Campos e Florestas

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DE VILA OPERÁRIA A CIDADE-COMPANHIA: AS AGLOMERAÇÕES CRIADAS POR EMPRESAS NO VOCABULÁRIO ESPECIALIZADO E VERNACULAR T ELMA DE B ARROS C ORREIA RESUMO A criação, por empresas, de aglomerações para abrigar seus funcionários é um capítulo importante e pouco conhecido da urbanização brasileira. Vila operária, fazenda, usina, bairro proletário, núcleo urbano, núcleo industrial, núcleo residencial, núcleo fabril, cidade operária, cidade-companhia, cidade-empresa e cidade nova são algumas das designa- ções que esses lugares têm recebido no Brasil, dependendo de suas características quanto a ta- manho, forma, localização e condição político-administrativa, do tipo de atividade à qual es- tão ligadas e do momento em que surgem. Este trabalho discute essas diferentes denominações, investigando quando são introduzidas e o contexto em que são utilizadas. Tal abordagem não visa apenas fazer um mapeamento do vocabulário empregado para designar esses lugares, mas partir das diversas denominações para investigar o estatuto dessas aglomerações na urbaniza- ção brasileira. PALAVRAS - CHAVE Cidade; habitação; empresa; vocabulário especializado e vernacular. INTRODUÇÃO No Brasil, a partir da segunda metade do século XIX, difundiu-se largamente a prá- tica da construção, por empresas, de moradias para seus operários em cidades ou em lo- calidades rurais. Tal prática deu origem a comunidades habitadas principalmente por em- pregados de uma única companhia que possuía parte substancial do mercado imobiliário e das casas e com, freqüência, também detinha o controle sobre os equipamentos e servi- ços coletivos. No território nacional, esses assentamentos estavam ligados sobretudo a in- dústrias têxteis, de papel, empresas de mineração, usinas de açúcar e frigoríficos. Nas referências internacionais, esses lugares surgem com várias designações, como company town, industrial village, cité ouvrière e cottage system. Em um estudo sobre a cons- tituição e a forma de tais lugares nos Estados Unidos, a pesquisadora Margaret Crawford usa o termo company town como uma forma genérica, enfatizando, entretanto, como ao longo da trajetória da industrialização americana uma série de mudanças na indústria e na geografia gerou uma sucessão de tipos de company town: a mill village, a corporate city, o lumber camp, a mining town, o industrial suburb e a satellite city. No Brasil, do mesmo modo, esses lugares têm sido nomeados de várias formas. Vi- la operária, fazenda, usina, bairro proletário, núcleo urbano, núcleo residencial, núcleo fa- bril, cidade operária, cidade-companhia, cidade-empresa e cidade nova são algumas das 83 R. B. ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS Nº 4 / MAIO 2001

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Flora e Fauna Brasileira

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  • DE VILA OPERRIA A CIDADE-COMPANHIA:AS AGLOMERAES CRIADAS POR EMPRESAS

    NO VOCABULRIO ESPECIALIZADO E VERNACULAR

    T E L M A D E B A R R O S C O R R E I A

    R E S U M O A criao, por empresas, de aglomeraes para abrigar seus funcionrios um captulo importante e pouco conhecido da urbanizao brasileira. Vila operria, fazenda,usina, bairro proletrio, ncleo urbano, ncleo industrial, ncleo residencial, ncleo fabril,cidade operria, cidade-companhia, cidade-empresa e cidade nova so algumas das designa-es que esses lugares tm recebido no Brasil, dependendo de suas caractersticas quanto a ta-manho, forma, localizao e condio poltico-administrativa, do tipo de atividade qual es-to ligadas e do momento em que surgem. Este trabalho discute essas diferentes denominaes,investigando quando so introduzidas e o contexto em que so utilizadas. Tal abordagem novisa apenas fazer um mapeamento do vocabulrio empregado para designar esses lugares, maspartir das diversas denominaes para investigar o estatuto dessas aglomeraes na urbaniza-o brasileira.

    P A L A V R A S - C H A V E Cidade; habitao; empresa; vocabulrio especializado evernacular.

    INTRODUO

    No Brasil, a partir da segunda metade do sculo XIX, difundiu-se largamente a pr-tica da construo, por empresas, de moradias para seus operrios em cidades ou em lo-calidades rurais. Tal prtica deu origem a comunidades habitadas principalmente por em-pregados de uma nica companhia que possua parte substancial do mercado imobilirioe das casas e com, freqncia, tambm detinha o controle sobre os equipamentos e servi-os coletivos. No territrio nacional, esses assentamentos estavam ligados sobretudo a in-dstrias txteis, de papel, empresas de minerao, usinas de acar e frigorficos.

    Nas referncias internacionais, esses lugares surgem com vrias designaes, comocompany town, industrial village, cit ouvrire e cottage system. Em um estudo sobre a cons-tituio e a forma de tais lugares nos Estados Unidos, a pesquisadora Margaret Crawfordusa o termo company town como uma forma genrica, enfatizando, entretanto, como aolongo da trajetria da industrializao americana uma srie de mudanas na indstria ena geografia gerou uma sucesso de tipos de company town: a mill village, a corporate city,o lumber camp, a mining town, o industrial suburb e a satellite city.

    No Brasil, do mesmo modo, esses lugares tm sido nomeados de vrias formas. Vi-la operria, fazenda, usina, bairro proletrio, ncleo urbano, ncleo residencial, ncleo fa-bril, cidade operria, cidade-companhia, cidade-empresa e cidade nova so algumas das

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  • designaes que essas aglomeraes tm recebido entre ns, dependendo de suas caracte-rsticas quanto a tamanho, forma, localizao e condio poltico-administrativa, do tipode atividade qual esto ligadas e do momento histrico em que surgem.

    Este trabalho trata das diferentes formas de nomear tais lugares, discutindo o mo-mento em que so introduzidas e investigando o contexto em que so utilizadas na lin-guagem vernacular e na literatura especializada. Busca analisar como as denominaes semodificam, em relao s transformaes ocorridas nesses lugares ao longo dos anos e aosmodos especficos de apreend-los. Investiga no apenas as alteraes nos termos empre-gados, como as variaes no sentido e no uso de um mesmo termo. Sob o ltimo aspec-to, mostra como uma mesma designao tem sido aplicada a situaes diferentes, na bus-ca de estabelecer relaes positivas ou negativas entre coisas desiguais. Tal abordagem novisa apenas fazer um mapeamento do vocabulrio empregado para designar esses lugares,mas partir das diversas denominaes para investigar o estatuto dessas aglomeraes naurbanizao brasileira. Em tal sentido, tratar tambm dos debates travados sobre a cate-goria urbana de algumas dessas aglomeraes e, em conseqncia, das discusses em tor-no das palavras julgadas mais adequadas para design-las.

