Cartilha Mova - Movimento de Educação de Adultos

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" sonhos impossíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar." Se não posso de um lado, desestimular os Paulo Freire " Vim me tornando desta forma no corpo das tramas e na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas, na leitura persistente e crítica. Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos parte." Não nasci marcado para ser um professor assim (como sou). Paulo Freire Acompanhe as lutas e realizações do mandato do vereador Chico Macena Acesse: www.chicomacena.com.br Expediente Escritório Político Parque São Lucas Rua Domingos Pires Brito, 20 - Altura do n°1800 da Av Oratório Parque São Lucas - CEP 03262-030 Fone: (011) 2154-1863 E-mail: [email protected] Câmara Municipal de São Paulo Viaduto Jacareí, 100 - Sala 418 - 4º andar - CEP 01319-900 Fone: (011) 3396-4236 E-mail: [email protected] Publicação do mandato do vereador Chico Macena. Texto: Marilu André e Diane Costa Fotos: Henrique Boney Arte e diagramação: All Win Gráfica: LWC Tiragem: 2.000 Entre em contato:

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"sonhos impossíveis, não devo, de outro,

negar a quem sonha o direito de sonhar."

Se não posso de um lado, desestimular os

Paulo Freire

" Vim me tornando desta forma no corpo das tramas e na reflexão sobre

a ação, na observação atenta a outras práticas, na leitura persistente e crítica. Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática

social de que tomamos parte."

Não nasci marcado para ser um professor assim (como sou).

Paulo Freire

Acompanhe as lutas e realizações do mandato do

vereador Chico Macena

Acesse:www.chicomacena.com.br

Expediente

Escritório Político Parque São LucasRua Domingos Pires Brito, 20 - Altura do n°1800 da Av Oratório Parque São Lucas - CEP 03262-030Fone: (011) 2154-1863E-mail: [email protected]

Câmara Municipal de São PauloViaduto Jacareí, 100 - Sala 418 - 4º andar - CEP 01319-900Fone: (011) 3396-4236E-mail: [email protected]

Publicação do mandato do vereador Chico Macena.Texto: Marilu André e Diane Costa Fotos: Henrique Boney Arte e diagramação: All Win Gráfica: LWC Tiragem: 2.000

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Chico Macena

Esta semana eu senti a presença do Paulo Freire em duas situações. Uma delas foi durante uma visita que fiz a Escola Campos Sales, em Heliópolis. Lá participei do ato de derrubada do muro que separava a favela da escola e os professores de lá diziam: “Há algum tempo nos derrubamos a barreira imaginária desta escola e agora o que a gente esta fazendo neste ato é derrubar o muro, a barreira física, porque nós percebemos que só a barreira imaginária não foi suficiente para aproximar a escola da comunidade”, e o diretor da escola completou “os princípios que o Paulo Freire sempre pregou foi: a educação próxima da realidade, a educação feita pela comunidade”.

Outra ocasião que também me fez sentir Paulo Freire foi durante uma visita que fiz a Cohab Raposo Tavares, onde será inaugurada uma Escola Técnica Estadual. Neste local aconteceu um ato durante a audiência pública, em que os moradores daquele bairro que conquistaram a escola por meio da luta do movimento apresentaram duas reivindicações: que a comunidade participasse da gestão da escola discutindo os cursos, o programa curricular e que os moradores da Raposo Tavares tivessem direito a estudar na escola que lutaram para conquistar.

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Paulo Freire e a Pedagogia do Oprimido

Durante a sessão solene o vereador Chico Macena selecionou um vídeo com o depoimento do educador Paulo Freire sobre os 21 anos da pedagogia do oprimido. Veja alguns trechos do discurso:

"A educação para mim é tudo, uma ótica de liberdade a minha amorosidade, meu gosto e necessidade da liberdade. Não da licenciosidade, porque quando eu me perco contra o autoritarismo, eu não faço concessões à licenciosidade, por isso, mesmo eu sendo contra o autoritarismo, no fundo o que eu quero é a tensão entre a autoridade e a liberdade, não a autoridade ou a só liberdade. O que eu vivo é a tensão entre as duas, que me faz livre, faz com que eu brigue pela liberdade. É a liberdade do estar sendo com os outros, de mudar, recriar e fazer o mundo.

