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" CAPITULO VIII Planejamento, Execução e Avaliação no Ensino: a busca de um desej 0* o significado da entrega às metas Agir em função de desejos. O ser humano age em função de algum resultado, seja econômico, material, político, amoroso, ou até mesmo o simples prazer de viver o momento. Ou seja, age para suprir uma carência. A finalidade que preside o agir não será, no geral, necessariamente consciente; poderá sr explícita ou implícita, consciente ou inconsciente. Uma ação presidida por desejos inconscientes pode chegar a termos ti tisfatórios, mas por caminhos que ainda não são claros. O qu ' importa, aqui, é ter ciência de que não se age por puro acaso I, Contudo, do ponto de vista consciente, o ser humano necessita estabelecer metas definidas, clareando o que deseja, para a il em função delas. Caso não seja precedida e monitorada pOI um forte e explícito desejo, a ação poderá se tornar mecâni '11 * Texto de conferência pronunciada na Fundação para o Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo (FDE), em 03/03/93. I. Na vida, por vezes estamos seguindo sendas, sem que estejamos consciente delas. São forças que estão agindo e só tomamos consciência delas ao 0111111 para trás, para aquilo que já percorremos. Contudo, a consciência, na mcdnlu em que emerge e é verdadeira, uma dimensão nova e mais forte à açlhl I aos seus resultados. 152 e não produzirá os resultados esperados. O desejo consciente e explícito coloca as forças necessárias a seu serviço. A ação sem desejo torna-se linear. Fazer de conta que se tem o desejo, se, de fato, não se tem, é um desastre para a própria ação. Uma vez que sem o desejo não se investe na construção dos resultados que se espera, fazer de conta que se tem um desejo é um modo de não se entregar à ação. Não importa a razão pela qual não se está entregue àquele ato ou situação específica. Importa ter ciência de que sem a entrega não é possível uma construção bem-sucedida. A ausência do desejo, na construção de resultados, ma- nifesta-se sob um modo apático de conduzir os atos do cotidiano. Não há "garra"; vai-se mais ou menos. E, então, a vida, as práticas, os resultados, tudo se torna linear e comum. Não ocorre vibração, alegria e, por isso, também não ocorrem resultados significativos, alegres e felizes. Isso não implica termos desejos de fazer todas as coisas, mas sim que esses desejos estejam claros para cada um de nós e para a coletividade para a qual trabalhamos. Sem a clareza de qual é esse desejo e sem a entrega a ele nada poderá ser construído satisfatória e sadiamente. Não é pela "vontade" que vamos construir as coisas. Da vontade decorre o esforço, mas não o prazer de ser, viver e agir. Com o esforço da vontade se constrói resultados; porém, resultados mirrados, no limite, "sem tesão". Com a entrega, torna-se tudo possível, devido ao fato de que "o universo nos apóia totalmente em cada pensamento que escolhemos ter e acreditar'". Se não há um desejo claro, que direcione nossa ação, como poderemos construir alguma coisa satisfatória e como poderemos ser ajudados? 2. Louise L. Hay, Você pode curar sua vida, São Paulo, Editora Best Seller, 12' ed., s/d., p. 18. Paulo Coelho, em O alquimista, diz uma coisa semelhante ao afirmar que todas as forças do universo se conjuram para realizar o nosso desejo, quando nos entregamos a ele. 153

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"CAPITULO VIII

Planejamento, Execução e Avaliaçãono Ensino: a busca de um desej 0*

o significado da entrega às metas

Agir em função de desejos. O ser humano age em funçãode algum resultado, seja econômico, material, político, amoroso,ou até mesmo o simples prazer de viver o momento. Ou seja,age para suprir uma carência. A finalidade que preside o agirnão será, no geral, necessariamente consciente; poderá s rexplícita ou implícita, consciente ou inconsciente. Uma açãopresidida por desejos inconscientes pode chegar a termos ti

tisfatórios, mas por caminhos que ainda não são claros. O qu 'importa, aqui, é ter ciência de que não se age por puro acaso I,Contudo, do ponto de vista consciente, o ser humano necessitaestabelecer metas definidas, clareando o que deseja, para a ilem função delas. Caso não seja precedida e monitorada pOIum forte e explícito desejo, a ação poderá se tornar mecâni '11

* Texto de conferência pronunciada na Fundação para o Desenvolvimentoda Educação do Estado de São Paulo (FDE), em 03/03/93.