    DE VILA OPERRIA A BAIRRO PROLETRIO

    Originalmente usado no Brasil para nomear um grupo de moradias destinadas aoperrios de um mesmo empreendimento fabril, o termo vila operria logo seria esten-dido para designar grupos de casas modestas semelhantes produzidas por outros agentes.Sob a denominao vila operria, eram reunidas no pas, at os anos trinta, as experin-cias mais diversas: conjuntos construdos por empresas imobilirias para aluguel ou ven-da a proletrios urbanos, por empresas ferrovirias para seus funcionrios, por indstrias,minas, frigorficos e usinas para seus operrios, tcnicos e administradores, e pelo Estado.Posteriormente, o termo conjunto habitacional se difunde, tanto em referncia s mo-radias em blocos de apartamento, quanto s casas unifamiliares.

    Nas primeiras dcadas do sculo XX, as vilas operrias surgiam como modelo pri-vilegiado de reforma da habitao do pobre urbano, a qual era apontada como um dosproblemas centrais da cidade. As vilas operrias definiam-se como um padro de mora-dia popular oposto favela, ao mocambo e ao cortio, supondo ordem, higiene e decn-cia. O termo sugeria casas salubres e dotadas de ordem espacial interna, que se distinguiada falta de higiene, de espao e de conforto atribuda s casas dos pobres urbanos. Tam-bm sugeria casas de famlias de trabalhadores estveis, em oposio s misturas entre es-tes ltimos e os indivduos afastados dos empregos regulares (autnomos, vadios, prosti-tutas etc.), favorecidas pelas formas de moradia e relaes de vizinhana nas habitaescoletivas e em moradias precrias.

    A difuso do termo vila operria para designar tais grupos de casas, medida queele estendido dos empreendimentos fabris para aqueles realizados por empreendedoresimobilirios e pelo Estado, revela a grande aceitao do modelo pelas elites. O uso de umamesma designao aplicada a situaes diferentes buscava estabelecer relaes positivasentre coisas desiguais. Procurando incorporar os significados positivos associados aos pro-jetos habitacionais fabris do incio do sculo, o Estado no apenas se inspira nesses pro-jetos, como toma emprestado o nome vila operria ou vila para suas primeiras reali-zaes no campo da moradia. Os exemplos do uso dessa designao podem ser localizados

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  • desde iniciativas pioneiras, como a da Fundao A Casa Operria, instituda pelo Gover-no do Estado de Pernambuco, que edificou em 1924, no Recife, a Vila Operria Paz eTrabalho. Nos anos quarenta, essa forma de nomear os grupos de moradias persiste nosinstitutos de aposentadorias e penses. Um exemplo a Vila Operria Previdncia cons-truda pelo Ipase, no Rio de Janeiro, cujo projeto reunia casas e blocos de apartamentosdestinados a aluguel e venda.

    No que diz respeito s habitaes construdas por indstrias para seus operrios, otermo vila operria era utilizado simultaneamente para designar grupos de casas cons-trudos no centro e nos subrbios afastados das cidades, ou em localidades rurais.

    O termo surge para designar aglomeraes isoladas no campo, como, por exemplo,em um projeto de construo de uma grande metalrgica em Frutal, publicado em 1920,no qual h meno construo de uma villa operaria com 2.500 casas. Camaragibe referida como uma villa operria na fala de conferencistas do Congresso Catlico, ocor-rido em 1902, e em um boletim da Companhia Industrial Pernambucana para a Exposi-o Nacional de 1908, quando contava com 123 casas, dois alojamentos para solteiros,duas escolas, armazm, padaria, consultrio mdico e Crculo Operrio.

    No caso de grupos de moradias edificadas em cidades por empresas para seus oper-rios, encontram-se referncias denominao vila operria desde o sculo XIX. Em1895, matria sobre a Companhia Emprio Industrial do Norte, publicada na Gazeta deNotcias, referia-se villa operria que estava sendo erguida pela empresa em Salvador eque j contava, na ocasio, com 258 casas, escola, creche, armazm, casas de banho e res-taurante. Em 1922, fazia-se referncia villa operria com 10 casas da CompanhiaFiao e Tecidos Porto-Alegrense.

    Tal designao continuou a ser empregada de forma indistinta ao longo do sculo XX.Em 1939, por exemplo, matrias na imprensa pernambucana denominavam villa oper-ria os conjuntos de moradias feitas por indstrias para seus operrios, fossem eles localiza-dos dentro ou na periferia de cidades, ou em localidades isoladas. Mencionava-se a villaoperria da Tecelagem de Seda e Algodo de Pernambuco, localizada no centro do Reci-fe; a da Companhia de Fiao e Tecidos de Pernambuco S.A., situada no bairro da Torre;a do Cotonifcio Othon Bezerra de Mello S.A. e a da Fbrica da Tacaruna, localizadas naperiferia da cidade. Os conjuntos situados prximos a pequenas cidades do interior eramtratados da mesma forma: fazia-se referncia villa operria da Companhia IndustrialFiao e Tecidos Goyanna, na cidade de Goiana; da Fiao e Tecelagem de Timbaba, emTimbaba; da Companhia Industrial Pirapama, em Escada, e do Cotonifcio Jos Ru-fino, na cidade do Cabo. Paulista, na poca j convertida em municpio autnomo, erachamada de cidade, enquanto suas casas eram apresentadas como trecho da villa operriada Companhia de Tecidos Paulista. Os ncleos residenciais situados em meio a proprieda-des rurais de indstrias tambm eram tratados da mesma forma: mencionava-se a villaoperria da Societ Cotonnire Belge-Brsilienne, em Moreno, e a da Companhia Indus-trial Pernambucana, em Camaragibe. Do mesmo modo, a aglomerao com mais de 700casas, escolas, reas para esportes, cinema etc., criada pela Companhia Unio Industrial, erareferida, em matria da revista Cidade Maurica de 1940, como uma vila operria.

    Semelhante tratamento generalizante contribui para ocultar as enormes diferenasna forma de gesto dos moradores de casas construdas por indstrias em cidades existen-tes e em localidades isoladas no campo, nas quais a fbrica cria uma cidade nova e temcondies de gerir a vida do lugar com grande autonomia. Alguns autores nacionais doconta dessas diferenas, designando o ltimo caso de vilas cidadelas ou vilas casernas.

