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É preciso que a família, a escola e a comunidade discutam a cultura de massas, tendo em vista a influência que ela exerce em nossas cabeças. Nas grandes cidades que ficam longe do mar e mesmo em lugares onde há opção de praia, um dos programas mais procurados no período de férias é ir ao shopping, nem tanto para comprar, mas para encontrar a turma, azarar, ir a um cinema e depois, curtir a praça de alimentação com seus fast-foods. E nos cinemas, a temporada de verão traz sua safra de super-heróis. Fico pensando: quem são, hoje, os heróis dessa meninada que enche os shoppings nos fins de semana? Temo pela resposta, em razão do bombardeio que sofremos de uma cultura de massas literalmente massacrante, pasteurizante e alienante, com suas raras e preciosas exceções. Passamos horas diante da TV. Temos o rádio, os quadrinhos, a música popular, o cinema, a imprensa, o computador e o milagre da Internet, com seus orkuts, twiters, blogs e messengers. A influência desses veículos é igual ou maior do que toda a cultura transmitida na escola. Crianças, condicionadas pela babá eletrônica, desde cedo já conhecem as celebridades da moda e se identificam com elas. Propagandas inteiras são recitadas por quem ainda mal sabe falar. Milhares de famílias, num Brasil com a TV a cabo mais cara do mundo, dedicam o domingo a Sílvio Santos, Gugu, Faustão, Pânico ou Fantástico. Milhões de pessoas se divertem assistindo ao festival de pegadinhas com câmeras escondidas, as videocassetadas, que exploram as situações de ridículo de pessoas anônimas e comuns. Os programas policias vespertinos (Barra Pesada, Rota 22, Cidade 190...), o Jornal Nacional e seus genéricos colocam todos os dias em nossas casas, notícias e manchetes escandalosas que destacam incêndios, acidentes e toda sorte de crimes hediondos como se fossem a mais normal das rotinas. Tememos a violência, mas a transformamos em diversão na telinha da TV ou no escurinho do cinema. A existência destes veículos de cultura de massas não é um mal por si só. É inegável a importância da TV. É divertido ler uma revista em quadrinhos ou ir ao cinema. É importante estar informado sobre os acontecimentos que são notícia pelo mundo e eu não sei como conseguia trabalhar antes do computador e da Internet. O que precisa ser analisado é o que está por trás de cada uma destas manifestações e afiar nosso “senso crítico” para não sermos ‘engolidos’ pela roda vida da comunicação de massa. A cultura de massa é, quase sempre, produzida pela classe dominante que dela se serve para transmitir os seus valores, a sua ideologia. No Brasil isso é ainda mais grave, pois os grandes veículos de comunicação, as Redes, estão nas mãos de poucas pessoas, a chamada classe dominante. E quando falamos de classe dominante nos referimos àqueles que têm o poder porque tem dinheiro e tem dinheiro porque tem poder, num círculo vicioso que se perpetua a partir de valores que normalmente não interessam à massa. Pelo contrário, são instrumentos de dominação. E isso já vem de longa data. A Ideologia da Cultura de Massas Ciências Humanas e Suas Tecnologias 6 Filosofia e Sociologia Prof. João Saraiva

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É preciso que a família, a escola e a

comunidade discutam a cultura de

massas, tendo em vista a

infl uência que ela exerce em nossas cabeças.

Nas grandes cidades que fi cam longe do mar e mesmo em lugares onde há opção de praia, um dos programas mais procurados no período de férias é ir ao shopping, nem tanto para comprar, mas para encontrar a turma, azarar, ir a um cinema e depois, curtir a praça de alimentação com seus fast-foods.

E nos cinemas, a temporada de verão traz sua safra de super-heróis.Fico pensando: quem são, hoje, os heróis dessa meninada que

enche os shoppings nos fi ns de semana?Temo pela resposta, em razão do bombardeio que sofremos de

uma cultura de massas literalmente massacrante, pasteurizante e alienante, com suas raras e preciosas exceções.

Passamos horas diante da TV. Temos o rádio, os quadrinhos, a música popular, o cinema, a imprensa, o computador e o milagre da Internet, com seus orkuts, twiters, blogs e messengers.