(...) O ser da educação (educador) tem que ver com conhecimento, política, ética e estética. Vale dizer em outras palavras que não há prática educativa sem a ideologia do que fazer para que o educador e os educandos se envolvam em diálogos pelo conteúdo, se envolvam na busca da decifração. O que é ensinar, ensinar não é fazer discurso sobre o perfil do conteúdo, mas é propor ao educando uma aproximação gnosiológica, ao conteúdo em relação ao objeto do conhecimento".

"Se é verdade que a educação, sozinha não tem possibilidade de construir uma cidadania

ativa e uma democracia participativa, também é verdade

que sem ela não se constrói uma cidadania ativa e uma democracia participativa".

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Este material foi elaborado para registrar os relatos das importantes personalidades que compareceram na sessão solene em Comemoração ao 20º aniversário do Mova-SP (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), que aconteceu em outubro de 2009, na Câmara Municipal de São Paulo. Dentre os objetivos do material estão:

Registrar o aniversário de 20 anos do Mova focando personagens e seus diversos momentos, além de valorizar o tempo que viveram e suas contribuições, bem como fortalecer as pessoas que estão, ainda hoje, no processo deste programa, nos diversos segmentos;

Divulgar a história deste projeto, suas memórias, mudanças e caminhos, durante esses 20 anos;

Valorizar a coragem dos participantes do Mova, que muitas vezes tem que vencer as barreiras do preconceito;

Por fim homenagear Pedro Pontual atual secretário de Participação de Embu das Artes, designado por Paulo Freire, junto com as organizações sociais atuantes na educação de adultos, na discussão e construção deste projeto no ponto inicial em 1989.

Editorial

Compuseram a mesa da solenidade:

Instituto Paulo Freire: Moacir Gadotti

Secretário de Participação de Embu das Artes: Pedro Pontual

Filho de Paulo Freire: Lutgardes Costa Freire

Representante do Fórum Municipal do MOVA-SP: Iraci Ferreira Leite

Educadora: Ivanir Nogueira Barros

Educanda: Maria Vanda dos Santos

Vereador Alfredinho

Vereador Chico Macena

Vereador Eliseu Gabriel

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Lutgardes Costa Freire - Filho de Paulo Freire

Antes de 1964, quando o meu pai criou o método de alfabetização de adultos, junto com a minha mãe e um grupo de educadores, o Brasil tinha em mãos a possibilidade de diminuir, não de erradicar completamente, mas de diminuir drasticamente o número de analfabetos.

Naquela época, existia no Brasil uma capacidade, um método, vontade política e uma vontade doida de trabalhar para que isso acontecesse. O próprio presidente João Goulart escreveu uma carta, fez um decreto regularizando o

método de alfabetização Paulo Freire no País. O Brasil tinha, naquela época, em mãos uma oportunidade fantástica de reduzir o número de pessoas que não sabiam

ler nem escrever, mas a vinda do golpe de Estado fez com que meu pai fosse preso, então por isso, que eu digo que a Educação é política. (...)

Mas veja só a ironia, meu pai preso em 64, no Recife, depois do golpe de Estado, e de repente chega o tenente na cela dele e diz: -Professor Paulo Freire, o senhor alfabetiza os

camponeses. Ele respondeu sim. -Sabe o que é professor, tem um monte de recruta que esta entrando para a polícia que é analfabeto, será que o senhor não poderia dar umas aulas para eles, alfabetizá-los? E o meu pai abismado respondeu: -Mas meu filho, eu estou aqui justamente por isso. Paulo Freire sempre foi muito sensível as pessoas e se preocupava com a maneira que se referia a elas, tanto que ele as chamava de educandas e educandos, não de analfabetos.

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Um pouco da vida e do pensamento de Paulo Freire

Marina Inácia Bernardo - Educadora

A preocupação de Paulo Freire com os direitos das pessoas, sempre esteve presente. A educadora Marina lembra uma visita feita por ele em sua região.

