Capacidade Protetiva das Famílias -...

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  • Sumrio Executivo

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Benefi -cirias de Programas Federais de Transferncias de

    Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Aldaza Sposati Consultora snior: coordenao do estudoSecretaria de Avaliao e Gesto da Informao

    Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    Braslia, junho de 2011

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    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Sumrio Executivo

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perif-ricas Metropolitanas

    1. Apresentao

    O presente estudo analisou a capacidade protetiva das famlias beneficirias de programas federais de transferncia de renda (Bolsa Famlia e Benefcio de Prestao Continuada) em regies perifricas metropolitanas. O estudo foi iniciado em novembro de 2010 e finalizado em junho de 2011, sendo desenvolvido por uma consultora snior, a Profa. Aldaza Sposati, e duas consultoras assistentes, Dirce Koga e Silvina Carro. As trs consultoras foram contratadas pela Secretaria Nacional de Avaliao e Gesto da Informao (SAGI), no mbito do Projeto de cooperao internacional estabelecido entre o Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS) e o Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) Projeto PNUD BRA/04/046.

    O estudo se situa no campo da proteo social e busca discutir uma dimenso da matricialidade sociofamiliar, que constitui um dos princpios da proteo de assistncia social de acordo com a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), de 2004. A anlise parte da hiptese de que a centralidade do trabalho com famlias ainda no est suficientemente explorada de modo a constituir uma orientao clara a ser aplicada em todo o territrio brasileiro pelo Sistema nico de Assistncia Social (SUAS).

    Desse modo, o estudo teve como objetivos principais: 1) fazer uma discusso crtica de conceitos centrais presentes na PNAS, especialmente trabalho social com famlias, alm de territrio de referncia dos Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS); 2) definir os componentes da categoria capacidade protetiva das famlias, especialmente em regies metropolitanas perifricas tendo uma metrpole do Sudeste como estudo de caso; 3), e, elaborar ferramentas para aplicao desta categoria pelos gestores da poltica de assistncia social nas anlises individuais e coletivas de agregados familiares por territrios de abrangncia dos CRAS.

    2. Metodologia

    O estudo foi desenvolvido em trs grandes reas:

    1) Discusso conceitual: as consultoras embasaram suas anlises em estudos, pesquisas e diretrizes de programas oficiais que tivessem a famlia por tema,

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    discutindo principalmente conceitos tais como: famlia, pobreza, proteo social, matricialidade sociofamiliar, trabalho social com famlias, capacidade protetiva das famlias, territrio.

    A concepo terica do estudo de campo das famlias partiu da pesquisa do Prof. Serge Paugam na periferia de Paris entre 2005-2009, sobre o universo de vnculos e rupturas sociais junto a trs mil indivduos moradores de 50 bairros considerados sensveis, isto , com maiores ndices de precarizao. O estudo de campo desenvolvido pelas consultoras em um distrito da periferia de uma metrpole do Sudeste permitiu algumas anlises comparativas de resultados.

    2) Aplicao dos conceitos discutidos por meio de ferramentas: foi construdo um Painel de Indicadores de Anlise de Territrios, Vulnerabilidades e Demandas de Proteo Social de Famlias; uma matriz para anlise e mtrica da capacidade protetiva das famlias Matriz Analtica da Capacidade Protetiva das Famlias; e, por fim, aplicado um questionrio de coleta de dados e anlise de famlias beneficirias Questionrio de Coleta de Dados de Famlias Beneficirias , a partir da discusso e construo de contedo aplicvel ao trabalho social com as famlias beneficirias de programas de transferncia de renda.

    3) Estudos de campo exploratrios: para testar as trs ferramentas construdas, as consultoras realizaram trs estudos de campo em um distrito desta metrpole do Sudeste:

    a) aplicao de questionrios a 50 agentes institucionais dos CRAS para conhecer suas percepes sobre o trabalho social com famlias que recebem benefcios de programas de transferncia de renda;

    b) aplicao do questionrio desenvolvido junto a 43 famlias que recebem programas de transferncia de renda e so moradoras de um dos distritos da periferia dessa metrpole do Sudeste;

    c) estudo desse distrito na condio de anlise territorial, com aplicao do Painel de Indicadores de Anlise de Territrios, Vulnerabilidades e Demandas de Proteo Social de Famlias, bem como de outras estratgias de anlise e indicadores (Mapa da Vulnerabilidade, ndice Paulista de Vulnerabilidade Social IPVS, indicadores ambientais).

    3. Contextualizao terica

    Segundo as autoras, a centralidade do trabalho com famlias ainda no est suficientemente explorada de modo a constituir uma orientao clara a ser aplicada pelo SUAS. Esta hiptese se assenta nos seguintes fatos: a) O Programa Bolsa Famlia (PBF) e o Benefcio de Prestao Continuada (BPC) no incluem nas respectivas avaliaes de seus resultados a presena e a qualidade do trabalho

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    social com famlias beneficirias; b) o Servio de Proteo e Atendimento Integral Famlia (PAIF) faculta o trabalho social com famlias beneficirias e no beneficirias; c) no existe instrumento padronizado para registro e avaliao de resultados do trabalho social com famlias; d) a ausncia de clareza ou objetivao do contedo do trabalho social com famlias pode levar a apreenses subjetivas dos operadores do programa; e) as normativas da poltica de assistncia social, ao manterem a dupla meno funo protetiva e capacidade protetiva das famlias, favorecem a presena do familismo no trabalho dos agentes institucionais; f) ausente, ainda, o aprofundamento da categoria capacidade protetiva da famlia para orientar o trabalho social; g) a condio de direito socioassistencial exige que o trabalho social com famlias tenha por direo atingir alcance massivo, no mnimo para os 15 milhes de famlias beneficirias, o que implica clara normatizao para todos os gestores e agentes institucionais.

