Distancia de Fortaleza as Municipios do Ceara Das Cidades MaisCeará
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIROCENTRO DE LETRAS E ARTES
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM MSICAMESTRADO EM MSICA
TARDE DE CHUVA: A CONTRIBUIO INTERPRETATIVA DE PAULO MOURAPARA O SAXOFONE NO SAMBA-CHORO E NA GAFIEIRA, A PARTIR DA DCADA
DE 70
DANIELA SPIELMANN
RIO DE JANEIRO, 2008
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TARDE DE CHUVA: A CONTRIBUIO INTERPRETATIVA DE PAULO MOURAPARA O SAXOFONE NO SAMBA-CHORO E NA GAFIEIRA, A PARTIR DA DCADA
DE 70
por
DANIELA SPIELMANN
Dissertao submetida ao Programa de Ps-Graduao em Msica do Centro de Letras eArtes da UNIRIO, como requisito parcial paraobteno do grau de Mestre, sob orientao doProfessor Doutor Nalson Simes.
Rio de Janeiro, 2008
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Catalogado na fonte por Isabel Grau
Autorizo a cpia da minha dissertao Tarde de Chuva: A Contribuio Interpretativa dePaulo Moura para o saxofone no samba-choro e na gafieira, a partir da dcada de 70, parafins didticos
............................................................................
Spielmann, Daniela
S755 Tarde de chuva : a contribuio interpretativa de Paulo Moura para o saxo-fone no samba-choro e na gafieira, a partir da dcada de 70 / Daniela Spiel-mann, 2008.
xiv, 165f. + CD-ROM.
Orientador: Nalson SimesDissertao (Mestrado em Msica) Universidade Federal do Estado Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.
1. Moura, Paulo, 1932-. 2. Tarde de chuva (Msica) Anlise, apreciao.3. Msica popular Brasil. 4. Saxofone. 5. Samba-Choro. 6. Msica de gafiei-ra. I. Simes, Nalson. II. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro(2003-). Centro de Letras e Artes. Mestrado em Msica. III. Ttulo.
CDD 780.420981
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SPIELMANN, Daniela. Tarde de Chuva:A Contribuio Interpretativa de Paulo Mourapara o saxofone no samba-choro e na gafieira, a partir da dcada de 70. 2008. Dissertao(Mestrado em Msica) - Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes,Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
Dedico este trabalho memria do meu pai, Raul Spielmann, que sempre foi o maiorapoio que eu tive para fazer msica, especialmente o choro que ele adorava tanto, aminha me pelo suporte e amor sempre, a meu marido Daniel Grosman e a minha filhaAlice Spielmann Grosman por formarem comigo uma famlia muito especial!
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SPIELMANN, Daniela. Tarde de Chuva:A Contribuio Interpretativa de Paulo Mourapara o saxofone no samba-choro e na gafieira, a partir da dcada de 70. 2008. Dissertao(Mestrado em Msica) - Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes,Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
AGRADECIMENTOS
Alice por ser a minha fonte de inspirao, de amor e de alegria, e pela pacincia com ossumios da mame.
A Daniel Grosman e Regina Spielmann pela fora, carinho, amor e pacincia sempre.
Ao Prof. Nalson Simes pela maravilhosa orientao e amizade.
A Claudia Simes pelo carinho.
A Miriam Grosman pelo apoio, carinho e experincia.
A Gianfranco Brentegani pela linda amizade, pela generosa formatao e amor msicabrasileira.
A Halina Grynberg pelo apoio e carinho.
Aos Professores Laura Ronai, Mrcia Taborda, Jos Nunes, Martha Ulha, SrgioBenarrechea e Cliff Korman pela fora e pela orientao.
A Luiz Rocha pela idia.
A Nando Duarte e Joca Perpignan pelas gravaes, auxlio tcnico e pacincia.
A Sheila Zagury, Marcello Gonalves e Alexandre Moraes pelo apoio incondicional em todasas fases.
A Eduardo Neves, Anat Cohen, Mrio Sve, Mrcio Bahia, Z Bigorna e Sueli Faria pelasentrevistas e gravaes concedidas ao longo da pesquisa.
Tia Coelha, Tio Lilo, Tia Karen, Tio Ded, Tia Aida, Tia Clarinha, Tia Fanizinha, TiaFauzete, Tio Zeca (in memria), Tio Gerson, Tio Rafael e Tio Bernardo.
Aos amigos Elisa Goldman, Paula Faour, Dudi Goldemberg, Alexandre Brasil, AlessandroValente, urea Martins, Bilinho Teixeira, David Ganc, Mauro Perelman, Neti Szpilman,Silvana Agla, Ju Cassou.
As minhas amigas da banda Altas Horas pela compreenso e companheirismo.
A Paulo Moura, Pixinguinha, K-Ximbinho, Eduardo Neves, Juarez Arajo, Humberto Arajo,Idriss Boudrioua, Mrio Sve, Samuel de Oliveira, David Ganc, Proveta, Anat Cohen, SueliFaria, Alexandre Caldi, Bernardo Fabris, Cludio Rocha Almeida (Claudo), Pixinguinha,Rui Alvim, Marcelo Martins, Carlos Malta, pelos saxofonistas que foram e so e a suacontribuio ao choro e minha formao como musicista.
A Capes pelo apoio financeiro durante parte da pesquisa.
E, especialmente, a Paulo Moura pela msica maravilhosa que ele faz e pela inspirao.
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SPIELMANN, Daniela. Tarde de Chuva:A Contribuio Interpretativa de Paulo Mourapara o saxofone no samba-choro e na gafieira, a partir da dcada de 70. 2008. Dissertao(Mestrado em Msica) - Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes,Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
RESUMO
Essa dissertao tem como objetivo demonstrar a contribuio interpretativa de Paulo Mourapara o saxofone no samba-choro e na gafieira a partir da dcada de 70. Atravs da transcrioe da anlise de gravaes diversas de Tarde de Chuva, composio de Paulo Mouracomposta para a gafieira, o texto discute os aspectos de sua performance, que incorpora
elementos do choro, do samba, da gafieira e do jazz. O texto apresenta a anlise e asistematizao de aspectos de seu estilo interpretativo caracterizado pela sua capacidade detransformar esta msica, recolocando-a em diversas situaes, com msicos e formaesinstrumentais muito contrastantes. As escolhas que Moura fez ao longo de sua vida refletem-se nas geraes posteriores. Foi possvel notar a sua influncia na interpretao dos solistasconvidados especialmente para exemplificar seu legado.
Palavras-chave: Interpretao (Msica) - Choro (Msica) - Saxofone
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SPIELMANN, Daniela. Tarde de Chuva: Paulo Moura's saxophone interpretativecontribution to samba-choro and gafieira, since the decade of the 1970's.2008. Master Thesis(Mestrado em Msica) - Programa de Ps-Graduao em Msica, Centro de Letras e Artes,Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
ABSTRACT
The text aims to demonstrate Paulo Mouras interpretative contribution to the saxophone inthe genres of samba-choro and gafieira since the decade of the 1970's.Through the transcription and analysis of several recordings of "Tarde de Chuva", one ofPaulo Mouras works composed for the gafieira, the text discusses elements of his
performance that incorporate choro, samba, gafieira and jazzelements. The text analyzes andsystematizes aspects of his interpretative style, characterized by his capacity to transform thecomposition, adapting it to various settings, dependent on and responsive to differentmusicians and interpretations. It is possible to postulate that Mouras artistic choices madeover the course of his career are reflected in future generations. It was possible to notice hisinfluence in the soloist's interpretation, invited specially to show his legacy.
Keywords: Interpretation (Music) - Choro (Music) - Saxophone
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SUMRIO
Pgina
LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS IX
LISTA DE QUADROS E FIGURAS XII
INTRODUO 1
CAPTULO 1 VIDA E OBRA DE PAULO MOURA 7
CAPTULO 2 - O CHORO, O SAMBA E A GAFIEIRA 28
2.1 Parte 1 Histrico dos gneros musicais
2.1.1 O Choro
2.1.2 Aspectos formais e estruturais do choro2.1.3 O Samba
2.1.4 Aspectos formais e estruturais do samba
2.1.5 A Gafieira
2.2 Parte 2 Reviso bibliogrfica
CAPTULO 3 - OBRA MUSICAL, CRIAO, INTRPRETE, INTERPRETAOE OUVINTE
71
3.1 Alguns conceitos
3.2 A questo da notao3.3 Articulao
3.4 Timbre
CAPTULO 4 - O SAXOFONE 85
4.1 Histrico
4.2 A articulao no saxofone
4.3 Sinais de expresso
4.4 O timbre no saxofone
4.5 Respirao e embocadura no saxofone
4.6 O saxofone no Choro
4.7 Fraseologia, articulao e diviso no Choro e no Samba
CAPTULO 5 ANLISE MUSICAL DE TARDE DE CHUVA 105
5.1 Parte 1 Os fonogramas de Moura
5.1.1 Forma
5.1.2 Anlise da forma de Tarde de Chuva - Introduo -A-B -variaes
improvisadas - coda5.1.3 Harmonia
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5.1.4 Melodia
5.1.5 Ritmo
5.1.6 Interpretao
5.1.7 Aspectos estilsticos e interpretativos do saxofone de Moura encontrados no
samba, no choro, na gafieira e no jazz5.1.8 Comentrios de Paulo Moura sobre as gravaes
5.1.9 Comentrios sobre os fonogramas
5.2 Parte 2 - O legado de Moura
CONCLUSO 155
BIBLIOGRAFIA 159
ANEXOS 165
Anexo 1 - Partituras musicaisAnexo 2 CD com os fonogramas analisados
Anexo 3 - Entrevistas em MP3
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LISTA DE EXEMPLOS MUSICAIS
Pg.
Exemplo musical 1: representao simplificada com duas vozes para o acompanhamento no
choro.
36
Exemplo musical 2: representao rtmica simplificada com duas vozes para oacompanhamento no maxixe.
36
Exemplo musical 3: representao rtmica simplificada com duas vozes para oacompanhamento no maxixe.
37
Exemplo musical 4: levada de samba tocada por Moura, transcrita pela autora. 44
Exemplo musical 5: clula de partido alto. 49
Exemplo musical 6: clula de samba 1. 50
Exemplo musical 7: clula de samba 2. 50
Exemplo musical 8: clula de choro. 50
Exemplo musical 9: clula de samba de roda. 50
Exemplo musical 10: prtica de articulao e dinmica com variao da lngua e da rea dapalheta.
