Campus avançado de Jandaia do Sul - APUFPRte acionar judicialmente a empresa de vigilância...
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Em abril de 2013, o Conselho
Universitário da UFPR (Coun)
aprovou a criação do campus
avançado de Jandaia do Sul. Loca-
lizada no norte paranaense, a cida-
de tem cerca de 20 mil habitantes.
Em 8 de agosto de 2013, o mes-
mo Conselho aprovou a criação de
três Engenharias – de Produção,
de Alimentos e Agrícola – e duas
licenciaturas – em Computação e
em Ciências Exatas – cada uma
com 50 vagas. Os novos cursos já
foram ofertados nos vestibulares
2013/2014 e 2014/2015.
A criação faz parte da segunda
fase do Programa de Apoio a Planos
de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais (Reuni),
ao qual a Universidade Federal do
Paraná (UFPR) aderiu em 2007.
Como nas expansões mal pla-
nejadas da primeira fase, onde pri-
meiro abrem-se as vagas e depois
busca-se os recursos necessários
para o funcionamento adequado,
o campus avançado de Jandaia do
Sul não fugiu à regra.
Para começar as atividades, a
UFPR locou espaços na Faculda-
de de Jandaia do Sul (Fafijan) até
que as obras do novo campus se-
jam concluídas. Entretanto, nem
o processo de licitação externo foi
iniciado.
Assim, a comunidade aca-
dêmica pode enfrentar sérias
dificuldades nos próximos anos,
com a entrada de mais alunos e a
chegada das disciplinas específi-
cas que exigem docentes especia-
lizados e laboratórios próprios,
num momento em que o governo
anuncia um dos maiores cortes
dos últimos tempos para as Uni-
versidades.
Sem espaços adequados para
pesquisa, ensino e extensão e sem
ordenamento jurídico, docentes e
alunos reivindicam melhores con-
dições de trabalho, estrutura e de-
mocracia.
Edição Especial | Junho de 2015
Campus avançado de Jandaia do Sul repete erros de expansões anteriores
2 Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial | Junho de 2015
EStRUtURA Expansão é feita sem ter qualquer estrutura pronta
Campus de Jandaia é criado sem ter estrutura pronta
Com a criação do campus
avançado de Jandaia do Sul, di-
versas promessas foram feitas
pela Administração da UFPR,
envolvendo contratação de cor-
po docente e servidores, e cons-
trução e preparação da estrutura
para oferecer ensino, pesquisa e
extensão de qualidade para a co-
munidade.
Em janeiro de 2014, a Univer-
sidade assumiu o compromisso
de investir em dois anos o total
de aproximadamente R$ 44 mi-
lhões na construção de prédios,
salas de aulas e laboratórios.
O investimento seria feito
com recursos que já estariam li-
berados pelo Ministério da Edu-
cação (MEC) – o qual deveria
bancar os custos de implantação,
conforme informações da Reito-
ria.
Para a criação do campus, foi
instituída uma Comissão de Im-
plantação para avaliar as deman-
das, apresentar propostas curricu-
lares dos cursos, da estrutura física
necessária e do local de instalação.
Entretanto, o campus foi im-
plantado sem ter qualquer estru-
tura pronta, tampouco obras em
andamento. Já em 2013 foi rea-
lizado vestibular para as primei-
ras 250 vagas lotadas em Jandaia,
por meio do Sistema de Seleção
Unificada (Sisu).
Segundo entrevista do diretor
pro tempore do campus, Roberto
Pettres, na reportagem “Somos
mais UFPR – Jandaia do Sul”, de
12 de maio deste ano, disponível
no site do campus, um mês antes
do início do ano letivo de 2014
ainda não havia nada preparado
para iniciar as atividades.
“Cheguei em Jandaia do Sul
com uma agenda e um telefone
celular apenas, e nós tivemos de
28 a 30 dias para equipar todo o
prédio e deixar a estrutura pron-
ta para possibilitar que em 10 de
fevereiro começássemos as au-
las”, afirmou Pettres.
