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CATILENE BARBOZA DA SILVA INVESTIGAÇÃO DA VARIAÇÃO DO PERFIL CROMATOGRÁFICO DE UM PRODUTO INTERMEDIÁRIO DO PRINCÍPIO ATIVO VALSARTAN LORENA 2013

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CATILENE BARBOZA DA SILVA

INVESTIGAÇÃO DA VARIAÇÃO DO PERFIL CROMATOGRÁFICO DE UM PRODUTO

INTERMEDIÁRIO DO PRINCÍPIO ATIVO VALSARTAN

LORENA

2013

CATILENE BARBOZA DA SILVA

INVESTIGAÇÃO DA VARIAÇÃO DO PERFIL CROMATOGRÁFICO DE UM PRODUTO

INTERMEDIÁRIO DO PRINCÍPIO ATIVO VALSARTAN

Trabalho de Graduação apresentado à Escola

de Engenharia de Lorena da Universidade de

São Paulo para avaliação na Disciplina

Trabalho de Conclusão de Curso II.

Orientadora: Profa. Dra. Isabel Cristina Coelho

Calegão

LORENA

2013

DEDICATÓRIA

À minha família pelo incentivo e apoio incondicional ao longo de toda a faculdade.

À Equipe de Garantia da Qualidade da Novartis Resende por tornar possível a

elaboração deste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Ao Controle de Qualidade da Empresa Novartis por ceder o laboratório para realização

dos testes.

À Professora Isabel Cristina Coelho Calegão por me ajudar a vencer este desafio.

À Escola de Engenharia de Lorena pela oportunidade de realização do curso de

Graduação em Engenharia Industrial Química.

EPÍGRAFE

“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes

coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.”

Charles Chaplin

RESUMO

SILVA, C. B. Investigação da variação do perfil cromatográfico de um produto

intermediário do princípio ativo Valsartan. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação

em Engenharia Industrial Química – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São

Paulo, Lorena, 2013.

O presente trabalho buscou solucionar um problema encontrado no Controle de

Qualidade da Empresa Novartis em Resende: Ao longo do processo produtivo do princípio

ativo Valsartan, 17 lotes de um produto intermediário apresentaram, durante teste de teor por

cromatografia gasosa, uma alteração em seu perfil cromatográfico. Os resultados obtidos não

se encontram fora da especificação, porém caracterizam um resultado não esperado na rotina.

Dessa maneira, a proposta foi investigar o desvio ocorrido, levantar a possível causa raiz e

fatores que contribuíram para tal resultado e em cima disso, definir ações para evitar

recorrências.

Palavras-chave: Cromatografia gasosa, Perfil cromatográfico, Bromotolil benzonitrila.

ABSTRACT

SILVA, C. B. Investigation about chromatographic profile variation of an

intermediate product of drug substance Valsartan. Work to complete the course in

Graduation in Industrial Chemical Engineering – School of Engineering from Lorena,

University of São Paulo, Lorena, 2013.

This work helped to solve a problem found in Quality Control of Novartis Enterprise in

Resende. During the manufacturing of the drug substance Valsartan, 17 batches of an

intermediate product showed a chromatography profile variation in test of content by gas

chromatography. The results obtained were not out of specification, but they were out of

expected in routine. Thus, the proposal was investigate the deviation occured, identify the

probable root cause and factors that contributed to this results, and define actions to avoid

recurrence.

Keywords: Gas chromatography , Chromatographic profile, Bromotolil benzonitrila.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Fluxograma resumido do processo de produção do princípio ativo Valsartan..........13

Figura 2: Reação de formação do Bromotolil benzonitrila........................................................13

Figura 3: Cromatograma típico de uma amostra de Bromotolil benzonitrila............................14

Figura 4: Molécula de Valsartan, princípio ativo do Diovan.....................................................18

Figura 5: Molécula do produto intermediário obtido ao final da etapa 6: Bromotolil

benzonitrila................................................................................................................................18

Figura 6: Diagrama de Ishikawa................................................................................................23

Figura 7: Cromatograma do solvente utilizado na preparação da amostra e solução de

SST.............................................................................................................................................31

Figura 8: Cromatograma da reinjeção do lote X01....................................................................32

Figura 9: Cromatograma da reinjeção do lote X02....................................................................32

Figura 10: Cromatograma da reinjeção do lote X03..................................................................32

Figura 11: Cromatograma da rediluição do lote X01................................................................33

Figura 12: Cromatograma da rediluição do lote X02................................................................34

Figura 13: Cromatograma da rediluição do lote X03................................................................34

Figura 14: Cromatograma da reanálise do lote X01..................................................................35

Figura 15: Cromatograma da reanálise do lote X02..................................................................35

Figura 16: Cromatograma da reanálise do lote X03..................................................................35

Figura 17: Cromatograma do lote X01 com coluna nova..........................................................36

Figura 18: Cromatograma do lote X01 re-amostragem.............................................................37

Figura 19: Fluxograma do processo de produção de Bromotolil benzonitrila...........................39

Figura 20: Diagrama de Ishikawa para o desvio de subprodutos no Bromotolil

benzonitrila................................................................................................................................40

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tempo de retenção dos picos apresentados no cromatograma do Bromotolil

benzonitrila................................................................................................................................15

Tabela 2 - Especificação de teor e subprodutos por cromatografia gasosa para o Bromotolil

benzonitrila................................................................................................................................15

Tabela 3 - Concentração total de subproduto desconhecido......................................................16

Tabela 4 – Teste de Adequabilidade do Sistema.......................................................................29

LISTA DE DEFINIÇÕES E ABREVIATURAS

Subproduto: Um subproduto é um produto secundário ou acidental resultante de um

processo de fabricação, uma reação química ou uma via bioquímica, e não é o produto ou

serviço primário sendo produzido.

POP: Procedimento Operacional Padrão: Procedimento escrito e autorizado que

fornece instruções para a realização de operações não necessariamente específicas a um dado

produto ou material, mas de natureza geral (por exemplo, operação, manutenção e limpeza de

equipamentos; validação; limpeza de instalações e controle ambiental; amostragem e

inspeção). Certos procedimentos podem ser usados para suplementar a documentação mestre

de produção de lote de um produto específico.