    Este estudo partiu da constatao da ausncia de ferramentas padro para delimitar os territrios dos CRAS e, por consequncia, das famlias por ele abrangidas. Essa ausncia traz uma dificuldade para o entendimento de territorializao, bem como das famlias que deveriam ser abrangidas pelo trabalho social de um CRAS. De acordo com as autoras, a indicao numrica de famlias referenciadas no suficiente para estabelecer um padro de proteo social das famlias.

    Na prtica, o trabalho com famlias tende a ser caracterizado pela intersetorialidade, isto , pelo significado de insero em outras polticas sociais sem clara especificao do que seria a ateno na prpria poltica de assistncia social para alm do benefcio de renda. Desenvolver a proteo social a famlias de baixa renda atravs de uma ateno social massiva exige aclaramento ou objetivao de seu contedo, pois, de outra forma, leva a compreenses subjetivas ou mesmo residuais aos operadores dessa ateno espalhados em todo o territrio nacional. Com certeza existem conceitos fundamentais como ponto de partida. O primeiro deles o significado atribudo famlia e, um segundo, o entendimento do que cabe ao Estado em sua proteo. Por terceiro, o contedo do trabalho social face capacidade protetiva da(s) famlia(s). Este trabalho social supe o efetivo compromisso dos entes federativos para assumirem-no, assim como a responsabilidade pelo preparo dos agentes institucionais para oper-lo.

    Este estudo tem por objetivo construir os elementos componentes da categoria capacidade protetiva das famlias e, ao mesmo tempo, apresentar ferramentas bsicas que permitam sua aplicao pelos agentes institucionais e gestores da poltica de assistncia social nas anlises individuais e coletivas de agregados familiares por territrios de abrangncia dos CRAS. O objetivo deste estudo no foi o de inaugurar esses conceitos, mas se valer do que j est atribudo nos programas oficiais, a comear pela PNAS/2004, e decompor tais conceitos e responsabilidades, sempre que necessrio, na busca de melhor entendimento de suas implicaes para o trabalho social de campo e para a efetivao de direitos socioassistenciais. Ao se instalar em ambiente de proteo social parte-se inicialmente do entendimento que:

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    A pobreza uma situao complexa de cartermultidimensional. Maisdoqueumacategoriaeconmica,umacategoriapolticaquesetraduznospelosseusefeitosmateriais,mastambmpelaine-xistnciadedireitos,oportunidades,possibilidadese,atmesmo,deinformaes.Aoanalisaraproteosocialnaperspectivadasegu-ridadesocial,oquesetememcontano,propriamente,superarapobreza,oqueenvolvemedidasdepolticaseconmicasesociais,masalargarodireitoproteosocialparaalmdaquelesprovidospelalegislaotrabalhista,isto,comodireitodecidadania;

    Considera-sequeanoodeproteosocialquefundamentaapol-ticadeassistnciasocialorientadapelodesenvolvimentosocialehumanoesesubordinaconcepodecidadaniadobrasileiro.En-volverafamlianasociedadebrasileiranopodeprdeladoapers-pectivadegnero,principalmente,pelaalta incidnciade famliasmonoparentais e chefiadaspormulheres sem, com isto, criarumasobrecargadeculpaouresponsabilidadessobreasmulheres;

    Oentendimentodequeproteosocialaumafamlianotemosen-tidodetutelaoudedisciplina,esim,odedesenvolvimento/fortaleci-mentodecapacidadesquenoestolimitadasaoindividuoenquantomembrodeumafamlia,oumesmodestaemparticular,poisenvol-vemsuas relaes, suaspossibilidades e as condiesdo territrioondevive.Clarodeveestarqueessas relaesnosoautnomas,massobredeterminadaspelasociedade,oquepodeedevesermodi-ficado;

    Afamliaconsideradacomoumsujeito,portanto,ativaemseupro-cessodeproteo,enoalvodeumaaoouinstrumentoparaalcan-cederesultados.

    4. Resultados

    4.1. Discusso conceitual

    Famlia

    H formas diferenciadas de se identificar a famlia nas polticas sociais. Um dos entendimentos o de perceber a famlia como um instrumento para implementar uma dada poltica, ou seja, desempenhando um papel funcional nessa poltica. Nomina-se essa funcionalidade como familismo, significando que a poltica social acresce responsabilidades famlia que deveriam ser exercidas pelo Estado. Uma espcie de sinais trocados apresenta-se como poltica voltada para famlia, mas de fato, amplia o peso de responsabilidades da famlia. Outra concepo, que guarda certo alinhamento com o familismo, caracteriza a famlia como uma instituio redistributiva na medida em que capta recursos de diferentes polticas e as distribui entre os membros. A inexistncia de gesto integrada intersetorial

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    e territorializada pela gesto estatal exige que a famlia exera essas funes em carter substitutivo.

    Neste estudo, considera-se a famlia como locus de protagonismo social que segue na contracorrente da disciplinarizao, do isolamento ou da guetizao da famlia. A direo o reconhecimento dos pertencimentos a caminho da liberdade, da abertura ao coletivo. O estudo parte da considerao da famlia como um sujeito. Concorda-se com Sarti (2007)1 ao descrever que a famlia de menor renda tem configurao em rede e no em ncleos, o que resulta em se adotar uma elasticidade para compreenso da proteo social da famlia. As unies instveis, os empregos incertos e as inseguranas levam a que a famlia se configure a partir de uma rede daqueles com quem se pode contar nas horas difceis, daqueles em que pode confiar.

    Territrio

    O territrio, mais do que um conceito, um princpio da poltica de assistncia social. Neste caso mais do que um lugar, um espao de foras e agenciamentos de relaes. Ele tem uma dinmica que caracteriza a vida dos que ali vivem, entendido enquanto um espao relacional que tem relao inerente com a vida cotidiana das famlias que ali vivem. No esto ainda estabelecidos padres territoriais na poltica de assistncia social como, a exemplo, na poltica de sade, onde se identificam territrios de modo a permitir no s o conhecimento do perfil populacional, como tambm, fixar as referncias de coberturas de cada servio de ateno bsica ou especial. Essa ausncia termina por causar grande discrepncia no conceito de cobertura de cada servio.

