Coleção Aplauso - Perfil de Ney Latorraca
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1Ney Latorraca
Uma Celebrao
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2Geraldo AlckminArnaldo Madeira
Diretor-presidente
Diretor Vice-presidenteDiretor Industrial
Diretor Financeiro eAdministrativo
Ncleo de ProjetosInstitucionais
Hubert Alqures
Luiz Carlos FrigerioTeiji Tomioka
Alexandre Alves Schneider
Vera Lucia Wey
Fundao Padre Anchieta
PresidenteProjetos Especiais
Diretor de Programao
Marcos MendonaAdlia LombardiRita Okamura
Rubens Ewald Filho
Marcelo Pestana
Carlos CirneAndressa VeronesiHeleusa Angelica Teixeira
Coleo Aplauso Especial
Coordenador-GeralCoordenador Operacional
e Pesquisa IconogrficaProjeto Grfico
e EditoraoAssistente Operacional
Reviso Ortogrfica
GovernadorSecretrio Chefe da Casa Civil
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3Ney LatorracaUma Celebrao
por Tania Carvalho
So Paulo, 2004
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4Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Foi feito o depsito legal na Biblioteca Nacional (Lei n 1.825, de 20/12/1907).
ndices para catlogo sistemtico:
Imprensa Oficial do Estado de So Paulo
Rua da Mooca, 1921 - Mooca03103-902 - So Paulo - SP - BrasilTel.: (0xx11) 6099-9800Fax: (0xx11) 6099-9674www.imprensaoficial.com.bre-mail: [email protected] 0800-123401
1. Atores brasileiros : Biografia :Representaes pblicas : Artes 791.092
Carvalho, TaniaNey Latorraca : uma celebrao / por Tania Carvalho. So Paulo :
Imprensa Oficial do Estado de So Paulo : Cultura - Fundao PadreAnchieta,2004. 136p.: il. - (Coleo Aplauso. Srie Especial / coordenador-geral RubensEwald Filho)
ISBN 85-7060-233-2 (obra completa) (Imprensa Oficial)ISBN 85-7060- (Imprensa Oficial)
1. Atores e atrizes de teatro - Biografia 2. Atores e atrizes de televiso- Biografia 3. Latorraca, Ney I. Ewald Filho, Rubens. I. Ttulo. III. Srie.
04-5927 CDD-791.092
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5Ney, uma introduo
difcil escrever sobre um amigo de toda a vida. Mas, por vezes, necessrio.
Uma das filosofias da Coleo Aplauso, que a Imprensa Oficial est publicando,
fazer justia, sempre que possvel em vida, ao trabalho de nossos grandes
artistas e profissionais, reconhecendo a herana que eles nos deixam. E que
no tem preo. Cada edio nossa tambm um agradecimento a tantos mo-
mentos de alegria, emoo e informao que eles nos deram. E tambm um
registro histrico de momentos marcantes de nossa cultura e poca.
Embora j tenha havido um livro biogrfico de Ney Latorraca, este no conse-
guiu captar um elemento fundamental no personagem: o senso de humor.
Qualquer pessoa que tenha tido a sorte de trabalhar ou conviver com Ney sabe
disso: ele uma das pessoas mais engraadas e divertidas que conheo. Tem
expresses prprias, caretas, gestos, que so to comunicativos que em pouco
tempo todo o grupo o est imitando, sem se dar conta. Viramos todos pequenos
Neys.
Quem viu Irma Vap (e quem no viu?) sabe bem como ele pegou um papel de
coadjuvante e o transformou, com improviso, num duelo entre dois grandes
atores como pouco se viu nos palcos brasileiros. No incio dos anos 70, tive um
projeto de fazer um filme chamado Cordo Umbilical, justamente com Ney,
Marco Nanini, Marlia Pra e Dbora Duarte (com quem Ney fez o grande xito
Anarquistas, Graas a Deus, que confessa ser seu papel preferido). O filme nunca
saiu, mas minha intuio estava certa, eles todos combinavam.
Ney est presente em minha vida desde Santos, no comeo dos anos 60. Quando
o conheci fiquei assustado com aquela vitalidade, aquele despudoramento,
aquele talento to bvio e evidente. E que no pedia desculpas. Ao contrrio,
se assumia. Dizia que ia ser o maior ator do Brasil. E pronto.
Foi justamente por ser to assumido que o aceitei como amigo (porque ele fez
uma grande campanha para me conquistar. Quando algum no gosta dele
primeira vista, ele faz tudo para desfazer essa impresso). Mas, ao contrrio do
que possa parecer, no difcil ser seu amigo.
Sempre bem informado, pode parecer egocntrico, mas nunca deixou de fre-
qentar minha famlia, ser amigo prximo de minha me Elza (com quem manti-
nha longas conversas telefnicas, at o fim de sua vida). Nunca deixou, tambm,
de me ouvir e apoiar. Foi ele quem fez a narrao do nico curta-metragem
que dirigi (quando ainda no era famoso). E que vi muitas vezes comprar brigas
por mim, quando sabia eu ser injustiado. No s por mim.
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6Ney odeia injustias e capaz de ir ao presidente da Repblica, ao papa, na
tentativa de corrigi-las. Ainda mais se a vtima for seu amigo. Pelos amigos ele
at mente, acentuando qualidades que infelizmente no temos, contatos que
estamos longe de exercer (durante anos, ele garantiu a todos, com a maior
convico, que eu era ntimo de Elizabeth Taylor).
Tambm foi o melhor filho que conheci. Nena, ou Dona Nena, era uma mulher
muito especial. Com Ney, formava uma dupla imbatvel. Um comeava uma
frase que o outro completava. Eram unha e carne, o mesmo esprito, talvez a
mesma pessoa. Por isso o seu falecimento foi de tal forma marcante e, porque
no confessar, traumatizante. Ney parecia ter perdido o rumo, ficado sem bali-
zas. E posso entender porqu. Ainda hoje, mesmo eu, me vejo repetindo frases,
idias que a Nena me passou.
De qualquer forma, o pior j passou. Ns j temos de volta o Ney no esplendor
de sua melhor forma, de sua quase maturidade. Digo quase, porque acho que
ele nunca vai perder esse jeito moleque, matreiro, cmplice, entusiasta, que a
nossa amiga mtua Tania Carvalho to bem captou neste livro. Que como
afirma, uma celebrao. Do talento, da amizade, da alegria. De termos Ney em
nossas vidas.
Rubens Ewald Filho
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7Em primeiro lugar, parabns a todos pela iniciativa da Coleo Aplauso. Este
livro realmente uma celebrao feito com o maior carinho e amor por Tania
Carvalho, em encontros todas as quartas-feiras, s 3 horas da tarde na minha
casa, resultou em um trabalho que gostaria de dedicar aos realizadores desse
pequeno jovem senhor Ney Latorraca. A meus pais, Alfredo Latorraca e Tomasa
Josephina Latorraca, Nena.
Ney Latorraca
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9Apresentao
Ney Latorraca nico. Quem tem o privilgio de ser seu amigo sabe disso. Seu
pblico fiel, tambm. Dono de um senso de humor inacreditvel, capaz de
contar qualquer histria com uma graa jamais imaginada: do velrio de um
parente querido a um de seus fracassos.
Foram poucos, mas existiram. E ensinaram-lhe muito. Uma pessoa vaidosa,
regateira como eu, precisa levar umas chapuletadas de vez em quando, garan-
te.
Digamos que vaidoso, sim, mas sincero tambm, porque difcil achar algum
ator que comente com tanto humor seus insucessos. Estrela, com certeza,
mas capaz de ser amado pelas camareiras, motoristas, tcnicos, o primeiro
grande termmetro do sucesso dos seus personagens.
Neste ano de 2004, Ney Latorraca est completando 60 anos de vida e 40 anos
de profisso. Nada mais justo que ele comemore com muitos esta data.
Celebremos, ento, nos embrenhando na sua histria, vendo juntos o lbum
de fotos de sua vida.
Brindemos.
Tintim!
Tania Carvalho
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lbum de Famlia
Minha me
mais fcil falar da minha me hoje,
pois j se passaram dez anos que ela
faleceu morreu uma palavra to
feia! Tomasa Josephina Palhares
Escudero, Nena, era uma mulher
batalhadora, que jamais conheceu
a palavra medo. Aos 14 anos fugiu
de casa, acabou sendo girl nos shows
de cassino e fazendo dupla com
Grande Otelo. Era uma pessoa para
cima, que achava a vida um espet-
culo. Sem fazer gnero, ela falava
assim para mim: Neyzinho, obser-
va a quantidade de tons de verde
que existem na natureza e voc vai
entender como a vida genial.
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O pai
Meu pai, Alfredo Simonim
Latorraca, tinha um gnio terr-
vel, no fazia mdia com nin-
gum, achava tudo muito cha-
to, um horror, e era de uma sin-
ceridade quase ferina. Quando
eu dizia que ia ser algum na
vida, ele deixava claro: Voc
no vai ser nada, ns nunca
seremos nada, ningum
nada. Um visionrio, digamos
assim. Durante muitos anos fa-
lei mal dele, mas hoje no falo
mais. Muita coisa dele est em
mim.
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O pai com Ilona Massey
Meu pai era crooner e apresen-
tou um espetculo da Ilona
Massey, do filme Balalaika, na
Pampulha, em Belo Horizonte.
Ela comeou a dar em cima
dele; minha me, grvida, co-
meou a xing-la e acabaram os
dois meu pai e ela na cadeia,
por culpa da gringa.
Ns trs
Minha me fez vrios abortos
antes de decidir ter um filho.
Quando nasci, no havia nin-
gum para tomar conta de
mim. Um dia minha me me
deixou com uma tia e me en-
controu todo pretinho, decidiu
parar tudo e se dedicar casa.
Meu pai sempre achou que eu
tinha vindo para atrapalhar a
relao dos dois e nunca me
escondeu isso. Acho bacana a
sua sinceridade; Ele me dizia:
Voc um elemento que veio
para detonar, porque ela gosta
mais de voc do que de mim.
Ele tinha as suas razes. Mesmo
assim ramos um trio. Um trio
de hienas, meio Exrcito Bran-
caleone, morando em quartos
de penso, com pouco dinhei-
ro, mas, nossa maneira, feli-
zes.
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Eu, nenm
Eu ia nascer em Belo Horizonte,
mas minha me foi a Santos e aca-
bei nascendo l, na casa da minha
av paterna, na Rua Paissandu, 23,
pelas mos de uma parteira cha-
mada Maria.
Retratos da infncia
Tive uma infncia cheia de regras,
o que era necessrio para a nossa
sobrevivncia. Meus pais aluga-
vam quartos em penses para ca-
sais sem filhos. Sem filhos era
eu, que no dava um pio. S quan-
do eles se mudavam as pessoas
sabiam que havia uma criana.