SST: System Suitability Test ou Teste de Adequabilidade do Sistema.

Injeção de uma solução padrão para verificar as condições do sistema como

reprodutibilidade, desvio relativo padrão, etc. Se as condições do sistema estiverem de acordo,

a amostra poderá ser analisada.

USP: United States Pharmacopeia. Fármacopéia dos Estados Unidos.

Conjunto de informações técnicas e propriedades de medicamentos.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 13

2 OBJETIVO..........................................................................................................................17

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................................18

3.1 Diovan............................................................................................................................18

3.2 Bromotolil benzonitrila..................................................................................................18

3.3 Controle de Qualidade...................................................................................................19

3.4 Cromatografia Gasosa....................................................................................................20

3.5 Fontes de Contaminação em Cromatografia Gasosa.....................................................21

3.5.1 Gás de arraste.....................................................................................................21

3.5.2 Septo...................................................................................................................21

3.5.3 Coluna................................................................................................................21

3.6 Teste de Adequabilidade do Sistema.............................................................................22

3.7 Brainstorming ................................................................................................................22

3.8 Diagrama de Ishikawa ...................................................................................................22

3.9 Reação de Bromação .....................................................................................................23

4 METODOLOGIA .............................................................................................................25

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES.....................................................................................26

5.1 Controle de Qualidade.................................................................................................26

5.1.1 Amostra..............................................................................................................26

5.1.2 Condições de estocagem....................................................................................26

5.1.3 Equipamento utilizado.......................................................................................27

5.1.4 Parâmetros de análise.........................................................................................27

5.1.5 Audit Trail..........................................................................................................28

5.1.6 Parâmetros de integração...................................................................................28

5.1.7 Teste de Adequabilidade do Sistema, SST........................................................28

5.1.8 Preparação da Amostra e da Solução de SST...................................................29

5.1.9 Anomalias em outros testes................................................................................29

5.1.10 Recorrência do desvio........................................................................................30

5.1.11 Analista..............................................................................................................30

5.1.12 Teste em branco.................................................................................................30

5.1.13 Reinjeção da amostra........................................................................................31

5.1.14 Rediluição da solução original...........................................................................33

5.1.15 Reanálise............................................................................................................34

5.1.16 Coluna................................................................................................................36

5.1.17 Reamostragem do lote X01................................................................................36

5.1.18 Resultados da investigação analítica...................................................................37

5.2 Produção.....................................................................................................................37

5.2.1 Quantidade de Matéria-Prima............................................................................40

5.2.2 Qualidade da Matéria-Prima..............................................................................41

5.2.3 Falha no Procedimento de Lavagem/ Lavagem ineficiente/ Problema no

Equipamento......................................................................................................41

5.2.4 Contaminação Cruzada......................................................................................42

5.2.5 Alteração no Processo........................................................................................42

6 CONCLUSÃO .....................................................................................................................43

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................45

8 ANEXOS................................................................................................................................47

ANEXO A - Cromatograma do lote X01..................................................................................47

ANEXO B - Cromatograma do lote X02...................................................................................48

ANEXO C - Cromatograma do lote X03...................................................................................49

ANEXO D - Cromatograma do lote X04..................................................................................50

ANEXO E - Cromatograma do lote X05...................................................................................51

ANEXO F - Cromatograma do lote X06...................................................................................52

ANEXO G - Cromatograma do lote X07..................................................................................53

ANEXO H - Cromatograma do lote X08..................................................................................54

ANEXO I - Cromatograma do lote X09....................................................................................55

ANEXO J - Cromatograma do lote X10....................................................................................56

ANEXO K - Cromatograma do lote X11..................................................................................57

ANEXO L - Cromatograma do lote X12...................................................................................58

ANEXO M - Cromatograma do lote X13..................................................................................59

ANEXO N - Cromatograma do lote X14..................................................................................60

ANEXO O - Cromatograma do lote X15..................................................................................61

ANEXO P - Cromatograma do lote X16...................................................................................62

ANEXO Q - Cromatograma do lote X17..................................................................................63

13

1 INTRODUÇÃO

O Valsartan, cuja molécula é apresentada na Figura 4 do item 3.1, princípio ativo do

fármaco Diovan, é produzido pela Empresa Novartis em um processo constituído de 12 etapas

consecutivas. Ao fim de cada etapa tem-se um produto intermediário que, será matéria-prima

para a próxima etapa, e assim sucessivamente até concluir o processo produtivo com a décima

segunda etapa.

O site da Novartis situado na cidade de Resende, Rio de Janeiro, é responsável pela

produção das etapas 6,7 e 8 do processo, conforme fluxograma apresentado na Figura 1.

Figura 1: Fluxograma resumido do processo de produção do princípio ativo valsartan.

O produto intermediário obtido ao final da etapa 6 é o Bromotolil benzonitrila. Sua

molécula pode ser visualizada na Figura 5 no item 3.2.

É preparada uma solução, em ciclohexano, de tolilbenzonitrila, catalisador azo iso

butironitrila e ácido bromídrico 48%.

Forma-se bromotolil benzonitrila e ao mesmo tempo o subproduto succinimida, de

acordo com a reação mostra na Figura 2.

Figura 2: Reação de formação do Bromotolil benzonitrila.

14

Ao final da produção de cada lote de uma etapa, uma amostra é enviada ao Controle de

Qualidade para ser analisada de acordo com procedimentos e método analítico em vigor,

para garantir que as exigências de qualidade para aquele produto sejam atendidas antes de

passar para a próxima etapa de produção.

De acordo com o método analítico, os testes realizados para uma amostra de

Bromotolil benzonitrila são: identificação por infravermelho, teor de água por Karl

Fischer, teor e subprodutos (succinimida, tolilbenzonitrila, 2-(4-

Dibromometilfenil)benzonitrila) por cromatografia gasosa.

O perfil cromatográfico esperado numa análise de teor e subprodutos por

cromatografia gasosa de uma amostra de Bromotolil benzonitrila, substância intermediária na

produção do princípio ativo Valsartan, é apresentado na Figura 3.

