Cenários Educomunicativos, 2016

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    Cenrios

    educomunicativosAdilson CitelliProfessor titular no Departamento de Comunicaes e Artes da ECA-USP. Ministra cursosde graduao junto ao referido departamento e de ps-graduao no programa de Cinciasda Comunicao (PPGCOM-USP). Pesquisador 1C, do CNPq. autor de inmeros livros eartigos voltados aos campos da comunicao, da linguagem e da Educomunicao.

    E-mail: [email protected]

    O exame do conjunto de artigos que compem este nmero da revista

    aponta para questes orientadas, sob larga visagem, pelas interseces entrecomunicao, educao e cultura. Os trs termos, complexos em sua prpriaorigem, pelo que envolvem de perspectivas, procedimentos, inteligibilidades,acabam sendo carregados para os ambientes institucionais das salas de aula,ou para agncias comprometidas com as questes formativas processadas emespaos no formais escolares. Isso implica reconhecer que estamos frente acircunstncias educativas desafiadas no apenas por andamentos propeduticos,mas tambm por ambincias comunicativas que singularizam os mecanismos deproduo, circulao e recepo do conhecimento e da informao. No centrodesse cenrio os mediadores tecnolgicos jogam papel importante no afeito

    constituio de novos parmetros culturais e, certamente, de sociabilidades.A constatao de que existe certo quadro scio-histr ico regendo a vida

    contempornea pode funcionar como rima, mas fica longe de apontar solues,haja vista a intensidade dos fatores envolvidos nos vnculos entre culturas mi -ditica/digitais e processos educativos. Conquanto no seja o lugar, aqui, paradesdobrar o problema, at porque estamos nos mantendo nos limites sugeridospelo material objeto desta apresentao e a ser lido nas pginas seguintes, perceptvel uma linha de argumentos marcada pelo termo descontinuidade quan-do se est diante da educao formal: h claros desencontros entre as culturassociotcnicas, a acelerao social do tempo, o encurtamento dos espaos que

    acompanham, em sentido amplo, os processos de comunicao e as prticas deensino aprendizagem correntes nas escolas. E isso a despeito de o computador,a internet, a televiso, o rdio, as mdias locativas, enfim, a pluralidade dosdispositivos e suas mensagens que circundam a vida cotidiana dos professorese dos alunos, estarem produzindo singularidades e particularidades educaoformal que escapam a determinadas circunscries escolares.

    O mundo real das salas de aula no articula, necessariamente, as demandaspostas pelas sociabilidades dos jovens e adolescentes, e mesmo de boa parte dosdocentes, e as dinmicas didticas e pedaggicas das salas de aulas. Da resulta

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    que a vida cotidiana, cada vez mais conectada aos dispositivos tecnolgicos, en-contra pouca continuidade junto s expectativas pessoais de alunos e professores,desejosos, em boa medida, de promover convergncias entre os ensinamentospropeduticos e as novas formas de ser, estar e conhecer. Em um termo, pareceque estamos frente a instncias pouco vinculadas, malgrado existir acerca dosnexos da comunicao com a educao uma retrica de aproximaes cujomecanismo de enlevao apenas serve para esclarecer a intensidade da fratura.

    O fato que a crescente abrangncia dos mediadores tecnocomunicativostrouxe consigo uma srie de dispositivos com forte atuao nos processos cul-turais. Em especial para o que vem sendo chamado de ecranizao, ou, dacriao do homo ecranis, conforme formulado por Gilles Lipovestsky e JeanSerroy1, em uma criativa boutadereferida ao homo sapiens. Vale dizer, as telas,inicialmente do cinema e depois da televiso que nas dcadas de 1970 e1980 era um dispositivo dominante no interior da indstria cultural iriamconfigurar ou reconfigurar manifestaes e comportamentos dos diferentesgrupos sociais. Em perodo aproximado entre os anos 1930 e finais do sculoXX, a caracterstica dominante das imagens em circulao pelo cinema ou te-leviso tinha marcas prprias, visto serem geradas em contexto de mensagensunidirecionais, que transitavam em pista nica da produo para a recepo.A segunda onda da ecranizao, algo que ir se afirmar a partir das quadrasfinais do sculo XX agora sob a gide dos sistemas digitais, da internet, daintegrao de mdias, da transmidiatizao , provocou as conhecidas alteraesnos fluxos de produo, circulao e recepo das mensagens. Isto , os antigosmecanismos de trnsito de mensagens baseados no one steep f low of communication,ou mesmo no two steep flow of communication, foram sendo enfraquecidos graass possibilidades abertas pelas linguagens digitais, pela internet, pelo telefonecelular, no contexto da sociedade em rede; o produtor do discurso pode estarem qualquer lugar e alterar a estrutura das mensagens em circulao. umarealidade cifrada pelas mltiplas telas, cuja estrutura conectada pelos fluxosdigitais se organiza como web-mundo2; da o aparecimento do self media3,em lugar do mass media.