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  • Tanto no vocabulrio especializado como no vernacular, o termo vila operria foio mais freqente para nomear grupos de casas erguidas por fbricas desde o sculo XIX.Poucos autores, entretanto, empenharam-se em explicitar o sentido dessa designao toamplamente utilizada. E quando tentaram, alguns no conseguiram evitar uma definiogenrica. Foi o caso, por exemplo, de Jos Agostinho dos Reis que, no Congresso Catli-co ocorrido no Recife, em 1908, definia as vilas operrias como uma reunio de fam-lias, embora vivendo em suas casas independentes, mas reunidas pelos laos dos interes-ses de ordem moral e material (Reis, 1908). Os interesses referidos podem serentendidos como aqueles decorrentes de uma mesma classe social, como o caso dos mo-radores de conjuntos de casas feitos por fbricas para seus operrios. Entretanto, nessescasos, era freqente haver junto s moradias destinadas aos operrios casas melhores, des-tinadas a funcionrios que ocupavam postos de direo na empresa e, em alguns casos,tambm ao proprietrio da empresa.

    Na imprensa, durante as dcadas de 1940, 1950 e 1960, h muitas referncias a vi-las operrias: Vila Operria da Companhia Unio Mercantil; da Fiao Tecelageme Estamparia Ypiranga; da Companhia Industrial de Cataguases; da Cia. Valena In-dustrial; s vilas operrias da Companhia Brasileira de Indstrias Metalrgicas. Tal for-ma de nomear surge, principalmente, referida a casos que renem um nmero no mui-to grande de casas. H, por exemplo, aluso, em 1955, Vila Operria da Hering, com52 casas, em Bom Retiro (Blumenau).

    No caso de grupos de casas construdos por fbricas em cidades, observa-se que,alm de vilas operrias, podiam ser chamados a partir da dcada de 1930 de bair-ro proletrio. Em tal caso, a ltima designao pretendia indicar uma mudana de esca-la. Assim, o engenheiro Baptista de Oliveira, em 1938, referia-se s pequenas vilas ope-rrias de Juiz de Fora e a um bairro proletrio modelo que estava sendo projetado pelaCompanhia Industrial Mineira para seus operrios. O autor, em 1939, reportava-se aomesmo empreendimento como um bairro popular, enquanto mencionava outras vilaspopulares criadas por fbricas na cidade.

    O uso dos termos bairro proletrio, bairro popular e vilas populares, por ou-tro lado, denuncia o desprestgio da forma vila operria a partir da dcada de 1930. Es-se desprestgio evidencia o desgaste de um modelo apresentado no incio do sculo comocapaz de contribuir de forma decisiva para a soluo da questo da reproduo operria,em termos de melhoria da sade, de reforma moral e de fortalecimento dos laos fami-liares. Mostrou-se no apenas incapaz de corresponder a essas expectativas, como de segeneraliza e atingir uma parcela predominante da fora de trabalho. Assim, o modelo lo-go revelaria suas contradies, ao construir uma reputao de restringir fortemente a li-berdade individual e familiar e ao se revelar um mecanismo suplementar de subordina-o e explorao do trabalhador pelo patro, desencadeando conflitos e contribuindopara o agravamento das lutas sociais. Os ncleos fabris revelaram-se palco de importan-tes lutas trabalhistas e foram alvo de denncias sobre as condies de vida dos seus mo-radores e sobre os conflitos sociais que neles tinham lugar. No toa que lugares comoPaulista, em Pernambuco, e Nova Lima, em Minas Gerais, notabilizaram-se pela fora deseu movimento sindical e pelo elevado grau de politizao de sua populao, tendo sidoo local de sucessivas greves e constituindo-se em importantes bases eleitorais dos partidosde esquerda.

    Esse desprestgio do modelo e do termo vila operria tambm se evidencia na eli-minao da palavra operria do nome de algumas vilas. Em todo o pas, generaliza-se o

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  • uso da palavra vila para nomear conjuntos de casas, em geral idnticas, dispostas ao lon-go de rua ou de largo e que, muitas vezes, no tinham o carter de logradouro pblico.Exemplos nesse sentido podem ser localizados no Recife, no incio da dcada de 1940,com a Vila Iolanda, da Fbrica Iolanda, e a Vila Santa Luzia, da Companhia de Fiao eTecidos de Pernambuco. Um outro exemplo so os conjuntos de casas, edificados aps aSegunda Guerra pela Companhia Vale do Rio Doce em Itabira para seus operrios, bati-zados com nomes como Vila Piedade, Vila Amrica e, j na dcada de 1960, Vila Pacin-cia e Vila Corao de Jesus. No mesmo sentido, coloca-se o caso da Companhia Indus-trial de Juta Taubat que, em 1937, construiu a Vila Fabril de Juta e, em 1944, a Vila SoGeraldo. Essa forma surge tambm em ncleos erguidos por fbricas em localidades ru-rais nas dcadas de 1940 e 1950, e que se conservaram com dimenses reduzidas, comoa Vila Poty e a Vila Araripe, ambas em Pernambuco.

    No caso de moradias edificadas por ferrovias, utilizou-se a designao vila ferrovi-ria. O termo vila ocorre igualmente em alguns empreendimentos residenciais compos-tos por casas unifamiliares criados pelos institutos de aposentadoria e penses, nas dca-das de 1930 e 1940, como a Villa Waldemar Falco, criada pelo Instituto deAposentadoria e Penses dos Empregados em Transporte e Cargas na Ilha do Governa-dor; a Vila Comary e a Vila 3 de Outubro, construdas pelo Ipase. No Recife, foi criadaa Vila dos Comercirios, a Vila do Ipasep e a Vila do Hipdromo. O termo ainda foi apli-cado nessa cidade para os grupos de casas destinadas a oficiais das foras armadas: Vilados Aprendizes de Marinheiro, Vila Ana Maria e Vila de Socorro. Tambm aglomeraescriadas por empresas de minerao e de gerao de eletricidade adotam tal forma de de-signao. Alguns exemplos so a Vila Cachoeirinha da Minerao Oriente Novo S. A., aVila Amazonas e a Vila da Serra do Navio, ambas da Indstria e Comrcio de MinriosS.A., a Vila de Cana Brava, da Sama, a Vila Residencial de Tucuru, da Eletronorte.

    Em outros casos mais freqentes a partir da dcada de 1940 , a palavra vila tam-bm desaparece. O grupo de casas construdo pela Companhia Taubat Industrial paraseus operrios entre 1945 e 1947, por exemplo, foi batizado de Jardim CTI. O termoconjunto residencial, que vinha sendo amplamente utilizado para designar empreendi-mentos promovidos pelo Estado e pelos institutos de aposentadoria e penses na dcadade 1950, comea igualmente a ser estendido aos grupos de casas criados por indstrias.1

    Em 1959, por exemplo, matria em revista referia-se aos conjuntos residenciais da UsinaAmlia, em Santa Rosa de Viterbo.