88
Exemplo musical 11: variaes rtmicas recorrentes no choro. 101
Exemplo musical 12: variaes rtmicas recorrentes no choro 2. 101
Exemplo musical 13: variaes de articulao num grupo de quatro semicolcheias. 102Exemplo musical 14: partitura original de Tarde de Chuva com a grafia de Paulo Moura. 108
Exemplo musical 15: cpia digitalizada da partitura Tarde de Chuva original Paulo Mouracom numerao de compassos.
109
Exemplo musical 16: introduo (gravao do CD Brasil Instrumental). 112
Exemplo musical 17: introduo (gravao doDVDPaulo Moura - Une Infinie Musique). 112
Exemplo musical 18: introduo (gravao do CDDois Irmos). 113
Exemplo musical 19: introduo nas gravaesdos CDsRio Nocturnes, Instrumental noCCBB e Mood Ingnuo - Pixinguinha Meets Duke Ellington.
114
Exemplo musical 20: frases de A. 115
Exemplo musical 21: frases de B. 115
Exemplo musical 22: pattern de II-V menor dojazzcom acrscimo de tenses harmnicas, nosolo de Moura (gravao do CDInstrumental no CCBB).
117
Exemplo musical 23: exerccio de patterns de II-V-I (Aebersold, Jamey, the II-V-I Progressionvol. 16, 1998:10).
117
Exemplo musical 24: utilizao da escala pentatnica de Gm para a construo do solo
(gravao do CDRio Nocturnes).
117
-
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Exemplo musical 25: motivos A e A da coda com uma pequena variao meldica entre eles. 118
Exemplo musical 26: harmonia da parte A da partitura original. 118
Exemplo musical 27: harmonia da parte A (gravao do CDDois Irmos). 119
Exemplo musical 28: harmonia da parte A (gravao do CDRio Nocturnes). 119
Exemplo musical 29: harmonia da parte B da partitura original. 120
Exemplo musical 30: harmonia da parte B (gravao do CDInstrumental no CCBB). 121
Exemplo musical 31: harmonia da parte B (gravao do CDBrasil Instrumental). 121
Exemplo musical 32: arpejo escrito na parte A. 122
Exemplo musical 33: arpejo escrito na parte B. 123
Exemplo musical 34: outro arpejo escrito na parte B. 123
Exemplo musical 35: apojaturas escritas na partitura original. 123
Exemplo musical 36: bordaduras escritas na partitura original. 123
Exemplo musical 37: cromatismos e notas de passagem escritos na partitura original. 124
Exemplo musical 38: outros cromatismos e notas de passagem escritos na partitura original. 124
Exemplo musical 39: a construo da escala blues. 124
Exemplo musical 40: escalas pentatnicas maiores e menores, nota blue e escalas blue. 125
Exemplo musical 41: utilizao da blue note na composio Tarde de Chuva. 125
Repetio do Exemplo musical 7. 126
Exemplo musical 42: relao entre a diviso meldica e a levada de samba 2 (gravao do CDBrasil Instrumental).
127
Repetio do Exemplo musical 5. 127
Exemplo musical 43: relao entre a diviso meldica e a levada de partido alto (gravao doCDDois Irmos).
128
Repetio do Exemplo musical 6. 128
Exemplo musical 44: relao entre a diviso meldica e a levada de samba 1 (gravao do CDRio Nocturnes).
129
Exemplo musical 45: quilteras escritas por Moura na partitura original. 129
Exemplo musical 46: sncopes escritas por Moura na partitura original. 129
Exemplo musical 47: destaque para as sncopes e as antecipaes atravs do corte e daacentuao das notas.(gravao do CDInstrumental no CCBB).
131
Exemplo musical 48: efeito menos rtmico no incio da frase atravs da antecipao, apojatura eopitch bend. Em seguida, cortes de nota que caracterizam o samba-choro (gravao do CDBrasil Musical).
131
Exemplo musical 49: acentuao e corte de nota em todas as antecipaes (gravao do CDMood Ingnuo Pixinguinha Meets Duke Ellington).
131
-
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Exemplo musical 50: tenutos (gravao do CDBrasil Instrumental). 131
Exemplo musical 51: articulao taiatata, comum no choro (gravao do CDBrasilInstrumental).
132
Exemplo musical 52: comparao entre a partitura original e a gravao do CD"Mood Ingnuo Pixinguinha Meets Duke Ellington" na questo da ornamentao e variao meldicacaracterstica do choro.
132
Exemplo musical 53: comparao entre a partitura original, a gravao Rio Nocturnes e agravao Brasil Instrumental, abordando os parmetros diviso rtmica, variao meldica eornamentao.
133
Exemplo musical 54: apojatura no escrita na partitura original. 133
Exemplo musical 55: variaes rtmicas com o uso das quilteras. 133
Exemplo musical 56: retardo rtmico (gravao do CDInstrumental no CCBB). 134
Exemplo musical 57: retardo rtmico (gravao do CDMood Ingnuo Pixinguinha MeetsDuke Ellington).
134
Exemplo musical 58: inteno de retardo rtmico (gravao do CDDois Irmos), a frase do A(c.129).
135
Exemplo musical 59: Moura mantm a articulao e acentuao do samba (gravao do CDRio Nocturnes).
135
Exemplo musical 60: efeitos expressivos ligados gafieira;pitch bend, rasgada de notas evibratos (gravao do CDMood Ingnuo Pixinguinha Meets Duke Ellington).
136
Exemplo musical 61: rasgada e acentuao das antecipaes (gravao do CDInstrumental noCCBB).
136
Exemplo musical 62: diversas associaes de efeitos comopitch bend, vibrato longo e rasgadade nota nas variaes improvisadas (gravao do CDInstrumental no CCBB).
136
Exemplo musical 63: notas mortas (ou ghost notes) no solo improvisado de Paulo Moura(gravao do CDInstrumental no CCBB).
137
Exemplo musical 64: notas mortas (ou ghost notes) no solo improvisado de Paulo Moura(gravao do CDMood Ingnuo Pixinguinha Meets Duke Ellington).
137
Exemplo musical 65: quilteras nojazz. 137
Exemplo musical 66: diversos elementos dojazzcomo articulao, ghost notes, quilteras(gravao do CDMood Ingnuo Pixinguinha Meets Duke Ellington).
138
Exemplo musical 67: rasgada e acentuao nas notas. 138
Exemplo musical 68: exemplo depitch bend(gravao do CDMood Ingnuo PixinguinhaMeets Duke Ellington).
139
Exemplo musical 69: exemplo depitch bendbem pronunciado (gravao doDVDPauloMoura - Une Infinie Musique).
139
Exemplo musical 70:pitch bendseguido de vibrato (gravao do CDInstrumental noCCBB).
139
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Exemplo musical 71:pitch bendno incio de todos os grupos de seis semicolcheias (gravaodo CDRio Nocturnes).
139
Exemplo musical 72: exemplo de "portato" (gravao do CDDois Irmos). 140
Exemplo musical 73: segundo exemplo de "portato" (gravao do CDDois Irmos). 140
Exemplo musical 74: glissando associado a umpitch bend(gravao doDVDPaulo Moura -Une Infinie Musique).
141
Exemplo musical 75:pitch bendseguido de vibrato (gravao do CDInstrumental noCCBB).
141
Exemplo musical 76: leve vibrato no fim das notas longas das frases (gravao do CDDoisIrmos).
141
Exemplo musical 77: frases prolongadas sem corte de nota e vibrato no final. 150
Exemplo musical 78: ornamentao tpica do choro e retardo rtmico associado a umportamento.
150
Exemplo musical 79: variaes improvisatrias com o fraseado do choro. 150
Exemplo musical 80: variaes rtmicas, efeito rtmico e uso depitch bend. 152
Exemplo musical 81: articulao dojazz. 152
Exemplo musical 82: vrios efeitos combinados,pitch bend, vibrato no final de nota, umretardo rtmico e glissando.
154
Exemplo musical 83: variaes rtmicas e glissando. 154
Exemplo musical 84: notas mortas e utilizao da escala blues. 154
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
Pg.
Quadro 1: Produo fonogrfica de Moura 23
Quadro 2: Produo fonogrfica de Moura ligada ao choro e a gafieira 25
Quadro 3: Informaes sobre filmes que Moura participou 26
Figura 1: Posio da lngua na palheta. 87
Tabela 1: Transposio de instrumentos. 106
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xiii
EU GOSTO DE TOCAR VENDO A REAO DO BAILARINO.O BAILARINO ME INCENTIVA,
ME D IDIAS EM TERMOS DE RITMO,
PORQUE A RTMICA BRASILEIRA BASTANTE PECULIAR.A NOSSA RTMICA MEXE COM A PARTE CENTRAL DO CORPO,
MEXE COM AS CADEIRAS MAIS QUE OUTROS RITMOS.
Paulo Moura
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INTRODUO
Uma das caractersticas que mais fascinaram o comeo da atuao musical
profissional desta pesquisadora foi a possibilidade de comunicao da msica e o poder de
interao com as pessoas. Os shows e as apresentaes podem acontecer de maneiras muito
diferenciadas, umaperformance tem vrias facetas: o estado de esprito do msico, a platia,
o momento da apresentao, o lugar, tudo pode ser uma varivel. Pode-se fazer um show em
um teatro pequeno para poucas pessoas, com uma ambientao propcia para a concentrao,
podem-se fazer shows com funes como a msica para TV, casamentos, teatro e dana, por
exemplo. Um dos lugares que mais emociona a autora desta dissertao a gafieira, onde
acontece o poder de comunicao entre uma melodia ritmada e o balano dos bailarinos. Os
dois lados, ao entrarem em sintonia, podem improvisar e a relao de troca acontecer naquele
momento.
Paulo Moura1teve uma grande experincia com este tipo de msica para dana e foi
atravs deste msico e de seu repertrio que a autora teve um grande estmulo para se dedicara estudar e se aprofundar nesta pesquisa.
As perguntas desta dissertao foram sendo elaboradas ao longo da experincia da
autora como profissional, intrprete e pesquisadora de samba e choro. A audio dos discos
de Moura e a freqncia em suas apresentaes fizeram parte de um longo perodo de sua
formao como musicista profissional ligada ao choro, ao samba e gafieira. A autora
reconhece em Moura uma riqueza interpretativa provinda da experincia em diversos gneros
da msica brasileira e uma referncia importante.
Ao abordar a interpretao de Paulo Moura no contexto do choro e do samba, a
pesquisadora verificou a importncia desta pelo fato de existir uma grande lacuna de escritos
1
Paulo Moura, nascido em So Jos do Rio Preto SP em 15/07/1932, clarinetista, saxofonista, arranjador ecompositor.
