CAPA DA DISSERTAÇÃO JOÃO TAVARES - ccen.ufpb.br · acompanhado nossa trajetória no curso de...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA JOÃO TAVARES GUEDES FORMAÇÃO E DINÂMICA TERRRITORIAL DO ASSENTAMENTO RURAL DE IMBIRAS: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO GEOGRÁFICO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DE REFORMA AGRÁRIA João Pessoa - PB Setembro de 2007

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

JOÃO TAVARES GUEDES

FORMAÇÃO E DINÂMICA TERRRITORIAL DO ASSENTAMENTO RURAL DE IMBIRAS: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO GEOGRÁFICO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DE REFORMA AGRÁRIA

João Pessoa - PB

Setembro de 2007

JOÃO TAVARES GUEDES

FORMAÇÃO E DINÂMICA TERRRITORIAL DO ASSENTAMENTO RURAL DE IMBIRAS: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO GEOGRÁFICO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DE REFORMA AGRÁRIA

Dissertação de conclusão de curso apresentada ao programa de pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento aos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientador: Professora Doutora Maria Franco Garcia

Co-orientador: Professor Doutor Fernando Garcia de Oliveira

João Pessoa - PB

Setembro de 2007

JOÃO TAVARES GUEDES

FORMAÇÃO E DINÂMICA TERRRITORIAL DO ASSENTAMENTO RURAL DE IMBIRAS: CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO GEOGRÁFICO DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DE REFORMA AGRÁRIA

Dissertação de conclusão de curso apresentada ao programa de pós-graduação da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento aos requisitos para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Aprovada em...../...../.....

Banca examinadora:

Professora. Drª. Maria Franco – Orientadora Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Professor. Dr. Fernando Garcia de Oliveira – Co-orientador Universidade Federal de Campina Grande - UFCG Professora. Drª. Emília de Rodat Fernandes Moreira Universidade Federal da Paraíba - UFPB Professora. Drª. Ghislaine Duque Universidade Federal de Campina Grande - UFCG

DEDICATÓRIA A meu pai Paulo e a minha mãe Francisca; Aos meus filhos Glauber e Aline; Aos irmãos e amigos, Anchieta, Magil, Ivanildo e querida irmã Maria (Dulce); A estimada amiga Norma; Aos trabalhadores e trabalhadoras rurais deste país, especialmente aqueles do Assentaneto Rural de Imbiras.

AGRADECIMENTO

Agradecer é acima de tudo reconhecer o sentimento de gratidão que

cultivamos junto às pessoas. Agradecemos a todos que diretamente

participaram da realização deste trabalho.

A professora Maria Franco Garcia, que com paciência dedicação e,

sobretudo sabedoria, dedicou parte considerável do seu precioso tempo para a

realização desse trabalho.

Agradeço ao professor Fernando Garcia que gentilmente contribuiu com

nosso trabalho, antes e durante a qualificação, tornando-se co-orientador

dessa pesquisa.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Geografia

desta Universidade, especialmente a professora Emília Moreira, por ter

acompanhado nossa trajetória no curso de Pós-Graduação contribuindo para o

desenvolvimento deste trabalho.

Ao professor Pedro, pelo empréstimo do colchonete, fundamental para

recuperar as forças e retomar aos estudos.

Agradeço ao Lima que contribuiu diversas vezes com nosso trabalho.

Nosso agradecimento se estende ao Alexandre, a Mara, a Kátia. Os quais se

fizeram presentes nessa pesquisa.

Nosso agradecimento aos colegas estudantes desse programe,

especialmente ao Luciano que durante o período de um ano me acolheu em

sua casa, ao Fabiano que nas horas difíceis, sempre tinha uma palavra de

conforto.

Agradeço imensamente a Valmir que me acompanhou por inúmeras vezes

durante nosso trabalho de campo.

Não poderia deixar de agradecer a Sônia Secretária do programa, por sua

maneira gentil de tratar as pessoas.

Agradeço aos nossos queridos pais Paulo Guedes Dona Francisca, pessoas

maravilhosas, que nos ensinam sempre a trilhar pelo caminho da honestidade

e da verdade.

Agradeço aos queridos irmãos/amigos, Anchieta, Magidiel, Ivanildo e a

Dulce, que sempre pude contar.

Agradeço a duas pessoas especiais, Norma e Lourdinha, pela generosidade

com que me trataram durante o período em que tive a satisfação de trabalhar

com elas na cidade de Pocinhos.

Sou profundamente grato a Aline e Glauber pessoas que impulsionam

nesse momento minha vida.

Agradeço a todas aquelas pessoas que mesmo em silêncio acreditam na

realização dos sonhos. Muito obrigado a todos.

RESUMO

O estudo da questão agrária brasileira é indispensável para

compreender-mos os diferentes níveis de desenvolvimento, que norteiam a

produção e/ou reprodução de diferentes territórios no campo. Este trabalho

esforça-se para aproximar-nos da compreensão do processo de formação

territorial rural do Assentamento de Imbiras. Fruto da luta e resistência de

inúmeras famílias de posseiros para não serem expropriados de suas parcelas.

Estes camponeses passaram a organizar seu território em diversas frentes de

batalha. A organização destes posseiros contra a expropriação recebeu apoio

de várias entidades, destacando-se a CPT, o STR de Alagoa Nova e da

Universidade Federal da Paraíba, ficando na responsabilidade do INCRA, a

mediação desse conflito pela posse da terra entre os posseiros que

trabalhavam naquelas terras a várias gerações e os proprietários latifundiários.

Em 1996 o INCRA, pressionado pela determinação daquelas famílias de

posseiros desapropria a terra. A criação do assentamento rural de Imbiras

proporciona a reprodução de um novo território, notadamente marcado pelo

afastamento de algumas entidades, como o STR de Alagoa Nova, a CPT e a

UFPB. Porém outras entidades encarregam-se de desenvolver seus trabalhos

nesse novo território camponês, o STR de Massaranduba omisso no período

do conflito pela posse da terra, a EMATER, a ASA, a A-SPTA, entre outras.

Estabelece-se nesse novo território a luta pela permanência na terra, já que a

posse encontra-se garantida. Observamos que para continuar camponês é

preciso lutar contra as desastradas políticas públicas, voltadas para a pequena

produção agrícola desenvolvida nos assentamentos rurais, já que as mesmas

subordinam e minimizam a importância da produção agrícola desenvolvida nas

pequenas propriedades no campo brasileiro, essa produção em detrimento

das atividades realizadas nas grandes propriedades.

RESUMEN

9

SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................... 11

LISTA DE FIGURAS................................................................................................. 12

LISTA DE TABELAS................................................................................................ 13

LISTA DE GRÁFICOS.............................................................................................. 14 APRESENTAÇÃO 15 INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 20

CAPÍTULO I – Fundamentos teóricos para o estudo da questão agrária...................................................................................................................... 1.1 – A relação de produção capitalista no campo...................................................

23 23

1.2 – Correntes teóricas para o entendimento do modo de produção capitalista no

campo brasileiro........................................................................................................ 29

1.2.1 – A teoria clássica............................................................................................ 29

1.2.2 – A criação ou recriação do campesinato........................................................ 32

1.2.3 – O Campesinato e a Reforma Agrária no Brasil............................................. 41

1.2.4 – O Estado e a produção agrícola no Brasil.................................................... 43

1.3 - A contribuição da Geografia Agrária para a compreensão do

campo......................................................................................................................... 50

1.3.1 – A Geografia Agrária no Brasil....................................................................... 50

1.3.2 – O debate geográfico sobre o conceito de território....................................... 58 CAPÍTULO II - O Território de luta pela terra: Formação e dinâmica territorial do Município de Massaranduba..............................................................................

66

2.1 – A formação territorial do município de Massaranduba..................................... 66

2.2 – Estrutura fundiária do município de Massaranduba......................................... 70

2.3 – O assentamento rural de Imbiras................................................................... 73

2.4 – As entidades de apoio à luta dos posseiros em Imbiras.................................. 80

2.5 – As estratégias territoriais dos camponeses x latifundiários na luta pela terra

em Imbiras................................................................................................................. 88

10

CAPÍTULO III - O assentamento rural de reforma agrária de Imbiras......................................................................................................................

92

3.1 – Organização territorial do assentamento......................................................... 92

3.2 – A organização interna do assentamento de Imbiras....................................... 97

3.3 – A produção agrícola desenvolvida no assentamento de Imbiras..................... 101

3.4 – O uso de recursos técnicos no assentamento: A assistência técnica 107

3.5 – Distribuição da renda no assentamento........................................................... 114

3.6 – Organização social do trabalho e associativismo............................................ 120

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 129

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 134

ANEXOS................................................................................................................... 140

ANEXO 01 – QUESTIONÁRIOS

ANEXO 02 – ENTREVISTAS

ANEXO 03 – FOTOGRAFIAS

11

LISTA DE ABREVIATURAS ASA: Articulação do Semi-Árido Brasileiro

A-SPTA: Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa

BNB: Banco do Nordeste do Brasil

CMDRS: Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável

CPT: Comissão Pastoral da Terra

EMATER: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INTERPA: Instituto de Terras e Planejamento Agrícola da Paraíba

MAB: Movimento dos Atingidos por Barragens

MST: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra

PB: Paraíba

PE: Pernambuco

PROÁLCOOL: Programa Nacional do Álcool

PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Familiar

STR: Sindicato dos Trabalhadores Rurais

SUDENE: Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

TDA: Título da Dívida Agrária

UFPB: Universidade Federal da Paraíba

12

LISTA DE FIGURAS FIGURA 01. Antiga casa de taipa, cisterna de placas e casa de tijolos ou

alvenaria................................................................................................................. 100

FIGURA 02. Plantação de mandioca no assentamento de Imbiras...................... 102

FIGURA 03. Reunião dos assentados com o extensionista da EMATER........... 108

13

LISTA DE TABELAS Tabela 01. Distribuição de terras no Brasil-2001...................................................... 43

Tabela 02. Percentual da produção agropecuária brasileira segundo as áreas dos

imóveis....................................................................................................................... 45

Tabela 03. Síntese histórica da geografia agrária brasileira...................................... 56

Tabela 04. Produção agrícola municipal da microrregião de Campina

Grande....................................................................................................................... 69

Tabela 05. Estrutura fundiária do município de Massaranduba-PB.......................... 70

14

LISTA DE GRÁFICOS ...................................................................................................... Gráfico 01. Número e tamanho da pequena propriedade em

Massaranduba-PB............................................................................................ 71

Gráfico 02. Número e tamanho das médias e grandes propriedades em

Massaranduba-PB............................................................................................ 72

Gráfico 03. Número de parcelas segundo sua área no assentamento de

Imbiras, 2007.................................................................................................... 93

Gráfico 04. Número de famílias entrevistadas com acesso à infra-estrutura

existente no assentamento de Imbiras, 2007................................................... 98

Gráfico 05. Principais culturas desenvolvidas pelas famílias assentadas

pesquisadas, 2007............................................................................................ 101

Gráfico 06. Principais animais criados pelas famílias assentadas

pesquisadas, 2007............................................................................................ 103

Gráfico 07. Participação dos assentados na produção de pastagens............. 105

Gráfico 08. Participação na comercialização de produtos agrícolas das

famílias assentadas pesquisadas, 2007........................................................... 106

Gráfico 09. Percentual da utilização de assistência técnica das famílias

assentadas pesquisadas, 2007........................................................................ 109

Gráfico 10. Percentual dos assentados entrevistados com acesso ao crédito

rural 2007......................................................................................................... 112

Gráfico 11. Origem dos assentados entrevistados em Imbiras, 2007............. 114

Gráfico 12. Aproximação à renda mensal das famílias assentadas

pesquisadas, 2007............................................................................................ 115

Gráfico 13. Percentual das fontes de renda das famílias assentadas

pesquisadas, 2007............................................................................................ 116

Gráfico 14. Nível de escolaridade dos assentados.......................................... 118

Gráfico 15. Percentual dos assentados que já realizaram trabalhos fora do

assentamento................................................................................................... 120

Gráfico 16. Percentual dos assentados que realizam trabalhos fora e dentro

do assentamento.............................................................................................. 122

Gráfico 17. Utilização de mão-de-obra assalariada nas parcelas................. 123

Gráfico 18. O associativismo rural no assentamento...................................... 125

15

APRESENTAÇÃO

Este trabalho é o resultado de dois anos e meio de pesquisa

realizada junto aos trabalhadores e trabalhadoras camponesas do

assentamento rural de Imbiras, localizado no município de Massaranduba,

estado da Paraíba. O mesmo foi desenvolvido no Programa de Pós-Graduação

em Geografia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa.

Comecei minha trajetória nesse Programa em março de 2005,

mas, a minha origem acadêmica liga-se ao Curso de Licenciatura Plena em

Geografia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande.

Na UEPB desenvolvi um trabalho monográfico, pré-requisito para obtenção do

título de licenciado em geografia, intitulado Redução de áreas de agricultura

familiar no município de Massaranduba-PB: Através de Três Comunidades. Foi

a partir desse trabalho que busquei ampliar a minha discussão sobre as

questões agrárias, em especial, aquelas que são foco de estudo da Geografia

agrária brasileira.

Formar parte do Programa de Pós-Graduação da UFPB

ofereceu-me a oportunidade de compartilhar as minhas dúvidas e inquietações

com colegas, alunos e professores, que, de maneira positiva, marcaram minha

trajetória acadêmica durante os dois anos de pesquisa.

Dois momentos se destacam nesta caminhada pelo acúmulo

de contribuições. O primeiro deles foi o Seminário de Dissertação, disciplina

obrigatória do Programa, no qual tivemos oportunidade de apresentar o projeto

em andamento. As colocações que naquele momento a professora Emília de

Rodat Fernandes Moreira fez, evidenciaram a necessidade de disponibilizar

mais tempo e maior dedicação à pesquisa que desejávamos desenvolver.

Também foi importante a participação da professora Valéria de Marcos que se

prontificou inicialmente a assumir minha orientação antes de sair da UFPB e foi

responsável por despertar em mim a vontade de estudar geograficamente as

questões agrárias no Brasil, e um segundo momento de contribuições

significativas foi o Exame de Qualificação. Neste evento participaram a

professora Eíilia de Rodat Fernandes Moreira e o professor Fernando Garcia

16

da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), qual aceitou participar

como co-orientador no projeto de dissertação. O referido professor é um

profundo conhecedor e protagonista do processo de luta dos camponeses de

Imbiras pela posse da terra vindo contribuir de maneira significativa com a

presente pesquisa.

Como em qualquer processo de construção de um trabalho de

pesquisa, também passamos por dificuldades. O fato de ter que vincular a

jornada de professor da rede estadual e municipal de Pocinhos na Paraíba e de

Caruaru no Pernambuco, com as demandas da pesquisa e a falta de

financiamento da mesma, fizeram com que, por momentos, acreditássemos

que não finalizaríamos aquilo a que nos tínhamos proposto.

Quando tudo parecia perdido eis que chega a professora Maria

Franco ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPB. Embora

sendo um momento de extrema dificuldade para a realização da minha

pesquisa, entrei em contato com ela em busca de orientação para dar

continuidade ao exercício de dissertação de mestrado que neste texto

apresentamos. O contato com a professora Maria me aproximou ainda mais da

Geografia Agrária, motivo de intensa satisfação e ânimo para seguir em frente.

Encontrei na professora Maria mais que apoio. Enquanto muitos não

acreditavam na concretização dessa jornada, ela acreditou e contribuiu

sabiamente com a conclusão dessa etapa.

A dinâmica territorial rural do Assentamento de Imbiras é, hoje,

nosso objeto de estudo. O questionamento central é saber quais são os

processos que norteiam a produção e reprodução desse território. Para isso,

nosso principal objetivo é apreendermos essa dinâmica através da

reconstrução do processo de luta e resistência das famílias assentadas, da

organização espacial das relações de produção e reprodução da vida e do

trabalho territorializadas no assentamento e das novas formas de organização

social e seus protagonistas.

No que se refere aos procedimentos metodológicos faz-se

pertinente descrever os principais passos seguidos na presente. Destacamos o

levantamento e fichamento bibliográfico feito nas Universidades Federais de

Campina Grande e de João Pessoa (UFCG, UFPB). Neste momento a nossa

preocupação foi à seleção de obras e autores que nos ajudassem a

17

fundamentar teórica e documentalmente o nosso objeto. Entre as referências

fundamentais para a compreensão dos processos de formação territorial do

espaço agrário destacamos o debate entre as concepções clássicas no estudo

da questão agrária nas obras de Karl Kautsky (1980), Lenin (1982) e Chayanov

(1974). Contudo cabe ressaltar que partimos para a nossa reflexão da releitura

desses autores por Caio Prado Jr. (1981), José de Souza Martins (1981),

Ricardo Abramovay (1992), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1995), Antonio

Tomaz Junior (1998), Bernado Mançano (1996), Emília Moreira (1997), João

Fabrini (2004), Carlos Augusto Feliciano (2006) e Fernando Garcia de Oliveira

(2003).

O trabalho de campo demandou a sistematização de

informações prévias e a elaboração de questionários e roteiros de entrevistas

semi-estruturadas direcionadas para os diversos agentes de pesquisa. Tivemos

a oportunidade de realizar diversas visitas ao assentamento durante as quais

nos entrevistamos as lideranças que participaram da luta de resistência pela

posse da terra, o presidente da associação comunitária e representantes de

entidades governamentais e não-governamentais. Também foram aplicados,

junto aos assentados, quarenta e um (41) questionários. O universo de

investigação limitou-se 50% das famílias, as quais foram selecionadas

aleatoriamente.

O contato com os e as assentadas de Imbiras foi iniciado em

novembro de 2006. Após vários encontros com o professor Fernando Garcia,

um dos nossos interlocutores na pesquisa e co-orientador da mesma,

procuramos algumas das lideranças do assentamento, as quais se mostraram

receptivas e concordaram em colaborar com o trabalho. Entre as lideranças

entrevistadas destacam-se Marcos, atual presidente da associação dos

assentados de Imbiras, e Antonio Ernesto, liderança destacada no período do

conflito, hoje presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de

Massaranduba.

Depois de seis meses, em julho de 2007, voltamos ao

assentamento para aplicar, com o apoio de uma equipe de campo1,

questionários de pesquisa junto, com as famílias assentadas.

1 Colaboradores importantes na coleta de dados, destacando-se Maria Franco, professora da UFPB e orientadora da pesquisa, Edvaldo Carlos de Lima, professor da UFPB, Mara Edilara

18

Na cidade de Massaranduba também entrevistamos o

secretário de agricultura do Município, o presidente do Conselho Municipal de

Desenvolvimento Rural Sustentável, o extensionista da Empresa de

Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER)2 local e o presidente do

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba.

As etapas percorridas nos permitiram lançar luz sobre as

relações sociais e espaciais que norteiam a formação do território camponês de

Imbiras. Para apresentar esse caminho dividimos o presente trabalho em três

capítulos descritos a seguir.

Primeiro capítulo apresenta o debate acerca da expansão do

modelo de desenvolvimento do capitalismo no campo brasileiro, a forma como

os trabalhadores camponeses encontram-se inseridos nesse processo, suas

estratégias de resistência contra o expansionismo do capitalismo agrário, o

nível de exploração ao qual se encontram submetidos e as formas como se

estabelecem as relações de trabalho e a organização produtiva no campo,

segundo o modelo de desenvolvimento capitalista em detrimento do modelo de

produção camponesa. O capítulo aponta ainda as teorias que discorrem sobre

a expansão do capitalismo no campo e o fim das relações não-capitalistas de

produção, assim como analise teoricamente a permanência das formas de

produção não-capitalistas. Além disso, foca o debate sobre a contribuição da

Geografia Agrária para a compreensão do campo brasileiro. Aborda diferentes

concepções sobre o conceito de território, dialogando com autores que

entendem o território como fruto das relações de poder criadas e recriadas

pelas sociedades, materializando-se no tempo e no espaço sendo, portanto,

geradoras de territorialidades.

O segundo capítulo aborda o território de luta pela terra,

voltando a atenção para a formação territorial do município de Massaranduba.

Neste momento recuperamos o conflito que originou a criação do

assentamento rural de Imbiras, a dinâmica territorial e os seus protagonistas.

Batista de Oliveira, bolsista PIBIC/UFPB-CNPq, Kátia Cristiane do Vale, geógrafa, todos membros do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT/PB) e Sebastião Valmir Silva, geógrafo e professor da rede estadual de ensino da Paraíba e de Pernambuco. 2 Órgão responsável pela prestação de serviços de extensão rural junto aos produtores e trabalhadores rurais.

19

O terceiro e último capítulo dá especial atenção à organização

produtiva desenvolvida no interior do assentamento. São abordados os fatores

diretamente relacionados ao processo produtivo e reprodutivo das famílias

assentadas, assim como suas principais formas de participação nas

organizações associativista existentes no município.

Na seqüência apresentamos as considerações finais da

pesquisa de forma sucinta.

20

INTRODUÇÃO

O assentamento rural de Imbiras está localizado no município

de Massaranduba, micro-região de Campina Grande no interior do Estado da

Paraíba. Massaranduba, que também forma parte da região conhecida como o

Agreste da Borborema, encontra-se diretamente ligado à atividades

agropecuárias como, por exemplo, o cultivo de algodão, a criação de gado

bovino e a agricultura baseada na policultura destinada ao abastecimento das

famílias.

A sua estrutura fundiária se apresenta, de certa forma,

bastante concentrada3, já que as pequenas propriedades com área de 0 a 100

ha são numericamente superiores às propriedades que possuem área entre

100 a mais de 1000 ha correspondendo, respectivamente a 2.191 imóveis e a

35 imóveis. Suas áreas correspondem à 10.486,36 ha e 10.731,07 há, a área

total ocupada pelas pequenas propriedades no município de Massaranduba é

em termos numéricos muito superior as áreas das grandes propriedades,

porém contraditoriamente inferior no que se refere à área total pertencente as

mesmas. Isso mostra a concentração de terras no município. Tais

características nos provocam vários questionamentos. Até que ponto a

concentração da propriedade fundiária em Massaranduba torna-se um

problema para os assentados rurais de reforma agrária do município? Como o

assentamento rural de Imbiras vem se comportanto dentro desse quadro? O

assentado rural de Imbiras apresenta a dimensão política camponesa

destacada, entre outros autores, por Martins (1989)?

A formação do assentamento de Imbiras teve como ponto de

partida o conflito entre posseiros e latifundiários em 1982. Naquele momento

82 famílias se organizaram para lutar, dispostas a qualquer coisa para não

perder suas terras. Foi em 1996 que o Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA), sob forte pressão dos posseiros, desapropriou as

terras em litígio, criando o assentamento rural de Imbiras.

3 Mesmo compondo a região do Agreste Paraibano, região na que, segundo Moreira e Targino (1997), existe a menor concentração fundiária do estado, o município de Massaranduba apresenta uma estrutura fundiária bastante concentrada. Dados referentes à estrutura fundiária apresentados em capítulos posteriores nos ajudam a corroborar essa afirmação.

21

Concordamos com os autores que entendem a formação de

territórios a partir de relações sociais de poder. O território de Imbiras é

analisado na nossa pesquisa sob essa ótica, a do conflito, a da dinâmica

constante de uma sociedade contraditória e desigual e que, portanto, produz e

reproduz espaço à sua imagem e semelhança.

O sítio de Imbiras caracterizava-se como um território de

relações aparentemente pacíficas entre posseiros e proprietários. Com o

desenrolar do conflito pela permanência na terra, o território que parecia

pacífico passa a manifestar e contestar aquelas relações eram abafados. Os

protagonistas dessas relações e desse território iniciam uma intensa disputa

pelo direito de posse da terra. Novos atores sociais entram em cena, tais como

a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Sindicato de Trabalhadores Rurais

(STR), o INCRA, e a Universidade pública, os quais passam a integrar esse

jogo de relações de poder, essa dinâmica social e territorial responsável pela

produção de um novo território rural: o território de luta pela terra.

No início do conflito os posseiros organizaram-se em

assembléias, as quais eram realizadas sempre que havia necessidade de um

posicionamento coletivo frente à algum fato novo. As assembléias se

constituíam como um momento democraticamente privilegiado, onde

participavam todos os membros envolvidos no conflito, com exceção,

logicamente, da parte oposta, os proprietários da terra. Com a intensificação do

conflito surge a necessidade de uma organização maior. O Comitê de Apoio é

criado, privilegiando as discussões mais aprofundadas, já que participavam

desse Comitê as lideranças dos trabalhadores rurais indicadas pela categoria,

os representantes de diversas entidades, STR de Alagoa Nova e

Massaranduba, da CPT, Universidade pública (UFPB) e advogados que se

encarregariam da assistência jurídica aos trabalhadores nas esferas judiciais.

A organização dos posseiros pode ser entendida como reflexo

das estratégias utilizadas pelos proprietários da terra para expropriar aqueles

trabalhadores rurais. A tentativa de subornar as lideranças dos posseiros, a

ameaça constante de violência contra os posseiros e suas famílias, a venda e

fragmentação da terra, foram, entre outras, estratégias dos proprietários

latifundiários contra os posseiros. Nesse cenário de luta pela terra, prevaleceu

o direito daqueles que vislumbram a terra como meio de reprodução familiar, a

22

terra de vida e de trabalho. Ao conquistar a terra de trabalho, o posseiro de

Imbiras torna-se um assentado, porém, a produção desse novo território

continua sendo claramente marcada por conflitos, como exporemos no

decorrer dos capítulos.

23

CAPÍTULO I

FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA O ESTUDO DA QUESTÃO AGRÁRIA E A CONTRIBUICAO DA GEOGRAFIA

1.1 – A relação de produção capitalista no campo

As relações de produção capitalista são estabelecidas entre os

homens no processo de produção social. São relações sociais de produção

estabelecidas independentemente da vontade individual. Nesse processo, os

níveis de desenvolvimento das forças produtivas dependem do grau de

desenvolvimento econômico, tecnológico, ideológico, cultural, entre outros

aspectos das sociedades que estabelecem estas relações. Posto que cada

sociedade desenvolve seu processo produtivo de conformidade com os meios

de que dispõe, percebe-se uma forte diversidade de desenvolvimento produtivo

entre as sociedades e no interior das mesmas. Essa diversificada capacidade

de desenvolvimento das relações produtivas sob o signo das relações

capitalistas ocorre, segundo Lefébrve (1973), porque “o capitalismo conseguiu

atenuar (sem resolver) suas contradições internas e, conseqüentemente,

conseguir realizar o seu crescimento”. (p. 21)

A sociedade brasileira apresenta fortes disparidades produtivas

no tocante à produção agrícola. Destacam-se por um lado as atividades

agrícolas voltadas para a exportação, como, por exemplo e a canavieira e a

cafeeira, privilegiadas por linhas de crédito e forte disponibilidade de terras de

boa qualidade e com mão–de–obra assalariada. Contraditoriamente a esse tipo

de produção agrícola desenvolve-se, no campo brasileiro, a produção agrícola

camponesa marcada pela inexpressividade de linhas de crédito4, pela pouca

disponibilidade de terras, pela mão-de-obra não assalariada, pela subordinação

ao modelo de desenvolvimento do capitalismo agrário brasileiro. 4 Nos estudos realizados até o momento, constatamos que as linhas de crédito destinadas ao desenvolvimento da agricultura praticada nas pequenas propriedades rurais brasileiras, são inferiores aos destinados às grandes propriedades. Ver OLIVEIRA, A. U. A longa marcha do campesinato brasileiro: movimentos sociais, conflitos e Reforma Agrária. In: Dossiê Desenvolvimento Rural. Universidade de São Paulo. Instituto de Estudos Avançados. Vol 15, nº 43, setembro/dezembro 2001. p. 185-206.

24

Sobre o modelo de desenvolvimento do capitalismo no campo

brasileiro e as políticas pública adotada pelo estado, Montenegro (2006) é claro

quando coloca: A preocupação com a dimensão territorial, que se observa nos discursos e nas práticas do desenvolvimento do país, nestes últimos 10 anos, inscreve-se num processo de mudanças aparentes, as quais apenas disfarçam o que na verdade são: meras continuidades. Mudanças, por exemplo, na escala prioritária de atuação (do nacional para o local), no enfoque das propostas (já não mais setorial e sim territorial) ou na incorporação de mecanismos de participação. Mudanças que, no fundo, apenas tentam maquiar as continuidades de um desenvolvimento que se mantém economicista e mercantil, apesar das novas nomenclaturas (local ou territorial) e da mudança na orientação político-partidária do governo (da coligação de partidos liderada pelo Partido da Social Democracia Brasileira, de Fernando Henrique Cardoso, àquela liderada pelo Partido dos Trabalhadores, de Luiz Inácio Lula da Silva). (p. 60)

Como podemos observar nas palavras de Montenegro, as

mudanças ocorridas no Brasil nos últimos 10 anos, seja a partir das práticas de

desenvolvimento que passam a priorizar o desenvolvimento local em

detrimento do nacional, as mudanças na orientação político-partidária têm

funcionado como disfarce para proporcionar a continuidade do modelo de

desenvolvimento capitalista que se insere desde muito tempo no campo

brasileiro. Esse modelo de desenvolvimento utiliza-se de estratégias

especificamente contraditórias e, ao mesmo tempo, combinadas que garantem

a sua produção e/ou reprodução.

No processo de produção capitalista ocorre a separação entre

trabalhadores e os meios materiais de sua existência. Assim os trabalhadores

aparecem no mercado como trabalhadores livres de toda propriedade, exceto

de sua própria força de trabalho. Os trabalhadores que possuem os meios de

produção, ao serem expropriados das suas terras e dos meios de produção

através da expansão do modo de produção capitalista, são obrigados a vender

sua força de trabalho, único bem produtivo que lhe resta. Assim, a partir desse

processo, a mão-de-obra do camponês é absorvida pela produção agrícola

capitalista. Este é simplificadamente o processo que conduz o camponês a

transforma-se involuntariamente em trabalhador assalariado.

25

De acordo com Ianni (2005) essa transformação não ocorre de

forma rápida, nem repentinamente; também não é um fenômeno igual ou

generalizado em toda sociedade agrária. É um processo lento e com muitas

contradições, fundamentado em um contrato entre iguais. Como Oliveira (1990)

explica:

Os trabalhadores devem estar no mercado livre dos meios de produção, mas proprietários de sua força de trabalho, para vendê-la ao capitalista; este sim, proprietário dos meios de produção. É por isso que a relação social capitalista é uma relação baseada na liberdade e na igualdade, pois só pessoas livres e iguais podem realizar um contrato. Um contrato de compra e venda da força de trabalho (p.60).

A origem do trabalhador assalariado rural depende, desde a

perspectiva econômica, da efetiva separação entre o produtor camponês e a

propriedade dos meios de produção. Conforme Ianni (2005), as inovações das

forças produtivas, provenientes das transformações do mercado no âmbito

nacional e internacional, diferençia os vínculos jurídicos, morais, culturais,

sociais e políticos que mantêm o camponês como parte do sistema social da

propriedade privada, ou seja, verifica-se a ruptura entre a propriedade dos

meios de produção e o camponês.

A partir da intensa penetração do capitalismo no campo

brasileiro, fato que podemos situar no período que vai da segunda metade da

década de 1960 até o final dos anos 80, o camponês tem sucumbido enquanto

dono dos meios de produção que se configuram como a propriedade da terra,

os insumos e ferramentas, os recursos financeiros, entre outros.