Mesmo com cerca de R$ 44 milhões supostamente liberados pelo MEC, nenhum investimento foi feito
EXPEDIENTEInformativo APUFPR-SSindPublicação especial da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná - Seção Sindical do Andes - Sindicato Nacional
Diretoria - Gestão 2013/2015Presidente: Maria Suely SoaresVice-Presidente: Luis Allan KünzleSecretário Geral: Vilson Aparecido da MataPrimeira Secretária: Adriana Hessel DalagassaTesoureiro Geral: Claudio Antonio Tonegutti
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ProduçãoAbridor de Latas - Comunicação Sindical | (41) 3026.0630Equipe de Redação - - Larissa Amorim SRTE 9459-PR, Guilherme Mikami SRTE 9458-PR, Larissa Knaipp e Rebeca Mileski.Projeto Gráfico - Guilherme MikamiDiagramação - Larissa Knaipp
A realidade é que cerca de um
ano e meio após a implantação do
campus, docentes, estudantes e
servidores técnico-administrati-
vos continuam a fazer improvisos
na estrutura alugada. Para pio-
rar, os recursos prometidos pelo
governo federal não chegaram
e, segundo o superintendente de
Infraestrutura da UFPR, Alvaro
Pereira de Souza, não há previsão
para que isto aconteça.
3Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial |Junho de 2015
EStRUtURA Dívidas com aluguel chegam quase a R$ 367 mil
Salas e gabinetes superlotados comprometem qualidade de ensino
Desde a sua implantação, a
UFPR aluga parte da estrutu-
ra da Fafijan para o funciona-
mento do campus avançado de
Jandaia do Sul.
No entanto, por falta de es-
paço, a comunidade acadêmica
sofre com salas superlotadas,
gabinetes com até 13 profes-
sores, materiais de pesquisa e
extensão nos corredores – ou
até em baixo das mesas.
Isso porque os cinco cursos
contam apenas com 22 salas
para distribuir entre bibliote-
ca, laboratórios, atendimento
à saúde, salas de aula e admi-
nistração.
Segundo os alunos, como
há apenas cinco salas de aula
disponíveis, é necessário juntar
turmas para viabilizar algumas
aulas e cumprir a carga horária.
“Tem salas que têm capaci-
dade para 50 pessoas, mas são
ocupadas por 67. Muitas pesso-
as acabam passando mal e ou-
tras nem vêm para a aula. Isso
prejudica o ensino de qualidade,
porque os professores também
não conseguem dar a melhor
aula sem condições”, informou
o coletivo dos estudantes.
Os docentes de Jandaia
precisam se adaptar para con-
seguir desenvolver seu traba-
lho com qualidade. Gabinetes
improvisados e coletivos – com
no mínimo 10 docentes – difi-
cultam a preparação de aulas,
a realização de monitoria, de
orientações, e o atendimento
aos alunos. Os gabinetes tam-
bém funcionam como depósi-
tos para guardar equipamentos
e materiais, já que não há espa-
ços de armazenamento.
A biblioteca possui estrutu-
ra deficitária. Segundo os servi-
dores, inicialmente havia ape-
nas 140 livros para atender a
todos e, mesmo hoje, com cerca
de dois mil exemplares, os alu-
nos tem dificuldade em consul-
tar o acervo para cumprir suas
atividades acadêmicas.
Apenas 22 salas compõem toda a estrutura do campus avançado de Jandaia do Sul
4 Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial | Junho de 2015
UFPR enfrenta dificuldades para pagar contrato integral de locação
Faculdade de Jandaia do Sul, o uso
do estacionamento compõe o valor
do aluguel mensal de R$ 60.015,95,
que permite à Universidade utilizar
também os 22 espaços internos, ba-
nheiros e área de convivência.
Outros espaços comuns como
anfiteatro e ginásio de esportes pre-
cisam ser solicitados e pagos à parte
quando usados.
No contrato também está pre-
visto o valor mensal de R$ 21.712,
referente ao rateio das despesas co-
muns, como dos gastos com água,
energia, impostos, seguro, limpeza e
conservação, coleta de resíduos quí-
micos, internet, serviço de copa e de
monitoramento.
DEvER Comunidade acadêmica não conta com qualquer tipo de segurança no atual campus
Entretanto, o local não conta
com qualquer tipo de segurança
– como a vigilância 24h, que já é
prática comum em todos os campi
da UFPR. A guarita em frente ao
prédio fica fechada e não há moni-
toramento.
O contrato está fixado em quase
R$ 1 milhão anuais e seu pagamen-
to, segundo o diretor pro tempore
do campus, está “em dia”. Porém, de
acordo com os dados do Portal da
Transparência do governo federal,
os atrasos da UFPR com o aluguel
do campus já chegam quase a R$
367 mil.
Para a APUFPR-SSind, os moti-
vos do descumprimento do contrato
A Associação dos Professores
da Universidade Federal do Paraná
(APUFPR-SSind) visitou o campus
avançado de Jandaia do Sul em 16
de junho. Em reunião com a dire-
toria do Sindicato, 28 docentes – do
quadro de 34 – relataram as dificul-
dades que a comunidade acadêmica
enfrenta, confirmadas por represen-
tantes dos estudantes.
