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1 MANEJO AGRÍCOLA EM ESTABELECIMENTOS RURAIS FAMILIARES COM PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE FRANCISCO BELTRÃO – PR Luciano Zanetti Pessôa Candiotto Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE [email protected] Raquel Alves de Meira Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE [email protected] Resumo Este trabalho foi desenvolvido em 10 propriedades rurais familiares no município de Francisco Beltrão sudoeste do Paraná, procurando identificar quais as praticas de manejo do solo realizado e as dificuldades encontradas por esses agricultores que trabalham com agricultura orgânica e, na medida do possível, auxiliá-los sobre quais as técnicas adequadas de manejo e como realizá- las. Apesar da preocupação em orienta-los, é necessário ainda uma melhor capacitação e acompanhamento permanente desses produtores, principalmente aqueles que ainda estão em processo de transição para a agricultura agroecológica. Palavras-chave: Manejo. Agricultura orgânica. Estabelecimentos rurais. Francisco Beltrão. Introdução A produção de alimentos cultivados de forma mais limpa ou livre de agrotóxicos, tem aumentado bastante, principalmente pela preocupação da população em consumir alimentos mais saudáveis. Esse movimento, mesmo que lentamente e em pequena escala, tem contribuído para o crescimento de experiências alternativas de produção agrícola e pecuária, preocupadas não somente com a produção saudável de alimentos, mas também com a preservação ambiental. Tais alternativas se apresentam como contraponto à agricultura moderna, causando inúmeros problemas ambientais com a utilização de agroquímicos (adubos e defensivos), a contaminação da água, do solo, dos alimentos, bem como a intoxicação de agricultores. A agricultura praticada com base agroecológica, procura se igualar aos processos que ocorrem na natureza, tentando manter o equilíbrio ecológico nos ecossistemas naturais e pensando a propriedade agrícola como um todo. Entender e manejar o solo de forma adequada é uma das práticas fundamentais na agroecologia, entendendo que a fertilidade do solo é possível a partir dos recursos disponíveis dentro do agroecossistema e, o bom manejo do solo em uma propriedade agroecológica deve ser

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MANEJO AGRÍCOLA EM ESTABELECIMENTOS RURAIS FAMILIARES COM PRODUÇÃO DE ALIMENTOS ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE

FRANCISCO BELTRÃO – PR

Luciano Zanetti Pessôa Candiotto Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE

[email protected]

Raquel Alves de Meira Universidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE

[email protected]

Resumo Este trabalho foi desenvolvido em 10 propriedades rurais familiares no município de Francisco Beltrão sudoeste do Paraná, procurando identificar quais as praticas de manejo do solo realizado e as dificuldades encontradas por esses agricultores que trabalham com agricultura orgânica e, na medida do possível, auxiliá-los sobre quais as técnicas adequadas de manejo e como realizá-las. Apesar da preocupação em orienta-los, é necessário ainda uma melhor capacitação e acompanhamento permanente desses produtores, principalmente aqueles que ainda estão em processo de transição para a agricultura agroecológica. Palavras-chave: Manejo. Agricultura orgânica. Estabelecimentos rurais. Francisco Beltrão.

Introdução

A produção de alimentos cultivados de forma mais limpa ou livre de agrotóxicos, tem

aumentado bastante, principalmente pela preocupação da população em consumir

alimentos mais saudáveis. Esse movimento, mesmo que lentamente e em pequena

escala, tem contribuído para o crescimento de experiências alternativas de produção

agrícola e pecuária, preocupadas não somente com a produção saudável de alimentos,

mas também com a preservação ambiental. Tais alternativas se apresentam como

contraponto à agricultura moderna, causando inúmeros problemas ambientais com a

utilização de agroquímicos (adubos e defensivos), a contaminação da água, do solo, dos

alimentos, bem como a intoxicação de agricultores.

A agricultura praticada com base agroecológica, procura se igualar aos processos que

ocorrem na natureza, tentando manter o equilíbrio ecológico nos ecossistemas naturais e

pensando a propriedade agrícola como um todo. Entender e manejar o solo de forma

adequada é uma das práticas fundamentais na agroecologia, entendendo que a

fertilidade do solo é possível a partir dos recursos disponíveis dentro do

agroecossistema e, o bom manejo do solo em uma propriedade agroecológica deve ser

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feito de forma que consiga proporcionar todos os nutrientes necessários ao solo, sem a

necessidade de insumos vindos de fora.

A agroecologia tem sido uma alternativa para muitos agricultores preocupados em

produzir alimentos de forma mais limpa, livre de agrotóxicos e que tenham uma

preocupação em preservar os recursos naturais. Ela se apresenta hoje como uma

contraposição à agricultura convencional, que desencadeia diversos impactos

ambientais e sociais, pois utiliza uma tecnologia agrícola não sustentável, onde os

agricultores vão falindo, os solos se degradando e os consumidores tendo uma

alimentação pouco nutritiva (PRIMAVESI, 1992).

A agricultura convencional, construída com os objetivos de maximizar a produção e o

lucro, com as práticas de monocultura, irrigação, cultivo intensivo do solo, aplicação de

fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e a manipulação genética de

plantas, não leva em consideração as consequências não intencionais, de longo prazo e a

dinâmica ecológica dos agroecossistemas (GLIESSMAN, 2001).