Sobre a intensificação da proletarização e da mecanização

agrícola, Varela (2006) coloca que:

A modernização da agricultura (...) está na base do processo de expulsão e proletarização do produtor rural. Durante os anos 60 a expansão da pecuária sob o auspicio da SUDENE; a repressão aos movimentos sociais rurais no pós 64 e; as mudanças na legislação com o Estatuto dos Trabalhadores Rurais e o Estatuto da Terra, por seus benefícios neles contidos, comandaram a expulsão dos trabalhadores do campo. Em meados da década de 70 com a introdução do PROÁLCOOL, (...) os usineiros dirigiram suas armas para a busca de terras e de lucros contra os “foreiros que ainda permaneciam nos engenhos e usinas, atingindo moradores de

26

condição que ainda possuíam roçados dentro das unidades canavieiras”, como também a toda uma gama de pequenos produtores que viviam as margens das grandes propriedades. (p.154)

O capitalismo transformou a desigualdade econômica das

classes sociais em oportunidade para garantir a compra e venda de

mercadorias, entre elas, a força de trabalho do camponês. Partindo-se do

princípio de que uma pessoa ao vender sua força de trabalho recebe em troca

um pagamento através do salário, que é insuficiente quando comparamos o

valor pago com o que é produzido pela aplicação dessa força de trabalho,

surgem, no campo, os agentes específicos da produção capitalista, o

proprietário dos meios de produção e os proprietários da força de trabalho. São

identificados agentes sociais, antes de serem individuais, pois, no capitalismo,

conforme Martins (1995):

Só é pessoa quem troca quem tem o que trocar e tem liberdade para fazê-lo, a condição humana [...] surge da mediação das relações de troca: uma pessoa existe por intermédio da outra. (p.153)

O trabalho realizado pelo trabalhador assalariado é o criador do

valor da produção agrícola. A sua medida é dada pela quantidade de trabalho

socialmente necessária para obter a produção. No entanto, o valor da força de

trabalho, executado na produção agrícola, deveria ser o produto do trabalho do

trabalhador, expresso, pois, na produção que o trabalhador criou. Mas não o é,

já que a força de trabalho despedida pelo trabalhador rural na produção

contribui para assegurar um excedente de produção para seu empregador, que

é convertida em lucro por ocasião da comercialização da produção. O capital é,

portanto, resultado de uma relação social baseada na troca desigual entre

proprietários distintos, porém iguais. O capital acumulado pelos produtores

agrícolas é a materialização do trabalho não-pago ao trabalhador assalariado.

É, portanto, como destacado, a mais-valia retirada dos trabalhadores, à parte

do valor produzido pelos trabalhadores que se realiza nas mãos dos produtores

agrícolas.

27

E isso se deve ao fato de que nem o trabalhador, nem,

portantom, a sua força de trabalho na produção agrícola são produtos do seu

trabalho (OLIVEIRA, 1990).

Nesse sentido entendemos que os trabalhadores agrícolas

assalariados, assim como os frutos do seu trabalho, são criados por intermédio

do expansionismo das relações de produção capitalista no campo.

O trabalhador assalariado tem a capacidade de produzir mais

do que aquilo que necessita para viver. Os pequenos produtores capitalistas

fazem retornar aos trabalhadores assalariados temporários, sob forma de

salário (diária ou por produção)5, apenas aquela parte do valor produzido,

convertido em dinheiro, para que o trabalhador adquira no mercado o que ele

precisa, ou seja, para que ele continue trabalhador temporário assalariado.

Conforme Martins (1995) demonstra:

O valor da força de trabalho é medido pela parte do valor, da riqueza, criado pelo trabalhador com seu trabalho que a ele retorna por intermédio do capitalista, sob a forma de salário; ou seja, de dinheiro para que ele compre no mercado as coisas e os serviços de que precisa para se reproduzir como trabalhador, para voltar a ser trabalhador no dia seguinte, isto é, para voltar a oferecer o seu trabalho ao capitalista. A função do salário é a de recriar o trabalhador, fazer com que o homem que trabalha reapareça como trabalhador do capital (p.154).

Para Oliveira (1990) a relação no plano jurídico de igualdade

entre os pequenos produtores agrícolas capitalistas e os trabalhadores

assalariados, revela sua verdadeira forma, tornando-se, no plano econômico,

uma relação de desigualdade, em que os produtores agrícolas ganham e os

trabalhadores assalariados perdem. Essa liberdade se estabelece do ponto de

vista que considera o trabalhador camponês como um indivíduo livre para

vender sua força de trabalho, de modo que os capitalistas agrícolas também o

são no momento da compra da força de trabalho do camponês. No que se

refere ao plano econômico os camponeses despossuídos de terras e/ou

5 Forma de contrato trabalhista no qual o pagamento previamente acordado entre os proprietários latifundiários (contratante) e os trabalhadores camponeses (contratado) é realizado de acordo valores estipulados para cada dia de trabalho realizado. O trabalho por produção é remunerado a partir da quantidade de trabalho realizada pelo trabalhador camponês. Essas relações de trabalho se caracterizavam pela intensa exploração da mão-de-obra do trabalhador rural.

28

descapitalizados são, por ocasião da expropriação dos seus meios de

produção, obrigados a vender sua força de trabalho (único bem produtivo que

lhe resta) inserindo-se, dessa forma, no processo produtivo de maneira

marginalizada. Por sua vez, aos capitalistas agrícolas cabe absorver a força de

trabalho dos camponeses e extrair elevados lucros através de sua exploração.

Portanto, os capitalistas agrícolas ganham nessa relação à parte do valor

criado pelo trabalho assalariado dos camponeses, já que apenas uma pequena

parcela desse capital é revertida para os trabalhadores assalariados. Assim, a

mais-valia que é apropriada pelos capitalistas agrícolas sob a forma de lucro do

capital, caracteriza-se como sendo propriedade do capital.

Podemos admitir que as relações sociais capitalistas de

produção são resultado da troca desigual entre o capital e o trabalho, e ambos,

capital e trabalho, são produtos de relações sociais iguais e contraditoriamente

desiguais. São relações que têm necessariamente a separação do capital e

trabalho assalariado. Ou seja, a pessoa só é capitalista e o seu dinheiro capital

quando o coloca no processo produtivo, comprando meios de produção e força

de trabalho para reproduzir, de forma ampliada, esse capital.

O dinheiro fora do processo produtivo capitalista não é capital

e, portanto não pode obter lucro. Do mesmo, modo o dinheiro que o

trabalhador assalariado recebe na forma de salário através do trabalho na

produção agrícola não é capital em suas mãos, embora seja uma parte do

capital dos produtores. O trabalhador assalariado, quando consegue, não

acumula capital e sim dinheiro (MARTINS, 1995).

Segundo Oliveira (1990), a relação capitalista é, na essência,

uma relação social de produção. Uma relação onde capital e trabalho são

contraditoriamente produtos dela mesma, já que, só é relação especificamente

capitalista de produção a relação social de produção baseada no trabalho

assalariado.

Para que essa relação ocorra na produção agrícola é

necessário que os pequenos produtores capitalistas comprem ou arrendem a

terra, que é o principal meio de produção no campo, junto com os demais

meios de produção, como máquinas, insumos etc. Assim, o produtor agrícola

contrata o trabalhador livre de todos os meios de produção, inclusive da terra, e

em troca lhe paga um salário ou diária em dinheiro, com o qual o trabalhador

29

assalariado compra tudo o que necessita para continuar a ser trabalhador e

vender a sua força de trabalho ao produtor.

Muitas das atividades agrícolas desenvolvidas no campo

apresentam a relação de produção capitalista. No entanto, essa relação não se

expandiu em todo espaço agrário do Brasil, ou seja, o próprio capitalismo

desenvolveu mecanismos de subordinação da renda da terra de modo a

permitir a criação e recriação das relações não-capitalistas de produção no

campo.

Na seqüência passaremos a analisar as principais correntes

teóricas para o estudo do modo de produção no campo brasileiro.

1.2 – Correntes teóricas para o entendimento do modo de produção capitalista no campo brasileiro

1.2.1 – A teoria clássica

O modo de produção capitalista no campo brasileiro pode ser compreendido

através do estudo das principais correntes teóricas voltadas para explicar esse

processo. Segundo a teoria clássica há uma generalização das relações

capitalistas. Essa tese apresenta uma divergência com relação ao processo

para se chegar definitivamente a total inserção do trabalho assalariado. Posto

que estudiosos acreditam que esse caminho dar-se-ia pela destruição do

campesinato através de um processo denominado de diferenciação interna,

esse processo ocorreria da seguinte forma:

30

DIFERENCIAÇÃO INTERNA: O FIM DO CAMPESINATO

Organizador: João Tavares Guedes (2007)

Processo pelo qual os camponeses ao inserir-se no mercado

das relações capitalistas acabariam descaracterizando-se e perdendo seu

referencial, que, no limite, acabaria por suprir sua produção natural. Os

empréstimos e as altas taxas de juros, o acesso e dependência da

mecanização, dos insumos agrícolas, agrotóxicos, entre outros conduziria os

camponeses à formação de duas classes sociais distintas, uma composta por

camponeses ricos os quais se tornariam capitalistas rurais e outra formada

pelos camponeses pobres fadados a vender sua força de trabalho tornando-se

trabalhadores assalariados. Feliciano (2003) recolhe as fases de transformação

do trabalhador camponês em trabalhador assalariado, propostas por Lenin da

seguinte forma:

1) A transformação do camponês em produtor rural individual, onde este perderia todos os vínculos com o modelo comunitário tradicional vivido anteriormente; 2) a maior inserção no mercado, forçando-o a procurar instrumentos que antes eram fabricados domesticamente (separação entre a indústria rural e a agricultura); 3) já como produtor individual “livre” das amarras do modelo arcaico e atrasado, esse camponês estaria inserido e totalmente dependente do mercado, a tal ponto que vai se endividando e pagando altos preços nos empréstimos para saldar as dívidas. (p. 3)

31

Todo esse processo de dependência do trabalhador camponês,

em detrimento do modelo de desenvolvimento capitalista no campo brasileiro,

leva o camponês a contrair altíssima dívida sendo a venda de sua propriedade

a única saída vislumbrada por esses trabalhadores para saldarem suas dívidas,

ou parte delas.

É a partir de um processo de diferenciação interna do

campesinato advinda das contradições do próprio processo de sua inserção no

mercado capitalista, que os camponeses se configuram como uma categoria

fadada ao desaparecimento já que ao produzir para o mercado, o camponês

contrairia dívidas pela exigência deste no que se refere ao aumento e melhoria

da produção. Ao produzir mais os preços das mercadorias tendem a baixar.

Assim, os camponeses não conseguem saldar suas dívidas recorrendo à

venda de suas terras e tornando-se trabalhadores assalariados ou proletários

rurais.

O desfalecimento do camponês se daria também pela

modernização do latifúndio, pois a incorporação de máquinas e insumos

modernos ao processo produtivo transformaria esses camponeses em

capitalistas agrícolas.

Ramos (2005) recupera a teoria clássica e afirma que:

Segundo os seguidores dessa teoria, as relações não-capitalistas estariam em extinção, e, por sua vez, os camponeses e os latifundiários se extinguiriam no plano econômico em virtude da expansão qualitativa das forças produtivas, restando à compreensão destes enquanto classe de fora do capitalismo. (p.48)

Alguns autores defendem que no Brasil houve feudalismo, ou

mesmo relações semifeudais de produção. Por isso, eles propagam a seguinte

tese: para que o campo brasileiro se desenvolva é preciso acabar com as

relações feudais ou semifeudais existente e ampliar o trabalho assalariado no

campo.

Para Alberto Passos Guimarães (1979), a luta dos camponeses

contra os latifúndios exprimiria o avanço da sociedade na extinção do

feudalismo, conseqüentemente, a luta pela reforma agrária seria um

32

instrumento que faria avançar o capitalismo no campo. Já que o capitalismo

está ainda penetrando no campo brasileiro (OLIVEIRA, 2002).

Outras vertentes teóricas corroboram a idéia de que o campo

brasileiro já está se desenvolvendo através do capitalismo e que os

camponeses inevitavelmente irão desaparecer. Para esta corrente os

camponeses seriam uma espécie de resíduo social que o desenvolvimento

capitalista extinguiria. Dentro desta leitura destaca-se a obra de Caio Prado Jr.

(1981). Para esse autor os camponeses ao tentarem produzir para o mercado

capitalista acabariam indo à falência e perdendo suas terras para os bancos ou

mesmo teriam que vendê-las para saldar as dívidas.

Para os defensores da teoria clássica, no processo de

desenvolvimento do campo brasileiro na sociedade capitalista não há lugar

histórico para os camponeses no futuro. A sociedade brasileira é pensada por

estes autores como sendo composta por apenas duas classes sociais: a

burguesia (os capitalistas) e o proletariado (os trabalhadores assalariados).

Todos esses processos sociais assinalados pela teoria clássica

desencadeiam a separação entre o camponês e os meios de produção,

ocorrendo sua transformação em trabalhador assalariado, permitindo a

penetração de formas puramente capitalistas no campo.

1.2.2 – A criação ou recriação do campesinato

Outras concepções teóricas compreendem o desenvolvimento

do capitalismo no campo, dentro de outra lógica. Acreditam que, à medida que

o capitalismo se territorializa na agricultura brasileira desenvolve-se um

processo contraditório e desigual criando formas não-capitalistas de produção.

O estudo da agricultura brasileira deve ser feito levando-se em conta que o

processo de desenvolvimento do modo capitalista de produção no território

brasileiro é contraditório e combinado. Destacam-se dentro desta corrente

alguns pensadores brasileiros: no Brasil pensadores José de Souza Martins

(1981), Ariovaldo Umbelino de Oliveira (1995), Antonio Thomaz Junior (1998),

Bernardo Fernandes Mançano (1996), Jorge Ramón Montenegro (2004),

Carlos Augusto Feliciano (2003) e Emília Moreira (1997), entre outros.

33

Estes autores discordam com as teses sobre o

desaparecimento do campesinato e colocam, sem reservas, que à medida em

que as relações capitalistas se territorializam no campo, estas proporcionam a

produção de relações não-capitalistas demonstrando claramente que o

campesinato tem sua permanência assegurada, de um lado pelas relações

capitalistas e, de outro, pela luta dos camponeses para não sucumbirem

enquanto classe social que são. Essas premissas constituem o fundamento da

teoria da recriação camponesa formulada por Chayanov (ano) no estudo do

campesinato através da organização da sua unidade produtiva e de consumo:

o sítio camponês.

As relações de produção camponesa desenvolvidas no campo

brasileiro se constituem como um forte espaço de resistência para o pleno

desenvolvimento das relações capitalistas de produção.

Fernandes (1996) é claro quando destaca:

[...] o desenvolvimento do capitalismo é desigual e contraditório e sua essência está na reprodução ampliada do capital. A proporção que acontece o desenvolvimento do capitalismo no campo, este tende a se apropriar de todos os setores de produção, expropriando os trabalhadores de seus instrumentos e recursos. (...) No seu desenvolvimento e expansão, o capitalismo instala relações de trabalho assalariado e/ou instaura e subordina, de modo formal, outras relações, como, por exemplo, as relações de trabalho e de produção não-capitalistas: o trabalho familiar, a parceria etc. (p. 29-30)

Para esses autores, é o próprio capitalismo dominante que

gera relações de produção capitalistas e não-capitalistas, combinadas ou não,

em decorrência do processo contraditório inserido nesse desenvolvimento.

Significa dizer, então que o campesinato e o latifúndio devem ser entendidos

dentro do capitalismo e não fora deste. O camponês deve ser entendido como

classe social que ele é. Deve ser estudado como um trabalhador criado pela

expansão capitalista, um trabalhador que quer entrar ou permanecer na terra.

O camponês deve ser visto como um trabalhador que, mesmo expulso da terra,

a ela retorna com frequência, ainda que para isso tenha que (e)migrar. Dessa

forma, como constataram as pesquisas desenvolvidas por Fernandes (2000),

Lima (2006), Franco (2004), Montenegro (2004); Feliciano (2003), Mitidiero

34

(2002), Thomaz Jr (2000), sobre a mobilização social no campo e a luta pela

terra, o camponês brasileiro hoje continua retornando à terra mesmo que

distante de sua região de origem.

O desenvolvimento capitalista se faz movido pelas suas

contradições. Ele é, em si, contraditório e desigual. Significa que para seu

desenvolvimento ser possível ele tem que desenvolver aspectos

aparentemente contraditórios a si mesmo. Na produção agrícola encontramos

com o processo de desenvolvimento capitalista, que se caracteriza pela

implantação das relações de trabalho assalariado, os bóias-frias da cana-de-

açúcar, por exemplo, a presença de relações não-capitalistas de trabalho

familiar, como, por exemplo, a parceria, o arrendamento e a posse.

Sobre as diversas formas de produção no campo paraibano,

Moreira (1997) coloca que, de conformidade com a região ou atividade

desenvolvida, os trabalhadores camponeses receberam denominações

diferentes. Desse modo foram chamados de arrendatários aqueles trabalhadores que, ou moravam na terra de terceiros, ou em outros locais (periferias urbanas, vilarejos rurais, etc.), cultivavam um sítio ou uma gleba menor, “um roçado” (...) concedido através de um contrato verbal de arrendamento que compreendia o pagamento anual de um aluguel em dinheiro, conhecido popularmente como foro. (P. 30)

Essas categorias de trabalhadores rurais, predominantes em

todo o estado paraibano até os anos 70, foram designados de moradores de condição ou cambãozeiros. A parceria é outra categoria de trabalhador rural

que, para explorar a terra através da moradia e/ou cultivo, paga pelo uso da

mesma uma renda em produtos (a meia, a terça, a quarta etc.) Moreira (1997) Outra categoria de trabalhador rural, ainda segundo estudos

realizados por Moreira (1997), são:

Os posseiros, muito comuns na Zona da Mata e no Agreste até os anos de 1970, são representados pelos agricultores sem terra que ocupavam uma gleba de terceiros ou do Estado. Nela cultivavam alimentos e outros produtos agrícolas, criavam animais e não pagavam nada a ninguém. Em várias áreas de conflito do Litoral e do Agreste/Brejo foi identificada essa categoria de trabalhador. As glebas de posse, regra geral, são muito antigas e vinham passando de pai para filho há gerações, antes da eclosão do conflito (p.31)

35

O assentamento de Imbiras é um exemplo claro da existência

dessa categoria de trabalhadores no Agreste paraibano, sendo as condições

retratadas pela autora características marcantes desses trabalhadores rurais,

representantes legítimos do campesinato brasileiro. O conceito de camponês

utilizado nesse estudo, passa a ser vislumbrado como o norte da análise da

produção agrícola no campo brasileiro.

Segundo Martins (1995), o conceito de camponês foi

introduzido em definitivo no Brasil pelas esquerdas, há pouco mais de duas

décadas, as quais procuraram dar conta das lutas dos trabalhadores do campo

que surgiram em vários pontos do Brasil nos anos de 1950. O conceito de

camponês tem uma dimensão política. Camponês expressa a unidade política,

ideológica, cultural e econômica das respectivas situações de classe e,

sobretudo, dá unidade às lutas dos camponeses. A produção camponesa é

formada por uma pequena unidade de produção voltada para o auto-consumo,

que encontra como seu principal sustento a agricultura realizada principalmente

pelo trabalho familiar. Sabe-se que a sobrevivência é o limite para a produção

camponesa no campo, e não o lucro médio, como ocorre na produção

capitalista. No trabalho camponês, uma parte da produção agrícola entra no

consumo direto do produtor, camponês, e a outra parte, o excedente, sob a

forma de mercadoria, é comercializado.

Oliveira (1990) relaciona três componentes fundamentais no

processo de reprodução da produção camponesa:

O primeiro são os proprietários de terras que especulam com a terra-mercadoria; ao venderem a terra, fazendo, principalmente, loteamentos e colonização agrícola, acabam por criar, contraditoriamente, condições para a recriação do camponês-proprietário. O segundo (...) é o Estado, que atua como agente distribuidor de terras em projetos de colonização, e, ao fixar preços mínimos agrícola, ou cotas de produção, garante condições mínimas contraditórias para que o camponês se reproduza. O terceiro (...) diz respeito à formação das cooperativas no campo. Estas, nascidas no século passado (XIX) como instrumento de defesa dos agricultores contra os comerciantes, que, de certo modo atuam como comprador e usuário, exploravam os camponeses, levando-os a proletarização (p. 72)

36

Se na agricultura capitalista a mercadoria primordial dos

trabalhadores é a sua força de trabalho, os trabalhadores camponeses entram

no processo produtivo de maneira subordinada. Eles só dispõem de sua força

de trabalho que, incorporada às relações econômicas, por sua vez pautadas na

lógica do modo de produção capitalista, proporcionam ao capitalismo efetivar o

processo exploratório. Já nas unidades de produção camponesa, a inserção

dos trabalhadores não se dar nos mesmos moldes, que na agricultura

capitalista pois o que os trabalhadores camponeses têm a oferecer não é a

mercadoria força de trabalho, mas a renda camponesa da terra.

Para Paulino (2003), a heterogeneidade é a principal marca

das relações desencadeadas no campo brasileiro. Segundo este autor, existem

dois tipos de propriedade privada da terra: a capitalista e a camponesa. Dentro

da propriedade capitalista, a terra constitui-se em objeto de negócio, seja pelo

fato de consistir em instrumento de exploração de trabalho alheio, logo, de

extração de mais-valia; seja pelo fato de ser mantida como instrumento de

especulação, em outras palavras, como reserva de valor. Diferentemente a

propriedade camponesa se constitui em terra de trabalho, restrita a exploração

pelo regime de trabalho familiar, não sendo instrumento de acumulação de

capital, mas de sobrevivência da família.

Essa dualidade, [terra de negócio] versus [terra de trabalho],

somente se explica através do caráter contraditório do desenvolvimento

capitalista, que comporta tanto a propriedade privada capitalista quanto a

propriedade privada camponesa da terra.

Oliveira (1990) destaca que há uma distinção entre a produção

camponesa e a produção capitalista. A produção capitalista é caracterizada

através do movimento de circulação do capital expresso nas formulas: D6 - M7 -

D8, na sua versão simples, e D –M – D9, na sua versão ampliada. Na

agricultura, o investimento é realizado com o objetivo de se produzir

6 Dinheiro aplicado na produção de mercadorias. 7 Mercadoria resultante do investimento de dinheiro para assegurar o trabalho assalariado, a compra de insumos e máquinas aplicáveis ao processo produtivo. 8 Dinheiro aplicado na produção de mercadorias mais o lucro agregado pela exploração da mão-de-obra do trabalhador assalariado. 9 Dinheiro obtido através do resultado da aplicação do dinheiro na produção de mercadorias mais o lucro agregado pela exploração da mão-de-obra do trabalhador assalariado. Difere do D inicial apenas quantitativamente.

37

mercadorias que, ao serem comercializadas, devem assegurar um retorno

monetário superior ao que foi investido. Já na produção camponesa, estamos

diante da seguinte fórmula: M - D - M, ou seja, a forma mais simples de

circulação das mercadorias, na qual, o camponês faz a conversão de

mercadorias em dinheiro com a finalidade de obter os meios para adquirir

outras mercadorias e suprir as necessidades da família.

Desse modo, o trabalhador camponês se diferencia do

latifundiário rural no que se refere a sua lógica de produção. E diferencia-se

ainda, das demais categorias de trabalhadores rurais. O camponês pode ser

compreendido como uma categoria de trabalhador que apresenta forte

identidade, mesmo que esta, em alguns aspectos, possa ser equiparada a

outras categorias de trabalhadores, como, por exemplo, o trabalhador familiar.

Fabrini (2003) entende que o camponês se diferencia das outras categorias de

trabalhadores rurais que vivem no campo por intermédio principalmente da sua

concepção política, da sua concepção ideológica, da sua posição social, entre

outras. Os camponeses aparecem na nossa história como indivíduos

notadamente marcados por suas ideologias políticas, as quais se apresentam

notavelmente contrárias as idéias do modelo de desenvolvimento proposto pelo

capitalismo agrário para o campo brasileiro.

Sobre o exposto, Fabrini (2003) coloca que:

No interior do desenvolvimento desigual das relações capitalistas, os camponeses, por meio de sua luta de resistência, vão conquistando o seu lugar social. São muitos os exemplos de lutas camponesas no Brasil, bem como em outros países, que evidenciam a construção desse lugar na sociedade. (...) Os camponeses são capazes de realização de ações coletivas. Essas ações coletivas podem ser verificadas nas lutas para entrar na terra e nela permanecer. (...) Pela luta os camponeses se constituem como sujeitos políticos e vão garantindo sua existência no sistema adverso (capitalismo), que insiste em fazê-los desaparecer. (...) As atividades coletivas desenvolvidas pelos camponeses dos assentamentos são caracterizadas por um conteúdo político e ideológico de classe (p.20)

Diante do que foi colocado até o momento sobre o camponês e

seu comportamento, cabe aqui realizarmos uma reflexão sobre o

38

comportamento dos camponeses que encontramos no assentamento rural de

reforma agrária em Imbiras. A consciência de que era preciso uma maior

organização social pela luta contra a expropriação de suas terras levou os

camponeses desse assentamento rural a organizarem-se socialmente em

defesa do seu interesse mais imediato, a conquista e permanência na terra.

Passado esse momento e, com ele, a conquista da terra, as formas de

organização sucumbem, restando apenas um resquício dessas, corporificada

na Associação Comunitária dos Assentados de Imbiras. A organização dos

camponeses no assentamento de Imbiras foi desencadeada pela consciência

dos próprios camponeses enquanto classe social e/ou política e ideológica? Ou

foi uma conseqüência da extrema ameaça de expropriação em que viviam

esses posseiros? Bem, se o fator for associado à consciência

social/política/ideológica desses camponeses, o que explica sua fragmentação

após a conquista e posse da terra? Se esses acontecimentos estiverem

associados à extrema ameaça de expropriação dos trabalhadores camponeses

de suas parcelas, que fatores são capazes de explicar a lógica do

desenvolvimento camponês? Em que aspectos podemos entender o camponês

do assentamento rural de Imbiras? Na compreensão dos camponeses

vislumbrada por autores que acreditam ser o camponês um ser saturado de

fortes ideologias políticas, culturais e sociais?

Na literatura, o conceito de camponês encontra-se saturado de

uma série de conotações que muitas vezes não se relacionam com a

abordagem conceitual proposta pelos estudiosos do comportamento

camponês. Para muitos autores, todos aqueles que se encontram ocupados ou

associados diretamente ou indiretamente às atividades agrárias podem

receber, sem reserva, a denominação de camponês, independentemente de

sua condição política, ideológica, cultural e socioeconômica. No significado

etnológico a palavra camponês se refere ao indivíduo que habita e/ou trabalha

no campo, também chamado de campônio ou rústico.

Fernandes (2000), refere-se aos trabalhos de autores que

tratam da agricultura familiar da seguinte forma:

Em uma leitura atenta dos trabalhos acadêmicos pode-se observar que os pesquisadores que utilizam o conceito de

39

agricultura familiar com consistência teórica, não usam o conceito de camponês. Já os pesquisadores que usam o conceito de camponês, podem chamá-los de agricultores familiares, não como conceito, mas como condição de organização do trabalho. Da mesma forma, ao se trabalhar com o conceito de camponês, pode-se utilizar as palavras: pequeno produtor e pequeno agricultor. Todavia, como existem muitos trabalhos que utilizam essas palavras como equivalentes do conceito de agricultura familiar, é necessário demarcar bem o território teórico (p. 3)

Nessa ótica, o agricultor camponês não apresenta fortes

diversidades conceituais em relação ao agricultor familiar, pois a produção

agrícola camponesa é, na maioria dos casos, praticada através da mão-de-

obra dos membros da família, o que pode se configurar como agricultura

familiar.

Contrário a esse pensamento, Fernandes (2000) coloca que:

A construção teórica da agricultura familiar tem construído a compreensão e a percepção que o camponês representa o velho, o arcaico e o atraso, enquanto o agricultor familiar representa o novo, o moderno, o progresso. Evidente que os custos políticos dessas formas de entendimento são altíssimos para os movimentos camponeses. (p. 7)

A abordagem teórica favorável à agricultura familiar interpreta

os camponeses como sujeitos ligados ao “atraso” e ao “passado”, sem que o

camponês, enquanto categoria, apresente nenhuma conotação política ou

ideológica. Diante da modernidade, caracterizada pelo avanço do modelo de

produção capitalista no campo, os idealizadores da agricultura familiar propõem

a integração do campesinato ao mercado, transformando os camponeses em

empreendedores que devam buscar a competitividade econômica. Nesse

sentido, os camponeses deixariam de ser camponeses e passariam a se

configurar como agricultores familiares, destruindo-se enquanto classe.

O camponês durante muito tempo, principalmente no Brasil,

enfrentou fortes adversidades conceituais, tanto do ponto de vista político como

na sua participação socioeconômica, já que, muitas vezes, as palavras que

definem o comportamento camponês e seu lugar na sociedade tinham duplo

sentido.

40

Martins (1986) traduziu essa idéia de maneira simples ao

entender que outras classes sociais definiam o camponês como:

Aquele que está em outro lugar, no que se refere ao espaço, e aquele que não está, senão ocasionalmente, e nas margens dessa sociedade. Ele é num sentido, um “excluído”. É assim excluído que os militantes, os partidos e os grupos políticos vão encontrá-lo, como se fosse um estranho chegando retardatário ao debate político. (P. 25)

O camponês é entendido dentro do campo político como uma

classe fadada à exclusão ou desapropriação ideológica, pois algumas

correntes teóricas o entendem como de fora do campo da batalha política e

ideológica, como algo desnecessário as transformações mais efetivas no

interior das sociedades. Dentro dessa concepção, o conceito de camponês

torna-se incapaz de localizá-lo socialmente e dar a sua devida expressão

dentro do processo de mudanças sociais. Como afirma Martins (1986), a

ausência de um conceito, de uma categoria que o localize socialmente e o

defina de modo completo e uniforme constitui exatamente a clara expressão da

forma como tem se dado a sua participação nesse processo, alguém que

participa como se não fosse essencial, como se não estivesse participando.

A exclusão do camponês enquanto classe social que luta por

seus direitos é tão profunda que muitos acontecimentos proporcionados pela

efetiva participação camponesa estão ou foram fadados ao esquecimento.

Acontecimentos como a Guerra do Contestado10, a Guerra de Canudos11, as

Ligas Camponesas12 são, na verdade, minimizados quando se processam as

discussões sobre a participação camponesa na questão agrária brasileira.

Levar em conta o comportamento político camponês no

processo de produção social do espaço agrário brasileiro é colocá-lo no lugar

histórico que lhe corresponde ressaltando a sua importante participação no 10 Maior guerra popular da história contemporânea do Brasil, ocorrida no Sul do Brasil e nas regiões do Paraná e de Santa Catarina entre 1912 e 1916. 11 Conflito entre camponeses e o exército brasileiro desencadeado nos sertões da Bahia entre 1896 a 1897. 12 Movimento camponês originado em 1954, no engenho da Galiléia, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. As ligas Camponesas conseguiram organizar no Nordeste brasileiro a luta dos foreiros, moradores, arrendatários, pequenos proprietários e trabalhadores da Zona da Mata contra o latifúndio.

41

desenvolvimento das transformações ocorridas na sociedade brasileira, tanto

no que se refere ao campo como no que se refere a cidade.

