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Doença do trato urinário inferior Epidemiologia da urolitíase felina • Como abordar... Gatos com sintomas do trato urinário inferior • Nutrição e distúrbios urinários em gatos esterilizados • Análise quantitativa dos cálculos urinários em cães e gatos • Como tratar... O gato com DTUI – perspectiva do cirurgião • Endo-urologia e radiologia de intervenção do trato urinário • Métodos para medir o potencial de cristalização da urina - RSS vs. APR • Sal, hipertensão e doença renal crônica A revista internacional para o Médico Veterinário de animais de companhia VETERINARY # 17.1

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Doença do trato urinário inferior

Epidemiologia da urolitíase felina • Como abordar... Gatos com sintomas do trato urinário inferior • Nutrição e distúrbios urinários em gatos esterilizados •

Análise quantitativa dos cálculos urinários em cães e gatos • Como tratar... O gato com DTUI – perspectiva do cirurgião • Endo-urologia e radiologia de

intervenção do trato urinário • Métodos para medir o potencial de cristalização da urina - RSS vs. APR • Sal, hipertensão e doença renal crônica

A revista internacional para o Médico Veterinário de animais de companhia

VETERINARY

V

#17.1

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O grande objetivo

dos pesquisadores que

trabalham para a Royal

Canin é compartilhar nosso

conhecimento com os

nossos colegas da

comunidade veterinária,

através de variados

artigos e livros.

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EDITORIAL

Caro Colega,

Obrigado pela sua fidelidade e apoio à WALTHAM Focus ao longo dos últimos anos. Nomomento em que a presente edição marca o início do 17º ano de publicação, a equipeeditorial e o editor desejam expressar a sua gratidão. O nosso objetivo consiste emproporcionar ao leitor uma revista de veterinária de alta qualidade, com pareceres estado dearte no campo da medicina veterinária canina e felina. Para tornar a leitura mais agradável,temos o prazer de apresentar o novo aspecto gráfico, com uma nova concepção e melhorutilização das ilustrações.

Para esta edição, selecionamos o tema sobre os distúrbios urinários. Ao longo dos últimosanos, tem-se verificado um aumento do número de novos casos de urolitíases por estruvitaem felinos, apesar da redução significativa da prevalência desta afecção registada nos anos90. É muito importante que os clínicos disponham de boa informação sobre este distúrbio, deforma a realizar um tratamento eficaz e, simultaneamente, diminuir a sua prevalência.

Por último, a denominação WALTHAM Focus foi alterada para Veterinary Focus. Tendo emconta o volume de circulação de 100.000 cópias, em cerca de 50 países, consideramos damáxima importância a inclusão da palavra “Veterinária” no título!

Com os nossos votos de um excelente trabalho!

A equipe editorialDenise Elliott, Pascale Pibot, Pauline Devlin, Karyl Hurley e Richard Harvey

Consultores Editoriais• Drª Denise A. Elliott, BVSc(Hons), PhD, Dipl.ACVIM, Dipl. ACVN Comunicações Científicas,Royal Canin, EUA

• Drª Pascale Pibot, DVM, Directora dePublicações Científicas, Royal Canin, França

• Drª Pauline Devlin, BSc, PhD, Directora-Assistente Veterinária, Royal Canin, RU

• Drª Karyl Hurley, BSc, DVM, Dipl. ACVIM, Dipl.ECVIM-CA Assuntos Académicos Globais,WALTHAM

Editor• Dr. Richard Harvey, PhD, BVSc, DVD, FIBiol, MRCVS

Secretário Editorial• Laurent [email protected]

Ilustração• Arnaud Pouzet

Tradução• Paula Cortes

Revisão editorial para outras línguas :• Drª Imke Engelke, DVM (Alemão)• Drª María Elena Fernández, DVM (Espanhol)• Drª Eva Ramalho, DVM (Português)• Drª Paola Oppia, DVM (Italiano)• Drª Margriet Bos, DVM (Holandês)• Prof. Dr. R. Moraillon, DVM (Francês)• Drª Luciana D. de Oliveira, DVM (Português)• Drª Ana Gabriela Valério (Português)• Drª Wandrea S. Mendes (Português)

Publicado por: Buena Media PlusPCA:Bernardo Gallitelli

Morada:85, avenue Pierre Grenier92100 Boulogne – França

Telefone:+33 (0) 1 72 44 62 00

Impresso na União EuropeiaISSN 0965-4577Circulação: 100,000 cópiasDepósito legal: Fevereiro 2007

Publicado por Aniwa S. A. S.

Impresso no Brasil por: Intergraf Indústria Gráfica Ltda.

As autorizações de comercialização dos agentes terapêuticos para uso em animais de companhia variam muito a nível mundial. Na ausência de uma licença específica, deve ser consideradaa publicação de um aviso de prevenção adequado, antes da administração de tais fármacos.

Veterinary Focus, Vol. 17, nº1 – 2007

AGRADECIMENTOS: A ROYAL CANIN DO BRASIL AGRADECE A PROFA. DRA. MITIKA HAGIWARA PELA PRECIOSACONTRIBUIÇÃO NA REVISÃO DESTA EDIÇÃO DA REVISTA VETERINARY FOCUS.

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SUMÁRIO

Editorial p. 01

Conhecimento e respeito... As principais raças felinas atuais p. 03Catherine Bastide-Coste

Epidemiologia da urolitíase felina p. 04Doreen M. Houston

Como abordar... Gatos com sintomas do trato urinário inferior p. 10Jodi L. Westropp

Nutrição e distúrbios urinários em gatos esterilizados p. 18Jean-Jacques Bénet e Morgane Lamarche

Análise quantitativa dos cálculos urinários em cães e gatos p. 22Andrew Moore

Como tratar... O gato com DTUI – perspectiva do cirurgião p. 28Giselle Hosgood

Endo-urologia e radiologia de intervenção do trato urinário p. 31Allyson C. Berent

Métodos para medir o potencial de cristalização da urina p. 37- RSS vs. APRWilliam G. Robertson e Abigail E. Stevenson

Ponto de vista ROYAL CANIN... Diluição urinária: fator-chave p. 41na prevenção de urólitos de estruvita e de oxalato de cálcioVincent Biourge

Sal, hipertensão e doença renal crônica p. 45Scott A. Brown

Guia destacável... Atlas de sedimento urinário p. 47

ALEMANHA ARGENTINA AUSTRÁLIA ÁUSTRIA BAHREIN BÉLGICA BRASIL CANADÁ CHINA CHIPRE COREIA CROÁCIA DINAMARCA EMIRADOS ÁRABES UNIDOS ESLOVÉNIA ESPANHA ESTADOS UNIDOS DAAMÉRICA ESTÓNIA FILIPINAS FINLÂNDIA FRANÇA GRÉCIA HOLANDA HONG-KONG HUNGRIA IRLANDA ISLÂNDIA ISRAEL ITÁLIA JAPÃO LETÓNIA LITUÂNIA MALTA MÉXICO NORUEGA NOVA ZELÂNDIAPOLÓNIA PORTO RICO PORTUGAL REINO UNIDO REPÚBLICA CHECA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL REPÚBLICA ESLOVACA ROMÉNIA RÚSSIA SINGAPURA SUÉCIA SUIÇA TAILÂNDIA TAIWAN TURQUIA

A Veterinary Focus é publicada em inglês, francês, alemão, chinês, holandês,italiano, polonês, português, espanhol, japonês, grego e russo

Bengal

Maine Coon

Ilustração da capa: cálculo de oxalato de cálcio detectado na bexiga de uma cadela Schnauzer Miniatura esterilizada, com 8,5 anos e 9kgde peso. O cálculo media 18mm de diâmetro.

British Shorthair

CONHECIMENTO E RESPEITO

Visite a biblioteca científica para uma selecção de artigosda Veterinary Focus

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A revista internacional para o Médico Veterinário de animais de companhia

VETERINARY #17.12007 - 1 0 $ / 1 0€

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CONHECIMENTO E RESPEITO

As raças clássicas, umasituação mistaNa maioria das regiões do mundo(particularmente, na Europa), asraças British Shorthair e Siamêsencontram-se quase sempre na listadas dez mais populares (Tabela 1),seguida de perto pela raça Persa. Emcontrapartida, nos EUA a situação émuito diferente, com a ausência totaldo British Shorthair. Compilar dados“globais” significativos da EuropaContinental torna-se uma tarefadifícil, uma vez que cada país possuio seu próprio registro de felinosdomésticos. No entanto, foi possívelreunir e comparar alguns elementos,que se apresentam na Tabela 1. Osdados relativos a França já sãoreconhecidos pelo Ministério da

Agricultura (o primeiro caso naEuropa). No Japão, a raça Persa é a mais popular, imediatamenteseguida pelo American Shorthair. NaAustrália, Nova Zelândia e África doSul, os dados são muito semelhantesaos obtidos no Reino Unido.

Os Persa estão em declínioA longa supremacia dos Persa temsido ultimamente desafiada emdiversos países. Sobretudo os gatosde raça grande, como o Maine Coone o Gato das Florestas Norueguesas,estão tornando-se cada vez maispopulares. O Ragdoll e o Siberianoregistram também um aumento depopularidade. Uma característica queos torna particularmente atraentes éo fato de requererem menos cuidados

de higiene e de beleza que os Persa.

Raças ExóticasOs criadores estão constantementeem busca de novas raças que suscitemadmiração. Nos EUA, a TICA (TheInternational Cat Association) émuito ativa neste campo e, como se pode constatar através da Tabela 1, ultimamente o número deregistros da raça Bengal (resultantedo cruzamento entre gatos selvagense gatos malhados) é muito superior ao de qualquer outra raça. Emcontrapartida, na Rússia, as raçasSphinx, Scottish Fold e American Curlsão as mais populares. Na Austrália, araça Australian Mist apresenta umíndice crescente de popularidade.

Persa

Maine Coon

Exotic Shorthair

Siamês

Abissínio

British Shorthair

Siamês

Persa

Burmês

Sagrado da Birmânia

Bengal

Ragdoll

Maine Coon

Sphinx

Persa

Estados Unidos Reino Unido Europa Continental França

Tabela 1.Detalhes comparativos dos registros de raças felinas (dados de 2005, majoritariamente)

As principais raçasfelinas atuaisExistem cerca de sessenta raças reconhecidas mundialmente.A sua popularidade diverge consideravelmente de acordo comcada país.Por Catherine Bastide-Coste, Comunicações, LOOF (Registo oficial francês de raças de gatos)

Fontes:TICA- The International Cat Association (www.tica.org), CFA- the Cat Fanciers Organization (www.cfa.org), FIFe- Fédération Internationale Féline(www.fifeweb.org), GCCF- Governing Council of the Cat Fancy (www.gccfcats.org).

Gato das Florestas Norueguesas

Persa

Maine Coon

Sagrado da Birmânia

British Shorthair

Persa

Burmês

Chartreux

Maine Coon

Gato das Florestas Norueguesas

CFA TICA GCCF (30.000 registos) FiFe LOOF (17.000 registos)

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IntroduçãoIncidência, prevalência e taxa de morbidade propor-cional (PMR) são termos usados para descrever afrequência de uma doença (1). Define-se por taxa deincidência da urolítiase o número de novos casos desta

doença observados numa população, durante umperíodo de tempo definido (habitualmente anual). Aincidência de uma doença constitui-se em um dado útilpara os epidemiologistas, pois serve para medir o riscoda patologia. Define-se por prevalência da urolitíase onúmero total de animais de companhia de umapopulação que apresentem urólitos, num momentoespecífico. A prevalência difere da incidência, namedida em que não transmite informação acerca dorisco. A proporção de urolitíases na totalidade dos casosobservados em uma clínica ou hospital, em umdeterminado período de tempo, constitui a taxa demorbidade proporcional (PMR).

Infelizmente, estes termos são muitas vezes utilizadosde forma inadequada ou com alternância do sentido, oque pode dar origem a confusões quando se pretendecomparar dados de estudos diferentes. Além disso, nemtodos os países editam trabalhos sobre a urolitíase, e osdados publicados relativos a felinos são menosconsistentes entre países do que para a espécie canina,com representação de um número inferior de países.Por consequência, é bastante difícil conhecer averdadeira incidência, prevalência e PMR da urolitíasenos gatos, no mundo.

A doença do trato urinário inferior felino (DTUIF ouFLUTD - feline lower urinary tract disease) consiste emum grupo heterogêneo de distúrbios caracterizadospor sinais clínicos semelhantes, que incluemhematúria (macroscópica e microscópica), disúria,estrangúria, polaquiúria, micções inapropriadas(periúria, ou sinais de micção irritativa fora da caixa deareia), assim como, obstrução parcial ou total da uretra(2). Historicamente, a taxa de incidência da FLUTD temregistado valores <1% nos EUA e no Reino Unido (3,4).A PMR da FLUTD na América do Norte foi estimada em

Epidemiologiada urolitíase felina

Doreen M. Houston DVM, DVSc, Dipl. ACVIMMedi-Cal - Royal Canin Veterinary Diets Guelph, Ontário, Canadá

A Drª Houston é formada pela Faculdade de MedicinaVeterinária de Ontário (FVO), em 1980. Durante 4 anostrabalhou numa clínica veterinária em Thunder Bay, Ontário,regressando à FVO para prosseguir a sua formação (Internato,Residência e DVSc em Medicina Interna). Obteve o Diploma doColégio Americano de Medicina Interna Veterinária (ACVIM) em1991. A Drª Doreen M. Houston ingressou no corpo docente daFaculdade Ocidental de Medicina Veterinária da Universidadede Saskatchewan em 1990, alcançando o título de professoracatedrática em 1995. Durante o exercício da sua docência aDrª. Houston recebeu inúmeros prêmios de ensino. Em Julhode 1996, abandonou o meio acadêmico para integrar a equipede Veterinary Medi-Cal Diets Royal Canin em Guelph, Ontário.Atualmente desempenha as funções de Diretora de Pesquisae Ensaios Clínicos da Medi-Cal Royal Canin Veterinary Diets,Canadá. A Drª Houston é autora de diversos artigospublicados, de capítulos de livros e de um manual.

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<8% (5). A cistite idiopática é, indiscutivelmente, acausa mais comum de FLUTD relatada a nível mundialem gatos com idades entre 1-10 anos (1,2,6,7). Aurolitíase constitui a segunda causa de FLUTD e éresponsável por cerca de 13 a 28% das consultas dosgatos com doença do trato urinário inferior (1,2,7).

Modificação na tendência dos urólitos analisadosNos gatos, a maioria dos urólitos vesicais são compostospor fosfato de amônio e magnésio (estruvita) ou poroxalato de cálcio. A prevalência de urólitos de estruvita ede oxalato em felinos, modificou-se durante os últimos 20anos (Tabela 1). Até o final dos anos 80, os cálculos deestruvita analisados em dois dos principaislaboratórios dos EUA que realizam testes quantitativos,foram ultrapassados em larga escala pelos urólitos deoxalato (8). Entre 1984 e 2003, a proporção de cálculosde oxalato de cálcio submetidos ao Centro de Urólitos daUniversidade do Minnesota aumentou, aproximada-mente, de 3 para 40% (9). Em meados dos anos 90,observou-se um decréscimo dos urólitos de estruvitapassando o oxalato a ser o tipo de cálculo maisanalisado tanto na América do Norte como em

outras zonas do mundo, incluindo a Holanda e a Suiça(6-11). Contudo, desde 2002, tem-se registradoum aumento dos urólitos de estruvita, ultrapassandomesmo os de oxalato, que constituem hoje o tipo decálculo analisado com maior frequência nos EUA (Tabela1, Figura 1). Em cerca de 9221 urólitos felinos analisadosno Centro de Urólitos do Minnesota em 2005, os tipos deminerais mais comuns foram: estruvita (48%), oxalato(41%) e purina (4,6%) (9). Em 2005 no Canadá, foisubmetida à análise uma percentagem idêntica deurólitos de estruvita e de oxalato (10). Em Hong Kong,Itália e Reino Unido, os urólitos de estruvita consti-tuíram o tipo mais comum, para o período de tempo emanálise (1998-2000), situando-se o oxalato em segundolugar (11). As diferenças observadas na proporçãode cálculos de oxalato de cálcio e de estruvita nosdiferentes países podem estar relacionadas comdiversos fatores, incluindo o clima e o modo de vida (11).Em um estudo, os casos de urolitíase registraramaumento na sequência de períodos de clima adverso,durante os quais os animais permaneceram muito maistempo em ambientes fechados (12). O sedentarismo e oconsumo de alimentos com baixo teor de umidade ousecos podem também ter influência (12). Entre os

Figura 1.Alteração da proporção decasos analisados deestruvita para oxalato enova predominância daestruvita, durante osúltimos 20 anos, em felinosda América do Norte (9).

EstruvitaOxalato

Ano de estudo

% de casos

100%90%80%70%60%50%40%30%20%10%0%

1984 1990 1993 1995 1997 2001 2002 2003 2004 2005

Tipo de Mineral 1984 1986 1989 1990 1993 1995 1997 1998* 2001 2002 2003 2004 2005% Estruvita

EUA 88-90 85 70-80 65 54 50 42 34 40 42,5 44,9 48Canadá 48* 39* 39* 42* 42,7* 45*

% OxalatoEUA 2.4 3 10,6 19 27 37 46 55 50 47.4 44.3 41

Canadá 45* 54* 52* 48* 49,6* 45*% UratoEUA 2 5,6+ 6,3+ 6,80+ 5,60+ 4,60+

Canadá 4,3* 2,7* 3,3* 4,2* 3,9* 5,2*

Tabela 1.Alteração entre o tipo de urólitos, estruvita e oxalato de cálcio, submetidos à análise, nosEUA, durante as últimas 2 décadas, e no Canadá desde 1998

*Dados canadenses (O Centro Veterinário de Urólitos do Canadá iniciou sua atividade em Fevereiro 1998) + inclui dados de 1984 e 1986. É observável a predominância da estruvita durante os anos 80 e início dos anos 90; verifica-se um nívelpredomínio de oxalato no final dos anos 90 e início de 2000; a estruvita volta a registar valores superiores em 2005 (1, 8, 9, 10).

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urólitos relatados com menor frequência incluem-seurato de amônio, cistina, sílica, xantina, fosfato de cálcio,pirofosfato e os cálculos de sangue sólidos desidratados(DSBC).

Urólitos felinosA informação relativa à idade, sexo e raça dos gatos comurólitos encontra-se resumida na Tabela 2.

EstruvitaA estruvita é um dos minerais mais comuns nacomposição dos urólitos e plugs de muco observadosnas uretras de felinos (Figura 2). O Himalaia, o Persa eo gato doméstico são as raças referidas com maiorfrequência, com idade média de 5 a 7 anos (6,10,11).

Em gatos Rex, Burmês, Abissínio, Azul da Rússia,Sagrado da Birmânia e Siamês, o risco de formação decálculos de estruvita parece ser mais baixo (6,8,13).