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2
e anlises sobre a interpretao destes gneros. Tem sido freqente a demanda de informaes
sobre estes aspectos interpretativos. Qual a melhor maneira de executar um choro, um
samba, um samba-choro de gafieira? Como pensar a fraseologia e articulao neste tipo de
msica? Quais so as caractersticas que se reconhecem na maneira de Paulo Moura tocar e
que influenciam outros msicos?
Um dos objetivos desta dissertao foi demonstrar a importncia do multi-
instrumentista, compositor e arranjador Paulo Moura para o universo interpretativo do
saxofone no samba-choro e na gafieira, a partir da segunda metade da dcada de 70. Apesar
de uma parte de seu trabalho no ser dedicada ao choro e ao samba especificamente, ele tem
CDsmarcantes para a formao de um estilo prprio, especialmente o samba-choro ou choro
de gafieira. Outro objetivo foi buscar, na interpretao de Moura, elementos que
caracterizassem o choro, o samba e a gafieira, e tentar desta maneira sistematizar um estudo
sobre seus aspectos interpretativos.
O primeiro passo do processo de delimitao da pesquisa foi a escolha de uma msica
que pudesse representar o interesse proposto. O critrio para a escolha da msica "Tarde de
Chuva" foi a constatao da recorrncia de gravaes desta msica e a maneira como ela
caracterizou a participao de Paulo Moura no samba, no choro e na gafieira, com suas
diversas influncias. A delimitao desta pesquisa teve trs aspectos. A questo do estilo: foi
escolhido um samba-choro ligado gafieira. Esta questo foi se clareando ao longo da
pesquisa, pois s com o processo de anlise que a pesquisa pde chegar a concluses sobre
este aspecto. Outra delimitao se deu na escolha do instrumento. Foi escolhido o saxofone e
no o clarinete, e isto se deu pela formao da pesquisadora, porque, sendo saxofonista, teria
um melhor conhecimento idiomtico deste instrumento e ficariam mais legtimas as anlises
propostas. A questo da poca tambm foi sendo descoberta pela autora aos poucos no
processo de pesquisa. Foi a partir de 1976, com a gravao do CD Confuso Urbana,
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Suburbana e Rural, e com a sada de Moura de seu cargo de primeiro clarinetista na
orquestra do Teatro Municipal, que ele optou pela carreira como solista, investindo de uma
maneira mais sistemtica em uma carreira mais ligada ao samba-choro.
A metodologia do trabalho foi dividida em quatro fases. A primeira consistiu em fazer
as entrevistas com Paulo Moura e com saxofonistas especializados em choro e samba. A
segunda foi a procura dos fonogramas de Tarde de Chuva. O terceiro momento foi a anlise
descritiva e comparativa de seis verses da msica Tarde de Chuva gravadas por Moura em
discos diferentes, de pocas distintas. Para esta anlise a autora utilizou a partitura original
cedida por Moura e a transcrio do tema e dos solos dos fonogramas realizados para esta
pesquisa, que esto no anexo desta dissertao. Na quarta e ltima fase a pesquisadora
produziu uma base rtmica e harmnica e gerou mais trs fonogramas com intrpretes
diferentes, ligados obra de Moura. O estudo procurou as suas semelhanas e distncias
interpretativas para descobrir o legado de Moura.
No primeiro captulo a pesquisa trata da biografia e do contexto histrico da vida de
Paulo Moura. Aborda a sua trajetria profissional, comenta sobre suas viagens, descreve suas
obras publicadas e os principais discos que participou como solista. Ao longo do captulo so
inseridos alguns trechos de comentrios feitos por Moura atravs de entrevistas ao longo dos
anos 2006, 2007 e 2008, para ilustrar melhor os momentos, tendo sido colocado um pequeno
verbete nas notas de rodap com os msicos que ele teve contato e influncias, para maiores
informaes sobre sua poca.
O segundo captulo dividido em duas partes: a primeira destinada a um pequeno
histrico do choro, do samba e da gafieira, caracterizando cada um dos gneros, para
descrever os momentos anteriores carreira de Moura e contextualizar a sua contribuio
dentro deste universo. Aborda as principais mudanas do choro e do samba, fazendo uma
anlise sobre a sua estruturao, forma, harmonia, aspectos meldicos e formas de
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acompanhamento. Com relao gafieira, por falta de material publicado, foram feitas
entrevistas para esclarecer um pouco do histrico da gafieira e a relao de Moura com ela.
Na segunda parte deste captulo, dedicada reviso bibliogrfica, a autora descreve
algumas pesquisas com temas parecidos, que forneceram dados para a elaborao desta
pesquisa.
Rafael Veloso2pesquisa o papel do saxofone no choro, as circunstncias em que o
saxofone foi introduzido no choro, as transformaes que o primeiro provocou no segundo e
as conseqncias estticas destas transformaes. Um estudo feito sobre a interpretao no
choro o de Eliane Salek3que faz um levantamento dos principais padres rtmico-meldicos
do choro, atravs da transcrio e anlise de partituras, confirmando a sua existncia e
utilizao por intrpretes como Benedito Lacerda, Jacob do Bandolim, Paulo Moura e Z da
Velha. Outro estudo o de Paulo Henrique Loureiro S4que, atravs da musicologia, realiza
um confronto entre vrios assuntos ligados ao choro: suas origens e suas afinidades; alguns
aspectos musicais, tcnicos, histricos e sociais. O autor aborda o choro, estabelecendo vrias
relaes e tratando o choro de uma maneira abrangente.
Afonso Cludio Segundo de Figueiredo5discute uma definio de improvisao que
represente adequadamente a maneira como ela est presente na msica instrumental brasileira.
Os captulos sobre o saxofone e a improvisao foram teis para esta pesquisa. Tambm
2 Veloso, Rafael. O saxofone no choro - A introduo do saxofone e as mudanas na prtica do choro. Rio deJaneiro. Dissertao de mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006.
3 Salek, Eliane. A flexibilidade rtmico-meldica na interpretao do choro. Dissertao de mestrado.Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1999.
4 S, Paulo Henrique Loureiro de. Receita de choro ao molho de bandolim: uma reflexo acerca do choro e asua forma de criao. Dissertao de mestrado em msica, Conservatrio Brasileiro de Msica. Rio deJaneiro, 1999.
5 Figueiredo, Afonso Cludio Segundo de. A prtica da improvisao meldica na msica instrumental do
Rio de Janeiro a partir de meados do sculo XX. Tese de doutorado da Universidade Federal do Rio deJaneiro, 2004.
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abordando a questo da improvisao, Alexandre Caldi6 busca caracterizar o estilo de
contracantos realizados por Pixinguinha atravs de uma abordagem histrica e analtica de
suas interpretaes. O estilo de Pixinguinha tornou-se referncia para seus seguidores, dada a
importncia que ele teve na msica brasileira. Abordando tambm a contribuio de
Pixinguinha, a autora encontrou a pesquisa de Paulo Arago 7, que teve como objetivo a
realizao de um mapeamento da prtica do arranjo musical entre os anos de 1929 e 1935.
Arago fornece dados sobre obra aberta, transcries, arranjos e a participao do intrprete
na elaborao de arranjos.
O captulo 3 trata da discusso de conceitos para embasar as questes da obra, do
intrprete e da interpretao. Por estar trabalhando com uma pesquisa que aborda a
interpretao musical, fez-se necessrio um referencial terico para embasar as questes
interpretativas nela abordadas. Trata da subjetividade da obra musical, atravs da anlise das
variantes das fases da cadeia autor cdigo obra intrprete ouvinte, e discute a funo
do intrprete na sua transmisso. A autora tece comentrios sobre a performance, quepde
ser pensada como um conjunto de escolhas que podem modificar o aspecto da obra de arte.
Pondera sobre a questo da notao, que dependeria do intrprete para a transmisso e
perpetuao das intenes do compositor de uma obra musical. Trata tambm da fraseologia,
da articulao e do timbre, a partir de vises de diversos autores, para servir na anlise das
msicas da pesquisa.
O captulo 4 aborda assuntos ligados ao saxofone fazendo um pequeno histrico do
instrumento e aprofundando algumas noes vistas no capitulo 3, como a articulao, os
sinais de expresso, os efeitos, o timbre, a palheta, a boquilha e a respirao. Enfoca mais
6 Caldi, Alexandre. Contracantos de Pixinguinha: Contribuies histricas e analticas para a caracterizaode um estilo. Dissertao de mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2000.
7
Arago, Paulo. Pixinguinha e a gnese do arranjo musical brasileiro (1929 a 1935). Dissertao demestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2001.
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6
tecnicamente e especificamente a particularidade deste instrumento, aprofunda o histrico do
saxofone no choro e questes sobre a interpretao, fraseologia, articulao e diviso no choro
e no samba. A partir deste material foram retiradas as ferramentas necessrias para a anlise
de Tarde de Chuva.
O captulo 5 trata da anlise das nove verses de Tarde de Chuva. A primeira parte
enfoca as seis gravaes que foram feitas por Paulo Moura em pocas distintas com
formaes instrumentais variadas. Foi durante o processo da anlise da forma, da harmonia,
do ritmo, da melodia, da interpretao e da instrumentao de cada fonograma que a autora
pde chegar s concluses obtidas nesta pesquisa. A segunda parte deste captulo descreve um
experimento cientfico feito para verificar a influncia de Moura nas geraes posteriores.
Trata da anlise dos trs fonogramas produzidos para o estudo com os intrpretes Mrio Sve,
Eduardo Neves e a autora. Coletaram-se dados provindos da interpretao de Moura e tenta-se
comprovar o seu legado.
A importncia deste trabalho se d na medida em que contribui para um maior nmero
de reflexes e anlises interpretativas da msica popular e revela atravs de uma msica,
Tarde de Chuva, de um compositor e intrprete, Paulo Moura, um gnero ("choro de
gafieira") ainda pouco analisado de maneira sistemtica.
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CAPTULO 1 - VIDA E OBRA DE PAULO MOURA
O primeiro captulo trata da biografia e do contexto histrico da vida de Paulo Moura.
Aborda a sua trajetria profissional e demonstra seu ecletismo: em orquestras sinfnicas,
como solista de msica erudita, atuando em grupos de jazz8, em orquestras populares,
participando no surgimento da bossa nova, e sua posterior carreira como solista de choro.
