Cível - Ano de 2014

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Sumários de Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça Secções Cíveis Boletim anual 2014 Assessoria Cível 1 Janeiro Responsabilidade extracontratual Danos não patrimoniais Cônjuge Danos reflexos Os arts. 483.º, n.º 1, e 496.º, n.º 1, do CC, devem ser interpretados no sentido de abrangerem os danos não patrimoniais, particularmente graves, sofridos por cônjuge de vítima sobrevivente, atingida de modo particularmente grave. 09-01-2014 Revista n.º 6430/07.0TBBRG.S1 - Plenário das Secções Cíveis João Bernardo (Relator) João Camilo (vencido) Paulo Sá (vencido) Maria dos Prazeres Pizarro Beleza Oliveira Vasconcelos Fonseca Ramos Ernesto Calejo Serra Baptista Helder Roque (vencido) Salazar Casanova Álvaro Rodrigues (vencido) Lopes do Rego Orlando Afonso Sérgio Poças Távora Victor Gregório da Silva Jesus Fernandes do Vale Granja da Fonseca Fernando Bento Martins de Sousa Gabriel Catarino João Trindade Tavares de Paiva Silva Gonçalves Abrantes Geraldes Ana Paula Boularot (vencida) Maria Clara Sottomayor Azevedo Ramos Silva Salazar (vencido) Sebastião Póvoas (vencido) Nuno Cameira (vencido) Alves Velho Pires da Rosa Bettencourt de Faria Sousa Leite Salreta Pereira Pereira da Silva (vencido) Nulidade de acórdão Oposição entre os fundamentos e a decisão Uniformização de jurisprudência

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  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    1

    Janeiro

    Responsabilidade extracontratual

    Danos no patrimoniais

    Cnjuge

    Danos reflexos

    Os arts. 483., n. 1, e 496., n. 1, do CC, devem ser interpretados no sentido de abrangerem os

    danos no patrimoniais, particularmente graves, sofridos por cnjuge de vtima sobrevivente,

    atingida de modo particularmente grave.

    09-01-2014

    Revista n. 6430/07.0TBBRG.S1 - Plenrio das Seces Cveis

    Joo Bernardo (Relator)

    Joo Camilo (vencido)

    Paulo S (vencido)

    Maria dos Prazeres Pizarro Beleza

    Oliveira Vasconcelos

    Fonseca Ramos

    Ernesto Calejo

    Serra Baptista

    Helder Roque (vencido)

    Salazar Casanova

    lvaro Rodrigues (vencido)

    Lopes do Rego

    Orlando Afonso

    Srgio Poas

    Tvora Victor

    Gregrio da Silva Jesus

    Fernandes do Vale

    Granja da Fonseca

    Fernando Bento

    Martins de Sousa

    Gabriel Catarino

    Joo Trindade

    Tavares de Paiva

    Silva Gonalves

    Abrantes Geraldes

    Ana Paula Boularot (vencida)

    Maria Clara Sottomayor

    Azevedo Ramos

    Silva Salazar (vencido)

    Sebastio Pvoas (vencido)

    Nuno Cameira (vencido)

    Alves Velho

    Pires da Rosa

    Bettencourt de Faria

    Sousa Leite

    Salreta Pereira

    Pereira da Silva (vencido)

    Nulidade de acrdo

    Oposio entre os fundamentos e a deciso

    Uniformizao de jurisprudncia

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

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    Acrdo das seces cveis reunidas

    Insolvncia

    Graduao de crditos

    Contrato-promessa

    Tradio da coisa

    Sinal

    Incumprimento do contrato

    Administrador de insolvncia

    Direito de reteno

    Hipoteca

    I - A nulidade do acrdo por contradio entre os fundamentos e a deciso ocorre quando as

    premissas do silogismo judicirio (fundamentao) no sejam congruentes com a concluso

    (deciso) que delas tem de decorrer logicamente.

    II - No caso dos acrdos para uniformizao de jurisprudncia, o segmento uniformizador deve

    apresentar-se como o corolrio lgico de fundamentos que ao mesmo devam conduzir.

    III - nulo, com tal fundamento, o AUJ cuja fundamentao est orientada no sentido de que o

    segmento uniformizador seja enunciado de uma forma restrita, quedando-se no conhecimento

    da graduao de crditos em insolvncia apenas ao promitente-comprador que seja igualmente

    consumidor, e, a final, foi decidido no segmento respectivo, que No mbito da graduao de

    crditos em insolvncia o promitente-comprador em contrato, ainda que com eficcia

    meramente obrigacional com traditio, devidamente sinalizado, que no obteve o cumprimento

    do negcio por parte do administrador da insolvncia, goza do direito de reteno nos termos

    do estatudo no art. 755., n. 1, al. f), do CC.

    09-01-2014

    Incidente n. 92/05.6TYVNG-M.P1.S1 - Plenrio das Seces Cveis

    Tvora Victor (Relator)

    Srgio Poas (vencido)

    Gregrio da Silva Jesus

    Fernandes do Vale

    Granja da Fonseca

    Fernando Bento

    Martins de Sousa

    Gabriel Catarino

    Joo Trindade

    Tavares de Paiva

    Silva Gonalves

    Abrantes Geraldes

    Ana Paula Boularot (vencida)

    Azevedo Ramos

    Silva Salazar

    Sebastio Pvoas (vencido)

    Nuno Cameira

    Alves Velho

    Pires da Rosa (vencido)

    Bettencourt de Faria

    Sousa Leite

    Salreta Pereira

    Pereira da Silva

    Joo Bernardo

    Joo Camilo (vencido)

    Paulo S

    Maria dos Prazeres Pizarro Beleza (vencida)

    Oliveira Vasconcelos

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    3

    Serra Baptista

    Helder Roque

    Salazar Casanova (vencido)

    lvaro Rodrigues

    Lopes do Rego (vencido)

    Henriques Gaspar

    Contrato de crdito ao consumo

    Contrato de compra e venda

    Integrao do negcio

    Regime aplicvel

    I - O art. 12. do DL n. 359/91, de 21-09, consagra uma unio de contratos compra e venda e

    mtuo , em que se estabelece que o direito do comprador-consumidor a demandar o

    financiador-credor est dependente da verificao do incumprimento ou cumprimento

    defeituoso do contrato de compra e venda pelo vendedor.

    II - Para que o incumprimento do contrato de compra e venda se possa repercutir na execuo do

    contrato de mtuo, necessrio que este tenha sido celebrado no contexto de uma relao com

    carcter de exclusividade, previamente estabelecida, entre o vendedor e o financiador, o que

    no sucede no caso dos autos.

    III - Se o contrato de crdito, reduzido a escrito, no fornece qualquer elemento ou referncia

    quanto ao sujeito onerado com a obrigao de promover a inscrio no registo, obteno e

    entrega do ttulo de registo de propriedade e reserva, nem se pode recorrer ao contrato de

    compra e venda, verbalmente celebrado, o regime legal supletivo do art. 882., n. 2, do CC,

    resolve o problema sem necessidade de recorrer integrao da relao negocial ,

    relativamente ao vendedor, ao prever que, na falta de estipulao em contrrio, recai sobre este

    a referida obrigao.

    14-01-2014

    Revista n. 4354/07.0TBGDM.P1.S1 - 1. Seco

    Alves Velho (Relator)

    Paulo S

    Garcia Calejo

    Transitrio

    Contrato de transporte

    Furto

    Perda das mercadorias

    Responsabilidade

    Contrato de seguro de mercadorias

    I - A actividade transitria vem definida no art. 1., n. 2, do DL n. 255/99, de 7-07, como sendo

    aquela que consiste na prestao de servios de natureza logstica e operacional que inclui o

    planeamento, o controlo, a coordenao e a direco das operaes relacionadas com a

    expedio, recepo, armazenamento e circulao de bens ou mercadorias, ().

    II - Esta actividade engloba, assim, uma complexidade de actuaes, as quais podero passar no s

    pela realizao de actos jurdicos, mas tambm, pela realizao de operaes materiais, sendo

    estas as de recebimento da mercadoria e a sua entrega aos transportadores, recepo,

    verificao e entrega da mercadoria ao seu destinatrio, bem como a celebrao dos contratos

    de seguro e cumprimento das formalidades administrativas e alfandegrias.

    III - As empresas transitrias respondem perante os clientes que consigo contratam, como se

    fossem elas prprias as transportadoras que tivessem incorrido em incumprimento, empresas

    estas por si contratadas para efectuarem o transporte, sem prejuzo do direito de regresso que

    podero accionar, nos termos do art. 15., n. 1 e 2, do supra enunciado DL.

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    IV - O contrato de seguro efectuado pela r com a interveniente opera nestas situaes em que a

    empresa transitria, no exerccio dessa especfica actividade de transitria (e no de

    transportadora), seja chamada a assegurar os danos ocorridos durante o transporte por si

    contratado com um terceiro, nomeadamente pela ocorrncia do furto da mercadoria objecto de

    tal acordo.

    14-01-2014

    Revista n. 2896/04.TBSTB.L2.S1 - 6. Seco

    Ana Paula Boularot (Relatora) *

    Pinto de Almeida

    Azevedo Ramos

    Acidente de viao

    Concorrncia de culpa e risco

    Culpa exclusiva

    I - A ultrapassagem representa uma manobra especial de tal forma que a lei s a permite quando da

    sua realizao no resulte perigo ou embarao para o trnsito, sendo proibida nos casos em

    que a via, pela sua largura ou outras caractersticas, seja inapropriada realizao da

    manobra, como resulta da conjugao dos arts. 35. e 45., n. 1, al. d), do CEst.

    II - O sinal efectuado com o brao com a finalidade de indicar a realizao de uma ultrapassagem,

    no efectuada com a devida antecedncia, coincidindo com o incio da manobra, no se pode

    ter como feita de forma visvel, sem deixar quaisquer dvidas aos demais utentes da via,

    nomeadamente ao condutor de veculo pesado que siga na frente.

    III - Por outro lado, os sinais, embora devidamente efectuados, no conferem direitos

    imediatamente exequveis aos que deles se servem, tendo antes a funo de aviso de que se ir

    ter um determinado comportamento, mas apenas quando e se as demais circunstncias

    adjacentes o permitirem.

    IV - Tendo sido constatado que o autor conduzia sob o efeito do lcool e que o seu estado foi

    determinante para a produo do resultado, sobre si incidindo a culpa efectiva do mesmo, tal

    circunstncia leva eliso da culpa do condutor do veculo seguro na r, nos termos do art.

    505. do CC.

    V - A lei civil apenas concebe situaes de concorrncia de culpa cf. art. 570. do CC , e no

    quaisquer outras, como a de culpa e risco.