    Nesse sentido, este estudo toma por base para definio de territrios de proteo bsica de assistncia social agregados de cerca de 20 a 30 setores censitrios, onde habitam cerca de 5 mil famlias ou cerca de 20 mil pessoas. Esta dimenso base para o estudo da capacidade protetiva das famlias e para identificar o grau de qualidade/risco dos lugares onde vivem. Centra-se, portanto, na oferta de servios bsicos ligados ao cotidiano da vida. A base territorial referncia no s para a anlise das protees e desprotees de uma famlia, como tambm para estabelecer o perfil do conjunto das famlias que ali vivem.

    Capacidade protetiva das famlias

    Por sua vez, a categoria capacidade protetiva da famlia, considerada para alm da capacidade da renda familiar per capita, possibilita a aplicao de conceitos dinmicos de vnculos sociais e territrios de vivncia, bem como, abre espao para incluir a presena da qualidade das relaes familiares nas atenes sociais e pode influir diretamente na concepo de proteo social.

    1 SARTI, C. A. Famlias enredadas. In: ACOSTA, A. R.; VITALE, M. A. F. (Org.). Famlia: redes, laos e polticas pblicas. 3. ed. So Paulo: Cortez, Instituto de Estudos Especiais, PUC/SP, 2007.

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    Os documentos oficiais falam de funo protetiva da famlia e capacidade protetiva da famlia, aplicados como sinnimos. H aqui, portanto, um salto conceitual necessrio entre a concepo de funo e de capacidade que merece ser destacada. A exemplo, o Protocolo de Gesto Integrada de Servios, Benefcios e Transferncias de Renda no mbito do SUAS2 se refere capacidade protetiva da famlia quando alude a situaes de no cumprimento de condicionalidades ou de reduo de vulnerabilidades e riscos sociais. A expresso a de recuperao da capacidade protetiva. Estaria sendo pensado que a capacidade protetiva da famlia uma condio posta que se recupera? Ser que a capacidade protetiva de uma famlia tem apenas uma dimenso intrafamiliar?

    A ideia de vnculos sociais associada proteo social permite sintetiz-la na expresso ter com que e com quem contar face s agresses, fragilidades, aos riscos sociais e, mais do que isso, em ter segurana, ampliar o sentimento de certeza e de reconhecimento na construo da vida social. Com esta afirmao, pode-se concluir que para alm das ofertas objetivas, como a presena de atenes pblicas, os vnculos sociais compem o potencial de proteo social. A condio de poder contar com significa grau de solidez de um vnculo. No basta ter uma unidade de sade em um territrio para sentir-se protegido caso no se possa contar com a presena (e o vnculo) com um mdico, por exemplo. Os vnculos se estabelecem entre parentes, amigos, vizinhos, mas tambm, com agentes dos servios gerando relaes de certeza.

    A concepo do PBF no desenvolve, no seu contedo, a exigncia de trabalho social com famlias beneficirias. s quando ocorre o no cumprimento de condicionalidades que ele vem tona. Isto permite a ilao de que esse trabalho seria dirigido to s s piores situaes e no, de fato, uma proteo. Para alguns agentes profissionais, a presena do beneficio j a ateno necessria, ou mesmo, a ateno de assistncia social, por consequncia o que faltaria seria o encaminhamento para outras polticas sociais. Para outros, se trata de desenvolver capacidades atravs da frequncia a cursos de capacitao ou ainda da oferta de servios pblicos.

    As polticas sociais tm se voltado mais para ateno a indivduos, no incorporando com o necessrio peso e objetivao os vnculos intrafamiliares e sociais. Assim, so olhadas crianas, jovens, idosos, mulheres como unidades sem pertencimentos. Por vezes olha-se a famlia como espao de abrigamento, desconsiderando-a como teia de relaes. Com isto, fragilizada a condio da famlia como sujeito social e suas relaes como fora social de peso na construo democrtica da sociedade.

    pouco conhecida a opinio expressa pela populao sobre o significado que atribui proteo social. Esta dimenso foi historicamente incorporada nas lutas sindicais, tendo por referncia o trabalho. Sua expresso social mais ampla

    2 Resoluo CIT n 07, de setembro de 2009.

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    e civilizatria est fragmentada em segmentos sociais (crianas, adolescentes, jovens, idosos, mulheres, afrodescendentes, indgenas etc.), nas lutas e movimentos sociais. Desta forma, h uma tendncia em se ter a leitura da demanda por proteo social hegemonizada pelo olhar tcnico e profissional. Por vezes, os movimentos femininos e feministas que exprimem parte dessa concepo pela demanda que dada s mulheres como provedoras de cuidados e proteo famlia.

    No mbito deste estudo, a capacidade protetiva da famlia foi considerada a resultante de um balano entre as possibilidades de proviso e as demandas de proteo social intrafamiliares; o grau de expanso e densidade dos vnculos sociais que se estendem para alm do ncleo familiar; e do acesso a: condies de proteo social ofertadas pelo territrio, presena e acesso a polticas pblicas, caractersticas das famlias que convivem no mesmo territrio independente de serem beneficirias ou no da assistncia social. Estes so elementos dinmicos que se inserem nos limites e possibilidades do modelo societrio que rege estruturalmente o alcance da proteo social como direito de cidadania.

    Portanto, a capacidade protetiva da famlia o resultado de um conjunto de elementos que permitem avaliar as condies e as possibilidades da famlia, como sujeito e como participante de um coletivo, em alcanar respostas qualificadas para enfrentar as dificuldades da vida, desde seu cotidiano e a partir do territrio onde vive.

