Cap._1_-_Desenvolvimento_Humano

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Psicologia

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Papalia_01.indd 33 01/02/13 09:24Captulo 1pontos principaisDesenvolvimento humano: um campo em constante evoluoO estudo do desenvolvimento humano: conceitos bsicosInfluncias no desenvolvimentoAbordagem de Baltes ao desenvolvimento do ciclo de vidapontos principaisvoc sabia que...Em algumas sociedades no existe o conceito de adolescncia nem o de meia-idade?Hoje muitos acadmicos concordam que o conceito de raa no tem base biolgica?As crianas pertencentes a grupos tnicos minoritrios sero maioria por volta de 2023?Neste captulo descrevemos como o prprio campo do desenvolvimento humano desenvolveu-se. Apresentamos as metas e os conceitos bsicos da rea, identificamos os domnios do desenvolvimento humano e como se inter-relacionam, fazemos um resumo dos principais desenvolvimentos em cada perodo da vida e olhamos para as influncias nodesenvolvimento e os vrios contextos em que ocorrem.voc sabia?O Estudo do Desenvolvimento HumanoNo h nada permanente, exceto a mudana.Herclito, fragmento (sculo VI a.C)Papalia_01.indd 34 01/02/13 09:24Papalia_01.indd 35 01/02/13 09:2436Diane E. Papalia e Ruth Duskin FeldmanDesenvolvimento humano: um campo em constante evoluoDesde o momento da concepo, tem incio nos seres humanos um processo de transformao que continuar at o final da vida. Uma nica clula se desenvolve at se tornar um ser vivo, uma pessoa, que respira, anda e fala. E embora essa clula nica v se tornar um indivduo nico, as transforma-es que as pessoas experimentam durante a vida apresentam certos padres em comum. Os bebs crescem e se tornam crianas, que crescem e se tornam adultos. Igualmente, as caractersticas huma-nas tm padres em comum. Por exemplo, entre 10 e 15% das crianas so coerentemente tmidas, e outras 10 a 15% so muito ousadas. Outras influncias podem modificar esses traos, mas eles tendem a persistir, pelo menos em grau moderado, especialmente em crianas que esto em um extremo ou em outro. Isso discutido com mais detalhes no Captulo 8.O campo do desenvolvimento humano concentra-se no estudo cientfico dos processos siste-mticos de mudana e estabilidade que ocorrem nas pessoas. Os cientistas do desenvolvimento (ou desenvolvimentistas) indivduos empenhados no estudo profissional do desenvolvimento humano observam os aspectos em que as pessoas se transformam desde a concepo at a maturidade, bem como as caractersticas que permanecem razoavelmente estveis. Quais so as caractersticas com mais chances de perdurar? Quais tm mais chances de mudar, e por qu? Essas so algumas das per-guntas que os cientistas do desenvolvimento procuram responder.Otrabalhodoscientistasdodesenvolvimentopodecausarumgrandeimpactonavidadas pessoas. Os resultados das pesquisas muitas vezes tm aplicaes na criao, educao e sade das crianas, e tambm nas diretrizes sociais em relao a elas. Por exemplo, pesquisadores em Boston descobriram que alunos que iam para a escola com fome ou sem os nutrientes essenciais em sua dieta tinham notas mais baixas e mais problemas emocionais e comportamentais do que seus colegas. Depois que as escolas comearam um programa que inclua caf da manh, os alunos participantes melhoraram suas notas de matemtica, faltaram e se atrasaram com menor frequncia e tiveram me-nos problemas emocionais e comportamentais (Kleinman et al., 2002; Murphy et al., 1998). Pesquisas mostrando que o crebro dos adolescentes ainda imaturo motivaram propostas de que adolescentes acusados de crimes sejam isentos da pena de morte. A compreenso do desenvolvimento adulto pode ajudar as pessoas a entender e lidar com as transies da vida: a mulher que volta ao trabalho depois de sair da maternidade, a pessoa que muda de carreira, a viva ou o vivo lidando com sua perda, algum que enfrenta uma doena terminal.ESTUDANDO O CICLO DE VIDAOs cientistas do desenvolvimento reconhecem que o desenvolvimento humano um processo que dura a vida toda um conceito conhecido como desenvolvimento do ciclo de vida. Estudos mais O que desenvolvimento humano e como o seu estudo evoluiu?indicadrdesenvolvimento humanoEstudo cientfico dos processos de transformao e estabilidade ao longo de todo o ciclo de vida humano.Muitos sites na internet que tratam sobre parentalidade apresentam uma lista de marcos importantes que ajudam os pais a acompanhar o desenvolvimento de seu beb. Todos esses exemplos referem-se a normas.desenvolvimento do ciclo de vidaConceito sobre o desenvolvimento humano como um processo que dura a vida toda e que pode ser estudado cientificamente.indicadoresde estudo1.O que desenvolvimento humano e como o seu estudo evoluiu?2.O que os cientistas do desenvolvimento estudam?3.Que tipos de influncia fazem uma pessoa ser diferente da outra?4.Quais so os sete princpios da abordagem ao desenvolvimento do ciclo de vida?Papalia_01.indd 36 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano37antigos como os Estudos de Stanford sobre Crianas Superdotadas, que acom-panharam o desenvolvimento de pessoas que haviam sido identificadas como tendoumaintelignciabemacimadonormaldesdeainfnciaatavelhi-ce,osEstudosdeCrescimentoeOrientaodeBerkeleyeoEstudosobre Crescimento (do Adolescente) de Oakland nos tm dado muitas informaes sobre o desenvolvimento a longo prazo. Mais recentemente, a abordagem ao desenvolvimento do ciclo de vida de Paul B. Baltes, que veremos mais adiante neste captulo, fornece um abrangente arcabouo conceitual para esse estudo.O DESENVOLVIMENTO HUMANO HOJE medida que o campo do desenvolvimento humano tornava-se uma disciplina cientfica, seus objetivos passaram a incluir descrio, explicao, previso e interveno. Por exemplo, para descrever quando a maioria das crianas pro-nuncia sua primeira palavra ou qual o tamanho de seu vocabulrio numa certa idade, os cientistas do desenvolvimento observam grandes grupos de crianas e estabelecem normas, ou mdias, para o comportamento em vrias idades. Eles procuram assim explicar como as crianas adquirem a linguagem, e por que al-gumas crianas aprendem a falar mais tarde do que o usual. Com esse conheci-mento podem-se prever comportamentos futuros, tais como a probabilidade de uma criana ter srios problemas com a fala. Finalmente, o conhecimento de como a linguagem se desenvolve pode ser utilizado para intervir no desenvol-vimento, por exemplo, disponibilizando terapia fonoaudiolgica para a criana.O estudo cientfico do desenvolvimento humano est em constante evoluo. As questes que os cientistas tentam responder, os mtodos que utilizam e as explicaes que propem so mais sofisticados e mais diversificados do que eram h dez anos. Essas mudanas refletem progresso no entendimento medida que novas investigaes questionam ou se apoiam naquelas que as antece-deram. Tambm refletem avanos na tecnologia. Instrumentos sensveis que medem os movimentos dos olhos, ritmo cardaco, tenso muscular e coisas do gnero esto revelando interessantes conexes entre funes biolgicas e inteligncia infantil. A tecnologia digital e os computadores permitem aos pesquisadores escanear as expresses faciais em busca dos primeiros sinais de emoes e analisar como mes e bebs se comunicam. Avanos nas tcnicas de imageamento possibilitam sondar os mistrios do temperamento ou comparar o crebro de um idoso com o crebro de uma pessoa com demncia.Quase desde o comeo, o estudo do desenvolvimento humano tem sido interdisciplinar. Alimen-ta-se de um amplo espectro de disciplinas que incluem psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, gentica, cincia da famlia (estudo interdisciplinar sobre as relaes familiares), educao, histria e medicina. Este livro traz descobertas de pesquisas em todas essas reas.O estudo do desenvolvimento humano: conceitos bsicosOs cientistas do desenvolvimento estudam os processos de mudana e estabilidade em todos os dom-nios, ou aspectos, do desenvolvimento durante todos os perodos do ciclo de vida.DOMNIOS DO DESENVOLVIMENTOOs cientistas do desenvolvimento estudam os trs principais domnios, ou aspectos, do eu: fsico, cog-nitivo e psicossocial. O crescimento do corpo e do crebro, as capacidades sensoriais, as habilidades motoras e a sade fazem parte do desenvolvimento fsico. Aprendizagem, ateno, memria, lin-guagem, pensamento, raciocnio e criatividade compem o desenvolvimento cognitivo. Emoes, personalidade e relaes sociais so aspectos do desenvolvimento psicossocial.Embora neste livro tratemos separadamente do desenvolvimento fsico, cognitivo e psicossocial, esses domnios esto inter-relacionados: cada aspecto do desenvolvimento afeta os outros. Como j O que os cientistas do desenvolvimento estudam?indicadrdesenvolvimento fsicoCrescimento do corpo e do crebro, incluindo os