Cap 6 - Por Uma Teoria Da Pedagogia

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1 UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU SENSU EM EDUCAÇÃO Disciplina: Leitura Dirigida Professora: Neiva Ignês Grando Acadêmica: Cátia da Rosa TÓPICOS PARA DISCUSSÃO CAPÍTULO 6 - POR UMA TEORIA DA PEDAGOGIA 1. Introdução Pesquisa sobre a natureza do ensino, seus diversos componentes, seu funcionamento e seus efeitos sobre a aprendizagem. Determinação de um repertório de conhecimentos peculiares ao ensino. Objetivo (da pesquisa): identificar convergências nos resultados a respeito de um repertório de conhecimentos próprios ao ensino a partir de uma síntese de sínteses de pesquisas sobre o ensino. Objetivo geral deste capítulo: traçar linhas de uma reflexão mais profunda sobre a Pedagogia, esboçar modestamente as linhas gerais do que poderia vir a ser, eventualmente, uma teoria geral da Pedagogia. 2. Momentos fundadores da Pedagogia Hipótese de constituição da Pedagogia no século 17. Reformas, nova concepção de infância, problemas urbanos, aumento de frequência escolar e número de escolas. Pedagogia originada da experiência dos professores de profissão que codificam seu “saber ensinar” – método e procedimentos precisos para ensinar, um discurso e uma prática da ordem para exorcizar a desordem, para ensinar “tudo a todos”, “mais, mais rápido e melhor”. Codificação de novas maneiras de fazer formalizadas e relativas ao conteúdo da matéria, organização do tempo e do espaço, gestão dos comportamentos. Habilidades, conselhos práticos, atitudes e maneiras de fazer transmitidos aos professores de gerações seguintes e repetidos até o século 20 sem modificações realmente importantes.

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Resenha do cap 6 do livro de Gauthier

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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDOFACULDADE DE EDUCAOPROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTU SENSU EM EDUCAO

Disciplina: Leitura Dirigida Professora: Neiva Igns GrandoAcadmica: Ctia da Rosa

TPICOS PARA DISCUSSOCAPTULO 6 - POR UMA TEORIA DA PEDAGOGIA

1. Introduo Pesquisa sobre a natureza do ensino, seus diversos componentes, seu funcionamento e seus efeitos sobre a aprendizagem. Determinao de um repertrio de conhecimentos peculiares ao ensino. Objetivo (da pesquisa): identificar convergncias nos resultados a respeito de um repertrio de conhecimentos prprios ao ensino a partir de uma sntese de snteses de pesquisas sobre o ensino. Objetivo geral deste captulo: traar linhas de uma reflexo mais profunda sobre a Pedagogia, esboar modestamente as linhas gerais do que poderia vir a ser, eventualmente, uma teoria geral da Pedagogia.

2. Momentos fundadores da Pedagogia Hiptese de constituio da Pedagogia no sculo 17. Reformas, nova concepo de infncia, problemas urbanos, aumento de frequncia escolar e nmero de escolas.

Pedagogia originada da experincia dos professores de profisso que codificam seu saber ensinar mtodo e procedimentos precisos para ensinar, um discurso e uma prtica da ordem para exorcizar a desordem, para ensinar tudo a todos, mais, mais rpido e melhor. Codificao de novas maneiras de fazer formalizadas e relativas ao contedo da matria, organizao do tempo e do espao, gesto dos comportamentos. Habilidades, conselhos prticos, atitudes e maneiras de fazer transmitidos aos professores de geraes seguintes e repetidos at o sculo 20 sem modificaes realmente importantes.

Pedagogia Nova, princpio do sculo 20, crticas e questionamentos sobre a Pedagogia Tradicional. Pedagogia Nova, duas tendncias: experiencial centrada na criana; experimental de carter cientfico. Construo da nova Pedagogia sobre bases empricas tiradas da racionalidade cientfica; rompimento da tradio e construo de uma argumentao com base na cincia objetiva e experimental. Pedagogia apoiada em procedimento racional e cientfico para desenvolver saberes positivos e maneiras de fazer testadas experimentalmente. A cincia passa a ser o novo fundamento da Pedagogia. A Psicologia se apresenta como a disciplina de referncia da Pedagogia (identificao das leis gerais da natureza da criana).

