Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve...

71
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos experimentais de metacontingências: seleção de diferentes produtos agregados MESTRADO EM PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO. SÃO PAULO 2010

Transcript of Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve...

Page 1: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Claudia Teixeira Gadelha

Evolução cultural em análogos experimentais de metacontingências: seleção de diferentes produtos agregados

MESTRADO EM PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO.

SÃO PAULO 2010

Page 2: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM

PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO

Evolução cultural em análogos experimentais de metacontingências: seleção de diferentes produtos agregados

Claudia Teixeira Gadelha

Orientadora: Profª. Drª. Maria Amalia Pie Abib Andery

SÃO PAULO 2010

Page 3: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Claudia Teixeira Gadelha

Evolução cultural em análogos experimentais de metacontingências: seleção de diferentes produtos agregados

MESTRADO EM PSICOLOGIA EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO.

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de MESTRE

em Psicologia Experimental: Análise do

Comportamento, sob a orientação da Profª.

Drª. Maria Amalia Pie Abib Andery.

Trabalho parcialmente financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES

SÃO PAULO 2010

Page 4: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

iv

Banca Examinadora:

___________________________________

___________________________________

___________________________________

Page 5: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

v

Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou

parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura: ________________________________ Local e Data: _______________

Page 6: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

vi

“Para minha mãe e minha vó... duas

mulheres incríveis.”

Page 7: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

vii

Keats provocou confusão com Newton por analisar o arco-íris, mas o arco-íris permaneceu tão lindo quanto sempre, e se

tornou para muitos outros ainda mais lindo. O ser humano não mudou porque olhamos para

ele, falamos sobre ele ou o analisamos cientificamente. Suas conquistas na ciência, governo, religião, arte e literatura

permanecem como sempre estiveram, para ser admiradas como se admira uma tempestade no

mar, as folhas que caem no outono ou o pico de uma montanha, bem longe de suas origens e intocados pela análise científica. O que muda,

de fato, é a nossa chance de fazer algo sobre o objeto de uma teoria. A análise de Newton

sobre a luz no arco-íris foi um passo na direção do laser. (Skinner, 1971, p.213)

Page 8: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

viii

AGRADECIMENTOS Rafael: meu amor. Esta palavra realmente descreve tudo, pois foi com você que eu realmente descobri o que é amar. Em você eu encontrei tudo: amigo, amante, conselheiro, pai, filho, irmão... Você foi tranqüilizante, debatedor, editor, motorista de viagens, ... Sem você não teria sequer vindo parar em São Paulo. Sem você, não teria conseguido viver em São Paulo. E por você foi tão difícil morar em São Paulo. Espero poder te retribuir todo esse amor que recebo sempre. Para a minha família, seja de sangue ou de coração:

Mãezinha, certamente você é a pessoa a quem eu devo mais neste mundo. Não apenas me deu a vida, mas me deu uma boa vida. Uma vida com oportunidades que poucos conseguem. Uma vida com direito de querer, de sonhar, e mais ainda, de tentar realizar. Tudo isso, eu devo a você que sempre me ajudou, me protegeu, me deu prioridade. Tudo isso eu devo a seu esforço, a sua compreensão e muitas vezes a seu sacrifício. Algum dia, quem sabe, consigo ser um pouquinho como você: uma mulher competente, guerreira, bonita, especial, extremamente especial.

Vovó, não há palavras que expressem o quanto você é importante para mim. Durante todos estes anos, me acolheu, e me tratou como uma filha. Afinal, não pode ser à toa que te chamam de “mãezinha”. Cuidou de mim de diversas formas, muitas vezes, tomando cuidado para que eu nem saiba... Portanto, eu agradeço tudo, e sei que nunca vou conseguir retribuir.

Albertina, não há duvidas que você é minha segunda mãe, e a Lu, a minha irmã. O amor incondicional de vocês sempre me fez sentir especial. Quem teve na vida a oportunidade de contar com mais de uma mãe? Ainda mais uma mãe que não se importava em me “estragar”. Cuidou de mim desde bebe e ainda continua me mimando. E quem pode contar uma irmã que só queria estar por perto?

Cynthia e Alberto, como descrever o apoio que vocês me deram durante este período? Vocês me compreenderam todas as vezes que eu “sumia”. Inevitavelmente depois aparecia uma ligação com o recado: “A Barbara quer falar com a tia Claudia”. E sempre, sempre, uma festa quando eu aparecia. A cada visita, uma dose de carinho. Me acolheram quando fiz cirurgia. Me apoiaram quando tive que tomar decisões.

Barbara, você ainda nem tem idade para ler esta mensagem, mas já tem um lugar cativo no meu coração. Sempre que estava em São Paulo lembrava de você, crescendo longe de mim... Pensava em voltar logo pra te ver, poder brincar um montão. Só um tempinho junto de você, me deixa com o coração enternecido, feliz, recuperado, pela sua felicidade de criança.

Cristina e Eduardo, vocês foram assunto do nascimento ao primeiro aniversário. As fotos de vocês já ficaram conhecidas em todo o mestrado. Não tem discussão, os dois são lindos, mas quem é mais? Vovô e vovó, mesmo não estando mais aqui, continuam no meu coração. Sempre lembrarei de tudo que significaram para mim

Papi e Marlene, obrigada por tudo o que fizeram para mim. Valeu por fazer questão da minha presença e pelo afeto incondicional.

Para toda a família Ciarlini-Teixeira: Já houve momentos que simplesmente desapareci do mapa. O burburinho na minha grande e coesa família italiana resultou na conclusão que eu estava trabalhando na minha dissertação. Obrigada por me receber sempre de volta com tanto carinho, por cuidar dos meus problemas enquanto estou longe, por cuidar dos que continuam por ai enquanto eu estive longe e preocupada. Em

Page 9: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

ix

especial, gostaria de agradecer algumas pessoas que me ajudaram com as minhas mudanças e todas as chatices que elas trouxeram consigo Tia Eliana, Tio Guga, Tia Monica, Dudu, Tia Sandra (eu acho que to esquecendo alguém).

Para as minhas primas, um agradecimento por ser também minhas amigas. Dona Bete, poucos falam bem das sogras. Acontece porque não têm uma sogra

como a senhora. Agradeço por todo o afeto, toda a atenção, e, mesmo, pela compreensão. Muitiiisimo obrigada por me abrigar em sua casa durantes todos os períodos que estava em Fortaleza, por cuidar de mim quando estava doente ou operada, e de realmente se importar com o meu bem estar.

A toda a família Britto de Souza (Dona Bete, Seu Aldemir, Fátima, Davi, Kariny, Silvério, Fernanda, Manu, Lucas) muito obrigada por tudo. Vocês me acolheram em momentos críticos da minha vida, me compreenderam, me desculparam, e muitas vezes me mimaram... graças ao apoio de vocês, tive condições de me preparar para o mestrado, de escrever para minha qualificação e para o meu deposito. Aos meus velhos amigos de Fortaleza:

Magê, Fernanda, Anice, a amizade de vocês sempre me foi muito cara. Mesmo com os nossos encontros raros, sempre estão supreendentemente presentes. De repente, uma visita. E quando menos se vê, no meio do tumulto do deposito... uma mensagem.

Carol, Letícia Carla, Flavia, minha turminha de analistas do comportamento com quem eu praticamente não converso sobre análise do comportamento. Me recebiam na base de sushi, sempre que chego na terrinha. Perdoaram todas as minhas falhas durante o mestrado e já estão ligando para me receber.

Aécio, ninos, meu grande amigo e incentivador para que eu seguisse a frente na análise do comportamento. Agradeço por tudo o que você fez por mim. Quem sabe algum dia a gente não bola um plano para conquistar o mundo? A minha querida família paulista. (Tia Inez, Alice, João Bosco, Dudu, Dani) Família mesmo. Tão família, que me receberam de braços abertos e depois compreenderam todas as minhas faltas durante este tempo curto de mestrado. Vim para morar com vocês, mas as condições não permitiram. Sei que vocês se lamentam tanto quanto eu... Mas sempre teremos Fortaleza... Aos professores do programa, eu agradeço o modelo de competência e dedicação que cada um de vocês me deu. Cheguei ao programa me sentindo no Olímpio, estou saindo com a certeza que ele existe mesmo. Cheguei sem saber como me referir a vocês (afinal vocês eram minhas referencias...) e saio chamando todos pelo nome mais familiar.

Quando cheguei em São Paulo, descobri o que significa “matar um leão por dia”, pois você Amália muitas vezes parece fazer isso. E neste final? Seis leões-dissertações? Como admiro a sua garra, e sua desenvoltura. Como tudo aquilo que é difícil se torna tão simples quando você as toca... E foi com toda essa sua elaborada simplicidade que tantas vezes me acolheu e compreendeu. Foi um privilegio ter você como orientadora, como professora, como mestre.

Téia, como escrever para você? Impossível. Não há palavras para descrever o quanto você foi importante para minha vida. O carinho, o conhecimento, o incentivo, a preocupação diante do meu aprendizado e a confiança de que levaria a algum resultado,

Page 10: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

x

as noites de orientação de monitoria, as discussões em sala de aula, os momentos em Fortaleza... Tudo isso e muito mais te fazem mesmo inesquecível.

Ziza, fico imensamente feliz de ter convivido com você. Santo dia que insisti em fazer a monitoria. O aprendizado foi imenso, mas o prazer de encontrar vocês toda semana foi melhor ainda. Foi uma imensa lição sobre a arte de ensinar. Nunca vou esquecer a confiança que você teve em nós. Você realmente é feita de milho!

Nilza, admiro bastante a forma delicada e discreta com que você resolve tudo. A gente nem sequer vê as coisas se acertando! O seu cuidado na leitura do meu texto de qualificação foi muito importante. Obrigada por continuar parte da minha banca, é um grande privilegio para mim.

Roberto foi tão bom conviver mais com você, mesmo que apenas em duas disciplinas. Que bom era o momento, em pesquisa supervisionada que você começava a falar! Garantia imediata de bons insights. Agradeço muito mesmo, por ter se disposto a ler e comentar o meu projeto. Queria bastante sua opinião.

Paula, ou melhor, Jóinha, obrigada pela preocupação com o bem estar de seus alunos. Você me deu pomada e indicação de remédios para a mesma coisa duas vezes (além de todas as vezes que me chamou atenção). Este tipo de cuidado é muito bonito e eu espero ser assim se um dia for professora. Aos Funcionários do programa

Didi, valeu por todas as vezes que você me ajudou nestes dois anos. Sem você não teria achado um cantinho pra morar, não teria passado tardes e mais tardes papeando no laboratório, não teria resolvido tantas coisas burocráticas em tão pouco tempo.

Mauricio, Neuzinha, Conceição, que alegria encontrar vocês no laboratório. Cada um de vocês me deu tanto carinho, especialmente na época da coleta com os lanches e almoços no laboratório.

Aos amigos que adquiri graças a este mestrado:

Déia, nossa historia começou em pesquisa supervisionada. Primeiras a apresentar, não pode ser! Depois disto, enfrentamos muitos outros obstáculos, cada uma de um lado, ambas se apoiando na outra. Mesmo em momentos muitos difíceis você me deu um ombro amigo e uma caminha quente na sua casa.

Mari, que grande apoio você foi para mim! Quantas vezes me ajudou, levando minhas roupas pra lavar, me dando colo, chamando pra sua casa ou pra sorveteria para conversar infindavelmente. Fico feliz de ter encontrado uma pessoa com tanto senso de justiça quanto você, por realmente ficar irada com as coisas erradas do mundo. Uma pessoas que se emociona com as coisas bonitas da vida e que sempre tem um plano traçado. Ainda bem que coincidiu a nossa vinda para São Paulo, eu estava certa (a mil anos atrás, quando a gente se conheceu) que a gente ia virar grandes amigas.

Vivis, ou melhor... amoooooor, Na primeira vez que concorremos a bolsa, eu precisava de folha pra imprimir meu projeto, e você me emprestou. Quando fui atrás de comprar algumas pra te devolver você disse: “Não se preocupa não, a gente vai conviver durante dois anos. Você vai ter muitas chances de retribuir.” Ainda bem, Vi, que realmente a gente conviveu (muitas vezes intensamente) estes dois anos. Ainda bem que recebi de você muito mais do que aquelas 4 folhas... Espero ter conseguido te retribuir à altura... afinal você foi incrível comigo.

Paulinha, eu nem tenho como agradecer a você. Esteve presente em todos os momentos críticos neste mestrado. Do momento em que cheguei em São Paulo, sozinha, perdida, e você me acolheu; ao ultimo momento, antes do deposito, quando você me

Page 11: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xi

hospedou, cuidou e ajudou. Aparentemente você foi nomeada de mãe da nossa turma e eu concordo plenamente com o titulo, e nem preciso preocupar com a repartição de atenção, pois voce realmente consegue ajudar a todos.

Gabes, os primeiros encontros da turma aconteceu na sua casa. Alias... não só os primeiros. Seu jeitinho mineiro sempre presente, em todas as reuniões, e as rodinhas de violão. Muito obrigada por me abrigar na fase final do deposito, foi maravilhoso poder contar com uma casa familiar e com amigos simpáticos.

Dalton, nem tive tempo de te contar uns sonhos... Dumas, Dimas, Rubens, Doghnuts, Dumbetz, ... eu acho que nunca vou

lembrar de todos de uma só vez. Quando vamos fazer a sessão pipoca para ver você atuando? (rs...) quando de novo você vai querer carona minha? Ah, já sei a resposta... vamos pro bar!

Rodrigo, man... Valeu por sua empolgação com as discussões. Valeu pelo sotaque baiano que você ainda conseguiu preservar e torna o nosso ambiente mais parecido com meu nordeste.

Ângelo, não poderia esquecer de você. Enquanto eu estava entrando no mestrado você estava depositando. Você foi peça fundamental no Grupo de Cultura quando eu ainda nem sabia o que era contingência social ou metacontingência. Foi graças a sua idéia de assistir Armas, Germes e Aço em um grupo que eu cheguei em meu problema de pesquisa.

Luiz Alexandre, você sempre foi muito mais que o namorado da Vivis. Suas visitas a São Paulo eram a garantia de diversão incomum em São Paulo. Valeu por todas as vezes que você nos abençoou com sua presença leve, alegre, nos levando a conversar sobre outras coisas do que o mestrado.