padres de mudana nas capacidades sensoriais, habilidades motoras e sade.desenvolvimento cognitivoPadro de mudana nas habilidades mentais, tais como aprendizagem, ateno, memria, linguagem, pensa-mento, raciocnio e criatividade.desenvolvimento psicossocialPadro de mudana nas emoes, per-sonalidade e relaes sociais.As tcnicas de imageamento cerebral, como a resso-nncia magntica funcional (fMRI), a tomografia por emissodepsitron(PET)eoeletroencefalograma (EEG), so usadas para mapear a localizao de cer-tos processos mentais nesse rgo.verificadorvoc capaz de...Dar exemplos de aplicaes prticas de pesquisas sobre desenvolvimento humano?Identificar quatro metas do estudo cientfico do desenvol-vimento humano?Citar pelo menos seis discipli-nas envolvidas no estudo do desenvolvimento humano?Papalia_01.indd 37 01/02/13 09:2438Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldmandisse um pesquisador, O crebro trabalha melhor, o pensamento mais lcido, o humor mais alegre e a vulnerabilidade doena diminui se estivermos fisicamente em forma (Diamond, 2007, p. 153). Por exemplo, uma criana com frequentes infeces no ouvido poder desenvolver mais lentamente a linguagem do que outra que no tem esse problema fsico. Durante a puberdade, mudanas fsicas e hormonais dramticas afetam o desenvolvimento do senso de identidade. Ao contrrio, mudanas fsicas no crebro de alguns adultos idosos podem levar a uma deteriorao intelectual e da persona-lidade. Avanos e declnios cognitivos esto intimamente relacionados a fatores fsicos, emocionais e sociais. Uma criana precoce no desenvolvimento da linguagem poder provocar reaes positivas nos outros e assim ter ganhos em termos de autovalor. O desenvolvimento da memria reflete ganhos ou perdas nas conexes fsicas do crebro. Um adulto que tem dificuldade para lembrar os nomes das pessoas pode sentir-se tmido em situaes sociais.O desenvolvimento psicossocial pode afetar o funcionamento cognitivo e fsico. De fato, sem co-nexes sociais significativas, a sade fsica e mental ter problemas. A motivao e a autoconfiana so fatores importantes para o sucesso na escola, enquanto emoes negativas como a ansiedade podem prejudicar o desempenho. Pesquisadores chegaram a identificar possveis ligaes entre uma persona-lidade conscienciosa e a durao da vida. Inversamente, as capacidades fsica e cognitiva podem afetar o desenvolvimento psicossocial, alm de contribuir significativamente para a autoestima e poder afetar a aceitao social e a escolha profissional.Embora, por uma questo de simplicidade, consideremos separadamente os desenvolvimentos fsico, cognitivo e psicossocial, trata-se de um processo unificado. Ao longo do texto, sero destacadas as conexes entre os trs principais domnios do desenvolvimento.PERODOS DO CICLO DE VIDAA diviso do ciclo de vida em perodos uma construo social: um conceito ou prtica que pode parecer natural e bvio queles que o aceitam, mas na realidade uma inveno de uma determinada cultura ou sociedade. No h nenhum momento objetivamente definvel em que uma criana se torna adulta ou um jovem torna-se velho. De fato, o prprio conceito de infncia pode ser visto como uma construo social. Ao contrrio da relativa liberdade que tm as crianas hoje nos Estados Unidos, as crianas pequenas no perodo colonial eram tratadas at certo ponto como pequenos adultos, e espera-va-se delas que fizessem tarefas de adultos, como tricotar meias e fiar a l (Ehrenreich e English, 2005). Pais da etnia inuit no rtico canadense acreditam que crianas pequenas no so capazes de pensar e Infeces no ouvido so a causa mais comum de atraso no desenvolvimento da fala em crianas pequenas. Essas infeces preenchem o ouvido interno com um lquido, dificultando a audio do beb e, portanto, o aprendizado da linguagem.construo socialConceito ou prtica que pode parecer natural e bvio queles que o aceitam, mas que na realidade uma inveno de uma determinada cultura ou so-ciedade.Estascrianasestoempenhadasemtodosostrsdomniosdodesenvolvimento:percepo sensorial (desenvolvimento fsico), aprendizagem (desenvolvimento cognitivo) e construo de relaes sociais (desenvolvimento psicossocial).Papalia_01.indd 38 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano39raciocinar e, portanto, so lenientes quando os filhos choram ou ficam bravos. Mas os pais da ilha de Tonga, no Pacfico, costumam bater nas crianas de 3 a 5 anos, cujo choro atribudo teimosia.O conceito de adolescncia como um perodo nico de desenvolvimento nas sociedades indus-triais bem recente. Nos Estados Unidos, at o comeo do sculo XX, os jovens eram considerados crianas at deixarem a escola, casarem ou arranjarem um emprego e entrarem no mundo adulto. Por volta da dcada de 1920, com a criao de escolas de ensino mdio para satisfazer s necessidades de uma economia em crescimento, e com mais famlias capacitadas para sustentar uma educao formal ampliada para seus filhos, a fase da adolescncia tornou-se um perodo distinto do desenvolvimento (Keller, 1999). Em algumas sociedades pr-industriais, como a dos ndios chippewa, o conceito de ado-lescncia no existe. Os chippewa tm apenas dois perodos na infncia: do nascimento at quando a criana comea a andar, e da at a puberdade. Aquilo que chamamos de adolescncia faz parte da vida adulta (Broude, 1995). Conforme veremos no Captulo 16, os gusii do Qunia no tm nenhum conceito de meia-idade.Neste livro, seguimos uma sequncia de oito perodos geralmente aceitos nas sociedades indus-triais ocidentais. Depois de descrever as mudanas cruciais que ocorrem no primeiro perodo, antes do nascimento, traamos todos os trs domnios do desenvolvimento na primeira infncia, segunda infncia, terceira infncia, adolescncia, incio da vida adulta, vida adulta intermediria e vida adulta tardia (Tabela 1.1). Para cada perodo aps a primeira infncia, combinamos o desenvolvimento fsico e o cognitivo num nico captulo.As faixas etrias mostradas na Tabela 1.1 so aproximadas e um tanto arbitrrias. Isso verda-deiro especialmente em relao idade adulta, quando no h referenciais sociais ou fsicos bem definidos, tais como o ingresso na escola ou a entrada na puberdade, para sinalizar a passagem de um perodo para o outro.Embora existam diferenas individuais na maneira como as pessoas lidam com eventos e ques-tes caractersticas de cada perodo, os cientistas do desenvolvimento sugerem que certas necessi-dades bsicas precisam ser satisfeitas e certas tarefas precisam ser dominadas para que ocorra um desenvolvimento normal. Os bebs, por exemplo, dependem dos adultos para comer, vestir-se e obter abrigo,almdecontatohumanoeafeio.Elesformamvnculoscomospaisecuidadores,que tambm se apegam a eles. Com o desenvolvimento da fala e da autolocomoo, os bebs tornam-se mais autoconfiantes; eles precisam afirmar sua autonomia, mas tambm precisam da ajuda dos pais para estabelecer limites ao seu comportamento. Durante a segunda infncia, as crianas passam a ter mais autocontrole e maior interesse por outras crianas. Durante a terceira infncia, o controle sobre o comportamento aos poucos se desloca dos pais para os filhos e os colegas tornam-se cada vez mais importantes. A tarefa central da adolescncia a busca da identidade pessoal, sexual e ocupacional. medida que os adolescentes amadurecem fisicamente, passam a lidar com necessidades e emoes conflitantes enquanto se preparam para deixar o ninho parental.Durante o incio da vida adulta, um perodo exploratrio que vai do incio a meados dos vinte anos,muitaspessoasaindanoestoprontasparasededicarstarefastpicasdejovensadultos: estabelecer estilos de vida independentes, ocupaes e famlias. Por volta dos 30 anos, a maioria dos adultos j cumpriu com sucesso essas tarefas. Durante a vida adulta intermediria, provvel a ocor-rncia de algum declnio nas capacidades fsicas. Ao mesmo tempo, muitos indivduos de meia-idade encontram entusiasmo e desafios nas mudanas de vida uma nova carreira e filhos adultos , en-quanto outros enfrentam a necessidade de cuidar de pais idosos. Na vida adulta tardia, as pessoas pre-cisam enfrentar a perda de suas prprias faculdades, perdas de entes queridos e os preparativos para a morte. Se elas se aposentarem, devero lidar com a perda de relacionamentos ligados ao trabalho, mas podero sentir-se satisfeitas com as amizades, a famlia, com o trabalho voluntrio e a oportunidade de explorar interesses antes negligenciados. Muitas pessoas idosas tornam-se mais introspectivas, buscan-do significado para suas vidas.Influncias no desenvolvimentoO que torna cada pessoa nica? Embora os estudiosos do desenvolvimento estejam interessados nos processos universais de desenvolvimento vivenciados por todos os seres humanos normais, eles tam-verificadorvoc capaz de...Identificar os trs domnios do desenvolvimento e dar exemplos de como