Uma vez eu acompanhei a visita de Paulo Freire a uma escola localizada em São Mateus, Zona Leste, em que os alunos eram tratados como marginais. Ele chegou até o local e disse para a diretora: - Eu quero uma biblioteca, uma geladeira de qualidade (porque não tinha freezer) e também uma quadra para esses alunos, e a primeira providência que vocês terão que adotar, é tirar imediatamente essas janelas e colocar janelas dignas, para que amanhã esses alunos não precisem ir para o Mova.

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Danilo Claudino - Criador do logo

Ainda não sou educador, mas sou uma das pessoas que construiu o logotipo do Mova, que foi elaborado por meio da união de toda comunidade. Ele é a idealização de 20 anos de história e memórias que construíram o que realmente o projeto representa na sociedade.

Eu tentei criá-lo e padronizá-lo de uma forma nacionalista, com as principais cores da bandeira do Brasil. Foram utilizadas as cores azul, amarelo, verde e branco, pois para mim é uma honra fazer parte da nação brasileira. Os dois indivíduos que criei, não são apenas bonequinhos: o verde representa o adulto e o amarelo o jovem. Quando os dois indivíduos batem a mão, simbolizam a luz que surge na escuridão, o conhecimento.

O logo foi inspirado na música da apresentação do Mova, que se refere com muita clareza que o conhecimento é a luz iluminando a escuridão como uma estrela.

O significado do logo do Mova

Hino do Mova Brasil

Vamos ler o mundoE escrever o mundo

E juntos fazerA nossa história acontecer!

Acontece que o movimento cresce,

É um ato plural e coletivo,É a luta de homens e mulheres,

Paulo Freire pra sempre estará vivo!

Conquistar o direito da escrita, Da leitura é tornar-se cidadão

Que transforma, que fala de política,Que critica e que faz revolução!

Autor: Almino Henrique

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Hino do Mova

Difícil foi encontrar quem não se emocionou na sessão solene em homenagem aos 20 anos da história do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), que aconteceu dia 22 de outubro de 2009, às 19 horas, na Câmara Municipal de São Paulo. O evento teve como proponente os vereadores Chico Macena e Eliseu Gabriel.

O grande homenageado da noite foi o educador Paulo Freire, responsável pela criação do Mova, que acreditou no potencial dos movimentos sociais e na possibilidade de parceria e co-responsabilidade do poder público, na época em que assumiu o cargo de secretário de Educação em 1989, no governo da prefeita Luiza Erundina.

Outra grande personalidade homenageada no evento foi Pedro Pontual, um dos precursores do Mova, o qual foi destacado pela sua influência na formação política do vereador Chico Macena. O parlamentar ressaltou ainda, a importância da comemoração dos 20 anos do Mova e elogiou por meio da educanda Maria a coragem, das educandas e dos educandos que, na maioria das vezes, precisam romper a barreira do preconceito e as dificuldades para ir atrás do seu direito, não só de ler e escrever, mas também de ter acesso ao conhecimento e com isso abrir uma porta muito grande, numa perspectiva diferente.

A sessão Solene

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Macena parabenizou as educadoras e os educadores pela militância em manter os princípios e os direitos de seus alunos, e em manter vivo aquele que sempre os iluminou nesta tarefa: o mestre Paulo Freire. “(...) Quero cumprimentar vocês educadores e educadoras que nestes 20 anos resistiram, porque acreditam na causa, e muitas vezes não são reconhecidos, nem valorizados, situação que permanece neste governo. O que movem vocês neste trabalho é crença em suas tarefas, é ter isto como a concepção de vida. Parabéns a todos educadores do Mova que mantém este processo vivo”, disse o vereador Chico Macena.

A sessão foi marcada por reivindicações e depoimentos de luta, construção e história do Mova-SP, por meio dos integrantes da mesa e dos depoimentos de Marina Inácia Bernardo (região Leste I), Maria Muniz (região Sul) e Francisco de Assis Ferreira, Chico (região Leste II). Danilo Claudino (região Sul) explicou a criação do logo do movimento. O evento contou também com a execução do Hino do Mova Brasil – autoria de Almino Henrique, com as intervenções artísticas de Mauro Queiroz (região Sul) e do cantor e poeta Costa Senna. No final do evento, houve a apresentação de um vídeo com trechos da fala do Paulo Freire, gravado em 1990 sobre 21 anos da Pedagogia do Oprimido.