    14-01-2014

    Revista n. 284/07.3TCGMR.G3.S1 - 6. Seco

    Ana Paula Boularot (Relatora) *

    Pinto de Almeida

    Azevedo Ramos

    Arguio de nulidades

    Nulidade processual

    Taxa de justia

    Falta de pagamento

    Alegaes de recurso

    Reclamao

    Tribunal da Relao

    A nulidade processual decorrente da falta de pagamento da taxa de justia devida pela apresentao

    das alegaes da apelao deve ser arguida no perante este STJ mas, perante o tribunal

    em que foi cometida, no caso, perante a Relao, por meio de reclamao, no prazo previsto

    no art. 205. do anterior CPC, sob pena de se considerar sanada.

    14-01-2014

    Revista n. 309/10.5TCGMR.G1.S1 - 6. Seco

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    5

    Azevedo Ramos (Relator)

    Silva Salazar

    Nuno Cameira

    Expropriao parcial

    Caso julgado

    Indemnizao

    Recurso de revista

    Renncia

    I - A circunstncia de se ter invocado a nulidade de acrdo e pedido a reforma do mesmo perante

    a Relao no configura uma renncia tcita ao recurso de revista.

    II - Diversamente do que sucede na excepo de caso julgado, a autoridade do caso julgado,

    decorrente de anterior deciso, dispensa as trs identidades de sujeito, de pedido e de causa

    de pedir a que alude o art. 498. do CPC.

    III - O acrdo da Relao proferido no processo de expropriao de prdio de que foi destacada a

    parcela sobrante, ora expropriada, tendo decidido definitivamente a fixao da indemnizao

    pela desvalorizao da mesma, releva como autoridade de caso julgado nessa parte, pelo que o

    tribunal apurar a medida da respectiva indemnizao pelo valor residual que, desde ento, tal

    parcela passou a ter.

    14-01-2014

    Revista n. 2167/11.3TBMAI.P1.S1 - 6. Seco

    Azevedo Ramos (Relator)

    Silva Salazar

    Nuno Cameira

    Respostas aos quesitos

    Matria de facto

    Aplicao do direito

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    Baixa do processo ao tribunal recorrido

    Tribunal de comarca

    No tendo o tribunal da 1. instncia dado resposta a um quesito que versa sobre facto alegado pela

    parte, relevante e imprescindvel para habilitar o STJ a aplicar aos factos materiais que tm

    de ser fixados pelas instncias o regime jurdico tido por adequado, devem os autos baixar,

    directamente, 1. instncia, nos termos e para os efeitos previstos no art. 729., n. 3, do CPC.

    14-01-2014

    Revista n. 409465/08.6YIPRT.E1.S1 - 6. Seco

    Fernandes do Vale (Relator)

    Ana Paula Boularot

    Pinto de Almeida

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    Fora probatria plena

    Conveno de Roma

    Fiana

    Lei aplicvel

    Residncia habitual

    Sub-rogao

    I - A fiscalizao probatria do STJ est limitada aos meios de prova que tenham fora probatria

    plena (prova legal ou vinculada).

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    Assessoria Cvel

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    II - Por fora da conjugao do preceituado nos arts. 4., n. s 1 (1. parte) e 2 (1. parte), e 9., n. 2,

    ambos da Conveno sobre a Lei Aplicvel s Obrigaes Contratuais, aberta assinatura em

    Roma, em 19-06-1980, e entrada em vigor, em Portugal, em 01-09-1994, so definidos pela lei

    portuguesa os requisitos de validade formal dum contrato de fiana celebrado entre a agncia

    de Vigo Espanha do Banco Bilbao Viscaya e a fiadora, com residncia habitual em

    Portugal.

    III - O fiador que cumprir a obrigao fica, por fora do disposto no art. 644. do CC e ipso facto,

    sub-rogado nos direitos do credor, na medida em que estes foram por ele satisfeitos, no

    sendo, no caso, invocvel o preceituado no art. 589. do mesmo Cdigo.

    14-01-2014

    Revista n. 261/09.0TCGMR.G1.S1 - 6. Seco

    Fernandes do Vale (Relator) *

    Ana Paula Boularot

    Pinto de Almeida

    Recurso de reviso

    Qualificao jurdica

    Processo pendente

    Lei aplicvel

    I - O recurso extraordinrio de reviso, previsto no art. 771. do CPC, na redaco do DL n.

    303/2007, de 24-08, no integra, formal e estruturalmente, a tramitao do processo de que se

    torna apenso, quando instaurado; a aco vive, sobrevive e finda, na maior parte dos casos,

    sem que haja tal recurso, no sendo de considerar um iter necessrio da respectiva tramitao

    cuja autonomia e fim ltimo destruir, atravs de um processo, com regras peculiares, com

    estrutura declarativa e autonomia, o caso julgado.

    II - certo que tem uma componente mista (peculiar, sobretudo, se a aco passar fase

    rescidente), com uma tramitao prpria, mas essa singular tramitao no o descaracteriza

    como aco autnoma. Com ele, inicia-se um processo novo cujo fim ltimo a excepcional

    destruio do caso julgado, formado na aco em que foi proferida a deciso revidenda.

    III - No sendo tal recurso enxertado na aco anterior, antes prevendo uma petio inicial onde

    devem ser expostos os fundamentos da reviso, que pode ser objecto de indeferimento liminar

    e s passado esse crivo, uma fase de instruo e deciso, estes elementos caracterizam-na

    como aco autnoma, o que no invalidado pelo facto do objectivo que visa se relacionar

    com a alterao de uma deciso judicial coberta pelo manto, em regra intangvel, do caso

    julgado.

    IV - O regime jurdico decorrente do DL n. 303/2007, de 24-08, no que aos recursos respeita,

    aplicvel ao recurso extraordinrio de reviso se este instaurado aps 01-01-2008 e a deciso

    revidenda foi proferida em data anterior, no podendo esse processo ser considerado processo

    pendente.

    14-01-2014

    Revista n. 5078-H/1933.L2.S1 - 6. Seco

    Fonseca Ramos (Relator) *

    Fernandes do Vale

    Ana Paula Boularot

    Caso julgado

    Identidade de sujeitos

    Simulao

    Herdeiro

    Depois da morte do seu pai, o filho herdeiro legitimrio pode pedir a declarao de nulidade do

    negcio para proteger a sua legtima, por ser terceiro interessado na declarao da simulao;

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    por isso, no tem a mesma posio jurdica do seu progenitor, em relao a prvia aco em

    que o seu pai, reconhecendo ser simulador, intentou aco contra os mesmos rus, pedindo a

    declarao de nulidade do negcio celebrado; destarte, no h identidade de sujeitos no que

    concerne mesma qualidade jurdica, pelo que no se formou caso julgado com a deciso

    proferida na aco primeiramente intentada.

    14-01-2014

    Revista n. 47/11.1TBMDA.C1.S1 - 6. Seco

    Fonseca Ramos (Relator) *

    Fernandes do Vale

    Ana Paula Boularot

    Mora do credor

    Dever de cooperao

    Reparao do dano

    I - Para haver mora do credor art. 813. do CC no basta qualquer recusa de colaborao deste,

    quando exigvel, para que o devedor execute proficientemente a sua prestao, sendo antes de

    exigir que essa recusa se relacione com actos de cooperao essenciais, omitidos ou recusados

    pelo credor que impeam a realizao da prestao pelo devedor; no estando provado, in

    casu, que a desmontagem do veculo era essencial realizao da vistoria pelo perito da R,

    como esta alegara, no houve recusa injustificada, e, como tal, no existiu mora credendi.

    II - No obstante se considerar que a mora do credor, ao invs da do devedor, no pressupe a

    culpa daquele, requisito da mora credendi que os actos no praticados pelo credor, ou por ele

    voluntariamente omitidos, sejam actos de cooperao essenciais; de outro modo, cair-se-ia

    num campo movedio pela falta de critrio objectivo pelo qual se aferisse se o seu

    comportamento era essencial para o cumprimento pelo devedor. As exigncias da boa-f so

    recprocas: os direitos subjectivos, por definio, so direitos a prestaes e implicitam

    relaes intersubjectivas de cooperao.

    14-01-2014

    Revista n. 511/11.2TBPVL.G1.S1 - 6. Seco

    Fonseca Ramos (Relator) *

    Fernandes do Vale

    Ana Paula Boularot

    Responsabilidade extracontratual

    Acidente de viao

    Lei aplicvel

    Nacional

    Norma de conflitos

    Seguro obrigatrio

    Fundo de Garantia Automvel

    Limite da indemnizao

    Excesso de pronncia

    Oposio entre os fundamentos e a deciso

    Falta de fundamentao

    I - A nulidade da deciso prevista na al. d) do n. 1 do art. 668. do CPC excesso de pronncia ,

    serve de cominao para o desrespeito do comando previsto no art. 660., n. 2, do CPC: o

    dever imposto neste preceito refere-se ao conhecimento, na sentena, de todas as questes de

    fundo ou de mrito que a apreciao do pedido e causa de pedir apresentadas pelo autor (ou,

    eventualmente, pelo ru reconvinte) suscitam, quanto procedncia ou improcedncia do

    pedido formulado, s quais o conhecimento do juiz fica confinado, com excepo daquelas

    que este deva conhecer oficiosamente.

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    II - A contradio entre a fundamentao e a deciso, fundamento de nulidade a que se reporta a al.

    c) do n. 1 do art. 668. do CPC, ocorre quando o razoamento ou o raciocnio dedutivo se

    revele antinmico ou adverso na sua coerncia, validade e compatibilidade discursiva e

    fctico-material, pelo que no se confunde com a inferncia lgico-interpretativa de uma

    factologia que serviu de base ao raciocnio formativo da deciso.

    III - S a total falta de fundamentao e no a fundamentao deficiente, acrtica e errtica

    induz a nulidade da deciso por falta de fundamentao (al. b) do n. 1 do art. 615. ex vi arts.

    666. e 679., todos do CPC).

    IV - Se o acidente de viao ocorreu quando os lesados se encontravam em trnsito,

    ocasionalmente, pelo territrio de Espanha e os mesmos detinham nacionalidade portuguesa,

    funciona a excepo do n. 3 do art. 45. do CC, pelo que a legislao aplicvel, para efeitos de

    atribuio/quantificao da indemnizao, a nacional.

    V - Perante a comprovao da falta de contrato de seguro que permita a cobertura dos danos

    ocorridos pela circulao do veculo sinistrado, a responsabilidade pelo pagamento da

    indemnizao aos lesados pelos danos corporais sofridos no acidente, cabe ao FGA, nos

    termos do art. 53., n. 3, do DL n. 522/85, de 31-12.

    VI - Ainda que, no caso concreto, o FGA estivesse obrigado a indemnizar at ao montante de 450

    000 por ser este o valor do seguro obrigatrio vigente data em que ocorreu o sinistro

    (apartado 2 do art. 1. da Directiva n. 84/5/CEE, do Conselho, de 30-12-1983, e art. 12. do

    Real Decreto n. 7/2001, de 12-01) , o direito a uma indemnizao justa, adequada e

    suficiente dos lesados impe, num eventual conflito de direitos, que este organismo de

    garantia assegure o direito a uma justa indemnizao, em detrimento dos limites contidos no

    mencionado seguro obrigatrio.