1.2.3 – O Campesinato e a Reforma Agrária no Brasil

Hoje, a miséria, a fome e o atraso estão presentes no meio

rural brasileiro, não apenas por ocasião da ociosidade da terra, mas também

por sua insuficiente capacidade de produção, que, em muitos casos, necessita

de cuidados e técnicas especiais, observados através da utilização de adubos

ou fertilizantes, da rotação de culturas e de terra. Para compor o processo

produtivo é necessário muito mais que a propriedade da terra. O acesso a terra

se configura apenas como o primeiro passo para garantir a possibilidade de

produção dos camponeses, sua reprodução e satisfação alimentar de sua

família. Faz-se necessário que o camponês procure mecanismos para resistir à

penetração do capitalismo no campo, visto que este procura monopolizar as

atividades produtivas realizadas nesses territórios.

Dentro desse contexto, os camponeses precisam mais que

terra para garantir sua reprodução, é necessário que se intensifique a luta por

políticas agrícolas voltadas para o desenvolvimento das atividades agrícolas

praticadas nas comunidades camponesas.

Nesse sentido, Almeida e Paulino (2000) colocam que:

É por essa razão que a luta pela terra não se encerra em si, devendo ser entendida, sobretudo, como luta contra o capital. Isto retira o sentido de uma Reforma Agrária distributivista, pois a renda encontra-se subjugada pelo capital, impedindo o trabalhador familiar de libertar-se do circulo de miserabilidade que lhe é imposto (p. 22)

Outro fator de relevante importância para o desenvolvimento da

pequena agricultura camponesa no Brasil é sua estrutura fundiária. O

campesinato no Brasil encontra-se subjugado a desenvolver-se em áreas de

pequenas dimensões territoriais. A própria exigüidade da propriedade

camponesa no Brasil já se configura como um impedimento para o seu

completo desenvolvimento e para a satisfação dos indivíduos que dela retiram

o seu sustento e de seus familiares.

42

A forte concentração fundiária marca profundamente todo

processo histórico desencadeado no campo brasileiro, sendo que suas

conseqüências ultrapassam os limites agrários, já que, é na cidade que são

travadas muitas das disputas realizadas entre trabalhadores camponeses,

proprietários latifundiários, instituições governamentais e não-governamentais.

As greves dos trabalhadores do campo são realizadas nas cidades, os prédios

públicos estatais localizados nas cidades são ocupados e milhares de

trabalhadores rurais sem terra deslocam-se em direção à Brasília em busca

dos seus direitos. Se por um lado os milhões de camponeses brasileiros

propõem uma distribuição de terra mais justa para que estes trabalhadores

rurais sem terra ou com pouca terra possam de fato ter acesso a terra e as

condições necessárias para produzir alimentos, do outro lado destaca-se um

número reduzido de grandes proprietários latifundiários que lutam com todas as

forças, política, social e principalmente econômica para preservar a estrutura

fundiária do país. Nos conflitos pela posse da terra no campo brasileiro, o

Estado representado por suas instituições, como o INCRA, o Instituo de Terras

da Paraíba (INTERPA), entre outras, funciona como órgão mediador entre os

trabalhadores rurais sem terra e os grandes proprietários latifundiários. A partir

de suas ações o Estado consolida a permanência secular da concentração de

terra no Brasil. A lei de terra de 1850 é um claro exemplo das políticas

utilizadas pelo Estado brasileiro pra beneficiar a classe latifundiária no país.

Sobre essa lei, Guimarães (1989) afirma que:

De tudo aquanto se propunha a Lei de 1850, somente medraram as determinações que dificultavam o acesso a terra por meio da posse ou da compra a baixo preço. Em suma, na sua execução prevaleceram unicamente os dispositivos que estavam em harmonia com o objetivo imediato da classe latifundiária: obrigar o imigrante a empregar sua força de trabalho nas grandes fazendas de café (p. 135)

A tabela abaixo ilustra com clareza a desigual distribuição de

terra no Brasil, Os dados apontam para uma forte concentração junto às

propriedades com área superior a 1000 hectares. Enquanto isso, existem

propriedades que apresentam uma área bastante reduzida (inferior a 100

43

hectares), quando comparada com a área ocupada pelas grandes

propriedades.

Tabela 01: Distribuição de terras no Brasil-2001

Número de imóveis cadastrados no INCRA -1992

Área em ha.

% da áreas

Área correspondente em ha.

43.956

Mais de 1000

2,4

165.756.665

2.628.819

Menos de

100

17,9

59.283.651

Fonte: INCRA/ Oliveira. A. U. (2001) Organizador: João Tavares Guedes (2007)

A tabela 01 é bastante expressiva para explicar a forte

concentração de terras no Brasil, já que 43.956 imóveis com área superior a

1000 ha, as grandes propriedades, correspondem a 2,4% do total dos imóveis

cadastrados no INCRA em 1992, representando 165.756.665 ha. Já os imóveis

com área inferior a 100 ha, isto é, as pequenas propriedades cadastradas no

mesmo ano pelo INCRA, representam um número de 2.628.819, o que

corresponde a 17,9% dos imóveis cadastrados, contando com uma área de

apenas 59.283.651 ha. Existe uma forte desproporção entre o número de

imóveis e a área que lhes corresponde, visto que um grande número de

pequenas propriedades dispõe de áreas bastante reduzidas, ao passo que um

pequeno número de grandes propriedades detém uma imensa área de terras

no Brasil. Essa forte concentração de terras tem se configurado como um

grave problema para o desenvolvimento da produção agrícola nas pequenas

propriedades.

1.2.4 - O Estado e a produção agrícola no Brasil

Os diversos órgãos e entidades ou instituições, como o INCRA,

o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), o INTERPA, entre outros,

criadas pelo governo brasileiro para tratar da tão polêmica e esperada Reforma

44

Agrária do Brasil, acabaram contribuindo mais com a expulsão do homem do

campo provocando a fome, a miséria, a precariedade dos trabalhadores rurais

e a penosidade do seu trabalho. É certo que muitos desses órgãos

contribuíram muito mais com os grandes proprietários de terras, que com os

pequenos produtores do campo brasileiro. Estes orgãos voltaram-se para

financiar grandes projetos de colonização instalados no Brasil durante muito

tempo.

As políticas de desenvolvimento da agropecuária brasileira,

como o Proálcool13, o Projeto de Colonização da Região Norte, entre outras

que, através de incentivos financeiros, custeiam o desenvolvimento produtivo

de certas culturas ou regiões, servem acima de tudo para fomentar e incentivar

as agroindústrias. A exportação de produtos agrícolas historicamente foi\é

considerada pelos governos como forma de assegurar um equilíbrio em nossa

balança comercial.

Percebe-se claramente que o pequeno trabalhador rural

brasileiro não se encontra como objeto principal de desenvolvimento e muito

menos a sua pequena e minimizada produção agrícola, do ponto de vista das

ações governamentais principalmente no tocante aos recursos destinados a

essa tão importante e ao mesmo tempo marginalizada atividade. Importante no

que se refere ao abastecimento do mercado interno já que a agroindústria,

desenvolvida em grandes propriedades, como mostra a tabela 01, presta-se ao

abastecimento dos mercados externos, a pequena agricultura desenvolvida no

Brasil é a grande responsável pela maioria dos empregos criados nesse setor,

ao contrário da agroindústria que, inserida no bojo do processo de

modernização financiado com recursos do Estado, ou seja, do trabalhador,

acaba por produzir uma elevação no número de desempregados no setor

agropecuário brasileiro. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura

Familiar (PRONAF) é exemplo da dualidade no direcionamento das políticas

creditícias direcionadas ao campo brasileiro.

Para Oliveira (2001) a importância da agricultura camponesa

no Brasil é indiscutível quando constatamos que em apenas 18% da área 13 Programa governamental que engloba políticas energéticas, industriais, agrícolas, de transportes, de comércio exterior, sociais, trabalhistas e ambientais. Criado em 1975 pelo governo brasileiro com o objetivo de reduzir a importação de petróleo, numa tentativa de amenizar o problema energético do país.

45

agrícola (até 100 ha) os camponeses geram quase a metade da riqueza

oriunda no campo. Para este autor:

Esses teimosos camponeses são responsáveis por mais de 50% da produção de batata-inglesa, feijão, fumo, mandioca, tomate, agave, algodão em caroço arbóreo, banana, cacau, café, caju, coco guaraná, pimenta-do-reino, uva e a maioria absoluta dos hortigranjeiros. Produzem também mais de 50% do rebanho suíno, das aves, dos ovos e do leite. Os médios estabelecimentos (100 a 1000 ha) e os grandes (mais de 1000 ha), ainda que ocupando uma área de 283 milhões de hectares (28% do total), respondem por mais de 50% do volume da produção de algodão em caroço herbáceo, arroz, cana-de-açúcar, milho, soja, trigo, chá-da-índia, laranja, maçã e mamão (p.189)

Esses dados credenciam a importância da agricultura

camponesa desenvolvida nas pequenas propriedades rurais brasileiras de base

familiar, no tocante ao abastecimento do nosso mercado interno, isto é, para o

abastecimento da população brasileira. As culturas cultivadas nas pequenas

propriedades estão diretamente relacionadas com o cardápio alimentar da

população brasileira. Enquanto isso a produção desenvolvida nas médias e

grandes propriedades destina-se, quase que exclusivamente, ao

abastecimento do mercado externo, ou seja, à exportação. Observe os dados

da tabela abaixo referente à produção desenvolvida nas pequenas e nas

grandes propriedades brasileiras.

Tabela 02 - Percentual da produção agropecuária brasileira segundo a área dos imóveis

Imóveis ha

% da área

Valor produção agropecuária %

Pequenas propriedades 0>100

18

46.5

Médias propriedades 100>1000

37

32,3

Grandes propriedades mais de 1000

45

21,2

TOTAL

100%

100%

Fonte: Oliveira A. U. (2001) Organizador: João Tavares Guedes (2007)

46

Os dados da tabela 02 mostram que as propriedades com área

de 0 a 100 ha correspondem a apenas 18% da área distribuída entre as

propriedades voltadas para a produção agropecuária no Brasil, sendo estas

responsáveis por 46,5% do valor da produção agropecuária nacional. As

médias propriedades com área de 100 a 1000 ha. contam com 37% dessa área

produzindo 32,3% do valor dessa produção. Por sua vez, as grandes

propriedades apresentam área superior a 1000 ha comportam 45% dessa área,

produzindo apenas 21,2% do valor da produção agropecuária brasileira. Mais

uma vez fica explícito o potencial produtivo das pequenas propriedades

brasileiras, mesmo compreendendo que as políticas agrícolas voltadas para o

desenvolvimento agropecuário no campo brasileiro marginalizam a produção

desenvolvida nas pequenas propriedades, já que as mesmas estão voltadas

para beneficiar a produção agrícola desenvolvida nas grandes propriedades.

O que foi colocado pelos governantes brasileiros como solução

para democratizar o acesso à terra e as linhas de créditos e insumos, como os

programas de reforma agrária e colonização, acabou provocando,

intencionalmente ou não, um efeito contrário ao esperado pelos camponeses

brasileiros visto que a propriedade da terra no Brasil continuou concentrada

nas mãos de uma elite. Assim, as condições de vida da população pobre do

meio rural e urbano brasileiro continuaram, cada vez mais, avançando rumo ao

seu agravamento.

A produção agrícola desenvolvida nas pequenas propriedades

no campo brasileiro encontra-se subjugada em detrimento de políticas

creditícias que beneficiam o agronegócio para a produção familiar de base

camponesa. O acesso ao crédito rural tem sido difícil, pois apenas 5% têm

acesso ao mesmo, ficando com apenas 30% do total (Oliveira 2001). O que

nos leva a concluir que 70% dos recursos estatais para investimento na

produção agropecuária brasileira estão distribuídos junto às médias e grandes

propriedades. Esses números nos colocam frente às enormes dificuldades que

os camponeses brasileiros enfrentam para obter financiamento e assim,

dinamizar sua produção.

Diante dessa situação de subordinação resta ao camponês

brasileiro procurar mecanismos que assegurem sua permanência no campo,

47

com possibilidade de conquistas que contribuam para fomentar a sua ascensão

enquanto ser social e que garantam a dignidade de sua família.

A produção desenvolvida na pequena agricultura camponesa,

no campo brasileiro, especialmente nos assentamentos de reforma agrária,

encontra-se subjugada as iniciativas dos órgãos ou entidades governamentais

para que as mesmas possam alcançar certo nível de desenvolvimento. Os

assentados não dispõem de recursos financeiros e tecnológicos para dinamizar

as suas atividades produtivas, o que acaba conduzindo, por um lado à

precariedade da pequena produção camponesa nos assentamentos de reforma

agrária e, por outro, beneficiando os grandes proprietários Estes encontram

muitas facilidades na hora de receber incentivos e recursos estatais para

aplicar em sua propriedade. Os investimentos financeiros e tecnológicos

observados nas áreas de assentamento são bastante tímidos se comparados

com os canalizados para as grandes propriedades e para as atividades

agroindustriais. Os baixos investimentos creditícios por parte das instituições

financeiras do governo federal e estadual, têm proporcionado um quadro de

atraso nas atividades agrárias desenvolvidas nas pequenas propriedades

camponesas comprometendo o abastecimento do mercado interno com

produtos destinados à satisfazer as necessidades básicas da população do

país. Tal fato decorre de que a produção agrícola desenvolvida nas pequenas

propriedades camponesas como já foi assinalado, destina-se ao abastecimento

da população nacional.

A absorção de crédito rural é comprometida pela grande

maioria dos produtores; a geração e introdução de pesquisa e tecnologia,

mesmo simples, e sua difusão pela extensão rural são grandemente afetadas e

retardadas. Por conseqüência, produção e produtividade ficam estagnadas e

até mesmo decrescem, o que impossibilita a implantação de um sistema

dinâmico de comercialização.

As pequenas propriedades rurais encontram-se, do ponto de

vista de sua modernização, bastante atrasadas, visto que as mesmas ainda

conservam algumas técnicas (como a prática das queimadas no preparo do

solo, o arado em regiões de relevo acidentado etc.) de produção consideradas

por muitos como insuficientes tanto do ponto de vista do rendimento ou da

produtividade quanto no tocante à conservação dos recursos naturais,

48

especialmente os solos e os recursos hídricos. Assim, a ausência de técnicas

agrícolas mais sofisticadas tem afetado muito a produtividade da pequena

agricultura camponesa, visto que esta não se encontra inserida num modelo de

modernização e desenvolvimento da agricultura camponesa idealizado pelos

movimentos dos trabalhadores rurais e camponeses.

Ainda que não seja o foco do nosso estudo, acreditamos que é

pertinente abrirmos um espaço, mesmo que sucinto, para algumas

considerações sobre o projeto de reforma agrária do MST.

Para Martins (2000):

Convém ter em conta, além do mais, que a reforma agrária tanto pode nascer da demanda das necessidades populares, quanto pode nascer das necessidades econômicas ou políticas das elites, como ocorreu nos Estados Unidos, ou das necessidades geopolíticas do Estado. (...) Foi o que aconteceu com a reforma agrária no Japão, imposta pelos americanos; e com algumas das reformas agrárias latino-americanas, incluindo a brasileira da ditadura militar, também impostas pelos americanos para acentuar as tensões políticas e ampliar mercados (p. 25)

A reforma agrária brasileira impulsionada na década de 1960

foi uma imposição ou conseqüência da geopolítica dos Estados Unidos, já que

a elite brasileira não apresentava, e continua não apresentando, nenhum

interesse na realização da reforma agrária. Não existe, no Brasil, vontade

política para realizar esta tão sonhada reforma agrária. O que se observa,

principalmente a partir de1964, é uma crescente pressão popular para

implantação da reforma agrária brasileira, já que as necessidades da

população que vive no campo são argumentos mais que suficientes para

legitimar esse processo. O MST destaca-se como principal movimento

revolucionário em busca da reforma agrária. A organização dos camponeses

sem terra ou com pouca terra, a ocupação de terras improdutivas, os protestos

junto aos órgãos estatais, a luta por políticas agrícolas que realmente possam

beneficiar os camponeses pobres e um projeto de educação diferenciada para

o trabalhador camponês, enumeram-se entre as principais estratégias desse

movimento.

Para Oliveira (2001):

49

O MST, como o movimento social rural mais organizado neste final de século, representa, no conjunto da história recente deste país, mais um passo na longa marcha dos camponeses brasileiros em sua luta cotidiana pela terra. Essa luta camponesa revela a todos os interessados na questão agrária um lado novo e moderno. Não se está diante de um processo de luta para não deixar a terra, mas diante de um processo de luta para entrar na terra. Terra que tem sido mantida improdutiva e apropriada privadamente para servir de reserva de valor e/ou reserva patrimonial às classes dominantes (p.195)

O MST é um movimento relativamente novo. Sua criação

remonta ao final da década de 1970, mas a sua trajetória histórica no campo

brasileiro é marcada por uma série de acontecimentos, ocupação de terras

improdutivas, ocupação de prédios públicos, enfrentamento com a polícia,

realização de marchas e congressos, entre outros. O MST têm ao longo dos

anos, em decorrência dos momentos políticos e históricos, modificado suas

estratégias de luta pela implantação da reforma agrária no país.

Importante marco dessas mudanças vivenciadas pelo MST é

observado na constante renovação das palavras de ordem desse movimento,

determinadas a partir do contexto socioeconômico e político que permeia o

país.

Oliveira (2001) sintetiza essas palavras de ordem da seguinte

maneira:

Quando ocorreu a formação do MST, (...) o lema era Terra para quem nela trabalha (1879-83). Quando começou a enfrentar resistência ao acesso a terra, um novo lema surgiu: Terra não se ganha, terra se conquista (1984). Ao se fortalecer e avançar, sobretudo no governo Sarney, percebendo que o primeiro plano de reforma agrária não estava sendo implementado, os lemas passaram a ser: Sem Reforma Agrária não há democracia (1985) e Reforma Agrária Já (1985-86). Com o aumento da violência, que não atingiu apenas os trabalhadores, mas lideranças, advogados, políticos, religiosos etc., o MST mudou suas palavras de ordem: Ocupação é a única solução (1986), enquanto o latifúndio quer guerra, nós queremos terra (1986-87) e por ocasião da Constituinte, Reforma Agrária: Na lei ou na marra (1988) e Ocupar, Resistir e Produzir (1989). (...) Na década de 90, durante o governo Collor, o MST mudou suas estratégias de luta e as palavras de ordem passaram a ser: Reforma Agrária: Essa luta é nossa (1990-91) e MST, agora é prá valer (1992-93). Com a eleição de Fernando Henrique Cardoso

50

surgiu o lema: Reforma Agrária; Uma luta de todos!,(...) no ano de 2000 o lema passou a ser: Reforma Agrária: um Brasil sem latifúndio. (...) Em 2004, a palavra de ordem passou a ser: Por um Brasil sem latifúndio e, em 2007, o lema é: Justiça social e soberania popular (p.196-197)

De conformidade com o que foi colocado, percebemos que o

MST é um movimento social que baseia suas estratégias a partir do momento

vivenciado, sendo que seu raio de atuação perpassa as fronteiras agrárias. O

MST pode, de maneira geral, ser compreendido como um movimento que luta

pela democratização do acesso a melhores qualidades de vida da classe

trabalhadora brasileira.

Com o intuito de analisar os caminhos, contradições e

perspectivas do campo e daqueles que nele vivem e trabalham, a geografia

agrária brasileira vêm construindo, no decorrer da sua sistematização, ricos e

profundos debates, com o objetivo de contribuir para a sua superação. No

capítulo seguinte apresentamos uma aproximação a esse campo disciplinar e

suas correntes.

1.3- A contribuição da geografia agrária para a compreensão do campo

1.3.1- A Geografia Agrária no Brasil

A Geografia enquanto ciência da terra e da sociedade tem a

preocupação de desvendar fenômenos que, de uma forma ou de outra,

norteiam as relações desencadeadas entre homem e a natureza, e,

principalmente, aquelas existentes entre as diferentes esferas da sociedade.

Segundo Ferreira (2001), a geografia tem caminhado por diferentes campos de

interesse em relação à sistematização dos fatos geográficos:

O da Geografia Humana e Física em princípio, o da Geografia da População, Industrial, Agrária, Urbana, dos Transportes, da Hidrologia, da Geomorfologia, da Climatologia posteriormente, que para alguns, levam a ciência geográfica a perda da unidade, e, para outros, possibilitaram a realização de estudos mais aprimorados e especializados, mas todos preocupados em definir seu foco considerando a relação homem/meio-homem/homem, componentes fundamentais a análise geográfica (p. 40)

51

Segundo a mesma autora, a Geografia Agrária apresenta uma

história muito particular. Inicialmente voltou-se para o conhecimento da

superfície da terra, detectando as formas de exploração nela existentes. Foi

esta perspectiva que levou a disciplina a se configurar como a primeira forma

de analisar a agricultura dando-lhe um enfoque geográfico.

Ferreira (idem) destaca quatro fases nos estudos de interesse

geográfico desenvolvidos até 1930. Até a metade do século XVIII, os trabalhos

realizados eram de cunho não-científico. Eram realizados por cronistas,

aventureiros e comerciantes. Já a primeira metade do século XIX, foi marcada

pela presença de viajantes estrangeiros, em busca de conhecer diferentes

áreas do país, observando e recolhendo informações e material para estudo.

No período que vai do Império a Primeira República, diversos cientistas

estrangeiros realizaram inúmeros trabalhos de campo com o objetivo de

levantar dados em áreas nas quais o governo pretendia realizar investimentos.

No final do século XIX e início do XX, desenvolvem-se no Brasil trabalhos

literários preocupados com a formação territorial, partindo do estudo do

processo de conquista e ocupação do território brasileiro, como, por exemplo,

os estados realizados por Capistrano de Abreu, Euclides da Cunha e Joaquim

Nabuco.

Ainda no século XX autores como Caio Prado Jr, Gilberto

Freire e Sérgio Buarque de Holanda, destacaram-se pelos estudos voltados

para a realidade brasileira. Despertavam para a necessidade de conhecer o

território brasileiro, o qual era, até então, mais conhecido pelos estrangeiros

que buscaram nesse espaço conteúdos para as suas pesquisas. É nesse

momento de necessidade, após a Revolução de 1930 e, em função da política

de modernização adotada pelo governo Federal, que se institucionaliza o

conhecimento geográfico brasileiro.

De conformidade com o pensamento de Ferreira (2001):

A Geografia Agrária brasileira se desenvolveu seguindo uma trajetória de influência oferecida pela própria realidade e pelas mudanças paradigmáticas que determinaram os temas de estudo e as formas de estudá-los. Alguns geógrafos, além da sistematização, preocupam-se com o estudo da realidade propriamente dita efetuando a discussão e a sistematização teórica desse campo de conhecimento dentro da geografia. (p.42).

52

A Geografia se institucionalizou enquanto ciência muito mais

como uma ideologia do que propriamente como uma filosofia. Foi justamente

no âmbito de produzir um pensamento para a reprodução da ordem

estabelecida que a Geografia se institucionalizou (BOMBARDI,2003).

A Geografia Agrária brasileira nasce sob a influência da escola

historicista alemã, posto que se preocupava apenas com a descrição dos fatos

aproximando-a de uma forte neutralidade, carregando-a de uma forte dose de

preconceitos justificadores do colonialismo. A mesma não levava em

consideração a forma de apropriação das terras, as condições de vida do

homem do campo, as suas relações de trabalho, suas condições econômicas,

entre outras. O fato é que a Geografia Agrária nasce no Brasil sem nenhuma

preocupação social, prevalecendo com uma conotação descritiva por longo

período.

Para Bombardi (2003):

Pode-se dizer que a raiz da Geografia Agrária brasileira se encontra fundamentada na escola historicista alemã, sobretudo naquilo que resultou das exposições positivistas e historicistas no seio da Geografia, tendo o conceito de região a partir de Hettner, que introduz a Geografia Agrária no Brasil (em 1946, a convite do Conselho Nacional de Geografia), tendo sido feita trazendo a idéia de que o papel do geógrafo é de descrever as diferenças espaciais da agricultura enquanto um fenômeno da superfície terrestre. As relações sociais estavam longe de ser um eixo central nas análises realizadas e a neutralidade da ciência era posta como um ponto indiscutível (p. 45)

Durante as décadas de 1930 e 1940 a Geografia brasileira

apresentava uma dualidade no seu campo de estudo. Ela se encontrava

dividida em Geografia Física e Geografia Humana. O estudo da Geografia

Humana dava propriedade aos estudos econômicos, sendo a agricultura o

principal campo de interesse. Só a partir de 1950, com o desenvolvimento do

sistema urbano-industrial e a divisão social do trabalho, a Geografia coloca-se

diante de uma nova realidade econômica. Dentro dessa nova realidade o

estudo da agricultura pela Geografia passou a ser relegada a segundo plano, já

que a crescente industrialização e urbanização absorveram a atenção da

maioria dos estudiosos dessa ciência. Assim, podemos perceber que a

53

Geografia Agrária não é um ramo da ciência geográfica que se estabeleceu de

maneira única. Posto que o acelerado processo de urbanização desencadeado

no espaço brasileiro a partir da década de 1950, atraiu a atenção de muito

estudiosos para desvendar os enigmas do espaço urbano, estando entre estes

os geógrafos.

A definição de Geografia Agrária e seu campo de estudo foram

também evoluindo conforme as mudanças paradigmáticas da época. Os

primeiros trabalhos correspondem com os de Waibel (1979) que concebe a

Geografia Agrária como uma disciplina preocupada com a diferenciação

espacial da agricultura, sendo que, para esse autor, a Geografia Agrária divide-

se em três ramos: Geografia Agrária Estatística, Geografia Agrária Ecológica e

Geografia Agrária Fisionômica. Daniel Facher (1953) compartilha com as idéias

de Waibel, pois para este autor, a Geografia Agrária é qualitativa. Pierre

George (1978) não se distancia das colocações dos autores citados, visto que

ele vislumbra a Geografia Agrária como uma ciência que descreve a

distribuição dos diferentes fatos agrícolas que ocorrem no mundo. Ele divide o

campo de estudo da Geografia Agrária em três vertentes: Geografia Agrícola,

preocupada em descrever os eventos agrícolas; Geografia Econômica, voltada

para o entendimento da produção, do transporte e dos cultivos; e Geografia

Social, preocupada com o tratamento dos agrupamentos humanos e as formas

como se trabalha a terra.

Essas concepções conduziram a trabalhos e pesquisas com

uma forte característica descritiva/quantitativa da Geografia Agrária, sendo

principalmente realizados por estudiosos estrangeiros. O domínio dos

geógrafos estrangeiros na descrição da realidade brasileira deve-se, sobretudo,

ao fato de, nesse período (1860- 1970), os estudos geográficos desenvolvidos

por brasileiros ainda eram escassos.

Entre os estudiosos brasileiros voltados para a compreensão

da Geografia Agrária podemos destacar Orlando Valverde (1961), que

acreditava na produção de uma Geografia Agrária explicativa e não descritiva

como ocorrera até então. Para ele a Geografia Agrária deveria interessar-se

pelos sistemas agrícolas e não pelos produtos agrícolas, das formações

econômicas e não dos métodos agrícolas. Entre os geógrafos brasileiros

preocupados em conceituar a Geografia Agrária destaca-se na década, de

54

1970, Magela (1976), procurando indicar o que (objeto) e como (método) é

estudada a Geografia Agrária, como parte da Geografia Humana, sendo que

para este autor “a compreensão total da atividade agrícola é o objeto da

Geografia Agrária”. (Ferreira, 2002; p. 51)

Para Diniz (1973) o desenvolvimento da Geografia Agrária

brasileira se estrutura em duas fases. Na primeira destaca-se a metodologia da

investigação geográfica fundamentada na observação como meio de coleta de

informações e dados. Na segunda fase destacam as mudanças metodológicas

sob influência do papel da União Geográfica Internacional. A renovação da

Geografia Agrária propõe que os fenômenos geográficos, emersos nas

mudanças metodológicas, deveriam ser analisados sob novas concepções,

sendo o estudo da Geografia Agrária enquadrado nesse processo. Segundo

Ferreira (2001), a preocupação de Diniz (1973) é colocar em evidência os fatos

que marcaram tais mudanças. Mostrando as principais características do

período, admitindo a dificuldade de defini-lo exatamente. Na concepção de

Diniz a Geografia deixa de ser uma ciência sintética e descritiva, tornando-se

uma ciência analítica capaz de realizar associações espaciais, podendo

transformá-las em padrões, modelos e leis.

Gusmão (1978) fala de três fases diferentes que compõem o

percurso traçado pelos estudos rurais. Na primeira fase destaca-se a

descrição/explicação das diferenciações do espaço agrário por meio da

realização de trabalhos de campo. Na segunda fase a Geografia Rural passou

a se preocupar com a ordem conceitual e metodológica na realização das

pesquisas. Por fim, a questão pragmática é citada, destacando que os

geógrafos deveriam estudar os problemas rurais, não só considerando a

distribuição espacial da produção, mas compreendendo a estrutura espacial do

desenvolvimento rural. Geron e Gerardi (1979) sugerem que os rumos para a

pesquisa em Geografia Agrária deveriam seguir duas direções: pesquisa

teórico-tetodológica e técnica e estudos de caso vinculados ao planejamento,

tendo em vista o desenvolvimento rural. Silva e Mesquita (1979) apontam as

críticas que a Geografia sofreu nesse período, sendo a mesma questionada

quanto a sua responsabilidade social.

55

Entre os cientistas sociais, tem sido os geógrafos aqueles que menos explicitamente tem se envolvido com a temática da questão agrária. O exame da literatura geográfica brasileira, voltada para os assuntos agrários, revela que a problemática social da agricultura só tem sido tradicionalmente privilegiada, por profissionais dessa formação, nas regiões em que, no território nacional, a questão agrária assume formas muito concretas (Gerardi e Geron (1979) apud Ferreira (2001))

Ferreira (2001) coloca que até os anos de 1970 a questão

agrária no Brasil foi tratada sob óticas diferentes:

O tratamento da questão agrária foi efetuado sob óticas distintas e marcou o surgimento de uma preocupação social nos trabalhos geográficos. Aqueles ligados a definição e a caracterização da Geografia Agrária trouxeram consigo uma preocupação ainda não avaliada, na qual a paisagem, em especial perdeu referência. Uma visão crítica é empreendida, o que fez mudar toda a análise deste ramo da Geografia. (p.57)

Na década de 1980, a discussão teórica em torno da definição

da Geografia Agrária é suplantada pelo movimento de renovação

paradigmática da Geografia, estabelecendo uma ótica social ao estudo da

agricultura. Os trabalhos dessa época propõem-se a apontar tendências a

serem seguidas pelos estudiosos da Geografia Agrária no Brasil. Dentre estes

autores destacam-se: Teixeira, com uma tendência regionalista; Longo,

concebendo a organização da atividade agrícola como elemento de análise,

dando ênfase à forma de produzir dominada pelo sistema capitalista; Diniz

(1984), afirmando que a Geografia da Agricultura é uma análise espacial em

que se procura descobrir porque as distribuições espaciais estão estruturadas

de uma determinada forma.

Na sua obra, Ferreira preocupou-se em mostrar o exercício

despendido por muitos autores em trabalhar a definição e a caracterização da

Geografia Agrária, em momentos distintos. Parece-nos que existe um

consenso geral em que o termo Geografia Agrária é a melhor escolha, ou, ao

menos, o mais utilizado entre aqueles que se dedicam aos estudos geográficos

sobre a agricultura.