A agroecologia busca desenvolver agroecossistemas que tenham uma dependência

mínima ou nenhuma de agroquímicos e energéticos externos, onde as interações

ecológicas e os componentes biológicos desse sistema agrícola sejam eles próprios,

responsáveis pela fertilidade do solo, produtividade e proteção das culturas, tendo assim

uma produção sustentável dentro desse agroecossistema, criada pelo equilíbrio entre

plantas, solo, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes

(ALTIERI, 2000).

Neste texto, estaremos apresentando alguns resultados já obtidos no projeto de pesquisa

“Apoio técnico sobre manejo agroecológico em unidades rurais familiares no município

de Francisco Beltrão”1, sudoeste do Paraná, que tem como objetivo auxiliar ações no

manejo da produção orgânica (englobando o solo, insetos e fungos) em 10 unidades

rurais familiares que produzem alimentos orgânicos no município. Destas 10 unidades,

oito estão localizadas na comunidade do Jacutinga e duas na Vila Rural Gralha Azul.

Esse projeto nasceu da necessidade observada no decorrer do projeto “Conservação e

uso sustentável de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades

rurais familiares com produção agroecológica no município de Francisco Beltrão – PR”,

onde se percebeu as dificuldades enfrentadas pelos agricultores para trabalhar com a

produção agroecológica2.

Para localizar as propriedades que foram alvo da pesquisa, organizamos o mapa abaixo.

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Figura 1 – Localização das propriedades pesquisadas

Organizado por Lucas Ricardo Hoenig

No desenrolar deste texto, vamos nos ater a algumas atividades já desenvolvidas, como

o diagnóstico produtivo e os métodos e técnicas utilizados por esses produtores no que

diz respeito ao manejo em cada uma dessas unidades. Como um dos produtores

incluídos no projeto, abandonou as atividades agrícolas em sua propriedade por motivos

de saúde durante o desenvolvimento do projeto, não incluiremos os dados referentes à

sua propriedade neste trabalho. Assim somente os dados de 10 propriedades estão

contidos neste trabalho.

Apresentaremos aqui, alguns dados sobre a produção e as técnicas de manejo do solo

utilizadas em cada unidade, entendendo que o manejo do solo é fundamental para que se

tenha uma boa produtividade, e também para manter e melhorar a qualidade ambiental.

Técnicas de manejo do solo nas unidades rurais familiares

O manejo do solo em todos os estabelecimentos rurais da pesquisa é feito de forma

convencional, assim chamado pelos produtores da região, que consiste no revolvimento

do solo para preparar o plantio, seguido de adubação orgânica.

Apesar de o revolvimento ser realizado em todas as propriedades, no preparo para o

plantio, o solo fica em descanso entre uma cultura e outra, tendo assim o acúmulo

benéfico dos restos (“palhada”) das outras culturas. A rotação de culturas, praticada por

estes produtores, também melhora a disponibilidade de nutrientes no solo.

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Outras práticas de manejo são feitas nos estabelecimentos rurais pesquisados, como o

controle de plantas indesejadas através da capina, o uso de matéria orgânica como

cobertura do solo, adubação verde, rotação de culturas, terraceamento, cordões vegetais,

plantio em nível, alternância de capinas e roçadas, que servem de cobertura do solo.

Todas essas formas de manejo, se feitas adequadamente, servem para conservar,

recuperar e melhorar a fertilidade do solo.

Analisando todas as técnicas de manejo do solo em cada propriedade e tendo como

objetivo identificar se estas são as mais adequadas, buscaremos tratar sobre qual a forma

mais correta para se desenvolver essas práticas.

Faremos uma breve exposição de cada propriedade mostrando os alimentos mais

produzidos e os com maior importância econômica, apontando quais as principais

dificuldades encontradas por esses produtores e possíveis soluções.

A identificação dos alimentos de maior importância econômica nas propriedades é

fundamental, haja vista que são poucos os incentivos para produtores que trabalham

com agricultura orgânica e agroecológica, tanto do município, quanto do governo do

Estado. No município de Francisco Beltrão, onde realizamos a pesquisa, a ASSESOAR

– Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural, é uma das únicas parceiras

ativas desses produtores.

Manejo nos estabelecimentos rurais beneficiários do projeto:

O estabelecimento rural de Cleuza e Antonio Araujo, localizada na comunidade do

Jacutinga, tem uma área de 3.100 m². A terra foi emprestada pelo proprietário

Minervino Schimitz, que também é agricultor e reside próximo. Na verdade, trata-se do

mesmo estabelecimento rural, porém na pesquisa, consideramos como estabelecimentos

diferentes, pois a família de Cleuza tem autonomia para definir as atividades que

desenvolve.

No estabelecimento rural de Cleuza, os cultivos são praticados em hortas, sendo que os

principais alimentos produzidos são legumes e verduras, raízes como mandioca e cará,

que são transformadas em bolos, bolachas e pães, sendo estes os de maior importância

econômica para a família.