A infl uência desses veículos é igual ou maior do que toda a cultura transmitida na escola. Crianças, condicionadas pela babá eletrônica, desde cedo já conhecem as celebridades da moda e se identifi cam com elas. Propagandas inteiras são recitadas por quem ainda mal sabe falar. Milhares de famílias, num Brasil com a TV a cabo mais cara do mundo, dedicam o domingo a Sílvio Santos, Gugu, Faustão, Pânico ou Fantástico.

Milhões de pessoas se divertem assistindo ao festival de pegadinhas com câmeras escondidas, as videocassetadas, que exploram as situações de ridículo de pessoas anônimas e comuns. Os programas policias vespertinos (Barra Pesada, Rota 22, Cidade 190...), o Jornal Nacional e seus genéricos colocam todos os dias em nossas casas, notícias e manchetes escandalosas que destacam incêndios, acidentes e toda sorte de crimes hediondos como se fossem a mais normal das rotinas. Tememos a violência, mas a transformamos em diversão na telinha da TV ou no escurinho do cinema.

A existência destes veículos de cultura de massas não é um mal por si só. É inegável a importância da TV. É divertido ler uma revista em quadrinhos ou ir ao cinema. É importante estar informado sobre os acontecimentos que são notícia pelo mundo e eu não sei como conseguia trabalhar antes do computador e da Internet. O que precisa ser analisado é o que está por trás de cada uma destas manifestações e afi ar nosso “senso crítico” para não sermos ‘engolidos’ pela roda vida da comunicação de massa.

A cultura de massa é, quase sempre, produzida pela classe dominante que dela se serve para transmitir os seus valores, a sua ideologia. No Brasil isso é ainda mais grave, pois os grandes veículos de comunicação, as Redes, estão nas mãos de poucas pessoas, a chamada classe dominante. E quando falamos de classe dominante nos referimos àqueles que têm o poder porque tem dinheiro e tem dinheiro porque tem poder, num círculo vicioso que se perpetua a partir de valores que normalmente não interessam à massa. Pelo contrário, são instrumentos de dominação. E isso já vem de longa data.

A Ideologia da Cultura de Massas

Ciências Humanas eSuas Tecnologias

nº6Filosofi a e Sociologia

Prof. João Saraiva

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A Disney, por exemplo, é, há décadas, uma poderosa indústria de entretenimento. Seu fundador, Walt Disney, empresário americano conservador, criou essa multinacional de comunicações e diversão onde a fantasia e o lucro sempre conviveram em perfeita harmonia.

Toda a geração que hoje tem acima de 35 anos cresceu sob a influência dos personagens Disney. Milhões de crianças brasileiras assimilaram em doses regulares a ideologia do Tio Patinhas, um de seus personagens mais conhecidos. Nas histórias em quadrinhos que faziam parte do cotidiano de crianças em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, era muito comum o Tio Patinhas descobrir um tesouro em um país distante. Ele então usava sua esperteza para manipular os ‘nativos’ e levar essas riquezas para sua ‘caixa forte’ em Patópolis, onde nadava, literalmente, em dinheiro. Tudo numa boa, sem nenhum questionamento, até porque o Tio Patinhas era sempre assessorado por funcionários sempre conformados e tinha ainda a proteger sua riqueza um aparato policial eficiente e fiel.

Nessas histórias, as relações pessoais são marcadas pelo individualismo e maquiavelismo e por uma rígida estrutura de poder. Os tios mandam nos sobrinhos que, por sua vez, mandam nos seus próprios sobrinhos. Não há pais. Todos são sobrinhos de alguém. Como se reproduzem, então? Nega-se até o conceito de sexualidade num moralismo hipócrita, preconceituoso e equivocado. Todos vivem a lei da selva, na eterna corrida ao dinheiro e à fama.