I. Na vida, por vezes estamos seguindo sendas, sem que estejamos conscientedelas. São forças que estão agindo e só tomamos consciência delas ao 0111111

para trás, para aquilo que já percorremos. Contudo, a consciência, na mcdnluem que emerge e é verdadeira, dá uma dimensão nova e mais forte à açlhl I

aos seus resultados.

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e não produzirá os resultados esperados. O desejo conscientee explícito coloca as forças necessárias a seu serviço.

A ação sem desejo torna-se linear. Fazer de conta quese tem o desejo, se, de fato, não se tem, é um desastre paraa própria ação. Uma vez que sem o desejo não se investe naconstrução dos resultados que se espera, fazer de conta quese tem um desejo é um modo de não se entregar à ação. Nãoimporta a razão pela qual não se está entregue àquele ato ousituação específica. Importa ter ciência de que sem a entreganão é possível uma construção bem-sucedida.

A ausência do desejo, na construção de resultados, ma-nifesta-se sob um modo apático de conduzir os atos do cotidiano.Não há "garra"; vai-se mais ou menos. E, então, a vida, aspráticas, os resultados, tudo se torna linear e comum. Nãoocorre vibração, alegria e, por isso, também não ocorremresultados significativos, alegres e felizes.

Isso não implica termos desejos de fazer todas as coisas,mas sim que esses desejos estejam claros para cada um denós e para a coletividade para a qual trabalhamos. Sem aclareza de qual é esse desejo e sem a entrega a ele nadapoderá ser construído satisfatória e sadiamente. Não é pela"vontade" que vamos construir as coisas. Da vontade decorreo esforço, mas não o prazer de ser, viver e agir. Com oesforço da vontade se constrói resultados; porém, resultadosmirrados, no limite, "sem tesão". Com a entrega, torna-se tudopossível, devido ao fato de que "o universo nos apóia totalmenteem cada pensamento que escolhemos ter e acreditar'".

Se não há um desejo claro, que direcione nossa ação,como poderemos construir alguma coisa satisfatória e comopoderemos ser ajudados?

2. Louise L. Hay, Você pode curar sua vida, São Paulo, Editora Best Seller,12' ed., s/d., p. 18. Paulo Coelho, em O alquimista, diz uma coisa semelhanteao afirmar que todas as forças do universo se conjuram para realizar o nossodesejo, quando nos entregamos a ele.

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o significado da entrega ao trabalho

Objetivo desta discussão sobre o trabalho. Poderíamosfalar de planejamento na vida em geral, mas interessa-nosdiretamente o planejamento em nosso trabalho institucionaliza-d03

. Importa compreender o trabalho como um elemento con-tínuo da nossa existência, que possui sua especificidade, masnão é algo à parte de nossa existência. Ainda que hoje otrabalho seja visto como um peso, como algo do qual temosde nos livrar, ele se constitui num tipo de ação que praticamos,natural e socialmente, e com o qual realizamos o mundo enos realizamos. A sua plenitude depende de escolhermos metase nos entregarmos a elas, integralmente. Talvez as nossasinsatisfações no trabalho dependam de nossa não-entrega aoque estamos fazendo. O trabalho será prazeroso e fonte decrescimento se for realizado como meio de autoconhecimentoe autodesenvolvimento".

Autor citado. Tarthang Tulku, mestre budista, criador doInstituto Nyingma, Berkeley, EUA, escreveu um livro intituladoO caminho da habilidadeê, procurando desvendar o significadodo trabalho na vida humana, bem como clarear pontos quepossam nos auxiliar a aprender a viver felizes com o trabalho.Vamos utilizar longos trechos da Introdução deste pequenolivro, abrindo espaço para nossa meditação sobre o trabalhocomo um elemento fundamental da vida humana em suarealização. O trabalho é mostrado como um centro de desen-volvimento de si mesmo e dos outros e não somente como

3. Preferimos, aqui, não utilizar os conceitos marxistas de trabalho produtivoou improdutivo, uma vez que não desejamos nos dedicar a esse campo de estudo.Contudo, interessa-nos o trabalho que cada um de nós pratica em algumainstituição, seja ele produtivo ou improdutivo do ponto de vista marxista.

4. Nesta abordagem, não nos interessa tratar do trabalho dentro da tramade relações sociais capitalistas, que o transforma em mercadoria, mas sim comouma possibilidade de autocrescimento e autodesenvolvimento. Aprender a aproveitaressa prática cotidiana como um meio de identificar-se consigo mesmo e, porisso, crescer e realizar-se uma atividade construtiva e prazerosa.