    Um dos problemas ainda persistentes na educao formal que ela con-tinua presa a mecanismos de transmissibilidade pouco afeitos ao modo de osjovens verem, pensarem e agirem diante da realidade na qual vivem. Se taismarcadores culturais esto enlaados por fenmenos que envolvem aceleraotemporal, profuso informativa, mosaicos difusos de experincias, individualis-mo, acenos consumistas, algo a ser considerado e debatido no fogo vivo dasaes educativas que no temem a alteridade.

    ARTIGOS NACIONAISOs dois primeiros artigos nacionais esto voltados anlise de dire-

    trizes, seja no afeito s questes curriculares seja no expresso pelo Plano

    1. LIPOVETSKY, Gilles;SERROY, Jean. A Cultura--mundo:Resposta a umasociedade desorientada.So Paulo: Companhiadas Letras, 2008.

    2. Idem, p. 77.

    3. Idem, ibidem.

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    Nacional de Educao, que possuem impactos significativos para a vida daescola bsica brasileira. Ismar de Oliveira Soares discute, em A educomuni-cao possvel: uma anlise da proposta curricular do MEC para o EnsinoBsico, a proposio em andamento junto ao MEC para fixar parmetrosorientadores dos programas escolares, e como pode fazer parte deles reflexomais detida sobre as interfaces comunicao e educao. Por sua vez, LuizFernandes Dourado, no artigo Formao de profissionais do magistrio daeducao bsica: novas diretrizes e perspectivas, promove, luz do PlanoNacional de Educao, anlise das novas propostas para o sempre importanteproblema da formao inicial e continuada dos profissionais do magistrioda educao bsica.

    Em O Programa Mais Educao e a crtica da mdia: desafios e poten-cialidades, Ricardo Fiegenbaum e Eduarda Schneider Lemes, apresentamexperincias realizadas em unidade educativa da cidade de Pelotas (RS),tendo o Jornal Escolar como instncia interativa dos alunos com os meiosde comunicao, mecanismo por meio do qual possvel tanto melhorar asatividades em sala de aula quanto permitir o debate sobre o prprio lugar damdia na vida social.

    O artigo de Ariane Porto Costa Rimoli, O mundo da comunicao eo mundo da criana, segue em linha prxima ao anterior, voltado que estao entendimento das possveis convergncias entre universo das crianas e odas mdias.

    Finalizando o bloco de artigos nacionais, Vera de Ftima Vieira, em Edu-comunicao pela cidadania das mulheres, promove inovadora consideraoacerca das possibilidades oferecidas pela revoluo tecnolgica e pela Educo-municao tendo em vista a implantao de novas estratgias que mais bemcontemplem os propsitos da agenda feminista.

    ARTIGO INTERNACIONALDavid Buckingham um dos mais importantes pesquisadores da atualidade

    no campo da educao para os meios. Professor do Instituto de Educao daUniversidade de Londres, Diretor do Centro de Estudos de Crianas, Jovense Mdia. Coordenou vrios projetos internacionais envolvendo interaes dos

    jovens com os dispositivos eletrnicos. Atua como consultor para organismoscomo a Unesco, alm de desenvolver, junto a instituies inglesas, trabalhos comescolas, crianas e famlias. autor de obras fundamentais para se entenderos vnculos mdia e educao. Tem colaborado com a Comunicao & Educao,publicando artigos em outros nmeros da nossa Revista. Em A evoluo daeducao miditica no Reino Unido: algumas lies da histria, Buckinghammostra como, ao longo de mais de duas dcadas, os currculos escolares vmdialogando com os desafios da comunicao e aponta para alguns obstculossurgidos na implantao desse processo.

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    GESTO DA COMUNICAOO artigo Desafios e possibilidades educomunicativas na produo editorial

    e na mediao de livros-aplicativos, de Samira Almeida Pinto, baseado emmonografia para obteno do ttulo de especialista em Educomunicao cuja

    defesa ocorreu em 2015, orientada pela professora doutora Maria Cristina Casti-lho Costa. Descreve desafios e oportunidades experimentados por profissionaisda cadeia de produo e difuso do livro infantojuvenil diante da emergnciade inovaes no suporte de leitura (agora eletrnico) e na linguagem (agorahipermdia).