Cleuza utiliza a cama de aviário como adubo no solo e nos relatou que em algumas

áreas da propriedade onde percebeu uma baixa produção, após a aplicação do adubo

(cama de aviário), houve melhoras. No entanto, devido à alimentação e aos

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medicamentos utilizados para as aves, o adubo originário do esterco de aves não vem

sendo considerado o mais adequado para a agricultura orgânica.

Os maiores problemas com as hortaliças no inverno são as geadas e no verão há

problemas com insetos nas plantas, principalmente o “fede-fede” e o cascudinho nas

culturas de repolho e beterraba. No controle desses insetos, aplicam-se alguns

preparados que ela mesma faz como, água de sabão de soda (sabão misturado com

água), arruda com água e urtiga com água. Todos esses preparados são misturados e

aplicados nas plantas, não tem uma medida especifica e foram repassados por

experiências de outros agricultores. As plantas indesejadas são capinadas e deixadas

como cobertura do solo nos canteiros. Em relação à produção animal, há criação de

galinhas, suínos e uma vaca para produção de leite que é utilizado na fabricação de

bolachas, bolos e queijo, onde a principal destinação é para a alimentação da família.

Quadro 1 – Estabelecimento rural de Cleuza e Antonio Araujo:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Alface, batata cará, batata doce,

beterraba, cebolinha, cenoura,

couve flor, ervilha, feijão,

mandioca, milho, repolho,

rúcula, salsa.

Bolacha, pão, bolos, queijo

(transformados).

Beterraba e repolho

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira

Em outro estabelecimento rural da comunidade do Jacutinga, de Odila e Santo Galupo,

a maior produção é de legumes e verduras em estufas, localizadas em uma pequena

parcela da propriedade. A área é de 3 hectares e a produção é diversificada, suprindo as

necessidades alimentares da família e sendo a base da renda familiar. Os principais

alimentos comercializados na feira semanal de produtos orgânicos organizada pelos

próprios agricultores, são: brócolis, salsa, cebolinha e couve.

No cultivo de hortaliças, tiveram problemas com fungo na alface, pulgão no chuchu,

cascudinho no pimentão, ferrugem na vagem, caramujo na abobrinha e grilo branco em

outras. O combate foi feito com detergente de cozinha misturado com água (receita

caseira e que segundo ela tem dado resultado). A produção animal da propriedade é

totalmente voltada para o consumo da família. Somente o leite excedente é vendido. Os

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dejetos animais produzidos são usados como adubo, assim como o adubo de cama de

aviário, que é usado diretamente nos canteiros.

Quadro 2 – Estabelecimento rural de Odila e Santos Galupo:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Abobrinha, acelga, alface,

banana, beterraba, brócolis,

cebolinha, cenoura, chuchu,

couve, couve-flor, ervilha,

feijão, laranja, lima, pepino,

pimentão, repolho, salsa,

tangerina, vagem.

Brócolis, cebolinha, couve,

salsa.

Abobrinha, alface, chuchu,

pimentão, vagem.

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira Na propriedade de Tobias e Josefina Korb, a principal atividade é a produção de leite,

onde há um excelente manejo das pastagens, com rotação de culturas e adubação verde.

Essa propriedade tem uma área de 12 hectares, onde 5 hectares são áreas de pastagens

permanentes, 2,5 hectares de pastagens cultivadas e o restante de mata nativa,

reflorestamento, capoeira, benfeitorias e pomar. A produção de alimentos para o

consumo familiar é bastante diversificada, e o queijo é o maior gerador de renda. A

família opta por produzir e comercializar somente o que acha necessário, mantendo

assim sua autonomia. Ainda na produção animal, a família cria frangos, porcos e peixes,

apenas para subsistência.

A produção de legumes, verduras, frutas, entre outros, é principalmente para

alimentação da família. O excedente é vendido para a merenda em escolas do

município. A produção de grãos (feijão, milho e arroz), é destinada apenas para o

consumo familiar e, no caso do milho, para alimentação animal. O controle dos dejetos

animais é feito com piqueteamento, onde a cada noite o gado fica em um piquete

diferente. Com a quantidade de piquetes na propriedade é possível que os animais só

voltem ao mesmo piquete a cada 25 dias.

O produtor utiliza uma técnica de armazenamento de grão úmido do milho, onde a

colheita é feita quando a umidade dos grãos estiver em 20%. Após a colheita os grãos

são triturados para melhor compactação e armazenados em um tipo de silo feito de

concreto e revestido por lonas, depois de bem compactado também é coberto por lona e

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por uma camada de terra, para que saia de todo ar que esta sob a lona. Esse processo de

ensilagem evita o caruncho, ratos e perda com a produção, que é totalmente destinada à

alimentação animal e mantendo assim o valor nutricional. O produtor teve problemas

com pulgão na produção de repolho. Um grande limite identificado pelo produtor é a

falta de sementes não tratadas quimicamente, pois a disponibilidade de variedades é

muito pequena na região.

Quadro 3 – Estabelecimento rural de Tobias e Josefina Korb:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Alface, ameixa, araçá,

bergamota, beterraba, brócolis,

caqui, cereja, couve, feijão,

figo, guabiju, jabuticaba,

laranja, mandioca, milho,

nozes, pepino, pêssego, polkan,

repolho, tomate, uva, vagem.