Comenta sobre suas viagens, descreve sua coleo de obras publicadas e os principais discos
que produziu e participou como solista. A maioria das informaes abaixo foi retirada de seu
site (www.paulomoura.com) e de entrevistas concedidas por Moura autora em sua casa
durante os anos de 2006, 2007 e 2008, que esto no anexo desta dissertao.
Moura nasceu em 15 de julho de 1932 na Cidade de So Jos do Rio Preto SP, filho de
Pedro Gonalves de Moura e de Cesarina Cndida de Moura, sendo o caula de dez irmos,
seis homens e quatro mulheres. Devido Revoluo Constitucionalista houve um atraso no
registro de seu nascimento que oficialmente 17 de fevereiro de 1933. Cresceu em um
ambiente musical. Seu pai, Pedro, que era marceneiro e tambm saxofonista e clarinetista dabanda local, tinha o seu prprio conjuntopara animar as festas danantes da comunidade
negra. A maioria de seus filhos tornou-se instrumentista: Jos e Alberico tocavam trompete;
Waldemar, trombone; Pedro Jr. e Paulo, saxofone e clarinete; Francisco, bateria e Filomena,
piano. Segundo Moura, seu pai ensinou msica aos filhos com a finalidade de preserv-los da
Segunda Grande Guerra, que estava sendo anunciada. Se fossem convocados, poderiam servir
na banda de msica do Exrcito, sem perigo de seguirem para a Infantaria. Aos nove anos
8 Ojazz um gnero musical que surgiu no incio do sculo XX e tem diversos subgneros como o ragtime,o swing, o bebop, o free jazz, o cool jazz, o fusion. Moura ao comentar sobre a sua influncia refere-se aojazz da dcada de 1940 e 1950, da poca das big bands, e a artistas como Charlie Parker, Dizzy Gillespie,Benny Carter, Cannonball Adderley, Duke Ellington e George Gershwin. Ojazzmuitas vezes associado idia de improvisao, pois em seu desenvolvimento, esta foi muito valorizada como parte da forma. Nocaso desta pesquisa referencia-se ao jazzcomo uma musica de improvisao e desta poca, at meados de1960 (ainda sem incorporar elementos fusion e do free jazz). Considera-se a sua adaptao msicabrasileira, tanto na utilizao de um repertorio provindo do jazz(Moura comentou sua experincia tocando
em gafieiras temas dojazzem ritmo de samba) quanto na maneira de improvisar, utilizando a fraseologiaprovinda do jazz e a concepo de se improvisar em uma forma inteira sem referir-se ao tema.
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8
ganhou de seu pai um clarinete e comeou a tocar no conjunto da famlia em bailes populares,
fazendo seus primeiros solos. O aprendizado se dava em casa:
J ouvia msica em casa mesmo, os msicos da banda se encontravam para
tocar, no tinham estas facilidades do disco de hoje que ns temos. (...) Tinhauma festa, um ensaio de banda ou de jazz-bandde modo que estava sempreouvindo. Quando eu me entendi por gente eu j tinha decidido que ia sermsico. Meu pai era clarinetista e quando eu comecei a me interessar pormsica queria tocar trompete, mas ele j tinha um instrumento na cabea dele
pra que eu estudasse(transcrio da entrevista concedida por Moura a GrandeOthelo noDVD"Paulo Moura - Une Infinie Musique", 1987).
Em 1944 a famlia Moura mudou-se para o Rio de Janeiro. Trs anos aps sua
chegada, Moura abandonou a escola para estudar teoria, solfejo e clarinete com o Prof. Joo
Batista, um dos mais solicitados clarinetistas da poca. Paralelamente aos seus estudos
trabalhava em bailes nos clubes da Tijuca, e nas gafieiras9 do Andara, Centro da Cidade,
Praa da Bandeira, Belfort Roxo e Pavuna. Freqentava o Ponto dos Msicos 10, em frente ao
Teatro Joo Caetano, na Praa Tiradentes, conseguindo dar incio carreira profissional.
Comeou a tocar o sax alto por exigncias profissionais.
(...) O saxofone mesmo eu comecei a tocar em Rio Preto com meu pai. Logonos ltimos meses que a gente tava morando em So Jos do Rio Preto, um dosmeus irmos que morava aqui no Rio de Janeiro mandou um saxofone pramim, l, em So Jos do Rio Preto, e a eu comecei a tocar. Mas durou pouco,
porque viemos pro Rio, eu tava com 12 anos e eu poderia at comear a tocarem algumas orquestras de subrbio, mas meu pai proibiu porque ficou com
9 A gafieira conhecida como um local, um salo com uma pista de dana, que possui uma orquestra ouum grupo de msicos que tocam msica com a funo de fazer danar, para a dana de salo. O termo
gafieira tambm utilizado para referir-se a um estilo, "samba de gafieira" ou "choro de gafieira", que temandamento, arranjo e rtmicas prprias para bailarinos (do baile de salo). O termo serve tambm paracaracterizar o msico e o bailarino: um msico de gafieira ou um bailarino de gafieira.Os bailes de gafieira surgiram no final do sculo vinte no Rio de Janeiro e, em sua origem, eram reservadosa negros. A origem da palavra gafieira viria de gafe. Gafe seria o tipo de comportamento que osfreqentadores destes bailes mantinham ao imitar os verdadeiros donos dos clubes e sales a elesarrendados. A msica tocada e danada nas gafieiras refletia uma ampla diversidade de influnciasincluindo o samba e o choro afro-brasileiros, as formas de dana francesas, o tango argentino e o swingnorte americano. A partir dos anos 20 nos palcos da gafieira, a formao tradicional do choro (violo,cavaquinho, flauta e pandeiro) assumiu alguns elementos das bigbands americanas com os trombones, ostrompetes, o baixo, a bateria e o piano (Lima, 2000:54). Ver captulo sobre a gafieira nesta pesquisa.
10 Nas dcadas passadas o Ponto dos Msicos era um local freqentado pelos msicos populares, que servia
para o encontro e possveis indicaes de trabalho. O ponto localizava-se na Praa Tiradentes, em frente aoTeatro Joo Caetano, Rio de Janeiro RJ.
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9
medo que eu pudesse pegar um caminho diferente, e entrar na boemia. (...) Eucomecei a tocar mesmo, eu devia ter uns 17 anos, comecei numa orquestra desubrbio. (...) Eu no estudei (sax) com professor nenhum, pois no havianenhum na poca, ento o que eu fazia era passar pro saxofone o que eu sabiade clarinete. E tambm nas viagens todas que eu fazia, eu perguntava pros
saxofonistas, como que se fazia. (...) Saxofonistas como o Moacyr Silva,como o maestro Zacarias, me deram algumas sugestes de como tocarsaxofone (entrevista concedida por Moura autora em julho de 2006).
Em 1951 teve o seu primeiro trabalho com carteira assinada, sendo contratado pela
Rdio Globo como primeiro saxofonista solista da Orquestra de Oswaldo Borba11. Trs meses
depois a orquestra se transferia para a TV Tupi, com um nmero reduzido de msicos. Ainda
tocando na TV Tupi, Moura serviu ao Exrcito na Cavalaria de Guarda de So Cristvo:o
ideal de meu pai foi realizado em plena paz, porque fui direto para banda de msica. O nico
disparo que ouvi foi acidental (site).12
Participou de gravaes com Zacarias e sua Orquestra13, mas em seguida deixou as
duas orquestras para acompanhar a Orquestra de Ary Barroso 14ao Mxico, em sua primeira
viagem internacional com durao de dois meses. Na volta ao Rio de Janeiro retomou os
estudos de clarinete para diplomar-se na Escola Nacional de Msica.
Moura aprendeu muito tocando nas orquestras de baile e de gafieira:
Eu tocava nestas orquestras, em bailes, sbado e domingo. Assim, vocchegava, sentava l na cadeira, o primeiro ou terceiro saxofone alto, e lia o quetinha ali, na verdade era um repertrio que, com o tempo, era parecido, entovoc chegava e acabava lendo. Fox, mambo, arranjos de samba, um msico ououtro tocava choro, mas no era muito comum no. s vezes tocavam choro nahora que a orquestra ia fazer um lanche. Alguns msicos que queriam fazersolos ficavam ali. Numa destas toquei choro com o Pixinguinha 15, foi no baile,
11 Oswaldo Borba (Osvaldo Neves Borba) nasceu em So Paulo no dia 18/7/1914. Foi regente, arranjador epianista.
12 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com
13 Zacarias (Aristides Zacarias) nasceu em 5/1/1911 na cidade de Jaboticabal SP. Regente, clarinetista ecompositor. Teve como professor o mestre de banda Pedro Moura, pai do saxofonista Paulo Moura.
14 Ary Barroso nasceu em 07/11/1903 em Ub SP e faleceu 09/02/1964 no Rio de Janeiro. Foi pianista,compositor e arranjador.
15
Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna ) nasceu em 23/4/1897 e faleceu em 17/2/1973, no Rio de JaneiroRJ. Foi compositor, orquestrador, flautista e saxofonista.
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10
foi a nica vez que ns tocamos juntos. Porque nesta orquestra o diretor eraamigo do Pixinguinha e ento o convidou pra tocar (entrevista concedida porMoura autora em 2006).
Moura comeou com seu ecletismo no incio de sua carreira, pois estudava msica
clssica, tocava nos bailes e gafieiras, e participava de grupos de jazz. Em concursos
promovidos por Paulo Santos, apresentador dos programas Concertos Sinfnicos e Em
Tempo de Jazz da Rdio MEC, Moura foi premiado como melhor clarinetista de msica
clssica e melhor saxofonista de jazz, atuando nos dois gneros. Participou das orquestras de
jazzno Brasil, com o Maestro Cip16, Dick Farney17e K-Ximbinho18, sempre como primeiro
saxofone nas grandes formaes lideradas por eles, no Teatro Municipal e no Copacabana
Palace. Em 1953 viajou para Nova Iorque com o trompetista Julio Barbosa e fez amizade com
Dizzy Gillespie19. Ele afirmava que o interesse pelo jazz(bebop) era comum para um seleto
grupo de msicos instrumentistas da poca.
Quando voltou ao Brasil comeou a se aproximar de msicos ligados ao movimento
da bossa nova:
Nesta poca eu ensaiava, nas tardes de sbado, em casa de minha famlia, naRua Baro de Mesquita. O Joo Donato fazia as composies e eu ensaiava ossopros; Johnny Alf s vezes nos visitava para mostrar algumas composies,como Rapaz de Bem. A bossa nova ainda no tinha estourado, mas j seanunciava no meio musical. Johnny Alf, que acabara de gravar seu primeirodisco solo, nos falava sobre um arranjador muito bom e desconhecido, o TomJobim (site).20
16 Maestro Cip (Orlando Costa) nasceu em 1922 na cidade de Itapira SP e faleceu em 3/11/1992 no Rio deJaneiro RJ. Foi saxofonista, maestro, orquestrador e compositor.