56

A autora sintetiza a história da Geografia Agrária brasileira

como nos mostra a Tabela 03.

Tabela 03: Síntese Histórica da Geografia Agrária Brasileira

SINTESE HISTÓRICA DA GEOGRAFIA AGRÁRIA BRASILEIRA

Designação Período Paradigma Características

teórico-metodológicas

Características socioeconômicas Temáticas

Estudos não-geográficos

Séc. XVIII XIX até 1934

------ Inexistência de

método científico

Hegemonia agrícola

Informações sobre diferentes

escalas e culturas

Geografia Agrária clássica

1934 aos meados de 1960

Diferenciação de áreas

Introdução do método

científico sobre influência francesa, descrição,

interpretação síntese,

valorização do trabalho de

campo

Domínio da agricultura e início da

industrialização/urbanização

Caracterização, classificação e distribuição dos

produtos agrícolas por

áreas, colonização, habitat rural,

paisagem rural

Geografia Agrária

quantitativa

Meados dos anos

60 a meados dos anos

70

Classificatório

Enfoque classificatório, utilização de

métodos estatísticos e matemáticos

Desenvolvimento urbano-industrial, introdução do

processo de modernização da agricultura

Estudos classificatórios,

tipologia agrícola,

caracterização social, funcional e econômica da agricultura, uso

da terra, organização

agrária

Geografia Agrária

funcional

1975 a 1995

Interação e ação sobre o

espaço

Enfoque pragmático, análise da

agricultura no contexto do

desenvolvimento

Êxodo rural, constituição do CAI, capitalização e industrialização da

agricultura

Transformação do espaço rural, modernização da

agricultura, relações de

trabalho, desenvolvimento

rural, desequilíbrios

regionais, produção familiar,

agroindústria

Fonte: FERREIRA, D. A. O. Geografia Agrária no Brasil: conceituação e periodização. Revista Terra Livre, São Paulo, v. 16, p. 39-70, 2001. Organização: João Tavares Guedes (2007)

Em função da rica e diversificada produção da Geografia

Agrária brasileira atual, podemos afirmar que os rumos tomados a partir da

década de 1990 foram bem diferentes dos colocados até o momento. Não se

trata de uma ruptura radical, o que observamos, no entanto, é uma abordagem

sócio-geográfica dos estudos da questão agrária brasileira.

57

O surgimento de diversos movimentos sociais no campo, como

o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e o Movimento dos

Atingidos pelas Barragens (MAB), entre outros, acirrou as disputas pela posse

e permanência na terra.

As questões políticas, econômicas, sociais, culturais, de gênero

e de educação no campo passaram atualmente a se configurar como objeto de

estudo entre os geógrafos.

Esse novo paradigma da Geografia contribuiu, sobretudo para

o desencadeamento de uma nova abordagem no estudo da Geografia Agrária

brasileira. Isto é, desenvolve-se, nesse momento histórico, uma produção

geográfica voltada para a compreensão do embate existente entre a

hegemonia capitalista e a resistência camponesa, sendo necessária para esse

exercício uma clara definição do campo em que se insere o estudo da ciência

geográfica.

Dentro desse desafio se insere o nosso trabalho como uma

pequena contribuição ao entendimento do universo rural através das novas

territorialidades que são os assentamentos rurais de reforma agrária.

Cabe lembrar que o exercício de definir certos campos de

pesquisa científica não é tarefa fácil. Basta lembrarmos que a questão agrária é

de fato objeto de estudo das mais variadas ciências, com as suas perspectivas,

focos e metodologias, e que sua definição é processual, ou seja, que varia no

tempo e no espaço.

A definição de Geografia Agrária, segundo Ferreira (2001), foi

norteada por inúmeras divergências durante longo período, como esclarecem

as suas palavras:

É possível percebermos que definir Geografia Agrária não foi tarefa fácil para aqueles que a isso se propuseram. Uma das dificuldades esteve no fato de a Geografia Agrária ter como objeto uma atividade estudada também por outras ciências. O estudo geográfico da agricultura foi realizado ao longo do tempo por diferentes enfoques que produziam uma diversidade de definições, as quais produziam o modo de pensar do momento. Assim, a princípio, a Geografia Agrária era desenvolvida como “parte” da Geografia Econômica, e os estudos econômicos em Geografia tinham na agricultura seu foco principal. (p.42)

58

Podemos afirmar que o nosso trabalho se inscreve no campo

da Geografia Agrária, o que não impede, senão torna necessário, que

busquemos suporte em outros campos dessa ciência ou de outras ciências

sociais. Ao nos propormos à levantar questionamentos acerca da Dinâmica

Territorial Rural processada no assentamento de Imbiras, norteamos nossa

leitura nas contribuições de vários geógrafos que tem trabalhado dentro deste

campo, destacadamente Oliveira (1987), Franco (2004), Moreira (1997),

Thomaz Jr (2000), Feliciano (2002), Montenegro (2004), Lima (2006), Paulino

(2003) e Fabrini (2003) que tem trabalhado e trabalham para o entendimento

da questão agrária no Brasil.

As relações econômicas, políticas, ideológicas, jurídico-

politicas, culturais e de trabalho, desenvolvidas ao longo da história pelas

sociedades humanas, e nas quais se inserem múltiplas relações de poder, são

componentes fundamentais do território geográfico. A produção da Geografia

Agrária brasileira encontra-se inserida nesse processo de formação territorial.

Posto que a mesma fundamentalmente se processa por intermédio dessas

relações, as quais, por sua vez, norteiam a dinâmica territorial que a

caracteriza em cada momento histórico. De quê território falamos? e qual é o

território da Geografia Agrária?, são questões que se apresentam pertinentes

neste momento, por isso a necessidade de aproximarmos a sua abordagem

conceitual.

1.3.2- O debate geográfico sobre o conceito de território

Estudar o território enquanto conceito, enquanto idéia, e

procurar entendê-lo em suas diversas vertentes tem sido um exercício de

muitos estudiosos, especialmente os geógrafos. Nosso esforço em contribuir

com o debate sobre o conceito de território parte da necessidade de

entendermos o processo de formação territorial rural do assentamento de

Imbiras.

É lugar comum na Geografia conceber o território como algo

posterior ao espaço, o que significa entender que as múltiplas relações sociais

que se desenvolvem no espaço se objetivam na sua territorialização. O fato de

se territorializar uma relação social ou um fenômeno é sempre no espaço. Em

59

última instância tão só o espaço se territorializa, ou seja, torna-se território. A

grande questão para a Geografia e para os geógrafos é desvendar quais são

as máscaras sociais que intervém no fazer-se-território, ou seja, na formação

territorial do fenômeno em questão, no nosso caso o assentamento rural de

Imbiras.

Para Raffestin (1993):

É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (...) o ator territorializa o espaço (p.143)

O território é um lugar de relações que através da apropriação

e produção do espaço reorganiza seu sistema territorial constantemente

(RAFFESTIN, 1993).

Passaremos a vislumbrar o conceito de território numa

perspectiva relacional, isto é, o território como resultado das relações

desencadeadas pelos indivíduos ou as instituições de que são representantes.

Como sugere o autor, o território é eminentemente produzido e reproduzido a

partir de relações dialéticas e de poder. Esta constatação nos motivou para

sistematicamente abordarmos mais de perto a questão do poder, ou melhor,

dos poderes, como caminho para o estudo e a compreensão das ações

coletivas, especialmente as desencadeadas no processo de formação territorial

do assentamento rural de Imbiras.

Em primeiro momento Imbiras se configurava como um

território organizado a partir das relações entre posseiros e proprietários

latifundiários. Com a conquista da terra e o assentamento dos posseiros de

Imbiras por conseqüência da luta dos mesmos e pela intervenção do INCRA

esse território, inicia o processo de reorganização territorial fundamentado nas

relações entre os assentados e as instituições governamentais e não-

governamentais que se propuseram desenvolver trabalhos de fomento no

assentamento.

Presente em todas as relações, em todas as fissuras sociais, o

poder é um conceito-chave que nos possibilita avançarmos no desvendamento

60

da dialética da produção e da apropriação do espaço territorialmente produzido

no assentamento de Imbiras.

Raffestin (1993) concebe o território a partir de sua

materialidade colocando que:

O território não poderia ser nada mais que o produto dos atores sociais. São eles que produzem o território, partindo da realidade inicial dada, que é o espaço. Há, portanto, um “processo” do território, quando se manifestam todas as espécies de relações de poder (p. 7-8).

A problemática social que engloba a processualidade do(s)

poder (es), inserido(s) no processo de criação do assentamento de Imbiras,

torna-se a essência do seu sistema de produção territorial, pois toda produção

territorial encontra-se saturada de relações de poder que se estabelecem no

tempo e no espaço. O poder, como afirma Raffestin (1993), não é nem uma

categoria espacial nem temporal, mas está presente em toda “produção” que

se apóia no espaço e no tempo.

O conceito de território continua sendo muito debatido na

ciência geográfica. Sposito (2005) apud Eduardo (2006) aponta várias

concepções de território na Geografia. Segundo estes autores existem três

vertentes básicas que historicamente serviram para tratar do estudo do

território, ou melhor, serviram para interpretá-lo. A primeira delas é a

naturalista, para a qual o território aparece como imperativo funcional, como

elemento da natureza inerente à um povo ou uma nação e pelo qual se deve

lutar para proteger ou conquistar, representada pela obra e a concepção de

Ratzel. Existe também uma abordagem mais voltada para o indivíduo, que diz

respeito à territorialidade e sua apreensão. Trata-se do território do indivíduo,

seu espaço de relações, concepção presente na obra de Raffestain. Por último

existe uma abordagem onde a utilização do conceito e território se faz

confundir com a noção de espaço. A essência desta confusão reside no fato de

que muitos autores por partirem do pressuposto de que o território é efetivado a

partir da apropriação social do espaço, compreensão que compartilhamos –

consideram-no apenas como sinônimo de chão, de propriedade, de área, de

limite político-administrativo.

61

A construção do território que hoje se configura como o

assentamento de Imbiras, ou seja, que assume essa territorialidade, tem a sua

origem na luta travada pelos camponeses e trabalhadores rurais contra os

latifundiários na histórica concentração da propriedade da terra no Brasil e no

processo de relações de poder estabelecido entre os grandes proprietários e os

trabalhadores sem terra.

É fundamental ressaltar que o espaço constitui a “matéria-

prima” para a produção do território, ou seja, o espaço é anterior ao território. O

território é uma produção a partir do espaço.

Em sua lógica de raciocínio Saquet apud Eduardo (2006), coloca que:

O território se dá quando se manifesta e exerce-se qualquer tipo de poder, de relações sociais. São as relações que dão o concreto ao abstrato, são as relações que cosubstanciam o poder. Toda relação social, econômica, política e cultural é marcada pelo poder, porque são relações que os homens mantêm entre si nos diferentes conflitos diários (p. 04)

O território, antes de qualquer outra coisa, é relação social, é

conflitualidade geograficizada. O território é a expressão concreta e abstrata do

espaço apropriado, produzido. É formado, em sua multidimensionalidade, pelos

atores sociais que o redefinem constantemente em suas cotidianidades, num

“campo de forças” relacionalmente emaranhado por poderes nas mais variadas

intensidades e rítmos.

O território é natureza e sociedade simultaneamente, portanto

economia, política, ideologia e cultura, idéia e matéria, é local e global e

singular e universal concomitantemente, terra, formas espaciais e relações de

poder. Para Eduardo (2006):

Os territórios são construídos, socialmente, pelo exercício do poder, por determinado grupo ou classe social. Podem ter um caráter mais econômico, como os dinamizados por empresários, por exemplo; mais político, como o de partidos políticos; e/ou, mais culturais, como o território de domínio da Igreja Católica, para mencionarmos, pois, apenas alguns exemplos. Reflete, em última instância, toda a produção que deriva das relações entre os homens e destes com a natureza que também consideramos uma dimensão do social por ser freqüentemente apropriada econômica ou politicamente, ou simplesmente por estar envolta pelas intencionalidades (p. 8).

62

O território camponês do assentamento de Imbiras tem sua

produção associada de fato às relações de poder processadas no embate

travado entre posseiros e proprietários de terras, os representantes do poder

jurídico, o poder econômico, entre outros.

De acordo com Eduardo (2006), Souza vislumbra o território

como um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder.

Sobre o território, assim sintetizou Souza (2001):

O território será um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre “nós” (o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”) e os “outros” (os de fora, os estranhos) (p. 86)

Todos nós somos atores reprodutivos de relações sociais, de

poder. Porém, em momentos e intensidades diferenciados. As relações e

interesses não são isolados, mas sim articulados, porque o modo capitalista de

produção detém formas singulares de organização baseadas na interconexão

dos fenômenos. Isto porque o espaço é local, entretanto, como aponta Saquet

apud Eduardo (2006), devido às redes de circulação e comunicação, torna-se

mundial, existindo, desta forma, diversos territórios e territorialidades

sobrepostos e articulados no mesmo espaço geográfico, devido justamente, às

complexas e abrangentes formas existentes de apropriação do espaço e de

construção do(s) território(s).

Ao delimitarmos o assentamento de Imbiras como espaço

agrário, poderemos perceber algumas das relações políticas, econômicas,

ideológicas e culturais que o cercam e dão conformidade as diversas

manifestações territoriais. Pois, conforme Lefebvre apud Raffestin (1993), um

território é constituído quando é transformado pelas modificações feitas pelo

homem convivendo em sociedade.

Os territórios e suas respectivas territorialidades adquirem

incontáveis possibilidades de manifestações no espaço geográfico e no tempo,

muito além daquela puramente dirigida por um aparelho estatal. Sendo assim,

o território formado pelo assentamento de Imbiras é um espaço onde se

efetuou ou se concretizou um trabalho, seja energia e/ou informação, conforme

afirma Raffestin (1993), onde se encontram inerentes relações de poder e

63

interesses. Toda ação efetuada no espaço agrário seja de qualquer gênero,

demonstra, em algum nível, um território efetivado com infra-estruturas públicas

ou privadas, centros financeiros, construções históricas, organizações.

Lefebvre apud Raffestin (1993) argumenta que a produção de

um espaço, o território nacional, espaço físico, modificado, transformado pelas

redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas, circuitos

comerciais e bancários, auto-estradas e rotas aéreas etc. são alguns dos

elementos e mecanismos que vislumbram a passagem do espaço ao território.

O território formado pelo assentamento de Imbiras, nessa perspectiva, é um

espaço onde se projetou um trabalho, produzido coletivamente e

contraditoriamente pela sociedade, a partir de redes ou relações que marcam

profundamente os fluxos materiais e principalmente os imateriais que se

desenvolvem interna e externamente ao assentamento.

Conforme Raffestin (1993):

Toda prática espacial, mesmo embrionária, induzida por um sistema de ações ou de comportamentos se traduz por uma produção territorial que faz intervir tessituras, nós e redes (p.150)

É interessante destacar a esse respeito que nenhuma

sociedade, por mais elementar que seja, escapa à necessidade de organizar

suas ações. Os indivíduos ou os grupos sociais ocupam pontos no espaço e se

distribuem de acordo com modelos pré-definidos aliados à dinâmica do modo

de produção em determinado período histórico vigente.

A interação entre o assentamento de Imbiras, com outras

localidades do município, estabelece-se com a participação de seu

representante nas reuniões do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural

Sustentável, que acontecem ordinariamente na última terça-feira de cada mês,

onde são representadas todas as associações do município. As reuniões do

CMDRS nos aparecem como exemplo claro de formação territorial, já que

nesse espaço/território são traçados os planos e as estratégias para fomentar o

desenvolvimento destas comunidades. O território desse assentamento forma-

se a partir da atuação de diversos elementos, resultado de um intenso e

recíproco relacionamento entre todos os elos da estrutura que compreendem e

64

sustentam a dinâmica econômica e política (e suas subjetividades) em toda sua

complexidade.

Cada assentamento forma um território, que, por sua vez, deve

ser pensado em rede, articulado a outros assentamentos (territórios), sendo

essa articulação ou ligação independem da proximidade física entre os

assentamentos (territórios), do processo de interação e complementaridade

entre os territórios, considerando as temporalidades e a pluralidade,

especificidades políticas, econômicas, ideológicas e culturais encontradas em

cada espaço formando os territórios dos assentamentos rurais.

Todos os camponeses pesquisados no assentamento rural de

reforma Agrária em Imbiras, realizam estratégias de produção como as culturas

destinadas ao consumo, àquelas destinadas ao comércio, as que se voltam ao

consumo e ao comércio, as destinadas à alimentação da criação de animais,

etc, esse processo desencadeia a interação ou a ligação do assentamento de

Imbiras com outros espaços, onde se desenvolvem diversas relações de poder

inerentes ao processo de produção territorial deste assentamento.

Os camponeses agem e interagem, conseqüentemente

objetivam relações de influência e/ou controle, afastamento e/ou proximidade e,

assim, criam redes entre si. Segundo Raffestin (1993), uma rede pode ser

abstrata ou concreta, visível ou invisível. São as redes que asseguram o

controle do e no espaço geográfico através da circulação material e de

informações. Toda rede é uma imagem do poder, produto e condição das

determinações históricas do desenvolvimento. As redes, em suas diversas

manifestações, garantem,ao sistema territorial nessa perspectiva, status de

produto e meio de produção.

Contribuindo com as discussões sobre o conceito de território,

Haesbaert (2002) analisa a questão territorial sob três enfoques: os territorios-

zona, segundo o qual prevalece a lógica política; os territórios-rede,

determinados por e a partir dos aspectos econômicos; e os aglomerados de

exclusão, onde prevalece uma lógica social de exclusão socioeconômica das

pessoas. Compreendemos que esses elementos não são encontrados

dissociados, já que os mesmos se entrelaçam e se complementam no

processo de produção territorial.

Para Haesbaert (2002):

65

Esses três elementos não são naturalmente excludentes, mas integrados num mesmo conjunto de relações sócio espaciais, ou seja, compõem efetivamente uma territorialidade ou uma espacialidade complexa, somente apreendida através da justaposição dessas três noções ou da construção de conceitos “híbridos” como o território rede (p. 38)

A lógica política vislumbrada nas ações do Estado, a partir de

políticas públicas criadas para os assentamentos rurais de reforma agrária, a

luta dos trabalhadores assentados por melhores condições de vida no campo,

a expansão do modo de produção capitalista, a expropriação de milhares de

trabalhadores rurais, induzem a criação de movimentos contrários a imposição

do modelo de desenvolvimento hegemônico do capitalismo. Essas relações

intensificam a luta pró e contra o processo de exclusão socioeconômica,

refletindo com serenidade a criação ou recriação do território camponês e do

território capitalista, constituídos hibridamente.

Os camponeses inseridos no território do assentamento de

Imbiras vivem, ao mesmo tempo, os processos territoriais e o produto territorial

por intermédio de suas atividades diárias. Quer se trate de um sistema de

relações de existência e/ou produtivas, todas são relações de poder, pois

instauram atos de dominação e subordinação, seja de forma tácita ou explícita,

visto que há interações entre os atores em suas relações cotidianas.

O poder é inevitável, afinal, se há camponeses que

desempenham determinadas atividades e/ou funções, compreende-se,

eventualmente, que haja outros camponeses empenhados em direcionar

devidamente tais atividades como, por exemplo, os trabalhadores

(administradores) que estão presentes nos campos para dividirem as tarefas

entre os trabalhadores (familiares e assalariados) que estão inseridos neste

processo produtivo. É o que ocorre com o trabalho historicamente, ou melhor,

com a apropriação do trabalho socialmente nos diferentes modos de produção.

O território do assentamento rural de Imbiras está sendo criado

e recriado pelas famílias trabalhadoras rurais e camponesas que lá vivem e

trabalham que inscreve nesse espaço a sua história e que a partir dele também

reivindicam outra organização territorial para o campo. Em última instância são

a constatação viva de que outro território é possível.

66

CAPÍTULO II

O TERRITÓRIO DE LUTA PELA TERRA: FORMAÇÃO E DINÂMICA TERRITORIAL DO MUNICÍPIO DE MASSARANDUBA 2.1 – A formação territorial do município de Massaranduba

De acordo com dados da EMATER (2003) no início do século

XX, por volta de 1910, uma copada e abundante árvore chamada

Massaranduba serviu como ponto de referência para que Antônio Gomes de

Barros, proprietário daquela terra, construísse uma barraca para comercializar

junto aos tropeiros14, comerciantes de burros, cavalos, bebidas, comidas e

outras mercadorias,. Em seguida foi construída uma casa e um mercado por

José Benício de Araújo, também proprietário de terras naquela região. No

entorno dessa árvore originou-se um povoado que rapidamente cresceu dando

origem à cidade de Massaranduba. A gênese de formação de Massaranduba

se assemelha ao acontecido em outras cidades do Agreste, de acordo com

Moreira (1997):

Contribuiu também para a ocupação do Agreste o surgimento de currais e de pontos de pouso para o gado e vaqueiros oriundos da região quando dos longos percursos em direção ao litoral. Algumas cidades agrestinas daí se originaram e tiveram sua dinâmica relacionada às feiras de gado que ali se desenvolveram (p.80)

Foi a partir dessas atividades comerciais que se originou o

município de Massaranduba. Posteriormente, o município se destacou pelas

suas atividades agropecuárias, tais como o cultivo de algodão arbóreo, a

¹Comerciantes/viajantes que se deslocavam do litoral do Estado da Paraíba em direção ao interior, comercializando mercadorias diversas, inclusive animais. A região do Agreste da Borborema funcionava nesse período como um entreposto comercial entre a população dessas regiões. O Agreste da Borborema por estar localizado em posição estratégica entre o Litoral e o Sertão paraibano, servia como local de repouso para os tropeiros.

67

criação de gado bovino e a produção de uma agricultura baseada na policultura

e destinada ao abastecimento das famílias. Segundo Moreira (1997)

A agricultura de subsistência complementada pelo criatório (voltado para o auto-consumo) foi o suporte do processo inicial de organização do espaço agrário agrestino (p.80).

É importante destacar que o surgimento de muitas cidades na

meso-região do Agreste paraibano desencadeou-se a partir das atividades

desenvolvidas no espaço agrário. Porém, as atividades comerciais também

contribuíram para fomentar o surgimento e o desenvolvimento de muitas delas.

Os municípios localizados na região do Agreste da Borborema

caracterizam-se pela forte presença da policultura, responsável pela produção

de alimentos. A estrutura fundiária da região é notadamente marcada pela

presença de um elevado número de pequenas propriedades.

Na tabela 04 (p.68) mostramos a diversificada produção

agrícola destinada ao abastecimento alimentar dos habitantes dos municípios

que fazem parte da microrregião de Campina Grande, na qual está localizado o

município de Massaranduba. É comum a produção do mesmo tipo de cultura

entre estes municípios, com destino à população e mercado local.

Destacamos a análise da produção das culturas temporárias15

devido a importância destas pelo fato de serem renovadas indicando que sua

prática continua sendo efetivamente desenvolvida à cada ano.

As culturas representadas na tabela 04 (p.68) mostram que a

produção agrícola dos municípios que formam a microrregião de Campina

Grande são basicamente as mesmas. Como observamos, a produção agrícola

desenvolvida em Massaranduba está diretamente voltada para o

abastecimento alimentar dos seus habitantes, sendo o excedente

comercializado nas feiras livres da cidade de Campina Grande e do próprio

15São culturas de curta e média duração (via de regra menor que um ano) que necessitam, geralmente, de novo plantio após sua colheita (algodão herbáceo, amendoim, arroz, cebola. feijão, fumo, melancia, melão, milho, soja, trigo etc.). São também consideradas culturas temporárias o abacaxi, a cana-de-açúcar e a mamona, ainda que produzam por vários anos sem necessidade de novo plantio. Fonte: IBGE. Produção agrícola municipal, Rio de Janeiro, v. 23, 1996.

68

município. É sem sombra de dúvida um município voltado para a produção

agropecuária. Na sua sede, não encontramos indústrias e seu comércio é

ainda muito incipiente, destacando-se apenas pequenas lojas de variedades,

mercadinhos de pequeno porte, poucas farmácias, alguns restaurantes e

bares. Sua feira livre é realizada aos domingos, já que no sábado muitos

moradores deste município se deslocam para a cidade de Campina Grande em

busca de sua feira, uma das maiores do Nordeste.

De acordo com o IBGE (1996), a população deste município é

de 11.451 habitantes dos quais 70% residem na zona rural. Os dados mostram

como o espaço agrícola do município é de fundamental importância para a

população que vive tanto no campo quanto na cidade.

O espaço agrário também é marcado por diferentes

territorialidades, que se desenvolvem sob as diferentes formas de ocupação e

exploração das potencialidades espaciais e sociais que norteiam o território

camponês. Tais territorialidades se desenvolvem por intermédio das atividades

produtivas, sejam através do trabalho dos agricultores, pequenos proprietários

de terra, dos foreiros, dos meeiros, dos arrendatários, dos médios e grandes

proprietários e especialmente, em função do interesse da nossa pesquisa, dos

trabalhadores rurais inseridos no assentamento de Imbiras, único

assentamento de Reforma Agrária do município. Não se trata de minimizar a

participação na configuração do espaço agrário do município de outros

trabalhadores rurais e camponeses, senão responder ao nosso objetivo de

pesquisa, o que nos demanda compreendermos o território rural como algo

dinâmico, isto é, em constante processo de transformação, formado por

múltiplas territorialidades, e, ao mesmo tempo, identificar a dinâmica própria de

cada uma delas.

69

Tabela 04- Produção Agrícola Municipal da Microrregião de Campina Grande Tabela 04- Produção Agrícola Municipal da Microrregião de Campina Grande

Municípios

Puxinana

Queimadas

Serra Redonda

Culturas

(t) (mil)

R$ Culturas

(t) (mil)

R$ Culturas

(t) (mil)R$

Algodão Herbáceo (caroço) 3 1 Algodão Herbáceo (caroço) 9 4 Batata-doce 60 11 Amendoim (em casca) 2 1 Batata-doce 80 8 Fava (em grão) 28 16

Batata-doce 180 27 Fava (em grão) 250 197 Feijão (em grão) 100 58 Batata-inglesa 50 15 Feijão (em grão) 260 289 Mandioca 900 45 Fava (em grão) 2 0 Mandioca 60 1 Milho 160 24 Feijão (em grão) 290 200 Milho 390

0 663

Mandioca 4900 392 Tomate 50 18 Milho 150 25

Tomate 500 300 Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal- Culturas Temporárias e Permanentes. (1996)

Organizador: João Tavares Guedes (2007)

Municípios

Campina Grande Fagundes Lagoa Seca Massaranduba

Culturas

(t) (mil)R$

Culturas

(t) (mil)R$

Culturas

(t) (mil)R$

Culturas

(t) (mil)R$

Algodão Herbáceo (caroço)

60 27 Algodão Herbáceo (caroço)

6 2 Algodão Herbáceo (caroço)

1 0 Abacaxi 8

Amendoim (em casca)

7 4 Batata-doce 75 9 Batata-doce 1260 75 Arroz (em casca)

2 0

Batata-doce 60 8 Cana-de-açúcar

65 1 Batata-inglesa 390 78 Batata-doce 750 90

Fava (em grão)

150 45 Fava (em grão) 150 52 Fava (em grão) 10 3 Cana-de-açúcar

340 11

Feijão (em grão)

700 276 Feijão (em grão)

263 99 Feijão (em grão)

450 174 Fava (em grão)

84 37

Mandioca 2400 120 Mandioca 1200

33 Mandioca 8000

240 Feijão (em grão)

462 251

Milho 1500 225 Milho 720 108 Milho 142 18 Mandioca 4240 169 Tomate 840 100 Tomate 300

0 600 Milho 1120 145

70

2.2 – Estrutura fundiária do município de Massaranduba

Sobre a organização fundiária da região do Agreste paraibano, podemos observar na tabela 05 a distribuição da propriedade da terra segundo

o número de imóveis, a área em ha e sua representação percentual no

município de Massaranduba-PB.

Moreira e Targino (1997) apontam para a realidade peculiar da

região, argumentando que:

É importante ressaltar que entre as quatro meso-regiões do Estado, é no Agreste onde a pequena produção possui maior importância relativa tanto econômica como social. Com efeito, é nessa região onde se encontram os mais baixos índices de concentração fundiária do Estado. (p. 97)

Tabela 05 – Estrutura fundiária do município de Massaranduba-PB

Extratos ha. Imóveis Área ha. % 0 a menos de 10 2000 5.833,33 27,2 10 a menos de 20 122 1.864 8,7 20 a menos de 50 52 1.830 8,5 50 a menos de 100 17 959,6 4,5 100 a menos de 200 16 1.630 7,6 200 a menos de 500 13 4.550 21,3 500 a menos de 1000 5 3.350 15,7 Mais de 1000 1 1.301,07 6,1 Total 2.226 21.318,07 100%

Fonte: CDRM/EMATER-MASSARANDUBA-PB (1998) Organizador: João Tavares Guedes (2007)

Conforme os dados da tabela 05 podemos verificar a

existência de um grande número de pequenas propriedades no município de

Massaranduba. Quando fazemos uma leitura mais detalhada da realidade

apresentada nesses números verificamos que, 2.191 propriedades têm área

inferior a 100 ha. Correspondendo a 10.486,39 ha o que representa apenas

48,3 % das terras desse município. Enquanto apenas 35 propriedades com

área superior a 200 ha contam com 10.731,07 ha correspondendo a 50,7% das

terras de Massaranduba. Esta relação mostra como o município, apesar do

71

grande número de pequenas propriedades, é marcado pela concentração de

terra. Observe-se que as pequenas propriedades são numericamente

superiores as médias e grandes propriedades, mas quando comparamos sua

área, são as médias e grandes propriedades que possuem as maiores áreas

de terra nesse município. Consideramos nesse estudo como pequenas

propriedades, aquelas propriedades cujas áreas oscilam de 0 a 100 ha e como

médias e grandes propriedades aquelas que apresentam áreas maior que 100

ha16.

Mesmo estando localizado no Agreste paraibano, onde a

concentração fundiária apresenta-se, de acordo com Moreira e Targino (1997),

como uma das menores entre as mesorregiões paraibanas, Massaranduba se

destaca na região por apresentar dados que revelam uma desigual distribuição

de suas terras. Isto pode ser vislumbrado nos dados referentes às pequenas

propriedades existentes no município demonstrados no gráfico 01.

Gráfico 01: Número e tamanho da pequena propriedade em Massaranduba- PB

Fonte: CDRM/EMATER-MASSARANDUBA-PB (1998) Organizador: João Tavares Guedes (2007)

O gráfico 01 nos ajuda a perceber a concentração fundiária

existente no município. Os imóveis com área de 0 a 10 ha somam 2000,

correspondendo a 5.833,33 ha que representam apenas 27,20% da área total. 3 Nesse estudo entendemos as pequenas propriedades como os imóveis que contam com área inferior a 100 ha já que nosso aporte teórico baseia-se nos estudos de Oliveira (1998) que adotam esse critério para o Brasil, certos de que as diferenças regionais relacionadas à estrutura fundiária brasileira encontra-se bastante diversificada.

72

Já os imóveis cuja área varia de 11 a 20 há, possuem 1.864 ha da área total

que equivalem a 8,70% das terras desse município. 52 imóveis de 21 a 50 ha

detêm uma área total de 1.830 ha. responsável por 8,50% da pequena

propriedade no município, enquanto que 17 imóveis de 51 a 100 ha com área

de 959,6 há, contam com apenas 4,50% da área reservada as pequenas

propriedades. Os 2.191 imóveis com menos de 100 ha somam uma área de

10.486,39 ha atingindo apenas 48,3% da área total do município.