Além da falta de espaço físico
para aulas, laboratórios, pesquisa e
extensão, docentes, servidores técni-
co-administrativos e estudantes têm
visto o corte de uso da infraestrutura
no dia a dia, sem explicações claras.
EStACIoNAMENtoO diretor pro tempore do cam-
pus, Roberto Pettres, solicitou escla-
recimento à Procuradoria Federal
sobre a guarda dos bens na institui-
ção. Em resposta ao pedido, o órgão
Apesar de dizerem que está tudo bem, segundo o Portal da transparência, a UFPR deixou de pagar R$ 367 mil
esclareceu que a Universidade pode
ser responsabilizada pelos veículos
estacionados em espaços destinados
a este fim – podendo posteriormen-
te acionar judicialmente a empresa
de vigilância contratada.
Baseado no parecer, em 12 de
maio, o pró-reitor de Administração
da UFPR, Edelvino R. Filho, enviou
memorando à direção do campus
em que recomenda que o estacio-
namento da unidade seja fechado a
alunos e pessoas estranhas à UFPR.
No documento nada consta em rela-
ção aos docentes e servidores.
Em posse desse memorando e
do parecer da Advocacia Geral da
União (AGU) e da Procuradoria-
-Geral Federal, a Fafijan expediu um
ofício afirmando que a partir de 8 de
junho não seria mais possível utili-
zar o estacionamento do campus.
Pettres explicou que “essa é uma
área da Fafijan e ela nos cedeu este
espaço sem nenhum custo durante
todo o período em que estivemos
aqui, porém, como é um estaciona-
mento privado, a responsabilidade
recai integralmente sobre a Fafijan”.
CoNtRAtoAo analisar o contrato de lo-
cação firmado entre a UFPR e a
5Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial |Junho de 2015
em relação ao uso do estacionamen-
to e da ausência de monitoramento
não estão claros. Nos dois casos, a
preocupação está centrada na falta
de segurança.
SEGURANÇAPara a construção do novo cam-
pus, a Prefeitura Municipal de Jan-
daia do Sul doou um terreno de 242
mil m² à Universidade como uma
contrapartida exigida pelo MEC –
cuja escritura foi entregue em 25 de
agosto de 2014.
O local que aguarda o início das
obras – que ainda não foram para
licitação externa – conta com um
barracão e uma pequena casa refor-
mada que não estão sendo utiliza-
dos pela Universidade. No entanto,
o espaço conta com vigilância 24h,
diferentemente do campus que abri-
ga atualmente toda a comunidade
acadêmica.
REFoRMASDe acordo com os docentes,
já há dificuldades para conseguir
pequenas adaptações, como a mu-
dança de apenas uma tomada do
laboratório para 20 amperes – o que
demorou três meses.
Parte do problema está no con-
trato firmado, “nenhuma obra, re-
forma ou adaptação pode ser feita
no imóvel sem autorização prévia e
escrita da locadora, que poderá exi-
gir, quando na entrega do imóvel,
que o mesmo seja colocado no esta-
do anterior que se encontrava, sen-
do que qualquer benfeitoria porven-
tura construída adere ao imóvel”.
Além dos transtornos que essa
relação acarreta no dia a dia, docen-
tes que têm colocado dinheiro do
próprio bolso para a construção dos
laboratórios – uma vez que os re-
cursos não chegaram – terão parte
de seus investimentos perdidos na
devolução do imóvel.
2016No início de 2016 serão abertas
250 novas vagas para os alunos dos
cinco cursos de Jandaia –engenha-
rias Agrícola, de Alimentos e de
Produção, e licenciaturas em Ciên-
cias Exatas e em Computação.
Mas, segundo o coletivo de
docentes do campus, a atual es-
trutura que a UFPR tem na Fafijan
não suporta cinco novas turmas de
estudantes, faltam salas de aula e
laboratórios para ministrar as disci-
plinas tanto do primeiro quanto do
segundo semestre.
De acordo com os cinco coorde-
nadores de curso, para 2016, serão
necessários mais nove laboratórios
para atender à demanda dos currí-
culos – sendo que quatro deveriam
estar prontos já para o primeiro se-
mestre, sob pena de prejuízo ao pro-
cesso de ensino e aprendizagem.
