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o QUE É AUTOGESTÃO? Era um grande encontro de ordem filantrópica. Fui convidado a proferir uma palestra sobre voluntariado, pois carrego grande experiência neste ramo. Boa parte do tempo, tive de interromper a minha fala para aguardar silêncio. O grupo era numeroso. Em um certo momento, um dos dirigentes pediu licença, interrompeu. minha palestra e disse ao público: "Vou pedir licença ao nosso palestrante convidado para interromper a palestra, uma vez que a maioria de vocês veio aqui para comer, então, vocês vão comer e, depois, voltarão para terminarem de escutar o que o professor tem a dizer, pois, em caso contrário, o ano que vem não terá comida!" E, assim, o povo da plateia dirigiu-se às bancas em fila onde recebe- ram os pratos prontos ... em um exemplar comportamento de ordem. Um a um, ao acabar de comer, retomava à sua cadeira no auditório. Eu, passivo e perplexo assistia ao andamento das cenas... Após um certo tempo (curto, pois comeram às pressas), fui convidado a continuar meu trabalho. Foi tudo muito rápido. Não precisei Interromper a palestra para aguardar silêncio, pois 99% dormia sono repositor! Apenas aqueles infelizes da primeira fileira não puderam dormir, por não terem nenhum corpo à fren- te para encobri-tos ... Então, com olhos frios e esbugalhados, ouviam-me. Resumi em muito meu assunto. Quando anunciei o fim, os "dormentes" foram acordados pelas entusiasmadas palmas da primeira fileira "atenta': Imediatamente, o "coordenador" do evento (Dr. em Filosofia por Lyon, na França) parabenizou o grupo e disse que a feijoada se repetiria 23

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o QUE É AUTOGESTÃO?

Era um grande encontro de ordem filantrópica. Fui convidado a proferiruma palestra sobre voluntariado, pois carrego grande experiência neste ramo.Boa parte do tempo, tive de interromper a minha fala para aguardar silêncio.

O grupo era numeroso. Em um certo momento, um dos dirigentespediu licença, interrompeu. minha palestra e disse ao público: "Vou pedirlicença ao nosso palestrante convidado para interromper a palestra, umavez que a maioria de vocês veio aqui para comer, então, vocês vão comer e,depois, voltarão para terminarem de escutar o que o professor tem a dizer,pois, em caso contrário, o ano que vem não terá comida!"

E, assim, o povo da plateia dirigiu-se às bancas em fila onde recebe-ram os pratos prontos ... em um exemplar comportamento de ordem.

Um a um, ao acabar de comer, retomava à sua cadeira no auditório.

Eu, passivo e perplexo assistia ao andamento das cenas...

Após um certo tempo (curto, pois comeram às pressas), fui convidadoa continuar meu trabalho.

Foi tudo muito rápido. Não precisei Interromper a palestra paraaguardar silêncio, pois 99% dormia sono repositor! Apenas aqueles infelizesda primeira fileira não puderam dormir, por não terem nenhum corpo à fren-te para encobri-tos ... Então, com olhos frios e esbugalhados, ouviam-me.

Resumi em muito meu assunto. Quando anunciei o fim, os "dormentes"foram acordados pelas entusiasmadas palmas da primeira fileira "atenta':

Imediatamente, o "coordenador" do evento (Dr. em Filosofia porLyon, na França) parabenizou o grupo e disse que a feijoada se repetiria

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/10 proxuno ano, omo prêmi "do lunn comportam nto d t (/1IIm dr'" ducodores do reintegração social". PIOr Haraldo Hadeck (MG), con ultor;ecotrainer; palestrante e trainer em danças aeróbica.

Se a palavra "auto" significa estar voltado para dentro de si, devem-sebuscar internamente os potenciais para mudança. Gerir é administrar, dirigir,gerenciar, governar, mandar, menear, orientar, presidir, reger. Isto pode tertanto o sentido positivo quanto daquele relato feito pelo Prof. Haroldo (umacrônica real), porém, no caso da proposta deste livro, será bem outro.