Luiz, eu te conheço há apenas um ano! E nem somos da mesma sala... Mas ninguém nota. Muito obrigada por ajudar a me hospedar e por todas as brincadeiras.

Mariana Chernicharo, sempre que te via, ficava feliz, pois sabia que ia ganhar aquele abraço. Muito obrigada pelo apoio nos momentos que estive cansada ou triste.

Tati Brilhante quantas coisas fizemos juntas? Monitoria, disciplinas, encontros para estudar, trabalhos, até encontro em sorveteria aconteceu... tudo isso foi “super, mega, legal”. O mestrado sem você teria sido bem diferente.

Laís, nossa amiguinha adotada. Foi um prazer encontrar você nas festas, nos cafés da tarde, e ate nas aulas da Téia. Valeu por ser tão prestativa, quebrando tantos galhos para mim.

Dhay, criancinhaaaa! Mal você já foi embora e eu já to com saudades. Lembro das coletas no primeiro semestre, das pizzas no Rhuda... engraçado, quanto mais eu penso, mais eu lembro da gente comendo juntas.

Natalie, sigo dizendo, desta vez publicamente, o quanto te admiro. Continuo impressionada com a sua desenvoltura e capacidade de dar conta de 500 coisas de uma vez só. Acho que toda a turma agradece por você existir.

Lygia, você brincou com esse brinquedo? Adorei te conhecer e poder ter a oportunidade de morrer de rir com o teu jeito irreverente.

Tati Gurgel, muito obrigada pela amizade. Adorei os grupos de estudo nos primeiros semestres e todas as conversas gostosas que tivemos. Bruno, foi bom ter assistido aulas com você. Sempre um questionamento diferente dos meus. A todos os meus colegas com quem, infelizmente, eu não convivi tanto quanto gostaria: Camila, Nelson, Ana, Rose, Felipe, e tantos outros... A todas as pessoas que ajudaram com a coleta dos dados:

Page 12: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xii

Ao Grupo de cultura, eu agradeço, todas as reuniões. E por todas eu incluo: todas aquelas dos corredores, todas as que aconteciam durante as coletas, todas aquelas aperreadas na hora do almoço (quanta gente querendo estudar a tanto custo, né?), todas as que estendiam no bar, e mesmo todas que aconteceram nos meus sonhos (rs...) Julia, Nicodemos, Nicolau, Clarissa, Tati Bri, Camila, Dhay, Dinalva... Quantas pessoas contribuíram para nos ajudar a conseguir participantes? Foram ao todo nove dias de coleta, entre as dissertações de nós cinco. Multiplicando... isso dá... uma conta muito complicada para fazer. Isto significa que a ajuda de vocês foi simplesmente fundamental para todas nós. Terezinha, muito obrigada pela presença constante enquanto estava escrevendo. Foi fundamental para me ajudar a concentrar.

Aos meus participantes, embora quase todos vocês sejam desconhecidos, foram fundamental na minha pesquisa. Sem vocês não teria nenhum gráfico, nenhuma linha escrita. Agradeço a participação e espero que gostem de finalmente descobrir quais eram “as regras desse jogo”. Aos meus leitores, obrigada por ler o meu trabalho. Foi fruto de muito aprendizado. Espero que sirva para algum propósito. Infelizmente não esta com a qualidade que eu gostaria, mas afinal... nunca esta!

Page 13: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xiii

TEIXEIRA, C.(2010) Evolução cultural em análogos experimentais de

metacontingências: seleção de diferentes produtos agregados. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Orientadora: Maria Amalia Pie Abib Andery Linha de Pesquisa: Processos Básicos – Comportamento Social e Cultura

RESUMO

O comportamento humano é explicado por três níveis de variação e seleção: filogenético, ontogenético e cultural. O conceito de metacontingências diz respeito a fenômenos do nível cultural e supõe que, de maneira análoga ao comportamento operante, contingências comportamentais entrelaçadas e seus produtos agregados são selecionados por conseqüências. O problema que dirigiu o presente estudo foi se conseqüências culturais de diferentes magnitudes poderiam selecionar contingências comportamentais entrelaçadas tais que produtos agregados de diferentes complexidades e probabilidades iniciais fossem selecionados. Dois participantes interagiam entre si para trabalhavam cada um em um computador em uma mesma sala, na qual podiam interagir livremente. Os participantes eram substituídos um a um quando atendiam a critérios de estabilidade de desempenhos previamente estabelecidos. Na tela dos computadores apareciam em cada tentativa, para cada participante, 4 números. A tarefa dos participantes consistia em inserir outros 4 números. As somas dos números que se dispunham em 4 colunas (cada uma com a combinação dos números inseridos pelo computador e pelo participante) levavam à produção de pontos caso resultassem em somas impares. As somas de todos os 4 números inseridos por cada participante apareciam na tela concomitante ao inserir dos números. Diferentes relações entre as somas dos dois participantes eram consequenciadas diferencialmente. Contingências sucessivamente mais estritas levavam a conseqüências de maior magnitude. Assim, quando: a) soma dos números inseridos por um participante era maior que a soma dos números inseridos pelo outro, cada participante recebia 100 bônus; b) Se a soma dos números inseridos por um participante fosse o dobro do outro, cada participante recebia 200 bônus e; se c) a soma de um fosse o quadrado da soma do outro, cada participante recebia 300 bônus. O primeiro experimento foi conduzido com 14 gerações compostas de estudantes universitários. Dois “confederados” (participantes que conheciam as contingências) foram inseridos para assegurar a ocorrência dos três produtos agregados. Os três tipos de produtos agregados foram selecionados, um após o outro. O segundo experimento contou com 22 gerações de participantes, sem a inserção de confederados. Os dois primeiros produtos agregados foram selecionados simultaneamente, após 7 gerações. Entretanto, nas gerações seguintes houve variação com relação ao produto agregado predominante. Ambos os experimentos tiveram resultados que indicaram a seleção de/por metacontingências. Palavras-chave: metacontingências, evolução cultural, análise experimental do comportamento, comportamento social.

Page 14: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xiv

TEIXEIRA, C.(2010) Cultural evolution in experimental analogs of metacontingencies: the selection of different aggregate products. Master’s thesis. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Advisor: Maria Amalia Pie Abib Andery Research line: Basic Processes – Social Behavior and Culture

ABSTRACT Human behavior is accounted by three levels of variations and selection: filogeny, ontogeny and cultural. Metacontingency is a concept that deals with cultural level phenomena. It postules, in analogy with operant behavior, that interlocking behavioral contingencies and their aggregate product are selected by its consequences. This research has been driven by the following inquiry: Will IBCs and aggregate products of different inicial probability be selected by differential magnitudes of cultural consequences?. In a multiple trials procedure, two undergraduate students would work together, on a computer task (even though each one worked on a different computer) and could interact freely. When the stability criteria was attained, one of the participants would be replaced by another. In each trial, 4 numbers would appear on each computer screen. The participants’ task consisted in typing in another 4 numbers. When all the sums of both numbers (given by the computer and typed by the participant) resulted in odd numbers, points were earned by the participant. During the trials, the sum of the numbers typed in by the participant would appear in a box. Different relations between the sum of the numbers typed in by each participant would lead to different consequences. Contingencies less and less probable would lead to bigger and bigger magnitude of consequences. Therefore, when: a) the sum of the numbers typed in by one participant was bigger than the sum of the other, each participant would earn 100 bonus; b) the sum of the numbers typed in by one participant was twice as large as the sum of the other participant, then each would earn 200 bonus; and c) the sum of the numbers typed in by one participant was equivalent to the other one’s squared, then each would earn 300 bonus. The first experiment was composed of 14 generations. Two non-naïve participants were brought into the experimental session to make sure that all three aggregate products would occur. All three types of aggregate products were selected, one after the other. The second experiment was composed of an all-naïve 22 generations. The two first aggregate products were selected simultaneously, after 7 generations. However, variations in the main aggregate product proceded in the following generations. The results of both experiments indicated selections of/throughout metacontingencies. Key words: metacontingencies, cultural evolution, experimental analysis of behavior, social behavior.

Page 15: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xv

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1

EXPERIMENTO 1 ......................................................................................................... 12

MÉTODO ................................................................................................................... 12

Participantes ........................................................................................................... 12

Equipamento, material e setting ............................................................................. 12

Procedimento .......................................................................................................... 13

Recepção dos Participantes ................................................................................ 13

Condições experimentais .................................................................................... 14

Fase1: Seleção do comportamento operante .................................................. 14

Fase 2: Seleção da(s) CCE(s) e produto(s) agregado(s) 1, 2 e 3 ................... 17

Fase 3: Mudança de geração e seleção das CCEs e produtos agregados 1, 2 e

3 ...................................................................................................................... 21

RESULTADOS .......................................................................................................... 23

EXPERIMENTO 2 ......................................................................................................... 32

MÉTODO ................................................................................................................... 32

Participantes ........................................................................................................... 32

Equipamento, Material e Setting ............................................................................ 32

Procedimento .......................................................................................................... 32

Recepção dos participantes ................................................................................. 32

Condições experimentais .................................................................................... 33

Fase 1: seleção do comportamento operante .................................................. 33

Fase 2: Seleção da(s) CCE(s) e produto(s) agregado(s) 1, 2 e 3 ................... 33

Fase 3: Mudança de geração e seleção das CCEs e produtos agregados 1, 2 e

3 ...................................................................................................................... 33

RESULTADOS .......................................................................................................... 35

DISCUSSÃO .................................................................................................................. 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 48

ANEXOS ........................................................................................................................ 51

Page 16: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xvi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Fluxograma dos termos que compõem uma metacontingência. ...................... 3

Figura 2: Disposição dos materiais na sala experimental. Os dois computadores da

esquerda não foram utilizados. ....................................................................................... 13

Figura 3: Elementos de um quadrante em uma primeira tentativa ................................ 15

Figura 4: Fluxograma da tentativa individual. .............................................................. 16

Figura 5: Diagrama da tela do computador de cada um dos participantes durante uma

primeira tentativa hipotética na fase de grupo. ............................................................... 18

Figura 6: Bônus acumulados e produtos agregados ao longo dos ciclos. ..................... 24

Figura 7: Pontos e bônus acumulados para cada participante e dupla ao longo das

sucessivas fases e gerações. ............................................................................................ 26

Figura 8: Ciclos sem produção de bônus (n) e total de bônus ganho por participante em

cada geração. .................................................................................................................. 27

Figura 9: Duração das tentativas por participante ......................................................... 28

Figura 10: Soma dos números inseridos pelos participantes em relação a produção de

bônus. .............................................................................................................................. 30

Figura 11: Bônus acumulado e tipos de produtos agregados emitidos ao longo das

gerações. ......................................................................................................................... 36

Figura 12: Pontos e bônus acumulados a cada ciclo/tentativa por participante e geração.

........................................................................................................................................ 38

Figura 13: Total de bônus ganho por participante em cada geração e número total de

ciclos que não levou a obtenção de bônus por geração. ................................................. 39

Figura 14: Latência de resposta para cada participante e obtenção de bônus ao longo

dos ciclos/tentativas. ....................................................................................................... 41

Figura 15: Soma dos números inseridos pelos participantes em relação a produção de

bônus. .............................................................................................................................. 44

Page 17: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

xvii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Critérios de obtenção de bônus e valor do bônus de acordo com a liberação

de diferentes produtos agregados. .................................................................................. 20

Tabela 2: Esquema dos participantes e das gerações do primeiro experimento. As

células mais escuras destacam os confederados. ............................................................ 22

Tabela 3: Participantes e gerações do segundo experimento.. ...................................... 34

Page 18: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

INTRODUÇÃO

Segundo Skinner, o comportamento humano é explicado por três níveis de

variação e seleção. Estes envolvem a seleção natural e suas contingências de

sobrevivência, a seleção comportamental e suas contingências de reforçamento, e a

seleção cultural com suas “contingências especiais mantidas por um ambiente social

evoluído” (Glenn, 1988, p. 10). No caso do presente estudo, focaremos no terceiro

nível de variação e seleção – a seleção cultural.

Glenn propôs (1986, 1988, 1991, 2003, 2004a, 2004b, 2006) o conceito de

metacontingências como uma unidade possível de análise no caso da seleção cultural.

Recorreremos ao segundo nível de variação e seleção para esclarecer as bases sobre as

quais as metacontingências se fundamentam.

O comportamento operante se baseia na constatação que respostas de dado

organismos são sensíveis às suas conseqüências. Quando uma resposta é seguida

contiguamente e contingentemente por um reforçador, a recorrência de respostas (desta

classe), em situações semelhantes, se torna mais provável. Desta forma, o organismo

opera sobre o ambiente.

Segundo Skinner (1953/1965), comportamento social é também comportamento

operante, e envolve “o comportamento de duas ou mais pessoas, uma em relação à

outra, ou, em conjunto, em relação a um ambiente comum” (pp.297). Assim,

comportamento social envolve mais de uma contingência de reforçamento. O conceito

de contingências comportamentais entrelaçadas pode ajudar a dar sentido ao que

entendemos por comportamento social:

Quando tratamos de comportamento social, o recurso à contingência de reforçamento como unidade de análise continua sendo possível e, talvez, heurístico, desde que se considere a necessidade de descrevermos, pelo menos duas contingências, pois, ao lidarmos com comportamento social, estamos já lidando com a interação de, no mínimo, duas contingências. Em outras palavras, o comportamento social envolve o que chamamos de contingências entrelaçadas. (Andery, Micheletto e Sério, 2005)

As contingências comportamentais entrelaçadas, ou CCEs, são compostas pelo

comportamento de dois ou mais indivíduos, sendo que ao menos um destes serve de

ambiente para o comportamento do(s) outro(s). “Elas foram chamadas de ‘contingências

entrelaçadas’ para chamar atenção para o duplo papel que o comportamento de cada

Page 19: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

2

pessoa desempenha nos processos sociais – o papel de ação e o papel de ambiente

comportamental para a ação de outros” (Glenn 1991, p.56).

CCEs são consideradas a base de metacontingências. Quando produzem um

produto agregado e recorrem sistematicamente devido a conseqüências culturais a elas

contingentes, fala-se em seleção. Neste caso, “o conjunto inteiro de contingências

entrelaçadas repetidamente sendo replicadas é a unidade cultural de análise” (Glenn,

1988, p. 11).

