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    CAPTULO 6: UMIDADE DO AR

    6.1 PRESSO PARCIAL E A LEI DE DALTON

    O ar uma mistura de gases e, como foi visto em aulas anteriores, o ar se comporta como um gs ideal. Lembrando do conceito de um gs ideal (suas molculas no ocupam espao e elas tampouco interagem), no difcil entender que uma mistura de gases ideais tambm um gs ideal. Podemos ento utilizar a equao universal dos gases ideais

    nRTPV = (6.1) para estudar a mistura ideal. Neste caso, P a presso total da mistura, V o volume do recipiente e n o nmero de moles, ou seja

    KK ++++= innnn 21 (6.2) onde i o nmero do i-simo componente da mistura. A razo fi = ni/n chamada de frao molar. Para qualquer componente podemos escrever

    RTnVP ii = (6.3) onde pi a chamada presso parcial do gs considerado na mistura. Comparando as relaes acima, temos

    KK ++++= iPPPP 21 (6.4) A equao 6.4 a expresso matemtica da Lei de Dalton: a presso

    total de uma mistura de gases ideais igual soma das presses parciais dos gases ideais constituintes. Uma outra forma de escrever esse resultado , combinando as equaes 6.1 e 6.3:

    iiiii fPPf

    nn

    PP

    .=== (6.5)

    Estes resultados so de grande importncia na determinao das propriedades das misturas gasosas como o ar atmosfrico.

    Exemplo 1: Calcular a concentrao de um componente do ar A concentrao de CO2 no ar atmosfrico em 1985 foi estimada em

    344 ppm. Qual foi a concentrao de CO2 naquele ano em gramas por metro cbico? (considere Patm = 105 Pa e T = 300 K; a massa molecular de CO2 44 g/mol).

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    Soluo: Utilizando a equao 6.5, temos, nesse caso:

    22 . COCO fPP = Como fCO2 = 344 ppm, ou seja, 344/106 ou 344.10-6, temos

    4,3410.344.10 652 == COP Pa. Para calcular a concentrao em mol/m3, reescrevemos a equao 6.3 como

    ===300.314,84,3422

    RTP

    Vn COCO 1,38.10-2 mol m-3

    Convertendo esse resultado para g/m3 obtemos:

    1,38.10-2 mol m-3 . 44 g mol-1 = 0,61 g m-3

    6.2 COMPOSIO DO AR

    O ar seco composto de nitrognio, oxignio e argnio, alm de outros componentes como dixido de carbono, hidrognio, hlio, non e outros. Os primeiros trs componentes compem praticamente a totalidade, como mostra a Tabela 1 com maiores detalhes. Nota-se que estas porcentagens refletem fraes molares ou de presso parcial, conforme visto no item anterior.

    Tabela 1 - Composio do ar seco temperatura de 15C e presso de 101325 Pa* Molcula Smbolo Massa molecular

    (g mol-1) ni / n (%)

    Nitrognio N2 28 78,084 (78) Oxignio O2 32 20,9476 (21) Argnio Ar 40 0,934 (1) Dixido de Carbono CO2 44 0,0314 Non Ne 20,2 0,001818 Metano CH4 16 0,0002 Hlio He 4 0,000524 Criptnio Kr 83,8 0,000114 Hidrognio H2 2 0,00005 Xennio Xe 131,3 0,0000087 *Fonte: CRC Handbook of Chemistry and Physics, David R. Lide, Editor-in-Chief, 1997 Edition

    Alm desses componentes, o ar atmosfrico sempre contm quantidade varivel de vapor dgua conforme a temperatura, regio, estao, etc. Esse vapor, resultante da evaporao das guas dos mares, rios e lagos, sobretudo pela ao do calor solar, mistura-se com o ar atmosfrico e passa a fazer parte de sua composio. Devem-se ao vapor de gua diversos fenmenos relevantes na vida de animais e plantas, como a chuva, neve, etc.