Cabe ainda verificarmos a oferta de terras entre as médias e as

grandes propriedades nesse município (ver gráfico 02). As propriedades com

tamanho entre 100 a 200 ha são 16, correspondendo a 1.630 ha e 7,60% das

terras do município. 4.550 ha correspondem a 13 propriedades com área de

200 a 500 ha que possuem juntas 21,3% dessas terras.

As terras de 500 a 1000 ha são 5, correspondendo a 3.350 ha

o que representa 15,7% das terras. Tão só uma propriedade com 1.301,07 ha

de área representa 6,1% das térreas de Massaranduba. Nota-se que a

concentrada estrutura fundiária existente no município de Massaranduba é um

impedimento para o desenvolvimento da agricultura camponesa, já que a

indisponibilidade de terras continua expropriando e expulsando do campo os

trabalhadores camponeses. Gráfico 02: Número e tamanho das médias e grandes propriedades em

Massaranduba-PB

Fonte: CDRM/EMATER-MASSARANDUBA-PB (1998) Organizador: João Tavares Guedes (2007)

73

De acordo com os dados relacionados nos gráficos 01 e 02,

percebemos que o município de Massaranduba possui uma estrutura fundiária

que foge a realidade da região do agreste paraibano, visto que nessa região a

concentração fundiária tem se apresenta pouco desigual, se comparada com a

região Sertaneja ou com a Zona da Mata, que contam com uma forte

concentração fundiária.

A porção sul do município é notadamente marcada pela

presença de latifúndios, nos quais são desenvolvidas atividades que se voltam

a produção agropecuária, principalmente de gado bovino, e o cultivo nas áreas

de maior declividade e baixa fertilidade do solo, de uma agricultura voltada para

a subsistência da população que vive nessa região, ver mapa (p. 75). Na

porção norte desse município não há latifúndio. Esta região é notadamente

marcada pelas pequenas propriedades, entre as quais se destacam aquelas

que configuram o assentamento rural de Reforma agrária de Imbiras.

2.3 – O Assentamento Rural de Imbiras

O assentamento de Imbiras está coordenado pelo INCRA

desde a sua criação em 1996. Ele é resultado da luta das famílias de posseiros

que habitavam e trabalhavam naquelas terras à várias gerações. A

necessidade de construção de um território no qual as relações socais,

políticas, econômicas se desenvolvessem de forma mais democrática,

eliminando a carga de exploração acometida aos camponeses traduzindo-se

em motivos suficientes para lutar pela conquista de uma nova organização

espacial em Massaranduba.

Analisando este processo concordamos com Fabrini (2003)

quando coloca:

O território se constitui enquanto tal não porque é construído pelo homem apenas, mas porque possui um conteúdo político que passa pelas manifestações de poder sobre o espaço, sintetizando o conflito de classe existente na sociedade. Portanto, são impactos territoriais porque as transformações no espaço com as lutas e conquista de terras (assentamento) implicam alterações na relação de poder conferindo ao território do assentamento um conteúdo essencialmente político (p. 230).

74

O assentamento de Imbiras está localizado entre os municípios

de Alagoa Grande, Matinhas e Massaranduba. Ao nosso estudo coube analisar

as comunidades localizadas no município de Massaranduba, localizado na

mesorregião do Agreste paraibano e na microrregião de Campina Grande

como vemos no Mapa 01 (p.76).

Historicamente, cada modo de produção suscitou diferentes

formas de produção e apropriação do espaço, isto é, configuraram-se

diferentes arranjos territoriais. Corrêa (1995) discute, além da organização

espacial capitalista, as singularidades dos modelos espaciais organizados

pelas sociedades feudais e coloniais. Verificamos que cada modo de produção

efetiva especificidades espaciais, segundo as determinações, necessidades e

interesses das classes dominantes de cada período da história. Fato é que o

modo capitalista de produção assume um arranjo espacial e territorial

característico, particular, já que aglutina e articula processos político-jurídicos,

econômicos e um aspecto cultural (subjetivo) em seu conteúdo estrutural.

Nesse arranjo territorial rural capitalista, fundamentado na

propriedade privada da terra, insere-se o assentamento de Imbiras. Um

território onde se recriam formas de produção e reprodução que fogem da

lógica produtiva capitalista, reafirmando a existência de outra lógica rural, a

camponesa. Neste novo território as relações de poder que se

desencadeavam entre os posseiros e os proprietários das terras se

transformam, já que são retirados de cena os proprietários de terra ou

latifundiários, assim como desaparece a figura dos posseiros, transformados

agora em assentados. As relações que permeiam a nova configuração

territorial do assentamento de Imbiras passam a se desenvolver a partir da

intervenção de diversas entidades, tais como o INCRA, a EMATER, o Projeto

Lumiar17, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Massaranduba e a

Articulação do Semi-Árido Brasileiro (ASA).

O processo de construção do território é, pois,

simultaneamente, um movimento de construção-destruição, manutenção-

17 Criado entre 1995/96, tinha como objetivo geral viabilizar os assentamentos a partir da prestação de assistência técnica aos assentados, esse projeto foi extinto dois anos depois de sua criação; o mesmo era subordinado ao INCRA.

75

transformação. É em síntese, a unidade dialética, portanto, o movimento

contraditório da produção da

espacialidade de uma sociedade. Sobre esta dinâmica na construção territorial

dos diferentes lugares, Souza (2001) coloca que:

Territórios existem e são construídos (e desconstruídos) nas mais diversas escalas, das mais acanhadas à internacional (...); territórios são construídos e (desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes: séculos, décadas, anos, meses ou dias; territórios podem ter um caráter permanente, mas também pode ter uma existência periódica, cíclica (p. 81).

Logo, a produção territorial do assentamento de Imbiras, a sua

dinâmica, enquanto conjunto de processos contraditórios e permeados de

relações de poder que se materializam no espaço, encontra-se inserida no bojo

de relações territoriais que superam a escala do próprio assentamento. A sua

dinâmica é parte de uma lógica de desenvolvimento desigual que subordina

este novo território de produção camponesa aos seus interesses de

valorização, produção e reprodução.

De acordo com Oliveira (2002), são as relações sociais de

produção dos camponeses e o processo contínuo e contraditório de

desenvolvimento das forças produtivas que dão a configuração histórica

específica ao território. Sendo o território o local de contínua luta da sociedade

pela socialização igualmente contínua.

A produção territorial do assentamento de Imbiras desenvolve-

se a partir de análise que leva em consideração o processo conflituoso de luta

entre os posseiros e os proprietários pela posse da terra, a forma como as

famílias assentadas encontram-se inseridas dentro do processo de

modernização do capitalismo agrário, da atuação dos órgãos governamentais e

não-governamentais.

76

Mapa 01. Mapa de localização do Município de Massaranduba e do Assentamento de Imbiras

No que se refere à disponibilidade dos recursos creditícios,

técnicos e do nível de organização dos produtores rurais, Garcia (2003) afrima

o seguinte:

A conquista da terra e a criação dos assentamentos têm, evidentemente, muitos significados positivos para os agricultores. Tem-se a demonstração prática de que a luta fazia sentido, que suas causas eram justas, que se trilhou o bom caminho, no que tange ao processo de organização e luta. Assegura-se a permanência na terra, conquista-se o direito de viver em paz, abrem-se novas perspectivas para o desenvolvimento das condições de produção e das condições de vida (p.05)

Martins (1989) também destaca que a posse da terra e a

transformação dos camponeses em pequenos proprietários, se configuram

como o primeiro passo para que os mesmos assumam seu lugar de classe no

interior da sociedade, pois a posse da terra por si só não lhes garante essa

condição. Martins (1989) coloca que:

Não tem sentido para quem acredita que a libertação dos pobres e marginalizados começa e acaba na sua transformação em proprietários, através de uma reforma

77

agrária que privilegie os resultados econômicos da vida de cada um. Como se a tarefa da história e da liberdade fosse tarefa de um escritório imobiliário e não tarefa política. O acesso a terra por parte dos pobres e marginalizados é instrumento de libertação apenas na medida em que questiona e rompe com o monopólio da propriedade por parte da burguesia latifundista, que tem na renda da terra a sustentação da sua dominação política iníqua e antidemocrata, fonte do inacreditável atraso deste “país do futuro”, que acumula riquezas e, em escala maior, acumula miséria de toda ordem (p. 14).

O assentamento Imbiras criado, em 1996, originou-se das

reivindicações dos posseiros que habitavam e trabalhavam nessa área há

várias gerações. O estudo realizado por Garcia (2003) mostra como mais de

50% dos moradores deste assentamento estavam nos imóveis há pelo menos

três gerações. E que, dentre os poucos que neles não haviam nascido, a

maioria lá estava pelo menos a 10 anos.

A criação do assentamento de Imbiras se deu pela resistência

dos posseiros que lutaram bravamente para continuarem nas suas terras. Eles

não lutaram por uma terra qualquer, lutaram por sua terra, com a qual

apresentam forte identidade. Os posseiros tinham construído laços de

identidade territorial muito estreitos. Diversos autores destacam como a

propriedade fundiária apresenta-se sob aspectos distintos para o trabalhador

camponês e para o proprietário latifundiário capitalista. Enquanto para o

primeiro esta se configura como um instrumento de trabalho e reprodução da

sua família, para o segundo a propriedade fundiária não passa de um

instrumento de especulação imobiliária e de exploração da mão-de-obra do

pequeno trabalhador camponês. Nesse sentido, o camponês têm uma relação

de identidade com a terra, enquanto que o capitalista latifundiário vislumbra a

terra como uma mercadoria capaz de lhe proporcionar elevados lucros.

De acordo com Woortmann (1995):

A terra é parte de uma ordem moral; mais que objeto de trabalho – o que ela certamente é – ela é condição de realização do sujeito trabalhador; mas do que propriedade mercantil – não obstante seu valor de mercado – ela é patrimônio de um tronco ou de um sítio, isto é, de uma “linhagem”. Sob ambos os pontos de vista, ela expressa o valor: família e hierarquia (p.311).

78

Segundo esta autora, o posseiro ou camponês identifica-se

com sua terra por meio do movimento de luta e conquista, o tipo de relevo, a

vegetação, a qualidade do solo e os recursos hídricos disponíveis. Em Imbiras,

o fato das famílias de camponeses residirem e retirarem seu sustento dessas

terras através da exploração da pequena produção camponesa, tornou-se um

dos pilares da luta e da resistência para que os mesmos permanecessem na

propriedade.

As relações de proximidade como o compadrio, a vizinhança, o

parentesco por casamento, a proximidade religiosa e cultural, também

contribuíram para fomentar a luta pela manutenção da posse da terra no

assentamento. Concordamos com Woortmann (1995), quando este afirma que

“o compadrio se articula, pois, com os padrões de herança, e contribui,

juntamente com as práticas matrimoniais, para reduzir a fragmentação do sítio

e possíveis tensões dentro do sítio”.

Além disso, as relações de proximidade existentes entre os

posseiros de Imbiras foram de fundamental importância, junto com outros

fatores, parase configurarem como elementos de resistência frente ao processo

de expropriação de suas parcelas por intervenção dos proprietários das terras.

Através dos laços de proximidade que atrelavam esses trabalhadores rurais, foi

possível resistir ao poder dos latifundiários que desejavam expulsá-los de suas

terras. Uma vez expropriados, muitos posseiros tenderiam a engrossar o

contingente migratório que se desloca todos os anos do Nordeste para a região

Sudeste, o que afastaria, de maneira dolorosa, muitos camponeses de seus

familiares. O medo da separação foi mais um motivo de relevância para aguçar

as investidas desses trabalhadores camponeses na luta pela permanência na

terra.

O depoimento de um trabalhador rural sobre o processo de

migração, inerente a expropriação da terra deixa claro sua necessidade de lutar

para continuar na mesma: A gente não sabe fazer outra coisa só trabalhar na roça, o jeito foi ficar e lutar para não perder nosso terra, se a gente perdesse a terra teríamos que ir embora para outro lugar, São Paulo, Rio de Janeiro, quem sabe. Assim, com medo de perder a terra e ter que ir embora, a luta ficou mais forte, todos

79

teríamos que lutar, eram todos unidos contra o proprietário e às vezes contra o próprio INCRA. (Trabalhador rural, liderança comunitária durante o conflito pela posse da terra em Imbiras, Massaranduba-PB)

O compadrio, vizinhança e parentesco, não garantem a

organização da luta. Em relação à organização espacial dos assentamentos

rurais e a seu impacto sobre a sociabilidade camponesa, Fabrini (2003) afirma

que:

A forma como os lotes de terras estão demarcados nos assentamentos contribui para a dispersão das famílias, conseqüentemente, para o seu isolamento, ou seja, a organização espacial implica a construção de determinadas relações entre as famílias assentadas. O fato de cada família se encontrar no seu lote de terra nos assentamentos confere ao território um determinado conteúdo. Essa forma de organização espacial foi entendida como uma contribuição para o isolamento das famílias e, conseqüentemente, uma dificuldade para expressar resistência contra o modelo de sociedade dos dominantes (capitalistas). É um entendimento de que esta organização espacial dificulta as lutas nos assentamentos (p. 222)

Fabrini (2003) acredita, portanto, que:

Aproximação dos lotes e relações de vizinhança podem contribuir para a realização de atividades coletivas e comunitárias. A eliminação do distanciamento e isolamento das famílias é uma condição para a construção das atividades comunitárias e coletivas. Nesse sentido, a formação de núcleos de produção e grupos de assentados permite a aproximação da unidade entre as famílias assentadas, condição necessária para a resistência (p.223)

Vale salientar, no entanto, que a proximidade física, as

ligações afetivas, só são capazes de congregar uma determinada população

em torno de um objetivo comum se todos os envolvidos compartilharem da

mesma idéia, isto é, é necessário, para tanto, que estejam envolvidos, nesse

contexto, outros aspectos como a condição política, econômica, ideológica e

sobretudo social desses indivíduos.

O próprio Fabrini (2003) deixa essa condição bastante clara ao

afirmar que:

80

Mas, a organização espacial em si não garante o desenvolvimento de ações coletivas, pois as afinidades políticas construída na trajetória de luta pela terra contribuem para a aproximação de pessoas em torno de ideais comuns (p.224).

No momento em que se desencadeia o conflito entre posseiros

e latifundiários, pela disputa das terras que hoje formam o assentamento de

Imbiras, muitas das condições supracitadas faziam parte da rotina dos

posseiros. Entre elas podemos destacar inimigo em comum: o latifundiário, a

ameaça de expropriação de todos os posseiros, um objetivo claro de

permanecer na terra e as difíceis condições sociais vivenciada pela maioria dos

camponeses. Outra condição importante para fomentar a luta e resistência dos

posseiros foi o apoio que estes receberam de algumas entidades. Observemos

a seguir como se deu a participação destas entidades durante o conflito pela

posse da terra em Imbiras.

2.4 – As entidades de apoio à luta dos posseiros em Imbiras As primeiras manifestações de organização dos posseiros de

Imbiras foram as assembléias que se realizavam sempre que havia

necessidade de um posicionamento coletivo dos agricultores frente a algum

fato novo, e para apresentar e discutir as dificuldades de diversas situações de

impasse. As assembléias eram ocasiões importantes, não apenas pelo fato de

se colocar em discussão as questões referentes aos litígios decorrentes da

disputa pela posse das terras, mas por serem momentos democraticamente

privilegiados, já que participavam quase todos os membros envolvidos no

conflito. As lideranças aproveitavam estes encontros para conscientizar os

posseiros de sua importância na participação efetiva de luta e resistência pela

posse e manutenção de suas terras, ou seja, as assembléias eram os

momentos de impulso para não “baixar os braços” (Garcia, p.5).

Outra forma de organização mais elaborada, desencadeada no

momento das disputas, foi à criação do Comitê do Apoio. Esse novo

instrumento passou a privilegiar as discussões mais polêmicas, permitindo

81

assim um maior aprofundamento das mesmas, pois contava com menor

número de participantes. Segundo Garcia (2003), participavam do Comitê de

Apoio todos os assessores e uma representação dos trabalhadores, entre eles:

o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Nova; o

presidente do STR de Massaranduba; os representantes da CPT; os

advogados de uma das duas entidades que se encarregariam da assistência

jurídica aos trabalhadores; quatorze trabalhadores eleitos pelos demais para

representar cada uma das sete áreas nas quais dividiram-se as propriedades18.

Ainda fazia parte do comitê o “representante” da universidade19.

De acordo com Garcia (2003),

A heterogênea composição do Comitê de Apoio faz com que sua estrutura, e seu funcionamento, não tenham a marca de nenhuma das entidades que o compõem. Não se seguiu um modelo, nem tampouco se tinha uma concepção prévia de qual deveria ser a dinâmica e o processo organizacional que deveria ser estruturado para que houvesse uma competente participação no espaço de confronto e de negociação (p. 6).

Foram poucas as entidades que se destacaram no processo de

resistência e manutenção dos assentados de Imbiras. De acordo com uma das

suas lideranças, hoje assentado, o próprio STR de Massaranduba que deveria

fomentar as aspirações dos posseiros, acabou ficando do lado dos

proprietários, apesar de muitos posseiros estarem filiados ao mesmo e

esperando certamente o seu apoio. Segundo o nosso entrevistado, trabalhador

rural assentado,este fato desencadeou uma frustração unânime em todos os

posseiros. Porém, cabe ressaltar que, eleito um novo presidente para dirigir o

STR de Massaranduba, este dispensou novamente total apoio à luta dos

trabalhadores camponeses de Imbiras.

Outras entidades como, por exemplo, a Igreja Católica através

da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o STR de Alagoa Nova e a Universidade

18 A fragmentação da propriedade em 7 áreas foi uma solução encontrada por seu proprietário para que o INCRA não a considerasse com tamanho suficiente para desapropriação com fins de Reforma Agrária. Os esforços dos posseiros e das entidades que lhes davam apoio fizeram o órgão estatal perceber que essa divisão não passava de uma estratégia dos proprietários para evitar a desapropriação. Diante desse fato, o INCRA resolveu pela desapropriação da terra. 19 Representava a Universidade Federal da Paraíba durante o conflito pela posse da terra em Imbiras, o professor Fernando Oliveira Garcia.

82

Federal da Paraíba (UFPB), através do Departamento de Economia, prestaram

relevante contribuição em todo o processo de luta travado durante anos pela

posse das terras do assentamento.

A CPT desempenhou um importante papel no que se refere à

organização dos posseiros na luta pela desapropriação da propriedade e o

assentamento das famílias que residiam nela. A CPT, em parceria com os

posseiros, não permitiu que os proprietários construíssem novas cercas e,

quando isso ocorria, os posseiros removiam as mesmas, não permitindo uma

nova demarcação de suas terras. Para eles as terras já estavam divididas com

justiça.

Entre as reivindicações principais dos posseiros destaca-se o

respeito aos limites de suas parcelas, o que se constitui em um ponto de

conflito entre os camponeses de Imbiras e os representantes do INCRA.

O INCRA objetivava uma divisão homogênea da propriedade

entre as famílias assentadas. Esse fato gerou o descontentamento de inúmeras

famílias que alegavam ser mais justa uma divisão que levasse em

consideração as peculiaridades de cada família. No assentamento, haviam

famílias que possuíam benfeitorias muito superiores as de seus vizinhos, pois

exploravam com maior desenvoltura as potencialidades de suas terras.

Durante nossa pesquisa de campo foram recolhidos diversos

depoimentos que apontaram para o caráter conflituoso das regras do INCRA.

Em conversa com os agricultores um deles afirmou que:

As regras do INCRA chocam-se com os princípios adotados por nós agricultores. As relações com o INCRA são muito mais difíceis do que aquelas que a gente mantinha com o proprietário. Agora existem muito mais regras porque na hora de fazer a divisão da terra, o INCRA trata todos os agricultores do mesmo jeito. Não leva em conta sua história de vida. Alguém que possui um sítio maior - coberto de benfeitorias –, não acha justo perder parte do mesmo para um vizinho que nunca se esforçou para produzir mais. (Trabalhador rural assentado em Imbiras, Massaranduba-PB)

O deslocamento de pessoas de outras regiões do município

para fortalecer o movimento de resistência dos posseiros, foi uma iniciativa da

Comissão Pastoral da Terra, visando aumentar o contingente no local do

83

conflito, assim como sensibilizar a sociedade para o problema vivenciado por

aquelas famílias. Esses agricultores deslocaram-se do Sítio Tigre e do Sítio

Jacu, ambos situados próximos a área de assentamento. Porém, de acordo

com informações recolhidas junto aos assentados de Imbiras, a população

urbana do município de Massaranduba, apesar de sua forte ligação com o meio

rural, não se manifestou, em nenhum momento favorável, às aspirações dos

posseiros.

A participação da CPT20 limitou-se ao processo de organização

dos agricultores camponeses de Imbiras, no momento em que esses se

preparavam para resistir às investidas dos latifundiários frente ao processo de

desapropriação dos seus imóveis.

Garcia (2003) afirma que:

A freira da CPT que residia na cidade de Massaranduba – e que teve marcante atuação na organização dos trabalhadores – é transferida para outra localidade, implicando um distanciamento da CPT do assentamento. Acrescenta-se que, normalmente, a CPT não tem tido capacidade de proporcionar o mesmo nível de acompanhamento aos assentamentos que ajuda a conquistar, tanto pela deficiência de quadros quanto por não dispor de pessoal especializado para o trato das questões que os assentamentos colocam. Utilizando-se terminologia a gosto dos membros da própria CPT, é possível sintetizar dizendo que a CPT tem sido mais competente na luta pela terra do que na luta na terra (p.16).

A CPT destacou-se na fase de organização da luta, mostrando

a sua forte preocupação na conquista da terra por parte dos agricultores

camponeses. Esse fato foi de suma importância, pois só com a posse e,

conseqüentemente o acesso a terra, os trabalhadores rurais brasileiros

poderam de fato alcançar sua inserção nessa sociedade de maneira menos

penalizada.

Porém, só o acesso à propriedade não garante, de modo

algum, o sucesso dos pequenos produtores rurais do campo brasileiro,

especialmente os que se encontram nos assentamentos de reforma agrária. 20Após uma reestruturação na CPT, que coincidiu com a posse da terra e o fim dos conflitos em função da mesma, houve a transferência da freira desta entidade para outra região. Vale salientar que a Igreja Católica não dispõe de um quadro numeroso de membros suficiente para o atendimento em todas as áreas em que se estabelecem os conflitos pela pose da terra, o que provoca uma sazonalidade entro seus membros.

84

Grande parte destas famílias não dispõe de recursos financeiros e tecnológicos

suficientes para desenvolver a sua produção, garantindo, assim, uma melhor

qualidade de vida aos seus dependentes. Os camponeses, principalmente os

assentados, necessitam de apoio técnico e financeiro das entidades

governamentais. O acesso ao crédito e aos insumos, necessário aos

agricultores camponeses e familiares, é uma obrigação do Estado, sendo

indispensável para o sucesso dos trabalhadores rurais. Os assentados de

reforma agrária acabam sendo levados pela necessidade do ativar e

“modernizar” suas atividades produtivas, subjugados as instituições financeiras

públicas e privadas, isto é, tornam-se altamente dependentes do financiamento

externo das suas parcelas. Inclusive, sua pequena propriedade é, muitas

vezes, colocada como garantia de pagamento da dívida. Observamos no

campo que, para não perder seus imóveis, muitos trabalhadores e camponeses

aumentam a intensidade de exploração do trabalho de sua família, condição

essa necessária para honrar seu compromisso com as instituições creditícias.

Concordamos com Amin e Vergopoulos (1986), quando

afirmam que:

A dívida camponesa, que freqüentemente ocorre sob a forma de dívida hipotecária, tem como única função assegurar o adiantamento contínuo de uma parte do rendimento agrícola, em proveito do capital financeiro, mas também estimular o esforço da família camponesa. A dívida do camponês desenvolve-se mais rapidamente que o investimento agrícola, o que faz com que uma parte crescente do investimento seja financiado pela dívida camponesa (sobretudo de forma hipotecária). Assim, a dívida camponesa absorve não apenas uma parte crescente do capital agrícola – tanto do capital de exploração como do capital fundiário – mas também uma fração crescente do valor de rendimento do trabalho (p.119).

Assim, o acesso as linhas de crédito por parte dos

trabalhadores camponeses, tem se constituído no meio rural brasileiro como

“um mal necessário”, pois, se por um lado o crédito subjuga os trabalhadores

ao Estado e principalmente ao modelo de desenvolvimento do capitalismo

agrário, ele é, por outro, vislumbrado pelos agricultores como imprescindível

para o desenvolvimento de suas atividades produtivas.

Amin e Vergopoulos, (1977), relatam que:

85

É evidente que a dívida camponesa constitui mecanismo de extração de uma fração crescente do valor do produto agrícola. Embora o crédito seja um procedimento de transferência de valores, não deixa de constituir um meio que permite ao pequeno camponês aumentar as bases de sua exploração. Se o crédito “suga” o trabalho do camponês, este, por sua vez, só sobrevive graças a um recurso contínuo ao crédito (p.120)

Outra entidade que colaborou significativamente para a

desapropriação do latifúndio que deu origem a Imbiras, foi o STR de Alagoa

Nova, já que parte das terras localizavam-se dentro desse município e muitos

dos membros associados a esse sindicato eram também posseiros que

estavam em luta pela posse da terra. Algumas viagens realizadas pelos

representantes dos posseiros ao INCRA foram financiadas com recursos do

STR de Alagoa Nova e dos próprios assentados.

Outra instituição que participou do movimento de luta desses

trabalhadores foi a Universidade Federal da Paraíba, desempenhando um

relevante papel na luta e aspirações dos posseiros de Imbiras. Através do

Departamento de Economia realizou-se o levantamento das benfeitorias

produzidas pelos posseiros durante o longo período em que estes

desempenharam suas atividades na propriedade. Os dados revelaram que

esses benefícios superavam o valor econômico, isto é, o preço da terra no

mercado. Esse fato foi de relevância para que o INCRA decretasse a

desapropriação da área e os proprietários aceitassem vender a terra.

O assentamento de Imbiras conta atualmente com a

participação de outros órgãos de fomento às reivindicações dos camponeses,

como, por exemplo a EMATER, o STR local, a ASA, a CPT, o INCRA e a

Associação Comunitária dos Assentados de Imbiras. Porém, segundo os

depoimentos dos assentados, estas instituições pouco tem contribuído para o

desenvolvimento de Imbiras.

De acordo com os camponeses entrevistados, a participação

da EMATER resume-se a esporádicas visitas do seu extensionista. Essas

visitas servem para a elaboração de projetos financiados pelo Banco do

Nordeste, entidade creditícia que tem parceria com a EMATER. No entanto, os

86

valores unitários destes projetos são, na verdade, insuficientes para fomentar

um nível de desenvolvimento satisfatório da atividade produtiva nesse

assentamento.

O INCRA, por exemplo, em 21-09-1997, através do Projeto

LUMIAR, concedeu auxílio creditício aos assentados de Imbiras. Isso se deu

um ano após a criação desse assentamento. Os recursos dessa negociação

foram repassados aos camponeses em três parcelas. A primeira no valor de R$

400, 00, a segunda no mesmo valor e a terceira e última parcela correspondia

aos valores entre R$ 191,20 e 200,00. Somando-se as três parcelas o valor

máximo individual que cada agricultor conseguiu alcançar foi de um mil reais.

Foram beneficiados no total 58 famílias de assentados, sendo

o valor total do empréstimo R$ 58.937,70. Podemos perceber que os recursos

destinados aos assentamentos são realmente limitados, quase insignificantes.

Outro momento em que o representante da EMATER se faz

presente no assentamento é no período da distribuição de sementes para o

plantio, isso quando os camponeses não se deslocam até a sede do município

para buscarem as mesmas. Vale salientar que estas, muitas vezes, não são

utilizadas para o plantio. O STR resume sua atuação no assentamento a

poucas visitas no momento em que os assentados se reúnem em assembléia

ordinária. Esta se realiza a cada mês na sede da associação. O STR atende

aos camponeses na sua sede localizada em Massaranduba. Também,

organiza e desenvolve alguns cursos como a fabricação de detergente caseiro,

corte e costura, preparação de pesticidas com base em produtos naturais e

armazenamento de ração para o rebanho.

A ASA encontra-se inserida nesse processo de maneira

bastante incipiente. Sua atuação limita-se a pequenos projetos de capacitação

rural, a cursos de associativismo e ao financiamento para a construção de

algumas cisternas de placas. Porém, devemos destacar que estes projetos não

tem uma interligação e não são desenvolvidos a longo prazo, sendo, assim, os

mesmos acabam contribuindo timidamente para o desenvolvimento local do

assentamento.

A Associação Comunitária dos Assentados de Imbiras

desempenha um importante papel no que se refere à mediação das

necessidades dos assentados junto às instituições. Também, é nos momentos

87

de maior necessidade e de conflitos entre os assentados que se observa uma

maior procura dos sócios pela associação. A associação não contempla a

totalidade de assentados, apenas um número reduzido faz parte da mesma. O

presidente da associação denuncia o individualismo marcante de muitos dos

camponeses que formam o assentamento, desinteressados em passar a

formar parte de uma entidade de cunho coletivo, como a associação.

Quando um assentado sente-se prejudicado por um dos seus

vizinhos, também assentado, e ambos não conseguem resolver o problema, o

mais comum é a demarcação das parcelas e a invasão de animais em sua

lavoura, ambos recorrem ao presidente da associação, caso este não consiga

resolver o problema, leva-se o mesmo até o INCRA, que procura encontrar

uma solução.

É visível a postura individualista adotada pelos trabalhadores

camponeses do assentamento, o que parece um paradoxo quando nos

remetemos ao processo de organização e luta política que esses agricultores

promoveram durante o processo de resistência para evitar a expropriação de

suas parcelas. Parece que a conquista da terra, a divisão das parcelas, as

linhas de créditos individuais etc. contribuíram de forma geral para alimentar

um sentimento individualista entre os assentados, sufocando a consciência

política que caracterizava coletivamente aqueles trabalhadores camponeses no

passado.

O afastamento de instituições como a CPT, a Universidade, a

extinção do Projeto LUMIAR e outras entidades que fomentavam a organização

coletiva dos assentados, parece constituir fatores determinantes no abandono

das ações e das atividades coletivas e associativistas entre os assentados.

Fabrini (2003), em um estudo realizado sobre assentamentos

rurais no noroeste do estado do Paraná, assinala a mobilização dos sem-terra

contra a privatização da companhia Vale do Rio Doce como um importante

marco para evidenciar a preocupação com os interesses nacionais do MST.

Esse envolvimento dos camponeses com questões que perpassam a luta pela

posse e manutenção da terra, evidencia com clareza a condição ou o papel

político que os camponeses assumem na sociedade, pois, enquanto classe

subjugada pela atuação do monopólio capitalista, os camponeses atuam,

muitas vezes, como classe carregada de ideologia política, que se redefine no

88

tempo e no espaço de acordo com a intervenção do seu algoz, isto é, de

conformidade com a investida do desenvolvimento do capitalismo no campo.

Os camponeses de Imbiras encontram-se inseridos, de modo

peculiar, no processo de formação de sua identidade política e ideológica, pois

os mesmos contam apenas com o apoio efetivo de poucas entidades, as quais

não oferecem as condições que permitam aos assentados uma maior

aproximação com as questões sociais e políticas frente ao processo de

globalização.