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Francisco de Assis Ferreira – Presidente fundador do Centro de Educação da Zona Leste

Desde 1987, já existiam em São Paulo, práticas de movimentos sociais com educação de jovens e adultos. Quando cheguei na zona leste, com um grupo de pessoas organizamos o movimento de alfabetização, com apoio da Fundação EDUCAR. O grupo passou por uma série de dificuldades principalmente financeira e a falta de empenho governamental. O motivo de se manter naquela organização era exatamente o fato de que as pessoas envolvidas naquele trabalho, por parte dos alunos, não queriam apenas aprender a ler e escrever, elas também queriam participar efetivamente das questões sociais, se envolverem, ter acesso à cidadania. A busca de um núcleo de alfabetização era exatamente para viabilizar essa possibilidade. Os educadores e educadoras sentindo essa energia se mantiveram no programa durante um período como voluntários.

A conjuntura política que a cidade de São Paulo vivia, na época da prefeita Luiza Erundina, era favorável aos trabalhos desenvolvidos pelos movimentos sociais, uma vez que o compromisso assumido pela prefeitura era de um governo educador, que procurava romper o muro e a distância que havia do cidadão com o governo e trazer a população para efetivamente participar.

Do grupo de alfabetização da Zona Leste foi formada uma comissão que foi até a Secretaria de Educação. Por meio desta comissão tive a oportunidade de conhecer Moacir Gadotti, Pedro Pontual e Paulo Freire, uma pessoa extraordinária dentro da sua profunda humildade.

Eu lembro como se fosse hoje. Paulo Freire chama Pedro Pontual: - Por favor, venha aqui, venha conhecer esses meninos. Eu gostaria que você conhecesse o trabalho desses meninos lá na Zona Leste. A partir deste momento, senti que estávamos começando a participar de um projeto maior do que aquele Movimento da Zona Leste. Pedro Pontual e o Paulo Freire foram por diversas vezes visitar o movimento.

Um pouco da história do Mova-SP

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O que eu sei é que havia muitas experiências na Cidade de São Paulo semelhante aquela que realizávamos na Zona Leste e a Secretaria da Educação se envolveu neste trabalho que resultou o Mova.

Eu me lembro de um primeiro encontro no Colégio Madre Cabrine, que durou um dia inteiro. A Secretaria de Educação ajudou a trazer para um mesmo espaço diversas experiências envolvidas com a educação de adultos. A partir dessas conversas foi marcado outros encontros de onde nasceu o Fórum Municipal de Alfabetização de Adultos, um espaço dos movimentos sociais que ali se fazia presente e a administração também. Então o Mova nasceu desta conversa, desta construção, deste processo.

A Câmara Municipal de São Paulo tem certa cumplicidade com a história do MOVA. O lançamento do programa aconteceu no dia 29 de outubro de 1989, porém também foi na Câmara por meio de um decreto em 1993, que o projeto foi extinto para entrar no seu lugar um programa que já nasceu falido, o PROALFA (Programa de Alfabetização). Projeto que depois de oito anos, apresentou-se com 47 núcleos de alfabetização, um número muito abaixo do necessário. O Mova tinha no mínimo 200 núcleos na cidade, no entanto permaneceu sem apoio financeiro, paralelo ao PROALFA. Também foi na Câmara Municipal, no Salão Nobre que o Movimento de Alfabetização de Adultos retomou oficialmente no governo da Marta Suplicy, depois das gestões municipais do Maluf, Pitta.

Francisco de Assis

Pedro Pontual

Maria Muniz (Mara)

Iraci Ferreira Leite

É triste saber que a verba financeira de um núcleo de alfabetização aqui na cidade é muito abaixo do necessário. O valor do núcleo de alfabetização é de R$ 852 e ainda tem o desconto de 5% do ISS, esse é o investimento de uma sala de aula do Mova. Neste valor está incluso o salário do educador, o custo do material pedagógico, da água, da luz daquele núcleo entre outras questões. É preciso que se faça o investimento na educação, principalmente em projetos como este.