Como Skinner, em 1953, já enfatizou, contingências comportamentais

entrelaçadas (CCEs) podem produzir efeitos que dependem exatamente deste

entrelaçamento, ou seja, dos comportamentos de todos os participantes envolvidos e que

não são produzidos diretamente pelos comportamentos individuais. Tais efeitos são

chamados aqui de Produto Agregado (PA) e consistem em mais do que a soma dos

efeitos dos comportamentos dos participantes, caso agissem sozinhos. Nas

metacontingências estes produtos, ou conseqüências ambientais dependentes destes

produtos, selecionam tais CCEs (e seus produtos agregados), no sentido de que tais

entrelaçamentos recorrem, independente dos participantes particulares, ou seja, mesmo

ocorrendo a substituição de indivíduos.

Neste sentido, conseqüências – chamadas por Glenn (2004) de conseqüências

culturais - retroagem sobre o entrelaçamento, tornando-o mais ou menos provável de

ocorrer no futuro, promovendo sua recorrência inclusive entre gerações de indivíduos.

Tal processo, chamado de seleção por/de metacontingências, descreve, segundo Glenn

(2003, 2004) a seleção de muitas práticas culturais. Assim como a seleção por

reforçamento explica a emergência de repertórios individuais, a seleção por

metacontingências explica a emergência de práticas culturais. Segundo Vichi, Andery e

Glenn (2009):

Metacontingências são definidas como contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs) que produzem um efeito agregado (que não poderia ser produzido de outra forma), que é a condição (critério) para a seleção da CCE e seu efeito (CCE - efeito) por um ambiente externo (chamado de conseqüência cultural). Fazendo um paralelo com o comportamento operante (ou contingências de reforçamento) metacontingências são consideradas a unidade de análise (embora não seja a única) de práticas culturais.

Page 20: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

3

Na seleção de/por metacontingências, os processos de retenção e transmissão

ocorrem através de “aprendizagem social”. Mais especificamente, estes processos

envolvem imitação, modelação e instrução e, em última instância da disposição de

contingências que mantêm os comportamentos individuais necessários para que

ocorram as CCEs.

Resumindo, podemos decompor a contingência cultural, de forma esquemática,

nos seguintes termos:

Figura 1: Fluxograma dos termos que compõem uma metacontingência.

Diversas práticas culturais podem se desenvolver em um sistema social. De

acordo com Skinner (1953) e Diamond (2004), quando uma determinada prática cultural

coloca o grupo praticante em posição de vantagem em relação a outros grupos, esta

prática será mais provável de ocorrer em ocasiões futuras.

O aspecto mais importante de uma cultura assim definida é o de que ela evolui. Uma prática surge como uma mutação; ela afeta as probabilidades de o grupo vir a solucionar seus problemas; e se o grupo sobreviver, a prática sobreviverá com ele. Ela foi selecionada devido à sua contribuição para a eficácia daqueles que a praticam. Eis outro exemplo desse processo sutil chamado seleção; ele possui os mesmos traços familiares. As mutações podem ser casuais. Uma cultura não carece de ter sido planejada e sua evolução não revela um propósito. (Skinner, 1974, p. 174)

Podemos considerar que a seleção de uma metacontingência apenas ocorre

quando uma variação fortuita, ou planejada, aparece. Entretanto, estas variações podem

ser pouco freqüentes e pouco prováveis. Como então explicar a evolução de padrões

culturais que envolvem complexas e múltiplas CCEs e seus produtos agregados? Afinal

o mundo em que vivemos está repleto de práticas culturais extremamente refinadas.

Page 21: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

4

A evolução destas práticas culturais, no entanto, não se deu de forma linear ou

planejada. Como podemos supor que formas de trabalho coordenado tão

extraordinariamente refinadas surgiram? Partindo do escopo teórico da analise do

comportamento, e do conceito de metacontingências, podemos supor que seleções

sucessivas (no nível cultural) ocorreram de forma cumulativa, tornando possível que um

arranjo extremamente improvável de ocorrer em um momento se torne preponderante

em outro devido a sucessivas seleções de diferentes produtos e CCEs. Isto é o que

chamaremos de evolução cultural.

Entretanto, qual é o mecanismo que possibilita a ocorrência desta evolução

cultural cumulativa? Quais condições ambientais devem preponderar? Qual tipo de

sistema social possui condições para o desenvolvimento desta? Como prever ou incitar

uma evolução nas práticas culturais que observamos?

A resposta a questões sociais até hoje complicadas e controversas pode ser

encontrada pela investigação científica sobre o comportamento humano e as leis que o

regem.

Estudos recentes têm mostrado as potencialidades do conceito de

metacontingências para a compreensão dos mecanismos culturais e evolução cultural.

Alguns estudiosos aplicaram o conceito na análise de práticas culturais

existentes em ambiente não experimental (Todorov, 2005; Todorov e Moreira, 2005,

Sampaio 2008). Outro conjunto de estudos tem enfocado a possibilidade de

experimentação sobre práticas culturais em laboratório. Alguns destes experimentos,

selecionados por sua relação com o presente trabalho, serão destacados.

Baum, Richerson, Efferson e Paciotti (2004) investigaram como regras

participam da transmissão cultural. Um grupo de quatro indivíduos escolhia, em

sucessivas tentativas, entre dois cartões – de cor azul ou vermelho - que continham

anagramas para ser resolvidos. A resolução de um anagrama em cartão vermelho levava

a um ganho de $0,10 para cada participante. A resolução de um anagrama azul era

seguida de $0,25 por participante e um time-out de 1, 2 ou 3 minutos. Os anagramas

levavam em torno de 1 minuto para serem resolvidos pelos grupos e possuíam em

média a mesma dificuldade. Exigia-se que as escolhas fossem feitas em comum acordo

entre os integrantes. Em um delineamento A-B-C, cada condição se caracterizava por

uma duração de time-out (1, 2 ou 3 minutos durante toda uma sessão). A cada 12

minutos o participante mais antigo do grupo era substituído por um participante

ingênuo. Baum e cols (2004) chamaram cada grupo de uma geração. Inicialmente não

Page 22: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

5

se constatou uma preferência evidente por cor alguma. Entretanto, paralelamente ao

aumento da duração do time-out, a prática de escolhas de cartões vermelhos foi se

tornando dominante.

Interessado no estudo de pequenos grupos, Wiggins propôs um experimento

para testar a hipótese de que “os papéis” e “a estrutura” de grupos seriam determinados

por duas fontes de causação. Conseqüências ditas “internas” seriam parcialmente

determinantes na coordenação dos participantes do grupo. Entretanto, estas seriam

secundárias às exigências de “conseqüências externas” que incidissem sobre o grupo

como um todo. Sob um enfoque da análise do comportamento, Vichi (2004; 2005),

propôs um experimento com procedimento semelhante, analisando os dados através do

conceito de metacontingências proposto por Glenn (2004).

No trabalho de Vichi havia dois grupos de quatro participantes em 12 sessões de

uma hora. Cada sessão consistia em 30 ciclos de apostas coletivas e de distribuição dos

ganhos.

Uma quantia de fichas, era entregue a cada participante no início de cada sessão

experimental. Um cartaz com uma matriz ficava à vista dos participantes e do

experimentador. A matriz continha oito linhas e oito colunas, cujas interseções

encerravam os sinais ‘+’ e ‘-’. No início de cada ciclo, os participantes eram solicitados

a fazer individualmente suas apostas e, em seguida, decidiam conjuntamente por uma

linha. O experimentador revelava em seguida o resultado da “jogada”, ao indicar uma

coluna. Caso a intercessão da linha com a coluna recaísse sobre um símbolo “+”, o

grupo recebia o dobro do total das apostas. Caso contrário, se a intercessão incidisse

sobre um símbolo “−”, recebiam a metade do total das apostas. Em seguida os

participantes distribuíam o montante recebido entre si, sendo que parte deste montante

(definido pelo grupo ou pelo experimentador em cada ciclo) devia sempre ser colocado

em uma “caixa que servia de banco”. Os participantes foram informados que o dinheiro

da caixa seria resgatado apenas no final da coleta. Os resultados das apostas eram

determinados levando-se em consideração a maneira com que o grupo havia dividido os

ganhos no ciclo anterior.

Na condição experimental A, a distribuição igualitária dos recursos ganhos na

aposta anterior, levava o grupo a ganhar a aposta seguinte. Na condição B a distribuição

desigual das fichas determinava ganho da aposta no ciclo seguinte. Cada grupo

experimental foi submetido a um delineamento de reversão.

Page 23: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

6

Os resultados de Vichi (2004, 2005) e Vichi, Andery e Glenn (2009)

demonstraram que as conseqüências culturais manipuladas (VI) foram responsáveis pela

mudança nos produtos agregados produzidos (VDs) e, possivelmente, nos padrões de

interação entre os participantes (CCEs). Vale notar que ao final do experimento nenhum

dos participantes sabia descrever as contingências experimentais.

Considerando que a transmissão entre gerações de uma dada prática cultural

deveria ser constatada quando falamos de metacontingências, Martone (2008) conduziu

quatro experimentos com base no procedimento proposto por Vichi. Nos estudos de

Martone os participantes repartiam um computador equipado com um software

desenvolvido especialmente para os experimentos. Cada participante iniciava o

experimento com a mesma quantidade de dinheiro e um montante estava disponível no

banco (apresentados na tela do computador). Durante os quatro experimentos, os

participantes podiam utilizar o banco para saques e depósitos da forma como

desejassem. Após cada participante definir suas apostas, o grupo decidia por uma fileira

escolhida de uma matriz (7x7). O computador, então, revelava a coluna selecionada.

Caso a célula resultante fosse um sinal ‘+’, esta piscava de verde e o dobro da quantia

apostada pelo grupo ficava disponível para ser distribuído entre os participantes. Por

outro lado, se recaísse sobre uma célula com sinal ‘-’, esta piscava de vermelho e o

valor apostado era reduzido à metade e então distribuído. As conseqüências

experimentais eram idênticas ao experimento de Vichi (2004). Embora tenha conduzido

quatro experimentos com reversões e trocas de gerações, Martone afirmou que os dados

coletados se mostraram demasiadamente inconsistentes para afirmar categoricamente

que se estabeleceu um análogo experimental de metacontingência. Uma das razões

apontadas por Martone para tal resultado foi o critério de mudança de fase/geração

adotado.

Ainda com o objetivo de produzir análogos experimentais de metacontingências,

outro procedimento foi desenvolvido no Laboratório de Psicologia Experimental da

PUC-SP, no Grupo de Análise do Comportamento e Cultura.

O primeiro desses estudos foi conduzido por Pereira (2008). Duplas de

participantes (estudantes universitários) trabalhavam simultaneamente com um “jogo”

de computador. As condições experimentais envolviam primeiramente a manipulação

de conseqüências individuais para as respostas operantes de cada participante: a tarefa

dos participantes consistia em inserir números de forma a relacioná-los com números

liberados pelo computador. Em um segundo momento, acrescentou-se conseqüências

Page 24: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

7

contingentes a um produto agregado dos comportamentos de ambos os participantes:

bônus eram acrescidos contingentes à relação entre as somas dos números inseridos por

cada participante.

A tela do computador possuía dois quadrantes (um para cada participante). Na

extremidade superior de cada quadrante havia oito janelas, dispostas em quatro colunas.

Nas janelas superiores, em cada ciclo, apareciam números de 0 a 9 randomicamente

liberados pelo computador. Nas janelas inferiores o participante inseria números entre 0

e 9. Em um espaço rotulado “SOMA” apareciam os valores da soma dos números

inseridos pelos participantes. Um botão rotulado “OK” deveria ser pressionado pelo

participante para terminar uma tentativa. Na parte inferior do quadrante uma área

denominada “pontos” e a outra “bônus” se destinavam a prover as conseqüências

experimentalmente programadas, respectivamente referentes às respostas operantes de

cada participante e ao produto decorrente da relação entre suas respostas. Entre ciclos

havia um ITI.

Na fase inicial o primeiro participante recebia 10 pontos quando as somas dos

números digitados em cada janela e dos números liberados pelo computador nas janelas

da mesma coluna eram números ímpares. Se, por outro lado, uma ou mais somas fossem

par, uma luz vermelha piscava em torno das janelas da coluna correspondente, soava um

tom de erro e o participante perdia 1 ponto para cada coluna considerada errada. Na

segunda fase, outro participante foi introduzido na sessão. Embora os participantes

possuíssem controle total e individual sobre o seu quadrante, ambos dividiam o

computador, repartindo também teclado e mouse. A contingência experimental para

cada participante era a mesma, e as tentativas de ambos eram apresentadas

simultaneamente, mas independentemente.

Na terceira fase, a contingência comportamental permanecia a mesma das fases

anteriores, acrescentando-se outra conseqüência contingente ao produto agregado dos

comportamentos dos participantes. Quando a soma de todos os números inseridos pelo

primeiro participante era maior que a soma de todos os números inseridos pelo segundo

participante, um tom de acerto soava, a janela de bônus piscava e 30 créditos de bônus

eram acrescidos para cada participante. Assim, a inserção dos números passava a

produzir dois conjuntos de conseqüências independentes: 1) ganho ou perda de pontos

individuais e 2) ganho de bônus para os dois participantes, caso a soma dos números do

participante do quadrante esquerdo fosse menor do que a do direito. Na quarta fase,

Page 25: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

8

Pereira (2008) substituiu sucessivamente o participante mais antigo por um participante

ingênuo, completando seis gerações.

Os resultados indicaram que, neste primeiro experimento, houve duas vezes a

seleção das CCEs e seus produtos agregados em gerações distintas. Entretanto, posto

que a segunda seleção ocorreu durante a última geração, não houve tempo de verificar

uma transmissão intergeracional. Durante o experimento os participantes acreditaram

que não poderiam conversar, o que impossibilitou a instrução do novo participante

durante as trocas de gerações.

Diante destes resultados, Pereira (2008) realizou outro experimento com

modificações pontuais no procedimento: aumentou a magnitude dos bônus e tornou sua

liberação mais saliente (com novos sons). As instruções iniciais também foram

modificadas: o experimentador passou a apresentar os participantes ingênuos aos

experientes, sugerindo que ficassem à vontade e informando-os que podiam conversar.