    VII - Mostra-se justa, adequada e suficiente a indemnizao atribuda pelo acrdo recorrido, nos

    termos das tabelas anexas ao Real Decreto Legislativo n. 8/2004, de 29-10, por danos no

    patrimoniais e danos patrimoniais futuros sofridos pela autora, no valor de 714 087, 70

    que, data do acidente, tinha 20 anos de idade e, por causa do mesmo, ficou com uma

    incapacidade permanente geral de 20 pontos e pelo interveniente principal, no valor 30

    656, 30 que, na mesma data, contava com 22 anos de idade e, devido ao sinistro, ficou

    afectado de incapacidade permanente geral de 18 pontos.

    14-01-2014

    Revista n. 1032/08.6TBMTA.L1.S1 - 1. Seco

    Gabriel Catarino (Relator)

    Maria Clara Sottomayor

    Sebastio Pvoas

    Contrato de empreitada

    Obras

    Preo

    Pagamento

    Equilbrio das prestaes

    Exigibilidade da obrigao

    Excepo de no cumprimento

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    Matria de facto

    I - Tendo as partes no mbito de contrato de empreitada que celebraram entre si fixado a

    obrigatoriedade de os rus (donos da obra) pagarem o preo parcelarmente e em conformidade

    com o andamento da obra, quiseram dizer que os trabalhos efectuados deveriam ser pagos

    parcialmente (aos poucos) e conforme o curso dos mesmos, introduzindo, deste modo, um

    equilbrio entre as suas prestaes.

    II - Face a esta disposio contratual, estamos perante uma obrigao de prazo incerto: (i) de

    verificao certa, pois depende da efectiva realizao de trabalhos; e (ii) de data incerta, por

    no ser possvel, logo de incio, determinar o momento da realizao dos diversos trabalhos

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    Assessoria Cvel

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    compreendidos na empreitada e, consequentemente, o momento em que a prestao

    (monetria) se tornaria exigvel.

    III - Se tinha j realizado obras no valor de Esc. 6 720 000$00 (84% da obra total) e os rus lhe

    tinham somente pago a quantia de Esc. 4 800 000$00, proporcionalmente inferior aos

    trabalhos executados, o autor (empreiteiro) pode exigir destes o pagamento da importncia de

    Esc. 1 600 000$00, como fez.

    IV - No tendo os rus efectuado o pagamento e antes comunicado ao autor que se no reiniciasse

    os trabalhos, interpretariam os actos como abandono definitivo da obra, contratando outrem

    para a sua concluso, deve ter-se como legtima a invocao ainda que tcita da excepo

    de no cumprimento do contrato pelo autor, que foi explcito ao recusar prosseguir com os

    mesmos, enquanto aqueles no lhe pagassem o preo da obra j realizada.

    V - Se as instncias consideraram como assente matria de facto com base em elementos

    probatrios sujeitos livre apreciao do tribunal como o caso de uma peritagem ou de um

    documento particular , no tem o STJ poderes para alterar essa deciso, os quais se atm s

    hipteses contidas nos arts. 722., n. 2, e 729., n. s 2 e 3, do CPC.

    14-01-2014

    Revista n. 204/1999.P2.S1 - 1. Seco

    Garcia Calejo (Relator)

    Helder Roque

    Gregrio Silva Jesus

    Recurso para uniformizao de jurisprudncia

    Oposio de julgados

    Acrdo recorrido

    Acrdo fundamento

    Concluses

    Objecto do recurso

    Rejeio de recurso

    I - No h oposio de julgados, se o acrdo fundamento decidiu no conhecer do recurso na parte

    das concluses complicadas e incompreensveis e o acrdo recorrido afirma que a referida

    sano prevista no art. 685.-A, n. 3, do CPC deve ser interpretada com moderao e

    aplicada apenas parte afectada, com aproveitamento de tudo o mais.

    II - Igualmente no pode existir contrariedade de decises se as circunstncias materiais de um e

    outro acrdo so diversas.

    14-01-2014

    Recurso para Uniformizao de Jurisprudncia n. 483/08.0TBLNH.L1.S1- A - 1. Seco

    Garcia Calejo (Relator)

    Helder Roque

    Gregrio Silva Jesus

    Administrao da herana

    Cabea de casal

    Legatrio

    Testamento

    Prestao de contas

    I - O testamenteiro, por expressa vontade da testadora, ficou incumbido de vigiar o cumprimento

    do testamento, executando-o conforme a sua vontade.

    II - Nos termos do art. 2079. do CC, a administrao da herana, at sua liquidao e partilha,

    pertence ao cabea de casal, devendo este prestar contas anualmente, como estipula o disposto

    no art. 2093. do CC.

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    10

    III - Em relao ao legatrio, o cabea de casal no lhe poder exigir os bens certos e determinados

    que foram legados e estavam j em seu poder data do falecimento do autor da herana. No

    estando esses bens em poder do legatrio, o cabea de casal poder exigir do herdeiro ou de

    herdeiros a sua entrega.

    IV - Existindo herdeiro, dele que o legatrio deve exigir o cumprimento do legado.

    V - O legatrio, normalmente, mesmo aceitando o legado, no adquire (logo) a sua posse. A posse

    do legatrio opera-se atravs da entrega da coisa, por quem estiver onerado com a obrigao

    de cumprimento do legado no tempo e no lugar estabelecido no art. 2270. do CC.

    VI - No caso, no havendo herdeiros e no existindo a posse dos ditos depsitos por parte de

    outrem, a legatria, nos termos do art. 2279. do CC, poderia exigir da r, Caixa Geral de

    Depsitos, a entrega do numerrio constante dos depsitos em causa.

    VII - Ao testamenteiro no compete, enquanto tal, cumprir legados. A sua funo essencial vigiar

    o cumprimento do testamento ou de o executar. Tambm no cabe ao cabea de casal cumprir

    legados. A sua funo administrar a herana com os contornos referidos no texto do acrdo.

    VIII - A r, Caixa Geral de Depsitos, face notificao que lhe foi efectuada pela entidade fiscal,

    no poderia deixar de realizar a penhora. Caso o no fizesse poderia incorrer em

    responsabilidade subsidiria, como decorre do art. 223. do CPPT. A quantia em falta, sem que

    a r pudesse a isso obstar, foi penhorada em execuo fiscal, ficando adstrita ao pagamento da

    dvida fiscal da autora da herana, pelo que no ter que a entregar autora.

    XIX - O legado da autora no estava a coberto de ter de responder pelas dvidas da herana, sendo

    o facto de ter de suportar com os outros legados, proporcionalmente, tais dvidas, questo

    externa a dirimir junto dos outros legatrios.

    X - No tendo a r, Caixa Geral de Depsitos, a importncia de 21 439, 56 em depsito j que,

    por solicitao do cabea de casal/testamenteiro, foi a mesma entregue a este, a r no ter que

    a entregar e restituir autora.

    XI - O cabea de casal deve prestar contas da administrao, anualmente (art. 2093., n. 1, do CC),

    pelo que ter que ser junto dele que a autora se dever dirigir, pedindo-lhe explicaes e

    esclarecimentos pelo levantamento monetrio em questo.

    14-01-2014

    Revista n. 332/11.2TBPRG.L1.S1 - 1. Seco

    Garcia Calejo (Relator) *

    Helder Roque

    Gregrio Silva Jesus

    Responsabilidade contratual

    Culpa in contrahendo

    Indemnizao

    Interesse contratual negativo

    Interesse contratual positivo

    Nulidade de sentena

    Condenao em objecto diverso do pedido

    Danos no patrimoniais

    I - Tendo os autores em aco de indemnizao por responsabilidade pr-contratual limitado o

    seu pedido de indemnizao a vrias parcelas destinadas a reparar danos emergentes que

    constituem o denominado interesse contratual negativo, no pode o tribunal sob pena de

    nulidade da sentena, por condenao em objecto diferente do pedido condenar a r no

    pagamento de uma indemnizao pelo interesse contratual positivo dos autores, pelo ganho

    que lhes adviria da formalizao do contrato, que no foi pedida, muito embora o respectivo

    montante se contivesse dentro dos limites do peticionado.

    II - Provado que os autores, na sequncia da recusa injustificada da r em cumprir o que havia

    acordado com estes, assumiram encargos bancrios que, para os suportar, com dois filhos a

    cargo, tiveram de se privar de bens necessrios, porventura de melhor qualidade e de maior

    valor, assim como de actividades ldicas e de formao, o que os incomoda e preocupa, alm

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    11

    de que, na veste de incumpridores se tenham sentido vexados com o seu nome posto em causa,

    afigura-se equilibrada e justa a quantia de 10 000, atribuda pela Relao, para indemnizao

    de tais danos no patrimoniais, que atingem a gravidade necessria para merecerem a tutela da

    ordem jurdica.

    14-01-2014

    Revista n. 981/04.5TBFAF.G2.S1 - 1. Seco

    Gregrio Silva Jesus (Relator)

    Martins de Sousa

    Gabriel Catarino

    Unio de facto

    Direito de habitao

    Casa de morada de famlia

    Compropriedade

    Sano pecuniria compulsria

    I - O art. 4., n. 1, da Lei n. 7/2001, de 11-05, confere ao membro sobrevivo da unio de facto o

    direito real de habitao da casa de morada comum, durante o prazo de 5 anos, que se traduz

    num direito de uso e fruio (art. 1484., n. 2, do CC), pelo qual no devida qualquer

    contrapartida financeira.

    II - Extinto esse direito e assumindo o sobrevivente, a partir de ento, os poderes de fruio da

    fraco inerentes sua qualidade de comproprietrio, demonstrada a licitude da utilizao,

    mantm-se indevido o pagamento de uma quantia mensal pela respectiva ocupao.

    III - A sano pecuniria compulsria a que alude o art. 829.-A, n. 1, do CC, tem por fim no

    indemnizar os danos sofridos pelo credor com a mora , mas forar o devedor a cumprir, isto

    , determin-lo a realizar o cumprimento devido e no qual foi condenado, vencendo a

    resistncia da sua oposio ou da sua inaco.

    14-01-2014

    Revista n. 7244/04.4TBCSC.L1.S1 - 1. Seco

    Gregrio Silva Jesus (Relator)

    Martins de Sousa

    Gabriel Catarino

    Recurso de agravo na segunda instncia

    Admissibilidade de recurso

    Questo nova

    de julgar extinta a instncia de recurso, por impossibilidade de conhecimento do respectivo

    objecto, se o recorrente suscita tema de natureza processual pela primeira vez, que, no sendo

    de conhecimento oficioso, nem uma circunstncia adjectiva susceptvel de determinar a

    aceitao do agravo, o STJ no pode conhecer, sob pena de preterio de jurisdio.