Na apresentação do projeto de
construção do novo campus, a pro-
messa foi de que até meados de 2016
a obra seria concluída. Com o inves-
timento de aproximadamente R$ 45
milhões, o projeto deveria ser exe-
cutado em quatro fases, totalizando
69.179 m² de área construída.
Essa informação foi reafirmada
pelo diretor pro tempore do campus
à APUFPR-SSind em reunião reali-
zada em junho, mas contemplaria
apenas um dos quatro blocos do
pavilhão pedagógico do projeto –
que deverá incluir tarefas adminis-
trativas e didáticas – e outro bloco
parcial para laboratórios.
Em nota encaminhada à
APUFPR-SSind, a Administração
da UFPR afirma que “o ajuste fiscal
do governo federal trouxe alguns
desafios para a administração das
Instituições de Ensino Superior
(IES), mas estamos trabalhando
com firmeza para que os prazos
pactuados com a comunidade
sofram a menor interferência
possível”.
Dificilmente este prazo será
cumprido. Segundo o superinten-
dente de Infraestrutura, “de 2016 a
2019 fica pronto, é isso que temos de
previsão”. “O projeto nós não vamos
licitar, será feito internamente, mas
a obra com certeza vamos licitar no
ano que vem”, explica.
Segundo ele, os recursos pro-
metidos pelo governo não estão
disponíveis. “Até agora a gente não
tem uma informação fiel do MEC de
quando vai ter recursos. Ainda não
tem recurso certo destinado para
isso, então temos que esperar para,
na hora que tiver, terminar o projeto
e depois vemos a questão de obras”.
Ainda segundo os coordenado-
res dos cursos, mesmo que a Uni-
versidade amplie o contrato com a
Fafijan alugando mais espaços, há
laboratórios que, por causa de fato-
res de risco, não poderão ser instala-
dos na estrutura atual.
DEvER Comunidade acadêmica não conta com qualquer tipo de segurança no atual campus
6 Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial | Junho de 2015
ENSINo Faltam espaços, instalações e equipamentos
laboratórios para a demanda 22
atual dos cinco cursos
Nove laboratórios para 2016
NECESSIDADE
Falta de laboratórios prejudica o ensino e a aprendizagem
De acordo com o levantamento
feito pelos cinco coordenadores de
curso, seria preciso, no mínimo, 22
laboratórios para atender à deman-
da atual e garantir a formação dos
estudantes. Só para as disciplinas
ministradas em 2016, seriam neces-
sários nove espaços laboratoriais.
O levantamento foi entregue
pelo grupo à comissão e à Adminis-
tração da Universidade. Os docentes
encaminharam ainda um ofício à
Câmara dos Deputados, na tentati-
va de angariar recursos para cons-
trução dos laboratórios.
Conforme o diretor pro tem-
pore do campus, Roberto Pettres,
a UFPR projetou no Plano Dire-
tor – com prazo de finalização de
cinquenta anos – quatro blocos di-
dáticos, onde seriam instalados os
laboratórios no subsolo. Ao terem
conhecimento do projeto, os docen-
tes alertaram que isso traria riscos
a toda a comunidade acadêmica.
Desde então a Universidade está es-
tudando a construção de um condo-
mínio de laboratórios junto à obra
do primeiro bloco didático – cuja
inauguração estava prometida para
outubro do próximo ano, mas que,
segundo a Superintendência de In-
fraestrutura da UFPR, também não
passou por licitação.
RECHEIoPara além da construção do es-
paço físico, é necessário ainda que
sejam feitas instalações de equi-
pamentos complementares para o
funcionamento dos laboratórios e
garantia da segurança dos usuários
no que se refere a periculosidade,
insalubridade e exposição a ruído,
gases e vibrações excessivas.
Ainda segundo os coordenado-
res, a Administração pediu que eles
próprios realizassem as licitações de
todos os equipamentos dos 19 labo-
ratórios que deveriam estar prontos
até 2017 – o que vai muito além de
suas atribuições.
INFoRMÁtICAAtualmente, toda a comunidade
acadêmica do campus conta com dois
laboratórios de informática, um com
30 computadores e outro com 20.
Segundo o grupo de coordena-
dores, só um dos laboratórios atende
à demanda das aulas de Licenciatura
em Computação – que é o menor
e com os materiais exclusivos da
UFPR. O problema está na capaci-
dade das demais máquinas que não
atendem às exigências dos softwares
utilizados nas disciplinas do curso.