17 Dick Farney (Farnsio Dutra e Silva) nasceu em 14/11/1921 no Rio de Janeiro RJ e faleceu em 4/8/1987em So Paulo SP. Foi cantor, pianista e compositor.
18 K-Ximbinho (Sebastio de Barros) nasceu em 20/1/1917 na cidade de Taipu RN e faleceu em 26/6/1980 noRio de Janeiro RJ. Foi clarinetista, compositor, arranjador e regente.
19 Dizzy Gillespie, famoso trompetista de jazz norte-americano. Nasceu em 1917 e faleceu em 1993 naCarolina do Sul, EUA.
20 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.
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Desde cedo ele demonstrou a sua vontade de ser um msico solista e seguir com sua
carreira como solista:
Eu sempre achei que naquela poca era preciso ter solistas, eu lutava por isto
quando eu comecei a tocar. Porque quando eu comecei a tocar, isto eu at jfalei em alguma entrevista, sempre houve uma comparao entre a msicabrasileira e a msica americana. Porque a msica americana conquistou omundo e a msica brasileira continua s aqui no Brasil? Isto principalmentenos anos 50. Isto era uma coisa que muitos msicos comentavam (entrevistaconcedida por Moura autora em dezembro de 2007).
Em 1956 gravou o LP Moto Perptuo (1)21, de Paganini, seu primeiro LP 78
rotaes, que o levou aos programas de Flvio Cavalcanti e Silvio Santos na TV Tupi:
Foi uma faanha: tratei de desenvolver uma tcnica de respirao quepermitisse som contnuo, porque o Moto Perptuo perpetuo por isso, no despao para a respirao (site).22
A notoriedade permitiu Moura organizar sua primeira orquestra para se apresentar na
Rdio Jornal do Brasil, s segundas feiras noite. A orquestra tinha cinco saxes, quatro
trompetes e trs trombones, baixo e piano. Admirador das orquestras de Zacarias e de
Severino Arajo23, lideradas por clarinetistas, aos 23 anos Moura escrevia os arranjos,
escolhia o repertrio e ensaiava msicos que depois se tornariam, como ele, destaques da
msica instrumental. Neste mesmo ano de 1956 gravou umLPde 33 rotaes que, em 1959,
foi relanado com o nomedeEscolha e dance com Paulo Moura (4). Moura desfez a sua
orquestra devido a problemas comerciais, justificando que estas orquestras, nos moldes do
swing24para dana, j haviam dado espao para o rocknroll25(site).
21 Ao longo deste captulo ser feita uma numerao ao lado de todos os LPs e CDs gravados, para umalistagem do nmero de obras gravadas. Esta listagem ser apresentada no final deste captulo.
22 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.
23 Severino Arajo nasceu em 23/4/1917 na cidade de Limoeiro PE. regente, instrumentista, clarinetista ecompositor.
24 Como as de Benny Goodman, Artie Shaw e Woody Herman.
25 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com
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Ele resolveu buscar um emprego fixo de msico e comeou a trabalhar na Rdio
Nacional. Em 1957, j contratado pela Rdio Nacional, Moura tinha como colegas de trabalho
os maestros arranjadores Radams Gnattali26, Guerra Peixe27, Moacir Santos28e, entre outros,
msicos como o violonista Z Menezes29e Jacob do Bandolim30. Os irmos mais velhos de
Moura, Jos, Alberico e Waldemar, j eram contratados da Orquestra da Rdio Nacional
desde o incio da dcada de 50. Nesta poca tocou muito com o saxofonista e clarinetista Luiz
Americano31: Luiz Americano, que j havia gravado com Carmen Miranda (...) aprendi
muito com ele (site)32. Moura fazia aulas de arranjo com o maestro Moacir Santos, que
comeou a dividir com ele a tarefa de arranjos na Rdio Nacional, onde os dois trabalhavam.
Depois Moura prosseguiu, aprimorando-se como arranjador com o Maestro Cip.
Em 1958 Moura viajou para a Rssia com uma orquestra que ele mesmo montou.
Como a guerra fria estava no seu auge, nesses anos ps-segunda guerra mundial, Moura
achou dificuldade de arregimentar os msicos: muitos temiam perder a oportunidade de
trabalhar nos EUA.
26 Radams Gnattali nasceu em 27/1/1906 na cidade de Porto Alegre RS e faleceu em 3/2/1988 no Rio deJaneiro RJ. Foi compositor, arranjador, regente e pianista.
27 Guerra Peixe (Csar Guerra-Peixe) nasceu em Petrpolis RJ em 18/03/1914 e faleceu em 23/11/1983 noRio de Janeiro RJ. Foi violinista, pianista, orquestrador, professor e compositor.
28
Moacir Santos nasceu em 26/7/1926 na cidade de Vila Bela PE e faleceu em Pasadena (California, EUA),no dia 6 de agosto de 2006. Foi arranjador, compositor, regente e multi-instrumentista, destacando-se nossaxes tenor e bartono.
29 Z Menezes (Jos Menezes de Frana) nasceu em 6/9/1921 na cidade de Jardim CE. multi-instrumentista(toca violo de seis e sete cordas, violo tenor, bandolim, banjo, cavaquinho, viola de dez cordas, guitarraamplificada, guitarra portuguesa e contrabaixo), compositor e arranjador.
30 Jacob do Bandolim (Jacob Pick Bittencourt) nasceu em 14/2/1918 e faleceu em 13/8/1969, no Rio deJaneiro RJ. Foi bandolinista e compositor.
31 Luiz Americano (Luiz Americano Rego) nasceu em 27/2/1900 na cidade de Aracaju SE e faleceu em29/3/1960 no Rio de Janeiro RJ. Foi clarinetista, saxofonista e compositor.
32 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.
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O sax tenorista Moacyr Silva33ou Bob Fleming, pseudnimo que a gravadora sugeriu
para americanizar o seu produto fonogrfico, gravou umLPcom standardsamericanos, que
foi um sucesso nas vitrolas em festas de casas de famlia. Sem recursos para contratar as
grandes orquestras, Silva, que foi colega de Moura na Orquestra de Zacarias, gravou o disco
com uma formao pequena: piano, baixo e bateria. Este tipo de formao caracterstica de
grupos dejazz. De volta ao Brasil foi a vez de Moura seguir este mesmo caminho: gravou seu
primeiroLPSweet Sax(2).
Em 1959 Moura iniciou sua trajetria no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde
entrou por concurso e ganhou o primeiro lugar. Ele executou a Primeira Rapsdia de
Debussy. A partir de ento se tornou um especialista do repertrio erudito das salas de
concerto, peras e bals, tocando sob a regncia de Eleazar de Carvalho, Karabtchevsky,
Stravinsky, Leonard Bernstein, entre outros (site)34.
Neste mesmo ano lanou oLPTangos e Boleros (5), com seus solos no sax alto e
clarinete sobre playbacks de gravaes lanadas anteriormente por cantores como ngela
Maria, Albertinho Fortuna e Nuno Roland (site)35.
Em 1960 Moura gravou oLPPaulo Moura interpreta Radams Gnattali(3). As
composies foram especialmente escritas para ele por Gnattali, que o acompanhou ao piano:
Tudo comeou por causa de um ataque de cimes que eu tive. O Radamshavia feito um choro, o Bate Papo, para o grande tenorista Z Bodega. Ento,enchi-me de coragem e pedi-lhe que escrevesse um para mim tambm.
Surpreendeu-me com oito canes (site).Moura freqentou o Beco das Garrafas, na Rua Duvivier, em Copacabana, sede do
movimento da bossa nova. Junto com Sergio Mendes 36formou nesta poca o grupo Samba
33 Moacyr Silva nasceu no ano 1940 em Cataguases MG e faleceu em Conselheiro Lafaiete MG no dia13/08/2002. Foi saxofonista e produtor musical.
34 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.
35
Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.36 Sergio Mendes nasceu em Niteri, 11/02/1941. msico, arranjador, produtor fonogrfico e compositor.
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Rio que, quando se deu a clebre apresentao no Carnegie Hall em Nova York, mudou de
nome para Bossa Rio. Muitos estudiosos da bossa nova colocaram esta apresentao como
um marco para a expanso e reconhecimento desta msica no exterior.
Todo jazzista instrumentista brasileiro do incio da dcada de 60 incorporou abossa nova no seu estilo de tocar. Nos EUA aconteceu (isso) tambm, masaconteceu depois do festival de Bossa Nova que houve l no Carnegie Hall; euestive l com Sergio Mendes (Transcrio da entrevista por Moura a GrandeOthelo noDVD"Paulo Moura - Une Infinie Musique", 1987).
Nesta ocasio em Nova York foi gravado o LPCannonball Adderley37e o Bossa
Rio. Neste perodo Moura foi chamado para ser arranjador de Elis Regina, Toni Tornado e
Edison Machado, entre outros. O LPEdison Machado samba novo (1963) contm uma
das mais elogiadas gravaes de bossa nova instrumental, com quatro faixas de Moura como
arranjador, entre elas S por amor.
Em 1968 Moura gravou oLPHepteto (6)e em 1969 lanou oLPPaulo Moura e
quarteto (7). Lanou ainda mais dois LPs,Fibra (8) Pilantrocracia (9), todos estes,
com exceo do ltimo, relanados em 2007. Estes trabalhos tinham inteno de dar
seqncia a um som instrumental da bossa nova, inspirado na sonoridade dos Jazz
Messengerse Horace Silver (site)38.
Moura comeou a demonstrar sua insatisfao com a bossa nova, apesar de ter
participado bastante do movimento:
(...) da minha parte, me interessava por este movimento (bossa nova) e,quando terminava o meu trabalho, l por volta das onze horas, tocava na TV,na rdio, ento chegava ao Beco das Garrafas em Copacabana e me encontravacom msicos dejazz; Sergio Mendes era um deles. A bossa nova foi uma faseque parece que houve um equvoco (...) pensvamos que se estivesse atingindouma oportunidade de gravar e de se aproximar do pblico, mas talvez notenha se aproximado muito no (Transcrio da entrevista concedida porMoura a Grande Othelo noDVD"Paulo Moura - Une Infinie Musique", 1987).
37 Cannonball Adderley nasceu em 1928 na Flrida-EUA e faleceu em 1975 em Indiana - EUA. Foi umimportante saxofonista dejazz.