Novamente foi possível observar contingências comportamentais entrelaçadas

(coordenação entre participantes) mantidos pela contingência cultural em duas gerações

diferentes (não sucessivas). Entretanto, não foi possível verificar a manutenção das

CCEs através de gerações. Embora inconclusivos, ambos os experimentos de Pereira

demonstraram que este delineamento era promissor na investigação de fenômenos

culturais especialmente de metacontingências.

Bullerjhann (2009), Caldas (2009) e Oda (2009) propuseram – conjuntamente -

investigações experimentais utilizando este procedimento. Bullerjhann aumentou o

número de sujeitos que participavam de cada geração. Caldas inseriu um análogo de

extinção depois de selecionada a metacontingência. Oda analisou o comportamento

verbal dos participantes.

Com o objetivo de aumentar as chances de observar um análogo de

metacontingência, várias mudanças foram arranjadas em relação aos experimentos de

Pereira. Primeiramente, modificou-se o critério de mudança de fase/geração, tornando-o

mais rigoroso: um mínimo de 20 tentativas, com 80% de acerto nas ultimas dez, e 100%

nas últimas quatro. Além disto, participaram dos experimentos mais jovens aumentando

o número de gerações de cada experimento. Em cada nova geração/fase, os bônus eram

zerados para que todos os participantes (tanto aos novatos como aos experientes)

tivessem à mostra quantias equivalentes. Cada indivíduo passou a utilizar um

computador diferente e a disposição dos quadrantes foi modificada em relação ao estudo

de Pereira (2008), embora cada um contivesse os mesmos elementos.

Page 26: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

9

Os ciclos nos estudos de Bullerjhann (2009), Caldas (2009) e Oda (2009)

funcionavam da mesma forma que no estudo de Pereira (2008). As contingências

experimentalmente programadas para o comportamento operante foram semelhantes. As

somas de cada uma de quatro colunas deveriam ser ímpares para produzir pontos. A

relação entre as somas de todos os números inseridos por cada participante seria o

critério para a obtenção de bônus (em Caldas e Oda, ∑Pímpar < ∑Ppar , e em Bullerjhann

∑Pposição1≤ ∑Pposição 2 ≤ ∑Pposição 3 ≤ ∑Pposição 4).

Bullerjhann (2009) realizou um experimento com gerações de quatro

participantes. Este experimento foi realizado em quatro fases. Primeiramente,

introduziu-se um participante para a seleção do comportamento operante. Após atingir o

critério, um segundo participante foi introduzido. Acrescentou-se a condição

experimental na qual bônus eram contingentes à produção do produto agregado (PA).

Caso a soma do primeiro participante (P1) fosse menor ou igual a do segundo (P2), o

computador liberaria bônus contingentemente. Quando esta primeira díade atingiu o

critério um terceiro e, então, um quarto participante foi introduzido no grupo. As CCEs

foram assim se tornando mais estritas e complexas, pois cada participante que entrava

deveria também adequar a soma de seus números à contingência cultural. A última fase

se caracterizou pela mudança de gerações. Foram realizadas ao todo, 10 gerações. O

primeiro participante atingiu o critério de mudança de fase rapidamente. Nas primeiras

três gerações com conseqüência para o produto agregado, os participantes produziram

recorrentemente bônus mas não pontos. Apenas na quarta geração, voltaram a emitir

respostas que levavam a obtenção de pontos, conciliando suas respostas de modo a

produzir ambos os tipos de créditos.

Para demonstrar que o efeito obtido no Experimento 1 foi devido a contingência

cultural manipulada, um segundo experimento foi proposto por Bullerjhann (2009), em

parceria com Caldas (2009). Neste experimento, gerações sucessivas com dois

participantes foram submetidas à contingência experimental na qual os produtos das

respostas operantes (somas ímpares) eram reforçados com pontos, mas não havia

contingências diferenciais (bônus) para os produtos agregados (relações entre as somas

dos números digitados pelos participantes). Não havia, portanto, conseqüências

culturais. Como resultado, não foi encontrado um padrão sistemático de emissão de

produtos agregados observados nos outros experimentos conduzidos por Bullerjhann e

Caldas, confirmando o papel da VI manipulada (conseqüência cultural contingente a

PAs e CCEs).

Page 27: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

10

Caldas (2009) conduziu outros três experimentos que confirmam o efeito da

variável independente bônus sobre a produção de produto agregado. No entanto,

descreveremos apenas aquele que se refere a um análogo de extinção: um análogo de

metacontingência se estabeleceu e após a oitava geração, retirou-se a liberação de

bônus. As demais conseqüências contingentes às CCEs e seus produtos agregados

também foram descontinuadas (tom de acerto e erro e o piscar das bordas em torno das

janelas).

Apenas no final da segunda geração ocorreu a seleção cultural. Os participantes

produziam somas iguais em sucessivas tentativas, atendendo o critério de liberação de

bônus, padrão este que foi transmitido às outras gerações. Nas gerações de participantes

que ocorreram após a retirada da VI ocorreu bastante variação nas CCEs e uma

diminuição na produção sistemática do produto agregado. Caldas (2009) concluiu que a

apresentação contingente de bônus e outras conseqüências culturais (como os tons e

contornos) foram responsáveis pela mudança nos padrões das CCEs, ou melhor, na

produção de um dado produto agregado.

Oda (2009) analisou o comportamento verbal destes participantes. Para tanto,

foram categorizadas as primeiras e últimas verbalizações de cada tentativa, durante a

seleção, transmissão e extinção da metacontingência. Emissões verbais categorizadas

como tendo função de tato predominaram. Além disto, respostas verbais categorizadas

como mando foram emitidas predominantemente pelos participantes mais experientes,

no início das tentativas. Como este operante verbal tende a ser emitido sob controle de

uma privação ou controle aversivo (Skinner, 1957/1992, pp.35-6), podemos considerar

que, provavelmente, os participantes mais antigos estavam sob controle da contingência

experimental (pontos e bônus ganhos contingente a respostas operantes) e buscavam

levar o outro participante a emitir as respostas necessárias para satisfazer as exigências

da contingência. Portanto, tanto tatos como mandos eram emitidos para auxiliar na

emissão das respostas necessárias para satisfazer a contingência por parte dos novos

participantes e provavelmente se constituíam em elos das cadeias de respostas

necessárias para produzir as conseqüências experimentais.

Os experimentos em laboratório que envolvem metacontingências são poucos e

exploratórios, mas os resultados produzidos até o momento são muito ricos e

promissores, assim, este trabalho seguirá a linha de pesquisa de Pereira (2008),

Bullerjhann (2009), Caldas (2009), e Oda (2009).

Page 28: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

11

Muitas práticas culturais que identificamos cotidianamente são produzidas por

produtos agregados altamente improváveis. A partir desta constatação, buscamos

produzir um análogo experimental que replicaria uma das possibilidades de origem e

processo de seleção de práticas culturais que envolvem a produção e produtos agregados

que parecem improváveis ou por demais complexos para serem selecionados. Produtos

agregados podem ser selecionados, desde que contingências culturais sucessivamente

mais restritas sejam selecionadas ao longo das gerações em um sistema social.

Portanto, o presente estudo buscou verificar se um análogo experimental de

metacontingências se estabeleceria e se seria possível acompanhar um análogo de

evolução cultural ao longo de gerações de participantes. As seguintes questões dirigiram

os estudos aqui relatados:

1. Haveria a seleção de um ou mais produtos agregados se conseqüências

culturais de maiores magnitudes forem feitas contingentes a produtos agregados de

diferentes probabilidades (e CCEs correspondentes)?

2. Se ocorresse a seleção de mais de um produto agregado, que produto

agregado predominaria? Que produto agregado ocorreria primeiro?

3. Qual o efeito das mudanças de gerações sobre os produtos agregados

selecionados e sobre a seleção de novos produtos agregados?

Para responder a estas questões dois experimentos foram conduzidos. A grande

diferença entre eles foi a participação de “confederados” no Experimento 1,

Confederados eram participantes que conheciam as contingências experimentais e

participavam do estudo, sem que os parceiros soubessem, com a tarefa de tornar mais

provável a produção de produtos agregados menos prováveis.

Page 29: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

EXPERIMENTO 1

MÉTODO

Participantes O presente estudo contou com a participação de 12 jovens universitários do

estado de São Paulo e 2 estudantes do mestrado da PUC-SP (chamados de

confederados) .

Os participantes foram recrutados pelas pesquisadoras em suas universidades

(pátio, sala de aula, Centros Acadêmicos, empresa Junior, laboratórios, etc.) ou através

de indicações (e-mails, telefone, indicação de amigos). Os interessados foram

informados que a pesquisa consistia em um jogo de computador e que receberiam, de

acordo com o seu desempenho, pequenas quantias de dinheiro. Maiores informações

não eram dadas, dizendo-se apenas que a pesquisa possuía como objetivo avaliar a

interação de pessoas em situações grupais. Os alunos que desejavam participar

preenchiam uma folha de recrutamento (Anexo 1) que auxiliava os experimentadores a

organizar os participantes. Posteriormente, agendava-se individualmente a sessão

experimental.

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética da PUC-SP.

A participação de todos os participantes foi autorizada através da assinatura de

um termo de consentimento livre-esclarecido (Anexo 2). No termo de consentimento os

participantes foram informados acerca do caráter voluntário de sua participação,do o

caráter confidencial da identidade dos participantes, de sua divulgação para fins

estritamente acadêmicos e a da disponibilização dos dados ao fim do estudo.

Equipamento, material e setting

Quatro salas do Laboratório de Psicologia Experimental da PUC-SP foram

utilizadas:

Sala 1 – Sala de espera. Ambiente no qual os participantes da pesquisa

permaneciam enquanto aguardavam antes de ser chamados para o experimento. Esta

sala era equipada com mesa e cadeiras. Lanches e revistas estavam à disposição dos

participantes.

Page 30: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

13

Sala 2 – Sala Experimental. Servia para a coleta de dados. Contava com uma

mesa grande, quatro cadeiras, quatro computadores (embora apenas dois tenham sido

utilizados neste experimento), uma filmadora com tripé e um gravador. Os participantes

sentavam-se frente a frente, cada um utilizando o seu computador, como diagramado na

Figura 1.

Figura 2: Disposição dos materiais na sala experimental. Os dois computadores da esquerda

não foram utilizados.

Sala 3 – Sala do Computador Servidor. Acomodava os experimentadores,

servindo de posto de observação e comando do software e demais materiais eletrônicos.

Sala 4 – Sala de Feedback. Era utilizada como local para o “feedback” pós-

experimento de cada participante, quando os créditos acumulados eram trocados por

dinheiro.

Outros materiais e equipamentos

Uma nova versão do software utilizado por Bullerjahann (2009), Caldas (2009)

e Oda (2009) foi desenvolvida por Thomas Woelz. O software entitulado “meta 3” foi

compartilhado com Amorim (2010), Brocal(2010) e Vieira (2010).

Procedimento

Recepção dos Participantes

Os participantes eram recepcionados e conduzidos à sala de espera. Solicitava-se

a assinatura termo de consentimento livre e esclarecido. Possíveis dúvidas eram

sanadas.

Page 31: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

14

Identificaremos os participantes pela letra P seguida de um número

correspondente a ordem de sua entrada na sessão experimental. Neste primeiro

experimento, dois confederados foram introduzidos no experimento (P4b e P13).

Uma folha com exercícios de aritmética (Anexo 3) com contas simples foi

entregue aos participantes na sala de espera. Neste estudo, escolheu-se pedir para todos

os participantes fazer as contas de matemática (diferentemente dos outros em sua linha

de pesquisa). Desta forma, poderíamos verificar se os participantes possuíam o

repertorio matemático para desempenhar, de forma adequada os requisitos da

contingência experimental. Estes foram assim instruídos:

Por favor, gostaríamos que você realizasse estas contas. Em seguida

você deve esperar ser chamado. Fique a vontade enquanto espera. Os

lanches e revistas são cortesia nossa.

Condições experimentais

Fase1: Seleção do comportamento operante

Esta primeira fase experimental teve por objetivo produzir seleção de

comportamento operante que envolvia a produção de pontos como conseqüência

reforçadora.

No início do experimento o participante P1 era introduzido na sala experimental.

e o Experimentador lia as seguintes instruções:

Por favor, apertem a barra de espaço. Na tela do computador você

pode ver o seu quadrante. Os números das janelas de cima são

apresentados pelo computador. Sua tarefa é inserir números entre 0 e

9 nas janelas debaixo(apontar as janelas na tela). Você pode utilizar

as setas para modificar a janela selecionada (apontar as teclas do

computador). Ela ficará um pouco acima das outras. Com o auxilio do

teclado numérico você pode inserir o numero desejado (apontar

teclados numéricos). Você pode fazer alterações nos seus números até

que se sinta seguro da sua decisão. Então, clique com o mouse no

botão OK.

Os espaços completados corretamente produzirão pontos e/ou bônus.

Pontos e bônus serão somados no final e todos os seus créditos serão

trocado por dinheiro. Cada 20 pontos ou bônus no jogo equivalerão a

R$0,01.

Ocasionalmente, haverá a introdução ou a substituição de um

participante, que será avisado pelo computador. Eu então voltarei aqui. Cada vez que um novo participante for introduzido, você

receberá um “Vale-Créditos” que especifica quanto você acumulou.

Ao final da sua participação seus pontos e bônus acumulados serão

trocados pelo valor em dinheiro.

Page 32: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

15

As conversas entre os participantes são permitidas durante todo o

experimento.

O encerramento da sua participação será avisado pelo computador.

Caso questões ou dúvidas venham a surgir com relação ao

procedimento, esta folha com cópia das instruções pode ser

consultada.

Bom trabalho!!!

Após o experimentador retirar-se, o participante dava inicio à sessão. Um

diagrama da tela inicial do computador é apresentado na Figura 3. Este é o que

doravante será chamado de quadrante.

Figura 2: Diagrama de um quadrante.

Figura 3: Elementos de um quadrante em uma primeira tentativa (adaptado de Bullerjhann,

2009)

Em cada quadrante havia oito janelas, dispostas em duas fileiras de quatro

colunas. Em cada tentativa, as janelas da fileira superior eram preenchidas por números

– sempre de 0 a 9 - gerados randomicamente pelo computador. A apresentação destes

era acompanhada de um som característico.