MEDoCom a chance de os labora-
tórios não estarem prontos para o
próximo ano, uma possibilidade
apontada pela Administração, se-
gundo os estudantes do campus,
seria o deslocamento até o campus
da Universidade Tecnológica Fede-
ral do Paraná (UTFPR) em Londrina
em micro-ônibus.
Entretanto, isso dispenderia um
deslocamento diário de até 104 qui-
lômetros, o que gera medo nos es-
tudantes pelo risco de acidentes no
trajeto, além dos desgastes físico e
psicológico.
Falta de espaços para ministrar disciplinas está colocando em risco a formação dos alunos
Só para as disciplinas
ministradas em 2016, seriam
necessários nove laboratótios.
7Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial |Junho de 2015
PESqUISA Docentes têm iniciativa, mas faltam condições de trabalho
Sem espaço para pesquisa carreira dos docentes está em jogo
A pesquisa tem papel funda-
mental na Universidade e no desen-
volvimento científico, tecnológico,
cultural, artístico, social e econômi-
co do país. Porém, no campus avan-
çado de Jandaia do Sul, os docentes
estão sofrendo com as limitações
impostas para o desenvolvimento
de suas pesquisas.
Segundo o presidente do
comitê de pesquisa local, Fabio
Meurer, 22 docentes do campus
já enviaram projetos de pesquisa,
sendo 26 projetos do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica (Pibic), três do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica nas Ações Afirmativas
(Pibic-Af) e cinco do Programa de
Bolsas de Iniciação Tecnológica e
Inovação (Pibiti).
Além disso, dez docentes
orientaram a produção de 26 re-
sumos enviados ao 23º Evento de
Iniciação Científica (Evinci) e 8º
Evento de Iniciação em Desenvol-
vimento Tecnológico e Inovação
(Einti).
Tais dados evidenciam o in-
teresse e a iniciativa dos docentes
em relação à pesquisa, mas faltam
condições de trabalho.
PREJUÍZoSPara aqueles que querem rea-
lizar pesquisa na Universidade, a
falta de recursos criou uma reali-
dade que – apesar de danosa – se
tornou comum: o esforço do pró-
prio professor em conseguir meios
e equipamentos necessários. Para
muitos, a saída é literalmente tirar
o dinheiro do bolso.
Esse é o caso do laboratório
de central analítica, no qual o do-
cente utilizou parte de seu salário
para fazer toda a parte elétrica,
instalação de dois aparelhos de ar
condicionado e construção da pia.
Só assim ele conseguiu iniciar sua
pesquisa de diagnóstico de doen-
ças raras, com o equipamento de
cerca de R$ 1 milhão – obtido pelo
professor por mérito próprio.
Além de não ter estrutura
hoje, o projeto do campus não
contempla a pesquisa com a de-
vida importância, visto que os la-
boratórios estão sendo projetados
para terem uso compartilhado en-
tre ensino e pesquisa. “Fragmen-
tar seria um mau uso do espaço,
pois todos os ambientes que pen-
samos para a Universidade são
multidisciplinares”, ressalta o di-
retor do campus.
No entanto, para os docentes,
muitas áreas precisam de proje-
tos com características específi-
cas e que um espaço de aula não
pode oferecer. Há laboratórios
que têm, inclusive, rigor na en-
trada de pessoas para não preju-
dicar a pesquisa ou por apresen-
tarem riscos.
Tais barreiras podem trazer
prejuízos às perspectivas de desen-
volvimento da pós-graduação no
campus e inclusive à carreira do-
cente, visto que hoje o crescimento
na carreira proposta pelo governo
federal está também condicionado
a atividades de pesquisa e inova-
ção.
Não há espaço para laboratórios de pesquisa e docentes usam recursos próprios para trabalhar
Barreiras podem trazer prejuízos
às perspectivas de desenvolvimento da pós-graduação
no campus e à carreira docente.
8 Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial | Junho de 2015
ExtENSão Extensão também é prejudicada pela falta de estrutura do campus
Extensão não tem espaço no campusavançado de Jadaia do Sul
Assim como em outras áre-
as, a extensão também está
sendo prejudicada pela falta de
estrutura do campus de Jan-
daia. Mesmo com solicitações
dos docentes desde o início de
2014, não há espaço para o de-
senvolvimento de projetos de
extensão.
Segundo o coletivo de do-
centes, o único espaço disponí-
vel para esse fim é o laborató-
rio multidisciplinar, que precisa
comportar todos os projetos e
bolsistas envolvidos, mesmo não
possuindo estrutura para aten-
dê-los com qualidade.
