CALÓGERAS, Pandiá_Polex do Império_v2.pdf

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  • APOLTICAEXTERIOR

    DO IMPRIOJ Pandi Calgeras

    IntroduoporJoo Hermes Pereira de Araljo

    Vol.llOPrimeiro Reinado

    _ M ..BIBLIOTECA BSICA BRASILEIRA

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  • Coleo Biblioteca Bsica Brasileira

    A POLTICAEXTERIOR DO IMPRIO

    J. Pandi Calgeras

    Volume II - O Primeiro Reinado

    Introduo - Joo Hermes Pereira de Arajo

    Braslia - 1998

  • BIDLIOlECA BSICA BRASILEIRAo Conselho Editorial do Senado Federal, criado pela Mesa Diretora em 31 de janeiro de 1997 - compostopelo Senador Lcio Alcntara, presidente, Joaquim Campelo Marques, vice-presidente, e Carlos HenriqueCardim, Carlyle Coutinho Madruga e Ra.imundo Pontes Cunha Neto como membros - buscar editar, sem-pre, obras de valor histrico e cultural e de importncia relevante para a compreenso da histria poltica,econmica e social do Brasil e reflexo sobre os destinos do pas.

    COLEO BIBLIOTECA BSICA BRASILEIRA

    A Q!terela do Estatismo, de Antonio PaimMinha F0171Jaiio, de Joaquim NabucoA PoHtica Exterior do Imprio, de J. Pandi CalgerasO Brasil Soda/, de Slvio RomeroOs Serles, de Euclides da CunhaCaptulos do Histria Colonial, de Capistrano de AbreuIns/t1ifes PoHticas Brasileiras, de Oliveira VianaA llbnrJ Bmsikim, de Fernando AzevedoA Orgtmizao Nat_1, de Alberto Torres

    Projeto grfico: Achilles Milan Neto

    Senado Federa~ 1998Congresso NacionalPraa dos Tres Poderes s/n"CEP 70168-970Braslia-DF

    Calgeras, J. Pandi, 1870-1934.A poltica exterior do Imprio / J. Pandi Calgeras ;

    introduo, Joo Hennes Pereira de Arajo. - Ed. fac-similar-Braslia: Senado Federal, 1998-.

    3 v. - (Biblioteca bsica brasileira)

    Contedo: v. 2. O Primeiro Reinado.

    1. Poltica externa, Brasil, Primeiro Reinado (1822-1831). I.Ttulo. 11. Srie.

    CDD 327.81

  • REVISTADO

    INSTITUTO HISTORIGO E GEOGRAPHICO BRASILEIRO(Fundado no Rio de Janeiro em 1838)

    TOMO ESPECIAL

    A POLITICA EXTERIOR DO IMPERIO11

    o PRI~EIRO REIN"ADOPELO

    Dr. Joo Pandi Calogeras

    CONTRIBUIES PARA A BIOGRAPHIA DE D. PEDRO II(PARTE 2")

    tloc facH, uf 10llgos durenf bene gesta per 1IIIOIIS!lt psslnt sera posterltate frul.

    Director

    Dr. B.. F. Ramiz Galvao

    (Edio Fac-similar)BRASLIA - 1989

  • INDICE

    A POLITICA EXTERIOR DO IMPERIO

    VOL. II - o PRI:rY!EIRO REINADO

    Pags.

    CAPITULO 111 - RECONHECIMENTO PELOS ESTADOS-UNIDOS.

    CAPITULO IV - As MISSES EUROPA ..............

    I - Os plenos-poderes........ I I - Hesitaes de Metternieh..

    CAPITULO VII - A OPINIO PORTUGUEZA.

    CAPITULO

    CAPITULO

    CAPITULO

    CAPITlILO

    I - A INDEPENDENCIA E O AMBIENTE INTERNACIONAL.

    I - A Amcrica e a Santa-Alliana..

    I I - Receios de Canning. Sua iniciativa..

    11 - MALLOGRO DAS PRIMEIRAS TENTATIVAS CONCILIADORAS.

    v - As NEGOCIAES DE LONDRES.

    I - Primeiros encontros.... 11 - Projeeto de Canning. Contra-projecto portuguez...

    VI - As COLLABORAES, .......

    I - Misso de Vienna....

    11 - Misso de Paris..

    I - Em vesperas de negociar .. 11 - A negociao... . .

    17

    33

    49

    67

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    111

    128

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    143

    160

    179

    179

    200

    CAPITULO VIII - O ROMPIMENTO. 211

  • CAPITULO

    CAPITULO

    IX - RECONHP.CIMENTO POR PORTUGAL E INGLATERRA , .

    I - A misso Stuart em Lisba . 11 - Os negociadores e o ambiente no Rio .. 111 - Os actos de 29 de Agosto de 1825 .. IV - As ratificaes . V - A abdicao da cora portugueza . VI - Na Assembla Geral Legislativa .

    x - RECONHECIMENTO DA INDEPENDENCIA PELAS OUTRAS POTENCIAS .

    I - Austria. . . . . . . . . .. . . H -Frana ; 11 I - Santa-S . IV - Estados Platinos . V - Demais Estados .

    Pags.225

    225254269304

    314

    342

    359

    359

    365368

    379386

    CAPITULO XI - INDEPENDENCIA DA C,SPLAT,NA........... 397

    1- Prdromos da lucta................................ 397 11 -A guerra...................................................... 417 IH - A paz. Os tratados de 1827 e de 1828........................... 436 IV - A misso Santo-Amaro......................................... 460

    CAPITULO XII - A ECONOMIA NACIONAL E OS TRATADOS.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 485

    1- Mallogro de Stuart. O tratado francez........ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48511 - Os novos tratados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 497

    IH - Influxo sbre o trafico e sbre o commercio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 511

    CAPITULO XIII - ABDICAO DO IMPERADOR , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 529

    INDICE ALPHABETICO .

  • A POLITICA EXTERIOR DO IMPERIO

    2 VOLUME

    o PRIM EIRO REINADO

  • CAPITULO I

    A INDEPENDENCIA E O AMBIENTE INTERNACIONAL

    I - A America e a Santa-Alliana

    Vinha de remotas ras a hostilidade Inglaterra, como um dos elementosbasilares da politica internacional de Hespanha.

    Sem remontar aos Philippes, bastaria relembrar o Pacto de Farnilia consecut'jvo inthronisao dos Bourbons e a prompta adheso ao tratado de Versalhli:s(1783), reconhecendo a independencia norte-americana. O odio ao inglez pudramais do que a prudencia no senhor do maior imperio colonial da pocha.

    Vingava-se o Gabinete de St. James, permittindo, auxiliando mesmo, o pre-paro em tempo de paz, e em seu proprio territorio, de expedies libertadoras.E quando, presa nas exigencias peremptorias de Napoleo, teve a cora caste-lhana de gravitar na orbita continental franceza, em lucta contra a Gr-Bretanhaem todos os pontos do globo, no admira que, em represalia, nesse ultimo paiz seaprestassem elemento~ para a conquista das colonias ibericas.

    Assim foram feitas expedies contra Buenos-Ayres em 1806, sob a chefia deSir Home Riggs Popham, mais tarde, em 1807, reforadas pelo general White-lock; e contra o Chile, no mesmo anno de 1806, a mando do general Crawfurt.Em omeo do anno seguinte, Wellington receberia ordem de organisar fras parainvadir o Mxico.

    Consequencia desse estado de guerra e do dominio dos mares, senhoriado pelasesquadras de George III, havia sossobrado o monopolio commercial da metropole.Nos flortos americanos proliferava a actividade britannica, creando interesses dealta monta, que breve sobrepujariam em valor ao intercambio com os Estados-Unidos antes de sua libertao.

    $ubitamente, com a substituio dos Bourbons de Hespanha por um Napo-leonideo, alterou-se a situao politica.

    Revoltada a populao, j no era Portugal o ponto de apoio unico dos exer-citos de Wellington. Dentro em curto praso, toda a peninsula se lhe manifestou

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    partidaria, abertamente, em luctas de guerrilheiros incapturaveis, contra as armasfrancezas.

    A alliana, dest'arte celebrada entre os dous paizes, fez cessar as empresasinglezas, contra as colonias hispanicas, impotente, entretanto, e nem siquer dese-joso o govmo iJ,"sular de pr um paradeiro invaso das mesmas pelas firmas deLiverpool, de Manchester e de Londres.

    Com Portugal o caso apresentava feio outra, pois por acto iegal haviamsido franqueados os portos brasileiros.

    Taes movimentos economicos, entretanto, defluiam da actividade, quasi des-amparada pelo govrno, dos negociantes e dos industriaes da Gr-Bretanha.Os ministros estavam por demais absortos na lucta gigantesca contra o Corso ge-nial. Onde acharem tempo para dedicar esforos, estudos e atteno s artes paci-ficas da expanso dos mercados? Foi phenomeno espontaneo, dominado por inter-esses puramente particulares. S ulteriormente, appareceu e avultou o aspectopolitico da questo, quando, ameaadas de expulso pela volta do dominio bour-bonico em terras da America, as casas inglezas juntaram seus protestos e sua in-fluencia s exigencias de reconhecimento pblico das novas Republicas.

    J para os Estados-Unidos a opinio se formava por motivos diametralmentedivergentes, politicos mais que economicos, sentimentaes acima de interesseiros.

    A Hespanha, por suas colonias na Florida e no Mxico, vinha quasi at oMississipi e apertava aos Estados-Unidos entre as maxillas de uma tenaz. Recon-quistando seu poderio pristino, possivelmente restauradas as fras que os Bour-bons, dignos herdeiros dos Philippes, no haviam sabido mantr, a Republicaestmia condemnada a vida mui diversa da que teve.

    Pelo proprio interesse de conservao e de progresso na evoluo norte-ame-ricana, o movimento emancipador havia de forosamente encontrar cho sym-pathico nos filhos dos pioneiros, cujo rude e nobre esforo de 1776 era invocadocomo exemplo e como alento pelas nacionalidades em formao no continentemeridional.

    A corrente popular, sentimental, movia-se confusamente por tal similhanade origem. A direco governamental, politica, egualmente influenciada embora,sentia o dever de agir com cautela, nem s por sua posi.

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    presos na expedio libertadora de Miranda, em 1806, resoluo na qual vinhaimplicito o reconhecimento pblico das novas instituies de Venezuela.

    Em 1810, porm, comeam as observaes aturadas dos factos que se desdo-Qravam, especialmente na bacia do Prata.

    Ao amigo e homem de confiana Poinsett, nomeado agente commercial e deproteco aos marinheiros no Prata, pois fra impossivel acredita-lo consul sem re-conhecer implicitamente os poderes perante os quaes agiria officialmente, escrevia a28 de Junho desse anno R. Smith, secretario de Estado do presidente Madisondando-lhe as instruces de sua misso confidencial.

    Como uma crise se est avisinhando, que produzir grandes mudanas nasituao da America hespanhla e pde at romper inteiramente seus laos colo-niaes com a Europa, e como tanto a situao geographica dos Estados-Unidosquanto outros motivos obvios lhe conferem interesse especial em tudo o quepossa affectar os destinos dessa parte do Continente Americano, dever nossovolver a atten:;o para esse importante assumpto, e tomar as providencias que osfactos imponham, compativeis com o character neutral e a politica honesta dosEstados-Unidos.

    Com esse intuito, fostes escolhido para seguir sem detena para Buenos-Ayres,d'ahi, caso conveniente, para Lima, no Per, ou Santiago, no Chile, ou para ambosos logares. Tornareis por tarefa, sempre que fr opportuno, diffundir a noo de queos Estados-Unidos nutrem a mais sincera ba vontade para com os povos da Americado Sul, como visinhos, como habitantes da mesma poro do globo, e por tereminteresse mutuo em cultivar relaes amistosas; que essa disposio existir sejamquaes forem seu systema interior ou suas relaes com a Europa, nas quaes nopretendemos intervir de modo algum; e que no caso de sobrevirem uma sepa-rao politica da metropole e o estabelecimento de um systema independente degovmo nacional, coincidir com os sentimentos e a politica dos Estados-Unidospromover as mais amistosas relaes e a mais liberal intimidade entre os habitantesdeste hemispherio, por terem todos um interesse commum e estarem sujeitos aum commum dever de manter aquel1e systema de paz, de justia e de ba vontadeunica fonte de felicidade para as naes.