    A substituio da palavra vila pela conjunto explica-se, parcialmente, pelo des-prestgio crescente das vilas entre a populao, diante do desgaste que o modelo sofre aoconstruir uma reputao de lugar onde a liberdade individual e familiar restrita. Tal re-putao atinge as diferentes modalidades de vila, relacionando-se ao controle da fbricasobre o cotidiano das famlias operrias; a ingerncia dos vizinhos na vida domstica dosmoradores de vilas erguidas por empresas construtoras; a disciplina rigorosa que presides vilas militares. Por outro lado, tal substituio revela tambm mudanas de contedoe forma. O termo conjunto habitacional sugere uma alterao de escala, de forma e deinsero na cidade. Sob o ltimo aspecto, pressupe uma rea de uso residencial social-mente homognea, inserida num espao urbano penetrado por uma diviso funcional.Enquanto o termo vila operria tem uma conotao social, moral e sanitria, o termoconjunto habitacional vai mais alm, incorporando a esses trs atributos a noo de umuso exclusivamente residencial (habitao e comrcio e servios locais), numa leitura dacidade presidida por critrios funcionais.

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    1 Em 1943, Attlio CorreiaLima referia-se ao empreen-dimento da Vrzea do Car-mo, promovido pelo IAPI emSo Paulo, como um ncleoresidencial operrio. Na d-cada de 1950, entretanto, generalizado o termo con-junto residencial para de-signar os empreendimentoshabitacionais do IAPI com-postos por blocos de apar-tamentos ou por blocos ecasas. Exemplos neste sen-tido so o Conjunto Residen-cial da Penha no Rio; o Con-junto Residencial SalgadoFilho junto Fbrica Nacio-nal de Motores; o ConjuntoResidencial do Passo daAreia em Porto Alegre.

  • A FAZENDA OU A VILA OPERRIA DA FAZENDA?

    Embora a forma vila operria fosse amplamente usada no sculo XIX e nas primei-ras dcadas do sculo XX, ela no era a nica empregada para nomear grupos de moradiaserguidas por empresas para seus funcionrios. Naquele primeiro momento de difuso dagrande indstria no Brasil, esses grupos de casas, quando em localidades rurais, forammuitas vezes referidos como povoado ou vila indicando sua populao reduzida esua subordinao poltica a uma cidade, sede de um municpio ou como fazenda ,indicando o vnculo agrrio do empreendimento industrial.

    Em 1903, o Indicador Geral do Estado de Alagoas tratava Ferno Velho uma aglo-merao, criada pela fbrica Unio Mercantil, que na ocasio contava com trinta casas e11 quartos como um povoado. Por outro lado, as mais de cem casas de Rio Largo eri-gida pela fbrica Progresso Industrial eram qualificadas de uma linda villa operaria.Nesse caso, a distino entre povoado e vila operria parece decorrer da dimenso do lu-gar e do padro construtivo das moradias. Atitude semelhante pode ser observada nolbum de Pernambuco, publicado em 1919, onde as casas para trabalhadores constru-das nas usinas de acar s so referidas como villa operria quando perfeitamentehygienicas, como no caso das vilas destinadas aos operrios da fbrica na Usina Unio.Em outros casos, fala-se no correr de casas da Usina Bamburril, ou nas casas isoladasem fila da Usina Alliana.

    So significativos os exemplos nos quais a implantao de uma grande empresa f-brica e mineradora em uma antiga fazenda no impede que o lugar continue a ser qua-lificado como uma fazenda. As terras da Companhia Morro Velho, em Nova Lima in-cluindo as reas residenciais e de minerao , eram referidos no sculo XIX comoFazenda Morro Velho e Fazenda Raposos. S em 1891, quando foi promovido de fre-guesia a vila, o local da sede da Morro Velho passou a se chamar Vila Nova Lima. O n-cleo constitudo, em fins do sculo XIX, pela Fbrica de Tecidos Santanense e por algu-mas casas para seus operrios, era conhecido como Fazenda Cachoeira ou comoarraial. Fazenda Cachoeira era tambm a denominao do local onde funcionava, des-de 1877, a Fbrica de Tecidos Cachoeira hoje municpio de Inimutaba , a qual, desdesua fundao, contava com casinhas para operrios no seu entorno. Tal foi ainda o ca-so do ncleo formado pela Fbrica Cachoeira Grande e pelas residncias de seus empre-gados a partir do final do sculo XIX, o qual era chamado de Fazenda Cachoeira Gran-de. Matria no Auxiliador da Indstria Nacional, de 1886, indicava que a Fbrica deTecidos Brazil Industrial estava situada na Fazenda Macacos, e contava com cerca deoitenta casas para operrios, alm de enfermaria, escola e capela. O engenheiro Baptistade Oliveira, em 1939, trata da Fbrica So Joo Evangelista, instalada em local denomi-nado Fazenda Floresta, onde estaria sendo projetada uma villa operaria. Nesses casos,a instalao da fbrica e a construo de moradias para seus operrios no alteram emum primeiro momento o entendimento do local como uma fazenda.

    Foi o caso, igualmente, do ncleo habitacional criado, a partir 1912, pelo industrialDelmiro Gouveia junto sua fbrica de linhas de costura localizada junto a Pedra, um pe-queno povoado no serto de Alagoas. Entre os seus moradores e contemporneos, o n-cleo residencial era referido como Fazenda Rio Branco, Fazenda da Pedra, Vila Ope-rria da Fazenda Rio Branco, ou simplesmente como a Pedra, enquanto a povoaopreexistente localizada junto estao ferroviria era chamada Pedra Velha ou cida-de livre. Alguns contemporneos destinguiam os dois lugares com as expresses dentro

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  • do arame em aluso cerca que contornava o ncleo residencial e de produo fabril e fora do arame. curioso observar como, embora o ncleo habitacional criado pelafbrica fosse maior que a Pedra Velha contando em 1917 com cerca de 250 casas, cha-farizes, lavanderias e banheiros coletivos, loja, padaria, farmcia, feira semanal, escolas,mdico e dentista, cinema, pista de patinao, banda de msica, posto do Correio e Te-lgrafo , a denominao cidade lhe era negada e empregada em relao ltima. Nes-te caso, a condio fundiria do lugar e a autonomia dos habitantes parecem ser os ele-mentos determinantes da designao. O ncleo da fbrica pertencente empresa e comcotidiano controlado rigorosamente pelo industrial permanecia uma fazenda ou uma vi-la operria de fazenda, enquanto a Pedra Velha, embora um minsculo povoado, era pro-movido a cidade. A noo de cidade, no caso, prende-se ao carter de um lugar cujoacesso livre, onde por princpio todos podem morar e circular, e cuja administrao, leise justia so pblicas.