As janelas da fileira inferior com fundo branco no início de cada tentativa eram

preenchidas pelo participante. O espaço “soma” era preenchido na medida em que o

participante preenchia as janelas. A cada digitação de um número em uma das janelas o

programa gerava “automaticamente” o resultado da soma com os demais números nas

janelas da fileira inferior.

Page 33: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

16

O contador da esquerda começava com 200 créditos de PONTOS enquanto o

contador de BÔNUS estava zerado.

Com a apresentação da tela e dos números preenchidos na fileira superior

começava uma tentativa. O participante respondia digitando números de 0 a 9 em cada

janela inferior com o auxilio das setas do teclado. O participante podia mudar números

nas janelas selecionadas. Cada número digitado fazia o número correspondente aparecer

na janela ativa. A inserção de um número sobre outro previamente inserido substituía o

anterior. As janelas podiam ser preenchidas em qualquer ordem e as substituições

podiam ser executadas a gosto. Contingente à troca de janela selecionada e de inserção

de cada número um som característico soava.

Figura 4: Fluxograma da tentativa individual.

Quando as quatro janelas tinham números, o botão “OK” aparecia no canto

superior esquerdo do quadrante (Figura 4). O clique do mouse sobre o botão dava início

à liberação das consequências programadas.

As somas dos números apresentados pelo computador e dos números digitados

pelo participante em cada uma das quatro colunas (A, B, C, D) estavam relacionadas às

conseqüências designadas como contingentes ao comportamento operante dos

participantes. Duas conseqüências experimentalmente programadas foram postas em

efeito:

Page 34: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

17

a) Caso as somas dos números fornecidos pelo computador e dos números digitados

pelo participante fossem ímpares em todas as quatro colunas, um som característico

de acerto era apresentado e 10 créditos eram acrescidos ao contador de PONTOS.

b) Caso a(s) soma(s) dos números fornecido pelo computador e dos números

digitados pelo participante fosse(m) par(es) em uma ou mais colunas, havia a

apresentação de um som característico de erro, cada coluna que havia gerado uma

soma com número par era demarcada em amarelo por 1 s e eram retirados 2

créditos do contador de PONTOS para cada coluna incorreta.

Encerrada a tentativa, iniciava-se um período de ITI de 7 segundos no qual a tela

diminuía de tamanho progressivamente. Durante este período teclado e mouse estavam

inoperantes.

O critério de encerramento dessa fase foi: pelo menos 20 tentativas, com 80% de

acerto nos últimos dez ciclos e 100% nos últimos quatro. Caso este critério de mudança

de fase não tivesse sido atingido em 50 tentativas, haveria a mudança de fase por

numero máximo de tentativas. Ao final da fase, P1 recebeu um “vale créditos”, no qual

os pontos acumulados na fase eram anotados para posterior conversão em dinheiro.

Fase 2: Seleção da(s) CCE(s) e produto(s) agregado(s) 1, 2 e 3

Esta fase teve por objetivo a seleção de/ por metacontingência, para dois

participantes (P1 e P2). Nesta fase introduz-se uma nova variável: uma contingência

entre produto agregado e uma conseqüência, que favoreceria a seleção de contingências

comportamentais entrelaçadas entre os participantes.

Após P1 atender o critério de encerramento da Fase 1, o segundo participante foi

conduzido à sala experimental. O experimentador leu as seguintes instruções para os

participantes:

Por favor, apertem a barra de espaço. Na tela do computador você

pode ver dois quadrantes. O seu é o da esquerda que estará um pouco

maior do que do Px (apontar os quadrantes na tela). Os números das

janelas de cima são apresentados pelo computador. Sua tarefa é

inserir números entre 0 e 9 nas janelas debaixo (apontar as janelas na

tela). Você pode utilizar as setas para modificar a janela selecionada

(apontar as teclas do computador). Ela ficará um pouco acima das

outras. Com o auxilio do teclado numérico você pode inserir o numero desejado (apontar teclados numéricos). Você pode fazer alterações

nos seus números até que se sinta seguro da sua decisão. Então, clique

com o mouse no botão OK.

Os espaços completados corretamente produzirão pontos e/ou bônus.

Pontos e bônus serão somados no final e todos os seus créditos serão

Page 35: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

18

trocado por dinheiro. Cada 20 pontos ou bônus no jogo equivalerão a

R$0,01.

Ocasionalmente, haverá a introdução ou a substituição de um

participante, que será avisado pelo computador. Eu então voltarei

aqui. Cada vez que um novo participante for introduzido, você

receberá um “Vale-Créditos” que especifica quanto você acumulou.

Ao final da sua participação seus pontos e bônus acumulados serão

trocados pelo valor em dinheiro.

As conversas entre os participantes são permitidas durante todo o

experimento.

O encerramento da sua participação será avisado pelo computador.

Caso questões ou dúvidas venham a surgir com relação ao

procedimento, esta folha com cópia das instruções pode ser

consultada.

Bom trabalho!!!

As telas do computadores de cada participante apresentavam dois quadrantes,

com fundos de cor diferentes (verde e vermelho), dispostos lado a lado (Figura 5). Um

dos quadrantes ficava ativo para cada participante, mas todos os eventos registrados em

ambos os quadrantes eram visíveis para os dois participantes.

Figura 5: Diagrama da tela do computador de cada um dos participantes durante uma

primeira tentativa hipotética na fase de grupo.

Denomina-se de tentativa aquilo que se refere às respostas e conseqüências do

comportamento de cada participante quando olhado de forma individual. Inicia-se com

a apresentação da tela e termina com a apresentação dos pontos (podendo também,

teoricamente, incluir os bônus em alguns casos). O que denominaremos a partir de

agora de ciclo, por outro lado, englobará as relações entre o entrelaçamento dos

participantes (respostas de ambos) e as conseqüências sobre este entrelaçamento (ou

seja, se refere à relação entre CCEs, produto agregado e conseqüência cultural).

Portanto, o ciclo inicia-se com a apresentação das telas e seus números e termina com o

preenchimento (ou não) das caselas bônus.

Page 36: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

19

Com a entrada de P2 no experimento, os marcadores de pontos e bônus foram

reiniciados. Portanto, tanto P1 quanto P2 passavam a ter 200 PONTOS e 0 BONUS.

Um ciclo iniciava-se com a apresentação dos dois quadrantes na tela de ambos os

participantes, sendo o quadrante ativo de cada participante ligeiramente maior que o do

seu par, no lado esquerdo da tela (Figura 5). Em seguida os números eram liberados

pelo computador, evento sinalizado por um som característico. Cada participante, então,

preenchia as janelas inferiores com a digitação de números de 0 a 9, de forma idêntica à

fase anterior. Os participantes trabalhavam livremente, podendo ser tanto de forma

concomitante quanto em turnos (um após o outro). Ambos podiam modificar seus

números livremente (antes de pressionar o botão OK) e podiam conversar.

Assim como na fase de seleção do comportamento operante, a conseqüência

individual (créditos por pontos e som) era liberada contingente ao pressionar o botão

OK. Assim, cada participante produzia as conseqüências individuais independentemente

do outro.

Após a liberação das conseqüências individuais, em cada ciclo, inicia-se o

conjunto de eventos contingentes a um produto agregado (o qual, se sistemático, seria

resultante de contingências comportamentais entrelaçadas –CCEs - entre os

participantes).

Algumas relações entre a soma gerada pelas respostas de um participante e a soma

gerada pelas respostas do outro geravam créditos de bônus. Depois da produção das

contingências de pontos iniciavam-se as conseqüências que eram contingentes a

produtos agregados que dependiam dos comportamentos de ambos os participantes.

Em todos os casos em que um dado critério de liberação de bônus, era atingido

havia um som característico; a iluminação da área soma e o aparecimento de

quantidades diferentes de bônus na área central. Esses créditos eram então divididos

entre os participantes e acrescidos à área denominada BONUS

Diferentes relações entre a soma dos números inseridos por um participante (e,

portanto, a soma da fileira inferior) em relação à soma dos números inseridos pelo

segundo participante poderiam gerar diferentes magnitudes nos bônus e conseqüências

diferenciais como se indica na Tabela 1

Page 37: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

20

Tabela 1: Critérios de obtenção de bônus e valor do bônus de acordo com a liberação de

diferentes produtos agregados.

Conseqüências

Produto Agregado Bônus Contorno da SOMA SOM

Σ Σ Σ ΣP1 > > > > ΣΣΣΣP2 200 Azul Som A

ΣΣΣΣP1 = = = = 2 ( 2 ( 2 ( 2 (ΣΣΣΣP2) 400 Laranja Som B

ΣΣΣΣP1 = = = = ( ( ( (ΣΣΣΣP2)² 600 Roxo Som C

Portanto,

a) Se a soma dos números inseridos pelo participante P1 fosse maior que a soma

dos números inseridos pelo participante P2 (ΣP1>ΣP2), um som A aparecia, o

contorno da área SOMA se iluminava de azul e 200 créditos de BONUS

apareciam na área central das telas dos computadores, sendo 100 créditos de

bônus então distribuídos para cada participante.

b) Se a soma dos números inseridos pelo participante P1 fosse o dobro da soma

dos números inseridos pelo participante P2(ΣP1= 2ΣP2), um som B aparecia, o

contorno da área SOMA era iluminado de laranja e 400 créditos de BONUS

apareciam na área central, sendo 200 créditos de bônus distribuídos para cada

participante.

c) Se a soma dos números inseridos pelo participante P1 fosse o quadrado da

soma dos números inseridos pelo participante P2 (ΣP1= (ΣP2)²), um som C

aparecia, o contorno da área SOMA era iluminado de roxo, 600 créditos de

BONUS apareciam na área central e 300 créditos de bônus eram distribuídos

para cada participante.

Caso nenhum destes produtos agregados fosse produzido no ciclo, os

participantes não produziam créditos de bônus (embora pudessem produzir créditos de

pontos). As conseqüências experimentalmente programadas para PONTOS e BONUS

ocorriam independentemente.

Após a liberação das conseqüências inicia-se um ITI de 7 segundos. Durante

este intervalo, a tela ficava menor, mas sem mudanças durante 6 segundos, permitindo

aos participantes sua observação.

O critério de encerramento de fase foi de 80% de acerto em pelo menos 20

ciclos, sendo as quatro últimas corretas. Caso o critério de mudança de fase não tivesse

sido alcançado ao se completar 50 ciclos, ocorria a mudança de geração, por número

máximo de tentativas. Considerou-se como acerto todo ciclo que levasse a obtenção de

Page 38: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

21

bônus, não importando qual das contingências (maior que, o dobro ou o quadrado de)

tivesse sido alcançada.

Fase 3: Mudança de geração e seleção das CCEs e produtos agregados 1, 2 e 3

O objetivo desta fase foi verificar se haveria mudanças (nas CCEs e seus) nos

produtos agregados com a sucessiva substituição de participantes. Para tanto as

contingências experimentais foram mantidas..

Atingido o critério da Fase 2, encerrou-se a sessão de P1. Este foi conduzido à

sala de feedback. O participante P3 foi então introduzido no lugar de P1. Após esta

dupla ter atingido o critério de mudança de geração, P4 substituiu P2.

Assim, cada vez que uma dupla atingia o critério de mudança de geração o

participante mais antigo na sessão era substituído por um participante ingênuo. O

critério de mudança de geração foi idêntico ao da Fase 2.

Neste experimento, dois confederados foram inseridos em momentos

considerados conveniente experimentalmente. Ambos eram alunos que tinham uma

ampla história de exposição com o programa meta 3. Entretanto, agiam como

participantes ingênuos. Eram inseridos na sala de espera como todos os outros

participantes, e tratados de forma idêntica (evitava-se demonstrar que eram conhecidos

dos experimentadores). A inserção de confederados foi utilizada por haver relatos

favoráveis a tal recurso na literatura (Vichi, 2004, Leite, 2009, Jacobs & Campbell,

1961).

Nas gerações com participação de confederados, sempre havia a presença de um

sujeito ingênuo. As instruções eram dadas antes mesmo de sua inserção na sala de

espera. Participavam do experimento de forma idêntica a um sujeito ingênuo.

O primeiro confederado foi inserido no experimento quando um dos

participantes que estava na sessão experimental precisava sair. Este foi instruído a jogar

o jogo como se fosse o participante que saiu. Chamaremos este participante de P3b.

Assim, conforme podemos verificar esquematicamente na tabela 1, o participante

ingênuo 3 participou apenas da Geração 3, enquanto o confederado participou apenas da

Geração 4.

O segundo confederado foi inserido ao jogo quando dois dos três critérios já

ocorriam. As instruções dada a este confederado era de sugerir que ambos os

participantes inserissem números pequenos para facilitar as contas. De forma indireta

Page 39: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

22

esta instrução tornava mais provável a ocorrência da combinação de números 2 e 4, que

se enquadrava na contingência cultural “o quadrado de”. Portanto, seguindo a

esquematização da Tabela 2, podemos identificar que o último confederado permaneceu

no experimento 2 durante duas gerações. Na primeira, dividiu a tarefa com um sujeito

experiente (P12) e na segunda, com um sujeito ingênuo (P14). Após esta participação,

nenhum outro confederado foi envolvido no experimento.

Tabela 2: Esquema dos participantes e das gerações do primeiro experimento. As células

mais escuras destacam os confederados.

fase 1 P1

geração 1 P1 P2

geração 2 P2 P3A

geração 3 P3B P4

geração 4 P4 P5

geração 5 P5 P6

geração 6 P6 P7

geração 7 P7 P8

geração 8 P8 P9

geração 9 P9 P10

geração 10 P10 P11

geração 11 P11 P12

geração 12 P12 P13

geração 13 P13 P14

geração 14 P14 P15

fase 2

Page 40: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

RESULTADOS

A Figura 6 mostra, em sucessivas curvas, a produção acumulada em cada fase

ou geração de produto agregados correlacionado com bônus. Ao fundo, em colunas

cinzas, estão representados os ciclos nos quais houve produção de bônus. A altura

dessas colunas indica qual produto agregado estava sendo produzido; o produtos

agregados 1 (ΣL1>ΣL2) é indicado pela altura menor, o produto agregado 2

(ΣL1=2ΣL2) pelas colunas de altura intermediária e o produto 3(ΣL1= ΣL22), pelas

colunas de altura maior.