    Emquanto preconisardes estes como sendo os principios e as disposies dosEstados-Unidos, no ser menos conveniente averiguar os sentimentos correspondentes da parte contrria, no s para com os Estados-Unidos, como para com asgrandes naes europas, e tambem quanto o Brasil, e os ramos hespanhes degovrno ahi, e ainda relativamente s ligaes commerciaes e outras, e, de modogeral, inquirir do Estado, de suas characteristicas, dos conhecimentos e das riquezasde suas partes componentes, dos algarismos de sua populao, do alcance e da or-ganisao de suas fras militares e dos recursos pecuniarios do paiz.

    Me:es depois, ampliava-se o numero de agentes. Poinsett recebia a nomeaode consul-geral, e Monroe, j ento secretario de Estado, lhe escrevia. "As instruc-es que vos foram dadas so to amplas que parece no haver razo de lhes additar

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    qualquer cousa agora. Muita solicitude experimentamos em receber noticias vossassbre todos os pontos que ellas mencionam - a tendencia revelada pela mr partedas provincias hespanhlas de se separarem da Europa e de se constituirem em Es-tados independentes provoca aqui grande interesse. Como habitantes do mesmohemisI??erio, como visinhos, os Estados-Unidos no podem ser espectadores in-sensiveis de to importante momento. O destino dessas provincias, dellas s devedepender. Tenha logar tal revoluo, entretanto, no ha duvida que nossas re-laes COl\l ellas sero mais intimas e nossa amizade mais intensa, do que soemquanto permanecem colonias de qualquer Estado europeo".

    Affloram aqui longinquas raizes da doutrina de 1823 que recebeu o nome deseu auctor, Monroe, ao qual, j doze annos antes, se delineava a independenciacontinental como factor de estreitamento de laos com os Estados-Unidos.

    Continuava a estender-se a rde de agentes americanos de vigilancia sbre osacontecimentos do Sul, mais seguidos e intensamente apreciados em Buenos-Ayres,com persistencia menor no littoral do mar Caribeo e do Golfo. Em contraposio,desde 1810 chega em Washington o primeiro agente de Venezuela, e s seis annosdepois segue o exemplo o Rio-da-Prata.

    No Brasil, as relaes se estabelecem com a vinda da Familia Real ao Rio.Desde 1808, ha representantes officiaes junto ao principe-regente: da Inglaterrao celebre e incommodo lord Strangford ; da Santa S, d. Lorenzo Calepio. Em1809, a Heospanha acredita ao marquez da Casa Yrujo. Em 1810, os Estados-Unidosnomeam para ahi o ministro Thomas Sumter. A Russia, em 1812, despacha seuenviado o conde de San Pahlen. A Frana, em 1S15, tem como encarregado denegocios ao consul l\1alr. A Austria, em 1817, est presente na pessa do baroNeven von \Vindschliig.

    Mo grado seus efforos, os funccionarios norte-americanos eram insufficien-temente idoncos. As informaes escasseavam. Apesar de todas as deficiencias, oenthusiasmo do povo yankee ia crescendo. Nos portos dessa nao aprestavam-secorsarios; ali refrescavam e vendiam as presas.

    O crso no se limitava a embarcaes de insurgentes. Nelle tomavam parteos proprios norte-americanos, a ponto de merecerem indignada e definitiva censurados que se atinham a dever a Republica manter na contenda neutralidade real.

    Era, porm, movimento vindo das massas profundas da populao, e brevese tomaria lucrativa para quantos a queriam exercer. A pilhagem maritima no seapplicava exclusivamente aos contendores, sino a todos os navios insufficiente-mente armados para se defenderem, fosse qual fosse sua bandeira. Culminou oultrage e comeou a represso, quando a Inglaterra, ante os prejuizos trazidos aseus nacionaes por taes flibusteiros, por 1823 e 1824, se viu forada a agir comenergia maior.

    O Congresso, entretanto, nada quiz fazer para auxiliar os insurrectos ou re-conhecer as novas entidades politicas, por mais que vibrasse unisono com o senti-mento unanime dos Estados-Unidos. Em 1816, mesmo, pareceu que smente

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    Buenos.Ayres se manteria independente, tal o avano que as tropas legalistashaviam conseguido. Logo em seguida, comtudo, tiveram inicio os triumphos de San-Martin, libertando de vez o Chile em 1817-18. ANorte, os rebeldes cobravam novoalento. Repercutiram logo em Washington Os successos revolucionarios, servindode base grande campanha de opposio de Henry Clay contra o govrno, mo-vido o grande orador pela magoa de haver o presidente Monroe escolhido a JohnQuincy Adarns para secretario de Estado, quando elle proprio ambicionava ocargo, estgio preliminar da asceno ao posto mais alto de chefe do Executivo.

    Monroe, para documentar-se, enviou novas misses a Buenos-Ayres, ao Chile,e ao Per. Os enviados, enthusiastas mais que observadores imparciaes, .estariamem desaccrdo, mais tarde, em seus relatorios de fins de 1818. Consonavam emum l'l0nto, apenas: havia independencia em Buenos-Ayres e no Chile, mas noexistia govrno, tal a instabilidade das auctoridades e dos designios.

    Clay no teve a prudencia de esperar pela volta dos commissarios. J em Marode 1818, commentando o manifesto de Tucuman, proclamando as ProvinciasUnidas do Rio-da-Prata, solicitava o reconhecimento d", nmm nacionalidade. Re-cusou-lhe apoio o Congresso.

    Em Londres, nos Communs, o gabinete tinha de responder a indagaes damesma natureza.

    Em Buenos-Ayres, tergiversavam continuamente os espiritos. Aps projectosde regencia entregue.a d. Carlota J oaquina, esposa do regente de Portugal e Brasil,fra suggerida a unio a este ultimo paiz e finalmente haviam surgido novos planosde constituio de um reino sob a direco quer de patricios platinos, quer de JosBonaparte, e mais tarde do duque de Orleans, o futuro Luiz Philippe, ou do duquede Lucca. Curiosa historia, interessante, e recentemente, si bem que de modo in-completo, narrada por Carlos Villanueva.

    A posio da Hespanha era de absoluta intratabilidade.Animado pelo relativo successo das tropas enviadas, em 1815, Nova-Granada

    sob o mando de d. Pablo Morillo, que s quatro annos depois teve de capitularante as victorias de Bolivar, julgava Fernando VII seria facil reconquistar as co-lonias. A todas as propostas de Buenos-Ayres, secundadas prudentemente pelogovrno de Luiz XVIII, em Frana, respondia por frma intransigente.

    Mantinha-se, portanto, Monroe na espectativa, firmemente resolvido a ob-servar os acontecimentos coll). imparcialidade e cautela, desejoso no houvesse col-ligao de fras contra os patriotas sul-americanos.

    Tal attitude inquietava a todos os partidarios do absolutismo, na Europa,receiosos de que, sob a presso do sentimento popular, os Estados-Unidos reconhe-cessem a independencia das possesses hespanholas. E, por esse motivo, em Madridse amiudavam conselhos das potencias, no sentido de ser cedida a Florida, j ille-galmente invadida por Andrew J ackson, a pretexto de perseguir e combaterIndios, cesso consentida mediante a preliminar da Republica assumr o compro-misso de no reconhecer os govrnos das colonias revoltadas.

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    No era facil a poslao do govrno norte-americano. Adquirir a Florida eradever egual ao que dictra a compra da Luiziania, em 1803. Sacrificar a essa impe-riosa necessidade politica' outras necessidades de egual monta - a independenciada America do Sul e a solidariedade de f6rmas governamentaes similhantes, pro-clamadas em todo o Continente - fra oora de cegueira de que um estadista comoMonroe se no tornaria culpado.

    Impunha, portanto, o complexo de escolhos a maior reserva no modo deagir. E tanto mais, quanto, a solicitaes continuas de auxilio por parte de Fer-nando VII junto s crtes absolutistas, respondra a iniciativa do tsar, com aFrana a seguir-lhe os passos, provocande-a-reuniodo Congresso de Aix-Ia-Cha-pelle.

    A razo ostensiva invocada pela Russia, era a Cruzada da Legitimidade contraa Revoluo, personificada nos jacobinos de todos os paizes e especialmente nosinsurgentes americanos.

    E' certo que Austria e Inglaterra haviam desde logo comprehendido que atrazda grandiloquencia ca de Alexandre ("une nullit politique", dizia o confidentede Metternich, Gentz: "linguagem algo anormal", accrescentava Castlereagh) seoccultava o proseguimento tenaz do methodo de Catharina Il: lanar a Europaoccidental em complicaes diplomaticas e conflictos armados que lhe desv iassema atteno do Oriente, onde a Russia precisava ter mos livres para cumprir o quejulgava sua misso historica -libertar do Crescente os Christos, expellir o Turco dapeninsula balkanica, resgatar Santa-Sophia, e assentar solidamente no Bosphoroe nos Dardanellos o dominio e os estandartes da Cruz.

    Empenhados os membros occidentaes da Santa-AlIiana em longinqua expe-dio ultramarina, poderia o tsar agir como quizesse, at o mar de Marmara eo Egeo.

    Obvio, que nem ao govrno inglez, nem ao de Vienna, muito intimamenteassociados, podiam convir taes processos, ainda aggravados por obscuras nego-ciaes entre a Russia e a lckspanha, visando ceder Porto-Mahon primeira dessaspotencias, isto , dar-lhe um ponto de apoio no Mediterraneo occidental, que seconjugaria !utura conquista planeada na Grecia, no Archipelago e nos Estreitos.Golpe directo, pois, na supremacia maritima de Albion.

    A' propria politica ingleza na America revoltada convinha deixar que a questose liquidasse entre metropole e colonias, certa de que estas saberiam manter-seindependentes. Mas, desde que, atraz da Hespanha, visse a Inglaterra o auxiliopratico e efficaz de pOtencias europas, tambem colonisadoras, logo se lhe deparariaa possibilidade, qui a probabilidade, de reconstituio de um imperio colonialem mos de adversarios historicos, quaes sempre haviam sido os Hespanh6es.Ameaa, portanto, dirigida contra as possesses britannicas e contra sua propriasupremacia no concerto europeu.

    Seu interesse inspirava sua politica: no agir, para prolongar a lucta, enfra-quecer a metropole iberica, e, indirectamente, os alliados eventuaes desta, per-

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    mittindo a emancipao do Novo Continente por esfro proprio e impedindose formasse, em frente a seu proprio dominio americano minguado pela indepen-dencia dos Estados-Unidos, outro bloco, coheso, pertencente ao inimigo tradicional,ou, talvez, cedido em parte a um concurrente inda mais temivel, a Frana. A essaregra, maduramente deliberada, vinha juntar-se a satisfaco de obscuros rancores,oriundos de luctas seculares e, mais recentemente, dos factos de que havia resul-tado o tratado de Versalhes.

    Metternich, no podendo oppr-se iniciativa do inspirador da Santa-Alliana,quiz aparar as arestas de uma iniciativa ameaadora para a paz continental, e denatureza a impedir a collaborao do gabinete de St. James.

    Ficou firmado que em Aix-la-Chapelle se no trataria nem da questo hespa-nhla nem da de suas colonias. Mesmo assim, manietado, Alexandre aceeitou areunio do Congresso, certo de que entre as malhas do programma castrado surgiriaopportunidade de encarar o grande problema que lhe propeilia toda a actividade.