38 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.
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Sendo eu de origem africana, nunca tive dificuldade de entender o jazz, suasensibilidade, sua expressividade blue. Mas tive dificuldade em ser aceito
pela bossa nova. E por isso sempre tive com ela uma ligao ambivalente,admirao e afastamento. Como uma criao da zona sul do Rio, branca eestilizada, (a bossa nova) manteve em seus grupos apenas a presena de uma
bateria quase estilizada, excluindo ritmos e artistas negros de suas formaes.Os instrumentos percussivos, referncia ao samba, perderam a vez. Nada depandeiros, tambores, ganzs (...) nada que lembrasse a me frica. Nemmesmo pela cor de seus instrumentistas de sopro, como eu (Moura, Por queimaginei um encontro entre Gershwin e Jobim).
Nesses primeiros anos da dcada de 70, Moura foi instrumentista e regente da
orquestra que acompanhou Maysa, Milton Nascimento (no consagrado LP Milagre dos
Peixes) e Sergio Mendes.
A partir de 1975, Moura comeou a direcionar a sua carreira para a produo de choro
e samba e realmente investir numa carreira mais slida como solista. Mas ele j conhecia o
choro desde criana:
(...) O choro comeou a acontecer de novo no final dos anos 70. Foi em 70que eu voltei a tocar choro. Mas eu comecei mesmo com o meu pai; quando euvim pro Rio eu j sabia uma poro de choros que aprendi com o meu pai. Meu
pai tocava e eu aprendia. E tocava no baile, tanto que uma vez eu fui tocar com
ele num baile l, em So Jos do Rio Preto, num clube de negros, num clubeseparado. Rio Preto uma cidade muito difcil neste aspecto, acho que oEstado de So Paulo todo mais complicado que aqui. Ento, s vezes, agente era convidado pra tocar nestes clubes de sociedade normal, numa destasvezes a gente tava esperando o meu pai receber o dinheiro, esperava e novinha nunca. At que ele veio com os diretores do clube sentar l na mesa dosalo e pediram pra eu subir l no palco e tocar uma msica; a eu toquei umchoro, a eles levantaram e foram l pro escritrio de novo e pagaram. Porqueno queriam pagar a minha parte, porque acharam que eu tava ali, mas notocava (entrevista concedida por Moura autora em 2006).
Em 1976 lanou o LP Confuso Urbana Suburbana Rural (10), que foi com
produo de Martinho da Vila, com quem Moura j havia tocado em turns, tanto no Brasil
quanto no exterior. Este LP tem a caracterstica de misturar certo tipo de instrumentos de
percusso, mais utilizados no samba e na msica africana, a instrumentos de sopro e aos
chores. NesteLPMoura comeou a colocar suas composies: Dia de Comcio, Carimb
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do Moura, Dois Sem Vergonha (parceria com Wagner Tiso) e o Tema do Zeca da Cuca
(parceria com Tiso e Martinho).
Ele se afastou de seu cargo de msico contratado da orquestra do Teatro Municipal.
Sai do Teatro Municipal porque fui convidado para passar quinze dias emParis, escrevendo arranjos e tocando nos shows toda noite com Martinho daVila, e eram quinze dias. Eu estava no Teatro Municipal e no podia sair, maseu fui por minha conta mesmo e quando voltei aqui, o que aconteceu? Eu tiveque sair do Teatro, no perdi o meu emprego de funcionrio, tive que sertransferido, perdi o meu salrio. Passei esta poca muito mal, mas euacreditava que tinha um espao porque os festivais de jazz estavamaumentando. E eu no estava errado porque logo depois eu fui a muitosfestivais na Frana, mas levou algum tempo para acontecer (entrevistaconcedida por Moura autora em 2006).
Em 1977 participou de umLPde compilao, O Fino da Msica, com vrios artistas
como Canhoto e seu Regional39, A Fina Flor do Samba40e Raul de Barros41.
Seguindo sua carreira internacional fez uma apresentao no Lincoln Center, em Nova
York, e destacou-se no Festival Internacional de Jazz de Berlim. No incio dos anos 80
comps e dirigiu diversas trilhas para cinema: O Bom Burgus, de Oswaldo Caldeira, e
Parahyba Mulher Macho, de Tizuka Yamazaki.
Em 1978 Moura comps a trilha sonora para o filme A Lira do Delrio, de Walter
Lima Junior, tambm preenchida com trechos do LP Confuso Urbana, Suburbana e
Rural. Seguindo esta trajetria do choro, Moura participou de duas temporadas do Choro
na Praa (11), no Teatro Joo Caetano, ao lado de Waldir Azevedo, Abel Ferreira, Z da
Velha, Joel Nascimento e Copinha, cones do choro carioca.
39 Regional de choro liderado pelo cavaquinista Canhoto da Paraba, que substituiu o flautista BeneditoLacerda no comando do regional. Canhoto da Paraba (Francisco Soares de Arajo) nasceu em 19/5/1928na cidade de Princesa Isabel PB e faleceu em 24/4/2008 na cidade de Paulista PE. Foi violonista ecompositor. Atuou muito nas rdios acompanhando diversos cantores.
40 A Fina Flor do Samba foi o primeiro dos conjuntos de choro formado por jovens: na verdade metadesamba, metade choro. O conjunto surgiu a partir de uma proposta da cantora Beth Carvalho ao violonistaRui Quaresma para que montasse um conjunto para acompanh-la. Ele montou o grupo com uma propostaampla: alm de acompanh-la teria repertrio prprio. A Fina Flor do Samba trouxe repertrio de chorostradicionais tocados de forma diferente. O grupo durou pouco, mas funcionou como um ncleo decristalizao para outros jovens conjuntos de choro (Cazes, Henrique. 1997:142).
41 Raul de Barros nasceu em 25/11/1915 no Rio de Janeiro RJ. trombonista e compositor.
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Nesta poca Moura comeou a trilhar a sua careira solo mais direcionada gafieira:
J afastado do Teatro Municipal, decidi dar uma canja na Gafieira Estudantina,da Praa Tiradentes, e acabei ficando por oito meses. Iniciei, sem que meapercebesse disto, uma nova vertente musical na minha carreira, que tem se
recriado, permanentemente, desde ento (site).42
Em 1981, depois de uma extensa temporada nacional, Moura gravou o LP
ConSerto (12), com Arthur Moreira Lima no piano, Heraldo do Monte no violo e o
trovador baiano Elomar Figueira Mello no vocal. Neste momento, Moura aproximou-se de
uma sonoridade mais nordestina, aproximao que aconteceu tambm no seu ltimo CD
Samba de Latada, parceria com Josildo S, lanado em 2007.
Em 1983 Moura iniciou a parceria com Clara Sverner, que se estendeu em
apresentaes pelo Brasil e pelo exterior, gravando juntos uma srie de discos: Clara
Sverner e Paulo Moura (13), Vou Vivendo (17), Clara Sverner e Paulo Moura
Interpretam Pixinguinha (19) e Cinema Odeon (24), este ltimo apenas em edio no
comercial.
Em 1984 lanou oLPMistura e Manda (14), que reuniu um repertrio de choros e
msicas danantes de gafieira, com uma mescla de instrumentistas de diferentes gneros
musicais: trombone, cavaquinho, violes, bandolim, pandeiro. A esta formao tradicional de
choro, Moura acrescentou mais percusses: pandeiro, tant e repique de mo, geralmente
utilizadas em escolas de samba e no no choro. Ele utilizou mais dois cavaquinhos e uma
caixa de guerra na faixa Caminhando43, somando-se quatro percusses. Este tipo de
arregimentao foi uma inovao para a poca, era a concepo do choro com percusses
ligadas escola de samba.
Outra inovao em relao forma e improvisao deu-se na faixa Mistura e
Manda deste mesmo CD:
42 Moura, Paulo: site www.paulomoura.com.
43 Faixa 6 do CDMistura e Manda (composio de Nelson Cavaquinho).
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(No CD) Mistura e Manda, (tem) aquela introduo do Chorinho pra Voc,do Severino, que eu resolvi fazer uma introduo extensa, com improvisaes,aproveitando, vamos dizer, uma caracterstica do jazz, que a improvisao.Mas no pode ser jazz aquilo, porque a seqncia harmnica e aquelarepetio, aquele ostinato ali, aquilo uma seqncia de acordes de msica
brasileira mesmo. (...) No existia praticamente muita possibilidade pra fazeraquele esquema jazzstico de tema e improvisao, porque tambm j acho issoum pouquinho cansativo, e j era naquela poca. Ento por isso eu resolvi fazerali onde o msico pudesse improvisar, mas que no fosse dentro de umafrmula j antiga, que era tema e improvisao. O caso ali era um preldio.Ento, esta foi a (minha) inteno. E tambm acho que usei aquilo porque eu jconhecia, j vinha fazendojazzh muito tempo. Ento (utilizei) muita coisa dorecurso de forma, recursos de harmonia, contracanto, contraponto que o jazzdesenvolveu (entrevista concedida por Moura autora em 2007).
Moura afirmou que a identidade do choro estaria na maneira de tocar dos msicos:
O que eu pensava naquela poca eu penso at hoje. O Dino considerado athoje uma das grandes figuras do choro, um dos msicos que mais representama tradio (do choro), um forte representante. Eu imaginava assim, se colocasseuma guitarra eltrica na mo do Dino, no ia tocar rock, ia sair choro. Assimcomo o Joel Nascimento ou o Z da Velha, iam improvisar choro; ento pramim aquilo era choro (idem).
Em 1985, na Frana, Moura liderou uma banda formada por Z da Velha44
(trombone), Raphael Rabello45 (sete cordas) e Jaques Morelenbaum46 (cello). Neste mesmo
ano lanou o CD Brasil Instrumental (15), com Raphael Rabello e Z da Velha. Em
parceria com Alex Meirelles e Paulo Muylaert comps a trilha sonora do filme Rato Rei, de
Silvio Autuori. Em 1986 Moura gravou o CD Gafieira Etc. & Tal (16) pela Kuarup e
arregimentou o grupo com o qual tocava nas gafieiras do Parque Lage. Apresentou-se no Free
Jazz Festival lanando este CDe viajou para Paris e Nova York, ampliando o conceito de
msica de gafieira, que se tornou sua principal marca.
44 Z da Velha (Jos Alberto Rodrigues Matos) nasceu em 4/4/1942 na cidade de Aracaju SE. trombonistaespecializado em choro.
