justiça?

Sócrates

Polemarco saiu do grupo.

Não, nem pensar!

Polemarco

É restituir a cada um o que se lhe

deve. Polemarco

• Animação: Ideias em diálogo – Sócrates

e Polemarco

14INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E AO FILOSOFAR

Os mesmos diálogos estão disponíveis sob a forma de divertidas animações em Aula Digital.

QUE DIVERTIDO!

Sócrates mostrou que a definição de jus

gundo a qual “é justo restituir a cada um o

situações, demonstrando que talvez este n

Algo de semelhante aconteceu quand

guntou: “O que é a coragem?”, e tam

t ?” ou quand

Platão. (2017). República. Trad. Maria Helena da Rocha Pe

Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 9-10 (adaptado)

• Animação: Ideias em diálogo – Sócrates

e Polemarco

do perguntou aos

ser especialistas nos respetivos assu

mento a respeito dos mesmos. Foi aí qu

r a mensagem do oráculo. Ao contrári

nto, mas quando devidamente question

a, ele pelo menos tinha consciência da

Os mesmos diálogos estão disponíveis sob a forma de divertidas animações em Aula Digital.

QUE DIVERTIDO!

“O que é o conhecimento?”, ou quand

leza?”. Enfim, aqueles que reclamavam

acabavam por revelar o seu desconhecim

fez luz, e Sócrates acabou por perceber

queles que julgam possuir o conhecimen

acabam por demonstrar a sua ignorância

ignorância.

14INTRODUÇÃO À FILOSOFS EEIA E O FIAOA FIAO FIAO FIFIAO FIO SOFLOSOFLOLOLLOOOOSOFOFLOLOSOFOFLOSOFLO RARARRAAARRARAR

Page 10: COMO  PENSAR TUDO …

10

112LÓGICA INFORMAL

Negar negComecemos

ções. É fácil percgação é o mesque ela nega. Pverdade que a Mré o mesmo que dicente”. Uma tabelaideia ainda mais c“P” representa “A Mtabela de verdade pé verdade que a Mrspode ser preenchiddando os seguintes p

Em primeiro lugvalor de verdade da contra imediatamenté o operador que tem operador aplica-se ap“P”, por isso, inverte oapresenta.

A negação de proposições é outra com-petência filosófica fundamental. Como vi-mos, a negação inverte o valor de ver-dade de uma proposição, ou seja, quando

uma proposição é verdadeira, a sua negação é falsa, e vice-versa.

Isto significa que, mostrando que a negação de uma proposição é verda-deira, mostramos que essa proposição é falsa.

Assim, quando um filósofo não aceita uma dada tese, por exemplo, tem de saber negar essa proposição para saber exata-mente qual é a tese que está a defender. Si-milarmente, quando um filósofo não aceita a conclusão de um argumento válido, terá de negar (pelo menos) uma das suas premis-sas. Como as teses e as premissas dos argu-mentos surgem de todas as formas e feitios, é importante que os filósofos saibam negar todos os tipos de proposições.

3. Como negar proposições

LÓGICA FORMAL

78

Diálogos apresentados sob a forma de atraentes bandas desenhadas ajudam o aluno a captar os aspetos essenciais da discussão de uma forma didática e divertida.

Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo

Negar negComecemos

ções. É fácil percgação ééé é oo mesque elaa nneega. Pverdade que a Mré o mesmo que dicente”. Uma tabelaideia ainda mais c“P” representa “A Mtabela de verdade pé verdade que a Mrspode ser preenchiddando os seguintes p

Em primeiirrroo lugvalor de verdade da contra imediatamenté o operador que tem operador aplica-se ap“P”, por isso, inverte oapresent

m-

i-

-o

osições

Page 11: COMO  PENSAR TUDO …

11

gaçõess pela negação de nega-ceber que negar uma ne-smo que afirmar aquilo Por exemplo, dizer “Não é rs. White não é inocente” dizer “A Mrs. White é ino-la de verdade torna esta clara. Considerando que Mrs. White é inocente”, a para a proposição “Não s. White não é inocente” da conforme se segue passos:

ugar, determinamos o a negação que se en-te atrás de “P”, pois m menor âmbito. Este penas à proposição os valores que esta

Outros diálogos encontram-se acessíveis para os alunos através de códigos QR e também disponíveis no Caderno de Apoio ao Professor.

Este penas à proposição os valores que est

141

DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA141

DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA

231A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS

ar que, para

é errado”

“a minha

quando al-

está sim-

ha socie-

omummente

ativismo é o

diversidade mento:

Recurso multimédiaDiálogo sobre a

natureza da moralidade –

relativismo

Este diálogo encontra-se também disponível no Caderno de Apoio ao Professor.

Page 12: COMO  PENSAR TUDO …

12

1. De acordo com o utilitarismo de Mill, a única coisa que tem valor intrínseco é...

A. a boa vontade.

B. a felicidade.

C. o prazer espiritual.

D. o prazer corporal.

2. De acordo com o utilitarismo de Mill, uma ação é correta se, e só se, ...

A. promove a felicidade do maior número de pessoas.

B. promove o maior total de felicidade, independentemente da forma como está dis-

tribuída.

C. promove a felicidade do próprio agente.

D. promove a felicidade apenas daqueles que são dignos de ser felizes.

3. O utilitarismo de Mill…

A. é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade consiste apenas no prazer e

na ausência de dor.