eles esto inter-relacionados?Citar oito perodos do de-senvolvimento humano e relacionar vrias questes ou tarefas fundamentais de cada perodo?Que tipos de influncia fazem uma pessoa ser diferente da outra?indicadrPapalia_01.indd 39 01/02/13 09:2440Diane E. Papalia e Ruth Duskin FeldmanTABELA 1.1Principais desenvolvimentos tpicos em oito perodos do desenvolvimento humanoFaixa etria Desenvolvimento fsico Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento psicossocialPerodo Pr-natal (da concepo ao nascimento)Ocorre a concepo por fertili-zao normal ou por outros meios.Desde o comeo, a dotao gen-tica interage com as influncias ambientais.Formam-se as estruturas e os rgos corporais bsicos: inicia--se o surto de crescimento do crebro.O crescimento fsico o mais ace-lerado do ciclo de vida. grande a vulnerabilidade s in-fluncias ambientais.Desenvolvem-se as capacidades de aprender e lembrar, bem como as de responder aos est-mulos sensoriais.O feto responde voz da me e desenvolve preferncia por ela.Primeira Infncia (do nascimento aos 3 anos)No nascimento, todos os sentidos e sistemas corporais funcionam em graus variados.O crebro aumenta em comple-xidade e altamente sensvel influncia ambiental.O crescimento fsico e o desenvol-vimento das habilidades moto-ras so rpidos.As capacidades de aprender e lembrar esto presentes, mes-mo nas primeiras semanas.O uso de smbolos e a capacidade de resolver problemas se de-senvolvem por volta do final do segundo ano de vida.A compreenso e o uso da lingua-gem se desenvolvem rapida-mente. Formam-se os vnculos afetivos com os pais e com outras pes-soas.A autoconscincia se desenvolve.Ocorre a passagem da dependn-cia para a autonomia.Aumenta o interesse por outras crianas.Segunda Infncia (3 a 6 anos)O crescimento constante; a apa-rncia torna-se mais esguia e as propores mais parecidas com as de um adulto.O apetite diminui e so comuns os distrbios do sono.Surge a preferncia pelo uso de uma das mos; aprimoram-se as habilidades motoras finas e ge-rais e aumenta a fora fsica.O pensamento um tanto ego-cntrico, mas aumenta a com-preenso do ponto de vista dos outros.A imaturidade cognitiva resulta em algumas ideias ilgicas so-bre o mundo.Aprimoram-se a memria e a lin-guagem.A inteligncia torna-se mais pre-visvel. comum a experincia da pr--escola; mais ainda a do jardim de infncia.O autoconceito e a compreenso das emoes tornam-se mais complexos; a autoestima global.Aumentam a independncia, a iniciativa e o autocontrole.Desenvolve-se a identidade de gnero.O brincar torna-se mais imaginati-vo, mais elaborado e, geralmen-te, mais social.Altrusmo, agresso e temor so comuns.A famlia ainda o foco da vida social, mas outras crianas tornam-se mais importantes.Terceira Infncia (6 a 11 anos)O crescimento torna-se mais lento.A fora fsica e as habilidades atl-ticas aumentam.So comuns as doenas respira-trias, mas de um modo geral a sade melhor do que em qualquer outra fase do ciclo de vida.Diminui o egocentrismo. As crian-as comeam a pensar com lgica, porm concretamente.As habilidades de memria e lin-guagem aumentam.Ganhos cognitivos permitem criana beneficiar-se da instru-o formal na escola.Algumas crianas demonstram necessidades educacionais e talentos especiais.O autoconceito torna-se mais complexo, afetando a autoes-tima.A corregulao reflete um deslo-camento gradual no controle dos pais para a criana.Os colegas assumem importncia fundamental.Papalia_01.indd 40 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano41Faixa etria Desenvolvimento fsico Desenvolvimento cognitivo Desenvolvimento psicossocialAdolescncia (11 a aprox. 20 anos)O crescimento fsico e outras mu-danas so rpidas e profundas.Ocorre a maturidade reprodutiva.Os principais riscos para a sade emergem de questes compor-tamentais, tais como transtor-nos da alimentao e abuso de drogas.Desenvolvem-se a capacidade de pensar em termos abstratos e de usar o raciocnio cientfico.O pensamento imaturo persiste em algumas atitudes e compor-tamentos.A educao concentra-se na pre-parao para a faculdade ou para a profisso.A busca pela identidade, incluindo a identidade sexual, torna-se central.O relacionamento com os pais ge-ralmente bom.Os amigos podem exercer influn-cia positiva ou negativa.Incio da Vida Adulta (20 a 40 anos)A condio fsica atinge o auge, depois declina ligeiramente.Opes de estilo de vida influen-ciam a sade.O pensamento e os julgamentos morais tornam-se mais com-plexos.So feitas as escolhas educacio-nais e vocacionais, s vezes aps um perodo exploratrio.Traos e estilos de personalida-de tornam-se relativamente estveis, mas as mudanas na personalidade podem ser in-fluenciadas pelas fases e acon-tecimentos da vida.So tomadas decises sobre rela-cionamentos ntimos e estilos de vida pessoais, mas podem no ser duradouros.A maioria das pessoas casa-se e tem filhos.Vida Adulta Intermediria(40 a 65 anos)Pode ocorrer uma lenta deteriora-o das habilidades sensoriais, da sade, do vigor e da fora fsica, mas so grandes as dife-renas individuais.As mulheres entram na meno-pausa.As capacidades mentais atingem o auge; a especializao e as habilidades relativas soluo de problemas prticos so acentuadas.A produo criativa pode declinar, mas melhora em qualidade.Para alguns, o sucesso na carreira e o sucesso financeiro atingem seu mximo; para outros, po-der ocorrer esgotamento ou mudana de carreira.O senso de identidade continua a se desenvolver; pode ocorrer uma transio para a meia--idade.A dupla responsabilidade pelo cuidado dos filhos e dos pais idosos pode causar estresse.A sada dos filhos deixa o ninho vazio.Vida Adulta Tardia(65 anos em diante)A maioria das pessoas saudvel e ativa, embora geralmente haja um declnio da sade e das capacidades fsicas.O tempo de reao mais lento afe-ta alguns aspectos funcionais.A maioria das pessoas est men-talmente alerta.Embora inteligncia e mem-ria possam se deteriorar em algumas reas, a maioria das pessoas encontra meios de compensao.A aposentadoria pode oferecer novas opes para o aproveita-mento do tempo.As pessoas desenvolvem estrat-gias mais flexveis para enfren-tar perdas pessoais e a morte iminente.O relacionamento com a famlia e com amigos ntimos pode pro-porcionar um importante apoio.A busca de significado para a vida assume uma importncia fun-damental.Papalia_01.indd 41 01/02/13 09:2442Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldmanbm estudam as diferenas individuais nas caractersticas, influncias e consequncias do desenvol-vimento. As pessoas diferem em gnero, altura, peso e compleio fsica; na sade e nvel de energia; em inteligncia; e no temperamento, personalidade e reaes emocionais. Os contextos de suas vidas tambm diferem: os lares, as comunidades e sociedades em que vivem, seus relacionamentos, as escolas que frequentam (ou se elas de fato vo para a escola) e o trabalho que fazem, e como passam seu tempo livre.HEREDITARIEDADE, AMBIENTE E MATURAOAlgumas influncias sobre o desenvolvimento tm origem principalmente na hereditariedade: tra-os inatos ou caractersticas herdadas dos pais biolgicos. Outras influncias vm em grande parte do ambiente: o mundo que est do lado de fora do eu, e que comea no tero, e a aprendizagem relacionada experincia. Qual desses dois fatores causa maior impacto sobre o desenvolvimento? A questo da importncia relativa da gentica (hereditariedade) e do ambiente (influncias ambientais antes e depois do nascimento) gerou historicamente um intenso debate.Atualmente, os cientistas encontraram meios de medir com mais preciso, numa determinada populao, o papel da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento de traos especficos. Quan-do, porm, consideramos uma determinada pessoa, a pesquisa relativa a quase todas suas caractersti-cas aponta para uma combinao de hereditariedade e experincia. Assim, embora a inteligncia seja fortemente influenciada pela hereditariedade, a estimulao parental, a educao, a influncia dos amigos e outras variveis tambm a afetam. Tericos e pesquisadores contemporneos esto mais inte-ressados em descobrir meios de explicar como gentica e ambiente operam juntos do que argumentar sobre qual dos fatores mais importante.Muitas mudanas tpicas da primeira e da segunda infncia, como a capacidade de andar e falar, esto vinculadas maturao do corpo e do crebro o desdobramento de uma sequncia natural de mudanas fsicas e padres de comportamento. medida que as crianas tornam-se adolescentes e depois adultos, diferenas individuais nas caractersticas inatas e na experincia de vida passam a desempenhar um papel mais importante. Durante a vida toda, porm, a maturao continua influen-ciando certos processos biolgicos como, por exemplo, o desenvolvimento do crebro.Mesmo nos processos a que todas as pessoas esto submetidas, os ritmos e os momentos