Em primeiro lugar, a sociedade passou por uma profunda mudança nesses últimos 20 anos: a realidade do mercado de trabalho, o desemprego, a precarização do serviço, o surgimento de novas formas de geração de trabalho e renda. Eu penso que estas situações nos colocam sob desafio de, cada vez mais, associar os programas de alfabetização e pós-alfabetização a um programa de qualificação profissional para essa nova realidade do mercado.

O programa de qualificação profissional precisa preparar o aluno para enfrentar esta nova complexidade do mercado de trabalho que incorpora as novas formas de geração de trabalho e renda, economia solidária, agricultura familiar e todas essas práticas.

O segundo desafio é implantar a ideia que o Paulo Freire sempre insistia, de que para ocorrer à alfabetização verdadeiramente é preciso criar um ambiente alfabetizador, e nós vivemos ao longo desses 20 anos com profundas mudanças no campo da tecnologia da informação e da difusão do conhecimento, que nos obrigam a repensar o Mova nessa conjuntura, indissociável de uma proposta de inclusão digital: de acesso às redes e as pontes múltiplas de conhecimento, que nós temos hoje e, sobretudo de associar este movimento a um conjunto de ações e de programas culturais que permitam fazer do Mova este espaço também de constituição e reconstituição permanente da identidade dos setores populares.

Nós vamos aprendendo com a caminhada, também aprendemos a lutar por essa educação que merece destaque e ser cada vez mais pungente dentro de uma política pública. Nós estamos diante de uma situação nova, como a que Pedro Pontual cita, é uma realidade que exige dos Governos políticas públicas para que isso aconteça de maneira mais apropriada.

Talvez daqui há 20 anos, nós nos reunamos não só para discutir sobre a educação de adultos, mas para discutir qualquer direito relacionado a educação que for negado, pois este é nosso papel enquanto movimento.

Reivindicações e desafios

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Mauro Queiroz - Integrante da coordenação do Mova

Precisamos protestar e fazer que a memória de Paulo Freire cresça, cada vez mais, em nosso país, pois ela é um patrimônio do Brasil, que não esta sendo valorizada como deveria e é internacionalmente. O nosso país tem responsabilidade de fazer com que ele seja conhecido.

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Vereador Chico Macena

Eu tive a oportunidade de acompanhar o governo da prefeita Luiza Erundina e posso dizer que ele era realmente educador, não só nos assuntos referentes à educação, como também, na saúde, pavimentação de vias e na relação do orçamento da cidade.

A prefeitura daquela época envolvia a população na discussão e procurava romper o muro e a distância que havia do Cidadão com o Governo, a fim de trazer a população para efetivamente participar.

Vereador Alfredinho

Eu quero parabenizar todos vocês por este trabalho, que aliás se espalhou pelo Brasil inteiro. Existem muitos movimentos educacionais com outros nomes, mas que trabalham com os mesmos métodos.

O Brasil e o mundo não seria o mesmo se não tivesse pessoas como vocês, que trabalham pelas comunidades, se preocupam e brigam para que cada educando tenha seu direto.

Maria Muniz (Mara) – Integrante da Coordenação do Mova

Com o Movimento de Alfabetização nós conseguimos desenvolver um trabalho gratificante de resgate e apropriação do conhecimento.

Maria Vanda dos Santos - Educanda

Sou moradora da Zona Leste, estudante do Mova há dois anos. É muito gratificante para nós que temos dificuldades para ler e escrever ter esta oportunidade. Hoje eu já escrevo e leio.

Eu tenho uma vizinha, que ria muito da minha iniciativa de começar a estudar por causa da minha idade, mas eu sempre falei bem do Movimento de Alfabetização. Hoje ela também estuda no Mova. É muito bom também conhecer a Câmara e se não fosse esse projeto, eu não estaria aqui, eu só tenho a agradecer.