B. não é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade consiste apenas no prazer

e na ausência de dor.

C. é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade não consiste apenas no prazer

e na ausência de dor.

D. não é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade não consiste apenas no

prazer e na ausência de dor.

4. O utilitarismo de Mill…

A. é uma teoria deontológica, pois defende que as consequências não são o único fator

relevante para determinar o estatuto moral dos atos.

B. é uma teoria deontológica, embora defenda que as consequências são o único fator

relevante para determinar o estatuto moral dos atos.

C. é uma teoria consequencialista, pois defende que as consequências são o único fa-

tor relevante para determinar o estatuto moral dos atos.

D. é uma teoria consequencialista, embora defenda que as consequências não são o

único fator relevante para determinar o estatuto moral dos atos.

consolidaconsolidaos teusos teus

conhecimentosconhecimentos

#agora_pensa_maisA necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas filosóficas

GRUPO I · Seleciona a alternativa correta. 10 × 7 pontos = 70 pontos

Soluções no Caderno de Apoio

ao Professor.

Soluções das

questões de

escolha múltipla

exclusivamente na

edição do manual para

o professor.

• Teste interativo 1

Exclusivo do Professor• Teste interativo 2

A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS 239

, ç , ,

A. promove a felicidade do maior número de pessoas.

emente da forma c

nos de ser felizes.

de consiste apena

dade consiste ape

não consiste ape

dade não consi

ências não sã

equências sã

sequências s

consequênc

s atos.

#agora_pensa

REVISÃO

1. O que é a posição original?

2. O que é o véu de ignorância?

3. Como são caracterizadas as partes em confronto na posição original?

4. Indica se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações que se seguem.

a. Segundo Rawls, para que uma sociedade seja justa deve assentar em

princípios que tenham origem num acordo real e efetivo entre cidadãos

livres e racionais.

b. Segundo Rawls, as partes na posição original devem estar plenamente

informadas para que as suas escolhas sejam racionais.

c. Segundo Rawls, as partes na posição original querem salvaguardar os

seus próprios interesses.

d. Segundo Rawls, quanto mais igualitária for uma sociedade, mais justa será.

e. A teoria da justiça de Rawls é por vezes designada “justiça como equi-

dade”, porque garante que as partes na posição original partem todas

da mesma posição e, por conseguinte, são imparciais na escolha dos

princípios da justiça.

f. A teoria da justiça de Rawls é por vezes designada “justiça como equi-

dade”, porque garante que todos recebem exatamente a mesma quan-

tidade de bens primários.

g. Segundo Rawls, as partes na posição original jamais consentiriam

numa distribuição desigual de bens, ainda que todos tivessem a ganhar

com isso.

h. Segundo Rawls, as partes na posição original consentiriam numa distri-

buição desigual de bens, desde que todos tivessem a ganhar com isso.

i. A regra maximin diz-nos que em situações com as características da

posição original é racional escolher como se o pior nos fosse acontecer.

j. A regra maximin diz-nos que em situações com as características da

posição original é racional escolher de forma a procurar maximizar a

nossa utilidade esperada.

DISCUSSÃO

5. Imagina que A, B e C correspondem a diferentes classes sociais e que os

valores apresentados no quadro que se segue correspondem ao rendimen-

to médio anual (em milhares de euros) de cada uma dessas classes em

duas sociedades possíveis.

F

F

V

F

V

F

F

V

V

F

5.1 De acordo com Rawls, qual

seria a sociedade mais justa?

5.2 Concordas com a perspetiva

defendida por Rawls? Porquê?

A B C Total

Sociedade 1 7 36 55 98

Sociedade 2 8 10 12 30 Soluções

no Caderno de Apoio

ao Professor.

Soluções da questão

4 exclusivamente na

edição do manual

para o professor.

• Atividade interativa

254O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL

RSPETIVAS FILOSÓFICAS 239A DE DUAS PER

com as características da

posição original é racional escolher como se o pior nos fosse acontecer.

j. A regra maximin diz-nos que em situações com as características da

posição original é racional escolher de forma a procurar maximizar a

nossa utilidade esperada.

DISCUSSÃO

5. Imagina que A, B e C correspondem a diferentes classes sociais e que os

valores apresentados no quadro que se segue correspondem ao rendimen-

to médio anual (em milhares de euros) de cada uma dessas classes em

duas sociedades possíveis.

F

5.1 De acordo com Rawls, qual

seria a sociedade mais justa?

5.2 Concordas com a perspetiva

defendida por Rawls? Porquê?

A B C Totalllll

Sociedade 11111111111111 77 36 55 98

Sociedade 2222222 888 10 12 30uções

no de Apoio

sor.

da ququestão

amentente na

manual

fessor.

nterativa

O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL

Fichas formativas complementadas por testes interativos na Aula Digital.

Questões do manual complementadas por

atividades interativas na Aula Digital.

Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo

Page 13: COMO  PENSAR TUDO …

13

No início deste capítulo, falámos do

Comandante Sheppard e de como este, nas

suas viagens pela galáxia, acaba por se cru-

zar com uma enorme diversidade de espé-

cies, cada uma com as suas tradições e os

seus costumes e com as suas respetivas

noções de “certo” e “errado”. Ainda que a

situação relatada seja ficcional, a verdade

é que também no mundo real, à superfí-

cie do nosso próprio planeta, encontramos

semelhante diversidade. Este facto faz-nos

questionar acerca da objetividade da mora-

lidade. Será que existem coisas objetiva-

mente certas ou erradas? Vejamos diferen-

tes formas como o Comandante Sheppard

poderia encarar essa diversidade.