Ao contrário do que sucede na espécie canina, no gato amaioria dos urólitos de estruvita é estéril (1,6,13). Ainfecção por organismos responsáveis pela quebra daurease é rara em felinos e observável, sobretudo, emgatos com menos de um ano de vida, em gatosidosos ou com fatores de comprometimento dohospedeiro (ureterostomias perineais, etc.). Os urólitosde estruvita formam-se devido à supersaturação daurina em magnésio, amônio e fósforo, e com um pHurinário >6,5, situação que pode resultar da depleçãodo volume intravascular e da retenção de água. Um

Tipo de urólito Raça Idade Gênero Outros

Estruvita

Oxalato

Urato

Cistina

Xantina

Sílica

Fosfato deCálcio

(brushita)

Pirofosfatos

Cálculossanguíneossolidificados

EUAForeign Shorthair; Ragdoll; Chartreux; Oriental

Shorthair; DPC*; Himalaia (6); Himalaia e Persa (8);DPC*, DPL** (19); Sem predileção racial (1)

CanadáDPC*, DPL**, DPSL***; Himalaia; Persa (10)

Reino UnidoDPC*; Persa (11)

EUAHimalaia, Persa (6, 17); Himalaia, Persa, Ragdoll;

Shorthair, Foreign Shorthair; Havana Brown, ScottishFold, Exotic Shorthair (6, 13); Burmês, Persa e

Himalaia (16, 17) Canadá

Himalaia, Persa (10)Reino Unido

DPC*, Persa (11)EUA

Nenhuma (19, 22)Canadá

Siamês, Mau Egípcio (10)EUA

Nenhuma (1)Canadá

Nenhuma (10)EUA

Nenhuma (1)EUA

Nenhuma (1)EUA

Nenhuma (1)Canadá

Nenhuma (10)Canadá

Nenhuma (10)Europa

Persa (25)EUA

DPC*; DPL** (8)

Tabela 2.Predisposição decorrente da idade, sexo e raça e outros fatores de risco em potencial de causar urólitos em gatos

*Doméstico de Pêlo Curto - ** Doméstico de Pêlo Longo - ***Doméstico de Pêlo Semi-Longo

Estéril: 3 meses – 22 anos;média 7,2 +/- 3,5 anos (1)Induzido por infecção;qualquer idade (1)5 anos em média nas fêmease <2 anos nos machos (19)1-2 anos (16)6,8 +/- 3,7 anos (11)

7 anos; 3 meses – 22 anos(1)Gatos maturos e risco superiorentre 10-15 anos (16)Picos bimodais com 5 e 12anos (17)7-10 anos (13)6,8 +/- 3,5 anos (11)

5,8 anos; 5 meses – 15 anos (1)4,4 +/- 2 anos (11)

Meia idade e mais velhos (2)

8 +/- 5 anos;5 meses – 19 anos (1)7,1 +/- 3,6 anos (11)

Fêmeas ligeiramente >machos (10, 19)Machos <2 anos maiscomum do que emfêmeas <2 anos (19)Machos ligeiramente >fêmeas (13)Macho = Fêmea (11)

Machos > Fêmeas(1,6, 10, 13, 16, 17)

Machos = Fêmeas (11)

Macho = Fêmea (1,6)Machos ligeiramente >fêmeas (10, 19)

Machos ligeiramente >fêmeas (10)

Nenhuma

Machos (10)

Fêmeas > machos (1)Machos > fêmeas (10)

Nenhuma (10)

Machos > fêmeas (8, 10)

• Excesso de peso / inativo

• Consumo reduzido deágua (1)

• Urina alcalina (1)• Vida em ambientesinternos(17)

• Excesso de peso / inativo• Consumo reduzido de água

• Ingestão de dietasacidificantes de urina (17)

• Vida em ambientesinternos (17)• Hipercalcemia sérica (18)• Consumo reduzido de água

• Shunts porto-vasculares• Infecções do trato urinário• Consumo reduzido de água• Vida em ambientes internos

• Defeito metabólicocongênito (23)

• Defeito congênito do meta-bolismo da purina (24)

• Consumo reduzido deágua

• Consumo reduzido deágua

• Hiperparatiroidismoprimário (19)

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estudo de casos clínicos destacou o aumento do riscopela administração de dietas com teores elevados demagnésio, fósforo, cálcio, cloreto e fibra, níveismoderados de proteína e baixo teor de gordura (14). Asdietas contendo 0,15 a 1,0% de magnésio, na matériaseca, estão associadas à formação de urólitos deestruvita. Contudo, a ação do magnésio depende daforma deste mineral e do pH da urina (15). Buffington,et al. relataram que os gatos com administração de 0,5%de cloreto de magnésio não evidenciaram formação deurólitos de estruvita, enquanto que os felinos com 0,5%de óxido de magnésio apresentaram este tipo decálculo. A diferença em termos de formação de estruvitafoi devido ao fato do óxido de magnésio promover aprodução de urina alcalina, enquanto o cloreto demagnésio favorece a formação de urina ácida que temcarácter protetor (15).

Oxalato de cálcioAs raças Himalaia e Persa parecem mais predispostas aorisco de urolitíase por oxalato de cálcio (6,8,10,11,13)(Figuras 3 e 4). Até o momento não existe explicaçãopara o aparente aumento do risco de formação de urólitosde oxalato de cálcio, embora seja associado ao usofrequente de dietas acidificantes com restrição do teor demagnésio, de modo a controlar a formação de urólitos deestruvita (6,13,14,16,17,18). A acidúria persistente podeestar associada a uma acidose metabólica de baixaintensidade, que promove a mobilização óssea decarbonato e de fósforo para os íons tampão dehidrogênio. A mobilização simultânea de cálcio,associada à inibição da reabsorção deste mineral nostúbulos renais provoca o aumento da excreção urináriade cálcio (hipercalciúria). Lekcharoensuk, et al.relataram probabilidade três vezes superior de formaçãode urólitos de oxalato de cálcio em gatos alimentadoscom dietas formuladas para induzir pH urinário situadoentre 5,99 e 6,15 (13,14). Em 5 gatos com hipercalcemia eurólitos de oxalato de cálcio, a descontinuação de dietasacidificantes ou a administração de acidificantesurinários foi associada à normalização das concentraçõesde cálcio sérico (18). No entanto, muitos gatos sãoalimentados com dietas acidificantes e apenas algunsdesenvolvem hipercalcemia, acidose metabólica eurolitíase de oxalato de cálcio. Consequentemente, éimportante levar em consideração fatores como ahiperabsorção gastrintestinal ou o aumento da excreçãorenal de cálcio em pacientes com maior susceptibilidade.O aumento da absorção intestinal de cálcio pode resultardo excesso de cálcio dietético, excesso de vitamina D ouhipofosfatemia. Por outro lado, o aumento da excreçãorenal de cálcio pode ocorrer devido ao decréscimo da

reabsorção tubular renal (furosemida e corticosteróides),ou ao aumento da mobilização de cálcio das reservas doorganismo (acidose, hiperparatiroidismo, hipertiroidismo,excesso de vitamina D) (1,19).

Um estudo de casos clínicos demonstrou que os gatosalimentados com dietas com teores reduzidos deumidade e de proteína apresentam maior risco deurolitíase por oxalato de cálcio (14). Foi igualmente

Figura 3b.A análise revelouurólitos compostospor 100% de oxalatode cálcio. Imagem: cortesia deAndrew Moore, CVUC,Guelph, Ontário,Canadá.

Figura 4.Urólitos de oxalato felinos com aspecto variável. Frequentemente, odiidrato de oxalato de cálcio revela uma aparência laminada, tal comoé observável no canto inferior direito da figura. De forma geral, omonoidrato de oxalato de cálcio é arredondado, como o exemplo quese apresenta no canto inferior esquerdo da imagem. Imagem: cortesia de Andrew Moore, CVUC, Guelph, Ontário, Canadá.

Figura 2.Variabilidade doaspecto dos urólitosde estruvita emfelinos. Imagem: cortesia deAndrew Moore, CVUC,Guelph, Ontário,Canadá.

Figura 3a.Radiografia latero-lateral que evidenciainúmeros cálculos, depequenas dimensões,radiopacos, na uretrade um gato machocom FLUTD.Radiografia: cortesiado Dr. Brian Crabbe,Port E lgin, Ontário,Canadá.

EPIDEMIOLOGIA DA UROLITÍASE FELINA

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relatado aumento do consumo de água, do volumeurinário e da excreção de fósforo na urina em felinoscom administração de dietas ricas em proteínas, emboraa excreção de cálcio não tenha aumentado. A depleçãodo volume intravascular e a concentração do volumeurinário potencializam o risco de supersaturação daurina em cálcio e em oxalato. Os gatos alimentados comdietas úmidas apresentam cerca de 1/3 deprobabilidade de desenvolver urólitos de oxalato decálcio, comparados a gatos que recebemalimentos com pouca umidade(14). Os alimentosricos em umidade estão associados com o aumento deprodução de urina menos concentrada, quandocomparadas a dietas com pouca umidade.

A piridoxina (vitamina B6) aumenta a transaminação de glioxilato, importante precursor do ácido oxálico,para glicina. Deste modo, a carência em piridoxinaaumenta a produção endógena e subsequente excreçãode oxalato. Não foi relatada, até o momento, qualquerforma de ocorrência natural desta síndrome. Alémdisso, a suplementação com vitamina B6 não reduz aexcreção urinária de ácido oxálico, comparativamente àadministração de dietas contendo níveis adequadosdesta vitamina (20).

Tanto a restrição quanto a suplementação de magnésiodietético estão associadas ao maior risco de urolitíasepor oxalato de cálcio em gatos. Consequentemente, nointuito de minimizar os riscos deste distúrbio, as dietasnão deverão conter nem um teor muito restritivo, nemsuplementação de magnésio (14).

Nos humanos é sugerido desde há muito tempo que asuplementação com cloreto de sódio permite aumentara excreção urinária de cálcio. Contudo, um estudoepidemiológico recente conduzido por Lekcharoensuk,et al. não sustenta esta hipótese, ao descobrir que oaumento de sódio dietético reduz o risco de formaçãode urólitos de oxalato de cálcio no gato (14).

O risco de formação de urólitos de oxalato de cálcioaumenta com a idade. Smith, et al. relataram umaprodução urinária em gatos idosos (idade média: 10,63+/- 1,32 anos) com valores RSS para a estruvita,significativamente inferiores (0,721 +/- 0,585 vs. 4,984+/- 4,028) e níveis RRS para o oxalato de cálcio bem maiselevados (3,449 +/- 1,619 vs. 0,911 +/- 0,866), emcomparação a um grupo de gatos mais jovens (4,06 +/-1,02 anos). Os gatos idosos apresentaram um pH urinárioacentuadamente mais baixo que os felinos mais jovens(6,08 ± 0,22 vs. 6,38 +/- 0,22, respectivamente). Estedecréscimo observado nos animais mais velhos explica, em

parte, a maximização do risco de formação de urólitos deoxalato de cálcio decorrente do envelhecimento (21). O modo de vida em ambientes fechados é tambémconsiderado um fator de risco para urolitíase por oxalatode cálcio (7,12,17).

Urato de amônioO urato de amônio é o terceiro urólito habitualmenteidentificado em gatos. É composto por ácido úrico e pelosal de amônio monobásico deste ácido (urato ácido deamônio) (1,8). Em comparação com a estruvita e o oxalato,caracteriza-se por uma baixa prevalência e não sofreualterações significativas durante as últimas 2 décadas(Tabela 1). No Canadá, dos 321 cálculos analisados comourato de amônio, 10 eram provenientes de gatos Siamês(3,1%) e 9 de Maus Egípcios (2,8%) (10). Os urólitos deurato podem formar-se em gatos com shunts porto-sistêmicos ou qualquer forma grave de disfunção hepática,situações por vezes associadas a um decréscimo daconversão hepática da amônia para uréia que resulta emhiperamonemia. Nesta espécie os urólitos de urato sãotambém observáveis em animais com infecções do tratourinário, condizentes ao aumento de amônia urinária, emgatos com acidose metabólica e urina com elevada acidez,assim como em felinos alimentados com dietas de teorelevado em purinas, como fígado e outras vísceras (22). Noentanto, na maioria dos pacientes felinos a patogênesepermanece desconhecida (8).

Fosfato de cálcioOs urólitos de fosfato de cálcio são pouco comuns no gato.A hidroxiapatita e a apatita carbonatada são as formashabitualmente observadas; a bruxita (diidrato de cálcio,hidrogênio e fosfato) é menos frequente. Os urólitos purosde cálcio e fosfato podem estar associados a hiperpara-tiroidismo primário, a distúrbios predisponentes àhipercalciúria (hipercalcemia, excesso de vitamina D,acidose sistêmica, excesso de cálcio dietético), ou à hiper-fosfatúria (excesso de fósforo dietético), à diminuição dovolume urinário, urina muito alcalina e, pelo menos nocaso de nefrólitos, à presença de coágulos sanguíneos (1).Estes ocorrem com frequência como um componentemenor, juntamente com os cálculos de estruvita e deoxalato de cálcio.

CistinaOs urólitos de cistina formam-se em gatos com cistinúria,malformação metabólica congênita caracterizada poruma deficiente reabsorção tubular proximal de cistina ede outros aminoácidos (ornitina, lisina, arginina) (23).Não foi relatada qualquer predisposição óbvia de sexo ouraça, embora o risco seja maior em gatos Siamês (6,19).Acomete sobretudo felinos de meia-idade e idosos (23).

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EPIDEMIOLOGIA DA UROLITÍASE FELINA

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SílicaOs urólitos de sílica são pouco frequentes. Ainda quecom base em dados limitados, não parece existirpredisposição de raça, sexo ou idade. No entanto, noCanadá o número de cálculos analisados provenientesde machos foi ligeiramente superior ao de fêmeas (10).Desconhece-se a causa deste tipo de urólitos em gatos.

XantinaOs urólitos de xantina são raros e podem resultar de umdefeito congênito no metabolismo das purinas ou daadministração de alopurinol. Na maioria dos casos nãoexistem fatores de risco identificáveis. Não foi relatadaqualquer predisposição aparente de raça, sexo ou idade(24). Risco de reincidência elevado (no intervalo de 3 a12 meses) (24).

Pirofosfato de magnésio e potássioForam identificados urólitos de pirofosfato de magnésio ede potássio em 4 gatos Persa (25). No Canadá, no totalforam analisados 15 deste tipo de urólitos no CVUC(Centro Veterinário de Urólitos do Canadá). A maioriaocorreu em gatos domésticos (66,7%) e 2/3 dos urólitosforam identificados em machos. Cinco ocorreram em gatosde raça (2 Himalaia, 2 Persa e 1 Maine Coon). Outros 9urólitos apresentaram núcleo de oxalato de cálcio (8)

ou de estruvita (1) recoberto por cálculos de pirofosfato(10). Apesar da sua etiologia não estar totalmenteelucidada, postula-se que esteja relacionada com umadisfunção enzimática temporária ou permanente queprovoque a supersaturação urinária de pirofosfatoconducente, por sua vez, à cristalização do urólito (25).

Cálculos sanguíneos sólidos desidratados(DSBC)Foram relatados casos de DSBC em felinos da Américado Norte (8) com etiologia desconhecida. Em geral,estes cálculos não contêm qualquer material cristalino emuitos são radiolucentes.

Urólitos mistosOs urólitos mistos ou compostos consistem em um núcleo deum determinado tipo de mineral e pedra ou concha de outrotipo de mineral. Formam-se em virtude da sobreposição defatores que promovem a precipitação de um tipo de urólitosobre fatores anteriores que favoreciam a precipitação deoutro tipo de mineral. Alguns minerais funcionamtambém como núcleo de depósito de outro tipo de mineral;por exemplo, todos os tipos de urólito predispõem ainfecções do trato urinário, passíveis de originar aprecipitação secundária de estruvita.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COMO ABORDAR...

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Introdução A doença do trato urinário inferior (DTUI) nos gatos incluidiversas associações de manifestações: tentativas frequentes eesforço de micção, micções inapropriadas (periúria), micçõesdolorosas e presença de sangue na urina (hematúria). Estessinais não caracterizam uma doença específica: podem ser

observados em gatos com cálculos vesicais (cálculos císticos),infecções bacterianas do trato urinário, neoplasia, ou outraslesões por massas vesicais. Em cerca de dois terços dos casos,os clínicos não conseguem descobrir uma causa específicapara os sinais clínicos, pelo que se referem a esta síndromecomo cistite idiopática felina (CIF) (1).

Anamnese e exame físicoA elaboração de uma anamnese completa pode revelar-semuito importante para determinar a presença de poliúria,polidipsia, polaquiúria (micção frequente de pequenosvolumes de urina), estrangúria, hematúria, ou se o gatoapresenta uma combinação destes sinais clínicos. Por outrolado, a história do paciente auxilia igualmente a decidir quaisos diagnósticos mais importantes. É importante obterinformações sobre o ambiente, sobretudo em felinos commaior probabilidade de CIF. Deve realizar-se sempre umexame físico minucioso do trato urinário inferior e da regiãoperineal circundante.

DiagnósticoExame de urina e cultura: a urinálise conduzida em gatoscom DTUI apresenta resultados variáveis (alterações comohematúria, proteinúria, piúria, cristalúria e densidade), quesão pouco característicos de afecções específicas da bexiga.Por exemplo, tanto hematúria como proteinúria, sinais devasodilatação suburetral e derrame vascular, independen-temente da sua etiologia, podem ser temporários – presenteem uma micção, mas não na seguinte. Em caso de infecçãodo trato urinário, pode ser observada piúria. Contudo, estesinal clínico (habitualmente, em quantidades mínimas) podetambém manifestar-se numa cistite estéril. Além disso,menos de 2% dos gatos com idade inferior a 10 anosapresentam cistite bacteriana verdadeira , porém, a culturaurinária é geralmente um teste pouco elucidativo. A

Gatos com sintomas do tratourinário inferior

Jodi L. Westropp, DVM, PhD, Dipl. ACVIM Departamento de Medicina e Epidemiologia Veterinária,Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade daCalifórnia, Davis, CA 95616 EUAA Drª Westropp realizou o seu curso universitário naUniversidade Estadual de Ohio, onde permaneceu atéconcluir o curso de medicina veterinária, em 1997. Em seguida, completou um ano de internato em medicina ecirurgia de pequenos animais em Nova Iorque. Regressou ao Ohio para efetuar a residência em medicinainterna e o PhD. Obteve o Diploma em 2001 e concluiu oDoutorado em 2004. Atualmente, é professora assistente dodepartamento de medicina e epidemiologia da Faculdade de Medicina Veterinária, na Universidade daCalifórnia, em Davis. O seu principal interesse na área dapesquisa centra-se nos distúrbios do trato urinário inferior,em cães e gatos. A Drª Westropp detém também o cargo dediretora do Laboratório de Análise de Cálculos UrináriosGerald V. Ling, na UCD.

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probabilidade de infecção do trato urinário aumenta com aidade, com a presença de cálculos císticos, deureterostomias perineais (2) e de urina diluída (3).Pode também ser observada cristalúria em diversos gatossem manifestação de sinais clínicos associados ao tratourinário inferior. No entanto, pode constituir um dadorelevante em pacientes com predisposição para a recorrênciade cálculos urinários. Uma vez que a CIF é um diagnóstico deexclusão, preconiza-se a realização de análise e culturaurinárias, em gatos com DTUI recorrente e não sujeitos aavaliação anterior. A densidade da urina deve sercuidadosamente analisada, sobretudo em felinos maisvelhos, de modo a verificar a existência de concentraçãoadequada, levando-se em conta que o tipo de dieta (seca>1,040 vs. em lata >1,030) pode inf luenciar oresultado. Consequentemente, o clínico deverá recomendarveementemente a realização de exame de urina em gatosidosos, ou se o felino evidenciar outros distúrbios compresença de isostenúria (ex. hipertiroidismo, insuficiênciarenal) ou tenha sido submetido a cirurgias anteriores.

Radiografia: a radiografia abdominal simples, que abranjatodo o trato urinário (incluindo a uretra), pode constituir -seem instrumento diagnóstico de grande utilidade em gatoscom DTUI. É aconselhável aplicar enema de água morna antesdo exame radiológico para conseguir avaliar completamente auretra. Aproximadamente 15 a 20% dos pacientes felinos comDTUI apresentam evidências radiográficas de cálculos císticos(4). Em algumas situações, a cistografia contrastada podeajudar a revelar lesões, como cálculos não radiopacos, massasou coágulos sanguíneos. Os estudos de contraste sãoparticularmente indicados para gatos mais velhos, com menorprobabilidade de CIF.

Cistoscopia: Se o gato apresentar episódios recorrentes deDTUI e já tiverem sido efetuados os diagnósticossupramencionados, poderá ser considerada a realização deuma citoscopia. Este procedimento permite visualizar auretra e a bexiga em baixas e altas pressões, o que facilita adetecção de pequenos cálculos císticos, divertículos,ureteres ectópicos e pequenos pólipos. Caso não sejaobservável nenhum destes elementos, é possível avaliar ograu de gravidade do edema, de glomerulações (pequenashemorragias localizadas), da friabilidade e de fibroses. Se ocenário cistoscópico indicar, ocasionalmente, deverá seconsiderar a realização de biópsia da bexiga para análisehistopatológica e eventual cultura.

Os exemplos apresentados a seguir são casos apresentadosaos nossos clínicos ou combinações de diversos casos, parailustrar diferentes diagnósticos e estratégias terapêuticas

para gatos com DTUI.

Caso Nº 1Onion é uma fêmea esterilizada de raça doméstica de pêlocurto, com 3 anos de idade. Foi levada à consulta devido aum primeiro episódio de periúria, estrangúria e hematúria,ocorrido há um dia e meio.

Histórico do animal:Os proprietários adotaram a gata com2 anos de idade de um abrigo e não tinham observadoqualquer problema no passado. Relataram a inexistência depoliúria ou polidipsia. A gata vive exclusivamente emambiente fechado, sem outros animais de companhia econsome um alimento seco comercial para felinos.

Exame físico: De maneira geral, o exame não destacouobservações especiais, com exceção de perda de pêlo inguinalbilateral e auto-escoriações óbvias na mesma área (Figura 1).Apresentava bexiga pequena e a gata ressentiu-se durante apalpação deste órgão. Escore de Condição Corporal (ECC) =6/9.

Lista de problemas:1. DTUI caracterizadas sobretudo por periúria, hematúria eestrangúria. 2. Perda de pêlo inguinal e auto-escoriações.

Avaliações: O diagnóstico diferencial para as DTUI,num gato com esta idade, inclui: CIF, urolitíase,problemas comportamentais e infecção do tratourinário. Outras afecções, como neoplasia,divertículo da bexiga, outras anormalidadesanatômicas ou estenoses uretrais, são menos prováveisem felinos que apresentem estes sinais clínicos e estaanamnese. Provavelmente, a alopecia é auto-induzidaem resultado da dor provocada pela doença da bexiga.Em alguns casos individuais, poderá ser considerada a

Figura 1.Alopecia simétrica navirilha e abdomeventral, no Caso 1.

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existência de distúrbios dermatológicos primários.

Plano de diagnóstico: Apesar de se tratar da primeiramanifestação de DTUI, o proprietário optou pela realizaçãode procedimentos de diagnóstico adicionais. Foi realizadaradiografia abdominal, com o cuidado de incluir todo otrato urinário inferior; não foram detectadas alterações e abexiga apresentava-se pequena. A análise e cultura urináriasrevelaram densidade de 1,049 com> 100 RBC/hpf(Glóbulos vermelhos por campo de ampliação). A culturaurinária apresentou resultado negativo.