Dcada de 70 - cincias da educao. Pedagogia definida como cincia da educao causando transformaes na inteno original da Pedagogia (ensino das salas de aula) para a produo e acumulao de conhecimentos gerados a partir de problemticas desenvolvidas em disciplinas especficas. Contribuies de diversas disciplinas cientficas no campo da educao, muitas delas fora do contexto de exerccio da atividade docente. Pedagogia Nova tambm foi contestada, assim como a Pedagogia Tradicional pela impossibilidade de fundamentar a ao do professor de maneira cientfica. Tradio e cincia em Pedagogia encontram-se ambas diante de suas insuficincias respectivas.

Incio da dcada de 80, pesquisas que percebem o trabalho do professor como o de um profissional, que munido de saberes e confrontado com situaes complexas deve deliberar, julgar e decidir com relao ao a ser adotada, ao gesto a ser feito ou palavra a ser pronunciada antes, durante e aps o ato pedaggico. A razo do professor apresenta-se assim como o novo fundamento da Pedagogia.

3. O professor como agente racional Noo de saber, pois conforme a poca e os pontos de vista apresenta polissemia. Objetivo circunscrever aquilo que entende-se pela noo de saber devido ao grande numero de pesquisas recentes sobre esse assunto e com diversos enfoques.

3.1 Trs concepes do sabera. A subjetividade como origem do saber: saber deter a certeza objetiva e racional, ou seja, fruto de um dilogo interior marcado pela racionalidade.b. O saber e o juzo: o saber o juzo verdadeiro, consequncia de uma atividade intelectual. O saber encontra-se presente nos discursos que apresentam um juzo verdadeiro sobre um objeto, um fenmeno, estando unicamente nos juzos de fato, com exceo dos juzos de valor.c. A argumentao como lugar do saber: o saber definido como uma atividade discursiva por meio da qual o sujeito tenta validar uma proposio ou uma ao. Validao feita por meio da lgica, da dialtica ou da retrica. O saber surge como construo coletiva de natureza lingustica, oriundo das trocas entre os agentes; intersubjetividade; relao com o outro. O saber surge de como uma construo coletiva de natureza lingustica, oriundo das trocas entre os agentes. Na terceira concepo os critrios de validade implicam a ideia de um pacto comunicacional dentro de uma comunidade de discusso. Perelman (1977) estabelece uma associao entre argumentao e retrica, mostrando que juzos de valor, os princpios da moral e dos comportamentos e tudo o que diz respeito aos fins, Filosofia prtica, politica e Filosofia do Direito, obedecem a uma forma de racionalidade de natureza argumentativa, permitindo fundamentar o prefervel, o aceitvel e o razovel (p. 335-336).