Se este adotasse o não-cognitivismo,

entenderia os juízos morais como reco-

mendações, ou como manifestações de

emoções. De acordo com esta perspetiva,

poderia tentar usar esse tipo de juízos para

levar os outros a seguir essas recomenda-

ções, ou para tentar contagiá-los com emo-

ções semelhantes em relação aos mesmos

acontecimentos. Podia, por exemplo, dizer

que achava errado abandonar os filhos pela

galáxia, para tentar persuadir os Quarian

a abandonar essa prática. Ou tentar enco-

rajar os Krogan a adotarem uma postura

menos agressiva.

Se optasse pelo subjetivismo, poderia

assumir que em questões de moralidade

cada um sabe de si. Isto poderia levá-lo a

respeitar a liberdade individual de cada um

fazer aquilo que acha que está certo, inde-

pendentemente de padrões morais impos-

tos por outros. Se os Krogan gostam de

ser agressivos, que sejam. Se os Salarian

valorizam o conhecimento acima de tudo,

tudo bem. Mas se no seio destas comuni-

dades houver alguém que tem preferências

diferentes, essa pessoa deveria ter a liber-

dade de seguir a sua vida de acordo com as

mesmas.

Se aderisse ao relativismo cultural, poderia adotar a tolerância dos Asari face

às diferentes formas de vida de cada pla-

neta ou cultura, pois iria considerar que as

noções de “certo” e “errado” são sempre

relativas às diversas culturas. Se os Quarian

consideram aceitável abandonar os filhos

pela galáxia antes da idade adulta, então

isso passa a ser aceitável dentro da sua cul-

tura. O que não quer dizer que seja aceitável

para os Terráqueos. E, assim como os Ter-

ráqueos não devem interferir nos hábitos

dos Quarian, também estes devem evitar

intrometer-se nos nossos. Nenhuma cul-

tura pode ser considerada melhor (ou pior)

do que qualquer outra e, por isso, nenhuma

tem legitimidade para tentar impor os seus

próprios padrões às outras.

Se abraçasse o objetivismo, poderia

propor algo como a Declaração Interga-

láctica dos Direitos de Todas as Criaturas.

Essa Declaração poderia incluir o direito a

ser protegido pelos progenitores durante a

infância, o que significa que teria de tentar

argumentar junto dos Quarian para mostrar

por que razão essa prática não é imparcial-

mente justificável. Poderia também tentar

incluir o direito à autodeterminação e à

liberdade da tirania e da opressão, o que

dificilmente teria a aceitação dos gover-

nantes Batarian. Enfim, não parece que

fosse uma tarefa fácil unificar todos esses

planetas debaixo de um sistema mínimo de

regras comuns. Mas talvez valesse a pena

tentar!

E tu? O que pensas de tudo isto? Afi-nal, haverá coisas objetivamente cer-tas ou objetivamente erradas? Porquê?

#como_pensar_tudo_isto?

A DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL DA ÉTICA 181

13

ada um

que acha que está certo, inde-

pendentemente de padrões morais impos-

tos por outros. Se os Krogan gostam de

ser agressivos, que sejam. Se os Salarian

valorizam o conhecimento acima de tudo,

tudo bem. Mas se no seio destas comuni-

dades houver alguém que tem preferências

q

ver-rverovera a aceitação dos goveover-

e que e nantes Batarian. Enfim, não parece e

esses efosse uma tarefa fácil unificar todos ee

planetas debaixo de um sistema mínimo de m

regras comuns. Mas talvez valesse a pena

tentar!

E tu? O que pensas de tudo isto? Afi-nal, haverá coisas objetivamente cer-tas ou objetivamente erradas? Porquê?

A DIMENSSSÃÃÃO PESSOÃÃ AL E SOCIAL DA ÉTICACAAAAAAAAAAAA 181

Podcasts com resumos de todas as matérias, acessíveis a partir das

páginas do manual destinadas a Síntese de capítulo.

Uma visão integradora de cada capítulo na rubrica #como_pensar_tudo_isto?, ligando as principais ideias estudadas ao Laboratório

mental inicial.

Nas suas viagens intergalácticas, o Comandante

Shepard deparou-se com uma enorme diversidade

de espécies, culturas e costumes. Por vezes, essa

diversidade deixava-o um pouco perplexo. Os

Quarian, por exemplo, expulsavam os filhos de

casa antes de estes atingirem a maioridade e só os

aceitavam de volta depois de encontrarem algo de

valioso nas suas viagens de exploração da galáxia.

Entre os Krogan, naturais do inóspito planeta

Tuchanka, apenas a agressividade e o egoísmo eram

vistos como virtudes; a compaixão e o altruísmo,

pelo contrário, eram encarados como sinais de

fraqueza que deveriam ser evitados a todo o custo.

Devido a um vírus que afetou grande parte da

população, as fêmeas férteis eram raras e muito

preciosas. Por isso, viviam numa comunidade

à parte com as crianças e só esporadicamente

recebiam a visita de alguns machos, escolhidos de

entre os mais fortes para assegurar a continuidade

da espécie. Os Asari, por sua vez, eram uma

espécie só com um género. A sua fisiologia única

proporcionava-lhes uma esperança média de

vida de cerca de mil anos e a possibilidade de se

reproduzirem com qualquer género ou espécie.