Diagnóstico: Grande probabilidade de CIF.

Recomendações no caso da Onion: As causas de CIF nãoestão ainda totalmente elucidadas. Felizmente, cerca de85% dos gatos com CIF não apresentam recorrênciasubsequente dos sinais clínicos. De acordo com a minhaprópria experiência, é bastante útil esclarecer aos proprie-tários sobre a doença, transmitindo os conhecimentosclínicos, para que estes possam compreender os sinaisclínicos do animal.

Uma premissa universal é que a CIF não constitui um simplesdistúrbio da bexiga, mas que envolve interações complexasdos dois principais ramos do sistema de resposta corporal aostress: o sistema nervoso simpático e o sistema endócrino. Nosseres humanos ocorre uma doença semelhante denominadacistite intersticial. Ambas parecem apresentar evolução com‘‘altos e baixos’’, exacerbado pelos fatores de stress (5). Osistema nervoso simpático age através da liberação decatecolaminas, como a norepinefrina (NE) e a epinefrina,enquanto as glândulas adrenais liberam cortisol e umconjunto de outros esteróides. A CIF caracteriza-se por umasobreatividade do sistema nervoso simpático (6) e por umafraca resposta endócrina (7) a fatores de stress que parecemnão afetar os gatos saudáveis. Alguns estudos demonstraram

aumento de NE e de outros metabólitos de catecolaminas emgatos com CIF face a um fator de stress ligeiro, em comparaçãoa felinos saudáveis (Figura 2). Qualquer estratégia detratamento que diminua a descarga do sistema nervososimpático pode revelar-se importante para a redução dossinais clínicos, assim como reduzir a nocividade da urina paraa parede lesada da bexiga e normalizar a permeabilidadedeste órgão.

Além do sistema nervoso simpático, também se observamanomalias no eixo hipotalâmico-pituitário-adrenal(HPA) em gatos com CIF. Após administração de doseelevada (125�g) de ACTH sintético, os felinos com estaafecção evidenciaram decréscimo significativo nas respostasde cortisol sorológico, em comparação com os animaissaudáveis (8). Muito embora não tenham sido identificadasalterações histológicas óbvias, as áreas constituídas pelaszonas fasciculadas e reticuladas eram consideravelmentemenores em secções das glândulas dos gatos com CIF que nosanimais saudáveis. Assim, enquanto o sistema simpático-neural parece encontrar-se totalmente ativado nestedistúrbio, o mesmo não sucede com o eixo HPA.

É provável que a patofisiologia da CIF envolva interaçõescomplexas entre diversos sistemas do organismo. Asanomalias não se localizam apenas na bexiga, mas também,nos sistemas ner voso, endócrino, gastrintestinal,comportamental e até cardiovascular (9). Não foi aindadeterminado porque estes sistemas se manifestam sob aforma de CIF em certos gatos e em outros não. No entanto, opadrão de imprevisibilidade sustenta a presença de umaalteração subjacente comum que se expressa de formadistinta, com base na susceptibilidade individual. Para quepossam proporcionar um tratamento mais adequado a estesdoentes, é importante que os clínicos compreendam que estasíndrome não constitui apenas uma “doença da bexiga”,controlável pelo simples uso de terapias dietéticas ouquimioterápicas.

Com base nos dados obtidos em pesquisas conduzidas emgatos com CIF, parece tratar-se de uma síndrome dolorosa.No decurso de episódios agudos deve ser prescrita terapiaanalgésica. Um sedativo ligeiro também pode ser benéficopara diminuir a ansiedade observada durante crises agudasrepentinas. Em geral, esta terapia é aplicada durante 4 a 6dias, prestando especial atenção à existência de micções,ainda que de pequeno volume, especialmente no caso dosmachos. No caso da Onion, foi prescrita buprenorfina(0,03mg/kg PO, BID, durante 4 dias). Embora seja preferívelutilizar a buprenorfina, as estratégias analgésicas alternativaspodem incluir: adesivos de fentanil, butorfanol, oximorfona

Figura 2.Aumento da liberação de norepinefrina (NE) durante período destress, em gatos com CIF, comparativamente aos controles.

COMO ABORDAR...

NE (p

g/ml)

10,000

7500

5000

2500

CIF

Saudáveis

Dias0 10 20 30 40

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ou, eventualmente, fármacos anti-inflamatórios nãoesteróides, como o meloxicam.Foi também considerado o meio envolvente de ‘‘Onion’’,visto ter-se descoberto que, através do ‘‘enriquecimento’’ doambiente em que estes gatos se inserem, é possível diminuira “superatividade” simpática e aumentar o intervalo entrecrises (10). Foram efetuadas as seguintes recomendaçõespara esta gata:

1. Caixas de areia: recomendou-se a colocação da caixa deareia numa área sossegada e acessível da casa e proceder seuesvaziamento (diário) e limpeza (semanal) de forma regular.A cobertura da caixa de areia foi retirada, indicando-se o usode areia para gatos, inodora.2. Alimentação e água: foi recomendada dietacomercial de manutenção, de apresentação úmida. Osalimentos úmidos são preferíveis para gatos com CIF, umavez que o aumento do teor de água dilui quaisquercomponentes potencialmente nocivos na urina e ajuda adiminuir a dor associada a este distúrbio. Foi demons-trada em estudos diminuição na taxa de recorrência deCIF em gatos alimentados com dieta úmida, emcomparação com outros alimentos com dieta seca comidêntica formulação (Urinary S/O®, Royal Canin VeterinaryDiet) (11). Proporcionar a opção de escolha entre alimentossecos e úmidos em recipientes adjacentes, separados, aoinvés de substituir a dieta habitual por outra nova, permiteque o animal expresse as suas preferências. Se os gatos (ouos proprietários) recusarem os alimentos úmidos, devem serpesquisadas outras formas de aumentar a ingestão de água,de acordo com as particularidades do animal (fontes,torneiras gota-a-gota, etc.).Nesta altura, não foram feitas outras sugestões uma vezque, tal como referido anteriormente, a maioria dos gatosnão apresenta episódios recorrentes após a primeira crisede CIF. Além disso, a alteração simultânea de várioselementos no ambiente do gato poderia ser tão“estressante” como não efetuar qualquer alteração.

Adendo: Os proprietários da Onion foram contactados 3dias após a consulta e o gato apresentava-se clinicamentenormal. O acompanhamento subsequente, 3 semanas e 3meses após a consulta, revelou que o gato permaneciaassintomático.

Nota: No caso de Onion, o diagnóstico foi realizado a pedidodo proprietário, no sentido de auxiliar a esclarecer a causada DTUI. Se os proprietários não estivessem interessados nacondução de testes adicionais, ou manifestassem razões deordem financeira, a terapia com analgésicos e explicaçõespara os proprietários sobre a doença teriam sido

suficientes. Na maioria dos casos, a densidade urináriaexclui a existência de doença renal subjacente. Contudo, seos sinais clínicos persistirem ou recidivarem, deve serrecomendado veementemente a realização de examesdiagnósticos complementares.

Caso Nº 2Casey é um macho esterilizado da raça Himalaia, com 6anos de idade, levado à consulta na nossa clínica devido aDTUI recorrente e a uma história de obstrução uretral,iniciada há 6 meses.

Histórico do paciente: Casey foi levado à consulta veterináriahá cerca de dois anos devido a uma história de estran-gúria, polaquiúria e hematúria, com duração média de 3 a4 dias e recaídas com intervalos de 2 a 3 meses. O hemogramacompleto e o perfil bioquímico realizados há um ano nãorevelavam alterações. As radiografias abdominais nãoevidenciavam a presença de cálculos no interior do tratourinário. As diversas culturas urinárias realizadas durante osúltimos dois anos apresentavam resultados negativos. Emtodas as urinálises foi constatada densidade específicasuperior a 1,035 e os sedimentos urinários apenas destacavamhematúria e, ocasionalmente, uma ligeira piúria (5-7/CA). Aolongo dos últimos 2 anos foram administrados diversosantibióticos distintos, incluindo amoxicilina com ácidoclavulânico e enrofloxacina, sem registo de qualquer melhoriaconsistente. Há cerca de seis meses Casey foi levado a umserviço de urgências devido a estrangúria persistente, tendosido diagnosticada obstrução uretral. Foi tratado e recebeualta após internamento hospitalar durante 3 dias. A dieta deCasey era composta por diversos alimentos secos comerciaispara felinos. A caixa de areia era renovada diariamente elavada com regularidade. O animal dispõe de váriasjanelas com parapeitos e diversos brinquedos,recomendados pelo veterinário. Casey tem um modo devida exclusivamente de interior, coabitando com dois outrosgatos.

Exame físico: O exame físico de Casey não revelounenhuma alteração. ECC =5/9.

Lista de problemas: Os episódios de melhora e piora daDTUI, durante os últimos 2 anos, e a história de obstruçãouretral, ocorrida há 6 meses.

Avaliação: Uma vez tendo o médico veterinário excluídodiversas causas de DTUI na espécie felina, como cálculoscísticos e infecções do trato urinário, o diagnósticodiferencial aponta com maior probabilidade para CIF. Noentanto os sinais clínicos de Casey persistiram, devendo ser

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considerados outros diagnósticos diferenciais, comoneoplasia, divertículos e coágulos sanguíneos. Naminha opinião, por vezes a obstrução uretral constitui umamanifestação de CIF em felinos machos. É possível que aproteína, os cristais (habitualmente de estruvita), as célulase os fragmentos presentes no soro sejam retidos e formemum plug de muco (Figura 3).

Plano: Foram consideradas outras possibilidadesdiagnosticas no caso de Casey devido à ausência deresposta à terapia e persistência dos sinais clínicos. 1. Foi realizado novo hemograma e perfil bioquímico paraconfirmar a inexistência de sinais de alterações sistêmicas,como doença renal ou anemia. Não foram registadasalterações.2. Foi efetuado novo exame de urina, sobretudo para avaliar adensidade da urina. Esta apresentou valor de 1,048, nãotendo sido detectadas outras alterações nesta consulta.3. Foi realizada ultrassonografia abdominal para garantir ainexistência de massas, lesões, coágulos sanguíneos,pequenos cálculos não radiopacos, ou cálculos de dimensõesreduzidas no interior do trato urinário.4. Procedeu-se um cistouretrograma contrastado paraverificar a inexistência de outras anormalidadesanatômicas. Este estudo revelou espessamento da parededa bexiga, sem presença de outras alterações. Todas estasinformações são compatíveis com CIF (12). Devido àpersistência de sinais clínicos, foi realizada cistoscopia.Durante o exame, a bexiga evidenciou friabilidade einúmeras pequenas hemorragias petequiais localizadas(glomerulações). A bexiga apresentava um edemamoderado, mas com distensão normal (Figura 4).

Diagnóstico: CIF e histórico de obstrução uretral.

Recomendações no caso de Casey: após o diagnóstico foiagendada outra consulta com os proprietários para discutiro problema do animal e fornecer o máximo de informaçãosobre medidas para amenizar os sinais clínicos do Casey eespaçar o intervalo entre episódios da doença. Uma lista contendo recursos ambientais foi discutida comos proprietários, e os seguintes detalhes foram obtidos:1. Casey vive numa casa de dois andares, com 3 quartos, um

pequeno escritório e uma área de lavanderia.2. Existiam apenas 2 caixas de areia para 3 gatos (embora osproprietários considerassem adequado), colocadas lado alado na lavanderia. Os proprietários utilizavam areiahigiênica inodora e esvaziavam as caixas sanitáriasdiariamente. Uma delas era coberta com tampa e ambas ascaixas eram minuciosamente limpas duas vezes por mês. 3. Os três gatos partilhavam comedouros e bebedouros,colocados na lavanderia e também na cozinha. Os recipienteseram limpos com regularidade e todos os gatos tinham acessoaos alimentos secos e aos úmidos. 4. Dispunham de janelas com parapeitos num quarto doandar superior, assim como diversos brinquedos que eramusados rotativamente pelos animais.5. Não possuíam arranhadores para gatos.6. Casey não dispunha de uma zona de “fuga” dos outrosgatos, como por exemplo outro quarto ou um armário.Durante o questionamento referente ao relacionamentoentre o Casey e os outros dois gatos, descobrimos que umgato parecia ser dominante e “atacava” frequentementeCasey enquanto este descansava.

Recomendações no caso de Casey:1. Foi prescrita terapia analgésica. Embora o animal não seapresentasse sintomático durante a consulta, foi fornecidobutorfanol aos proprietários, com instruções paraadministrar este medicamento (1mg 2 a 3 vezes ao dia,durante um período máximo de 3 dias) caso sedesenvolvessem sinais clínicos. Foi também fornecido umantagonista não seletivo do adrenoreceptor alfafenoxibenzamina - para utilizar em caso de necessidade. Afenoxibenzamina auxilia a relaxar a uretra, situação que poderevelar-se importante nos machos desta espécie. Comoalternativa, poderia prescrever-se o antagonista doadrenoreceptor alfa-1, mais seletivo – Prazosin (CoVM1). Osantagonistas alfa caracterizam-se também por um efeitosedativo. Com esta medicação em casa, os proprietários nãoteriam necessidade de retornar à consulta com Casey, casoeste apresentasse estabelecer novo episódio. O animal nãotolera muito bem as viagens de automóvel e não sendonecessário outro diagnóstico, é preferível reduzir o stressassociado ao transporte até à clínica veterinária. 2. Com base em estudos anteriores efetuados em gatos comCIF crônica recorrente, demonstramos um aumento dascatecolaminas e a má-resposta do eixo hipotalâmico-pituitário, durante um fator de stress moderado. Além disso,foi documentado um déficit da função do adrenoreceptor dealfa-2 em gatos com CIF, em comparação com gatossaudáveis sob as mesmas situações de stress (13). Baseadonesses dados, estratégias de tratamento objetivando aredução do tônus simpático no intuito de reduzir estes tipos

COMO ABORDAR...

Figura 3.Plug mucosocomposto porestruvita,fragmentoscelulares eproteínas.

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de anomalias tem sido publicadas (10). Nesse ensaio foirecomendado aos proprietários de 46 gatos com CIF,habitantes de ambientes internos, alguns métodos deenriquecimento ambiental multimodal (MEMO) baseados nahistória ambiental detalhada, tal como a que foi coletadapara Casey. Os casos foram acompanhados durante 10 mesesatravés do contato com os clientes para determinar o efeitodos MEMO nas DTUI e em outros sinais. Foram identificadasreduções significativas nas DTUI, no medo, nervosismo,sinais relativos ao trato respiratório, manifestando-setambém tendência (P <0,1) para decréscimo daagressividade comportamental. Estes resultados sugeremque os MEMO podem constituir uma abordagemcomplementar bastante útil para a terapia de gatos com CIFconfinados em ambientes fechados, devido à diminuição daatividade noradrenérgica. A autora recomenda fortemente aaplicação da metodologia MEMO, sobretudo em caso degatos com CIF recorrente.

Foi implementada uma estratégia MEMO semelhante paraCasey, com as seguintes diretrizes:1. Introdução de uma caixa de areia adicional, aconselhando-se os proprietários a retirar as tampas e a manter o método delimpeza que já era adotado. 2. Foi recomendada a utilização de Feliway®, um ferormôniofacial sintético. Os ferormônios são ácidos graxosresponsáveis pela transmissão de informações muitoespecíficas entre animais da mesma espécie. Muito embora sedesconheçam os mecanismos de ação exatos, de acordo comos relatos, os ferormônios induzem alterações tanto nosistema límbico como no hipotálamo, que alteram o estadoemocional do animal (14). Feliway® (Ceva SanteAnimale, Libourne, França), análogo sintético doferormônio facial que se produz naturalmente nos felinos, foidesenvolvido com o objetivo de reduzir comportamentosrelacionados com a ansiedade no gato. Muito embora nãotenha sido especificamente testado em gatos com CIF, otratamento com esta substância apresentou redução nonível de ansiedade manifestado por gatos mediantecircunstâncias desconhecidas, resposta potencialmente útil

tanto para o paciente como para o proprietário. Foirecomendada a aquisição de um difusor para colocar na parteda casa em que se encontram as caixas de areia. De acordocom a bula, cada difusor tem uma duração de 4 semanase alcança aproximadamente 650 metros quadrados. 3. Relativamente à dieta, o recurso a alimentos acidificantesnão tem demonstrado qualquer benefício no caso de gatoscom CIF, exceto talvez em felinos machos com obstruçõesuretrais secundárias a cálculos de estruvita ou plugscompostos por estruvita. Assim, a autora recomendou atransição gradual para uma dieta úmida, comercial,ligeiramente acidificante. Quando o pH da urina atinge ovalor 6,7 ou mais pode ocorrer saturação por cristais deestruvita. Para realizar a alteração alimentar osproprietários foram aconselhados a administrar o novoalimento a Casey no seu comedouro habitual, colocado aolado de um comedouro diferente contendo a dieta anterior.Colocar ambos os alimentos em comedouros semelhantespoderá facilitar a transição. Se Casey ingerisse a nova dietade imediato, o alimento anterior poderia ser retirado. Senão ingerisse o novo alimento no período de uma hora,deveria ser retirado repetindo-se o procedimento narefeição seguinte, mas com uma nova dose. Através destemétodo, a familiarização com a nova dieta deveráprocessar-se no período de 1 a 2 semanas. 4. Os gatos interagem tanto com as estruturas físicas comocom outros animais, incluindo seres humanos, no seupróprio ambiente. O ambiente físico deve contemplar apossibilidade do animal escalar, arranhar, esconder-se edescansar. Considerando que os gatos não se agregam emgrupos, os felinos que coabitam numa casa com outrosanimais da mesma espécie devem dispor de uma área quelhes permita “fugir” dos outros. O modo de vida emambientes fechados (ou uma densidade elevada de gatosem regime interior/exterior) tem sido relatado como umfator de risco que mascara e perpetua a CIF, bem comooutros distúrbios crônicos que afetam os gatos (15). Algunsdestes felinos podem mesmo manifestar preferênciaspor ter seus próprios comedouros, bebedouros, caixassanitárias e áreas de repouso separadas, para evitar acompetição por recursos e poder escapar a interações nãodesejadas. Também pode-se revelar útil ligar um aparelhode rádio para habituar os animais a mudanças súbitas desons e a vozes humanas, assim como alguns estímulosvisuais. Casey deverá ter à sua disposição recipientes paraalimentos e água, onde possa comer separadamente dosoutros gatos quando desejar. Estes devem ser colocadosnuma área calma, longe de eletrodomésticos ruidosos e dascaixas de areia.

5. Foi recomendado a colocação de um arranhador com

Figura 4.Imagem citoscópica daparede da bexigaapresentando váriaspequenas hemorragiaspetequiais.

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tocas, com diversos níveis. Em geral, os gatos sentem-se“seguros” quando se encontram num nível mais elevado doque a sua “presa” ou ameaça ambiental. Graças a estedispositivo com formato de escada, Casey poderá subir eafastar-se dos outros gatos sempre que quiser. Se a estruturafor colocada perto da janela, o animal poderá contemplar oexterior. 6. Foi igualmente recomendada aos clientes a consulta doseguinte website: www.indoorcat.org, no sentido deobterem ideias adicionais e favorecer a implementaçãogradual das recomendações anteriormente mencionadas.

O contato persistente com os clientes, mantendo-osinformados sobre a CIF, tem sido muito útil pois permitecertificar que estes se sentem confortáveis e “com controle”da doença do seu gato. O acompanhamento é essencial e acomunicação contínua é benéfica. Após 3 dias, quando osproprietários foram contactados por telefone, informaramque Casey estava se recuperando bem, que tinhamadquirido a nova caixa de areia e o arranhador, e quetinham ajustado os recipientes do alimento e da água.Estavam tendo dificuldades em encontrar o Feliway®, eentão foram informados sobre um website para os auxiliar.Após três semanas os proprietários tinham implementadolentamente as alterações prescritas e Casey estava bem. Onosso técnico voltou a contactá-los três meses depois;informaram que Casey havia apresentado “urinaensanguentada” 2 semanas antes e que o tinham tratadocom os medicamentos prescritos. O episódio durou 36horas e os proprietários não tinham procurado cuidadosveterinários. Os proprietários foram também informadosque se a CIF do Casey continuasse a progredir, além de outraterapia MEMO poderíamos prescrever um anti-depressivotricíclico, tal como amitriptilina ou a clomipramina. Estesmedicamentos são, por vezes, usados em casos crônicosgraves de CIF após terem sido implementados todos osesforços de enriquecimento ambiental (16).

Caso Nº 3Mischa é uma fêmea esterilizada de raça Siamês Mestiça,com 11 anos de idade, que foi levada ao nosso hospital paraavaliação de periúria e hematúria que durava 2 semanas.Após um questionário mais aprofundado, os proprietáriosnão achavam que Mischa apresentasse esforço ao urinar,mas notaram que as gotas de urina encontradas no tapeteeram bastante pequenas (o que nos sugeria a presençade polaquiúria). Informaram ainda que a gata lambia commuita frequência a região perineal. Mischa não tinha tidoproblemas de saúde até aquele momento. Os proprietáriosnão tinham certeza sobre sua ingestão de ração e águaporque tinham outros 2 gatos e todos os animais

partilhavam os mesmos comedouros. Era fornecidoaos gatos um alimento seco comercial ad libitum. Mischa sótinha autorização para sair ocasionalmente até o pátio.