    Vulnerabilidade

    A partir desse conceito de capacidade protetiva das famlias, as consultoras definem o conceito de vulnerabilidade como uma fragilidade na capacidade protetiva da famlia. Destacam que a famlia, seja qual for sua composio, um ncleo de solidariedade, afetividade, apoio mtuo, intimidade e partilha no enfrentamento do cotidiano. Quanto mais frgeis forem as condies de uma famlia face s demandas de seus membros, mais ser necessrio acionar sua capacidade protetiva.

    Ressaltam ainda que a vulnerabilidade um conceito multidimensional, envolvendo fases do ciclo de vida, infraestrutura da moradia, dimenses socioeconmicas, estrutura familiar, vnculos sociais disponveis, etc. Do ponto de vista de sua operacionalizao, graus de vulnerabilidade social podem ser definidos a partir das correlaes entre indicadores demogrficos e indicadores territoriais, configurando diferenas e desigualdades.

    Nesse contexto conceitual, as consultoras entendem a proteo social como o conjunto de prestaes estatais que combina a via monetria com a via dos servios, sendo que a proteo deve cumprir sua misso preventiva, fortalecendo aquisies e capacidades de resistncia, de enfrentamento dos revezes da vida individual, familiar e social.

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    4.2 Ferramentas

    Matriz Analtica da Capacidade Protetiva das Famlias

    A decomposio do conceito de capacidade protetiva da famlia realizada ao longo do estudo permitiu caracterizar sete elementos que compem a Matriz Analtica da Capacidade Protetiva das Famlias: a relao provedor/dependente; a relao quanti/qualitativa entre a condio de proviso face intensidade das desprotees da famlia; a segurana do trabalho face renda familiar; o alcance do desenvolvimento da escolaridade; a segurana de habitao e a qualidade de habitabilidade; segurana ambiental e integrao urbana; qualidade de vida. Esses elementos so apresentados no Quadro 1.

    Quadro 1: MATRIZ DE INDICADORES DA CAPACIDADE PROTETIVA DE FAMLIAS (continua)

    COMPONENTESDIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    RELA

    O

    PROV

    EDOR

    X D

    EPEN

    DEN

    TES

    grau de autonomia /

    dependncia entre os

    membros da famlia

    relao presena

    X ausncia dos

    membros da famlia

    no convvio familiar

    frequncia de contato

    entre os membros da

    famlia

    presena / ausncia

    de vnculos fora da

    famlia que partilham

    da relao provedor-

    dependente

    presena / ausncia

    de infraestrutura e de

    servios pblicos no

    territrio

    Presena / ausncia

    de rupturas familiares

    composio numrica e etria

    da famlia

    relao de genitor (s) X filho (s)

    Presena de adultos (+ de 21

    anos) X menores de 14 anos

    na famlia

    monitoramento do ciclo

    vital dos membros da famlia

    X presena de doena,

    deficincias e dependncias

    Presena de abandono/fuga

    / internao de membros da

    famlia

    presena de vnculos

    relacionais fora da

    famlia que partilham

    da proviso da famlia

    fragilidade de vnculos

    X demandas de

    proteo da famlia

    presena de convvio

    com vizinhos,

    parentes, amigos

    X possibilidade de

    contar com

    presena de trabalho

    socioassistencial com

    a famlia

    composio familiar

    mdia das famlias que

    vivem no territrio X

    famlia em estudo

    mdia da relao

    provedor-dependente

    no territrio X

    incidncia da relao da

    famlia em estudo

    incidncia de famlias

    com elevada razo

    de dependncia no

    territrio

    incidncia de demandas

    de proteo na famlia

    X presena de oferta de

    atenes pblicas

    presena de atenes

    atravs de servios

    pblicos no territrio

    presena de servios

    pblicos de sade,

    educao e assistncia

    social no territrio

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    Quadro 1: MATRIZ DE INDICADORES DA CAPACIDADE PROTETIVA DE FAMLIAS (continuao)

    COMPONENTESDIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    CON

    DI

    O DE

    PRO

    VIS

    O X

    SIT

    UA

    O D

    E DE

    SPRO

    TE

    O

    qualidade da

    satisfao das

    necessidades

    bsicas da famlia

    qualidade dos

    cuidados dos

    membros da

    famlia por

    ciclo de vida e

    contingncias

    qualidade da

    solidariedade

    intrafamiliar

    relao de

    pertencimento

    com o coletivo

    enquanto fator

    redutor da

    desproteo

    presena de

    perspectiva de

    construo de

    projeto para

    a sociedade, a

    famlia e o bairro.

    padro de satisfao de

    necessidades bsicas X

    ciclo vital dos membros da

    famlia

    padro de cuidados com

    crianas at 5 anos

    padro de cuidados com

    crianas de 6 a 11 anos e

    11 meses

    padro de cuidados com

    adolescentes de 12 a 16 anos

    padro de cuidados com

    jovens de 16 a 21 anos

    qualidade da relao pai /

    filho

    qualidade da relao me

    / filho

    qualidade da relao entre

    progenitores

    qualidade da relao entre

    filhos

    padro de cuidados com

    idosos, doentes, deficientes,

    dependente da famlia

    presena de violncia

    domstica

    presena de drogadio

    presena de adolescente sob

    medida socioeducativa

    presena de adolescente sob

    internao

    presena de gravidez na

    adolescncia

    intensidade da desproteo

    / proteo da famlia

    significado de proteo /

    desproteo social para a

    famlia.

