CÁLCULO I - UFPA
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CÁLCULO IProf. Marcos Diniz | Prof. André Almeida | Prof. Edilson Neri Júnior | Prof. Emerson Veiga | Prof. Tiago Coelho
Aula no 07: Teorema do Confronto. Limite Fundamental Trigonométrico. Teorema do Valor
Intermediário.
Objetivos da Aula
• Exibir o Teorema do Confronto e sua utilidade para veri�car a existência de uma limite;
• Enunciar o Teorema do Valor Intermediário e suas aplicações;
• Apresentar o Limite Fundamental Trigonométrico.
1 Teorema do Confronto
Teorema 1 (do Confronto ou do Sanduíche). Se f(x) ≤ g(x) ≤ h(x) para todo x em um intervalo aberto
que contenha p (exceto possivelmente p) e
limx→p
f(x) = limx→p
h(x) = L,
então
limx→p
g(x) = L.
A mensagem do Teorema do Confronto é que, se uma função que está �no meio� de outras duas funções
que tem o mesmo limite, então obrigatoriamente a função que está no meio terá o mesmo limite das outras
duas, daí este teorema é também chamado de Teorema do Sanduíche.
Exemplo 1. Seja f uma função de�nida em R tal que para todo x 6= 1, temos:
−x2 + 3x ≤ f(x) ≤ x2 − 1
x− 1.
Calcule limx→1
f(x) e justi�que.
Solução: Como:
• limx→1
(−x2 + 3x) = 2
• limx→1
x2 − 1
x− 1= 2
temos, pelo Teorema do Confronto, que:
limx→1
f(x) = 2.
�
Exemplo 2. Mostre que limx→0
x2. sen
(1
x
)= 0.
1
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Solução: Como
−1 ≤ sen
(1
x
)≤ 1
Multiplicando por x2 a desigualdade, temos:
−x2 ≤ x2. sen(1
x
)≤ x2
Como limx→0−x2 = lim
x→0x2 = 0, pelo Teorema do Confronto, temos:
limx→0
x2. sen
(1
x
)= 0.
Gra�camente, note que a função f(x) = x2. sen
(1
x
)é limitada superiormente pela função g(x) = x2
e limitada inferiormente pela função h(x) = −x2.
�
Exemplo 3. Suponha f : R→ R uma função real e suponha que, para todo x, |f(x)| ≤ x2.
(a) Calcule, caso exista, limx→0
f(x).
(b) f é contínua em 0? Por quê?
Solução:
(a) Pelas propriedades de módulo, temos:
|f(x)| ≤ x2 ⇐⇒ −x2 ≤ f(x) ≤ x2.
Como limx→0−x2 = 0 = lim
x→0x2, segue pelo Teorema do Confronto que
limx→0
f(x) = 0.
(b) Pela hipótese, |f(x)| ≤ x2 para todo x, logo, |f(0)| ≤ 0 e, portanto, f(0) = 0. Assim, utilizando o
resultado de (a), temos que
limx→0
f(x) = 0 = f(0),
ou seja, f é contínua em 0.
�O próximo exemplo nos diz que, se f tiver limite 0 em p e se g for limitada, então o produto f · g
terá limite 0 em p.
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Exemplo 4. Sejam f e g duas funções com o mesmo domínio A tais que limx→p
f(x) = 0 e |g(x)| ≤M para
todo x em A, em que M > 0 é um número real �xo. Prove que:
limx→p
f(x)g(x) = 0.
Solução: Note que:
|f(x)g(x)| = |f(x)|.|g(x)| ≤M.|f(x)|,
para todo x em A. Daí, para todo x em A
−M.|f(x)| ≤ f(x).g(x) ≤M.|f(x)|
Como limx→p
f(x) = 0, segue que limx→p
(M.|f(x)|) = 0 e limx→p
(−M.|f(x)|) = 0. Portanto, pelo Teorema
do Confronto, temos que
limx→p
f(x)g(x) = 0.