Talvez por esse motivo tenham adotado uma

atitude cooperativa relativamente às outras espécies,

valorizando a diplomacia em vez do conflito.

As suas decisões eram tomadas sobretudo com base

na razão e consideravam que as outras espécies não

se deviam deixar levar tanto pelas emoções.

Os Salarian eram uma espécie de anfíbios com

um metabolismo extremamente rápido. Isso fazia

com que fossem capazes de pensar, falar e mover-

-se mais rápido do que qualquer outra espécie.

Os Salarian valorizavam o conhecimento, o

trabalho e a eficácia e consideravam as restantes

espécies ignorantes, lentas e preguiçosas.

Os Batarian viviam sob uma ditadura e estavam

proibidos de sair do seu planeta natal. Os poucos

que conseguiam escapar a esse destino viviam

espalhados pela galáxia e dedicavam-se a todo o

tipo de práticas ilegais, como o tráfico de escravos

e narcóticos, para assegurar a sua sobrevivência.

Tudo isto acabou por fazer com que o

Comandante se questionasse: “Será que o certo

e o errado dependem do planeta em que nos

encontramos?”. Mas, assim que esta esta pergunta

lhe passou pela cabeça, ocorreu-lhe que também

no seu planeta havia diferentes noções de bem e

de mal, consoante a região e a cultura dominante.

E, no entanto, o problema parecia ser ainda

mais profundo, pois mesmo dentro das mesmas

culturas havia opiniões divergentes acerca do certo

e do errado. “Será que tudo depende do ponto

de vista ou existem coisas objetivamente certas e

outras objetivamente erradas?” – interrogava-se

novamente o Comandante.

Mass Effect, jogo RPG desenvolvido pela Bioware e pela EA e Lucien Malson.

(1988). As Crianças Selvagens. Porto: Livraria Civilização, pp. 26-28

1. Será que existem coisas objetivamente certas ou erradas? Porquê?#agora_pensa

Laboratório mental

Cada planeta, sua sentença

Soluções

no Caderno de Apoio

ao Professor.

• Animação: Cada

planeta, sua sentença

162A DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL DA ÉTICA

Page 14: COMO  PENSAR TUDO …

14

Salas do crime

Simulador de ética: Eticamente 1.0

Posto perante sucessivos dilemas morais, o utilizador vai fazendo as suas opções, obtendo no final um perfil (mais) deontológico ou (mais) consequencialista. Ao longo do estudo, as opções do aluno podem modificar-se e revelar evolução no seu perfil ético!

Um jogo interativo onde o aluno se serve das suas competências dedutivas para solucionar diferentes crimes, sempre sob a orientação do Inspetor LeBeaux.

Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo

Page 15: COMO  PENSAR TUDO …

15

Simulador de lógica formal: Logicamente 2.0

Inclui uma calculadora de tabelas de verdade e de inspetores de circunstâncias que permite analisar se uma proposição é tautológica, contraditória ou contingente, verificar equivalências lógicas e analisar a validade de argumentos. Deste modo, facilita tanto o estudo autónomo como a correção de exercícios em sala de aula.

Contém, ainda, as funções de cópia e download das tabelas geradas, para o professor as poder usar na elaboração dos seus materiais.

Permite que o aluno aplique e consolide os seus conhecimentos de lógica formal através de:– classificação de formas proposicionais– classificação de formas argumentativas– completação de formas argumentativas

A grande inovação é este software ter aprendido as regras da lógica e, por isso, ser capaz de gerar um leque ilimitado de exercícios.

Novíssimo

simulador

de lógica!

NUNCA VI NADA ASSIM!

Page 16: COMO  PENSAR TUDO …

16

Orientações para o aluno

Resumos e fichas de verificação

Fichas formativas

Textos de apoio e questões de verificação

Soluções online

Caderno do Estudante

É natural pensarmos que somos livres, pois diariamente somos confrontados com a necessidade de escolher entre di-ferentes cursos de ação possíveis e pa-rece inevitável sentirmos que, em certas ocasiões, aquilo que vem a acontecer depende fundamentalmente daquilo que decidimos fazer. Mas, aparentemente, também não conseguimos viver sem as-sumir que todos os acontecimentos são causados por acontecimentos anteriores e por certas leis naturais. Existe uma ten-são entre estas duas crenças, porque, se todos os acontecimentos (incluindo as nossas ações) forem a consequência de coisas que nós não controlamos, não pa-rece haver muito espaço para a liberdade humana.

Dizer que os seres humanos são livres, neste sentido, é o mesmo que dizer que estes têm livre-arbítrio. Temos livre-ar-bítrio se, e só se, algumas das coisas que acontecem dependem, em última análi-se, da nossa vontade. À tese de que tudo o que acontece é a consequência neces-sária de acontecimentos anteriores e das leis da natureza dá-se o nome de “deter-minismo”.

Um dos principais problemas que se le-vantam a respeito do livre-arbítrio e do determinismo é o problema da compati-bilidade. Este problema pode ser formu-lado conforme se segue: “Será o livre-ar-bítrio compatível com o determinismo?”. Há duas respostas possíveis para este problema: o incompatibilismo e o com-patibilismo. O incompatibilismo é a tese de que o livre-arbítrio não é compatível com o determinismo. O compatibilismo é a tese de que o livre-arbítrio é compatí-vel com o determinismo.