    qualidade do convvio com

    vizinhos, parentes, amigos

    X condio efetiva de contar

    com

    presena de discriminao a

    membros da famlia

    incidncia de conhecimento

    do funcionamento e acesso

    ao CRAS para fortalecimento

    da proteo da famlia

    incidncia de conhecimento

    do funcionamento e acesso

    ao CREAS para situaes de

    proteo especial

    incidncia de conhecimento

    e funcionamento do

    conselho tutelar para

    defesa de crianas e de

    adolescentes

    incidncia de participao

    em associaes e atividades

    coletivas

    incidncia de apoio de

    grupos religiosos na

    proteo social

    incidncia de apoios

    de entidades sociais na

    proteo social

    intensidade de interesses

    para a vida social e coletiva

    frequncia a grupos de apoio

    em situao de gravidade e

    vitimizaes

    acesso a grupos de apoio em

    situaes de drogadio

    incidncia de acesso a

    organismos e movimentos

    de defesa de direitos

    capacidade dos servios de atender

    a demanda existente nos territrios

    possibilidade de incluso em

    programas de transferncia de

    renda, benefcios e segurana

    alimentar

    presena de famlias referenciadas

    ao CRAS X famlias beneficirias no

    territrio

    presena de CRAS no territrio

    e/ou equipe para trabalho

    sociofamiliar

    incidncia de referncia de famlias

    ao CREAS no territrio para ateno

    especial s famlias

    incidncia de ocorrncias junto ao

    conselho tutelar no territrio

    oferta de servios de proteo

    social bsica a famlias, inclusive o

    servio de proteo social bsica no

    domiclio

    incidncia da presena da ateno

    famlia no territrio atravs

    de programa de sade da famlia

    e do programa de proteo e

    atendimento integral famlia

    incidncia de violao de direitos

    de crianas e adolescentes no

    territrio

    ndice de cobertura e presena do

    trabalho sociofamiliar

    incidncia mdia de situaes de

    agravamento e desproteo das

    famlias que vivem no territrio

    incidncia mdia de famlias com

    cobertura de trabalho sociofamiliar

    no territrio

    incidncia mdia de famlias

    beneficirias no territrio

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    Quadro 1: MATRIZ DE INDICADORES DA CAPACIDADE PROTETIVA DE FAMLIAS (continuao)

    COMPONENTES

    DIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    SEGU

    RAN

    A D

    O TR

    ABAL

    HO

    E RE

    NDA

    FAM

    ILIA

    R

    grau de certeza do trabalho

    como fator agregador do

    convvio familiar

    grau de certeza do valor da

    renda mensal da famlia como

    fator bsico de proviso

    grau de consolidao da

    atividade profissional dos pais

    participao sindical como

    fator de qualidade da

    realizao de trabalho

    grau de acesso a benefcios

    (transferncia de renda, BPC,

    seguro-desemprego etc.) para

    segurana de renda e proviso

    de proteo

    presena do benefcio de

    proteo como fator agregador

    do convvio familiar.

    incidncia de trabalho formal

    X informal na famlia

    ausncia de frias, auxlio

    doena, salrio famlia e

    cobertura de aposentadoria

    incidncia de precarizao do

    trabalho

    incidncia e tempo sob

    desemprego de membros da

    famlia

    incidncia de estresse pelas

    condies de trabalho

    incidncia de acesso a crdito

    presena de benefcios na

    composio da renda familiar

    incidncia de renda per capita

    familiar igual ou superior a

    do salrio mnimo

    renda do trabalho X padro

    de vida e renda per capita na

    famlia

    melhoria de condies do

    padro de vida familiar X

    melhoria de salrio

    melhoria de condies do

    padro de vida familiar X

    presena de benefcios

    dependncia de benefcios

    pela proviso de proteo

    presena de interrupo de

    benefcios e impactos na

    proteo.

    participao

    sindical

    presena

    de formas

    de trabalho

    coletivas /

    economia

    solidria

    distncia entre local

    de trabalho e moradia

    oferta de acesso

    qualificao

    profissional para

    jovens e adultos

    incidncia das

    condies de trabalho

    e renda do conjunto

    das famlias do

    territrio

    incidncia do per

    capita mensal mdio

    das famlias que

    vivem no territrio

    incidncia mdia do

    valor dos benefcios

    no conjunto das

    famlias no territrio.

  • 12

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Quadro 1: MATRIZ DE INDICADORES DA CAPACIDADE PROTETIVA DE FAMLIAS (continuao)

    COMPONENTES

    DIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    ALCA

    NCE

    DO

    DESE

    NV

    OLV

    IMEN

    TO D

    A ES

    COLA

    RIDE

    estgio de

    escolaridade dos

    membros da famlia

    X faixa etria

    valorizao do

    estudo no convvio

    familiar

    presena de relao

    dinmica com a

    escola

    presena do

    analfabetismo

    presena do

    conhecimento dos

    direitos de crianas,

    adolescentes,

    idosos, mulheres,

    diversidade

    escolaridade dos provedores X

    escolaridade dos filhos acima de

    6 anos

    condio de desenvolvimento

    infantil de crianas com menos

    de 6 anos

    presena de interrupo

    de estudos em crianas,

    adolescentes e jovens

    presena de analfabetismo

    grau de expectativa dos pais em

    relao ao estudo dos filhos

    presena / ausncia na famlia

    de crianas, adolescentes e

    jovens que gostam de estudar e

    se destacam na escola

    freqncia a cursos de

    alfabetizao x presena de

    analfabetos na famlia.

    presena / ausncia da

    relao de participao

    na escola onde estudam

    os filhos

    presena dos filhos em

    jogos, competies,

    agremiaes ou

    atividades coletivas

    escolares

    frequncia a escola para

    atividades culturais, de

    lazer, associativas

    frequncia de

    adultos a cursos de

    complementao de

    escolaridade e de

    alfabetizao.

    oferta de atividades

    culturais, de lazer e

    associativas

    presena de iniciativas

    que fomentem a

    participao na escola

    oferta de vagas em

    creches, escola de

    educao infantil,

    fundamental, mdio,

    tcnico, para a formao

    dos filhos

    oferta de cursos de

    alfabetizao

    presena de aes

    de comunicao /

    formao desenvolvidas

    no territrio por

    organismos de defesa de

    direitos.