Pela falta de espaço para
trabalhar, muitos docentes pre-
cisam deixar seus materiais nos
gabinetes ou mesmo nos cantos
dos corredores. A falta de espa-
ço é tão grave que um projeto de
pesquisa, que inclusive ganhou
destaque no site da UFPR pela
inovação, precisa ser guardado
na casa de um aluno.
“Nós entendemos a situa-
ção do campus, mas não tem
cabimento os alunos levarem os
projetos para desenvolver em
casa. O problema é que só conse-
guimos as coisas fazendo dessa
forma, porque se não o projeto
estaria parado até agora”, afirma
um docente do campus.
PRoJEtoSDe acordo com o Comitê Se-
torial de Extensão do campus,
atualmente há cinco projetos de
extensão, envolvendo 10 docen-
tes, 12 técnicos e 21 estudantes de
graduação, na maioria bolsistas.
Os projetos são: Inclusão
digital para jovens; UFPR em Li-
bras; Por dentro do computador:
uma experiência de populariza-
ção da arquitetura de computa-
dores; Conta que eu conto; e Re-
vitalizando espaços e práticas do
ensino de ciências e matemática
nas escolas públicas.
Além desses, há outras
dez ações, incluindo eventos e
cursos de extensão, que entre
2014 e 2015 já atenderam a mais
de mil pessoas. Entre elas estão
cursos de mecânica, de Excel
e de brigadistas de incêndio, e
eventos como a semana de saúde,
campanha de vacinação, palestras
e o Festival Latino-americano
de Instalação de Software Livre
(Flisol), entre outros.
IMPoRtÂNCIAA extensão deve ser uma po-
lítica indissociável do ensino e
da pesquisa, promovendo a troca
de experiências entre a universi-
dade e a sociedade.
“Nós defendemos uma uni-
versidade pública que tenha
como tripé o ensino, a pesquisa
e a extensão. Não se pode prio-
rizar as práticas de ensino em
detrimento dos projetos de pes-
quisa e extensão. Há iniciativas
excelentes no campus, mas elas
precisam receber a importância
que merecem”, destaca a direto-
ria da APUFPR-SSind.
Precariedade das condições acarreta mais tempo e menos qualidade ao que é produzido
Projeto que inclusive ganhou destaque no site
da UFPR pela inovação, precisa ser guardado na
casa de um aluno.
9Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial |Junho de 2015
CoNDIÇõES Com carga horária no limite, os docentes também seriam prejudicados ao ser instituída a pós-graduação em Jandaia
Docentes também esperam por recursos humanos
Com a criação do campus, o
MEC também liberou concurso
para preencher 138 vagas – 62 de
docentes e 76 de técnicos adminis-
trativos – do novo campus. Das va-
gas docentes, 34 já estão em Jandaia.
Porém, seis dessas vagas fo-
ram destinadas para os departa-
mentos de cada membro da co-
missão de implantação, ou seja,
em outras unidades da UFPR
– sob a justificativa de que os
envolvidos fizessem a tutoria de
acompanhamento dos cursos.
Segundo o grupo de coor-
denadores, após a implantação
completa de todas as turmas dos
cinco cursos de extensão, os 56 do-
centes ficarão com o limite de 12
horas em sala de aula, sem qual-
quer margem para a possibilida-
de de afastamentos por motivos
de saúde ou aprimoramento, por
exemplo – podendo sobrecarregar
os demais, visto que nem sempre a
contratação de substituto é rápida.
De acordo com o grupo, ape-
sar de o documento da comissão
indicar que os docentes ficariam
com cerca de 8 horas/aula, as
especificidades de alguns cursos
levam ao aumento do número de
aulas semanais. Licenciatura em
Ciências Exatas, por exemplo,
tem três habilitações que não fo-
ram consideradas. O documento
também não considera as aulas
práticas – que necessitam de di-
visão de turmas.
Com carga horária no limite,
os docentes também seriam pre-
judicados ao ser instituída a pós-
-graduação em Jandaia, em vista
da determinação do cumprimen-
to de 8 horas na graduação e de 4
na pós. Um critério fundamental
para a progressão na carreira.
Outro problema é a falta de
docentes para ministrar as aulas
de disciplinas específicas em 2016,
pois a maioria das contratações
realizadas até agora atendem às
disciplinas básicas. Segundo os co-
ordenadores, faltariam 13 docen-
tes para os cinco cursos – e o con-
curso público ainda não foi aberto.
Após a implantação completa de todas as turmas dos cinco cursos, os 56 docentes ficarão no limite das 12 horas
outro problema é a falta de docentes
para ministrar as aulas de disciplinas
específicas em 2016.