Page 41: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

24

Figura 6: Bônus acumulados e produtos agregados ao longo dos ciclos. Nas curvas acumuladas são representados os ciclos em que houve produção de

bônus. As barras cinza representam os tipos de produto agregado emitidos no ciclo. As setas indicam gerações com confederados.

0

5

10

15

20

25

30

1 7 13 19 25 31 37 43 49 8 14 20 26 32 38 44 50 5 11 17 23 29 35 41 47 2 8 14 20 4 10 16 22 3 9 15 6 12 18 3 9 15 6 12 18 3 9 15 6 12 18 3 9 15 6 12 18

Bn Cri

BN Ac

me

ro a

cum

ula

do

de

cic

los

com

ob

ten

ção

de

bo

nu

s a

o

lon

go

de

ca

da

ge

raçã

o

Ciclos

G13G10G9G8G7G6G5G4G3G2G1 G12G11

confederado confederadoconfederado

Page 42: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

25

O exame da Figura 6 mostra que nas três primeiras gerações houve produção

assistemática de produtos agregados estabelecidos como critérios de obtenção de bônus

e quando houve tal produção foi quase sempre do “produto 1” (ΣL1>ΣL2). Houve

apenas uma ocasião em que o produto 2 (ΣL1=2ΣL2) foi produzido, já no final da

geração G3.

Da quarta geração em diante curva acumulada de produção de bônus indica que

houve a seleção de CCEs e seus produtos agregados aqui medido. Isto significa que

apenas com a inserção do primeiro confederado ocorreu a seleção de/por

metacontingências. Durante a quarta geração houve a seleção do produto agregado 1

(com 13 instâncias de produção deste produto) e apenas duas ocorrências de produção

do produto agregado 2 (ΣL1=2(ΣL2).

Da geração G5 à geração G9, nota-se que produto agregado 2 (ΣL1=2(ΣL2)

passa a ocorrer mais freqüentemente e esta tendência se fortalece a cada geração. Os

participantes parecem coordenar suas respostas de modo a inserir números que atendam

aos critérios de dois tipos de obtenção de bônus: critérios 1 e 2.

Com a introdução do segundo participante confederado (em G11) o produto

agregado 3 (ΣL1= ΣL22) passou a ser produzido, sendo o único nos 5 ciclos finais. O

terceiro critério de obtenção de bônus foi atendido e passou a recorrer de forma cada

vez mais freqüente, tornando-se durante a geração 13 o único critério de obtenção de

bônus a ser liberado.

Na Figura 7 pode-se ver, de forma cumulativa, a obtenção de pontos e bônus

para cada participante e geração. Cada substituição de participante (geração) é

sinalizada pelo reinício dos dados no eixo ordenado. Assim, cada trio de curvas sinaliza

uma geração, duas delas a produção individual de pontos e a terceira a produção

conjunta de bônus. Os participantes que ocupavam a “mesma função” no experimento

foram representados de forma idêntica.

Page 43: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

26

Figura 7: Pontos e bônus acumulados para cada participante e dupla ao longo das sucessivas

fases e gerações.

Durante a Fase 1, P1 produziu pontos em 18 das 21 tentativas que foram

necessárias para alcançar o critério de mudança de fase.

No primeiro ciclo da segunda fase (Geração 1) ambos os participantes

produziram pontos e bônus. Entretanto, no ciclo seguinte, os dois falharam em ambos.

Na medida em que os ciclos foram se sucedendo, entretanto, pode-se verificar que a

produção de pontos tornou-se sistemática, enquanto a produção de bônus, continuou

ocorrendo ao acaso.

O mesmo ocorreu nas gerações G2 e G3. Entretanto, nos últimos ciclos da

geração G3, verifica-se um aumento na produção de bônus, indicando possível seleção

das contingências comportamentais entrelaçadas e seus produtos agregados (aqui

demonstrados) que atendiam ao critério de obtenção de bônus 2. Note-se que na

geração G3 o primeiro confederado foi colocado na sessão. Ou seja, a seleção de/por

metacontingências só aconteceu com na presença do confederado

Da geração G4 à geração G12, então, houve sistemática produção de pontos e

bônus indicando seleção de/por metacontingências, associada à produção do produto

agregado e seleção culturo-comportamental dos comportamentos individuais associados

à produção de pontos (somas ímpares dos números apresentados pelo computador com

os números inseridos pelo participante). Nas gerações G13 e G14, entretanto, o

comportamento operante se alterou e deixou de haver produção sistemática de pontos,

embora se mantivesse a produção de bônus

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 11 21 6 16 26 3646 12 22 32 42 1 1121 31 41 10 20 8 18 3 13 2 12 1 11 10 20 9 19 8 18 7 17 6 16

PT AC - L1 BN AC PT AV - L2

Ciclos

me

ro a

cum

ula

do

de

cic

los

com

po

nto

s e

nu

s

G13

G10

G9

G8

G7G6

G5

G4

G3G2G1

G12

G11

confederad

confederad

Page 44: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

27

Na Figura 8, podemos identificar o total de créditos de bônus produzido em cada

geração. As colunas ao fundo indicam o número total de ciclos em cada geração,

estando indicadas em cinza escuro aqueles que não resultaram em produto agregado e

em cinza claro os que resultaram em qualquer um dos três tipos de produto agregado.

Podemos verificar que nas três primeiras gerações, metade ou mais do número

total de ciclos não resultou em nenhum produto agregado. Nestas gerações, os ganhos

dos participantes, em termos de bônus, eram bastante pequenos.

0

10

20

30

40

50

60

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

ciclos com produto agregado

ciclos sem produto agregado

total dupla

Figura 8: Ciclos sem produção de bônus (n) e total de bônus ganho por participante em cada

geração.

Durante as gerações 4 e 5, podemos verificar uma diminuição radical no número

de ciclos que não levou a produção de produto agregado. Embora os ganhos não tenham

aumentado, devemos considerar que os participantes também passavam menos tempo

no experimento (levando a uma mudança de geração não por número máximo de

tentativas, mas por critério de mudança de geração). Assim, embora os ganhos não

tenham sido maiores, o custo de resposta diminuiu consideravelmente.

A partir da sexta geração podemos verificar que os erros foram se tornando bem

mais escassos. O último destes erros (geração 12) pode ter sido conseqüência de um

“teste de contingência”, na qual um participante experiente demonstra ao novato as

contingências em vigor.

Ao longo das gerações podemos verificar um aumento crescente nos ganhos dos

participantes. P12 (que participou das duas últimas gerações) chegou a receber 22 reais

apenas de bônus. Além disto (como veremos a seguir), estes últimos participantes

passavam menos tempo na sessão experimental. Conseqüentemente, a medida em que

Page 45: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

28

as gerações foram se sucedendo, os participantes foram ganhando “cada vez mais por

cada vez menos trabalho”.

Na Figura 10 apresenta-se a duração das respostas dos participantes nas

tentativas ao longo das gerações. Duração é o tempo (em segundos) compreendido entre

a apresentação da tela para o participante e o momento que este clicou o botão OK. As

colunas ao fundo indicam as tentativas nas quais houve obtenção de bônus pelo

participante

Figura 9: Duração das tentativas por participante: as duas linhas correspondem a duração de

resposta de cada participante nas posições L1 e L2. As colunas ao fundo indicam os ciclos com

ganho de bônus.

Podemos verificar que, no inicio da maioria das gerações, há uma forte

tendência a durações de respostas elevadas. Possivelmente, este aumento de duração se

deve à combinação do tempo de instrução do participante mais antigo, e, do tempo

diferencialmente maior exigido pelo participante ingênuo para aprender a utilizar o

programa.

Podemos ainda observar as duas linhas de latência praticamente superpostas.

Isso significa que os participantes apertavam o botão OK com pequena diferença de

tempo entre si. Este pode ser um bom indicativo de que o comportamento dos

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 51 56 61 66 71 76 81 86 91 96 101 106 111 116 121 126 131 136 141 146 151 156 161 166 171

Bônus Lat Lin1 Lat Lin2

G1 G2 G3

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94 97 100 103 106

G4 G5 G6 G7 G8

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94 97 100 103

G9 G10 G11 G12 G13

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1

24 1

50 1

48 1

50

Fase 1 Geração 1 Geração 2 Geração 3

Bônus Lat Lin1 Lat Lin2

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1

20 1

24 1

20 1

20 1

20

Geração 4 Geração 5 Geração 6 Geração 7 Geração 8

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

1

20 1

20 1

20 1

20 1

20

Geração 9 Geração 10 Geração 11 Geração 12 Geração 13

Ciclos

Du

raçã

o d

as

resp

ost

as

(s)

L1 278

L2 282

L1 226

L1 185

L2 181 L1 184L1 314

L2 304

L1 188

L2 183

L1 184

L1 349

L2 364L2 203

L1 230

L2 233

L1 471

L2 474

L1 232

L2 233

L1 318

L2 329

L1 451

L2 455

Tip

os d

e P

rod

uto

s Ag

reg

ad

os

Page 46: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

29

participantes estavam sob controle do outro (ou pelo menos um dos participantes por

geração deveria necessariamente estar sob controle do outro o que já se constitui em um

tipo de CCE).

Uma oscilação nas durações da geração 5 a 10 pode ser observada. Uma

aparente tendência à diminuição da duração média e a diminuição no tempo ocorre ao

final deste período. A entrada dos confederados se traduz em uma diminuição nas

oscilações, bem como na diminuição na duração média das respostas.

Na figura 11 podemos as somas dos números inseridos por cada um dos

participantes em cada geração, sendo os participantes da posição L1 representados em

pequenos marcadores pretos e os participantes L2 representados em marcadores brancos

maiores. As barras indicam a produção de bônus e o tipo de produto agregado

produzido.

Page 47: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

30

Figura 10: Soma dos números inseridos pelos participantes em relação a produção de bônus.

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

1 9 17 25 33 41 49 7 15 23 31 39 47 5 13 21 29 37 45 3 11 19 7 15 23 7 15 3 11 19 7 15 3 11 19 7 15 3 11 19 7 15 3 11 19

BONUS TOTAL L1 TOTAL L2

Ciclos

Tip

os d

e p

rod

uto

s ag

reg

ad

os

So

ma

do

s n

úm

ero

s in

seri

do

s p

elo

s

pa

rtic

ipa

nte

s

G1

G2

G3

G4

G5

G6

G7

G8

G9G10

G11 G12

G13

Page 48: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

31

Durante as gerações 1 a 3, nota-se os marcadores espalhados e, portanto,

bastante variação entre os participantes. Este padrão foi lentamente se modificando e

em G4, com a inserção do primeiro confederado, as somas dos participantes assumem

um padrão mais uniforme: as somas de L1 foram menores que as de L2 ao longo destes

ciclos. O confederado que ocupou a posição L2, inseria números que levavam a somas

altas, tornando mais fácil a obtenção de bônus.

Na geração 5, já podemos observar a seleção do produto agregado 2. Neste

momento, pode-se verificar uma diminuição nos números inseridos pelos participantes,

geralmente inserindo somas menores que 16 (o que significa números inseridos com

uma media de 4). Este padrão de emissão de produtos agregados prosseguiu ainda

durante as gerações 6, 7, 8 e 9.

Com a inserção do segundo confederado, houve uma diminuição ainda menor

nas somas inseridas pelos participantes, seguido da seleção do produto agregado 3.

Entretanto, analisando com mais precisão, identificamos que o produto selecionado de

fato foi a inserção das somas 2 e 4 ( e não “o quadrado de”). Este tipo de estereotipia foi

mantido pelo ganho maior de bônus garantido pelo critério de obtenção de bônus 3.

Page 49: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

EXPERIMENTO 2 O experimento 1 demonstrou ser possível a seleção e transmissão de três tipos

de produtos agregados diferentes. Os mais abrangentes, ou prováveis de ocorrer ao

acaso apareceram primeiro e sucessivamente, as mais estritas se seguiram. Com o

objetivo de verificar se estes mesmos resultados seriam replicados sem a introdução de

confederados, foi feito o segundo experimento

MÉTODO

Participantes

Participaram deste experimento 23 estudantes universitários de diversas

instituições de ensino superior do estado de São Paulo. Todos estes foram considerados

ingênuos em relação ao experimento. A forma de recrutamento e o agendamento destes

participantes ocorreu de forma idêntica ao experimento 1.

Este segundo experimento foi, igualmente, submetido ao comitê de ética da

PUC-SP. Os participantes foram requeridos a ler e assinar seus termos de consentimento

livre e esclarecido antes de entrar na sala experimental. Todos os outros cuidados

referentes a ética foram idênticos ao Experimento 1.

Equipamento, Material e Setting

O equipamento, os materiais utilizados e o setting experimental foram iguais ao

Experimento 1.

Procedimento

O procedimento básico deste experimento foi igual ao do Experimento 1.

Recepção dos participantes

Igual ao Experimento 1

Page 50: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

33

Condições experimentais

Fase 1: seleção do comportamento operante

Igual ao Experimento 1

Fase 2: Seleção da(s) CCE(s) e produto(s) agregado(s) 1, 2 e 3

Igual ao Experimento 1

Fase 3: Mudança de geração e seleção das CCEs e produtos agregados 1, 2 e 3

Esta fase ocorreu de forma idêntica ao Experimento 1, sem a inserção de

confederados. Entretanto, a saída de um dos participantes antes do previsto também

ocorreu. P5 ficou uma geração a mais, tornando-se assim, P6b. Portanto, P6a participou

durante apenas uma geração enquanto P5, de três gerações sucessivas (Tabela 7).

Ademais, foi necessário interromper o experimento em um dia e reiniciá-lo no

dia seguinte com o retorno do participante experiente. Assim, P17 retornou, uma

segunda vez, menos de 24 depois de sua primeira participação, para dar continuidade ao

experimento.

O experimentador retomou com este participante as instruções, o programa foi

aberto e o participante o novo participante introduzido e o experimento reiniciado.

Page 51: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

34

fase 1 P1

geração 1 P1 P2

geração 2 P2 P3

geração 3 P3 P4

geração 4 P4 P5

geração 5 P5 P6a

geração 6 P5=P6b P7

geração 7 P7 P8

geração 8 P8 P9

geração 9 P9 P10

geração 10 P10 P11

geração 11 P11 P12

geração 12 P12 P13

geração 13 P13 P14

geração 14 P14 P15

geração 15 P15 P16

geração 16 P16 P17

geração 17 P17 P18

geração 18 P18 P19

geração 19 P19 P20

geração 20 P20 P21

geração 21 P21 P22

geração 22 P22 P23

fase 2

dia 1

dia 2

Tabela 3: Participantes e gerações do segundo experimento. As células mais escuras se

referem ao mesmo participante que permaneceu durante três gerações. A linha pontilhada

evidencia a mudança de dia.