  • 13

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Quadro 1: MATRIZ DE INDICADORES DA CAPACIDADE PROTETIVA DE FAMLIAS (continuao)

    COMPONENTESDIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    SEGU

    RAN

    A D

    E H

    ABIT

    AO

    E Q

    UAL

    IDAD

    E DA

    HAB

    ITAB

    ILID

    ADE

    grau de segurana

    da moradia e

    qualidade da

    habitabilidade

    condies de

    habitabilidade

    da moradia x

    composio familiar

    qualidade da

    privacidade no

    espao de moradia

    relao de

    pertencimento com

    o bairro onde mora

    presena do uso

    de servios de

    infraestrutura na

    habitao

    garantia de moradia da

    famlia X tempo de ocupao

    de moradia

    situao de legalizao da

    moradia X garantia do morar

    localizao da moradia X

    caractersticas do bairro e do

    lugar

    estrutura construtiva e

    acabamento da moradia X

    regularidade X aceitao da

    moradia pela famlia

    densidade de ocupao

    dos cmodos de moradia X

    membros da famlia

    individualidade no uso de

    leito X membros da famlia

    acesso a banheiro interno X

    externo X presena de servio

    pblico de saneamento

    acesso a servios de

    distribuio domiciliar de

    gua e coleta de esgoto X

    crianas com menos de 6 anos

    na famlia

    acesso a programas de

    aquisio de moradia

    acesso a bolsa aluguel

    identidade com o bairro de

    moradia e suas caractersticas

    renda familiar X pagamento

    de IPTU, taxas de lixo,

    pavimentao, esgotos, entre

    outros.

    pertencimento a

    programas de moradia

    coletiva, mutires

    pertencimento a

    movimentos de

    moradia

    pertencimento a

    movimentos do bairro

    para melhoria de

    condies coletivas

    presena de oferta de

    moradia em programas

    habitacionais pblicos no

    territrio

    incidncia de moradia em

    conjunto habitacional,

    favela, casas isoladas,

    cortios, pelos habitantes

    do territrio

    presena e qualidade do

    transporte pblico do

    bairro / territrio

    tempo de deslocamento

    do bairro / territrio para

    o trabalho

    tempo de deslocamento

    do bairro / territrio ao

    ponto central da cidade

    presena de programas

    de segurana urbana para

    superar reas de risco

    presena de reas verdes,

    praas e espaos de lazer

    presena de programas de

    regularizao fundiria.

  • 14

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Quadro 1: MATRIZ DE INDICADORES DA CAPACIDADE PROTETIVA DE FAMLIAS (continuao)

    COMPONENTES

    DIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    SEGU

    RAN

    A A

    MBI

    ENTA

    L E

    INTE

    GRA

    O U

    RBAN

    A

    relao de segurana

    X interligao do

    territrio com

    a cidade e seus

    moradores

    topografia / uso e

    ocupao do solo X

    segurana urbana

    presena de

    situaes de

    calamidade X

    proteo social

    vivncia de calamidades

    pela famlia X

    desproteo X superao

    de proteo social

    qualidade do apoio

    da ateno pblica

    famlia na ocorrncia de

    calamidades

    acesso a programas de

    substituio de moradia

    aps calamidades

    incidncia de busca de

    situaes de habitao

    segura X oferta de

    possibilidades de ateno

    vivncia em territrios

    marcados pela segregao

    espacial.

    presena de suporte

    de parentes, amigos,

    vizinhos, para

    superar situaes de

    calamidade

    participao em

    movimentos e lutas

    pela superao dos

    riscos no territrio

    presena de atenes

    intersetoriais e benefcios

    para as vtimas de

    calamidade na ocorrncia

    de situaes de risco

    presena de reas de

    preservao ambiental X

    instalao de moradias

    presena de programas de

    monitoramento de risco em

    reas de risco X moradia

    incidncia de famlias

    vitimizadas por calamidade

    e situaes de risco

    X populao total do

    territrio

    incidncia da incluso no

    territrio em programas de

    melhorias urbanas

    incidncia da presena

    de redes e movimentos

    de integrao urbana no

    territrio, regio e cidade

    presena de associaes

    de preservao e

    desenvolvimento do

    territrio.

  • 15

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Quadro 1: MATRIZ ANALTICA DOS INDICADORES DE CAPACIDADE PROTETIVA DAS FAMLIAS (concluso)

    COMPONENTES

    DIMENSES

    SOCIOFAMILIAR SOCIORRELACIONAL SOCIOTERRITORIAL

    QUAL

    IDAD

    E DE

    VID

    A E

    CIDA

    DAN

    IA

    territorializao

    da abrangncia dos

    servios pblicos

    identificao da

    dinmica dos servios

    com a famlia e suas

    necessidades

    relao intersetorial e

    operao em rede dos

    servios instalados no

    territrio

    grau de segurana

    na vida da famlia no

    territrio

    grau de efetivao dos

    direitos humanos e

    sociais

    qualidade de vida

    ofertada no territrio

    presena de estratgia

    de sade da famlia na

    moradia

    grau de completude

    da ateno de pessoas

    doentes na famlia pelos

    servios pblicos

    avaliao do

    funcionamento de

    servios pblicos em

    face das necessidades das

    famlias moradoras no

    territrio

    qualidade de apoio dos

    servios pblicos em

    face da ocorrncia de

    situaes graves na

    famlia

    presena de sentimento

    de respeito aos direitos

    pelos membros da famlia

    conhecimento dos

    direitos sociais e das

    formas de acess-los

    presena da relao

    servios / benefcios

    de assistncia social na

    ateno s famlias

    presena da relao

    intersetorial entre

    servios na ateno a

    famlia

    presena / ausncia

    de apoio dos servios

    pblicos a situaes

    graves de desproteo na

    famlia.

    participao na

    dinmica de servios

    para avaliao de seu

    funcionamento

    participao em

    movimentos e lutas pela

    instalao de servios no

    territrio

    participao em

    movimentos e lutas

    por direitos humanos e

    sociais

    presena do suporte

    de parentes, amigos e

    vizinhos na construo

    da qualidade de vida

    familiar.

    ndice de cobertura

    dos domiclios e

    famlias do territrio

    por infraestrutura e

    servios pblicos

    ndice de cobertura

    dos domiclios e

    famlias por servios

    sociais bsicos no

    territrio

    ndice de cobertura de

    famlias em servios

    de proteo social

    bsica de assistncia

    social no territrio

    presena de violncia

    no territrio X

    presena de servios

    de segurana pblica

    presena de pontos

    de encontro e de lazer

    para a juventude no

    bairro / territrio

    presena e cobertura

    de iluminao pblica

    X segurana de

    circulao.