3.2 Uma exigncia comum de racionalidade, com diferenas essenciais Trs concepes que se assemelham e destacam que a natureza do saber est ligada a exigncias de racionalidade: o sujeito racional, o juzo racional e a argumentao racional. A exigncia de racionalidade um caminho interessante para as pesquisas sobre o saber docente. O saber engloba produes discursivas e aes cujo agente capaz de fornecer os motivos que justificam. Essa concepo de saber distingue-se das demais, encontradas na literatura recente, primeiro porque no faz do professor um cientista (especialista) e segundo porque nem toda a prtica social necessariamente um saber. O saber dos professores pode ser um saber racional sem ser um saber cientfico. O professor possui um saber prtico implicado na ao que produz um saber que no cientfico mas no deixa de ser legtimo e vlido. Em torno do prtico implicado na ao se cria uma espcie de espao pedaggico, de saberes e de decises, para investir e para criar. Nenhuma cincia pode representar totalmente, e sozinha, a situao pedaggica. A racionalidade ou a ausncia de racionalidade de um discurso ou de uma ao so decididas mediante a comunicao entre agentes e de sua capacidade de argumentar. Assim, as exigncias de racionalidade dependem do contexto de interao e das razes alegadas pelo sujeito. O saber antes de tudo o resultado de uma produo social, fruto da interao com os sujeitos e de uma interao lingustica inserida num contexto, sujeito a revises e reavaliaes, podendo ir at a refutao completa. A validao do saber varia de acordo com a natureza da relao com o mundo no qual os sujeitos se inserem. Um saber tem valor na medida em que est aberto e permita manter o processo de questionamento. Ele est enraizado nua comunidade de agentes e corresponde a diferentes tipos de juzo e seu objetivo prtico. O professor age e sabe (ou pode saber) porque o faz: sua ao se baseia em motivos justificveis pela razo, tomando decises conforme o contexto no qual se encontra. Tomar decises implica em julgar; seu julgamento se apoia em saberes, isto , nas razes que levam a orientar o julgamento num sentido e no no outro. O professor constri boa parte do seu saber na ao; ele no pode ser apresentado como um cientista porque sua ao est voltada para um fim prtico e no para a produo de conhecimentos tericos. Geralmente o professor procura conhecer para melhorar sua ao para enfrentar melhor os mltiplos problemas na sala de aula. Os juzos do professor so juzos sociais, referentes interao da sala de aula; so tambm juzos de valor por se apoiar em finalidades e regras normativas que visam transformar o outro num sentido considerado desejvel.

3.3 Um saber ligado ao trabalho Considerar os juzos produzidos pelo professor em forma de discurso de acordo com o contexto no qual se constroem e se aplicam os saberes docentes. Os saberes no podem estar separados do trabalho. A profisso docente requer certo nmero de saberes particulares que servem de base para a prtica docente. Esse repertrio de saberes prprio de cada professor s arbitrariamente pode ser separado do conjunto de saberes que o individuo possui; saberes prprios em virtude de sua experincia de vida pessoal denominado de culturais e pessoais. A distino entre saberes docentes e saberes culturais e pessoais bastante abstrata, mas permite que a pesquisa sobre saberes docentes no se perca na imensido dos saberes possudos por cada indivduo. Caractersticas dos saberes docentes: 1) formao universitria especifica; 2) experincia da prtica docente; 3) mobilizados pela instituio; 4) utilizados no ensino; 5) tm uma tradio, saberes pr-profissionais. Funes da atividade docente que se constituem em dimenses centrais da profisso: 1)transmisso da matria; 2) gesto das interaes na sala de aula. Organizao escolar que estrutura a relao do professor com os alunos e o estimula a produzir comportamentos e raciocnios especficos. A ordem pedaggica construda em parte na interao com os alunos, e o professor dispe de uma margem de manobra para estabelecer as regras e procedimentos em sala de aula. no estabelecimento dessa ordem que o professor deve exercer seu julgamento, decidindo, pensando e agindo em funo de determinadas exigncias de racionalidade (raciocnio prtico).

3.4 O raciocnio prtico Raciocnio terico: concluso a partir de uma ou vrias premissas. Raciocnio prtico: raciocnio que justifica uma deciso. Raciocnio prtico recorre a tcnicas de argumentao, poder de deciso e liberdade da parte daquele que julga, levando a uma tomada de deciso num perodo de tempo determinado, pressupondo a possibilidade de escolha. Escolhas e decises no so totalmente arbitrrias nem totalmente controladas, alm de que nem todas tem o mesmo valor. Ele d o direito crtica e justificao a partir de valores e de normas. Em relao ao trabalho, a razo pedaggica torna-se uma razo prtica, que visa no ao conhecimento puro, mas ao. Ensinar necessariamente entrar em relao com o outro, para transform-lo, julgar em contexto, confrontar-se com o carter contingente da interao social.