    ENTREVISTAA nossa entrevistada para este nmero apresenta uma rica e longa jornada

    de trabalhos no campo da educao. Selma Garrido Pimenta, foi Pr-Reitora deGraduao da USP, docente titular snior (aposentada) da FE-USP, e profes-sora assistente do Programa de Ps-Graduao em Educao da UniversidadeCatlica de Santos. Coordena o GEPEFE Grupo de Estudos e Pesquisassobre Formao do Educador, junto ao programa de Ps-Graduao em Edu-cao FE-USP. Trata-se de uma das mais respeitadas estudiosas da educaobrasileira e tem expressado clara defesa da escola pblica de qualidade. A suaentrevista contm, entre os vrios aspectos abordados, uma profcua anlisedas propostas envolvendo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a FormaoInicial e Continuada dos Profissionais do Magistrio da Educao Bsica, per-mitindo um interessante dilogo com os artigos de Ismar de Oliveira Soares e

    Luiz Fernandes Dourado. A entrevista foi conduzida e editada pela jornalistae professora doutora Cludia Nonato.

    CRTICAO artigo A violncia domstica representada na telenovela A regra do jogo,

    assinado pela professora doutora Maria Aparecida Baccega e pela mestre MariaAmlia Paiva Abro, explora o problema das agresses sofridas pelas mulherese como tais prticas ainda permanecem, a despeito dos avanos legais como

    os contidos na Lei Maria da Penha. As autoras dedicam-se a discutir como ognero telenovela vem contribuindo para colocar na ordem do dia o debatesobre a violncia contra a mulher, abrindo espaos para promover mudanasno modo de a sociedade tratar o problema.

    DEPOIMENTOSeo destinada a recolher histrias de vida, experincias, percursos

    de trabalho em comunicao e educao, traz, sob o ttulo de Educar ao

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    sonho, transformando a realidade, o depoimento de Paulo Lima. Funda-dor e diretor executivo da ONG Virao Educomunicao, o jornalista nosconta a sua trajetria como educador cuja preocupao central est voltada emancipao de crianas e adolescentes. E, nesse sentido, indica a contri-

    buio que pode ser dada pela comunicao quando inter-relacionada coma educao.

    EXPERINCIA

    Esta edio traz a experincia educativa do Laboratrio de Crtica deMdia do Amazonas (Lacrima), relatada pelo professor doutor Rafael BellanRodrigues de Souza. O artigo Um observatrio de imprensa na Amaznia: opapel educativo do Lacrima debate o papel dos observatrios de imprensa na

    formao da audincia ativa a partir de uma aprendizagem no escolar, pormeio dos observatrios crticos de mdia.

    POESIA

    O professor doutor Arlindo Rebechi Junior selecionou alguns poemasescritos pelo portugus Rui Torres. Realizador de textos que fazem uso daslinguagens digitais, Rui Torres conhecido pela produo da chamada poesiahipermdia. Por ter a sua obra ainda pouco divulgada no Brasil, a organizaoe apresentao de Arlindo Rebechi Junior representa uma contribuio nosentido de apresentar ao pblico brasileiro a obra inovadora de Rui Torres.

    RESENHAS

    Nesta edio, o livro A tolice da inteligncia brasileira, do socilogo Jess deSouza, resenhado por Rafael Grohmann. A obra incorpora reflexes sobrea realidade brasileira a partir de uma perspectiva fecunda para o debate in-telectual envolvendo temas sobre a nossa formao e as linhas de fora quebuscam explic-la, a exemplo de Gilberto Freire, Srgio Buarque de Holanda,Roberto da Mata. Coube a Lucas Martins Nia comentar o livro Por uma teo-ria de fs da fico brasileira. A obra resulta de pesquisas levadas a termo porinvestigadores da rede Obitel Brasil, tendo como desafio central a expressoda cultura fandom na telefico brasileira. Maria Igns Carlos Magno dedica--se a discutir o filme Que horas ela volta? (2015), dirigido por Anna Muylaert.A pelcula teve um grande sucesso de crtica e pblico. Maria Igns faz umaestimulante proposta de compreenso da obra de Muylaert categorizando-acomo crnica cinematogrfica.

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    ATIVIDADES EM SALA DE AULARuth Ribas Itacarambi prope atividades de trabalho para serem realiza-

    das em sala de aula com alunos do ensino fundamental e mdio, a partir deartigos publicados neste nmero da nossa revista.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASLIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean.A Cultura-mundo: Resposta a uma socie-

    dade desorientada. So Paulo: Companhia das Letras, 2008