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Pedro Pontual - Secretário de Participação de Embu das Artes

Em 89, era uma conjuntura em que setores do movimento popular e social, que lutaram durante todo período de Ditadura Militar dos

anos 70, 80; chegavam ao Governo da Cidade de São Paulo e o assumiam, liderados pela prefeita Luiza Erundina, e por Paulo Freire como secretário Municipal de Educação, além de todo outro corpo de secretários e secretárias, que constituíram naquele momento a prefeitura.

Quando Paulo Freire assumiu a Campanha Nacional de Alfabetização no Ministério da Educação no Governo João Goulart, ele afirmou que aquela experiência deveria ser conhecida, mas nunca ser levada como modelo, porque como o próprio Paulo Freire dizia as condições históricas de 64 para 89 eram outras, a época era de Ditadura Militar.

Houve diversas mudanças: tivemos um início de um processo de democratização, alterações no plano econômico social,

cultural. Já a conjuntura em que nós assumíamos o Governo da Cidade de São Paulo em 1989 era outra e por isso, o Mova tinha que

ser pensado com originalidade, tinha que ser pensado “inventivamente” como gostava de dizer Paulo Freire, de acordo com a

leitura da realidade daquele momento e das necessidades que justificavam a existência do Mova.

Um pouco da história do Mova-SP

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Desse modo, veio o primeiro elemento importante na Cidade de São Paulo, não sabiam ler e escrever por para explicar o surgimento do Mova. Uma gestão completo, esse número por si só elucida o porque da municipal que tinha Luiza Erundina à frente, alguém sua criação.que iniciou sua carreira como educadora de adultos e que tinha Paulo Freire como secretário, gerava uma Assim que assumimos a Secretaria de Educação grande expectativa em torno de uma ação, de um tivemos contato com um programa que já existia na projeto, de uma luta em torno da questão do prefeitura que era o EDA (Educação de Adultos), não analfabetismo na capital paulista. Por outro lado, os sei se continua sendo chamando assim, mas na época movimentos sociais, as organizações populares, o programa estava situado na Secretaria de aquilo que chamávamos de Centros de Educação Assistência Social, justamente porque a concepção Popular, vinha da herança, da época da ditadura. anterior que prevalecia era de que lutar contra o Época que o trabalho de alfabetização foi feito analfabetismo era uma questão de assistencialismo. praticamente como um trabalho de resistência.

Paulo Freire para simbolizar a ideia de que “a luta Os movimentos, no início dos anos 80, ensaiaram contra o analfabetismo é uma luta pelo direito à uma tentativa de estabelecer parcerias com o estado, educação, à vida”, de comum acordo com a Secretaria até a ocasião, representado no Plano Federal pela de Assistência Social e com a companheira, Marta Fundação Educar, e naquele momento essa parceria Campos, que na época ocupava o cargo de secretária, se revelou pouco efetiva, devido os descumprimentos fez a transferência do programa de educação de permanentes das cláusulas que rezavam parceria e adultos da Secretaria de Assistência para a Secretaria carência de recursos. de Educação, de modo que pudéssemos articular um

programa de institucional da rede, um programa do Na ocasião em que criamos o Mova, havia uma Mova. estimativa que cerca de 2 milhões de jovens e adultos

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Iraci Ferreira Leite - Representante do Fórum Municipal do Mova-SP

Existiam 1000 núcleos de alfabetização, no governo da Erundina, com a Marta Suplicy o número de núcleos foi 1200. O governo atual disse que temos 750 núcleos, o que nós perguntamos é o seguinte: Diminuiu tanto o analfabetismo em São Paulo que essa cidade não precisa mais do Mova?

Moacir Gadotti - Presidente do Instituto Paulo Freire

Dia 19 de Setembro de 2009, que por coincidência é a data que Paulo Freire completaria 88 anos, foi publicada a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) divulgando a existência em torno 600 mil analfabetos na Grande São Paulo.

Hoje o Brasil está na rabeira da América Latina. O número de analfabetismo no país diminuiu somente 0,01%, de 10% para 9.9 %.O número de analfabetismo declarado, sem contar aquele aluno que chega até a 5°, 6° série sem saber ler e escrever, se considerarmos estes casos o número é ainda maior. Sem resolver este problema, o país não pode pensar em ser a 4° ou 5° maior potência do mundo.