    14-01-2014

    Agravo n. 838/06.5TBTMR-E.C1.S1 - 1. Seco

    Gregrio Silva Jesus (Relator)

    Martins de Sousa

    Gabriel Catarino

    Responsabilidade contratual

    Culpa in contrahendo

    Boa f

    Contrato-promessa

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    12

    Cesso de quota

    Reduo do preo

    I - A celebrao do contrato no afasta a aplicao do instituto da culpa in contrahendo, que no

    pressupe, necessariamente, a imperfeio do contrato, porquanto o mesmo aplicvel, quer

    na hiptese da interrupo das negociaes, quer na hiptese da realizao do contrato,

    porquanto, no mbito da denominada relao de negociaes, cada uma das partes pode,

    segundo a boa f, esperar a comunicao dos factos que a outra parte deva admitir serem

    importantes para a sua deciso de contratar, e de que, por si s, no pode obter conhecimento,

    evitando-se quaisquer falsas informaes.

    II - No se demonstrando que os cedentes tenham ocultado, dolosa ou culposamente, os vcios do

    ente societrio a que se reporta a cesso de quotas que prometeram transmitir, inexiste

    fundamento legal para imputar queles responsabilidade civil, com base na culpa in

    contrahendo, quer nos preliminares, quer na formao do contrato, proveniente da violao

    das regras da boa f.

    III - Tendo o contrato definitivo de cesso de quotas sido celebrado com conhecimento, por parte

    do promitente cessionrio, dos alegados nus ou limitaes do bem, sendo certo que podia dar

    sem efeito o contrato-promessa, com a total aquiescncia do promitente cedente, para alm de

    que se no demonstrou o dolo ou a essencialidade do erro ou da sua ignorncia, acerca desses

    nus ou limitaes, ou a sua recognoscibilidade para o cedente, inexiste fundamento legal para

    a reduo do preo.

    14-01-2014

    Revista n. 1850/06.0TVLSB.L1.S1 - 1. Seco

    Helder Roque (Relator) *

    Gregrio Silva Jesus

    Martins de Sousa

    Contrato-promessa de compra e venda

    Condio suspensiva

    Prestao

    Impossibilidade superveniente

    Mora do devedor

    Incumprimento definitivo

    Resoluo do negcio

    Extino do contrato

    Enriquecimento sem causa

    I - A resoluo constitui uma das excees que opera a extino ou modificao da relao

    contratual, por vontade exclusiva de uma das partes, significando a primazia do princpio da

    boa f sobre o princpio da autonomia privada.

    II - A prestao torna-se impossvel quando, por qualquer circunstncia, legal, natural ou humana,

    o comportamento exigvel do devedor se mostra invivel, mas, tambm, quando a

    probabilidade da sua realizao, por no depender apenas de circunstncias controlveis pela

    vontade do devedor, se apresenta, extremamente, improvvel.

    III - Ocorrendo a impossibilidade da obrigao condicional assumida pelo promitente vendedor,

    aps a celebrao do contrato-promessa, mas antes da verificao da condio suspensiva, em

    que se traduzia a emisso da autorizao camarria para a desanexao da parcela a alienar, a

    mesma deve ser considerada como impossibilidade superveniente e no como impossibilidade

    originria.

    IV - Nos contratos bilaterais, a resoluo funciona, sem mais, como uma constante, nos casos de

    impossibilidade culposa do devedor, isto , em situaes de incumprimento definitivo, mas

    no j, na hiptese da mora, que no permite, por via de regra, com ressalva da existncia de

    conveno em contrrio, a imediata resoluo do contrato, a menos que se converta em

    incumprimento definitivo.

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    13

    V - Mantendo-se a titularidade do direito do promitente-comprador celebrao do contrato

    definitivo de compra e venda prometido, e subsistente o contrato-promessa convencionado,

    sem embargo de aquele se encontrar privado de uma parte substancial da quantia que entregou

    ao promitente vendedor, como sinal e princpio de pagamento, no se verifica o

    empobrecimento daquele, nem o correspetivo enriquecimento deste, tendo a deslocao

    patrimonial verificada causa justificativa, uma vez que o facto jurdico da compra e venda que

    o contrato-promessa em apreo visa alcanar, tem, segundo o direito, o efeito de produzir a

    aquisio patrimonial respetiva.

    VI - Quando o vcio da situao posterior concluso do negcio, como acontece quando num

    contrato bilateral a inviabilidade do fim provenha da impossibilidade superveniente de uma

    das prestaes, por facto no imputvel ao devedor, porquanto o credor goza do direito de

    exigir a restituio da prestao que j tiver realizado, no se tratando de uma causa interna,

    no tendo o negcio natureza causal, os vcios respetivos no geram a nulidade ou a resoluo

    de todo o negcio.

    14-01-2014

    Revista n. 6634/09.0TVLSB.L1.S1 - 1. Seco

    Helder Roque (Relator) *

    Gregrio Silva Jesus

    Martins de Sousa (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Competncia material

    Tribunal comum

    Responsabilidade extracontratual

    Omisso

    Dever de vigilncia

    Empresa concessionria de servio pblico

    Auto-estrada

    No perodo anterior ao incio de vigncia da Lei n. 67/2007, de 31-12, so competentes os

    tribunais comuns para conhecer da responsabilidade civil de empresa concessionria da

    explorao e conservao de uma auto-estrada, pela omisso de deveres de vigilncia.

    14-01-2014

    Revista n. 871/05.4TBMFR.L1.S1 - 1. Seco

    Maria Clara Sottomayor (Relatora) *

    Sebastio Pvoas

    Moreira Alves

    Contrato de prestao de servios

    Administrador

    Extino do contrato

    Renncia

    Declarao receptcia

    Declarao tcita

    Matria de direito

    Incumprimento parcial

    Resoluo

    Direito indemnizao

    I - A verificao da existncia de uma declarao tcita constitui matria de direito, uma vez que

    ela se deduz de factos que com toda a probabilidade a revelam.

    II - Se, entre autor e r, foi celebrado contrato de prestao de servio, no mbito do qual competia

    quele, em exclusividade e a tempo inteiro, exercer, em representao desta, o cargo de

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    14

    administrador de empresas que esta viesse a indicar e que fossem por si participadas e se, na

    data em que, em representao da r, exercia funes como administrador na empresa F,

    renunciou a essas funes renncia que foi dirigida a esta destinatria especfica , no pode

    concluir-se, com suficiente segurana, que, com tal declarao de vontade, pretendesse o autor

    extinguir mediante resoluo tcita o contrato que vigorava com aquele mbito.

    III - Porm, em funo e como consequncia do referido acto voluntrio de renncia, deve, antes,

    ser imputado ao autor o incumprimento (parcial) da primordial obrigao contratual

    globalmente considerada.

    IV - Vindo o contrato a ser resolvido pela r com fundamento em incumprimento contratual por

    parte do autor , de harmonia com clusula do dito acordo que prev, nesse caso, o direito a

    pagamentos pelo perodo da efectiva prestao dos seus servios , no assiste ao mesmo o

    direito a ser pago pelo perodo em que, aps a declarao de renncia, deixou de exercer

    funes como administrador em qualquer uma das empresas participadas pela r.

    14-01-2014

    Revista n. 2197/06.7TBVNG.P1.S1 - 1. Seco

    Martins de Sousa (Relator)

    Gabriel Catarino

    Maria Clara Sottomayor

    Caso julgado

    Letra de cmbio

    Relaes imediatas

    Relaes mediatas

    Relao jurdica subjacente

    Portador legtimo

    Endosso

    M f

    Oponibilidade

    I - O conceito de questes, a que alude o art. 660., n. 2, do CPC, relaciona-se indelevelmente com

    a definio do mbito do caso julgado, dele se excluindo as questes prvias ou prejudiciais ao

    conhecimento do mrito, bem como os raciocnios, argumentos, razes, consideraes,

    pressupostos ou fundamentos produzidos pelas partes para a defesa dos seus pontos de vista

    que no integram, isoladamente, matria de deciso jurisdicional.

    II - A letra de cmbio um ttulo cambirio que se reveste das caractersticas da literalidade, da

    abstraco e da autonomia, o que significa que vale por si mesma, nos exactos termos em que

    as obrigaes nela vm definidas e independentemente da relao causal que lhes deu origem

    (negcio jurdico subjacente), podendo o obrigado cambirio vir a efectuar o seu pagamento,

    no ao sujeito que no momento da subscrio ocupa a posio de credor, mas sua ordem.

    III - No domnio do direito cambirio importa diferenciar entre as relaes imediatas, que, por via

    de regra, se estabelecem entre os subscritores originais da letra, antes mesmo desta entrar em

    circulao no desempenhando a letra, nessa circunstncia, a sua funo autnoma e

    abstracta , e as relaes mediatas, que so as que se verificam quando aquele ttulo de crdito

    est na posse de pessoa estranha conveno extra-cartular.

    IV - O exequente legtimo portador da letra se esta lhe tiver sido regularmente endossada e no

    ficar provada qualquer factualidade que permita concluir que a adquiriu de m-f ou que ao

    adquiri-la cometeu uma falta grave cf. art.16. da LULL.

    V - A ideia que o art. 17. da LULL reflecte aplica-se s situaes em que haja endosso, no

    podendo o obrigado cambirio opor ao portador/tomador as excepes fundadas sobre as

    relaes pessoais dele com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador,

    ao adquirir aquele ttulo, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

    14-01-2014

    Revista n. 1846/09.0TBGMR-A.G1.S1 - 1. Seco

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    15

    Martins de Sousa (Relator) *

    Gabriel Catarino

    Maria Clara Sottomayor

    Investigao de paternidade

    Inconstitucionalidade

    Prazo de caducidade

    O art. 1817., n. 1, do CC, na redaco emergente da Lei n. 14/2009, de 01-04, ao estabelecer o

    prazo de caducidade de 10 anos aps a maioridade (ou emancipao) do investigante para a

    propositura da aco de investigao de paternidade (cf. art.1873.) inconstitucional, por

    violao dos arts. 18., n.s 2 e 3, 26., n. 1, e 36., n. 1, da CRP.

    14-01-2014

    Revista n. 155/12.1TBVLC-A.P1.S1 - 1. Seco

    Martins de Sousa (Relator) *

    Maria Clara Sottomayor

    Gabriel Catarino

    Recurso de apelao

    Impugnao da matria de facto

    nus de impugnao especificada

    Nulidade de acrdo

    Omisso de pronncia

    Inabilidade para depor

    I - No recurso relativo matria de facto, deve o recorrente especificar os concretos pontos de facto

    que se consideram incorrectamente julgados, bem como indicar individualizadamente os

    meios probatrios da gravao, que impunham deciso diversa, sob pena de rejeio (cf. art.

    690.-A, n. 1, als. a) e b), do CPC, na redaco aplicvel do DL n. 183/2000, de 10-08).