Como no tinha condies de
comprar gibis, minha me me deu
um s que devia ler para o resto
da vida. Meu sapato Tanque Cole-
gial durava cinco anos. Meus brin-
quedos eram poucos e os tenho
at hoje. Nestas fotos em que es-
tou mais arrumadinho, pode ter
certeza, foi presente de algum,
de alguma tia, do Manoel da
Nbrega. No tinha esta histria
de tnis Nike, video game e ter
ataque por tudo. Alis, no havia
reclamao. Uma vez fiz um mu-
xoxo porque havia picadinho de
novo na mesa e minha me me
avisou - e cumpriu - que eu ia co-
mer picadinho por um ano para
no reclamar. Papai era mais rgi-
do. Mame conseguia manter
uma ternura. No fiquei com trau-
ma, nem amargurado, pelo con-
trrio, acho que foram anos lindos
da minha vida, porque eram cheio
de sonhos.
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Eu, me e pai na praia
Como ciganos, moramos em Minas, em Santos e no Rio de Janeiro, na Rua
Ronald de Carvalho. Aqui, estamos os trs na praia, pouco tempo antes de eles
se separarem.
Para compensar a rigidez em casa eu era um demnio no colgio. Foi assim
desde o pr-primrio at o cientfico. Quando estava morando no Rio de Janeiro
estudei no Colgio So Fernando, colgio de gente bem, l estudaram a Maria
Cludia, a Renata Sorrah e o Luiz Carlos Lacerda. Eu estou no meio Claro! na
fila de cima, bem orelhudo.
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Meus 15 anos
Meus pais tiveram uma briga e passei o
meu aniversrio de 15 anos com os pais
do meu amigo Luiz Fernando Batalha:
Tia Nieta e Seu Lindolfo. Com eles, fui
para a Europa um ano depois.
Nena e Papi
Fui passar as frias em Mato Grosso por-
que uma prima estava se preparando
para ser Miss e eu estava interessadssimo
neste assunto, quando vi o Boanerges no
circo. Pedi que ele procurasse a minha
me em Campo Grande e eles acabaram
se casando. Foi seu grande companhei-
ro, era uma pessoa totalmente do bem e
uma grande figura na minha vida. Era
um homem enorme, um Hulk, um ndio.
Nas minhas estrias ele puxava os aplau-
sos e dava nas pessoas que no estavam
gostando.
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Minha primeira vez na Europa
Est escrito atrs. Itlia, Roma. Estou na Fonte dos
Desejos, famosa pelas suas lendas. L joguei minha
moeda e fiz trs pedidos. Dizem que quem joga
uma moeda ali, voltar algum dia, vamos ver se
verdade. Europa, 17/7/62.
Minha turma na Associao Crist de Moos, em
1965. No lembro mais o nome de quase ningum,
s do Ademir Fontana, o ltimo direita.
A primeira plstica da Nena
Entrou um dinheiro e ela fez plstica.
Olha como est pssima na foto! Pare-
ce feita de borracha. Ela ficou com dio
de mim, porque entrou para fazer um
lifting e eu mandei aproveitar e fazer
tambm as orelhas. Ela me xingou de-
mais, porque doeu pra caramba.
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Nena no Natal
Aqui ela est bonita, foi em um Natal na casa do
Srgio Britto com o elenco todo do Rei Lear. a foto
em que ela est mais com a cara dela.
Ns na Espanha
Aqui foi a consagrao da sua vida. Fomos comemo-
rar os seus 70 anos na Espanha. Minha av, quando
saiu de Soria, uma cidade perto de Madri, havia le-
vado um leno com um pouco de terra prometendo
que um dia iria voltar. Minha me colocou de volta a
terra em Soria. E foi recebida como uma estrela, por-
que era uma Escudero, tem braso e tudo da famlia
na cidade. Fomos embora sem que ela olhasse para
trs, porque tinha feito o que precisava ser feito.
Tomamos muita sangria, comemos puchero, a Espa-
nha voltou toda, Almodvar ficou cool.
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2020
Meus amigos de Santos
Aqui esto o lvaro (Amaral), o Luiz (Alca de Santana) e o Rubens (Ewald Filho), o Rubinho, que
sempre me deu muita fora. A turma de Santos. O Rubinho, a Jandira Martini, a Neyde Veneziano
eram do TEFF, Teatro da Faculdade de Filosofia de Santos, e eu fui chamado para entrar no
grupo. Tirei um pouco os papis do Rubinho na poca... um grande amigo mesmo, daqueles
que voc sabe que pode ligar a qualquer hora e com quem me encontro cada vez que estou
virando uma dcada para uma longa conversa. Quando fiz 40, a conversa, horas, foi na porta do
Gallery; depois, aos 50, e j temos marcada a dos 60. Acho o mximo ser amigo da pessoa que
mais entende de cinema no Pas. Em determinada poca todo o cinema brasileiro queria mat-
lo, mas, graas a Deus, todos viraram amigos. No agentava mais ficar no meio: defendendo o
cinema para ele e defendendo-o do cinema brasileiro. Ambos somos uma mistura maluca. Ele
meio espanhol e meio alemo, uma coisa Fassbinder misturado com La Violetera, que tambm
tenho. Enfim, somos amigos de toda uma vida.
Na festa do Walter Clark
Nesta foto estou com pessoas que amo muito: Maria Augusta Barbosa Mattos, a Guta, Snia
Braga e Walter Avancini na festa de uma pessoa que tambm amei demais, Walter Clark, naquele
clube que d bola preta e bola branca, o Country do Rio.
Na casa da Guta
Aqui estamos na casa da Guta, que fazia almoo todo sbado e era uma festa. Ins Galvo, que
foi minha mulher por quatro anos, Therezinha Sodr, Nestor de Montemar e Edney Giovenazzy.
Eu estou discreto, no? Imagina que estou num momento em que j estava virando cool. Que
estampado esse?
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Momentos com pessoas que amo: La Raia, uma menina na foto; Leina Krespi;
Lcia Verssimo, linda; e Mait Proena, a quem admiro muito. uma pessoa
que sempre me surpreende sempre pelo carter. Alm da beleza e do talento,
ela uma pessoa solidria, que representa bem a generosidade da classe arts-
tica brasileira.
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Carnaval
Esta a embriaguez do sucesso. Desfilei no Imprio Serrano em 1977 cantando
O mar/misterioso mar... e quem me fotografou foi a minha amiga Regina
Rito. Eu tinha certeza que, mesmo cheio de purpurina, camuflado, a platia
no deixaria de gritar o meu nome. E ela, claro, gritou, porque eu fiquei man-
dando beijo, provocando...
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Eu, em vrios
momentos.
Amo tirar
fotografia.
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Santinhos
Mandei fazer 5 mil santinhos como esses acima
e os distribuo quando as pessoas me pedem
autgrafos. Quando no pedem, ofereo, pre-
ciso me livrar desta quantidade enorme. Quem
sabe na poca das eleies...
Tintim!
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A Carreira
EAD
A Escola de Arte Dramtica no uma lembrana, permanece viva at hoje. Foi
l que aprendi disciplina e precisava disto, pois me achava pronto , esgrima,
a sentar direito no palco, dico, a decupar um texto, maquiagem, estudei os
grandes clssicos, descobri que um personagem comea ainda no camarim,
que ele tem voz, postura e um cheiro prprio.
Tudo isso e mais, com professores maravilhosos como Sbato Magaldi, Dorothy
Leiner, Paulo Mendona, Milene Pacheco, Timochenko Whebi, Maria Jos de
Camargo, Leila Cury e, em especial, o Dr. Alfredo Mesquita.
Foi na EAD que descobri o verdadeiro sentido de ser ator! Nada do que fao
desde ento gratuito, tudo tem a ver com meus anos de escola. Por isso ela
sempre est presente na minha vida.
Hamlet
Esta foi uma montagem no segundo ano da Escola de Arte Dramtica. No era
o Hamlet completo, mas vrios trechos. Neste momento, era o Monlogo da
Carne: Oh, se esta carne muito poluda pudesse derreter-se, transformar-se em
gua. E eu estava todo pintado de azul, uma maquiagem linda, criada pelo
Timochenko Whebi.
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Jandira Martini, Ney e Terezinha Teller
Para fazer O Mistrio de Irma Vap tantas dcadas depois, precisei passar por O
Relicrio, de Arthur Azevedo, peas de Martins Pena, comdias quiproqu, de
entra-e-sai do guarda-roupa, todas nascidas de Feydeau. Esta foi uma montagem
tambm de fim de ano, teatro puro, com telo desenhado, muita troca de
roupa, s faltava o ponto.
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Balada de Manhattan
Esta pea de Lo Gilson Ribeiro, com direo de Paulo Hesse, foi baseada em
um fato que havia acontecido em Nova York e estarrecido todos: diversas pes-
soas presenciaram um assassinato em um ptio, para onde davam vrios prdios,
e ningum fez nada. Quem diria que iramos ficar assim tambm, coniventes
com a violncia! Ela foi encenada no ptio da EAD, onde todo o elenco posou
para esta foto.
Olha que clima 60! Estou a cara do Ney Matogrosso!
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29
Tem uma cara de poca... meio hippie, as pessoas acreditando no poder da
flor, uma coisa ingnua. O volume do cabelo d a dimenso da revolta.
Aluno de escola adora fazer Sartre. Huis Clos uma pea muito difcil que
devia ser feita somente por profissionais, precisa vivncia para discutir o inferno
so os outros. Mas fazia parte da poca montar Sartre, mostrar que era existen-
cialista de carteirinha.
Era uma poca difcil, estudantes estavam sendo mortos, passeatas, a EAD ia na
frente dos movimentos de protesto. E levvamos sempre o pior: as balas, as
bolinhas de gude, as patas dos cavalos. Quantas vezes eu estava andando pela
7 de Abril e ouvia uma voz: Sai da, Neyzinho, sai da, isso no vai dar certo.
Era minha me atrs de mim, uma coisa triste, e eu seguia adiante, firme.
Huis Clos Entre Quatro Paredes
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Marie Claire Brant, linda, tinha um cabelo enorme... mas estava de peruca.
Era a grande promessa da escola, mas no seguiu carreira.
Momentos Bonjour, Tristesse, Franoise Sagan misturada com Joo Gilberto.
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31
Exerccios Americanos
Em 1969 houve um levante para tirar o Dr. Alfredo Mesquita. Os alunos acha-
vam que a EAD era careta demais, s montava clssicos, e queriam uma nova
escola. Eu fiquei do lado do Dr. Alfredo e ficaria sempre! Dormi na escola,
quando ameaaram invadi-la, impedi que levassem os figurinos, fiz o que pude.
O Dr. Alfredo decidiu passar a escola para a USP, chamar um diretor de fora
para fazer a montagem do terceiro ano Ademar Guerra, que dirigiu Exercci-
os Americanos.
No elenco de Exerccios Americanos, que de um autor belga, Jean Claude
Italie, estavam o Carlos Alberto Ricelli, a Jandira Martini, a Clo Ventura, a Ana
Maria Barreto na foto comigo. Na verdade esta pea foi um laboratrio para
o Hair.