Em 2005, o IBGE também colocou para nós dados alarmantes de que apenas 26 % dos adultos acima de 15 anos sabiam ler e interpretar um texto, ou seja, eram 70 milhões de pessoas que precisavam ser alfabetizadas.

Ivanir Nogueira Barros - Educadora

O tempo que estou no Mova, junto com outros educadores, consegui entender e passar para as pessoas que participam do Mova, que elas não estão ali apenas para ler e escrever, mas também para que haja uma mudança em suas vidas.

Eu já vim na Câmara, participei de outras programações, mas é muito gratificante saber e encontrar aqui, as pessoas que dão continuidade as ideias do mestre Paulo Freire, como o próprio filho dele.

Os números do Mova e do analfabetismo

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Iraci Ferreira Leite – Coordenadora do Fórum Municipal do Mova

É importante ressaltar que a coordenação exerce um papel fundamental na cidade de São Paulo para que o Mova não se acabe, desta forma apresento os que estão presentes na sessão solene representando o Mova nas diversas regiões da cidade: Radames Pereira e Sonia Pereira da Zona Norte; Edson Pardim, Adelino Barreto, Ionilton Aragão, Marina Inácia e Ermelinda Neiva de Castro da Zona Leste; Adão Santos, Maria José Mendes - a Iva e Nado da Zona Oeste; Mauro de Queiroz, Terezinha Dias e Maria Muniz da Zona Sul. Estas pessoas e outras, que não puderam estar presentes, ajudam a manter a essência do movimento.

Uma vez me perguntaram, se o Mova não existisse o que seria da Educação de adultos? Eu acredito que se este projeto não existisse, haveria menos homens e mulheres com os seus direitos e deveres de cidadão adquiridos, uma quantidade menor de autônomos para pensar e agir nessa sociedade.

Paulo Freire desejava que nos núcleos de alfabetização do Mova fosse desenvolvida uma pedagogia progressista baseada no diálogo. É com esse espírito que continuamos no Movimento de Alfabetização. Apesar do Governo Maluf e Pitta ter acabado com o programa, mas não com o nosso trabalho, que permaneceu com ou sem ajuda financeira.

Esta pedagogia é tão importante, que hoje recebemos em nossos núcleos de alfabetização alunos que passaram pela escola e não foram alfabetizados, eles freqüentam os nossos núcleos, mas não podem ser contabilizados. São alunos que tem um certificado confirmando o termino da oitava série, só que frequentam os nossos núcleos.

Eu lembro que o Paulo Freire se preocupava tanto com a qualidade da Educação. Então nós perguntamos, que qualidade de educação nós temos aqui? Quando esses alunos passam na porta na escola e vem para nossos núcleos. Eu acredito que o nosso trabalho está dando frutos.

A importância do programa

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Vereador Eliseu Gabriel

O Mova é um instrumento eficaz da construção humana. Fica fácil entender porque os governos não têm interesse em fazer com que o Mova floresça, justamente porque ele forma cidadãos conscientes, que participam e sabem que têm direitos.

Acho que é por isso que eu fiquei muito feliz de participar junto com o Macena, ele merece mais do que eu fazer esse evento aqui. Eu também quero que a gente realmente divulgue, trabalhe e exija das autoridades para que elas não façam essa barbaridade de investir somente R$ 852 por classe e ainda fechar os núcleos que têm menos de vinte alunos, isso é uma afronta, uma vergonha.

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Pedro Pontual

As ideias fundamentais políticas e pedagógicas, que orientavam a concepção do Mova naquele momento eram:

Em primeiro lugar, uma concepção de parceria entre Governo e Sociedade Civil, sobretudo dos movimentos sociais, organizações populares que escapava a lógica, então prevalente, que se tornou predominante nos anos 90: a lógica neoliberal, e como é que se escapava daquela lógica de parceria como o neoliberalismo, em que o Estado transfere suas responsabilidades para as organizações da Sociedade Civil, para que elas cuidem dos problemas e dos direitos, nós pensávamos de maneira absolutamente diferente. A parceria para nós era a união de vontade, responsabilidade e co-responsabilidade entre o Estado e as Organizações Sociais, em que o Estado não podia abrir mão de seu dever de criar e de proporcionar recursos, apoios pedagógicos, diretrizes para desenvolver com melhor qualidade o programa de alfabetização e de pós-alfabetização, e por outro lado o reconhecimento de que essa qualidade só seria possível se ela bebesse da experiência, que vinha se desenvolvendo de longa data no âmbito da sociedade civil. Essa parceria se realizou em todos os níveis.