    Contava o tsar com a dedicao doci! da Frana. Na segunda Restaurao,fra salva por elle, auxiliado pela Inglaterra, de desmembramentos que a haveriamriscado do rol das potencias de primeira plana. Nessa oceasio tinha invocado odireito dos povos para justificar sua generosa politica. J agora a campanha di-rigida contra os jacobinos e os revolucionarios no podia ter o auxilio da Ingla-terra constitucional, nem da mesma Frana, onde Luiz XVIII, para nacionalisara realeza e tomar monarchico o sentimento popular, tinha de se mostrar liberal.O tsar, portanto, s podia apoiar-se nos ultras, creando embaraos ao govmofrancez e enfraquecendo sua auctoridade.

    Assim desunidas as potencias, os intuitos absolutistas no podiam ter garan-tido triumpho completo.

    Aps accrdos preliminares sbre a libertao antecipada da Frana das tropasde occupao dos alliados de 1815, comeou a lucta pela proposta ingleza de re-novarem o pacto de Chaumont os govrnos signatarios delle, caso surgissem novasrevolues. Golpe contra a Russia, que, acceitando a moo, faria injuria Frana,collocada na situao de eterna dependente do extrangeiro, revidou logo Alexandredeclarando estar' prompto a renovar o pacto, comtanto alvejasse nem s os jaco-binos francezes, como todos os rebeldes em geral, insurgentes americanos ou revol-tosos da Italia ou da AlIemanha.

    A vastido da empresa e a ameaa que sua execuo envolvia para quasi todosos paizes presentes ao Congresso, em beneficio unico da Russia, colligaram contraesta, s occultas, todos os gabinetes. E d'ahi resultou a nihilidade da obra de Aix-la-Chapelle (1818), sob a mascara de phrases de mysticismo politico, obra de Gentz,unica satisfac!(o dada ao ilIuminado de Mme. de Krdener. A tanto montava aproposta mediao na questo hespanhla, por intermdio do duque de Wellington,sem possibilidade de recorrer fra, caso falhasse o plano.

    A propria absteno, em confronto com o espirito combativo que havia dictadoa reunio internacional, era significativa da gravidade do problema americano.

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    Valia por alento aos partidarios da Independencia. Era Mettemich, era a In~glaterra, eram todas as potencias, em summa, a no contravirem emancipaodas colonias.,

    Confirmavam-se as impresses de John Q~incy Adams, em carta de 20 deMaio de 1818, ao ministro norte-americano em Londres, Rush, lembrando-Ihe queo gabinete inglez "descobriria dentro em breve o grarl.de interesse da Gr-Bre-tanha na independencia total da Sul-America, e animaria o acontecimento, na pro-poro compativel com seus deveres para com Hespanha. No est provavelmentemuito afastada a pocha em .que o reconhecimento da Independencia Sul-ameri-cana ser acto de amisade para com apropria Hespanha, sendo prova de bondadepara com eUa dissipar-lhe a illuso em que labora e que lhe faz gastar os restantesrecursos em uma guerra, infame pelas atrocidades com que feita, e inteiramentedestituida de visos de successo".

    Correu pelas terras em revOlta um fremito de enthusiasmo, ao saberem o re-sultado do Congresso. Em Washington redobravam de insistencia os agentes sul-americancs, nas suas solicitaes por serem officialmente recebidos, reconhecidosassim seus respectivc3 gOlrnos. Os proprios Estados-Unidos, com Monroe pro-penso admisso afliGial ia Independencia e Adams a servir de freio politico, consideravam proxima a opportunidade de acto de to grande alcance.

    Em circular aos agentes diplomaticos, escrevia o secretario de Estado, a lo deJaneiro de 1819, que no Mxico e em Buenos-Ayres a lucta estava, por assim dizer,terminada, triumphantes os partidarios da libertao; que os Estados-Unidos seopporiam a qualquer interveno de terceiros nessa contenda, a qual s6 poderiadesfechar pela independencia total da' Sul-America, achando-se o govrno ame-ricano, salvo acontecimento imprevisto, disposto a brevemente reconhecer o deBuenos-Ayres.

    Surgiu logo o "acontecimento imprevisto", com a noticia de que perigariamas negociaes s6bre a Florida, caso os Norte-Americanos se abalanassem a passode tal magnitude;

    Dous annos exerceu a ameaa seu vto suspensivo.Monroe teve de repellir, por indigna de ser tomada em considerao e offen-

    siva do chracter nacional, a offerta formal de fazer cesso da Fl6rida como preodo abandono das colonias a seus exclusivos esforos, sem o auxilio moral da sym-pathia e do reconhecimento eventual da grande Republica do Norte. A firmeza desseproceder e o cuidado do govrno em no praticar acto algum de provocao Hespanha permittiram a assignatura do tratado de 22 de Fevereiro de 1819. Em-quanto no houvesse troca de ratificaes, entretanto, a questo permaneceriapoliticamente em aberto. D'ahi os termos medidos das mensagens presidenciaes,em que, s6 com precauo extrema e pesadas todas as palavras, caminhava parafrente o pend6r favoravel aos novos govmos.

    E mo grado a sympathia do Congresso, sob o influxo da voz generosa de Clay,essa a r6ta politica a seguir, para evitar estremecimentos internaciones, pois aochque de 1818 para o absolutismo, se seguira a agitao cartista que em Hes-

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    panha provocra a revoluo deJaneiro de 1820, obrigando Fernando VII a res-taurar as Crtes; em Napoles obrigra, em Julho, Fernando I a dar ao reino deDuas-Sicilias um govmo liberal,. e, em Agosto, em PO(tugal dra nascimento triumphante revoluO do Porto.

    Rejubilou o imperador da Russia. Era asonhadaopportunidade para fazervingar seus planos, garroteados no que elle proprio cMmava a "Iicode 1818".

    Tomra-Ihe agora a Frana a deanteira. Desejava obter da Europa mandatopara agir na Hespanha em prl da legitimidade, havendo j, subrepticiamente,auxiliado a Fernando VII com dinheiro e promessa de remetter fras.

    Metternich, a seu turno, vendo a obra lilbsolutista ameaada na ItaUa, queriater mos livres para submetter a pennsula, e, aproveitando o ensejo, fazer triumpharo plano de abolio de franquias constitucionaes que o Congresso de Vienna instituira. A tal systemaaccusava elle de fortlecer os adversarios dos Habsburgos.Para destrui-lo e assim dominar a AlIemanha, iria o chanceller Austriaco s qJal-logradas conferencias d~ Carlsbad e s de Vienna, em 1819. Mas, por egual. receiavaqeixar Russia liberdade para agir no Oriente.

    Jdentico sentimento movia Inglaterra, a ponto de ipflw.r no animo do em-baixador francez Decazes, delle onsegujndo demover Luiz XVnI de seuprimi-.tivo intento.

    A Frana, iniciadora da reunio internacional, em 1820, recuaVa agora,arre-pendida do passo que dra.

    A habilidade de Metternich conseguiu desuniras potencias, a principio so/i-darias, e obter que smente a Austria fosse auctorisada a intervir na Italia, afas-tada a hypothese de uma aco parallela a Sul dos Pyreneus. Essa foi a obra dosCongressos de Troppau (1820) e de Laybach (l8U).

    Contra os intuitos de ambos, e embora no fosse visado porelles. mas compre-hendendo a ameaa implicita, protestou solemnemente el-rei d. Joo VI de Por-tugal, a 3 de Abril de 1821. Declarou aos gabinetes europeus que, nada tendo osmonarchas extrangeiros qJ,reintervirem negocies portuguezes, assegurava suaadheso ' Constituio que as Crtes do Reino elaborassem.

    Quasi na mesma data, em lO de Abril, Clay havia apresentado Casa dosRepresentantes. em Washington, e tinha feito triumphar sua celebre moo affir-mando a solidariedade do Congresso com a sympathia ~. povo dos Estados-Unidospela causa sul-americana, e estar prompto o Legislativo a dar seu apoio ao Pre-sidente, quando este julgasse opportuno reconhecer os novos govmos.

    Tinha-se operado mudana profunda no aspecto material dos factos .polticos.J estava ratificada a cesso da Flrida. A revoluo de 1820 destruira o,srecursosmilitares. com que a Hespanha .. poderia apparelhar ,novae~io America.Cada vez mais, Austriae Inglliterra se ,oppc;lriams iniciativas do tsar, mascaradode restaurador do .principiomonarchico, de Jacto occultando seus designi9Ssbre onstantinQpla. fF.ana, gt'lilvitando.a!temativamente na esphera da Russia.CQIn os legjeirnstas eroais ~ialrnenteCOql os ultra$, ~. na da Inglaterra, com

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    o elemento liberal influenciado por Decazes, muito ouvido por Luiz XVIII. estariareduzida ao desagradavel papel de etema hesitante nos rumos internacionaes.

    Com o ultimo desengano dos govrnos europeus quanto formao de mo-narchias americanas sob a chefia de principes das casas reinantes, as colonias re-voltadas e vencedoras volveram suas vistas para as f6rmulas republicanas, maisaccentuadamente auxiliadas para isso pelo sentimento ponular dos Estados-Unidos.

    O commercio inglez esforava-se de mais a mais em favor da causa da inde-pendencia, pelo prejuizo que soffreria si voltasse a imperar o monopolio hespanh6l,em caso de recolonisao, pelas perdas que experimentava em alta escala como desenvolvimento do crso, por flibusteiros que arvoravam o pavilho de Castellaou tinham cartas concedidll3 por este govrno. J a Inglaterra sentia com maisintensidade o profundo acerto das palavras de John Quincy Adams ao ministroRush.

    Julgou Monrbe que o momento de agir havia soado. O Congresso pedira, em30 de Janeiro de 1822. communicao dos documentos relativos aos negociossul-americanos. Em mensagem de 8 de Maro, o presidente respondeu recommen-dando o reconhecimento official das Republicas recem-nadas. Em Maio foi sanc-cionada a lei respectiva, e a 19 de Junho o primeiro encarregado de negocios daColombia era apresentado na Whitehouse pelo secretario de Estado.

    Estava vencida a campanha e consummada a Independencia da Americahespanh6la pelo expresso reconhecimento da Republica do Norte.

    Faltava apenas o Brasil, pare. perfazer a libertao continental.Sobreveiu, ento. o facto nov que integrou o impulso emancipador: a 7 de

    Setembro de 1822, a antiga colonia portugueza rompia os laos de dependenciacom suametropole.

    Desapparecra o ultimo vestigio de soberania peninsular ibrica no conti-nente do Sul.

    Para os Estados-Unidos. o apparecimento do Brasil como nao politicamentemaior no offerecia difficuldades especiaes. Seria mais um govrno ao qual appli-cariam as normas j adoptadas para o reconhecimento, com a vantagem de vira applicao facilitada pela organisao da nova entidade pblica, pela annullaoquasi immediata e definitiva de todo poder metropolitano. E a prova est narapidez com que, em Washington, foi recebido officialmente o representante diplo-i11atico do Imperio.

    Para a Inglaterra, a questo apresentava-se muito mais espinhosa e cheia decOl1sidera6es accessorias.

    A abertura !0S portos brasileiros por acto da audoridade legal era irrevogavel.talo interesse que ahi encontrava o proprio Brasil. O desenvolvimento do com-mercio inglez no soffreria restric6es nem se sentia ameaado. pois raros, entreos mesmos recolonisadores portuguezes, pensariam a srio na possibilidade devoltar o monopolio colonial. As casas productoras britannic"" embora auxiliassem

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    a emancipao, no tinham o mesmC' ferro do lucro em perigo a incitar esforospela remoo da causa do mal.

    Velhos tratados com Portugal, garantindo-Ihe a integridade territorial, ulti-mamente postos a prova nas ca,mpanhas napoleonicas e na regencia de Beresford,em nome de d. Joo, ausente alm-mar, tomavam a posio do Reino-Unido maismelindrosa ainda.