Figura 3: Cromatograma típico de uma amostra de Bromotolil benzonitrila.

O perfil cromatográfico de uma amostra de Bromotolilbenzonitrila, tipicamente se

apresenta com o pico do produto principal (Bromotolilbenzonitrila) e quatro picos referentes

aos subprodutos. Este perfil é exatamente igual ao da substância de referência do produto.

A identificação dos picos apresentados com o seu respectivo tempo de retenção, podem

ser observados na Tabela 1.

15

Tabela 1 - Tempo de retenção dos picos apresentados no cromatograma do bromotolil benzonitrila.

Substância Tempo de Retenção

Succinimida 3,6 minutos

Tolibenzonitrila 8,0 minutos

Subproduto desconhecido 9,4 minutos

Bromotolil benzonitrila 10,7 minutos

2-(4-Dibromometilfenil)benzonitrila 13 minutos

O desvio que este trabalho investiga está relacionado ao aparecimento do pico de um

subproduto desconhecido, não esperado, no tempo de retenção de aproximadamente 9,8

minutos para 17 lotes consecutivos de Bromotolil benzonitrila.

Os Anexos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17 mostram os

cromatogramas dos lotes X01, X02, X03, X04, X05, X06, X07, X08, X09, X10, X11, X12,

X13, X14, X15, X16 e X17, respectivamente, que foram impactados pelo desvio.

De acordo com a Tabela 2, o total de outras substâncias correlatas, que engloba a soma

de todos os subprodutos não identificados oficialmente pelo método, não deve ultrapassar a

concentração de 2% para que o lote seja aprovado.

Tabela 2 - Especificação de teor e subprodutos por cromatografia gasosa para o bromotolil benzonitrila.

Teste Especificação

Succinimida por CG Não mais que 5%

2-(4-Dibromometilfenil)benzonitrila por CG Não mais que 2%

Tolilbenzonitrila por CG Não mais que 5%

Total de outras substâncias correlatas por CG Não mais que 2%

Teor por CG Não menos que 85%

Os resultados de concentração obtidos após integração das áreas dos picos

desconhecidos, não esperados, em cada caso pode ser verificado na Tabela 3.

16

Tabela 3 - Concentração total de subproduto desconhecido

Lote Concentração de Subprodutos

Desconhecidos

X01 0,3542%

X02 0,1849%

X03 0,4794%

X04 0,3786%

X05 0,1943%

X06 0,3655%

X07 0,1988%

X08 0,1802%

X09 0,0968%

X10 0,0879%

X11 0,0599%

X12 0,0856%

X13 0,3189%

X14 0,0498%

X15 0,1286%

X16 0,0359%

X17 0,0782%

Pode-se observar, na Tabela 3, que todos os resultados estão abaixo de 2%.

No entanto, por se tratar de um resultado não esperado e fora do histórico de tendência

do produto intermediário Bromotolil benzonitrila, os resultados, mesmo dentro da

especificação, devem ser investigados antes da disposição final de tais lotes.

O próximo lote produzido depois do lote X17, apresentou um perfil cromatográfico

esperado, com apenas um subproduto desconhecido.

17

2 OBJETIVO

O objetivo do trabalho é encontrar a causa raiz da alteração do perfil cromatográfico das

amostras dos lotes de Bromotolil benzonitrila afetados pelo aparecimento do pico de

subproduto desconhecido não esperado, executar as ações corretivas e preventivas para evitar

novas reincidências no futuro e assim garantir a qualidade do produto e a satisfação do cliente.

18

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Diovan

O medicamento Diovan pertence a uma classe de medicamentos conhecidos como

antagonistas do receptor da angiotensina II, os quais ajudam no controle da pressão arterial

alta. A angiotensina II é uma substância do organismo que causa constrição dos vasos

sanguíneos, causando assim o aumento da sua pressão arterial. A molécula de Diovan,

apresentada na Figura 4, atua bloqueando o efeito da angiotensina II. Como resultado, as veias

relaxam e a pressão sanguínea diminui.

O princípio ativo do Diovan é o Valsartan.

Figura 4: Molécula de Valsartan, princípio ativo do Diovan.

3.2 Bromotolil benzonitrila

Figura 5: Molécula do produto intermediário obtido ao final da etapa 6: Bromotolil benzonitrila.

19

Fórmula empírica: C14H10NBr

Massa molecular: 272,1

Nome químico: 2-(4-Bromometilfenil)benzonitrila

Outro nome: 4-Bromometil(1,1-bifenil)-2-carbonitrila

Propriedades: Sólido; solúvel em dioxano

3.3 Controle de Qualidade

A consciência da importância do controle de qualidade é histórica, pois, em 1352,

João, o Bom, Rei da França, legislou sobre a necessidade de serem controladas as preparações

farmacêuticas (PRISTA, 1988).

Com o desenvolvimento de novas técnicas analíticas o controle de qualidade evoluiu

significativamente.

Apesar dos grandes avanços, o que se mantém constante é a interdependência de três

fatores: teoria, técnica e problema, triângulo constitutivo da trindade analítica. A busca pela

solução do problema acarreta a melhoria contínua da técnica, sempre fundamentada na teoria

(SENISE, 1983).

Um desvio da qualidade pode ser caracterizado quando um produto foge do padrão, ou

se afasta dos parâmetros de qualidade (ANVISA). Nesses casos uma investigação se faz

necessária para identificar o problema, corrigir e prevenir.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, no Brasil é responsável pelo

registro de medicamentos, pela autorização de funcionamento dos laboratórios farmacêuticos e

demais empresas da cadeia farmacêutica, e pela regulação de ensaios clínicos e de preços, por

meio da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).

A Resolução – RDC número 17, de 16 de abril de 2010, possui o objetivo de

estabelecer os requisitos mínimos a serem seguidos na fabricação de medicamentos para

padronizar a verificação do cumprimento das Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos

(BPF) de uso humano durante as inspeções sanitárias.

20

A Novartis além de respeitar as normas da Anvisa, também é regida por normas

internacionais como as do FDA – Food and Drug Administration (Agência de regulamentação

americana).