  • Captulo 6: Umidade do ar

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    Em condies normais, o teor de gua (em estado de vapor) na atmosfera varia de praticamente 0 a 5%, em funo dos elementos constituintes da atmosfera. O contedo de vapor dgua maior no equador do que nos plos e diminui com a altitude tornando-se quase desprezvel acima de 10.000 m.

    Exemplo 2: Calcular a composio do ar com teor de gua de 4% Considerando apenas os componentes principais do ar: nitrognio

    (78%), oxignio (21%) e argnio (1%), calcular a composio do ar com teor de gua de 4%

    Soluo: Se a gua vem a ocupar 4%, ento a soma dos demais componentes representar 100-4=96%. Mantendo a proporo 78-21-1 teremos:

    Nitrognio: 78 x 0,96 = 74,88%

    Oxignio: 21 x 0,96 = 20,16%

    Argnio: 1 x 0,96 = 0,96%

    gua: 4,00%

    TOTAL: 100,0%

    Exemplo 3: Calcular a densidade do ar seco e do ar com teor de gua de 4% Considerando apenas os componentes principais do ar: nitrognio

    (78%), oxignio (21%) e argnio (1%), calcular a densidade do ar seco e do ar com teor de gua de 4% presso de 105 Pa e temperatura de 298 K.

    Soluo: Reescrevendo a equao 6.1 temos

    298.314,8

    105==RTP

    Vn = 40,36 mol m-3

    Para o ar seco:

    Nitrognio: 40,36 x 78% = 31,5 mol m-3 x 28 g mol-1 = 881,5 g m-3 Oxignio: 40,36 x 21% = 8,48 mol m-3 x 32 g mol-1 = 271,2 g m-3 Argnio: 40,36 x 1% = 0,404 mol m-3 x 40 g mol-1 = 16,1 g m-3

    Total ar seco: 1168,8 g m-3 = 1,17 kg m-3

    Para o ar mido (4% gua):

    Nitrognio: 40,36 x 74,9% = 30,2 mol m-3 x 28 g mol-1 = 846,2 g m-3 Oxignio: 40,36 x 20,2% = 8,14 mol m-3 x 32 g mol-1 = 260,4 g m-3 Argnio: 40,36 x 0,96% = 0,387 mol m-3 x 40 g mol-1 = 15,5 g m-3 gua : 40,36 x 4% = 1,61 mol m-3 x 18 g mol-1 = 29,1 g m-3

    Total ar mido: 1151,2 g m-3 = 1,15 kg m-3

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    6.3 PRESSO DE VAPOR

    No item anterior foi visto que o ar, em condies atmosfricas normais, contm um certo teor de gua. Pela Lei de Dalton (equao 6.5) existir portanto uma presso parcial desse vapor de gua. Essa presso de grande importncia para muitos fenmenos ligados meteorologia e agronomia pois, em conjunto com outros fatores como temperatura, vento etc., determina a taxa de evaporao da gua lquida. Pela sua importncia, a presso de vapor recebe um smbolo prprio, ea. Aplicando a Lei de Dalton aos dados do exemplo 3 acima (ar com 4% de umidade), calculamos por exemplo que

    04,0.2 PPe OHa == = 105.0,04 = 4000 Pa A gua contida no ar pode se tornar lquida num processo chamado

    condensao. A condensao ocorre geralmente no caso de um esfriamento do ar. Exemplos so a condensao sobre vidros, o orvalho que se forma de madrugada nas folhas de plantas e a prpria formao de nuvens. Esses fenmenos ocorrem quando a presso de vapor do ar (ea) se torna superior presso de vapor saturado (es), que funo de sua temperatura. Quanto maior a temperatura, maior a sua presso de vapor saturado, ou seja, mais gua o ar pode conter. Uma frmula emprica para se calcular es, a equao de Tetens:

    tt

    s Ae += 3,237.3,17

    exp. ou tt

    s Ae += 3,2375,7

    10. (6.6)

    O parmetro A equivale a 610,8 Pa (para resultados em Pa), 0,6108 kPa (para resultados em kPa) ou 4,58 mmHg (para resultados em mmHg). A temperatura t, ao contrrio da maioria das equaes na Fsica, dada em graus Celsius (C). A figura 6.1 mostra graficamente a presso de vapor em funo da temperatura.