5. Tarthang Tulku, O caminho da habilidade: formas suaves para umtrabalho bem-sucedido. São Paulo, Cultrix, 1988.

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um meio econômico de sobrevivência. Citaremos o texto doautor, entremeando-o com considerações pessoais".

Insatisfação com o trabalho. "Para muitas pessoas, hojeem dia, o trabalho está perdendo o significado." A insatisfaçãose generaliza nos diversos âmbitos de trabalho. "Não se limitaa certas profissões, meios ou crenças, mas permeia sutilmenteo trabalho em todos os seus aspectos." Na sociedade moderna,o trabalho caracteriza-se por ser uma mercadoria", que barga-nhamos para obter meios econômicos de sobrevivência. Daí,ter-se tornado um peso e não um processo de autocrescimento.

O significado do trabalho. "É pena que isso ocorra, poiso trabalho é um meio muito eficaz para aprendermos a encontrara profunda satisfação na vida. O trabalho pode ser uma fontede crescimento, uma oportunidade para aprendermos mais sobrenós mesmos e para desenvolvermos relacionamentos positivose saudáveis."

O trabalho e as atividades cotidianas são atos que nospossibilitam a própria realização. "Se encararmos o trabalhodesta maneira, veremos que, realmente, não existe diferençaalguma entre dedicarmos energia e cuidado ao nosso trabalhoe dedicarmos energia ao desenvolvimento de nossa consciênciae apreciação da vida." O trabalho é um continuum em nossaexistência; com ele aprendemos, nos desenvolvemos, vivemose sobrevivemos. É muito importante em nossa vida e, por isso,o seu significado não pode passar desapercebido.

Dificuldade de encontrar um novo modo de ser. "Entre-tanto, nem sempre é fácil encontrar um meio de fazer dotrabalho um caminho para uma vida prazerosa. Ao trabalharcom meus alunos, tenho tentado, a cada dia, oferecer incentivopara que possam encontrar mais facilmente, em si mesmos,os meios para obter satisfação e realização por meio do seu

6. As citações que se seguem, entre aspas, são retiradas do livro citado nanota anterior, pp. 9-27.

7. A característica principal da sociedade moderna é ser uma sociedade decomerciantes livres. Cada um comercializa o que pode e a maior parte comercializaa sua força de trabalho. Aliás. é isso que as minorias dominantes esperam quecomercializemos.

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trabalho. Não se trata de ensinamentos no sentido tradicionalda palavr-a, mas de sugestões destinadas a orientá-Ios em seutrabalho e autodesenvolvimento."

"Mlldar padrões estruturados no início da vida é uma daslições ma is difíceis de se aprender e de se ensinar. Geralmenteacreditamos que os hábitos seguidos durante toda uma vida~ão possam ser alterados e, portanto, sentimos que somoslimitados ern certos aspectos. No entanto, não existe realmentenenhuma limitação quanto ao que podemos realizar, se apre-ciarrnos, de verdade, todas as oportunidades que a vida nosoferece. podemos romper com nossas limitações auto-impostas,fazer mudanç~s e~o~mes e descobrir novas habilidades quenunca antes Imagmavamos possuir. Mais importante aindapodemos ganhar consciência das nossas verdadeiras responsa-bilidades."

Trabalho como busca de satisfação. "Cada ser vivo douniverso expressa sua verdadeira natureza no seu processo devida. Trabalhar é a resposta humana natural ao fato de estarmosvivos; é o nosso modo de participar do universo. O trabalhonos permite realizar o nosso potencial de forma plena, abrin-do-nos para a vanedade. infinita de experiências que existemesmo naS a.ti vidades mais mundanas. Por meio do trabalhopodemos aprender a usar nossa energia com sabedoria, demodo que todas as nossas ações passem a ser frutíferas eenriquecedorais. "

"A busca de satisfação e preenchimento é própria danaturez~ hu~.ana. O tr~balho nos dá oportunidade de alcançaresta satisfaçãco por meio do desenvolvimento das verdadeirasqualidades de nossa natureza. O trabalho é a expressão habilidosada totalidade do nosso ser, o recurso para criar harmoniaequilíbrio em nós mesmos e no mundo. Por meio do trabalhocontribuímos para a vida com a nossa energia, investindonosso corpo, respiração e mente em atividades criativas. Aoe~ercitar a c.t":iatividade, preenchemos nossa função natural naVida e inspIramos todos os seres com a alegria de umaparticipação v·ital."