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32
A Formatura
Eu dirigi a nossa formatura. Nossa turma foi a maior da EAD 11 alunos. Eu
inventei que entraramos por ordem alfabtica ... ao contrrio. S para eu entrar
por ltimo: Antnio Ney Latorraca. Graas a Deus a Ana Barreto no participou,
seno ela seria a ltima.
Cada um de ns tinha um padrinho, que fez um juramento diante da platia
de proteger o afilhado para sempre, seno teria um fim trgico, morreria com
a boca cheia de formiga, uma bobagem que criei. Minha madrinha foi a Marlia
Pra.
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33
O Teatro Profissional
Sou uma pessoa over. Adoro uma platia.
Quanto mais gente, melhor. Casa cheia,
sempre. Ento, posso dizer que nasci para
estar no palco. Alm disso, atravs do tea-
tro conheci gente maravilhosa, e isso
mais importante at do que as prprias
peas de que participei: Victor Garcia, Raul
Cortez, Clia Helena, Ruth Escobar, Straz-
zer, at mesmo o Gerald Thomas, que ser-
via cafezinho, esperto, em O Balco; Sba-
to Magaldi, que fez crticas maravilhosas
sobre mim, sempre; Aracy Balabanian,
Dina Sfat que mulher linda, no dia em
que ela morreu, fui internado com uma
hemorragia que quase me matou tambm,
paixo , Paulo Jos, Marlia Pra, a minha
madrinha que me deu sbios conselhos,
dentre eles nunca largar uma temporada
no meio, ir at o fim com a pea, o que
nem sempre fiz; Walmor Chagas e Cacilda
Becker, que nos deixou de herana a Ruth
Escobar, tambm muito minha amiga,
Nanini, Antunes Filho, enfim, tanta gente
bacana, e muitos nomes no falei aqui,
que quis muito estar junto, desde Santos,
e consegui.
O Balco
Quando sa da EAD todos esperavam que
eu fizesse um protagonista, mas senti que
precisava ir por outro caminho, mais alter-
nativo mesmo que fosse um off-luxo co-
0mo O Balco para, de certa forma, re-
comear tudo. Victor Garcia fez, realmen-
te, um espetculo. Meu personagem era
a Lgrima tinha o Sangue e o Suor fa-
lava pouqussimo e ficava pendurado, ves-
tindo s um tapa-sexo, em um cabo de ao.
Um dia minha me foi ver o espetculo e
me avisou que eu estava preso s por uma
madeirinha e, se algum mexesse nela, eu
cairia l de cima. Ela tinha razo e larguei
a pea.
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3434
Hair
Fiz diversos personagens em Hair: era um dos membros da tribo e tambm o substituto do
Bgus, que vivia o Claude, e do Laerte Morrone no nmero de platia, como uma mulher ameri-
cana horrorosa, magra, eu pesava 55 quilos. O elenco da pea era enorme e todos ficavam nus
em determinado momento. Vou confessar uma coisa: a ordem de entrada no era pelo talento,
mas sim pelo tamanho do pinto. Pitanga, claro, vinha na frente. Depois, o Ricardo Petraglia,
Nuno Leal Maia, Antonio Fagundes, Dennis Carvalho, Carlos Alberto Riccelli. Eu vinha l pela
quinta fila. Depois de mim, s os msicos.
Elenco completo de Hair. Eu sou o dcimo, da direita para a esquerda.
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35
Ns ensaivamos todos os dias. Eu morria de raiva do diretor Ademar Guerra e da coregrafa
Mrika Gidali. Imagina sair da praia para 1... 2... 3... descansa. Descanso? Diariamente passva-
mos as coreografias e as msicas, para que de noite o espetculo estivesse tinindo. O clima era
de Era de Aquarius, todo mundo acreditava mesmo que estava em tempo de amor e flor. Eu
vivia falando que aquilo ia acabar, que era uma pea, um emprego, com carteira assinada e
tudo, mas ningum nem me ouvia. Para me garantir, comecei a vender uns bonequinhos que
fazia. Era poca do Mug do Simonal e tambm queria o meu: colava umas pedras, botava um
cabelo feito de l e pintava uns olhos com esmalte. Com certeza, a coisa mais horrorosa que j
vi em minha vida. E vendia bem. Ganhei mais dinheiro vendendo o boneco no saguo, at tocar
o terceiro sinal, do que como ator.
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36
O Cavalinho Azul
Sempre tive a maior implicncia com teatro infantil, mas resolvi entrar nesta
montagem de O Cavalinho Azul porque era um texto da Maria Clara Machado,
maravilhosa, a direo, da Terezinha Aguiar, que tinha sido da EAD na mesma
poca do Ademar. Alm do mais, a Maria Alice Vergueiro, que era a produtora,
me pagava muito bem. Os deuses do teatro, que existem, resolveram me castigar
por eu sempre falar mal de uma coisa to importante: ganhei meu primeiro
prmio por esta montagem. Fui considerado o melhor ator de teatro infantil
pela Folha de So Paulo e saiu uma foto bem grande. Nunca fui receber.
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37
Quanto Mais Louco, Melhor
Esta pea de Joe Orton foi assim anunciada: A maior comdia de todos os tempos
com o maior elenco de todos os tempos. A Ruth Escobar fazia a minha me, a
Lilian Lemmertz era a minha irm gmea ns usvamos as mesmas roupas no
palco. No elenco estavam ainda o Rubens Teixeira, o Freddy Kleeman e o Walmor
Chagas, que dirigia a pea. Foi um fracasso. Para mim deu certo, a crtica falou
muito bem do meu trabalho e o Walmor assinou a minha carteira com um
salrio maior, para que eu comprasse meu apartamento financiado. Ficamos
mais amigos ainda. J tinha relao com a Cacilda, que havia me conhecido na
escola e me chamara para trabalhar com ela na Secretaria de Cultura, cuidando
do teatro amador e universitrio. Depois da pea me aproximei mais ainda do
Walmor, que at hoje meu amigo e me telefona, com seu inconfundvel sota-
que gacho.
Jesus Cristo Superstar
Fiz o teste para Jesus, mas quem ganhou foi
o meu querido Eduardo Conde. E era ele que
devia fazer mesmo, tinha mais figura e mais
voz. Fiquei sendo o Pilatos. Tudo deu certo,
parecia feito para mim. Em sua crtica Sbato
Magaldi colocou o seguinte ttulo: Pilatos
Superstar.
Um clima! Fiquei s uma semana na pea. Sa
no dia em que olhei para a orquestra e no
estava mais o Paulo Herculano. O Altair Lima
estava regendo. Era hora de ir embora. No
meu lugar, entrou o Stnio Garcia.
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Eu em dois momentos da pea, que era a preferida de minha me.
O Estranho Caso de Mr. Morgan
O Estranho Caso de Mr. Morgan era a pea Sleuth, que no cinema foi prota-
gonizada por Michael Caine e Laurence Olivier. No Rio de Janeiro se chamou O
Jogo do Crime e foi montada com o Paulo Gracindo e o Gracindo Jr. Em So
Paulo, o Antunes Filho preferiu o ttulo O Estranho Caso de Mr. Morgan e meu
companheiro foi o Srgio Viotti. So dois homens que fazem um jogo, quase
sensual, se transfigurando em muitos personagens. No anncio apareciam nossos
nomes e mais um: Renato Azevedo. Eu morria no primeiro ato e, no segundo,
surgia um velho que investigava a minha morte, papel do Renato, que era eu
mesmo. Renato Azevedo foi elogiadssimo.
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No meu primeiro encontro com o Antunes fiquei nervosssimo, ia encontrar
com um dos meus dolos, que ainda e vai ser para sempre. Ele me tratou de
uma maneira inacreditvel. Avisou que se eu no quisesse havia gente muito
melhor do que eu para o papel, o Zanoni Ferrite, o Antonio Fagundes, que na
hora iriam aceitar. E ainda: Para voc vou pagar menos completou. Estou
te chamando porque voc mais barato, pegar ou largar. Eu peguei. E ele
continuou me tratando de uma maneira.... como eu gosto de ser tratado...
ali... firme ... porque sou muito rebelde e adoro um chicote. Gosto de papai,
castigo, lio para casa. Ele me dava montanhas de livros para ler. Na minha
primeira fala, eu respondia a uma pergunta: Voc judeu? Eu fazia uma
pausa e devia dizer: Sou. Para dizer isso eu li TODA a histria dos judeus,
desde o primeiro que foi morto at o Holocausto. Sabia tudo, podia at respon-
der no Cu o Limite.
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Bodas de Sangue
Quando me chamou para fazer Bodas de Sangue, Antunes olhou para a minha
mo e constatou que ela no era a de um campesino rstico. Fiquei seis meses
quebrando paraleleppedo com machado todas as manhs, acabei um trapinho,
para conseguir as mos que ele queria. Ele no gostou muito quando pedi para
cantar e danar no espetculo, mas acabou deixando. Peguei uma msica e um
sapateado da minha famlia e coloquei antes da entrada da noiva. Para alguns
crticos, era a melhor coisa da pea. O Antunes odiava o da-le da-le, o sapateado
do Latorraca.
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Maria Della Costa, que maravilha! Quando ela fez
a pea estava completando 25 anos de carreira e
50 de vida. O Dcio de Almeida Prado escreveu,
em uma de suas ltimas crticas, que ela em cena
parecia ter a idade de sua carreira.
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O Que Voc Vai Ser Quando Crescer
Ns somos os infelizes da noite profunda / Ns somos atores / Sabemos cantar e
danar de acordo com o seu paladar / De frente, de costas, de lado / A gente
quer arrasar...
(letra e msica de Paulo Herculano)
Nossa idia era colocar seis atores desconhecidos para fazer um trabalho em
que todos escrevessem. Quando comeou, o grupo era eu, Jandira Martini,
Francarlos Reis, Eliana Rocha, Vicente Tuttoilmondo e a Esther Ges. Ns nos
reunamos na casa da Jandira e cada um escrevia o seu sonho de ator, o que
gostaria de fazer em cena: um prncipe, um suicida, um rei. Da nasceu esta
colcha de retalhos, O Que Voc Vai Ser Quando Crescer. A Esther saiu do projeto
e em seu lugar entrou a Ileana Kwasinsky, a Qu Qu, a nica que no escreveu
nada. Para dirigir, a gente chamou o Silney Siqueira, um maravilhoso diretor
de conjunto e ele foi amado por todos. Estreamos num esquema meio o palco
est vazio, tragam o que tiverem em casa, s mandamos fazer uma roupa
base mais e sungas que ns mesmos bordamos; um dos meus personagens
andava de cadeira de rodas e improvisamos com um carrinho de geladeira,
uma pobreza! A pea, no entanto, foi SUCESSO absoluto e, de certa forma, foi
para o teatro paulista o que o Asdrbal foi para o teatro carioca.