Page 52: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

RESULTADOS

Neste experimento verificou-se a seleção e transmissão de diferentes produtos

agregados sob controle de diferentes magnitudes de conseqüências culturais, ao longo

de sucessivas gerações de participantes, sem a introdução de confederados. Novamente,

o primeiro produto agregado selecionado foi o mais provável (ΣL1>ΣL2), que produzia

a conseqüência cultural (bônus) de menor magnitude.

Na Figura 12 foram plotados cumulativamente os ciclos em que houve produção

de produtos agregados. Os diferentes produtos e magnitude da conseqüência cultural

(dos créditos de bônus) são representados pela altura das barras cinza.ao longo do

experimento (figura corresponde a Figura.... do Experimento 1). Cada curva acumulada

corresponde a uma geração (G1 a G22). As colunas menores, medianas e maiores

correspondem ao produto agregado 1, 2 e 3 respectivamente. As linhas tracejadas

indicam mudanças de gerações e a mais grossa aponta o reinício do experimento em um

segundo dia de coleta.

Page 53: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

36

Figura 11: Bônus acumulado e tipos de produtos agregados emitidos ao longo das gerações.

0

5

10

15

20

25

30

1 10 19 7 1625 34 43 1 10 19 28 37 3 12 9 18 27 2 11 2029 38 47 5 3 1 10 19 28 3 12 9 18 6 15 3 12 9 18 6 15 3 12 9 18 6 15 3 12 9 18 6 15 1 10 19 7 16

Bônus Cr

Bônus Ac

G1

Ciclos

nu

s a

cum

ula

do

Tip

os d

e P

rod

uto

s Ag

reg

ad

os

G2

G3

G4 G5

G6

G7G8

G9G10

G11

G12

G13

G14

G15

G16

G17

G18

G19

G20

G21

G22

Page 54: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

37

Nas sete primeiras gerações deste experimento, os participantes produziram os

produtos agregados de maneira assistemática. Entretanto, há ocorrência dos três

produtos agregados (produto agregado 1 - ΣL1>ΣL2 - produto agregado 2 - ΣL1=2ΣL2 -

e o produto 3 ΣL1= ΣL22), pelo menos uma vez neste período. Como seria de esperar o

produto agregado 1 recorreu mais vezes do que os demais. A ocorrência dos outros

produtos indica variabilidade nos ciclos. O aumento de ocorrência do produto agregado

2 na Geração 7 , bem como o aumento de ciclos com produção de produto agregado

nesta geração, indicam mudanças relevantes para a seleção de/por metacontingências.

Somente na Geração 8, houve estabelecimento produção sistemática de produtos

agregados. Nesta geração, ocorreram com bastante freqüência tanto o produto agregado

1 como o produto agregado 2, de modo que não se identifica a seleção de um produto ,

mas de dois.

Em todas as gerações seguintes produtos agregados foram sistematicamente produzidos,

ou seja, manteve-se a seleção de/por metacontingências. O que mudou nas sucessivas

gerações foram os produtos agregados predominantemente produzidos. De G10 a G12,

os participantes adotaram com exclusividade o segundo produto agregado. Ao final da

Geração 13, o terceiro produto agregado ocorre e recorre com bastante sistematicidade.

Durante as gerações seguintes (G14 a G17), pode-se ver a permuta dos três tipos de

produtos agregados, embora com a tendência de diminuição na freqüência dos produtos

do tipo 2 e 3. Em G18 observamos um aparente retorno a adoção do primeiro tipo de

produto agregado, sendo exclusivamente produzido durante toda a geração.

A Figura 13, foi construída como a Figura 2 do Experimento 1, na qual

encontramos o numero acumulado de pontos e bônus ao longo de todos os ciclos

(tentativas).

Page 55: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

38

Figura 12: Pontos e bônus acumulados a cada ciclo/tentativa por participante e geração.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

1 13 4 16 28 40 1 13 25 37 6 18 9 21 33 11 23 35 47 8 9 10 22 12 3 15 6 18 9 12 3 15 6 18 9 12 3 15 6 18 9 22 10 1 13

Bônus Ac Pt Lin1 Pt Lin2

G9G10

G11G12

G13

G14

G15G16

G8

G7

G6

G5

G4

G2

G3

G1

G17 G18 G19 G20 G21 G22

Ciclos

nu

s a

cum

ula

do

Page 56: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

39

A primeira curva acumulada corresponde à produção de pontos por P1, durante a

Fase 1. Nas quatro primeiras tentativas, P1 não produziu pontos. Após a quinta

tentativa, iniciou-se uma produção sistemática de pontos.

Com a entrada de P2, podemos identificar que os dois participantes produziram

pontos. Entretanto, a produção de produtos agregados que levava a créditos de bônus foi

assistemática nos sucessivos ciclos, sugerindo controle pela produção de pontos. Este

padrão se manteve ate G9. Nos períodos entre G10 e G14, e G20 e G22, podemos

identificar a produção assistemática de pontos. Provavelmente, o padrão de ganhos e

perdas de pontos pode ser relacionado ao tipo de produto agregado produzido na

geração, quando o controle exercido pelos bônus prepondera. Esta hipótese pode ser

considerada mais provável ao se averiguar a coincidência entre os períodos em que

ocorre a produção dos produtos agregados 2 e 3 e estas perdas recorrentes de bônus.

A partir de G10, identificamos uma sistemática obtenção de bônus que se seguiu

com poucas exceções em todas as gerações ate o final do experimento. Assim, por mais

que o tipo de produto agregado emitido tenha variado bastante ao longo deste período,

não se pode supor a perda da coordenação entre os participantes.

A Figura 14 informa o total de créditos de bônus produzido em cada geração

(equivalente a Figura 9). As barras em cinza representam o número de ciclos em cada

geração. A altura das barras em cinza escuro representam os ciclos sem produção de

bônus e as barras em cinza claro, os ciclos com produção de bônus em cada geração.

Figura 13: Total de bônus ganho por participante em cada geração e número total de ciclos

que não levou a obtenção de bônus por geração.

0

10

20

30

40

50

60

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

16000

ciclos com produto agregado

ciclos sem produto agregado

total dupla

geração

total de ganhos de bonus (R$)

número total de ciclos

Page 57: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

40

Da primeira a oitava geração, como já se destacou houve mitos ciclos sem

produção de bônus e, de uma maneira geral a oscilação na quantidade de créditos de

bônus em cada geração deve-se à variação na produção de bônus. Em G6 e G7, o

encerramento se deu pelo critério de produção de bônus que ocorreu sistematicamente

os últimos ciclos, e o menor número de ciclos levou à menor magnitude de créditos de

bônus acumulados nestas gerações.

No entanto, com a seleção dos primeiros dois produtos agregados (G9) as

substituições de participantes passavam a ocorrer por critério de estabilidade, e não mais

por número máximo de tentativas. Portanto, o ganho dos participantes aumentou em

relação ao tempo dispensado no experimento.

Houve um aumento dos ganhos através de bônus da geração G9, até G13. Nestas

gerações o número de ciclos com produção de bônus é muito semelhante, portanto o

aumento na quantidade de bônus reflete o aumento no número de ciclos com produto

agregado 2 ou produto agregado 3. Apenas na geração G13 o produto agregado 3 foi

preponderante e por isso esta foi a geração com o maior valor acumulado em bônus.

A diminuição nos ganhos das gerações seguintes, que é uma diminuição

progressiva até G16, não se deveu a ciclos sem produto agregado, como mostram as

barras, mas sim à produção menos freqüente de produtos agregados associados com

bônus de menor magnitude. Após uma pequena variação nos ganhos, houve um

aumento progressivo ao longo das últimas gerações, quando os ganhos retornaram a

níveis bastante altos.

Na Figura 15 representa-se a duração das respostas de cada participante (ver

Figura 8, do primeiro experimento) ao longo das sucessivas tentativas/ciclos. Duração é

o tempo decorrido entre a apresentação da tela e o momento em que o participante clica

o botão OK. As colunas ao fundo, indicam os ciclos nos quais houve a produção dos

produtos agregados 1, 2 ou 3, que são sinalizados pela altura das barras.

Page 58: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

41

Figura 14: Latência de resposta para cada participante e obtenção de bônus ao longo dos

ciclos/tentativas.

0

50

100

150

200

2501

20 1

50 1

42 1

20

Fase 1 Geração 1 Geração 2 Geração 3

Bônus Lat Lin1 Lat Lin2

0

50

100

150

200

250

1

33 1

50 1

10 1

10

Geração 4 Geração 5 Geração 6 Geração 7

0

50

100

150

200

250

1

33 1

20 1

20 1

20 1

20

Geração 8 Geração 9 Geração 10 Geração 11 Geração 12

0

50

100

150

200

250

1

20 1

20 1

20 1

20 1 1

Geração 13 Geração 14 Geração 15 Geração 16 Geração 17

0

50

100

150

200

250

1 1 1

20 1

23 1

20 1

20

Geração 18 Geração 19 Geração 20 Geração 21 Geração 22

Du

raçã

o d

as

resp

ost

as

Ciclos

Tipos de Produtos Agregados

L1 252

L2 251

L1 298

L2 299

L1 266

L2 268

L1 254

L2 276L1 303

L2 303

L1 268

L2 268L1 260

L2 308

L1 272

L2 271

L1 306

L2 306

L1 274

L2 274

L1 320

L2 324

L1 298

L2 296

Page 59: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

42

Podemos verificar que a duração das tentativas iniciais de P1 foram bastante

altas e diminuíram drasticamente ao longo das quatro primeiras tentativas. Conforme já

observamos, não houve produção de pontos ao longo destas tentativas iniciais. Como

ocorreu no Experimento 1, no primeiro ciclo de cada nova geração as durações são

muito altas, excetuando-se G17.

Também as diferenças de duração das respostas entre os participantes em cada

ciclo são quase inexistentes. Este padrão se repete ao longo das gerações, o que nos leva

a supor que uma coordenação entre o comportamento dos diferentes participantes

ocorreu durante todas as gerações desta metacontingência.

Apresenta-se na Figura 16, as somas dos números inseridos pelos participantes

em cada ciclo. Os marcadores pretos correspondem aos participantes que preenchiam a

posição 1, enquanto os marcadores brancos, a posição 2. As barras foram construídas

como na Figura 11.

Podemos observar que, durante a primeira fase, P1 variou bastante a soma dos

números inseridos, entre 8 e 32. Durante a primeira geração, P1 manteve este padrão,

que combinado com um padrão igualmente variável de P2 (que entrou na posição 2)

resultou na produção assistemática de produtos agregados que produziam bônus.

Em G3, o participante da posição L2 sistematicamente produziu somas de

pequena grandeza resultando em somas menores que seus companheiros. Desta forma,

com a saída deste participante, as gerações retornaram ao ganho aleatório de bônus,

efeito do acaso.

Apenas durante a Geração 8, o participante da posição 2 inseria números que

geravam somas altas e tornava assim mais provável a obtenção de bônus.

Possivelmente, foi a recorrência de obtenção de bônus em G8 e G9 que permitiu a

seleção de/por metacontingências. Assim, na Geração 9, a liberação contínua de bônus,

ocorreu através da alternância dos produtos agregados 1 e 2. As somas dos números

passam então a decrescer lentamente ao longo das gerações seguintes.

Ao final de G13, números inseridos de pequeno valor possibilitaram a

ocorrência do terceiro produto agregado e sua sistemática liberação. No entanto, as

somas inseridas passam a variar um pouco e os participantes passam a perder a

oportunidade de receber mais bonus ao produzir produtos agregados que levam a

maiores ganhos. Verifica-se que, entre a gerações 14 e 19, a variação na liberação das

somas foi seguida pela diminuição de ganhos (seja obtendo um produto agregado que

levava a menor valor ou perdendo totalmente a oportunidade de receber bônus). Desta

Page 60: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

43

forma, a intensificação da estereotipia foi sendo fortalecida, enquanto a variabilidade foi

sendo seguida de ganhos menores. Como conseqüência, de G20 a G22, ocorreu uma

forte tendência a estereotipia.

Tanto os períodos entre G10 e G13 com G20 a G22 foram marcados pela

predominância do produto agregado 2. Entretanto, ao analisar as somas inseridas pelos

participantes, podemos averiguar uma grande diferença, especialmente no que se refere

à variabilidade. Assim, fica mais explícito o quanto as últimas gerações deste

experimento foram marcadas pela uniformização.

Page 61: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

44

Figura 15: Soma dos números inseridos pelos participantes em relação a produção de bônus.

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

1 6 11 16 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 4 9 14 19 24 29 34 39 1 6 11 16 5 10 15 20 25 30 1 6 11 16 21 26 31 36 41 46 5 10 4 9 3 8 13 18 23 28 33 4 9 14 19 3 8 13 18

Bônus SR Lin1 SR Lin2

0

4

8

12

16

20

24

28

32

36

1 5 9 13 17 4 8 12 16 20 3 7 11 15 19 2 6 10 14 18 1 5 9 13 17 4 8 12 16 20 3 7 11 15 19 2 6 10 14 18 1 5 9 13 17 4 8 12 16 20 1 5 9 13 17 4 8 12 16 20

G1 G2 G3

G4

G5 G6

G9

G10

G11

G12

G13

G14G15

G16

G17

G18G19 G20

G21

G22

G7G8

Tip

os d

e P

rod

uto

s Ag

reg

ad

os

Ciclos

So

ma

do

s n

úm

ero

s in

seri

do

s p

elo

s p

art

icip

an

tes

Page 62: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

DISCUSSÃO

Ambos os estudos demonstraram ser possível a seleção de mais de um produto

agregado pelas mesmas conseqüências culturais, quando as conseqüências culturais são

de diferentes magnitudes. Entretanto, os padrões de variação e seleção foram bastante

distintos nos dois estudos.