45 Raphael Rabello nasceu na cidade de Petrpolis RJ em 31/10/ 1962 e faleceu em 27/04/1995. Foi umgrande violonista e compositor.
46
Jaques Morelenbaum nasceu no Rio de Janeiro RJ, 18 de maio de 1954. violoncelista, arranjador,regente, produtor musical e compositor.
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Em 1988, no ano dedicado aos 100 anos de Abolio da Escravido no Brasil, a
convite da Secretaria da Presidncia da Repblica, Moura regeu a Orquestra Sinfnica de
Braslia num programa comemorativo, na Sala Villa-Lobos em Braslia, perante autoridades
nacionais e internacionais. No repertrio, Arredores da Lapa, uma pea de sua autoria
especialmente composta para a celebrao.
Gravou o CD Quarteto Negro (18), com Jorge Degas (baixo eltrico), Djalma
Corra (percusso) e Zez Motta (cantora e atriz). Com o repertrio deste CDapresentou-se
no Olympia de Paris. Neste mesmo ano Nelson Motta convidou Moura para o primeiro
show de lanamento de Marisa Monte, no Caneco. O encontro dos dois em Negro Gato
est registrado noDVDMarisa Monte. Em 1991 gravou o CDPaulo Moura eOciladoc
interpretam Caymmi (21), que foi mais tarde relanado por outra gravadora.
Gravou tambm o CDDois Irmos (20)com Raphael Rabello. Por esse CD, que
at hoje permanece inscrito nos catlogos internacionais de msica, Moura recebeu o Prmio
Sharp de Melhor Instrumentista Popular de 1992. Neste mesmo ano, na Alemanha, gravou o
CD Rio Nocturnes (22), com a participao de Jorge Degas (baixo) e do percussionista
alemo Andras Weiser, e o apresentou no Montreux Jazz Festival. Em 1993 lanou pelo
selo Tom Brasil o CDInstrumental no CCBB - Paulo Moura e Nivaldo Ornellas(23).
Nestes trs ltimos CDs est includa a msica Tarde de Chuva.
A partir deste momento houve uma entrada de Moura na vida pblica, em cargos e em
homenagens polticos, como reconhecimento de seus feitos e da sua carreira artstica. Em
1992 regeu a Sute Carioca, pea para Orquestra Sinfnica, grupo instrumental de jazz e
coral de 150 vozes infantis, que, a convite do prefeito Marcello Alencar, comps para a
inaugurao dos eventos da ECO-92 no Rio de Janeiro. Em 1996 assumiu a presidncia da
Fundao Museu de Imagem e do Som e tornou-se membro do Conselho Estadual de Cultura,
na gesto do governador Marcello Alencar. Foi convidado a integrar o Conselho Federal de
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20
Msica no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi homenageado no Festival
Internacional Paulo Moura em, So Jos do Rio Preto, sua cidade natal, por iniciativa do
prefeito Liberato Caboclo. Paulo Moura tambm nome de uma Praa em So Jos do Rio
Preto.
Ainda em 1996 gravou o CDPaulo Moura e Wagner Tiso (25), uma compilao
de interpretaes ao vivo de ambos, realizadas durante as excurses da srie Brasil
Instrumental CCBB para celebrar o seu prestgio e a sua carreira artstica.
Em 1998 gravou e lanou o CDPaulo Moura visita Gershwin e Jobim (26), com
um repertrio mesclado destes dois grandes compositores e iniciou uma srie de shows no
SESC Vila Mariana (So Paulo), na Sala Ceclia Meirelles (Rio de Janeiro) e nos Festivais de
Jazzde Macei e Tel Aviv (Israel). A vertente judaica de Gershwin transparece nos arranjos
klezmer 47feitos por Cliff Korman48e Moura.
No ano 1999, em apenas duas apresentaes no Teatro Carlos Gomes do Rio de
Janeiro, gravou ao vivo o CDPixinguinha: Paulo Moura e os Batutas (27)e recebeu o
Prmio Sharp de Melhor Grupo Instrumental e de Melhor Solista. Em 2000 ganhou o
primeiro Grammy Latino para Msica de Raiz por este mesmo trabalho. A faixa Urubu
Malandro foi includa como tema do protagonista da novela Torre de Babel da TV Globo.
Neste mesmo ano, junto com Cliff Korman, com quem mantm uma slida parceria,
lanou na Europa e nos EUA o CDMood Ingnuo - Pixinguinha Meets Duke Ellington
(28), com um repertrio que rene de Pixinguinha a Duke Ellington. Este CDfoi gravado em
1996 no Festival Cantar da Costa, em Gnova (Itlia). Em 2001 a mesma dupla lanou o
CD Gafieira Dance Brasil / The Paulo Moura & Cliff Korman Ensemble (31), que
47 Klezmer a contrao das palavras hebraicas kli e zemer, (instrumentos de melodia) e designava omsico judeu da Europa Oriental. Hoje em dia, o termo usado para designar a msica oriunda dos judeusashkenazim, da Europa Oriental, que engloba tambm as canes dishes do teatro judaico (retirado do site:http://www.myspace.com/zemerbrazil).
48
Clifford Korman nasceu em 14/03/1957 na cidade de Nova York. pesquisador, professor, pianista,arranjador e compositor.
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contm um encarte sobre a gafieira e as msicas tocadas na gafieira. Em 2006 saiu no Brasil
uma compilao remasterizada com um repertrio mesclado destes dois ltimos CDs com
Cliff Korman, chamada Gafieira Jazz (35).
Sobre o encontro com Cliff Korman:
O Cliff, encontrei nos EUA numa escola (...) l em Woodstock, (...). Eu fui lumas duas vezes. Na primeira vez ele tava lecionando e tinha uma turma muito
boa, do mundo inteiro, Europa, at do Brasil e, por acaso, no sei como foi, agente comeou a se aproximar e a gente conversava. Ele queria saber muito damsica brasileira, ele no falava nada de portugus e eu falava bem menosingls do que falo hoje. Mas a gente se entendia bem e pra mim foi at umasurpresa porque eu fiz alguns arranjos, ele tava querendo, ele quis estudarcomigo voicing, quer dizer, a maneira como as vozes so colocadas nos
acordes. E aquilo me surpreendeu, porque l nos EUA, eu, o pouco que eu sei,eu aprendi l. Na verdade no tivemos oportunidade de fazer isto, masencontramos, eu fui aos EUA duas vezes e numa delas eu ia fazer umaapresentao l, e ele foi o pianista convidado e ento renovamos a nossaamizade dali. E depois ele veio pro Brasil e comeamos a tocar juntos de
brincadeira, at que surgiu uma oportunidade de gravar um disco. Voc sabe,assim como difcil pra ns tocar a msica americana, pra eles uma dasdificuldades essa coisa do desenho rtmico, que muitas vezes essa dificuldade
pode ser superada at por um msico como o Cliff porque tem interesse embuscar isso. Ao contrrio de muitos msicos brasileiros que s vezes porestarem aqui mesmo ento eles preferem copiar americano (entrevistaconcedida por Moura autora em dezembro de 2007).
Lanou no comercialmente o CD Fantasia Urbana (29), acompanhado pela
Sinfnica do Teatro Municipal, tocando como solista a difcil pea Fantasia para sax soprano
e orquestra, de Villa-Lobos.
Em 2001 gravou o CD K-Ximblues (30), que recebeu o Prmio Rival-BR como
melhor produo independente:
Sempre admirei a obra de Sebastio Barros, auto denominado K-Ximbinho,desde o tempo que ele era o sax alto solista da Orquestra Tabajara, nos anos 50.Admirava sua versatilidade, a variedade de talentos, compor chorosorquestrais, tocar jazz, excelente clarinetista e vibrafonista, um artistamultimdia, diramos hoje em dia. Por isso, numa srie de shows no TeatroLeblon, organizados por Marco Pereira, gravei ao vivo K-Ximblues, comMauricio Einhorn, como convidado especial na gaita (site).
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Em 2003 lanou o CD Estao Leopoldina (32), cujo repertrio de sambas
instrumentais dos subrbios servidos pela rede ferroviria da Leopoldina, que foi indicado ao
Grammy de 2003.
Em 2005 Moura recebeu o Prmio de Melhor Solista Popular por sua interpretao no
CDEl Negro del Blanco (33), parceria com Yamand Costa49. Neste mesmo ano Moura
participou do documentrio Brasileirinho, dirigido por Mika Kaurismki e produzido por
Marco Foster, que tive enorme repercusso no Festival de Filmes de Berlim e em Marseille,
na Frana. um documentrio musical que mostra a histria e a vitalidade do choro. O filme
gira em torno do grupo Trio Madeira Brasil, formado por Marcello Gonalves, Z Paulo
Becker e Ronaldo Souza que, durante uma tpica roda de choro, prope o projeto de um
grande concerto para comemorar o Dia Nacional do Choro, reunindo importantes nomes do
gnero e alguns convidados especiais. O diretor acompanha os msicos durante os ensaios,
em shows diversos e em casa relembrando histrias do choro. O filme aborda o choro carioca
de vrias vertentes, como o cantado, o tradicional, o de gafieira (para a dana), demonstrando
um panorama amplo do choro contemporneo. Um dos destaques do filme Paulo Moura. A
autora desta dissertao participou como solista ao lado de Moura (na faixa 4 do menu extras,
noDVDdo filme), acompanhando Elza Soares (faixa 05 do filme) e na faixa 16 do filme, em
uma roda de choro na Barca do Choro.
Em 2006 foi lanado pela gravadora Biscoito Fino o CDDois Panos para Manga
(34), parceria com Joo Donato e, em 2007, pela gravadora Rob Digital, o CD Samba de
Latada (36), parceria com Josildo S, cantor e percussionista pernambucano. Em 2007
participou do CDControvento da cantora italianaMafalda Minnozzi.
Provavelmente esta extensa discografia ficar desatualizada ao trmino desta
dissertao. A capacidade produtiva de Moura impressionante: entre 1956 e 2007 ele teve
49 Yamand Costa nasceu em 24/01/1980 na cidade de Passo Fundo RS. violonista e compositor.
http://yahoo.imusica.com.br/artista.aspx?id=4610http://yahoo.imusica.com.br/artista.aspx?id=4610 -
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36LPs e CDs, ou seja, em 51 anos de carreira teve a produo de praticamente um CDe meio
por ano.
Abaixo um quadro com toda a produo fonogrfica de Moura. Alguns nmeros de
discos no foram encontrados: nem o prprio Moura possui toda a sua produo. No caso de
relanamento de CDs por outras gravadoras, as primeiras gravaes aparecem no alto, em
primeiro lugar.