do desenvolvimento variam. Ao longo deste livro, falamos sobre as idades mdias para a ocorrncia de certos eventos: a primeira palavra, o primeiro passo, a primeira menstruao, a emisso noturna, o desenvolvimento do pensamento lgico e a menopausa. Mas essas idades so apenas mdias, e h uma grande variao entre as pessoas com respeito a essas normas. Somente quando o desvio da mdia for extremo que devemos considerar o desenvolvimento como excepcionalmente adiantado ou atrasado.Para entender o desenvolvimento humano, portanto, precisamos considerar as caractersticas herdadas que do a cada pessoa um ponto de partida especial na vida. Tambm precisamos levar em conta os muitos fatores ambientais ou experienciais que afetam o desenvolvimento, especial-mente contextos importantes como famlia, vizinhana, nvel socioeconmico, raa/etnia e cultu-ra. Precisamos considerar como a hereditariedade e o ambiente interagem. Precisamos entender quais dos processos de desenvolvimento so principalmente maturacionais e quais no so. Neces-sitamos observar as influncias que afetam muitas ou a maioria das pessoas em determinada idade ou em determinado momento histrico, e tambm aquelas que afetam apenas certos indivduos. Finalmente, precisamos observar como o momento da ocorrncia pode afetar o impacto de certas influncias.CONTEXTOS DO DESENVOLVIMENTOSeres humanos so seres sociais. Desde o comeo, desenvolvem-se dentro de um contexto social e histrico. Para um beb, o contexto imediato normalmente a famlia, que, por sua vez, est sujeita s influncias mais amplas e em constante transformao da vizinhana, da comunidade e da sociedade.diferenas individuaisDiferenas nas caractersticas, nas influncias ou nos resultados do desen-volvimento.hereditariedadeTraos ou caractersticas inatas herda-das dos pais biolgicos.ambienteTotalidade das influncias no heredi-trias ou experienciais sobre o desen-volvimento.maturaoDesdobramento de uma sequncia natural de mudanas fsicas e compor-tamentais.Para ter um calo, voc precisa de genes que de algum modo faam calos, mas a ao ambiental de constante frico da pele tambm necessria, caso contrrio nunca se formar um calo. Ento, os calos tm mais a ver com a gentica ou com o ambiente?Ser hipnotizvel umacaracterstica diferente entre pessoas e segue uma distribuio normal, assim como tantos outros traos. Somente 10% da populao altamente hipnotizvel.Spiegel, 1985Papalia_01.indd 42 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano43FamliaA famlia nuclear uma unidade que compreende pai e me, ou apenas um deles, e seus filhos, sejam eles biolgicos, adotados ou enteados. Historicamente, a famlia nuclear com pai e me tem sido a unidade familiar dominante nas sociedades ocidentais. Hoje, no entanto, a famlia nuclear diferente do que costumava ser. Em vez de uma grande famlia rural em que pais e filhos trabalha-vam lado a lado na propriedade da famlia, agora vemos famlias urbanas menores em que tanto o pai quanto a me trabalham fora de casa e os filhos passam boa parte do tempo na escola ou na creche. O nmero cada vez maior de divrcios tambm afetou a famlia nuclear. Filhos de pais divorciados talvez morem na casa da me ou do pai, ou podero deslocar-se entre uma e outra. O lar dessa famlia pode incluir um padrasto ou madrasta e meios-irmos, ou o companheiro ou a companheira do pai ou da me. H um nmero cada vez maior de adultos solteiros e sem filhos, pais no casados e lares de gays e lsbicas (Hernandez, 1997, 2004; Teachman, Tedrow e Crowder, 2000).Em muitas sociedades da sia, frica e Amrica Latina, e entre algumas famlias norte-america-nas que remontam sua linhagem a pases desses continentes, a famlia extensa uma rede multige-racional que inclui avs, pai e me, tios, primos e outros parentes mais distantes a forma tradicio-nal de famlia. Muitas pessoas vivem em lares extensos, onde tm contato dirio com os familiares. Os adultos geralmente compartilham o sustento da famlia e as responsabilidades na criao dos filhos, e os filhos mais velhos so responsveis pelos irmos e irms mais novos. Geralmente, esses lares so chefiados por mulheres (Aaron et al., 1999; Johnson et. al., 2003).Hoje, lares extensos esto se tornando cada vez menos comuns em muitos pases em desenvol-vimento devido industrializao e migrao para os centros urbanos (Brown e Gilligan, 1990; Gorman, 1993; Kinsella e Phillips, 2005). Enquanto isso, nos Estados Unidos, presses econmicas, escassez de moradias e crianas geradas fora do casamento ajudaram a alimentar uma tendncia de lares de famlias com trs e at quatro geraes. Em 2008, aproximadamente 16% dos lares podiam ser caracterizados como multigeracionais (Pew Research Center, 2010b).Lares multigeracionais tornaram-se mais comuns nos ltimos anos por diversas razes. Primeiro, porque tanto homens quanto mulheres esto casando com mais idade, e assim continuam morando em casa por mais tempo do que de costume. Isso passou a ser comum com as recentes crises na eco-nomia norte-americana. Segundo, por causa do influxo de populaes imigrantes desde 1970. Esses imigrantes esto mais propensos do que as famlias nativas a procurar lares multigeracionais por razes de praticidade e tambm de preferncia. De fato, mesmo entre os no imigrantes, raa e etnia influen-ciam. Latinos, afro-americanos e asiticos esto mais propensos a viver em famlias multigeracionais do que os brancos. Alm disso, as pessoas agora vivem mais, e pais idosos s vezes se beneficiam da incluso na casa de seus filhos (Pew Research Center, 2010b).Nvel socioeconmico e vizinhanaO nvel socioeconmico (NSE) baseia-se na renda da famlia e nos nveis educacional e ocupacional dos adultos da casa. Neste livro, examinaremos famlia nuclearUnidade econmica e domstica que compreende laos de parentesco en-volvendo duas geraes e que consiste em pai e me, ou apenas um dos dois, e seus filhos biolgicos, adotados ou enteados.famlia extensaRede de parentesco envolvendo muitas geraes e formada por pais, filhos e outros parentes, s vezes vivendo juntos no mesmo lar.nvel socioeconmico (NSE)Combinao de fatores econmicos e sociais que descreve um indivduo ou uma famlia, e que inclui renda, educa-o e ocupao.O lar de uma famlia extensa pode incluir avs, tias e primos.Papalia_01.indd 43 01/02/13 09:2444Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldmanmuitos estudos que relacionam o NSE a processos de desenvolvimento (tais como as interaes ver-bais da me com seus filhos) e s consequncias do desenvolvimento (tais como sade e desempe-nho cognitivo). O NSE afeta esses processos e suas consequncias indiretamente por meio de fatores relacionados, como os tipos de lar e a vizinhana onde as pessoas vivem e a qualidade da nutrio, assistncia mdica e escolaridade disponveis.Mais de um quarto da populao mundial (25,7%) vivia com menos de 1 dlar e 25 centvos por dia em 2005, o ltimo ano em que os dados estiveram disponveis (Naes Unidas, 2009; Figura 1.1). Esse nmero representa 1,4 bilho de pessoas, mas menor do que o 1,9 bilho medido em 1981. Alm do mais, quando a frica subsaariana e o sul da sia so excludos da anlise, os declnios so ainda mais impressionantes. A expanso da economia global um dos principais fatores a contribuir para a diminuio geral da pobreza (Naes Unidas, 2009).Nos Estados Unidos, onde os limiares da pobreza dependem do tamanho e da composio da fa-mlia, 15,6 milhes de crianas 21% de todas as crianas com menos de 18 anos vivem na pobreza e 7,41 milhes de crianas por volta de 10% vivem na pobreza extrema1. Praticamente todo o progresso com relao pobreza infantil desde 1974 foi anulado pela atual recesso (Foundation for Child Development, 2010).A pobreza, especialmente se durar muito tempo, pode ser prejudicial para o bem-estar fsico, cognitivo e psicossocial das crianas e das famlias. As crianas pobres esto mais propensas do que as outras crianas a apresentar problemas emocionais ou comportamentais, e seu potencial cognitivo e o desempenho na escola so mais prejudicados (Evans, 2004). O mal causado pela pobreza pode ser indireto, pelo impacto causado no estado emocional dos pais e na parentalidade, bem como no ambiente domstico criado por eles (ver Captulo 10). As ameaas ao bem-estar, como geralmente acontece, multiplicam-se quando vrios fatores de risco condies que aumentam a probabilidade de uma consequncia negativa esto presentes.1Uma famlia de quatro pessoas era considerada extremamente pobre em 2008 se a renda domstica estivesse abaixo da metade da linha de pobreza oficial (Childrens Defense Fund, 2008).fatores de riscoCondies que aumentam a probabi-lidade de uma consequncia negativa no desenvolvimento.FIGURA 1.1Populao mundial e pessoas vivendo em estado de pobre-za, 1981-2005.6.0007.0002.0001.0001981 1984 1990Ano1996Populao (milhes)20055.0004.0003.000Populao