4. Uma prtica marcada pela contingncia O professor encontra-se no centro de uma multido de microdecises relativas sala de aula. Trata-se de aspectos simultneos e imprevisveis que influenciam o clima e a dinmica da turma, solicitando um conjunto de meios e de estratagemas para ganhar a aposta da educao e da aprendizagem. O professor no pode contar unicamente com os saberes formalizados para orientar sua ao. A pratica pedaggica demasiado complexa e demasiado inserida na contingncia para ser totalmente apreendida pela cincia. O professor deve usar de prudncia, recorrer a sabedoria prtica e reajustar seus meios em funo das finalidades que almeja.

4.1 A Phronsis Phronsis: prudncia ou sabedoria prtica, baseada na tica. uma virtude intelectual, indissociavelmente ligada as virtudes morais. No nem uma cincia nem uma tcnica; ela faz parte de uma atividade, uma ao tica. Agir arriscar-se, e a prudncia se revela como uma virtude do risco, da iniciativa pessoal, iniciativa essa sujeita reflexo, deliberao. Ser prudente saber arriscar-se. O homem prudente aquele que se mostra capaz de deliberar. A deliberao o exerccio do pensamento que toma a ao como objeto e como fim sob a moo do desejo, que ainda no passa de um anseio e que, assim, ainda ineficaz. A prudncia no somente um conhecimento terico da ao certa, mas tambm, a capacidade de agir bem. O saber da ao pedaggica aparece como um saber essencial ao, que pode em interao com os outros saberes, ajudar o professor a deliberar, ou melhor, a julgar. preciso, porm, que os desejos que do origem a essa deliberao, a esse julgamento, sejam guiados pela tica. O ensino eficaz muito mais uma prtica na qual os meios esto submetidos a uma finalidade tica, em que a deliberao e a deciso (julgamento) atendem a um desejo razovel, sendo preciso conhecer os meios e submete-los a finalidades ticas. Diante de inmeras limitaes impostas pela sala de aula o professor deve julgar e fazer escolhas difceis, teleguiados pelos saberes formalizados e que o ajudam a agir. Os saberes apoiam sua compreenso do real e permitem julgar melhor, deliberar com base num melhor conhecimento da situao. Os saberes no so informaes desordenadas, mas possibilidade de estruturao, de organizao e de simplificao, passaporte para uma melhor apreenso do real. Em resumo: a situao pedaggica multidimensional e imprevisvel, com realidades complexas. No se pode esperar das cincias da educao aquilo que elas no podem dar, isto , a elaborao de uma Pedagogia segura em si mesma, segura em seus fundamentos, segura da ao a ser realizada, do gesto a ser feito, das palavras a serem ditas ou das finalidades a serem perseguidas, pois ela constitui um conjunto singular que evolui no tempo e o professor deve se adaptar a uma situao sempre nova, negociar com a complexidade do real, encarar novos desafios e realidades inditas, com uma forte dose de imaginao e de improvisao, familiaridade com a matria, enfim, uma faculdade de julgar que esteja enraizada numa boa cultura profissional e na sensibilidade (fineza) para com o acontecimento que se apresenta.

