Coletânea de poemas - pós-1960.pdf

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1 Faculdade Alvorada de Tecnologia e Educação de Maringá Curso de Pedagogia 1º ano Disciplina: Literatura infanto-juvenil Docente: Profa. Dra. Marta Yumi Ando COLETÂNEA DE POEMAS: PERÍODO PÓS-1960 1. A casa Era uma casa Muito engraçada Não tinha teto Não tinha nada Ninguém podia Entrar nela não Porque na casa Não tinha chão Ninguém podia Dormir na rede Porque na casa Não tinha parede Ninguém podia Fazer pipi Porque penico Não tinha ali Mas era feita Com muito esmero Na Rua dos Bobos Número Zero. (Vinicius de Moraes, 1974) 2. O pato Lá vem o Pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o Pato Para ver o que é que há. O Pato pateta Pintou o caneco Surrou a galinha Bateu no marreco Pulou do poleiro No pé do cavalo Levou um coice Criou um galo Comeu um pedaço De jenipapo Ficou engasgado Com dor no papo Caiu no poço Quebrou a tigela Tantas fez o moço Que foi pra panela. (Vinicius de Moraes, 1974)

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Faculdade Alvorada de Tecnologia e Educação de Maringá

Curso de Pedagogia – 1º ano

Disciplina: Literatura infanto-juvenil

Docente: Profa. Dra. Marta Yumi Ando

COLETÂNEA DE POEMAS: PERÍODO PÓS-1960

1. A casa

Era uma casa

Muito engraçada

Não tinha teto

Não tinha nada

Ninguém podia

Entrar nela não

Porque na casa

Não tinha chão

Ninguém podia

Dormir na rede

Porque na casa

Não tinha parede

Ninguém podia

Fazer pipi

Porque penico

Não tinha ali

Mas era feita

Com muito esmero

Na Rua dos Bobos

Número Zero.

(Vinicius de Moraes, 1974)

2. O pato

Lá vem o Pato

Pata aqui, pata acolá

Lá vem o Pato

Para ver o que é que há.

O Pato pateta

Pintou o caneco

Surrou a galinha

Bateu no marreco

Pulou do poleiro

No pé do cavalo

Levou um coice

Criou um galo

Comeu um pedaço

De jenipapo

Ficou engasgado

Com dor no papo

Caiu no poço

Quebrou a tigela

Tantas fez o moço

Que foi pra panela.

(Vinicius de Moraes, 1974)

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3. Moda da menina trombuda

É a moda

da menina muda

da menina trombuda

que muda de modos

e dá medo.

(A menina mimada!)

É a moda

da menina muda

que muda

de modos

e já não é trombuda.

(A menina amada!)

(Cecília Meireles, 1964)

4. Uma flor quebrada

A raiz era a escrava,

descabelada negrinha

que dia e noite ia e vinha

e para a flor trabalhava.

E a árvore foi tão bela!

Como um palácio. E o vento

pediu em casamento

a grande flor amarela.

Mas a festa foi breve,

pois era um vento tão forte

que em vez de amor trouxe morte

à airosa flor tão leve.

E a raiz suspirava

com muito sentimento.

Seu trabalho onde estava?

Todo perdido com o vento.

(Cecília Meireles, 1964)

5. Acidente

Atirei o pau no gato,

mas o gato

não morreu.

porque o pau pegou no rato

que eu tentei salvar do gato

e o rato

(que chato!)

foi quem morreu...

(José Paulo Paes, 1984)

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6. Conversa

Quando um tatu

encontra outro tatu

tratam-se por tu:

– Como estás tu, tatu?

– Eu estou bem e tu,

tatu?

Esta conversa gaguejada

ainda é mais engraçada:

– Como estás tu,

ta-ta, ta-ta,

tatu?

– Eu estou bem e tu

ta-ta, ta-ta,

tatu?

Digo isto para brincar

pois nunca vi

um ta, ta-ta-,

tatu

gaguejar.

(Sidônio Muralha, 1962)

7. Grilo Grilado

O grilo

coitado

anda grilado

e eu sei

o que há.

Salta pra aqui.

salta pra ali.

Cri-cri pra cá,

cri-cri pra lá.

O grilo

coitado

anda grilado

e não quer contar.

No fundo

não ilude,

é só reparar

em sua atitude

pra se desconfiar.

O grilo

coitado

anda grilado

e quer um analista

e quer um doutor.

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Seu grilo,

eu sei:

o seu grilo

é um grilo

de amor.

(Elias José, 1982)

8. O que eu vou ser quando crescer?

Por que me perguntam tanto,

o que eu vou ser quando crescer?

O que eles pensam de mim

é o que eu queria saber!

Gente grande é engraçada!

O que eles querem dizer?

Pensam que eu não sou nada?

Só vou ser quando crescer?

Que não me venham com essa,

pra não perder o latim.

Eu sou um monte de coisas

e tenho orgulho de mim!

Essa pergunta de adulto

é a mais chata que há!

Por que só quando crescer?

Não vou esperar até lá!

Eu vou ser quem eu já sou

neste momento presente!

Vou continuar sendo eu!

Vou continuar sendo gente!

(Pedro Bandeira, 1994)

Referências

BANDEIRA, Pedro. Mais respeito, eu sou criança! São Paulo: Moderna, 1994.

JOSÉ, Elias. Um pouco de tudo: de bichos, de gente, de flores. São Paulo: Paulinas, 1982.

MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo. São Paulo: Giroflê, 1964.

MORAES, Vinicius de. A arca de Noé. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974.

MURALHA, Sidônio. A televisão da bicharada. São Paulo: Giroflé, 1962.

PAES, José Paulo. É isso ali: poemas adulto-infanto-juvenis. Rio de Janeiro: Salamandra, 1984.