    CIDADE OPERRIA, CIDADE-EMPRESA E CIDADE-COMPANHIA

    Vrias aglomeraes criadas por empresas tm sido referidas como cidade operria,cidade-empresa, cidade-companhia ou cidade nova. O termo cidade operria co-mea a ser utilizado no Brasil para designar essas aglomeraes, sobretudo a partir da d-cada de 1930. Est associado a uma mudana de escala desses lugares, tanto decorrentedo crescimento de alguns e de sua emancipao e converso em sedes de municpios,quanto do surgimento de novos lugares com grandes dimenses, alguns decorrentes deiniciativas governamentais.

    Em 1912, Alfredo Cusano referia-se a Maria Zlia ncleo residencial criado porfbrica txtil na periferia de So Paulo e dotado de 196 moradias, creche, escolas, arma-zm, restaurante, teatro, igreja, salo de festas como uma pequena cidade operria.Foi, entretanto, a partir dos anos trinta, que tal designao se tornou mais usual. Assim,no concurso promovido, em 1935, pela Companhia Siderrgica Belgo-Mineira para oplano urbano de Monlevade, alguns participantes como ngelo Murgel e Lincoln Con-tinentino tratam como uma cidade operria a aglomerao prevista para contar ini-cialmente com cerca de 300 casas, rea para comrcio, igreja, escola, clube, cinema e ar-mazm de consumo. Mais atento s implicaes que o nome cidade comporta, outroconcorrente, Lcio Costa, opta por denomin-la villa de Monlevade.

    No projeto elaborado por Attlio Correia Lima para Volta Redonda, e na maioria dosdocumentos da CSN da dcada de 1940, o ncleo urbano que estava sendo planejadojunto primeira siderrgica brasileira denominado de cidade operria. Tal designaocertamente decorria das dimenses previstas para o lugar que, inicialmente, deveria con-tar com quatro mil casas e cerca de vinte mil moradores, alm de ser dotado de equipa-mentos e infra-estrutura urbana. A povoao preexistente de Santo Antnio referida co-mo cidade antiga. Os grupos de casas em Volta Redonda, diferenciados segundo aposio do morador na hierarquia fabril, por sua vez eram chamados vilas: Vila Con-forto e Vila Santa Ceclia.

    A aglomerao a ser criada pela Fbrica Nacional de Motores junto s suas instala-es em Duque de Caxias tambm mencionada como cidade operria no parecer ela-borado por Attlio Correia Lima, em 1943. Nesse mesmo ano, faz-se referncia a uma ci-dade operria em construo em Campos, pela Companhia de Cimento Portland Paraso.

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  • H casos em que o termo vila operria aplicado a parte da aglomerao. Em Ca-sa de Pedra, fundada pela CSN a partir de 1946, havia a chamada Vila Rica, onde mo-ravam os engenheiros e administradores, e a Vila Operria, onde residiam os operrios.Matrias no jornal O Lingote, da CSN, referem-se Casa de Pedra que chegou a contarcom cerca de 500 casas, alm de cinema, clube, hospital, escolas, igreja e comrcio oracomo uma cidade operria, ora como uma vila operria.

    Ipatinga, criada a partir de 1956 e prevendo uma populao inicial de cerca de 37mil pessoas, foi denominada cidade desde o primeiro momento, enquanto os conjun-tos de moradias nela edificados pela Usiminas eram chamados de ncleos residenciais.

    A ambigidade que preside ao estatuto de alguns desses lugares faz que um mesmolocal possa ser referido com diferentes nomeaes. O fato explicitado de forma exem-plar pelo caso de Monte Alegre, empreendimento da Klabin no Paran, implantado nu-ma rea de cerca de 200 mil hectares, incluindo uma grande fbrica de papel, um setorflorestal responsvel pela extrao e reflorestamento de madeira, uma estao de trata-mento de gua, oficinas mecnica e eltrica, fbrica de cloro e soda custica, usina hidre-ltrica, usina termoeltrica, minerao de carvo, represa, serrarias, olarias, estradas,culturas agrcolas e vrios ncleos residenciais com casas, infra-estrutura urbana e equipa-mentos coletivos. Um dos ncleos Lagoa tinha hotel, escola, clube, capela e armazm.Harmonia, construdo a partir de 1943 junto s instalaes fabris, era o maior dos n-cleos, reunindo, alm de moradias, hotis, penses, igreja, hospital, escolas, armazm,cinema, clubes, padaria e um pequeno comrcio local. Foram criados ainda Mau umassentamento junto usina de eletricidade e vrios acampamentos florestais e colniasagrcolas. Numa histria das indstrias Klabin do Paran, publicada pela prpria empre-sa em 1953, a rea chamada Fazenda Monte Alegre e as trs aglomeraes maiores Harmonia, Lagoa e Mau so referidas como vilas. No livro Monte Alegre, CidadePapel, escrito por Hell Vellozo e publicado em 1974, o lugar tratado ora como uma fa-zenda industrial, ora como uma cidade. J Karl Zappert, em matria publicada em1949, referia-se a Monte Alegre como uma grande fazenda e cidade industrial.

    VILA OU CIDADE?

    Um acirrado debate ocorreu a partir dos anos 30, quando algumas das aglomeraescriadas por empresas foram emancipadas, convertidas em sedes de municpios e comea-ram a ser designadas como cidades. Tal designao foi objeto de controvrsias. O con-trole das fbricas sobre a vida econmica e poltica local e, sobretudo, o monoplio sobrea propriedade imobiliria que elas continuavam a deter, suscitaram um questionamentoacerca do estatuto das novas cidades.

    Com efeito, considerar aglomeraes com tais caractersticas como cidades significa,em muitos casos, desprezar elementos essenciais ao estatuto de uma cidade. Vrios crit-rios podem ser utilizados para se definir uma cidade: uma aglomerao com, no mnimo,quatro mil habitantes; uma aglomerao com populao no-rural no comprometidacom trabalhos agrcolas; um lugar que sede de bispado ou da administrao civil; umlugar que garante autonomia individual e coletiva aos seus moradores. Uma aglomeraoisolada, fundada por empresa, dificilmente rene todos esses atributos: pode atingir maisde quatro mil moradores, sua populao pode estar envolvida com atividades urbanas,pode ser sede de um municpio, mas dificilmente oferece autonomia a seus moradores.