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Jandira vivia a Libertad Lamarque e seus cinco filhos: um da Cruz Vermelha;
outro, jurado do Slvio Santos; o paraltico eu que morava na casinha atrs;
a filha prostituta; e um que ela reencontrava em uma noite de Natal. At neva-
va no palco. Uma verdadeira loucura. O Srgio Britto quis comprar os direitos
da pea e quando foi na SBAT descobriu que s havia duas folhas de texto.
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Orquetra de Senhoritas
Nesta pea tive oportunidade de trabalhar com um diretor genial, o Luis Srgio
Person, em quem j estava de olho h muito tempo, desde que tinha visto seus
dois filmes O Caso dos Irmos Naves e So Paulo S/A. Fizemos Orquestra de
Senhoritas em um espao chiqurrimo, que havia acabado de inaugurar, o Teatro
Augusta. Todos os atores estavam vestidos de mulher, com exceo do Joo
Jos Pompeu (na foto comigo), que vivia o pianista, de quem eu, Suzane Delicia,
estava grvida e acabava me suicidando, ao saber que ele estava tendo um
caso com Madame Hortense, a chefe da orquestra. Uma tragicomdia genial!
Durante um tempo eu me dividi, no mesmo espao, fazendo Orquestra de
Senhoritas e O Que Voc Vai Ser Quando Crescer. Fui forte candidato ao Molire
de melhor ator, mas o Paulo Goulart estava completando 25 anos de carreira e
deram para ele. Uma raiva do Paulo! Foi absolutamente merecido. E se eu
tivesse ganhado iria ficar intragvel, ia virar um busto. Sabe ator que vira busto?
Fica somente da cintura para cima, parado, imobilizado, como se fosse uma
esttua de bronze em uma praa. Graas a Deus, continuo soltinho.
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A Mandrgora
Nesta pea conheci uma pessoa genial, e no sei por que falo pouco dele: Paulo
Jos, que foi muito importante para mim. Ele um diretor na mesma linha do
Antunes, s que mais suave. Ao lado dele no existe a burrice, voc fica mais
inteligente perto do Paulo. Ele chega de mansinho e pede: Guri, tu pode ler
estes 400 livros? E eu achava timo. Fui tratado como um prncipe nesta produ-
o. No cartaz estava escrito: Sfat Produes Artsticas apresenta Ney Latorraca
em A Mandrgora. Eu j era apaixonado pela Dina, e acho que foi uma forma
de ela me dizer que gostava de mim como ator.
Estou bonito nesta foto!!! Inventei uma coisa nesta pea, uma bobagem, uma
mala falsa para ficar mais sensual. Como vestia uma malha o tempo todo e
era muito magro, achei que precisava realar alguma coisa. Ento enrolava
umas duas meias muita gente faz isso, mas s eu confesso e as pessoas
comentavam: Nossa, como ele forte, j que no ficava bem dizer outro
adjetivo. Usava logo meias bem grandes, pretas, de jogador de futebol, um
kit Pitanga, digamos assim. Coisas do teatro.
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Lola Moreno
Fiquei muitos anos sem fazer teatro. Deixei de ser o ator da EAD para me tornar
o arroz-de-festa, a figurinha fcil do Rio de Janeiro. Um dia me levantei, olhei
no espelho e tive a certeza de que estava errado. Apaguei, fiquei ali mesmo,
sentei e no andei mais. Se voc no toma uma atitude, o corpo padece e toma
a deciso por voc. Foi neste momento que a Luclia Santos, a produtora, o
Brulio Pedroso, o autor, e o diretor Antnio Pedro me chamaram para fazer
Lola Moreno. Juro que no entendo a cabea deles: chamar para ser protago-
nista de um musical, cantando e danando, algum que estava de cama. Eles
me salvaram. Fui para os primeiros ensaios de cadeira de rodas, inchado de
tanta cortisona, e na estria ainda usava uma bengala. Um pouco depois j
estava a mil, maravilhoso, de volta s minhas origens, ao palco, madeira, de
onde jamais deveria ter me afastado.
Grande Otelo trabalhou com a minha me no Cassino da Urca e meu padri-
nho de batismo. Era uma honra dividir o palco com ele. Quando contei para a
minha me, ela fez somente um gesto com a mo, que significava: Espera...
espera. Uma semana depois eu queria matar o Otelo, porque ele improvisava,
brincava, era impossvel contracenar com ele, um dos maiores atores do planeta,
um er maravilhoso, um smbolo para todos ns. Mame me perguntou quantas
cenas eu tinha com ele. Ento ela me aconselhou: Nas oito cenas voc fica de
costas e deixa que ele faa o que quiser. Afinal, ele Grande Otelo. Deu tudo
certo.
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Havia uma rata enorme no Teatro Ginstico, quase do tamanho da Luclia,
que atrapalhava demais o espetculo. Eu e o Diogo Vilela chegvamos cedinho
no teatro, amarrvamos, costurvamos, grudvamos coisas nas roupas da Luclia
e deixvamos um bilhete: No adianta, querida, este papel meu. Assinado:
A Rata. A Luclia ficava enlouquecida, horas para desfazer os ns, as costuras,
tirar as coisas grudadas. E eu aconselhava que ela no devia investigar muito,
porque s podia ser coisa da rata mesmo. Ah, foram momentos muito felizes
da minha vida! Acho que a Luclia s vai descobrir agora, vendo este livro. A
rata? Acho que ainda mora l, ficou amiga da Luclia e faz at campanha para
o Partido Verde.
Era um elenco enorme, mais de 30 pessoas. O maior nvel: Dona Elza Gomes,
Louzadinha, Diogo Vilela, Guilherme Karan, Betina Vianny e muito amigos.
Para mim foi muito importante voltar para a minha praia, para o palco, para a
cena, o meu lugar. E vou parar, seno fico repetitivo, vou falar do ator, o palco,
a madeira.
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Afinal, uma Mulher de Negcios
Esta foi a primeira montagem do Fassbinder no Brasil. Veio um diretor alemo,
jovem, Walter Scholiers, e tive a oportunidade maravilhosa, tanto de trabalhar
com ele, quanto com a Renata Sorrah, uma colega genial! Eu fazia quatro
personagens, trs maridos e o irmo daquela mulher alucinada que mata 57
pessoas, as enterra em sua casa, e acaba a pea como uma mulher de negcios.
Eu tinha tempo de me preparar fora de cena, j a Renata se transformava na
frente do pblico, em um trabalho realmente impressionante. O Srgio Britto
vivia dizendo que eu ia ganhar o Molire, mas quem ganhou foi a Renata,
merecidamente.
A pea foi um grande sucesso em sua temporada carioca. Aconteceu, porm,
uma coisa muito desagradvel no meio da temporada. Tive uma recada, um
ataque de loucura. Recebi um convite para fazer um filme em Hollywood e
acreditei. Larguei a pea, me demiti da Globo, fiz as malas e j estava me vendo
andando pelo tapete vermelho na entrega do Oscar. No dia seguinte recebi um
telefonema me avisando para no ir, tentei voltar atrs, pedi desculpas pelo
meu comportamento pssimo, mas no deu: o Tonico Pereira j estava no meu
lugar. Fechei as portas do Teatro dos Quatro Srgio Britto, Mimina Roveda e
Paulo Mamede que s fui abrir muito tempo adiante. Mas este outro cap-
tulo!
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Othelo
Sempre me haviam dito que eu faria Iago muito bem, talvez pelo bitipo, no
sei. Quando o Juca de Oliveira me convidou para fazer Othelo, que iria
reinaugurar o Teatro Cultura Artstica, adorei. Nunca havia trabalhado com ele
e fiquei absolutamente apaixonado. O Juca daquela turma que come, dor-
me, respira teatro. Tipo Paulo Jos, s que mais espaoso. Se ele te convidar
para nadar, desista, ele vai ficar falando sobre teatro dentro dgua. Ir para a
fazenda significa discutir teatro. A gente pescava ouvindo pera e lendo livro
ao mesmo tempo. Que maravilha que ele existe!
Eu no tinha muita noo do que estava fazendo no momento, confesso, embo-
ra tenha estudado muito, muito mesmo. Criei uma imagem e conversei com o
Juca sobre isso (a direo do espetculo era coletiva, mas quem dirigia era ele
mesmo): eu achava que se o Iago usasse terno, o forro seria todo de pregos.
Ningum veria, mas ele estaria sendo constantemente ferido, espetado. Um
personagem em carne viva. Afundei-me tanto nesta imagem que tive clculo
renal e sentia todos os pregos em mim. Esqueci o palet, aquela imagem horrvel,
e passei a rezar todos os dias quando voltava do ensaio. At hoje sou elogiado
por este personagem. O Iago me deu prestgio.
No programa todos escreveram textos enormes. Eu peguei somente uma frase
do personagem, que resume o Iago: No sou quem pareo.
Rei Lear
Logo depois de Othelo, fiz outro Shakespeare: Rei Lear. Conversei com Ademar
Guerra, que estava com um problema grave com a turma do Teatro dos Quatro.
Ele me avisou que iriam produzir o Rei Lear, com direo do Celso Nunes, meu
amigo. O Celso me garantiu que, por ele, no havia problema algum, havia
papel para mim, mas eu tinha que convencer o rei, o Srgio Britto, que eu
havia abandonado. Fui humildemente, pedi para fazer a pea, ele concordou e
pouco a pouco fui reconquistando todos: chegava mais cedo, fazia gracinha,
arrumava o camarim do Srgio, varria o cho, at um jornalzinho eu inventei.
Eu fazia o Edgar, marido de uma das filhas do Lear, da mesma turma do Iago,
malvado, intrigante. Eu entrava no palco com uma capa enorme, quase voando.
Perguntei ao Celso se no estava demais, muito over, mas ele me garantiu que
eu estava no caminho certo. Saram as crticas e todas falavam mal de mim.
Com 35 pessoas no palco, consegui este feito. Castigo!
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O Mistrio de Irma Vap
Que momento este! O Mistrio de Irma Vap representa 1/3 da minha vida arts-
tica. Onze anos em cartaz com um sucesso estrondoso. Carregamos um pouco
de culpa por causa disso. Todos os dias, eu e o Nanini falvamos: Amanh vai
cair. E quando, em vez de 1.200 espectadores, havia 1.180, tnhamos certeza.
Viu, no disse? E por 11 anos repetimos esta ladainha.
Muitos anos antes eu havia dito para uma jornalista que o dia em que Marlia
Pra, Marco Nanini e eu nos juntssemos seria um sucesso no teatro brasileiro.
Mas foi s uma frase solta. Nunca poderia imaginar o SUCESSO que foi. Por que
os deuses abenoaram a gente? Ora, porque ns temos talento. Nanini um
ator maravilhoso, tmido, srio, humilde em relao aos seus personagens
diferente de mim, que sempre acho que posso e devo colaborar com o perso-
nagem. Marlia uma diretora esplndida, rigorosa, rgida, que em poucos
dias colocou a pea de p. Tudo estava predestinado a dar certo, desde a pri-
meira leitura que foi feita na minha casa.