mundialPopulao de regies menos desenvolvidasVivem com menos de $ 2,50 por diaVivem com menos de $ 2,00 por diaVivem com menos de $ 1,25 por diaFonte: Naes Unidas, 2009.Quando estamos imersosnuma cultura, difcil perceber o quanto do que fazemos afetado por ela. Por exemplo, h diferenas regionais nos Estados Unidos em relao a como so chamados os refrigerantes. O termo pop mais comum no Meio-Oeste, nas Grandes Plancies e no Noroeste; coke o termo geralmente usado no Sul e no Novo Mxico; e soda usado principalmente na Califrnia e nos estados da fronteira.Papalia_01.indd 44 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano45A composio da vizinhana tambm afeta as crianas. Para quem vive numa vizinhana pobre, com grande nmero de desempregados, menos provvel encontrar suporte social adequado dispo-nvel (Black e Krishnakumar, 1998). Ainda assim, o desenvolvimento positivo pode ocorrer apesar de srios fatores de risco. Considere a escritora Maya Angelou, ganhadora do Prmio Pulitzer, a cantora Shania Twain e o ex-presidente Abraham Lincoln. Todos eles cresceram na pobreza (Kim-Cohen et al., 2004).A riqueza, porm, nem sempre protege as crianas contra riscos. Algumas crianas de famlias ricas so pressionadas para alcanar sucesso e frequentemente so deixadas sozinhas em casa por pais ocupados. Essas crianas apresentam altas taxas de abuso de substncias qumicas, ansiedade e depres-so (Luthar e Latendresse, 2005). Embora as famlias pobres geralmente sejam menos otimistas sobre a vizinhana e se sintam menos seguras nela, vrios pontos positivos podem ser encontrados no con-texto da famlia imediata. Os pais afirmam estar mais prximos de seus filhos, frequentam a igreja com sua famlia, sentem-se seguros em casa e na escola e fazem as refeies juntos com mais frequncia do que as famlias mais ricas. Talvez a comunidade cientfica tenha se concentrado exageradamente nos efeitos negativos da pobreza, sem prestar a devida ateno aos pontos positivos e s resilincias encontradas em lares de baixo NSE (Valladares e Moore, 2009).Cultura e raa/etniaA cultura refere-se ao modo de vida global de uma sociedade ou grupo, que inclui costumes, tradies, leis, conhecimento, crenas, valores, linguagem e produtos materiais, de ferramentas a trabalhos artsticos todo comportamento e todas as atitudes aprendidas, comparti-lhadas e transmitidas entre os membros de um grupo social. A cultura est em constante mudana, geralmente mediante contato com outras culturas. Hoje, o contato cultural incrementado por com-putadores e pelas telecomunicaes. O e-mail, ou endereo eletrnico, e as mensagens instantneas oferecem uma comunicao quase imediata em todo o planeta, e servios digitais como o iTunes do a pessoas do mundo inteiro um fcil acesso a msicas e filmes.Um grupo tnico consiste em pessoas unidas por determinada cultura, ancestralidade, religio, lngua ou origem nacional, tudo isso contribuindo para formar um senso de identidade, atitudes, cren-as e valores comuns. At 2040, a projeo que a populao de grupos minoritrios tnicos cresa at 50% (Hernandez, Denton e Macartney, 2007). A proporo de crianas pertencentes aos grupos minoritrios aumenta ainda mais rpido; elas formaro mais da metade da populao infantil at 2023, de um total de 44% em 2008.At 2050, a projeo que 62% das crianas pertenam queles grupos que agora so mino-ritrios, e a proporo de crianas hispnicas ou latinas 39% ir superar os 38% de brancos no hispnicos (U.S. Census Bureau, 2008a; Figura 1.2a e 1.2b). Quase um quarto dos alunos do jardim de infncia nos Estados Unidos e um quinto de todos os alunos at o 3 ano do ensino mdio so his-pnicos (U.S. Census Bureau, 2009b, 2009c).Os padres tnicos e culturais afetam o desenvolvimento por sua influncia na composio de uma famlia, nos recursos econmicos e sociais, no modo como seus membros agem em relao uns aosoutros,nosalimentosquecomem,nosjogosenasbrincadeirasdascrianas,nomodocomo aprendem, no aproveitamento escolar, nas profisses escolhidas pelos adultos e na maneira como os culturaO modo de vida global de uma so-ciedade ou de um grupo, que inclui costumes, tradies, crenas, valores, linguagem e produtos materiais todo comportamento adquirido que trans-mitido dos pais para os filhos.grupo tnicoGrupo unido por ancestralidade, raa, religio, lngua ou origens nacionais, que contribuem para formar um senso de identidade comum.Nos Estados Unidos, as pessoas esto muito mais propensas a revelar informaes pessoais do que no Japo. E por qu? Uma das razes pode ser a estrutura social mais livre naquele pas. Quando voc pode fazer e desfazer amizades com facilidade, preciso fortalecer os vnculos sociais o mximo possvel.Schug, Yuki e Maddux, 2010FIGURA 1.2(a)Deacordocomasproje-esdaAgnciadeRecen-seamento (Census Bureau), os grupos minoritrios raciais/t-nicoschegaroa54%dapo-pulaodosEstadosUnidos, excedendoaproporode pessoas brancas no hispni-casat2050.(b)Tambmat 2050espera-sequecrianas demenosde18anosperten-centessminoriasformem 62% da populao infantil.250200150Milhes100502010 2020 2030 2040 2050Ano(a) Projees para a populao0brancos no hispnicosoutrosIdades at 17 anos20082050(b) Porcentagem de crianas pertencentes a grupos minoritrios44% 62%Fonte: U.S. Census Bureau, 2008a.Papalia_01.indd 45 01/02/13 09:2446Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldmanmembros da famlia pensam e percebem o mundo (Parke, 2004). Por exemplo, nos Estados Unidos, os filhos de imigrantes tm uma probabilidade quase duas vezes maior de viver em famlias extensas do que as crianas nascidas naquele pas, e uma probabilidade menor de que suas mes trabalhem extradomiciliarmente (Hernandez, 2004; Shields e Behrman, 2004).Os Estados Unidos sempre foram uma nao de imigrantes e grupos tnicos, mas a principal origem tnica da populao imigrante deslocou-se da Europa e Canad para a sia e a Amrica Latina (Hernan-dez, 2004). Em 2007, mais de 20% da populao era de imigrantes ou filhos de imigrantes (Quadro 1.1). A maioria dos imigrantes veio do Mxico, 40%, e os restantes 60% vieram de naes do Caribe, do leste e do oeste da sia, Austrlia, Amricas Central e do Sul, Indochina, antiga Unio Sovitica e frica.para o mundCRIANAS DE FAMLIAS DE IMIGRANTESOsEstadosUnidossempreforamumanaodeimigrantese grupos tnicos, mas a principal origem tnica da populao imi-grante deslocou-se da Europa e Canad terras natais de 97% dos imigrantes em 1910 para a Amrica Latina, Caribe, sia e frica, que agora respondem por 88% de todos os imigrantes.Quase um quarto (24%) das crianas nos Estados Unidos vi-via em famlias de imigrantes, em 2007. Crescendo mais rpido quequalqueroutrogrupodecrianasnopas,elasliderama futura mudana de status dos grupos minoritrios raciais e t-nicos para a condio de maioria. Enquanto antigamente as on-das de imigrantes eram quase inteiramente formadas por bran-cos e cristos, mais de um tero (37%) das crianas de famlias de imigrantes tem pais no brancos. Muitas dessas famlias so confucionistas, budistas, hindus, judias, muulmanas, xintostas, siques, taostas ou zoroastrianas e, embora predominantemen-te de lngua espanhola, falam diversas outras lnguas.A maioria dos imigrantes vem do Mxico (40%) (Hernandez e Macartney, 2008). Estima-se que cinco milhes de crianas nascidas no Mxico ou filhas de pais mexicanos vivam nos Es-tados Unidos. Muitos desses pais trabalham em subempregos nos setores de alimentao, manuteno, construo, na agri-cultura e nas indstrias de manufaturados, ganhando menos de20mildlaresporano,trabalhandoemtempointegral. Comorecrudescimentodossentimentoscontrriosimi-grao, pais de famlia sem documentos vivem sob um medo constante de perderem o emprego (quando conseguem en-contrar um) e de serem deportados (Children in North America Project, 2008). Quase metade de todas as crianas de famlias de imigrantes (47,9%) vive na pobreza (Hernandez, Denton e Macartney, 2007), e muitas no tm seguro-sade apesar de terem direito, mesmo seus pais trabalhando duro para susten-tar a famlia.A maior parte dos filhos de imigrantes vive com pais casados ouquevivemjuntos.Mashumaprobabilidadequaseduas vezes maior de essas crianas, comparadas s outras, viverem emfamliasdelaresextensoscomosavs,outrosparentese mesmonoparentes,geralmenteemmoradiascomexcesso de pessoas. A probabilidade de filhos de famlias de imigrantes terem pais que no concluram o ensino mdio mais de trs vezes maior que a dos filhos de famlias nativas (40% compara-do a 12%). Pais imigrantes geralmente tm grandes aspiraes educacionais para seus filhos, mas faltam-lhes conhecimento e experinciaparaajud-losaserembem-sucedidosnaescola. (Questes que envolvem a educao de filhos de imigrantes so discutidas em captulos posteriores.)Umfatopoucoconhecidoquequase1entre4filhosde famlias de imigrantes (24%) tem o pai ou a me nascidos nos Estados