Um dos argumentos centrais a favor do in-compatibilismo é o argumento da conse-quência. Este argumento pode ser resumi-damente apresentado conforme se segue:

(1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.

(2) Se não temos possibilidades alterna-tivas, então não temos livre-arbítrio.

(3) Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.

Uma das estratégias mais comuns utili-

zadas pelos compatibilistas contra este

argumento consiste na rejeição da pre-

missa (1). Para isso, os compatibilistas

recorrem a uma análise condicional do

conceito de “possibilidades alternativas”.

De acordo com essa análise condicional,

“Um dado agente tinha possibilidades al-

ternativas numa dada ocasião se, e só se,

caso tivesse escolhido fazer outra coisa,

tivesse feito outra coisa (isto é, não tivesse

sido impedido de o fazer por nada nem nin-

guém).” Esta conceção de possibilidades

alternativas é compatível com o determi-

nismo, pois mesmo que todos os aconteci-

mentos sejam a consequência necessária

do passado e das leis da natureza, há si-

tuações em que, caso tivéssemos escolhi-

do fazer outra coisa, teríamos efetivamen-

te feito outra coisa (ou seja, não seriamos

impedidos de o fazer por nada nem nin-

guém). Por exemplo, o indivíduo que passa

fome no deserto, porque não tem alimen-

tos, não é livre de comer; mas o indivíduo

que faz uma greve de fome em frente da

Assembleia da República, em nome de

uma causa, é livre, porque se desejar co-

mer, come (isto é, não será impedido por

nada nem ninguém de o fazer).

Resumo do capítulo 4 – Determinismo e liberdade na ação humana

30

PARTE II Resumos e fichas de verificação

é compatíveltos, não é livre de comer; mas o indivíduo

encontrar respostas a questões filosóficas que representem um desafio.Outra razão para estudar filosofia é o facto de isso nos proporcionar uma boa maneira de aprender a pensar mais claramente sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do pensamento filosófico podem ser úteis

em variadíssimas situações, uma vez que, ao analisar os argumentos a favor e contra qualquer posição, adquirimos aptidões que podem ser aplicadas noutras áreas da vida. Nigel Warburton. (2007). Elementos Básicos de Filosofia.

Trad. Desidério Murcho e Aires Almeida. Lisboa: Gradiva, pp. 15-20

Questões de verificação da leitura

1. De acordo com o autor do texto, qual das seguintes tarefas não se enquadra na atividade filosófica?

A. Inventar argumentos.

B. Discutir argumentos

C. Analisar conceitos.

D. Fazer experiências laboratoriais.

2. O autor do texto defende que...

A. vale a pena estudar filosofia, porque esta disciplina lida com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência.

B. não vale a pena estudar filosofia, uma vez que tudo o que os filósofos fazem é discu-tir sofisticamente o significado das palavras.

C. vale a pena estudar filosofia, porque esta disciplina ajuda-nos a compreender a bio-logia humana.

D. não vale a pena estudar filosofia, uma vez que os filósofos continuam a discutir os mesmos problemas desde a antiguidade, sem nunca os resolver.

3. Qual das questões que se seguem não é um bom exemplo de uma questão fundamental acerca do sentido da nossa existência?

A. Há alguma demonstração da existência de Deus?

B Q

16

vre arbítrio. Te

bítrio se, e só se, algumas d

acontecem dependem, em

se, da nossa vontade. À tes

o que acontece é a conseq

sária de acontecimentos an

leis da natureza dá-se o nom

minismo”.

Um dos principais problem

vantam a respeito do livre

determinismo é o problema

bilidade. Este problema pod

lado conforme se segue: “Se

bítrio compatível com o det

Há duas respostas possíve

problema: o incompatibilis

patibilismo. O incompatibil

de que o livre-arbítrio não

com o determinism

é a tese de que o li

vel com o determin

30

bítrio não

mo.

vre-

nism

Ficha formativa 5

A dimensão pessoal e social da ética

GRUPO I · Seleciona a alternativa correta.

1. Atenta nos juízos que se seguem e seleciona a opção correta.

1. A Torre Eiffel está situada em Paris.

2. A Torre Eiffel é o mais belo monumento alguma vez criado.

3. Portugal descriminalizou o uso de drogas em 2001.

4. A descriminalização do uso de drogas é inaceitável.

A. As alíneas 1 e 2 correspondem a juízos de facto e as alíneas 3 e 4 correspondem a juízos

de valor.

B. As alíneas 1 e 3 correspondem a juízos de facto e as alíneas 2 e 4 correspondem a juízos

de valor.

C. As alíneas 1 e 4 correspondem a juízos de facto e as alíneas 2 e 3 correspondem a juízos

de valor.

D. As alíneas 1, 2 e 3 correspondem a juízos de facto e a alínea 4 corresponde a um juízo

de valor.

2. Se houver juízos morais objetivos, então…

A. as sociedades que tiverem valores diferentes dos nossos devem corrigir tais valores.

B. a correção, ou a incorreção, desses juízos não pode ser discutida.

C. esses juízos estão certos ou errados independentemente dos costumes.

D. as pessoas que tiverem valores diferentes dos nossos pensam e agem erradamente.

(EN 2019 2F)

3. A liberdade religiosa é a liberdade de cada um praticar a religião que é do seu agrado, ou de não

praticar qualquer religião.