    E, para multiplicar os enrdos, o suicidio de Castlereagh ia entregar a poli-tica internacional a rumos desconhecidos, dada a divergencia; j ento revelada,de George Canning com a orientao de seu predecessor.

    O ambiente longe estava de desannuviado. No permittia prevr a acceitaaopela Europa dos factos occorridos do outro lado do Atlantico. A iniciativa dos Es-tados-Unidos, fortemente criticada nas crtes tradicionalistas, no dra logar a pro-testos officiaes; como que considerada a Republica fra do systema europeu. Nestecontinuavam a preoccupar-se intensamente com as colonias.

    Alexandre I no cessava de olhar para o Bosphoro e de procurar quantasoccasies ou pretextos lhe facilitassem o adito aos Estreitos. A Austria vedava-lheos Balkans, accrde com a Inglaterra. Esta, a seu turno, recusava permittir, naHespanha e alm-mar, operaes que immobilisassem a Europa emquanto, noOriente, agisse a Russia. Vingava-se a ultima defendendo na Allemanha, e contraas empresas austriacas, a obra do Congresso de Vienna.

    A revolta hellenica, appellando para o tsar, havia recebido resposta nega-tiva, confirmada em Laybach (1821). Mas, ao voltar a Petersburgo, e chegandoali a noticia das atrocidades da represso turca ("quatre cent mille individus pendusou pris, peu de chose" dizia Mettemich), houve verdadeiro levante da orthodoxiaslava, irm da grega. No podia Alexandre eximir-se de reclamar nova reuniodos soberanos, para tratarem dessa questo.

    Francisco I e seu chanceller anteviam discusses sbre esse melindroso pro-blema.,doOriente, to cuidadosamente afastado-de todos os Congressos como incan-descente brando' de discordia.

    O legitimismo francez havia obtido se formasse um gabinete reaccionario, comde Villle frente, derribando o ministerio menos conservador do duque de Ri-chelieu, Parecia Russia que o novo govmo deveria docilmente servi-Ia, emborao autocrata sentisse a quda. do anterior, presidido por um valido seu. Como po-deria, porm, defender os gregos, que se insurgiam com a energia do desespro,em nome dos direitos dos povos, quando a base da politica dos utras era a negaodesses mesms direitos?

    E o govmo francez, sabendo as. idas do imperador slavo sobre a Hespanha,pedia um mandato europeu para restaurar no throno o lamentavel Femando VII,aprisionado pelas Crtes liberaes aps have-Ias trahido mais uma vez, e que invo-cava o au,xilio da Santa-AlIiana.

    Bruscamente, deante do espantalho jacobino, o tsar r~nuncioua seuplano oriental,abandonou os gregos sua sorte, e voltou nqvamente as vistas para os Pyreneus.

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    A Gr-Bretanha, em Aix-Ia-Chapelle e, principalmente, em Troppau e Lay-bach, havia manifestado sua reprovao ao intervencftJnismo. Mantinha firme-mente sua posio hostil. Metternich, indirectamente, auxiliava sua attitude, semquerer, todavia, romper com o inspirador da SantaAlliana, mas tambem profun-damente desejoso de manter a harmonia'cornos tories, que tamanha coadjuvaolhe haviam prestado. Procurou demove-Ios de seu vto hespanh61; non'o conse-guindo, apoiou a these ingleza.

    Mas, em Londres, tories e George IV, no seu horror revoluo, por elles vistaem toda parte, no logravam pr sua conducta de conformidade com as aspiraesliberaes da Nao; nem siquer attingiam o nivel da opposio que, nos Congressoseuropeus, os embaixadores inglezes moviam a quantos emprehendimentos inten-tavam ou realisavam Austria e Russia.

    Procuraram, em 1822, minorar o mal; a principio, solicitando da Frana, cujoprogramma hespanh61 era conhecido, declaraes limitadoras, excluindo por completoas colnias americanas. Nada obtiveram. Bem sabiam, pela experiencia das reuniesanteriores, que, embora excluido tal problema das cogitaes officiaes do Congressoa celebrar-se em Verona, viria tona a interrogao candente, e della surgiria,tlvez, o facto decisivo que reabriria na Europa a phase de guerras e de partilhascontinentaes: possivelmente reboaria o Diex te vult de uma cruzada ultramarina.

    No podia a Inglaterrra abster-se, entretanto. Caminhava conscientementepara uma derrota diplomatica. Era a ruina do programma tory, baseado na pazeuropa a todo custo para permittir a cicatrisao das feridas economicas feitaspelo pesadlo napoleonico.

    E' possivel que esse desmoronar tragico contribuisse para o suicdio de Cas-tiereagh, em vesperas de partir para Verona. Um de seus ultimos actos fra in-struir ao representante da Gr-Bretanha nessa Assembla para condemnar e seoppr sem trguas a qualquer interveno na peninsula ibrica.

    Cannirig, que, em Setembro de 1822, lhe succedeu como ministro de extran-geiros, reforou taes instruces ao embaixador, o duque de Wellington.

    De facto, o Congresso, chamado a resolver o problema oriental, occupou-se,quasi s6, da Hespanha. Quando, vencidos os propositos abstencionistas, obtevea Frana o mandato que solicitra para repr Fernando no throno absolutista,ainda quiz Canning declc..ar a guerra ao povo francez, e, intimidando ao gabinetede VilIle, impedir o esmagamento dos liberaes hespanh6es. A nao ingleza, oswhigs, as grandes cidades manufactureiras prestigiavam-no. Foi condemnado immobilidade, porm, pelo rei George IV, profundamente reaccionario, pelostoriese pelo proprioWellington. Mais do que isso, teve de formular uma decla-rao de neutralidade 110 confliCto peninsular.

    O muito que Metteinich conseguiu em Verona para favorecer aos inglezes,com quem no queria romper, pesar de sua hostilidade pessoal a Canning, foi obterque o mandato d Frana se no estendesse s posssesses americanas, como de-sejavam ella propria, Fernando VII e o tsar.

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    Dessa nova campanha, portanto, sahiam mais uma vez ilIesa$ as novas nacio-nalidades. Seria o ponto de partida para a nova orientao diplomatica em Londres.

    Mede-se a evoluo por duas phrases.Na Casa dos Communs, a 19 de Maro de 1817, r~pondendo s perguntas

    de Sir Henry Brougham sobre o programma Sul-americano dos tories, dizia ochefe do gabinete, lord Castlereagh: "Os acontecimentos do Rio da Prata nodevem ser considerados como mra questo sul-americana, sim como um problemaeuropeu"

    Em correspondencia official com o duque, de WeUington, em Verona, escreviaGeorge Canning, ministro de extrangeiros, a 8 de Novembro de 1822: "Cada dia maisme conveno de que, na presente situao do mundo, no estado actual da Penin-sula, e no ,aspecto presente deste paiz, as questes Americanas ,so imcompara-velinenee mais importantes para n6s do Jque as europas, e que si no aprovei-tarmos o ensejo de nellas agir opportunamente em beneficio nosso, nos arrepen-deremos da perda de uma occasio que nunca mais se apresentar",

    No haviam ~perado tanto os Estados-Unidos. Quando viram o rumo quelevavam as deliberaes preliminares das potencias e a soluo provavel a esperarda,Assembla de Verona, immediatamente proclamaram, no celebre Manifestode 2 de Dezembro de 1823, que immortalisouMonroe, a doutrina q\Je lheguardou o nome: a allianCa com as novas Republicas para impedir a sua rec;oloni-sao.

    Desses germens fructificaria definitivamente a aceeitao europa da lndepen-dencia, Como bem observa Bourgeois: "Et l'Europe, trente ans apres (da Indepen-dencia norte-americana), se trouva place devant ce dilemme: ou de perdre, si el.leallait cmbattre en Amrique, la Mditerrane orientale guette par la Russie, ou,si elle se drobait l'appel de l'Espagne IIt aux conseils intresss d'Alexandre ler,d'abandonner les domaines atlantiques aux Amricains. Des ce jour,e:tpar la buis-sance .de ce dilemme, le monde toutentier entra forcment dans ses. calculs de lapolitique europenne, en largit le cadre et parfois le brisa".

    A'iniciativa de Monroe se deve o grande feito.Canning, desde .logo, lhe secundou os passos, at com affectao. O cOrrun,ercio

    inglez de mais em mais reclamava o reconh~imentoofficia1 dos govmos da America.Provisoriamente, e para reprimir o Crso, promoveu o gabinete um novo Ac~o; ~eNavegao, regulando esta no que tocava America do Sul, e assegurou sua ob-servancia por meio de uma esquadra incumbida de perseguir os: flibuste\ros.

    A Hespanha,1mmediatamente, declarou franco o. commercio com ta;s portos.Dando praticamentesatisfaco s. praas ingle~s, tal acto afastava Um argumento.possivelmente invocado pelascolonia~:, o desrespeito britannico ao, monopoliometropolitano de transport~maritimospara alm-mar, inteiramente legal noregime anterior emancipao.

    Apc::sar de tudo, continuavam as cidades inustriaes a insistir por uma soluodefinitiva.

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    Estava Canning de acerdo com Monroe. Para assegurar o acto de reconhe-cimento sem perturbaes intemacionaes, cumpria averiguar si a Frana, a Austriae a Russia combateriam pela unio compulsoria das colonias e da metropole.

    Desde 9 de Novembro de 1823, em memorandum trocado com o ministrobritannico, concordava o principe de Polignac, embaixador francez, ser impossivela volta das colonias sua situao anterior, e no querer o seu govmo recorrers armas, para as compellir obediencia.

    Chateaubriand, at que emfim ministro de extrangeiros, obedecendo reacoabsolutista e a seus designios, procurou servir a Santa-Alliana, e, em Junho de1824, tentou obter o apoio de Londres para um Congresso reclamado por Fer-nando VII, como fito de firmar a mediao europa entre os contendores. Londres,porm, no tinha que se preoceupar com tal iniciativa, fortalecido o Foreign Officecom o memorandum de Polignac, que correspondia aos sentimentos reservadosdo proprio gabinete de Villle e do rei Luiz XVIII. A reSposta de Canning foi,portanto, peremptoria e negativa. A primeira opportunidade, descartou-se deChateaubriand o ministerio francez, a pretexto de discusses oramentarias.

    Das demais agencias diplomaticas junto s crtes extrangeiras, vinham aCanning affirmaes consonantes: todas estavam sinceramente de acerdo com aHespanha e com esta syrnpathisavam: nenhuma, porm, faria a guerra por causada America.

    O grande ministro, ento, certo de que o reconhecimento das Republicas pelaInglaterra no quebraria a paz, procurou agir no sentido de ter a propria metro-pole antiga a iniciativa do acto generoso. Desapontados seus esforos, deliberouobedecer sinstancias cada vez mais numerosas e prementes dos proprios Communs.Em Agosto de 1824 auctorisou a concluso de um tratadp commercial com Buenos-Ayres, em Janeiro de 1825 a de pactos analogos com Colombia e l\1xico.

    A Hespanha, como era de esperar, formulou protesto indignado e moveu adarem passo egual os embaixadores da Austria, da Prussia e da Russia. A primeirarespondeu Canning recusando-se a discutir novamente o que fra objecto de longasnegociaes anteriores, a conveniencia e a opportunidade do reconhecimento peloproprio govmo de Madrid, e declarou que o entabolamento de relaes com o go-vmo de facto das colonias e seu reconhecimento pelo Reino-Unido no solviamquesto nenhuma de direito. Esse era o ponto fraco que, mais tardei o illustre rivalde Mettemich quiz evitar, para tomar inteiramente inatacavel 0 reconhecimentodo Imperio brasileiro.

    Inda assim, era a proclamao da Independencia perante a Europa, e o fimvirtual'da lucta para a parte hispano-americana do continente.