10 Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial | Junho de 2015
Falta de ordenamento jurídico interfere na democracia
Mesmo com um ano e meio
de existência do campus avan-
çado de Jandaia do Sul, docen-
tes e alunos enfrentam inúme-
ros problemas causados pela
falta de ordenamento jurídico.
Sem regimento, departamen-
tos, conselhos ou instâncias
de decisão coletivas, a comu-
nidade acadêmica reivindica
democracia.
Para sua instituição, o reitor
da UFPR estabeleceu uma comis-
são de acompanhamento da im-
plantação e apoio institucional ao
funcionamento do campus. Mas,
segundo o coletivo de docentes,
há um grande distanciamento da
comissão com relação às deman-
das e às necessidades da comuni-
dade acadêmica de Jandaia.
Diante do problema, os do-
centes reivindicaram à Adminis-
tração que a comissão se torne
mista, envolvendo também a
participação de representantes
docentes do campus, que seja
feita uma agenda periódica de
reuniões – sediada em Jandaia
do Sul – e com pautas previa-
mente definidas.
Além da comissão, foi indi-
cado o diretor do campus, Ro-
berto Pettres, que assumiu a ad-
ministração da nova estrutura de
forma pro tempore em janeiro
de 2014 até que sejam realizadas
eleições para a direção.
A questão é que, de acor-
do com o coletivo de docentes
do campus, toda a complexa
estrutura humana que deveria
existir está reduzida apenas à
direção.
“Falta transparência no cam-
pus. A nossa impressão é de que
isso é um colégio e que estamos
aqui só para dar aulas, porque
mudam atribuições, instâncias
administrativas, servidores, che-
fias e várias outras coisas como
se não coubesse a nós nem saber
o que está sendo feito”, afirma o
coletivo de docentes.
Em busca de democra-
cia, os docentes reivindicam
também que sejam realizadas
eleições tanto para direção do
campus, quanto para coorde-
nação e vice-coordenação dos
cursos.
A partir do segundo mês de
atividades do campus Jandaia fo-
ram nomeados os coordenadores
de curso, que foram escolhidos
por indicação do reitor da UFPR
para permanecer nos cargos até
que sejam nomeados os novos
eleitos. Consultados, os cinco
coordenadores afirmam também
reivindicar eleições para seus
cargos.
Mas para o diretor, os nome-
ados para cargos pro tempore
Docentes e alunos enfrentam problemas pela falta de ordenamento jurídico
DEMoCRACIA o campus de Jandaia não possui regimento, departamentos, conselhos ou instâncias de decisão estabelecidas
deveriam ficar pelo menos cinco
anos na função. “Há uma norma-
tização para as Instituições Fede-
rais de Ensino Superior (Ifes) na
qual existe um período de con-
sulta pública que acontece após
cinco anos. A minha opinião vai
no sentido do que legalmente se
pensa disso”, destaca.
Além disso, o diretor pro
tempore defende que a única
pessoa capaz de realizar as elei-
ções e atender à demanda dos
docentes seria o próprio reitor
da UFPR. Essa requisição já foi
apresentada à Reitoria da Uni-
versidade, que ainda não respon-
deu à comunidade.
11Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial |Junho de 2015
MovIMENto Docentes e estudantes elaboram pauta de reivindicações
Insatisfação da comunidade acadêmica não é respondida
Com tantos problemas acon-
tecendo simultaneamente em
Jandaia do Sul, a comunidade
acadêmica da UFPR está cada vez
mais insatisfeita.
Os docentes do campus ela-
boraram em conjunto uma pau-
ta de reivindicações sintetizando
suas principais demandas para ser
entregue à Administração local e
central.
Os docentes do campus fo-
ram contratados em três grupos e
mesmo professores que estão em
Jandaia há menos de um mês já
sentem os impactos das condições
de trabalho e estão reivindicando
juntamente aos demais.
A pauta é centralizada em
três eixos: gestão e ordenamento
jurídico do campus; melhoria das
condições de trabalho; e acompa-
nhamento do planejamento estra-
tégico da implantação do campus.
Em março deste ano, a
APUFPR-SSind e um grupo de
representantes dos docentes
realizou uma audiência com a
Reitoria da UFPR para cobrar
respostas às demandas, já que por
meio da comissão e do diretor pro
tempore do campus, não estava
surtindo efeito. Mas até agora não
houve qualquer posicionamento.