Se somos diferentes como atores, eu e Nanini temos em comum o grande amor
pela nossa profisso. Onze anos depois ainda chegvamos cedo no teatro, pass-
vamos o texto, ele verificava a luz e o som, eu me metia na divulgao, inventava
fotos. Aconteceram muitas perdas no meio da temporada: Bogus, Guta, minha
me. Quando o pano abria, porm, tudo mudava, nada interferia. Uns dias
eram meus, outros do Nanini. Em muitos, os dois funcionavam. Sempre houve
uma ligao impressionante entre ns dois. Nada precisa ser combinado, de
costas eu sabia que ele estava com o olhar no lugar certo. Que ator! Nanini
jamais mudou uma marca. Eu sempre fui mais rebelde, puxava aplauso no meio,
aumentava os cacos a Marlia ODIAVA.
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Em uma cena o Nicodemo um dos personagens do Nanini entrava e pergunta-
va se estava tudo bem. Eu devia responder com um simples resmungo. Pois bem,
eu desandava a falar como se fosse em japons e s via a cara do Nanini parado,
entre os dentes, me dizendo: Filho da puta, diminui este japons pelo amor de
Deus. A que eu falava mais coisas absolutamente incompreensveis.
Ns envelhecemos, engordamos, emagrecemos na frente do pblico. Geraes
viram a pea: gente que comemorou a primeira comunho, o casamento e o
nascimento da filha vendo Irma Vap. Fazamos duas sesses de quinta a domin-
go e nas segundas, teras e quartas viajvamos com outro cenrio. E pblico
no faltava nunca. Um dia cansamos, descobrimos que precisvamos parar.
Estvamos nos apresentando em uma enorme casa de shows e o Nanini chegou
concluso que havamos virado dois copos de chope, de to pequenininhos
que estvamos no palco. Era o momento de dizer adeus.
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Cartas de Mozart
Este foi um espetculo dific-
limo, dirigido pela Nitis
Jacon: eram 12 cartas de
Mozart inditas, completa-
mente escatolgicas, que
interpretava no palco. Em
seguida entravam aquelas
msicas maravilhosas. Esta-
va fazendo a Irma Vap e,
para ficar mais cansado um
pouco, resolvi entrar neste
espetculo, que era apre-
sentado s segundas e ter-
as-feiras. Uma loucura.
Loucura boa.
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O Mdico e o Monstro
Minha me morreu no dia 2 de janeiro de 1994. Eu morri um pouco junto com
ela. Emagreci muito, no conseguia me alimentar s comia figo, caqui, coisas
que escorregavam para dentro. O Nanini resolveu montar O Mdico e o Monstro
para me manter vivo. Fomos a Nova York, vimos o espetculo com a mesma
companhia que havia feito o Irma Vap, ele decidiu comprar os direitos, produ-
zir junto comigo e com o Fernando Libonatti e dirigir o espetculo. Foi um
jeito de ele me segurar aqui, pois sabia que eu ia embora mesmo. A obrigao
de estudar, decorar, ensaiar me manteve vivo, embora a minha tristeza fosse
evidente at mesmo nas fotos do espetculo. Sou muito grato a ele por isso, e
serei por toda a minha vida. Ele fez o que a Luclia Santos havia feito anterior-
mente: me salvou, me puxou do fundo do poo.
Eu fazia um nmero sapateando com um chinelo de Mickey na frente da cortina
vermelha. Um dia vejo um casal com uma cara... No tive dvida, virei para os
dois e disse: Que cara essa? Vocs no tm o direito de ficar com essa cara de
bunda, quando estou aqui, sofrendo, morrendo de dor, mas me desdobrando
para que vocs riam. Foi um aplauso s. Depois que aprendi esse nmero do
carente, uso-o sempre. Ou, ento, quando a platia est muito fria, invento
que dia do ator e todos aplaudem de p. bom que os espectadores saibam:
eu vejo tudo. Quem est de cara feia, dormindo Nossa, como tem gente que
dorme de babar! e at aqueles que vo s para vuduzar o espetculo.
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Essas fotos, produzidas originalmente em
saturadas cores e intencional desfoque,
traduzem bem o clima do espetculo.
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Don Juan
Um ms antes de minha me morrer ela me incentivou a trabalhar com o ho-
mem da fumaa, como chamava: Gerald Thomas. Eu tinha sido apresentado a
ele pela Fernandinha Torres e adorei: ele uma pessoa deliciosa de se conviver,
simptica, bem-humorada, inteligente, engraada. Ele gostava do meu traba-
lho, em especial o japons do Irma Vap ele adorava aquela bobagem! e eu
admirava muito as peas que ele dirigira. O casamento foi inevitvel, ainda
mais apadrinhado pela Bete Coelho, que namorava o Luiz Frias. L fui eu fazer
o Don Juan, do Otvio Frias Filho, com direo do Gerald, junto com a Compa-
nhia de pera Seca, no TUCA. Na primeira noite, fiquei impressionado com a
ovao. Agradecia e acenava como uma miss na hora dos cumprimentos, at
algum me avisar: Ney, eles esto vaiando. Segundo o Otavinho conta em
seu livro, depois que fui arrancado do palco, me tranquei no camarim e perma-
neci monossilbico. Como pode uma pessoa to bacana, to generosa ter que
pagar um preo to alto por ser to metido?
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Mame estava certa! Quando cheguei ali vi que havia uma gente feliz. Depois
de 11 anos s com Nanini, eu voltei a ter uma turma. Uma gente animada,
todos se arrumavam, saam muito... Sempre de preto. Comecei a me animar
tambm, a melhorar. Nunca vou esquecer as palavras da Ruth Escobar: O palha-
o trincado comeou a recolher os cacos.
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Quartett
Queria muito fazer coisas novas, experimentais, exercitar o meu lado de ator e
trabalhar com o Didi (di Botelho). O Gerald me sugeriu a pea Quartett, do
Heiner Muller, e adorei a idia. Fazamos diversos personagens e a ao era
toda em um aougue: muito sangue, facas, carnes cortadas. No era um espet-
culo popular. A primeira pessoa que me cumprimentou quando desci do palco
na estria foi o Rodrigo Santiago, que tinha uma garrafa de champanhe na
outra mo. Que nvel! Foi muito bom ter feito.
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O Martelo
Conheci este texto do Renato Modesto em 1992, mas somente alguns anos
depois pude encen-lo. Foi uma oportunidade muito boa de trabalhar com o
Aderbal Freire Filho, que considero um dos melhores diretores do Brasil, e com
a Brbara Bruno Goulart, uma excelente atriz. Era um policial bem interessan-
te, que gostei de fazer.
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Trs Vezes Teatro
Todo ator precisa ter determinados autores em seu currculo. Queria muito
fazer alguns clssicos e o di Botelho me sugeriu trs peas curtas: Os Malefcios
do Tabaco, de Tchekov, O Homem com a Flor na Boca, de Pirandello, e A Mentira,
de Cocteau. E foi assim o espetculo, muito elogiado pelo Sbato Magaldi e
pelo Mino Carta e teve uma excelente repercusso quando viajei pelo Brasil
com ele. As pessoas riam e se emocionavam nas horas certas. Para mim foi
muito bom rever a obra desses autores, me fez sentir de novo na EAD arrumando
caderno, merendeira, livros. Aquela coisa tensa e deliciosa.
Capitanias Hereditrias
Resolvi ir sozinho para Nova York e a Maria Padilha mandou que eu procurasse
o Miguel Falabella. Pois bem, fiquei duas semanas grudado com ele, impossibi-
litado de dormir, conversando, fazendo palhaada, rindo e jogando cartas. Fica-
mos ntimos. Foi l que ele teve a idia de fazer Capitanias Hereditrias e me
chamou para o elenco. A pea mudou bastante desde a primeira idia, mas eu
permaneci. Para mim foi uma oportunidade maravilhosa trabalhar com a Nat-
lia do Vale, que adorei, com a Bia Nunnes, amiga mais antiga, com o Jos Wilker,
com quem havia feito Hair, com a Guilhermina Guinle e o di Botelho. E mais,
agora posso colocar no meu currculo que fiz Nelson Rodrigues, Brulio Pedroso,
Plnio Marcos e Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa.
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Cinema
Cinema glamour puro! quando o ator se sente um Gulliver, um gigante
representando para aquelas pessoas pequenininhas l embaixo. Digamos que
a consagrao maior do ego. o ego amplificado em som dolby. Desde peque-
no sonhei com o estrelato no cinema, tapete vermelho, bandeira do Brasil
hasteada, vrios Oscars.
No ginsio eu tinha um fichrio, cuja capa era uma colagem com notcias de
Hollywood, mas eu substitua o nome dos atores pelo meu: Ney Latorraca
voou para Los Angeles...; Ney Latorraca inaugurou a sua piscina. Nas contra-
capas havia a foto da Elizabeth Taylor e da Carol Lynley.
Aos doze anos eu j dizia para a minha me: Um dia voc ainda vai ver o meu
nome aqui, na fachada do Cinema Roxy, que era um dos maiores cinemas do
Rio de Janeiro. Ela achava que eu era maluco, mas se no cheguei a Hollywood,
estava nos letreiros do Roxy pouco tempo depois, porque quando a gente quer
realmente uma coisa, consegue. E eu queria muito o cinema, com todas as suas
dificuldades, as interminveis esperas, poucos recursos e seu enorme fascnio.
Audcia, A Fria dos Trpicos
Assim como no teatro, quis comear num esquema bem off, Boca do Lixo. Tinha
a maior curiosidade de ver a minha cara na tela grande. Quem me garantiu um
lugar neste filme do Carlos Reichenbach e do Antonio Lima foi a Therezinha
Sodr. A produo no tinha nada e o Carlos Alberto Torres, com quem ela
estava namorando na poca, comprou um engradado de frutas, dois sacos de
batatas e me levou na rodoviria.
Cheguei na cidadezinha em que eles estavam filmando, entreguei tudo para a
produo e ganhei um personagem: um bbado, que falava mal at mesmo do
cinema brasileiro. Gostei de me ver na tela, embora tenha assistido ao filme
absolutamente sozinho. No tinha ningum no cinema. Mais uma vez paguei
pela minha vaidade.
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A Noite do Desejo
O Robert Bolant, que era o rei da Boca do Lixo, me levou para conhecer o Fauzi
Mansur, que me contratou imediatamente, ao saber que eu do signo de Leo.
Ele s trabalhava com leoninos.
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Seduo
Fiquei muito amigo do Fauzi, que
decidiu fazer um filme comigo e
com o David Cardoso, campo-
grandense, da terra da mame. Eu
fiz a cabea do Fauzi para chamar
a Sandra Bra, que era a estrela
do momento, o Fregolente, o
Dionsio Azevedo, a Flora Geni. O
filme, que seria mais um filme com
uma boazuda, virou um filme de
poca, bonito, muito bem cuida-
do, que me fez ganhar todos os
prmios no Festival de Guaruj
e o Coruja de Ouro da Air France.