O tra~a:.Uho exige nossa integração. "Cada um de n stem uma idéial do papel que o trabalho desempenha em nossas

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vidas. Sabemos que o trabalho pode fazer uso de todos oscomponentes do nosso ser, levando nossa mente, coração esentidos a um ação total. Entretanto, atualmente, é raro ficarmosassim tão profundamente envolvidos com o trabalho. Na so-ciedade complexa de hoje, perdemos contato com o conheci-mento de como utilizar nossas capacidades para vivermos umavida real e significativa. No passado, a educação desempenhavauma função importante na transmissão do conhecimento ne-cessário para a integração de aprendizado e experiência, paraa manifestação de nossa natureza interior de forma prática.Hoje em dia, esse conhecimento vital deixou de ser transmitido.Nossa compreensão geral do trabalho, portanto, é limitada, epoucas vezes percebemos a profunda satisfação que advém detrabalhar com habilidade, com a totalidade do nosso ser."

'Talvez porque não tenhamos de empregar todo o nossoesforço para atender às nossas necessidades básicas, raramentecolocamos coração e mente por inteiro no trabalho; de fato,trabalhar apenas o bastante para ir levando tomou-se a regra.A maioria das pessoas não espera gostar do seu trabalho, muitomenos executá-Io bem, pois o trabalho é comumente consideradoapenas como um meio de se chegar a um fim. Qualquer queseja a nossa profissão, passamos a pensar no trabalho comouma parte de nossas vidas que consome tempo, um dever quenão pode ser evitado."

Atuais motivações do trabalho. "Podemos trabalhar comafinco, se tivermos um incentivo suficientemente forte, porém,se olharmos com cuidado para nossa motivação, veremos queela, com freqüência, tem um âmbito restrito, dirige-se princi-palmente à obtenção de status, à aquisição de poder pessoale de bens particulares, à proteção dos interesses do nome eda família. Esse tipo de motivação autocentrada dificulta aexpressão e o desenvolvimento do nosso potencial humano pormeio do trabalho. Em vez de nos assentar nas qualidadespositivas de nossa natureza, o ambiente de trabalho alimentacomportamentos como competição e manipulação."

"Há pessoas que, reagindo a essa situação, optam porevitar o trabalho por completo. Quando assumimos este pontode vista, talvez acreditemos estar buscando uma virtude mais

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elevada. No entanto, em vez de encontrar uma alternativas.au?ável que possa aumentar nosso prazer pela vida, na verdadelimitamos ° nosso potencial ainda mais, pois viver sem trabalhonos lev~ a ,um distanciamento da própria vida. Ao negarmos~xpress~o a nossa energia por meio do trabalho, estamos,InCOnScientemente, nos furtando à oportunidade de realizarnossa, natureza e, negando aos outros a contribuição única quepodenamos dar a sociedade."

A vida ex!ge uma entrega total. "A vida cobra um preçodaqueles que tem a oferecer menos do que a sua participaçãototal. Perdemos o contato com as qualidades e os valoreshumanos que emergem naturalmente de um engajamento plenono tra~a.lho e na vida: integridade, honestidade, lealdade, res-~onsabllIdade e cooperação. Sem a orientação que essas qua-lidades ?ão às nossas vidas, começamos a vaguear, vítimas deum sentirnento desconfortável de insatisfação. Uma vez perdidoo conhecimento de como termos o trabalho e o seu significadocomo a nossa base, não sabemos para onde nos voltar, a fimde encontrarmos valor na vida."

. "É importante percebermos que nossa sobrevivência, numsentido mais amplo, depende da nossa disposição para trabalharcom. força total dos nossos corações e mentes, para participarda vida de forma plena. Somente desse modo compreenderemosos valo.res e as qualidades humanas que trazem equilíbrio eharmonia às nossas vidas, à sociedade e ao mundo. Nãopodemos continuar ignorando os efeitos da motivação egoístae de c.omportamentos como a competição e a manipulação.Necessitamos de uma nova filosofia de trabalho, baseada numacompreensão humana mais ampla, no respeito por nós própriose pelos outros, numa consciência das qualidades e habilidadesque. ~eram paz no mundo: comunicação, cooperação e respon-sabilidade."