Ninguém gosta de ninguém, o que interessa é o sucesso particular de cada um. Alguém aí lembrou do Big Brother...?Os super-heróis existem para preencher uma necessidade humana. Diante das nossas fraquezas e limitações, medos e inseguranças, nada

melhor que um de nós, com superpoderes capazes de superar qualquer dificuldade.Nos Estados Unidos os super-heróis surgem em plena Grande Depressão, no início dos anos 30 do século passado como uma injeção de ânimo

num país economicamente falido e moralmente fracassado.É curioso perceber que todo super-herói normalmente tem duas identidades. Como pessoa comum ele é frágil e impotente. Frequentemente faz papel de

bobo, como o Clark Kent. Mas quando veste a ‘roupa’ de super-herói é capaz de tudo, graças aos seus superpoderes.A mensagem subliminar na cabeça das pessoas, desde criança, pode ser terrível. Como reagir contra uma situação de injustiça, de

opressão quando você é apenas mais uma pessoa comum...?Muitos dos personagens que tem sido redescobertos pela geração atual através da indústria cinematográfica, como o Homem-Aranha

e outros super-heróis, na verdade fizeram parte do imaginário da infância do pai, do avô e hoje voltam às telas em 3D, digitalizados e com efeitos especiais de última geração.

Lembro alguns dos heróis que voltaram às telas, nos últimos anos. O Fantasma de Bengala, África Negra, é o retrato do colonialismo branco. Sua função, lá nos anos 1960, era legitimar os regimes coloniais racistas na África. A sua arma, no caso, era a mistificação criada em torno de sua própria figura. Os nativos eram considerados um bando de debiloides, incapazes de se autogovernarem. Precisam de brancos. O Fantasma criou a ‘Patrulha da Selva’ e acumula riquezas no fundo de sua caverna. Não se houve falar de uma Frente de Libertação de Bengala. Desmond Tutu e Mandela nunca seriam personagens do Fantasma...

Nos anos 80 o seriado SWAT, que depois virou filme, inspirava-se e inspirou os esquadrões da morte de vários países. A ideologia expansionista americana (que justificou a guerra do Vietnã e justifica o Afeganistão, o Iraque e outras tantas guerras) está presente em seriados aparentemente inocentes como Perdidos no Espaço e Jornada nas Estrelas. É a conquista do Universo. O Túnel do Tempo é a conquista da História. O cinema tratou de atualizar todas essas séries transformando-as em filmes de grande sucesso, em especial entre os mais jovens.

Os bang-bangs mostravam os índios como monstros sanguinários que eram um estorvo à expansão colonialista. Os colonizadores (que se apropriam das terras dos índios) são os mocinhos. É famosa a cena da cavalaria americana chegando na última hora para salvar os heróis e destruir os selvagens.

Alguém falou em Afeganistão... Iraque...?James Bond surgiu em 1962, época da Guerra Fria Estados Unidos X União Soviética. Ele era o “ocidental” lutando contra o demônio

comunista. Um herói com licença para matar com charme, classe e cinismo.Rambos... Exterminadores do Futuro, Duros de matar, Máquinas mortíferas...O grande sucesso Avatar leva a epopeia dos heróis para um planeta distante onde os nativos lutam para conservar a natureza ameaçada

por mineradores inescrupulosos.Temos, também, nossos próprios heróis, nem tão super assim...O interminável Sílvio Santos prende milhões de pessoas em casa com sorrisos, carnês, sorteios, jogos e disputas. Com o objetivo aparente

de divertir a audiência, ele, há décadas, martela a mesma mensagem: “a vida é um jogo, onde se disputa quem vai ficar com o dinheiro. E conclui: no final, o que vale é enfrentar a vida com otimismo, alegria e, claro, individualismo”. Isto sem se tocar na questão ética do Baú da Felicidade (hoje, falido), um verdadeiro Robin Hood às avessas, que tira dinheiro dos pobres para encher ainda mais o cofre dos ricos.

As novelas, assistidas por milhões de brasileiros, sempre apresentam um Brasil de desocupados onde o luxo serve de referência aos pobres como padrão de vida que se alcança através do individualismo ou da sorte lotérica.

A cultura reflete a ideologia do criador de cada manifestação. E nem todos são conservadores. Nos Estados Unidos mesmo temos o “Mago de Id”, “Recruta Zero”, “Mad”, publicações que fazem uma crítica inteligente à sociedade de consumo.