4.2 Sobre o Esprito de Geometria e sobre o Esprito de Fineza A razo pedaggica compreende a aspectos relacionados com os recursos da inteligncia astuta (a mtis da Antiguidade Grega). A mtis comporta um conjunto de atitudes mentais que combinam a perspiccia, a clarividncia, a inteligncia das situaes, a previdncia, a sutileza, a vivacidade de espirito, a sagacidade, a eficincia prtica, a esperteza, o senso de convenincia, da oportunidade, enfim, um saber feito de perspiccia, uma cultura (Gauthier, 1993), sendo aplicada em campos muito diversos em que a eficincia prtica e o sucesso so procurados. A iluso da transparncia educativa: a iluso de uma relao educativa na qual cada um dos parceiros perfeitamente transparente para si mesmo e para o outro. Em matria de interao humana, a transparncia relacional parece um ideal falso e estril. A astcia est presente na natureza de toda interao social, nesse sentido ela pode manter a ordem como tambm mud-la ou simplesmente contorna-la. No plano educacional os alunos usam constantemente de astcia para com os dispositivos de vigilncia e o mestre usa igualmente de astcia contra o poder de resistncia dos alunos a fim de ganhar, de certo modo, a batalha da educao e da aprendizagem. A inteligncia astuta , portanto, substancial relao pedaggica, ela um componente essencial do ensino e da relao educativa. No possvel decidir no ser astuto; a astcia faz parte das relaes humanas. preciso ultrapassar o oportunismo provocado pela astcia, inserindo-a num contexto mais amplo denominado tica pedaggica. A tica reguladora da astcia visa liberao progressiva do nosso domnio sobre o aluno. A exigncia tica tambm necessria ao trabalho do mestre sobre si mesmo a fim de examinar seus comportamentos e palavras, vencendo suas prprias resistncias. a possibilidade de autocritica, fornecendo ao outro os meios para se apropriar dela. Essa exigncia e regulao tica da astcia so: a considerao do outro e um impulso em direo a ele, renovao da certeza de que nada pode ser durvel e til, formador e humanamente gerador. A inteligncia reta: de orientao positivista, viso aplicacionista dos saberes das cincias da educao, espera que as disciplinas tragam um esclarecimento certo, sem falhas, saberes positivos e tcnicas seguras para determinar de maneira indubitvel o que convm fazer nessa ou naquela circunstncia. Um repertrio de conhecimentos um instrumento de trabalho precioso, mas que no dispensa o mestre de tomar decises em situao de contingncia, de se posicionar apesar da incerteza, de assumir uma responsabilidade em relao a valores ou a um projeto pedaggico. Ambas as posies a iluso da transparncia educativa e a razo positivista negam a astcia no processo educacional e na relao entre o mestre e o aluno. Para o autor, a prpria complexidade do ensino necessita ao mesmo tempo dos recursos da inteligncia reta fornecidos pelas pesquisas em cincias da educao e dos recursos do esprito de fineza, da inteligncia astuta. Dependendo o momento, o professor pode empregar a astcia para: empregar truques ou estratagemas, empregar um banco de meios para obter a adeso do outro ou provocar o desejo de maneira que possam juntos construir o saber. A astcia pode se manifestar por meio de palavras, dos silncios, dos gestos ou dos olhares, buscando a adeso do outro suscitando seu consentimento.