�
Exemplo 5. Calcule limx→0
x. sen(πx
).
Solução: Note que limx→0
x = 0 e∣∣∣sen(π
x
)∣∣∣ ≤ 1 (a função seno é limitada!). Pelo resultado obtido no
Exemplo 4, temos portanto que
limx→0
x. sen(πx
)= 0.
Gra�camente, temos:
�
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2 Limite Trigonométrico Fundamental
Usando as interpretações geométricas das funções seno, cosseno e tangente no círculo trigonométrico
(de raio 1) e o Teorema do Confronto, podemos realizar uma demonstração heurística (sem todo o necessário
formalismo e rigor das demonstrações, propriamente ditas) do importante limite, conhecido como Limite
Trigonométrico Fundamental:
limx→0
senx
x= 1.
Considere um arco x, 0 < x < π2 , na �gura abaixo:
Figura 1: Círculo trigonométrico
A argumentação se baseia na comparação das áreas de três regiões: o triângulo ABC, o setor circular
AB'C e o triângulo AB'C'. Observe que
Area(ABC) ≤ Area(AB′C) ≤ Area(AB′C ′) .
Utilizando as expressões das áreas
Area(ABC) =sen(x) cos(x)
2
Area(AB′C) =x
2
Area(AB′C ′) =tg(x)
2,
reescrevemos as inequações acima na forma
sen(x) cos(x)
2≤ x
2≤ tg(x)
2,
que por sua vez equivale a
cos(x) ≤ x
sen(x)≤ 1
cos(x),
ou ainda
cos(x) ≤ sen(x)
x≤ 1
cos(x). (1)
Observe �nalmente que as três funções que aparecem nas desigualdades (1) são todas pares e portanto as
mesmas desigualdades são válidas para x, −π2 < x < 0. Desta feita, as inequações (1) são válidas para
todo x ∈ (−π2 , 0) ∪ (0, π2 ). Estamos então em condições de utilizar o Teorema do Confronto: como, da
continuidade da função cosseno, temos que
limx→0
cos(x) = 1 e limx→0
1
cos(x)= 1 ,
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concluímos do Teorema do Confronto que
limx→0
senx
x= 1.
Após introduzirmos o conceito de derivada, veremos uma demonstração deste resultado mais direta,
porém menos intuitiva, utilizando a Regra do L'Hospital.
Exemplo 6. Calcule limx→0
sen(5x)
x.
Solução: Note que:
limx→0
sen(5x)
x= lim
x→05.sen(5x)
5x︸︷︷︸u
= 5 limu→0
senu
u= 5.
Ou seja:
limx→0
sen(5x)
x= 5.
�
Exemplo 7. Calcule limx→0
1− cosx
x2.
Solução: Note que:
1− cosx
x2=
1− cos2 x
x2· 1
1 + cosx=
sen2 x
x2· 1
1 + cosx.
Assim:
limx→0
1− cosx
x2= lim
x→0
sen2 x
x2· 1
1 + cosx=
1
2,
pois limx→0
sen2 x
x2= lim
x→0(senx
x)2= 12 = 1 e lim
x→0
1
1 + cosx=
1
2.
�
Exemplo 8. Calcule limx→0
sen(6x)
5x.
Solução: Seja u = 6x. Quando x→ 0, temos u→ 0 e, como
sen(6x)
5x=
1
5.6. sen(6x)
6x=
6
5.sen(6x)
6x=
6
5.senu
u.
Passando o limite, temos:
limx→0
sen(6x)
5x= lim
u→0
6
5.senu
u=
6
5.
�
Exemplo 9. Calcule limx→0
tg x
x.
Solução: Note que:tg x
x=
senx
x cosx=
1
cosx.senx
xSegue que:
limx→0
tg x
x= lim
x→0
1
cosx.senx
x= lim
x→0
1
cosx. limx→0
senx
x= 1
�
Exemplo 10. Calcule limx→π
senx
x− π.