Se a liberdade religiosa for um valor objetivo, então…

A. todos defendem a liberdade religiosa.

B. a liberdade religiosa é um elemento central de muitas culturas.

C. deve haver liberdade religiosa.

D. a liberdade religiosa é mais importante do que os outros valores.(EN 2017 2F)

7 pt

7 pt

7 pt

10 × 7 pontos = 70 pontos

PARTE III Fichas formativas

Page 17: COMO  PENSAR TUDO …

17

Inclui:

Apresentação

Guião de recursos multimédia

Ensino digital

Planificações

Cidadania e Desenvolvimento e DAC

Laboratórios mentais

Material complementar

Guiões de visionamento de filmes

Fichas de avaliação + Soluções/Cenários de resposta*

Questões + Soluções/Cenários de resposta

Temas/Problemas do mundo contemporâneo1. Erradicação da pobreza2. Guerra e paz

Como avaliar ensaios filosóficos

Como avaliar apresentações orais

Soluções/Cenários de resposta de #agora_pensa e #agora_pensa_mais*

17

1. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E AO FILOSOFAR

1.1 O homem que fazia perguntas

“Há cerca de 2400 anos, em Atenas, um homem foi condenado à morte por fazer demasiadas perguntas. Houve outros filósofos antes dele, mas foi com Sócrates que a disciplina deu realmente o grande salto. [...]

De nariz arrebitado, corpo atarracado, mal vestido e um pouco estranho, Sócrates não se enquadrava com os demais. Apesar de fisicamente feio e de andar muitas vezes sujo, tinha grande carisma e uma mente brilhante. Em Atenas, toda a gente concordava que nunca houve alguém como ele e, provavelmente, nunca mais haveria. Era único. Mas era também extremamente incomodativo. Via-se como uma daquelas moscas que dão mordidas dolorosas — um moscardo. São irritantes, mas não causam problemas graves. Mas, em Atenas, nem toda a gente concordava. Alguns gostavam dele; outros consideravam-no uma influência perigosa.

Na sua juventude, Sócrates fora um bravo soldado que lutara nas guerras do Peloponeso contra os Espartanos e os seus aliados. Na sua meia- -idade, passeava-se pelo mercado, interrompendo de vez em quando as pessoas e fazendo-lhes perguntas incómodas. Era mais ou menos tudo o que fazia. As questões que colocava eram incisivas. Pareciam simples, mas não eram. [...]

Repetidamente, Sócrates demonstrava que as pessoas que encontrava no mercado não sabiam realmente aquilo que pensavam saber. [...] Sócrates gostava de revelar os limites daquilo que as pessoas realmente sabiam e de questionar os postulados em que baseavam as suas vidas Um diál

velha e sábia mulher, uma sibila, que respondia às perguntas que lhe eram feitas pelos visitantes. As suas respostas eram geralmente dadas na forma de um enigma. ‘Existe alguém mais sábio do que eu’, perguntou Querefonte. ‘Não’, respondeu o oráculo. ‘Ninguém é mais sábio’. Quando Querefonte contou isto a Sócrates, o filósofo começou por não acreditar. Ficou realmente intrigado. ‘Como posso ser o homem mais sábio de Atenas quando sei tão pouco?’, perguntava-se. Passou vários anos a questionar as pessoas para ver se alguém era mais sábio do que ele. Por fim, compreendeu aquilo que o oráculo queria dizer e percebeu que a sibila estava certa. Muitas pessoas eram competentes nas várias coisas que faziam — os carpinteiros eram bons em carpintaria e os soldados sabiam sobre a guerra. Mas nenhuma delas era verdadeiramente sábia. Não sabiam realmente aquilo de que falavam.

A palavra ‘filósofo’ vem do termo grego que significa ‘amor à sabedoria’. A tradição filosófica do Ocidente [...] difundiu-se da Grécia Antiga para muitas partes do mundo e sofreu influências de ideias vindas do Oriente. O tipo de sabedoria que valoriza baseia-se na argumentação, no raciocínio e na colocação de questões, e não na crença em coisas apenas porque alguém importante disse que eram verdadeiras. Para Sócrates, a sabedoria não consistia em saber muitos factos ou em saber como fazer alguma coisa. Significava compreender a verdadeira natureza da nossa existência, incluindo os limites daquilo que podemos conhecer. Atualmente, os filósofos fazem mais ou menos o mesmo que

1. INTRO

1.1 O ho

Laboratórios mentais

O QUE É UMA EXPERIÊNCIA MENTAL E PARA QUE SERVE?

Ao longo do manual Como Pensar Tudo Isto? recorremos frequentemente a experiências mentais (ou

experiências de pensamento) como um recurso a ser explorado na sala de aula ou em casa como auxiliar do

estudo e da investigação filosófica.

Desde sempre, cientistas e filósofos têm recorrido a este tipo de cenários imaginários para afinar as

suas ideias e testar as suas teorias. O propósito de tais experiências de pensamento é libertar-nos de tudo

aquilo que complica as coisas na vida real, para que nos possamos concentrar nos aspetos essenciais de um

problema.

Da mesma forma que os cientistas fazem uma parte da sua investigação no ambiente artificial e

controlado do laboratório, também nas experiências de pensamento que realizamos em filosofia as

situações podem ser descritas de uma forma bastante artificial, com características muito específicas, com

as quais possivelmente jamais nos depararíamos no mundo real, fora do laboratório conceptual. Contudo, a

importância de tais descrições é que, tal como acontece com as experiências científicas, permitem-nos

isolar diversas variáveis e examinar o papel que estas desempenham nas nossas teorias e na nossa

compreensão do mundo. Deste modo, este tipo de cenários permite-nos testar as nossas intuições acerca

de certos princípios, argumentos ou teorias de uma forma, mais ou menos, rigorosa.