  • Captulo 6: Umidade do ar

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    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

    temperatura (C)

    pres

    so

    de v

    apor

    satu

    rado

    (kPa

    )

    Figura 6.1 - Representao grfica da equao de Tetens para o clculo da

    presso de vapor saturado (es) em funo da temperatura no intervalo 0-100 C

    Exemplo 4: Calcular a presso de vapor saturado utilizando a equao de Tetens.

    Calcular a presso de vapor saturado para as temperaturas de 10 C, 20 C, 30 C e 100 C.

    Soluo: Substituindo o valor da temperatura na equao de Tetens (equao 6, obtemos o valor da presso de vapor saturado:

    103,23710.3,17

    10, exp.8,610+=se = 1229,5 Pa = 1,23 kPa

    203,23720.3,17

    20, exp.8,610+=se = 2343,7 Pa = 2,34 kPa

    303,23730.3,17

    30, exp.8,610+=se = 4257,4 Pa = 4,26 kPa

    1003,237100.3,17

    100, exp.8,610+=se = 103.129 Pa = 103 kPa

    Observe que os valores da presso de vapor saturado para temperaturas ambientes esto na ordem de 1 a 5 kPa; cada kPa corresponde a 1% da presso atmosfrica padro e conclumos, portanto, que a presso de vapor saturado representa, a temperaturas ambientais comuns, em torno de 1 a 5% da presso total. Observando a

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    presso de vapor saturado de 100 C, verifica-se que esta praticamente igual presso atmosfrica padro. Isso faz com que a gua, a essa temperatura, entra em ebulio, isto , bolhas de vapor conseguem formar-se dentro do prprio lquido, uma vez que sua presso igual ou levemente maior que a do ar.

    Exemplo 5: Qual a temperatura de ebulio da gua em Piracicaba? Piracicaba encontra-se a uma altitude de quase 600 m, onde a presso

    do ar , em mdia, 94 kPa, isto , 94% da presso padro ao nvel do mar. A que temperatura a gua entra em ebulio em Piracicaba?

    Soluo: A questo se resume em determinar para qual temperatura a presso de vapor saturado de gua equivale e 94 kPa. Invertendo a equao de Tetens obtemos

    Ae

    Ae

    ts

    s

    ln3,17

    ln3,237

    = (6.7)

    Nessa equao, fazendo es = 94 kPa e A = 0,6108 kPa, obtemos t = 97,5 C. Essa a temperatura de ebulio da gua presso atmosfrica de 94 kPa, como em Piracicaba.

    6.4 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS PARA DETERMINAO DA UMIDADE RELATIVA DO AR

    Higrmetro

    Algumas substncias com capacidade de absorver a umidade atmosfrica servem como elemento bsico para a construo de higrmetros. Entre elas esto o cabelo humano e sais de ltio. No higrmetro construdo com cabelo humano, uma mecha de cabelos colocada entre um ponto fixo e outro mvel e, segundo a umidade a que est submetida, ela varia de comprimento, arrastando o ponto mvel. Esse movimento transmitido a um ponteiro que se desloca sobre uma escala, na qual esto os valores da umidade relativa. Outro tipo de higrmetro o que se baseia na variao de condutividade de sais de ltio, os quais apresentam uma resistncia varivel de acordo com a gua absorvida. Um ampermetro com sua escala devidamente calibrada fornece os valores de umidade do ar.

    Psicrmetro

    Outra maneira de medir a umidade relativa calcular a velocidade de evaporao da gua. Para isso, dois termmetros de mercrio idnticos so expostos ao ar: um traz o bulbo descoberto (bulbo seco); outro tem o bulbo coberto por gaze umedecida (bulbo mido), os quais recebem a denominao de Psicrmetro.