Unidos, e em quase metade (48%) dos casos o pai ou a me cidado naturalizado. Mais de 2 de cada 3 (68%) tm pais que vivem nos Estados Unidos h 10 anos ou mais, e quase 4 de cada 5 crianas (79%) nasceram nos Estados Unidos. De fato, quase 2 de cada 3 crianas (63%) que vivem com pais sem docu-mentos so elas mesmas nascidas nos Estados Unidos.Como a imigrao gera mudanas dramticas na populao dos Estados Unidos, questes de desenvolvimento que afetam crianasdefamliasdeimigrantesserotemascadavezmais importantes para a pesquisa.Fonte: A no ser quando diferentemente citada, a fonte para este quadro Hernandez, Denton e Macartney (2008).qual a sua opinioVoc (ou algum membro da sua famlia) imigrante ou filho de imigrantes? Em caso positivo, quais os fatores que favo-receram ou dificultaram sua adaptao vida no pas em que voc mora? Como voc imagina a vida dos filhos de imi-grantes daqui a 40 anos?JANELA1.1oPapalia_01.indd 46 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano47H uma grande diversidade dentro de amplos grupos tnicos. A maioria branca descendente de europeus consiste em muitas e diversas etnias alemes, belgas, irlandeses, franceses, italianos, e assim por diante. Americanos cubanos, porto-riquenhos e americanos mexica-nos todos eles americanos hispnicos tm diferentes histrias e culturas, e podem ser descendentes de africanos, europeus, americanos nativos ou uma mistura (Johnson et. al., 2003; Sternberg, Grigorenko e Kidd, 2005). Afro-americanos do sul rural diferem daqueles de ascendncia caribenha. Americanos asiticos provm de vrios pases com culturas distintas, do moderno Japo industrial China e s montanhas remotas do Nepal, onde muitas pessoas ainda praticam o modo de vida antigo. Os americanos nativos constitudos por centenas de naes, tribos, bandos e vilas reconhecidos (Lin e Kelsey, 2000).Muitos acadmicos agora concordam que o termo raa, visto histrica e popularmente como uma categoria biolgica identificvel, um construto social. No h nenhum consenso cientfico claro sobre sua definio, sendo impossvel medi-lo de modo confivel (Bonham, Warshauer-Baker e Collins, 2005; Helms, Jernigan e Mascher, 2005; Smedley e Smedley, 2005; Stern-berg et al., 2005). A variao gentica humana ocorre ao longo de um amplo continuum, e 90% dessa variao ocorre dentro e no entre raas socialmente definidas (Bonham et al., 2005; Ossorio e Duster, 2005). A raa, como catego-ria social, entretanto, continua sendo um dos fatores nas pesquisas porque faz diferena em relao a como os indivduos so tratados, onde vivem, suas opor-tunidades de emprego, a qualidade de sua assistncia mdica e se podem participar plenamente em sua sociedade (Smedley e Smedley, 2005, p. 23).As categorias de cultura, raa e etnia so fluidas (Bonham et al., 2005; Sternberg et al., 2005) e continuamente moldadas e redefinidas por foras sociais e polticas (Fisher et al., 2002, p. 1026). A disperso geogrfica e os casamentos inter-raciais, com-binados com a adaptao s diversas condies locais, produziram uma grande heteroge-neidade de caractersticas fsicas e culturais nas populaes (Smedley e Smedley, 2005; Sternberg et al., 2005). Assim, Barack Obama, cujo pai negro e africano, e a me, americana e branca, poder pertencer a mais de uma categoria racial/tnica e se identificar mais fortemente com uma ou outraemdiferentesmomentos(Hitlin,BrowneElder,2006).Termos como negro ou hispnico podem ser uma generalizao tnica exagera-da, que obscurece ou confunde essas variaes.OcontextohistricoHouvepocaem que os cientistas do desenvolvimento davam pouca ateno ao contexto histrico o tem-po, ou poca, em que as pessoas vivem. De-pois, quando os primeiros estudos longitudi-nais sobre a infncia estenderam-se at a idade adulta, os pesquisadores comearam a se con-centrar em como certas experincias, ligadas ao tempo e ao lugar, afetam o curso de vida das pessoas. Hoje, o contexto histrico parte importante do estudo do desenvolvimento.INFLUNCIAS NORMATIVAS E NO NORMATIVASPara entender semelhanas e diferenas no desenvolvimento, precisamos olhar para dois tipos de influncias normativas: eventos biolgicos ou ambientais que afetam muitas pessoas, ou a maioria delas, em uma sociedade, e eventos que atingem apenas certos indivduos (Baltes e Smith, 2004).generalizao tnicaGeneralizao exagerada a respeito de um grupo tnico ou cultural que obs-curece as diferenas existentes dentro do grupo.Em 2005, nasceram duas gmeas fraternas britnicas, Kian e Remee Hodgson. O pai e a me eram, eles prprios, de raas misturadas. Devido a uma combinao aleatria de genes, uma das gmeas branca, loira e de olhos azuis, e a outra negra. O que significa raa no sentido biolgico se duas irms podem ser de raas diferentes?verificadorvoc capaz de...Dar exemplos das influncias da composio familiar e vizi-nhana, nvel socioeconmico, cultura, raa/etnia e contexto histrico?normativoCaracterstica de um evento que ocorre de modo semelhante para a maioria das pessoas de um grupo.Cultura,raaeetniasocategoriasfluidas;namedida emqueaumentaadispersogeogrficaepessoasde diversas origens se casam, cresce a heterogeneidade nas populaes.Papalia_01.indd 47 01/02/13 09:2448Diane E. Papalia e Ruth Duskin FeldmanInfluncias normativas reguladas pela idade (ou etrias) so muito semelhantes para pessoas de uma determinada faixa etria. O tempo de ocorrncia de eventos biolgicos razoavelmente previs-vel dentro de uma faixa normal. Por exemplo, as pessoas no passam pela experincia da puberdade aos 35 anos ou da menopausa aos 12.Influncias normativas reguladas pela histria so eventos significativos (tais como a Grande Depresso e a Segunda Guerra Mundial) que moldam o comportamento e as atitudes de uma gerao histrica: um grupo de pessoas que passa pela experincia do evento em um momento formativo de suas vidas. Por exemplo, as geraes que se tornaram maiores de idade durante a Depresso e a Segunda Guerra tendem a mostrar um forte senso de interdependncia e confiana social, que declinou entre as geraes mais recentes (Rogler, 2002). Dependendo de quando e onde vivem, geraes inteiras podem sentir o impacto da escassez de alimentos, das explo-ses nucleares ou dos ataques terroristas. Nos pases ocidentais, os avanos da medicina, bem como os aperfeioamentos na nutrio e no saneamento reduzi-ram dramaticamente a mortalidade infantil. Hoje, medida que as crianas vo crescendo, so influenciadas por computadores, televiso digital, internet e outras inovaes tecnolgicas. As mudanas sociais, como o aumento da presena de mes no mercado de trabalho e de lares de pais ou mes solteiros alteraram, e muito, a vida familiar.Uma gerao histrica no a mesma coisa que uma coorte etria um grupo de pessoas nascido aproximadamente na mesma poca. Uma gerao histrica pode conter mais de uma coorte, mas as coortes fazem parte de uma gerao histrica somente se passa-rem pela experincia de importantes eventos histricos em um mo-mento formativo de suas vidas (Rogler, 2002).Influncias no normativas so even-tosincomunsquecausamgrandeimpacto navidadosindivduosporperturbarem asequnciaesperadadociclodevida.Po-dem ser eventos tpicos que acontecem num momento atpico da vida (como a morte de um dos pais quando a criana pequena) ou eventosatpicos(porexemplo,sobreviver aumacidenteareo).Algumasdessasin-flunciasestoalmdocontroledapessoa e podem apresentar raras oportunidades ou srios desafios, e so percebidos como momentos decisivos na vida. Por outro lado, as pessoas s vezes ajudam a criar seus prprios eventos no normativos digamos, ao decidirem ter um beb, ou ao se interessarem por hobbies perigosos como praticar skydiving e assim participar ativamente de seu prprio desenvolvimento. Juntos, esses trs tipos de influncia normativa regulada pela idade, nor-mativa regulada pela histria e no normativa contribuem para a complexidade do desenvolvimento humano, bem como para os desafios que as pessoas vivenciam ao tentar construir suas vidas.CRONOLOGIA DAS INFLUNCIAS: PERODOS CRTICOS OU SENSVEISEm um estudo muito conhecido, o zologo austraco Konrad Lorenz (1957) fez com que patinhos recm-nascidos o seguissem como o fariam com a mame pata. Lorenz mostrou que patinhos recm--chocados instintivamente vo seguir o primeiro objeto em movimento que eles virem, seja um mem-brodesuaespcieouno.Essefenmenochama-seimprinting,eLorenzacreditavaquefosse automtico e irreversvel. Geralmente, a ligao instintiva com a me; quando o curso natural dos eventos for perturbado, porm, outros vnculos, como aquele estabelecido com Lorenz ou nenhum vnculo podem se formar. O imprinting, dizia Lorenz, o resultado de uma predisposio apren-dizagem: a prontido do sistema nervoso de um organismo para adquirir certas informaes durante um breve perodo crtico no comeo da vida.Atualmente, a presena da mdia acarreta uma influncia normativa