Exame físico: Não foram detectadas alterações, excetodesconforto à palpação abdominal caudal. A bexigaapresentava-se moderadamente cheia. ECC = 5/9.

Problemas: Hematúria, periúria e possível polaquiúria.Avaliação: os diagnósticos diferenciais são semelhantes aosdiscutidos nos dois casos anteriores, contudo, a maioria dosgatos com CIF são, geralmente, mais jovens e apresentamsinais de DTUI distintos. Deste modo, deve-seencorajar a realização de avaliações diagnósticas em casoscomo este, uma vez que é menos provável que se trate deCIF.

Plano: Foram realizados hemograma, perfil bioquí-mico, urinálise com cultura e radiografias abdominais.O hemograma e perfil bioquímico apresentavam resultadosnormais (BUN=25 mg/dL (8,9 mmol/L), creatinina =1,5mg/dL (134 mmol/L)). A densidade específica da urina erade 1,049. O sedimento urinário revelou > 100 RBC/hpf, semindícios de piúria, e a cultura era negativa. As radiografiasabdominais revelaram a presença de mineraliza-ção renalmoderada, suspeitando-se da existência de um urólito noureter esquerdo (Figura 5). Notou-se uma pequenaquantidade de “fragmentos cristalinos” na bexiga, mas nãoforam identificados verdadeiros cálculos.Recomendou-se a realização de ultrassonografia abdominal,de modo a caracterizar mais detalhadamente os sedimentosda bexiga, a mineralização renal e o cálculo uretral. Esteteste evidenciou apenas uma ligeira dilatação do uréteresquerdo. Os rins apresentavam leve diminuição dadefinição corticomedular e a pélvis renal esquerda estavaligeiramente distendida. O cálculo encontrado no ureterencontrava-se a cerca de 3 cm da bexiga. Não foi notada apresença de outros cálculos.A micção de Mischa foi monitorada no hospital durante as24 horas seguintes. Pode ser muito útil observar os hábitosurinários e efetuar avaliação direcionada a DTUI sempreque possível, em animais que são levados a consulta devidoa distúrbios urinários. Neste caso tivemos sorte edescobrimos que Mischa urinava sem qualquer estrangúriaou polaquiúria. No entanto, verificou-se a presença dehematúria grave.

Diagnóstico: Mineralização renal e cálculos uretrais.

Plano: Sugeriu-se a realização de CT contrastada paraauxiliar a definir a extensão do uréter esquerdo que se

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GATOS COM SINTOMAS DO TRATO URINÁRIO INFERIOR

encontrava obstruída, mas os proprietários recusaram.Nesta fase a cirurgia para retirar o cálculo não foirecomendada devido ao fato deste ser um procedimentoinvasivo, e o gato se encontrar estável e estar bem, etambém devido às limitações financeiras dosproprietários. Nos gatos, os cálculos uretrais são muitofrustrantes e normalmente reserva-se a cirurgia para casosem que a função renal se encontre gravementecomprometida. As características clínico-patológicas e omanejo de casos de obstrução uretral estão bem descritosna literatura (17,18).A maioria dos cálculos no trato urinário superior dos gatos écomposta por oxalato de cálcio (19, 20). Ocasionalmente,encontram-se relatos de cálculos de fosfato de cálcio ou desangue solidificado (21). Não está disponível qualquer

protocolo de dissolução para a urolitíase de oxalato decálcio, e por isso foi prescrito à Mischa uma dieta úmida,não acidificante, de modo a evitar a reincidência deformação de oxalato do cálcio. As dietas úmidas parecemconstituir método mais fácil de aumentar a ingestão deágua, o que é benéfico para a redução da carga de solutos eevitar a formação de cálculos (22). Foi escolhida uma dietanão acidificante devido ao presumível componente deoxalato de cálcio do cálculo. Recomendou-se a periódicarealização de hemogramas e avaliação da função renal.Procedeu-se também o monitoramento da gata através deultrassonografia, relativamente ao agravamento progressi-vo da obstrução uretral.

Este caso foi apresentado para ilustrar a importância da coletadetalhada de sinais, do histórico e do exame físico naavaliação de gatos com DTUI. Embora mais de dois terços dosgatos que sofrem de DTUI não apresentem uma causaidentif icável e seja estabelecido o diagnóstico de CIF,são normalmente gatos mais jovens ou de meia-idade. Osgatos com CIF apresentam normalmente um ou mais sinaisdos mencionados nos primeiros dois casos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Figura 5.Radiografia lateral do Caso 3, demonstrando cálculos uretrais emineralização renal.

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IntroduçãoJá estão disponíveis na maioria dos países industriali-zados alimentos adaptados às necessidades dos gatosesterilizados. Na França, uma variedade de produtosespecíficos para este setor da população felina écomercializado em clínicas veterinárias desde 1998(Neutered Cat® Royal Canin). Trata-se de um alimentoseco (com 7% de umidade) apresentado sob a formade croquetes, com características nutricionaisdirecionadas para a redução dos riscos relacionadoscom cálculos urinários, frequentes em gatos esterilizados.Este estudo teve como objetivo analisar a relaçãoentre a nutrição e as afecções urinárias em gatosesterilizados.

Materiais e métodosDesenho experimentalO estudo retrospectivo baseou-se em dois grupos degatos esterilizados. A um grupo foi administrado oalimento em avaliação (designado por “Grupo A”)enquanto que o outro grupo foi alimentado comoutras dietas comercializadas em clínicas veterinárias(“Grupo B”).O estudo foi limitado a alimentos disponíveis nocircuito veterinário por razões relacionadas com ospróprios produtos (os produtos vendidos emsupermercados são mais variados em sua composiçãoe são, normalmente, alimentos úmidos), motivosrelacionados aos proprietários (partindo do princípioque os proprietários que adquirem a alimentação naclínica veterinária estão mais preocupados com a

Nutrição e distúrbiosurinários em gatosesterilizados:estudo exploratório retrospectivo

Jean-Jacques Bénet, DVMEscola de Medicina Veterinária de Alfort, Departamentode Doenças Contagiosas, Maisons-Alfort, FrançaO Prof. Bénet formou-se na Escola de Medicina Veterináriade Lyon, em 1971. Especializou-se em Microbiologia eImunologia em 1975 e em Epidemiologia em 1979.Atualmente é Professor na Escola de Medicina Veterináriade Alfort (França), na Unidade de Doenças Contagiosas eé também o docente responsável pela pós-graduação em Epidemiologia. A área de pesquisa doProf. Bénet centra-se nas zoonoses transmitidas pelosanimais de companhia e na tuberculose bovina.

Morgane Lamarche, DVMRoyal Canin, Aimargues, FrançaMorgane Lamarche é formada na Escola de MedicinaVeterinária de Alfort. Trabalhou primeiro num serviço deemergências de pequenos animais e, atualmente,desempenha as funções de diretora-adjunta de produtosna Royal Canin.

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saúde do seu gato) e por uma questão derastreabilidade (os clínicos, bem como, osmembros de sua equipe podem ajudar aconfirmar se o gato tem recebido omesmo alimento desde o momento daesterilização). Os dados obtidos incluem informaçõesrelativas aos últimos 7 anos, que corres-pondem ao período durante o qual agama de alimentos se encontroudisponível.

Concepção do plano de amostragem> Seleção dos indivíduos e do plano de amostragemFoi disponibilizado um questionário inicial dirigidoaos proprietários de gatos, em regime self-service, emseis clínicas veterinárias da região de Paris, com oobjetivo de obter 100 gatos para cada um dos grupos.O principal fator limitante era a obtenção departicipantes suficientes para o Grupo A. Foramassegurados os seguintes critérios de seleção: idadecompreendida entre 2 e 13 anos, utilização constantedo alimento (1 a 8 anos) e, naturalmente, autorizaçãodo proprietário para o animal participar do estudo.

Organização dos dados recolhidosNesta consulta foi preenchido um segundoquestionário, que incluía uma seção dirigida aoproprietário e outra ao veterinário, na sequência deum exame não invasivo ao gato. Durante uma reuniãopreliminar com os seis veterinários que participaramda pesquisa, foi acordada a metodologia e aplicaçãodo questionário.A informação recolhida junto aos proprietáriosbaseou-se na condição física do animal, no modo devida, no alimento (quantidade fornecida, número derefeições diárias, método de fornecimento e consumode água). No decurso da consulta, o veterinário

recolheu os dados relativos ao peso do animal, estadode saúde prévio à esterilização e distúrbiosdesenvolvidos após a esterilização (cistite e/oucálculos urinários).

Análise Estatística dos dadosOs dados foram introduzidos e processados atravésdo programa informático Sphinx (Copyright C SphinxDeveloppement 1986-2003). Cada questionáriofoi processado individualmente e a respectivainformatização foi submetida a verificação dupla.

Também se recorreu à Epi-Info 6 (versão 6.04 dfr-Abril 2001) para o desenvolvimento dos testes (X2 eteste de Fisher) e cálculo do risco relativo (escala RR,calculada através da percentagem de casosobservados em cada um dos grupos, A e B), exceto nocaso de resultados não significativos. Estabeleceu-seum limiar de risco de 5% e um intervalo de confiançade 95% para cálculo do risco relativo.

ResultadosForam recolhidos 130 questionários: 61 para o GrupoA, 69 para o Grupo B.

Figura 1.Dados descritivos e modode vida dos gatos.

Grupo A

Grupo B

macho fêmea não sim 2 a9 anos 10 a13 anos <1 ano adulto exterior interiorsexo raça idade esterilização modo de vida

Número de gatos

Não significativo (NS)

70

60

50

40

30

20

10

0

Variável Estado Grupo A Grupo B p (1 ddl) RR (IC)40 31

Apresentaram Não (65,6%) (44,9%) 1,46 problemas de 0,02 s [1,06–2,01]saúde após a 21 38 esterilização Sim (34,4%) (55,1%)

Tabela 1.Comparação entre o estado de saúde dos dois gruposestudados

ddl grau de liberdade RR risco relativoIC intervalo de confiança s: diferença significativa p ≤ 0,05

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Descrição das amostrasNão foram observadas diferenças entre os dois gruposrelativamente à demografia da população felina(Figura 1) e dos seus proprietários (idade, categoriasócio-econômica).

Saúde Animal> Estado geral de saúde dos animaisA proporção de animais com problemas de saúde(levados à consulta pelo menos uma vez devido a umarazão de ordem patológica) antes da esterilizaçãorevelou-se semelhante nos dois grupos (3 animais emcada grupo). Contudo, a proporção foi mais elevadano Grupo B após a esterilização, com uma diferençasignificativa (RR = 1,46 [1,06 – 2,01]) (Tabela 1).

> Afecções urináriasOs dados recolhidos referem-se à história e aos registosmédicos do animal. Os gatos do Grupo A apresentarammenos distúrbios urinários (Tabela 2) que os gatos doGrupo B, diferença considerada significativa (p<0,001; RR = 4,86 [1,8 – 13,3]). Foi registada menorfrequência de cálculos urinários nos gatos do Grupo A(p <0,001; RR = 4,13 [1,24 – 13,7]).Por último, nos animais do Grupo A foram observadosmenos casos de cistite, comparativamente ao Grupo B(p <0,05; RR = 3,3 [1,16 – 9,45]).

DiscussãoOs 69 gatos do Grupo B foram alimentados com dietasde 4 marcas diferentes. A maioria destes felinosrecebeu alimentos “fisiológicos”, no entanto, 20 gatos

(29% do grupo) foram alimentados com alimentosveterinários devido a inúmeras razões: obesidade (5 gatos), risco de cálculos urinários (5 gatos), alergiaalimentar (4 gatos), distúrbios digestivos (4 gatos) einsuficiência renal (2 gatos). Esta situação influencioua análise, mas não afetou as conclusões do estudo.

Foram obtidos os seguintes resultados significativos(que permitem chegar a uma conclusão, sujeita àanálise de fatores de terceira ordem): os gatosalimentados com o produto em estudo (Grupo A)apresentaram menos problemas de saúde após aesterilização (ou seja, um número inferior de consultasna clínica veterinária, das quais pelo menos uma pormotivos de ordem patológica) e, do ponto de vistaestatístico, menor frequência de casos de cistite que osoutros felinos do grupo experimental (Tabela 2), assimcomo menor porcentagem de formação de cálculosurinários.

No Grupo B, o risco de formação de cálculos urinárioschega a ser subestimado, devido aos métodos dequantificação utilizados (situação que não severificaria com a utilização de um plano alternativo).Reconhecendo a imprecisão do termo “cistite”, umatentativa de melhoramento passaria por estabeleceruma definição mais concisa para este distúrbio.Diversos estudos epidemiológicos demonstraram que aesterilização implica em um aumento dos riscos dedoenças do aparelho urinário inferior e, particular-mente, de formação de cálculos urinários (1,2). A formulação dos alimentos secos tem também

Variável Estado Grupo A Grupo B p (1 ddl) RR (IC)Distúrbios Não 57 (93%) 47 (68%) <0,001 s 4,86 [1,8–13,3]

urinários, desde a Sim 4 (7%) 22 (32%)

esterilização

Cálculos Não 61 (100%) 55 (80%) <0,001 (f) s 4,13 [1,24–13,7]*

urinários

Sim 0 (0%) 14 (20%)

Cistite Não 57 (93%) 54 (78%) <0,05 s 3,3 [1,16–9,45]

Sim 4 (7%) 15 (22%)

Tabela 2.Tipo de problemas urinários observados nos gatos adultos em estudo – em alguns felinos a cistite e oscálculos urinários estavam relacionados

(f) Teste de Fishers: nível de diferença significativa de 5%.*o risco relativo e o intervalo de confiança foram calculados através da substituição do valor observado (0) para o Grupo A pelo valor (3)determinado com recurso ao nível mais alto de um intervalo de confiança unilateral de 95%, para uma razão da taxa de prevalência de 0/61.

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NUTRIÇÃO E DISTÚRBIOS URINÁRIOS EM GATOS ESTERILIZADOS: ESTUDO EXPLORATÓRIO RETROSPECTIVO

1. Lekcharoensuk C, Osborne CA, Lulich JP. Epidemiologic study of risk factors forlower urinary tract diseases in cats. J Am Vet Med Assoc2001; 218: 1429-1435.

2. Lekcharoensuk C, Lulich JP, Osborne CA, et al. Association between patient-related factors and risk of calcium oxalate and magnesium ammoniumphosphate urolithiasis in cats. J Am Vet Med Assoc2000; 217: 520-525.

3. Tournier C, Aladenise S, Vialle S, et al. The effect of dietary sodium on urinecomposition and calcium oxalate relative supersaturation in healthy cats, inProceedings. 10thESVCN congress 2006, pp. 189

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

influência no risco da ocorrência de urólitos. Um teormaior de sódio estimula a diurese e, porconsequência, produz a diluição urinária que limita aformação de cristais na urina (3). A variedade dealimentos estudada (Grupo A) continha um teor médiode sódio de 0,75% na matéria seca, o dobro donível contido nos alimentos do Grupo B (Tabela 3).Esta diferença em termos de formulação é umelemento que explica a variação dos riscos observados.

ConclusãoEste ensaio retrospectivo demonstrou a viabilidade dotema em análise, na prática. Produziu resultadosinteressantes a favor da variedade de alimentos

estudada, sugerindo que estes produtos exercemefetivamente um impacto na redução dos riscosde distúrbios urinários, justificando pesquisas maisaprofundadas. Os dados obtidos deverão serconfirmados por estudos realizados em larga escala.

Os autores agradecem aos Drs. Pascal Bounous, EtienneCalais, Bertrand Hollanders, Maurice Kaiser, DelphineLacaze-Masmonteil, Jean-Pierre Leroux, Thierry Rabot,assim como aos seus colegas que disponibilizaram a suapreciosa colaboração para a concretização dos objetivosdo presente estudo.

Grupo A Grupo BMÉDIO MÍN MÁX MÉDIO MÍN MÁX

Umidade 7 7 7 7 5,5 42,7

Proteína * 36 28 38 34 25,5 42,0

Gordura* 10 10 15 22 8,0 23,2

Fibra bruta* 6,7 3,7 6,8 3,3 0,8 14,8

Sódio* 0,75 0,39 0,75 0,30 0,23 0,6

Tabela 3.Análise dos alimentos (%)

*Expressa emporcentagem damatéria seca.

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IntroduçãoA identificação rigorosa do tipo, ou tipos, de mineraiscontidos num urólito é fundamental para a aplicaçãodo regime preventivo e terapêutico mais adequado.Os urólitos podem ser recolhidos através de micçõesespontâneas (devendo utilizar-se uma rede de pescade aquário para a sua coleta), de descargas poruroidropropulsão, aspiração por cateter uretral,citoscopia ou remoção cirúrgica (1,2,3). Todos osurólitos obtidos devem ser submetidos à análisequantitativa em laboratórios especializados paradeterminar a composição mineral de cada uma das 4camadas que podem estar presentes (Figura 1).Existem diversas técnicas de análise quantitativa: amicroscopia de luz polarizada, a estreptoscopia porinfra-vermelhos, a microscopia eletrônica de varredu-ra com microanálise de raio-X e a difração de raio-X,que serão abordadas, individualmente no presenteartigo. Centros que disponibilizam este tipo deanálise: Centro Veterinário de Urólitos do Canadá,Universidade de Guelph; Centro de Urólitos deMinnesota, Faculdade de Medicina Veterinária,Universidade de Minnesota; Departamento deUrologia de Bona, Alemanha; Laboratório de Análisede Cálculos Urinários, Universidade da Califórnia,Davis, e o Centro de Urólitos de Budapeste.

Análise quantitativados cálculos urináriosem cães e gatos

Andrew Moore, MScCentro Veterinário de Urólitos do Canadá, Universidadede Guelph, Serviços Laboratoriais, Guelph, Ontário,CanadáAndrew Moore concluiu o Mestrado em Botânica em1990 e exerce a função de supervisor do Laboratório de Microscopia Analítica, Serviços Laboratoriais daUniversidade de Guelph, desde 1992. Esta unidadelaboratorial realiza a identificação de substânciasestranhas em produtos alimentares para a indústria epara o governo, e presta serviços de microscopia comomeio complementar de diagnóstico no âmbito das patologias animais e vegetais. Em 1998,Andrew Moore ajudou a criar o Centro Veterinário deUrólitos do Canadá, que efetua análises quantitativas deurólitos para os clínicos canadenses, em parceria com a Medi-Cal/ Dietas Veterinárias Royal Canin.

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Os urólitos que contêm pelo menos 70% de um únicomineral são classificados como sendo daquelemineral (4). Os urólitos com núcleo e revestimento dediferentes tipos de minerais são classificados comocompostos (4). Os urólitos com <70% de um únicocomponente mineral e sem presença óbvia de núcleoou revestimento são classificados como mistos (4).

Historicamente, a composição dos cálculos tem sidodeterminada através de exame visual, do aspectoradiográfico, da inferência com base na presença naurina de determinados cristais, e através do uso de kitsde teste disponíveis no mercado. Apesar do aspectofísico de inúmeros cálculos constituir um bomindicador da sua composição (4,5), constatou-se quetodos os tipos de cálculos podem formar-se com umagrande variedade de formas, tamanhos e cores. Atémesmo os técnicos que já analisaram centenas no nossolaboratório, por vezes são iludidos pela avaliação visualinicial que fazem de alguns cálculos específicos. Éimportante referir que o aspecto exterior de um cálculoraramente proporciona indicação sobre a composiçãodo interior. O núcleo, que pode divergir bastante dasrestantes partes do urólito, constitui a chave para umdiagnóstico e tratamento rigorosos.Por exemplo, a Figura 2 apresenta um cálculo degrandes dimensões obtido de uma gata esterilizadade raça doméstico de pêlo curto, com 16 anos deidade, que pode ser confundido com um cálculo desílica. A análise quantitativa demonstrou que o núcleoera constituído por 95% de monoidrato de oxalato decálcio e 5% de fosfato de cálcio, e a pedra e orevestimento por 100% de monoidrato de oxalato decálcio.

A Figura 3 é uma boa ilustração das diferençasmacroscópicas entre os cálculos de urato de amôniocaninos.

O aspecto visualizado através da radiografia tambémnão é 100% confiável, seja em relação à forma decada cálculo, ou da própria visibilidade. Analisamos,recentemente um cálculo de um Shih Tzu constituídosobretudo por estruvita (em geral radiopaca) que, noentanto, se revelou invisível numa radiografia derotina. O cálculo era muito flexível e poroso o queinviabilizou a sua detecção através deste exame.

A presença de um tipo específico de cristal na urina deum cão ou de um gato submetido à remoção decálculos, constitui um indicador pouco confiável da

Figura 1.Camadas do urólito.

Figura 2.Oxalato decálcio, felino.

Figura 3.Cálculoscaninos de uratode amônio.

Figura 4.Micrografiaeletrônica devarredura quedestaca cristaisde estruvita,bruxita ediidrato deoxalato decálcio,presentes naurina de um cãomacho sem raçadefinida.