Queijo (transformado na

propriedade)

Repolho

Sementes

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira

O estabelecimento rural de Valdecir e Marli Tres é um dos menores do projeto, por estar

localizado na Vila Rural Gralha Azul. Sua área é de 5.000 m², onde 500m² são ocupados

com benfeitorias e a casa da família. O restante são hortas, que constituem a principal

atividade da família. A maior parte da área destinada às hortaliças é coberta com

estufas, para a proteção contra geadas. Na propriedade é feito plantio convencional

(revolvimento do solo antes da semeadura), utilizam a capina para controlar as plantas

indesejadas, fazem adubação verde, rotação de culturas e cordões vegetais. A

propriedade tem uma boa diversificação na produção.

A família teve perdas com a mandioca pelo excesso de umidade no solo. Na alface,

tiveram problemas com bactérias nas folhas e combateram com rotação de culturas. Na

couve flor, houve ataque de pulgões e, no repolho, chicória e brócolis, de grilo branco.

A cebolinha apresentou mofo nas folhas e, para o combate foi utilizada somente calda

de cinzas e repelente. A família faz alguns preparados orgânicos para o combate de

pragas nas hortaliças, como calda de cinzas no pepino e abobrinha. Também fazem

adubo com folhas e esterco de aviário para adubação dos canteiros.

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Quadro 4 – Estabelecimento rural de Valdecir e Marli Tres:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Abobrinha, agrião, alface,

amendoim batata-doce, banana,

beterraba, brócolis, cebola,

cebolinha, cenoura, chicória,

chuchu, couve-flor, mandioca,

morango, pepino rabanete,

repolho, rúcula, salsa,

Alface Alface, brócolis, cebola, couve-

flor, mandioca, morango,

repolho.

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira

A propriedade de Gilson e Cleonice Gurgel, localizada na comunidade do Jacutinga,

tem uma área de aproximadamente 15 hectares, divididos em lavouras, pastagens,

agrofloresta, açude, silvicultura e benfeitorias. O plantio é feito de forma convencional,

mas também fazem rotação de cultura, adubação verde e cordões vegetais. As plantas

indesejadas são combatidas com capina e aração.

Em algumas áreas da propriedade onde eram plantados pinus, observou-se uma perda de

fertilidade. O produtor acha necessário fazer mais rotação de culturas como uma forma

de aumentar a fertilidade e melhorar o manejo. Dos alimentos que mais são produzidos,

o agricultor destaca como maiores geradores de renda da família, o queijo (que é

transformado na propriedade em uma agroindústria particular) e a mandioca, apontada

pelo produtor como a cultura que mais exige mão de obra e a que apresentou mais

problemas na produção. Algum fungo secou os pés de mandioca plantados. Alguns

outros problemas encontrados pelo produtor estiveram relacionados à dificuldade com o

alto custo na transformação do trigo, e na produção de arroz com o frio durante o

inverno.

Quadro 5 – Estabelecimento rural de Gilson e Cleonice Gurgel:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Açúcar mascavo, alface, alho,

arroz, banana, beterraba,

brócolis, caqui, cebola,

cenoura, couve, ervilha, feijão,

laranja, mandioca, milho,

Mandioca, queijo Arroz, mandioca, trigo.

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pêssego, queijo, trigo.

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira O estabelecimento rural de Paulo e Luciana Korb tem uma área de 24 hectares,

distribuídos em lavouras, mata nativa, reflorestamento (pinus), pastagens e benfeitorias.

Ele também está localizado na comunidade de Jacutinga.

Paulo faz plantio convencional e nos informou que o solo da propriedade está em bom

estado de conservação. Para melhorar o solo, utiliza as práticas de adubação verde,

rotação de culturas, cordões vegetais e plantio em nível. Após o curso sobre manejo do

solo, realizado em outro projeto desenvolvido pela equipe do GETERR (Grupo de

Estudos Territoriais) da UNIOESTE3, começou a fazer cobertura do solo na área

destinada ao cultivo de tomates.

Utilizam cama de aviário na lavoura depois de devidamente curtido. Fez uso de

preparados orgânicos na plantação de alho, mas disse que não teve nenhum resultado

diferente. Os dejetos animais são utilizados como adubo nas pastagens dos

piqueteamentos. Paulo não relatou nenhuma dificuldade no manejo de sua propriedade,

talvez em virtude de uma boa parte da propriedade estar preservada com floresta.

Destacou a importância da produção de queijo por ser a maior fonte de renda da sua

família.

Quadro 6 – Estabelecimento rural de Paulo e Luciana Korb:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Açúcar mascavo, alface, alho,

ameixa, arroz, beterraba, caqui,

couve, feijão, laranja,

mandioca, milho, pera,

pêssego, queijo, repolho.

Queijo

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira O estabelecimento rural de Walfrido e Maria Iolanda Korb também está localizado na

comunidade rural do Jacutinga, com 16 hectares divididos em lavouras, pastagens, mata

nativa e benfeitorias. O plantio é feito de forma convencional e, em algumas áreas da

propriedade, há perda de fertilidade. Por isso, acham necessário fazer mais cobertura do

solo.