5. O ensino como trabalho interativo Definio de trs tipos ideias de trabalho interativo:a. Interao de apoio: visa prevenir, interromper ou retardar a deteriorao do bem estar de uma pessoa ou de uma situao social. O usurio particularmente dependente e a interao reduzida ao mnimo, sendo o usurio reduzido ao estado de objeto.b. Interao de atribuio: tem a funo de conferir aos usurios uma definio ou etiquetas sociais, uma posio ou uma situao social que provocar um tipo de tratamento.c. Interao de transformao: tem por objetivo mudar o estado biofsico, psicolgico e at agir sobre os atributos sociais de um cliente ou de um usurio, tendo em vista melhorar seu bem estar e seu funcionamento social. Duas subfunes da interao de transformao:1. A restaurao: reduzir ou eliminar uma deficincia ou uma incapacidade.2. O aperfeioamento: melhoria da adaptao e do bem-estar do indivduo na sociedade, de acordo com etapas do crescimento consideradas normais. A interao de transformao solicita que o trabalhador interativo estabelea com o usurio uma relao extensiva e intensiva. A cooperao torna-se essencial, requerendo o mnimo de consenso entre o trabalhador interativo e o cliente e podendo ser anulado pelo usurio. O necessrio controle que o trabalhador interativo deve exercer assumir a forma da persuaso. A eficcia do trabalho interativo depender do grau de intimidade da interao (astcia e retrica). O trabalho interativo tem como objetivo o usurio ou o cliente. O trabalhador interativo no pode contar com um saber cientfico to preciso quanto aquele que trabalha com a matria. Problemas referentes natureza do objeto do trabalho interativo:a. O cliente como objeto do trabalho interativo no pode ser tratado como uma matria inerte as potencialidades reflexivas do cliente, sua autodeterminao e sua resistncia e astucias acrescentam uma dimenso dinmica de incerteza no trabalho interativo.b. Dificuldade em atribuir uma causa precisa s caractersticas do usurio que devem ser modificadas como as causas no so evidentes, o trabalhador interativo raramente est seguro da sua ao, obrigando o trabalhador interativo a recorrer s ideologias, as quais substituem de certo modo a causalidade cientfica.c. O objeto do trabalho apresenta um problema por ser heterogneo e complexo extrema heterogeneidade dos sujeitos e sua complexidade, que aumenta enormemente a contingncia de cada situao de interao entre trabalhador interativo e usurio.d. O trabalho interativo refere-se aos saberes das Cincias humanas e Sociais, que tem por caracterstica no estabelecer causalidade evidente grande parte da tecnologia interativa no se fundamenta nas relaes de causa e efeito. Os trabalhadores interativos, contrariamente aqueles que trabalham com a matria encontram problemas e necessidades nos usurios que exigem respostas imediatas e que no podem ser adiados, porque lhes falta um conhecimento cientifico.e. O trabalho interativo requer vrios meios. A autoridade central porque a atividade de controle e a necessidade da ordem esto inseridas na prpria natureza do trabalho interativo, todavia, no exercida de uma forma qualquer, atravs da persuaso que aparece como forma de autoridade sobre o usurio.f. O produto do trabalho interativo implica obrigatoriamente um encontro entre o trabalhador e o usurio. Essa situao confere ao produto do trabalho interativo uma fraca visibilidade e complica a avaliao da qualidade do produto, permanecendo a maior parte do tempo imprecisa, particularmente na rea da Educao. A falta de preciso dos saberes tericos, a natureza heterognea e complexa do objeto, a obrigao de persuadir para ser legtimo, a difcil avaliao do produto, so elementos que exigem a autonomia do trabalhador interativo.

6. A dimenso persuasiva da comunicao pedaggica Trs funes caractersticas da comunicao:a. Dimenso expressiva de natureza afetivo-emocional: o emissor, muito mais do que transmitir contedos, expressa-se por meio dos gestos, da postura, da intensidade e do timbre da voz, do ritmo da fala. O autor da comunicao se exprime, se liberta e se purifica de certos estados psquicos internos que alimentam a mensagem.b. Dimenso persuasiva: confere mensagem uma significao e uma direo, uma intencionalidade que busca modificar o outro, faz-lo agir de certo modo, faz-lo fazer, transform-lo. Nessa dimenso tambm h o desejo que o outro reconhea o contedo significativo da mensagem.c. Dimenso informativa: emissor-mensagem-receptor, um contedo cognitivo que vai do emissor ao receptor. Na comunicao pedaggica as finalidades sociais, politicas, econmicas e culturais da educao, do projeto de inserir do aluno numa ordem de saberes e de comportamentos confere a funo de persuaso da comunicao um papel de extrema importncia. A comunicao pedaggica uma comunicao retrica. O ensino (o professor) precisa sempre de retrica. No basta que um discurso seja lmpido para ser ouvido, que ele informe para ser captado, ele deve tambm agradar e comover, tocar ao mesmo tempo o corao e a mente, suscitar o desejo e o entusiasmo, fazer sentido e provocar o encontro. A dimenso persuasiva a astcia do discurso pedaggico. A dimenso persuasiva da comunicao pedaggica ainda o que informa o aluno, enraizando-se no aspecto afetivo-emocional com o objetivo de fazer fazer, fazer agir, de transformar num sentido considervel desejvel. A retrica uma mistura de afetivo e racional. O discurso pedaggico no um discurso de propaganda ou doutrinrio, ao contrrio, o professor d aos seus alunos os instrumentos necessrios para dominar a retrica utilizada. A retrica educadora e o ensino permite revelar as prprias astcias dos nossos discursos, ser lcidos e crticos em relao a ns mesmos e em relao aos outros. Ao usar de astcia e revelar suas formas, o ensino torna-se regulao tica da astcia. Na comunicao, ocorrem resistncias por parte do destinatrio que esto ligadas as suas opinies, aos seus interesses, aos seus estados afetivo-emocionais, ao seu inconsciente. A persuaso alcanada se o destinatrio ultrapassa suas resistncias graas a um movimento afetivo-emocional. Assim, convencer o outro no vencer, mas ajudar o outro a vencer a si mesmo, a lutar contra a apatia, contra o medo, a lutar contra tudo aquilo que nele o impede de se tornar outro, de se educar. A persuaso bem sucedida um encontro que se insere numa tica da ocupao de professor.