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  • As designaes cidade operria e cidade-empresa buscam responder s especifici-dades dessas cidades. No primeiro caso, a particularidade buscada em sua populaocomposta predominantemente por operrios; no segundo, enfatizam-se os estreitos vn-culos entre a aglomerao e a empresa que detm a propriedade de grande parte ou da to-talidade dos imveis do lugar e que emprega a maioria de sua populao. Ambas as de-signaes, entretanto, no superam o impasse de atribuir o estatuto de cidade a um lugarprivado, destitudo das condies e atributos indispensveis a uma verdadeira vida urbana.

    Em torno da pertinncia, ou no, da palavra cidade para nomear uma aglomera-o criada e gerida por fbrica, desenvolveu-se, nos anos 40, um acirrado debate em Pau-lista. Nesse debate, mobilizou-se o conceito de cidade incompleta, ou que precisa ser li-bertada. Nas falas de sindicalistas e de polticos de esquerda ou opositores dos industriaisde Paulista, o lugar recebia com freqncia a denominao de feudo. A idia de cidades incorporada sem restries a Paulista depois que a fbrica perde o monoplio fundi-rio e o controle poltico sobre a cidade.

    O Grupo Lundgren criou dois importantes ncleos residenciais junto s suas fbri-cas txteis: Paulista, fundada em rea rural situada no municpio de Olinda, em Pernam-buco, e Rio Tinto, criada em antigo engenho, na Paraba. Ambos atingiram dimensessurpreendentes para aglomeraes de tal natureza: Paulista chegou a contar com cerca deseis mil casas, e Rio Tinto com cerca de trs mil. O censo de 1950 indica Rio Tinto co-mo a terceira maior cidade da Paraba, com uma populao de 18.774 pessoas. Na oca-sio, a cidade de Paulista contava com 21.243 habitantes. Coerente com a tendncia ge-ral desse tipo de assentamento, ambas assumiram um carter fortemente autrquico.Paulista tinha fbricas txteis, porto e ferrovia particulares, matas, cermica, atividadesagrcolas, servio prprio de abastecimento dgua e energia eltrica, moradias, igreja, fei-ra, parque, cinema, clnica, teatro, escola, clube e campos de futebol. Em Rio Tinto, a em-presa tambm comandava um amplo conjunto de atividades produtivas e relacionadas reproduo dos trabalhadores: havia fbricas txteis, porto, usina termoeltrica, matas, ati-vidades agrcolas, ferrovia privada, fbrica de tijolos, serraria, oficina mecnica, fundio,hotel, escolas, hospital, padaria, farmcia, clubes, cinema, feira e armazm de vveres.

    Aps esforos empreendidos pelos industriais junto ao governo estadual no sentidode desmembrar de Olinda o distrito de Paulista, o lugar foi convertido em municpio, em 1928. A empresa tambm pleiteou e obteve a converso de Rio Tinto em municpio, em1956. O interesse na criao desses municpios parece estar na possibilidade que seriaoferecida indstria de controlar a administrao de um municpio totalmente encrava-do em suas terras e instrumentaliz-la aos seus interesses. Em Paulista, tal situao come-ou a se modificar nos anos 40, quando se difunde a noo de que os chamados feudosdos Lundgrens em Pernambuco e na Paraba estariam convertendo-se em ameaa segu-rana nacional.

    Paulista foi um dos primeiros municpios atingidos por artigo da Constituio doEstado de Pernambuco de 1947 originado de uma articulao do governador Agame-non Magalhes (PSD) com deputados de esquerda que estabeleceu que as sedes dos Mu-nicpios e Distritos no podem ser localizadas em terras encravadas em propriedades per-tencentes a pessoas fsicas ou jurdicas de direito privado, salvo quando patrimnio deinstituies religiosas ou beneficentes. Com base em tal disposio, a prefeitura local de-sapropriou posteriormente 50 hectares nos quais surgiu, nos anos 50, o chamado bairrolivre. Em 1949, Torres Galvo deputado, pastor presbiteriano e ex-presidente do Sin-dicato dos Operrios de Paulista justificava tal deciso alegando que:

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  • a principal caracterstica de uma cidade justamente a liberdade na mais ampla acepo dotermo: liberdade religiosa, liberdade poltica, liberdade de comrcio e liberdade de construo;e todos ns sabemos que estas liberdades no existem para uma populao como a de Paulis-ta, que vive sob o guarde frreo de uma empresa industrial, que, alm de senhora da terra, ainda proprietria de todas as casas que formam a cidade (Apud, Leite Lopes, 1988, p. 507).

    As investidas de alguns governantes estaduais e municipais no sentido de restringiro poder dos industriais sobre Paulista deram origem a conflitos que se arrastaram por al-guns anos, tendo havido por parte do prefeito Geraldo Alves, ligado fbrica, tentativade anular o decreto de desapropriao, malograda pela oposio da Cmara de Vereado-res. Em Rio Tinto, ao contrrio, a fbrica conseguiu manter o monoplio das terras. Aspretenses de criar uma espcie de cidade livre, que constavam em projeto de um ve-reador local, viram-se frustradas pela oposio da empresa.

    O questionamento da condio de cidades a sedes de municpios encravadas em ter-ras de um nico proprietrio, e que se conformaram de aglomeraes criadas para abrigarfuncionrios de uma mesma empresa, no esteve restrito ao caso de Paulista. Nova Lima,em Minas Gerais, era definida por Roberto Costa, em 1955, como uma cidade-latifn-dio e como um feudo, baseado no fato de a Companhia Morro Velho ser proprietriade 495 quilmetros quadrados de terras contnuas, que representavam mais de 80% dasreas dos municpios de Nova Lima e Raposos, cujos moradores dependiam direta ou in-diretamente das atividades da empresa de minerao.

    Em alguns casos, os termos cidade ou vila so atribudos a aglomeraes criadaspor indstrias em razo do tamanho e da condio poltico-administrativa; em outros ca-sos, em decorrncia do tipo de ocupao de sua populao. Um exemplo disso Galpo-lis vinculada indstria txtil que tratada em obra de 1950, escrita por Duminien-se Paranhos Antunes, como uma vila, considerando-se sua dimenso e o fato de ser a sededo terceiro distrito de Caxias do Sul. Da mesma forma, at 1979 quando se converte embairro dessa cidade , o lugar era referido na imprensa local como uma vila. Em 1948, poroutro lado, o gegrafo Orlando Valverde referia-se a Galpolis como um ncleo urbanoe acrescentava que pela sua funo Galpolis uma cidade, pois sua populao traba-lha, na maioria, dentro do prprio ncleo, na fbrica de tecidos (Valverde, 1948, p. 46).