Revestimento

NúcleoCristais desuperfície

Pedra

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composição dos urólitos (6). Os tipos de cristaispresentes podem ser totalmente diferentes dacomposição do urólito, eventualmente não passarpara a urina e, por vezes, são observados diversostipos de cristais na mesma amostra de urina. A Figura4 evidencia cristais de estruvita, brushita e diidratode oxalato de cálcio, presentes simultâneamente naurina de um cão macho SRD.

A análise quantitativa é disponibilizada há vários anossob a forma de kits comerciais baseados em testes deidentificação química, com alterações específicas decor em contato com porções fragmentadas de umcálculo. A eficácia deste método de análise de urólitosfoi revista em outro estudo, sendo estes kitsconhecidos por produzir resultados falso positivo efalso negativo (7,8,9) (Tabela 1). Por outro lado,também não estão preparados para detectar a sílica.

Análise QuantitativaA análise quantitativa total de um urólito envolvediversas fases e procedimentos analíticos distintos quecontribuem individualmente para a sua identificação.Alguns cálculos são mais complexos que outros e, porisso, requerem testes mais exaustivos. Oprocedimento a seguir descrito é o que se utiliza noCentro Veterinário de Urólitos do Canadá (CVUC).Este centro iniciou a sua atividade em 1998, e realizouaté a presente data análises quantitativas em mais de9.000 cálculos felinos e 31.000 cálculos caninos (10,11).

Em primeiro lugar, os cálculos são submetidos a umexame visual minucioso e, em seguida, seccionadosem duas partes iguais e analisados num microscópiode dissecação. Procede-se o registro das camadas ouzonas existentes no seu interior, recolhendo cuidado-

samente uma amostra de cada para análise individual.Em termos descritivos, o cerne óbvio ou ponto deinício denomina-se “núcleo”, a massa do urólitodesigna-se por “pedra”, a camada exterior distintaatribui-se a designação “revestimento” e as projeçõessuperficiais ou áreas aguçadas são denominadas“cristais de superfície” (Figura 1). É essencialdeterminar a existência de um núcleo no interior docálculo e, em caso afirmativo, qual a sua composição.É também importante conhecer a composição dasoutras camadas, apesar do manejo/tratamento daurolitíase se basear sobretudo nos elementos quecompõem o núcleo, uma vez que é a origem docálculo. A composição das camadas exteriores podeser diferente da detectada no núcleo, no entanto,parte-se do princípio de que a totalidade dos urólitostenha sido removida do paciente e que otratamento será direcionado para a prevenção darecorrência das condições que induziram a formaçãodo cálculo original.

Por exemplo, todos os urólitos predispõem o pacientea infecções do trato urinário. Se a infecção forprovocada por bactérias produtoras de urease, ossubsequentes depósitos de minerais no urólito terãomaior probabilidade de ser de estruvita (12). O tipode cálculo composto mais comum que tivemosoportunidade de analisar apresenta um núcleo deoxalato de cálcio, rodeado por uma pedra deestruvita, embora também tenham sido observadaspedras de estruvita com um núcleo de urato deamônio, de fosfato de cálcio ou sílica. As Figuras 5 e 6ilustram dois exemplos diferentes destes tipos decálculos.

Figura 5.Cálculo de estruvita felino, com núcleo de urato de amônio.

Figura 6.Cálculo de estruvita canino, com núcleo de oxalato.

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Cristalografia ÓpticaDenomina-se por cristalografia óptica aprincipal técnica utilizada na análise de cálculos noCentro de Urólitos. Após identificação visual de cadaregião do cálculo, recolhe-se uma amostra de cadauma destas áreas. As amostras são individualmentefragmentadas e examinadas em um microscópio deluz polarizada, por imersão em um líquido deíndice de refração determinado. Graças àdeterminação do índice de refração dos diversoscomponentes cristalinos é possível obter a identidadee a proporção de cada camada. Este método permiteidentificar e quantificar com rapidez e precisão amaioria dos componentes.

Se um cálculo contiver minerais pouco habituais oumetabólitos de fármacos, ou se for constituído pornúcleo de dimensões muito reduzidas, diferente doresto do cálculo, utilizam-se técnicas adicionais paraconfirmar a composição.

Microscopia eletrônica O laboratório trabalha com microscópio eletrônico devarredura, equipado com um sistema de microanálisede raios X (espectômetro de dispersão de energia), quepermite o exame e análise de amostras muito pequenas.É possível seccionar o cálculo em duas partes, colocá-lassob o microscópio e proceder a análise das diferentesáreas no seu interior. Cada cristal pode serindividualmente ampliado, sem afetar mesmo onúcleo mais diminuto, evitando-se o risco de o perdê-lopor completo durante remoção com bisturi e agulha.Permite igualmente obsevar camadas muito finas nointerior do cálculo e determinar a sua composição.

O sistema de microanálise de raios X, anexado ao SEM,determina a composição básica de qualquer materialexaminado, mesmo cristais isolados colocados lado alado, podem ser analisados separadamente. Oselementos individuais presentes na amostra sãoidentificados através da medição dos raios X emitidosda amostra bombardeada pelo feixe de elétrons domicroscópio (Figura 7). O SEM e a microanálise deraios X são muito eficazes para a análise de materiaisinorgânicos, como os minerais, embora nãoconsigam diferenciar compostos semelhantes, como abrushita e a apatita, que são formas de fosfato decálcio, ou materiais orgânicos, como a xantina e o ácidoúrico. Para separar estes tipos de compostos énecessário recorrer à análise por infra-vermelho.

Espectroscopia por infra-vermelho A análise por infra-vermelho permite identificargrande variedade de materiais orgânicos, incluindodiversos componentes habitualmente observados noscálculos urinários. É um instrumento inestimável paraestabelecer a diferença entre os diferentes tipos deurato, como o urato de amônio e de sódio, o ácido úricoe a xantina. Também pode ser utilizado paradiferenciar o monoidrato e o diidrato de oxalato de

ANÁLISE QUANTITATIVA DOS CÁLCULOS URINÁRIOS EM CÃES E GATOS

Figura 7.Espectro de raios X de um núcleo minúsculo de sílica, num cálculo deoxalato de cálcio canino.

Figura 8.Núcleo de um cálculo de estruvita canino.

Tipo de cálculo Falso - Falso +Oxalato de cálcioSílicaUratoCarbonatoBrushitaXantina

Tabela 1.Análise Quantitativa

44

444

4

1 2 3 4 KeV

O SiContagem

1000

500

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cálcio, bem como os diferentes fosfatos: bruxita,apatita e o fosfato tricálcio. Um microscópio de infra-vermelho anexado a um espectrofotômetro de infra-vermelho com transformador Fourier (FTIR), permitea análise de quantidades microscópicas de material.Esta técnica tem-se revelado muito útil para identificarnúcleos muito pequenos ou cristais individuais. Noexemplo apresentado abaixo de uma fêmea esteriliza-da, SRD, com 10 anos de idade, o núcleo do cálculo deestruvita era composto por um aglomerado de minús-culas esferas vermelhas (Figura 8). No microscópio deluz polarizada, parecia tratar-se de carbonato de cálcio,componente pouco habitual dos cálculos caninos oufelinos (Figura 9). A microanálise de raios X nomicroscópio eletrônico de varredura indicou que asmicro-esferas continham apenas cálcio, carbono eoxigênio, dados insuficientes para as distinguir dooxalato de cálcio. No entanto, a análise de infraver-melhos produziu um espectro a partir de um únicocristal, que correspondeu com exatidão ao espectro

de referência do carbonato de cálcio (Figura 10).A análise em FTIR (Fourier Transform Infrared) tem-se revelado muito importante para a identif icaçãode cálculos pouco comuns. O laboratório recebeuum urólito irregular, de cor verde-escura, recolhido deum macho castrado, Schipperke de 4 anos. O exameinicial através do microscópio de luz polarizada nãopermitiu identificar a amostra, e a microanálise deraio-X indicou material orgânico com teor elevado denitrogênio. A análise FTIR determinou a composiçãodo cálculo como sendo 100% diidroxi-2,8 adenina, ummetabolito da purina e, consequentemente, o pacienterecebeu tratamento para urolitíase de urato.

Diversos cálculos são originados por substânciasestranhas que conseguem penetrar na bexiga. Avantagem de uma análise microscópica reside nofato de ser possível identificar até mesmo oscomponentes menos comuns. Fragmentos de materialvegetal ou fibras de madeira são rapidamente

identificados através de microscopialuminosa. As partículas metálicasrequerem microanálise por raio-X, epara a detecção dos polímerosrecorre-se à tecnologia do FTIR.Entre as substâncias mais insólitasdetectadas no núcleo de cálculos,podem citar-se fragmentos de agulhasde pinheiro em urólitos de estruvita euma agulha de costura, ingerida porum cão, que posteriormente migroupara a bexiga (13).

Figura 10.Espectro FTIR do carbonato de cálcio.

Figura 9.Micrografia de luz polarizada dos cristais de carbonato de cálcio nonúcleo.

Figura 11.Duas metades de um cálculo de estruvita ligadas por um pedaço desutura, incluindo uma porção de um nó.

Carbonato de Cálcio

Número de ondas cm-1

Unidades de absorção

Cop

r. ©

198

0, 1

981-

1999

Sad

tler

. Tod

os o

s D

irei

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Res

erva

dos 1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.03500 3000 2500 2000 1500 1000 500

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Alguns materiais enviados para análise foramcoletados pelos proprietários pensando tratar-se decálculos da bexiga excretados através da urina. Combase em técnicas de microscopia o laboratórioconseguiu identificar em diversos casos pedaços deareia higiênica e pequenos blocos de amido,considerados como cálculos urinários.

Os corpos estranhos mais comuns observadas nacomposição dos núcleos de muitos cálculos sãosuturas resultantes de cistotomias anteriores. Porvezes, são óbvias logo ao exame visual, quando ocálculo apresenta a forma de um nó (Figura 11), mascom frequência, são apenas pequenos fragmentosocultos no centro do cálculo. Podem ser identificadasatravés do microscópio luminoso, mas para confirmaro tipo de material de sutura (sutura de seda, sintéticavs. monofilamento, etc.) recorre-se à análise FTIR. Por vezes, são também utilizados métodos de análise

suplementares, como a difração por raios X, parafacilitar a identificação de amostras pouco comuns.

ResumoA análise quantitativa rigorosa dos cálculos caninos efelinos é importante, uma vez que ajuda o veterinárioa determinar as causas subjacentes da urolitíase e aprescrever o tratamento mais eficaz para o paciente.As técnicas microscópicas permitem detectar núcleosdiminutos, determinar se a sua composição édiferente das restantes zonas do cálculo, conseguindoidentificar com precisão os componentes do urólito,frequentemente negligenciados ou incorretamenteclassificados através de métodos qualitativos. Osdados coletados em conjunto com a amostra enviadapara análise também se revelam muito úteis para apesquisa das causas de urolitíase.

ANÁLISE QUANTITATIVA DOS CÁLCULOS URINÁRIOS EM CÃES E GATOS

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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A filosofiaO manejo clínico da DTUI (Doença do trato urinárioinferior) felina evoluiu significativamente ao longodos últimos 15 a 20 anos, evidenciando progressosconsideráveis quanto à compreensão da influência danutrição e manipulação dietética, à crescenteconscientização por parte dos médicos veterinários eproprietários, da qual resulta a detecção precoce dosproblemas, assim como o manejo rigoroso dos gatosacometidos. Por consequência, o papel da cirurgiafrente a gatos com esta afecção sofreu uma alteração.

Embora a maioria dos clínicos e cirurgiões concordemque a cirurgia não constitui a primeira linha deatuação, existem casos em que a inter vençãocirúrgica está preconizada ou é escolhida para facilitaro manejo dos gatos com DTUI. A perspectiva sobre assituações em que se deverá recorrer a este procedi-mento permite melhorar os resultados tanto para ogato, como para a satisfação do cliente.

Quais são os procedimentos cirúrgicos mais indicados?São três os procedimentos cirúrgicos que se utilizamna abordagem da DTUI felina. Indiscutivelmente, oprocedimento mais importante, com o qual o clínicodeverá estar familiarizado, que não deverá hesitar emrealizar e o único imprescindível numa emergência é acistostomia com sonda. Esta intervenção requer acolocação cirúrgica de uma sonda através da paredeventral do abdome até à bexiga (1). Deve realizar-se,preferencialmente, com o animal anestesiado – emborase trate de uma cirurgia de curta duração – mastambém pode ser efetuada sob sedação e anestesialocal, se necessário. Foram descritas técnicaspercutâneas com cateteres especiais em cães. Acolocação de uma sonda de cistostomia diminui aobstrução de fluxo urinário e favorece a subsequenteestabilização do animal, ajuda a manter a descompres-são em caso de distensão extrema da bexiga, o quefacilita a recuperação do músculo detrusor, permiteque a uretra se restabeleça da inflamação e traumainduzidos pela doença ou por tentativas de sondagem.Além disso, por se tratar de um sistema fechadopara a coleta de urina, facilita o monitoramento daexcreção urinária e da recuperação renal. Umacistostomia com sonda torna desnecessária acolocação de um catéter permanente, passível deaumentar a inflamação da uretra, nos casos em que se

O gato com DTUI -perspectiva do cirurgião

Giselle Hosgood BVSc, MS, PhD, FACVSc,Dipl. ACVS Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade doEstado da Louisiana, Baton Rouge, LA 70803, EUAA Drª Hosgood é formada pela Universidade de Queensland

e foi interna de cirurgia na Universidade de Murdoch, antes

de iniciar a residência cirúrgica na Universidade de Purdue,

em Indiana. Atualmente, é Professora e Diretora dos

Serviços de Cirurgia de Animais de Companhia da

Universidade Estadual da Louisiana. A sua principal área de

interesse é a cirurgia de tecidos moles. A Drª Hosgood é

autora de inúmeros trabalhos publicados na literatura

científica sobre diversos aspectos da cirurgia clínica

e experimental.

COMO TRATAR...

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permitem a sua inserção. Qualquer cateter interno quepermaneça aberto aumenta o risco de contaminaçãoambiental do tubo, impossibilitando a quantificaçãoda urina.

Os outros procedimentos utilizados no manejo daDTUI são a uretrostomia perineal (Figura 1) e auretrostomia antepúbica. A uretrostomia perineal criauma abertura uretral no períneo, na uretramembranosa (2,3). A uretrostomia antepúbica produzuma abertura uretral na parede ventral do abdomee constitui, claramente, uma intervenção de emergên-cia (4). Está indicada em situações de danosirreparáveis na uretra membranosa distal, frequente-mente originados por tentativas repetidas decateterismo, que impossibilitam a realização dauretrostomia perineal. A posterior formação deestenoses, que não permitam a ressecção, tambémpode-se constituir em indicação (Figura 2). Foidescrita uma modificação dos procedimentos, comcriação de um óstio transpélvico (5). As indicaçõespara esta intervenção são idênticas às das outrasuretrostomias.

Relativamente à uretrostomia perineal, as suas indica-ções por vezes são claras, e em outros casos, contro-versas. Trata-se de uma intervenção claramenteindicada, sempre que existem danos irreparáveis nauretra peniana. Mais preocupante ainda é a tentativade realizar este procedimento quando a obstrução nãopode ser aliviada. A uretrostomia perineal não seconstitui em uma intervenção de emergência, sendomais indicado proceder a cistostomia com sonda noscasos de difícil desobstrução. Uma vez estabilizado oanimal, e após o intervalo de tempo necessário para arecuperação da uretra, novas tentativas controladasde reduzir a obstrução poderão ser realizadas. Estáfora de questão realizar uretrostomia perineal numgato com episódios recorrentes de obstrução, ao invésde se proceder manejo médico específico rigoroso.Efetuar este tipo de intervenção em um gato com essascaracterísticas pressupõe uma decisão informada aocliente. Como não dispomos de um método depredição do futuro que permita saber se o animalvoltará a sofrer nova obstrução, não é possível tomaruma decisão com a máxima certeza em situações destetipo. De qualquer forma, se pode determinar se osucesso do tratamento ocorreu por causa doprocedimento, que previne novas obstruções, ou se ogato realmente não apresenta novos episódios

obstrutivos.

Quais são as consequências da uretrostomia?As alterações anatômicas associadas à uretrostomiaperineal incluem a redução do seu comprimento aprovavelmente menos de 1/3, através da remoçãoda uretra peniana. O novo óstio é criado na zona demaior diâmetro da uretra membranosa, na altura dasglândulas bulbouretrais. A consequência prevista paraesta alteração consiste na perda dos mecanismos dedefesa natural, habitualmente providenciados pelaestreita uretra peniana, que evitam sobretudo acontaminação ascendente. Em geral, a primeiramanifestação de obstrução uretral em gatos com DTUInão está associada a uma infecção bacteriana (6-8).Este tipo de infecção é mais provável na sequência demanipulação, incluindo cateterismo periódico ou

Figura 1.Uretrostomia perineal completa destacando a ampla abertura doóstio, na altura das glândulas bulbouretrais (indicada pela seta), ea uretra aberta, que se prolonga até ao períneo.

Figura 2.Aspecto típico dazona de umauretrostomiaperineal estenosada(indicada pela seta),habitualmentesecundária a umadissecaçãoinadequada dauretra na altura dasglândulasbulbouretrais.

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permanente e obstrução recorrente. É interessantenotar que os gatos com DTUI e infecção bacteriana,submetidos a uretrostomia perineal, apresentaramrecorrência de infecções do trato urinário, enquantoos felinos saudáveis sujeitos a uretrostomia perinealpor outros motivos, não desenvolvem infecções dotrato urinário (9,10). Desconhece-se se a recorrêncianos gatos com DTUI poderia ser diferente da situaçãosem a intervenção cirúrgica. Assim, a uretrostomiaperineal não pressupõe um risco do animal contrairuma infecção do trato urinário, exceto se apresentarhistórico de recorrência de infecções urináriasbacterianas.

A uretrostomia antepúbica provoca alteraçõesanatômicas semelhantes, embora reduza ainda mais ocomprimento uretral. A localização física do óstio noabdome ventral aumenta o risco de contaminaçãoascendente. As queimaduras pela urina podemtambém constituir um problema. Embora a junçãovesico-uretral não deva ser afetada, por vezes, aincontinência urinária representa um problema. Numestudo composto por 16 gatos, 13 dos quais com DTUI,foram observadas infecções bacterianas recorrentesdo trato urinário em 5 animais e sinais de DTUI emoito (4). Nenhum dos gatos sujeitos a uretrostomiaantepúbica por trauma desenvolveu infecçãobacteriana do trato urinário, o que coincide com osresultados observados para a uretrostomia perineal.

Quais são as complicações da uretrostomia perineal?A hemorragia provocada pelo corte do tecido peniano éa complicação precoce mais frequente, solucionadasem intervenção. A longo prazo, a complicação maiscomum é a estenose associada a uma técnica cirúrgicainadequada, a cateterismo permanente e a traumaauto-induzido. Preferencialmente esta cirurgia deveráser realizada por um clínico experiente. O cateterismopermanente não é indicado. Se for necessário adescompressão urinária da bexiga ou desvio uretral,deverá considerar-se como recurso a cistostomia comsonda. É imperativo reduzir o trauma auto-induzido.

ResumoTodos os esforços devem ser realizados para conduzirmanejo clínico rigoroso e aplicar estratégias deprevenção em gatos com DTUI. A cistostomia comsonda constitui importante instrumento de manejo,sobretudo em caso de urgência. Face à presença detrauma uretral irreparável, a indicação deuretrostomia é óbvia. A uretrostomia perineal, por sisó não está indicada no tratamento da DTUI. Optarpela realização deste procedimento em gatos comobstrução recorrente, mesmo com um manejo clínicorigoroso, deverá ser uma decisão informada e tomadade acordo com a análise individual de cada caso.

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O GATO COM DTUI – PERSPECTIVA DO CIRURGIÃO

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IntroduçãoA endocirurgia/endoscopia interventiva (EI) envolve autilização de equipamento endoscópico em conjunto comoutras modalidades contemporâneas de imagiologiaendoscópica, como a fluoroscopia e/ ou a ultrassono-grafia, para a condução de procedimentos terapêuticos ede diagnóstico praticamente em qualquer parte do corpoa que se tenha acesso através de um endoscópio(gastrintestinal, biliar, respiratório, trato urinário, etc.).A radiologia interventiva (RI) utiliza a fluoroscopia, com

ou sem ultrassonografia, para acessar vasos sanguíneos ediversos lúmens, de modo a coletar materiais específicospara fins de diagnóstico e tratamento.

Este artigo apresenta uma perspectiva resumida sobrealguns dos procedimentos urológicos minimamenteinvasivos, aplicados com crescente frequência empacientes veterinários, bem como sobre algumas aplica-ções futuras mais promissoras da endourologia e RI,atualmente em fase de pesquisa.