Conforme o diagrama a seguir, podemos observar que, na Autoges-tão, quer seja de grupo ou de ensino versus aprendizagem, o professor queé líder na sua sala de aula vai gradativamente soltando as mãos de seusaprendizes para que estes trilhem a trajetória que vai da dependência àautonomia. O mesmo ocorre em um grupo de Autogestão nas empresas.O diferencial é que a escola trabalha a Pedagogia como a arte de ensinarcrianças, e o outro, que é o andragógico, como a arte de ensinar os adultos(treinamento). Como disse Florestan Fernandes, "façamos a revolução nassalas de aula, que o povo a fará nas ruas': Frase esta segundo ele tomadaemprestada de Fernando de Azevedo: façamos a revolução na escola, antesque o povo as faça na rua. Sem dúvida alguma, creio que a grande revo-lucionária será sempre a educação. Mesmo que informal, agirá no seio deum povo que foi dela privada por motivo de lesa-humanidade: tirar do serhumano aquilo que lhe é de direito: os saberes.

o EDUCAOOR E A COImU~ABILIDADE EMAUTCCESfÃO. ..

os PAPÊlS DO LÍDER E DO LIDERADO(professor x aluno)

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cJldl1 (I 11111.11 I ,11011111'1111 ',101 (ond, dO do IItlll ( lllHl 1"'11101

d r d LI Ir II ItI I )',1 .timul.uulo os doi dep nd 'I1Cic1 ~ ,lIc1 d auton 111101

P r mim, um gl "ntll Ild( I ( aqu I c P r de d sp rtar no u li I r leiO

os potenciais para qu t eja também um grande líder. Se um líd r naotransforma, ele é apenas um portador do poder, no sentido literal d luld

pelo poder.

Gestar é o tempo de gravidez até o parto ou o tempo de prepar c1

de alguma coisa. É desenvolver, formar, germinar, originar, produzir.

São muitos sinônimos. Então, fiz a opção pelo verbo "qestar" quese aproxima mais do termo da maiêutica cujo processo consiste em um.idialética e Pedagogia socrática, em que se instiga o aluno por meio dlperguntas a fim de obter por indução as respectivas respostas. Em ouu.ispalavras, é a arte de partejar, e em nosso caso especíifico da educaç 10,

partejar ideias e desenvolvimento. Dialética pedagógica aplicada à ducação é a arte do diálogo, buscando respostas por meio de contrapo ição e contradição. Estas ideias aparentemente paradoxais conduzem c

gestação de outras ideias.

Diante do exposto, a palavra "auto" provém de autonomia, aqu Ique independe do outro. Autogestão é poder gestar suas coisas por contprópria, sem a necessidade de terceiros, tanto no plano material quanlnos relacionamentos. Ninguém é autossuficiente plenamente e, neste co sentido que damos à Autogestão é que ela funcione como um proso. que, apesarde autonomia dos elementos do seu grupo, estes bu amcompartilhar e realizam um trabalho em corresponsabilidade.

A Autogestão de grupo a que nos referimos caminha em p r ik-locom a Autogestão pedagógica e, conforme Nildo Via na, ela é um si I /111I

de educação no qual o mestre renuncia a transmitir uma mensagem. Os (I" I

nos, em nível de classe ou da escola, dentro dos limites da situação e )/(1/

atual, decidem a respeito dos métodos, das atividades escolares e do ptogramas de formação. Na Pedagogia institucionai ou autogestão pedoqoq« CI,

o mestre não é um transmissor de informações, mas analista do praces o cll'aprendizagem ou perito à disposição da classe que deve encontrar e de '/I

volver suas instituições internas próprias.

Segundo a Prof" Ms. Rosimere dos Anjos Ferreira (BA) - diret 1.1

do Farol do Conhecimento, a autogestão está relacionada com a propnoética, pois, ela organiza o comportamento, toma possível a convivência ('forma o substrato para o desenvolvimento do ser humano em sociedacl '.

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N('st ., ntido. Pr foI Ro im r sintetiz I nulo Ill(' I 'v hav r d ntr dum IUpO de Autogestão: comprometimento seguido de ética.

Eu particularmente diria que nem tanto o céu nem tanto a terra, masd ve haver o equilíbrio entre as duas coisas, ensinantes e aprendentes.Creio que o texto, a seguir, baseado em uma frase do Prof. Henrique Joséde Souza (BA/1883-1963), filósofo, líder espiritual, músico, polígrafo, poli-glota, tradutor e educador, e como seu discípulo, eu não exito em dizer que

sta frase servirá muito bem como síntese de todo este livro e daquilo queé autogestão, gestão de pessoas, liderança e pedagogia autogestora.

"O MESTREAPONTA O CAMINHO, O DiScíPULO SEGUESOZINHOATÉ ENCONTRAR NOVAMENTE O MESTE,MAS DESTA VEZ DENTRODE SI MESMO."