    Aos embaixadores, a resposta foi outra. A aceusao fra de ser violada a le-gitimidade pelo reconhecimento por parte da Inglaterra. Indagou o grande estadistacomo conciliavam as crtes protestarias seu respeito pelo principio legitimistacom o plano de 1814 de fazerem essas mesmas crtes pazes com Napoleo, e maistarde pr no thrno de Frana um Bourbon que no era Luiz XVIII, e finalmente

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    o tolerar que o legitimo rei da Suecia, que no havia abdicado, vagasse pela Eu-ropa, exilado de seu throno, occupado pelo general Bemadotte. A essa explosocontestou o baro Maltzahn, ministro prussiano, que no tinha instruces paradiscutir taes questes,

    Foi o ultimo arreganho. A Independencia das colonias hespanh6las era umfacto.

    Chegra vez do Brasil.

    n - Receios de Canning. Sua iniciativaMo grado as difficuldades decorrentp.$ das velhas ligaes com Portugal.

    esperava Canning poder dar ao Imperi precedencia nos actos de reconhecimentopela Inglaterra das recem-nadas unidades politicas do Novo Mundo.

    Neste paiz se encontravam reunidos os requisitos que o grande estadista i~glez reputava essenciaes para, por si s6s, justificarem a admisso das Republicashespanh6las no convivio das naes. Tinha um govmo estavel, acceito pela popu-lao inteira. obedecido e capaz de cumprir o que pactuasse. Ao contrario, a me-tropole havia desapparecido de facto de sua antiga possesso americana, sem meiosprticos de ahi tomar a figurar.

    Para o Brasil, no era phenomeno extranho a prtica da suprema govemao,autonoma e com visos intemacionaes. Desde a vinda da Fmilia real, ia para quinzeannos, do Rio se regiam os destinos de toda a monarchia portugueza.

    Plasmra-se pela tradio desta - l:loa ou m, pouco importa ao caso - ofeitio da administrao interna da ex-coloni. Sde da monarchia, dentro em brevereino unido, s6 lhe faltava agir por si, sem ligao com o conjugado europeu. E essemesmo passo pouco tempo levaria a ser dado, mesmO na vigencia da Unio, desdeque ci. Pedro, principe-rgente e logar-tenente de seu pae no Brasil, acereditou noRio-da-Prata, a 5 de Maio de 1822, a Antonio Manoel Corra da Camara comoconsul, mas, de facto, agente politico secreto, e em Londres, a 12 de Agosto domesmo anno, ao marechal Felisberto Caldeira Brant Pontes, o futuro marquezde Barbacena.

    Em sua carta de crena, dizia d. Pedro que o nomera seu encarregado denegociQs junto a S. M. Britannica por ser" indispensavel nas actuaes circumstanciaspoliticas nomear pessa que em Meu Reai Nome haja de tratar directamentejunto do Governo de S. M. Britannica os negocias que occorrerem relativamentea ambos os paizes". Nessas instruces, subscriptas por Jos Bonifacio, vinha estedesignado como sendo "de Meu conselho de Estado, e do conselho de Sua Ma-gestade Fidelissima".

    Nas mesmas .condies foram acereditados Manoel Rodrigues Gameiro Pes-sOa, o futUrO visconde de Itabayana, em Paris, e Luiz Moutinho Lima Alvaresda Silva, em Washington. Pargrlllienna ia como simples commissionado, incumbidode levar cartas Corte austriaca, o major Jorge Antonio Schaeffer, a quem se

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    recommendava tambem engajar voluntarios para o Brasil, sob a fico de angariarcolonos.

    Numerosos diplomatas haviam residido no Rio, junto Crte.As Provincias Unidas do Rio-da-Prata haviam tido como agentes confiden-

    ciaes: em 1811, a d. Manuel de Sarrata,' um dos mais activos collaboradores no mo-vimento de organisao, ap6s o rompimento com a Hespanha do antigo vice-reinoplatino; at 1820, a d. Manuel Jos Garcia, curiosa figura, de notavel intelligencia.cuja biographia, para melhor elucidao da historia continental, fra de alta con-veniencia investigar por miude, mais do que o pouco que della se sabe.

    Quer como ministros, quer como encarregados de negocios, tinham represen-tado a Austria-Hungria o baro Neven von Windschlg, o conde Wrbna, o condevon Etz, o baro von Mareschal-Wenzel e o baro Bartholomeu von Strmer.

    A Dinamarca era rerpresentada, em 1821, por Borgo di Primo.Os Estados-Unidos, at 1820, pelos ministros Thomas Sumter (1810), Joim

    Graham(1819) e John James Appleton.A Frana tinh~ tido como seus representantes, a partir de 1815, o coronel

    Malr, o duque de Luxemburgo, como enviado extraordinario, em 1816, paratratar da restituio de Cayenna sem ajustes novos sobre limites, o marquez deSant-Simon, que no tomou posse, e o celebre Hyde de Neuville, j em fins de 1820,que preferiu esperar em Lisba a volta de d. Joo VI.

    A Gr~Bretanha accreqitra successivamente a 10rd Strangford (1808), a SirGore Ouseley (1810) e a Edward Thomtqn (1819).

    A Hespanha nomera a seguir o marquez de Casa-Yrujo (1809), a Jos MatiasLandabur, a Juan del Castillo y Carroz e ao conde de Casa-Flores (1817).

    A Hollanda tivera como ministro ao baro Willem von Mollerus (1815); aPrussia ao conde de Flemming (1817).

    A Russia accreditra desde 1812 ao conde de San Pahlen, a Swertchkoff,a Pierre de Balk Poleff (1816), ao baro de Tuyll (1819) e ao baro de Langsdorff.

    A Santa-S ahi tivra nuncos: d. Lorenzo Calepio (1808), e o arcebispo deDamieta, monsenhor Marefoschi, que falleceu no .Rio em 1820, vagando ento anunciatura at 1830, ao serem restabelecidas as relaes diplomaticas.

    No era, pois, o Brasileptidade incognita para os paizes extrangeiros, infor-mados por seus representantes, pelo largo circulo de viajantes que desde logo ini-ciaram suas pesquisas no interior do paiz, pelas correspondencias dos negociantes,inglezes em sua maioria; noticias que, mais tarde, divulgadas e revistas em vo-lumes,constituiriam preciosa;:; fontes de estudo e depoimentos imparciaes, at hoje,para as primeiras decadas do seculo XIX, na America portugueza.

    E' certo que, com a transferencia da Crte para as margens do Tjo, lhe se-guiram os passos os membros do corpo diplomatico. Sua obra de estudo do paiz,da administrao, de seus pro-homens e de seus methodos, estava feita, E, postosde lado defeitos ou contingencias dos homens e do meio, a noo geral a deduzir detaes informaes era a capacidade do Brasil para se. reger por' si. Essa, alis, a

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    propria tradio portugueza,a serem exactas as intenesque se emprestam ad. Joo IV e a Pombal de transferirem para esta outra margem do Atlantico lisde do govmo lusitano.

    No Rio haviam ficado apenas agentes consulares, alguns com poderes de en-carregados de negocios. Diplomatas s havia dous: o baro de Mareschal, cujascartas a Mettemich, ainda incompletamente divulgadas, to interessante subsidiofornecem aos inquiridores dos detalhes de nossa vida nos primeiros tempos da ln-dependencia; o baro Jorge de Langsdorff, sem funces officiaes, mas que viriaa ser encarregado de negocios da Russia, e desde ento se applicava ao estudoda fl6ra brasileira.

    Apressou-se a Frana, em 1823, a despachar como encarregado de negociesinterino ao conde de Gestas, afim de acompanhar o curso dos acontecimentos. Jencontrou no Brasil, alm dos funccionarios mencionados, consules de vrios paizes.

    A Inglaterra tinha seus interesses entregues a Henry Chamberlain, cuja inter-vno no reconhecimento do Imperio tanto pesava para Canning. Joo BaptistaMalr defendia as conveniencias francezas. Condy-Raguet agia em nome dos Es-tados-Unidos. Carlos Guilherme Theremin era o agente da Prussia. LourenoWestin, consul da' Suecia e Noruega, receberia mais tarde a primeira encarregaturade negocios de seu paiz junto ao novo Imperio.

    Pena CJ1,1e ainda continue inedita quasi toda a correspondencia dessas per-sonagens. O pouco que se conhece 'della tem permittido rectificar muita versoposta em gyro com demasiada precipitao. E' natural pensar que novos elementosde apreciao se encontrariam nas paginas que jazem esquecidas nos archivos daschancellarias europas.

    A presena de taes agentes no Rio facilitava muitas indagaes. A's Republicashespanh61as havia sido mistr enviar misses especiaes de estudo, americanas einglezas, para o preparo prvio do processo de reconhecimento das novas entidadespoliticas. Eram syndicancias feitas no momento da lucta, no tumultuar das pai-xes, com a inevitavel deformao dos factos peculiar a todo periodo de agitaorevolucionaria.

    No Brasil, muito ao contrario, a analyse se instituira em absoluta calma, desdeos tempos anteriores a qualquer tentativa separatista. Continura por toda a phasepreparatoria e ainda durava ap6s a inteira extinco do antigo poder metropo-litano. Todos os elementos do processo ahi estavam, expostos imparcialmente indagao dos julgadores.

    Assim se explica a profunda differena notada ent;re as immensas difficuldadesencontradas pelas antgas colonias de Hespanha em serem admittidas no numerodas naes independentes, e a relativa facilidade com que o Brasil conseguiu egualresultado.

    Ahi se encontra ainda, talvez, a explicao do facto paradoxal de terem pre-cedido s gestes brasileiras, em pr61 do reconhecimento, medidas preliminares ori-entadas no mesmo rumo por parte da Inglaterra;

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    Com a experiencia colhida anteriormente em toda a America, do Centro e doSul, Canning comprehendra que o movimento iniciado e levado victoria no lit-toral atlantico era definitivo e irrevogavel. Nesse sentido, roboravam sua previsoas informaes consulares sobre a aptido ao self-government da nova Nao, etambem a propaganda discreta de Caldeira Brant, em virtude de suas extraordi-narias instruces de 12 de Agosto de 1822, assim como os esforOS do Correio Bra-siliense de Hippolyto Jos da Costa Pereira Furtado de Mendona.

    O Brasil nada fizra ainda, officialmente, para obter o tratamento em p deegualdade no concerto internacional, cousa que s6 se projectaria no Rio-de-Janeirode meiados para fim de 1823, e j Canning communicra, em 30 de Novembro de1822, ao encarregado de negocios britannicos em Lisba, os intuitos do gabinetede- St. James favoraveis Independencia.

    Estava reunido o congresso de Verona quando chego.u Europa a noticia dobrado do Ypiranga. A attitude da Gr-Bretanha, hostil a essa Assembla da Santa-Alliana, minorou-lhe o alcance das decises. Annullou-as quanto America.

    A r6ta poltica ingleza levava, pois, seu govrno a favonear o movimento bra-sileiro.

    Dizia Canning a seu enviado diplomatico junto crte de d. Joo VI; "O Go-vrno britannco tem interesse identico e imparcial na prosperidade dos dous.Reinosde Portugal e do Brasil; interesse commum a ambos, emquanto unidos ; dividido,no diminuido, aps sua separao".