    II - No cumpre o referido nus, o recorrente que: (i) apresenta uma impugnao genrica e

    indirecta da matria de facto, inserida em jeito de comentrio sentena recorrida e reportada,

    no aos concretos pontos de facto, mas s concluses da mesma; e (ii) procede indicao

    global da prova testemunhal e documental produzida, sem especificao concretizada ou

    identificao do concreto ponto da matria de facto, cuja resposta, em seu entender, deveria

    ser alterada e em que sentido.

    III - No h nulidade do acrdo recorrido que no se pronuncia sobre a questo do mrito, por ter

    ficado esta prejudicada pela no alterao da matria de facto provada, pois que face aos

    factos fixados, nunca seria vivel a procedncia de qualquer dos pedidos.

    IV - Igualmente no padece de nulidade por omisso de pronncia, o acrdo recorrido que no

    aprecia questo que, pese embora suscitada no corpo das alegaes, no consta do elenco das

    concluses, como seria apropriado e exigvel, na medida em que so estas que fixam o objecto

    do recurso.

    V - A circunstncia de uma pessoa ter interesse directo na causa elemento a que o juiz atender

    naturalmente para avaliar a fora probatria do depoimento, mas no deve ser fundamento de

    inabilidade, pelo que pode depor como testemunha.

    14-01-2014

    Revista n. 7181/06.8TBMTS.P1.S1 - 1. Seco

    Moreira Alves (Relator)

    Alves Velho

    Paulo S

    Bem imvel

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    16

    Propriedade horizontal

    Partes comuns

    Defeitos

    Denncia

    Prazo de caducidade

    Defesa do consumidor

    I - O regime estabelecido no art. 1225. do CC confere ao adquirente de imvel destinado a longa

    durao o direito de exigir ao vendedor/construtor a eliminao dos defeitos ou a

    indemnizao pelo prejuzo decorrente do vcio de construo.

    II - O conceito de vendedor/construtor no deve ser interpretado num contexto puramente literal,

    relevando, no tanto o desenvolvimento material da actividade de construo, mas sim o

    domnio profissional da construo do imvel.

    III - S com esta amplitude conferida ao conceito de vendedor/construtor se torna eficaz a

    proteco do consumidor/adquirente do imvel, que o DL n. 267/94, de 25-10, lhe quis

    proporcionar com as alteraes que introduziu no art. 1225. do CC.

    IV - O art. 1225. do CC contempla trs prazos de caducidade: (i) o prazo de garantia (supletivo) de

    5 anos, contados a partir da entrega do imvel ao adquirente; (ii) o prazo de 1 ano, a contar do

    conhecimento do defeito, para exercer o direito de denncia; e (iii) o prazo de 1 ano,

    subsequente denncia, dentro do qual ter de ser instaurada a aco destinada a exercitar o

    direito eliminao dos defeitos ou indemnizao.

    V - Se o defeito apenas surge ou conhecido pelo adquirente do prdio, aps o decurso do prazo de

    garantia, j no poder ser exercido o direito de denncia da aco.

    VI - Se, ao contrrio, o defeito apenas se tornar conhecido no perodo final do prazo de garantia,

    mas antes deste se esgotar, ento o adquirente dispe do prazo de 1 ano, a partir do

    conhecimento, para exercer o direito de denncia e de outro ano, subsequente denncia, para

    exercer o direito de aco.

    VII - No entanto, a denncia pode ser dispensada no caso de o adquirente detectar o defeito dentro

    do prazo de garantia e intentar a aco no prazo de um ano a partir desse conhecimento, pois,

    ento, a citao para a aco funcionar como denncia.

    VIII - Quando estamos na presena de um prdio constitudo em propriedade horizontal e os

    defeitos invocados se referem s partes comuns do edifcio, a entrega do imvel ao adquirente,

    para o efeito da contagem do prazo de garantia, deve ter-se por efectuada quando instituda a

    administrao do condomnio, seja por iniciativa do construtor/vendedor, seja por aco dos

    condminos.

    XIX - A denncia dos defeitos da obra, para efeitos do disposto no art. 1225. do CC, tem a

    natureza de uma declarao receptcia, que s produz os seus efeitos quando chega ao poder

    ou ao conhecimento do destinatrio dentro do prazo a que est sujeito.

    14-01-2014

    Revista n. 378/07.5TBLNH.L1.S1 - 1. Seco

    Moreira Alves (Relator)

    Alves Velho

    Paulo S

    Responsabilidade extracontratual

    Acidente de viao

    Culpa exclusiva

    Indemnizao

    Danos no patrimoniais

    Danos patrimoniais

    Danos futuros

    I - Se se provou que (i) o veculo automvel de matrcula 23-77-PE, segurado na r/recorrente,

    circulava a uma velocidade no inferior a 100 km/h, pela hemi-faixa de rodagem esquerda; (ii)

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    17

    a condutora o tripulava de forma distrada e por isso no deu conta de obstculos na via,

    designadamente do veculo automvel com a matrcula 90-43-OT, que se encontrava

    sinistrado e imobilizado no centro da mesma, alm de vrios veculos parados e outros que

    seguiam em marcha lenta na hemi-faixa da direita; (iii) apesar do aparato, o PE continuou a

    circular pela hemi-faixa da esquerda, a ultrapassar os vrios veculos que seguiam em marcha

    lenta; (iv) aproximando-se do OT, sem parar at que quando deu pela existncia do obstculo,

    j muito prximo dele, travou, mas sem conseguir imobilizar o veculo, foi embater com a

    parte da frente na parte lateral direita do OT, de concluir que este sinistro se ficou a dever

    exclusivamente conduta grosseiramente negligente da condutora do PE.

    II - Afigura-se equitativa a indemnizao fixada pelas instncias, em 70 000, por danos no

    patrimoniais sofridos pela autora A, que, em consequncia do referido acidente no momento

    do embate, encontrava-se de p, junto traseira do OT e foi atingida pelos estilhaos

    resultantes do choque, tendo sido projectada ao solo, com batimento e arrastamento do corpo

    pelo cho , foi sujeita a trs intervenes cirrgicas, a longo perodo de tratamento e sofreu

    leses, que lhe acarretaram perturbaes graves do ponto de vista psicolgico e social, com

    implicaes cognitivas, emocionais e comportamentais, com afectao da memria,

    pensamento e linguagem.

    III - Igualmente se mostra adequado o quantitativo de 160 000 para indemnizar os danos

    patrimoniais futuros sofridos pela mesma, tendo em conta (i) a idade da autora A, data do

    acidente (25 anos); (ii) a incapacidade permanente de 24 pontos, a exigir especial esforo

    adicional para o desempenho da sua actividade habitual; (iii) as oportunidades perdidas no que

    respeita sua valorizao profissional; (iv) o salrio auferido ( 745); e (v) a previsvel

    progresso na carreira acadmica.

    14-01-2014

    Revista n. 2276/07.3TBOVR.P1.S1 - 1. Seco

    Moreira Alves (Relator)

    Alves Velho

    Paulo S

    Responsabilidade extracontratual

    Obrigao de indemnizar

    Pressupostos

    nus da prova

    Cheque sem proviso

    I - No mbito da responsabilidade extracontratual, como o caso, a obrigao de indemnizar s se

    constitui quando esto presentes, cumulativamente, os respectivos pressupostos: ilicitude,

    culpa, dano e nexo causal.

    II - Compete a quem se arroga o direito indemnizao, alegar e provar os mencionados

    pressupostos.

    III - Da verificao de uma situao ilcita no pode presumir-se o dano, que tem de ser concreto e

    efectivo e provado pelo lesado.

    IV - Provado que a conta sacada no se encontra provisionada para pagamento dos cheques

    apresentados, a sua devoluo pelo banco com fundamento em ilegtima revogao, no , por

    si s, causa adequada para produzir qualquer dano concreto e efectivo ao portador respectivo,

    visto que, perante as circunstncias concretas conhecidas, no era razovel prever, face ao

    curso normal das coisas, que os cheques seriam pagos autora, se no fosse a devoluo

    fundada na sua revogao, isto , no era razovel prever que o dano invocado pela autora no

    se verificaria se no fosse a conduta da r.

    V - Compete ao portador do cheque ilicitamente revogado e devolvido com tal fundamento, alegar

    e provar que, se no fosse essa revogao e devoluo ilcita do cheque apresentado a

    pagamento no prazo legal, o ttulo seria ou poderia ser descontado pelo banco sacado, j

    porque existia proviso suficiente, j porque havia acordo que permitia ou mesmo impunha o

    pagamento, apesar de descoberto da conta, acordo esse, que obviamente, no facto notrio.

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    18

    14-01-2014

    Revista n. 64/10.9TVPRT.P1.S1 - 1. Seco

    Moreira Alves (Relator)

    Alves Velho

    Paulo S

    Prescrio presuntiva

    Sociedade annima

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    Respostas base instrutria

    Depoimento de parte

    I - O art. 317., al. c), do CC, consagra a prescrio presuntiva, que se funda numa presuno de

    cumprimento, justificada na dificuldade do consumidor provar o cumprimento das obrigaes

    assumidas no seu quotidiano, face prtica generalizada de no exigir documento de quitao

    ou de no o guardar.

    II - No beneficia desta presuno de cumprimento o devedor, sociedade annima, que, possuindo

    contabilidade organizada, tem o dever de documentar nesta todos os pagamentos efectuados,

    maxime, os de valor avultado, como o caso dos autos.

    III - A resposta dada pelas instncias ao nico quesito da base instrutria que deviam ter dado

    como provado , exclusivamente motivada na assentada de depoimento de parte do

    representante legal da r, quando existe discrepncia essencial entre este e o seu real

    depoimento pessoal, produzido em julgamento e no reduzido a escrito, possibilita a

    interveno do STJ na fixao da matria de facto, nos termos do art. 722., n. 3, do CPC.

    14-01-2014

    Revista n. 355/11.1TBSTS.P1.S1 - 6. Seco

    Salreta Pereira (Relator)

    Joo Camilo

    Fonseca Ramos

    Execuo para pagamento de quantia certa

    Livrana

    Juros de mora

    Taxa de juro

    Sendo dada execuo uma livrana e tendo o exequente optado pela aplicao da taxa de juros

    moratrios, ao abrigo do DL n. 262/83, de 16-12, nos termos do decidido no Assento do STJ

    n. 4/92, prescindiu da taxa fixa de direito cambirio, passando a taxa efectivamente devida a

    ter de ser encontrada, em sucessivas liquidaes do julgado, considerando-se aplicvel a que

    vigorasse em cada momento de vigncia das respectivas Portarias.