No primeiro estudo a seleção de um dado produto agregado pareceu mais estável

que Experimento 2 e pode-se supor que este efeito se deve à participação dos

confederados. Apesar de não terem sido instruídos especificamente supõe-se que sua

participação deve ter dirigido mais diretamente, por instrução, modelação e

consequenciação os comportamentos e entrelaçamentos relevantes dos participantes,

fortalecendo padrões estáveis de produto agregado.

O primeiro confederado inserido relatou, após sua participação, que muitas

vezes estava mais sob controle da situação experimental que sob influência da instrução

recebida. Este disse, por exemplo, que inseriu, de forma não-deliberada, uma soma que

correspondia ao dobro da soma inserida pelo participante anterior, enquanto havia sido

instruído a apenas simular a participação do sujeito que não pode continuar. Apesar do

relato que sugere que os confederados podem ter tido papel semelhante a um

participante ingênuo, apenas uma análise bastante detalhada das interações verbais

envolvidas poderia esclarecer acerca desta variável.

Os resultados do Experimento 1 (ver especialmente as Figuras,.,...) indicam que

a seleção de CCEs e produtos agregados sucessivamente mais complexos e menos

prováveis foi sistemática, ratificando os dados da literatura (Leite 2009; Vichi, 2004;

Jacobs & Campbell, 1961) sobre a participação de confederados e sua influência na

mudança de comportamentos de participantes ingênuos.

O Experimento 2, por outro lado, abre possibilidades de experimentos mais

longos, com mais gerações, o que é importante para interesses de pesquisa que

envolvem a seleção de práticas culturais. Entretanto, variações nos padrões de respostas

e, conseqüentemente nas CCEs, podem ocorrer quando sessões são interrompidas e

retomadas depois de um intervalo maior como ocorreu com troca de geração entre G16

e G17 do Experimento 2. Ou seja, os intervalos entre sessões e as o desenvolvimento de

procedimentos que garantam a menor perturbação possível precisam ser investigados,

Page 63: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

46

especialmente em experimentos como o que se relata aqui, no qual a transmissão de

práticas é alvo de interesse.

É possível que as mudanças de padrão na Geração 17 (que iniciou o experimento

em um segundo dia) não tenham sido devidas, pelo menos exclusivamente, à mudança

de dia. Os problemas ocorridos no programa, na primeira geração do segundo dia,

podem também ter modificado o responder dos participantes.

Uma previsão acerca das semelhanças e diferenças encontradas no primeiro

experimento, em relação ao segundo, caso este tivesse transcorrido mais gerações, não é

tarefa simples. Talvez, também se desfizessem os padrões de CCEs vigentes no

experimento 2. Por outro lado, uma descrição mais clara dos critérios de obtenção de

bônus vigente no segundo experimento poderia ter permitido uma perpetuação do

produto agregado 3 durante um segundo dia de experimento.

Ao longo de ambos os experimentos podemos identificar diversos momentos

que a contingência que descreve o comportamento dos participantes é diferente da

contingência (mais alargada que produziria bônus e pontos). Enquanto o critério de

obtenção de bônus 3, por exemplo, permitia aos participantes inserirem 6 tipos de

combinações de somas (1 com 1, 2 com 4, 3 com 9, 4 com 16, 5 com 25,e 6 com 36), as

últimas gerações do experimento 1, apenas inseriam a dupla 2 e 4.

Desta forma, uma fração de apenas 1 em cada 6 combinações foram utilizadas.

Uma analogia entre os critérios que definiam os produtos agregados poderia desvendar

uma aparente manutenção na restrição das gerações em relação ao todo do critério que

estavam adotando. Portanto, uma análise minuciosa poderia demonstrar que sob os

critérios 1 e 2, os participantes também variavam apenas dentro de um sexto (1/6) de

suas possibilidades.

No entanto, podemos supor que quanto mais estrito os padrões de respostas,

mais difícil de manter qualquer ganho se o ambiente selecionador mudar. Isto significa

que entrelaçamentos que levam a produtos agregados refinados, podem significar maior

risco para o futuro da cultura se forem acompanhados de estereotipia e ausência de

variabilidade. Caso não haja, na cultura em questão, outras formas de obtenção dos

ganhos proporcionados pelo entrelaçamento que se tornou efetivo, a cultura pode vir a

extinguir-se.

Os dados do presente trabalho indicam que selecionar o produto agregado 2

(ΣL1= 2ΣL2) a partir do produto agregado 1 (ΣL1>ΣL2), parece ocorrer com mais

facilidade que selecionar o produto agregado 3 (ΣL1= (ΣL2)2) a partir do produto

Page 64: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

47

agregado 2 (ΣL1= 2ΣL2). Matematicamente, no entanto, este resultado é inesperado.

Apenas 1 em 70 combinações de somas maiores também atendem ao critério de

obtenção de bônus 2 (ΣL1=2ΣL2), enquanto 1 em 18 das combinações do critério 2

coincidem com a 3 (a combinação de 2 e 4). Portanto, algum tipo controle adicional

deve ter ocorrido para justificar esta contradição. Inúmeras hipóteses podem ser

levantadas, mas no entanto, apenas com maiores pesquisas este tipo de questão pode ser

sanada.

Podemos verificar ainda que a relação entre produto agregado e a conseqüência

cultural a ele contingente deve ocorrer mais de uma vez para garantir a seleção das

CCEs produtora de ambos. Nos dois experimentos, houve a ocorrência dos produtos

agregados 2 e 3, no inicio da sessão, sem ocorrer sua seleção (recorrência sistemática).

Possivelmente, isto significa que produtos agregados pouco prováveis (como o produto

agregado 3) provavelmente não seriam selecionados sem a precorrente seleção de outros

produtos agregados mais abrangentes (como os produtos 1 e 2). Portanto, a seleção de

produtos agregados pouco prováveis depende não apenas de uma ocorrência casual, mas

também de uma historia de seleção de/por metacontingências.

Page 65: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andery, M. A. P. A., Micheletto, N., & Sério, T. M. de A. P. (2005). A análise de

fenômenos sociais: Esboçando uma proposta para a identificação de contingências entrelaçadas e metacontingências. Em J. C. Todorov, R. C. Martone, & M. B. Moreira (Orgs.), Metacontingências: comportamento, cultura e sociedade. (pp. 129-147) Santo André, SP: ESETec.

Baum, W. M., Richerson, P. J., Efferson, C. M., & Paciotti, B. M. (2004). Cultural

evolution in laboratory microsocieties including traditions of rule giving and rule following. Evolution and Human Behavior, 25, 305-326.

Bullerjhann, P. B. (2009) Análogos experimentais de fenômenos sociais: os efeitos das

conseqüências culturais. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Caldas, R. A. (2009) Análogos experimentais de seleção e extinção de

metacontingências. Dissertação de Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-SP, São Paulo

Diamond, J. (2004) A evolução da humanidade: Armas, germes e aço. National

Geografic Society. (produced by Lion Television for National Geografic Television and film).

Diamond, J. (2005). Guns, germs and steel. London, UK: Vintage Books. Glenn, S.S. (1986). Metacontingencies in Walden Two. Behavior Analysis and Social

Action, 5, 2-8. Glenn, S. S. (1988). Contingencies and metacontingencies: Toward a synthesis of

behavior analysis and cultural materialism. The Behavior Analyst, 11, 161-179. Glenn, S. S. (1991). Contingencies and metacontingencies: Relations among behavioral,

cultural, and biological evolution. Em P. A. Lamal (ed.), Behavior analysis of societies and cultural practices. New York, NY: Hemisphere.

Glenn, S. S. (2003). Operant contingencies and the origins of cultures. Em K. A. Lattal

& P. N. Chase (Eds.), Behavior: theory and philosophy . New York, NY: Klewer Academic/Plenum.

Glenn, S. S. (2004). Individual behavior, culture, and social change. The Behavior

Analyst, 27, 133-151. Jacobs, R. C. & Campbell, D. T. (1961). The perpetuation of an arbitrary tradition

through several generations of a laboratory microculture. Journal of Abnormal and Social Psychology, 62, 649-658.

Page 66: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

49

Leite, Felipe L. (2009). Efeitos de instruções e história experimental sobre a transmissão de práticas de escolha em microculturas de laboratório. Dissertação de Mestrado. Belém: Programa de Pós-Graduação em Teoria e Pesquisa do Comportamento, Universidade Federal do Pará.

Martone, R. C. (2008). Efeito de Conseqüências externas e de mudanças na

constituição do grupo sobre a distribuição dos ganhos em uma metacontingência

experimental. Tese de Doutorado. Programas de Pós Graduação em Ciências do Comportamento, Universidade de Brasília, Brasília.

Oda, L. V. (2009). Investigação das interações verbais em um análogo experimental de

metacontingência. Dissertação de Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-SP, São Paulo.

Pereira, J. M. C. (2008). Investigação experimental de metacontingências: separação

do produto agregado e da conseqüência individual. Dissertação de Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-SP, São Paulo.

Sampaio, A. A. S. (2008). A quase-experimentação no estudo da cultura: Análise da

obra Colapso de Jared Diamond. Dissertação de mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-SP, São Paulo.

Skinner, B. F. (1953/1965), Science and human behavior. New York, NY: Free Press. Skinner, B. F. (1971/2002). Beyond freedom and dignity. Cambridge, MA: Hacket Publishing Company. Skinner, B.F. (1974). About Behaviorism. New York, NY: Vintage Books. Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 213, 501-504. Todorov, J. C. (2005) A constituição como metacontingência. Em J. C. Todorov, R. C.

Martone, & M. B. Moreira (Orgs.), Metacontingências: Comportamento, cultura e sociedade (pp. 29-36). Santo André, SP: ESETec.

Todorov, J. C., Moreira, M., Prudêncio, M. R. A. & Pereira, G. C. C. (2005) Um estudo

de contingências e metacontingências no Estatuto da Criança e do Adolescente. Em J. C. Todorov, R. C. Martone, & M. B. Moreira (Orgs.), Metacontingências:

Comportamento, cultura e sociedade (pp. 45-54). Santo André, SP: ESETec. Vichi, C. (2004). Igualdade ou desigualdade em pequeno grupo: Um análogo

experimental de manipulação de uma prática cultural. Dissertação de Mestrado, Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, PUC-SP, São Paulo.

Vichi, C. (2005). Igualdade ou desigualdade: Manipulando um análogo experimental de

prática cultural em laboratório. Em J. C. Todorov, R. C. Martone, & M. B. Moreira (Orgs.), Metacontingências: Comportamento, cultura e sociedade (pp. 86-100).

Page 67: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

50

Santo André, SP: ESETec. Vichi, C., Andery, M. A. P. A. & Glenn, S. S (no prelo). Selection of

metacontingencies: An experimental analog. Behavior and Social Issues.

Wiggins, J. A. (1969) Status Differentiation, External Consequences, and Alternative Reward Distribution. Em: R. L. Burgess & D. Bushell (Orgs.), Behavioral Sociology (109-126). New York: Columbia University Press.

Page 68: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

ANEXOS

Page 69: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

i

Anexo 1

Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Folha de recrutamento de participantes para a pesquisa

Nome: ________________________________________________________________

Idade: _________ Sexo: ____________

Curso: _______________________ Turma: _________________ Período:_________

E-mail: ________________________________________________________________

Telefones para contato:

Residencial: _______________ Celular: _________________ Serviço: _____________

Disponibilidade de dias e horários:

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Page 70: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

ii

Anexo 2

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

I – Identificação do participante Nome: ________________________________________________ Documento de identidade:________________ Sexo: ( ) M ( ) F Curso:_________________ Período:________________ Data de nascimento:___/___/___ II – Dados sobre a pesquisa científica

1. Título da pesquisa: “Um análogo experimental de metacontingência” 2. Pesquisador responsável: Claudia Teixeira Gadelha 3. Cargo/função: Pesquisadora do Programa de Estudos Pós-Graduados em

Psicologia Experimental: Análise do Comportamento da PUC-SP 4. Avaliação do risco da pesquisa: sem risco 5. Duração da Pesquisa: uma sessão de aproximadamente 30 minutos de duração.

III – Explicações do pesquisador sobre a pesquisa 1. Objetivo: Investigar interações em pequenos grupos. 2. Os procedimentos utilizados serão:

• Os participantes tomarão parte de um jogo de computador, no qual poderão receber um valor em dinheiro de acordo com o desempenho no jogo, e os valores correspondentes aos ganhos serão pagos ao final da participação no mesmo.

• Todos os participantes serão informados sobre os objetivos e métodos da pesquisa e deverão dar seu consentimento por escrito conforme os princípios éticos que norteiam a pesquisa com seres humanos. Os participantes poderão interromper a participação em qualquer momento da pesquisa. As informações obtidas na presente pesquisa poderão ser divulgadas em congressos e periódicos científicos e haverá garantia do anonimato e sigilo. A identidade dos participantes não será revelada em nenhuma publicação ou exposição em congresso.

3. Os participantes não correrão nenhum risco. IV – Esclarecimentos dados pelo pesquisador sobre garantias ao participante 1. Acesso, a qualquer tempo, a informações sobre procedimentos relacionados à

pesquisa, inclusive para dirimir eventuais dúvidas. 2. A salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade. 3. O direito de retirar-se da pesquisa no momento em que desejar.

V – Consentimento livre e esclarecido Eu compreendo os meus direitos como participante desta pesquisa. Compreendo sobre o que, como e por que este estudo está sendo feito. Receberei uma cópia assinada deste formulário de consentimento. São Paulo, ___ de ___ de 2008 ______________________________ _______________________________ Assinatura do participante Assinatura do pesquisador

Page 71: Claudia Teixeira Gadelha Evolução cultural em análogos ... · Esta palavra realmente descreve ... como descrever o apoio que vocês me deram ... não teria achado um cantinho pra

iii

Anexo 3

Esta é uma atividade introdutória para sua participação no jogo, nenhum dos exercícios propostos abaixo tem como objetivo avaliar seu desempenho. Preencha os espaços com os sinais < (menor que), > (maior que) e = (igual a), de acordo com os exemplos: 21 < 22 15 = 15

9 ___ 7 17___ 17 36___ 36 1 ___ 1

23___32 25____24 30___ 3 16___32

Efetue as operações abaixo e coloque P para resultados pares e I para resultados ímpares, de acordo com os exemplos:

12+12= 24 18x3 = 36

17x2 = (32+3) – 1=

20-3 = 15 + 16 =

30÷2 = 23 – 4 =

6² = 3x7=

16 ÷ 4 = √25 =