Por exemplo, imaginemos que um cientista está a estudar os efeitos da cafeína no comportamento

humano. Para isso, o cientista precisa de ter um grupo experimental e um grupo de controlo, mantendo um

conjunto de variáveis fixo entre os dois grupos – como as horas de sono, os hábitos alimentares, a atividade

física, etc. – fazendo variar apenas a quantidade de cafeína ingerida pelos elementos do grupo experimental.

Só assim pode ter a certeza de que as diferenças (se as houver) observadas no comportamento dos

indivíduos se devem à ingestão de cafeína e não a qualquer uma das outras variáveis.

Algo de semelhante acontece nas experiências de pensamento que desenvolvemos em filosofia. Para

sabermos ao certo o que está a fazer a nossa intuição inclinar numa ou noutra direção, temos de manter

fixas certas variáveis. Por exemplo, quando enfrentamos um dilema ético na vida real há sempre muitos

fatores contingentes específicos de cada contexto que tornam a decisão muito complexa. Assim, se

queremos refletir sobre ética, podemos imaginar situações em que apenas um dos fatores relevantes difere

entre dois cenários alternativos, para determinar o seu peso relativo na nossa avaliação moral desse tipo de

casos. Isso pode levar-nos a reforçar a nossa confiança numa determinada teoria moral, a afinar a nossa

perspetiva sobre o assunto ou até mesmo a revê-la por completo.

Pensemos no célebre dilema do elétrico desgovernado, por exemplo. Na primeira versão deste

cenário hipotético, temos um elétrico que desliza descontroladamente pelos carris em direção a cinco

pessoas. Nós encontramo-nos junto a uma alavanca que pode desviar o elétrico para uma linha alternativa

apenas com uma pessoa. E a pergunta que se coloca é se seria aceitável fazê-lo?

Aquilo que se pretende testar é se estamos dispostos a aceitar que, à partida, cinco vidas valem mais

do que uma. Por isso, não é dada nenhuma informação que nos permita diferenciar os indivíduos entre si:

são todos perfeitos estranhos, presumivelmente inocentes, com a mesma probabilidade de ter vários anos

de vida feliz pela frente, etc.alunos também) é considerar que se trata de um cenário

ão apresentadas. Ou

Caderno de Apoio ao Professor

* Cenários de resposta organizados por níveis de desempenho para facilitar a correção.

á cerca de 2400 anos, em Atenas, um ondenado à morte por fazer demasiadas

tes dele, mas

velha e sábia mulher, uma sibila, que respondia às perguntas que lhe eram feitas pelos visitantes. As suas respostas eram geralmente dadas na forma de

ma. ‘Existe alguém mais sábio do que eu’, pondeu o oráculo.

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ue realizamos em filosofia as

erísticas muito específica

oratório conceptual. Con

ncias científicas, permi

nas nossas teorias e

estar as nossas intuiçõ

, rigorosa.

Temas/problemas do mundo contemporâneo1. ERRADICAÇÃO DA POBREZA Vivemos num mundo de grandes assimetrias socioeconómicas. Algumas pessoas vivem vidas

financeiramente desafogadas, com a possibilidade de obter bens e serviços de grande qualidade, ao passo

que outras vivem sem ter condições para satisfazer as suas necessidades mais básicas. Será que as pessoas

que vivem em melhores condições têm a obrigação de ajudar aqueles que vivem pior? Ou será que isso é

apenas algo muito recomendável, mas que não é errado não fazer? 1.1 O Problema

Assim, um importante problema filosófico que podemos discutir acerca da erradicação da pobreza é

o seguinte: “Teremos a obrigação moral de combater a pobreza absoluta?”. Para compreender melhor o

que está aqui em causa é importante esclarecer o que se entende por “obrigação moral” e o que se entende

por “pobreza absoluta”.Comecemos pelo conceito de “pobreza absoluta”. Para entender o significado deste conceito temos

de o contrastar com o de “pobreza relativa”. Uma pessoa pode ser considerada pobre por comparação com

o nível médio de vida da região onde vive. Em Portugal, por exemplo, existem pessoas carenciadas que

vivem privadas de muitas das coisas que são indispensáveis para se ter uma boa vida. Contudo, mesmo as

pessoas mais pobres que vivem em Portugal têm acesso gratuito à saúde e à educação e por isso são apenas

relativamente pobres. As pessoas que vivem na pobreza absoluta são pobres independentemente de

qualquer tipo de comparação, são absolutamente pobres.Nas palavras de Robert McNamara:“A pobreza ao nível absoluto […] é a vida nos limites da existência. Os pobres absolutos são

seres humanos com carências gravíssimas, que lutam pela sobrevivência num

circunstâncias miseráveis e degradantes, quase inconcebívei

as condições privilegiadas de que desfruta

são do mundo.

princípios, argumentos ou teorias de uma forma, mais

exemplo, imaginemos que um cientista está a estudar os efeito

Para isso, o cientista precisa de ter um grupo experimental e um g

de variáveis fixo entre os dois grupos – como as horas de sono, o

. – fazendo variar apenas a quantidade de cafeína ingerida pelos e

m pode ter a certeza de que as diferenças (se as houver) obs

os se devem à ingestão de cafeína e não a qualquer uma das outr

go de semelhante acontece nas experiências de pensamento que

os ao certo o que está a fazer a nossa intuição inclinar numa ou

rtas variáveis. Por exemplo, quando enfrentamos um dilema ét

contingentes específicos de cada contexto que tornam a de

mos refletir sobre ética, podemos imaginar situações em que apen

dois cenários alternativos, para determinar o seu peso relativo na

Isso pode levar-nos a reforçar a nossa confiança numa determ

etiva sobre o assunto ou até mesmo a revê-la por completo.