A alteração de qualquer parâmetro registrado de um determinado produto caracteriza

um desvio que deve ser solucionado e tratado com ações corretivas e preventivas.

3.4 Cromatografia Gasosa

Na cromatografia gasosa, uma amostra é vaporizada e seus componentes são separados

em consequência de sua partição entre uma fase móvel gasosa e uma fase estacionária contida

dentro da coluna.

A fase móvel em cromatografia gasosa é denominada gás de arraste. Utiliza-se sempre

um gás inerte, ou seja, a fase móvel não interage com as moléculas do analito. Sua única

função é transportar o analito através da coluna (SKOOG; HOLLER; WEST, 2005).

A amostra vaporizada é injetada na cabeça da coluna cromatográfica. Seringas

calibradas são empregadas para a injeção de amostras líquidas por meio de diafragmas ou

septos de silicone em uma porta de admissão da amostra aquecida localizada na cabeça da

coluna.

A amostra percorre toda a coluna e conforme interação com a mesma, ocorre a

separação dos componentes que chegam ao detector.

Os principais métodos de detenção são classificados de acordo com as propriedades

físicas que configuram o mecanismo de detecção. Os detectores são classificados como:

universal, seletivo e específico. Os detectores de ionização de chama e condutividade térmica

respondem na presença de todos os compostos orgânicos e são portanto considerados

detectores universais. Outros detectores respondem somente na presença de um heteroátomo

em particular (por exemplo, fotométrico de chama e termoiônico são considerados detectores

específicos). O de captura de elétrons é considerado seletivo, pois detecta qualquer substância

que apresente grupo atômico capaz de captar elétrons.

Muitas alterações e melhorias nos instrumentos para a cromatografia gasosa

apareceram no mercado desde o seu lançamento comercial.

21

Hoje, existem diversos fabricantes de instrumentos que oferecem uma grande

variedade de modelos de equipamentos cromatográficos de vários preços.

3.5 Fontes de Contaminação em Cromatografia Gasosa

O principal objetivo da investigação laboratorial é descartar ou não a hipótese de

contaminação, seja do sistema cromatográfico ou da amostra.

Uma das grandes vantagens da cromatografia gasosa é a capacidade de baixos limites

de detecção. Assim sendo, é necessária muita cautela com todo o sistema a fim de minimizar

ruídos, e assim ter o máximo de coerência na hora de integração dos picos gerando maior

confiança e precisão na determinação de picos menores (DE ZEEUW, 2005).

Qualquer contaminação no sistema polui o detector e interfere no resultado.

Diversas são as fontes de contaminação em cromatografia gasosa, seguem as

principais:

3.5.1 Gás de arraste

A própria tubulação da linha de gás pode ser um fonte de contaminação se não estiver

adequadamente limpa. As trocas de cilindros podem proporcionar entrada de contaminantes e

umidade na linha. Por isso recomenda-se que o cilindro de gás seja instalado o mais próximo

possível do cromatógrafo.

3.5.2 Septo

O septo pode ser uma das maiores fontes de ruído em um sistema cromatográfico.

Sua degradação produz um efeito parecido com sangramento de fase estacionária.

3.5.3 Coluna

O sangramento da coluna ocorre devido à perda da fase estacionária.

22

Além disso contaminações externas podem ficar retidas na coluna e eluir

gradativamente ao longo da utilização do sistema.

3.6 Teste de Adequabilidade do Sistema

Para garantir a confiabilidade e sustentar quase todas as hipóteses levantadas durante

investigação laboratorial é fundamental revisar o conceito de System Suitability Test ou Teste

de Adequação do Sistema.

A farmacopeia americana, United States Phamacopeia, USP, uma das famacopéias

mais utilizadas no mundo, é o conjunto de informações técnicas como nomenclatura,

propriedades e método analítico, para determinados medicamentos, excipientes e suplementos

alimentares.

A USP no Capítulo Geral de Cromatografia afirma:

"Testes de adequabilidade do sistema são uma parte integrante dos métodos de

cromatografia a gás e líquida . Eles são usados para verificar se a resolução e reprodutibilidade

do sistema cromatográfico são adequados para a análise a ser feita.

Os ensaios baseiam-se no conceito de que o equipamento, operações analíticas e a

amostra a ser analisada constituem um sistema integral que pode ser avaliado como tal."

3.7 Brainstorming

Uma sessão, ou reunião, de Brainstorming (tempestade de ideias) objetiva inspirar os

participantes a colaborar com sugestões e ideias para tentar solucionar um problema.

A reunião se inicia com a definição clara do problema e dos objetivos que se quer chegar.

Nenhuma sugestão pode ser descartada ou julgada no primeiro momento. A técnica é permitir

a fluência total de ideias.

Apenas no final da reunião é que os dados são compilados e as ideias classificadas como ruins

serão descartadas.

3.8 Diagrama de Ishikawa

23

Também é conhecido como "Diagrama de Causa e Efeito" ou "Espinha-de-peixe".

É uma ferramenta gráfica utilizada para o Gerenciamento da Qualidade.

Originalmente proposto pelo engenheiro químico Kaoru Ishikawa em 1943 e

aperfeiçoado nos anos seguintes (RAMOS; ALMEIDA; ARAÚJO, 2013)

Este diagrama também é conhecido como 6M, pois, em sua estrutura, todos os tipos de

problemas podem ser classificados como sendo de seis tipos diferentes: Método, Matéria-

prima, Mão-de-obra, Máquinas, Medição e Meio ambiente, conforme mostrado na Figura 6.

Figura 6: Diagrama de Ishikawa.

Este sistema permite estruturar as causas potenciais de determinado problema ou

oportunidade de melhoria.

3.9 Reação de Bromação

O Bromotolil benzonitrila é sintetizado a partir de uma reação radicalar do Tolil

benzonitrila pelo N-bromo succinimida, conforme pode ser observado na Figura 34.

A ligação carbono-bromo do N-bromo succinimida, sofre homólise rapidamente

quando aquecida.

24

Uma vez que o bromo contém um elétron desemparelhado, ele se torna um radical.