O Significado do trabalho sadio. "Isso significa estarmosdispostos a encarar o trabalho abertamente, enxergando nossasforç~s _e fraquez~s com honestidade, e realizando as mudançasque irao beneficiar nossas vidas. Se, de fato, dedicarmos nossaenergia para melhorar a atitude em relação ao trabalho, de-senvolvendo o que é verdadeiramente valioso dentro de nós ,

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poderemos tornar tudo na vida uma experiência de prazer. Ashabilidades que aprendermos enquanto estivermos trabalhandoditarão o tom do nosso crescimento e propiciarão os meiospara trazermos satisfação e significado a cada momento denossas vidas, bem como à vida de outras pessoas. Trabalhardesse modo é trabalhar com meios hábeis."

O significado de trabalhar com habilidade. "Trabalharcom habilidade é um processo em três passos, que podem seraplicados a qualquer situação de vida. O primeiro é tornarmo-noscientes das realidades das nossas dificuldades, não simplesmentepor um reconhecimento intelectual, mas por meio de umaobservação honesta de nós mesmos. Somente dessa maneiraencontramos motivação para dar o segundo passo: tomar umafirme resolução de mudar. Quando tivermos visto claramentea natureza dos nossos problemas e começarmos a mudá-los,poderemos compartilhar com os outros o que tivermos aprendido.Esse compartilhar pode ser dentre todas as experiências, a quetraz maior satisfação, pois há uma alegria profunda e duradouraem vermos outras pessoas encontrarem os meios para tornarsuas vidas produtivas e preenchidas" .

"Quando usamos meios hábeis para concretizar e fortalecernossas qualidades positivas, num contexto de trabalho, tocamosos recursos preciosos que se encontram dentro de nós, aguar-dando para serem descobertos. Cada um de nós tem o potencialde criar a paz e a beleza no universo. Quando desenvolvemosnossas capacidades e as compartilhamos com os outros, podemosapreciar profundamente o valor que elas possuem. Essa apre-ciação profunda torna a vida realmente digna de ser vivida,infundindo amor e alegria em todas as ações e experiências.Ao aprender a empregar meios hábeis em tudo aquilo quefizermos, poderemos transformar nossa existência diária numafonte de satisfação e realização que ultrapassa até mesmonossos mais belos sonhos".

Atenção plena. Para trabalhar com habilidade, importa teratenção plena nos próprios sentimeritos. Nós aprendemos atrabalhar para sobreviver, mas é preciso aprender que otrabalho faz parte da existência; nos constitui, e, por isso,possibilita nosso permanente crescimento para a vida. Infeliz-

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mente, temos aprendido ao longo da existência que o trabalh oé um peso do qual nós devemos nos livrar numa determinadahora do dia (fim do expediente) ou num determinado períod oda vida (aposentadoria) e, então, não aprendemos que é omeio pelo qual podemos crescer interiormente. Ele ocupa,pelo menos, metade das dezesseis horas que passamos acor-dado; um terço do tempo total de nossas vidas. Então, émuito significativo, em termos de tempo, para que o des-prezemos como meio de autodesenvolvimento interior (mentale emocional). Ele não é só meio de sobrevivência; é meiode autoconhecimento e autodesenvolvimento. É preciso queo aprendamos desse modo.

Para tanto, importa exercitar a atenção plena, que significaestar atento aos próprios pensamentos e sentimentos, investi-gando-os no sentido de seguir os caminhos que eles apontam.Atenção plena significa descobrir o significado do desejo e daação na fusão permanente de sentimentos. e pensamentos.Certamente não sabemos fazer isso; porém é tempo de aprender,se pretendemos identificar nossas verdadeiras metas que nascemdos nossos desejos.

"Como poderemos retomar o contato com nossa pessoa?pergunta Tarthang Tulku. O que podemos fazer para nos

tornarmos genuinamente livres? Quando começamos a olharcom clareza para nossa natureza interior, ganhamos uma pers-pectiva em relação ao nosso desenvolvimento, que nos libertapara crescer. Essa clareza é o início do autoconhecimento epode ser desenvolvida simplesmente pela observação da ativi-dade da nossa mente e do nosso corpo."

"Você pode praticar essa observação interior não importaonde esteja ou o que esteja fazendo - basta estar cientede cada pensamento seu ou dos sentimentos que o acompa-nham. Você pode ficar sensível à maneira como suas açõesafetam seus pensamentos, seu corpo e seus sentidos. Aofazer isso, reabre o canal de comunicação que há entre seucorpo e sua mente, e ganha maior consciência de quem vocêé, então se familiariza com a qualidade do seu ser interior.Seu corpo e sua mente começam a apoiar-se mutuamente,imprimindo uma qualidade vital a todos os seus esforços.