Foi quando a Llian Lemmertz me
deu uma lio: Melhor coisa para
segurar porta, para ela no bater,
prmio, serve para isso.
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No filme, eu e a Sandra danamos um tango. Ela, como tinha a formao de
bailarina, pediu para marcar a cena e ele concordou. Virou a grande cena do
filme, um plano-seqncia genial, ns dois danando pela casa inteira. Esta
cena era aplaudida no cinema.
Aprendi muito com Fregolente, Dionsio e Flora. Ficava horas ouvindo suas hist-
rias.
Sandra era uma estrela! O lugar dela nunca mais foi ocupado! Est para nascer
algum para descer uma escada como ela, com aquela canela fina, pernas mara-
vilhosas, aquela bunda de crioula, linda, sabendo danar, cantar e segurar
uma roupa.
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Deixa... Amorzinho... Deixa
Eu j estava morando no Rio de Janeiro quando fui convidado para fazer este
filme, em que fazia papel duplo, gmeos, um bem mau, que morava no cu,
junto com o Fbio Sabag, o Moacyr Deriqum, o Wilson Grey, enfim, o cinema
brasileiro inteiro, e atazanava o outro que ficava aqui na Terra.
Nunca entendi porque o filme tem este ttulo. Por mim seria O Passado me
Condena ou Meu dio Ser Tua Herana. o filme que mais passa no canal de
filmes brasileiros. Todos os dias, est ele l, de manh, de tarde e de noite.
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Anchieta Jos do Brasil
Querida Mame
A est o seu filho Anchieta, Jos do Brasil, numa das cenas iniciais. Estou louco
para voltar ao Rio.
Todos os meus queridos esto a. Reze por mim e pelo filme.
Ney - 23/maio/76
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O roteiro foi escrito para o Roberto Carlos fazer, mas a Dona Mari,
me do Paulo Csar Saraceni, achava que o Anchieta era eu. Com este
lobby poderoso, acabei ganhando o papel.
O filme tem momentos geniais. O Paulo um grande diretor. claro
que acho que d para cortar um pouco daqueles planos e-n-o-r-m-e-s e
lanar um bom DVD. O filme foi muito bem recebido em Veneza, todos
os crticos falaram bem de mim e teve hino, bandeira brasileira, s no
teve prmio, porque no era uma mostra competitiva. O processo de
beatificao do Anchieta foi muito ajudado pela repercusso que o filme
teve na Itlia. E foi a partir de ento que a minha me teve a certeza
que era me de um santo.
Ela morreu com a certeza de que serei lembrado pelo meu trabalho em
Anchieta.
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Das Tripas Corao
Ana Carolina tem uma coisa espanhola muito
forte, meio Almodvar, febril! Ela aposta na
loucura! Adorei trabalhar com ela. Foi a pri-
meira mulher que me dirigiu e aprendi como
bom.
A arte feminina. As mulheres so mais deli-
cadas e fazem muito bem a sua parte; no
querem, como os homens, ser donas de tudo.
De ns, atores, elas conseguem o mximo da
emoo, com o mnimo de tenso.
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O Beijo no Asfalto
O meu beijo com o Tarcsio ficou na histria. Na hora da cena,
eu, deitado no cho, sussurrava: Me chama de Glria, me cha-
ma de Glria... Tarcsio no perdeu a pose, no se desconcen-
trou. Quando samos da filmagem, ele me deu uma carona e
me perguntou se eu havia achado a cena pesada, forte. No,
havia achado normal, mas causou celeuma.
Hoje passaria no horrio infantil. Afinal, estamos na poca
metrossexual: homem de brinco, salto alto, clio postio, se
embolando com outro, sem problema algum.
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O Grande Desbum
Esse considerado o pior filme j feito na face da terra. No toa que se
chama O Grande Desbum, Pecaram pelo Exagero ou Qualquer Coisa.
A Marlia Pra insiste em esconder, em dizer que no estava no elenco, mas ela
fez o filme, sim, que era uma adaptao de uma pea do Martins Pena, As
Desgraas de Uma Criana, que havia sido um enorme sucesso no teatro com
Marieta Severo, Marco Nanini, Camila Amado, Eduardo Dussek. Sempre come-
tem este erro. Na hora de passar para o cinema, trocaram o elenco. No deu
certo. O filme foi um grande fracasso. Merecido. No d para acreditar no que
se est vendo.
Ningum se salva neste filme. Eu achei bom participar de um fracasso desta
magnitude, uma coisa meio Ed Wood. Mandei passar o filme para DVD, de vez
em quando reno um grupo e passo. S ouo as exclamaes de horror. Eu fiz
o filme, quero deixar claro. Marlia Pra, no.
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A Mulher do Atirador de Facas (curta-metragem)
Este filme, que fiz com a Carla Camurati, ganhou todos os prmios, menos o de
melhor ator. Deram para um gacho, em Gramado. Fiquei com dio. Eu tenho
problemas, s que confesso: minhas paixes, meus dios. E se falo, eles vo
embora. No fico remoendo-os em casa.
pera do Malandro
Cinema exaustivo. Voc acorda s cinco horas da manh, fica prontinho e s
seis da tarde avisam que no vai dar para fazer a cena porque a luz acabou.
Uma vez perguntaram ao Marcelo Mastroianni se ele era o maior ator do mundo
e ele respondeu: No, sou a pessoa que mais esperou na vida. Ele, o Henry
Fonda e o Wilson Grey. Quando no a luz, o negativo. Vamos, vamos, faz
de primeira, porque tem pouco filme. Sempre sobra muito pouco para o ator.
Posso dizer que o nico filme que fiz, sem problema algum, foi A pera do
Malandro, que era uma co-produo com a Frana. O Ruy guardava a tomada
1, a 14 e a 80. Um luxo s!
A Dina Sfat foi quem me apresentou ao Ruy, e ele me convidou para fazer o
papel principal junto com a Snia Braga, mas ela no pde e o Ruy mudou os
dois protagonistas. Ficaram a Cludia Ohana e o Edson Celulari. E eu virei o
Tigo, o que foi timo, acho que fiz bem e acabei sendo chamado pelo Chico
para cantar o Hino da Represso no disco dele: Malandro. Posso dizer que te-
nho a honra de estar ao lado de Gal Costa e Zizi Possi, fazendo parte da
discografia de Chico Buarque de Hollanda. No pouco, no!
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Ele, O Boto
Filmei muito em Paraty. O Boto foi feito l. Foi muito bom trabalhar com o
Carlos Alberto Riccelli, que meu amigo de toda a vida, e com a Cssia Kiss,
que acho uma tima atriz. E, em especial, com o Walter Lima Jr. Foi muito
especial o trabalho com algum que filma o boto, a ostra, o vento, o mar e que
tem um tempo muito particular. Walter acredita, vai em frente e funciona.
Eu uso um aplique neste filme. Estou com muito cabelo. Na cena do casamento,
acontece a maior ventania e meu cabelo fica grudado, no levanta nem um
milmetro. At uma rvore voa, menos o meu implante.
A Bela Palomera
Eu enlouqueci tanto o Ruy Guerra que ele acabou pegando um pedao de Cem
Anos de Solido e fazendo o filme, uma co-produo Brasil/Espanha, A Bela
Palomera, com roteiro do prprio Gabriel Garcia Mrquez. A Dina Sfat s tem
uma fala no filme. Ela olha para mim e diz: Puto. E est absolutamente genial.
Em um momento, a produo do filme ia ter que parar porque os produtores
comearam a implicar com o meu bigode, que cada hora estava de um jeito. Eu
fazia Irma Vap e precisava estar de cara limpa no palco. Eu tive uma idia, que
o Ruy gostou: em uma cena, o personagem entrava em um lugar s dele e
havia uma coleo de bigodes. A partir da, tudo era possvel. E os R$ 300.000
que estavam faltando, entraram na produo.
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Festa
Adorei fazer este filme. Talvez
seja o meu melhor momento
no cinema. Ugo Giorgetti tra-
balha com publicidade e faz
cinema. da mesma tribo do
Waltinho Salles, do Fernando
Meirelles. Eles sabem tudo o
que querem. uma maravilha!
Muita gente contra, fala mal,
que eles trazem tudo pronto,
limpo, mas, na verdade, eles
fazem um cinema muito bem
feito. Ugo mostra So Paulo
para o Brasil.
Brevssimas Histrias das Gentes de Santos
Eu fao todos os papis deste curta-metragem e passeio pelos lugares que foram
importantes na minha juventude em Santos. Com ele ganhei o prmio de melhor
ator no Festival de Fortaleza. O filme tem muito humor, parece com Santos. E
eu sou um santista, cabreiro, boca-dura, que vai na Ponte Pnsil comprar
bananinha-passa, anda trs quilmetros para cair na gua, mas tem o maior
orgulho do seu balnerio.
Carlota Joaquina, Princesa do Brasil
Foi a primeira vez que trabalhei com a Carla Camuratti me dirigindo. Nossa,
que prazer! Fiz uma participao como Debret e amei.
For All, o Trampolim da Vitria
Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, escreveu o papel principal do For All para mim,
mas eu no fiquei muito animado para fazer o filme. Minha me tinha morrido,
estava enterrada em So Paulo, no Morumbi alis, um tmulo chiqurrimo,
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carssimo, que ela mesma escolheu, entre a Elis Regina e o Ayrton Senna, 5 mil
japoneses de um lado, 5 mil fs da MPB do outro, nunca mais pude ir l. Na
poca, porm, eu achava que, se ficasse sempre na cidade, estaria mais perto
dela. Uma coisa maluca, claro! No aceitei o convite e ele me pediu para fazer
uma participao, porque ele me acha um pouco p de coelho. E eu topei.
bom ter o Ney no elenco. Eu sou bom de intervalo, animo a festa. Rezo todos
os dias quando saio de casa para ser discreto, mas dura meia hora. Quando
vejo, j estou com a equipe inteira em volta de mim se estiver faltando algum
no comeo o nmero, gosto de casa cheia contando as mesmas histrias, s
que eu vou aumentando a cada dia. Eu minto mesmo.
Viva Sapato
Outro filme do Bigode. Desta vez fiz um personagem bem legal. Adorei traba-
lhar pela primeira vez com a Irene Ravache, que est genial no filme ela diz
que no, mas mentira. Alis, o elenco todo timo.
Diabo a Quatro
Este o primeiro longa da Alice de Andrade, filha do Joaquim Pedro de Andrade,
diretor de Macunama, entre outras obras-primas; um dos maiores cineastas
brasileiros. Eu fao um senador, casado com a Marlia Gabriela, em umas quatro
seqncias. Durante as filmagens, havia uns outdoors com a minha cara espa-
lhados pelas ruas e muita gente veio me perguntar se eu estava me candidatando
a alguma coisa. S faltava essa! No combinaria nada comigo.
Quem Tem Medo de Irma Vap?