"Construir um momento único é uma tarefa difícil, agradar a todos,talvez impossível. Porém, é preciso superar obstáculos; esquecer incom-preensões e omissões; partilhar do erro para crescer e continuar; buscaralgo de bom no apoio de uns, nas descrenças de outros, nas discrimina-ções de alguns, para ediiicar um desejo. O importante é não desanimare seguir em frente, sempre." Proi" Regina lvtaro Carvalho - secretária deEducação de Carmésia-MG, especialização em tecnologia da educação egestão escolar.

Está bem sintetizada a forma com que a profa Regina expõe osdesafios daqueles que querem seguir o caminho da autotransformação,para tornar-se tal qual seu mestre: um líder. Ampliando então o assun-to, dividirei este pequeno texto em três partes, a fim de que possamoscompreender o que e como os grandes Mestres nos transmitem infor-mações por meio de suas metáforas e parábolas. Assim também será opapel de um educador como mantenedor do conhecimento e, como taltambém, é o líder, aquele que tem o dom de apontar os caminhos, masnunca de impor. Acompanhe a síntese das quatro etapas ou axiomasda liderança, por meio dos diagramas. Um axioma é uma sentença ouproposição que não é provada ou demonstrada e é considerada comoóbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ouaceitação de uma teoria.

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QUATRO ETAPAS DA LIDERANÇAEM AUTOGESTÃO

AufononJia10

-_._---_._---_._-------_._---_._---_._-,l APONTAR ~~I-,_-",••.• -III

SEGUIR111--

1'- 4_DESPERTAR' •...Q)~ ~~ \J

3_ENCON TRAR o\Jo<..»(tic..11)~----------------4r~LU

2_SEGUIR

acatar, buscar, acompanhar. Ir em ou terdlreçla, observar. perseguir. percorrer, trilhar

ENCONTRAR .c::> <:=:JJDeparar, descobrir, defrontar, confrontar

DESPERTAR ~Acordar, refletir, espertar e cientizar

L._._._._._._._._._._._._·_·_·_·_·_·_·-

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1°) O M STRE APONTA O CAMINII . It I1lfl dei : oferecer pi t ,P rtunidades, chances, alternativas.

"Competência em educação é mobilizar um conjunto de sa-beres para solucionar com eficácia uma série de situações."Philippe Perrenoud (educador e sociólogo suíço)

"O educador é antes de tudo um líder ao conduzir seus alu-nos ou sua equipe de trabalho, portanto um gestor de pes-soas deve ter flexibilidade nos relacionamentos como umadas mais importantes competências na arte de educar." Prof"Ms. Ana Angélica Soares - diretora Consultoria Enfase.

Espero que estes saberes que serão citados, a seguir e, ao longodeste livro, possam servir como ponto de partida para autorreflexão e re-posicionamento no papel de liderança de um educador com vistas a de-senvolver competências potencializando-as rumo à solução de situaçõesproblemas, tal qual se refere Perrenoud. Isto se encaixa muito bem nosprincipais objetivos de grupos em Autogestão que, por sua vez, deve teruma percepção transdisciplinar da realidade.

Por isso, os verdadeiros Mestres da humanidade ou aqueles quetrilham este caminhar e principalmente os educadores devem ter comoprincípio que um Mestre em Autogestão não determina caminho, por-que determinar é limitar a competência do seu aluno, discípulos ouliderados. Mesmo com um ser humano no início de sua vida (no seupoidos, do Grego=criança), também assim se processa. À medida que ospais oferecem condições para seus filhos seguirem seu autocrescimentoda dependência deles para a autonomia consciente, estarão exercendoo papel de Mestres. O sufixo Grego "aqoqia" tem o sentido de conduzir,guiar e direcionar, porque estamos tratando de uma metodologia vol-tada para o aprendizado das crianças. Nós somos o andragógico (a artede ensinar adultos) e elas o pedagógico, no entanto ambos caminhamjuntos. Temos ainda a palavra método de origem grega significandofazer caminhos.

