Cardeal Newman - Fragmentos Sobre o Ceticismo
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Transcript of Cardeal Newman - Fragmentos Sobre o Ceticismo
[Fragmento sobre o ceticismo]
John Henry Newman
30 de abril de 1853
A tendncia de uma era de pensamento, vista como divorciada da influncia da religio, cair num estado de ceticismo, assim como a tendncia de uma era de ignorncia, divorciada dessas tendncias, cair na superstio. De fato, e mesmo do ponto de vista histrico, tanto a estagnao quanto a atividade do pensamento tm sido hostis verdade divina; no decerto por algo que lhes intrnseco pois a religio realmente favorecida pela livre investigao, embora possa prescindir dela , mas porque h em operao princpios mais profundos e mais sutis de nossa natureza, os quais, no estado de guerra contra a religio que lhe peculiar, fazem uso da livre investigao ou da obstinao irracional como seus instrumentos. Orgulho, sensualidade, egosmo, mundanismo, desconfiana de Deus e semelhantes maus princpios so os verdadeiros inimigos da religio; e, como estes so o esprito dominante de todas as eras do mundo, a forma que sua hostilidade assume contra ela, numa era de ignorncia, a superstio; numa era de investigao, o ceticismo.Comeamos com o que recebemos quando crianas; aceitamos, apreciamos e defendemos o que nos foi ensinado; pode ser que deparemos com dificuldades que talvez no sejamos capazes de responder, que podem nos importunar, mas que no abalam nossa confiana. Tentamos responder s objees, as quais sentimos e contornamos para prosseguir sem grandes problemas intelectuais. Por fim, medida que nossa mente se desenvolve, acumulamos informaes, conhecemos mais o mundo e exercitamos nosso esprito com mais liberdade, surgem perguntas que realmente requerem uma resposta e que, se estamos fora da Igreja Catlica, comeam a abalar a confiana implcita que nutramos at ento no credo que recebemos de nossos pais ou de nossos venerados instrutores. Pouco a pouco perdemos toda aquela confiana que outrora fora to simples, com ou sem o poder de vincularmo-nos a qualquer outra confisso. Talvez s vezes pensemos que o fizemos; todavia, em geral, nossa mente se abriu muito mais verdadeiramente ao vazio daquilo em que um dia acreditamos do que para a verdade de qualquer outra coisa. Entretanto, por algum tempo professamos outro credo e nos apegamos firmemente a ele. Mas o mesmo processo se repete, a mente continua em ao e se enche de objees a que no pode responder. V o abismo sem fim que se encontra diante dela, mas no est disposta a ceder nem por um segundo; sente estar virtualmente a um passo de alcanar a verdade. Tenta modificar e emendar sua teoria da melhor maneira possvel; torna-se ecltica ou tenta projetar-se nalguma autoridade. Uma tentativa ou outra a faz manter-se em sua posio; mas no que diz respeito a atividade, clareza, honestidade e vigor intelectual, a tentativa se mostra desesperada; e, conforme o tempo passa, lenta e calmamente paira sobre a superfcie aberta de um oceano sem litoral a morte profunda do interminvel e desesperado ceticismo, o estado em que no se cr em nada, no se professa nada e talvez nem sequer se conjeture nada.