7. tica e pedagogia Antigamente os professores podiam impor-se como imagem de autoridade, porem atualmente isso no mais possvel, dessa forma o professor deve mobilizar outras maneiras de fazer para vencer as resistncias e permitir que a educao e a instruo aconteam. Uma pedagogia baseada na razo, uma razo essencialmente prtica, sabe que instruir e educar exigem habilidade, prudncia e astcia. Na situao pedaggica o mestre tem a misso de instruo e educao que lhe confinada pela sociedade e no qual o aluno obrigado a estar presente para sofrer essa influncia. O mestre deve ento usar de astucia para desenvolver essas atividades. Assim, a astcia constitutiva de toda relao mestre-aluno. O arsenal dos meios e estratagemas do professor, sua formao, sua experincia, seu conhecimento da pesquisa, seus saberes, sua cultura, sua fora de persuaso e sua inteligncia astuta fazem a diferena entre o desejo de aprender e o desejo que morre. A vontade de aprender, o desejo, o entusiasmo podem nascer e se concretizar por meio de um conjunto de meios e de astcias que so fornecidos para o professor pela sua experincia, pelas cincias da educao e pela pesquisa sobre um repertorio do ensino. Surge ento a importncia da dimenso tica da astcia, pois a astcia no consiste em manipular com o objeto de controlar e sujeitar, mas em trabalhar para tornar o saber apetecvel, tornando-o significativo, desejvel e prefervel para o aluno. Educar no domar, doutrinar, manipular, condicionar. A astcia deve estar sujeita ao projeto educativo de instruir e educar, s finalidades educativas dando liberdade ao educando, considerando o outro e a possibilidade do fracasso. O pedagogo no pode impor uma cultura como certa e nica, mas construir o sentido juntamente com os alunos. Em relao misso que confiada ao professor, pela sociedade:a. tica dos meios: O professor tem a responsabilidade de empregar os melhores meios possveis para levar o aluno a aprender.b. tica da cultura: a responsabilidade do professor de apoiar o aluno em seu esforo para construir um mundo sensato, significando o mundo, dando-lhe sentido.

8. Por uma Teoria da Pedagogia A pedagogia deve se tornar um lugar no qual o saber se constri; no somente o saber privado (o saber experiencial), mas tambm um saber pblico validado, ligado ao, o saber da ao pedaggica. preciso que a pedagogia seja um lugar de troca, de reflexo sobre si mesma. necessrio ultrapassar o reducionismo, tanto das ideias recebidas quanto da viso cientificista, pois ambas so discursos de isolamento que impedem a melhoria da educao e reduzem a complexidade do ensino e prejudicam a emergncia de uma teoria do trabalho docente em contexto. De um lado, nega-se a pertinncia da pesquisa, para fechar o ensino em torno da experincia pessoal e de outro, nega-se a especificidade da ao pedaggica em detrimento de uma viso aplicacionista dos resultados das pesquisas. preciso ligar a pesquisa prtica, numa perspectiva de abertura sobre os possveis, argumentando a favor da aproximao entre os pesquisadores e os prticos, desejando a abertura para o sentido. A teoria da Pedagogia uma construo conceitual que integraria dimenses especulativas e empricas, preocupada com os elementos primordiais da tradio pedaggica, com os saberes oriundos das cincias da educao e com o dilogo entre os prticos e os pesquisadores; preocupada com o ensino e a aprendizagem, com o conjunto de mtodos, com os processos e procedimentos com os quais se ensina e se aprende (p. 394).