    14-01-2014

    Revista n. 263/07.0TCFUN.L1.S1 - 1. Seco

    Sebastio Pvoas (Relator)

    Moreira Alves

    Alves Velho

    Responsabilidade extracontratual

    Acidente de viao

    Direito indemnizao

    Prazo de prescrio

    Interrupo da prescrio

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    19

    Lei aplicvel

    Lugar da prtica do facto

    Estado estrangeiro

    I - Na indagao do regime jurdico aplicvel a uma situao plurilocalizada, estando em causa os

    danos resultantes de um acidente de viao ocorrido em Espanha, o conceito-quadro da regra

    de conflitos insere-se no mbito da responsabilidade extracontratual onde se inclui a

    prescrio do direito de indemnizao , enquanto o elemento de conexo se consubstancia no

    lugar do facto danoso (cf. art. 45., n. 1, do CC; art. 5., n. 3, do Regulamento (CE) n.

    44/2001, de 22-12-00; e art. 4. da Conveno sobre a lei aplicvel em matria de acidentes

    da circulao rodoviria, concluda na Conferncia de Haia de 04-05-1971, que, apesar de

    no se encontrar em vigor em Portugal, mostra-se plenamente vigente em Espanha desde 21-

    11-1987).

    II - Por conseguinte, de acordo com as disposies legais constantes da lei substantiva espanhola

    lex loci damni , que ter de se aferir a responsabilidade indemnizatria da r seguradora,

    entidade esta para a qual o proprietrio do veculo havia transferido a respectiva

    responsabilidade civil pelos danos causados a terceiros, decorrentes da circulao do mesmo.

    III - Se o acidente ocorreu em 13-08-2003 e a aco deu entrada em juzo em 22-08-2006,

    prescreveu o direito indemnizatrio, que por via daquela o autor pretendia fazer valer, seja

    considerando o prazo de um ano, previsto na lei substantiva espanhola a aplicvel seja o

    prazo de trs anos, previsto na lei substantiva portuguesa, como sustenta o autor.

    IV - irrelevante a circunstncia do ltimo dia do prazo prescricional de 3 anos (14-08-2006)

    coincidir com o perodo de frias judiciais, na medida em que, mesmo neste perodo temporal,

    devem ser realizadas todas as diligncias tendentes interrupo do referido prazo (cf. art.

    143., n. s 1, e 2, do CPC), alm de que a transferncia ope legis, da relevncia legal da

    citao a que alude o art. 478., n. 1, do CPC para o termo das frias judiciais, traduzir-se-ia

    no alargamento do prazo prescricional legalmente concedido ao respectivo titular para o

    exerccio do seu direito, em consonncia com o perodo administrativamente fixado para o

    normal funcionamento dos tribunais, o que inadmissvel luz do princpio da igualdade dos

    cidados no exerccio dos seus direitos (cf. art. 13., n. 1, da CRP).

    V - Embora o autor, na petio que apresentou, tenha requerido a citao da r, nos termos do art.

    478., n. 1, do CPC, tal requerimento, todavia, no foi apresentado at ao quinto dia anterior

    ao do termo do prazo legalmente estabelecido para a prescrio do direito por si invocado,

    pelo que no se verificou interrupo relevante do prazo que, entretanto, j havia decorrido.

    14-01-2014

    Revista n. 1782/06.1TBAMT.P1.S1 - 6. Seco

    Sousa Leite (Relator)

    Salreta Pereira

    Joo Camilo

    Condio resolutiva

    Resoluo do negcio

    Prescrio

    Caducidade

    I - O regime jurdico da prescrio no privativo dos direitos de crdito, no estando afastada a

    sua aplicao a direitos de outra natureza, quer direitos subjectivos, quer direitos potestativos,

    desde que a lei os no exclua (art. 298., n. 1, do CC).

    II - No estando previsto pela lei, nem tendo sido convencionado pelas partes, quando tal seja

    possvel, um prazo de caducidade para o exerccio do direito de resoluo, este est sujeito ao

    regime da prescrio, designadamente ao prazo de 20 anos previsto no art. 309. do CC.

    16-01-2014

    Revista n. 367/2001.E1.S1 - 2. Seco

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    20

    Abrantes Geraldes (Relator) *

    Bettencourt de Faria

    Pereira da Silva

    Execuo para pagamento de quantia certa

    Crdito

    Garantia real

    Hipoteca

    Bens de terceiro

    Litisconsrcio voluntrio

    Interveno principal

    Interveno provocada

    Proprietrio

    Excepo dilatria

    I - O credor com garantia real, designadamente hipoteca, sobre bem de terceiro que pretenda fazer

    valer essa garantia deve instaurar a aco executiva contra o titular do bem.

    II - Quanto ao devedor, o credor pode optar entre a sua demanda inicial, em regime de

    litisconsrcio voluntrio com o titular do bem hipotecado, ou apenas quando se verificar que o

    produto da venda insuficiente para pagamento do crdito.

    III - O facto de o credor ter instaurado aco executiva apenas contra o devedor no constitui

    obstculo a que seja requerida a interveno principal provocada do titular do bem hipotecado,

    se o credor pretender exercitar nessa mesma execuo a garantia real do seu crdito.

    IV - Embora no exista uma enumerao taxativa das excepes dilatrias, a qualificao como tal

    de alguma anomalia ou irregularidade processual depende da verificao de uma circunstncia

    que, semelhana do que ocorre com as excepes dilatrias tipificadas, tambm se revele

    impeditiva do conhecimento do mrito na aco declarativa ou do prosseguimento da aco

    executiva com vista satisfao do crdito.

    V - O facto de o credor, na primeira execuo instaurada contra o devedor no ter demandado

    simultaneamente o titular do bem hipotecado, nem ter requerido a sua interveno provocada,

    optando, em vez disso, por instaurar nova aco executiva apenas contra o titular do bem

    hipotecado, no integra uma excepo dilatria atpica, podendo esta execuo prosseguir para

    penhora e venda do bem hipotecado.

    16-01-2014

    Revista n. 1626/11.2TBFAF-A.G1.S1 - 2. Seco

    Abrantes Geraldes (Relator) *

    Bettencourt de Faria

    Pereira da Silva

    Contrato de prestao de servios

    Negcio pessoal

    Dever de lealdade

    Dever de fidelidade

    Dever de respeito

    Dever acessrio

    Justa causa

    Ilicitude

    Culpa

    Resciso do contrato

    Justa causa

    I - No domnio do Direito das Obrigaes, o conceito de justa causa, como escreveu o Prof.

    Baptista Machado, um conceito indeterminado cuja aplicao exige necessariamente uma

    aplicao valorativa do caso concreto. Ser uma justa causa ou um fundamento

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    21

    importante qualquer circunstncia, facto ou situao em face da qual, e segundo a boa f,

    no seja exigvel a uma das partes a continuao da relao contratual; todo o facto capaz de

    fazer perigar o fim do contrato ou de dificultar a obteno desse fim, qualquer conduta que

    possa fazer desaparecer pressupostos, pessoais ou reais, essenciais ao desenvolvimento do

    dever de correco e lealdade (ou ao dever de fidelidade na relao associativa). A justa

    causa representar, em regra uma violao dos deveres contratuais (e, portanto, um

    incumprimento): ser aquela violao contratual que dificulta, torna insuportvel ou

    inexigvel para a parte no inadimplente a continuao da relao contratual.

    II - O contrato de prestao de servios, como o dos presentes autos, o que a doutrina designa por

    contrato intuitu personae, vale dizer, contrato celebrado em razo da pessoa do contraente, que

    influi decisivamente para tal celebrao. em funo das caractersticas pessoais e

    profissionais do prestador do servio que o mesmo contratado pela empresa para despenhar

    actividades de considervel complexidade tcnica e de correspondente responsabilidade.

    III - patente a existncia de vrios pontos de afinidade entre o contrato de trabalho e o contrato de

    prestao de servios de carcter tcnico, no s pelo facto de ambos serem celebrados intuitu

    personae, como tambm porque ambos tm como objecto a prestao de determinadas

    actividades (trabalhos ou servios) gerando-se uma relao de confiana pessoal entre os

    sujeitos contratuais, imprescindvel manuteno do vnculo e comportando deveres

    acessrios de conduta, designadamente de respeito ou correco e de lealdade, cuja violao

    susceptvel de inquinar a relao existente, a ponto de se tornar inexigvel a manuteno do

    vnculo estabelecido.

    IV - Ningum duvidar de que um tcnico qualificado que presta servios a uma empresa, ao

    dirigir-se por escrito a um dirigente da mesma proferindo afirmaes como as que constam da

    presente deciso, coloca gravemente em causa a confiana que a dita empresa nele deposita e

    atenta, de forma objectiva e altamente censurvel, contra a considerao e o respeito que

    devido aos dirigentes da empresa a que presta servio, tornando, com tal conduta ilcita e

    culposa, imediatamente inexigvel a continuao do vnculo contratual.

    16-01-2014

    Revista n. 6788/06.8TBLRA.C2.S1 - 2. Seco

    lvaro Rodrigues (Relator) *

    Fernando Bento

    Joo Trindade

    Reforma da deciso

    Erro de julgamento

    Lapso manifesto no se confunde com erro de julgamento, posto que naquele o julgador diz aquilo

    que no quis dizer e neste diz aquilo que foi realmente sua inteno.

    16-01-2014

    Revista n. 6788/06.8TBLRA.C2.S1 - 2. Seco

    Bettencourt de Faria (Relator)

    Pereira da Silva

    Joo Bernardo

    Gerente

    Remunerao

    Gerente no scio

    Expectativa jurdica

    Enriquecimento sem causa

    Aquele que exerce a gerncia, remunerada, apenas porque tem a expectativa de vir a adquirir uma

    posio social, conforme acordo feito com outro scio, no caso deste acordo se frustrar, no

    pode pedir contra a sociedade o valor do seu trabalho (que aumentou o patrimnio dessa

    sociedade), a ttulo de enriquecimento sem causa.

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    22

    16-01-2014

    Revista n. 452/09.3TVPRT.P1.S1 - 2. Seco

    Bettencourt de Faria (Relator) *

    Pereira da Silva

    Joo Bernardo

    Admissibilidade de recurso

    Recurso para o Supremo Tribunal de Justia

    Recurso de agravo na segunda instncia

    Caso julgado

    Oposio execuo

    Indeferimento

    I - No mbito dos recursos de agravo, interpostos na 2. instncia, a regra a de que, para alm da

    restrio imposta pelo n. 1 do art. 754. do CPC, no admitido recurso do acrdo da

    Relao sobre a deciso da 1. instncia.

    II - Ressalvados ficam os casos previstos na parte final do n. 2 do art. 754. do CPC, bem como

    aqueles em que sempre admissvel o recurso, e que vm elencados no art. 678. do CPC.

    III - O caso julgado constitui uma excepo que pressupe a repetio de uma causa j decidida por

    sentena transitada em julgado e que tem por fim evitar que o tribunal seja colocado na

    alternativa de contradizer ou de reproduzir uma deciso anterior.

    IV - Quando se recorre de determinada deciso com o fundamento de que se ofendeu um caso

    julgado, a alegao da ofensa implica a afirmao de que a deciso contrria a outra deciso

    anterior, transitada em julgado, proferida entre as mesmas partes, versando sobre o mesmo

    objecto e assentando na mesma causa de pedir.