  • Captulo 6: Umidade do ar

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    A temperatura do bulbo mido (tu) , pelo arranjo, inferior a do seco (ts), porque a gua evaporada da gaze resfria o bulbo. Quanto menor a umidade do ar, tanto maior o resfriamento da gaze. A diferena de leitura entre os dois termmetros (ts - tu) tambm chamada de depresso psicromtrica. A partir dela pode ser encontrado a presso de vapor atual do ar (ea) atravs da equao do Psicrmetro, determinada termodinamicamente:

    )(, usatmtusa ttPee = (6.8) Nessa equao, es,tu a presso de vapor temperatura do bulbo

    mido, Patm a presso atmosfrica e a constante psicromtrica. O valor de depende da geometria e da ventilao do psicrmetro. Normalmente utiliza-se

    = 6,67.10-4 K-1 para psicrmetros com ventilao forada = 8,0.10-4 K-1 para psicrmetros sem ventilao forada

    Exemplo 6: Qual a presso de vapor do ar em funo da leitura de um psicrmetro?

    Observa-se, num psicrmetro sem ventilao forada, uma temperatura do bulbo seco de 28,2 C e uma temperatura do bulbo mido de 21,6 C. A presso atmosfrica de 0,94.105 Pa. Calcular a presso de vapor.

    Soluo: Utilizamos a equao do psicrmetro (equao 6.8) para resolver a questo. Calculamos es,tu pela equao de Tetens (equao 6.6), com t = tu = 21,6 C, resultando em es,tu = 2588 Pa. Ento:

    == )6,212,28(10.94,0.10.0,82588 54ae 2091 Pa

    6.5 UMIDADE ABSOLUTA

    A umidade absoluta do ar (UA, kg m-3 ou g m-3) definida como a razo entre a massa de vapor de gua e o volume do ar. A partir da presso de vapor atual, ela pode ser calculada utilizando-se a equao universal dos gases:

    RTP

    Vn = ou, para a presso parcial do vapor:

    RTe

    Vn aOH =2 (mol m-3)

    Para transformar esse resultado em g m-3, multiplicamos o resultado pela massa molecular da gua (MH2O):

    OHa M

    RTe

    UA 2= (6.9)

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    0,835 mol m-3 x 18 g mol-1 = 15,0 gramas de gua por m3 de ar.

    6.6 UMIDADE RELATIVA E DFICIT DE VAPOR

    Dois parmetros importantes para a caracterizao do ar so a umidade relativa (UR) e o dficit de vapor ou dficit de saturao (e). A umidade relativa definida como

    s

    a

    eeUR = (6.10)

    O dficit de vapor calculado como

    as eee = (6.11) e pode ser expresso em Pa, kPa, atm, ou outras unidades de presso, dependendo da unidade escolhida para es e ea. A Figura 6.2 representa e graficamente.

    Figura 6.2 - Representao grfica do dficit de vapor ou dficit de saturao.

    A umidade relativa de grande importncia meteorolgica e agronmica, pois determina entre outros fatores a taxa de evaporao da gua. Assim, para o homem, considera-se que a faixa de umidade relativa de 40 a 70% proporciona conforto mximo. Acima de 70%, a umidade relativa alta, o que se reflete na dificuldade de a gua evaporar: o ambiente fica abafado. Abaixo de 40%, a evaporao ocorre com muita facilidade, refletindo em problemas respiratrios, garganta e nariz secos, etc. Para as plantas, da mesma forma que para o homem, uma umidade relativa baixa resulta em altas taxas de transpirao; conseqentemente, a planta deve extrair a gua do solo a taxas maiores.

    A importncia do dficit de vapor est no fato de este parmetro descrever qual a capacidade de absoro de gua do ar.