Para ser um movimento social de luta pelo direito à Educação, que assumia a tarefa da alfabetização e pós-alfabetização como Paulo Freire chamava, no momento da criação do Mova, de uma arrancada inicial, para garantir o direito à escolarização completa dos jovens e adultos na cidade de São Paulo, diferenciávamos da tradição, sobretudo, brasileira das campanhas de alfabetização, como ações momentâneas episódicas, aligeiradas como, por exemplo, do MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) e de outras tantas campanhas, que na verdade não criavam, efetivamente, condições para a superação do analfabetismo e para se assegurar o direito à educação completa.

O Mova foi criado com a ideia de que teríamos uma longa jornada pela frente para assegurar o direito à educação ao longo de toda vida do educando. A outra ideia é de que o Mova, dentro de nossa concepção na Secretaria de Educação, tinha que ser parte integrante e articulada com um conjunto da política educacional, por isso lançamos um plataforma pedagógica para todos os atores que compunham a política educacional na Cidade de São Paulo com o título “Construindo Uma Educação Pública Popular e Democrática“.

A importância do programa

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O Mova, não poderia ser alguma coisa “periférica”, tinha que ser parte integrante deste conjunto de política educacional. Depois de quatros anos da criação do movimento, nós conquistamos êxitos importantes, quando começamos a construir uma proposta política pedagógica comum entre o Mova e o programa institucional da prefeitura; programa de Educação de Adultos - EDA.

Destaco a importância que teve a discussão que fizemos, ainda mais para nós que viemos dos movimentos sociais, no sentido de que o Mova, como uma ação de parceria, tinha que ser um projeto que respeitasse profundamente a autonomia dos Movimentos. Por isso, era extremamente importante para nós a existência do Fórum dos Movimentos Sociais, que era totalmente autônomo em relação à Secretaria de Educação, se reunia independentemente da presença dela, e se encontrava com a equipe da secretaria no Fórum Mova, que era a esfera pública de conversação, negociação e estabelecimento de parceria.

Paulo Freire insistia muito na ideia de que a Secretaria de Educação precisava superar uma profunda herança autoritária da sociedade brasileira, em que o estado podia tentar tutelar o movimento, e por isso ele insistia na importância da autonomia dos movimentos em relação ao próprio projeto de alfabetização.

Hoje, eu considero que esta é uma das ideias e práticas políticas daquele período que foram mais fecundas, pois na minha opinião, ela possibilitou efetivamente, que os movimentos e organizações não criassem uma dependência, quase fatal, do estado para dar continuidade ao seu trabalho, tanto é que depois do governo da Erundina, tivemos os governos Pitta e Maluf, que absolutamente cortaram qualquer possibilidade de convênio e de parceria. Mesmo, com bastante dificuldade, o movimento permaneceu em núcleos de resistência e está ai, de pé até hoje, para o nosso orgulho e alegria.

As razões e as motivações que fizeram criar o Mova naquele momento foi a grande quantidade de jovens e adultos precisando ser alfabetizado. Estes dados continuam absolutamente presentes é o que mostra a pesquisa do PNAD e justifica a necessidade de levarmos este projeto adiante. Continuarmos assumindo a luta pelo direito à educação como uma luta que deve unir as vontades de governos democráticos e populares comprometidos com essa temática e organizações populares dos movimentos sociais.

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Ermelinda Neiva Castro

Irmã Nair

Costa Senna - Poeta

Francisco de Assis

Os educadores que desenvolvem o trabalho de alfabetização do Mova mexem com a intimidade dos alunos, conhecem a fundo a família de cada estudante que está presente no seu núcleo de alfabetização, estão diretamente envolvidos com essas questões e trabalham na perspectiva de fazer com que os alunos se eduquem e superem a atual realidade.