em crianas pequenas, que hoje utilizam com habilidade aplicativos de iPhone desenvolvidos especialmente para elas. Como isso poder moldar seu desenvolvimento?Staut, 2010gerao histricaGrupo de pessoas que, durante seu perodo de formao, recebeu forte infuncia de um importante evento histrico.coorteGrupo de pessoas nascidas aproxima-damente na mesma poca.no normativoCaracterstico de um evento incomum que acontece com uma determinada pessoa ou de um evento tpico que ocorre fora de seu perodo usual.verificadorvoc capaz de...Dar exemplos de influncias normativas reguladas pela ida-de, normativas reguladas pela histria e no normativas?imprintingForma instintiva de aprendizagem em que um filhote de animal, durante um perodo crtico no incio de seu desen-volvimento, estabelece um vnculo com o primeiro objeto que ele v em movimento, geralmente a me.O uso disseminado dos computadores uma influncia norma-tiva sobre o desenvolvimento da criana, regulada pela hist-ria, e que no existia nas geraes anteriores.Papalia_01.indd 48 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano49Perodocrticoumintervalode tempoespecficoemqueumdeterminado evento, ou a sua ausncia, causa um impacto especfico sobre o desenvolvimento. Se um eventonecessrionoocorrerduranteum perodocrticodematurao,odesenvol-vimento normal no ocorrer; e os padres anormais podero ser irreversveis (Knudsen, 1999; Kuhl et al., 2005). No entanto, a ex-tenso de um perodo crtico no absoluta-mente fixa; se as condies de criao de patinhos forem alteradas para desacelerar seu crescimento, o perodo crtico usual para o imprinting poder ser estendido e o prprio imprinting talvez seja at revertido (Bruer, 2001).Seres humanos passam por perodos crticos como os patinhos? Se uma mulher submetida a raios X, ingere certos medicamentos ou contrai doenas em determinados perodos durante a gravi-dez, o feto poder apresentar efeitos nocivos especficos, dependendo da natureza do choque, do mo-mento em que ocorreu e das caractersticas do prprio feto. Se um problema muscular que interfere na capacidade de focar os dois olhos no mesmo objeto no for corrigido durante um perodo crtico no incio da infncia, os mecanismos do crebro necessrios para a percepo binocular de profundidade provavelmente no se desenvolvero (Bushnell e Boudreau, 1993).No entanto, o conceito de perodos crticos nos seres humanos polmico. Como muitos aspectos do desenvolvimento, mesmo no domnio fsico, mostraram plasticidade, ou desempenho passvel de modificao, talvez seja mais til pensar em termos de perodos sensveis, quando uma pessoa em desenvolvimento especialmente receptiva a certos tipos de experincias (Bruer, 2001).So cada vez maiores as evidncias de que a plasticidade no apenas uma caracterstica geral do desenvolvimento que se aplica a todos os membros de uma espcie, mas que tambm h diferenas individuais na plasticidade de respostas aos eventos do ambiente. Parece que algumas crianas espe-cialmente aquelas de temperamento difcil, altamente reativas e portadoras de determinadas variantes de genes podem ser mais profundamente afetadas pelas experincias da infncia, sejam positivas ou negativas, do que outras (Belsky e Pluess, 2009). Essa nova pesquisa sugere que caractersticas suposta-mente negativas como temperamento difcil ou reativo talvez sejam altamente adaptativas (positivas) quando o ambiente apoia o desenvolvimento. Por exemplo, um estudo recente descobriu que crianas que eram altamente reativas a eventos do ambiente apresentavam, como era de se esperar, respostas ne-gativas como agresso e problemas comportamentais quando diante de fatores estressores como o confli-to conjugal em suas famlias. Surpreendentemente, contudo, quando os nveis de adversidade da famlia eram baixos, crianas altamente reativas apresentavam perfis ainda mais adaptativos que as crianas de baixa reatividade. Essas crianas altamente reativas eram mais pr-sociais, mais participativas na escola e demonstravam nveis menores de externalizao de sintomas (Obradovic et al., 2010). Pesquisas como essa mostram claramente a necessidade de redefinir a natureza da plasticidade nas primeiras fases do desenvolvimento, atentando para as questes da resilincia e do risco. O Quadro 1.2 discute como os conceitos de perodos crticos e sensveis se aplicam ao desenvolvimento da linguagem.perodo crticoIntervalo de tempo especfico em que um determinado evento ou sua ausncia causa um impacto especfico sobre o desenvolvimento.plasticidadeVariao da modificabilidade do de-sempenho.perodos sensveisMomentos do desenvolvimento em que a pessoa est particularmente re-ceptiva para certos tipos de experincia.verificadorvoc capaz de...Diferenciar perodo crtico e perodo sensvel e dar exemplos?Um novo estudo sugere que a busca de atividades perigosas pode ter influncia dos genes. Especificamente, uma mutao nos genes que codificam a dopamina parece estar relacionada a comportamentos de alto risco.Derringer et al., 2011Patinhos recm-nascidos seguiam e apegavam-se ao primeiro objeto em movimento que viam, no caso o etnlogo Konrad Lorenz. Lorenz chamou esse comportamento de imprinting.Papalia_01.indd 49 01/02/13 09:2450Diane E. Papalia e Ruth Duskin FeldmanAbordagem de Baltes ao desenvolvimento do ciclo de vidaPaul B. Baltes (1936-2006) e seus colegas (1987; Baltes e Smith, 2004; Baltes, Lindenberger e Stau-dinger, 1998; Staudinger e Bluck, 2001) identificaram sete princpios bsicos na abordagem ou teoria dodesenvolvimentodociclodevidaqueretomamuitosdosconceitosdiscutidosnestecaptulo. Juntos, esses princpios servem como uma estrutura conceitual amplamente aceita para o estudo do desenvolvimento do ciclo de vida:Quais so os sete princpios da abordagem ao desenvolvimento do ciclo de vida?indicadrpesquisa em aoEXISTE UM PERODO CRTICO PARA A AQUISIO DA LINGUAGEM?Em 1967, Eric Lenneberg (1967, 1969) props um perodo crtico para a aquisio da linguagem comeando no incio da primeira infncia e terminando por volta da puberdade. Lenneberg ar-gumentou que seria difcil, se no impossvel, para uma criana queaindanohaviaadquiridoalinguagematocomeoda puberdade conseguir faz-lo depois dessa idade.Em 1970, uma garota de 13 anos chamada Genie proporcio-nou a oportunidade para testar a hiptese de Lenneberg (Cur-tiss, 1977; Fromkin et al., 1974; Pines, 1981; Rymer, 1993). Vtima de um pai abusivo, ela tinha sido confinada por mais de 12 anos a um pequeno quarto da casa, amarrada a uma cadeira-penico e afastada do convvio humano. Quando encontrada, ela s re-conhecia seu nome e a palavra desculpa. Poderia ela aprender a falar, ou era tarde demais? Os Institutos Nacionais de Sade Mental (NIMH) financiaram um estudo para fazer testes e treina-mentos de linguagem intensivos com Genie.OprogressodeGenieduranteoestudotantoprovou quanto colocou em dvida a ideia de um perodo crtico para aaquisiodalinguagem.Elaaprendeualgumaspalavras simplesepdejunt-lasemsentenasprimitivas.Mas sua fala,namaiorpartedotempo,continuousendocomoum telegrama truncado (Pines, 1981, p. 29). Sua me obteve de volta a custdia da filha, tirou-a dos pesquisadores do NIMH e depois, finalmente, enviou-a para o sistema de adoo. Uma sequncia de lares adotivos abusivos tornou Genie silenciosa mais uma vez.OqueexplicaoprogressoinicialdeGenieesuaincapa-cidade de sustent-lo? A compreenso de seu prprio nome e da palavra desculpa pode significar que seus mecanismos de aprendizagem lingustica haviam sido ativados no comeo do perodo crtico, permitindo a ocorrncia de uma aprendi-zagemposterior.Omomentoemqueocorreuotreinamen-to de linguagem no NIMH e sua capacidade de aprender al-gumaspalavrassimplesaos13anospodemindicarqueela ainda estava no perodo crtico, embora j quase no final. Por outro lado, o abuso extremo e a negligncia de que foi vtima podem t-la retardado de tal modo que ela no podia ser con-siderada um verdadeiro teste do conceito de perodo crtico (Curtiss, 1977).O caso de Genie ilustra a dificuldade de adquirir a linguagem aps os primeiros anos de vida, mas, por causa de fatores com-plicadores,nopermitejulgamentosconclusivossobresetal aquisio possvel. Alguns pesquisadores consideram a fase pr-puberalumperodoantessensveldoquecrticoparao aprendizado da linguagem (Newport, Bavelier e Neville, 2001; Schumann,1997).Pesquisascomimageamentodocrebro constataramquemesmoquandoaspartesdocrebromais adequadasaoprocessamentodalinguagemsodanificadas nos primeiros anos da infncia, um desenvolvimento quase nor-mal da linguagem pode prosseguir medida que outras partes docrebroassumemocontrole(Boatmanetal.,1999;Hertz--Pannieretal.,2002;M.H.Johnson,1998).Defato,alteraes na organizao e utilizao do crebro ocorrem durante todo o curso do aprendizado normal da linguagem (M. H. Johnson, 1998; Neville e Bavelier, 1998).Seexisteumperodocrticoouumperodosensvelpara