Quando este radical colide com a molécula de Tolil benzonitrila ele reage levando ao

emparelhamento do seu elétron desemparelhado.

25

4 METODOLOGIA

A investigação foi conduzida no laboratório instrumental do Controle de Qualidade da

Empresa Novartis em Resende.

Foi realizada uma pesquisa a fim de confirmar, ou não, os valores de subprodutos

desconhecidos encontrados nos lotes de bromotolil benzonitrila mencionados na Introdução

deste trabalho e encontrar a causa raiz relacionada a este Desvio da Qualidade.

Para isso, foi utilizado o método analítico de teor por cromatografia gasosa, em vigor

na Novartis, para o intermediário bromotolil benzonitrila.

As análises foram realizadas em um cromatógrafo da marca Agilent, modelo 6890N,

Detector de Condutividade Térmica (TCD).

Inicialmente os vials contendo as preparações originais das amostras foram testados e

novas análises foram realizadas, a fim de excluir ou não, a hipótese de erro analítico.

Os dados analíticos foram obtidos através de um software que fornece os

cromatogramas e possui ferramentas de integração e cálculos necessárias para a obtenção do

resultado final.

Como os resultados da investigação analítica confirmaram o resultado, fora do esperado,

inicialmente obtido, uma investigação no processo produtivo foi conduzida.

Através das ferramentas da Qualidade, Brainstorming e Diagrama de Ishikawa, foi

possível levantar as possíveis causas do problema atreladas às etapas produtivas e investigar

cada uma delas até encontrar a causa raiz para este desvio.

26

5 RESUSTADOS E DISCUSSÕES

Ao constatar que um total de dezessete amostras de lotes consecutivos de bromotolil

benzonitrila apresentaram um resultado não esperado para o teste de Teor e Subprodutos por

Cromatografia Gasosa, foi aberto um Relatório de Investigação Laboratorial, para registrar o

desvio e iniciar as investigações.

5.1 Controle de Qualidade

A investigação foi, inicialmente, conduzida no laboratório instrumental do Controle de

Qualidade da Empresa Novartis em Resende, pois a primeira hipótese levantada foi a suspeita

de erro analítico.

Para confirmar, ou não, esta hipótese, os seguintes itens foram checados:

5.1.1 Amostras

Todos os 17 frascos das amostras envolvidos no desvio foram conferidos quanto às

identificações das etiquetas e confirmou-se que realmente eram amostras de bromotolil

benzonitrila.

Abriu-se os frascos e verificou-se que a aparência das amostras estava normal e

nenhuma outra anomalia foi observada.

5.1.2 Condições de estocagem

As amostras chegam ao laboratório do Controle de Qualidade e ficam em um armário

específico aguardando a análise.

De acordo com estudo de estabilidade do produto, ele é válido por 5 anos se

conservado em temperatura ambiente.

O armário foi checado e apresentou as mesmas condições em que estavam as amostras

analisadas antes e após os 17 lotes deste desvio, que apresentaram resultados esperados.

27

A temperatura média do laboratório é de aproximadamente 22ºC e no período em que

as 17 amostras foram analisadas não foi registrado nenhum problema com o ar condicionado.

Portanto pode-se garantir que não houve degradação das amostras enquanto aguardavam o

momento da análise.

Também verificou-se que dentro do armário só haviam amostras de bromotolil

benzonitrila e todos os frascos estavam devidamente fechados, o que exclui a possibilidade de

contaminação na armazenagem.

5.1.3 Equipamento utilizado

Para as análises de teor e subprodutos de bromotolil benzonitrila, o laboratório possui

um cromatógrafo dedicado.

Trata-se um cromatógrafo à gás da marca Agilent, modelo 6890N, Detector de

Condutividade Térmica (TCD).

O equipamento é contemplado no plano de manutenção preventiva da Novartis e está

dentro do prazo qualificação pela equipe da Agilent.

O injetor e o carrossel onde os vials contendo as soluções de amostras e padrões

aguardam para serem analisados também foram verificados e nenhum problema foi observado.

Os vials se apresentavam íntegros e bem identificados. E nenhum problema foi identificado

com o injetor ou com os septos.

O gás de arraste era o mesmo utilizado em outras análises executadas com sucesso.

Portanto, não pode ser considerado como causa raiz para este incidente.

5.1.4 Parâmetros de análise

Todos os parâmetros de análise configurados no equipamento respeitavam as

exigências do método:

- hélio como gás de arraste

- taxa de fluxo de 15 mL/minuto

- temperatura do detector de 300ºC

28

- rampa de temperatura na coluna: 0,5 minutos à 80°C, sobe 30ºC por minuto até 180º

e 16º por minuto até 280ºC, e então permanece por 15 minutos.

- volume de injeção de 1 µL.

5.1.5 Audit Trail

Através da verificação do audit trail do cromatógrafo foi possível confirmar que os

parâmetros de análise estabelecidos permaneceram inalterados e sem variações durante as

corridas de todas as amostras.

Essa informação elimina a hipótese de instabilidade no sistema.

5.1.6 Parâmetros de integração

Os cromatogramas são gerados a partir de um software através do qual é possível

ajustar os parâmetros de integração dos picos, que interferem diretamente no cálculo final,

afim de, se obter o resultado mais adequado.

Alguns exemplos de parâmetros de integração são: fator de cauda, área, altura mínima

e máxima que deve ser integrada, etc.

Qualquer alteração nesses parâmetros interfere automaticamente no resultado final

calculado em percentagem.

Portanto, verificou-se os parâmetros utilizados para integrar todas as sequências de

análises dos lotes envolvidos neste desvio e constatou-se que a integração foi efetuada da

melhor maneira possível.

Essas observações descartam a hipótese de integração errônea e confirmam que não se

trata de um ruído integrado indevidamente.

5.1.7 Teste de adequabilidade do sistema, SST

O teste de adequabilidade do sistema foi checado e aprovado de acordo com a Tabela

4.