Pensemos no célebre dilema do elétrico desgovernado, por

rio hipotético, temos um elétrico que desliza descontroladame

oas. Nós encontramo-nos junto a uma alavanca que pode desviar

as com uma pessoa. E a pergunta que se coloca é se seria aceitáv

Aquilo que se pretende testar é se estamos dispostos a aceitar

que uma. Por isso, não é dada nenhuma informação que nos per

todos perfeitos estranhos, presumivelmente inocentes, com a m

vida feliz pela frente, etc.alunos também) é

os da cafeína no com

grupo de controlo, m

s hábitos alimentare

elementos do grupo

servadas no comp

ras variáveis.

e desenvolvemos e

u noutra direção,

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ecisão muito co

nas um dos fato

nossa avaliação

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exemplo. Na

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vel fazê-lo?

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mita difere

mesma pro

consider

BREZA Vivemos num mundo de granfinanceiramente desafogadas, com a poque outras vivem sem ter condições parque vivem em melhores condições têm apenas algo muito recomendável, mas qu1.1 O Problema

Assim, um importante problema filoo seguinte: “Teremos a obrigação moral dque está aqui em causa é importante esclarepor “pobreza absoluta”.

Comecemos pelo conceito de “pobrezde o contrastar com o de “pobreza relativa”. Uo nível médio de vida da região onde vive. Evivem privadas de muitas das coisas que são ipessoas mais pobres que vivem em Portugal têmrelativamente pobres. As pessoas que vivem qualquer tipo de comparação, são absolutamenNas palavras de Robert McNamara:“A pobreza ao nível absoluto […] é a vida no

seres humanos com carências gravíssimas, circunstâncias miseráveis e degradantes, quaas condições privilegiadas de que desfruta

Série: Sherlock (Episódio 1.1 – O Tirano) Título original: (Episode 1.1 – A Study in Pink) Realizador: Paul McGuiganElenco: Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Una Stubbs, Rupert Graves, Louise BrealeyArgumento: Steven Moffat (criador) Baseado na obra de Sir Arthur Conan DoyleAno: 2010

Duração: 88 minutos

Resumo: Sherlock é uma série britânica que consiste numa adaptação contemporânea das histórias do detetive Sherlock Holmes, escritas por Sir Arthur Conan Doyle. A série retrata um "detetive consultor", Holmes, que auxilia a Polícia Metropolitana principalmente oDetetive Inspetor Lestrade G (R

GUIÃO 2

Page 18: COMO  PENSAR TUDO …

18

Simulador de lógica formal: Logicamente 2.0 Salas do crime

Animações tutoriais sobre lógica formal

Animações de diálogos entre filósofos

Page 19: COMO  PENSAR TUDO …

19

Vídeos para compreender e rever melhor a matéria

Quizzes rápidos com explicação imediata

Avaliação do progresso

Acesso em qualquer lugar

Vídea ma

QuizAva

Ace

Simulador de lógica formal: Logicamente 2.0 De entre as várias tipologias de exercícios encontram-se as seguintes: – completar tabelas de verdade para

classificar fórmulas proposicionais e argumentativas

– completar formas argumentativas de acordo com as regras de inferência estudadas

Salas do crime – um jogo interativo onde o aluno se serve das suas competências dedutivas para solucionar diferentes crimes, sempre sob a orientação do Inspetor LeBeaux

Simulador de ética: Eticamente 1.0 para construir um perfil ético em função da resposta a dilemas morais

Gerador de testes

Atividades interativas para lógica formal – exercícios com correção automática para treinar:

– quadrado da oposição– tradução– regras de inferência

Atividades interativas complementares para todas as secções de exercícios do manual

Animações tutoriais passo a passo para alguns aspetos de lógica formal

Divertidas animações de diálogos entre filósofos. Os diálogos recriam o ambiente da popular aplicação WhatsApp

Animações de Laboratórios mentais

Apresentações em Power Point para os capítulos 1 a 7

Canal YouTube do projeto com vídeos relacionados com todos os capítulos

Resumos áudio para todos os capítulos

Testes interativos para o aluno e outros exclusivos do professor

Kahoot

Conteúdos do Caderno de Apoio ao Professor em Word para facilitar a adaptação dos recursos às necessidades dos professores

O que pode encontrar?

Page 20: COMO  PENSAR TUDO …

Saber mais:

www.comopensartudoisto10.asa.ptCOMO PENSAR TUDO ISTO?

Um manual para ensinar como pensar

Um manual adaptável a diversas necessidades

Alinhamento com as Aprendizagens Essenciais,

o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e as Provas

de Avaliação Externa de Filosofia

Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo

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Criatividade

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VEMO-NOS DE NOVO NUMA SALA

DE AULA!