aaprendizagemdalinguagem,qualaexplicao?Osmeca-nismos do crebro para a aquisio da linguagem declinam medida que o crebro amadurece? Isso parece estranho, visto que as outras capacidades cognitivas melhoram. Uma hipte-se alternativa que o prprio incremento na sofisticao cog-nitivainterferenacapacidadedeumadolescenteoudeum adulto de aprender uma lngua. Crianas pequenas adquirem a linguagem em pores que podem ser prontamente digeri-das. Aprendizes mais velhos, quando comeam a aprender uma lngua, tendem a absorver uma grande parte de uma s vez e, portanto,talveztenhamdificuldadeemanalisareinterpretar (Newport, 1991).qual a sua opinioVoc teve dificuldade para aprender uma nova lngua quando adulto? Em caso positivo, essa explicao o ajudou a en-tender por qu?1.2oPapalia_01.indd 50 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano511.O desenvolvimento vitalcio. O desenvolvimento um processo vitalcio de mudana. Cada perodo do ciclo de vida afetado pelo que aconteceu antes e afetar o que est por vir. Cada perodo tem caractersticas e valores nicos. Nenhum perodo mais ou menos importante que qualquer outro.2.O desenvolvimento multidimensional. Ocorre ao longo de mltiplas dimenses que interagem biolgica, psicolgica e socialmente , cada uma delas podendo se desenvolver em ritmos dife-rentes.3.O desenvolvimento multidirecional. Enquanto as pessoas ganham em uma rea, podem perder em outra, s vezes ao mesmo tempo. As crianas crescem principalmente em uma direo para cima tanto em tamanho quanto em habilidades. Depois o equilbrio aos poucos se desloca. Os adolescentes ganham em termos de habilidade fsica, mas sua facilidade em aprender uma nova lngua declina. Algumas habilidades, como o vocabulrio, geralmente continuam crescendo ao longo da idade adulta; outras, como a capacidade de resolver problemas com os quais no esto familiarizados, podero diminuir; mas alguns novos atributos, como a sabedoria, podero aumen-tar com a idade. As pessoas procuram maximizar os ganhos concentrando-se em fazer coisas que sabem fazer bem e minimizar perdas aprendendo a administr-las ou compens-las.4.Influncias relativas de mudanas biolgicas e culturais sobre o ciclo de vida. O processo de desenvolvimento influenciado tanto pela biologia quanto pela cultura, mas o equilbrio entre essas influncias se altera. Habilidades biolgicas, como acuidade sensorial, fora e coordenao muscular, tornam-se mais fracas com a idade, mas apoios culturais, tais como educao, relacio-namentos e ambientes tecnologicamente adequados idade, podem ajudar a compensar.5.O desenvolvimento envolve mudana na alocao de recursos. Os indivduos escolhem como investir seus recursos de tempo, energia, talento, dinheiro e apoio social de vrias maneiras. Os recursos podem ser usados para o crescimento (por exemplo, aprender a tocar um instrumento ou aprimorar uma habilidade), para a conservao ou recuperao (praticar para manter ou re-cobrar uma proficincia), ou para lidar com a perda quando a conservao e a recuperao no forem possveis. A alocao de recursos para essas trs funes muda ao longo da vida, medida que diminui o conjunto de recursos disponveis. Na infncia e no incio da vida adulta, a maior parte dos recursos direcionada para o crescimento; na velhice, para a regulao da perda. Na meia-idade, a alocao mais equilibrada entre as trs funes.6.O desenvolvimento revela plasticidade. Muitas capacidades, como a memria, a fora fsica e a resistncia, podem ser aperfeioadas com o treinamento e a prtica, mesmo em idade avanada. Mas,atmesmonascrianas,aplasticidadetemlimitesqueempartedependemdasvrias influncias sobre o desenvolvimento. Uma das tarefas da pesquisa em desenvolvimento desco-brir at que ponto determinados tipos de desenvolvimento podem ser modificados nas diversas idades.7.O desenvolvimento influenciado pelo contexto histrico e cultural. Cada pessoa se desenvolve em mltiplos contextos circunstncias ou condies definidas em parte pela maturao e em parte pelo tempo e lugar. Os seres humanos no apenas influenciam, mas tambm so influencia-dos pelo contexto histrico-cultural. Conforme discutiremos ao longo deste livro, os cientistas do desenvolvimento descobriram diferenas significativas entre coortes, por exemplo, no funciona-mento intelectual, no desenvolvimento emocional de mulheres na meia-idade e na flexibilidade da personalidade na velhice.Agora que voc teve uma breve introduo ao campo do desenvolvimento humano e a alguns de seus conceitos bsicos, hora de ver mais de perto as questes que atraem o interesse dos cientistas do desenvolvimento e como eles fazem seu trabalho. No Captulo 2, discutiremos algumas teorias influentes de como o desenvolvimento ocorre e os mtodos de investigao normalmente utilizados para estud-lo.verificadorvoc capaz de...Fazer um resumo dos sete princpios da abordagem de Baltes ao desenvolvimento do ciclo de vida?Papalia_01.indd 51 01/02/13 09:2452Diane E. Papalia e Ruth Duskin Feldmanresumo e palavras-chaveDesenvolvimento humano: um campo em constante evoluoO que desenvolvimento humano e como o seu estudo evoluiu? Desenvolvimento humano o estudo cientfico de pro-cessos de mudana e estabilidade. A pesquisa sobre o desenvolvimento tem aplicaes im-portantes em vrios campos. medida que os pesquisadores se interessaram em seguir o desenvolvimento ao longo da idade adulta, o desenvolvimento do ciclo de vida tornou-se um campo de estudo. O estudo do desenvolvimento humano procura descre-ver, explicar, prever e, quando apropriado, intervir no desenvolvimento. Os estudiosos do desenvolvimento humano recorrem a disciplinas como psicologia, psiquiatria, sociologia, antropologia, biologia, gentica, cincia da famlia, edu-cao, histria, filosofia e medicina. Os mtodos de estudo do desenvolvimento humano ainda esto evoluindo, fazendo uso de tecnologias avan-adas.desenvolvimento humano(36)desenvolvimento do ciclo de vida(36)O estudo do desenvolvimento humano: conceitos bsicosO que os cientistas do desenvolvimento estudam? Cientistas do desenvolvimento estudam a mudana e a estabilidade em todos os domnios do desenvolvimento durante todo o ciclo de vida. Os trs principais domnios do desenvolvimento so o fsico, o cognitivo e o psicossocial. Cada um deles afeta os demais. O conceito de perodos do desenvolvimento uma construo social. Neste livro, o ciclo de vida dividido em oito perodos: pr-natal, primeira infncia, segunda infncia, terceira infncia, adolescncia, incio da vida adulta, vida adulta intermediria e vida adulta tardia. Em cada perodo, as pessoas tm necessidades e tarefas es-pecficas em termos de desenvolvimento.desenvolvimento fsico(37)desenvolvimento cognitivo(37)desenvolvimento psicossocial(37)construo social(38)indicadrindicadrPapalia_01.indd 52 01/02/13 09:24Desenvolvimento Humano53Influncias no desenvolvimentoQue tipos de influncia fazem uma pessoa ser diferente da outra? As influncias sobre o desenvolvimento vm tanto da hereditariedade quanto do ambiente. Muitas mudanas tpicas da infncia esto relacionadas maturao. As di-ferenas individuais tendem a aumentar com a idade. Em algumas sociedades predomina a famlia nuclear; em outras, a famlia extensa. O nvel socioeconmico (NSE) afeta os processos de desenvolvimento e suas consequncias em virtude da qualidade dos ambientes, do lar e da vizinhana, da nu-trio, da assistncia mdica e da escolaridade. Mltiplos fatores de risco aumentam a probabilidade de conse-quncias danosas. Importantes influncias ambientais se originam na cultu-ra, na etnia e no contexto histrico. A raa considerada pela maioria dos estudiosos uma construo social. As influncias podem ser normativas (reguladas pela ida-de ou pela histria) ou no normativas. H evidncias de perodos crticos ou perodos sensveis para certos tipos de desenvolvimento precoce.diferenas individuais(42)hereditariedade(42)ambiente(42)maturao(42)famlia nuclear(43)famlia extensa(43)nvel socioeconmico (NSE)(43)fatores de risco(44)cultura(45)grupo tnico(45)generalizao tnica(47)normativo(47)gerao histrica(48)coorte(48)no normativo(48)imprinting(48)perodo crtico(49)plasticidade(49)perodos sensveis(49)Abordagem de Baltes ao desenvolvimento do ciclo de vidaQuais so os sete princpios da abordagem ao desenvolvimento do ciclo de vida? Os princpios da abordagem de Baltes ao desenvolvi-mento do ciclo de vida incluem as seguintes proposi-es: (1) o desenvolvimento vitalcio, (2) o desenvol-vimento multidimensional, (3) o desenvolvimento multidirecional, (4) as influncias relativas da biologia e da cultura se alteram durante o ciclo de vida, (5) o desen-volvimento envolve mudana de alocao de recursos, (6) o desenvolvimento apresenta plasticidade, e (7) o desenvolvimento influenciado pelo contexto histrico e cultural.indicadrindicadrPapalia_01.indd 53 01/02/13 09:24