O ceticismo no pode satisfazer-se sem uma teoria ou viso positiva para expressar e ento justificar suas determinaes, e a viso que ele adota da verdade religiosa e do dever do homem a seguinte: que na religio no podemos ir alm da opinio e que as opinies esto sempre em formao e destruio tal como bolhas de ar, que so brilhantes e promissoras, at que estouram. Ou como as ondas , que conferem movimento superfcie montona do mar e parecem estar aumentando e construindo algo de forma e substncia permanentes, mas que rui e desaparece to rpido quanto se ergue. Por toda parte, em toda mente ativa (continuaro a dizer) essas criaes sempre esto vindo existncia, conforme o acidente do tempo; e, conquanto sejam normalmente evanescentes, ainda assim as circunstncias podem conferir-lhes uma consistncia temporria e uma aparncia de durabilidade. O poder do governo, a influncia dos poderosos, os interesses de classe, a imaginao popular, o carter nacional, tudo pode conspirar para estabelecer e fossilizar a vida efmera e leg-la s geraes seguintes. Ento educao, hbito, associao e convenincias polticas podem ser recrutadas em seu favor; pode converter-se de um dogma religioso numa instituio social e civil; pode desenvolver-se como um establishment; e pode entrelaar-se com as leis de um pas. Dessa forma, uma mentira bem-sucedida ou um sonho pode tornar-se a joia mais radiante na coroa de um monarca, o paldio das liberdades de um pas ou a pedra angular de sua filosofia; at que a estrutura social e poltica se rompa, e a opinio religiosa desaparea junto com ela. Ou pode ser cerceada ou combinada com sanes de natureza terrvel, com antemas concernentes a sua negao, com bnos aos seus apoiadores, com a voz de um grande partido religioso, e assim perpetuar-se no mundo. to necessria uma f permanente para o bem-estar nacional e temporal, to desejvel estar livre de controvrsias, to adequado ter um senso moral e religioso implantado num povo, to difcil de imprimir na populao, que mentes judiciosas e filantrpicas sem uma centelha de f em sua verdade ainda podem regozijar-se com seu sucesso, olhar com assombro e com dio para aqueles que a subverteriam ainda que lhes parea falsa e podem tolerar uma fraude piedosa melhor do que uma verdade irreligiosa. Por isso eles a incentivam, a apoiam, fazem qualquer coisa, mas no recndito de seus coraes eles mesmos a reconhecem, e isto por pura benevolncia, uma vez que a religio supre uma carncia na natureza humana; sem ela um homem no na perfeio e na totalidade de suas potncias (Vide o lamento de Carlyle sobre a loucura da Revoluo Francesa).
Se questionadas quanto a sua f em Deus, ou se esto contentes de levar seu ceticismo s ltimas consequncias, algumas dessas pessoas sustentaro at o fim que no tm certeza de nada; outras no tero seriedade suficiente para responder a pergunta de jeito nenhum; outras sero felizmente incoerentes e admitiro a verdade; e estas tm encontrado uma moral ou uma utilidade na incerteza melanclica que confessam. Diro que a busca pela verdade nos proporciona maior benefcio moral que a sua posse; que no devemos possu-la nunca, mas sempre busc-la; que jamais seremos condenados por [no] possu-la, porque no a podemos possuir, ou porque no h verdade religiosa ou porque uma verdade religiosa no mais verdadeira do que outra, mas estaremos totalmente condenados se no a buscarmos adequadamente. [Diro que] sinceridade, imparcialidade, honestidade e perseverana so as virtudes que nos traro sos e salvos ao cu, no a f. Outros vo alm e dizem que a busca do conhecimento muito mais agradvel e melhor que o prprio conhecimento e alguns deles, por isso mesmo, descartando a noo catlica de recompensa futura do bem, que consiste na viso beatfica , consideram que esta consiste numa vida assim: ocupada, inquisitiva e diversificada. Estou dando um relato genrico da escola em questo, que no pertence como um todo a nenhum indivduo, mas numa medida mais plena ou mais restrita a esta ou aquela pessoa.
Captulo final de The French Revolution. [Disponvel em vrios formatos, aqui: http://www.gutenberg.org/ebooks/1301].
Talvez no seja boa ideia manter todos estes ques.
Mudei para evitar o finalmente, gradualmente.
Gosto do efeito retrico da repetio, mas ao inserir a preposio exigida pela regncia do verbo, no gosto muito do resultado. E se deixssemos: o estado em que no se cr em nada, no se professa nada e talvez nem se conjeture nada.
para manter mais fielmente a repetio original
establishment