O Mestre, em qualquer área do conhecimento que ele atuar, nãofará caminhos para ninguém, apenas o apontará, porque sua função é

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c!(' P irt r tornar os seus discípulos conscientes do potencial que pos-su m, tanto quanto seu próprio Mestre que, naquele momento, exercel I função. Certa vez, Jesus Cristo disse: "A tua fé te curou". Com essatitude, Ele devolvia para cada um o potencial que traziam dentro de

si (como centelha Divina), mas que não estava consciente. Os Mestresnão devem permitir por parte de seus alunos e discípulos em qualqueridade expressões do tipo: "Você é o máximo!" "Você é insuperável!" "Sóvocê me compreende". "Sem você eu não teria chegado aonde cheguei"e outras tantas coisas. Estas crenças nos Mestres limitam a competên-cia dos discípulos, e elas podem ser traduzidas da seguinte maneira nasentrelinhas do emocional: "Se ele, o Mestre, é o máximo, o discípulo é omínimo". É importante perceber que o verdadeiro Mestre não se colocano alto para humilhar ou subjugar seus alunos; trata-se apenas de umestado de consciência que este adquiriu, mas o Mestre sabe que seu dis-cípulo um dia vai chegar lá por meio dos seus próprios méritos.

Estas crenças negativas só servem para gerar mistificações e for-mação de "falsos gurus" que permeiam atualmente nossos meios aca-dêmicos e não acadêmicos, em um estrelismo que chega aos extremos.Se um aluno se mostra excelente, seu Mestre diz: "Você é muito compe-tente e tem se superado a cada dia. Ele não compara desempenho, mastambém não impede de que seu aluno utilize-se das referências do seudesempenho em relação ao outro, desde que isso não venha a dirimir aimagem do outro em detrimento da sua. Os pais são os Mestres para seusfilhos mesmo antes dos outros Mestres, na escola ou na sociedade. Sãoos Super-Heróis e, mesmo que na infância, não morrerão jamais no cora-ção de seus filhos. Quando os pais, em vez de apontarem (e ao contrário),determinam caminhos para seus filhos, estarão criando uma dependênciaque, no futuro, terá um custo em suas vidas.

Com relação à educação, mais do que nunca requer o renascerde uma Pedagogia que agregue valores para compreensão do novopadrão evolucional destas crianças, que há 30 anos nasciam ligadas no220kW, relacionado, portanto, ao desenvolvimento do mental concre-to. Esse mental concreto observa, compara, deduz e decide com basenos fatos, portanto aquilo que é perceptível pelos cinco sentidos. Aexcessiva ênfase neste mental concreto pode dar origem a uma sub-valorização da sabedoria em detrimento da memória, da decoreba, darepetição e das cópias. Deve-se avaliar quantitativamente, mas quali-tativamente também.

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11, .ik um t mp , qu nd n í mos, ficávamos eníarx.rdo moum,1 mumi dur nt um bom tempo e demorávamos a abrir os olhos. EH ~ ? Nascem conectadas no global, no 440kW, mas pés descalços, os fiosd sencapados e o chão molhado. Esta é uma metáfora para falar daquiloque eu entendo do que disse o Prof. Henrique J. de Souza: lia sa essência,ou mental abstrato". A partir deste estado de consciência, o ser humanodesperta para uma consciência de criatividade, por ter adentrado ao seu EuSuperior, morada da essência Divina. Esta essência se projeta na razão e na

moção, possibilitando ao ser humano levar uma vida de harmonia. Estascrianças parecem estar em curto o tempo todo. Curto circuito? Não. Curtoespaço de tempo para aprenderem o que tem de ser aprendido. Todaselas? Ainda não, mas serão.

o mundo dará uma volta de 360 graus, então a educação e as novasmetodologias terão de ter dado duas voltas. A metodologia do amor seráresgatada no seu sentido original: o amor sabedoria, tendo como detentordestes conhecimentos os educadores que dele farão uso diariamente e cadavez mais em suas escolas, como muitos já o fazem. Esta mesma função deveser aplicada a todas as lideranças nas escolas, empresas e instituições. OAmor sem a sabedoria transforma pais e mestres nos tipos bonzinhos, quedão tapinhas nas costas, agradam e superprotegem. Quando os pais nãosabem lidar com a disciplina dos seus filhos, os professores consequente-mente terão ainda mais dificuldade de cumprirem suas responsabilidadesem ensinar, que é sua principal função. Por sua vez, a sabedoria sem oamor transforma pais e educadores em pessoas frias e intelectuais. Umadas coisas que podemos observar em relação a isso é se perguntando:Quantas vezes esta semana você recebeu elogios? E críticas? O educadordeve não apenas fazer elogios mas também recebê-Ios; caso contrário, abateria se descarrega. Daí vem a desmotivação, e o estresse atinge grandeparte dos professores. Imagine como não está este índice atualmente, emespecial, trabalho para que ele seja cada vez menor. No entanto, cabe seperguntar: Quem cuida de quem cuida?