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Em áreas de pastagem e de divisa da propriedade há sinais de sulcos. Utilizam práticas

de adubação verde, cordões vegetais, plantio em nível, reflorestamento e alternâncias de

capina. Na plantação de mandioca, tiveram problemas com lagartas. Com os legumes,

utilizaram água de sabão e de cinzas para controlar o pulgão. O produtor tem uma boa

variedade na produção de alimentos e boa parte é comercializada juntamente com o

queijo, que é o de maior importância econômica para a família.

Quadro 7 – Estabelecimento rural de Walfrido e Maria Iolanda Korb:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Abobora, alface, alho, banana,

batata-doce, beterraba, cebola,

cebolinha, cenoura, doces,

feijão, laranja, mandioca,

manteiga, milho, moranga,

queijo, repolho, rúcula, tomate.

Queijo Alface, mandioca

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira Almir e Roseli Calegari possuem um estabelecimento rural na Vila Rural Gralha Azul,

com uma área de 5.000m², tendo como principal atividade o cultivo de hortaliças. Além

do cultivo de hortaliças, fabricam pães, doces e macarrão, que são fundamentais na

complementação da renda da família. O produtor acredita que a fertilidade de sua

propriedade melhorou devido à aplicação de adubos. Também procurou fazer adubação

verde (mucuna) em algumas áreas da propriedade onde escoa água da chuva e havia

perda de fertilidade. Faz cobertura do solo, plantio em nível e capina, deixando matéria

orgânica como cobertura no solo. Na plantação de morangos, teve problemas com traça

e não teve boa produção.

Quadro 8 – Estabelecimento rural de Almir e Roseli Calegari:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Alface, almeirão, batata-doce,

bergamota, beterraba, bolachas,

cenoura, chicória, chuchu,

laranja, lima, limão, macarrão,

mandioca, milho, morango,

Alface, panificação Morango

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pão, uva.

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira A propriedade de Minervino e Luiza Schimitiz tem aproximadamente 5 hectares e está

localizada na comunidade rural de Jacutinga. A área da propriedade é dividida em

agrofloresta, pastagens, reflorestamento, lavoura e benfeitorias. A produção de

alimentos, nesta propriedade é praticamente toda para o consumo. Apenas a produção

de mandioca é comercializada. Os produtores tem sua principal fonte de renda

proveniente da aposentadoria. Não relataram nenhuma dificuldade na produção.

Quadro 9 – Estabelecimento rural de Minervino e Luiza Schimitiz

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

Alface, cebola, ervilha, laranja,

mandioca, pepino, pêssego,

queijo, repolho.

Mandioca

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira O estabelecimento rural de José e Noême Korb, também situado na comunidade rural de

Jacutinga, tem 30 hectares distribuídos em lavouras, pastagens, matas, reflorestamento,

agrofloresta, capoeira e benfeitorias. O plantio é feito de forma convencional e utilizam

adubo de aviário na preparação para o plantio. Outras técnicas para melhorar as

condições do solo, como adubação verde, rotação de culturas, cordões vegetais e plantio

em nível, são praticadas.

A produção de mandioca e queijo é destacada como de maior importância econômica

para a família e, o restante que é produzido fica para o consumo na propriedade. É

importante destacar que está é uma propriedade que se destaca em autonomia e

autossuficiência na produção, sendo que José é extremamente consciente dessa

importância e faz da agroecologia uma filosofia de vida. Os problemas apontados pelo

produtor foram com o milho e trigo, tendo algumas perdas decorrentes do excesso de

chuvas e, com o arroz, por falta de chuva.

Quadro 10 – Estabelecimento rural de José e Noême Korb:

Alimentos mais produzidos Alimentos com maior

importância econômica

Dificuldades na produção

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Açúcar-mascavo, alface, arroz,

bergamota, cebola, cebolinha,

cenoura, feijão, laranja,

mandioca, milho, queijo,

repolho, salsa, trigo.

Mandioca, queijo Arroz, feijão, mandioca, milho,

trigo.

Fonte: Trabalho de campo (julho/2011). Org. Raquel A. Meira

Algumas recomendações:

O plantio convencional, praticado por estes produtores, deveria ser substituído pelo

plantio direto, pois para Primavesi (1992), a terra depois de roçada mantém a palhada,

formando uma superfície protetora, protegendo esse solo da erosão, amenizando o

impacto das gotas de chuva. A técnica do plantio direto permite que o plantio seja feito

em qualquer época do ano, o solo não perde umidade e fica protegido contra o

aquecimento excessivo. A camada de palhada suprime as plantas invasoras e diminui a

necessidade de adubos, pois mantém a fertilidade natural do solo e proporciona

colheitas estáveis e elevadas, mas o plantio direto só vai ser eficiente se for feito

juntamente com a rotação de culturas, que é a troca de culturas a cada plantio, alterando

as espécies vegetais na área plantada. Esse tipo de plantio garante a recuperação e

mantém a fertilidade do solo, além de ser a forma mais adequada de expulsar as pragas

de cada tipo de cultura, não deixando que estas se instalem nas culturas e criem

resistência.

