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EconomiaO petróleo, o rublo e o fantasma da deflaçãoEsquerda.net

postado em: 20/12/2014Os preços do petróleo bruto caíram em poucos meses para os mínimos dos últimos cincoanos. E a razão é clara: trata­se da oferta e da procura! Pelo lado da oferta, odesenvolvimento mais significativo foi o grande crescimento da produção de petróleo e degás de xisto na América do Norte, principalmente nos EUA. As reservas de petróleo e gás encontram­se no interior de camadas de xisto e podem serlibertadas por um processo hidráulico de injeção de água sob pressão chamado fracking.Através da utilização de centenas de equipas de perfuração em rápida sucessão, a rocha dexisto pode produzir importantes fornecimentos de petróleo e gás natural comprimidos ­ eeste processo no Dakota do Norte, no Texas e noutras áreas dos Estados Unidos deu a voltapor completo à produção de petróleo nos EUA. A produção de petróleo nos Estados Unidostinha­se baseado até agora nas reservas conhecidas de petróleo profundo no Texas, naLuisiana e no Golfo de México. A produção norte­americana estava em decadência desdemeados da década de 1970 com 4 milhões de barris por dia (mbd) e em redução. Mas graçasao fracking, a produção anual disparou de novo até aos 9 mbd, recuperando os picosanteriores. O fracking de gás e petróleo comprimidos está a estender­se a todo o mundo eos países com grandes reservas de xisto querem explorá­lo na Polónia, na China, na Europae até no Reino Unido. O outro lado da equação de preços é a procura. A procura mundial de energia, em particularo petróleo, reduziu­se. Principalmente porque o crescimento económico mundial desaceleroudesde o fim da Grande Recessão. A China tomou a iniciativa travando o crescimento,juntamente com as outras grandes economias emergentes, como o Brasil e a Índia; e asprincipais economias capitalistas avançadas continuam a funcionar em 'marcha lenta'. Asindústrias estão a aumentar o uso de combustíveis fósseis a um ritmo mais lento do que oesperado, enquanto a procura de transporte está em queda (os norte­americanos conduzemmenos). A poupança de energia intensificou­se e a intensidade energética (energia porunidade de produto) está a cair em todo o lado. Todas as agências internacionais de energiaacham que os preços do petróleo e do gás permanecerão nestes novos mínimos durantevários anos. Os maiores perdedores são os países que dependem das exportações de energia: Arábia

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Saudita, o resto dos estados petrolíferos árabes, a super­rica Noruega, a super­pobreVenezuela, México e, sobretudo, Rússia. Os sauditas lançaram uma contraofensiva. Commais de cinco vezes as reservas de xisto norte­americano, estão a atacar os produtores dexisto mediante o aumento da produção, com o fim de reduzir o preço até ao ponto em que osprodutores de xisto comecem a perder dinheiro (os seus custos de produção são muito maisaltos que os sauditas: de 50 dólares a 25 dólares por barril). Mas até agora não funcionou e aprodução de xisto continua a aumentar. Mas a política da Arábia Saudita está a destruir asreceitas de outros produtores da OPEP como Venezuela e Rússia. Putin poderia ter feito face ao 'Ocidente' em relação à Ucrânia e negar­se a ceder, mas oOcidente vai ganhando a batalha económica e o preço do petróleo tem sido a sua armaprincipal. O colapso do preço do petróleo pôs a nu a debilidade da economia russa. Colapso do preço do petróleo põe a nu debilidade da economia russa

Há apenas um ano, as reservas de dólares da Rússia graças às suas exportações de energiaeram de mais de 515 mil milhões de dólares. Agora, como as rendas do petróleo sedissiparam e as sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, por causa da Ucrânia, foramaplicadas, o superavit comercial da Rússia diminuiu e a fuga de capitais, dos oligarcas e deoutros para fora da Rússia, disparou até aos 120 mil milhões de dólares por ano. Comoresultado, as reservas de divisas caíram abaixo dos 400 mil milhões de dólares e o rubloafundou­se em relação ao dólar 40% neste ano, provocando um forte aumento da inflação ea escassez de bens importados.