    O Govrno britannco repelle toda ida de interveno pela fra nos seusnegocios intern)s ; e na ev.entualidade infeliz de uma guerra entre elles - acon-tecimento que S. M. com o maior empenho anseiava se evitasse, e do qual s6podia prever como consequcncias prejuizo mutuo e exgottamento de recursos deambos os Reinos- S. M. manter a mais estricta neutralidade; mas, q,t-:er hajaguerra, quer se conserve a paz, seu mais instante desejo e sua resoluo seromanter as relaes de amisade existentes, por egua!, com Portugal e BrasiL

    Si, na realisao desse intento, o Rei julgar conveniente reconhecer, mais oumenos formalmente, o estabelecimento de facto do novo Govrno Brasileiro, S. M.,assentindo em tal reconhecimento, deve ser considerado como no querendo porf6rma alguma difficultar, e menos ainda excluir (o que, ao contrario, fra desejode S. M. promover por todos os meios) um arranjo amistoso, pelo qual os direitose interesses de ambas as naes se pudessem conciliar, conservadas iIIustre Fa-milia de Bragana as coras de ambos os Reinos)

    Notavel a coincidencia entre essa doutrina e a que o marechal Brant Pontestinha o dever de propugnar junto ao Foreign Office por instruces anteriores depoucos dias proclamao da Independencia.

    Nesse roteiro diplomatico resava a clausula 9": "Dever mais desenganaraquelle govrno sobre o caracter que vulgarmente se d na Europa nossarevoluo. Mostrar pois que ns queremos Independencia, mas no separaoabsoluta de Portugal ; pe:o contrario, Sua Alteza Real tem protestado em todas as

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    occasioens, e ultimamente no seu Manifesto s Potencias, que deseja mantertoda a Grande Familia Portuguesa reunida politicamente debaixo de hum sChefe, que ora he o Sr. d. Joo VI, o qual porm se acha privado de suaAutoridade e opprimido pela faco dominadora das Crtes. Todavia, bem queestes sejam os principias verdadeiros do gabinete de Sua Alteza Real, poderusar a este respeito de Iingoagem e insinuaoens que julgar mis propris aoandamento dos nego:::ios, servindo-Ihe nEste ponto de guia os sentimentos doGoverno inglez; de que tomar partido".

    Era, pois, a unio pessoal das duas coras que solicitava d. Pedro Como melhorreceita para harmonisar os interesses divergentes da metropole e de sua antigacolonia.

    A mesma frmula reapparecia nas negociaes ulteriores de Londres, e, final-mente, nas do Rio-de-Janeiro, de que resultou o tratado de reconhecimento de 29de Agosto de 1825. Neste, a doutrina triumpharia pelo silencio, dado que .as leisde successo em Portugal se mantinham integras, e ~ Constituio brasileira, jem vigor, no impedia a acceitao pelo Imperador da cora lusitana.

    Foi mistr o predominio, cada vez mais poderoso, do' sentimento nacionalista,para que d. Pedro, aps acceitar a successo de d. Joo VI e agindo em Portugalcomo o quarto rei de seu nome, abdicasse, e na peninsula, continuasse como duquede Bragana.

    Tal perspectiva, da unio pessoal, era a unica que podia inspirar tranquilli-dade ao govmo inglez. J d. Miguel, valido da Austria e submisso ao influxo deMettemich, havia dado mostras de seu absolutismo, intimamente solidarias, ellee sua me d. Carlota Joaquina, nos desforos contra as Crtes e o regimen con-stitucional.

    Surgindo a possibilidade de se modificar a lei de successo, apparecia desdelogo a grave difficuldade politica de ficar Portugal, alliado secular da Inglaterra,entregue a um representante genuino da Santa-Alliana, que Canning e a maioriados estadistas insulares combatiam com todas as fras que lhes emprestava anitida viso dos interesses de seu paiz e da propria civilisao.

    Era a fz do Tejo, segurana das esquadras de Albion, sob o dominio nodo tradicional cliente portuguez, sim de um principe absolutista, joguete em mosaustro-russas, contrrio a todas as nrmas que a Inglaterra constitucional pra-ticava e pregava, fosse qual fosse o gro de conservantismo de seus faTies maisaccentuados. Era ameaa, pois, ao interesse vital do Reino-Unido, no solver nosentido liberal, em favor de d. Pedro, portanto, o problema hereditario que ia abrira morte, esperada em breve, do rei de Portugal.

    Outra ordem de consideraes predispunha ainda o grande ministro em favordo Brasil: a esperana de dar golpe mortal no negregado trfico africano.

    Essa era uma velha campanha de Canning. Datava de 1799 seu primeirogrande discurso nos Communs sobre o assumpto. Em 1802 propuzera que na ilhda Trinidad, recem-adquirida, se fizesse uma tentativa experimental da abolio.

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    Durante sua passagem pelo govmo, em 1807-1809, preparra o tratado de 19 deFevereiro de 1810 com Portugal, importando o artigo X em crar obices ao com-mercio de escravos. F6ra dos concelhos da Cora, approvra a orientao ingleza nocongresso de Vienna, promovendo a condemnao formal do deshumano escambo,assim como o tratado anglo-portuguez de 22 de Janeiro de 1815 prohibindo o trficoa Norte da equinoxial e annunciando a elaborao de novo pacto pelo qual se estabe-leceria o praso maximo da durao do mesmo ramo de actividade a Sul da Linha.

    Com taes precedentes, prompto estava o estadista a ceder algo na intransi-gencia com que defendia o commercio inglez e a abrandar o rigr com que auxiliariaPortugal, por fra dos tratados antigos, desde que em tr6ca pudesse servk a causaliberal e humana da abolio do trfico.

    No era mro gesto platonico. Em Fevereiro de 1823, seguia lord Amherstcaminho das Indias, despachado vice-rei daquelle govmo. Rio-de-Janeiro sendoescala da travessia, disso se aproveitou Canning para ordenar ao alto funccionarioprocurasse a d. Pedro e a seus ministros, especialmente a Jos Bonifacio, dando-lheas seguintes instruces:

    A unica differenC:a quanto ao modo por que uma ligao estreita com esseGovmo poderia ser encarada em nosso Paiz, dependeria exclusivamente da consi-derao sobre si o Govrno acceitaria, ou recusaria, decretar a abolio do com-mercio de escravos.

    Pois uma differena obvia existia entre uma poltica colonial e uma polticaindependente: o intuito de uma colonia cultivar e commerciar; e emquanto suadefesa militar e maritima fica inteiramente a cargo da Me-Patria, os inconve-nientes e perigos de lavradores importados menos se fazem sentir do que um Estadodependente por completo de seus proprios recursos internos. Um Estado, em taescondies, no poderia, com segurana ou dignidade, fundar-se sobre uma populaOartificial, em vez do elemento nativo.

    Para o Brasil apresentar-se entre tantos Estados do Continente Americanocomo excepo, a manter um trafico solemnemente condemnado pelas vozes unidasda America e da Europa, affectaria os interesses, tanto quanto macularia a famade Imperio novo a reivindicar sua propria liberdade e sua independencia. ComoColonia, o Brasil nopossuia responsabilidade separada: mas os Estados civilisadosdo Mundo, sejam quaes forem suas Constituies politicas, bem poderiam hesitarem admittir em seu gremio uma Nao, que pela primeira vez se affirmasse Comotal, mas conservando similhante tara do caracter colonial, j eliminada de todas asNaes do Mundo civilisado, excepo feita de Portugal.

    Portanto, relativamente ao nosso Paiz, embora o Brasil possa em todos oscasos contar com sua imparcial justia, s6 lhe conquistar a amisade pelo sacrificiodesse abominavel commercio.

    Tanto o imperador como Jos Bonifacio no tiveram difficuldade em affirmarao enviado inglez sua perfeita communho nesses sentimentos. Accrescentavam,comtudo, que lhes no era licito promover a abolio immediata, dadas a situao

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    do paiz e sua organisao productora. S com tempo se conseguiria realisar to altointento, dizia o govrno brasileiro.

    Falhra, pois, a: expectativa de Canning, iniciando o processo de reconheci-mento do Imperio, antes mesmo deste o ter solicitado, collimando o ministro bri-tannico servir a nobre causa da civilisao e philanthropia a que dedicra to longose enthusiasticos esforos.

    No havia motivo para desanimar, -entretanto, ante as intenes proclamadasdo Brasil. E continuou a lhe dar auxilio.

    Por antigos servios prestadOs, na Bahia, esquadra ingleza sob o commandode Sir Hugh Popham,em 1805, e s tropas por ella conduzidas sob a chefia do ma-rechal Beresford, .havia conseguido Caldeira Brant a intimidade e a confiana dosecretario do Estado. Em carta intima a Jos Egydio Alvares de Almeida, o futuromarquez de Santo-Amaro, escripta a 20 de Abril de 1823, pouco ap6s a miss~o delord Amherst ao Rio, mostrava Felisberto Caldeira a difficuldade de sua situaoe a falsa posio em que figurava Brasil, sem iniciativa no reconhecimento, anteO trabalho indefesso de Canning.

    Incumbido, pelas insttuces de 12 de Agosto de 1822, de arranjar soldados,barcos a vapor, material para a esquadra, promover a gro mais alto a categoriapolitiCa internacional do Reino-Unido de Portugal e Brasil, via paralysados seusesforos por falta de remessa de fundos, a que suppria com sua fazenda pessoal.Seus poderes de encarregado de negocios, ainda no reconhecido pelo govrno inglez, certo, haviam caducado com a proclamao da Independencia. Repetia a miudea Jos Bonifacio seus officios e suas solicitaes de meios de, agir.

    "O ministro pareceu approvar tudo, mas no auctorisou ninguem", escrevia aJos Egydio na carta mencionada, "e posto que me nomeasse encarregado de negocios(refere-se carta de crena anterior a 7 de Setembro) no deu meios, nem poderesem f6rma para fazer cousaalguma. Essa mesma nomeao de encarregado de nego-cias caducou pela elevao do principe-regente a imperador. Eis-me, pois, sem creden-.cia, sem plenos poderes e, por consequencia, sem titulo para tratar com o ministro bri-tanico. Sendo, pois, inutil ou mais antes prejudicial ao Brasil e a mim a residencia emLondres, pretendo retirar-me, mas a isso oppe-se o ministro, dando-me a conso-ladora esperana que devo fica.r ao menos emquanto se no sabe si ser precisodar aos ministros diplomaticos outro caracter superior ao de encarregado de ne-gocios ".

    Encontrava escusas o procedimento de Jos Bonifacio. Obrigado a fazer frentes mil exigencias prementes da fundao do Imperio, tinha de multiplicar por milf6rmas sua actividade, isso em paiz de communicaes difficeis e vagarosas e semprvia organisao.

    O enthusiasmo das provincias a manter, recebendo suas deputaes e enviandomensageiros politicos. O 0010 patrio a livrar das guamiesportuguezas, da Cis-platina ao Par. Uma esquadra a crar. Um exercito a improvisar. A lucta, na pro-pria Crte, contra as divises intestinas.

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    o receio da interveno da Santa-AlIiana, ostentada nos negocios hespanh6es,e tambem a natural esperana de encontrar apoio em seu sogro, o imperador daAustria, moven;lm d. Pedro a enviar para Vienna, em misso confidencial, a 5 deAbril de 1823, a Antonio Telles da Silva Caminha, o futuro marquez de Rezende,apparentado s melhores familias da aristocracia viennense, e com facilidadesespeciaes para agir nesse meio. Difficil misso, e, por confidencial, della no poderiaJos Bonifacio falar s demais Crtes.

    Outra causa de demora e de erro na orientao dos esforos por ver reconhe-cido o Brasil, residia na falsa apreciao do govrno do Rio quanto aos intuitosinglezes. Suppunham-nos hostis Independencia, e sbre esse ponto nenhuma di-vida licita ante os termos precisos da correspondencia de Antonio Telles, emsua primeira carta de Londres, em 4 de julho de 1823, logoap6s ter conferen-ciado com Brant e Hippolyto.

    "Pela conversao que tive com ambos", diz a Jos Bonifacio o encarregadode misso confidencial em Vienna, "immediatamente depois da leitura dos officios,fiquei capacitado de que S. M. L, V. Exa, e eu tinhamos idas mui differentes doverdadeiro estado em que se achava a importante pendencia de reconhecimentoda Independencia do Brasil pel Governo Inglez. J ulgavamos no Brasil que o Go-verno Inglez duvidava do que elle no duvida, antes procura e quer, fallo do re-conhecimento da Independencia, por interesse da Nao Ingleza que no admitte oprincipio da Legitimidade to estrictamente como os da Santa-Alliana, e queprofessfj. a douctrina da soberania do Povo e segue o que lhe convem; j pelas repe-tidas insinuaes da Crte Austriaca, que deseja que o Governo Inglez reconheaa Independencia do Brasil, ficando unicamente pendente a questo da chegadadas credenciaes, etc."