    Essa discusso sobre o estatuto urbano de cidades pertencentes a empresas incor-porada ao projeto de lugares como Ouro Branco, no incio da dcada de 1980, quandose insistia na idia de tornar Ouro Branco uma Cidade-Aberta e no uma Cidade-Companhia, uma Cidade onde as pessoas sintam prazer em nela viver e ali vivendo, hode cooperar para a concretizao da Aominas (Aominas, 1980, p. 48).

    CIDADE NOVA X CIDADE VELHA

    Se as designaes cidade operria, cidade-empresa ou simplesmente cidade sodiscutveis para algumas dessas aglomeraes, o conceito de cidade nova acrescenta umproblema a mais. Neste caso, tanto pode ser questionvel o termo cidade quanto o com-plemento nova. O termo cidade nova fundamenta-se numa dicotomia entre novo eantigo pouco esclarecedora. A questo essencial definir em que sentido se trata de umacidade nova: se em termos da idade da aglomerao ou de aspectos inovadores incorpo-rados ordem social ou sua forma urbana.

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  • Em termos da ordem social, experincias como a de Camaragibe, inspirada na dou-trina social da Igreja catlica sistematizada na encclica Rerum Novarum, ou como a dePedra, fundamentada em um rigoroso gerenciamento cientfico do tempo e das ativida-des dos moradores, podem ser consideradas inovadoras. Em termos da forma urbana e daarquitetura, entretanto, os elementos inovados presentes em ambas as experincias so li-mitados. Nos dois casos o ambiente construdo assume uma expresso vernacular, qualso acopladas preocupaes com higiene, privacidade e controle social, que expressamuma traduo direta das necessidades industriais.

    Uma inovao significativa na forma urbana de assentamentos criados por empresasno Brasil ocorre em casos posteriores a 1930, quando o planejamento de alguns desses lu-gares assumido por especialistas arquitetos, engenheiros e planejadores urbanos. A par-tir desse momento, registram-se algumas experincias modelo como Harmonia no Pa-ran, e Ouro Branco em Minas Gerais , cujos planos sociais e fsicos se empenham emamenizar os efeitos da lgica econmica, enfatizando uma ordem conceitual e uma formasimblica, que se descolam em certa medida e durante certo perodo de tempo dasdemandas especficas da empresa que gerou o lugar. As especificidades desses casos pare-cem traduzir-se melhor na sua definio como experincias-modelo, que como cidadesnovas. A idia de modelo assinala, inclusive, sua ocorrncia rara, considerando-se oconjunto das realizaes do perodo.

    Um problema a mais decorrente do termo cidade nova reside no fato de os termoscidade nova e cidade velha serem com freqncia empregados na tradicional distinoentre cidade-empresa e cidade livre. Presena constante nas proximidades de ncleosfabris regidos por disciplina rgida, as cidades livres so aglomeraes que surgem es-pontaneamente e se expandem reunindo tudo o que interditado nos limites pertencen-tes s empresas. A autonomia de gesto de seus assentamentos pelas empresas permitiu,em muitos casos, impedir o surgimento, neles, de atividades vistas como incompatveisem relao ao cotidiano regrado e produtivo que se pretendia impor populao, afastan-do-se do local a presena de atividades, como bares, bordis, sedes de sindicatos e de par-tidos operrios, templos de umbanda ou espritas. A cidade livre, por sua vez, constitui-se no reverso e complemento do ncleo urbano criado por empresa, reunindo tudo o que vetado nesses ncleos. Assim, surgiram lugares como Maricota, nas proximidades dePaulista, e Pedra Velha, ao lado de Pedra, concentrando atividades como prostbulos, tem-plos protestantes e sede de sindicato. No mesmo sentido, ao lado de Volta Redonda cres-ceu a antiga povoao de Santo Antnio, que ficou conhecida como Cidade Velha. En-quanto na cidade operria se impunham cdigos de disciplina rgidos, reprimindo-sealgazarras e bebidas alcolicas, a cidade velha ia assumindo o papel de lugar do desvioe da desordem. Sua configurao urbana espontnea encontrava paralelo na maior liber-dade pessoal e poltica de seus habitantes. Essa compreenso do termo cidade nova, emoposio a cidade velha ou cidade livre, revela-se distinto da idia anterior de cidadenova associada a planejamento e inovaes projetuais, gerando confuso quanto ao sig-nificado que se pretende conferir expresso.

    NCLEO URBANO E NCLEO FABRIL

    Nos anos 30 e 40, novos termos como conjunto habitacional, ncleo indus-trial, ncleo urbano, ncleo residencial e centro industrial so difundidos, reve-

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  • lando uma tendncia crescente de aplicao, ao urbanismo, de noes e palavras da Fsi-ca, da Matemtica e da Geometria. Quando referidas s aglomeraes isoladas geradas porempresas, as expresses ncleo urbano, ncleo industrial, ncleo residencial e n-cleo fabril indicam uma diferenciao das vilas operrias, traduzida sobretudo por umamaior dimenso e por um carter mais autnomo. Tais formas de nomear tm, por outrolado, a vantagem de no estender de forma indiscriminada o conceito de cidade a esse ti-po de aglomerao.

    Publicaes da Companhia Vale do Rio Doce referem-se a Carajs, no Par, comoum ncleo urbano, ao mesmo tempo que qualificam os conjuntos de moradias cons-trudas pela empresa na cidade de Itabira como vilas operrias. Ncleo Residencial doPilar foi o nome adotado pela Caraba Metais S.A. para designar a aglomerao, criadapela empresa em 1976, no serto da Bahia.

    Os termos ncleo urbano e ncleo residencial, entretanto, tm a desvantagem deno especificar o carter privado e associado a um nico empreendimento produtivo des-ses lugares. Nesse sentido, em se tratando de assentamentos isolados criados por inds-trias, optamos, em nossos trabalhos sobre o tema, por cham-los de ncleos fabris, e aosgrupos de casas localizadas dentro de cidades ou em subrbios, de vilas operrias.

    A DIVERSIDADE DE FORMAS E NOMES

    Ao longo do sculo XX, ocorreu uma grande diversificao nos modos de nomear asaglomeraes erguidas por empresas para alojar seus funcionrios, qual correspondeuuma maior diversidade na forma desses lugares em termos de tamanho, arquitetura, for-ma urbana e grau de autonomia em relao empresa.