Na Europa nasceu “Asterix”, que a despeito de algumas limitações, tem grande riqueza temática como a corrupção do estado, a desobediência civil, a especulação imobiliária destruindo pequenas comunidades, o processo de formação de uma sociedade capitalista. Tudo isto sem perder a graça.

No Brasil diversos autores têm um enfoque bastante progressista nas suas histórias (Henfil, Ziraldo, Jaguar, Millôr Fernandes, Glauco, Laerte).Eles são apenas exemplos de algumas manifestações culturais progressistas. Temos ainda a poesia, a música, a dança, a propaganda, o jornalismo

dos noticiários. Em tudo isso, estamos sempre ensinando e aprendendo alguma coisa.É preciso que a família, a escola e a comunidade discutam a cultura de massas, tendo em vista a influência que ela exerce em nossas cabeças. É

preciso, também descobrir (tirar a cobertura, desenterrar, dar a conhecer, manifestar) uma cultura alternativa. Ela é o Grupo de Teatro, o Cineclube, é a Poesia e a Literatura, é a produção de histórias, em quadrinhos ou não, é a programação alternativa de outras TVs educativas, é a música popular dentro de um enfoque libertador.

Assim, existem artistas, existe uma cultura em cada bairro, em cada canto, ao nosso lado, em nós. E a Cultura Popular derruba o mito dos super-heróis ao mostrar que super-heróis somos todos nós, o povo brasileiro em sua luta por dignidade, ética, justiça e qualidade de vida.

Os super-heróis que se cuidem. Nós temos a força!

SAIBA MAIS!

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EXERCÍCIOS

1.“[...] uma grande marca enaltece e acrescenta um maior sentido de propósito à experiência, seja o desafio de dar o melhor de si nos esportes e nos exercícios físicos ou a afirmação de que a xícara de café que você bebe realmente importa [...] Segundo o velho paradigma, tudo o que o marketing vendia era um produto. De acordo com o novo modelo, contudo, o produto sempre é secundário ao verdadeiro produto, a marca, e a venda de uma marca adquire um componente adicional que só pode ser descrito como espiritual”. O efeito desse processo pode ser observado na fala de um empresário da Internet comentando sua decisão de tatuar o logo da Nike em seu umbigo: “Acordo toda manhã, pulo para o chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia como tenho de agir, isto é, ‘just do it’.”

KLEIN, Naomi. Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 45-76.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre ideologia, é correto afirmar.A) A atual tendência do capitalismo globalizado é produzir marcas que estimulam a conscientização em detrimento dos processos de

alienação.B) O capitalismo globalizado, ao tornar o ser humano desideologizado, aproximou-se dos ideais marxistas quanto ao ideal humano.C) Graças às marcas e à influência da mídia, em sua atuação educativa, as pessoas tornaram-se menos sujeitas ao consumo.D) O trabalho ideológico em torno das marcas solucionou as crises vividas desde a década de 1970 pelo capital oligopólico.E) Por meio da ideologia associada à mundialização do capital, ampliou-se o fetichismo das mercadorias, o qual se reflete na resposta

social às marcas.

2. Quanto ao conceito de indústria cultural, é correto afirmar que: I. a indústria cultural produz bens culturais como mercadorias;II. o objetivo da indústria cultural é estimular a capacidade crítica dos indivíduos;III. a indústria cultural cria a ilusão de felicidade no presente e elimina a dimensão crítica;IV. a indústria cultural ocupa o espaço de lazer do trabalhador sem lhe dar tempo para pensar sobre as condições de exploração em que vive.

Assinale a alternativa correta.A) II, III e IV estão corretas. B) I, II e III estão corretas.C) I, III e IV estão corretas. D) I, II e IV estão corretas.E) II e III estão corretas.

3.“A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele sabe, já viu, já fez. A ‘média’ é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova [...]. Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que poderiam ter verdadeiro significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e de sua democratização, pois se dirigem a um público transformado em massa inculta, infantil, desinformada e passiva.”

CHAUÍ, Marilena. Filosofia. 7. ed. São Paulo: Ática, 2000. p. 330-333.