400 mil milhões dedólares são ainda muitas reservas e o Banco Central da Rússia (BCR) tentou sustentar orublo vendendo os seus dólares e comprando moeda russa nos mercados cambiais. Mas nãofuncionou. De modo que o BCR simplesmente deixou cair o rublo para poupar dólares. E orublo afundou­se ainda mais. Agora começou novamente a comprar rublos com as suasreservas para deter a queda, de novo sem sucesso. A política do BCR é intervencionista. E isto preocupa Putin, que começou a criticar as suaspróprias nomeações no BCR. O problema é que grande parte dessas reservas não se podemutilizar para sustentar a moeda porque devem manter­se fundos suficientes para cobrir ospagamentos das importações essenciais (o FMI recomenda um mínimo de três meses dovalor das importações). Se as reservas caem abaixo desse nível, o rublo entrará em crise, jáque os credores estrangeiros (principalmente os bancos europeus) retirarão o seu dinheiro. Aqueda do rublo implica também que todas as empresas russas com grandes dívidas eempréstimos em dólares, em particular os bancos russos, terão que assumir enormes faturas

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em dólares que não podem pagar.

Segundo o BancoCentral da Rússia, o país tem que pagar 30 mil milhões de dólares de dívida este mês e mais138 mil milhões nos próximos 18 meses. Só 2% dessa dívida é do governo, enquanto asempresas não financeiras representam mais de 60%, o resto pertence principalmente adívida bancária, incluindo o maior banco da Rússia ­ o banco estatal Sberbank. De modo que estão a pedir (e a obter dinheiro) do governo para serem resgatados. Agigantesca petrolífera estatal Rosneft, por exemplo, pediu 44 mil milhões de dólares, o queequivale a mais de metade do saldo restante do chamado Fundo de Bem­estar, que sedestina a apoiar o sistema de pensões. VTB Bank e Gazprombank já conseguiram mais de 7mil milhões de dólares do Fundo de Bem­estar e estão a pedir milhares de milhões mais. Seas reservas de divisas e os fundos forem utilizados para resgatar os bancos, não terão outroremédio senão abandonar os projetos planeados de infraestruturas e as pensões estarãoameaçadas. E a margem do limite de três meses de importações estreitar­se­á. Ao ritmoatual de diminuição das reservas de divisas, esse teto poderá ser atingido no verão de 2015. Putin propõe anistia total para capital que regresse à Rússia

O discurso anual de Putin no Parlamento russo na semana passada mostrou até que pontoestá preocupado. Inclusive ofereceu uma anistia completa aos oligarcas que têm estado atirar o seu dinheiro da Rússia, em grandes quantidades, nos últimos meses. “Proponho umaanistia total para o capital que regresse à Rússia”, disse Putin. “Sublinho, anistiatotal.”“Significa”, continuou, “que se uma pessoa legaliza os seus ativos e propriedades naRússia, receberá garantias jurídicas firmes de que não vai ser convocado pelas instituições,incluindo pelas agências encarregadas de aplicar a lei, que não o vão 'pôr num aperto' nemlhe vão perguntar pela origem do seu capital e como o adquiriu, que não vai ser processadoou enfrentar responsabilidade administrativa alguma, nem será questionado pela agênciatributária ou pela polícia”. Na Rússia, dois dos principais grupos de pessoas que têm grandes quantidades de capital noestrangeiro são os grupos criminosos organizados e os chamados oligarcas. Ao sublinhar quenão haverá perseguição, Putin pareceu deixar explicitamente aberta a porta ao dinheiroobtido ilegalmente. “Dirige­se a gente que saqueou as empresas”, afirma a professora LouiseShelley, fundadora e diretora do Centro sobre terrorismo, delinquência transnacional ecorrupção da Universidade George Mason em Fairfax, Virginia. “Há milhares de casos de