    As diferentes formas de nomear vo privilegiando aspectos diversos do lugar. A pa-lavra fazenda enfatizava a condio de insero dos grupos de moradias em uma proprie-dade rural particular. As formas vila operria, bairro proletrio e cidade operria deslocamo foco para a ocupao e classe social da populao residente. Diferenciam-se entre si porindicarem variaes de escala: vila operria diz respeito a pequeno grupo de casas em ci-dades ou no campo; bairro operrio refere-se a um conjunto de casas de maiores propor-es situado em uma cidade-aberta; cidade operria aplica-se a uma localidade isoladacom um conjunto de moradias e servios complementares e uma certa autonomia na vi-da local, tanto em relao a outros centros urbanos, quanto prpria empresa que geroua aglomerao. Os termos ncleo urbano, ncleo residencial e ncleo fabril referem-se apequenas aglomeraes isoladas, diferentes de uma cidade em termos de escala e do graude autonomia dos moradores e da vida local em relao empresa. A denominao n-cleo fabril expressa o vnculo do lugar indstria que o gerou. Assim como cidade ope-rria, as formas cidade-companhia, cidade-empresa e cidade nova denotam uma amplia-o na escala da aglomerao. As formas de nomear cidade-companhia e cidade-empresaenfatizam a estreita relao do lugar com a empresa que o criou. No caso do termo cida-de nova, o foco dirige-se ao carter peculiar planejado e inovador que presidiria aosurgimento da aglomerao ou sua oposio ante a cidade velha.

    Entendemos que algumas destas formas de nomear so em si problemticas, en-quanto outras so muitas vezes empregadas de forma inadequada. No primeiro caso, si-tua-se a expresso cidade nova, que no d conta do vnculo entre o lugar e a empresa,e mostra-se excessivamente genrica e incapaz de responder s especificidades desses

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  • lugares. O uso da palavra cidade cidade operria, cidade-companhia e cidade-empresa, por outro lado, requer muita cautela, para que se evite atribuir o estatuto de cidade alugares privados, destitudos das qualidades indispensveis a uma verdadeira vida urbana.

    Consideramos, por outro lado, que o problema essencial no est na diversidade dasdenominaes empregadas, mas exatamente na atitude oposta de tentar eleger um nicomodo para nomear uma diversidade de formas urbanas distintas. As designaes vila ope-rria, ncleo operrio, ncleo fabril, cidade operria, cidade-companhia ou cidade-empresa podem ser pertinentes, dependendo das caractersticas do lugar. Aceitar tais di-ferentes formas de nomear um passo fundamental compreenso da grande diversidadede formas assumidas pelo ambiente construdo desses lugares. Tal diversidade se expressaem termos de tamanho, variando entre um pequeno grupo de moradias a grandes aglo-meraes com milhares de moradias e equipamentos coletivos; em termos de forma, nosdiversos estilos de arquitetura e de parcelamento e traado virio; e em termos do grau deautonomia, da vida local em relao empresa.

    Assim, julgamos pertinente nomear vilas operrias os grupos de casas algumasvezes acompanhados de equipamentos coletivos, como escola, igreja ou clube locali-zados dentro de cidades ou em subrbios. Em se tratando de assentamentos isolados cria-dos por indstrias, dotados de moradias e servios essenciais, consideramos adequadocham-los ncleos fabris ou ncleos operrios, quando conservam uma dimenso re-duzida e as empresas mantm o controle sobre a vida econmica e poltica do lugar e, so-bretudo, o monoplio sobre a propriedade imobiliria. Embora em termos de tamanhopossam no se diferenciar das vilas operrias, afastam-se delas pelo isolamento em rela-o a outras aglomeraes com repercusses sobre o cotidiano local e especialmentepelo grau de autonomia da empresa na gesto do lugar. Os termos cidade-empresa, cida-de-companhia e cidade operria aplicam-se, no nosso entender, aos casos nos quais umaaglomerao isolada, fundada por empresa, rene uma populao de mais de quatro milmoradores e envolvida com atividades urbanas, sede de um municpio e oferece um cer-to grau de autonomia pessoal e poltica a seus moradores. A perda do monoplio da f-brica sobre a propriedade fundiria e sobre os servios coletivos e a independncia daadministrao local em relao empresa so condies indispensveis para garantir po-pulao a autonomia inerente a uma cidade. Assim, tal situao geralmente s se confi-gura quando est em andamento um processo de desmonte; quando a empresa que cons-truiu a aglomerao est se desvencilhando da propriedade e do controle do lugar,mediante a venda de imveis e o repasse dos servios ao Estado ou a outras empresas pri-vadas. Nesse sentido, trata-se de uma situao intermediria em diversos sentidos en-tre um ncleo fabril e uma cidade-aberta.

    Tal diversidade de modos de nomear esses lugares revela-se essencial para assinalar avariedade de formas por eles assumidas ao longo dos anos. Tanto surgiram assentamentosligados a empresas com ordem urbana e social diversas, quanto ocorreram mudanas emum mesmo assentamento. Como mostramos anteriormente, alguns desses lugares j fo-ram citados ao longo de sua histria como fazenda, vila e cidade, dependendo de suas ca-ractersticas em cada momento ou do ponto de vista do observador.

    Tal diversidade de formas urbanas e de modos de nome-las reflete os profundos im-pactos da velocidade das mudanas no mundo industrial sobre os assentamentos criadospor empresas para abrigar seus operrios, tcnicos e gerentes. O ambiente construdo des-ses lugares, longe de constituir um objeto fsico esttico, revela-se o produto de um pro-cesso dinmico, definido pela transformao industrial, pelos conflitos de classe e pelo

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  • empenho de reformadores (incluindo arquitetos) em intervir nos rumos dessas mudanase lutas. Recuperar a histria desses ncleos no Brasil , sob muitos aspectos, entender osentido das rpidas transformaes de sua configurao espacial. Transformaes quepodem significar, muitas vezes, seu total desaparecimento aps poucas dcadas de existn-cia e que exigem, por outro lado, o recurso contnuo a novas designaes capazes dedefinir e precisar cada uma das formas novas assumidas por esses lugares.

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    T E L M A D E B A R R O S C O R R E I A

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  • A B S T R A C T The creation of urban agglomerations by companies to house theiremployees is an important and insufficiently studied chapter of Brazilian urbanization. ThePortuguese equivalent of workers tenement, farm, mill, workers district or township,industrial centre, factory town and new town are some of the designations given to these placesin Brazil. These terms often reflect particular characteristics such as size, form, location,political/juridical status and the type of industrial activity which gave rise to theagglomeration. The current paper studies some of these designations, regarding their respectivecontexts at the time when they were created. This approach not only attempts to provide aguide to the vocabulary used to name these places but also investigates the role theseagglomerations have played in the process of Brazilian urbanization.

    K E Y W O R D S Town; housing; company; specialist and vernacular vocabularies.

    D E V I L A O P E R R I A A C I D A D E - C O M P A N H I A

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