Solução: Fazendo u = x− π, temos:
senx
x− π=
sen(u+ π)
u=
senu cosπ + cosu senπ
u= −senu
u.
Quando, x→ π, temos que u→ 0. Portanto:
limx→π
senx
x− π= − lim
u→0
senu
u= −1.
�
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3 Teorema do Valor Intermediário
Apresentaremos a seguir, uma propriedade importante das funções contínuas.
Teorema 2 (do Valor Intermediário). Suponha que f seja contínua em um intervalo fechado [a, b] e seja
N um número qualquer entre f(a) e f(b), em que f(a) 6= f(b). Então existe um número c em (a, b) tal
que f(c) = N .
O Teoreoma do Valor Intermediário (TVI) estabelece que uma função contínua, de�nida em um intervalo
[a, b], assume todos os valores intermediários entre os valores de f(a) e f(b). Geometricamente, o TVI diz
que se for dada uma reta horizontal qualquer y = N entre y = f(a) e y = f(b), como mostra a �gura
abaixo, então o grá�co de f intercepta a reta y = N pelo menos uma vez.
Figura 2: Ilustração geométrica do Teorema do Valor Intermediário
Uma das consequências importantes do TVI é que a imagem de um intervalo por uma função contínua
será sempre um intervalo. Este teorema tem importante generalização em espaços mais gerais que R,chamados espaços topológicos, onde o enunciado toma a seguinte forma: A imagem de conjuntos conexos
por funções contínuas é também um conjunto conexo (no nosso caso, do conjunto dos números reais, R,os conjuntos conexos são exatamente os intervalos!).
Uma importante aplicação do Teorema do Valor Intermediário se dá na questão da localização das raízes
de equações. A seguir, apresentaremos alguns exemplos.
Exemplo 11. Mostre que existe uma raiz da equação 4x3 − 6x2 + 3x− 2 = 0 entre 1 e 2.
Solução: Seja f(x) = 4x3 − 6x2 + 3x − 2. Queremos encontrar um c entre 1 e 2, tal que f(c) = 0.Tomando a = 1 e b = 2 e N = 0, temos:
f(1) = −1 < 0
f(2) = 12 > 0.
Logo, f(1) < 0 < f(2), isto é, N = 0 é um número entre f(1) e f(2). Como f é contínua, por ser
um polinômio, o TVI a�rma que existe um número c entre 1 e 2 tal que f(c) = 0. Em outras palavras, a
equação 4x3 − 6x2 + 3x− 2 = 0 tem pelo menos uma raiz c no intervalo (1, 2).
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Gra�camente, temos:
�Este exemplo que acabamos de apresentar sugere um caso particular do Teorema do Valor Intermediário,
conhecido por Teorema de Bolzano (ou do Anulamento):
Teorema 3 (de Bolzano ou do Anulamento). Se f for contínua e f(a) e f(b) assumirem sinais contrários,
então existirá c ∈ (a, b) tal que f(c) = 0.
Exemplo 12. Mostre que a equação x3 − 4x+ 8 = 0 admite pelo menos uma solução real.
Solução: Considerando a função f(x) = x3−4x+8, temos f(0) = 8, f(−3) = −7 e f é contínua, segue
do Teorema do Anulamento que existe pelo menos um c em (−3, 0) tal que f(c) = 0, isto é, a equação
x3 − 4x+ 8 = 0 admite pelo menos uma raiz real entre -3 e 0.
�
Resumo
Faça um resumo dos principais resultados vistos nesta aula.
Aprofundando o conteúdo
Leia mais sobre o conteúdo desta aula nas seções 2.3, 2.5 e 3.3 do livro texto.
Sugestão de exercícios
Resolva os exercícios das seções 2.3, 2.5 do livro texto.
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