Candomble - Ritual e tradição (web)

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5/10/2018 Candomble-Ritualetradio(web)-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/candomble-ritual-e-tradicao-web 1/6 CANDOMBLÉ- RITUAL E TRADIÇÃO Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de rel igião formada na Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente pode ser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo candomblé designa muitas var iedades religiosas, como veremos adiante. HISTÓRICO O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferent es áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africana s diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Mar anhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro. A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo du rante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretud o nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Bras il em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conhecera m antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de alguma s religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados. Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste sécul o, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasile ira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião bra sileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas. Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catoli cismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dime nsão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A p artir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de cla sse, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divin dades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc. O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Per nambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião ex clusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de o rigem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil. Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido terri tório da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos del es abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo d as modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é r emetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente, a umbanda. Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e utros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e

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CANDOMBLÉ- RITUAL E TRADIÇÃO

Hoje, quando se fala em "candomblé", o que se tem em mente é um tipo específico de religião formada na Bahia, denominado candomblé "queto" ou "Ketu", que atualmente podeser encontrado em praticamente todo o País. Mas o termo candomblé designa muitas variedades religiosas, como veremos adiante.

HISTÓRICO

O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro.

A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso doséculo XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretud

o nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior mobilidadee, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados.

Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam aser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazidoda França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradiçõesafricanas, espíritas e católicas.

Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc.

O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 ea partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a

umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmentonegro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a sepropagar também para fora do Brasil.

Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidadesindustrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e "verdadeira" raiz original, consideradapelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa quesua moderna e embranquecida descendente, a umbanda.

Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia eutros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e

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se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto po

r um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, eivado de tantas desilusões.

O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra atéentão pouco contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles seinteressaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas.

O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais osseguidores dão o nome de "nações" (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que

foram as principais fontes culturais para as atuais "nações" de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique)e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana.

NAÇÃO KETÚ

Na chamada "nação" queto, na Bahia, predominam os orixás e ritos de iniciação de origem iorubá. Quando se fala em candomblé, geralmente a referência é o candomblé queto e seus anti

gos terreiros são os mais conhecidos: a Casa Branca do Engenho Velho e duas casasderivadas da Casa Branca, o Axé Opô Afonjá e o Gantois; além do candomblé do Alaketo. O candomblé queto tem tido grande influência sobre outras "nações", que têm incorporado muitasde suas prática rituais. Sua língua ritual deriva do iorubá, mas o significado das palavras e a sintaxe em grande parte se perderam através do tempo. Além do queto, as seguintes "nações" também são do tronco iorubá (ou nagô, como os povos iorubanos são tambéminados): efã e ijexá na Bahia, nagô ou eba em Pernambuco, oió-ijexá ou batuque de nação noGrande do Sul, mina-nagô no Maranhão, e a quase extinta "nação" xambá de Alagoas e Pernambuco.

Mais recentemente, quando o candomblé (de origem baiana, nação queto) já se encontrava espalhado por todos os grandes centros urbanos, tendo já, inclusive, iniciado sua p

ropagação por países do Cone Sul e também da Europa, iniciou-se um movimento de recuperaçãde raízes africanas conhecido como "africanização", que rejeita o sincretismo católico,procura reaprender o iorubá como língua original e tenta reintroduzir ritos que se perderam ao longo do tempo e redescobrir os mitos esquecidos dos orixás.

NAÇÃO ANGOLA

A "nação" angola, de origem banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inquices, divindades bantos, assim como incorporoumuitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível,riginou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta "nação", tem fund

amental importância o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O

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candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dosantepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.

NAÇÃO JEJÊ

A nação jeje-mahin, do estado da Bahia, e a jeje-mina, do Maranhão, derivaram suas tradições e língua ritual do ewê-fon, ou jejes, como já eram chamados pelos nagôs, e suas divdades centrais são os voduns.As tradições rituais jejes As tradições rituais jejes foram muito importantes na formação dos candomblés com predominância iorubá.

AS TRADIÇÕES E RITUAIS JEJÊ

ORIGEM DA PALAVRA JEJÊ

A palavra JEJE vem do yorubá adjeje que significa estrangeiro, forasteiro. Portanto, não existe e nunca existiu nenhuma nação Jeje, em termos políticos. O que é chamado denação Jeje é o candomblé formado pelos povos fons vindo da região de Dahomé e pelos povoshins. Jeje era o nome dado de forma perjurativa pelos yorubás para as pessoas quehabitavam o leste, porque os mahins eram uma tribo do lado leste e Saluvá ou Savalu eram povos do lado sul. O termo Saluvá ou Savalu, na verdade, vem de "Savê" que era o lugar onde se cultuava Nanã. Nanã, uma das origens das quais seria Bariba, uma antiga dinastia originária de um filho de Oduduá, que é o fundador de Savê (tendo neste caso a ver com os povos fons). O Abomei ficava no oeste, enquanto Axantis era a tribo do norte. Todas essas tribos eram de povos Jeje.

ORIGEM DA PALAVRA DAOMÉ

A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés queiam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados: Dan = serpente sagrada e Homé = a terra de Dan, ou seja, Dahomé = a terra da serpente sagrada. Acredita-seda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra. Encontramos tambémCleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que este culto veio descendo do Egito até

Dahomé.

DIALETOS FALADOS

Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus, etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística - muitas tribos falando diversos idiomas, dialetos e cultuando os mesmos Voduns. As diferenças vinham, por exemplo, dos Minas - Gans ou Agonis, Popós que falavam a língua das Tobosses, que a meu ver, existe uma grande confusão com essa língua.