  • 16

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    A sntese desses sete elementos decorreu do entendimento conceitual que a capacidade protetiva uma composio de elementos desde os estruturais da sociedade brasileira aos conjunturais internos e externos da famlia, cuja dinmica varia pelo ciclo vital da famlia, pelas caractersticas das desprotees vivenciadas, pelo acesso a condies no territrio ofertadas pelas polticas pblicas e pelos vnculos que essa famlia estabelece, desde as relaes intrafamiliares, s vicinais, parentais e sociais.

    A aplicao da matriz pode ocorrer, quer individualmente, quer coletivamente, para o conjunto de famlias que vivem em um dado territrio.

    Painel de indicadores para anlise de territrios

    De modo a analisar as vulnerabilidades sociais a que esto expostas as famlias, o estudo prope que seja conhecida, em primeiro lugar, a predominncia de graus de vulnerabilidade social das famlias pelos setores censitrios que compem a rea de abrangncia de cada CRAS, visando conformao de um mapa de vulnerabilidade social por setores censitrios. Essa definio dos graus de vulnerabilidade deve se dar a partir das informaes presentes no Censo Demogrfico, que permitem incorporar diferentes dimenses da vulnerabilidade inclusive setores com maior concentrao de pessoas com deficincia, conforme dados do Censo 2010. A partir da seleo dos indicadores prioritrios, cria-se uma tipologia de intensidade de vulnerabilidade, organizando os setores censitrios desde baixa at altssima vulnerabilidade, usando 6 a 8 intervalos de agregao.

    Este primeiro nvel de anlise construo de um mapa de vulnerabilidade seria complementado com informaes oriundas de outras bases de dados tais como Cadastro nico, Censo SUAS, DATASUS, registros administrativos dos CRAS, entre outras visando caracterizao dos territrios onde vivem essas famlias do ponto de vista dos fatores de proteo social e de risco que comportam. Seriam territrios de risco, segregados, acolhedores? Neste segundo nvel de anlise, a consultora sugere como territrio de referncia os agregados de cerca de 20 setores censitrios, com cinco mil famlias ou cerca de 20 mil pessoas base similar de uma unidade bsica de sade, cerca de quatro escolas de ensino fundamental com mais de um turno e aproximadamente 15 creches, tendo por perspectiva a universalidade de cobertura. Esse exerccio permitiria definir os territrios prioritrios para a presena territorializada da poltica de assistncia social e suas relaes intersetoriais. Nessa anlise das caractersticas do territrio, a consultora sugere ateno especial a algumas dimenses: identidade do territrio; integrao urbana; proteo ambiental; incidncia de domiclios expostos a riscos e vulnerabilidade social do territrio.

    Uma terceira dimenso de anlise proposta envolve a caracterizao das demandas de capacidade protetiva das famlias, por meio de um balano entre as condies objetivas de vida (composio familiar, condies de moradia, escolaridade,

  • 17

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    trabalho e renda) e subjetivas (vnculos da famlia com a parentela, a vizinhana e as relaes societrias), de modo a captar os recursos e possibilidades com que conta para ampliar a proteo social. Nessa dimenso, so propostos alguns eixos de anlise: caractersticas das famlias; cobertura/acesso no territrio; caractersticas dos domiclios; vnculos familiares; vnculos com vizinhos; vnculos societrios; vnculos religiosos.

    Para cada uma dessas trs dimenses vulnerabilidade social, caracterizao dos territrios e demandas de capacidade protetiva das famlias so propostos alguns indicadores especficos.

    Questionrio de Coleta de Dados de Famlias Beneficirias

    O questionrio elaborado para a coleta de dados com famlias beneficirias de programas de transferncia de renda partiu do questionrio aplicado pelo grupo de pesquisa de Serge Paugam na periferia de Paris, sendo feitas as devidas adaptaes nfase em famlias, e no em indivduos, incorporao de questes presentes nos formulrios do Cadastro nico. O questionrio final teve como unidade de referncia a famlia beneficiria de programas de transferncia de renda e como respondente o membro da famlia responsvel pelo benefcio. Os blocos componentes desse questionrio foram os seguintes:

    A - Caracterizao do entrevistado

    B - Caracterizao da famlia

    C - Caracterizao do vnculo com a casa em que mora a famlia

    D - Vnculo com o bairro

    E - Percepo da capacidade de proteo social da famlia

    F - Vnculos intrafamiliares

    G - Vnculos com parentes

    H - Vnculos na vizinhana

    I - Vnculo com amigos

    J - Vnculos associativos / societrios

    K - Vnculos religiosos

    L - Vnculos com trabalho, mercado e consumo

    M - Acesso cobertura dos servios pblicos

    Esse questionrio foi aplicado junto a 43 famlias beneficirias de programas de transferncia de renda, residentes em quatro setores censitrios de um distrito da periferia da metrpole do Sudeste estudada. De maneira geral, os entrevistados

  • 18

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    mostraram baixo conhecimento do funcionamento do CRAS, baixa frequncia a esse servio, bem como a ausncia de trabalho social que amplie a proteo social de suas famlias.