    V - O despacho proferido pela 1. instncia a convidar o recorrente/executado para indicar o valor

    da oposio execuo no tem o alcance pretendido pelo mesmo de considerar recebida a

    oposio, afastando a possibilidade de a mesma vir ainda a ser indeferida pelo facto de no se

    encontrar articulada.

    16-01-2014

    Agravo n. 1296/04.4YYPRT-A.P1.S1 - 7. Seco

    Granja da Fonseca (Relator)

    Silva Gonalves

    Pires da Rosa

    Divrcio litigioso

    Deveres conjugais

    Culpa

    Dever de respeito

    Ofensa integridade fsica simples

    Impossibilidade de vida em comum

    Queixa

    Desistncia da queixa

    Perdo do cnjuge

    I - A falta culposa de um dos cnjuges aos deveres conjugais, para conduzir extino da relao

    matrimonial, h-de ser grave, objectiva ou subjectivamente, ou reiterada (e assim se torne

    grave por virtude da repetio continuada) por forma a comprometer a possibilidade da vida

    em comum: o art. 1779., n. 1, do CC, no exige que a violao dos deveres conjugais seja

    reiterada, basta que essa violao seja grave.

    II - O juzo sobre a gravidade da violao, culposa, dos deveres conjugais faz-se concretamente, em

    face das circunstncias, nomeadamente as referidas no n. 2 do citado normativo, devendo o

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    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    23

    tribunal tomar em conta no s a culpa que possa ser imputada ao requerente mas tambm o

    grau de educao e sensibilidade moral dos cnjuges.

    III - Uma agresso fsica, ainda que no seja reiterada, deve ter-se por objectivamente grave para

    efeitos do art. 1779., n. 1, maxime para o comprometimento da vida em comum, no obstante

    ter sido precedida de uma acesa discusso.

    IV - O perdo, a que se alude na al. b) do art. 1780. do CC, s facto extintivo do direito ao

    divrcio do cnjuge ofendido quando este se dispe a continuar (ou restabelecer) a vida em

    comum com a normalidade que lhe prpria, quanto comunho de habitao, mesa e leito.

    V - Se a recorrente e o recorrido continuaram a conviver em comunho de mesa, leito e habitao,

    mantendo uma comunho social e econmica, durante cerca de um ano aps uma agresso

    fsica, tendo mesmo, feito uma viagem ao estrangeiro num clima lua-de-mel de concluir

    que ambos se dispunham, pela continuao do casamento.

    VI - Ao referido em VI no obsta o facto de a recorrente no ter desistido da queixa no

    procedimento criminal que havia sido instaurado na sequncia da agresso e, sem o

    conhecimento do recorrido, tudo ter preparado para se divorciar deste.

    16-01-2014

    Revista n. 575/05.8TBCSC.L1.S1 - 7. Seco

    Granja da Fonseca (Relator) *

    Silva Gonalves

    Pires da Rosa (vencido)

    Nulidade de sentena

    Nulidade de acrdo

    Omisso de pronncia

    Questo nova

    Divrcio

    Separao de facto

    Caso julgado

    I - No tendo sido arguida, no recurso de apelao, nulidade da sentena da 1. instncia, no colhe

    a invocao, em recurso de revista, de que a Relao cometeu nulidade ao dela no conhecer.

    II - Invocada em primeiro processo de divrcio separao de facto, deve entender-se que est em

    apreciao apenas a separao que teve lugar at data da instaurao da ao.

    III - No obstante o disposto no art. 663., n. 1, do CPC, no se pode, em tal ao, considerar a

    separao ocorrida ao longo da tramitao, porque mero prolongamento do mesmo facto,

    sendo certo que, mesmo que isso tal no impedisse, sempre a parte teria de a carrear para o

    processo em ordem a ser submetida a contraditrio e subsequente julgamento.

    IV - Assim, no se verifica caso julgado se o mesmo autor instaurar contra a mesma r ao de

    divrcio fundamentando-se em separao de facto que abrange o perodo de pendncia da

    primeira ao.

    V - A tutela constitucional do caso julgado no preclude este entendimento.

    16-01-2014

    Revista n. 3003/10.3TBVNG.P2.S1 - 2. Seco

    Joo Bernardo (Relator) *

    Oliveira Vasconcelos

    Serra Baptista (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Investigao de paternidade

    Nulidade de acrdo

    Omisso de pronncia

    Ampliao da matria de facto

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    24

    Estabelecimento da filiao

    Caducidade

    Abuso do direito

    Princpio da igualdade

    I - No enferma do vcio de nulidade, por omisso de pronncia, o acrdo da Relao que no

    aprecia da inverso do nus da prova se esta a questo no foi o fundamento para a deciso do

    processo em 1. instncia.

    II - Nos casos a que alude o art. 729., n. 3, do CPC, impe-se ao STJ o poder-dever de determinar

    a ampliao da matria de facto quando os apurados sejam insuficientes para fundamentar a

    deciso de direito proferida, o que no se verifica quando a matria invocada pelas partes no

    tem relevncia para a soluo jurdica do pleito, em face do direito aplicvel e nos termos do

    preceituado no art. 730. do mesmo cdigo.

    III - Os vnculos da filiao no se cingem ao direito identidade pessoal impondo o princpio da

    igualdade que os filhos, nascidos, ou no, da relao do casamento, bem assim como os

    adoptados, tenham os mesmos direitos.

    IV - O singelo facto de a aco de investigao de paternidade ter sido proposta decorridos mais de

    trs dezenas de anos sobre a maioridade do autor, no revela, s por si, abuso de direito.

    16-01-2014

    Revista n. 905/08.0TBALB.P1.S1 - 2. Seco

    Joo Trindade (Relator)

    Tavares de Paiva

    Abrantes Geraldes

    Servido de passagem

    Extino

    nus da prova

    Base instrutria

    mbito do recurso

    Nulidade de acrdo

    Excesso de pronncia

    I - A base instrutria no definitiva, seja ou no objecto de reclamao. Pode ser ampliada por

    deciso tomada na audincia final, em recurso de apelao ou por determinao do Supremo

    Tribunal de Justia.

    II - A deciso da Relao de determinar a ampliao da matria de facto no controlvel pelo

    Supremo Tribunal de Justia.

    III - Fora dos estritos limites do disposto no n. 3 do art. 722. e do n. 2 do art. 729. do CPC, no

    possvel a alterao da deciso de facto no recurso de revista.

    IV - Apenas ocorre nulidade por excesso de pronncia quando o tribunal aprecia questo de que

    no podia ter conhecido, por no ter sido suscitada pelas partes nem ser de conhecimento

    oficioso (cfr. n. 1 do art. 660. do CPC).

    V - A desnecessidade susceptvel de permitir a extino judicial de uma servido de passagem h-

    de ser aferida em funo do prdio dominante e no do respectivo proprietrio.

    VI - A jurisprudncia dominante vai no sentido de que s deve ser declarada extinta por

    desnecessidade uma servido que deixou de ter qualquer utilidade para o prdio dominante.

    VII - O nus da prova da desnecessidade incumbe parte que requer a extino.

    VIII - Salvaguardadas evidentemente hipteses de abuso de direito ou semelhantes, bastar ao

    proprietrio do prdio serviente provar que a servido deixou de proporcionar utilidade ao

    prdio dominante para que consiga obter a sua extino; mas tem de estar demonstrada a

    desnecessidade.

    16-01-2014

    Revista n. 695/09.0TBBRG.G2.S1 - 7. Seco

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    25

    Maria dos Prazeres Beleza (Relator) *

    Salazar Casanova

    Lopes do Rego

    Taxa de justia

    Princpio da proporcionalidade

    I - Por princpio, nas causas no complexas, o tribunal pode dispensar o pagamento do

    remanescente da taxa de justia, sendo que, nas causas complexas, essa possibilidade, por

    princpio, no existe.

    II - Tal concluso no dispensa o tribunal de interpretar este regime luz do princpio

    constitucional da proporcionalidade, em particular no mbito do direito fundamental de acesso

    justia e aos tribunais (arts. 20. e 18., n. 2, da CRP).

    16-01-2014

    Incidente n. 948/09.7TVPRT.P1.S1 - 7. Seco

    Maria dos Prazeres Beleza (Relator)

    Salazar Casanova

    Lopes do Rego

    Interdio

    Publicidade

    Validade

    Contrato de compra e venda

    Incapacidade acidental

    nus da prova

    Abuso do direito

    Equilbrio das prestaes

    Simulao

    I - Os atos praticados antes da publicidade da ao de interdio so, em princpio, vlidos.

    II - S sero invlidos se, acidentalmente, na altura em que so praticados, o declarante est

    incapacitado, nos termos do art. 257. do CC.

    III - Temos, pois, que, nestes casos, a capacidade a regra e a incapacidade a exceo, pelo que

    quem invocar esta tem o nus de a provar, ou seja, compete a quem invoca uma incapacidade

    fundada no art. 257. do CC alegar e provar que o declarante se encontrava, na altura da

    prtica do ato, incapacitado nos termos e para o feito do disposto neste artigo.

    IV - No o estado de sade do pretenso incapacitado acidentalmente que est em causa, mas o seu

    estado de no entendimento do sentido das suas declaraes.

    V - Entendendo-se o desequilbrio de prestaes como um fator de existncia de abuso de direito

    quando o exerccio do direito questionado se mostra despropositado face aos efeitos dele

    derivados, no se prefigura esse despropsito quando no existem quaisquer elementos que

    indiquem que a prestao de um vendedor de um imvel a entrega do imvel seja

    manifestamente desproporcionada prestao do comprador o pagamento do preo

    acordado.

    VI - Quando numa escritura de compra e venda se declara falsamente que o preo j foi pago, o que

    se pode apenas concluir que os outorgantes fizeram declaraes falsas, mas no se pode

    concluir que com essa falsidade no quiseram a existncia do negcio, criando a sua

    aparncia.

    16-01-2014

    Revista n. 1556/08.5TBVRI.P1.S1 - 2. Seco

    Oliveira Vasconcelos (Relator) *

    Serra Baptista

    lvaro Rodrigues

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    26

    (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Contrato de compra e venda

    Venda de bens alheios

    Erro vcio

    Erro sobre o objecto do negcio

    Validade

    Nulidade

    Reduo do negcio

    Preo

    I - Existe venda de bens alheios sempre que o vendedor no tenha legitimidade para realizar a

    venda, como sucede no caso de a coisa lhe no pertencer, ou de o direito que possui sobre ela

    no lhe permitir a sua alienao.