Em 2001, a Carla Camurati me ligou, contou que havia comprado os direitos da
pea e que ia fazer um filme. Eu achei que era uma pegadinha. Ns amos
filmar logo em seguida, mas ficou adiado para 2004. diferente da pea, uma
coisa mais operstica, com muitos outros personagens. Que presente! Que cele-
brao! No vejo nada melhor para comemorar os meus 40 anos de profisso e
60 de vida.
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Televiso
Como todos os atores que passaram por escola de teatro e isso existe at hoje
eu tinha um certo desprezo pela televiso. Ao mesmo tempo era completa-
mente seduzido por ela. Por isso mesmo comecei a flertar com a TV. Comecei
fazendo pontas: danando l no fundo do Al Doura, por exemplo, seriado
que fazia um sucesso enorme com a Eva Wilma e o John Herbert. Fiz muita
figurao.
Mais uma vez, as mulheres me ajudaram, foram mes para mim: Therezinha
Sodr me levou para fazer parte da turma dos cabeludos em Dom Camilo e os
Cabeludos, que ela protagonizava junto com o Zeloni. Nuno Leal Maia liderava
a turma e eu fazia o Besouro. No tinha fala, s fazia BZZZZ. Depois, a Marlia
Pra, a minha madrinha, me levou para uma novela, em que ela era a estrela,
junto com Rodrigo Santiago Super Pl, na Tupi. No ganhava cach, mas uma
coisa que apelidvamos de dinheirn, que servia para trocar por calcinhas, copo
de liquidificador, uma coisa bem de pobre.
Em 1971, a Llian Lemmertz assinou um contrato com a Record e colocou como
condio que eu fosse contratado tambm ns estvamos fazendo uma pea
juntos. Por qu? Ora, porque ela me queria junto, era minha amiga, me amava.
E eu amo a Llian no consigo usar o verbo no passado. Benditas mulheres
que me encaminharam e me abriram as portas de um veculo que me deu um
sucesso sem igual.
O Tempo No Apaga
A Llian era estrelssima da novela, junto com Hlio Souto e a Nathlia Timberg.
Eu estava no ncleo pobre, com a Lolita Rodrigues e a Edi Cerri a primeira
Narizinho do Stio do Pica-pau Amarelo. E foi um aprendizado maravilhoso.
At ento eu nunca havia me sentido confortvel na televiso, me achava muito
duro, teatral, e quando ouvia o gravando j ficava tenso. Os trs anos que
fiquei na Record fiz ainda Eu e a Moto, do Sylvan Paezzo, e o primeiro texto
da Leilah Assumpo para a TV, Venha Ver o Sol na Estrada, com direo de
Antunes Filho foram uma espcie de ensaio, para que eu pudesse entender o
que era realmente a televiso.
Os captulos chegavam com cheiro de mimegrafo. Eu lia correndo para ver
quantas falas eu tinha. Queria muito texto! Que ironia: hoje quero gravar um
cenrio, no chegar nunca na porta, para no ter que gravar externa e, se
possvel, falar somente boa-noite.
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Eu ia para casa correndo para me ver e torcia para que as pessoas me reconhe-
cessem na rua... Mas ningum me reconhecia. As novelas da Record no passa-
vam nacionalmente, mas, graas a Deus, passavam em Santos e em Campo
Grande, no Mato Grosso do Sul, e assim a minha famlia podia torcer por mim.
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Escalada
Em 1974, fui convidado para ser o protagonista
de uma novela da Tupi. Combinei tudo, fui
primeira reunio do elenco, a imprensa toda
estava l, e na hora do intervalo vi no fundo do
corredor a porta de sada e um txi parado. Fui
embora e nunca mais voltei. Eu no estava prepa-
rado para ser protagonista de uma novela. Nin-
gum acredita, mas s eu sei o que senti. Quando
cheguei em casa, minha me me deu uma bron-
ca, porque afinal eu havia enchido o saco da
Irene Ravache, da Joana Fomm, da Marlia Pra
e na hora H havia literalmente fugido. Na manh
seguinte recebo um telefonema da TV Globo
para gravar no Rio de Janeiro uma novela: Esca-
lada.
Grande Nathlia, leonina!
Assinei um contrato de trs meses de experincia. Meu personagem s iria parti-
cipar da primeira fase da novela, no falava quase nada, ficava abrindo e fechan-
do porta e deitado na rede, aquela coisa magra e branca, atrs da Rene de
Vielmond e do Tarcsio Meira. Duas semanas depois da estria eu j era candi-
dato a Rei da Televiso concorrendo com Roberto Carlos e com Tarcsio. Claro
que tinha a mozinha da mame no meio, que enviava muitos cupons! Virei
um sucesso, uma febre nacional. Fiz novo contrato de dois anos, direto com o
Boni, passei a ganhar cinco vezes mais, o personagem desandou a falar louca-
mente e a namorar sem
parar: Nathlia Timberg,
Tessy Callado, Vera Gime-
nez e Sandra Bra. Bem
gal. Com o sucesso de Es-
calada, comecei a fazer
muita fotonovela, baile
de debutante e comprei
o meu primeiro aparta-
mento, financiado em 24
anos pela Caixa Econmi-
ca, mas comprei!
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O Grito
Eu e a Elizabeth Savalla, como a Malvina de Gabrie-
la, havamos estourado. O Avancini nos chamou
para protagonizar O Grito, uma novela densa do
Jorge Andrade (em minha opinio, um autor
injustiado), com um elenco maravilhoso. A hist-
ria toda se passava em uma semana e todos os
personagens, exceto eu, viviam no mesmo prdio.
Eu ficava no edifcio em frente observando tudo
de binculos. No foi um sucesso, a novela ficou
meio maldita e at hoje, junto com O Rebu e Beto
Rockfeller, estudada pelos pesquisadores, a
queridinha das teses. Para mim deu prestgio e a
oportunidade de aprofundar meus laos com
Walter Avancini, com quem fiz os mais belos traba-
lhos na TV.
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Estpido Cupido
Como eu e a Savalla no fizemos sucesso em O Grito,
fomos escalados para uma novela chamada Estpido
Cupido. Nossos nomes que vinham l na frente passa-
ram l para trs, aqueles que passam correndo. S que
deu a maior zebra, tanto a personagem dela, a freira
que se apaixona pelo Luiz Armando Queirz, como o
meu, o Mederiques, foram um baita sucesso.
Eu estava com 33 anos e meu personagem tinha 18.
Quando vi a primeira chamada, na qual eu aparecia
danando twist e dizendo a minha idade, com um
enorme chuca um aplique horroroso que haviam
colocado, porque eu j estava meio careca , vi que
no dava para continuar daquele jeito. Pedi uma rou-
pa toda preta, que pintassem a moto de preto, passei
a cham-la de Brigitte, arranquei o aplique e acredi-
tei que tinha 18 anos mesmo.
Ns tnhamos um time de futebol que jogava contra
o time da igreja. Um sucesso!
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Sem Leno, Sem Documento
Eu fazia o personagem principal da novela, mais uma de Mrio Prata, na cola
do sucesso de Estpido Cupido. Era disputado pela Christiane Torloni e Bruna
Lombardi. Digamos que ficamos sem leno, sem documento e sem audincia.
Eu andava nas ruas e as pessoas perguntavam quando eu ia voltar para a tele-
viso. Esse o termmetro que indica que as coisas andam mal. Foi muito bom,
especialmente para uma pessoa vaidosa como eu. Esta raa de pessoas regateiras
precisa levar uma chapuletada de vez em quando.
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Saudade No Tem Idade
Foi idia do Boni que eu desse uma parada nas novelas para fazer um musical
na Sexta Nobre tinha a Betty Faria em Brasil Pandeiro, Sandra e Mile e o
Saudade No Tem Idade, apresentado por mim e pela Djenane Machado, com
direo do Augusto Csar Vanucci. Eu gostava de fazer, porque tinha oportuni-
dade de cantar, danar e conhecer artistas maravilhosos como Isaurinha Garcia
e as Irms Batista.
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A Djenane funcionava
muito bem comigo!
Bonitinha, jeitosa, com
uma voz pequena, mas
que dava conta do re-
cado, ela, ainda por
cima, vinha de uma fa-
mlia tradicional do
musical. Filha de Carlos
Machado, sabia tudo!
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No acho que foi um desvio na minha trajetria, mas sim uma volta s minhas origens, aos
meus pais que eram cantores: meu pai fazia a linha intimista, bossa-novista, Tito Madi; minha
me era samba-exaltao, ba! Fazendo Saudade No Tem Idade eu me sentia como se estives-
se trabalhando, como eles, no tempo dos cassinos.
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Aplauso: Como Matar um Playboy
No sei por que Aplauso acabou? As pessoas adoram teatro na televiso e
pedem at hoje a volta do Grande Teatro Tupi.
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Malu Mulher: A Amiga
Fui o ltimo namorado da Malu. No me sa nada bem. Sou f da Regina Duarte
e no conseguia contracenar com ela. S queria pedir um autgrafo e que ela
tirasse uma foto comigo, boquiaberto. Acho-a uma grande estrela da televi-
so. Em vez de fazer o personagem, fiquei babando por ela.
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Chega Mais
Foi uma participao breve, porque tive o meu momento Oscar e larguei tudo.
Melhor no falar disso outra vez...
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Corao Alado
Foi a primeira vez que trabalhei em uma novela de Janete Clair. Eu no fazia
bem o personagem. Era uma poca que andava muito preocupado com a carrei-
ra do Fagundes, do Jos Wilker e a minha ficava empacada. Quando resolvi
este problema que no era com eles, mas sim comigo mesmo tudo melho-
rou.
Eu fazia um vilo mesmo, mas estava muito preso. A Dbora Duarte me ajudou
muito quando sugeriu que eu comesse o arranjo de flores em cima da mesa
durante a cena. O personagem se solucionou a partir dessa pirada, comeou a
render. No parei de comer arranjos: lrios, rosas, margaridas, nada me escapava.
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Av. Paulista
Este era um texto da Leilah Assumpo, em parceria com o Daniel Ms, que
estreava na televiso. A proposta do Avancini era fazer uma coisa bem
jornalstica, atual. Eu interpretei um empresrio que simulava o prprio seqes-
tro, porque estava de caso com um cara. Na hora de gravar me colocaram no
porta-malas de um carro, jogaram a chave fora e ningum tinha uma cpia.
Quando eu sa l de dentro, quase matei o Avancini.
A srie tinha um charme. Mostrava outra So Paulo, desconhecida de muitos.
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Eu Prometo
Mais um papel srio, nossa, quantos eu fiz! Nunca me foram impostos, foi real-
mente uma proposta de trabalho na televiso. Podia ter apostado em ser o
gal, mas preferi atirar em outras reas. Nesta novela fazia o principal oponen-
te ao personagem do Cuoco, que deseja ser presidente. Ele quase um Iago.
Mais uma vez estou junto com Dina Sfat, Walmor Chagas, Joana Fomm. Uma
verdadeira turma!