    4.3 Estudo de campo

    No contexto institucional da gesto da assistncia social nessa metrpole do Sudeste, o trabalho nos CRAS no envolve o trabalho direto com famlias: este realizado por entidades sociais conveniadas. Os trabalhadores dos CRAS dessa cidade no recebem informaes e no dispem de instrumentais que lhes permitam conhecer antecipadamente quem so as famlias beneficirias que vivem no territrio. o responsvel pela famlia, quando ocasionalmente busca o CRAS, que revela, ou no, sua situao de beneficirio. Isto decorre no s pelo pequeno nmero de CRAS na cidade (um CRAS para 300 mil habitantes) como tambm pela ausncia de leitura territorializada do conjunto de famlias beneficirias. Decorre ainda da ausncia de normas no PBF e na implementao dos CRAS de instrumental padro para: caracterizao de territrio como condio individual e coletiva de proteo social; caracterizao territorializada do conjunto de famlias beneficirias. Essa ausncia termina por dar nfase individual no trabalho social com famlias ou ento, ao no registro dos procedimentos e resultados de trabalhos coletivos. Os instrumentais aplicados so dirigidos a relaes individualizadas como ficha do Cadastro nico, formulrios de busca ativa e formulrios de prontido para demandas individuais. Desse modo, no est instalada a relao entre beneficirios e servios na assistncia social. A prtica mais frequente a do encaminhamento para outros servios pblicos de carter intersetorial.

    Para os profissionais, os maiores problemas de desproteo esto relacionados com: o fato de a mulher conciliar seu trabalho com o cuidado de filhos pequenos; a presena de drogas e a vivncia em contextos de exposio violncia urbana. Consideram que essas situaes agravadas de desproteo no tm resolutividade no campo da assistncia social.

    Os elementos que conformam a percepo dos agentes institucionais sobre a capacidade protetiva das famlias tendem a dissociar os fatores objetivos e relacionais no mbito das famlias e dos territrios onde vivem como elementos de proteo social.

    5. Consideraes finais

    O propsito deste estudo foi analisar a capacidade protetiva das famlias beneficirias de programas federais de transferncia de renda (Bolsa Famlia e Benefcio de Prestao Continuada) em regies perifricas metropolitanas. Essa analise sups, por anterioridade, a construo conceitual da categoria capacidade protetiva das famlias, uma das dimenses da matricialidade sociofamiliar, princpio da poltica de assistncia social.

  • 19

    Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Trata-se de uma categoria que se coloca no mbito da proteo social que informa e conduz tanto a prtica profissional de agentes institucionais quanto o processo de gesto da poltica de assistncia social, como tambm, deve assegurar direitos sociais seguridade social. Essa dupla condio exigiu que construo conceitual da categoria se agregasse uma elaborao instrumental que viesse a contribuir para a gesto e a prtica profissional da poltica de assistncia social, por meio da construo de trs ferramentas de aplicao.

    O partido desse estudo ultrapassou a elaborao estritamente terica na medida em que buscou ouvir responsveis por famlias e agentes institucionais sobre o significado da proteo social, em particular da proteo de assistncia social.

    Como resultado do estudo conclui-se que a concepo de capacidade protetiva no algo inato ou dado partida, mas uma construo histrica. Assim entendida, essa construo tem contingncias e possibilidades que esto postas por determinaes prprias de uma sociedade de mercado com seus interditos e acolhimentos baseados na circulao e consumo de mercadorias.

    6. Recomendaes

    De acordo com o estudo, a implementao do SUAS deveria:

    Normatizar o princpio da territorializao de modo a possibilitar uma orientao clara aos gestores e agentes institucionais;

    Aplicar ferramenta analtica da proteo social das famlias que vivem nesses territrios e fixar as responsabilidades de cada um dos CRAS, sendo que a ferramenta Painel de indicadores colabora nessa direo;

    Incorporar a concepo da capacidade protetiva da famlia no princpio da matricialidade sociofamiliar, como um balano de elementos compostos por fatores estruturais e conjunturais, intra e extra familiares. A matriz analtica de indicadores vai nessa direo, sendo que seus elementos so indicativos para a padronizao de pronturio da famlia a ser utilizado nos CRAS;

    Assegurar a especificidade do trabalho social com famlias beneficirias no mbito da poltica de assistncia, como um servio de proteo social de acesso universalizado, uma vez que essa dimenso inerente proteo social se d para alm do benefcio financeiro.

  • Estudo da Capacidade Protetiva das Famlias Beneficirias de Programas Federais de Transferncias de Renda em Regies Perifricas Metropolitanas

    Secretaria de Avaliao e Gesto da InformaoEsplanada dos Ministrios | Bloco A | Sala 323CEP: 70.054-906 Braslia | DFFone: 61 3433-1509 | Fax: 3433-1529www.mds.gov.br/sagi

    Ficha TcnicaExecuo da Pesquisa Aldaza Sposati Consultora snior: coordenao do estudo

    Dirce Koga Consultora assistente para construo de ndices e indica-dores socioterritoriais

    Silvina Carro Consultora assisten-te para sistematizao de estudos e pesquisas sobre proteo social e famlias e para avaliao da capaci-dade protetiva junto a atores insti-tucionais

    Unidades Responsveis Secretrio de Avaliao e Gesto da Informao Paulo de Martino Jannuzzi

    Diretora de Avaliao Jnia Valria Quiroga da Cunha

    Coordenadora Geral de Resultados e ImpactosRenata Mirandola Bichir

    Equipe de acompanhamento da pesquisaElizabete Ana Bonavigo Danilo Mota Vieira Fernando Batista Pereira

    ColaboradorasHelena Ferreira de Lima Maria Cristina Abreu M. Lima

    Secretria Nacional de Assistncia SocialDenise Colin

    Diretora do Departamento de Proteo Social BsicaAid Canado Almeida

    ColaboradorasPriscilla Maia de Andrade Keli Rodrigues de Andrade Maria de Ftima Pereira

    Edio e Diagramao deste Sumrio Executivo Reviso Elizabete Ana Bonavigo Renata Mirandola Bichir Jnia Valria Quiroga da Cunha

    Diagramao Tarcsio da Silva