Com base no texto e nos conhecimentos sobre meios de comunicação e indústria cultural, considere as afirmativas a seguir.I. Por terem massificado seu público por meio da indústria cultural, os meios de comunicação vendem produtos homogeneizados;II. Os meios de comunicação vendem produtos culturais destituídos de matizes ideológicos e políticos;III. No contexto da indústria cultural, por meio de processos de alienação de seu público, os meios de comunicação recriam o senso

comum enquanto novidade;IV. Os produtos culturais com efetiva capacidade de democratização da cultura perdem sua força em função do poder da indústria

cultural na sociedade atual. Estão corretas apenas as afirmativas:

A) I e II B) I e IIIC) II e IV D) I, III e IVE) II, III e IV

4. Observe os quadrinhos.

SAIBA MAIS!

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Com base nos quadrinhos e nos conhecimentos sobre os meios de comunicaçãode massa (MCM), assinale a alternativa que explicita algumas posições do debate teórico sobre esse tema.A) As reflexões da personagem Mafalda sobre as propagandas levam-na a concluir que sua mãe precisa adquirir os produtos, que as

crianças podem assistir TV e brincar, dosando suas tarefas diárias, o que revela a pertinência das teorias que veem os MCM como mecanismos de integração social.

B) A personagem Mafalda obedece às ordens de sua mãe, assiste à TV e encanta-se com as promessas das propagandas, corroborando com as teorias pessimistas sobre o papel dos MCM e a passividade dos telespectadores.

C) A atitude da personagem Mafalda demonstra a crítica aos artifícios da propaganda que ressalta a magia da mercadoria, prometendo mais do que ela realmente pode oferecer, e que os sujeitos nem sempre são passivos diante dos MCM.

D) Ao sair para brincar após assistir à TV, a personagem Mafalda sente-se mais livre e feliz, pois descobriu o quanto alguns produtos anunciados pelas propagandas melhoram a vida doméstica de sua mãe, reproduzindo aspectos da cultura erudita e do modo de vida sofisticado, como acreditam as teorias “otimistas” sobre os MCM.

E) A mãe da personagem Mafalda admira-se da inteligência da filha, que compreendeu muito bem os poderes dos objetos anunciados nas propagandas de TV, reforçando as teorias sobre o papel educativo e de emancipação dos MCM.

5. Leia atentamente o poema, intitulado “Eu, etiqueta”, de autoria de Carlos Drummond de Andrade.

Meu blusão traz lembrete de bebidaque jamais pus na boca, nesta vida.Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,minha gravata e cinto e escova epente, meu copo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete,meu isso, meu aquilo,desde a cabeça ao bico dos sapatos,são mensagens,letras falantes,gritos visuais,ordens de uso, abuso, reincidência,costume, hábito, premência,indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,escravo da matéria anunciada.Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pagopara anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desistede ser veste e sandália de uma essência

tão viva independente,que moda ou suborno algum a compromete.

Hoje sou costurado, sou tecido,sou gravado de forma universal,saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam,objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outrosobjetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhosode ser não eu, mas artigo industrial.

Assinale a alternativa incorreta.A) O poema faz referência direta ao conceito de cultura de massa, que segundo Adorno é uma forma de controle da consciência pelo

emprego de meios como o cinema, o rádio ou a imprensa.B) De acordo com a Escola de Frankfurt o surgimento da cultura de massa, em meados do século passado, deveu-se em grande parte ao desenvolvimento

do projeto iluminista que desencadeou uma crise ética e epistemológica dando origem por fim a já referida cultura de massa.C) A Revolução Industrial não foi apenas um conjunto de inovações técnicas, mas uma forma de dominação e controle do tempo do

trabalhador, essa dominação se dá por meio da disciplina e da indústria cultural.D) O produto da indústria cultural não pode ser considerado arte em sentido estrito, já que ela tende a padronização, a ausência de

conteúdo, e o apelo ao mercado.E) A cultura de massa tem o papel de difundir por meio do mercado as culturas regionais,contribuindo para a emancipação

do homem.

GABARITO (V. 5)1 2 3 4 5E D D C D

Professor Colaborador: Adriano

SAIBA MAIS! OSG: 43411/11 - A.J - REV.: KA