Os cultivos consorciados, desenvolvidos em algumas propriedades, são fundamentais,

por fornecer mais matéria orgânica ao solo após a colheita, protegendo a terra contra a

insolação e o impacto da chuva, e também como alternativa frente à monocultura.

Privavesi (1992) lembra que o consorciamento pode beneficiar a cultura principal, mas

deve-se tomar cuidado para que essas plantas consorciadas sejam companheiras e, para

saber se essas plantas se gostam, basta colocar um prato de areia lavada e, em outro,

terra sacudida da cultura anterior. Em seguida, colocam-se nesses dois pratos entre 50 e

100 sementes da cultura que se deseja plantar. Se nascer primeiro na areia não se

gostam, se nascerem primeiro na terra são companheiras.

O consorciamento também pode ser feito com culturas perenes como frutíferas, por

exemplo, com laranjeiras e goiabeiras. Existem consórcios de até cinco culturas

(pimenta-do-reino, seringueiras, cacaueiros, coqueiros e maracujá), mas deve-se tomar

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cuidado para não fazer consórcio com plantas alelopáticas (plantas que combatem

outras plantas), pois pode haver dificuldade de desenvolvimento de alguma delas

(PRIMAVESI, 1992).

A rotação de culturas é importante para manter a resistência das plantas aos inimigos

naturais das culturas, responsáveis pelo controle de pragas e doenças. Primavesi (1992)

destaca a importância de se alternar de quatro a cinco culturas no mínimo, pois quando

se repete as mesmas culturas, essas plantas acabam retirando sempre os mesmos

nutrientes da terra e devolvendo as mesmas substâncias, alimentando sempre as mesmas

formas de vida (micróbios, insetos) o que acaba expulsando os inimigos naturais de

algumas pragas, fazendo com que esses se multipliquem cada vez mais.

As plantas, para terem um bom desenvolvimento e maior resistência a pragas e doenças,

dependem da disponibilidade dos nutrientes presentes no solo, que precisam estar

equilibrados desde a germinação até seu desenvolvimento (MAYER, 2001).

A fotossíntese é à base da nutrição das plantas, pois através dela acontece o processo de

captação de energia do sol. Ela fornece à planta, grande parte dos nutrientes, como

carbono e oxigênio, que constituem os compostos estruturais e funcionais das plantas. O

carbono, o oxigênio e o hidrogênio, constituem aproximadamente 95% do peso médio

de massa verde das plantas. O restante vem do solo, que são o macronutrientes

(nitrogênio, fósforo e potássio) e os micronutrientes (ferro, cobre, zinco, manganês,

molibdênio, boro e cloro) (GLIESSMAN, 2001). Assim é de fundamental importância

saber qual é a disponibilidade de nutrientes no solo, se esses estão em equilíbrio e em

quantidades necessárias para o desenvolvimento das plantas. Elaboramos uma síntese

Quadro 1, dos principais nutrientes (micro e macronutrientes)4 necessários para o bom

desenvolvimento das plantas e a importância de cada um.

Quadro 11 – Principais nutrientes e suas funções nas plantas. Nutrientes Principais Funções

Nitrogênio (macronutriente) É absorvido em maior quantidade. É o principal elemento que compõe as proteínas. É responsável em promover o crescimento das plantas. Em excesso pode diminuir a resistência das plantas.

Fósforo (macronutriente) Aumenta a produção e melhora a qualidade, pois estimula o crescimento das raízes, semente e fruto.

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Fortalece a planta contra efeitos do frio e seca por armazenar energia na planta. A falta de fósforo provoca grãos chochos.

Potássio (macronutriente) É o segundo mais absorvido pela planta. Ajuda a formar açucares e proteínas, controla a absorção e perda de água da planta. Ajuda na absorção de outros nutrientes. Aumenta a resistência da planta contra pragas e doenças.

Cálcio (macronutriente) É fornecido junto com o magnésio quando se aplica calcário ao solo. Importante na formação das células da planta promove a absorção da água, aumentando a elasticidade e permeabilidade da parede celular. Torna as plantas e frutos mais resistentes ao apodrecimento.

Magnésio (macronutrientes) Importante na fotossíntese da planta. Geralmente existe em quantidade suficiente no solo.

Enxofre (macronutriente) Ajuda na formação das proteínas que fazem parte dos grãos. Ajuda a fixar Nitrogênio nas plantas.

Boro (micronutriente) Importante na formação do pólen e no crescimento no embrião. Aumenta a resistência física das plantas, torna as folhas e ramos mais rígidos. Quando há deficiência de Boro o ataque de insetos é maior.

Molibdênio (micronutriente) Usado em pequenas quantidades pelas plantas. Melhora o desenvolvimento das raízes. Ajuda na fixação de Nitrogênio e na formação de proteína nas plantas.

Zinco (micronutriente) Influencia para que as partes jovens das plantas sejam normais. Também influencia na produção dos hormônios do crescimento.

Ferro (micronutriente) Influencia na formação da clorofila (o verde das plantas). Aumenta o aproveitamento dos outros nutrientes pela planta.