    Si bem que, neste ultimo ponto, o proprio Telles tivesse de mais tarde recti-ficar seu juizo, certo que a ida a Vienna se impunha, nem que fosse, como suppunhao futuro marquez de Rezende, para verificar a hostilidade dessa c8rte. Dizia elle:"Eu conheo os homens pela cara, e apezar de tomar tabaco chega-me o cheiro dascousas a muitas legoas de distancia, e daqui profectiso a V. Exa. o seguinte: a CrtedAust.ria e todas as Crtes Santas, ou Santa_AlIiana, no tendo interesses directoscommerciaes ou politicos com o Brasil como a Inglaterra, talvez mesmo com aFrana, q. no podem tapar a boca aos seus commerciantes e Manufactureiros hode persistir em no reconhecer a Independencia do Brasil, com Soberania na Pessoado Imperador, nosso Augusto Pl.ffiOI cmquanto seo Pay reinar".

    Presumo que j a esta hora se sabe em Vienna que eu estou aqui para hirpara l tratar de negocios do Imperador. Desconfio e no sem fundamento que ointrigante Navarro j l est munido com as credencias de El-Rey de Portugalabsoluto .

    Todos esses obstaculos, portanto, paralysavam qualquer esfro do govrnobrasileiro por se fazer reconhecer como entidade internacional.

    Londres, sem agente do Brasil, offlcialmente admittido ou accreditado. Luiz

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    Moutinho de Lima Alvares e Silva, despachado para Washington, no chegraa sahir do Rio, retido por seu exhaustivo trabalho no ministerio de Extrangeiros.Jorge Antonio Schaeffer, commissionado particularmente em Vienna, no deviaser recebido, como suspeito, e por ordem superior permanecra em Hamburgo;em se1,l logar iria Antonio Telles. Manoel Rodrigues Gameiro Pessoa, enviado aParis, no se utilisaria de seus ephemeros poderes. O Brasil, diplomaticamente,era um ausente em toda parte.

    E tal ausencia do scenario internacional, ligada actividade norte-americananas ex-eolonias hespanhlas, fazia germinar no cerebro de Canning a previso dograve perigo, por elle admiravelmente resumido, em sua correspondencia com Hook-ham Frere, a 8 de Janeiro de 1825, em que se refere ao reconhecimento das Re-publicas latino-americanas, certo, mas que hauria fras tambem nas noticiasque j possuia sobre o movimento liberal e as tendencias republicanas de certasregies do Brasil. "Est feito. " um acto que mudar a face do mundo por frmaquasi to importante como a propria descoberta do Continente, hoje liberto. OsYankees vo bradar triumphalmente, mas elles so os que mais perdem com anossa deciso. O grande perigo em nossos dias, perigo que o systema europeu aco-rooaria, fra uma diviso do Mundo em Europeu e Americano, Republicano e Mo-narchista, uma liga de Governos fadigados por um lado, e por outro a de novosEstados, jovens e irriquietos, com os Estados-Unidos. Ns nos insinumos entreelles, e nos colIocmos no Mexico. Em vo os Estados-Unidos nos tero tomado adeanteira. Ns reatamos mais uma vez a America Europa. Mais seis mezes dehesitao e o mal estaria consummado".

    Mais auctoridade, ainda, teria nesse golpe de vista e na actividade subse-quente o homem de Estado, si houvesse podido conhecer, antecipando, por vezes,no tempo, a natureza das instruces que, do Rio, seriam enviadas aos agentespoliticos da nova nao, especialmente nos paizes americanos, quer em phase an-terior, quer em periodo posterior ao reconhecimento.

    , Fra abandonado pelos soberanos europeus" dizia desde logo a correspon-dencia official endereada a TeIles da Silva. Exercia seu influxo o meio. O oceano,que hoje une, ento separava. A contiguidade dos territorios na America dava aimpresso de communidade de destinos e de solidariedade continental.

    De d. Joo VI, rei immigrado e representante das menos abonadas tradiesde absolutismo e de estreiteza de viso politica, dizia a seu govrno o agente con-fidenciai das Provincias Unidas do Rio-da-Prata, d. Manuel Jos Garcia, que semostrava imbuido das necessidades do novo mundo e agia como monarchaamericano.

    Quanto mais exacta a observao, em se referindo a d. Pedro, criado no Brasile cercado, no seu ministerio, de Brasileiros enthusiastas ou de reines sinceramenteadhesos nova ordem institucional l ...

    Para taes homens, a ameaa s poderia vir do quadrante europeu: represaliasmetropolitanas ou reivindicaes absolutistas da Santa-Alliana. A mesma origem

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    do perigo commum congregava em um feixe defensivo todos os ramos emanci-pados dos troncos ancestraes no velho continente. E todas as colonias libertas sen-tiam-se irmanadas sob o influxo protector da primogenita como nao, os Estados-Unidos.

    E' notavel a traduco espontanea desse sentimento nas instruces emanadasdo ministerio de Extrangeiros, no Rio, quer para os agentes politicos, confiden~ciaes ou bem ostensivos, junto aos govrnos inda mal delineados da Sul-America,quer para os diplomatas em misso grande Republica norte-americana.

    Sigamos a ordem chronologica desses documentos, em que a America do Suloccupa o primeiro logar, como bem faria prevr a contiguidade territorial, ligada necessidade de relaes amistosas com os povos mais visinhos.

    Antes de enviar Europa encarregados de negocios ou agentes confidenciaes,nunca officialmente recebidos ademaiS, nesse alvorecer da Independencia, lan-ra Jos Bonifacio suas vistas para o scenario platino.

    De Agosto de 1822 so as instruces a Brant Pontes e a Gameira Pessoa.De 30 de Maio, anterior ortanto, a nomeao d~ Antonio Manoel Corra daCamara para consul e agente commercial em Buenos-Ayres, mesmo que de Lisbaviesse despachado outro funccionario com a mesma incumbencia pelo Reino-Unidode Portugal, Brasil e Algarves, como terminantemente lhe ordenava o govrnodo Rio.

    Da mesma data .so as instruces minutadas pelo grande Andrada, consciodo rumo que levava a evoluo politica do antigo dominio lusitano na America,e desde logo norteando sua aco pelas solues que se lhe figuravam inevitaveis.

    o objecto ostensivo de sua misso, e o unico que deve transpirar no publicohe o de preencher o logar de Consul vago pelo obito de Joo Manoel de Figueiredo;de promover nesta qualidade de Consul os interesses commerciaes de nosso paiz,zelar e pugnar por elles, tudo na conformidade das attribuies deste Emprego ... .

    As Instruces particulares de que V. Mc he encarregado so as seguintes:Procurar por meios indirectos adquirir partido no Governo de Buenos-Ayres eprincipalmente no de Paraguay, por ser o que p6de melhor ser-nos util, para que li-gado com outro de Montevido possam vigiar as manobras e machinaoens assim deBuenos-Ayres como de Entre-Rios. Para attrahil-os V. M. no se esquecer de exaltarem Suas conversaoens a Grandeza e recursos do Brazil, o interesse que as NaoensCommerciantes da Europa tem em apoial-o, e a preponderancia de que elle vaigozar sobre 05 outros Estados da America, sendo por isso de muita convenienciaaos povos limitrophes o obterem a sua poderoza alliana. V. M. lhes demonstrarque he impossivel o Brazil ser recolonisado, mas se fosse crivei que se visse reta-lhado por internas divisoens, este exemplo seria fatal ao resto da Americ.a, e olltrosEstados que 'a compoem se arrependeriam debalde .por o no terem coadjuvado;porem que uma vez consolidada a reunio e Independencia' do Brazil, ento a Eu-ropa perder de uma vez toda a esperana de restabelecer o antigo dominio sobreas suas colonias. Depois que V. M. tiver habilmente persuadido que os interesses

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    deste Reino so os mesmos que os dos outros Estados deste Hemispherio, e da parteque elles devem tomar nos nossos destinos, lhes prometter da parte de S. A. R. oreconhecimento solemne da Independencia politica desses Governos, e lhes exporas utilidades incalculaveis que podem resultar de fazerem uma Confederao ouTratado offensivo e defensivo com o Brasil, para se opporem com os outros Go-vernos da America Hespanhola aos cerebrinos manejos da Politica Europa, demon-strando-lhes finalmente que nenhum desses Governos poder ganhar amigo maisleal e mais prompto do que o Governo Braziliense; alm das grandes vantagensque lhes hade provir das relaoens commerciaes que podero ter reciprocamentecom este Reino. Ser um ponto principal e preliminar o alcanar a boa vontadee dissipar as desconfianas que podiam haver sobre a boa f deste Governo ; o queser facil conseguir, fazendo vr que na porfiosa luta em que se acha empenhado,no pode este deixar de fraternisar-se sinceramente com os seus visinhos.

    Ia instruido tambem Corra da Camarapara promover a vinda de represen-tantes platinos ao Rio, feito o que, em reciprocidade, o Brasil os nomearia de categoria egual. "Depois disso, V. M. poder fazer uso de outra Credencial de AgentePolitico e Diplomatico".

    Taes normas seriam applicadas a todos os govrnos, junto aos quaes ia accre-ditado o novo consul, a saber, alm de Buenos-Ay'res, Chile, Santa F, Entre-Riose Paraguay.

    O ponto delicado era a Banda Oriental. No representava, entretanto, um con-flicto novo. Desde a colonia do Sacramento, em 1680, vinham divididas e com-batendo nesse ponto as duas coras peninsulares. Seculo e meio j durava a con-tenda. Sobre ella, rezavam as Instruces: "Dever igualmente ser nimiamentecauteloso com os habitantes de Montevido, arredando, mas sem parecer deproposito, qualquer errada suspeita que ahi possa haver de que o governo do Riode Janeiro abandone o Estado Cisplatino, ainda quando em Lisboa cedessemaquelle territorio seja a Hespanha ou seja a Buenos-Ayres".

    Nada disso, entretanto, devia fazer-se, immiscuindo-se o Agente brasileironas discusses partidarias, que eIle levava ordem para cuidadosamente evitar.

    A d. Bernardino Rivadavia, ministro de extrangeiros no Prata, escrevia JosBonifacio, depois de lhe enviar, a 31 de Maio, a credencial de Corra da Camara,em nova carta official de 10 de Junho; "O Mesmo Augusto Senhor, como Regentedo Brazil, no deseja nem p6de adoptar outro systema que no seja o Americano eSe acha convencido de que os interesses de todos os Governos da America, quaes-quer que elles sej o, se devem considerar homogeneos, e derivando todos do mesmoprincipio a saber, uma justa e firme repulso contra as imperiosas pretenoens daEuropa".

    Nos officios de communicao da incumbencia do consul brasileiro, enviadosa 6 de Setembro de 1822, aos govrnos de Entre-Rios, Santa-F, Paraguay e Chileainda insiste o ministro do Brasil na mesma nota fraternal: "Povos visinhos ame-ricanos, como taes co-irmos e amigos".

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    o monarchista convencido que era Jos Bonifacio no podia calar ante as agi-taes politicas da bacia do Prata. Eram por elle attribuidas s f6rmas republicanase reputava-as perigosas, como revoltas capazes de invadir o territorio nacional.E a Corra da Camara, confidencialmente, recommendava em officio de 30 deSetembro, j depois da Independencia: "De caminho se lembra a V. M, que sermui vantajoso ... outrosim de fazer gostar aos demais Povos da Americ Meri-dional o systema de Governo que temos abraado ..." Desde logo, porm, o po-ltico se revelava respeitador da soberania das outras naes e accrescentava:

    " . . .. porm neste ultimo ponto se dever obrar bem cautelosamente demaneira que qualquer insinuao no parea uma desapprovao attacante s ins-tituioens dos outros Paizes, ou uma provocao aberta a insurreioens".