  • Captulo 6: Umidade do ar

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    Exemplo 7: Calcular a umidade relativa e o dficit de vapor Qual a umidade relativa e o dficit de vapor nas condies

    atmosfricas do exemplo 6?

    Soluo: No exemplo 6 j foi calculado a presso de vapor atual ea = 2091 Pa. Calculamos es pela equao de Tetens (equao 6.6), com t = 28,2 C, resultando em es = 3838 Pa. Portanto:

    Equao 6.10: 545,038382091 ===

    s

    a

    ee

    UR ou 54,5%

    Equao 6.11: 174720913838 === as eeD Pa Exemplo 8: Calcular a umidade absoluta do ar

    Qual a umidade absoluta (quantos gramas de gua cada m3 de ar contm) nas condies atmosfricas descritas no exemplo 6? Quantos gramas de gua seriam necessrios para lev-lo a saturao?

    Soluo: Utilizando a equao 6.9, obtemos

    3,301.314,8

    20912 == OHa MRT

    eUA x 18 = 15,0 gramas de gua por m3 de ar.

    Para calcular quantos gramas de gua seriam necessrios para levar esse ar a saturao, calculamos a umidade absoluta do ar saturado:

    3,301.314,8

    38382 == OHa MRT

    eUA x 18 = 27,6 gramas de gua por m3 de ar.

    Para saturar o ar, devemos elevar seu teor de gua de 15,0 a 27,6 g m-3, acrescentando portanto 12,6 g m-3.

    6.7 TEMPERATURA DO PONTO DE ORVALHO

    No exemplo 8 acima vimos que podemos levar o ar saturao acrescentando gua. Uma outra forma de se obter um ar saturado com gua e reduzir a sua temperatura. Reduzindo a temperatura, mantendo o teor de gua constante, aumentamos a umidade relativa, pois reduzimos a presso de vapor saturado. Numa determinada temperatura, chamada a temperatura do ponto de orvalho (to), a presso de vapor torna-se igual presso de vapor saturado quela temperatura e, portanto, a umidade relativa ser de 100%. Dessa forma, es,to = ea e, em analogia equao 6.7:

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    10

    Ae

    Ae

    ta

    a

    oln3,17

    ln3,237

    = ou

    Ae

    Ae

    ta

    a

    olog5,7

    log3,237

    = (6.12)

    A temperatura de orvalho um indicador das condies atmosfricas. Uma temperatura de orvalho prxima temperatura atual indica uma alta umidade relativa. Em relao previso de geadas, uma temperatura de orvalho acima de 0 C normalmente indica a ausncia de ocorrncia de geadas, pois nessa temperatura que, durante um resfriamento noturno, a gua comea a condensar, liberando sua energia latente e aquecendo o ar. Alm disso, a formao de neblina nessas condies, se ocorrer, protege a superfcie do solo e das plantas da perda de energia radiativa.

    A Figura 6.3 representa, graficamente, a temperatura do ponto de orvalho.

    Figura 6.3 - Representao grfica da temperatura do ponto de orvalho.

    Exemplo 9: Calcular a temperatura do ponto de orvalho Calcular a temperatura do ponto de orvalho nas condies

    atmosfricas descritas no exemplo 6.

    Soluo: Utilizando a equao 6.12 com o valor de ea obtido no exemplo 6 temos:

    6112091ln3,17

    6112091ln3,237

    =ot = 18,2 C

  • Captulo 6: Umidade do ar

    11

    6.8 COMPORTAMENTO DIRIO DA UMIDADE DO AR

    Em condies meteorolgicas estveis, o teor de gua na atmosfera e, portanto, a presso de vapor permanece aproximadamente constante ao longo de um dia. Ao mesmo tempo, a temperatura apresenta um ciclo dirio, apresentando um mximo no incio da tarde e um mnimo na madrugada. Sendo assim, a presso de vapor saturado, funo da temperatura, apresenta um mximo e mnimo nos mesmos horrios que a temperatura. A umidade relativa, razo entre presso de vapor atual e saturado, conseqentemente tem seu mnimo quando a temperatura mxima, e vice-versa. Esses fatos podem ser verificados na Figura 6.4, que mostra a presso de vapor, temperatura, presso de vapor saturado, e umidade relativa do ar ao longo do dia 2 de setembro de 1999, um dia muito seco em Piracicaba. Observe que a umidade relativa, no perodo da tarde, est prxima a 20%. Durante a noite, devido diminuio da temperatura, a umidade relativa aumenta at valores prximos de 80%.