EquipamentoOs procedimentos endocirúrgicos interventivos tradi-cionais requerem diversos tipos de endoscópios flexíveise rígidos. A citoscopia rígida é realizada frequentementeem fêmeas para acessar à uretra, bexiga e ureteres. Osdiâmetros recomendados situam-se entre 1,9 e 7,5 mm,consoante ao tamanho do paciente. Recorre-se a ureteroscópios flexíveis para explorar auretra e bexiga de cães macho (2,5 a 3,4 mm), eacesso uretral em todos os animais com dimensõessuficientes para permitir a aplicação destes diâmetros. Osnefroscópios rígidos são usados (2,8 a 7,3 mm dediâmetro) em nefrolitotomias percutâneas ou paraablação de tumores do trato urinário superior, numaabordagem anterógrada. Podem ser utilizados diversostipos de litotriptores e lasers intracorpóreos nestesprocedimentos, como os lasers ultrassônicos, pneumá-ticos, eletroidráulicos, de holmio: laser YAG (ítrio,alumínio, granada), e lasers de tipo díodo. A litotripsiaextracorpórea por onda de choque (ESWL) é adequadapara nefrólitos, urólitos e cistólitos caninos de menoresdimensões.Na maioria dos procedimentos RI comuns a utilização deuma unidade de fluoroscopia tradicional é suficiente. Já

Endo-urologia e radiologia

de intervenção dotrato urinário

Allyson C. Berent, DVM, Dipl. ACVIMHospital Veterinário Matthew J. Ryan da Universidade daPensilvânia, Filadélfia, PA, EUAA Drª. Berent é formada pela Universidade de Cornell ecompletou a residência em medicina interna na Universidadeda Pensilvânia. Obteve uma bolsa de estudos em radiologiainterventiva e foi Conferencista Waltham sobre diagnósticose terapêuticas minimamente invasivas, na Universidade daPensilvânia e na Universidade Thomas Jefferson. Atualmente,faz parte da equipe veterinária de medicina interna eradiologia interventiva de pequenos animais, da Universidadeda Pensilvânia, como especialista em radiologia e endoscopiade intervenção. A principal área de interesse da Drª Berent é aendo-urologia interventiva.

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um equipamento de fluoroscopia com braço-C comportaa vantagem da mobilidade do intensificador de imagem,permitindo diversas visualizações tangenciais, semmover o paciente. A ultrassonografia facilita o acesso deagulha percutânea ao interior dos vasos ou a outrasestruturas (bexiga urinária, pélvis renal, etc.).São necessários fios condutores de diversos tamanhos,formas e grau de rigidez, bem como cateteres e stents,para cada intervenção (ver abaixo).

TécnicasRim e uréter> Colocação de um stent ureteralProcede-se à colocação de um stent ureteral no caso dediversos distúrbios, para desviar a urina da pelve renalpara a bexiga urinária. Esta técnica pode revelar-se útil empacientes com obstrução ureteral decorrente de umaurolitíase ou neoplasia obstrutiva ureteral ou trigonal(Figura 1), após ureteroscopia, nefrolitotomia percutânea,remoção de um cálculo ureteral (por meio de catéteres oude litotripsia ureteral), em caso de anastomose ureteralpós-operatória, de laceração ou espasmo ureteral, ou deureterite. Além disso, a presença de um stent ureteralpode favorecer uma dilatação ureteral passiva, de modo apermitir a passagem de ureterólitos até aí obstrutivos, oude um ureteroscópio flexível para condução da interven-ção ureteral indicada. Em caso de neoplasia ureteral, por exemplo, o acesso danefrostomia percutânea através de uma técnica anteró-grada pode realizar-se sob orientação de ultrassom(Figura 1A) ou fluoroscópica (Figura 2A), passando o fiocondutor pelo uréter e interior da bexiga de forma a sairpela uretra (Figura 1B). O dilatador ureteral é inseridoem sobreposição ao fio, numa abordagem retrógrada, deforma a dilatar a junção vésico-ureteral (Figura 1C), eentão stent uretral pode ser deslocado (Figura 1D).

> Nefrolitotomia percutânea (NLPC)A nefrolitíase ou as obstruções ureterais proximais,secundárias a ureterólitos, podem dar origem a insuficiên-cia renal progressiva, piolonefrite intratável, hematúria,cólica ureteral e hidronefrose. Um cálculo bastantepequeno poderá passar, contudo, outros cálculos requeremcirurgia para aliviar a obstrução ou evitar danos perma-nentes nos néfrons. As nefrotomias, pielotomias ouureterotomias são cirurgias invasivas e complicadas,passíveis de provocar uma morbidade significativa (1).Recentemente foi realizada uma nefrolitotomia percutâ-nea. Trata-se de um procedimento pouco invasivo que temcomo objetivo minimizar a morbidade e preservar aomáximo a função renal.

Como descrito anteriormente, a ureteropielografiaretrógrada requer o uso de cistoscopia e fluoroscopia. Oacesso por cateter ureteral é mantido para proteger ouréter de uma eventual penetração de fragmentos docálculo e permitir - se necessário - a repetição daintervenção. A abordagem retrógrada poderá não serpossível em gatos machos ou cães machos de raçaspequenas, realizando-se o acesso anterógrado por viapercutânea, com orientação fluoroscópica ou ultrasso-nográfica. Após inserir a agulha percutânea e o fiocondutor até à pélvis renal, orientado por fluoroscopia, éintroduzido um balão dilatador em sobreposição ao fio,para realizar a dilatação percutânea do trato até à pélvisrenal, de forma a atingir as dimensões que permitam acolocação de uma bainha suficientemente grande (Figura2A), para permitir o acesso do nefroscópio com litotriptor.Procede-se à introdução do nefroscópio através da bainhade acesso e o nefrólito ou urólito proximal é identificado efragmentado através de litrotripsia laser ultrassônica oupneumática (Figuras 2B e 3). Se o cálculo for pequenopode ser extraído através do canal de trabalho donefroscópio. Os fragmentos são removidos por sucção,pinça de coleta, ou de um cesto urológico pela mesma via.Após a remoção do urólito (Figura 2C), coloca-se umasonda de nefrostomia percutânea, durante 7 a 14 dias,para permitir o fechamento da via de acesso. Em caso detrauma ou inflamação ureteral, deverá optar-se pelacolocação de um stent nefroureteral percutâneo (Figura 2D)ou de um stent ureteral duplo permanente «pigtail»(Figura 1D) mantendo a patência a partir da pele, indoatravés da pelve renal e descendo pelo ureter até a bexiga.

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Figura 1.Imagem fluoroscópica abdominal lateral de um cão com 6,5kg e umaobstrução do uréter esquerdo, induzida por carcinoma celular transitório(TCC). A.Pielocentese percutânea com um cateter de calibre 18, eureteropielografia de contraste apresentando hidronefrose (asteriscobranco) e hidroureter (setas brancas). Setas pretas = cateter marcador docólon. B.Colocação anterógrada de fio condutor e cateter hidrofílicos numângulo de 0.035”(setas brancas), ao longo da obstrução e saindo atravésdo pênis. C.Dilatação ureteral retrógrada com dilatador ureteral de 6Fr,colocado sobre o fio (setas brancas). D. Stentureteral multifenestradopermanente de 4,7Fr x 12 cm (setas brancas) colocado desde a pélvisrenal (asterisco branco) até à bexiga urinária (BU), para descompressão.

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ENDO-UROLOGIA E RADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO DO TRATO URINÁRIO

Se houver suspeita de trauma ureteral, o stent deverápermanecer colocado durante 4 a 6 semanas (2).> Colocação de uma sonda de nefrostomia percutâneaAs obstruções ureterais, secundárias a ureterólitos ou atumor canceroso, se forem bilaterais ou se ocorrerem emanimais com insuficiência renal concomitante podemdesencadear uma hidronefrose grave e/ou azotemiamortal. Alguns pacientes poderão receber cuidadospaliativos até à passagem do urólito, no entanto outrosrequerem uma abordagem cirúrgica. As ureterotomias sãocirurgias complicadas e relativamente longas para estetipo de doente que, em geral, se apresentam jádebilitados. Uma possibilidade consiste na colocação desonda de nefrostomia percutânea, para minimizarrapidamente a obstrução e verificar se há função renaladequada, antes de submeter o animal a uma anestesiaprolongada para condução da manobra cirúrgica.

O acesso à pelve renal com agulha percutânea efetua-se deacordo com o procedimento anteriormente descrito, comorientação ultrassonográfica (Figura 1A). Insere-se um fiocondutor na pelve renal, conduzindo-o (se possível) até aouréter, por expansão do trato com dilatadores sequenciaisou um sistema de dilatação por balão. Um cateter dedrenagem com alça de fixação é avançado sobre o fio paraformar uma alça no interior da pelve renal (Figura 4). Ocateter é ligado a um sistema de coleta de urina e fixado àparede abdominal com sutura «finger-trap» e múltiplospontos simples separados. A presença de sonda denefrostomia facilita o acesso à urina produzida pelo rim,bem como a realização de posterior pieloureterografia decontraste ou intervenção ureteral percutânea (litotripsia,

NLPC, colocação de um stent, etc).> Ablação de ureter ectópico a laser, guiado porcitoscopia Os ureteres ectópicos são uma malformação anatômicacongênita, comum em cães com o orifício ureteral emposição distal ao trígono da bexiga, no interior da uretra,vagina, vestíbulo ou útero. Mais de 95% dos canídeos comureteres ectópicos apresentam um transverso intramural esão candidatos a esta intervenção minimamente invasiva.Foi realizada com sucesso a reparação endoscópica dosureteres ectópicos em mais de 20 cães, procedimentoefetuado por meio de fluoroscopia, citoscopia e laser YAG:diodo ou holmio no decurso da citoscopia de diagnóstico.De forma geral, a correção cirúrgica de ureteres ectópicosrevela resultados de incontinência persistente, comintervenção médica concomitante em aproximadamente40 a 71% dos casos, devido a incompetência do mecanismodo esfíncter uretral (SMI-Sphincter MechanismIncompetence) (3,4). Até o momento, e de acordo com aexperiência da autora, a continência tem sido mantidacom (80%) ou sem (60%) medicação concomitante(fenilpropanolamina), graças a esta intervenção. Seránecessário conduzir um estudo num número superiorde casos com período de acompanhamento maisamplo que permita estabelecer comparação mais precisaentre estes procedimentos.

> ESWL (Extracorporeal Shock-Wave Lithotripsy) para anefro/ureterolitíase A litotripsia extracorpórea por onda de choque constitui-se em outra alternativa minimamente invasiva pararemoção de cálculos do trato superior na pélvis renal, ounos ureteres. Esta técnica utiliza ondas de choqueexternas que passam através de meio aquoso, através deorientação fluoroscópica em 2 planos. O cálculo é sujeitoa cerca de 1.000 a 3.500 choques, com diferentes níveisde energia, de modo a permitir a sua implosão epulverização. Aguarda-se cerca de 1 a 2 semanas parapermitir a passagem dos fragmentos do cálculo atravésdo uréter até à bexiga urinária. Trata-se de umprocedimento realizável com segurança em nefrólitos

Figura 3.Yorkshire Terrier, fêmea esterilizada,com 7 anos de idade. Imagemnefroscópica de um nefrólito deoxalato de cálcio no interior da pélvisrenal. Trata-se da imagemendoscópica do cão referido naFigura 2B.

Figura 2.Imagem fluoroscópica lateral de um cão com nefrólitos bilaterais. A. Após nefrostomia percutânea, introdução de um fio condutor emtoda a extensão e de uma guia de segurança (setas brancas), écolocada uma bainha de acesso (seta preta) até ao nefrólito(asterisco branco). B. Posiciona-se um nefroscópio com litotriptor deultrassons (seta branca) no interior da bainha, o nefrólito éfragmentado (setas pretas) e procede-se à remoção dos fragmentos.C. Imagem fluoroscópica de um rim sem cálculos. D. Colocação de umstent nefro-ureteral (setas brancas) após litotripsia.

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com menos de 5 mm e em ureterólitos inferiores a 3 mm.Para cálculos de maiores dimensões deverá colocar-se umstent ureteral duplo permanente «pigtail» antes dalitotripsia ESWL para facilitar a expulsão dos fragmentosdo cálculo. Para cálculos consideravelmente superiores,recomenda-se a NLPC (5-8).

Bexiga e uretra> LitotripsiaA litotripsia por laser é uma técnica inovadora queenvolve a fragmentação intracorpórea de urólitos, comrecurso de um citoscópio ou ureteroscópio rígido ouflexível. O primeiro relato de aplicação da litotripsia comlaser de holmio data de 1995, em medicina humana (9).O laser de holmio: YAG (ítrio, alumínio, granada) é umlaser pulsado de estado sólido que emite luz com 2.100 nmde comprimento de onda de infra-vermelhos (10). Aenergia é absorvida em menos de 0,5 mm de fluído, o quepermite pulverização segura dos urólitos em zonas dedimensões reduzidas, como o interior da uretra, doureter, da pelve renal ou da bexiga urinária, e riscolimitado de danos uroteliais (10). Esta técnica combina asecção de tecidos e propriedades coagulantes, com acapacidade de fragmentar cálculos por contato (10).Fibras de diâmetro reduzido (200, 365, 550 microns) sãoguiadas através do canal de trabalho de citoscópios/ureteroscópios, flexíveis ou rígidos, também de pequenodiâmetro. Muito embora os diversos modelos delitotriptores comercializados apresentem ligeiras varia-ções, a duração do pulsado dos lasers de holmio variaentre 250-750 micro-segundos, a energia do pulsadoentre 0,2-4,0J/pulsos e a frequência entre 5-45Hz, compotência média situada entre 3,0-100W. A potência deve

ser selecionada em funçãoda utilização que se pretendedar ao equipamento.A energia do laser concentra-se na superfície do urólito,orientada por citoscopia. Aenergia irradiada pelo laserpulsado é absorvida pelaágua existente no interior dourólito, produzindo um efeitofototérmico que provoca afragmentação do cálculo. Olaser de holmio exerce a suaação no cálculo através deuma bolha de vapor, que se forma quando a energia dolaser pulsado, propagada pela água existente naextremidade da fibra, se imobiliza dentro da bolha(efeito Moses). Se a ponta da fibra estiver posicionada auma distância igual ou superior a 0,5 mm do tecido, abolha de vapor desfaz-se, a água absorve a energia e nãoocorre qualquer impacto. Se a extremidade se situar amenos de 0,5 mm do cálculo, a bolha de vapor entra emcontato com o urólito e pulveriza-o. Quanto mais pertoa ponta da fibra estiver do alvo, maior será o efeito. Ocálculo deverá ser fragmentado até obtenção depedaços suficientemente pequenos para seremremovidos de forma normógrada através do orifíciouretral, seja por via uroidropropulsão de esvaziamento,ou por meio de um cesto para cálculos. Este processorevela-se bastante útil em caso de cálculos ureterais,císticos e uretrais (Figura 5). Todos os tipos de cálculospodem ser fragmentados através de litotripsia por laser(11,12).

Outras aplicações urológicas para a litotripsia por laserincluem: a incisão de estenoses uretrais e ureterais; aablação de carcinoma de células de transição superficiais/adenocarcinoma prostático, no interior do lúmen uretral, eablação de pólipos urinários com laser (Figura 6). Ospólipos da bexiga são comuns no cão e podem estarassociados a infecções crônicas recorrentes do tratourinário e à formação de cistólitos, frequentementeconfundidos com neoplasia cística. É possível remover ospólipos sem intervenção cirúrgica, através da cauterizaçãodo pedúnculo por citoscopia associada ao uso de cestos oude litotripsia por laser.

> Colocação de um stent uretral em obstruções malignasAs obstruções malignas da uretra são responsáveis pelomal-estar acentuado, disúria e azotemia não tratável.Mais de 80% dos animais com carcinoma celular

Figura 4.A.Radiografia abdominal dorsoventral de um cão com 6,5 kg,apresentando ureterólitos e nefrólitos bilaterais, após stent ureteralduplo «pigtail» (a seta branca corresponde ao lado direito; a setaamarela ao lado esquerdo) e colocação de uma sonda de nefrostomia(ponta da seta branca).B.Radiografia lateral do mesmo cão, destacando um «pigtail» do stentureteral na pélvis renal (seta amarela) e outro na bexiga (seta preta), ea sonda de nefrostomia no rim direito (ponta da seta branca).

Figura 5.Imagem citoscópica delitotripsia por laser na bexigaurinária, devido a cálculoscísticos. A fibra azulcorresponde ao laser dehólmio: YAG, inserido no canalde trabalho do endoscópio.

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ENDO-UROLOGIA E RADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO DO TRATO URINÁRIO

transitório (TCC) da uretra e/ou carcinoma prostáticoapresentam disúria e destes, aproximadamente 10%desenvolvem obstrução total do trato urinário (13-15). Aquimioterapia e a radiação têm sido bem sucedidas noabrandamento do crescimento tumoral, mas a cura total épouco comum. Face à manifestação de sinais deobstrução, preconiza-se uma terapia mais agressiva.Foram descritas outras abordagens: inserção de tubos decistostomia, ressecções transuretrais e procedimentoscirúrgicos de desvio, no entanto, são intervençõesinvasivas potencialmente associadas a um resultadoindesejável, devido à drenagem manual da urina,morbilidade, micções frequentes e infecção. A colocaçãode stents expansores metálicos, por orientaçãofluoroscópica e abordagem transuretral, pode revelar-seuma alternativa rápida, confiável e segura para adesobstrução uretral, tanto em machos quanto emfêmeas, considerando-se os resultados paliativosevidenciados: 86% bons a excelentes.

A colocação de um stent uretral também pode ser útil emdoentes com estenoses uretrais benignas ou dissinergiaref lexa, sempre que as terapias tradicionais não

produzam resultados, face a recusa ou não indicação daopção cirúrgica. Os casos de mortalidade animal apóscolocação de um stent uretral resultaram de causas nãorelacionadas com a obstrução urinária, na sua maioriaassociados a doença metastática distante (13).

Realiza-se um cistouretrograma de contraste, avançandoao longo da constrição maligna com um fio condutortransuretral retrógrado ou anterógrado. Após medição dodiâmetro normal da uretra e da extensão da obstruçãoprocede-se à escolha de um stent uretral metálico auto-expansor (SEMS) (aproximadamente com mais 10 a 15%do que o diâmetro uretral e ultrapassando em 1cm aobstrução, em ambas as extremidades, cranial e caudal).O stent é colocado com orientação fluoroscópica,realizando-se novo cistouretograma de contraste paradocumentar a desobstrução uretral.

> Implantação transuretral de colágeno na sub-mucosaDiversas instituições têm recorrido à aplicação de umainjeção de colágeno com monitoramento uretroscópicoem casos de USMI. Trata-se de uma intervenção indicadanos casos em que a terapia médica para a SMI não tenhaproduzido resultados, esteja contra-indicada ou não sejatolerada. De forma geral, o sucesso da intervenção éexcelente, muito embora a média de manutenção dacontinência, relatada após este procedimento, seja de 17meses, e bastante comum o recurso a de reaplicações daíem diante (16).Procede-se a sondagem da uretra por meio de umcitoscópio rígido, identificando-se uma área no seuinterior imediatamente caudal ao trígono da bexiga. Éinserida uma agulha «heuber» com seringa, previamente

Figura 7.Cadela Labrador Retriever esterilizada, com 4 anos de idade,apresentando SMI. A. Imagem citoscópica da uretra, imediatamentecaudal ao trígono, anterior à aplicação da injeção de colágeno. B. Agulha Heuber com diâmetro 21, introduzida no canal de trabalho do citoscópio, logo após a primeira injeção de colágeno sub-mucosal.C. Após 3 injeções de colágeno, aplicadas da esquerda para a direita.D. Após a última injeção de colágeno.

Figura 6.Imagem fluoroscópica abdominal lateral de um cão com CarcinomaCelular Transitório prostático e uretral. A. Cistouretrograma decontraste que evidencia extravasamento do contraste para o tecidoprostático e atenuação do contraste devido a estreitamento uretral aonível da próstata. (3) Cateter marcador de 2cm, colocado no interior doreto, para efeito de medição. (4) Medição do diâmetro uretral, caudal àuretra doente. B. Colocação de SEMS parcial durante a visualizaçãofluoroscópica. C. Cistouretrograma de contraste, realizadoimediatamente após a colocação de um stent total, que demonstra adesobstrução uretral.

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repleta de colágeno no canal de trabalho do citoscópio.Aplica-se uma injeção sub-mucosal, colocando umavesícula no lúmen uretral. Este procedimento é efetuadoem 3 a 4 áreas, de forma a criar um novo estreitamentono interior do lúmen uretral (Figura 7).

> Cateterismo uretral anterógrado

O cateterismo uretral realiza-se por rotina em doentesveterinários. Ocasionalmente, pode revelar-se difícilefetuar um cateterismo retrógrado standard em fêmeasmuito pequenas, fêmeas com tumores obstrutivos ou emfelinos com dilaceração uretral (Figura 8A), nasequência de tentativas de desobstrução ou secundáriosa trauma.O cateterismo uretral anterógrado, realizado sobvisualização fluoroscópica direta, pode ser efetuado deforma rápida, fácil e segura, em doentes nos quais astentativas de condução de cateterismo retrógrado derotina não tenha produzido resultados.

A cistocentese é realizada sob anestesia geral, com umcateter de 18g, sobre a agulha e através da injeção decontraste para definir a bexiga urinária e a uretra (Figura 8B). Procede-se a introdução de um fio condutorna bexiga, através de abordagem anterógrada emonitorização fluoroscópica, descendente até à uretra esaindo pelo pênis ou pela vulva (Figura 8C). Insere-seum cateter urinário na bexiga (com pontas abertas ou«pigtail») por via retrógrada, em sobreposição ao fio(Figura 8D) e, em seguida, retira-se o fio condutor. Ocateter urinário é fixado através do processo de rotina.