De acordo com o que diz Martins (1989):

Esta terminado o tempo da inocência e começando o tempo da política. Os pobres da terra, durante séculos excluídos, marginalizados e dominados, tem caminhado em silêncio e depressa no chão dessa longa noite de humilhação e proclamam, no gesto da luta, da resistência, da ruptura, da desobediência, sua nova condição, seu caminho sem volta, sua presença maltrapilha, mas digna, na cena da história (p.12).

2.5 – As estratégias territoriais dos camponeses x latifundiários na luta pela terra em Imbiras

A organização dos posseiros do assentamento de Imbiras

limitou-se basicamente ao movimento organizacional das famílias para não

perder suas parcelas de terras, pois não existia no assentamento no início do

conflito a participação de nenhuma entidade criada pelos assentados e

oficialmente constituída para representar os mesmos perante a justiça. As

disputas travadas entre posseiros e proprietários de terra ficavam cada vez

mais intensas, pois, de acordo com Garcia (2003):

As questões de fundo, na oposição entre proprietários e trabalhadores, eram dadas pelas motivações de cada uma das partes com relação a terra. Os proprietários pretendiam desfrutar dos imóveis que haviam comprado. Os trabalhadores desejavam continuar sendo trabalhadores agrícolas familiares. A determinação dos trabalhadores - de não permitir que os novos proprietários desenvolvessem qualquer atividade produtiva sobre as terras que eles haviam comprado – colocava um grande desafio para sua organização, e para seus assessores (p. 5).

89

No tocante as disputas pela posse das terras, as dificuldades

às quais se deparavam os agricultores eram notadamente visíveis. Os juízes

tendiam a considerar os argumentos proferidos pelos advogados dos

proprietários da terra com a mesma facilidade que refutavam os argumentos

dos advogados dos trabalhadores. A morosidade da justiça na resolução desse

conflito proporcionou tempo suficiente para que esse imóvel fosse

comercializado e fragmentado diversas vezes. Fato esse que contribuiu para

acirrar ainda mais as disputas entre as partes.

Os proprietários utilizaram-se de diversas estratégias para

expropriar os posseiros de suas terras. Uma dessas estratégias, segundo uma

das lideranças dos posseiros na época do conflito, foi a tentativa de suborno

dos posseiros.

Os proprietários colocaram a disposição o título de parcelas

ocupadas pela família de posseiros em troca da retirada da liderança do

movimento. Observa-se, no entanto, que o alvo dos latifundiários eram sempre

as lideranças, as quais, de certa forma, eram protegidas pelo Comitê de Apoio

que tinha como uma de suas funções o cuidado e a segurança de seus líderes.

Segundo Garcia (2003), o objetivo era claro: reduzir a

intensidade e o número de posseiros lutando pelas suas parcelas.

A liderança em questão, consciente de seus objetivos e da

importância daquelas terras para seus habitantes, recusou imediatamente a

proposta.

Outra investida dos proprietários para expropriar os posseiros

foi a divisão da propriedade entre os herdeiros e venda dessa propriedade em

diversas ocasiões. Segundo informações recolhidas durante a nossa pesquisa

de campo, um dos primeiros donos da propriedade foi o Coronel Eufrásio

Arruda Câmara, que era natural do vizinho estado de Pernambuco, passando a

mesma para Aldo Câmara, depois para João Silva Azevedo e, finalmente, até

sua desapropriação ela esteve sob posse do senhor Nei de Arruda Câmara.

A fragmentação da propriedade foi outra estratégia utilizada

pelos seus proprietários para evitar o processo de desapropriação. Dividiu-se a

propriedade entre 14 pessoas. Na visão dos proprietários isto impossibilitava a

desapropriação do imóvel pelo INCRA, pois essa fragmentação tirava-lhe a

condição de latifúndio. Houve uma forte pressão dos posseiros junto ao INCRA,

90

e este concluiu que a terra deveria ser desapropriada. Percebendo que não

poderiam mais evitar a desapropriação do imóvel, os proprietários

estabeleceram uma nova divisão para a propriedade, passando a mesma ao

domínio de 7 proprietários.

Mesmo assim, como a desapropriação já não era mais possível

de ser evitada, os proprietários procuraram valorizar as terras elevando seu

preço, visto que a propriedade seria vendida ao INCRA. O pagamento das

benfeitorias foi realizado em dinheiro enquanto que a terra foi paga através do

Título da Dívida Agrária (TDA21). Muitas das benfeitorias realizadas pelos

posseiros foram incluídas como propriedade dos donos da fazenda, o que

contribuiu para que os mesmos recebessem uma boa quantia em dinheiro.

O INCRA tinha pleno conhecimento de que as benfeitorias

alegadas pelos proprietários não lhes custara recursos nem suor, pois nas

vistorias realizadas ficou claro que os benefícios realizados naquele imóvel

foram construídos à custa do trabalho das famílias camponesas.

O pagamento indevido das benfeitorias aos proprietários da

terra não deixa nenhuma dúvida de que a ação do Estado, neste caso, voltou-

se eminentemente para beneficiar os latifundiários capitalistas. O processo de

reforma agrária desenvolvido no assentamento de Imbiras se desenvolveu as

custas do Estado. Suas ações servem para capitalizar os capitalistas

proprietários de terra, o que nos leva a concordar com Oliveira (1987) quando

afirma que:

A reforma agrária historicamente aparece no capitalismo como necessidade conjuntural de um capital resolver a questão social advinda da concentração de terras. Os entraves foram sempre aqueles que envolvem a natureza das desapropriações. Quando o Estado bancou as mesmas com o pagamento em dinheiro a vista, ele apenas teve a função de criar as condições para permitir a reconversão do dinheiro retido na terra em dinheiro disponível para os capitalistas-proprietários de terra (p. 81)

21 Criados para viabilizar o pagamento das indenizações, para fins de reforma agrária, emitidos pelo INCRA sob a forma cartular; a gestão e controle foram transferidos para a Secretaria do Tesouro Nacional – STN; os prazos de resgate oscilam entre cinco, dez, e vinte anos.

91

Sendo o motivo do capital a garantia de renda, o capitalismo

traça suas estratégia na operacionalização ou em operações que possam lhe

assegurar certa renda e conseqüentemente sua reprodução. Amin e

Vergopoulos (1986) acreditam que:

Essa cria ao mesmo tempo, na agricultura, a situação surpreendente de um capitalismo sem capitalistas. Os maiores capitalistas são o Estado, os monopólios de comercialização e o capital bancário; a originalidade desse capital “perverso” é que o camponês integra-se ao sistema explorando seu trabalho e os dos membros de sua família. Seu investimento desenfreado não é mais do que o “conduto” principal que assegura sua submissão através da auto-exploração (p. 46).

O Estado, como vislumbra Fabrini (2003), que se constitui

como um sujeito responsável por proferir uma melhor distribuição da riqueza

produzida no meio rural, acaba criando condições favoráveis para que esta

riqueza migre para os cofres dos latifundiários e dos agentes financeiros, visto

que estes recebem a proteção das instituições oficiais para concentrar o maior

número de área que acreditamos deveriam destinar-se a produção agrícola

camponesa.

Em outro momento, quando a dominação dos proprietários

capitalistas e dos capitalistas financeiros não ocorre simplesmente através da

posse das terras e da subordinação dos agricultores camponeses a seus

interesses, esse processo se canaliza por meio da produção e circulação de

mercadorias.

A presença do Estado nos assentamentos de reforma agrária

verifica-se principalmente através das ações de suas instituições. O próximo

capítulo trata do processo de organização social, produtiva e das condições

socioeconômicas dos assentados de Imbiras.

92

CAPÍTULO III

O ASSENTAMENTO RURAL DE REFORMA AGRÁRIA DE IMBIRAS

3.1 – Organização territorial do assentamento

Como relatamos a proposta do INCRA para distribuir as terras

desapropriadas e organizar espacialmente o assentamento de Imbiras foi logo

combatida pelos posseiros. Estes não aceitavam a redução de área nas suas

parcelas, alegando que as mesmas já não comportavam o tamanho suficiente

para absorver a mão-de-obra familiar e satisfazer as suas necessidades mais

básicas. Finalmente, o INCRA aceitou a participação dos posseiros na

distribuição e organização das áreas no assentamento.

As parcelas foram organizadas com base na superfície antes

explorada por cada família de posseiros, o que implicou que cada família

ficasse exatamente com a área que explorava antes da formação do

assentamento. Tal fato explica a disparidade existente em relação ao tamanho

das parcelas dentro do assentamento de Imbiras.

O assentamento possui uma área total de 745, 6636 ha a qual

foi dividida entre as 82 famílias de posseiros que nela viviam e trabalhavam.

Simplificando essa divisão matematicamente, dividindo a área total do

assentamento pelo número de famílias assentadas, temos uma área média de

aproximadamente 9 ha por família/parcela. Porém, em função da irregular

distribuição dessas terras encontramos, em um extremo, parcelas que

apresentam área superior a 3 ha e inferior a 4 ha, e em outro parcelas com

área que excede 12 ha.

Esta desigual distribuição de terras no interior do assentamento

configura-se, segundo os depoimentos dos assentados recolhidos durante a

nossa pesquisa de campo, um impedimento para a produção agropecuária

daqueles assentados com parcelas menores.

O gráfico 03 retrata a disparidade das parcelas segundo o seu tamanho:

93

Gráfico 03 - Número de parcelas segundo área no Assentamento de Imbiras, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares

A forte disparidade do tamanho das parcelas é um fator que

influencia diretamente a diferente produção entre as parcelas. Isso se torna um

fato relevante no processo de desenvolvimento territorial do assentamento,

visto que os assentados com parcelas maiores encontram nos órgãos do

Estado maior facilidade ao acesso às linhas de crédito ou financiamento para o

desenvolvimento produtivo, enquanto que as famílias que desenvolvem suas

atividades produtivas nas menores parcelas do assentamento, mesmo sendo

contempladas com linhas de créditos, não têm acesso aos mesmos valores

que as famílias que possuem parcelas com áreas maiores. Somando-se a isso,

muitas famílias com parcelas pequenas resistem a utilização dessas linhas de

crédito, já que existe entre estas medo de endividar-se e não conseguir saldar

sua dívida, uma vez que a pequena capacidade produtiva destas parcelas é

insuficiente para gerar recursos que possibilitem o pagamento dos

empréstimos dentro do prazo estipulado.

Como relata o presidente da Associação Comunitária dos

Assentados de Imbiras:

94

Na hora de firmar contrato com o banco aqueles assentados que dispõem de pouca terra, ficam de fora de alguns programas porque suas parcelas são muito pequenas e não se enquadram no perfil dos projetos que o banco procura desenvolver no assentamento. Um posseiro que tem uma parcela de 4 ha não “pode” contrair empréstimo igual ao que tem 10 ha. O próprio extencionista da EMATER e os Agentes de Desenvolvimento do BNB, deixam isso muito evidente. (Entrevista realizada pela equipe de trabalho de campo no assentamento de Imbiras em julho de 2007)

Fica claro que, para o presidente da associação comunitária, o

tamanho das parcelas é um fator determinante para o desenvolvimento

territorial de Imbiras. As pequenas dimensões das parcelas de muitos dos

assentamentos de reforma agrária, reduzem a sua capacidade produtiva e

restringem as linhas de crédito para agricultores que cultivam parcelas maiores

ou mais capitalizadas. A disparidade não é apenas intra-assentamento, senão

que, em função das diferentes linhas de crédito do PRONAF estamos diante de

uma nova “modernização excludente” para o campo, configurando uma

desigual geografia da pequena agricultura familiar, já que as políticas públicas

contraditoriamente se diferenciam no interior dos assentamentos de reforma

agrária, visto que as parcelas menores e conseqüentemente com maiores

dificuldades de produção contam com reduzidas linhas de crédito. Tal fato

contribui para a precarização das condições de vida daquelas famílias que

trabalham em pequenas parcelas.

Todavia, Bamat e Ieno Neto (1998) em seus estudos, afirmam

que entre os principias problemas enfrentados pelos camponeses assentados

está a pequena dimensão dos seus lotes, que não propicia um bom

desenvolvimento das culturas e dos animais e obriga os agricultores a

utilizarem exaustivamente suas terras para ampliar a produção. O casamento

dos filhos e o conseqüente agregamento ao lote dos pais é outro sério

problema enfrentado pelos assentamentos de reforma agrária no Brasil.

A pequena dimensão das parcelas acaba por se configurar

como um dos fatores determinantes das precárias condições de vida dos

trabalhadores camponeses desse assentamento, visto que a pequena

propriedade não permite o cultivo de culturas comerciais nem de excedente de

produção, que, se comercializado, poderia vir a melhorar as condições de vida

das famílias trabalhadoras e camponesas.

95

No entanto, muitos assentados em Imbiras não mostraram

interesse em produzir alimentos voltados para além da satisfação das

necessidades básicas de sua família. Como constata o depoimento a seguir:

O meu interesse é plantar na minha parcela tudo que necessito para alimentar minha família sem depender de comprar nada na feira, é uma comida muito mais saldável e não precisamos nos deslocar do assentamento para comprar, o tempo aqui é muito precioso, o problema é o tamanho da parcela que é insuficiente para que eu possa plantar de tudo. (Trabalhador rural do assentamento de Imbiras, Massaranduba-PB)

A produção agrícola desenvolvida no assentamento de Imbiras

é reflexo de sua estrutura fundiária, já que o desenvolvimento da pequena

agricultura camponesa depende, entre outras coisas, do tamanho da área

explorada. O campesinato no Brasil encontra-se subjugado a desenvolver-se

em áreas de pequenas dimensões territoriais, a própria exigüidade da

propriedade camponesa se configura como um impedimento para o seu

completo desenvolvimento e a satisfação dos indivíduos que dela retira o seu

sustento e de seus familiares. Na região Nordeste, a concentração fundiária historicamente

tem se caracterizado como um elemento que sofreu pouca alteração, visto que

a mesma tem se fortalecido ao longo dos anos. A estrutura fundiária do estado

da Paraíba não apresenta grandes divergências com a de outros estados

nordestinos. Podemos afirmar que o latifúndio é a figura predominante nesse

estado. De acordo com Moreira (1997)

Os estabelecimentos com menos de 50 hectares que ocupavam, em 1970, 25,5% da área total, viram cair essa participação para 23,5%, em 1980. Os menores de 20 hectares reduziram em dois pontos percentuais sua participação na área total (de 14% para 12%). Enquanto isso, a área ocupada pelos estabelecimentos maiores de 500 hectares, que equivalia a 33,3% da área agrícola total em 1970, passou a representar 34,5%, em 1980 (p. 179).

96

Diante desses dados observamos que o pequeno proprietário

rural, na Paraíba, é alvo fácil da ação dos grandes proprietários de terra, que

expropriam o camponês mediante compra de suas pequenas propriedades.

O assentamento de Imbiras constitui um território onde a

agricultura camponesa desenvolve elementos para a sua própria reprodução. A

luta destes trabalhadores rurais vislumbradas por ocasião das diversas formas

de organização contra a expropriação, caracteriza-se como ponto fundamental

no processo de resistência para permanecer camponês.

Portanto, é através das organizações, sejam de caráter formal

ou não, que os trabalhadores camponeses conquistam o seu espaço enquanto

sujeitos políticos. Fabrini (2003) esclarece que:

Os camponeses são capazes de realização de ações coletivas. Essas ações coletivas podem ser verificadas nas lutas para entrar na terra e nela permanecer. (...) Pela luta os camponeses se constituem como sujeitos políticos e vão garantindo sua existência no sistema adverso (capitalismo), que insiste em fazê-los desaparecer (p. 20).

São muitos os exemplos de lutas camponesas no Brasil, bem

como em outros países, que evidenciam a construção do lugar que os

camponeses trabalhadores rurais ocupam na sociedade. O território camponês

de Imbiras se constitui como resultado do processo de luta das famílias de

posseiros residentes naquela área a várias gerações.

Segundo este autor, o conflito de classe no campo não estaria

restrito ao conflito existente entre operários agrícolas e burguesia rural, isto é,

os proprietários de terra. Para ele:

Nesse sentido, o nexo da compreensão agrária e do campesinato reside na desigual correspondência entre as relações sociais e as forças produtivas de mercadorias. O desenvolvimento desigual que se incorpora na distribuição do produto social (riqueza produzida) exige a presença da instância política (o Estado, por exemplo) para a reprodução social, colocando as lutas sociais no centro da análise (...). É interessante observar que não é necessariamente o capitalismo que se trai, com a criação e recriação de relações não-capitalistas, mas são os camponeses que traem a lógica do capitalismo por meio de sua luta. Este é o caso da luta nos

97

assentamentos, ou seja, camponeses que tem sua existência garantida pela luta de resistência (p. 30).

Os assentamentos dos trabalhadores rurais sem terra

garantem a existência dos camponeses no campo brasileiro por sua luta de

resistência contra a ordem expropriatória e concentradora do capitalismo, que

concentra terras e acumula recursos financeiros. Se o modelo de produção

capitalista ao se expandir no campo cria formas de produção puramente

capitalistas, os trabalhadores rurais, por sua vez, através de suas lutas, criam

formas de produção não capitalistas, permanecendo como trabalhadores

camponeses, abrindo possibilidades de existência no futuro por meio de lutas e

da resistência. Os camponeses do assentamento de Imbiras, enfrentam sérias

dificuldades, já que os serviços prestados pelo Estado não são suficientes para

garantir-lhes uma boa qualidade de vida.

Analisemos agora os serviços disponíveis para as famílias do

assentamento e seu grau de satisfação.

3.2 – A organização interna do assentamento de Imbiras No que se refere aos serviços, o assentamento de Imbiras não

dispõe de posto de saúde nem de escola. Os serviços de atendimento médico

e educativo, quando disponibilizados pelo poder público municipal, são

oferecidos em comunidades próximas ou na sede do município, o que implica

um longo e dificultoso deslocamento.

O assentamento é recortado por estradas de terra que ligam

todas as parcelas, porém, a falta de conservação das mesmas torna-as

intransitáveis durante certos períodos do ano, especialmente na época das

chuvas. As estradas internas do assentamento encontram-se em péssimo

estado de conservação, penalizando o deslocamento dos assentados.

Durante a nossa pesquisa de campo, pudemos observar o alto

número de usuários de motocicletas no assentamento. O cavalo e/ou o

jumento, que serviam como transporte, foram em grande parte substituídos.

Outra forma freqüente de transporte é o alternativo22. A D-2023 é o modelo de

22 Transporte Alternativo: Meio de transporte utilizado como forma de suprir as deficiências encontradas nos meios de transporte convencionais e como opção de emprego para muitas

98

carro mais comum encontrado nessa atividade e supre a inexistência de um

sistema de transporte regular e convencional que ligue o assentamento com

outros lugares.

O abastecimento de água é realizado por intermédio de

pequenos açudes construídos por iniciativa do INCRA e através de Cisternas

de Placas construídas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de

Massaranduba, em parceria com os proprietários das parcelas do

assentamento, a ASA e o INCRA. Independente da origem, todas as

residências possuem cisternas. Existem residências que contam com três

cisternas, uma construída com recursos do próprio assentado, outra por

iniciativa do STS e da ASA e outra de construção do INCRA. Fato indicativo do

importante papel que elas têm para o abastecimento d’água no assentamento.

O gráfico 04 mostra a ocorrência dos elementos básicos que compõem a infra-

estrutura do assentamento de Imbiras, como, por exemplo, água encanada,

energia elétrica e o tipo das residências disponíveis aos assentados.

Gráfico 04: Número de famílias entrevistadas com acesso à infra-estrutura existente no assentamento de Imbiras, 2007

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007-09-26 Organizador: João Tavares

pessoas. As pessoas que prestam esses serviços não são regularizadas junto aos órgãos responsáveis pelo transporte público. 23 D-20: Modelo de automóvel muito utilizado na realização dos transportes alternativos.

99

Podemos destacar que a infra-estrutura do assentamento é básica,

centrada em investimentos no acesso a energia elétrica e a construção das

vivendas. Tais investimentos foram realizados pelo INCRA, pelo Projeto

Cooperar e por entidades que colaboram minimamente com os anseios dos

assentados, como o STR e a Prefeitura Municipal de Massaranduba.

Através da linha de crédito habitação, disponibilizada pelo INCRA no

primeiro ano de assentamento, algumas das casas do assentamento de

Imbiras foram construídas e outras ainda se encontram em processo de

construção. Este fato é alvo de fortes críticas por parte dos agricultores

assentados, visto que já se passaram mais de 10 anos da criação do

assentamento e só agora as casas estão sendo concluídas, como se constata

no depoimento a seguir:

Só agora as casas estão sendo construídas ou acabadas a sua construção. Elas deveriam ser construídas logo nos primeiros anos de conquista da terra, foi o que disse o INCRA. Eles nunca cumprem com o que falam, tudo é muito difícil para o pequeno. Se fosse para os ricos era muito mais fácil, agente fica aqui esperando por eles que demoram muito para aparecer e fazer alguma coisa que possa ajudar. (Trabalhador rural assentado em Imbiras, Massaranduba-PB)

A linha de crédito habitação estipula um modelo padrão para a

construção das casas no interior do assentamento de Imbiras, tanto em relação

à sua estrutura quanto aos materiais utilizados que devem ser implementados

através dos recursos solicitados. Por isso, em Imbiras encontramos um padrão

de vida mais alto que o presente nas comunidades rurais circunvizinhas, onde

as casas de taipa ainda são uma constate. Em Imbiras as casas dos

assentados são todas de alvenaria ou tijolos, restando apenas resquícios das

antigas casas de taipa. As poucas casas de taipa24 que ainda encontramos no

interior do assentamento são hoje utilizadas como depósito para a produção

e/ou para ferramentas agrícolas.

24 Residências rústicas construídas a partir da utilização de materiais encontrados no próprio assentamento, como, por exemplo, madeira e argila (barro).

100

O acesso às casas de alvenaria e a construção de cisternas de placas

proporcionaram melhores condições de vida às famílias assentadas, como

mostra foto 01.

Foto 01: Vista parcial da antiga casa de taipa que servia de moradia para a família dos posseiros, a cisterna de placa, principal reservatório d’água para a família assentada e a casa de tijolos ou alvenaria, atual residência dos assentados. O alpendre com as telhas novas foi recentemente construído também com financiamento do INCRA. Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007

As 41 residências visitadas durante a nossa pesquisa de

campo possuem energia elétrica, como mostra o gráfico 04. O abastecimento

de água é feito por meio de cisternas de placas que se localizam próximas as

casas para captar e acumular água da chuva através de sua cobertura. Das 41

parcelas visitadas, quatro assentados afirmaram ter água encanada em casa.

Vale salientar que essa água é encanada das cisternas, que no período de

estiagem secam, sendo necessário o deslocamento diário para alguns

pequenos reservatórios no próprio assentamento. A água recolhida é para o

uso doméstico e animal e/ou ainda, o abastecimento dessas famílias pode ser

feito por meio de um carro-pipa 25da prefeitura municipal. Além de ineficiente,

esse abastecimento contribui fortemente para manipular politicamente os

assentados, pois a gritante necessidade de água em função da sua extrema

escassez é utilizada para fins eleitorais pelas forças políticas municipais

através da injustificável troca de água por votos. 25 Caminhão equipado com tanque utilizado para transportar água em período de seca e, assim, abastecer os assentados.

101

Essas condições são um entrave para o desenvolvimento

produtivo das famílias assentadas, que cultivam para autoconsumo. Como

passaremos a observar.

3.3 – A produção agrícola desenvolvida no assentamento de Imbiras

As principais culturas de Imbiras estão diretamente ligadas à

subsistência das famílias assentadas. É comum o cultivo de milho, feijão, fava,

batata-doce, cará, inhame e mandioca, destinados à alimentação humana.

Também, destaca-se a presença de pastagens de capim e palma forrageira

que garantem a alimentação dos animais. No gráfico 05, podemos observar o

peso das diferentes culturas presentes nas parcelas dos assentados

pesquisados:

Gráfico 05: As principais culturas desenvolvidas pelas famílias assentadas pesquisadas, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, Imbiras, julho de 2007 Organizador: João Tavares

102

A produção agropecuária desenvolvida em muitas áreas de

assentamento encontra-se voltada para o abastecimento, principalmente, das

famílias camponesas. A produção agrícola desenvolvida no assentamento de

Imbiras não se distancia desse cenário, já que as 41 famílias de trabalhadores

e trabalhadoras rurais assentadas entrevistadas durante nosso trabalho de

campo, afirmaram cultivar tais culturas para a alimentação da suas famílias. A

macaxeira é cultivada tanto para o consumo familiar quanto para a

comercialização.

Na foto 02 podemos observar a presença desta cultura

associada a outras em uma parcela do assentamento:

Foto 02: Plantação de mandioca/macaxeira no Assentamento de Imbiras. No pano de fundo da imagem podemos observar a presença de outras culturas consorciadas. Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007.

A produção para o abastecimento familiar é a principal atividade dos

assentados, porém, a existência de uma cultura destinada também a

comercialização, como a mandioca, garante a circulação de uma pequena

quantia de dinheiro no interior do assentamento.

Como complemento da agricultura de subsistência desenvolve-se no

assentamento a atividade criatória, cujo significado é recolhido no gráfico 06:

103

Gráfico 06: Principais animais criados pelas famílias assentadas pesquisadas, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, Imbiras, julho de 2007 Organizador: João Tavares

A criação de animais é uma atividade complementar à

produção agrícola. Destaca-se em maior quantidade a criação de aves, como,

por exemplo, galinha e peru, em quantidade considerável no conjunto do

assentamento estão os bovinos, principalmente vacas e bezerros visto que as

linhas de crédito vinculadas aos agricultores pelo BNB ou pelo PRONAF

direcionam a aplicação desses recursos à compra de bovinos e à preparação

de infra-estrutura básica para sua manutenção.

De acordo com o presidente dos assentados de Imbiras o

número de bovinos no assentamento poderia ser ainda maior, dado que:

É comum entre os assentados que pegam empréstimos para comprar uma vaca, por exemplo, quando da visita previamente marcada do extensionista da EMATER ou do agente que representa o banco credor, conseguir esse animal emprestado por algumas horas de um vizinho ou ainda mostrar um animal que deveria comprar, feita a vistoria e aprovado o financiamento, o animal é imediatamente devolvido ao seu legítimo dono, o qual recebe uma pequena quantia em dinheiro por ter emprestado o animal ao vizinho. (Trabalhador rural assentado em Imbiras, Massaranduba-PB)

104

Percebemos que os próprios agricultores aproveitam-se da

falta de conhecimento dos representantes daquelas instituições, por exemplo,

EMATER, INCRA, BNB, para fraudar a compra de animais, geralmente uma

vaca reprodutora. O desvio dos recursos, em muitas ocasiões, impossibilita que

o agricultor salde suas dívidas no prazo estipulado pelo banco, contribuindo de

maneira determinante para o aumento da inadimplência desses assentados

com tais instituições, e, conseqüentemente, vetando sua participação em novos

empréstimos. A compra forjada dos animais, como assinalada no depoimento

colhido junto ao trabalhador rural de Imbiras, possibilita ao agricultor a

liberdade de utilizar esses recursos conforme sua necessidade, já que estes

preferem investir os mesmos por conta própria sem a intervenção dos órgãos

estatais.

Outros animais criados pelos assentados em menor número,

mas de grande importância para a reprodução das famílias camponesas, são:

porcos, cabras, cavalos e burros/jumentos. Constatamos como estes últimos

estão perdendo importância na vida do assentamento, já que a utilização de

motos pelos assentados torna-se cada vez mais freqüente. Os poucos cavalos

e jumentos que restam são utilizados como transporte para mercadorias e

água, no período de estiagem.

A criação desses animais pelos assentados, apesar de

destinar-se ao autoconsumo, funciona também como alternativa para garantir

uma pequena circulação de dinheiro no assentamento quando de sua

comercialização, e que complementa as necessidades dos assentados.

O gado bovino é considerado como uma reserva de valor por

muitos assentados e só é comercializado em caso de extrema necessidade

como, por exemplo, para o pagamento de uma dívida ou o tratamento de saúde

não disponibilizado pelo serviço público. Apesar da relevante importância da

criação de animais para o desenvolvimento do assentamento, alguns

agricultores declararam não criar nenhum tipo de animal, o que nos coloca

diante de uma extrema diversidade de comportamento produtivo entre os

assentados. A criação de animais, principalmente, os de grande e médio porte,

como bovinos, caprinos e ovinos, relaciona-se diretamente com a

disponibilidade de terra e de pastagem para garantir a alimentação do rebanho.

105

Porém, de acordo com o gráfico 07 podemos observar que o

número de assentados que cultivam pastagens é superior aos que não as

cultivam.

Gráfico 07: Percentual da participação dos assentados na produção de pastagens.

Fonte: Trabalho de campo, Imbiras, julho de 2007 Organizador: João Tavares

O número de assentados que afirmaram possuir em suas

parcelas áreas destinadas a pastagens corresponde a quase três quartos dos

entrevistados, o que reitera a importância da atividade criatória para o

desenvolvimento do assentamento. Porém, é interessante apontarmos que, em

muitos casos, as áreas cultivadas com pastagem são produzidas por imposição

das instituições creditícias, como requisito para que os agricultores possam ter

acesso a crédito destinado a compra de animais. Dentre essas pastagens

destacam-se o capim elefante e a palma forrageira.

O tamanho da área que deve ser plantada por cada tipo de

pastagem é também determinação do credor, pois o mesmo consta no projeto,

feito geralmente pelo extensionista da EMATER, saturado de uma linguagem

técnica que vai além das possibilidades do entendimento dos agricultores. Este

fato contribui para aumentar as dificuldades de desenvolvimento dos projetos.

106

Cerca de 29% dos entrevistados não disponibilizam nenhuma área para

pastagens em suas parcelas. São aqueles assentados que se dedicam

exclusivamente à agricultura ou que criam apenas animais de pequeno porte

como galinha ou peru. É pertinente associarmos a não existência de áreas de

pastagens em algumas parcelas do assentamento ao fato das mesmas serem

muito reduzidas em suas dimensões, como também por conseqüência da

escassez de recursos financeiros, já que os camponeses assentados em

pequenas parcelas encontram mais dificuldade em conseguir empréstimos,

sinal da modernização excludente que as próprias políticas públicas de

fortalecimento da agricultura familiar provocam.

Os assentados que não se dedicam a criação de animais de

médio e grande porte, dedicam-se exclusivamente ao plantio de culturas que,

quando apresentam excedente de produção, são comercializadas nas feiras

livres. O Gráfico 08 nos mostra essa disparidade entre as famílias assentadas

pesquisadas:

Gráfico 08 - Percentual da participação na comercialização de produtos

agrícolas das famílias assentadas pesquisadas, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, Imbiras, julho de 2007 Organizador: João Tavares

O comportamento do assentamento de Imbiras, no que se

refere à comercialização de sua produção, caracteriza-se pela reduzida

29%

71%

Assentados quecomercializamprodutos agrícolasAssentados quenão comercializamprodutos agrícolas

107

participação dos assentados na venda de seus produtos para o mercado, pois,

como demonstra o gráfico 08, 71% dos camponeses entrevistados dizem não

comercializar nenhum tipo de produto. Enquanto isso, apenas 29% dos

assentados afirmaram que comercializam apenas o excedente da produção.

Inexiste uma circulação de produtos agrícolas no

assentamento. Dentre os poucos produtos comercializados pelos assentados

temos o milho “verde”, a mandioca, a banana, a manga e a castanha do caju.