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Anarquistas, Graas a Deus
Eu estava decidido a fazer uma temporada na praia, pegando onda, comendo
biscoito Globo e tomando mate. Era um grupo grande: eu, Aracy Balabanian,
Glria Menezes, Francisco Cuoco, Flvio Stefanini e Edney Giovenazzi. Pois bem,
chega um convite para eu largar a praia e ir para o interior de So Paulo gravar
uma histria que o Edvaldo Pacote tinha achado muito boa e recomendado ao
Boni. Na mesma hora disse que no estava interessado. A Aracy insistiu que eu
devia fazer, era um livro da Zlia Gattai, mulher do Jorge Amado, e que aquele
trabalho iria mudar o meu perfil na TV. Com muita m vontade, achando que
a Aracy tinha enlouquecido, comprei o livro. Adorei, mas mesmo assim no me
via no papel, achava que era uma coisa para um Jardel Filho. Quando gravei a
primeira cena de Anarquistas, Graas a Deus cercado pelos meus filhos soube
que havia virado outra classe de ator. Aracy estava certa!
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Anarquistas, Graas a Deus foi o trabalho que mais gostei de fazer na televiso.
Gravamos em 1983, mas Anarquistas s foi exibida um ano depois, quando
estreou s pressas, depois que um texto do Nelson Rodrigues dirigido pelo
Ademar Guerra teve problemas com a censura. Em uma quinta-feira, estava
em casa, quando vi a chamada; na sexta, a divulgao preparou um material
correndo e a srie estreou na segunda-feira muito mal de audincia. Na sexta
seguinte, eu j era capa de todas as revistas do Brasil. O casal protagonista era
muito elogiado. Mas a Dbora Duarte no era surpresa para ningum, todo
mundo tinha certeza que ela era uma atriz maravilhosa. Digamos que eu sur-
preendi mais. Guardo at hoje um telegrama que recebi da Zlia Gattai em
que ela diz que se o pai fosse vivo ficaria muito contente em se ver. At hoje
ela se emociona muito quando se encontra comigo e sempre me chama cari-
nhosamente de pai.
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Partido Alto
Uma participao especial,
que gostei muito de fazer.
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Rabo de Saia
Que elenco! Com a Dina Sfat eu tinha uma relao de filho. Ela cuidava de mim
como uma me. Com a Tssia Camargo, acontecia o contrrio, ela me chamava
de vovozo e eu a tratava como uma menina. A Lucinha Lins era a esposa, com
quem freqentava a igreja e fazia amor no escuro. Eu amava as trs, assim
como o Quequ.
Quequ virou at verbo na poca da srie: quequezar era enganar a mulher.
Em 1984, fiz 40 anos de idade, 20 de carreira e fui presenteado com o Ernesto e
com o Quequ. O que um ator pode querer mais?
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Um Sonho a Mais
Esta novela foi uma loucura. No deu certo, mas eu fiz um baita sucesso. Foi
feita para mim, principalmente a Anabela, que acabou casando com o Carlos
Kroeber na igreja, tendo uma gravidez psquica, um amante, que era o Jos
Lewgoy, e recebendo em sua garonnire o Roberto Bataglin e o Edson Celulari.
Acabou em todas as capas de revista e as atrizes, claro, ficaram com dio.
Em Um Sonho a Mais realmente aprendi a valorizar ainda mais as mulheres.
Como elas sofrem. Um ano de salto alto no foi mole.
Eu fazia vrios personagens: o velho da bolha, o advogado, o motorista, Dr.
Nilo Peixe, Volpone, Augusto, Anabela e eu mesmo. Foi um trabalho em que
pude brincar muito. O er baixou mesmo. Foi vendo a novela que a Marlia
teve a idia de chamar a mim e o Nanini que tambm aparecia de mulher,
como a Florisbela, irm da Anabela para O Mistrio de Irma Vap. Viu como as
coisas vo se juntando, tijolo com tijolo, pecinha com pecinha. Nada gratuito.
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118Grande Serto, Veredas
Foi s uma participao, mas quase me meti em uma grande confuso. No li a
rubrica em que dizia que ao final da cena eu devia dizer a Ave-Maria em latim.
Na hora da gravao, sem saber o que fazer, sugeri que em vez da orao eu
tivesse um acesso, rodopiasse pela igreja e casse duro no cho depois que a
Yon Magalhes confessava que me amava e que havia matado o marido por
minha causa. Tudo porque no sabia a Ave-Maria em latim. Deu certo.
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Memrias de um Gigol
O Avancini queria misturar nesta srie o Quequ com o Exrcito Brancaleone.
Era tudo exuberante, vibrante, exagerado, largo. No deu muito certo. Sobra-
ram a beleza da Bruna Lombardi e o Lauro Corona, que estava muito bem. Eu
acho que no era papel para mim, precisava ser algum mais novo para que as
pessoas acreditassem na rivalidade.
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TV Pirata
Eu queria muito fazer algo diferente. O Nanini me indicou para o TV Pirata. Eu
e a Cludia Raia fomos os ltimos a entrar no elenco. Fiquei dois anos, adoran-
do aquela loucura maravilhosa. Fiz pelo menos uns 30 personagens por ms,
mas o que ficou mesmo foi o Barbosa.
Barbosa era um personagem da novela Fogo no Rabo, que existia dentro do TV
Pirata. Ele no tinha texto, s repetia o que os outros falavam. E virou mania
nacional. At hoje sou obrigado a responder na rua porque matei o Barbosa.
At com o Tom Jobim, o Barbosa cantou. O maestro maravilhoso cantava:
pau, pedra, o fim do caminho. E o Barbosa complementava: caminho.
Vou revelar uma coisa que jamais contei a ningum. Cada um de ns em Fogo
no Rabo homenageava um ator. Era uma base para ns. Eu quis fazer uma
homenagem ao Walmor e ao Ricelli, que, quero deixar claro, meu amigo de
infncia. Projetei um pouco o lbio inferior para frente, mas os tcnicos no
estdio nossa primeira platia adoraram e pediam mais, mais, mais e acabei
ficando com um bico enorme.
A Louise Cardoso brincava que havia estudado tanto para andar na rua e as
pessoas dizerem: Olha a mulher do Barbosa.
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Vamp
Deveria ser uma histria de amor com pitadas vampirescas. Virou uma novela
em que todos eram vampiros e eu, o chefe deles todos. Eu tenho uma tendn-
cia a puxar a brasa para a minha sardinha!
Eu queria fazer um trabalho especialmente para crianas e consegui. Na primeira
cena, sria, a Cludia Ohana toca piano e eu ofereo-lhe o sucesso em troca de
sua alma. Eu olhei para a cmera e disse assim: Gotoso. Pronto, acabou, virei
queridssimo de todos. As crianas compravam os dentinhos e as capinhas nas
bancas de jornais e saam todos de Vlad pela rua.
Uma dia eu cheguei tarde no hotel em So Paulo e uma criana no elevador s
me dizia: Sai de mim, sai de mim. J outras, pediam para ser mordidas.
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Zaz
Fiquei um tempo parado e voltei em Zaz, que no deu certo. As pessoas tam-
bm me perguntavam na rua quando eu ia voltar para a TV. O Silas no aconte-
ceu. Era um elenco genial, o Lauro Csar um autor maravilhoso, mas no
funcionou. Depois disso fiquei um pouco de castigo, fazendo uns Voc Decide.
Quando voc faz um fracasso na televiso ele vira seu, no o projeto que deu
errado.
O Cravo e a Rosa
Depois de um bom tempo fiz esta novela genial, que marca outro momento da
minha vida profissional na televiso. Foi quando deixei de ser o protagonista
da novela para ser o rei do meu ncleo. Fui fazer esta participao em O Cravo
e a Rosa por motivos afetivos: era um trabalho do Avancini, e a gente intua
que seria o ltimo. Ele sempre dizia que eu era o p-de-coelho dele. E o Cornlio
foi um grande sucesso. Tudo era bom: os figurinos, o texto do Walcyr Carrasco,
o Zeca Pagodinho cantando Jura na abertura, um clima meio Martins Pena,
enfim, um trabalho que deu certo.
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O Beijo do Vampiro
No final de Vamp , Vlad dizia assim: Eu vou voltar. E voltou como Nosferatu
em O Beijo do Vampiro.
Da Cor do Pecado
Quando as pessoas falam que eu e a
Mait estamos nos divertindo muito,
elas tm toda razo. Voc s faz com-
dia bem se est se divertindo por den-
tro. Eu no vou me mandar para o
Projac, 70 km, ida e volta da minha casa,
para sofrer. Adoro ver o pessoal da lim-
peza, os bombeiros, os tcnicos, todos
paradinhos na frente do cenrio quando
estamos gravando, s gargalhadas. Casa
cheia.
Muitas vezes fico pensando se, aos 60
anos, ainda existe espao para mim. Ser
que o tempo s para os gals altos,
louros, enormes? Mas no, sempre exis-
te um espao para os ATORES, jovens
ou velhos: Walmor Chagas, Thiago
Lacerda, Camila Morgado, talo Rossi,
Dan Stulbach. Isso genial!
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Histrico de uma Carreira
1964Reportagem de Um Tempo MauAutor: Plnio Marcos - Direo: Plnio MarcosElenco: Walderez de Barros, Leonardo Lopes e todos os integrantes da Companhia doTeatro de Arena de So PauloEstria: Teatro de Arena de So PauloDenncia sobre os fatos que ocorreram na poca do golpe de 64. A pea teve apenasuma apresentao, foi censurada e o elenco preso.
1965A CrnicaAutor: Carlos Alberto Sofredini - Direo: Carlos Alberto SofrediniElenco: Jandira Martini, Eliana Rocha, Rubens Ewald Filho e integrantes do Teff, Tea-tro da Faculdade de Filosofia de SantosEstria: Teatro Independncia de Santos
O Cristo NuAutor: Carlos Alberto Sofredini - Direo: Carlos Alberto SofrediniElenco: Carlos Alberto Sofredini, Jandira Martini, Eliana Rocha, Rubens Ewald Filho eintegrantes do TEFF (Teatro da Faculdade de Filosofia de Santos)Estria: Teatro Coliseum de Santos
1966A FalecidaAutor: Nelson Rodrigues - Direo: Celso Nunes, superviso de Antunes FilhoElenco: Jandira Martini, Eliana Rocha, Rubens Ewald Filho e integrantes do TEFFTemporada: Estria no Teatro Independncia e depois Teatro Coliseum de Santos, Tea-tro Maria Della Costa e uma apresentao no Municipal, So Paulo.
1967 a 1969EAD (Escola de Arte Dramtica da USP - So Paulo)Direo-Geral: Alfredo MesquitaTrabalhos na Escola:O Burgus Ridculo, de Molire - Direo: Alfredo MesquitaA Lio, de Ionesco - Direo: Ney Latorraca
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Entre Quatro Paredes, de Jean Paul Sartre - Direo: Paulo HesseBalada de Manhattan, de Leo Gibs