> Outras situações A hematúria renal idiopática é uma doença muito rararelatada nos cães. A autora possui alguma experiênciacom este distúrbio e, caso os leitores estejaminteressados, terá todo o prazer em compartilhar as suasopiniões. A cistotomia percutânea é analisada no artigo

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ENDO-UROLOGIA E RADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO DO TRATO URINÁRIO

Figura 8.Cadela Labrador Retriever esterilizada, com 6 meses de idade eureteres ectópicos bilaterais, visualizados através de citoscopia. A. Imagem citoscópica do orifício ureteral, na uretra distal (seta preta).B. Ablação por laser do uréter ectópico sob orientação citoscópica. Ocateter amarelo encontra-se no interior do túnel ureteral protegendo aparede posterior do uréter (seta preta), enquanto a fibra de laser (setabranca) avança no lúmen ureteral, ao lado do cateter, cortando amembrana fina até ao lúmen uretral. C. Imagem da membrana ureteral,seccionada no interior do lúmen uretral, após intervenção com laser. D. Perspectiva citoscópica trigonal, 6 semanas após a intervenção: onovo orifício ureteral é visível no interior do lúmen vesical (setabranca). Boa cicatrização da membrana lisa (seta amarela).

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Métodos para medir opotencial de cristalizaçãoda urina - RSS vs. APR

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Para médicos e pesquisadores é extremamente útilconseguir prever a probabilidade de cristalização, emurina recém coletada, dos sais e ácidos responsáveispela formação de cálculos. Trata-se de um fator quetanto se aplica aos estudos conduzidos em sereshumanos como em animais de companhia. No caso dosprimeiros, os cinco principais componentes dos cálculossão o oxalato de cálcio (OxCa), o fosfato de cálcio (PCa),o fosfato de amônio magnesiano (FAM ou estruvita), oácido úrico (AU) e a cistina. Nos animais de companhia,os dois principais constituintes são OxCa e estruvita,embora tenham sido relatados alguns casos de cistina, ede urato de amônio em certas raças de cães, porexemplo, Dálma-tas. Enquanto o PCa e o AU sãobastante comuns nos cálculos dos seres humanos,raramente constituem os componentes primáriosdos cálculos observados nos animais de companhia.

O principal fator que determina o potencial decristalização da urina é o nível de supersaturação dasdiversas substâncias responsáveis pela formação doscálculos. O conceito de supersaturação é abordadodetalhadamente na presente edição, no artigo assinadopor Vincent Biourge (ver página 41). Em síntese, aliteratura apresenta dois métodos principais paraavaliar a supersaturação urinária – a SupersaturaçãoRelativa (RSS) e a Razão do Produto de Atividade(APR). Ambos os métodos têm origem em estudosrealizados em urina humana, no final dos anos 60 (1) einício dos anos 70 (2), mas apenas foram transpostospara o campo dos animais de companhia durante aúltima década. De forma geral, a RSS foi adotado comométodo de eleição pela pesquisa veterinária, no RU e naEuropa. Nos EUA, tem sido aplicada uma combinação do

William G. Robertson BSc, PhD, DSc O Dr. Robertson é bioquímico clínico e trabalha atualmente noDepartamento de Fisiologia (Centro de Nefrologia) da Royal Free andUniversity College Medical School, Londres, Inglaterra. Os principaisinteresses do Dr. Robertson são a urolitíase e as áreas de pesquisarelacionadas com estas afecções. Ao longo de 40 anos, o seutrabalho de pesquisa incidiu sobretudo sobre o campo da urolitíasehumana mas, durante a última década tem supervisionadodiversos projetos relacionados com a formação de cálculos emanimais de companhia. Além disso, o Dr. Robertson colabora com aLithoscreen, um serviço de monitorização dos pacientes que elepróprio fundou, com o objetivo de identificar a(s) causa(s) doscálculos renais e preconizar o tratamento mais adequado paraevitar a formação de novos cálculos.

Abigail E. Stevenson PhD, BSc, MIBiol, CbiolA Dra Stevenson formou-se com distinção na Universidade deStirling, em 1992. Depois de trabalhar durante 6 meses na Universidadede Anchorage, Alasca, como assistente de pesquisa foi nomeadapara o cargo de técnica de pesquisa do Centro de NutriçãoWALTHAM para Animais de Companhia para estudar o metabolismoda vitamina A e da taurina em felinos. Em 1995, foi promovida aCientista de Pesquisa, passando a trabalhar na área da saúde dotrato urinário, tema sobre o qual apresentou a sua tese dedoutorado em 2002. Recentemente, a Dra Stevenson aceitou umcargo na área de Comunicações Científicas da WALTHAM.

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RSS e do APR. O presente artigo procura estabelecer umacomparação entre as vantagens e desvantagens relativasdos dois procedimentos.

O RSS é o algoritmo habitualmente utilizado pelamaioria dos profissionais que trabalham no campo daurolitíase humana para avaliar a supersaturaçãourinária. Os dois programas essenciais utilizados nestecálculo são o SUPERSAT (3) e o EQUIL (4). Ambosrequerem a medição das concentrações totais de 12 íonsde carga positiva e negativa e do pH de cada amostra deurina. Os dados são introduzidos num dos programasacima referidos, especificamente elaborados paraefetuar o cálculo, através de uma metodologia inter-ativa das concentrações de um número considerável decomplexos interativos que se formam entre os íons.Estes programas também calculam os coeficientes deatividade dos diversos íons combinando depois, asconcentrações relevantes de íons livres e os coeficientesde atividade para obter os produtos de atividadepara cada sal potencialmente responsável pelaformação de cálculos. Os produtos de atividade sãodivididos pelos produtos de solubilidade termo-dinâmica correspondentes aos sais em questão paradeterminar os seus valores RSS na urina (consultar oartigo do Dr.Vincent Biourge, na página 41).

A principal limitação desta abordagem reside nopressuposto de que todos os complexores importantesdos íons dos sais que formam os cálculos são alvo demedição urinária. Contudo, esta suposição não éfundamentada, não só no caso da urina humana, comotambém na urina de animais de companhia (5). Existemdiferenças mínimas entre os valores RSS calculados peloSUPERSAT e pelo EQUIL relativamente ao OxCa,embora a diferença seja mais significativa para aestruvita. De forma geral, a estimativa RSS proporcio-nada pelo SUPERSAT situa-se mais próximo dos valores

previstos em ensaios sobre o equilíbrio a longo prazo doexcesso de cristais de cada sal na urina dos humanos,cães e gatos, do que o EQUIL (Tabela 1).

Apesar da sua exatidão como medida do potencial decristalização de uma determinada urina, a principaldesvantagem do método RSS é a considerávelquantidade de trabalho analítico, requerido para medira ampla classe de íons necessários para efetuar o cálculoem cada amostra de urina. Por esta razão foi desenvol-vida uma abordagem alternativa, denominada Razãodo Produto de Atividade (APR), que requer menostrabalho analítico que o RSS. Na forma original, o APR(na realidade, uma designação inadequada uma vezque não envolve uma razão de verdadeiros produtos deatividade) baseava-se na análise das concentraçõestotais de cálcio, oxalato, fosfato e no pH. Essa razão eracalculada através da divisão dos produtos relevantes dasconcentrações destas substâncias presentes na urina (a)antes (APt=0) e (b) após 48 horas de incubação comformações iniciais de cristais de OxCa ou de PCa (APt=48).

No artigo que redigimos anteriormente sobre este tema(6), analisámos o valor do APR(= APt=0/AP t=48) comomedida da supersaturação urinária, particularmenteem relação ao OxCa. Concluiu-se que, desde que AP t=48 podia ser influenciado por inibidores, o APR nãose constituía em uma medida muito rigorosa do nívelreal de supersaturação na urina original, e que o RSSseria, com maior probabilidade, um método melhorpara a medição deste parâmetro. Desde então foramobtidas mais provas da fraca confiabilidade do APR,preconizando-se a descontinuação do seu uso naforma original.

Como o APR é uma função da supersaturação (emboranão seja uma medida precisa devido aos efeitos dos

Solução de equilíbrioRSS do OxCa RSS da estruvita

SUPERSAT EQUIL SUPERSAT EQUIL

Solução inorgânica 1,00 ± 0,01 (n=14) 1,01 ± 0,01 (n=14) 0,99 ± 0,02 (n=6) 4,70 ± 0,70** (n=6)

Urina humana 1,00 ± 0,06 (n=6) 1,01 ± 0,07 (n=6) 0,99 ± 0,05 (n=6) 6,57 ± 0,67** (n=6)

Urina canina 1,21 ± 0,03 (n=6) 1,52 ± 0,03* (n=6) 1,48 ± 0,25 (n=3) 6,61 ± 1,17* (n=3)

Urina felina 0,97 ± 0,03 (n=6) 1,14 ± 0,03* (n=6) 1,35 ± 0,15 (n=4) 5,74 ± 0,58* (n=4)

Tabela 1.Resumo dos valores RSS calculados em equilíbrio, em diversas amostras de urina, através dos sistemasSUPERSAT e EQUIL (de 3)

* EQUIL > SUPERSAT (P<0.05) ** EQUIL >> SUPERSAT (P<0.01)

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inibidores de cristalização sobre a taxa de obtenção deequilíbrio entre a solução e os cristais), poderáargumentar-se que constitui um método razoável demedição global da supersaturação e da atividadeinibitória, em conjunto. De fato, à primeira vista estateoria poderá ter algum mérito. No entanto, o APR acabapor ser uma função de outros fatores, tal como asupersaturação e os inibidores. Estima-se que, no total,resulte no mínimo de cinco fatores: (a) do nível desupersaturação inicial da urina, (b) das concentraçõesdos vários inibidores e promotores urinários, (c) dooxalato inicial: razão inicial de oxalato: cálcio na urina(Figura 1), (d) da fraca densidade da mistura de cristaise urina (ex. massa de cristais adicionada por unidade devolume de urina) (Figura 2) e (e) do tempo deincubação (arbitrariamente, estabelecido em 48 horas,pelos criadores originais deste método) (Figura 3). Umavez que os primeiros quatro fatores podem influenciar acurva do produto de atividade real, por oposição aotempo de incubação de uma urina com excesso decristais de OxCa ou PCa, a inclinação da curva desupersaturação pode variar consideravelmente emtermos de forma, frente à alteração de qualquer umadestas variáveis (ex. como na Figura 2). Muito embora abaixa densidade e o tempo de incubação sejamestabelecidos de forma arbitrária, as variações narazão oxalato: cálcio podem dar origem a diferençasacentuadas na quantidade de OxCa precipitada(Figura 1). Presumivelmente, a quantidade de OxCaprecipitada (ex. cristalúria) é a variável que determinao risco de formação de cálculos com o maior grau deproximidade.

Considere-se, por exemplo, duas urinas simples querepresentem exatamente o mesmo produto deatividade inicial (APt=0), mas com concentrações iniciaisde cálcio distintas(TCa t=0) e de oxalato (TOx t=0).Urina 1: TCa t=0= 10mmol/L e TOx t=0 = 0,4mmol/LUrina 2: TCa t=0= 5mmol/L e TOx t=0= 0,8mmol/L

Ambas representarão o mesmo AP t=0= 4.

Suponhamos que ambas possuem um AP t=48 = 1,96idêntico às 48 horas, o que lhes atribuiria valores idênticosde APR de 4/1,96 = 2,04, de acordo com os autores docálculo original. Contudo, quando se calcula a quantidadede OxCa precipitado em cada urina, para atingir um AP t=48

de 1,96 às 48 horas, a urina 1 sofrerá uma precipitação de0,2 mmol/L de OxCa e a urina 2 de 0,376 mmol/L deOxCa, o que representa quase o dobro da urina 1. A lógica

aponta para um maior potencial de formação de cálculospor parte da urina 2 comparativamente à urina 1, muitoembora ambas representem os mesmo valores de APR!Continuando a usar as mesmas amostras de urina,consideremos agora que a urina 2 precipita a mesma

MÉTODOS PARA MEDIR O POTENCIAL DE CRISTALIZAÇÃO DA URINA - RSS vs. APR

Figura 1.Relação entre a cristalúria de OxCa e a razão urinária de Ox/Ca.

Figura 2.Efeito da baixa densidade (concentração de cristais) e do tempo deincubação na abordagem da RSS em equilíbrio, na urina humana. *Produto de formação, ** Produto de solubilidade

Figura 3.Efeito da baixa densidade (concentração de cristais) e do tempo deincubação no valor do APR na urina humana, calculado através dosdados da Figura 2.*Produto de formação, ** Produto de solubilidade

0.01 0.1 1 10

171514

Urina felinaUrina canina

Urina humana

Logaritmo oxalato/cálcio (mmol/mmol)

RSS OxCa100

80

60

40

20

0

0 2 4 6 8 10

0.01 g CaOx/ 20 mL0.10 g CaOx/20 mL1.00 g CaOx/20 mL

PF*

PS**

Tempo (dias)

Logaritmo SSR de OxCa

15

10

5

0

0 2 4 6 8 10

0.01 g CaOx/ 20 mL0.10 g CaOx/20 mL1.00 g CaOx/20 mL

PF*

SP**

Tempo (dias)

APR calculado

15

10

5

0

Volume de cristais de OxCa (m

m3 /L)

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quantidade de OxCa que a urina 1 durante 48 horas.Esta situação traduz-se num APR calculado de 1,96 naurina 1, tal como sucedeu anteriormente, e um APR de1,39 na urina 2, o que sugere que esta última comportaum potencial de formação de cálculos bastante inferiorà da urina 1, ainda que ambas precipitem a mesmaquantidade de cristais de OxCa!

Podem aplicar-se os mesmos argumentos à medição doAPR no caso da estruvita.

Em resumo, tanto o numerador como o denominador daexpressão para determinar o APR são suspeitos, no casodo OxCa, ou no caso da estruvita. O numerador do APRcalculado através do sistema EQUIL sobrestima a RSSpara o OxCa e para a estruvita (sobretudo no caso doúltimo) na urina de cães e gatos. O denominador daexpressão do APR depende consideravelmente da baixadensidade de cristais e do tempo de incubação,utilizados nos estudos de equilíbrio. Assim, estamedição, também denominada “atividade inibitória”,pode ser artificialmente induzida para produzir umresultado baixo ou alto, consoante as condições doensaio. O denominador também está dependente daRSS da urina original e da razão urinária de Ox/Ca.Embora o risco de formação de cálculos seja uma funçãodecorrente ou do aumento do nível de supersaturação –em termos dos sais de formação de cálculos – ou dadiminuição do nível de atividade inibitória na urina, oAPR por si só, e na sua forma original, não pode ser

usado de forma confiável para avaliar globalmente opotencial de formação de cálculos de uma amostra deurina, uma vez que depende, em larga escala, dascondições dos estudos de equilíbrio, do RSS e do Ox/Cada urina original, como anteriormente mencionado. Emteoria, o melhor método para medir o risco de formaçãode cálculos será o RSS (calculado através do SUPERSAT,e não do EQUIL, pelas razões indicadas na Tabela 1) emconjunto com as concentrações dos inibidores reais decristalização, com valores determinados na urina. Narotina apenas se realiza a medição do citrato e domagnésio na urina dos animais de companhia, dentre osinibidores detectáveis da urina humana. Destes, ocitrato constitui um potente inibidor da cristalizaçãodos sais de cálcio, muito embora na urina dos animaisde companhia seja observado apenas em concentra-ções muito baixas, sendo improvável que possua algumarelevância para a determinação do risco de formação decálculos. O magnésio é um inibidor muito fraco dacristalização dos sais de cálcio, e não evidenciouqualquer diferença na urina de animais com formaçãode cálculos e na urina de animais em que esse fenômenonão se produziu. Ainda não foi determinada a existênciaou inexistência de inibidores não identificados decristalização na urina dos animais de companhia. Atéo presente momento a medição da supersaturaçãourinária através da RSS continua a ser o método maiseficaz para determinar o risco de formação de cálculosem gatos e em cães.

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MÉTODOS PARA MEDIR O POTENCIAL DE CRISTALIZAÇÃO DA URINA - RSS vs. APR

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Diluição urinária-um fator-chave na prevençãode urólitos de estruvita e deoxalato de cálcio

Vol 17 No 1 / / Veterinary Focus / / 41

PONTOS-CHAVE➧ A forma mais fácil de reduzir a supersaturaçãourinária e, consequentemente, os riscos deformação de cristais, é aumentar o volume da urina.

➧ O aumento do teor de cloreto de sódio (NaCl) na dietaaumenta a ingestão de água, bem como, a produçãode urina e diminui a supersaturação urinária.

➧ Pode ser formulada uma única dieta acidificante,moderadamente suplementada com NaCl, tantopara a prevenção de urólitos de estruvita e deoxalato de cálcio, como para a dissolução decálculos de estruvita.

pH urinário, estruvita e oxalato de cálcioEm meados dos anos 80 a descoberta de que um pHurinário alcalino (pH >6,5) constituía o principal fatorda patofisiologia dos cristais e cálculos de estruvita,levou a indústria a reformular as suas dietas (1,2). De

acordo com os especialistas, a generalização daschamadas “dietas acidificantes” conseguiu induzir umadiminuição assinalável da prevalência de gatos comsinais de obstrução uretral levados às clínicas veteriná-rias (1). Por outro lado, também iniciaram-se os debatesdentro da comunidade veterinária sobre os potenciaisriscos para a saúde, associados à superacidificação (2).

O fato é que a patofisiologia dos urólitos de OxCa não foiainda totalmente elucidada e que a sua associação àsdietas acidificantes pode resultar da confusão comoutros fatores, como o aumento da esperança de vidados animais de companhia, bem como de alteraçõesintroduzidas na formulação dos alimentos ao longodeste período(3). Além disso, esta associação não seaplica aos cães, para os quais as dietas acidificantes sãomuito menos comuns.

Vincent Biourge, DVM, PhD, Dipl. ACVN,Dipl. ECVCNCentro de Pesquisa Royal Canin, Aimargues, FrançaO Dr. Biourge é formado pela Faculdade de MedicinaVeterinária da Universidade de Liége (Bélgica), em 1985.Foi assistente no Departamento de Nutrição durante 2anos, antes de ingressar no Hospital Veterinário daUniversidade de Pensilvânia (Filadélfia, EUA) e, mais tarde,no Hospital Veterinário da Califórnia (Davis, EUA) onderealizou o doutorado e residência em Nutrição Clínica. Em1993, apresentou sua tese de doutorado em Nutrição, naUniversidade da Califórnia, e obteve o diploma do ColégioAmericano de Nutrição Veterinária. Em 1994, entrou para oCentro de Pesquisa Royal Canin, em Aimargues (França),como Diretor de Comunicação Científica e Nutricionista.Desde Janeiro de 1999, é o responsável pelo programa depesquisa nutricional Royal Canin.

PONTO DE VISTA ROYAL CANIN

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Com base em estudos epidemiológicos que associam opotencial das dietas acidificantes aos riscos de formaçãode cálculos de OxCa, uma corrente de pesquisadoresacredita que o pH urinário constitui o fator maisimportante na prevenção da recorrência de urólitos deOxCa (4). De acordo com esta teoria, é impossívelformular uma dieta que previna, simultaneamente, aformação de cálculos de estruvita e de OxCa, uma vezque o primeiro requer pH urinário baixo, enquanto osegundo requer pH mais alcalino.

pH urinário e supersaturação relativaConsiderado isoladamente, o pH da urina não permiteavaliar o risco de formação de cristais de OxCa no tratourinário, sendo que a supersaturação urinária relativa(RSS) constitui uma ferramenta bem mais eficaz. Trata-se do método utilizado com maiorfrequência em seres humanos e que já foivalidado, tanto em urina canina, como felina(5), (Consultar artigo de B. Robertson e A.Stevenson, na página 37).

A formação, crescimento e dissolução dos cristaisurinários depende das concentrações dosminerais de que são compostos (ex: cálcio eoxalato) e passíveis de reagir livremente entre si(5). É possível calcular as frações de cálcio eoxalato. O produto das concentrações dessasfrações livres denomina-se produto deatividade. Define-se a RSS de um determinadosal como a razão do produto de atividade,dividido pelo produto de solubilidade termo-dinâmica para o sal em questão.

O produto de solubilidade termodinâmica consiste naquantidade máxima de um determinado sal que podeser dissolvida num solvente (ex. água), a uma dadatemperatura (ex. 37°C) e com um determinado pH (ex. 6.0).- RSS <1 significa que a urina se encontra sub-saturada

e que não se produzirá a formação de cristais, mas sima sua dissolução (Figura 1).

- RSS >1 significa que a urina se encontra super-saturada e que pode ocorrer formação de cristais, masnão a sua dissolução.

Num meio complexo como a urina, é possível observarum RSS de OxCa ou de estruvita acima de 1, semocorrer precipitação espontânea de cristais (6), nívelque se classifica como supersaturação metastável(Figura 1). Neste nível de saturação, os cristais de OxCanão se formam espontaneamente, mas podem surgir empresença de um núcleo.