29

Tabela 4 – Teste de Adequabilidade do sistema

Parâmetro Exigência

Desvio relativo padrão para o pico 2-

(4-Dibromometilfenil) benzonitrila ≤ 10 %

Fator de cauda para o pico 2-(4-

Dibromometilfenil) benzonitrila Entre 0,6 e 1,5

Relação sinal ruído para o pico 2-(4-

Dibromometilfenil) benzonitrila ˃ 10

Essa verificação descarta a hipótese de que o sistema cromatógráfico não estaria

adequado à realização do teste e confirma que o pico inesperado não se trata de uma oscilação

da linha de base.

5.1.8 Preparação da amostra e da solução padrão do SST

Todos os equipamentos do laboratório são capazes de gerar dados impressos que

devem ser anexados à documentação de análise de cada lote.

Sendo assim, todos os registros de massa das preparações das soluções das amostras e

padrões foram rastreadas, e não houve nenhuma constatação que pudesse levar à ocorrência

deste desvio.

Essas evidências descartam problemas de pesagem, porém, só uma reanálise pode

evidenciar se houve ou não problemas de preparação da amostra.

As datas de validade dos padrões e reagentes utilizados nas preparações também foram

rastreados e todos estavam de acordo.

Essas informações não são suficientes para descartar a hipótese de que o subproduto

desconhecido possa ser proveniente de algum solvente utilizado no preparo das amostras. Essa

hipótese será testada no item 4.1.12.

5.1.9 Anomalias em outros testes

30

Todos os testes realizados para uma amostra de bromotolil benzonitrila são mostrados

na Tabela 2 do item 1 Introdução.

Checou-se toda a documentação analítica de cada lote e não foi observado nenhuma

anomalia em outros testes realizados. Todos atenderam às especificações. No entanto, isso não

é suficiente para descartar a hipótese de problema com o produto.

5.1.10 Recorrência do desvio

Verificou-se a lista mestra de desvios do site Resende da Novartis e o caso apresentado

neste trabalho nunca aconteceu antes.

5.1.11 Analista

O analista que realizou o teste era devidamente treinado para executar tal análise e já

tinha bastante experiência. O mesmo foi entrevistado e afirmou que não foi possível identificar

qualquer ocorrência durante a análise que pudesse gerar tal desvio.

Portanto, a hipótese de erro analítico devido à falta de experiência do analista pode ser

descartada.

5.1.12 Teste em branco

Os vials contendo as preparações das amostras injetadas inicialmente foram

preservados para ajudar na investigação.

Antes de executar uma reinjeção da amostra, injetou-se um vial contendo apenas o

solvente utilizado na preparação da amostra, o dioxano. Esse teste funciona como se fosse um

branco para verificar se o pico desconhecido poderia ser proveniente do solvente utilizado.

Inicialmente essa hipótese poderia ser descartada, pois, utiliza-se o mesmo solvente para a

preparação da solução de SST que não apresentou o pico desconhecido. Além disso, através

dos registros nos documentos de análise constatou-se que foi utilizado o mesmo lote de

dioxano para preparar a solução de SST e as amostras. Porém, não pode se garantir que após a

preparação da solução de SST o frasco de solvente tenha sofrido algum tipo de contaminação.

31

O resultado do teste em branco pode ser observado na Figura 7.

Figura 7: Cromatograma do solvente utilizado na preparação da amostra e solução de SST.

De acordo com o resultado apresentado na Figura 23 a hipótese de que o pico

desconhecido pudesse ser proveniente do solvente de preparação das soluções, pode ser

descartada.

5.1.13 Reinjeção da amostra

Reinjetou-se os vials dos 3 primeiros lotes afetados.

Os resultados obtidos foram 0,3683%, 0,19805% e 0,47565 para os lotes X01, X02 e X03,

respectivamente.

Os cromatogramas são observados nas Figuras 8, 9 e 10.

32

Figura 8: Cromatograma da reinjeção do lote X01.

Figura 9: Cromatograma da reinjeção do lote X02.

Figura 10: Cromatograma da reinjeção do lote X03.

33

O pico desconhecido inesperado aparece nos mesmos tempos de retenção e com áreas

muito próximas às áreas obtidas originalmente.

Esses resultados descartam definitivamente problemas com o sistema.

5.1.14 Rediluição da solução original

A preparação da amostra consiste em pesar certa quantidade da mesma e dissolver em

50 mL de dioxano (Solução 1). Após isso, 5 mL da solução é diluída para 100 mL (Solução 2).

Todas as Soluções 1 das amostras envolvidas neste desvio foram guardadas para fins

investigativos. E assim, realizou-se uma re-diluição das Soluções 1 dos lotes X01, X02 e X03.

O pico desconhecido inesperado apareceu e os resultados obtidos foram 0,3682%,

0,19055% e 0,4784% para os lotes X01, X02 e X03, respectivamente.

Os cromatogramas podem ser observados nas Figuras 11, 12 e 13.

Figura 11: Cromatograma da rediluição do lote X01.

34

Figura 12: Cromatograma da rediluição do lote X02.

Figura 13: Cromatograma da rediluição do lote X03.

Esses resultados excluem a possibilidade de erro ou contaminação durante as diluições.

5.1.15 Reanálise

Realizou-se novas pesagens e preparações dos lotes X01, X02 e X03.

O pico desconhecido inesperado apareceu e os resultados obtidos foram 0,3670%,

0,1912% e 0,4659% para os lotes X01, X02 e X03, respectivamente.

Os cromatogramas podem ser observados nas Figuras 14, 15 e 16:

35

Figura 14: Cromatograma da reanálise do lote X01.

Figura 15: Cromatograma da reanálise do lote X02.

Figura 16: Cromatograma da reanálise do lote X03.

36

Estes cromatogramas confirmam os resultados iniciais e excluem a hipótese de erro

durante preparação da solução das amostras.

5.1.16 Coluna

A coluna utilizada foi verificada e estava dentro da validade e em acordo com as

especificações do método de análise: DB-5, capilar de quartzo, 30 m de comprimento, 0,53

mm de diâmetro interno, espessura da camada de 5 µm.

Entretanto para eliminar hipótese de interferência de um possível sangramento, foi

executado uma re-injeção da solução preparada no re-teste com uma coluna nova.

O cromatograma obtido pode ser visualizado na Figura 17 e como o problema

persistiu, essa hipótese pode ser eliminada.