Preocupados com a qualidade
de sua formação, os estudantes
também fizeram uma pauta de
reivindicações e apresentaram
em reunião com Pettres, mas,
segundo os acadêmicos, 90% dos
questionamentos não foram res-
pondidos.
De acordo com os represen-
tantes dos estudantes, a falta de
condições acaba resultando na
evasão, pelo medo de ter a forma-
ção comprometida.
AtoEm 16 de junho, estudantes re-
alizaram um ato no estacionamento
do campus para protestar em defesa
da educação pública, contra a preca-
riedade nas condições de ensino e
contra o descaso da Administração.
O ato contou também com a
presença de docentes e servidores,
e com a participação da APUFPR-
-SSind e do Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições de Ensino
Superior (ANDES-SN), representa-
do por sua 1ª vice-presidente da Re-
gional Sul, Maria Luiza Domingues.
Após a manifestação, os es-
tudantes espalharam cartazes por
todo o campus para chamar atenção
da comunidade para os problemas.
Mesmo com mobilizações, as reivindicações de docentes, estudantes e servidores não são atendidas
12 Informativo APUFPR-SSIND | Edição Especial | Junho de 2015
Comunidade acadêmica precisa se mobilizar e reivindicar melhorias
O MEC cortou em 47% os
investimentos em 63 univer-
sidades federais do país em
2015. Esses recursos são usa-
dos em obras, além da compra
de equipamentos e móveis. A
medida faz parte do ajuste fis-
cal feito pelo governo federal
desde o começo do ano.
Segundo reportagem do
jornal Estado de S. Paulo, pu-
blicado em 20 de junho, a re-
dução será de R$ 1,2 bilhão nas
universidades.
Para esclarecer a comuni-
dade acadêmica, a APUFPR-
-SSind procurou a direção do
campus avançado de Jandaia
do Sul. Ao ser questionado
sobre os prazos para conclu-
são das obras e da provisão
de recursos para a unidade, o
diretor pro tempore afirmou
que “a equipe dos servidores
de Jandaia é bastante jovem,
com vontade e determinação,
mas, principalmente, essa é
uma equipe bastante ansiosa”,
frisou Pettres.
No entanto, os docentes
contestam e afirmam que a
situação é de angústia. “Nós
estamos sem perspectivas de
futuro. Os alunos estão com
medo de o prédio novo não vir
a tempo e de o campus acabar
por abandono do governo.”
A Administração da Uni-
versidade também foi procura-
da e, em nota, afirmou que “o
funcionamento daquele cam-
pus tem sido pautado pelo re-
gimento da UFPR e segue nor-
malmente, sem sobressaltos.
Os concursos de professores
e técnicos administrativos fo-
ram realizados, a provisão de
recursos financeiros está asse-
gurada e as licitações para os
projetos complementares ao
projeto arquitetônico encon-
tram-se em fase adiantada de
execução”.
Entretanto, para o supe-
rintendente de Infraestrutura
“existe uma indicação do MEC
de que vai haver recursos, mas
cada vez que isso vai acontecer
tem um corte. O MEC está di-
zendo que vai repassar verbas
desde o começo do ano para
a expansão, mas daí o corte
acontece [...]. O que temos de
concreto é: projeto arquite-
tônico praticamente pronto e
estamos iniciando a confecção
dos projetos complementares
[...]. Depende do MEC, na hora
que tiver dinheiro, licitamos”.
“O que foi prometido para
a gente é que em dois anos
seria construído um campus
para nós nos formarmos, mas
pelo que vemos hoje isso não
Corte de 47% dos investimentos previstos para as federais afeta diretamente o campus
MovIMENto “vamos ver se o governo vai mandar recursos suficientes para terminarmos o projeto”, afirma o superintendente de Infraestrutura da UFPR
vai acontecer”, afirma o cole-
tivo de estudantes do campus
avançado de Jandaia do Sul.
Para a diretoria da APUFPR-
-SSind, é importante que a Ad-
ministração da UFPR esclareça
docentes, servidores técnico-
-administrativos e alunos so-
bre o que está acontecendo.
“Sabermos a verdade faz com
que a comunidade acadêmica
se mobilize e cobre do gover-
no federal o que foi prometido.
Nesse momento de cortes, é
preciso que a Reitoria haja com
transparência e mostre exata-
mente onde serão realizados os
cortes”, afirma a diretoria.
PROMESSAS PARA OCAMPUS DE JANDAIA DO SUL
OBRASR$ 20.586.150
EQUIPAMENTOS R$ 20.586.150
ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL
R$ 3.602.576,25
R$ 44.774.876,25