    02-Set-1999

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    6000

    0 3 6 9 12 15 18 21 24

    hora do dia

    pres

    so

    de v

    apor

    (Pa)

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    UR

    (%) -

    T (

    C)

    presso de vapor saturado

    presso de vapor atual

    temperatura

    umidade relativa

    Figura 6.4 - Presso de vapor, temperatura, presso de vapor saturado, e umidade

    relativa do ar ao longo do dia 2 de setembro de 1999, em perodo seco, em Piracicaba.

    A Figura 6.5 mostra os mesmos parmetros para um dia de vero, em perodo mido. A umidade relativa atinge um mnimo de aproximadamente 50%, de tarde, e um mximo de 100%, durante a noite. A ocorrncia de saturao do ar durante a noite proporciona condies para a formao de orvalho e/ou neblina. Observe que, de mesma forma que na figura 6.4, a presso de vapor atual mantm-se aproximadamente constante ao longo do dia.

    LCE0200 Fsica do Ambiente Agrcola

    12

    09-Jan-2000

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    4000

    4500

    5000

    0 3 6 9 12 15 18 21 24

    hora do dia

    pres

    so

    de v

    apor

    (Pa)

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    UR

    (%) -

    T (

    C)

    presso de vapor saturado

    presso de vapor atual

    temperatura

    umidade relativa

    Figura 6.5 - Presso de vapor, temperatura, presso de vapor saturado, e umidade

    relativa do ar ao longo do dia 9 de janeiro de 2000, em perodo mido, em Piracicaba.

    A Figura 6.6 representa um dia chuvoso. Verifica-se uma umidade relativa prxima a 100% durante o dia todo

    13-Jan-2002

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    0 3 6 9 12 15 18 21 24

    hora do dia

    pres

    so

    de v

    apor

    (Pa)

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    UR

    (%) -

    T (

    C)

    presso de vapor saturado

    presso de vapor atual

    temperatura

    umidade relativa

    Figura 6.6 - Presso de vapor, temperatura, presso de vapor saturado, e umidade

    relativa do ar ao longo do dia 13 de janeiro de 2002, um dia chuvoso, em Piracicaba.

  • Captulo 6: Umidade do ar

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    EXERCCIOS

    6.1 Em determinado momento observa-se, num psicrmetro, uma temperatura do bulbo seco de 28 C e uma temperatura do bulbo mido de 22 C. A presso atmosfrica de 0,94.105 Pa. Calcular a presso de vapor, a umidade relativa do ar e o dficit de vapor. (R: 2200 Pa; 58,0%; 1593 Pa)

    6.2 Nas condies da questo anterior, qual volume de gua deveria ser evaporado para saturar com vapor de gua 1 m3 de ar? Qual seria o calor envolvido nessa evaporao? (R: 11,5 ml; 28 kJ)

    6.3 O ar dentro de uma cozinha apresenta os seguintes valores psicromtricos: temperatura do bulbo seco de 28 C e temperatura do bulbo mido de 20 C. A presso atmosfrica de 105 Pa. Encontra-se, nesta cozinha, uma geladeira desligada com um volume interno de 250 l. Liga-se a geladeira e, aps algum tempo, a temperatura no seu interior atinge 6 C. Considerando o interior da geladeira como um sistema fechado, quanta gua ter condensado no interior da geladeira? Qual o calor desse processo de condensao? (R: 1,24 ml; 3,04 kJ)