Figura 17: Cromatograma do lote X01 com coluna nova.

5.1.17 Reamostragem do lote X01

O lote X01 foi reamostrado e analisado novamente.

O pico desconhecido inesperado apareceu e o resultado obtido foi de 0,3569%

O cromatograma é apresentado na Figura 18.

37

Figura 18: Cromatograma do lote X01 reamostragem.

Esse resultado exclui qualquer possibilidade de erro analítico e confirma o resultado

obtido inicialmente.

5.1.18 Resultado da investigação analítica

Com base em todas as hipóteses investigadas no laboratório, pode-se afirmar que não

se trata de um erro ou problema analítico.

Através do resultado da reamostragem do lote X levantou-se a possibilidade de

problema com o produto.

Uma investigação adicional se faz necessária no processo de produção dos lotes

mencionados neste desvio.

5.2 Produção

A síntese do Bromotolil Benzonitrila é a reação química entre o N-bromo succinimida

e o Tolil benzonitrila, como pode ser visto na Figura 2 no item 1. Essa reação é iniciada e

catalisada pela presença de azo Iso butironitrila e Ácido bromídrico 48%, utilizando

ciclohexano como meio reacional.

38

O processo se inicia pelo preparo de uma suspensão de N-bromo succinimida em

ciclohexano, conforme apresentado no fluxograma de processo da Figura 19. Em outro reator

uma é preparada uma solução de Tolilbenzonitrila em ciclohexano. Depois disso é adicionado

o catalisador ácido bromídrico sobre a solução de Tolilbenzonitrila e iniciado o aquecimento.

O iniciador da reação, Azobisisobutironitrila, é adicionado logo ao fim do

aquecimento, seguido pelo início da dosagem em porções da suspensão previamente preparada

de N-bromo succinimida.

As dosagens de N-bromo succinimida liberam energia térmica, em função do caráter

exotérmico da reação entre o este e o Tolilbenzonitrila. O produto de interesse formado na

reação é o Bromotolil Benzonitrila, produto intermediário na produção do princípio ativo

Valsartan.

Juntamente ao Bromotolil benzonitrila é formado em proporções estequiométricas o

subproduto Succinimida.

Depois da reação o meio reacional segue para a etapa de cristalização através do

resfriamento dentro do próprio reator de síntese.

39

Figura 19: Fluxograma do processo de produção de Bromotolil benzonitrila.

A próxima etapa é a filtração da suspensão com ciclohexano e isopropanol para a

retirada de subprodutos indesejáveis formados na reação. Em seguida a torta é lavada com

água aquecida para remover o subproduto succinimida, entre outros, e matérias-primas não

convertidas.

O produto úmido segue para o secador de palhetas e é seco sob vácuo.

40

Todo o ciclohexano retirado do processo segue para o sistema de regeneração de

solventes.

Esta reação possui mecanismo radicalar, ou seja, a bromação é realizada por radicais

livres que são formados neste processo. Estes radicais formados são instáveis e proporcionam

alta reatividade ao meio reacional, gerando reações paralelas que podem levar à formação de

subprodutos.

Após o entendimento do processo, reuniu-se em uma sessão de Brainstorming

representantes das áreas de Produção, Controle de Qualidade e Garantia da Qualidade.

Nesta reunião, levantou-se as principais hipóteses de problemas, dentro do processo,

que poderiam levar ao aparecimento de um subproduto não esperado.

As hipóteses podem ser observadas na Figura 20.

Figura 20: Diagrama de Ishikawa para o desvio de subprodutos no Bromotolil benzonitrila.

5.2.1 Quantidade de Matéria-Prima

41

Todas as etapas do processo são registradas num documento chamado de Tabela de

Reação.

As Tabelas de Reação dos lotes envolvidos no presente desvio foram checadas e não

pode-se constatar nenhum erro com relação à pesagem do N-bromo succinimida, do Tolil

benzonitrila, do azo Iso butironitrila, do Ácido bromídrico 48% e do Ciclohexano.

Todos os registros foram confirmados pelo software de controle da produção e as

quantidades de cada matéria-prima foram confirmadas pelo software de controle de estoque da

Logística.

Portanto, não há evidências de que o aparecimento do subproduto esteja relacionado à

um problema de síntese devido à erro nas quantidades de matérias-primas. Além disso, o

rendimento ficou dentro do esperado, o que elimina um problema na reação de síntese.

5.2.2 Qualidade da Matéria-Prima

Conferiu-se as documentações analíticas de todas as matérias-primas: N-bromo

succinimida, Tolil benzonitrila, azo Iso butironitrila, Ácido bromídrico 48% e Ciclohexano.

As mesmas estavam em status “Aprovado” e liberadas para uso. Todos os testes

executados na rotina estavam dentro das especificações estabelecidas.

Iniciou-se um levantamento dos dados históricos (resultados analíticos) de todas as

matérias-primas, enquanto o restante das possíveis causas eram investigadas.

A conclusão pode ser verificada no item 5.2.5.

5.2.3 Falha no Procedimento de Lavagem/ Lavagem ineficiente/ Problema no

Equipamento

Ao verificar as Tabelas de Reação para os lotes apontados neste trabalho, não pode-se

observar falha no procedimento de filtração ou lavagem do filtrado.

Todos os registros foram confirmados pelo software de controle da produção.

No período de produção desses 17 lotes, não houve ordem de serviço para manutenção

ou correção em nenhum equipamento.

Essas hipóteses podem, então, ser descartadas como causa raiz.

42

5.2.4 Contaminação Cruzada

A linha de produção de Bromotolil benzonitrila é totalmente dedicada e é de operação

contínua, o que elimina essa hipótese.

5.2.5 Alteração no Processo

Iniciou-se um levantamento da época de fabricação destes lotes para saber se houve

alguma alteração no processo que pudesse contribuir para os eventos narrados neste trabalho.

Constatou-se uma mudança que a princípio foi avaliada como sendo sem impacto, mas

poderia ser de grande relevância para os fatos apresentados até o momento.