Com teores mais elevados de minerais na urina, os cristaisproduzem-se de forma espontânea em alguns minutos a horas e designa-se por supersaturação instável (Figura 1). O limite entre a supersaturação metastável einstável é denominado produto de formação. Estudosde precipitação cinética de urina demonstraram que a RSSdo produto de formação se situa em 2,5 no caso daestruvita e em 12 para o OxCa. O cálculo do RSS, com basena urina de cães e gatos alimentados com dieta específica,pode ser utilizado para estudar o efeito exercido poresse alimento no potencial de cristalização da urina (5,6).Tanto as dietas comerciais, como experimentais, foram

PONTO DE VISTA ROYAL CANIN

Figura 2.Relação entre o pH urinário e os cristais de oxalato de cálcio (OxCa) em gatossaudáveis.

Figura 1.Zonas de supersaturação relativa (RSS). (modificado a partir de 7)

Contrariamente aos cristais de estruvita, a solubilidade dos cristaisde oxalato é muito reduzida. No caso do OxCa, é quase impossívelobter um valor de RSS inferior a 1.

pH urinário

Alimento seco

Alimento úmido

Produto desolubilidade

Produto deformação

RSS de OxCa reduzida apesar do pH baixo

Dados individuais de 125 dietas

RSS Ox

Ca

SUPERSATURAÇÃO INSTÁVELCristalização espontânea

Rápido crescimento de cristais

Produto de formação

SUPERSATURAÇÃO METASTÁVELSem dissolução de cristais

Sem cristalização espontânea

Produto de solubilidade

SUB-SATURAÇÃOSem cristalização

Dissolução dos cristais

RSSOxCa 12Estruvita

2,5

5 5.5 6 6.5 7 7.5 8 8.5

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avaliadas através deste método pelos nossos serviços noCentro WALTHAM de Nutrição Animal, assim como poroutros pesquisadores. Como previsto, os estudoscomprovaram que as dietas caninas e felinas podem serformuladas para induzir urina sub-saturada (RSS <1), nocaso da estruvita, e que os principais acionadores são o pHe/ou o teor de umidade do alimento. Em todas as dietas, aurina dos cães e gatos saudáveis situou-se próxima dasaturação, ou super-saturada no caso do OxCa (RSS≥1)(Figura 2). Contudo, a RSS de OxCa apresenta-se abaixodo produto de formação (RSS OxCa=12), não seobservando cristalização espontânea.

Quando se comparam os valores do pH urinário com osníveis RSS de OxCa associados a diversas dietas felinascomerciais e experimentais, o pH urinário parece serum indicador pouco confiável de RSS de OxCa (Figura2). Estes resultados sugerem fortemente que aformulação de dietas baseadas apenas no pH urinárionão permite prever os seus efeitos sobre o potencial decristalização do OxCa da urina!

A utilização do RSS para avaliar o potencial decristalização da urina proporcionou também resultadosinteressantes. Por exemplo, a urina de cães de raçapequena é mais saturada que a urina de cães de tamanhogrande (7) (Figura 3). Este fato explica a maior incidênciade cálculos urinários em cães de porte pequeno,comparativamente aos de raças grandes. Os cães compredisposição para a formação de cálculos apresentamRSS de OxCa significativamente mais elevado que cães

saudáveis, o que sugere que a RSS pode constituirinstrumento de grande utilidade para identificarformações de cálculos nesta espécie (3).

Sódio dietético, teor de umidade doalimento e supersaturação relativaO sódio dietético (ou cloreto de sódio) e o teor deumidade do alimento são extremamente eficazes paraestimular o consumo de água e a diurese em cães e gatos(8). O aumento da diurese promove a diluição urinária e,consequentemente, diminui a concentração de mineraisde baixa solubilidade. O aumento do volume urináriofavorece também o fluxo urinário e a frequência dasmicções, inviabilizando a nucleação e a agregação decristais urinários (7).

A pesquisa realizada nas nossas instalações e os estudospublicados sobre cães e gatos demonstram que oaumento do sódio dietético (0,7 a 1,3g/ 400kcal deenergia metabolizável), o teor elevado de umidade doalimento, ou ambos, constituem instrumentosvaliosos para reduzir a RSS do OxCa (8,10-12) (Figuras3 e 4). Um estudo prospectivo que procedeu a avaliaçãoda eficácia de dieta formulada para a prevençãosimultânea de urólitos de estruvita (acidificante) e deOxCa, constatou que os níveis elevados de umidade e desódio reduzem o potencial de cristalização urináriaconducente à formação de cálculos nos cães (3). Alémdisso, não foi observada qualquer recorrência nos cãesestudados, ao longo de um ano de acompanhamento(3), o que sugere que as dietas que reduzem o RSS em

DILUIÇÃO URINÁRIA- UM FATOR-CHAVE NA PREVENÇÃO DE URÓLITOS DE ESTRUVITA E DE OXALATO DE CÁLCIO

Figura 3. Influência da raça, teor de umidade e sódio dietético no RSS de OxCa.

Raça

RSS de oxalato de cálcio

Influência da raça e do teor de umidade doalimento sobre o RSS de OxCa

Estudo realizado em 8 Labrador Retriever e 8 Schnauzer Miniatura.

Os valores com letras distintas são significativamente diferentes

Influência da raça e do sódio dietéticoo RSS de OxCa

20

15

10

5

0

RSS de oxalato de cálcio

25

20

15

10

5

0Retriever Labrador Schnauzer MiniaturaRaça

Labrador Retriever Schnauzer Miniatura

Alimento Seco(Teor de umidade: 7%)Alimento em lata(Teor de umidade: 73%)

0.05 g/100kcal(ex.0.2% num alimento com4000kcal/kg)0.20 g/100kcal(ex.0.8% num alimento com4000kcal/kg)0.30 g/100kcal(ex.1.2% num alimento com4000kcal/kg)

Estes gráficos ilustram 3 fatores que afetam o RSS de OxCa:- Raça: cães de raça pequena alimentados com a mesma dieta (como os Schnauzers Miniatura) produziram urina mais concentrada em OxCa (RSS de OxCa mais elevada) que oscães de raça grande (como os Labradores), o que explica parcialmente a razão dos cães de pequeno porte evidenciarem maior predisposição para a formação de urólitos deOxCa que os cães de raça grande.- Teor de umidade do alimento: um elevado teor de umidade, em geral induz RSS mais baixo. Esta diferença é significativa no caso dos Schnauzer Miniatura.- Sódio Dietético: a RSS de OxCa diminui significativamente face ao aumento do teor de sódio do alimento. Nos Schnauzer Miniatura, um teor moderado de sódio (1.2%) revelouefeito mais acentuado que o aumento de umidade para 73%.

11,289,83 13,21

8,5a

8,97a

5,42ab

3,62b

13,87ab

9,13ab

5,73b

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cães saudáveis são também eficazes em cães comurólitos de OxCa. O maior teor de umidade diminuiuigualmente o RSS do OxCa em gatos com predisposiçãopara a formação de cálculos (12).

Estudos epidemiológicos conduzidos sobre os fatoresdietéticos e a prevalência de cálculos de OxCa em cães egatos apresentaram conclusões semelhantes quanto aosbenefícios do sódio e do teor de umidade da dieta(2,13,14).

Sódio dietético e excreção de cálcioA ligação entre o Na dietético e a excreção urinária de Calevou a teoria que as dietas com teor elevado de sódio

poderiam promover a formação de cálculosde oxalato de cálcio em cães e em gatos,recomendando-se, por isso, a incorporaçãode baixo teor de Na (1,11) nos alimentosformulados para o manejo da DTUI. Apesarda maior ingestão de sódio estar associadaao aumento da excreção de cálcio, a concen-tração deste mineral não aumenta, devidoao acréscimo concomitante do volumeurinário, sendo observada uma diminuiçãosignificativa do RSS de OxCa (11).

ConclusãoFoi demonstrado que o RSS constituiinstrumento valioso para avaliar o efeito dosfatores dietéticos na saturação urinária. Noentanto, são necessários estudos maisaprofundados para compreender a

patofisiologia dos urólitos de OxCa, as variaçõesindividuais e as especificidades das raças, bem como,para descobrir outras estratégias que possam influenciaras concentrações em minerais da urina.

Tanto os nossos resultados, como os estudos publicados,sugerem fortemente que o aumento do teor de umidadee/ou de NaCl em dieta acidificante, reduz os riscos deformação de cristais de OxCa e de estruvita (3,7,10-12). Atéà data, não existem dados publicados que sustentem umeventual efeito nocivo desta estratégia nutricional em gatossaudáveis.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DILUIÇÃO URINÁRIA- UM FATOR-CHAVE NA PREVENÇÃO DE URÓLITOS DE ESTRUVITA E DE OXALATO DE CÁLCIO

Figura 4.Relação entre a supersaturação relativa (RSS) do sódio dietético e do oxalato de cálcio(OxCa).

Na Dietético (% MS)

Alimento seco Alimento úmido

0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 1.00 1.20 1.40 1.60 1.80 2.00

Na < 0,5% Na > 0,5%20

18

16

14

12

10

8

6

4

2

0

Produto desolubilidade

Produto deformação

RSS de OxCa

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Foi sugerido que em gatos com doença renal crônica(DRC) possa existir relação entre a pressão sanguíneaelevada, aporte excessivo de sal (NaCl) e a expansão dovolume de fluído extracelular. O sódio e o cloro são osprincipais eletrólitos do fluído extracelular e, de umaforma geral, restritos a este compartimento de fluído.Deste modo, alterações no teor corporal total de NaClirão eventualmente conduzir a alterações correspon-dentes no volume de fluído extracelular. Como ovolume de fluído extracelular constitui fator

determinante no valor da pressão sanguínea, aregulação do teor corporal de NaCl é fator central nocontrole da pressão arterial. Em virtude daimportância do teor corporal de NaCl torna-se evidentea complexidade do seu equilíbrio, que depende demecanismos de regulação renais, hormonais e neurais.

As alterações do teor corporal de NaCl são devidas àdiferenças entre o aporte e a excreção. Infelizmente, aregulação fisiológica do aporte gastrintestinal e daexcreção fecal é muito reduzida. Por causa disso,os mecanismos centrais de regulação do sódiolocalizam-se nos rins, nos quais variações do aporte deNaCl conduzem a alterações compensatórias daexcreção urinária (1). Apesar da capacidade do rimpara manter o equilíbrio do teor corporal total de NaClse tratar de um mecanismo renal inerente, pode sermodulada por uma variedade de fatores neurohumoraise por processos patológicos. Por exemplo, existemsensores de volume nos átrios, no ventrículo direito,e em inúmeros vasos sanguíneos. A distensãodestes receptores de volume (geralmente, devido àexpansão do volume de fluído extracelular) provoca umaumento da excreção renal de sódio, mediada pelasecreção da hormônio natriurético atrial e, também, poralteração da atividade nervosa renal. Existem,adicionalmente, outros fatores hormonais quemodulam o controle renal de NaCl. É neste grupo defatores que se incluem a angiotensina e a aldosterona,ambas responsáveis por um decréscimo da excreçãorenal de sódio.

Assim como foi referido anteriormente, os gatos comDRC apresentam uma elevada prevalência dehipertensão sistêmica (2,3). Uma vez que a alteração dafunção renal pode influenciar a pressão sanguíneaatravés dos efeitos exercidos sobre a excreção desódio e sobre a homeostase dos fluídos corporais, tem

Sal, hipertensãoe doença renal crônica

Scott A. Brown, VMD, PhD, Dipl. ACVIMFaculdade de Medicina Veterinária, Universidade daGeórgia, Athens, Geórgia, EUAO Dr. Brown é formado em Medicina Veterinária em 1982, naUniversidade da Pensilvânia. Completou internato eresidência em Medicina Interna de Pequenos Animais noHospital Escolar da Universidade da Geórgia, em 1986. Em1987 obteve a certificação em Medicina Interna pelo ColégioAmericano de Medicina Interna Veterinária. Entre 1984 e1989, o Dr. Brown concluiu seu Doutorado em PatofisiologiaRenal, na Universidade da Geórgia. Desde 1989 faz parte docorpo docente desta Universidade, com cargo conjunto nosDepartamentos de Fisiologia e de Medicina de PequenosAnimais, onde é atualmente Professor de Fisiologia. As suasáreas de interesse na pesquisa incidem na progressão dadoença renal crônica e na hipertensão sistêmica.

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sido colocada a hipótese de que a suplementação dadieta com sal poderia agravar a hipertensão em gatoscom DRC, através da indução de uma expansão devolume.

Efetivamente já foram estudados os efeitos da ingestãode sódio dietético sobre a pressão sanguínea. Em váriaslinhagens de ratos que apresentavam redução da massarenal, o consumo de teores elevados de NaClaumentou a pressão arterial, efeito que se designa porsensibilidade ao sal (4). No entanto, algumas linhagensde ratos são insensíveis ao sal (5), porque os seus rinsconseguem compensar as alterações na ingestão deNaCl impedindo assim, oscilações da pressão sanguí-nea. Curiosamente, a maioria das pessoas revelatambém relativa insensibilidade ao sal. Estudosrealizados em cães saudáveis demonstraram que oaumento da ingestão de NaCl de 8 para 120�mol/kgnão afeta a pressão sanguínea, sugerindo que os cãessaudáveis são insensíveis ao sal (6). Este fato significaque, nestes animais, a regulação renal do teor corporaltotal de NaCl é eficiente e capaz de responderadequadamente a alterações no consumo de sal.Embora se pudesse pressupor que os cães com DRCfossem eventualmente sensíveis ao sal, alguns estudosexperimentais em cães com azotemia induzida,semelhante às Fases II e III da DRC definidas pela IRIS,indicaram não ser esse o caso (7), uma vez que avariação da ingestão de NaCl não afetou a pressãosanguínea destes animais. Embora seja provável aocorrência de variação animal individual, devida afatores genéticos, ambientais e patológicos, os cãessaudáveis e os cães nas fases I-III da DRC não parecemser particularmente sensíveis ao sal.

E quanto aos gatos com DRC? Serão sensíveis ao sal assimcomo acontece com algumas linhagens de ratos, ou seassemelharão mais aos cães e aos seres humanos?

Recentemente, um estudo experimental conduzido emgatos, sobre azotemia induzida num grau semelhante aodas Fases II e III da DRC (IRIS), a alteração na ingestão desal não produziu qualquer efeito sobre a pressãosanguínea (8). Além disso, o nível mais baixo de consumode NaCl foi associado aos valores mais reduzidos para aTFG (taxa de filtração glomerular), à caliuresehipocalêmica inadequada e à ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Estes resultados de insensibi-lidade ao sal da pressão sanguínea foram espantosamentesemelhantes aos observados em gatos saudáveis (8).Analisados em conjunto, os estudos conduzidos em cães egatos sugerem que em ambas as espécies, nem a pressãosanguínea, nem a hipertensão sistêmica são sensíveis aosal. Uma vez que ambos os grupos objetos de estudoapresentavam azotemia semelhante à encontrada na FaseIII, ou numa fase mais precoce da DRC, será necessáriorealizar estudos adicionais para determinar se os gatos ouos cães na Fase IV da DRC evidenciam, igualmente,uma insensibilidade ao sal.

Não foi surpreendente constatar que a restrição alimentarde NaCl ativa o eixo renina-angiotensina-aldosterona emgatos com DRC, uma vez que este sistema hormonal ageno sentido de impedir alterações no equilíbrio do sódiocorporal. Enquanto a ativação deste sistema hormonalminimiza os efeitos da restrição de sal sobre a pressãosanguínea, a angiotensina II (9,10) e a aldosterona (11,12)podem provocar fibrose cardíaca e renal contribuindopara a progressão da DRC. Deve prestar-se especialatenção aos efeitos potencialmente nocivos da ativaçãodeste sistema hormonal nos pacientes. Assim, sempre queseja preconizada ingestão reduzida de NaCl, deveconsiderar-se a administração de inibidores do eixorenina-angiotensina-aldosterona, tais como os IECA’s(inibidores da enzima conversora da angiotensina) e/ou osantagonistas dos receptores da aldosterona ou daangiotensina II.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SAL, HIPERTENSÃO E DOENÇA RENAL CRÔNICA

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Vol 17 No 1 / / Veterinary Focus / / 47

GUIA DESTACÁVEL

Fêmea ≥Macho2 a 6 anos de idade

Sem predisposição racialGatos de interior

ObesidadeEsterilização

• Em geral, os cálculos são brancos ou amarelos eduros; transformam-se em pó quando triturados.

• Associado a infecções do tratourinário em cães.

• Cristal de monoidrato; frequentemente associado a intoxicaçãopor etilenoglicol.

• Os cálculos apresentam frequentementecontornos bastante irregulares.

• Os cristais de estruvita podemser um dos componentes dosplugs uretrais.

Predisposição e idade média de ocorrência

Cristais de estruvita Cálculos de estruvita

Cálculos de oxalato de cálcio

Cristal de diidrato deoxalato de cálcio

• Pode estar associado a um distúrbio de reabsorção tubular renal.

Cristais de cistina Cálculos de cistina

Cristais de urato Cálculos de urato

• Observado com frequência em animais com doença hepática oushunt porto-sistêmico.

ESTRUVITA

OXALATO DE CÁLCIO

Cristais de monoidrato de oxalato de cálcio

PONTOS-CHAVE➧ A urina deve ser avaliada imediatamente após suacoleta.

➧ Habitualmente, a urina apresenta quantidadesreduzidas de cristais.

➧ Um gato pode ter cálculos, sem presença de cristais.

➧ Na urolitíase, o tipo de cristais observado pode nãorefletir o tipo de cálculo presente.

➧ Um estudo demonstrou que 92% das amostras urináriasevidenciam cristais quando analisadas 24 horas após acoleta, versus 24% quando observadas imediatamente.

➧ A viagem de carro até à clínica é suficiente paraaumentar o pH urinário do gato. De fato, o pH da urinasofre alterações por ação do stress, podendo sofrer umacréscimo de 1,4 em consequência da alcaloseinduzida pela hiperventilação.

GatoFêmea >> Macho2 a 8 anos de idadeSchnauzer Miniatura /

Cocker Spaniel / Bichon Frise / ShihTzu / Yorkshire Terrier /

Poodle Miniatura

Cão

Fêmea ≥Macho7 a 9 anos de idadePersa / BurmêsGatos de interior

ObesidadeEsterilizado

Gato

Macho >> Fêmea5 a 12 anos de idadeSchnauzer Miniatura /

Lhasa Apso / Yorkshire Terrier /Caniche Miniatura / Bichon Frise

Cão

Macho > ou = Fêmea± 3,5 anos de idade(4 meses a 12 anos)

Nenhum

Gato

Macho > Fêmea± 5 anos de idade (1 a 8 anos)

Teckel / Bulldog Inglês / Terra Nova / Staffordshire Bull Terrier /

Welsh Corgi / Basset Hound

Cão

Cálc

ulo

s n

ão radio

pacos

Cálc

ulo

s radio

pacos

CISTINA

Sem predisposição

GatoMacho > Fêmea

Se não existir shunt porto-sistêmico, em caso contrário

Macho = Fêmea ± 3,5 anos de idade sem shunt

> 1 ano com shuntDálmata / BulLdog Inglês /

Schnauzer Miniatura

Cão

URATO DE AMÔNIO

Atlas de sedimento urinário

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48 / / Veterinary Focus / / Vol 17 No 1

Leucócitos Eritrócitos Células epiteliais transitórias Células transitórias neoplásicas

Carbonato de cálcio: formação em pH neutro e alcalino. Muito raro.

Fosfato de cálcio amorfo: formação em pH neutro e alcalino, podem ser observados na

urina de gatos saudáveis.

Fosfato de cálcio – brushita: formação em pH ácido, pouco comum.

Xantina: formação em pH ácido e neutro. Situação rara e sempre anômala. Poderá resultar

da administração de alopurinol.

Tirosina: formação em pH ácido. Situação rara e sempre anômala. Indica

a presença de doença hepática.

Sulfonamida – metabolitos urinários: formação em pH ácido e neutro.

Aumento de leucócitos- infecção do trato urinário- urolitíase- neoplasia

Aumento de eritrócitos- cistite- urolitíase- trauma (cistocentese, etc.)- contaminação (próstata, prepúcio)

Células epiteliais transitórias- infecção- neoplasia

Aumento de cilindros leucocitários- pielonefrite- nefrite intersticial

Aumento de cilindros eritrocitários- glomerulonefrite- trauma

Aumento de cilindros hialinos- febre- doença glomerular primária- congestão passiva do rim

Bactérias- infecção (especialmente, se a presença de bactériasestiver associada a um aumento de leucócitos)

- contaminação- amostra exposta durante excessivo tempo àtemperatura ambiente, antes da análise.

• Baixo número de eritrócitos e leucócitos.• Escassas células epiteliais escamosas ou cilindros hialinos.• Presença de cristais de bilirrubina na urina caninaconcentrada, sobretudo em machos. A presença deste tipode cristais em gatos é sempre uma situação anômala.

Cilindro hialino Bilirrubina

ATLAS DE SEDIMENTO URINÁRIO

NORMAL

PATOLÓGICO

CRISTAIS ATÍPICOS

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