Manganês (micronutriente) Torna as plantas mais resistentes a pragas, doenças e variações climáticas. Ajuda na formação das vitaminas na

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planta, também melhora o aroma e o sabor dos frutos. Acelera a germinação, melhora o desenvolvimento das raízes e o aproveitamento dos outros nutrientes.

Cobre (micronutriente) Aumenta a resistência das plantas à pragas, secas e doenças. Junto com o Magnésio e o Cobre, ajudam na formação da clorofila e das proteínas.

Cloro (micronutriente) É indispensável para o melhor aproveitamento dos macronutrientes.

Cobalto (micronutriente) Ajuda na fotossíntese e fixação de Nitrogênio pelas leguminosas.

Fonte: MAYER, Paulo H. (2001). Org. Raquel A. Meira.

Na falta ou excesso de algum nutriente, a planta pode apresentar sintomas, que podem

ser semelhantes a doenças, ou mesmo dificuldade no desenvolvimento das raízes. No

Quadro 12, apresentaremos alguns desses sintomas na deficiência de alguns dos

principais nutrientes que são indispensáveis para as plantas.

Quadro 12 – Sintomas nas plantas de deficiência de alguns nutrientes.

Deficiência de Nitrogênio A planta fica fraca, com folhas

uniformemente amareladas e as folhas mais velhas murchas.

Deficiência de Fósforo As plantas ficam miúdas, os frutos tem

uma maturação tardia, grãos chocos e as folhas ganham tonalidades escuras,

arroxeadas. Deficiência de Potássio

Apresenta manchas brancas, amarelas nas folhas e com as bordas secas, os

caules ficam finos e fracos.

Deficiência de Cálcio As folhas e brotos mais novos ficam

deformados, a ponta não cresce, aparecem manchas amarelas entre as nervuras e nas margens, as raízes ficam fracas e os frutos

racham. Deficiência de Magnésio

As nervuras das folhas mais velhas ficam com cores arroxeadas que se curvam e

são facilmente arrancadas.

Deficiência de Enxofre As folhas novas ficam pálidas, às vezes com manchas secas e corres arroxeadas.

Deficiência de Boro As folhas das pontas ficam deformadas, escurecimento no interior das hortaliças,

como couve-flor, nas frutíferas desenvolvem a vassoura de bruxa, no tomateiro provoca o superbrotamento

lateral em arvores provoca o caule oco.

Deficiência de Zinco Folhas pequenas, retorcidas com manchas amareladas, tufos de folhas nas pontas dos

ramos.

Deficiência de Cobre Folhas das pontas murchas, dificuldade

Deficiência de Manganês Aparece nas folhas mais novas, uma rede

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do caule ficar reto. de nervuras sobre um fundo amarelado, as folas tem pequenas manchas.

Fonte: MAYER, Paulo H. (2001). Org. Raquel A. Meira. Realizamos algumas análises de solo nestas propriedades, para obtermos informações

sobre a disponibilidade e quantidade de nutrientes presentes em cada uma delas e assim,

verificar se há falta ou excesso de nutrientes, podendo, em seguida, fazer as indicações

de manejo. Nas 10 propriedades, realizamos análises química, física, granulométrica e

de matéria orgânica, como meio de avaliar a fertilidade do solo. Estas análises foram

feitas pelo método da Embrapa onde cada uma das áreas escolhidas foi percorrida em

zig-zag, de modo que retiramos com um trado, amostras de 15 a 20 pontos diferentes,

com 20 cm de profundidade. Apenas em culturas permanentes como frutíferas, a

profundidade foi de 30 cm. Os locais de coleta das amostras foram escolhidos de acordo

com as culturas das propriedades. Do total de 20 amostras, foram retiradas em

diferentes áreas das 10 propriedades (hortas, pastagens perenes e cultivadas, lavouras,

floresta, agrofloresta e pomar). Essas amostras ainda não foram analisadas pela equipe

do projeto, e, portanto, seus resultados não estarão constando neste trabalho, mas serão

ser feitas até o término do projeto.

Na adubação verde, deve-se fazer o consorciamento com a cultura principal, logo após a

colheita. A parte roçada é deixada como cobertura morta no solo, ou misturada

superficialmente com grade, nunca com arado, pois o revolvimento mais profundo pode

produzir substâncias tóxicas (PRIMAVESI, 1992).

As plantas mais utilizadas para adubação verde nos dez estabelecimentos rurais são a

mucuna, ervilhaca, aveia e azevem, por terem uma boa fixação de nitrogênio nas

culturas, melhorando as condições do solo e deixando como cobertura no intervalo entre

as culturas. Segundo Gliessman (2001) a adubação verde é uma fonte de matéria

orgânica para o solo. Quando essas leguminosas são usadas como cultura de cobertura,

em consórcio ou mesmo solteiras, com espécies não leguminosas, a biomassa pode ser

altamente melhorada, incorporada ao solo ou deixada na superfície como cobertura, até

decompor-se.