OS PRIMEIROS NO BRASIL

Os primeiros negros Jeje chegados ao Brasil entraram por São Luís do Maranhão e de São L

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uís desceram para Salvador, Bahia e de lá para Cachoeira de São Félix. Também ali, há umaande concentração de povos Jeje. Além de São Luís (Maranhão), Salvador e Cachoeira de São(Bahia), o Amazonas e bem mais tarde o Rio de Janeiro, foram lugares aonde encontram-se evidências desta cultura.

VODUNS

Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, o culto desses voduns só cresceram noantigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagos e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foipara o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas.

Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem-se a classificação do povo da terra, ou os voduns Caviunos, que seriam os voduns Azanssu, Nanã e Becém. Temos, também, o vodun chamado Ayzain que vem da nata da terra. Este é um vodun que nasce em cima da terra. É o vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os voduns da terra encontramos

Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também estána família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore mto importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokoses. Ague, Azaká é também umdun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, cho de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade cOrixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma outra família que viriada família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobosses que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziritobosse. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahin, mas das famílias que englobam o Mahin e também outras famílias Jeje.

Como relatei, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou s

eja, nós que pertencemos a esta nação deveríamos ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe oupovos Fons. Então, se fôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos noschamar, ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus aoe é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assim ficamos para todasas nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados.

Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa decandomblé da nação Jeje chama-se Kwe = "casa". A casa matricial em Cachoeira de São Félixchama-se Kwe Ceja Undé. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas,

das cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante que são identificados com os voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpame, que quer dizer "fazenda" na língua Ewe-Fon. Sendo assim, a casa chama-se Kwe e o local onde fica situado o candomblé, Runpame. No Maranhão predomina o culto às divindades como Azoanador e Tobosses e vários Voduns onde a "sacerdotisa" é chamada Noche e o cargo masculino, Toivoduno.

FUNDADORES

Voltando a falar sobre "Kwe Ceja Undé", esta casa como é chamada em Cachoeira de São Fél

ix de "Roça de Baixo" foi fundada por escravos como Manoel Ventura, Tixerem, Zé do Brechó e Ludovina Pessoa.

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Ludovina Pessoa era esposa de Manoel Ventura, que no caso africano é o dono da terra. Eles eram donos do sítio e foram os fundadores da Kwe Ceja Undé. Essa Kwe aindaseria chamada de Pozerren, que vem de Kipó, "pantera".

Darei um pequeno relatório dos criadores do Pozerren Tixarene que seria o primeiroPejigan da roça; e Ludovina, pessoa que seria a primeira Gaiacú.

A roça de cima que também é em Cachoeira é oriunda do Jeje Dahomé, ou seja, uma outra forma de Jeje. Estou falando do Mahin, que era comandada por Sinhá Romana que vinha aser "Irmã de santo" de Ludovina Pessoa (esta última mais tarde assumiria o cargo deGaiacú na Kwe de Boa Ventura). Mas, pela ordem temos Manoel Ventura, que seria o fundador, depois viria Sinhá Pararase, Sinhá Balle e atualmente Gamo Loko-se. O Kwe Ceja Undé encontra-se em controvérsia, ou seja, Gamo Loko-se é escolhida por Sinhá Pararase para ser a verdadeira herdeira do trono e Gaiacú Agué-se, que seria Elisa Gonçalvesde Souza, vem a ser a dona da terra atualmente. Ela pertence a família Gonçalves, os donos da terra. Assim, temos os fundadores da Kwe Ceja Undé.

Aqui, no Rio de Janeiro, saindo de Cachoeira de São Félix, Tatá Fomutinho deu obrigação com Maria Angorense, conhecida como Kisinbi Kisinbi.

Uma das curiosidades encontradas durante minha pesquisa sobre Jeje é o que chamamos de Deká, que na verdade vem do termo idecar, do termo fon iidecar, que quer dizer "transmissão de segredo". Esse ritual é feito quando uma Gaiacú passa os segredos danação Jeje para futura Gaiacú pois, na nação Jeje não se tem notícias, que possa ter haviPai de santo". O cargo de sacerdotisa ou "Mãe de santo" era exclusivamente das mulheres. Só as mulheres poderiam ser Gaiacús.

OGANS

Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer Senhor que zela pelo altar sagrado, porq

ue Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontoc.

Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vivee forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano etrazida de forma fiel pelos negros ao Brasil.

MINA JEJÊ

Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei anteriormente, atual República Popular deBenin.

A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamadosVoduns e,principalmente, o culto à Dan ou o culto da Serpente Sagrada.

Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa delinhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida.

Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns:

*Ayzan - Vodun da nata da terra*Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviosso*Aguê - Vodun da folhagem

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*Loko - Vodun do tempo

CURIOSIDADES

*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha desanto foi D.Adelaide Santos

*Ekede termo Jeje*Done cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá*Doté cargo ilustre do filho de Sogbô

Os vodun-ses da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné.

Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria Megitó Benoí? Resposta: Benoí; e aos iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria sposta: "Aótin".

O termo usado "Okolofé", cuja resposta é "Olorun Kolofé" vem da fusão das Nações de Jeje e

e Ketu.

(Texto de Reginaldo Prandi (in: Herdeiras do Axé. Sao Paulo, Hucitec, 1996), adaptado para este site pelo autor.)http://acaiaba.vilabol.uol.com.br/historia.html