9. Concluso Objetivo: fazer uma sntese das snteses de pesquisas sobre o saber dos professores. Pontos de referncia que permitem examinar o percurso e retra-lo a partir de seus eixos fundamentais.a. O erro (luta contra trs erros):1. Aplicacionismo: a situao pedaggica comporta dimenses contraditrias, nesse caso, o professor no pode, com toda tranquilidade, de forma mecnica aplicar regras do saber da ao pedaggica aos casos encontrados.2. Nihilismo: posio que recusa de antemo toda possibilidade de determinao de um repertrio de conhecimentos do ensino em nome da diferena, em nome da variabilidade infinita do contexto. No se pode dizer mais nada sobre as diferenas, pois so equivalentes e faz parte de um vasto todo indiferenciado.3. Senso comum: trabalho das ideias recebidas na rea de ensino; so clichs que impedem o desenvolvimento da reflexo sobre a profisso, prejudicando a constituio de um saber propriamente pedaggico com a ajuda da pesquisa. Eles mantm a ideia de que a pesquisa no campo do ensino foi, ainda e sempre ser inadequada e intil aos professores.b. O esquecimento (luta contra falsos problemas esquecidos):1. Ideologia aplicacionista: que concebe a sala de aula como lugar simples, porm contrape-se uma viso complexa da sala de aula, que no pode ser aplicado ingenuamente os resultados da pesquisa para resolver os problemas encontrados.2. Estabilidade de estrutura da sala de aula: responsvel por levar os professores a produzir certo nmero de comportamentos de podem se parecer. A sala de aula padro, onde a maioria dos professores se encontra possibilita o estudo dos comportamentos, pensamentos e atitudes dos professores, comportando tambm resultados que de certa forma, podem prestar generalizao e comparao.3. Ausncia de pesquisas: a pesquisa sobre o ensino implica, assim, o estudo crtico dos saberes dos professores e sua validao. A responsabilidade tica provoca no professor a necessidade de conhecer os melhores meios ara instruir e educar, no podendo ignorar que as pesquisas dizem respeito s melhores prticas.c. O conceito:1. Saber da ao pedaggica, situado dentro da problemtica de utilizao prudente dos saberes de seu reservatrio em resposta aos casos concretos com os quais se depara na situao pedaggica de uma sala de aula padro.a) Comportamentos do professor, caractersticas semelhantesb) Complexidade da situao da sala de aulac) Escolha do curso de ao com base no reservatrio de saberes saberes da ao pedaggica (disciplinares, experienciais, curriculares, tradicionais, etc.) A pesquisa sobre o ensino confere uma importncia especial ao professor, sem entretanto lhe dar sempre a razo. A pesquisa na rea de ensino pode:1. modificar as representaes da prtica docente e, consequentemente, a prpria prtica, entretanto a pesquisa no impe seu ponto de vista, ela permite que os atore ressaltem sua viso das coisas;2. contribui para o reconhecimento da legitimidade respectiva de cada uma;3. ela no serve de norma, mas de base para a discusso4. ajuda os atores envolvidos a formalizar seus saberes a respeito da ao;5. contribui para o reconhecimento da legitimidade do discurso dos professores sobre a Pedagogia;6. provoca uma mudana na forma de definio da atividade docente;7. pode contribuir melhor e at melhorar a prtica docente, validando os saberes da ao pedaggica repertrio de conhecimentos do ensino. Os saberes da ao pedaggica validados pelas pesquisas devem ser utilizados com prudncia, deliberando e avaliando os resultados da pesquisa, destacando o julgamento profissional como um elemento essencial. Os enunciados oriundos da pesquisa ajudam o professor a analisar e compreender a situao, dando-lhes mais possibilidades de intervenes potencialmente pertinentes.