Neste novo jeito de caminhar pedagógico, não haverá trilhos parauma avaliação quantitativa do processo educacional, mas trilhas onde per-meiam a flexibilidade e a visão sistêmica e global da constituição do serhumano. A avaliação qualitativa não despreza a quantitativa, mas une-se aela e ambas evidenciam o jogo das polaridades. Todos os dias, em sala deaula, o professor atua como Mestre e gestor do conhecimento, indicandocaminhos nos mais variados sentidos e atendendo muitas vezes a uma de-

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1l1l11d d O lI·\()"hIlH)·.111l la d aula, ItU çao i qu XI um bomnív I de resiliê n ItI ou habrlidade em lidar e superar as adversidades do diaa dia no processo de "ensinagem" e "aprendência". Sua atuação como líderficará claro por meio dos objetivos, das estratégias e das metas pela imple-mentação de um elaborado planejamento. O líder tem de gerir e administraros bens materiais de sua unidade escolar, mas também tem que ser eficazna arte de gestar (gestão de pessoas), o equivalente à maiêutica socrática.A cada dia, seus alunos e liderados deverão gestar novas ideias, o líder cria-rá uma condição incubadora para que nasçam novas ideias. Essa resiliênciarequer que o Mestre tenha trilhado os caminhos tanto da razão quanto daemoção, da Pedagogia, da Psicologia, da mente e do coração, enfim, nãoapenas o domínio das técnicas pedagógicas mas também das ferramentascomporta mentais, que são essenciais ao seu autocrescimento.

20) O DIScípULO SEGUESOZINHO: a hora de reconhecer os passos

para a independência.

Quando o discípulo segue sozinho, isto não quer dizer abando-nado, porque o Mestre permanece atento ao seu crescente caminhar. Seprecisar interferir, ele o fará novamente sugerindo que repense o cami-nho. Mesmo no ensino infantil, o Mestre deverá estar atento ao seu papelde conduzir e liderar (agogia) porque os desvios de caminhos são muitossutis e frequentes, e a isto damos o nome de experiência. Deve ser com-pensador quando o Mestre (líder) observa que não ajuda mais seu alunoa segurar o lápis ou a caneta, que ele já arruma "suas coisas" sozinho;que faz suas primeiras operações de Matemática; que escreve, lê, com-preende e interpreta. Quando o Mestre deixa passar despercebido e nãocelebra estes pequenos acontecimentos, tornar-se-à mais tarde frustradoporque será incapaz de verificar o quanto foi importante no processo deautocrescimento do seu aluno. No momento em que isto estiver aconte-cendo, o educador estará dando energia para a desmotivação e deixandode lado o seu próprio reconhecimento no processo de ensino e aprendi-zagem. É preciso saber celebrar a cada passo. Em cada passo que der, oaluno seguirá sozinho e confiante porque a confiança nasceu do apoio eda proteção que recebeu do seu Mestre. A transferência do conhecimen-to e a reabsorção deste por parte do aprendiz não significam que ele irárepetir tudo exatamente como aprendeu, mas, com certeza, colocará alias suas experiências, inclusive frutos dos seus erros. Às vezes, temos de

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ornpr nder que os erros são ensaios para o acerto e, pedagogicamen-l ,aproveitar a oportunidade reconduzindo o aprendiz para o caminhod autonomia, quer seja na escola ou no ambiente empresarial/institu-

ional. A experiência de estar só exige que o aprendiz tome iniciativas,mesmo que ela seja simplesmente a de arrumar o quarto, quando a mãe

stá ocupada com outros afazeres; entregar um trabalho fora de hora;studar até mais tarde. O Mestre, ao permitir que seu aluno siga sozi-

nho seu caminho, terá sempre em mente as etapas de desenvolvimentopelas quais está passando seu aluno. Há uma diferença muito grandeentre uma criança de dois anos e outra com três. Quando ambas tive-rem 5 e 6, 7 e 8 anos, 11 e 12 e assim sucessivamente, este diferencialserá menor. O ato de caminhar sozinho terá suas nuances extremamen-te importantes, além disso, o Mestre deve estar atento aos diferenciaisde cada aluno. Nem todos os frutos amadurecem no mesmo período,mas todos são bons frutos da mesma ÁRVORE da VIDA. Não apresse ocurso do rio, observe-o e acompanhe-o, pois, como todos os outros,suas águas chegarão ao mar e, muitas vezes, têm de se juntarem paraque isso aconteça. Analogicamente falando, trata-se de um trabalho emparceria que envolve escola, família e sociedade.

30) ATÉ ENCONTRAR O MESTRE NOVAMENTE, MAS DESTA VEZDENTRO DE SI MESMO.