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Entra, assim, num processo vivo e dinâmico de aprendizagemsobre si mesmo, e o autoconhecimento que adquire realça tudoo que faz."

"Quando observar atentamente sua natureza interior, :rerátodas as coisas que vêm mantendo guardadas dentro de SI -

o quanto seus sentimentos e sua verdadeira natureza têm sid.oaprisionados. Pode então começar a desbloquear esse~ se~tl-mentos, liberando a energia que eles retinham no seu mtenor.Sendo calmo e honesto, se aceitando, você poderá se tornarmais confiante e aprender maneiras novas e mais positivas deolhar para si mesmo."

"Uma vez que suas percepções interiores estej.am. maisclaras e mais fluentes, a concentração o ajudará a dirigir suaenergia aonde for necessário. Essa concentração não é u~adisciplina rigorosa: é descontraída, quase info~mal. ': atençaotem um foco, mas não é rígida; sua qualidade e leve eagradável. Você pode desenvolver essa concentração no trabalho,realizando uma tarefa de cada vez, devotando toda a suaatenção ao que está fazendo e estando ciente de cada d~talhepresente. Mantenha sua concentração em uma tarefa ~te queesteja terminada; então encarregue-se de outra, e assim pordiante. Então verá que sua clareza e discernimento se ap~o-fundarão e passarão, naturalmente, a fazer parte de tudo aquiloque realiza."

Ter atenção plena é uma entrega ao que .ernerge n~ .mentenuma fusão de sentimentos e pensamentos. E uma prática deinvestigação honesta sobre nossos desejos e nossas dispon.ibi-lidades, para atingi-Ios; uma investigação sobre os verdadeirossentimentos a respeito daquilo que estamos fazendo.

O primeiro passo para iniciar qualquer movimento ~etransformação é o reconhecimento dos sentimentos em relaçaoàquilo que estamos fazendo. Ninguém conseguirá processar amudança de um preconceito de sexo, cor, ou outro qua.lquer,sem que antes reconheça, de coração aberto, que pOS~U1.essepreconceito. Reconhecimento implica não só uma aça~ Inte-lectual mas um reconhecimento pleno, em que o coraçao e amente 'estão fundidos numa totalidade de conhecimento. Após

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o reconhecimento, importa desenvolver um sentimento de deixarfluir o nó ali presente. Ele necessita ser desfeito. Caso contrário,mantém-se como um veneno fechado numa cápsula. No trabalho,será a mesma coisa. Ele só fluirá bem se investigarmos, comatenção plena, os sentimentos que atravessam os atos noexercício do trabalho e se permitirmos que fluam os nós quenos amarram.

Só desse modo, poderemos descobrir nossas verdadeirasmetas; criando as condições para que nelas coloquemos nossaentreg~ total, recebendo, então, o auxílio de todas as forçasdo UnIverso para realizarmos o que desejamos.

Planejamento em geral e planejamento do ensino

Planejamento. Planejamento implica o estabelecimento demetas, ações e recursos necessários à produção de resultadosque sejam satisfatórios à vida pessoal e social, ou seja, àconsecução dos nossos desejos. Poderíamos pensar numa se-qüência assim:

necessidade - ação (planejada) - resultados - satisfação

A necessidade traz em si a carência da satisfação. É elaque nos move para a busca de sua satisfação. A necessidadeé uma carência, uma "falta", que precisa ser preenchida. Osresultados são aquilo que buscamos para satisfazer as carências.E, é claro, esperamos que sejam satisfatórios. Poderão não oser; então, importa buscá-los até que isso ocorra. Nessa buscade desejos, que sejam plenos, o universo estará posto ao nossolado.

A obtenção da satisfação da necessidade, que está naorigem de nossa ação, exige um planejamento; ou seja, oestabelecimento do que de fato desejamos, assim como adefinição dos meios de atingi-Io. Contudo, somente o plane-jamento é insuficiente; ele necessita de execução. A ação é ome.io pelo qual construímos os resultados, que podem nossat.lsfazer. Contudo, não uma ação qualquer, mas a ação pla-nejada.

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Necessidade da atenção plena no planejamento. Paratanto, importa a atenção plena aos sentimentos que perpassamnossas carências, nossos atos de planejar e nossos atos deconstruir os resultados que estamos esperando.