Mesmo as principais culturas comercializadas pelos assentados estão

diretamente associadas a sua subsistência. Este tipo de produção caracteriza

os assentamentos localizados no Agreste paraibano.

A produção agrícola necessita, entre outros fatores, de

assistência técnica que proporcione melhor produtividade e oriente os

produtores para desenvolver o cultivo de culturas voltadas para o

aproveitamento das potencialidades de cada região. Tendo em vista a

importância desses recursos, analisemos em seguida a disponibilidade e uso

de assistência técnica pelos assentados de Imbiras.

3.4 – O uso de recursos técnicos no assentamento: A assistência técnica

No que se remete a disponibilidade de assistência técnica no

assentamento, os assentados contam com a presença periódica do

extensionista da EMATER local. Este só disponibiliza assistência às famílias

que contraem empréstimos. Essas famílias são responsáveis pelo pagamento

ao extensionista quando da elaboração dos projetos e durante o período do

seu acompanhamento, o que se configura como mais uma contradição, já que

o extensionista recebe seu salário da entidade estadual a que está vinculado.

Para as famílias que não utilizam esses empréstimos resta o

apoio do STR, da Associação Comunitária dos Assentados de Imbiras e do

INCRA.

Durante a nossa pesquisa em campo, foi possível constatar

que o apoio técnico ao assentamento de Imbiras é muito deficiente. Essa

deficiência é ainda mais forte entre aquelas famílias que não conseguem linhas

de financiamento, o que significa dizer que as políticas voltadas para o

108

desenvolvimento dos assentamentos de reforma agrária são extremamente

excludentes e, ao mesmo tempo, contraditórias.

Na foto 03 podemos observar o reduzido número de

assentados que participam das reuniões com o extensionista da EMATER:

Foto 03: Reunião dos trabalhadores assentados em Imbiras com o extencionista da EMATER do município de Massaranduba-PB Fonte: Trabalho de campo, novembro, 2006

Entendemos que essa contradição se define a partir do

momento em que entidades voltadas para o desenvolvimento do setor agrícola

no campo brasileiro passam a dispensar tratamento diferenciado entre

categorias de trabalhadores rurais, de modo que poucos são contemplados

com incentivos creditícios enquanto que a maioria não dispõe de assistência

técnica ou financeira capaz de viabilizar seu desenvolvimento territorial. O

Estado é mais um instrumento no qual se apóia o modo de produção capitalista

em processo de expansão no campo.

É a ideologia da lógica do crescimento desigual e contraditório

adotado pelo modo de produção capitalista que permeia as ações do Estado no

que se refere à implantação de políticas agrícolas de desenvolvimento para o

campo brasileiro. De acordo com as informações dadas pelos assentados de

Imbiras sobre a assistência técnica utilizada no assentamento, foi possível

entender a escassez desse recurso no interior do assentamento.

O Gráfico 09 mostra quantitativamente a utilização da

assistência técnica entre as famílias:

109

Gráfico 09 - Percentual da utilização de assistência técnica das famílias assentadas pesquisadas, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, Imbiras, julho de 2007 Organizador: João Tavares

De acordo com gráfico 09 os trabalhadores deste

assentamento utilizam minimamente recursos técnicos na produção

desenvolvida em suas parcelas. Quando questionamos esses assentados em

relação ao acompanhamento técnico disponibilizado no assentamento, mais da

metade afirmaram que não tem nenhum tipo de assistência técnica por parte

das entidades; apenas 32% dos assentados entrevistados disseram ser

assistidos regularmente por estas. Esse pequeno número de assentados pelas

entidades coincide com o número de assentados que tem acesso à linhas de

crédito, pois o extensionista da EMATER só visita regularmente as parcelas

daqueles assentados que obtiveram empréstimos para fomentar sua produção,

como já foi destacado.

O presidente da Associação Comunitária dos Assentados de

Imbiras, em entrevista, denunciou a atitude do representante dessa empresa

estatal, quando se coloca em defesa dos demais agricultores, ao afirmar que:

110

É dever do representante da EMATER visitar todos os agricultores do município e não só aqueles que fizeram empréstimos, como acontece aqui no assentamento. Porque é para fazer esse trabalho que ele ganha. (Presidente da Associação e trabalhador rural assentado e em

Imbiras, Massaranduba-PB)

O poder municipal também não disponibiliza recursos

suficientes para proporcionar uma melhoria na assistência técnica no

assentamento. Sua participação se resume ao fornecimento de poucas horas

de arado de terra e a distribuição de sementes, geralmente conseguida junto

ao Estado. Isto pode ser vislumbrado no depoimento de um dos assentados:

O trator sempre chega muito tarde, agente já tem plantado para não perder o período das chuvas, se perder não lucra. As sementes são distribuídas depois da chegada do trator. Não é mais tempo de plantar. Elas também não são de boa qualidade. O jeito é continuar guardando sementes de um ano para outro, senão chega à tempo e não temos o que plantar. Não podemos confiar nessa distribuição de sementes. Muitos anos não são distribuídas. (Trabalhador rural assentado em Imbiras, Massaranduba-PB)

Questionado sobre a importância da utilização de recursos

técnicos para a produção desenvolvida no assentamento, um representante do

poder local coloca:

Ajudaria bastante sim, porque até então nós dispomos de três máquinas pra todo município e o município tem uma extensão enorme. E quando a gente chega em determinadas localidades já tem passado até o período, então realmente há uma carência e pelo menos a gente tenta. (Autoridade da administração municipal, Massaranduba-PB) Houve uma confusão muito grande porque lá houve o seguinte: antes a responsável era uma empresa que dá assistência técnica ao INCRA, depois foi pra EMATER, depois voltou pra empresa novamente e agora retomaram novamente a EMATER, houve um descaso muito grande por parte das assistências até porque estamos distante de João Pessoa. (Autoridade da administração municipal, Massaranduba-PB)

111

O STR de Massaranduba localiza-se na sede do município, o

que implica que qualquer agricultor que necessite de alguma orientação deve

deslocar-se até a cidade, fato que contribui para reduzir a integração entre

agricultores e o STR.

Entendemos que um entrave para o desenvolvimento da

atividade sindical no assentamento é a própria localização da sede do STR de

Massaranduba, em função das dificuldades que os assentados têm que

superar para se deslocar até a cidade, desde as inúmeras atividades que

desenvolvem e não lhes permitem saídas constantes da sua parcela, até o

custo dos deslocamentos. Compreendemos dessa, forma, que a participação

do sindicato na vida dos assentados de Imbiras é esporádica, mesmo sendo o

atual presidente assentado em Imbiras.

Ainda com relação ao processo de organização técnica da

produção desenvolvida no assentamento, todos os assentados entrevistados

afirmaram não praticar a agricultura irrigada, visto que os custos são muito

elevados e não existe no assentamento reservatórios com volume de água

suficiente para garantir essa prática agrícola.

Podemos afirmar que a produção agrícola desenvolvida no

assentamento de Imbiras encontra-se excluída do acesso aos meios de

assistência técnica capazes de realmente proporcionar uma maior

produtividade, fato que conduz a baixa qualidade de vida de grande parte dos

habitantes.

Somado a outros fatores, o acesso ao crédito se configura

como um recurso indispensável para o desenvolvimento das atividades

produtivas, pois as famílias assentadas não dispõem de reservas financeiras

para investimento quando da posse da terra. Os escassos recursos de algumas

entidades governamentais são a principal fonte de investimento neste

assentamento. O acesso ao crédito rural não atinge todos os assentados.

Muitas famílias afirmaram que até o momento, após 10 anos de estarem

assentadas, nunca tiveram acesso a este tipo de crédito. O gráfico 10 mostra

ao acesso a crédito rural no assentamento:

112

Gráfico 10: Percentual dos assentados entrevistados com acesso ao crédito rural, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares

Quando um assentamento é implantado pelo INCRA os

assentados são beneficiados com linhas de crédito especiais, como os créditos

de fomento/ alimentação, habitação, custeio e investimento. Uma dessas linhas

de crédito é oferecida pelo PRONAF. Os assentamentos de reforma agrária

enquadram-se no Grupo A. Os investimentos podem chegar a R$ 9.500,00,

com juros de 3,25% ao ano, sendo o prazo para saldar a dívida de até 10 anos,

com carência de até três anos. No assentamento de Imbiras o acesso ao

crédito é marcado pela extrema morosidade das instituições governamentais

voltadas para esse serviço. De conformidade com o Gráfico 10, 68% dos

assentados de Imbiras tiveram acesso a algum tipo de financiamento, do

INCRA ou do BNB, enquanto que 32% afirmam nunca terem conseguido

acesso ao crédito.

As críticas dos agricultores com relação ao crédito fornecido

por estas instituições se repetem freqüentemente. Em nosso trabalho de

campo foi possível constatar esse descontentamento, como se recolhe no

depoimento a seguir:

113

No ano de 2000, eu fiz um empréstimo junto ao Banco do Nordeste no valor de 2.000,00 reais, dividido em duas parcelas. Ao retirar a primeira parcela, no valor de 1.200,00 reais, que se destinava ao plantio, foi descontado por um tal seguro 40,00 reais. Então fiquei com 1.160,00 reais que utilizei no plantio de inhame, devido a uma série de problemas, acabei perdendo toda a plantação. Como não tinha o que colher não foi liberado pelo banco a segunda parcela no valor de 800,00 reais destinados a colheita. Mas, quando chegou o dia de pagar, o banco não quis nem saber se perdi tudo ou não, tive que pagar os 2.000,00 reais “pelo pé”. E o seguro foi só enganação, desse dia pra cá nunca mais quis saber de negócio com o banco. (Trabalhador assentado em Imbiras, Massaranduba-PB)

Os assentados também criticam a demora na liberação do

dinheiro por parte desses órgãos, o que faz com que muitas vezes chegue fora

do prazo para se efetuar o plantio, comprometendo assim a produção. Além do

custo dos insumos, as altas taxas cobradas para a comercialização da

produção e o próprio custo desta é, em muitos casos, superior ao valor

produzido.

Em um dos momentos em que visitamos o assentamento de

Imbiras, tivemos a oportunidade de presenciar o extencionista da EMATER

reunido com 17 assentados, que pretendiam realizar empréstimo junto ao

Banco do Nordeste. Esse fato logo nos chamou a atenção, pois sabíamos que

o assentamento contava com 82 famílias devidamente cadastradas pelo

INCRA.

O reduzido número de assentados dispostos a contrair

empréstimos junto aos órgãos do governo demonstra claramente a insatisfação

e a insegurança da maioria dos assentados em relação aos meios que o

governo encontra para introduzir recursos do Estado no meio rural brasileiro.

Tais recursos são insuficientes para dinamizar a produção desenvolvida nas

pequenas propriedades rurais do país.

Na nossa pesquisa de campo, 73% dos entrevistados eram os

titulares da parcela. A sua origem é, principalmente, o antigo sítio de Imbiras e

a sede municipal de Massaranduba, como mostra o gráfico 11:

114

Gráfico 11: Percentual segundo a origem dos assentados entrevistados em Imbiras, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007

Organizador: João Tavares

As famílias assentadas em Imbiras têm sua origem associada

ao município de Massaranduba ou aos municípios vizinhos Alagoa Nova e

Alagoa Grande, o que corresponde a 94% dos assentados. Esses dados

evidenciam a forte ligação dessas famílias com as suas terras, ocupadas e

trabalhadas por varias gerações.

3.5 – Distribuição da renda no assentamento

A produção agrícola tem sido a principal fonte de renda das

famílias camponesas inseridas nos assentamentos rurais, muito embora os

mesmos admitam buscarem fontes alternativas de renda capazes de

complementar o orçamento doméstico. No conjunto dos assentados entrevistados em Imbiras,

podemos concluir, diante dos números apresentados no gráfico 12, que a

renda mensal desses trabalhadores rurais é extremamente baixa. Se

agruparmos os trabalhadores com renda inferior ou igual a um salário mínimo

teremos como resultado dessa operação 71% dos assentados inseridos nesse

conjunto.

115

Gráfico 12: Aproximação percentual da renda mensal das famílias assentadas pesquisadas, 2007.

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares A renda mensal dos assentados é muito baixa, fato que incide

diretamente sobre as suas condições e qualidade de vida. Ainda que de forma

aproximada, calculamos a renda das famílias assentadas em função da

existência ou não de aposentadorias, empregos públicos, trabalho assalariado

dentro e fora da parcela, recursos obtidos com a comercialização do excedente

da produção, remessas de dinheiro vindas de fora do assentamento e

produção destinada ao autoconsumo. Apesar da renda mensal no volume total

das famílias ser baixa, também existem disparidades. Os dados do gráfico 12

mostra a disparidade presente na distribuição de renda entre os assentados de

Imbiras.

Quando da realização do trabalho intitulado Qualidade de vida e

Reforma Agrária na Paraíba26, em 1998, constatou-se que, para o conjunto das

famílias sorteadas e entrevistadas em todos os assentamentos, a renda média

familiar era de R$ 308, 17, o equivalente a 2,75 salários mínimos na época. A

renda dos assentados de Imbiras é inferior a dos assentamentos paraibanos,

sendo as suas principias fontes as atividades mostradas no gráfico 13:

26 Ver BAMAT, Tomas e Ieno Neto, Genaro. Qualidade de Vida e Assentamento na Paraíba.João Pessoa: UNITRABALHO/UFPB, 1998.

116

Gráfico 13: Percentual segundo a origem das fontes de renda das famílias assentadas pesquisadas, 200727

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares

Os assentados buscam complementar sua renda envolvendo-

se em diferentes atividades. Por meio delas e da ajuda econômica de

familiares que moram fora do assentamento conseguem recursos para

minimizar as dificuldades que as precárias condições de vida no assentamento

lhes colocam. No conjunto das fontes de renda28 dos assentados de Imbiras

destacam-se as aposentadorias rurais que, segundo os entrevistados,

contribuem com 43% da renda que circula no interior do assentamento. As

pensões por falecimento do cônjugue são também uma importante fonte de

renda no assentamento.

Cabe destacar que, os recursos originários de aposentadoria

rural são, para as famílias onde residem pessoas de maior idade, a garantia de

um dinheiro fixo para aquisição de alimentos e eletrodomésticos, como, por

exemplo, fogão a gás, geladeira, televisão e aparelhos de som. Constamos que

27 Não consideramos na análise sobre a renda das famílias assentadas, a produção voltada para o autoconsumo, já que esse exercício necessitaria de um modelo quantitativo mais aprofundado no que se refere a esse tipo de produção, o que não é nosso objetivo. 28 Renda obtida pelos assentados a partir de atividades desempenhadas fora de sua parcela ou por remessa de parentes residentes em outras localidades, assim como os auxílios prestados pelo Governo através de suas políticas assistencialistas.

117

as famílias assentadas dependem completamente dessa renda, o que torna o/a

aposentado/a rural como principal provedor do sustento da família.

Por outro lado, tanto as aposentadorias quanto as pensões por

falecimento são formas que permitem a entrada de recursos em Imbiras. Cabe

destacar que estas não são fontes produtivas, ou seja, não geram nem

produção, nem trabalho e sim uma forte dependência externa. O

desenvolvimento territorial é, portanto, comprometido.

Apenas 6% dos assentados desempenham um trabalho regular

e remunerado no assentamento. Trata-se de serviços prestados à prefeitura

municipal por auxiliares técnicos, professores e agentes de saúde.

O trabalho alugado ou trabalho acessório29 é outra fonte de

renda procurada pelos assentados de Imbiras, principalmente entre os

agregados que contam com pouca ou nenhuma terra nas parcelas de seus

pais. O trabalho acessório é uma saída forçada para suprir as necessidades da

família, já que a pequena área explorada não se faz suficiente para satisfazer

tal propósito. Geralmente esse trabalho é absorvido dentro do próprio

assentamento.

Outra fonte de renda é obtida através das atividades

comerciais, porém, só são desenvolvidas por um pequeno número de

assentados. Apenas 3% dos entrevistados afirmaram realizar esse tipo de

atividade. O escasso desenvolvimento da atividade comercial no assentamento

relaciona-se com o cultivo de culturas voltadas para a satisfação das

necessidades alimentares de seus moradores, como já assinalamos

anteriormente. Associado a isto identificamos a ausência de incentivos por

parte das entidades voltadas para fomentar o desenvolvimento do

assentamento, o que poderia se concretizar a partir da elevação de linhas de

crédito, da organização dos posseiros em cooperativas, entre outras.

Além disso, 10% das famílias pesquisadas declaram receber

ajuda de parentes que vivem fora do assentamento. É um número pequeno,

pois, entre as famílias estudadas, quase todas contam com parentes residindo

29 Trabalhos realizados fora das parcelas, através dos quais os assentados complementam a renda da família.

118

em outras cidades, principalmente na região Sudeste, nos estados do Rio de

Janeiro e São Paulo.

A falta de políticas públicas que proporcionem meios para

assegurar a permanência do trabalhador rural no campo continua sendo um

dos principais fatores que ocasionam a expulsão de um grande contingente de

pessoas em direção aos médios e grandes centros urbanos do país. A

ineficiência de crédito rural, a ausência de uma assistência técnica de

qualidade, de terra e de uma política educacional voltada para atender e formar

cidadãos conscientes, preparando-os para uma vida produtiva no meio rural,

são condicionantes para a pobreza no campo brasileiro.

A educação nos assentamentos rurais é um sério problema a

ser resolvido, posto que ela se caracteriza como um dos pilares importantes

para o desenvolvimento dos mesmos.

Analisaremos nesse contexto de valorização e, principalmente,

de necessidade de projetos educacionais voltados para o campo, o nível de

escolaridade da população inserida no assentamento rural, como se processa

a educação no interior do mesmo e como a educação rural é vislumbrada pelos

assentados.

Grafico 14: Nível de escolaridade dos assentados

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares De acordo com Oliveira e Franco (2007), é imprescindível reconhecer a

importância e necessidade da escola do campo e no campo, que, no caminho

dos assentamentos rurais de reforma agrária, torna-se imperiosa e

119

inquestionável enquanto projeto de educação do campo. A histórica ausência

de escolas nas áreas rurais tem contribuido para acelerar o processo de

expropriação dos trabalhadores rurais assentados em projetos de reforma

agrária ou não, já que a falta de uma educação voltada para aprimorar as

atividades desenvolvidas no campo insere-se entre os fatores responsáveis

pela baixa qualidade de vida dos trabalhadores camponeses.

Os dados referentes ao nosso trabalho de campo são

dramáticos. Obeserva-se um baixo nivel de escolaridade entre os moradores

de Imbiras. Apenas uma pessoa do universo entrevistado tem o ensino médio

completo. Em depoimento, um assentado relata a necessidade de construção

de escolas no interior do assentamento.

Uma das nossas propostas junto ao Incra e a prefeitura é que construam uma escola no assentamento, pois não temos nenhuma escola dentro do assentamento. As crianças tem que andar vários quilômetros até chegar na escola que fica muito longe, já que o assentamento é muito grande, mas, até agora ninguem fez nada nesse centido. (Liderança do assentamento e da associação, Massaranduba-PB)

O fato de não existir escolas no assentamento de Imbiras se

traduz nas palavras dessa liderança como um sério problema para o seu

desenvolvimento do assentamento. Sem formação é impossível a utilização

racional do recursos naturais, o manejo de certos equipamentos e insumos e a

organização e gestão do próprio espaço.

Os projetos destinados aos assentamentos rurais por parte dos

órgãos públicos até agora não deram prioridade à eduçação dos trabalhadores

rurais. Inexistem linhas de crédito específicas para construção, manutenção e

aperfeiçomanto de escolas e sistemas educacionais em áreas de

assentamento. Tal fato que interfere diretamente no processo de organização

social e do trabalho dos assentamentos de reforma agrária no campo brasileiro.

A seguir são analizadas as formas de organização social e do trabalho

presentes no assentamento de Imbiras.

120

3.6 – Organização social do trabalho e associativismo O trabalho se constitui como elemento fundamental para

construção e consolidação da satisfação humana. O território forma-se por e a

partir das relações de trabalho que emergem nas relações de poder

desencadeadas entre as diversas esferas da sociedade. O trabalho não pode

se limitar apenas à produção de mercadoria que, quando comercializada,

proporcione lucro e conseqüentemente acumulação de capital. O trabalho deve

ser compreendido antes de tudo como meio de satisfação das necessidades

básicas dos indivíduos, mas, principalmente, como protoforma de satisfação

humana, social, política, ideológica e cultural.

Assim, para Tomaz Jr.(2006), a reprodução de formas de

produção praticadas pelos camponeses não pode ser rechaçada a

determinados interesses econômicos. Nesse contexto passaremos a analisar

as formas de organização do trabalho desenvolvidas no assentamento de

Imbiras.

O gráfico 15 mostra a participação dos assentados na

realização de trabalhos fora das suas parcelas.

Gráfico 15: Percentual dos assentados entrevistados que já realizaram trabalhos fora do assentamento.

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares

121

Muitos trabalhadores assentados em Imbiras já realizaram e

ainda praticam trabalhos fora dos limites de suas parcelas. De conformidade

com os dados apresentados no gráfico acima podemos perceber que a maior

parcela dos trabalhos realizados fora do assentamento encontram-se

associados a serviços como a construção civil (37%), a ocupação de cargos

públicos (27%). Além disso, 18% dos assentados são agentes de saúde, 9%

são empregadas domésticas e, também, 9% são motoristas. Com exceção das

atividades desenvolvidas pelos agentes de saúde e do trabalho doméstico, as

demais atividades são desenvolvidas fora dos limites das parcelas, do

município e do estado. Os trabalhos realizados fora do assentamento são

realizados principalmente por jovens, denominados como principais migrantes.

Desse modo, o trabalho realizado fora das parcelas constituem alternativas de

sobrevivência, posto que a reduzida dimensão das parcelas não absorve toda a

mão-de-obra gerada no assentamento. Também encontramos no assentamento trabalhadores que não

desenvolvem atividades relacionadas ao trabalho agrícola, são funcionários

públicos. O gráfico 15 mostra que 27% dos assentados de Imbiras utilizam

esse território apenas como ponto de referência ou como moradia. Esse fato

constata a dificuldade que o assentamento apresenta para atender as

necessidades básicas das famílias.

As precárias condições de trabalho nos assentamentos rurais

provocaram, nos últimos 10 anos, a destruição do sonho de milhares de

famílias assentadas. Como coloca Thomaz Jr. (2006):

Assim, os fundamentos da política agrária do governo brasileiro ao longo dos últimos 10 anos, estão diretamente vinculados aos pressupostos do mercado externo ou das exportações, em detrimento de alternativas factíveis para fortalecer o mercado interno, a fixação dos trabalhadores e suas famílias na terra e a priorização da produção camponesa e familiar (p. 156).

Cumpre entendermos que a não absorção da mão-de-obra

disponível no assentamento condiciona sua exportação para outras áreas ou

para atividades agrícolas fora do assentamento.

122

Continuemos, pois, a analisar esse processo de evasão dos

trabalhadores (as) em Imbiras, a partir da leitura do gráfico 16:

Gráfico 16: Percentual dos trabalhadores pesquisados que realizam trabalho fora e dentro do assentamento

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares

A maioria dos trabalhadores de Imbiras (73%) encontram

ocupados no trabalho agrícola. A reflexão que colocamos pauta-se nas

seguintes questões: 1) O que condiciona esses assentados a procurar trabalho

fora de suas parcelas? 2) Qual o seu destino? 3) Quem é o assentado

expropriado de sua parcela? 4) Que atividades esses trabalhadores

desenvolvem fora da parcela?

Os motivos pelos quais os trabalhadores de Imbiras deixam

suas parcelas ou a de seus pais são inúmeros, podemos destacar: a reduzida

área das parcelas onde trabalha a família do titular e seus agregados, a falta de

políticas públicas que assegurem a permanência do trabalhador rural no campo

com dignidade, as precárias condições de vida no assentamento, o sonho de

melhores condições de vida, entre outros.

Quanto ao destino desses trabalhadores, as grandes cidades

do sudeste brasileiro são as principais escolhas desses migrantes. Os jovens

estão entre os principais migrantes deste assentamento. Os agregados

123

também engrossam freqüentemente as fileiras da migração, principalmente em

períodos de pouco trabalho nas atividades agrícolas dentro do assentamento.

As atividades desenvolvidas pelos migrantes nas cidades são muito variadas,

destacando-se, o trabalho na construção civil, o emprego doméstico e o

trabalho como motorista.

O território camponês do assentamento de Imbiras encontra-se

profundamente marcado pelas diversas formas de organização do trabalho. O

assalariamento entre os trabalhadores é uma constante. Não se trata aqui de

relações de trabalho tal qual ocorre nas atividades puramente capitalistas, pois

não objetivam assalariar e explorar o trabalhador exclusivamente para

obtenção de lucro. Esse assalariamento serve para produzir produtos com

valor de uso e não mercadorias com valor de troca, comum nas atividades

puramente capitalistas.

O gráfico 17 mostra como se encontra distribuída a utilização

da mão-de-obra assalariada entre as parcelas:

Gráfico 17: Utilização de mão-de-obra assalariada nas parcelas

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007 Organizador: João Tavares

124

Nas relações de produção desencadeadas entre os

assentados, destaca-se o assalariamento por diária30 que contribui para

garantir uma renda aos camponeses assentados com baixa disponibilidade de

terra, estes vendem sua força de trabalho em períodos geralmente associado

ao plantio ou a colheita das culturas. Dos 41 assentados questionados sobre a

utilização da força de trabalho, 19 afirmaram utilizar trabalho assalariado para

garantir a produção, enquanto que 22 realizam o serviço nas parcelas com

apenas a utilização do trabalho de sua família.

O assalariamento entre os assentados de Imbiras é muito

comum. Quem mais contrata mão-de-obra assalariada são os camponeses

mais idosos, primeiro, por não apresentarem condições físicas para cuidar da

lavoura e, segundo, pelo acesso à aposentadoria rural que lhe permite recursos

para assalariar alguns dias de serviços a cada mês.

De acordo com informação recolhida em nosso trabalho de

campo, o valor do dia de serviço no assentamento varia entre R$ 10,00 e R$

15,00. O dia a seca31, sem almoço custa R$ 15,00 enquanto que o dia com

almoço32 é avaliado entre R$ 10,00 e R$ 12,00. A forma de pagamento é

sempre realizada em dinheiro.

Quando o serviço da minha roça diminui, se aparecer algum dia de serviço eu vou ganhar, pois esse dinheirinho já ajuda nas despesas da casa, é com ele que compro aquilo que não tenho em minha parcela, carne, arroz, açúcar e também pago algumas contas. Mas não é todo mundo que pode pagar serviço aqui, e quem pode só paga a pessoas de sua confiança ou a gente da própria família. O pai paga dias de serviço ao filho agregado para ele não ir embora da parcela e nem trabalhar pros outros. (Trabalhador rural morador do assentamento de Imbiras, Massaranduba-PB).

30 Dia de serviço prestado por camponeses na produção agrícola em troca de pagamento em dinheiro que é realizado ao fim da jornada de trabalho. 31 Nessa relação de trabalho quem contrata a mão-de-obra fica livre de oferecer qualquer tipo de alimentação ao trabalhador que a vende, ficando a responsabilidade alimentar sob o cuidado próprio trabalhador. 32 Nessa relação de contrato é obrigação do contratante alimentar o contratado durante o período em que o mesmo estiver realizando as atividades para as quais foi contratado.

125

O depoimento deste trabalhador rural enfatiza a importância da

venda da força de trabalho para alguns assentados. Observa-se ainda que

essa relação de trabalho se estabelece prioritariamente entre pessoas que

apresentam algum tipo de ligação ou proximidade, como amizade ou

parentesco. Além disso, constitui uma estratégia para ajudar os parentes mais

necessitados, geralmente os agregados.

A proximidade e o parentesco condicionam também a

participação dos assentados em associações. O gráfico 18 mostra o grau do

desenvolvimento associativista dos assentados de Imbiras:

Gráfico 18: O associativismo rural no assentamento

Fonte: Trabalho de campo, julho de 2007

Organizador: João Tavares

Imbiras, por ter se constituido como um território de intensa luta

pela posse e permanência na terra, vislumbra no associativismo a possibilidade

de conquistas importantes para dinamizar o desenvolvimento produtivo.

Atualmente, a organização social dos assentados encontra-se

vinculada a diversas entidades associativista, destacam-se entre elas o STR e

a Associação Comunitária dos Assentados de Imbiras. A participação

desse sindicato na organização dos assentados é incipiente do ponto de vista

da organização política e social. O mesmo não apresenta nenhuma proposta

126

de desenvolvimento direcionada especificamente para os assentados. Com

uma política homogênea de atuação para todo o município, não é levado em

consideração a identidade política, cultural e social, construída através de um

intenso processo de luta. A atuação do sindicato fundamenta-se principalmente

na regularização de documentos com vistas à uma possível aposentadoria rural

ou outros benefícios como, por exemplo, salário maternidade e auxilio doença,

além de projetos de pequena importância econômica.

O STR de Massaranduba tem como principal prática legitimar

junto aos órgãos previdenciários a condição de trabalhador rural desses

agricultores, possibilitando sua aposentadoria como trabalhador rural. Esse fato

explica o grande número de camponeses associados ao STR.

O associativismo no assentamento de Imbiras é reflexo de

modelos de organização que perpassam sua fronteira territorial, mas, ao

mesmo tempo em que esse território é reflexo dessas organizações, passa a

refletir suas formas de organização social, seja pela absorção de modelos de

desenvolvimento hegemônicos ou através da resistência em adequar-se as

políticas uniformizadas de desenvolvimento rural.

Uma vez assentados os posseiros iniciaram outro processo de

luta. A construção do assentamento demandou a organização dos agricultores

em uma associação local. Hoje, a participação dos assentados nessa entidade

caracteriza-a como o principal meio de organização social para alcançar

benefícios junto às entidades governamentais. É praticamente por intermédio

dessa associação que os programas governamentais chegam até o

assentamento.

Coloca-se nesse momento um questionamento que parece-nos

pertinente, essas associações estão realmente voltadas para atender as

necessidades desses trabalhadores ou estão servindo como instrumento de

implantação para adoção de políticas compensatórias que, fatalmente, nunca

resolverão os problemas desses trabalhadores rurais?

Em depoimento recolhido durante o trabalho de campo, uma

liderança comunitária fala das dificuldades encontradas pelos dirigentes da

associação local, buscando chamar a atenção dos sócios e discutir os

problemas do assentamento:

127

Os sócios só procuram a associação quando precisa de algum tipo de benefício. A maioria dos associados não participa das reuniões ordinárias que se realizam uma vez por mês. Mas, se você diz que alguém ou alguma entidade vai distribuir cestas básicas ou qualquer outra coisa o prédio fica cheio, pois todos vem em busca de receber as doações. O problema é que na hora de discutir os problemas do assentamento ninguém quer participar das reuniões. O número de pessoas que realmente freqüenta as reuniões tem sido muito baixo. (Liderança comunitária do assentamento, Massaranduba-PB)

As igrejas, os grupos de mulheres e o Conselho Municipal de

Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS)33, configuram outras formas de

associativismo nos quais participam os assentados/as.