O DESPERTARDO ALUNO, DO LIDERADO NO CAMINHO DA AUTO-GESTÃO.Seguir sozinho, ser autônomo, corresponsável e parceiro.

Quando o aprendiz vai crescendo e se percebendo no caminho daautonomia, o Mestre, por sua vez, apenas e tão somente acena para ele.Cumprimenta pelo que conseguiu atingir na sua autotransformação e su-peração de si mesmo nesta longa caminhada chamada evolução, que po-demos resumir no que dizia o Prof. Henrique José de Souza: transformaçãode vida energia em vida consciência. Esta consciência o leva ao maior detodos os encontros: o encontro consigo mesmo, com sua essência, aquelada Pedagogia do amor e sabedoria Divina de poder viver uma vida pauta-da no que há de bom, bem e belo neste mundo. Esta transformação nãose deu única e exclusivamente por causa do seu Mestre, mas porque seuMestre Interior também traz a essência que pulsa em todas as coisas, eaquele o ajudou a despertá-Ia. Quando o Mestre não tem esta postura,

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l r 11 us alunos dep nd ntes. Por outro lado, quando o Mestre é capazd identificar no seu aluno o potencial e o facilita a desenvolver, terá milr zões para se enthusiamar (enthus do Grego é divino) com o progresso doseu aluno e celebrar sua participação no seu processo de autocrescimento.Quantas vezes os Mestres se esquecem destes detalhes e deixam passardespercebido o momento de um reencontro com seu aluno que agora éum Mestre também, não porque dá aulas, mas porque venceu. Pergunta:Mestres, onde estão seus alunos agora, depois de passados Z, Y ou X anos?O que estão, ou onde estão, atuando? A minha primeira professora DonaOndina me conduziu, apontou e ajudou-me nos primeiros passos da vidaacadêmica, depois vieram outras que somaram e cheguei aonde estou. Evocê professor(a), Mestre(a) onde estão seus ex-alunos?

No meu site, tem um projeto que denominei de "ALFACE"e está dis-ponível para qualquer escola que o queira utilizar. Não há custo, há apenasrecompensas do reencontro que ele possibilitará. Eu jamais poderia deixarde citar aqui aquele que foi o maior de todos os Mestres do ciclo de pei-xes: Jesus Cristo. Ele disse três palavras fundamentais para os fundamentosda Pedagogia do amor-sabedoria: "É doando que se recebe". Assim fazemos Mestres, doam-se, mas é importante perceberem também o quanto re-cebem de seus alunos/discípulos. "Peças e receberás': Os discípulos/alunospedem apoio, compreensão, prazo, paciência, amor, oportunidade, e osMestres, por sua vez, atendem a estes pedidos, mas dentro de uma tônicados princípios de justiça e sabedoria, para não cometerem o erro de apon-tarem o caminho dá dependência. É tão sutil como o fio de uma navalha. Aterceira frase "a quem muito for dado muito será cobrado" passou e passadespercebida da maioria dos alunos. Se pedir, recebemos; se doamos, rece-bemos, porém, há a contrapartida: a responsabilidade. Quando adentramosno caminho apontado pelo Mestre e seguimos com nossos próprios esfor-ços, tornamo-nos Mestres, mas, neste caminhar, recebemos muito de todosos lados: dos pais, dos educadores (escola), dos amigos etc. Crescemos emconsciência, e quanto mais isso ocorre, mais nos tornamos responsáveis. Oque, como e quantas vezes você exigia do seu aluno com 4, 6, 9, 15 anosetc.? Não foram diferentes em cada uma destas fases, séries (anos)? A Peda-gogia do "amor-sabedoria" nos conduz a um outro estágio de consciência e,nele chegando, assumimos novas e maiores responsabilidade. Encontrar-senovamente com o Mestre, mas desta vez dentro de si mesmo, é sem dúvidaum novo renascer, porque será um encontro com o princípio do TODO quepulsa dentro de cada ser humano, impulsionado-o rumo à evolução.

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Assim, os Mestres se comunicam com us discípulos/aluno, n msempre deixando tudo tão claro e óbvio, mas muitas vezes o fazem nasentrelinhas, a fim de despertar neles a eterna CPI - Curiosidade Perma-nente de Investiqação: assim também funciona o processo de Autogestãoem grupos. Enquanto líder, o educador determina, conduz e orienta seusalunos e liderados para somente aos poucos poder delegar, permitindoque executem tarefas sem seu auxílio ou supervisão.