Outras práticas bastante usadas nessas propriedades. Para adubação complementar do

solo utiliza-se o esterco, a cama de palha ou maravalha com excrementos e urina de

aviários. Esse tipo de adubo deve ser preparado antes da aplicação no solo, e precisa ser

compostado. Um problema relacionado a esse tipo de material, sobretudo à cama de

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aviário, diz respeito a grande quantidade de hormônios presentes nos excrementos das

aves, haja vista que as mesmas recebem diversos tipos de medicamentos em seu ciclo de

vida. A cama de aviário é utilizada em quase todas essas propriedades, sendo

fundamental a orientação de como deve ser feita a utilização desta no solo.

O esterco compostado é muito usado na produção orgânica mais precisa ser

adequadamente preparado (curtido) para que possa melhorar as condições físicas e a

fertilidade do solo. Algumas receitas para controle de pragas, parasitas e doenças em

animais, adubos, biofertilizantes, serão repassadas a esses produtores, para que possam

servir de ajuda nas dificuldades encontradas na produção.

No controle das plantas indesejadas faremos uma relação de algumas plantas e seus

indicadores, pois estas desenvolvem um papel de reestabelecer as condições naturais do

solo. Conforme destaca Primavesi (1992), algumas plantas, chamadas de inços ou

invasoras, que são indesejadas, aparecem em determinados locais por encontrarem ali

condições que lhe permitem crescer e se multiplicar, mas estas plantas estão ali

indicando a falta ou excesso de algum nutriente ou até mesmo alguma condição física

do solo que não está boa. Assim, para o combate dessas plantas deve ser levado em

conta os seus indicadores no solo.

Todas essas técnicas de manejo, receitas para controle de pragas e adubação, serão

repassadas a estes produtores, através de uma cartilha que será elaborada ao fim do

projeto, assim como os resultados das análises do solo, realizadas em cada uma das

propriedades, que podem servir de comparativo com próximas análises que poderão ser

feitas pelos agricultores.

Considerações finais

As práticas aqui abordadas foram identificadas nos dez estabelecimentos rurais da

pesquisa através de questionários que foram aplicados no mês de julho de 2011. Estas

formas de manejo são as mais utilizadas, sendo necessária uma melhor aplicação em

cada propriedade, observando que existem dificuldades técnicas ou culturais de alguns

produtores em realizar um manejo mais adequado. Buscamos auxiliar esses produtores,

principalmente no manejo do solo, entendendo que na conversão para a produção

agroecológica, o solo é o elemento fundamental e, dependendo da sua forma de manejo,

pode ser degradado ou sabiamente manejado. Todos os métodos e técnicas que possam

minimizar ou solucionar os problemas levantados, serão repassados através da cartilha

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que será direcionada aos agricultores da pesquisa e demais agricultores que produzem

alimentos orgânicos no município de Francisco Beltrão e na região sudoeste do Paraná.

Nesses 2 (dois) anos da pesquisa, realizamos algumas entrevistas com profissionais que

trabalham com agricultura orgânica e agroecológica no município, procurando

identificar qual tipo de apoio prestam a esses agricultores. Na Emater de Francisco

Beltrão, fomos informados de que existe apoio aos produtores rurais do município, mas

na realização das entrevistas com esses produtores a entidade não foi citada como

parceira. Na Secretária de Agricultura do município, não foi possível realizar nenhuma

entrevista, pois não havia ninguém que trabalhasse com a agroecologia e não

demonstraram nenhum interesse em cooperar com a pesquisa. A Assesoar, que também

é parceira nessa pesquisa, é a única entidade que presta serviços e apoio técnico a esses

agricultores.

Apesar das dificuldades apresentadas, essas unidades produtoras mostram como é

possível produzir alimentos livres de agrotóxicos, tendo alta aceitação no mercado local.

Isso faz com que esses produtores se mantenham no campo tendo qualidade de vida e

proporcionando alimentos de qualidade para todos que os consomem, além de estarem

contribuindo com o conhecimento empírico, fundamental na construção de uma ciência

que só vai ser possível com essa relação de convivência entre o conhecimento dos

produtores e pesquisadores.

Notas 1 Pesquisa financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq,

através do Edital nº 10/2010, Processo 503372/2010-2. 2 Os dois projetos citados têm apoio financeiro do CNPq.

3 Curso realizado para os produtores beneficiários do projeto “Conservação e uso sustentável de recursos hídricos como instrumento de gestão ambiental em unidades rurais familiares com produção agroecológica no município de Francisco Beltrão – PR”, financiado pelo CNPq e coordenado pelo prof. Luciano Z. P. Candiotto. 4 Os macronutrientes são aqueles que a planta consome em maior quantidade, os micronutrientes são os que ela consome em menor quantidade, mas que também têm grande importância em seu desenvolvimento.

Referências

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. Porto Alegre, RS: Ed. UFRGS, 2000.

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EMBRAPA, Solos: Método para coleta de amostras de solos para análise. Disponível em: < http://www.cnps.embrapa.br/servicos/metodo_coleta.html>Acesso em 20 de mar. de 2012. GLIESSMAN, Stephen R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. 2.ed. – Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2001. MAYER, Paulo Henrique. Alternativas ecológicas para prevenção de pragas e doenças, 18ª edição, Francisco Beltrão, PR. Grafit Gráfica e Editora Ltda. 2001. PRIMAVESI, Ana. Agricultura sustentável: manual do produtor rural. São Paulo: Nobel, 1992.