Quadro 1: Produo fonogrfica de Moura
Nome do disco Gravadora Ano Numerao
1 - Moto Perptuo Columbia 1956 78 rpm2 - Sweet Sax RCA/Victor 1958 -
3 - Paulo Moura Interpreta RadamsGnattali
ContinentalWarner
19591995
LPP3078CD063011033-2
4 - Escolha e Dance com Paulo Moura Sinter 1959 LP
5 - Tangos e Boleros Chantecler 1962 LP
6 - Paulo Moura Hepteto - Mensagem EquipeAtrao
19682007
99825 vinilCD81923
7 - Paulo Moura e Quarteto EquipeAtrao
19692007
-CD81021
8 Fibra EquipeAtrao
19712007
-CD81022
9 Pilantrocracia EquipeAtrao
19712007 CD
10 - Confuso Urbana, Suburbana e Rural RCA 1976 103.0168 vinyl
11 - Choro na Praa - Waldir Azevedo, Zda Velha, Abel Ferreira, Paulo Moura,Copinha e Joel Nascimento.
Warner/Chappell 1977 KLP KM 5LP
12 ConSerto Kuarup 1981 KLP-00819 vinyl
e CD13 - Clara Sverner / Paulo Moura Selo ErgoEmi Angel
19831983 063422927
14 - Mistura e Manda Kuarup 1984 KCD-017
15 - Brasil Instrumental Banco do BrasilMusical
1985 TBUNI02
16 - Gafieira Etc. & Tal Kuarup 1986 KCD-024
17 - Vou Vivendo Emi-Odeon 1986 064422959 vinyl
18 - Quarteto Negro - Jorge Degas, ZezMotta, Djalma Corra e Paulo Moura.
Kuarup 1988 KLP-031 vinyl eCD
19 - Clara Sverner e Paulo Mourainterpretam Pixinguinha
Sony Music 1988 CBS 177040
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Quadro 1: Produo fonogrfica de Moura
Nome do disco Gravadora Ano Numerao
20 - Dois Irmos - Paulo Moura & RaphaelRabello
Caju Music 1992 517 259-2
21 - Paulo Moura e Ociladoc interpretamDorival Caymmi
ChorusBiscoito Fino
19922007
400.1225
22 - Rio Nocturnes Messidor 1992 CD3.35.800.043
23 - Instrumental no CCBB - Paulo Mourae Nivaldo Ornellas
Tom Brasil 1993 TBCCBB3
24 - Cinema Odeon - Clara Sverner e PauloMoura
Selo Ergo - 1996 No comercial
25 - Paulo Moura e Wagner Tiso Tom Brasil 1996 TBOC2
26 - Paulo Moura visita Gershwin & Jobim
- Rhapsody in Bossa(Relanamento) Pra l e pra c Paulo Moura trilha Jobim e Gershwin
Pau Brasil
Biscoito Fino
1998
2008
PB 0021
BF838
27 - Pixinguinha - Paulo Moura e OsBatutas
Rob Digital 1998 11-V195
28 - Mood Ingnuo - Pixinguinha MeetsDuke Ellington - Paulo Moura & CliffKorman Duo
Jazzheads 1999 JH 1137
29 - Fantasia Urbana para Saxofone eOrquestra Sinfnica
- 2000 No comercial
30 - K-Ximblues Rob Digital 2001 RD 04631 - Gafieira Dance Brasil / The Paulo
Moura & Cliff Korman EnsembleAlmonds &Roses Music
2001 Sem numerao
32 - Estao Leopoldina Rob Digital 2002 RM015
33 - El Negro del Blanco Biscoito Fino 2004 BF-585
34 - Dois Panos para Manga - Joo Donatoe Paulo Moura
Biscoito Fino 2006 BF-643
35 - Gafieira Jazz - Paulo Moura & CliffKorman
Rob Digital 2006 RD100
36 - Samba de Latada - Josildo S e PauloMoura
Rob Digital 2007 RD103
O quadro abaixo lista a obra de Moura que tem o repertrio, ou parte deste, dedicado a
choro, samba e gafieira. H alguns casos, como aquele do CDMood Ingnuo - Pixinguinha
Meets Duke Ellington, em que o repertrio dividido ao meio: metade de Pixinguinha e
metade de Duke Ellington.
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Quadro 2: Produo fonogrfica de Moura ligada ao choro e a gafieira
1. Confuso Urbana Suburbana e Rural2. Choro na Praa3. Vou Vivendo
4. Clara Sverner e Paulo Moura Interpretam Pixinguinha5. Dois Irmos - Paulo Moura & Raphael Rabello 6. Cinema Odeon7. Mistura e Manda8. Brasil Instrumental9. Gafieira Etc. e Tal
10. Instrumental no CCBB - Paulo Moura e Nivaldo Ornellas11. Paulo Moura e Ociladoc interpretam Dorival Caymmi12. Rio Nocturnes13. Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas
14. K-Ximblues15. Gafieira Dance Brasil16. Mood Ingnuo Pixinguinha Meets Duke Ellington17. Pixinguinha: Paulo Moura e os Batutas18. Estao Leopoldina19. El Negro del Blanco20. Gafieira Jazz - Paulo Moura & Cliff Korman
possvel dizer que, apesar de bem ecltico, Moura dedicou uma grande parte de sua
carreira ao choro e gafieira, e esta se concentrou nestes anos de meados de 70 ao incio do
sculo XXI. Na realidade, quase metade de sua obra gravada. So citados alguns CDs de
compilao onde Moura aparece como artista em uma faixa, mas no pretenso desta
pesquisa enumer-los todos. Existem diversos CDs e LPs de difcil acesso, que foram
lanados no exterior e no Brasil, que nem o prprio Moura possui. possvel notar tambm
que em toda a sua discografia houve algumas fases em que Moura se aproximou de
determinados parceiros musicais, especialmente de acompanhamento harmnico. Foram eles:
Clara Sverner, Wagner Tiso, Cliff Korman, Raphael Rabello, Yamand Costa, Joo Donato,
sempre em parcerias.
O quadro abaixo lista os filmes sobre Moura. Ficaram excludos os filmes em que
houve a sua participao como ator, j citados previamente; todos estes so citados em seu
site www.paulomoura.com, com exceo do filme Brasileirinho.
http://www.paulomoura.com/http://www.paulomoura.com/ -
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Quadro 3: Informaes sobre filmes que Moura participou
1. Paulo Moura, documentrio de Paulo Martins, 1978. Filmado no morro daMangueira, Rio de Janeiro, RJ. Produzido por Flvio Tambellini. Fotografia edireo Paulo Martins. Moura conta fatos de sua vida e apresenta algumas msicas.
2. Paulo Moura - Eclats Noirs du Samba, de Ariel de Bigault, 1987. Produzido noBrasil pela TF1 em associao com o Centre National de Cinmatographie -Ministre des Affaires trangres. apresentado por Grande Othelo, com
participao especial de Jos Rufino dos Santos, de Z da Velha e do GrupoCultural Fundo de Quintal. AA000200
3. Um Sopro de Brasil, projeto de Myriam Taubkin e Morris Picciotto, So Paulo,novembro de 2004. Um Sopro de Brasil documenta encontros musicais inditos,com a participao de 250 msicos, e tem depoimentos e concertos em torno dosinstrumentos de sopro inseridos na msica brasileira.
4. Samba de Latada. Making of do CDSamba de Latada, de Josildo S e PauloMoura, 2006.
5. Filme Brasileirinho, de Mika Kaurismki, Brasil / Finlndia / Sua, 2007. Mouratem destaque como um importante intrprete ligado ao choro contemporneo.
(site).
Ao longo das entrevistas Moura citou alguns saxofonistas que ele considerou contatos
importantes ao longo de sua vida: Benny Carter, Zacarias, Charlie Parker, Cannonball
Adderley, Pascoal de Barros, K-Ximbinho, Z Bodega, Moacyr Silva, Quincas, Jorginho,
entre outros.
A partir dos anos 90 Moura parou de tocar o sax alto e ficou apenas com o clarinete:
Fui seguindo os estilos na poca em que eles estavam sendo tocados, primeiroo Charlie Parker, segundo o Paul Desmond, depois, quando chegou o DavidSanborn, por volta dos anos 80, era um estilo em que se tocava com fora.Tinha que ter um preparo fsico para tocar daquele jeito, eu no queria maisacompanhar este estilo. Estraga a minha sade. Ento, junto com isso, euviajava, e carregava aquele peso, carregava saxofone, clarineta, comecei a
pensar em uma maneira de tocar s um instrumento. Isto foi at o final dosanos 90. Em 96 eu ainda tocava saxofone, parei por a em 97, na verdade fui
parando aos poucos. Na poca do disco em duo com o Raphael, eu aindatocava sax, mas a vi que eu poderia tocar um instrumento s (entrevistaconcedida por Moura autora em 2006).
Outra explicao que ele deu para o abandono do saxofone foi:
s vezes, eu brinco dizendo que eu deixei o sax porque ele mais pesado que
o clarinete, mas no acho que seja isto no, eu no queria ficar tocando uminstrumento que (...) hoje tem muito saxofonista, quando eu comecei a tocarno tinha tantos solistas de saxofone (idem).
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Moura fez uma anlise da sua carreira no final do processo de entrevista, comentando
sobre as suas escolhas e as fases musicais por que passou e ainda passa em sua vida:
Acho que consegui uma liberdade na minha carreira artstica a partir de 79.
At ento eu tocavajazzcom o pessoal e sentia que no tinha muita liberdadepara fazer o que eu gostava. Eu me afastei da orquestra do Municipal, deorquestras dejazz, passei por dificuldade econmica e andava s de nibus, fuime adaptando e acho que hoje eu tenho a minha liberdade, e acho que todomsico que quer a sua liberdade tem que passar por isto. Todos me achavammaluco: poxa esse cara no quer trabalhar, no quer ganhar dinheiro. ORaphael mesmo ficava preocupado porque eu no tava tocando com ningum,s com os meus conjuntos, meus grupos, e eu acho que vale a pena. Porque,num certo sentido, alguns msicos que continuaram gravando, acompanhando,fazendo trabalhos por encomenda, eles sumiram do mercado. Os arranjadores e
produtores que eram msicos, alguns deixaram, outros voltaram a tocar, mas a
maioria desapareceu, quer dizer, se aposentou. Talvez eu no tenha meaposentado at agora, primeiro porque eu gosto muito, outra porque eu fao omeu trabalho, o que eu gosto (...) (idem).
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