Como mestre, é gestor do conhecimento, não apenas de forma aca-dêmica. Mais que isso, deverá buscar seu autocrescimento. No papel degestor de pessoas, além de incorporar a liderança, deverá buscar a poten-cialização do mais nobre capital que é o ser HUMANO, um planejamen-to de capacitação de seus liderados, alunos, para que estes venham a setornarem também líderes, mestres; caso contrário, não seria condizentedenominá-Io de gestor do conhecimento. É claro que, utilizando-se do seulivre-arbítrio, poderá fazê-Io e tornar-se um líder autoritário e manipulador,porém jamais deverá se esquecer de que a semeadura é livre, mas a co-lheita é obrigatória. O quadro, a seguir, sintetiza a proposta deste artigo e,conforme diz Jean Piaget, existem três caminhos que se coadunam com oque acabamos de expor (veja diagrama): 1. ANOMIA: é um estado de faltade objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transforma-ções ocorrentes no mundo social moderno (DURKHEIM, 1858-1917 - so-ciólogo). O termo anomia significa: a=ausênica, falta e nomos=lei, norma.É a dependência ao mestre, ao líder, ao gestor de pessoas, conforme afir-mamos anteriormente. 2. HETERONOMIA: significa as leis que recebemos.Ao contrário de autonomia, consiste na sujeição do indivíduo à vontadede terceiros ou de uma coletividade (KANT, 1724-1804 - filosofia transcen-dental). A palavra heteronomia vem do Grego: heteros (diversos) + nomos(regras). Essa sujeição à lei identifica que o indivíduo toma contato com arealidade dos fatos e, portanto, caberá a ele compreendê-Ias primeiro paradepois atuar dentro do sistema social. 3. AUTONOMIA: filosoficamente fa-lando, o conceito de autonomia confunde-se com o de liberdade, consis-tindo na qualidade de um indivíduo de tomar suas próprias decisões, combase em sua razão individual. Palavra de origem grega: autos= por si só,mais nomós= que pode ser duas coisas, lei e, ao mesmo tempo, significatambém território. Quem busca a autonomia deve estar consciente de que,ao atingi-Ia, estará tornando-se dependente de outros para continuar suaautonomia: paradoxal! Não, realidade mesmo. Da mesma forma, o discípu-lo, aluno, liderado que adentrou ao caminho apontado pelo mestre, chega

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" um p nto m que é r I-' nsável pelos seus próprios atos e, portanto, deoutras pessoas.

Professor, educador, mestre, líder, gestor de pessoas, pouco importao nome, deve-se ter claro que, ao longo deste caminho, três coisas estarãosempre presentes: o alvo de onde se quer chegar, a motivação de cada umindividualmente e coletiva, os obstáculos, que exigem trabalho de equipe,sempre valorizando a competência de cada um em determinado assunto.Somente assim, terá contribuído para mudança do estado de consciênciade seus alunos ou liderados. Por isso, o nobre educador Prof. Celso Antu-nes (SP)diz: "O grande educador é um educador competente, e não o edu-cador inspirado. Por que a inspiração, você pode conquistá-Ia sem esforço,mas a competência se desenvolve".

o CAMINHO DA DEPEND~NCIA ÀAUTONOMIA NO PROCESSO ENSINO X APRENDIZAGEM

OCAfAINHOO Mestre

o ENCONTRO ~--------~ O CAIII•• HAROGestor OUder

Pro f. Din: eu Moreira

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Segundo o Prof. Jouberto Uchoa, grande empreendedor neducação e reitor da Unit (Universidade Tiradentes e Fits), o que se esperade uma liderança é:

l.determinação;

2.conhecer o que está dirigindo (fazer);

3.saber agregar as pessoas (conquistar);

4.valorizar as pessoas;

5.dar condições ao bom desempenho;

6.respeitar os que estão abaixo;

7. o u v i r.

Diante do exposto sobre liderança, a filosofia básica deste progra-ma de Autogestão é propiciar condições ao indivíduo, para se autodire-cionar dentro de um grupo e perceber qual a sua contribuição, a impor-tância do seu papel e da inter-relação com os demais. Ser participativoe cooperativo em busca de metas e realizações que permitam conduzira sua escola, secretaria, instituto etc., a um clima de saúde e bem-estar,ou seja, à qualidade total nos relacionamentos. Adquirir o prazer emrealizar, desfrutar e compartilhar o seu sucesso dentro de um ambientede trabalho, melhorando o clima ou adaptando o que Pierre Teilhard deChardin (filósofo, paleontólogo e escritor suíço - 1881-1955) chamoude noosfera planetária (a alma do planeta) e que podemos transferirtal conceito para o microcosmo: a alma da escola. Portanto, o clima doambiente onde você trabalha é construído pelas formas de pensamentoe emoções emanadas por todas as pessoas daquela escola, ou institui-ção. Antes de reclamarmos de nosso ambiente de trabalho, é bom fazeruma reflexão daquilo que andamos vibrando mental e emocional paraaquele ambiente.