Planejar, duvidando da ação que estamos definindo, nãoconduzirá a um bom planejamento. Sem convicção, as forçasdo universo não se colocarão do nosso lado, pois nem nósmesmos estamos convencidos de que vale a pena investir nessedeterminado curso de ação. O Evangelho de Jesus Cristo dizque "onde está o seu coração, aí está o seu tesouro". Planejarsem o coração é o modo de não querer encontrar o própriotesouro. Com isso, não estamos dizendo que, ao planejarqualquer atividade, temos de fazer esforço para que o coraçãoesteja lá. Não! Uma atividade só terá sucesso se o coraçãoestiver lá fluido, leve, desejoso, e não sob a pressão da vontade."Fazer uma coisa com peso, significa fazê-Ia sem o coração.

Necessidade de conhecimentos na atividade de planejar.Para se exercitar a atividade de planejar, ao lado da atençãoplena, que abre os caminhos para a entrega à atividade, torna-senecessária a posse de conhecimentos específicos, que possibi-litem a melhor decisão sobre o que se pretende fazer e sobreo modo de atingir aquilo que se pretende.

No caso do ensino-aprendizagem, o ato de planejar exigede nós um conhecimento seguro sobre o que desejamos fazercom a educação, quais são seus valores e seus significados(uma filosofia da educação); um conhecimento seguro sobre oeducando, o que implica compreensão de sua inserção nasociedade e na história (ciências histórico-sociais), assim comouma compreensão dos processos de formação do seu caráter(teoria da personalidade) e do processo de desenvolvimento(psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem); um co-nhecimento seguro dos conteúdos científicos com os quaistrabalhamos (a ciência que ensina). Sem esses elementos,torna-se difícil traduzir um desejo em proposições operativas

8. Por pressão da vontade, estamos querendo definir aqui a situação emque o nosso desejo se encontra muito longe de onde estamos, mas continuamosali por razões as mais variadas possíveis. menos a verdade do nosso sentimento.

163COL~GI0 FK.",." 1~'-'r\.0 :::

BIBLIOTECA

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para que os resultados sejam construídos. O planejamento éum modo de ordenar a ação tendo em vista os fins desejados,e por. base conhecimentos que dêem suporte objetivo à ação.Sem ISSO, o planejamento será um "faz-de-conta" de decisãoque não servirá em nada para direcionar a ação. '

Planejar implica conhecer para ordenar e entregar-se aum desejo para dar-lhe vida. O planejamento sem conhecimentoserá uma fantasia; sem a entrega, uma peça morta, útil pararechear arquivos.

Planejamento da atividade pedagógica como atividadecoletiva. A atividade de planejar é uma atividade coletiva, umavez que o ato de ensinar na escola, hoje, é um ato coletivo,não só devido a nossa constituição social como seres humanos,mas, mais que isso, devido ao fato de que o ato escolar deensinar e aprender é coletivo. Os alunos não trabalham isolados;atuam em conjunto. Os professores não agem sozinhos masarticulados com outros educadores e especialistas em educação.Numa série escolar, por exemplo, atuam diversos especialistase um conjunto de professores. Na seqüência das séries escolares,esse número se multiplica. Então, como pode ser possível quecada educador planeje e trabalhe isoladamente? Na prática,isso tem sido assim, porém, todos somos capazes de reconheceros desvios decorrentes dessa atividade isolada.

~xecução do planejado no ensino. Aquilo que foi planejadonecessita ser executado com as mesmas habilidades: conheci-mentos, entrega, ato coletivo. Os conhecimentos utilizados noplanejamento são os mesmos que devem, no cotidiano, tradu-zir-se em prática; caso contrário, serão letras mortas. Não bastausar a filosofia, a história, a sociologia, a psicologia e a ciênciaespecífica só no planejar. Importa que, no cotidiano, se verifiqueo verdadeiro auxílio desses conhecimentos nos atos de ensinare de aprender. Ao mesmo tempo, para que isso aconteça,torna-se necessária a entrega ao desejo. É a ação com paixão.Sem a entrega à atividade, todos os conhecimentos utilizadosnão terão vida, não serão fertilizados pela emoção. Por último,o planejamento coletivo só poderá ser executado pela conjugaçãodas forças de todos; portanto, a execução deve também sercoletiva. Os profissionais que atuam numa prática escolar

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precisam da parceria entre si; necessitam investir comumentenum objetivo. Com li atenção centrada só no individual, ocoletivo não será cQn~truÍdo. A parceria depende da entrega aum objetivo ou tarefa, que seja assumida por todos.. Além disso, a aqão necessita ser avaliada e revista cole-

tivamente, a fim de 4ue o seu "tônus" possa ser mantido aolongo do tempo que durar a ação. O método da ação-refle-xão-ação é uma necessidade para a realização o mais próximopossível do desejado, como meio de autodesenvolvimento.