Atualmente percebemos que, em Imbiras, o espírito de luta e

organização política que se desencadeou durante os conflitos pela posse e

permanência na terra, não continua o mesmo. Segundo informações recolhidas

junto a uma liderança comunitária, o que se registra hoje entre os assentados é

um forte descrédito no coletivo e uma marcada leitura individual:

No momento do conflito todo mundo era muito unido porque ninguém queria sair de suas terras, era uma questão de sobrevivência, a gente ia para onde? Não tinha para onde ir. O jeito era ficar unido e lutar. Depois que conquistamos a terra o movimento esfriou, não tinha mais pelo que lutar. Agora era a hora de trabalhar na terra com a família. (Liderança no período do conflito, hoje assentado em Imbiras, Massaranduba-PB)

Podemos observar que os esforços pela luta contra a

expropriação da terra funcionaram como ligação entre os camponeses. Os

posseiros de Imbiras organizaram-se e se associaram e, sobretudo, lutaram

unidos para não perder seu pedaço de chão, meio de sobrevivência e de

reprodução das famílias.

No entanto, a partir da posse legítima das terras, uma vez

assentados os desafios mudam. A necessidade de manter a unidade familiar

de forma produtiva demanda aderir as linhas de crédito que possibilitem esse

33De acordo com as normas do regimento estatutário do CMDRS, apenas dois representantes de cada associação têm acento no mesmo. Geralmente é o próprio presidente da associação quem representa os interesses dos sócios neste conselho.

128

desenvolvimento. Porém, nem toda a família tem condições de endividar-se.

Recorrem a sobrevivência de forma precária através de pensões e

aposentadorias estatais. O êxodo dos mais jovens continua sendo uma

realidade nestes espaços. A estrutura fundiária segue sendo uma limitação e a

capacidade de organização e mobilização política que fez com que se

conquistasse a terra foi fragmentada e se dilui ao longo dos últimos dez anos

de criação deste assentamento rural. Os pacotes creditícios individuais,

impostos pelas instituições governamentais aos assentados, contribuíram

imensamente para fragmentar a organização social dos camponeses.

129

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho tivemos a oportunidade de estreitar os laços

com os estudos de geografia agrária da Paraíba. Também, o contato com os

trabalhadores e trabalhadoras rurais do assentamento de Imbiras enriqueceu a

nossa leitura geográfica sobre as questões agrárias, especialmente as próprias

dos assentamentos rurais de reforma agrária.

Observamos como as novas territorialidades camponesas, os

assentamentos, formam-se por e a partir de intensos conflitos. Verificamos

como, no caso da luta dos posseiros de Imbiras, o conflito inicialmente

desencadeou-se para garantir o direito das famílias de permanecerem na terra

ocupada há várias gerações. O litígio entre esses camponeses e aqueles que

se diziam donos das terras, insere-se em um contexto maior de luta pela terra e

de reforma agrária e da atuação do movimento camponês rebelde, como foi

definido por Feliciano (2003), no Brasil.

Certos de que as relações sociais de produção são

estabelecidas independentemente da vontade ou da necessidade individual de

cada um, passamos a constatar que o desenvolvimento das forças produtivas

depende de diversos fatores. O modelo de desenvolvimento da produção

capitalista no campo brasileiro necessita de forte aprofundamento no que se

refere ao seu estudo. Buscamos nas correntes teóricas o suporte para

fomentar uma série de debates em função do desenvolvimento do capitalismo

no campo e sua contribuição para a formação e dinâmica territorial do espaço

geográfico, em especial o assentamento rural de Imbiras.

A resistência dos trabalhadores camponeses assentados em

Imbiras é, sem dúvida, uma prova incontestável de que as relações capitalistas

desenvolvidas no campo brasileiro estabelecem-se sob o modelo de

desenvolvimento combinado e contraditório das relações capitalistas de

produção.

Porém, o diferencial da luta travada pelos camponeses de

Imbiras é que os mesmos não se mobilizaram para entrar na terra e sim para

permanecer nela. O conflito desencadeado neste território se deu pela

necessidade das famílias assentadas de permanecerem na terra, garantia de

vida e de trabalho.

130

Nesse processo de luta pela permanência na terra de trabalho,

a organização política dos posseiros de Imbiras foi determinante para a

conquista definitiva de um direito que já tinha sido adquirido. A partir desse

conflito observa-se a construção de novos territórios de luta e resistência para

que os trabalhadores inseridos nesse contexto possam permanecer como

camponeses, posto que os mesmos são protagonistas do processo de(re)

produção territorial. O território que vislumbrava as atividades produtivas dentro

das relações de trabalho estabelecidas entre proprietários latifundiários e

trabalhadores rurais que exploravam as terras na condição de posseiros passa

a ser contestado efetivamente por estas famílias, junto as entidades

governamentais. Dá-se origem a formação de um novo território que se

corporifica na criação do assentamento de Imbiras. Constatamos a participação

e apoio de diversas entidades governamentais e não governamentais que

marcaram sobretudo, a construção deste novo território. Dentre as entidades

destacam-se a CPT, a UFPB e o STR de Alagoa Nova. A participação destas

foi decisiva nesse processo, principalmente porque a organização dos

posseiros intensificou-se a partir da inserção das entidades destas no conflito.

O fato do INCRA legitimar a posse das terras das famílias

assentadas, em 1996, fez com que estes atores se afastassem do território de

Imbiras provocando uma redução do grau de organização sócio-política dos

trabalhadores assentados. Surgiram, no entanto, outras parcerias, imprimindo

uma nova dinâmica territorial no assentamento. Entre os denominados,

agentes de desenvolvimento, encontram-se o INCRA, o PRONAF, o Projeto

COOPERAR, a ASA, a EMATER, o BNB e o Projeto Lumiar. Constatamos

como as ações destes novos agentes territoriais, não são eficientes, embora o

discurso ressalte o desenvolvimento econômico e social do assentamento.

O Projeto Lumiar34, apesar de subordinado ao INCRA,

destacou-se entre os órgãos criados para prestar assistência aos assentados.

Este projeto ressaltava, reconhecia e legitimava as organizações dos

trabalhadores, reconhecendo-as como co-participes da política pública. Porém,

não podemos esquecer que entre os objetivos desse projeto estava a inserção 34 As poucas referências a esse projeto é reflexo do pequeno período de existência do mesmo. O projeto foi criado em 1995/96 e extinti em 1997, vigorando por dois anos apenas. Os próprios assentados não mencionaram durante nosso trabalho de campo a atuação desse projeto no assentamento.

131

do trabalhador camponês no mercado. Tal objetivo divergia da lógica de

produção de muitos trabalhadores rurais. Estes preocupavam-se em produzir

para a satisfação das necessidades básicas de suas famílias e não

correspondiam à intencionalidade das políticas públicas que tinham como meta

a transformação do trabalhador camponês em pequeno empresário rural

inserindo-o no mercado.

Em relação à atuação dessas entidades e o seu reflexo no

assentamento, destaca-se em nossas análises o comportamento dos

trabalhadores rurais camponeses assentados. O projeto individual de cada um

dos trabalhadores é explicitamente colocado pelas entidades de fomento como

protoforma de desenvolvimento, passo prévio a sua integração no mercado. A

EMATER configura-se como um exemplo clássico nesse processo de

mobilização de “cima para baixo”, de caráter funcionalista cuja utilidade última

é ter acesso aos benefícios governamentais. A formação de novas estruturas

associativas, tais como as Associações de Agricultores ou Produtores Rurais,

ou, inclusive, a participação dos assentados no Sindicato para Agricultores

Familiares, apresentam-se como alternativas para além daquelas impostas

pelas instituições de caráter estatal. Mesmo assim, em Imbiras, o número de

assentados que freqüentam as reuniões da associação é muito reduzido, já a

participação destes no STR do município é numericamente elevada.

Prevalece na lógica de desenvolvimento adotada para o campo

brasileiro, a ideologia da concorrência individual capitalista que procura a todo

custo subordinar esses trabalhadores camponeses à sua ordem, mesmo que

seja necessário o seu controle social através de formas de representação de

classe e/ou entidades associativista.

A decadência do associativismo no assentamento de Imbiras é

visível. O trabalhador camponês inserido no assentamento encontra-se

politicamente e ideologicamente dissociado da concepção de camponês que

encontramos em autores como, por exemplo, Martins, Fabrini, Moreira, Franco,

Garcia e Oliveira. Estes autores entendem o camponês enquanto classe social

e política que através de sua luta e resistência conseguem garantir sua

reprodução. Tal fato foi observado durante o conflito de resistência contra a

expropriação das famílias de suas terras.

132

Do ponto de vista da organização territorial, o assentamento

rural de Imbiras não apresenta, de acordo com nossa pesquisa, condições

favoráveis para garantir uma boa qualidade de vida aos seus habitantes. O

modelo de desenvolvimento econômico e social do assentamento encontra-se,

de modo geral, inserido no universo das políticas agrícolas desenvolvidas pelo

Estado, as quais não possibilitam condições favoráveis para proporcionar uma

melhor qualidade de vida aos camponeses assentados.

A própria organização produtiva do assentamento reflete o

quadro de precariedade enfrentado por estas famílias, pois a forma como as

parcelas foram distribuídas entre estes camponeses constituem hoje um

impedimento para o desenvolvimento de condições básicas necessárias que

possibilitem a garantia de reprodução destas famílias. O que se configurou no

princípio com uma conquista dos posseiros, atualmente entende-se que as

disparidades entre os tamanhos das parcelas no assentamento proporciona um

desenvolvimento desigual no interior do mesmo, já que aqueles assentados

que dispõem de parcelas maiores apresentam melhores condições de vida. O

processo produtivo do referido assentamento permanece atrelado ao atraso

técnico, à forte escassez de recursos financeiros, e à ausência de

racionalidade no que se refere ao melhor aproveitamento dos recursos naturais

e sua conservação. A assistência técnica disponibilizada aos assentados

resume-se à esporádicas visitas do extensionista da EMATER, que, de maneira

contraditória, assiste um número reduzido de trabalhadores assentados,

elegendo principalmente aqueles que contam com linhas de crédito, de modo

que a maior parte dos assentados fica sem assistência ou acompanhamento

técnico indispensável para fomentar a produção agrícola. De conformidade

com as entrevistas realizadas ficou evidente que existe um forte

descontentamento entre os assentados referente aos serviços prestados pelo

extensionista da EMATER no assentamento. Os assentados demandam um

acompanhamento técnico mais eficiente por parte do extensionista. O trabalho

de extensão rural desenvolvida no campo brasileiro não tem a capacidade de

atender com eficiência as demandas dos trabalhadores rurais inseridos nas

pequenas propriedades. A ineficiência na assistência aos assentados de

Imbiras é observada entre outras entidades que se voltam à prestação de apoio

a estes trabalhadores rurais. O INCRA é um exemplo. A realização de

133

atividades no assentamento conduzidas pelo INCRA demonstra sua

incompetência e morosidade na solução dos problemas enfrentados pelos

assentados de Imbiras. A construção das casas para as famílias assentadas

ainda não foram concluídas, as mesmas encontram-se em processo de

construção, assim como a titularidade dos lotes que ainda não foram emitidos

aos assentados, fato que caracteriza a incapacidade desta entidade na

construção de um território camponês menos excludente.

A conquista da terra e a criação do assentamento de Imbiras

inserem sobre os assentados o controle social, ideológico, econômico e político

das entidades governamentais subjugando estes assentados as políticas

públicas de desenvolvimento adotadas pelos governos. Estas políticas são

utilizadas como instrumentos importantes para tirar do campo de luta atores

que em muitos momentos construíram sua própria história, assim como a

história do campesinato no Brasil.

É preciso que o camponês de Imbiras volte a se entender como

classe social direcionando sua luta junto às instituições governamentais a fim

de que as mesmas desenvolvam políticas públicas que realmente lhe

proporcione melhores condições de vida, construção de escolas, melhores

linhas de crédito, eficiente projetos de assistência técnica, capacitação

profissional, beneficiamento e racionalização de sua produção. Estas

reivindicações estão entre as principais aspirações dos trabalhadores

assentados no campo brasileiro, posto que estes benefícios quando adquiridos

se configuram como meios necessários para viabilizar o desenvolvimento

socioeconômico destes assentamentos.

134

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140

ANEXOS

ANEXO 01- QUESTIÓNARIO

UNIVRESIDADE FEDERAL DA PARAÍBA-UFPB DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGG Aluno: João Tavares Guedes Orientadora: Drª. Maria Franco Garcia

Co-orientador: Dr. Fernando Garcia de Oliveira

Questionário às famílias camponesas do assentamento de Imbiras – Massaranduba – PB. Quem faz a entrevista: ______________________________________ Data: ___ Comunidade: Imbiras Entrevistado titular da parcela? ( ) sim ( ) não ; Quem é o titular da parcela?------ Como se chama: _____________________________________________________

Onde nasceu – comunidade: _____________município: ___________ UF : --------------

Quais os trabalhos fora do roçado que já fez na sua vida ou ainda faz:

Que tipo de trabalho? Onde foi? Em que período?

A Família (as Pessoas que Pertencem a Casa e o que Fazem)

Nome Relação

c/ chefia

da

família

Gênero

mas.

Gênero

Fem.

idade Trabalha

no

roçado

Faz

outro

trabalho,

qual?

Onde

trabalha

Já alguma vez vendeu terra? Não____ Sim_____ em que ano:

_______________vendeu a quem? _________porque? ________________

A Maneira de trabalhar a Terra A terra que você trabalha é: boa_____ razoável______ fraca_______

Você protege o solo contra o desgaste ou degradação? Não_____ sim______

Como:

______________________________________________________________________

O que você faz para manter e aumentar a fertilidade do solo? ___________________

Como você luta contra as pragas e doenças das

culturas?_____________________________

Como e onde você consegue sementes para plantar? _______________________

Você utiliza água para irrigação? Não________ sim__________

Para que culturas? --------------------------------------------------------------------------------

Como é que irriga? ----------------------------------------------------------------------------

O assentamento conta com apoio ou assistência técnica de algum órgão do governo?

( ) sim ( ) não; quais?

Entidades não governamentais atuam ou já atuaram no assentamento?

( ) sim ( ) não, quais?

A assistência técnica oferecida às famílias assentadas é:

( ) satisfatória ) regular ( ) deficiente ( ) outra; qual?

Você tem ou já teve credito? Não____ sim ____ Quanto: ----------

Se teve conseguiu pagar? ( ) sim ( ) não Por que? ----------

Em que ano?___________ para fazer o

que?_______________________________________

Já teve assistência técnica? Não____ Sim____

Em que ano?___________ para fazer o

que?_______________________________________

Costuma pagar pessoas de fora para ajudar no roçado? Não______ sim_______

Para que trabalhos? ____________________________

Quantas pessoas? ____________________ quantos dias por ano?

Quanto você paga? ________________________

Produção e Comercialização O que você planta no seu roçado?

Produto Área de

plantio há.

Planta para

comer?

Planta para

vender?

Como

vende?

Preço

estimado.

Milho

Feijão /fava

Macaxeira\Mandioca

Inhame

Batata-doce

Quais as fruteiras que você tem?

Produto Numero de

pés

Planta para

comer?

Planta para

vender?

Como

vende?

Preço

estimado

Banana

Laranja

Manga

Outras

Vocês fazem horta caseira? Não____ Sim____

Quem faz a horta? ( ) homem ( ) mulher ( )menino ( ) outros

Tem área de pasto? Não____ Sim____ qual o tamanho desta área?

Que hortaliças o senhor cultiva?--------------------------------------------------------------------------

O senhor compra quais hortaliças no mercado ou no vizinho? ( ) sim ( ) não. Por que

compra?---------------------------------------------------------------------------------------------------------

O senhor troca produtos com os vizinhos? ( ) sim ( ) não

Quais produtos o senhor adquire regularmente no mercado?-------------------------------------

O assentamento possui mercado? ( ) sim ( ) não

O senhor freqüenta o mercado do assentamento? ( ) sim ( ) não

Você freqüenta o mercado da cidade? ( ) sim ( ) não

Como vai até o mercado?-----------------------------------------------------------------------------------

Quando vai? ---------------------------------------------------------------------------------------------------

Em que cidade localiza-se esse mercado?-------------------------------------------------------

Quais os animais que vocês criam?

Animal Numero de

cabeças

Produz para

comer?

Produz para

vender?

Como

vende?

Preço

estimado

Galinha

Porco

Cabra

Vaca

Bezerro

Burro/jumento

Cavalo

outros

A Renda da Família

Qual a renda mensal que a família consegue através da produção agrária (produtos do

roçado, verduras, frutas, criação animal)?

- menos de meio salário mínimo ____

- entre meio e um salário mínimo ____

- entre um e dois salários mínimos ____

- entre dois e cinco salários mínimos ____

- mais de cinco salários mínimos ____

Quais as outras fontes de renda que a família tem?

Fonte de renda Origem da

renda

Quanto é por

mês?

Aposentadoria

Salário regular

Trabalho alugado\ qual e onde?

Serviço prestado\ qual e onde?

Produção não – agrária\ qual?

Atividade comercial\ qual e onde desenvolve?

Remessa de familiar de fora do assentamento\ qual

a origem?

Outras

Infra-estruturar da vida familiar A sua casa tem água encanada? Não____ Sim___

Se não tem, onde vão

buscar?______________________________________________________

Quem? ----------; com que freqüência?----------------; quantos litros cada vez?-------;

como?--------

A que distancia da

casa?__________________________________________________________

A sua casa tem energia elétrica? Não____ Sim____

Tem televisão? Não____ Sim ____; Geladeira \ Freezer? Não ------ sim ------

Vocês cozinham com : gás____ lenha____

Onde vão buscar a

lenha?_________________________________________________________

A sua é: em pau a pique\taipa____ ; em alvenaria\tijolo____ outros?--------------------------

Instrução (escolaridade) Qual o grau de instrução (escolaridade) das pessoas em casa?

Nome Sabe ler e

escrever

Tem primeiro

grau menor

Tem primeiro grau

completo

Tem segundo grau

completo

9. Organização Quem da família participa em:

- mutirão:

_____________________________________________________________________

- horta comunitária:

_____________________________________________________________

- grupo de mulheres:

_____________________________________________________________

- grupo de jovens:

_______________________________________________________________

- associação de agricultores:

_______________________________________________________

- comunidade eclesial de base:

_____________________________________________________

- cooperativa mista dos trabalhadores rurais:

__________________________________________

- sindicato dos trabalhadores rurais:

_________________________________________________

- outra organização ou atividade coletiva:

____________________________________________

ANEXO 02 - ENTREVISTA 01 UNIVRESIDADE FEDERAL DA PARAÍBA-UFPB DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGG Aluno: João Tavares Guedes Orientadora: Drª. Maria Franco Garcia

Co-orientador: Dr. Fernando Garcia de Oliveira

1 – Entrevista com lideranças do assentamento de Imbiras. 1-Quem faz a entrevista? _______________________Data: ______________

2-Comunidade: Imbiras; Nome do(a) assentado(a):------------------------------------------------

3-Município: ___________________________UF: __________________

4-Qual a idade do Sr. / Sra.: _________________________________________

5-O senhor (a) é titular do lote? ( )sim ( ) não

6-Quantas pessoas moram na parcela? ______________________________________

7-Qual o grau de escolaridade? ________________________________________

8-Tem algum curso técnico, profissionalizante? ____________________________

9-Qual a origem do nome do assentamento? ______________________________

10-Quem estabeleceu a divisão da área destinada para os camponeses? ___________

11-Como se deu a participação dos camponeses na divisão dos lotes? ( ) efetiva ( )

passiva

12-Você está satisfeito com a organização espacial do assentamento? ( ) sim ( )

não, porque?

13-Quando começou a luta pela posse da terra?

__________________________________________

14-Quais as formas de mobilização dos assentados no período da ocupação e luta pela

terra?

15-Que entidades contribuíram com a luta dos camponeses pela posse da terra?

_________________

16-O que o senhor (a) fazia antes de vir para o acampamento?

17-O que lhe motivou para entrar na luta pela terra?

18-O senhor (a) já participava de algum movimento de militância? (partido, sindicato,

associação, outros) antes de entrar na luta pela posse da terra?

19-Ocupa algum cargo no coletivo do assentamento? Qual?

20-Existe um lugar específico para os assentados (as) se reunirem? Quais?

21-A cada quanto tempo se reúnem?

22-Qual o objetivo de sua família? Qual de todos os assentados (as)?

23-Qual a atuação do coletivo no assentamento?

34-A participação dos assentados (as) no coletivo sempre foi realizada de forma

homogênea ?

35-Como os assentados se inserem no dia-a-dia do assentamento?

26-A mulher camponesa é subordinada ao homem? ( ) sim ( ) não , como isso

ocorre?

27-Como está organizada a gestão do assentamento?

28-Os lotes foram escriturados em nome do senhor, da sua companheira ou de ambos?

ANEXO 02 - ENTREVISTA 02 UNIVRESIDADE FEDERAL DA PARAÍBA-UFPB DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGG Aluno: João Tavares Guedes Orientadora: Drª. Maria Franco Garcia

Co-orientador: Dr. Fernando Garcia de Olive 2- Entrevista ao Presidente do Sindicato Rural de Massaranduba – PB. 1-Nome: ____

2-Município de origem: ____________________ UF: ______________________

3-Formação / Escolaridade: _________________________________________

4-Você é proprietário de terra? ( ) sim ( ) não; onde se localiza sua propriedade?

_____________

5-Qual o período que ocupa este cargo no Sindicato?

____________________________

6-Já ocupou outro cargo nessa entidade antes de se eleger presidente? Qual?

__________________

6-Qual a importância do Sindicato para o desenvolvimento agrícola do município?

Como isso tem se processado?

7-Os trabalhadores rurais do município acreditam na importância do trabalho

desenvolvido pelo Sindicato? ( ) sim ( ) não; porque?

8-Qual a participação dos assentados (as) de Imbiras no Sindicato? De que forma isso

ocorre?

9-Como se deu à participação do Sindicato na comunidade de Imbiras no momento de

luta pela posse da terra?

10-Quais as formas de atuação do Sindicato no assentamento no momento da luta de

luta pela posse da terra?

11-Qual a origem da mobilização dos trabalhadores antes do assentamento? ________

12-Além do Sindicato que entidades estiveram envolvidas na luta pela posse da terra

em Imbiras?

13-A participação dessas entidades destacou-se da participação desempenhada pelo

Sindicato? 14-De que forma isso ocorreu?

15-Qual a participação do Sindicato no que se refere à distribuição das parcelas de

terra entre as famílias?

16-Hoje como se dá a participação do Sindicato nesse assentamento?

17-O Sindicato proporciona algum curso de capacitação as famílias assentadas?

Quais?

18-Qual a origem dos recursos que o Sindicato utiliza para fomentar o desenvolvimento

territorial do assentamento de Imbiras?

19-O assentamento oferece perspectivas positivas para as famílias? Quais?

20-Como se configurou a participação das mulheres no processo de ocupação da terra

em Imbiras?

21-Qual a relação dos assentados e assentadas com o Sindicato?

22-O Sindicato já apresentou algum projeto de desenvolvimento local para a

comunidade de Imbiras? ( ) sim ( ) não; quais?

23-Como os assentados (as) acataram a idéia de instalação desses projetos?

24-Existe por parte do Sindicato alguma política na produção e divisão do trabalho no

assentamento de Imbiras? ( ) sim ( ) não; Quais? Porque?

25-Como você vê a inserção das mulheres na produção e divisão do trabalho no

assentamento de Imbiras?

26-Como se processa a participação dos jovens e idosos no sindicato

27-Quais políticas o Sindicato tem direcionado para os jovens assentados de Imbiras?

28-Existe parceria entre o Sindicato e outras entidades para fomentar o

desenvolvimento locas do assentamento de Imbiras? ( ) sim ( ) não; quais?

29-Qual a relação do sindicato com os membros da associação de trabalhadores rurais

do assentamento de Imbiras?

30-O sindicato se faz presente nas reuniões da associação de Imbiras?

31-Qual a importância da parceria entre o sindicato e a associação dos trabalhadores

rurais de Imbiras?

ENEXO 02- ENTREVISTA 03 UNIVRESIDADE FEDERAL DA PARAÍBA-UFPB DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGG Aluno: João Tavares Guedes

Orientadora: Drª. Maria Franco Garcia

Co-orientador: Dr. Fernando Garcia de Oliveira 3- Entrevista ao Presidente da Associação dos Assentados de Imbiras. 1-Nome:

______________________________________________________________________

2-Idade: _________ Município de origem: ____________________UF: _____

3-Formação / Escolaridade: ____________________________________

4-Qual a estrutura da associação?

5-Como ocorre o processo de escolha da direção da mesma?

6-Você é proprietário de terra no assentamento? ( ) sim ( ) não.

7-Quantos membros de sua família moram com você? ______________

8-Seus filhos estudam? Quantos? ___: no assentamento fora do assentamento? __

Onde?________________________________________________________________

9-Há quanto tempo você e sua família moram nessa localidade? ______________

10-A organização dos trabalhos em associação ocorreu em que período? ___________

11-A associação conta com quantos membros? _____________________________

12-Quais as formas de organização existente em Imbiras antes da criação desta

associação?

13-O que é discutido na associação? _____________________________________

14-Os problemas do assentamento são freqüentemente levados à discussão nas

reuniões realizadas na associação?

__________________________________________________________________

15-De que forma a associação tem contribuído para o desenvolvimento do

assentamento?

16-A associação trabalha em parceria com alguma entidade? ( ) sim ( ) não; quais?

17-Como se encontra a participação dos assentados (as) na organização desta

associação?

18-As mulheres desempenham papel importante nessa associação? ( ) sim ( ) não;

quais?

19-O associativismo proporcionou algum tipo de melhoria na vida dos assentados/

assentadas?

( ) sim ( ) não; quais?

20-A associação controla ou participa das decisões do que deve ser produzido nas

parcelas?

( ) sim ( ) não

21-A organização e comercialização da produção é tarefa da associação ou do próprio

assentado individualmente?

22-A produção é direcionada apenas para o abastecimento das necessidades básicas

das famílias assentadas?

23-A produção e reprodução da vida no assentamento é algo garantido ou incerto?

ENEXO 02- ENTREVISTA 04 UNIVRESIDADE FEDERAL DA PARAÍBA-UFPB DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGG Aluno: João Tavares Guedes

Orientadora: Drª. Maria Franco Garcia

Co-orientador: Dr. Fernando Garcia de Oliveira

4- Entrevista ao secretário de agricultura do municipio de Massaranduba-PB Entrevistado: ----------------------------------------------------------

1- Qual o papel da Secretaria da Agricultura no que se refere ao

desenvolvimento do Assentamento de Imbiras?

2- A secretaria da agricultura prestou algum apoio aos posseiros no período

que marcou o conflito pela posse da terra em Imbiras? ( ) sim ( ) não

Há políticas agrícolas destinada ao assentamento? ( ) sim ( ) não

3- Qual (ais)?

3- Como elas estão sendo implantadas?

4- Os representantes dos assentados participam efetivamente do trabalho

desenvolvido pela secretaria da agricultura no assentamento?

( ) sim ( ) não

5- Existe algum projeto em desenvolvimento no Assentamento de Imbiras oferecido

pela secretaria da agricultura local?

( ) sim ( ) não

6- Quais projetos estão sendo realizados atualmente no Assentamento de Imbiras?

7- O assentamento se diferencia das demais comunidades rurais do município? ( )

sim ( ) não

8- Isso ocorre através de melhorias na (o):

( ) nível de vida

( ) produção

( ) na comercialização dos produtos

( ) nas relações de trabalhos

( ) na oferta de alimentos

( ) na utilização de insumos

( ) no uso de máquinas

( ) na conservação os recursos naturais

( ) na forma do organização

( ) no acompanhamento técnico

9- O nível de desenvolvimento do assentamento é em sua opinião:

( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) ruim ( ) péssimo

10- Outras entidades realizam trabalhos no assentamento? ( ) sim ( ) não

11- Qual (ais)?

12- Existe parceria entre o conselho e essas entidades? ( ) sim ( ) não

13- Como essas parcerias se estabelecem?

14- O que falta para que o assentamento posse desenvolver seu potencial?

( ) recursos financeiros

( ) recursos técnicos

( ) mais apoio dos órgãos públicos

( ) criação de cooperativas para a produção e comercialização

( ) manejo correto dos recursos naturais

( ) mais utilização de máquinas e insumos agrícola

( ) vontade para melhorar a produção

( ) mão-de-obra para o cultivo

( ) conhecimento do potencial agrícola da região

( ) mudar o tipo de atividade produtiva

( ) diversificar a produção

( ) homogeneizar a produção

ENEXO 02- ENTREVISTA 05 UNIVRESIDADE FEDERAL DA PARAÍBA-UFPB DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA-PPGG Aluno: João Tavares Guedes

Orientadora: Drª. Maria Franco Garcia

Co-orientador: Dr. Fernando Garcia de Oliveira

5- Entrevista ao extencionista da EMATER do municipio de Massaranduba-PB Entrevistado: ----------------------------------------------------------

1-De que forma a EMATER se faz presente no Assentamento de Imbiras?

2-A EMAER prestou algum apoio aos posseiros no período

que marcou o conflito pela posse da terra em Imbiras? ( ) sim ( ) não

3-Há políticas agrícolas destinada ao assentamento? ( ) sim ( ) não

4-Qual (ais)?

5-Como elas estão sendo implantadas?

6-Os representantes dos assentados participam efetivamente do trabalho

desenvolvido pela EMATER no assentamento?

( ) sim ( ) não

7-Existe algum projeto em desenvolvimento no Assentamento de Imbiras oferecido

pela EMATER local?

( ) sim ( ) não

8-Quais projetos estão sendo realizados atualmente no Assentamento de Imbiras?

9-O assentamento se diferencia das demais comunidades rurais do município? ( )

sim ( ) não

10-Isso ocorre através de melhorias na (o):

( ) nível de vida

( ) produção

( ) na comercialização dos produtos

( ) nas relações de trabalhos

( ) na oferta de alimentos

( ) na utilização de insumos

( ) no uso de máquinas

( ) na conservação os recursos naturais

( ) na forma do organização

( ) no acompanhamento técnico

11-O nível de desenvolvimento do assentamento é em sua opinião:

( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) ruim ( ) péssimo

12-Outras entidades realizam trabalhos no assentamento? ( ) sim ( ) não

13-Qual (ais)?

14-Existe parceria entre o conselho e essas entidades? ( ) sim ( ) não

15- Como essas parcerias se estabelecem?

16- O que falta para que o assentamento posse desenvolver seu potencial?

( ) recursos financeiros

( ) recursos técnicos

( ) mais apoio dos órgãos públicos

( ) criação de cooperativas para a produção e comercialização

( ) manejo correto dos recursos naturais

( ) mais utilização de máquinas e insumos agrícola

( ) vontade para melhorar a produção

( ) mão-de-obra para o cultivo

( ) conhecimento do potencial agrícola da região

( ) mudar o tipo de atividade produtiva

( ) diversificar a produção

( ) homogeneizar a produção

ANEXO 03- FOTOGRAFIAS

Figura 01: Prédio da Associação Comunitária dos Assentados

de Imbiras.

Figura 02: Antiga casa e taipa a esquerda em contraste com

casa de alvenaria de construção recente.

Figura 03: Plantação de Banana em primeiro plano e no fundo

Plantação de laranja.

Figura 04: Escavação para construção de cisternas de placas

no assentamento de Imbiras.

Figura 05: Decadente plantação de Bananas no assentamento.

Figura 06: Estaca de concreto utilizada pelo INCRA para demarcar os

limites das parcelas.

Fonte: Pesquisa de campo, Guedes, Imbiras/ Massaranduba-PB, Novembro de

2006