    II - Estando provado que, por escritura pblica, os rus declararam vender aos autores um prdio

    rstico com a rea de 1.000 m2, quando na realidade uma parcela desse prdio vendido, com a

    rea de 537 m2, no pertencia ao rus, uma vez que s lhe pertencia uma parcela com a rea

    de 463 m2 e que os autores estavam convencidos, ao outorgarem na referida escritura, que o

    prdio que compravam abrangia aquela parcela de 537 m2, por os rus vendedores assim o

    terem afirmado perante si, tendo at procedido sua entrega aos autores, temos

    manifestamente aqui duas situaes: (i) por parte dos rus, uma venda de um bem

    parcialmente alheio, uma vez que, no lhe pertencendo parte do bem vendido, careciam de

    legitimidade para vender esta parte; (ii) por parte dos autores, uma compra com erro sobre o

    objeto do negcio, uma vez que estavam convencidos que a compra e venda abrangia a rea

    do prdio referida na escritura.

    III - Estando perante uma hiptese de invalidade parcial, h que se aplicar o regime do art. 292. do

    CC, em que se determina que o negcio s ser totalmente nulo se se puder concluir que ele

    no teria sido celebrado sem a parte viciada.

    IV - Caso, porm, se admita a reduo do negcio, haver que se proceder a uma limitao da

    aplicao desse regime parte viciada, mantendo-se vigente o negcio quanto parte vlida,

    com uma reduo do respectivo preo, reduo essa que se opera atravs de uma diminuio

    da quantia devida na exata medida em que no se verificou o efeito translativo.

    16-01-2014

    Revista n. 296/09.2TBVRL.P2.S1 - 2. Seco

    Oliveira Vasconcelos (Relator) *

    Serra Baptista

    lvaro Rodrigues (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Responsabilidade extracontratual

    Acidente de viao

    Clculo da indemnizao

    Danos patrimoniais

    Danos futuros

    Incapacidade permanente parcial

    Danos no patrimoniais

    Equidade

    I - No clculo da indemnizao por danos patrimoniais futuros, radicados em IPP, em que intervm

    necessariamente a equidade, no deve ficcionar-se que a vida fsica do lesado corresponde

    sua vida activa.

    II - Os tribunais no esto vinculados, na fixao equitativa dos montantes indemnizatrios a

    atribuir aos lesados em acidentes de viao, aplicao das tabelas plasmadas na Portaria n.

    377/2008, de 26-05, alterada pela Portaria n. 679/2000, de 25-06, estas estabelecendo padres

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    27

    mnimos, a cumprir pelas seguradoras, na apresentao a tais lesados de propostas srias e

    razoveis de regularizao dos sinistros, indemnizando o dano corporal.

    III - O limite mximo de valorizao habitualmente atribudo pelo STJ ao dano da morte, sendo

    embora a vida o bem jurdico supremo, mais valioso, no pode constituir um tecto, uma

    barreira, limitando o valor da indemnizao a fixar, ao lesado, por danos no patrimoniais.

    16-01-2014

    Revista n. 1296/06.2TBBCL.G1.S1 - 2. Seco

    Pereira da Silva (Relator)

    Joo Bernardo

    Oliveira Vasconcelos

    Aval

    Obrigao cambiria

    Avalista

    Insolvncia

    Incumprimento

    Livrana em branco

    Pacto de preenchimento

    Factos supervenientes

    nus de alegao

    Princpio dispositivo

    Princpio inquisitrio

    I - No se produzem contra o avalista os efeitos da vinculao cambiria por ele assumida em

    livrana subscrita em branco enquanto esta no for preenchida, no podendo, assim, ser

    decretada a insolvncia do avalista pelo incumprimento dessa obrigao cambiria.

    II - O preenchimento de livrana efetuado no decurso dos autos de insolvncia com data de

    vencimento anterior (17-5-2012) data do encerramento da audincia final (19-07-2012)

    constitui facto objetivamente superveniente (facto complementar ver art. 264. do CPC de

    1961 e 5., n. 2, al. b), do CPC de 2013) cuja atendibilidade admissvel nos termos do art.

    663. do CPC (art. 611. do CPC de 2013).

    III - Tal facto no carece de ser alegado para que, no processo de insolvncia, o juiz nele possa

    fundar a sua deciso (art. 11. do CIRE).

    16-01-2014

    Revista n. 1094/12.1TBTVD.L1.S1 - 7. Seco

    Salazar Casanova (Relator) *

    Lopes do Rego

    Orlando Afonso (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Caso julgado

    Causa de pedir

    I - No existe identidade de causa de pedir entre a aco em que a autora, alegando o

    incumprimento do contrato de permuta, pediu a condenao da r no pagamento das

    indemnizaes de montante correspondente ao valor das fraces (aco essa que foi julgada

    improcedente por deciso transitada em julgado) e a presente em que a autora pede uma

    quantia pecuniria decorrente da impossibilidade de cumprimento das obrigaes assumidas

    no mbito de um acordo verbal, impossibilidade essa resultante da violao de acordos

    posteriores alcanados no decorrer da primeira aco.

    II - Uma vez que por razes imputveis r que alienou algumas das fraces e onerou outras a

    autora se viu impossibilitada de exigir a entrega das mesmas, encontra-se esta legitimidade a

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    28

    exigir o valor correspondente contrapartida dos imveis que entregou, sem que se lhe possa

    opor a excepo do caso julgado.

    16-01-2014

    Revista n. 993/08.0TJVNF.P1.S1 - 7. Seco

    Srgio Poas (Relator)

    Granja da Fonseca

    Silva Gonalves

    Admissibilidade de recurso

    Reclamao

    Despacho sobre a admisso de recurso

    Recurso retido

    Acrdo da Relao

    Nulidade

    Recurso para o Supremo Tribunal de Justia

    Litigncia de m f

    Trnsito em julgado

    Caso julgado

    I - A CRP no garante, em caso algum, ressalvada a matria penal, um grau de recurso.

    II - No sendo recorrvel o acrdo do tribunal da Relao, tambm no recorrvel a deciso que

    indeferiu a nulidade daquela deciso.

    III - No admissvel recurso para o STJ do acrdo do tribunal da Relao que confirmou a

    deciso condenatria por litigncia de m f da 1. instncia.

    IV - Uma deciso transitada em julgado proferida pelo tribunal da Relao no pode ser alterada

    pelo STJ, sob pena de violao do caso julgado.

    16-01-2014

    Revista n. 1279/08.5TBGRD-N.C1.S1 - 7. Seco

    Srgio Poas (Relator) *

    Granja da Fonseca

    Silva Gonalves

    Responsabilidade extracontratual

    Acidente de viao

    Legitimidade passiva

    Litisconsrcio necessrio

    Fundo de Garantia Automvel

    S quando o responsvel civil por acidentes de viao for desconhecido que o lesado pode

    demandar diretamente o FGA; ao invs, se a vtima/autora tiver conhecimento da identidade

    do condutor do veculo causador do acidente e a razo da sua vinda a juzo se fundamenta na

    detetada falta de seguro vlido ou eficaz do condutor culpado pelo acidente, ento haver o

    demandante de, sob pena de ilegitimidade, fazer acompanhar o FGA do seu responsvel civil

    (n. 6 e 8 do art. 29. do DL n. 522/85, de 31-12).

    16-01-2014

    Agravo n. 3719/07.1TBALM.L1.S1 - 7. Seco

    Silva Gonalves (Relator) *

    Pires da Rosa

    Maria dos Prazeres Beleza (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Responsabilidade extracontratual

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    29

    Acidente de viao

    Atropelamento

    Culpa

    Direito vida

    Clculo da indemnizao

    I - No se podendo imputar aos atropelados especificada responsabilidade neste embate o modo

    como ocupavam a via (um prostrado nela e outro a procurar levantar quem estava cado)

    oferecia ao condutor a aparncia de uma natural realidade e que era a de que algum estava

    impossibilitado de sair da estrada e de que outrem estava devotado em que esta situao

    findasse haveria o condutor de tomar conscincia desta deparada facticidade e, pondo ao seu

    dispor o cuidado e ateno que se lhe exigia, contornar tal vicissitude e evitar a coliso.

    Teremos assim de concluir que foi o condutor do LB o nico responsvel pelo atropelamento

    verificado.

    II - O bem supremo do direito vida, inviolvel nos termos do n. 1 do art. 24. da CRP, nunca

    poder ter valor mensurvel. Havendo, todavia, de ser compensada a sua perda, salientamos a

    tendncia que vem sendo seguida na nossa jurisprudncia no sentido de afastar o tom

    miserabilista da sua valorao; e neste contexto consideramos que no excessiva a

    indemnizao de 65 000, fixada pela Relao relativamente perda do direito vida.

    16-01-2014

    Revista n. 6972/07.7TBVRR.P1.S1 - 7. Seco

    Silva Gonalves (Relator) *

    Pires da Rosa

    Maria dos Prazeres Beleza (Acrdo e sumrio redigidos ao abrigo do novo Acordo Ortogrfico)

    Contrato de seguro

    Objecto negocial

    Matria de facto

    Poderes do Supremo Tribunal de Justia

    Indemnizao de perdas e danos

    Condenao em quantia a liquidar

    I - No tendo a Relao modificado a matria de facto provada em julgamento, segue-se que haver

    de ser tomada em considerao apenas a facticidade que a 1. instncia considerou

    demonstrada, no se podendo ir alm dela.

    II - predominante o entendimento deste STJ no sentido de que, se estiver efectivamente

    demonstrado o prejuzo sofrido pela parte que o invoca mas no tiver sido cabalmente

    comprovado o seu exacto valor, mesmo que se tenha rogado um montante especificamente

    determinado ou formulado um pedido to s genericamente delineado, dever relegar-se a

    fixao do seu montante exacto para a sua ulterior liquidao, na parte em que ainda no

    estiver reconhecida, nos termos do art. 661., n. 2, do CPC.

    III - Na linguagem comum, ligada ao mercado dos seguros, o sinistro vulgarmente referenciado

    como o pormenorizado acontecimento no qual o bem segurado sofre uma destacada

    contingncia ou notado prejuzo material; consubstancia, na prtica, a concretizao do risco

    contrado pela seguradora e que, por isso, lhe vai acarretar uma perda patrimonial; e est

    concretamente definido no contrato de seguro assumido pela seguradora, na parte que se refere

    ao objecto da garantia (clusula 2. das condies gerais): o presente contrato tem por

    objecto a cobertura dos danos directamente causados aos bens identificados nas condies

    particulares pela ocorrncia de um sinistro fortuito, sbito e imprevisvel, garantido pelas

    coberturas indicadas no art. 1. desta aplice.

    16-01-2014

    Revista n. 2095/08.0TVLSB.L1.S1 - 7. Seco

  • Sumrios de Acrdos do Supremo Tribunal de Justia Seces Cveis

    Boletim anual 2014

    Assessoria Cvel

    30

    Silva Gonalves (Relator) *

    Pires da Rosa

    Maria dos Prazeres Beleza

    Resoluo do negcio

    Contrato de arrendamento

    Renda

    Falta de pagamento

    Depsito da renda

    Pedido

    I - Da afirmao constante do art. 10. da petio inicial nesta data, Maio de 2010, a r deve