A Autogestão é um processo de autonomia onde as pessoas de umgrupo se tornam capazes de solucionar problemas de conflitos nas inter-relações humanas, redirecionando-as de forma construtiva, e isto significaequilíbrio para o clima organizacional daquela escola ou unidade. Na Au-togestão, todas as pessoas são convidadas a dar a sua parcela de contri-buição e a se sentir importante. Neste contexto, qualquer que seja seu car-

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III ndo, inclusive, m a participação de alunos, pais e comunidadenforme consta no plano de gestão da unidade escolar.

A Autogestão é um processo holístico onde a somatória das partesé o resultado de esforços simultâneos e direcionados para se chegar aum todo, a um resultado global. Cada trabalho realizado tem seu grau deimportância e se reflete na totalidade. O grupo define um programa detrabalho com base em metas estabelecidas pelos participantes, ou cons-tante do PPP.O processo de apoio dos facilitadores consiste, por parte dacoordenação, apenas em assessorá-Ios quando solicitado.

Na Autogestão, o grupo aprende com o tempo a perceber a dinâmi-ca e a pulsação da energia do grupo: os ciclos de desenvolvimento, trans-formação e superação dos obstáculos. Na fase de harmonia e de repouso,o movimento é de compartilhar, celebrar os frutos do sucesso. Na fase deconflito, o movimento é de busca e preservação da coesão para aprenderpor meio da crise que transforma continuamente o ser humano. Nesta si-tuação, o pedido de ajuda e a cooperação mútua no grupo produzem umasinergia que o leva a romper as barreiras com mais facilidade. Passado oconflito, o grupo recorda as experiências e as acrescenta ao seu processode maturação.

Um grupo que busca a Autogestão e não compreende esses doisaspectos não terá compreendido a própria vida, a própria lei cíclica detrabalho e repouso, ou seja, a inexorável lei de polaridade' sobre o quan-to é importante que um líder tenha este olhar para o mundo à sua volta,principalmente em Autogestão. Hermes Trimegisto se refere a ela da se-guinte maneira: "Tudo é duplo, tudo tem dois polos; tudo tem seu oposto; osemethante e o dessemelhante são uma só coisa; os opostos são idênticos emnatureza, mas diferentes em graus; os extremos se tocam, todas as verdadessão meias-verdades; todos os paradoxos podem ser reconciliados - O Caiba-lion". Um gestor escolar pode gerir seus negócios, mas será imprescindívelsaber "qestar", conduzir sua equipe e gerar novas ideias e, com isso, é queele consegue imprimir em cada um o caminho do autocrescimento. Por-tanto, "gestão de grupo" é gestão de pessoas e gerir é administrar. Os doistêm de caminhar de forma harmônica para consumação dos resultados.Todas as organizações lutam diariamente com seu inimigo número um, a

1 Segundo o escritor, administrador e pesquisador Wladimir Ballesteros, se o homem pensa e cria posi-tivamente, o Universo conspira a seu favor, lembrando que a recíproca é verdadeira, formando, assim, oequilíbrio de forças que se dá por meio da lei universal da polaridade, e à qual toda a manifestação estásujeita. Portanto, a mesma força que o pensamento tem para construir tem para destruir; pode atrair ourepelir, pode funcionar como bálsamo ou como veneno.

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desorganização. A aprendizagem e o esquecimento são polos e não inimi-gos entre si, servindo de referência para corrigir possíveis falhas.

Compartilhar e celebrar são de grande importância à medida quepreserva o grupo do desgaste e desagregação. Autogerir é também saberadministrar bem, quando não há crise.

O processo de Autogestão consiste em perceber que as interven-ções para manter a coesão do grupo são naturais e fazem parte da evolu-ção e crescimento do grupo. Auxilia a desenvolver a sabedoria interior, omental abstrato e fazer brotar dentro de cada pessoa seu próprio Mestre.Isto equivale saber caminhar junto. "Eu ganho, o outro ganha" e acrescenteo terceiro elemento: o social, a comunidade também ganha.