    No se limitava a protestos genericos. Buscava prestar servios directos, pro-bantes do espirito de fraternidade continental do govrno do Rio. Entre outros,citemos o officio a Corra da Camara, em data de 13 de' Outubro de 1822, relativoa rumores de expedies metropolitanas

    Sou informado da Inglaterra de que se ajusta um Tratado Secreto entre osReinos de Portugal e de Hespanha, no qual ha um artigo em que esta ultima Po-tencia se compromette a auxiliar a primeira com doze mil homens contra o Imperiodo Brasil. As Gazettas Francezas do mez de Junho fizeram tambem meno destesajustes; e supposto que no seja verosimil que no estado convulso em que se achaa Hespanha, exhausta, e at ameaada de uma invaso extrangeira, possa pr emmovimento semelhante projecto, quando fosse concebido, todavia sendo por outrolado asss manifestas as vistas hostis dos partidos demagogos de Hespanha e Por-tugal, esta noticia no deve ser desprezada, e V. M. aproveitar para fazer resolverpromptamente os governos do Rio da Prata do quanto urge o appressarem-se atratar de uma Federao com o Brasil, pois uma vez que a Hespanha offerea comeffeito tropas a Portugal para virem America, no precisa ser grande Politicopara perceber que o seu verdadeiro fim no he cooperar com Portugal contra o Im-perio do Brasil, mas sim tentarem com este motivo um desembarque em qualquerde suas Ex-Colonias Argentinas.

    P. S. Depois de ter concluido este Despacho, tive communicaoens secretasannunciando-se-me da Europa que se trabalha em um Tratado entre Hespanha.Portugal e Inglaterra, o que me appresso a levar ao conhecimento de V. M.

    Essa, talvez, uma das origens de preveno contra a Inglaterra dominantena Crte brasiieira, j de sobreaviso em virtude da misso de lord ~lI.mherst e dosreceios da lgao intima entre Londres e Lisba, seculos a f6ra.

    Taes tendencias no eram occasionaes.. Reproduzem-se em toda a correspon-"dencia confidencial endereada aos agentes brasileiros no extrangeiro.

    E' o caso dos Estados-Unidos ... A Jos Sylvestre Rebello, commissario juizda Commisso Mixta no Rio, despachado a 21 de Janeiro de 1822 encarregado denegocios em Washington, com a incumbencia de promover o reconhecimento doImperio, eram dadas instruces characteristicas. Datam de 31 do mesmo mez,

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    vespera do embarque do plenipotenciario a bo~do do Morris, rumo de Baltimore.NeIlas se encontram trechos como os que vamos transcrever.

    li l. Reconhecendo Sua Magestade Imperial a vantangem que dever re-sultar a este Imperio de estreitar as antigas relaes, e promover novas com os Es-tados conterraneos, consolidando assim em particular a Independencia do Brasil,e em Geral a deste Continente Americano, que nunca poderio chamar-se intei-ramente livres emquanto uma parte to consideravel delles, como o ImperiodoBrasil, permanecesse ao lado e f6ra da linha das mais Naes; Houve por bemNomeallo seu Encarregado de Negocios junto ao governo dos Estados-Unidos daAmerica, e por esta occasio manda remetter-lhe a sua competente Carta de Crena,e aS instruces que o dever reger.

    li 2. Apenas chegar no perder tempo em apresentar a sua Credencial. .. fa-zendo crer o quanto seria incoherente com os principios constitutivos dos Governosamericanos, e quanto empeceria a Cauza Geral dos Americanos na Europa, se essesGovernos Icesitassem um s6 momento em tratarem-se com as demonstraces queos Supremos Governos dos Povos se devem mutualmente.

    li 3. Se introduzir com os Enviados Estrangeiros que a hiresidirem sobretudocom os de outros Estados Americanos, mostrando sempre predileco para comelles, e affectando huma exclusiva parcialidade pela Poltica Americana.

    5. Para convencer esse Governo do particular interesse que lhe resulta emreconhecer promptamente a nossa Independencia, bastar trazer lembrana o quetantas vezes se tem dito e escrito sobre o perigo que corre a Amq:ica se na sua actualposio no concentrar-se em si mesma e reunir-se toda para appr huma barreiras injustas tentativas da velha e mbiciosa Europa.

    Carvalho e Mello, redactor dessas instruces, no limitaria ahi sua aco.Citemos ainda, desse ponto de vista, um acto que mereceu justos reparos e censuraspor invadir o ambitode uma soberania visinha e amiga, mas que, inda assim, re-vela o pensamento americano de seu auctor. Referimo-nos aos officios que em 2 deJulho de 1824, o futuro visconde da Cachoeira enviou aos governadores de Chi-quitos, de Sant Cruz de la Sierra e de Moxos, convidando--os a se unirem ao Brasilem uma politica fraternal, visando todo o continente e reproduzindo os termos eos sentimentos expressos na carta offieial a d. Bernardino Rivadavia.

    So, ainda. as instruces confidenciaes a Antonio Manoel Corra da Camara,em 30 de Julho do mesmo anno, para o bom desempenho de sua nova misso,comoconsul e agente commercial no Paraguay e partes adjacentes, accumulando tam-bem as funces de agente poltico junto aos differentes govrnos piatinos espe-cialmente no Paraguay. Nellas, renovando as directrizes do roteiro secreto dadopor Jos Bonifaeio em 30 de Maio de 1822, por occasio da primeira misso deCorra da Camara ao Prata, accrescenta Carvalho e Mello: "Entretanto convmque V. M. fique gem a menor duvida sobre as vistas gemes do Governo deS. M. Imperial a rEs:,eito da natureza de sua commisso. S. M. Imperial deseja ligar

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    com os mais Estados deste Hemispherio as mais intimas rellaoens politicas eCommerciaes, e para isso o encarrega de fazer todas as aberturas que julgar con-venientes, e transmittir as respostas que se lhe devem". E lembrando os passos paraimpedir a alliana entre Paraguay e Buenos-Ayres, ponto essencial para se evitaremperturbaes na posse legitima em que o Brasil estava da Provincia Cisplatina,insiste ainda: "Por esta occasio, V. M. observar no s que a Politica do Ga-binete Brasileiro he propriamente Americana, e tem por essencial objecto a sua In-dependencia de qualquer tutella Europa, mas que tambem este Governo, seguindohuma vereda totalmente 0pROsta de alguns outros nascentes Governos Ameri-canos, no desaprova nem machina contra as Instituies Politicas que esses Go-vernos adaptaram por milhares, ou por inevitaveiS; bem persuadido de que todas asInstituioens so relativamente boas segundo o caracter dos Povos respectivos;sendo certo que se podem unir differentes Governos e marcharem a hum ponto unicoisto , a sua prosperidade e commum segurana, sem embargo de discordarem emf6rmas de Governos. " "

    Ser portanto um ponto preliminar, desfazer toda e qualquer suspeita que porahi possa haver da boa f de S. M. Imperial e do seu Ministro, o que ser a V. M.tanto mais facil, quanto he evidente que os interesses geraes deste Imperio se acharoestreitamente ligados com os dos outros Estados deste Hemispherio, desde o mo-mento eI:TI que todos elles quebrro os ferros Coloniaes, que prendiam a .sua Inde-pendencia e liberdade legal. . .

    Ap6s a abdicao da cora de Portugal, por morte de d. Joo VI, d. Pedroe seus ministros de mais em maisinsistentes se mostravam na feio continentaloe sua politica. Nas instruces, ql,ler publicas, quer secretas, dadas a seus diplo-matas, relembravam o facto do abandono da herana lusitana, como prova de seuamericanismo.

    Characteristico desse estado mental politico um topico do roteiro dado pelovisconde do Inhambupe, em 20 de Outubro de 1826, ao mesmo Corra da Camara,j ento nomeado encarregado de negocios no Paraguay: "Testemunhar tambemque S. M. Imperial Tendo Abraado de uma maneira a mais nobre e franca a CausaAmericana, como ainda ha bem pouco tempo acabou de mostrar, abdicando gene-rosamente em Sua AUgusta. Filha a Serenissima Dona Maria da Gloria, o Reino dePortugal eAlgarves, que lhe pertencia pelo Direito de Suceesso, nada tanto anhelacomo viver em paz com os seus vizinhos, sem vistas de augmento de territorio".

    Invariavel se mantm o rurnp~ O Peru havia nomeado seu representante diplo-matico no Rio ad. Jos Domingos Cceres. A essa deferencia respondeu o govmoimperial despachando consul geral e encarregado de negocios em Lima a Duarteda Ponte Ribeiro, nome illustre entre os maiores benemeritos da historia diploma-tica do Brasil. A 9 de Maro de 1829, enviava-lhe. o marquez de Aracaty as precisasinstruces. Como tinha de passar por Santiago, incumbiu-o de sondar o govmodo Chile sobre a enviatura de um representante ao Rio. Para o caso de formalacquiescencia do gabinete chileno, Ponte Ribeiro daria o primeiro passo, levando

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    nesse intuito a sua credencial de encarregado de negocios interino nesse paiz. Nosdocumentos confidenciaes, voltam sempre as mesmas phrases: "V. M. no seesquecer de lembrar os extraordinarios servios que S. M. o Imperador Tem pre-stado cauza Americana, j contribuindo de una maneira energica para a elevaodo Brasil ordem de uma Potencia Independente, j Dando uma Constituioliberal accommodada s luzes do Seculo, j finalmente Abdicando o Thronode Portugal em Sua Augusta e Presada Filha a Senhora Dona Maria daGloria... "

    Nos pontos a firmar para a negociao eventual com o Per de um tratadode commercio, cuja celebrao recommendava, ponderavall.irlda a Duarte da PonteRibeiro que esse facto devi!! ser "fundado em principios Iiberaes, ou para melhordizer, de Politica Americana, afim de se animarem cada vez mais as relaoensde amizade e boa vizinhana entre dois Estados Iimitrophes".

    Poderiam ser multiplicadas as citaes. Bastam, entretanto, as que ahi ficam,para mostrar o espirito particularisado de solidariedade americana reinante nosconceitos politicos do Imperio nascente.

    E mais curiosa e eloquente se toma a evidencia, em se confrontando os termosda chancellaria do Rio com as palavras usadas para fim alialogo pelos homensde Estado norte-americanos. Chamassem-se elles Monroe, John Quincy Adams,Henry Clay ou Madison, sempre a mesma invocao que se ouve aos destinoscommuns do hemispherio, solidariedade das naes queahi haviam surgido, origem de que provinham e ao alvo de independencia e de liberdade pelo qualtodas se babam.

    Lendo-se a correspondencia diplomatica da pocha, parece que um modelo"unico, reflexo do anseio commum, "havia inspirado aos homens publicos de todasas zonas das duas Americas. Notas, instruccs, programmas traduziam todos aconsciencia de que para o Mundo Novo um ideal peculiar se impunha.

    No Brasil, como nos outros paizes, mais talvez, era ll,gUdissima essa convico,e transluzia em todos os seus actos.

    Os documentos, paginas atraz transcriptos, por sua natureza confidenciaes,eram desconhecidos de Canning. Alguns delles, at, so posteriores j citadacarta escripta a Hookham Frere. E' inteiro, pois, seu valor probante. Todos affir-mam, do lado brasileiro, quo fundada era a previso do estadista inglez, de que,espontaneamente, a America toda tenderia a gravitar em tmo de um ideal parti-cularisado, do qual os Estados-Unidos se constituiriam ponto central e os arautosmais auctorisados.

    Grande politico, no sentido m