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pessoas que utilizaram mecanismos criminosos e documentos falsos para adquirir ativos.Está a dirigir­se ao crime organizado que se apoderou de empresas”. Eacrescenta: “Nenhuma das grandes fortunas russas é dinheiro totalmente limpo”. Supondo que o preço do petróleo estabiliza em torno de 60 dólares por barril no próximo ano,Putin pode evitar uma crise da dívida no próximo verão, se for capaz de pressionar asgrandes empresas russas a comprar rublos com as suas receitas das exportações emdólares (uma forma de controle de capital) e resgatar os bancos com reservas do governo.Putin está a fazer precisamente isso. Mas isso não quer dizer salvar a economia interna. Assanções, juntamente com o colapso dos preços do petróleo, empurraram a economia russapara a recessão. O governo admite que a economia se contrairá 1% no próximo ano, oinvestimento cairá 3,5% e o rendimento médio das famílias reduzir­se­á cerca de 3% numano. De facto, pela primeira vez em 15 anos, o nível de vida do russo médio cairá em 2015.Foi imposto o congelamento dos salários, desindexados da inflação, mas esta cresce quase10% por ano. Putin pode ser muito popular por causa da sua política externa em relação à Ucrânia e ao seuconfronto com o Ocidente, mas a sua popularidade cai por causa da sua política interna.Aproxima­se a austeridade à russa. A despesa pública aumentou em média 10% por ano naúltima década, mas agora será travada. Cortar despesas militares e de polícia époliticamente impossível porque Putin precisa do apoio do aparelho de segurança em caso demal­estar social. Isto significa que o governo terá que atacar os investimentos, os lucros eos salários. Na semana passada, Putin anunciou um corte de 5% em termos reais de 2015até 2017, mediante a redução da “despesa ineficaz”, à exceção da defesa e da segurança.Putin costumava prometer aos russos que o seu país superaria a Alemanha como a quintaeconomia maior do mundo em 2020. Em maio de 2012, assinou um decreto prometendoaumentar os salários reais em 50% até 2018. Essas promessas agora já não valem. Putin continua a confiar na sua política em relação à Ucrânia para a sua popularidade, mas aeconomia da Ucrânia está ainda pior. As reservas do banco central da Ucrânia caíram abaixoda barreira dos 10 mil milhões de dólares pela primeira vez desde 2005 depois de pagar ogás à companhia russa Gazprom. O FMI provavelmente desembolsará outros 2.700 milhõesde dólares para salvar o governo de Kiev. Mas é evidente que a Ucrânia precisa de outros 20mil milhões de dólares nos próximos dois anos para financiar a guerra no Leste e para oserviço da dívida. Uma missão do FMI chega amanhã para planificar um plano de austeridademassivo para o povo da Ucrânia em troca desse financiamento. O fantasma da deflação mundial

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Mas provavelmente o aspeto mais importante da queda do preço do petróleo é o fantasmada deflação mundial. A inflação mundial tem sido muito baixa desde a Grande Recessão,outro indicador da Longa Depressão em que se afundou a economia mundial. A inflação quetem havido deve­se à forte subida dos preços da energia. Os aumentos de preços nãoenergéticos têm sido mínimos. Agora, com a forte queda da energia e de outras matériasprimas (metais, alimentos, etc.), a deflação é um espectro que paira pelo mundo.

A Oxford Economics calcula que se ospreços do petróleo caírem para 40 dólares por barril, 41 dos 45 países assinalados sofreriamdeflação. Há quem diga que é uma boa notícia. Essa é a linha de alguns economistas neoclássicos e daescola austríaca. A queda dos preços, sobretudo de energia e alimentos, aumentaria o poderaquisitivo dos consumidores e ajudaria a impulsionar a procura e o crescimento econômico. Mas para a rentabilidade do capital é uma má notícia. A inflação dos preços de produção dasempresas é outra tendência que contrabalança temporariamente a queda da rentabilidade.

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Se desaparecer, então a pressão para a baixa na rentabilidade de qualquer novoinvestimento em tecnologia será maior à medida que a queda de preços apertar as margensde lucro. Nesse sentido, a deflação não é uma boa notícia para o setor capitalista, sobretudose tem pesadas dívidas (as pequenas empresas, em particular). Assim a crise que se está aformar para as empresas russas pode arrastar outros países. Poderá ser outro fator queempurra para uma nova recessão global, desta vez baseada no setor produtivo nãofinanceiro do capitalismo. Artigo de Michael Roberts* publicado no blogue The Next Recession, traduzido para espanhol porGustavo Buster para snpermiso.info e para português por Carlos Santos para esquerda.net

* Michael Roberts é um economista marxista britânico, que trabalhou 30 anos na City de Londres como analista económico.