Os lotes de N-Bromo succinimida utilizados na produção dos 17 lotes de Bromotolil

benzonitrila, alvos deste desvio, eram de um novo fornecedor, nunca utilizado anteriormente.

Como os testes da matéria-prima foram aprovados pelo controle de qualidade não

houve suspeitas de que poderia haver impacto no processo.

Em contato com os fornecedores não foi possível descobrir maiores informações para

corroborar este fato. Provavelmente a rota de síntese de cada fornecedor é diferente, o que

favorece a formação de maior quantidade de subprodutos no caso dos lotes deste desvio.

43

6 CONCLUSÃO

Baseado no exposto no item 5, pode-se concluir que a causa raiz para o desvio

apresentado foi a troca de fornecedor de uma das matérias-primas, o N-Bromo

succinimida, utilizado no processo de síntese do Bromotolil benzonitrila.

Um fator contribuinte foi o fato de as análises do controle de qualidade para a matéria-

prima estarem dentro das especificações. Os resultados apresentados para a matéria-prima

não poderiam prever qualquer problema no produto final.

Em contato com o fornecedor, não foi possível descobrir a rota de síntese utilizada para

obtenção do N-Bromo succinimida ou qualquer outra informação para ajudar nesta

investigação.

Como o foco do laboratório de controle de qualidade da Novartis é voltado para o

controle do processo, o mesmo não é capacitado para realizar a caracterização do

subproduto desconhecido.

Uma análise de espectrofotometria de massa poderia sugerir algumas opções para

caracterizar tal subproduto, porém isso demandaria a contratação de um laboratório

especializado. E para ter certeza seria necessária uma investigação no processo produtivo

do fornecedor, que não foi receptivo quanto às necessidades desta investigação.

Uma ação corretiva que poderia ter sido tomada seria um reprocesso com ressuspensão

em ciclohexano, filtração e nova lavagem para eliminar os subprodutos. Porém, baseando-

se no fato de que as concentrações de subprodutos desconhecidos totais (esperados + não

esperados), encontrados nos 17 lotes de Bromotolil benzonitrila estavam dentro da

especificação, conforme Tabela 3, apresentada no item 1, essa ação corretiva não foi

julgada como necessária.

Por se tratar de um produto intermediário num processo onde ainda acontecerão mais 6

etapas, dentre elas, novas purificações para eliminação de subprodutos, o risco para o

paciente foi considerado muito baixo e assim, a investigação foi encerrada e decidiu-se

pela aprovação dos lotes.

Duas ações preventivas foram tomadas:

1) Não comprar mais N-Bromo succinimida do segundo fornecedor, pois o risco de

obter uma concentração de subprodutos fora da especificação é grande.

44

Foi a primeira vez que a matéria-prima deste fornecedor entrou no processo

produtivo do Diovan. Foi realizada apenas uma compra de alguns lotes de N-

Bromo succinimida que já foram todos consumidos nos 17 lotes apresentados neste

desvio. Portanto, não há possibilidade de nova recorrência se não houver nova

compra.

2) Registrar na documentação de todos os lotes produzidos toda alteração realizada no

processo para facilitar futuras investigações.

De acordo com o Projeto de Conclusão de Curso apresentado em TCC I, a previsão de

conclusão deste trabalho seria em agosto de 2013. Porém, devido à preparação para auditoria

global e ocorrência da mesma em julho de 2013, este trabalho sofreu atraso em 2 meses.

45

7 BIBLIOGRAFIA

ANVISA. Disponível em:

<http://portal.anvisa.gov.br/wps/content/Anvisa+Portal/Anvisa/Inicio/Medicamentos>. Acesso

em: 20 de Outubro 2013.

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Novartis, Procedimento Operacional Padrão para Tratamento de Desvios.

ANVISA. RESOLUÇÃO - RDC N° 17, de 16 de Abril de 2010. Dispõe sobre as Boas

Práticas de Fabricação de Medicamentos.

DE ZEEUW, J. Artigo: Detecção de traços: maximizando a relação sinal ruído pela

minimização do background (sinal de fundo nos sistemas de cromatografia a gás (CG) e

cromatografia a gás espectroscopia de massa (CG/MS). Revista Analytica – Abril/Maio/2005

no 16. Pág. 44 à 48.

REY, B. Como fazer um brainstorming eficiente, Revista Você SA, Junho 2013.

Disponível em:

http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/181/noticias/como-fazer-um-brainstorming-

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RAMOS E. ALMEIDA S. ARAÚJO A. Controle estatístico da qualidade, Pág. 11 e 12,

Bookman 2013.

SOLOMONS, T. W. Graham. Fryhle, Craig B. Química Orgânica. 8a Edição. São

Paulo: LTC, 2004. Capítulo 10.

PRISTA, L.N. Segurança e eficácia medicamentosa e controle de qualidade. Rev. Port.

Farm., Lisboa, v. 3, n. 38, p. 1-8, 1988.

46

SKOOG, Douglas A.; HOLLER, F. James; WEST, Donald M. Fundamentos de

química analítica. Tradução da 8a Edição. São Paulo: Thomson, 2005. Capítulo 31.

SENISE, Paschoal. Reflexões sobre alguns aspectos da química analítica. Química

nova. Rio de Janeiro, 06 dez. 1983.

47

8 ANEXOS

ANEXO A - Cromatograma do lote X01.

48

ANEXO B - Cromatograma do lote X02.

49

ANEXO C - Cromatograma do lote X03.

50

ANEXO D - Cromatograma do lote X04.

51

ANEXO E - Cromatograma do lote X05.

52

ANEXO F - Cromatograma do lote X06.

53

ANEXO G - Cromatograma do lote X07.

54

ANEXO H - Cromatograma do lote X08.

55

ANEXO I - Cromatograma do lote X09.

56

ANEXO J - Cromatograma do lote X10.

57

ANEXO K - Cromatograma do lote X11.

58

ANEXO L - Cromatograma do lote X12.

59

ANEXO M -: Cromatograma do lote X13.

60

ANEXO N - Cromatograma do lote X14.

61

ANEXO O - Cromatograma do lote X15.

62

ANEXO P - Cromatograma do lote X16.

63

ANEXO Q - Cromatograma do lote X17.