Avaliação

A valiaçãa como (lto subsidiário do processo de construçãode resultados satisfomrios. A atividade de avaliar caracteriza-secomo um meio subsidiário do crescimento; meio subsidiárioda construção do restJltado satisfatório.

Podemos verificar que, no cotidiano, tanto em atos simplescomo complexos, a avaliação subsidia a obtenção de resultadossatisfatórios. Em nosss casa, avaliamos o alimento que estam osfazendo quando prov(1mos seu sabor, sua rigidez, verificandose se encontra "no (>onto" ou se necessita de mais algumingrediente, de mais tJm tempo de cozimento etc. Na empresaocorre o mesmo. Nenruma empresa sobreviverá sem avaliaçãocom conseqüente tomi1da de decisão, tendo em vista seu melhorfuncionamento e, por isso mesmo, sua melhor produtividade.A avaliação tem por ftJnção subsidiar a construção de resultadossatisfatórios.

Assim, planejam ento e avaliação são atos que estão aserviço da construção de resultados satisfatórios. Enquanto oplanejamento traça pr~viamente os caminhos, a avaliação sub-sidia os redirecionam&ntos que venham a se fazer necessáriosno percurso da ação. A avaliação é um ato de investigar aqualidade dos resultad os intermediários ou finais de uma ação,subsidiando sempre sva melhora.

A valiação da ap rendizagem. Em decorrência de padrõeshistórico-sociais, que :se tornaram crônicos em nossas práticaspedagógicas escolares, a avaliação no ensino assumiu a prática

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Page 8: CAPITULO VIII - colegiosantanna.com.br e… · Vida e inspIramos todos os seres com a alegria de uma participação v·ital." O tra~a:.Uho exige nossa integração. "Cada um de n

de "provas e exames"; o que gerou um desvio no uso daavaliação. Em vez de ser utilizada para a construção deresultados satisfatórios, tornou-se um meio para classificar oseducandos e decidir sobre os seus destinos no momento sub-seqüente de suas vidas escolares. Em conseqüência desse seumodo de ser, teve agregado a si um significado de poder",que decide sobre a vida do educando, e não um meio deauxiliá-Io ao crescimento.

A avaliação da aprendizagem necessita, para cumprir oseu verdadeiro significado, assumir a função de subsidiar aconstrução da aprendizagem bem-sucedida. A condição neces-sária para que isso aconteça é de que a avaliação deixe deser utilizada como um recurso de autoridade, que decide sobreos destinos do educando, e assuma o papel de auxiliar ocrescimento.

A valiação e entrega. O ato de avaliar também exige aentrega, entrega à construção da experiência satisfatória doeducando. A entrega ao desejo de que o educando cresça ese desenvolva possibilita ao educador o envolvimento com oprocesso do educando, estando sempre atento às suas neces-sidades. Isso não implica que o educador substitua o educandoem seus processos de crescimento (o que não servirá em nadatanto para o educando como para o educador), mas sim queclareie para si e para o educando as exigências do crescimento:Ninguém cresce sem ação e a ação contém dentro de si umadisciplina. Cada ato tem sua disciplina própria que necessitaser descoberta e seguida se se quer aprender e crescer comela. A avaliação é uma forma de tomar consciência sobre osignificado da ação na construção do desejo que lhe deuongem.

Só a entrega à disciplina do ato permite uma cura, ouseja, a construção satisfatória dos resultados desejados.

9. Ver Michel Foucault, Vigiar e punir, Petrópolis, Vozes, 1989; ver tambémde Cipriano Luckesi, "Avaliação Educacional Escolar: para além do autoritarismo",revista Tecnologia Educacional, n° 61 (nesta coletânea, pp. 27-47); do mesmoautor, Avaliação da aprendizagem escolar: sendas percorridas (Tese de Douto-ramento apresentada à PUC-SP, 1992).

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'Concluindo

Planejamento, execução e avaliação são recursos da buscade um desejo. Para tanto, é preciso saber qual é o desejo eentregar-se a ele. No nosso caso, importa saber qual é o desejocorn ação pedagógica que praticamos junto aos educandos e:se queremos estar entregues a ele, a fim de que possamosconstruir os resultados satisfatórios com o auxílio do planeja-mento, execução e avaliação, auxiliando o desenvolvimentodos educandos, ao mesmo tempo que processamos nossoautocrescimento.

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