    6.4 A presso de vapor saturado de mercrio temperatura de 293 K 0,16 Pa. A essa temperatura, quantos gramas de mercrio (mHg = 200,6 g mol-1) so necessrios para saturar com vapor de mercrio 500 m3 de ar? (R: 6,59 g)

    6.5 Um reservatrio de ar de 100 litros, fechado, encontra-se temperatura de 300 K e umidade relativa de 10%. Coloca-se dentro do reservatrio uma proveta com 100,00 ml de gua.

    a) Qual a presso de vapor no reservatrio umidade relativa de 10% ? (R: 356 Pa)

    b) Qual ser o volume de gua na proveta quando a umidade relativa atingir 100%? (R: 97,69 ml)

    c) Considerando que a temperatura se manteve constante, quanto calor foi absorvido pelo reservatrio durante o processo de evaporao? (R: 5,63 kJ)

    LCE0200 Fsica do Ambiente Agrcola

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    6.6 Numa manh observa-se, num psicrmetro, uma temperatura do bulbo seco de 16 C e uma temperatura do bulbo mido de 15 C. A presso atmosfrica de 0,94.105 Pa.

    a) Em condies meteorolgicas estveis, qual ser a umidade relativa do ar quando, ao meio-dia do mesmo dia, a temperatura atinge 27 C? (R: 46%)

    b) Nestas condies, em que altura acima da superfcie pode-se esperar a formao de nuvens dado que o gradiente trmico (decrscimo da temperatura com a altura) de 0,6 C/100 m? (R: 2100 m)

    6.7 Num final de tarde de inverno observa-se uma temperatura do bulbo seco de 12 C e uma temperatura do bulbo mido de 7,5 C. A presso atmosfrica de 105 Pa. Considerando que, nessas condies, geadas podem ser esperadas se a temperatura do ponto de orvalho for inferior a 0 C, prever o risco de geada. (R: to = 1,4 C; no h risco)

    6.8 Num secador a ar quente verificam-se as seguintes condies: ar de entrada: t = 60 C; UR = 20%; ar de sada: t = 40 C; UR = 65%; vazo: 110 m3 ar por hora. Determinar a quantidade de gua retirada do secador por hora. (R: 36,7 litros/hora)

    6.9 Em uma estufa (200 m3) pulveriza-se 700 gramas (=38,9 mol) de gua; a condio inicial do ar t = 38 C, UR=45%. Sabendo que o calor especfico do ar 1160 J m-3 K-1 e que o calor latente especfico de evaporao da gua 2260 kJ kg-1, determinar:

    a) Qual o abaixamento de temperatura previsto? (R: 6,8 C)

    b) Qual a umidade relativa final? (R:75%)

    6.10 Um suno encontra-se num ambiente onde a temperatura do ar 25 C e a umidade relativa 60%. Sua taxa de respirao est em 15 trocas por minuto (cada troca de ar sendo de 1 litro), totalizando 15 litros por minuto de ar trocado. A temperatura do ar exalado pelo animal 33 C e a umidade relativa desse ar 90%.

    a) Determinar quanta energia o animal troca com o ambiente por minuto na forma de calor sensvel (variao de temperatura) pela via respiratria, sabendo que o calor especfico isobrico do ar 1160 J m-3 K-1. (R: 139,2 J)

    b) Determinar quanta energia o animal troca com o ambiente por minuto na forma de calor latente (mudana de fase, evaporao) pela via respiratria, sabendo que o calor latente especfico de evaporao da gua 44 kJ mol-1. (R: 693 J)

    c) Considere a seguinte alterao nas condies ambientais em que o suno se encontra: um aumento da umidade relativa do ar, enquanto a temperatura permanece constante. Considerando ainda que as caractersticas do ar exalado pelo animal no mudam. Explique se o suno vai ter que aumentar

  • Captulo 6: Umidade do ar

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    ou diminuir a taxa de respirao se ele quiser manter constante o total de energia trocada com o ambiente.